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Processo de Trabalho -2015

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  • Processo de Trabalho no

    Servio Social

    Arno Vorpagel ScheunemannMaria Suzete Mller Lopes

    Ruthe Corra da CostaSimone da Fonseca Sanghi

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  • P963 Processo de Trabalho no Servio Social / Arno Vorpagel Scheunemann ... [et al.]. Canoas: Ed. ULBRA, 2010. 116 p.

    Outros autores: Maria Suzete Mller Lopes, Ruthe Corra da Costa e Simone Sanghi. Obra elaborada para o curso de Ensino a Distncia da Universidade Luterana do Brasil.

    1. Servio social. I. Scheunemann, Arno Vorpagel. II. Lopes, Maria Suzete Mller. III. Costa, Ruthe Corra da. IV. Sanghi, Simone.

    CDU 364.442

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Setor de Processamento Tcnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas

    Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que de inteira responsabilidade dos autores a emisso de conceitos.

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora da ULBRA.

    A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Cdigo Penal.

    Conselho Editorial EADDris Cristina Gedrat (coordenadora)

    Mara Lcia MachadoJos dil de Lima Alves

    Astomiro RomaisAndrea Eick

    ISBN 978-85-7528-240-3

    Dados tcnicos do livro

    Fontes: Antique Olive, Book AntiquaPapel: offset 75g (miolo) e supremo 240g (capa)

    Medidas: 15x22cm

    Impresso: Grfi ca da ULBRAJaneiro/2010

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  • Sumrio

    Apresentao ..................................................................................7

    ( 1 ) Processo de trabalho no Servio Social ....................................11

    ( 2 ) Elementos constitutivos do processo de trabalho no Servio Social .........................................................................27

    ( 3 ) Conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA) ........................41

    ( 4 ) A instrumentalidade do Servio Social ....................................55

    ( 5 ) Instrumentais operativos do processo de trabalho ................69

    ( 6 ) Documentao do processo de trabalho - relatrios sociais ....89

    ( 7 ) Documentao do processo de trabalho - estudo social, laudo social, parecer social ......................................................105

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  • Apresentao

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    Prezado(a) aluno(a), saudaes!Este livro aborda o Processo de Trabalho no Servio Social, uma

    importante disciplina da matriz curricular do curso de Servio Social (EAD ULBRA), pois ela que traz o contedo especfi co sobre a constituio do processo de trabalho do assistente social na atualidade.

    A proposio dessa disciplina apresentar a defi nio de processo de trabalho a partir de uma fundamentao crtico-dialtica, processando o conhecimento adquirido nas disciplinas que voc, acadmico, j cursou nessa formao. Diante disso, voc retomar a concepo de questo social geradora das desigualdades e da excluso social, reconhecendo a operacionalizao do agir profi ssional atravs do processo de trabalho e do instrumental que o subsidia.

    Este contedo ser abordado em sete captulos, subdivididos em unidades para que sua leitura e sua compreenso se deem de forma a agregar conhecimentos terico-prticos do agir profi ssional. Voc encontrar uma proposio de atividades ao fi nal de cada captulo, a fi m de exercitar o conhecimento adquirido e a sinalizao de pontos nodais no contedo estudado.

    O captulo um apresenta a fundamentao terica do processo de trabalho no Servio Social destacando suas principais categorias. O captulo dois aborda os elementos do processo de trabalho do assistente social e visualiza o processo de construo do objeto de trabalho, o elemento-ncora desse processo. O captulo trs destaca os conhecimentos, as habilidades e as atitudes como elementos da competncia do assistente social e relaciona-os com as dimenses terico-metodolgicas, tcnico-operativas e tico-polticas do Servio Social. O captulo quatro refl ete a instrumentalidade da profi sso e o instrumental do seu processo de trabalho. O captulo cinco aborda os principais instrumentos operativos usados pelo assistente social em seu processo de trabalho. O captulo seis

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    apresenta o processo de documentao no processo de trabalho do assistente social revelando uma tipologia de relatrios.

    O captulo sete tambm apresenta o processo de documentao abordando o estudo social, o laudo social e o parecer social.

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  • (1)Processo de trabalho

    no Servio Social

    Maria Suzete Mller Lopes

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    Maria Suzete Mller Lopes1

    Este captulo apresenta consideraes e reflexes acerca da fundamentao terica que vem subsidiando o Servio Social e o processo de trabalho do assistente social desde as dcadas de 70 e 80, fundamentos que foram elaborados pela categoria profissional como produto do Movimento de Reconceituao que iniciou em 1965.

    Ser possibilitada, ainda, a compreenso da categoria trabalho e da categoria processo de trabalho a partir da matriz dialtico-crtica, o que permitir clarear a intencionalidade do trabalho do assistente social no enfrentamento das expresses da questo social.

    1.1 Fundamentao crtica do processo de trabalho

    Para compreender a aproximao do Servio Social com o pensamento dialtico-crtico, imprescindvel apropriar-se da conceituao do materialismo dialtico, uma fi losofi a formulada por Marx e Engels2. Tal pensamento constitui-se simultaneamente materialista, pois aponta caractersticas de toda a cincia, e dialtico porque abarca os fenmenos em sua complexidade, intencionalidade e seu desenvolvimento. O materialismo dialtico desenvolveu-se em ntima conexo com os resultados da cincia e com a prtica do movimento operrio revolucionrio (RIUS, s.d., 154).

    na fi losofi a marxista que o Servio Social, desde a dcada de 80, vem construindo sua identidade e fundamentando o seu processo de trabalho.

    1 Assistente social, assessora tcnica do Governo do Estado do RS Secretaria de Justia e do Desenvolvimento Social. Mestre em Servio Social, especialista em Metodologias do Servio Social. Docente e coordenadora de Estgio Supervisionado do curso de Servio Social Presencial da ULBRA Canoas e docente do curso de Servio Social a Distncia da ULBRA Canoas.

    2 Marx (1918-1883), fi lsofo alemo considerado o fundador do materialismo histrico. Engels (1820-1895), principal colaborador de Marx e seu amigo ntimo.

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    Assim, a partir dessa fi losofi a o assistente social encontra no mtodo dialtico materialista, atravs de suas categorias centrais totalidade, historicidade e contradio , a compreenso terica para os fenmenos sociais no contexto da sociedade capitalista e do cotidiano dos sujeitos sociais.

    Para melhor compreenso das categorias anteriormente referidas, defi nem-se:

    contradio negao (desigualdades sociais, injustias sociais, explorao) e superao das contradies constitutivas da natureza humana;

    historicidade processo, movimento, dialtica; totalidade interconexo necessria entre mltiplos fatores a partir

    de um contexto amplo e singular mltiplas dimenses.Nesse sentido, considera-se importante a apropriao do pensamento

    dialtico-crtico que fundamenta teoricamente o processo de trabalho do assistente social.

    A dialtica o pensamento crtico que busca compreender alm das

    aparncias e sistematicamente se pergunta como possvel chegar

    compreenso da realidade. A abordagem dialtica instiga rever,

    reolhar o passado iluminado pelos acontecimentos do presente e,

    dessa forma, levanta questes sobre o hoje, em nome do amanh que

    incansavelmente se torna uma roda viva entre passado-presente-futuro.

    (COSTA, 2007, p.49)

    A dialtica busca considerar os elementos do mundo material, conhecendo a realidade como ela se apresenta e, a partir disso, desvendar a realidade na sua essncia. Nesse processo, persegue a realizao da verdade, que no nem inatingvel nem alcanvel de uma vez para sempre, pois ela se faz, se desenvolve e se realiza como processo. Portanto, o que se tem na dialtica a busca de aproximao da verdade e, assim, da histria da verdade.

    Como uma teoria, caracteriza-se por estar em permanente esforo para compreender a realidade, na relao do homem com a sociedade, relao que nem sempre harmnica, procurando desvelar criticamente essa realidade tanto do que est aparente quanto do que se esconde.

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    Para compreender os fundamentos da dialtica, imprescindvel considerar a essncia e o fenmeno:

    A essncia, chamada tambm de coisa em si, objeto da dialtica. Sempre

    histrica e concreta, pois sua captao s possvel atravs de suas

    manifestaes, as quais podero ser mais ou menos ricas, de acordo com

    a maneira como revelam a essncia. O fenmeno aponta a essncia e, ao

    mesmo tempo, a esconde. (CURY, 1985, p.23, apud COSTA, 2007, p.51)

    A dialtica traz, em seus fundamentos epistemolgicos, a intencionalidade. Ou seja, nada acontece automaticamente. H uma intencionalidade que defi ne o devir histrico de tudo. Considera-se, assim, que as coisas, ao mudarem, no mudam sempre no mesmo ritmo. Esse fato ou fenmeno s tem sentido quando articulado com os demais fatos ou fenmenos articulados com o todo, para se chegar transformao (COSTA, 2007, p.52). Na natureza e na vida em sociedade, os fenmenos se articulam, conectam-se entre si, permitindo uma interao entre as partes totalidade. Nada est isolado.

    Reconhece-se que todas as coisas esto em contnuo movimento, sem estarem acabadas, em processo de transformao, a partir da luta interna entre os fenmenos, como afi rma Konder: o movimento geral da realidade faz sentido, quer dizer, no absurdo, no se esgota em contradies irracionais, ininteligveis, nem se perde na eterna repetio do confl ito entre teses e antteses, entre afi rmaes e negaes (1981, p.59, apud COSTA, 2007, p.52). Portanto, compreende-se que a afi rmao traz em si a sua negao. A negao, entretanto, assim como a afi rmao, superada, prevalecendo a sntese, que, por sua vez, a prpria negao da negao. Nesse processo, tudo recomea. Por exemplo, a afi rmao (tese) Marisa aluna de Servio Social traz em si a sua negao: Deixar de ser aluna de Servio Social (anttese). Ou seja, a cada disciplina cursada, Marisa torna-se mais aluna de Servio Social e, contraditoriamente, a cada disciplina cursada d um passo em direo ao no ser aluna de Servio Social. A partir do momento em que ela se torna 100% aluna, deixa de ser aluna e passa a ter uma nova qualidade: torna-se assistente social (sntese).

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    A contradio reconhecida pela dialtica como princpio bsico

    do movimento pelo qual os seres existem. Ela a essncia ou a lei

    fundamental da dialtica. A contradio sempre expressa uma relao de

    conflito no devir do real. Deste modo, cada coisa exige o seu contrrio,

    como determinao e negao do outro. Dessa forma, a transformao

    somente possvel porque em seu prprio interior coexistem foras que

    so opostas e buscam constantemente e simultaneamente a unidade e

    a oposio. (COSTA, 2007, p.54)

    Assim como nos fenmenos, na vida do homem existem contradies, num movimento ou processo de vir a ser, possibilitando e determinando a existncia de outros, a partir de cada um. Mesmo os opostos interagem permanentemente, e isso que impulsiona para a transformao dos fenmenos e dos sujeitos. na sucesso de fenmenos cotidianos que a contradio se mostra e se esconde. Exemplo: riqueza e pobreza, incluso e excluso, trabalho e desemprego.

    Tambm importante salientar que a totalidade uma categoria que articula de forma dialtica um processo particular com outros processos gerais, isto , busca compreender os fenmenos de forma cada vez mais ampla.

    Nesse sentido, a totalidade processualmente construda a partir das relaes de produo e de suas contradies, e ainda dos aspectos culturais, sociais, econmicos, polticos, entre outros, presentes na sociedade.

    A totalidade um instrumento interpretativo que tem a finalidade de

    compreender as diferenas que compem uma determinada realidade.

    Isso significa dizer que o todo est em construo, inacabado e no est

    determinado pelas partes, pois a totalidade est sempre em processo de

    estruturao e desestruturao. Na totalidade, cada realidade e, por

    conseguinte, cada esfera dela uma totalidade de determinaes.

    Engendram-se a contradies atuais e, tambm, as j superadas. (COSTA,

    2007, p.56)

    Na imerso nos fundamentos da dialtica, tem relevncia a categoria histria, em que se encontra a vida dos sujeitos sociais. na histria que o homem existe e realiza a si mesmo, num processo de construo de sua prpria trajetria e de sua humanizao, em tempo e no tempo,

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    teleologicamente. Portanto, esse processo tem a histria como um produto humano (KOSIK, 1995, p.233, apud COSTA, 2007, p.57), dialtico. O homem como produtor e reprodutor da histria e de si mesmo. Isso o que possibilita entender a histria de cada homem na histria de outro, ou seja, a histria prossegue a cada gerao num contnuo, pois no comea do zero, dando sequncia histria anterior, o que permite a superao. Reconhece-se esse movimento como essencialmente dialtico.

    Assim pensar no trabalho realizado com funo social, em que as necessidades sociais so satisfeitas a partir dele, e o ser humano torna-se humano atravs do trabalho. Para enriquecer essa afi rmao, recorre-se a Heller:

    [...] uma objetivao imediatamente genrica, cujo fundamento o

    processo de produo, o intercmbio orgnico entre natureza e sociedade

    e cujo resultado a reproduo material e total da sociedade. Os produtos

    do trabalho levam sempre em si o selo da universalidade em si e no dizem

    nada sobre o produtor particular. (1994, p.122 apud COSTA, 2007, p.65)

    A funo social do trabalho garantir que as necessidades sociais sejam objetivadas passando a atingir a generalidade, e isso que possibilita a construo de resultados teis a outrem. Nesse sentido, afi rma-se que o homem s pode realizar-se como humano atravs da relao com outros homens.

    1.2 Trabalho e processo de trabalho

    Marx, em O capital, defi ne que o trabalho um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, em sua prpria ao, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza (1996, p.297, vol. I).

    A fi nalidade do trabalho j est idealizada no pensamento do ser humano antes mesmo da sua realizao. Contudo, ela produzida pela matria (a realidade na qual vive esse ser humano). O ideal o material traduzido e transposto na mente do ser humano. a matria, portanto, que produz a ideia. Assim, a atividade, ou o trabalho, identifi ca-se como um dos elementos centrais na categoria processo de trabalho, junto com

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    o objeto e os meios. Pode-se dizer que o produto fi nal desse trabalho pode ser idealmente produzido pelo trabalhador antes que este o realize, ou seja, existe na mente do trabalhador. O trabalho humano, portanto, pressupe um conhecimento para a sua realizao, diferentemente do trabalho animal, que realizado pelo instinto.

    Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente

    ao homem. Uma aranha executa operaes semelhantes s do tecelo, e a

    abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construo dos

    favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemo, o pior arquiteto da

    melhor abelha que ele construiu o favo em sua cabea antes de constru-lo

    em cera. (MARX, 1938, p.149, apud WNSCH, 2003, p.7)

    Dessa forma, o trabalho apresenta-se como uma atividade humana, que guarda em si a teleologia3, que possibilita ao ser humano projetar o resultado de seu trabalho antes mesmo de realiz-lo. Contudo, essa projeo produto da matria a realidade vivida por esse ser humano.

    Como exemplo acadmico, pode-se pensar na sua necessidade de moradia e, consequentemente, na construo de uma casa. Nesse sentido, surgem algumas possibilidades ou alternativas para atendimento da sua necessidade. Voc pode comprar as madeiras em uma madeireira ou ter de derrubar uma rvore para obter a madeira necessria. Contudo, voc ter a necessidade de ter ferramentas (martelo, serrote ou serra, pregos, plainas, entre outras) para cortar a madeira e levantar a casa. Dependendo do lugar onde voc esteja, talvez at tenha de fazer algumas dessas ferramentas, a fi m de dar continuidade ao seu projeto. Isso indica as alternativas que voc tem para obter um espao habitvel, mas de qualquer uma delas voc tem antecipadamente o provvel resultado na conscincia.

    Pode-se afi rmar que o trabalho uma categoria central na vida das pessoas na relao com a natureza e o meio social, mas tambm para se compreender o sentido social e econmico das transformaes, na contemporaneidade, nas sociedades.

    3 Construo na conscincia, do resultado provvel de uma determinada ao. LESSA, Srgio. O processo de produo/reproduo social: trabalho e sociabilidade. In: Capaci-tao em Servio Social e poltica social. Mdulo 2. Braslia: CEAD, 1999, p.22.

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    pelo trabalho que o homem se distancia da natureza, atende a suas necessidades desenvolvendo produtos necessrios para a sua vida. Entretanto, o trabalho realizado pelo homem no s transforma a natureza, mas tambm transforma o prprio homem, isto , transforma sua prpria natureza, o que o afi rma como ser social. Assim, o trabalho possibilita o processo de hominizao (HOLANDA, 2002, p.12), ou humanizao. Atravs da atividade humana, do trabalho, o homem atua na produo da vida social, pois ele produz: bens materiais, relaes, instituies sociais, ideias, concepes, emoes, descobre novas capacidades e qualidades humanas (FERNANDES, 2003, p.7, apud WNSCH, 2003, p.7), mas tambm produz novas necessidades e novas capacidades que possibilitam o atendimento de suas necessidades.

    Trabalho ento apresentado sob a forma de processo, conduzido pelo

    homem por intermdio dessas aes mediadas pelo gasto de energia

    e fundamentalmente orientadas pelas necessidades sociais inerentes

    reproduo humana. Desse modo, h uma condio humana e social

    no trabalho e no seu processo que se revela pela possibilidade de o

    produto do trabalho responder a uma carncia motivadora do processo

    de transformao [...] pela busca de uma finalidade. (BARBOSA et al., 1998,

    p.112)

    Assim, na medida em que o homem reconhece suas necessidades, busca atend-las, transformando o que foi idealizado (objetivao), e a partir disso produz novas necessidades, desenvolvendo novos conhecimentos, capacidades e habilidades (subjetivao), o que, de alguma forma, transforma a natureza, possibilitando reconhecer-se o desenvolvimento do meio em que vive.

    Todo ato de trabalho, sempre voltado para o atendimento de uma

    necessidade concreta, historicamente determinada, termina por remeter

    para muito alm de si prprio. Suas consequncias objetivas e subjetivas

    no se limitam produo do objeto imediato, mais se estendem por

    toda a histria da humanidade. (LESSA, 1999, p.24)

    Nesse sentido, compreende-se que o trabalho, como um ato humano, estende-se alm de sua fi nalidade imediata, possibilitando tambm o desenvolvimento das capacidades e habilidades do homem, assim

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    como das foras produtivas, ou seja, os meios de produo e a fora de trabalho, e ainda as relaes sociais, possibilitando o desenvolvimento e a complexifi cao da sociedade. Portanto, na medida em que os homens percebem que seu trabalho resulta em uma quantidade de produtos que excedem o necessrio para sua sobrevivncia, estabelecem-se a relaes de reproduo social.

    [...] o trabalho passa a ser tambm (mas no apenas) uma relao de poder

    entre os homens. E, quando isso ocorre, imprescindvel uma srie de

    complexos sociais que sero os portadores prticos desse poder de alguns

    indivduos sobre os outros. por isso que surgem, se desenvolvem e se

    tornam cada vez mais importantes para a reproduo social complexos

    como o Estado, a poltica, o Direito etc. (LESSA, 1999, p.25)

    A reproduo social traz em si relaes de explorao do homem pelo homem, demarcando historicamente a diviso de classes: a que trabalha e produz a riqueza e a que se apropria dessa riqueza. Surge, assim, o trabalho alienado, ou seja, o ato de trabalhar no mais se caracteriza pelo atendimento das necessidades do trabalhador, mas tambm pela produo da riqueza para quem detm poder a classe dominante atravs de aes de explorao, presso e/ou violncia.

    Torna-se apropriado lembrar que, a partir da Revoluo Francesa (1789), seguida da Revoluo Industrial, surgiu a mquina com um novo formato para o modo de produo e confi guraram-se duas classes sociais: os proprietrios das mquinas e os operadores das mquinas respectivamente capitalistas e operrios. A esse novo modo de produo Marx chamou de capitalismo. Da expanso do capital caracteriza-se a sociedade do capital (volume de riqueza acumulada e o espao geogrfi co ocupado no mundo por essa relao social).

    Nessa sociedade capitalista, o trabalhador desenvolve suas atividades para atendimento das necessidades de outras pessoas, vendendo sua fora de trabalho trabalho assalariado e alienado pelo capital. So demarcadas nessa relao de explorao as contradies entre a classe dos trabalhadores e a dos capitalistas/burguesia.

    Muitos trabalhadores se realizam no trabalho, uma vez que realizam

    atividades criativas, acompanhando sua criao desde a concepo

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    at o produto final. O trabalho passa a ser algo em que o homem

    se realiza. J no trabalho que no h a realizao humana, em que o

    trabalhador no identifica o seu produto por ele produzido, deixa

    de ser algo essencialmente social, tornando-se o trabalho alienado.

    (COSTA, 2007, p.50)

    Assim, imprescindvel esclarecer que, para Marx, o trabalho funda o mundo dos homens. Entretanto, a reproduo deste mundo, a sua histria, apenas possvel pela gnese e pelo desenvolvimento de relaes sociais que vo para alm do trabalho como tal (LESSA, 1999, p.32).

    Na relao com o homem, a natureza transformada em produtos/mercadorias para atender s necessidades humanas. Esses produtos/mercadorias trazem em si o valor de uso, ou seja, a capacidade para satisfazer uma necessidade humana. Porm, sabido que todo produto/mercadoria tem seu valor de troca, ou seja, sua capacidade de ser trocado por outro produto/mercadoria, o que indica ser pensado: como se defi ne o valor/a grandeza dessa troca?

    Para Marx, o que determina o valor dessa troca a quantidade de trabalho e o tempo despendido pelo homem/trabalhador para a produo de um produto/mercadoria valor de uso. Indica Marx que o valor de um produto/mercadoria vem do trabalho realizado pelo homem (SELL, 2001, p.169-170). Portanto, nesse processo que a moeda/dinheiro aparece como outra mercadoria para possibilitar essas trocas no cotidiano da vida social.

    Visualiza-se nessa lgica o objetivo do capitalismo a acumulao capitalista , expressa pelo lucro retirado em cada produto/mercadoria que o trabalhador produz. Ento, em uma empresa que produz geleia de uva, por exemplo, possvel assim compreender: o capitalista investe R$ 500,00 para a aquisio de 100kg de uvas (matria-prima). Contrata um trabalhador (fora de trabalho) por R$ 350,00 por uma determinada jornada de trabalho. O valor total investido pelo capitalista de R$ 850,00 pelo trabalho de transformao da matria-prima em produto (geleia de uva). O trabalhador realiza seu trabalho em oito horas, que se dividem em duas partes: em quatro horas ele fabrica o equivalente ao seu salrio, e nas quatro horas restantes ele produz a mais-valia. O produto ser vendido a R$ 900,00. Como o capital investido foi de R$ 850,00 a mais-valia,

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    nesse caso, um valor de R$ 50,00, que signifi ca o trabalho excedente do trabalhador. Portanto, dessa forma Marx demonstrou, em sua teoria, que o lucro origina-se na explorao do trabalhador pelo capitalista, pois esse trabalhador que gera, de fato, a riqueza que socialmente produzida pelo trabalho coletivo, mas acumulado pela burguesia.

    O trabalho se apresenta, na diviso social, atravs da apropriao privada das

    fontes de produo, no aparecimento das classes sociais e nesse processo

    o trabalho deixa de ser a essncia do homem, por representar sofrimento

    para o trabalhador. No cotidiano, as atividades de trabalho so vivenciadas

    como obrigao, ameaa e at mesmo aprisionamento. Nesse sistema

    capitalista, a mo de obra vendida, e assim o homem tratado como

    mercadoria no mercado. A fragmentao do processo de trabalho no

    permite que o trabalhador tenha acesso ao produto final, o que acaba por

    torn-lo alienado. Assim, o trabalhador busca incessantemente libertar-se

    dessa forma de alienao; entretanto, as necessidades o mantm ligado a

    ela, pela exigncia do trabalho e pela prpria representao deste na vida

    do homem e da sociedade, onde s so valorizados aqueles que produzem

    e encontram-se inseridos como trabalhadores no mercado produtivo.

    (COSTA, 2007, p.51)

    A diviso social do trabalho foi determinada pelo desenvolvimento das foras produtivas em que o processo de trabalho passou a ser operacionalizado a partir da cooperao de muitos trabalhadores trabalho coletivo. As foras desse trabalho so apropriadas pelo capital, submetendo os trabalhadores a certos ramos de atividades profi ssionais. H nesse sentido, uma alienao da atividade humana, com a apropriao do produto do trabalho do homem no por ele mesmo, mas pelo capital e o capitalista.

    Ao estabelecer as relaes salariais, os trabalhadores submetem-se

    ao empregador, que tentar agenciar a fora de trabalho alienada

    segundo seus interesses. A finalidade dessa transao permitir ao

    capitalista obter mais valor do que aquele inicialmente investido.

    (CATTANI, 1995, p.13)

    O processo de produo est intrinsecamente ligado s relaes de trabalho, s formas de organizao da produo e aos meios de produo, o que confi gura o processo de trabalho (CATTANI, 1995, p.13). Para melhor

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    compreenso desses processos, voc, acadmico, poder acompanhar o seguinte esquema:

    Assim, Marx defi ne que todo o processo de transformao de um determinado objeto em um produto determinado, atravs da atividade humana e com a utilizao de instrumentos, confi gura-se em um processo de trabalho. Nesse sentido, no processo de trabalho que o homem estabelece relaes, uma vez que no vive isolado. Essas relaes podem ser de colaborao, de explorao ou, ainda, intermedirias.

    O processo de trabalho no modo capitalista provoca a explorao do trabalho humano em funo da acumulao das riquezas para o capitalista e no para o trabalhador. Ento, para haver maior acumulao da riqueza, exigido um excedente de trabalho do trabalhador a mais-valia. No mbito do Servio Social como uma profi sso,

    o trabalho do assistente social requerido como especialidade da

    diviso sociotcnica e na forma assalariada para responder s estratgias

    de dominao burguesa no enfrentamento das questes sociais que

    emergem da diferenciao e conflito das classes sociais. (BARBOSA et

    al., p.113)

    Compreende-se por diviso sociotcnica do trabalho o processo de organizao do trabalho especializado e as diferentes atividades ou tarefas que os trabalhadores desempenham na sociedade, sejam elas econmicas, polticas ou ideolgicas, de acordo com a sua situao na estrutura social. Portanto, o processo de trabalho constitui-se por elementos que lhe daro

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    sentido e operacionalidade, que so: a matria-prima ou objeto, a atividade humana, os meios ou instrumentos e o produto ou resultado. Acadmico, esses elementos sero abordados, de forma mais detalhada, no prximo captulo deste livro.

    Referncia comentada

    COSTA, Ruthe Corra. A terceira idade hoje sob a tica do Servio Social. Canoas: Ed. ULBRA, 2007.

    Nesse livro, resultante de uma tese doutoral, a autora faz importantes consideraes sobre o envelhecimento humano. Contribuem para o interesse no assunto muito pesquisado nas ltimas dcadas o desenvolvimento de novas tecnologias que propiciam melhor qualidade de vida e de ateno sade fsica e mental das pessoas na sociedade atual. O foco desse estudo, entretanto, a compreenso, pelo assistente social, da condio de participao da terceira idade na vida produtiva da sociedade brasileira, em atividades formais e informais como complemento da renda familiar, e o que isso acarreta na vida cotidiana dos idosos.

    Referncias

    ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Ensaio sobre a afi rmao e negao do trabalho. So Paulo: Bomtempo, 1999.ANTUNES, Ricardo. O desempenho multifacetado do trabalho hoje e sua nova morfologia. Revista Servio Social & Sociedade, n.69. So Paulo: Cortez, 2002.BARBOSA, Rosangela N. de. A categoria processo de trabalho e o trabalho do assistente social. Revista de Servio Social & Sociedade, n.58. So Paulo: Cortez, 1998.CATTANI, Antonio, D. Processo de trabalho e novas tecnologias:

    Processo de trabalho no servio social(c).indd 24Processo de trabalho no servio social(c).indd 24 1/3/2010 14:13:071/3/2010 14:13:07

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    orientao para pesquisa e catlogo de obras. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1995.IAMAMOTO, Marilda V. O Servio Social na contemporaneidade. So Paulo: Cortez, 1998.LESSA, Srgio. Capacitao em Servio Social e Poltica Social. Mdulo 2: Crise contempornea, questo social e Servio Social. Braslia: CEAD, 1999.MARX, Karl. O capital crtica da economia poltica. Livro primeiro. Volume I. 12.ed. Rio de Janeiro: Ed. Bertiend, 1985.RIUS. Conhea Marx. So Paulo: Proposta Editorial. S/d.SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clssica. Itaja: Ed. Univali, 2001.WNSCH, Dolores Sanches et al. Processo de trabalho do Servio Social. Caderno Universitrio, n.76. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.

    Autoavaliao

    Marque com X apenas as alternativas corretas.1. A dialtica busca considerar os elementos do mundo material,

    conhecendo a realidade como ela se apresenta. A partir disso, desvenda a realidade na sua essncia. ( )

    2. A totalidade uma categoria que articula de forma dialtica um processo particular isolando-o dos processos gerais. ( )

    3. Para o marxismo, o ser humano torna-se humano atravs do trabalho. ( )

    4. O trabalho alienado o trabalho que se caracteriza pelo atendimento das necessidades do trabalhador. ( )

    5. Valor de uso a capacidade para satisfazer uma necessidade humana, enquanto valor de troca a capacidade de um produto/mercadoria ser trocado por outro produto/mercadoria. ( )

    6. Para haver maior acumulao da riqueza, exigido um excedente de trabalho do homem a mais-valia. ( )

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  • (2)Elementos

    constitutivos do processo de trabalho

    no Servio Social

    Maria Suzete Mller Lopes

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    Maria Suzete Mller Lopes4

    Neste captulo, conheceremos os elementos que compem o processo de trabalho do assistente social. Comearemos conhecendo quais so esses elementos e, depois, abordaremos o processo de construo do objeto profi ssional no Servio Social.

    2.1 Os elementos constitutivos do processo de trabalho do assistente social

    Os elementos fundantes de qualquer processo de trabalho so: o objeto ou matria-prima sobre o que incidir a ao transformadora

    do trabalho humano. os meios de trabalho que so os instrumentos, as tcnicas, os recursos

    materiais ou intelectuais que propiciam uma potencializao da ao do homem sobre o objeto.

    Para Marx, os meios de trabalho trazem um sentido estrito e um sentido amplo. O sentido estrito indica a existncia de elementos ou coisas que serviro de intermedirios entre o trabalhador que executa a ao e o objeto sobre o qual trabalha. No sentido amplo, agregam-se aos elementos intermedirios todas as condies materiais que no iro interferir de forma direta no processo de transformao, mas que so indispensveis realizao desse processo de transformao.

    Como exemplo de sentido estrito, tem-se: uma mquina de costura, um alicate de unha, uma serra, um bisturi, etc. Para exemplo de sentido amplo, tem-se: um atelier de costura, um salo de beleza, uma marcenaria, um centro cirrgico.

    4 Assistente social, assessora tcnica do Governo do Estado do RS Secretaria de Justia e do Desenvolvimento Social. Mestre em Servio Social, especialista em Metodologias do Servio Social. Docente e coordenadora de Estgio Supervisionado do curso de Servio Social Presencial da ULBRA Canoas e docente do curso de Servio Social a Distncia da ULBRA Canoas.

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    a atividade humana a energia humana ou a fora de trabalho empregada na realizao do processo de trabalho.

    produto o resultado de todo o processo de produo que ocorre sob determinadas relaes de produo.

    Diante disso, faz-se necessrio pensar no processo de trabalho do assistente social e como esses elementos confi guram-se no contexto social atual, a partir da organizao do mundo do trabalho na sociedade globalizada. Nesse sentido, prope-se aqui tecer algumas consideraes acerca do objeto, dos meios e do produto no processo de trabalho profi ssional.

    Primeiramente, importante lembr-lo de que, a partir da dcada de 1980, o Servio Social rompeu com a orientao positivista e conservadora que subsidiava o exerccio de suas prticas, e optou pela fundamentao terico-metodolgica do materialismo histrico, encontrando no vis marxiano uma nova lente para a leitura da realidade social e para o desvelar das demandas sociais.

    Assim, o Servio Social definiu que a questo social o objeto determinado em seu processo de trabalho.

    Questo social apreendida como o conjunto das expresses das

    desigualdades da sociedade madura, que tem uma raiz comum: a

    produo social cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se cada vez mais

    amplamente social, enquanto a apropriao de seus frutos mantm-se

    privada, monopolizada por parte da sociedade. (IAMAMOTO, 1998, p.27)

    Nesse sentido, ela que produz inmeras demandas que se expressam em situaes de violncia domstica, de trabalho infantil, de abandono do idoso, de excluso da fora de trabalho do mercado de trabalho, da discriminao a partir da defi cincia fsica ou intelectual, entre outras tantas. So demandas sociais que se tornam demandas profi ssionais a partir da leitura crtica do assistente social para o reconhecimento de tais requisies.

    Dar conta das particularidades das mltiplas expresses da questo social

    na histria da sociedade brasileira explicar os processos sociais que as

    produzem e as reproduzem e como so experimentadas pelos sujeitos

    sociais que as vivenciam em suas relaes sociais quotidianas. nesse

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    campo que se d o trabalho do assistente social, devendo apreender como

    a questo social em suas mltiplas expresses experienciada pelos sujeitos

    em suas vidas quotidianas. (IAMAMOTO, 1998, p.62)

    Na relao capital e trabalho, no capitalismo, est a questo social com sua multidimensionalidade, com diferentes designaes e as explicaes mais diversas (COSTA, 2007, p.81), que produzem e se reproduzem na vida cotidiana dos sujeitos. Passa a ser ento um desafi o para o processo de trabalho do assistente social reconhecer essa multidimensionalidade a partir dos fenmenos sociais que repercutem na cotidianidade.

    2.2 A construo do objeto no processo de trabalho do assistente social

    A construo e a desconstruo do objeto do trabalho do assistente social tm relao com a prpria histria do Servio Social e, mais particularmente, com a intencionalidade do surgimento dessa profi sso no Brasil, na dcada de 30.

    Para que voc, acadmico, possa ter uma melhor compreenso desse processo de construo do objeto do Servio Social, apresenta-se neste subitem uma breve reviso terica a partir de alguns autores de referncia para a formao e o agir profi ssional do assistente social, na discusso que aqui se apresenta. So eles: Vicente de Paula Faleiros, Josefa Batista Lopes, Myriam Veras Baptista e Marilda V. Iamamoto.

    Nesse sentido, refere Faleiros (1997, p.13) que o objeto inicialmente defi nido teve relao com a proposio de trabalho para os assistentes sociais em dado momento histrico da sociedade brasileira, isto , a necessidade de controle social no que tangia ao comportamento das pessoas a partir de padres tico-morais. Ento, atribuiu-se a esse profi ssional a possvel mudana de comportamento dos sujeitos no que se referia higiene, moral e insero na ordem social.

    Tais atribuies materializavam-se atravs de abordagens individuais e grupais junto a famlias, no que se referia regularizao das relaes de casais desse grupo e seu reconhecimento moral e legal. No decorrer

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    dos anos, fatos histrico-sociais como a Segunda Guerra Mundial, a era desenvolvimentista do Brasil, com o ento presidente Juscelino Kubitschek (1950), o desenvolvimento e a organizao das comunidades, de obras sociais, entre outros, foram demarcando a intencionalidade e o agir do assistente social, ressaltando-se que a orientao paradigmtica desse trabalho profi ssional calcava-se no positivismo, trazendo a ideia do ajustamento social.

    Ressalta-se que, permeando essas questes, se encontravam fortemente as infl uncias europeia e norte-americana, a partir de fundamentos tericos e metodolgicos atravs de modelos de operacionalizao/interveno tais como: o modelo psicossocial, o modelo soluo de problemas, o modelo clnico, entre outros.

    Ainda se fez presente, nesses modelos, a forte infl uncia da psiquiatria e da psicologia, indicando uma interveno teraputica, clnica, com a inteno de tratamento dos desajustados sociais, na perspectiva de ajustamento social daquelas pessoas que no se adequavam ordem social dada. Nesse sentido, reconhece-se que a pessoa, a situao social problema, as relaes sociais, j se constituram como objeto do trabalho do assistente social.

    Como j sabido por voc, acadmico, o Movimento de Reconceituao iniciado em 1965 permitiu a defl agrao de um perodo mpar no Servio Social, que possibilitou o questionamento e a problematizao dos fundamentos terico-metodolgicos do Servio Social, questionando o importado, [...] critica do processo de dominao da classe presente no Servio Social [...] critica burocratizao do servio Social (FALEIROS, 1997, p.17).

    Com o perodo da ditadura militar no Brasil (1964), que demarcou um controle rgido do Estado sobre a sociedade, havia uma forte tendncia ao tratamento das pessoas e das situaes sociais problema, atravs da institucionalizao, evidenciando a ideia de ajustamento ordem social imposta por tal governo. Nesse sentido, ainda se percebe o Servio Social como uma profisso estratgica no controle social. Entretanto, com o Movimento de Reconceituao e a instalao da ditadura militar no pas, muitos assistentes sociais passaram a mobilizar-se na organizao de movimentos sociais em

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    lutas especficas para conquista de direitos sociais e, tambm, contra o capitalismo.

    O eixo da crtica se constri ao mesmo tempo que o eixo da interveno,

    sendo esta a meu ver a marca central do movimento de reconceituao

    [...] a centralidade da interveno na relao personalidade/meio/

    recurso muda para uma centralidade nas relaes sociais de classe, de

    dominao de grupos. Essa desconstruo/construo de objeto implicou

    consequncias profundas na identidade profissional do Servio Social,

    que se mesclou com a atividade militante ligada aos movimentos sociais

    e partidos polticos, para uns identicamente consideradas, para outros

    com interfaces significativas. (FALEIROS, 1997, p.17)

    A partir da organizao efetiva dos movimentos sociais no Brasil, em torno da dcada de 80, segmentos sociais discriminados, principalmente as mulheres, os negros e os homossexuais, reforaram sua luta por direitos que, com a Constituio Federal de 1988, foram reconhecidos, demarcando um novo tempo para a sociedade brasileira e para o Servio Social como profi sso interventiva sobre a questo social.

    Na esteira dos acontecimentos sociais e polticos, na medida em que os assistentes sociais posicionavam-se criticamente ou na releitura conservadora diante dos fenmenos sociais que demandavam aes profi ssionais, e na medida em que ocupavam os diferentes espaos sociais, foi-se construindo e desconstruindo historicamente o objeto na correlao de foras.

    Para Josefa B. Lopes, o objeto entendido como:

    processo comandado pelo conhecimento e condicionado pela realidade,

    na relao entre conhecimento e realidade h uma mediao que feita

    pelo mtodo, expressando uma inteno. Assim interage na construo

    do objeto como totalidade: conhecimentos tericos, inteno, mtodo

    e realidade concreta. (apud WNSCH, 2003, p.21)

    Essa autora sugere que os conhecimentos tericos possibilitam a formulao do objeto, que deve ser problematizado a partir dos fenmenos sociais em que os sujeitos esto envolvidos. Enfatiza que, para a construo do objeto no Servio Social, o conhecimento ou inexiste ou existe de forma precria e nem sempre est no mbito da profi sso, e reconhece que h

    Processo de trabalho no servio social(c).indd 33Processo de trabalho no servio social(c).indd 33 1/3/2010 14:13:081/3/2010 14:13:08

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    certa falta de interesse por isso no Servio Social. Comenta que as prticas profi ssionais no Servio Social sempre se marcaram por uma ao emprica e sem defi nio epistemolgica.

    Ainda considera que, para a construo do objeto, alm do conhecimento, deve ser considerada a inteno, ou seja, os objetivos que o assistente social quer alcanar com a sua interveno, considerando as relaes sociais da sociedade, tendo um projeto terico-prtico de interveno que pode defi nir-se pela inteno de ajustamento e controle social ou pela mudana do curso da histria. Essas intenes podem ser tericas e prticas.

    Tambm aponta que a construo do objeto indica a necessidade de um mtodo, que especifi ca um corpo terico determinado por um conjunto de relaes em que se encontra a relao sujeitoobjeto, que defi ne a importncia no processo de conhecimento e de interveno. Nesse sentido,

    o importante para a autora so as relaes estabelecidas pelo Servio

    Social com os objetos de sua ao, onde a teoria o ponto de partida e as

    regras, as tcnicas, no tm valor em si mesmas, valorizam-se a partir da

    perspectiva terica que lhe d feio e sentido. (WNSCH, 2003, p.22)

    A participao da realidade social na construo do objeto ocupa suma importncia, pois a realidade concreta, real, decisiva para o processo de conhecimento e de interveno e deve ser considerada a histria pessoal e familiar do sujeito. Assim, a autora aponta que a construo do objeto indicou concepes a partir dos problemas sociais, dos fenmenos sociais e, logo, para as situaes sociais problema.

    Para Myriam V. Baptista, o objeto da interveno profi ssional do assistente social o segmento da realidade que lhe posto como desafi o, aspecto determinado de uma realidade total sobre a qual ir formular um conjunto de refl exo e de proposies para a interveno (WNSCH, 2003, p.29).

    Portanto, objeto algo a ser construdo historicamente na medida em que o assistente social relaciona-se com o real, ou seja, com a realidade a ser transformada. Assim, na medida em que se depara com a demanda solicitada pelo empregador em meio realidade institucional, s suas

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    estratgias e polticas, depara-se tambm com a demanda requerida pelo usurio que busca na instituio um recurso para a sua situao social.

    Nesse sentido, identifi ca-se um dilema para o assistente social em relao demanda institucional, que seu ponto de partida, e a demanda da populao usuria. Baptista comenta que a questo primeira est na superao desse dilema, a fi m de reelaborar o objeto, reelaborar a demanda. A demanda existe porque existe um problema econmico, social, poltico, cultural, uma questo que deve ser interpretada pelo profi ssional de forma mais ampla, para alm da situao apresentada.

    O assistente social, por aproximaes sucessivas, vai desvelando sua objetividade, caminhando do particular para o universal, do campo das microatuaes para o das relaes sociais mais amplas, para retornar ao particular, s aes localizadas, em outro nvel de refl exo (WNSCH, 2003, p.30).

    A partir do conhecimento dessa relao, identifi cam-se categorias centrais a totalidade e a contradio , pois, na medida em que se amplia a lente da anlise e refl exo sobre o real, tem-se uma tica mais abrangente, parte-se da parcialidade do fenmeno para a totalidade de que faz parte. Nessa mesma tica se reconhece que a prtica, quando fi ca na parcialidade do fenmeno, apresenta contradies em si e ocorrem o desvelar e o ocultar da essncia do fenmeno e da realidade de que faz parte. Dessa forma, a autora refl ete sobre uma situao social que deve ser interpretada por uma dimenso de totalidade, o que exige do assistente social um conhecimento para a interveno de ordem transdisciplinar (WNSCH, 2003, p.30).

    Iamamoto apresenta a questo social como matria-prima/objeto do processo de trabalho do assistente social, que foi sendo desconstrudo/construdo na medida em que essa profi sso foi fazendo a releitura das dimenses social, poltica econmica, cultural, institucional ante a relao capital e trabalho nas ltimas dcadas, no mais sob a tica positivista, mas sim dialtico-crtica.

    [...] questo social em suas mltiplas manifestaes sade da mulher,

    relaes de gnero, pobreza, habitao popular, urbanizao de favelas

    etc. -, tal como vivenciadas pelos indivduos sociais em suas relaes

    sociais quotidianas, s quais respondem com aes, pensamentos e

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    sentimentos. Tais questes so abordadas pelo assistente social por

    meio de inmeros recortes, que contribuem para delimitar o campo ou

    objeto de trabalho profissional no mbito da questo social. Importa

    considerar as caractersticas especficas que as expresses da questo

    social assumem aos nveis regional, estadual e municipal e as alteraes

    scio-histricas que nelas vm se processando, tambm em funo das

    formas coletivas com que possam estar sendo enfrentadas pelos sujeitos

    envolvidos. (IAMAMOTO, 1998, p.100)

    Portanto, a partir dessa concepo de objeto, o assistente social dever compreender como se expressa e se materializa a questo social na vida dos sujeitos sociais, no mbito dos processos particulares e sociais.

    Considera-se que o movimento de globalizao, desde a dcada de 80, acentuando-se na de 90, no Brasil, vem impondo um novo modo de produo capitalista, um novo formato ao mundo do trabalho e, consequentemente, aos trabalhadores quanto ao seu perfil, s exigncias e atribuies/funes, o que deriva para a formao de novas demandas sociais e, por sua vez, para a necessidade de maior ateno no deciframento das expresses da questo social.

    A competitividade individual se acentua, na nossa poca, na disputa

    pelo emprego, pela forma fsica, pela aparncia, pela performance.

    Nesse contexto de guerra interindividual, o fortalecimento do sujeito

    na prtica profissional significa a interveno na capitalizao do

    sujeito, enquanto enriquecimento da vida individual/coletivamente

    para que se possa enfrentar essa condio de perda do poder, de

    perda de capitais, de patrimnios afetivos, familiares, culturais,

    econmicos, para enfrentar as mudanas de relaes/trajetrias da vida

    (life course), no tempo histrico e social desta sociedade determinada.

    (FALEIROS, 1997, p.23)

    Nesse sentido, no s se abre a possibilidade de novas intervenes profissionais, mas tambm h a exigncia de aprimoramento do instrumental do assistente social para dar conta de processos particulares e sociais, conjunturais e estruturais, considerando o sujeito como um ser histrico e de relaes.

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    Atividades

    Para o marxismo, os elementos fundamentais que compem todo e qualquer processo de trabalho so: o objeto, os meios de trabalho e o produto. Explique claramente cada um desses elementos e o processo como um todo, e apresente para os colegas. Caso no seja possvel a apresentao, ser permitida uma exemplifi cao por escrito.

    Referncia comentada

    FALEIROS, Vicente de Paula. Estratgias em Servio Social. So Paulo: Cortez, 1997.

    Essa obra refl ete sobre a articulao, a histria, as estratgias e a teoria nas relaes dos sujeitos sociais com os quais os assistentes sociais trabalham. O autor ainda evidencia o trabalho de fortalecimento dos sujeitos oprimidos a partir de estratgias de ao que aproximam o profi ssional do usurio.

    Referncias

    ALMEIDA, Ney L. T. de. Consideraes para o exame do processo de trabalho do Servio Social. Revista Servio Social & Sociedade, n.52. So Paulo: Cortez, 1997.BARBOSA, Rosangela Nair de C. et al. A categoria processo de trabalho e o trabalho do assistente social. Revista de Servio Social & Sociedade, n.58. So Paulo: Cortez, 1998.COSTA, Ruthe Corra da. A terceira idade hoje sob a tica do Servio Social. Canoas: Ed. ULBRA, 2007.IAMAMOTO, Marilda v. Servio Social em tempo de capital fetiche. So Paulo: Cortez, 2007.

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    IAMAMOTO, Marilda V. O Servio Social na contemporaneidade: trabalho e formao profi ssional. So Paulo: Cortez, 1998 e 2001.OLIVEIRA, Jairo da Luz. O processo de trabalho do assistente social na sua abordagem com moradores de rua. Programa de Ps-Graduao/Doutorado em Servio Social da Faculdade de Servio Social da Pontifcia Universidade Catlica do RS. Porto Alegre, 2008.WNSCH, Dolores Sanches et al. Processo de Trabalho do Servio Social I. Cadernos Universitrios, n.76. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.

    Autoavaliao

    I Marque apenas as alternativas falsas.1. Acerca da categoria Trabalho, possvel afi rmar que:

    a) o trabalho segue o mesmo processo tanto como atividade realizada pelo homem como pelo animal. ( )

    b) o trabalho s possvel como atividade coletiva, pois o ato individual histrico-social. ( )

    c) o trabalho uma atividade fundamental do homem, pois mediatiza a satisfao de suas necessidades diante da natureza e de outros homens. ( )

    2. Marx chama fora de trabalho:a) energia empregada no processo de trabalho. ( )b) aos instrumentos utilizados. ( )c) ao objeto fi nal criado no processo de trabalho. ( )

    3. O homem, ao realizar seu trabalho, capaz de projetar, antecipadamente, na sua mente, o resultado a ser obtido. Essa capacidade chama-se:

    a) terico-metodolgica. ( )b) cognitivo-projetiva. ( )c) teleolgica. ( )

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    II Marque a(s) alternativa(s) verdadeira(s).( ) 1. O trabalho no opera na subjetividade dos sujeitos, pois no

    permite descobrir novas capacidades e qualidades humanas.( ) 2. O momento da transformao o mais importante do processo

    de trabalho, e este realizado pela atividade humana.( ) 3. Pelo trabalho, o homem no se afi rma como ser social.( ) 4. O Servio Social uma profi sso da diviso social e tcnica

    do trabalho. Assim, pode-se dizer que uma especializao do trabalho coletivo.

    III Responda.1. O objeto do processo de trabalho do assistente social foi sendo

    construdo na sua trajetria histrica. Explique a concepo de objeto dada por Josefa Lopes.

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  • (3) Conhecimentos,

    habilidades e atitudes (CHA)

    Simone da Fonseca Sanghi

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    Simone da Fonseca Sanghi5

    Comearemos defi nindo conhecimentos, habilidades e atitudes o CHA do Servio Social. Na sequncia, relacionaremos o CHA com as dimenses terico-metodolgica, tcnico-operativa e tico-poltica da profi sso. Por fi m, refl etiremos o CHA na perspectiva do processo de trabalho do assistente social.

    3.1 O que so conhecimentos, habilidades e atitudes?

    Cada vez mais, diante de um mundo globalizado e um mercado competitivo, profi ssionais de diversas reas so chamados a estarem em constante vigilncia no que diz respeito ao seu aprimoramento pessoal e profi ssional. comum ouvirmos que para se colocar no mercado de trabalho no basta ter conhecimentos sobre determinada funo, preciso que o profi ssional apresente um conjunto de atributos que no s lhe auxiliem no desempenho das suas aes, mas garantam boas relaes interpessoais e a qualidade dos servios realizados.

    A qualidade dos servios realizados requer profi ssionais competentes nas suas atribuies. Essa competncia, em se tratando de Servio Social, compreende conhecimentos, habilidades e atitudes, conhecidos como o CHA da competncia profi ssional. Conceitos como conhecimento, habilidade e atitude passam a compor o quadro de caractersticas necessrias ao profi ssional empreendedor e proativo, ou seja, algum que desenvolva respostas inditas, criativas e efi cazes para problemas antigos e novos, que se projeta frente tal qual a proa de uma embarcao.

    Entende-se por competncia um conjunto de habilidades criativa e coerentemente desenvolvidas que qualifi cam uma funo e/ou profi sso especfi ca, como, por exemplo, ser engenheiro, professor ou assistente

    5 Assistente social, graduada e mestre em Servio Social, professora de graduao e ps-graduao em Servio Social ULBRA Canoas e Gravata.

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    social. Pode-se dizer que uma competncia implica a mobilizao de diversos conhecimentos para que se possa enfrentar um determinado desafio ou demanda. uma espcie de capacidade para encontrar diferentes recursos e estratgias no momento e da forma mais coerente.

    As competncias so formadas por habilidades, ou seja, quanto mais habilidades para fazer algo, mais competente ser a pessoa ou o profi ssional para realizar seu trabalho. O ato de dirigir pode ser tomado como exemplo ilustrativo. Logo que tiramos nossa Carteira Nacional de Habilitao (carteira de motorista), comum termos medos, receios, ansiedades quando estamos no volante. Com o passar do tempo, vamos aprimorando nossos conhecimentos e desenvolvemos as habilidades de trocar as marchas, de noo de espao e, com isso, desenvolvemos uma segurana maior. Ter essa segurana maior revela que estamos mais hbeis no ato de dirigir e, portanto, mais competentes.

    Assim, habilidades so desenvolvidas na busca das competncias. Elas integram o saber fazer, ou seja, a ao fsica ou mental que indica uma capacidade adquirida em decorrncia das habilidades desenvolvidas. Relacionando com o nosso fazer profi ssional, ao identifi car a multidimensionalidade de uma situao, apreender o real, correlacionar os fatos, analisar a sociedade, estamos utilizando nossas habilidades para fazer nosso trabalho de forma competente.

    Importante lembrar que uma habilidade no pertence a determinada competncia, uma vez que uma mesma habilidade pode contribuir para competncias diferentes. A habilidade de analisar a sociedade por diferentes enfoques no atributo exclusivo do assistente social. Outros profi ssionais, como economistas, socilogos, antroplogos, tambm possuem e utilizam-se dessa habilidade dando direcionamentos distintos para ela de acordo com o seu foco de estudo.

    Alm de conhecimentos e habilidades, exige-se que os profi ssionais tenham atitude para desenvolver suas competncias. Geralmente essa expresso bem conhecida no vocabulrio dos jovens e adolescentes, pois ter atitude demarca uma forma de amadurecimento perante o grupo e a turma qual pertence. Ter atitude signifi ca ter uma postura, apresentar um posicionamento diante de alguma questo. Popularmente, costuma-se dizer que quem no tem atitude, fi ca sempre em cima do muro, isto

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    , prefere no se comprometer, orientando-se pelas decises da maioria.A mudana de atitude precede a mudana de vida. Onde h mudana

    de atitude, h mudana de vida. Atitude sem mudanas na vida no atitude, desejo que carece de impulso. Um novo emprego, um novo empreendimento, um novo relacionamento, uma nova opinio podem partir de atitudes renovadas, o que certamente produzir resultados diferenciados. Afi nal, quando se trilha o mesmo caminho, chega-se apenas e to-somente aos mesmos lugares. Isso tambm serve para ns, assistentes sociais, no desenvolvimento da nossa prtica. Ao instigarmos as potencialidades dos usurios, estaremos construindo novas viagens e novos caminhos para que eles possam trilhar sua trajetria de vida pessoal e social. Ao invs disso, se ditarmos regras de conduta e imposio de valores, acabaremos reforando sua condio de vulnerabilidade.

    Ter atitude remete-nos a pensarmos melhor sobre o que realmente faz sentido em nossas vidas e o que defi nitivamente queremos abolir do nosso cotidiano. Se voc est em fase de transio e normalmente estamos , aceite o convite para refl etir sobre suas atitudes. Corra o risco de no apenas ter ideias criativas e inovadoras, mas tambm de livrar-se das antigas.

    Um exemplo para pensarmos em atitudes o ato de fumar. Muitas pessoas tm o hbito de fumar, e outras, de criticar esse hbito. Ficam pensando: por que os fumantes continuam com esse hbito mesmo cientes de todos os males sade cientifi camente comprovados?. A pessoa que fuma geralmente tem conscincia de que esse hbito prejudicial sua sade, porm, como no sente que a prtica esteja minando seu organismo, continua a fumar. At que, um dia, uma pessoa conhecida morre vitimada por um enfi sema pulmonar. Nesse momento, aberta a porta para acessar a dimenso emocional do fumante, e ele sente o mal ao qual est se sujeitando e decide agir, mudando seu comportamento, tomando uma atitude: deixar de fumar. Isso mostra que, para termos uma atitude, preciso que ela faa sentido em nossa vida. Se no faz sentido, difi cilmente a pessoa muda.

    Tendo visto o que so conhecimentos, habilidades e atitudes, elementos que compem as competncias, passamos a refl etir sobre sua relao com as dimenses da prtica profi ssional no Servio Social.

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    3.2 A relao das dimenses do agir profissional com o CHA

    O Servio Social uma profi sso inserida na diviso sociotcnica do trabalho, ou seja, participa do processo de produo e reproduo das relaes sociais. Em outras palavras, a prtica profi ssional do assistente social faz parte do processo de organizao do trabalho em determinada sociedade. Nesse sentido, no integra a produo industrial nem a produo agrcola, mas a produo de servios. O assistente social realiza e/ou presta servios. Essa realizao ou prestao de servios orienta-se por determinados conhecimentos tcnicos, uma maneira ou habilidade especial de executar ou fazer algo. Por exemplo, o assistente social, o psiclogo, o mdico, o policial realizam entrevistas, mas as tcnicas divergem.

    Segundo Iamamoto (2001, p.19),

    O assistente social desenvolve um tipo de trabalho especializado que se

    realiza no mbito de processos e relaes de trabalho, no podendo ser

    visto isoladamente, mas como resultado de dois elementos fundamentais:

    desempenho profissional e as circunstncias sociais nas quais se realiza

    o trabalho.

    Para pensar o desempenho profissional competente, preciso retomar a prpria formao em Servio Social desenvolvida nos mais diversos espaos universitrios, que apresentam como caracterstica central sua formao pautada em uma orientao curricular, ou seja: uma direo intelectual e poltico-pedaggica. Essa orientao, no Servio Social, construda no mbito da Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social (ABEPSS), fundada em 1946. Essa orientao costuma ser expressa em forma de diretrizes. Essas diretrizes encontram-se organizadas em torno de trs dimenses implicadas no fazer profissional: terico-metodolgica, tcnico-operativa e tico-poltica. Para compreendermos melhor cada uma dessas dimenses, veremos cada uma separadamente, relacionando-as com o CHA.

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    De acordo com a ABEPSS, a formao em Servio Social dever preparar:

    Um profissional que atue nas expresses da questo social, formulando

    e implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de

    polticas sociais pblicas, empresariais, de organizaes da sociedade civil

    e movimentos sociais. (2008)

    Para tanto, exige-se uma formao acadmica intelectual e crtica, competente em sua rea de desempenho, com capacidade de insero propositiva no conjunto das relaes sociais e no mercado de trabalho, alm do compromisso com os valores e princpios norteadores do Cdigo de tica do Assistente Social.

    A dimenso terico-metodolgica corresponde aos saberes e s concepes que norteiam nossas intervenes, ou seja, o conhecimento adquirido durante a formao e/ou exerccio profi ssional, a compreenso dos diferentes referenciais tericos que infl uenciaram e ainda infl uenciam nossa prtica. Como exemplo, podemos citar o conhecimento e/ou aprofundamento terico de alguns expoentes da fi losofi a, da sociologia, da histria que contriburam para desenvolver nossa capacidade de pensar e compreender as relaes existentes na sociedade.

    A dimenso tcnico-operativa refere-se aos meios de trabalho adotados pelos profi ssionais na sua prtica, ou seja, a habilidade de colocar o conhecimento em ao. Essa dimenso demonstra a operacionalidade das tcnicas e dos instrumentos utilizados no nosso processo de trabalho. Muitos desses instrumentos no so especfi cos do Servio Social. No entanto, vale lembrar que a utilizao deles por um assistente social tem uma conotao diferenciada. Uma entrevista ou uma visita domiciliar realizada por um profi ssional de nossa rea implica conhecimentos, alm, claro, de um conjunto de habilidades especfi cas.

    A dimenso tico-poltica est ligada ao compromisso que temos com o projeto tico-politico de nossa profi sso, ou seja, vai ao encontro dos princpios e valores desejveis ao exerccio da nossa prtica. Essa dimenso est relacionada capacidade de recriar intelectualmente e operacionalizar o conhecimento no trabalho-ao que resulta da tomada de atitude. Entende-se que as atitudes so molas propulsoras da nossa

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    prtica, pois, mesmo que tenhamos conhecimentos e habilidades necessrias ao exerccio profi ssional, se no tivermos atitude, fi caremos no mesmo lugar, ou seja, paralisados pelos efeitos do cotidiano.

    Dessa forma, preciso que estejamos preparados para contemplar, em nosso processo de trabalho, as trs dimenses citadas acima, uma vez que so interdependentes, indissociveis e indispensveis para o exerccio de uma prtica comprometida na busca pela materializao dos direitos sociais e de uma sociedade mais justa e igualitria.

    3.3 A relao do CHA com o processo de trabalho no Servio Social

    Para falar em processo de trabalho, necessrio retomar a prpria histria do surgimento da profi sso no pas, que acontece na dcada de 30, quando se observava uma grande infl uncia europeia e americana, marcadamente positivista. O positivismo, uma corrente fi losfi ca que surge no sculo XIX, com Augusto Comte, tinha como objetivo criar uma cincia chamada moral. A moral positiva era o conjunto das melhorias psquicas, dos aperfeioamentos afetivos, intelectuais e de aes prticas, com sua respectiva infl uncia sobre as funes do organismo humano para torn-lo mais til. Essa doutrina buscava manter a coeso social e, para isso, utilizava-se do ajustamento dos sujeitos para a manuteno da ordem na sociedade.

    Nesse perodo (1930-1960), o Servio Social brasileiro, infl uenciado pela doutrina positivista, buscava modifi car comportamentos das pessoas e aspectos do seu cotidiano para melhor ajust-los sociedade, negando a relao existente entre o comportamento humano e o processo histrico vivenciado por este. O Servio Social apenas falava de problemas pessoais e/ou sociais que se transformavam em anormalidades da vida social, visando erradicar enfermidades sociais que perturbavam o equilbrio da sociedade.

    Na dcada de 60, durante a efervescncia de diversos movimentos sociais de libertao na Amrica Latina, e com o Brasil entrando num perodo ditatorial aps o golpe de 64, a categoria profi ssional sente a

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    necessidade de uma reformulao da sua base terica e metodolgica e de uma inteno de ruptura com o conservadorismo. Essa inteno de ruptura emergiu no quadro da estrutura universitria brasileira, e sua formulao inicial teve como cenrio a Escola de Servio Social da Universidade Catlica de Minas Gerais e da Pontifcia Universidade Catlica de Porto Alegre. Mesmo que gestada nos anos 1960, essa inteno passou a orientar o trabalho e os organismos da categoria profi ssional apenas a partir da dcada de 80.

    O projeto de ruptura revelava-se como uma crtica aos conhecimentos e modelos de ajustamento importados. Como alternativa, defendia conhecimentos diferentes, decorrentes de um novo embasamento terico, o materialismo dialtico. Este, tambm conhecido como inteno de ruptura, tornou-se a principal alternativa dentro do Movimento de Reconceituao no Servio Social.

    O Movimento de Reconceituao (a partir da segunda metade da dcada de 1960) foi um marco que buscava por um referencial modernizador, cuja interveno centralizava-se numa perspectiva de integrao social, com uma possibilidade de interveno construda a partir de um olhar ampliado do campo de ao. A imerso de um grupo de estudantes e assistentes sociais na busca por uma nova teorizao acabou direcionando-os para a busca de um referencial condizente com a realidade social, negando a orientao profi ssional positivista da neutralidade.

    H, assim, um resgate do referencial marxista como tendncia crtico-poltica que questiona o modelo dominante e os valores dominantes presentes nos modelos de prtica profi ssional importados que reforavam a crena de que todos pudessem unir-se para um trabalho consensual em benefcio da maioria sem colocar em xeque a estrutura da sociedade.

    Segundo Faleiros:

    O questionamento desse modelo surge no bojo de um questionamento

    geral que advm das lutas pela independncia dos pases dominados, da

    denncia do imperialismo e do aprofundamento da questo da luta de

    classes. (2002, p.16)

    Esses questionamentos fazem emergir uma crise ideolgica no mbito da profi sso, implicando a desconstruo e reconstruo de seu objeto de

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    interveno e a consequente reformulao do seu processo de trabalho a partir do referencial marxista. Esse referencial compreende a vida social a partir da contradio presente no modo de produo da sociedade: a classe trabalhadora produz a riqueza e a classe burguesa se apropria dela. Logo, prope a transformao da sociedade de acordo com as leis do desenvolvimento histrico de seu sistema produtivo. Portanto, as mudanas histricas resultam de lentos processos sociais, econmicos, polticos e culturais baseados na forma assumida pela propriedade dos meios de produo e pelas relaes de trabalho.

    Pautado nessas ideias, o processo de trabalho do assistente social comeou a ser transformado, passando a ter como objeto de sua interveno a transformao social. Deslocou-se, assim, a centralidade da interveno na relao personalidademeiorecurso para a centralidade nas relaes de classe, de dominao e de grupos (FALEIROS, 2002).

    No bojo desse movimento de desconstruo/reconstruo do objeto, havia a preocupao com o desenvolvimento terico do Servio Social em termos de criticidade e compromisso poltico. Assim, a partir dos anos 80, uma parte dos assistentes sociais, dentro de um vis crtico, assumiu uma identidade com os movimentos sociais, tendo como objeto no mais mudar o comportamento e o meio, mas contribuir para a organizao social a fi m de derrotar o capitalismo.

    Nos anos 90, com a mudana dos prprios movimentos sociais, que passam a se organizar a partir de demandas especfi cas das minorias6 que se encontram em situao de vulnerabilidade social, como mulheres, negros, portadores de defi cincia, entre outros, h uma nova construo do objeto de trabalho, o qual passa a se pautar na dinmica das expresses da questo social.

    Nesse contexto,

    Questo Social apreendida como o conjunto das expresses das

    desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum:

    6 Minorias nesse sentido, no se confundem com grupo pequeno de pessoas, mas trata-se de um conjunto social que se encontra, se sente e se representa como discriminado e oprimido na sociedade, nas relaes sociais estruturantes de classe, gnero, orientao sexual, etc. (FALEIROS, 2002, p.19).

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    a produo social que cada vez mais coletiva (...), mas a apropriao

    de seus frutos mantm-se privada, monopolizada por uma parte da

    sociedade. (IAMAMOTO, 2001, p.27)

    Assim, a contradio fundamental nesse modelo de sociedade est justamente na acumulao de capital por parte de alguns e no aumento crescente da misria e da pauperizao que atinge grande parte da populao, o que contribui para o acirramento das contradies e discriminaes existentes. Nessa dinmica complexa da sociedade, a partir da compreenso das relaes de dominao e explorao, o objeto do Servio Social est em permanente desconstruo/reconstruo mediante as mediaes libertadoras entre a estrutura social e o cotidiano dos sujeitos, buscando a superao da excluso e a emancipao do sujeito e seu empoderamento (FALEIROS, 2002).

    No momento em que o objeto de trabalho passou a ser outro, seu processo tambm necessitou ser reorganizado, buscando novos conhecimentos, novas habilidades e novas atitudes para a prtica profi ssional. O Servio Social rompeu com uma viso controladora dos sujeitos, dois quais passa a ser aliado no acesso garantia de direitos, na luta contra toda forma de discriminao e explorao. Consequentemente, buscou formas coletivas de organizao e fortalecimento dos espaos pblicos como forma de luta e resistncia a essas contradies.

    Podemos afi rmar que, ao buscar novos conhecimentos, habilidades e atitudes, os assistentes sociais deixaram de ser profi ssionais meramente executivos, tornando-se propositivos. Nessas circunstncias, os assistentes sociais vivem no presente o desafi o de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir das demandas emergentes do cotidiano (IAMAMOTO, 2001, p.20).

    preciso lembrar que o fato de reconhecermos que os assistentes sociais possuem competncia necessria para propor, para negociar e defender seu campo de trabalho no signifi ca que tenhamos uma varinha mgica de onde acionaremos as respostas necessrias s demandas apresentadas. Pelo contrrio, o aprendizado constante, exigindo permanente busca de novos conhecimentos, novas habilidades que impulsionem novas atitudes. Nesse processo, cabe aos profi ssionais apropriarem-se dessas

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    possibilidades e, como sujeitos, desenvolv-las em projetos e frentes de trabalho (IAMAMOTO, 2001, p.21).

    Atividades

    No Servio Social, a competncia compreende conhecimentos, habilidades e atitudes, conhecidos como o CHA da competncia profi ssional.

    Realize uma das duas atividades propostas:- em grupos menores, crie um teatro representando a necessidade de

    conhecimentos, habilidades e atitude no enfrentamento de uma demanda.

    - selecione trechos de um fi lme, vdeo ou uma reportagem (escolha livre) e identifi que conhecimentos, habilidades e atitudes agenciados.

    Referncia comentada

    RYOS, Teresinha. tica e competncia. So Paulo: Cortez, 2006.

    Essa obra ser recomendada para leitura na ntegra, bem como para sua discusso posterior, tendo em vista que uma produo importantssima para a reflexo sobre a formao e o desempenho profissionais pautados na questo da competncia, mais especifi camente na presena de uma dimenso tica para o desenvolvimento da competncia profi ssional. A especifi cidade dessa produo est na tentativa de superar o senso comum, com vistas a uma profi ssionalizao em que haja o duplo carter da competncia: sua dimenso tcnica e sua dimenso poltica.

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    Referncias

    AMARO, Sarita. Visita domiciliar. A&G Editora, 2005.ANDER-EGG, Ezequiel. Historia del Trabajo Social. Humanitas, 1972. BENJAMIN, Alfred. A entrevista de ajuda. So Paulo: Martins Fontes, 1994.COLETNEA DE LEIS. CRESS Cdigo de tica do Servio Social.DEBATES SOCIAIS, volume 1 Documento de Arax. Rio de Janeiro, Centro de Cooperao e intercmbio de Servios Sociais CBCISS, 1965.FALEIROS, Vicente de Paula. Estratgias em Servio Social. So Paulo: Cortez, 1997.FERNANDES, Rosa Castilhos. Sistematizao para o caderno universitrio.GIL, A. C. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. So Paulo: Atlas, 1989.IAMAMOTO, Marilda. O Servio Social na contemporaneidade: trabalho e formao profi ssional. So Paulo: Cortez, 2001.MATOS, Maria de Ftima Cardoso. Refl exes sobre a instrumentalidade em Servio Social: observao sensvel, entrevista, relatrio, visitas e teorias de base no processo de interveno social. So Paulo: LCTE Editora, 2008.MINAYO, Maria Cecilia de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, mtodo e criatividade. 23.ed. Petrpolis: Vozes, 1994.RICHARDSON, Roberto Jarry. A pesquisa social: mtodos e tcnicas. So Paulo: Atlas, 1999.RYOS, Teresinha. tica e competncia. So Paulo: Cortez, 2006. VIEIRA, Balbina Ottoni. Histria do Servio Social: contribuio para a construo de sua teoria. 5.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1989.ZIMERMAN, David. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997.

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    Autoavaliao

    Marque V quando for verdadeira e F quando for falsa a afi rmao.

    1. Competncia um conjunto de habilidades criativa e coerentemente desenvolvidas que qualifi cam uma funo e/ou profi sso especfi ca. ( )

    2. Ter atitude signifi ca ter uma postura de romper com tudo quando no encontra outra sada. ( )

    3. A dimenso terico-metodolgica corresponde ao conhecimento adquirido durante a formao e/ou exerccio profissional, a compreenso dos diferentes referenciais tericos que infl uenciaram e ainda infl uenciam nossa prtica. ( )

    4. A dimenso tcnico-operativa refere-se ao resultado do trabalho realizado pelos profi ssionais na sua prtica. ( )

    5. A dimenso tico-poltica est ligada a princpios e valores desejveis ao exerccio da nossa prtica. ( )

    6. A contradio presente no modo de produo da sociedade capitalista consiste no seguinte: a classe trabalhadora produz a riqueza e a classe burguesa se apropria dela. ( )

    7. Os assistentes sociais vivem, nos dias atuais, o desafi o de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir das suas idias e percepes pessoais. ( )

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  • (4)A instrumentalidade

    do Servio Social

    Ruthe Corra da Costa

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    Ruthe Corra da Costa7

    Comearemos com consideraes acerca da instrumentalidade, depois responderemos pergunta: o que a instrumentalidade no Servio Social? Por fi m, abordaremos os instrumentos no processo de trabalho do assistente social.

    4.1 Consideraes acercada instrumentalidade

    A base de fundamentos da ordem burguesa centra-se nas abstraes que so criadas, no plano material, atribuindo aos fenmenos uma concretude no verdadeira. As determinaes que aparecem no processo de trabalho, os vnculos que os seres humanos estabelecem com outros seres humanos atravs do produto do seu trabalho atribuem determinado contedo s representaes que eles fazem da realidade. Nessa concepo, coerente afi rmar que as mistifi caes ou o fetiche8 que envolvem as representaes que os assistentes sociais tm da sua prtica, sobretudo no que concerne s mediaes que historicamente se interpem interveno profi ssional, fundam-se em bases materiais9.

    Se as representaes sobre o real so parte necessria do real; so sombras, refl exos, formas invertidas das relaes, processos e estruturas do capitalismo (IANNI, 1988, p.10). Tais representaes, ao mesmo tempo em que so parte constitutiva da realidade, so mediaes intelectivas necessrias concretizao da interveno profi ssional, j que o ideal

    7 Assistente social, doutora em Servio Social, professora de graduao e ps-graduao em Servio Social ULBRA