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Ac. 556/2021-1 Processo nº 556/2021 Acordam na Secção Cível e Administrativa do Tribunal de Segunda Instância da RAEM I A, instaurou no Tribunal Judicial de Base acção de processo comum do trabalho, contra a B, S. A. e a C, S.A., ambas devidamente identificadas nos autos, doravante abreviadamente designada B e C. Em sede de contestação apresentada pela Ré B, foi deduzida a excepção peremptória de prescrição do direito aos créditos contra ela reclamados. A excepção foi julgada improcedente no saneador nos seguintes termos: Excepção por prescrição Na contestação, vieram as Rés invocar a excepção por prescrição relativamente a todos os créditos vencidos até 06/07/2005 que o Autor peticionou. O Autor negou a sua procedência. Cumpre decidir. Na petição inicial, o Autor alegou, entre outros, que ele prestou trabalho para a 1ªRé entre 2001 e 2003 e para a 2 a Ré desde 2003 até ao presente, e pediu os subsídios, compensações diferentes, devolução da comparticipação no alojamento e os juros de mora. Face aos referidos créditos, tendo em conta a inexistência das

Processo nº 556/2021 I

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Perante as volumosas conclusões de motivação do recurso, é de frisar que ao tribunal não cabe debater com as partes recorrentes e recorridas todos os argumentos por elas deduzidos para sustentar a sua posição face às questões por elas ou contra elas levaAcordam na Secção Cível e Administrativa do Tribunal de Segunda
Instância da RAEM
A, instaurou no Tribunal Judicial de Base acção de processo
comum do trabalho, contra a B, S. A. e a C, S.A., ambas
devidamente identificadas nos autos, doravante abreviadamente
designada B e C.
Em sede de contestação apresentada pela Ré B, foi deduzida a
excepção peremptória de prescrição do direito aos créditos contra
ela reclamados.
termos:
Na contestação, vieram as Rés invocar a excepção por prescrição
relativamente a todos os créditos vencidos até 06/07/2005 que o Autor
peticionou.
Cumpre decidir.
Na petição inicial, o Autor alegou, entre outros, que ele prestou
trabalho para a 1ª Ré entre 2001 e 2003 e para a 2a Ré desde 2003 até ao
presente, e pediu os subsídios, compensações diferentes, devolução da
comparticipação no alojamento e os juros de mora.
Face aos referidos créditos, tendo em conta a inexistência das
Ac. 556/2021-2
regras próprias nas leis laborais referentes à prescrição, deve aplicar-lhes
a regra geral prevista no Código Civil.
Nos termos do art. 302º do Código Civil, o prazo ordinário da
prescrição é de 15 anos.
Todavia, nos termos do art. 27º, n. 3º do CPT, a prescrição
interrompe-se pela notificação das Rés para a tentativa de conciliação.
Por outro lado, o art. 311º, n. 1º, al. c) do Código Civil vigente dispõe na
sua versão chinesa que “…c)


...1” (sublinhado nosso).
Sendo a relação de trabalho em causa não doméstico, a prescrição só
não se completaria se o trabalhador exercesse o seu direito durante um
ano a contar da data da cessação da mesma relação.
No caso subjudice, dado que o Autor mantém a relação de trabalho
com a 2a Ré e as Rés foram notificadas para a tentativa de conciliação
em 03/07/2020 e 06/07/2020, respectivamente, dúvida não resta que
ainda não opera a prescrição porque ela não completa por suspensão e
interrompe posteriormente nos termos dos art. 311º, n. 1º, al. c) do
Código Civil vigente e art. 27º, n. 3º do CPT.
Nestes termos, julga-se totalmente improcedente a excepção por
prescrição invocada pelas Rés.
parte que julgou improcedente a excepção de prescrição, veio a
Ré B recorrer dela para esta segunda instância, concluindo e
pedindo que:
I. Vem o presente recurso interposto do douto Despacho proferido a
fls. 131 a 137 dos autos.
1 Mesmo que haja discrepância entre a versão chinesa e a portuguesa do texto legal, entende o Tribunal
que, salvo o melhor entendimento, a primeira reflecte mais correctamente o pensamento legislativo e
que deve ter a prevalência relativamente à segunda.
Ac. 556/2021-3
II. A 1a Ré B, ora Recorrente, não se conforma com o aludido
Despacho, por entender que o mesmo incorre em erro na
aplicação de Direito, pugnando pela revogação do mesmo por
banda desse Venerando Tribunal de Segunda Instância da RAEM.
III. Em 17/06/2020, o Autor, ora Recorrido, intentou contra a aqui
Recorrente B e a C a presente acção de processo comum do
trabalho, peticionando a condenação da 1ª Ré B no pagamento de
uma indemnização global de MOP134,487.00, e da 2a Ré C no
valor global de MOP724,833.50, a título de créditos laborais
emergentes das relações laborais do Autor com as Rés, alegando
para tanto, entre outros factos, que o Autor prestou serviço à 1ª Ré
B, ora Recorrente de 27 de Junho de 2001 a 21 de Julho de 2003,
e prestou serviço à 2a Ré C desde 22 de Julho de 2003 até ao
presente.
IV. Em sede de contestação, a Ré aduziu uma defesa por excepção,
arguindo a prescrição dos créditos laborais reclamados pelo Autor
emergentes da relação laboral, nos termos do disposto nos artigos
311, n.º 1, alínea c) e 315.º, n.º 1, ambos do Código Civil.
V. O Autor respondeu, alegando, em suma, que os créditos
reclamados pelo Autor não se encontram prescritos.
VI. O Meritíssimo Juiz, por douto Despacho de fls. 131 a 137 dos
autos, o Despacho ora recorrido, concordou com o teor da
resposta do Autor e decidiu julgar improcedente a excepção
peremptória da prescrição.
VII. Verificou-se uma efectiva cessação - termo - do contrato de
trabalho, isto é, a relação laboral entre Autor e 1a Ré B iniciou-se
a 27 de Junho de 2001 e terminou a 21 de Julho de 2003, o que
conduz à prescrição dos créditos laborais emergentes da relação
laboral subjacente a esse contrato de trabalho, nos termos do
disposto no artigo 27.º, n.º 3 do CPT, e artigos 302.º, 311.º, n.º 1,
alínea c) e 315.º, n.º 1, todos do CC.
VIII. A 1ª e a 2a Rés, são pessoas jurídicas distintas, como são distintas,
as relações laborais estabelecidas entre aquelas e o Autor, ora
Recorrido.
Ac. 556/2021-4
IX. É o próprio Autor, ora Recorrido, que faz essa distinção ao deixar
claro que trabalhou para a 1ª Ré B, ora Recorrente, até 21 de Julho
de 2003 para, depois dessa data, iniciar uma nova relação jurídica
com a 2a Ré C.
X. O Autor formula pedidos distintos contra cada uma das Rés,
exercendo direitos autónomos e independentes.
XI. O Autor não manteve com a 2a Ré C a relação de trabalho que
tinha com a 1a Ré B, ora Recorrente, isto é, não trabalhava sob a
égide de uma só relação de trabalho.
XII. Consta expressamente do Despacho n.º 01949/SEF/2003,
proferido pelo Exmo. Senhor Secretário para a Economia e
Finanças: “Cancelo, nos termos do n.º 10 do mesmo Despacho, as
autorizações anteriormente concedidas ao CASINO D - B para a
contratação de 280 (duzentos e oitenta) trabalhadores não
residentes, bem como os respectivos contratos de prestação de
serviços”.
XIII. Por força do Despacho n.º 01949/SEF/2003 foi autorizada a
transferência das autorizações anteriormente concedidas à 1ª Ré B,
ora Recorrente, para a contratação dos 280 trabalhadores não
residentes, como ainda foram as mesmas canceladas, impondo-se
a celebração, por banda da nova entidade patronal, qual seja a 2a
Ré C, de novos contratos de prestação de serviços, ex novo.
XIV. No presente caso verificou-se o efectivo termo da relação laboral
entre Autor e 1a Ré B.
XV. A decisão constante do douto Despacho proferido a 131 a 137 dos
autos, isto é, a decisão de julgar improcedente a excepção
peremptória da prescrição invocada pela 1ª Ré B, ora Recorrente,
deverá ser revogada, por violação do disposto nos artigos 311, n.º
1, alínea c) e 315.°, n.º 1, ambos do CC, declarando-se em
conformidade prescritos os créditos reclamados pelo Autor desde
o início da relação laboral com a 1a Ré B de 27 de Junho de 2001
a 21 de Julho de 2003, uma vez, que a data da notificação da 1ª Ré
para a tentativa de conciliação foi em 03 de Julho de 2020,
estando assim prescritos todos os créditos laborais relativamente à
Ac. 556/2021-5
que V. Exas. doutamente suprirão, deverá
o presente recurso ser julgado procedente,
revogando-se o douto Despacho proferido
a fls. 131 a 137 dos autos, nos termos e à
luz dos fundamentos supra aduzidos,
assim se fazendo a costumada
JUSTIÇ A!
Admitido o recurso e fixado a ele o regime de subida diferida,
continuou a marcha processual na sua tramitação normal e veio a
final ser a acção julgada parcialmente procedente pela seguinte
sentença:
)C C, S.A. ()
1) MOP$13.800,00, a título de subsídio de alimentação, acrescido de
juros legais até integral e efectivo pagamento;
2) MOP$25.750,00, a título de subsídio de efectividade, acrescido de
juros legais até integral e efectivo pagamento;
3) MOP$37.080,00, a título de trabalho prestado em dia de descanso
semanal, acrescida de juros até efectivo e integral pagamento;
4) MOP$18.540,00, a título de falta de marcação e gozo de um dia de
descanso compensatório pelo trabalho prestado em dia de descanso semanal,
acrescida de juros até efectivo e integral pagamento;
Ac. 556/2021-6
5) MOP$10.042,50, a título de trabalho prestado em dia de feriado
obrigatório remunerado, acrescida de juros até efectivo e integral pagamento;
6) MOP$19.312,50, a título de devolução das quantias de
comparticipação no alojamento, acrescida de juros até efectivo e integral
pagamento;
acrescido de juros legais até integral e efectivo pagamento;
8) Em custas e procuradoria condigna.
*
1) MOP$23.400,00, a título de subsídio de alimentação, acrescido de
juros legais até integral e efectivo pagamento;
2) MOP$86.520,00, a título de subsídio de efectividade, acrescido de
juros legais até integral e efectivo pagamento relativo ao período de
22/07/2003 a 31/07/2010;
3) MOP$23.947,50, a título de trabalho prestado em dia de feriado
obrigatório remunerado, acrescida de juros até efectivo e integral pagamento
relativo ao período de 22/07/2003 a 31/12/2008;
4) MOP$64.890,00, a título de devolução das quantias de
comparticipação no alojamento, acrescida de juros até efectivo e integral
pagamento relativo ao período de 22/07/2003 a 31/07/2010;
5) MOP$26.249,00, a título de trabalho extraordinário prestado, acrescido
de juros legais até integral e efectivo pagamento relativo ao período de
22/07/2003 a 31/12/2008;
6) MOP$105.820,00, a título de trabalho extraordinário prestado,
acrescido de juros legais até integral e efectivo pagamento relativo ao período
de 01/01/2009 a 31/12/2019;
7) A quantia a apurar em sede de liquidação de sentença, a título de
trabalho extraordinário prestado, a partir de 01/01/2020 até ao presente;
8) MOP$70.546,00 a título de descanso compensatório não gozado
Ac. 556/2021-7
entre, acrescido de juros legais até integral e efectivo pagamento relativo ao
período de 01/01/2009 a 31/12/2019;
9) MOP$137.144,50, pela prestação de trabalho ao sétimo dia em cada
período de sete dias de trabalho consecutivo acrescida de juros até efectivo e
integral pagamento relativo ao período de 22/07/2003 a 31/12/2008;
10) MOP$8.575,00, a título de descanso compensatório não gozado, em
sequência do trabalho prestado em dia de descanso semanal, relativo ao
período de 22/07/2003 a 31/12/2008;
11) MOP$155.452,00, pela prestação de trabalho ao sétimo dia em cada
período de sete dias de trabalho consecutivo acrescida de juros até efectivo e
integral pagamento relativo ao período de 01/01/2009 a 31/12/2019;
12) A quantia a apurar em sede de liquidação de sentença, a título de
prestação de trabalho ao sétimo dia em cada período de sete dias de trabalho
consecutivo, a partir de 01/01/2020 até ao presente;
13) MOP$22.289,50, a título de descanso compensatório não gozado,
em sequência do trabalho prestado em dia de descanso semanal, relativo ao
período de 01/01/2009 a 31/12/2019;
14) A quantia a apurar em sede de liquidação de sentença, a título de
descanso compensatório não gozado, em sequência do trabalho prestado em
dia de descanso semanal, a partir de 01/01/2020 até ao presente;
15) Em custas e procuradoria condigna.
38 71 .
*



­ O Autor foi recrutado pela E, Lda. para exercer funções de “guarda de
segurança” para a B, ao abrigo do Contrato de Prestação de Serviços n.º
6/2000, aprovado pelo Despacho n.º 02401/IMO/SEF/2000. (A)
­ Entre 27/06/2001 a 21/07/2003, o Autor esteve ao serviço da Ré (B),
prestando funções de “guarda de segurança”, enquanto trabalhador não
residente. (B)
­ Por força do Despacho n.º 01949/IMO/SEF/2003, do Senhor Secretário
para a Economia e Finanças da RAEM, de 17/07/2003, foi autorizada a
transferência das autorizações concedidas para a contratação do Autor (e
dos demais 280 trabalhadores não residentes) por parte da B para a Ré (C),
com efeitos a partir de 22/07/2003 (Cfr. fls. 45 a 47, cujo teor se dá aqui por
integralmente reproduzido). (C)
­ Desde 22/07/2003 até ao presente o Autor presta trabalho para a Ré (C).
(D)
­ Entre 27/06/2001 e 31/07/2010 o Autor exerceu as suas funções para a Ré
(C), do Contrato de Prestação de Serviços n.º6/2000. (E)
­ Entre 01/08/2010 a 31/07/2011, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
06279/IMO/GRH/2010 (Cfr. fls. 48, cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido). (F)
Ac. 556/2021-9
­ Entre 01/08/2011 a 31/07/2012, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
06743/IMO/GRH/2011 (Cfr. fls. 49, cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido). (G)
­ Entre 01/08/2012 a 31/07/2013, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
11206/IMO/GRH/2012 (Cfr. fls. 50, cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido). (H)
­ Entre 18/07/2013 a 20/07/2014, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
14932/IMO/GRH/2013 (Cfr. fls. 51, cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido). (I)
­ Entre 21/07/2014 a 20/07/2015, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
16331/IMO/GRH/2014 (Cfr. fls. 52, cujo teor se dá aqui por integralmente
reproduzido). (J)
­ Entre 21/07/2015 a 20/07/2016, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
21493/IMO/GRH/2015. (K)
­ Entre 21/07/2016 a 20/07/2017, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
20355/IMO/GRH/2016. (L)
­ Entre 21/07/2017 a 20/07/2018, o Autor exerceu a sua actividade
profissional para a Ré (C) ao abrigo do Despacho n.º
15014/IMO/DSAL/2017. (M)
­ Entre 27/06/2001 a 21/07/2003 a Ré (B) pagou ao Autor a quantia de
HK$7.500,00, a título de salário de base mensal. (N)
­ E entre 22/07/2003 a 31/07/2010 a Ré (C) pagou ao Autor a quantia de
HK$7.500,00, a título de salário de base mensal. (O)
­ Entre 21/07/2019 a 31/12/2019, a Ré pagou ao Autor a quantia de
MOP$11.326,00, a título de salário de base mensal. (P)
­ Resulta do ponto 3.1. do Contrato de Prestação de Serviços 6/2000 ao
Ac. 556/2021-10
abrigo do qual o Autor foi autorizado a prestar trabalho para a Ré, ser
devido ao Autor (e aos demais trabalhadores não residentes com ele
contratados) a quantia de “(…) $600.00 patacas mensal por pessoa de
subsídio de alimentação”. (Q)
­ Resulta do ponto 3.4. do Contrato de Prestação de Serviços n.º 6/2000 ao
abrigo do qual o Autor foi autorizado a prestar trabalho para as Rés até
31/07/2010, ser devido ao Autor (e aos demais trabalhadores não residentes
com ele contratados) “(…) um subsídio mensal de efectividade igual ao
salário de 4 dias, sempre que no mês anterior não tenha dado qualquer falta
ao serviço”. (R)
­ Aquando da contratação do Autor no Nepal, foi garantido ao Autor (e aos
demais trabalhadores não residentes de origem Nepalesa) alojamento
gratuito em Macau. (S)
­ Para os presentes efeitos entre 27/06/2001 a 31/07/2010, as Rés procederam
a uma dedução no valor de HK$750,00 sobre o salário mensal do Autor, a
título de “comparticipação nos custos de alojamento”. (T)
­ A referida dedução no salário do Autor era operada de forma automática e
independentemente de o trabalhador (leia-se, do Autor) residir ou não na
habitação que lhe era providenciada pelas Rés e/ou pela agência de
emprego. (U)
­ Desde 22/07/2003 até ao presente, o Autor presta trabalho nos mesmos
casinos, com os mesmos colegas e respeitando as ordens dos mesmos
superiores hierárquicos que prestavam trabalho com o Autor para a Ré (B).
(1º)
­ O Autor sempre respeitou os períodos e horários de trabalho fixados pelas
Rés. (2º)
­ As Rés sempre fixaram o local e o horário de trabalho do Autor, de acordo
com as suas exclusivas e concretas necessidades. (3º)
­ O Autor sempre prestou a sua actividade sob as ordens e instruções das Rés.
(4º)
­ Durante todo o período em que o Autor prestou trabalho, o Autor nunca
deu qualquer falta ao trabalho sem conhecimento e autorização prévia por
Ac. 556/2021-11
parte da Ré, sem prejuízo de 24 dias de férias anuais por cada ano civil e
dispensas de trabalho não remuneradas, nomeadamente entre 09/07/2002
e 01/08/2002 (24 dias), entre 07/06/2003 e 28/06/2003 (22 dias),
06/05/2004 e 29/05/2004 (24 dias), entre 05/04/2005 e 28/04/2005 (24
dias), entre 25/03/2006 e 18/04/2006 (25 dias), entre 03/04/2007 e
27/04/2007 (25 dias), entre 03/06/2008 e 28/06/2008 (26 dias), entre
04/06/2009 e 28/06/2009 (25 dias), entre 04/05/2010 e 27/05/2010 (24
dias), entre 09/04/2011 e 07/05/2011 (29 dias), entre 10/10/2013 e
31/10/2013 (22 dias), entre 18/10/2014 e 08/11/2014 (22 dias), entre
07/11/2015 e 28/11/2015 (22 dias), entre 24/09/2016 e 16/10/2016 (23
dias), entre 10/07/2017 e 12/08/2017 (34 dias), entre 06/01/2018 e
28/01/2018 (23 dias) e entre 19/10/2019 e 09/11/2019 (22 dias), bem
como um dia de descanso no oitavo dia após cada sete dias de trabalho
consecutivos durante ao serviço da 2ª Ré. (5º 8º 16º)
­ A Ré (C) pagou a título de salário de base mensal ao Autor as quantias
seguintes: (9º 13º)
Entre 01/08/2010 e 31/01/2011 MOP7,500.00
Entre 01/02/2011 e 31/12/2011 MOP7,875.00
Entre 01/01/2012 e 31/1/2013 MOP8,663.00
Entre 01/02/2013 e 31/12/2013 MOP9,183.00
Entre 01/01/2014 e 31/12/2014 MOP9,643.00
Entre 01/01/2015 e 31/07/2018 MOP10,126.00
Entre 01/08/2018 e 31/03/2019 MOP10,726.00
Entre 01/04/2019 e 20/07/2019 MOP11,326.00
­ Entre 27/06/2001 e 21/07/2003, a Ré (B) nunca pagou ao Autor qualquer
quantia a título de subsídio de alimentação. (14º)
­ Entre 22/07/2003 e 31/12/2006, a Ré (C) nunca pagou ao Autor qualquer
quantia a título de subsídio de alimentação. (15º)
­ Entre 27/06/2001 a 21/07/2003, a Ré (B) nunca pagou ao Autor qualquer
quantia a título de subsídio de efectividade. (17º)
­ Entre 22/07/2003 a 31/07/2010, a Ré (C) nunca pagou ao Autor qualquer
quantia a título de subsídio de efectividade. (18º)
Ac. 556/2021-12
­ Entre 27/06/2001 a 31/12/2002, a 1.º Ré (B) nunca fixou ao Autor, em cada
período de sete dias, um período de descanso de vinte e quatro horas
consecutivas, sem prejuízo da correspondente retribuição. (19º)
­ Entre 27/06/2001 a 31/12/2002, a 1ª Ré (B) nunca pagou ao Autor qualquer
acréscimo pelo trabalho prestado em dia de descanso semanal. (19º-A)
­ Entre 27/06/2001 a 31/12/2001, a 1.ª Ré (B) nunca conferiu ao Autor um
qualquer outro dia de descanso compensatório, em consequência do
trabalho prestado em dia de descanso semanal. (20º)
­ Entre 27/06/2001 e 21/07/2003, o Autor prestou a sua actividade de
segurança durante em 1 de Janeiro, Ano Novo Chinês (3 dias), 1 de Maio
e 1 de Outubro para a Ré (B), sem prejuízo da resposta aos quesitos 5º a 8º
e 16º. (21º)
­ Entre 27/06/2001 e 21/07/2003, a Ré (B) nunca pagou ao Autor um
qualquer acréscimo salarial pelo trabalho prestado pelo Autor nos referidos
dias de feriado obrigatórios. (22º)
­ Entre 22/07/2003 e 31/12/2008, o Autor prestou a sua actividade de
segurança durante em 1 de Janeiro, Ano Novo Chinês (3 dias), 1 de Maio
e 1 de Outubro para a Ré (B), sem prejuízo da resposta aos quesitos 5º a 8º
e 16º. (23º)
­ Entre 22/07/2003 e 31/12/2008, a Ré (C) nunca pagou ao Autor um
qualquer acréscimo salarial pelo trabalho prestado pelo Autor nos referidos
dias de feriado obrigatórios. (24º)
­ Desde o início da relação de trabalho, por ordem das Rés, o Autor está
obrigado a comparecer no seu local de trabalho, devidamente uniformizado,
com, pelo menos, 30 minutos de antecedência relativamente ao início de
cada turno. (25º)
­ Durante o referido período de tempo, tem lugar um briefing (leia-se, uma
reunião) entre o Team Leader (leia-se, Chefe de turno) e os “guardas de
segurança”, na qual são inspeccionados os uniformes de cada um dos
guardas e distribuído o trabalho para o referido turno, mediante a indicação
do seu concreto posto dentro do Casino. (26º)
­ Entre 27/06/2001 a 21/07/2003, o Autor compareceu ao serviço da Ré (B)
Ac. 556/2021-13
com 30 minutos de antecedência relativamente ao início de cada turno,
tendo permanecido às ordens e às instruções dos seus superiores
hierárquicos, sem prejuízo da resposta aos quesitos 5º a 8º e 16º. (27º)
­ Entre 22/07/2003 a 31/12/2008, o Autor compareceu ao serviço da Ré (C)
com 30 minutos de antecedência relativamente ao início de cada turno,
tendo permanecido às ordens e às instruções dos seus superiores
hierárquicos, sem prejuízo da resposta aos quesitos 5º a 8º e 16º. (28º)
­ As Rés nunca pagaram ao Autor qualquer quantia pelo período de 30
minutos que antecedia o início de cada turno. (29º)
­ Entre 01/01/2009 a 31/12/2019, o Autor compareceu ao serviço da Ré (C)
com 30 minutos de antecedência relativamente ao início de cada turno,
tendo permanecido às ordens e às instruções dos seus superiores
hierárquicos, sem prejuízo da resposta aos quesitos 5º a 8º e 16º. (30º)
­ A Ré (C) nunca pagou ao Autor qualquer quantia pelo período de 30
minutos que antecedia o início de cada turno. (31º)
­ A Ré (C) nunca conferiu ao Autor o gozo de um descanso adicional
remunerado, proporcional ao período de trabalho prestado. (32º)
­ Desde 22/07/2003 a 31/12/2019, o Autor prestou a sua actividade de
segurança para a Ré (C) num regime de turnos rotativos de sete dias de
trabalho consecutivos. (33º)
­ A que se segue um período de vinte e quatro horas de não trabalho, em
regra, no oitavo dia, que antecedia a mudança de turno. (34º, 37º 41º)
­ Entre 22/07/2003 a 31/12/2008 – descontados os períodos em que o Autor
esteve ausente de Macau – a Ré (C) não fixou ao Autor em cada período de
sete dias, um período de descanso de vinte e quatro horas consecutivas.
(35º)
­ Entre 22/07/2003 e 31/12/2008 a Ré (C) nunca pagou ao Autor qualquer
acréscimo salarial pelo trabalho prestado em cada um dos sétimos dias,
após a prestação de seis dias de trabalho consecutivo. (36º)
­ Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 – descontados os períodos em que o Autor
esteve ausente de Macau – a Ré (C) não fixou ao Autor um período de
descanso de vinte e quatro horas consecutivas em cada semana (leia-se, em
Ac. 556/2021-14
cada período de sete dias). (38º)
­ Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 – descontados os períodos em que o Autor
esteve ausente de Macau – a Ré (C) nunca solicitou ao Autor autorização
para que o período de descanso não tivesse uma frequência semanal. (39º)
­ Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 a Ré (C) nunca pagou ao Autor um
acréscimo pelo trabalho prestado ao sétimo dia, após a prestação de seis
dias consecutivos de trabalho. (40º)
­ As Rés pagaram sempre ao Autor o salário correspondente aos dias de
descanso semanal. (42º)
24/89/M

24/89/M 31 ( 7/2008 64 )



24/89/M 19 3 20 1

4 30

7/2008 33 1 5
37 1 1.5
8 30
30
(2009 1 1)
36 2 38



7/2008 42 2 43 1 2 4

2009 1 1
(
( 31/12/2019)
= 13,940
2.
7,500 /30 X 1.03 X 4 / X 25
= 25,750
3.
7,500 /30 X 1.03 X 13 X 2
= 6,695
= 19,312.50
5.
7,500 / (30 X 8) X 1.03 X 0.5 X 697( 58
)
31/12/2002)
[ 7,500 / 30 X 1.03 X 519 ( 34 ) /7 ] X 2
= 38,110
115,024.84
1.
600 /30 X 1038 (22/07/2003 31/12/2006 73
/ 148 )
= 20,760
2.
7,500 /30 X 1.03 X 4 / X 84 (22/07/2003 31/07/2010)
= 86,520
3.
7,500 /30 X 1.03 X 31 (22/07/2003 31/12/2008) X 2
= 15,965
750 X 1.03 X 84 (22/07/2003 31/07/2010)
= 64,890
5.
7,500 / (30 X 8 ) X 1.03 X 0.5 X 1633 (
31/12/2008 124 / 233 ) + 7,500
/ (30 X 8 ) X 1.5 X 1.03 X 0.5 X 462 ( 01/01/2009
49/ 66) + 7,500/ (30X 8)
X 1.5 X 0.5 X 161 ( 01/08/2010 0 / 23
) + 7,875 / (30 X 8 ) X 1.5 X 0.5 X 267
( 01/02/2011 29/ 38) + 8,663
/ (30 X 8 ) X 1.5 X 0.5 X 327 ( 01/01/2012 24
/ 46) + 9,183/ (30X 8) X 1.5
X 0.5 X 272 ( 01/02/2013 24 / 38
) + 9,643 / (30 X 8 ) X 1.5 X 0.5 X 299 (
01/01/2014 24 / 42 ) + 10,126
/ (30 X 8 ) X 1.5 X 0.5 X 1052 ( 01/01/2015 106
Ac. 556/2021-18
/ 150 ) + 10,726 / (30 X 8 ) X
1.5 X 0.5 X 211 ( 01/08/2018 2 / 30
) + 11,326 / (30 X 8 ) X 1.5 X 0.5 X 222
( 01/04/2019 22 / 31 )
= 121,665.53
6.
7,500 / 30 X 1.03 X 1866 ( 31/12/2008 124
) /7 + [ 7,500 / 30 X 1.03 X (1866 /7 -1866 /8
)( 31/12/2008 124 )] + [ 7,500 / 30 X
1.03 X (528 /7 - 528 /8 ) ( 01/01/2009 49
) + 7,500 / 30 X (184 /7 - 184 /8 ) (
01/08/2010 0 ) + 7,875 / 30 X (305
/7 - 305 /8 ) ( 01/01/2011 29 ) +
8,663 / 30 X (373 /7 - 373 /8 ) ( 01/01/2012 24
) + 9,183/ 30 X (310/7 - 310/8) (
01/02/2013 24 ) + 9,643 / 30 X (341
/7 - 341 /8 ) ( 01/01/2014 24 ) +
10,126 / 30 X (1202 /7 - 1202 /8 ) ( 01/01/2015
106 ) + 10,726 / 30 X (241 /7 - 241
/8 ) ( 01/08/2018 2 ) + 11,326 / 30
X (253 /7 - 253 /8 ) ( 01/04/2019 22
)] X 2
= 118,137.63
427,938.16


Ac. 556/2021-19


Notificadas as partes da sentença, veio o Autor recorrer dela para
esta segunda instância, concluindo e pedindo que:
1) Versa o presente recurso sobre a douta Sentença na parte relativa à
condenação da Recorrente na atribuição de uma compensação
devida ao Autor pelo trabalho prestado em dia de descanso
semanal e, bem assim, pelo trabalho prestado em dias de feriado
obrigatório remunerado, na medida em que as concretas fórmulas
de cálculo utilizadas na Decisão Recorrida se mostram em oposição
às que têm vindo a ser seguidas pelo Tribunal de Segunda
Instância;
2) Impõe-se, ainda, apreciar a interpretação e aplicação que o Tribunal
a quo levou a cabo a respeito do n.º 2 do art. 42.º da Lei n.º 7/2008,
e que conduziu à condenação da Recorrida numa quantia muito
inferior à reclamada pelo Autor em sede de Petição Inicial;
3) Pelas razões que adiante melhor se expõem, está o Recorrente em
crer que a douta Sentença enferma de um erro de aplicação de
direito quanto à concreta forma de cálculo devido pela prestação de
trabalho em dia de descanso semanal e pelo trabalho prestado em
dias de feriado obrigatório remunerado e, deste modo, se mostra
em violação ao disposto nos artigos 17.º, 19.º e 20.º do Decreto-Lei
n.º 24/89/M, de 3 de Abril e n.º 2 do art. 42.º da Lei n.º 7/2008,
razão pela qual se impõe que a mesma seja substituída por outra
que decida em conformidade com a melhor interpretação a conferir
aos referidos preceitos.
Em concreto,
4) Entendeu o Tribunal a quo ser de sufragar o entendimento seguido
pelo Tribunal de Ú ltima Instância e, em consequência, condenar a
Ac. 556/2021-20
Ré a pagar ao Autor apenas ao correspondente ao valor de um
salário em singelo no que respeita ao trabalho prestado em dia de
descanso semanal durante todo o período da relação laboral, a
liquidar em execução de sentença;
5) Porém, salvo melhor opinião, ao proceder à condenação da Ré
apenas em singelo, o Tribunal a quo terá procedido a uma
interpretação menos correcta do disposto na al. a) do n.º 6 do art.
17.º do Decreto-Lei n.º 24/89/M, de 3 de Abril, pelo que a decisão
deve ser julgada nula e substituída por outra que condene a Ré em
conformidade com o disposto na referida Lei Laboral;
6) Com efeito, resulta do referido preceito que o trabalho prestado em
dia de descanso semanal deverá ser remunerado pelo dobro do
salário normal, entendido enquanto duas vezes a retribuição
normal por cada dia de trabalho prestado em dia de descanso
semanal, para além do valor relativo ao próprio dia de trabalho
prestado;
7) Trata-se, de resto, da interpretação que tem vindo a ser seguida de
forma uniforme pelo Tribunal de Segunda Instância, onde se
entende que a fórmula correcta para compensar o trabalho prestado
em dia de descanso semanal deverá ser a seguinte: (salário diário
X n.º de dias devidos e não gozados X 2);
8) In casu, resulta da matéria de facto provada que:
a. Entre 22/07/2003 a 31/12/2008 - descontados os períodos em
que o Autor esteve ausente de Macau - a Ré (C) não fixou ao
Autor em cada período de sete dias, um período de descanso
de vinte e quatro horas consecutivas (Cfr. quesito 35.°);
b. Entre 22/07/2003 a 31/12/2008 a Ré (C) nunca pagou ao
Autor qualquer acréscimo salarial pelo trabalho prestado em
cada um dos sétimos dias, após a prestação de seis dias de
trabalho consecutivo (Cfr. quesito 36);
9) Assim, retira-se da matéria assente que entre 22/07/2003 a
31/12/2008 (descontados os períodos de férias anuais e de
dispensas ao trabalho em que o Autor se deslocou para o exterior
Ac. 556/2021-21
da RAEM) o Autor prestou para a Ré um total de 1866 dias de
trabalho, a que corresponde a prestação pelo Autor de 267 dias de
trabalho em dia de descanso semanal (1866 dias/7dias);
10) De onde, deve a Recorrida ser condenada a pagar ao Recorrente a
quantia de MOP$133.500,00, correspondente a: (267 dias X
Mop$250,00 X 1.03 X 2), e não só de apenas Mop$66.750,00
conforme parece resultar da douta Sentença ora posta em crise,
acrescida de juros até efectivo e integral pagamento o que desde já
e para todos os legais efeitos se requer;
Ao que acresce que,
Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 - descontados os períodos em que
o Autor esteve ausente de Macau - a Ré (C) não fixou ao Autor um
período de descanso de vinte e quatro horas consecutivas em cada
semana (leia-se, em cada período de sete dias) (Cfr. quesito 38.º);
Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 a Ré (C) nunca pagou ao Autor
uma qualquer quantia pelo trabalho prestado ao sétimo dia, após a
prestação de seis dias consecutivos de trabalho (Cfr. quesito 40.º);
12) De onde se retira que entre 01/01/2009 a 31/12/2019 - descontado
os períodos de ausência - o Autor prestou para a Ré 3737 dias de
trabalho, correspondente a: (712 dias entre 01/01/2009 a
01/01/2011, acrescido de 305 dias entre a última data e 01/012012,
acrescido de 373 dias entre a última data e 01/02/2013, acrescido
de 310 dias entre a última data e 01/01/2014, acrescido de 341 dias
entre a última data e 01/01/2015, acrescido de 1202 dias entre a
última data e 01/08/2018, acrescido de 241 dias entre a última data
e 01/04/2019, acrescido de 253 dias entre a última data e
31/12/2019), o que corresponde à prestação pelo Autor de 534 dias
de trabalho a cada um dos sétimos dias que seguiram a seis de
trabalho consecutivo prestado.
13) Assim, deve a Recorrida ser condenada a pagar ao Recorrente a
quantia de MOP$165.375,00 - correspondente a [(712 dias /7 dias
X Mop$7.500/30) + (305 dias /7 dias X Mop$7.875/30) + (373 dias
Ac. 556/2021-22
/7 dias X Mop$8.663/30) + (310 dias /7 dias X Mop$9.183/30) +
(341 dias /7 dias X Mop$9.643/30) + (1202 dias /7 dias X
Mop$910.126/30) + (241 dias /7 dias X Mop$10.726/30) + (253
dias /7 dias X Mop$11.326/30)] - e não só de apenas
Mop$57.442.47 conforme parece resultar da Sentença (que, nesta
parte, salvo o devido respeito, não prima pela clareza), o que desde
já e para os legais efeitos se requer;
14) Não obstante a referida matéria de facto provada, aquando do
apuramento do valor que o Autor tinha a receber relativamente ao
trabalho prestado em dia de descanso semanal entre o período de
01/01/2009 a 31/12/2019, entendeu o tribunal a quo seguir o
seguinte raciocínio: dividiu o número dos dias de trabalho
prestados pelo Autor e descontou os dias em que o Autor havia
descansado ao 8.° dia, após a prestação de sete dias de trabalho
consecutivos, apurando que o Autor terá direito a auferir a
diferença entre os dois;
15) Ora, salvo o devido respeito, está o ora Recorrente em crer existir
um erro de julgamento traduzido, entre outro, no facto de se
acreditar que a douta Decisão não ter factos para se poder chegar a
tal resultado, nem os mesmos constavam da Base Instrutória;
16) Ou melhor, o que impunha apurar era os dias de trabalho em que o
Autor prestou trabalho para a Ré em cada 7.º dia, após 6 dias
consecutivos de trabalho e não apurar a diferença entre o trabalho
prestado ao 7.º dia com os dias de não trabalho que o Autor gozou
no 8.º dia após 7 dias de trabalho consecutivo, e consequentemente
nada havia a descontar aquando do apuramento do montante
indemnizatório, a tal respeito;
17) Ao não entender assim, está o Recorrente em crer ter existido uma
errada aplicação da norma em questão (leia-se, do art. 43.º da Lei
n.º 7/2008) pelo Tribunal de Primeira Instância, o que em caso
algum poderá deixar de conduzir, nesta parte, à nulidade da decisão
recorrida, o que desde já e para os legais e devidos efeitos se invoca
e requer.
Por último,
Ac. 556/2021-23
18) Entendeu o douto Tribunal a quo que na determinação da quantia
devida pelas Rés ao Autor a título de trabalho prestado nos dias de
feriados obrigatórios o Autor terá direito a receber das Rés as
compensações compostas pela remuneração em singelo, acrescida
do dobro dessa remuneração;
19) Ora, tendo o Tribunal a quo explicitado que pelo dobro da
retribuição se deve entender o equivalente a mais um dia de salário
em singelo (nos termos que têm vindo a ser seguidos pelo TUI nos
Acs. 28/2007, 29/2007, 58/2007 e 40/2009) tal significa que, neste
particular, a douta Sentença igualmente se afasta do entendimento
que tem vindo a ser sufragado pelo Tribunal de Segunda Instância -
nos termos do qual se entende que a fórmula mais correcta de
interpretar o referido preceito será conceder ao Autor, ora
Recorrente, um “acréscimo salarial nunca inferior ao dobro da
retribuição normal, para além naturalmente da retribuição a que
tem direito” - o que equivale matematicamente ao triplo da
retribuição normal - e não somente o dobro da retribuição normal
como parece ter decidido o Tribunal Judicial de Base;
20) Em concreto, resultando provado que durante o período da relação
laboral o Recorrente prestou trabalho para a Recorrida durante 31
dias de feriados obrigatórios, deve a Recorrida ser condenada a
pagar ao Recorrente a quantia de MOP$23.947,50 a título do triplo
do salário - e não só apenas de MOP$15.965,00 conforme resulta
da decisão ora posta em crise - acrescida de juros até efectivo e
integral pagamento o que desde já e para todos os legais efeitos se
requer;
Exas. encarregar-se-ão de suprir, deve a
douta Sentença ser julgada nula e
substituída por outra que atenda às fórmulas
de cálculo tal qual formuladas pelo Autor na
sua Petição Inicial e relativas ao trabalho
prestado em dia de descanso semanal e
feriado obrigatório, assim se fazendo a já
Ac. 556/2021-24
Ao recurso respondeu a Ré C pugnando pela improcedência.
Por sua vez, a Ré B, notificada e inconformada a decisão de facto,
veio impugnar as respostas dadas a alguns quesitos da base
instrutória, concluindo e pedindo que:
I. Consigna-se como nota prévia que, nos presentes autos, a ora
Recorrente recorreu do despacho saneador de fls. 131 a 137 dos
autos, por não se conformar com a decisão ali proferida de julgar
improcedente a alegada excepção de prescrição dos créditos
laborais contra si reclamados pelo Autor, ora Recorrente, por
entender que a relação laboral entre a Recorrente e o Autor cessou
há mais de 16 anos, porquanto o Autor, ora Recorrido, esteve ao
serviço da B (1ª Ré / ora Recorrente) entre 27/06/2001 a
21/07/2003, sendo que só em 17/06/2020 veio reclamar os seus
créditos.
II. Vem o presente recurso interposto da sentença proferida pelo
douto Tribunal Judicial de Base que julgou a acção parcialmente
procedente e condenou a 1ª Ré B, ora Recorrente, no pagamento
de uma indemnização no valor global MOP115,024.84, acrescida
de juros moratórios à taxa legal a contar do trânsito em julgado da
sentença.
III. A ora Recorrente vem impugnar a decisão proferida quanto à
matéria inserta na base instrutória, nomeadamente a referente aos
artigos 5°, 6°, 21° e 22°, porquanto da prova produzida em sede
de julgamento nunca poderiam os quesitos levados à base
instrutória ter sido provados, já que a referida matéria foi, salvo o
devido respeito, incorrectamente julgada pelo douto Tribunal a
quo.
IV. Também no plano do Direito aplicável ao caso concreto, a
sentença proferida a final nunca poderia ter decidido como
decidiu em violação e incorrecta aplicação das normas jurídicas
que lhe servem de fundamento, estando em crer que a decisão
Ac. 556/2021-25
do vicio de erro de julgamento.
V. O Digno Tribunal a quo não devia ter dado como provados os
quesitos 5°, 6°, 21° e 22° da base instrutória, porquanto dos autos
não resulta prova de tais factos pois a Recorrente alegou
desconhecer a sobredita factualidade acrescentando que tal
resultava da falta de documentos que não possuía por não estar
obrigada a conservar documentos respeitantes ao Autor e à vida
da Sociedade pela facto da sua relação laboral ter terminado em
21/07/2003, há mais de 16 anos e, não estando a 1a Ré, ora
Recorrente, legalmente obrigada a conservar os documentos
referentes ao Autor, não se vislumbra norma substantiva ou
adjectiva que obrigasse a considerar provada a sobredita matéria
com as demais consequências legais.
VI. Da prova produzida em sede de audiência de julgamento, a
resposta aos quesitos teria necessariamente de ser diferente, pelo
que estamos perante um claro erro de julgamento porquanto, no
vertente processo, foi deferida a documentação das declarações
prestadas na audiência de julgamento, existindo por isso suporte
de gravação, o que permitirá ao douto Tribunal de Segunda
Instância melhor avaliar, e decidir, sobre o ora invocado erro na
apreciação da prova, aqui expressamente se requerendo a
reapreciação da matéria de facto, nos termos admitidos no artigo
629.º do Código de Processo Civil (doravante “CPC”), aplicável
ex vi pelo artigo 1.º do CPT.
VII. A Recorrente, ao invocar no presente recurso o erro na apreciação
da prova, que, na sua óptica, inquina a decisão proferida pelo
douto Tribunal a quo, não pretende apresentar apenas uma
simples discordância relativamente à interpretação dos factos feita
por aquele douto Tribunal, tendo bem presente o dispositivo do
artigo 558.º do CPC, e a natureza insindicável da livre convicção
relativamente à apreciação da prova efectuada pelo Tribunal
recorrido, e estando bem ciente da jurisprudência afirmada nos
Tribunais Superiores da RAEM sendo, porém, entendimento da
Recorrente que tal erro de julgamento se verifica na situação dos
autos, e que o vício apontado à decisão recorrida resulta dos
Ac. 556/2021-26
próprios elementos constantes dos autos, por si só ou com recurso
às regras da experiência comum.
VIII. Nos presentes autos foram ouvidas apenas duas testemunhas, as
quais depuseram sobre os factos em discussão não apenas nos
presentes autos mas também nos demais processos que foram
julgados no mesmo dia, sendo que o seu depoimento foi sempre
feito no plural, sem concretizar a situação do Autor, ora
Recorrido,
IX. Tornando-se, por isso, evidente que o depoimento das
testemunhas ouvidas em julgamento é genérico, sem que tivessem
conseguido concretizar se, em relação ao Autor Recorrido, as
coisas se passavam como se haviam passando em relação a elas
próprias mais parecendo o depoimento das testemunhas um
verdadeiro depoimento de parte, não podendo deixar de se
estranhar que as testemunhas consigam com certeza dizer as datas
de início e termo da relação laboral, os locais de trabalho, salàrios,
horàrios, turnos, dos Autores cujos julgamentos tiveram lugar no
dia 30/11/2020, considerando ainda o facto de, pelo menos a
primeira testemunha - F -, ser utilizada em muitos outros
julgamentos.
X. Para além de prova testemunhal, o Autor não logrou juntar aos
autos nenhum outro documento que permitisse sustentar as suas
alegações, relativamente à ora Recorrente, sendo que, para a prova
da factualidade alegada pelo Autor, deu o douto Tribunal a quo
ainda relevância aos documentos juntos aos autos, dos quais nada
resulta quanto aos turnos, às presenças e ausências do Recorrido, e
às compensações que alegadamente não recebeu.
XI. Assim, com base unicamente no depoimento das testemunhas,
nunca poderia o Tribunal a quo ter dado por provado que o Autor
não recebeu os subsídios a que alega ter direito, ou que nunca
faltou sem conhecimento e autorização da Ré, ou que aquele
nunca gozou dias de descanso semanal ou se, trabalhou em
feriados obrigatórios ou ainda se prestou trabalho extraordinário,
isto quando passaram já mais de 16 anos sobre o termo da relação
laboral,
Ac. 556/2021-27
XII. E quando o próprio Autor ora afirma que não teve nenhum
descanso ora afirma que gozou de dias de férias anuais por cada
ano civil e de dias de dispensa ao trabalho não remunerados (cfr.
artigo 20.º da petição inicial) reconhecendo ainda que faltou
justificadamente e que teve dispensas ao serviço; ou seja, o Autor
afirma ao longo do seu articulado que gozou de períodos de
ausência ao trabalho, vindo agora as testemunhas dizerem que o
mesmo trabalhou continuamente.
XIII. Não se pode aceitar o alegado pelo Autor relativamente às
ausências e trabalho efectivo para a 1ª Ré Recorrente referente aos
artigos 20° a 22° da petição inicial, porquanto da listagem de
movimentos de entradas e saídas dos Postos Fronteiriços anexa
como documento 9 (fls. 53 a 58) junto ao petitório resulta que as
informações fornecidas foram baseadas nos Passaportes do Nepal
números 09XXXX3,20XXXX8 e 063XXXX6, informação que foi
fornecida pelo Autor Recorrido aos Serviços de Migração, mas
não poderà comprovar que o mesmo não se tivesse ausentado da
RAEM com base em qualquer outro documento.
XIV. Mas ainda que se entenda que o Autor apenas se ausentou da
RAEM nos períodos descritos no documento 9 (fls. 53 a 58) supra
referido, não significa que os restantes dias tenham sido de
trabalho efectivo, pois não se sabe se durante o tempo que prestou
trabalho para a Ré o Autor deu, ou não deu, qualquer falta ao
serviço, e, se assim é, e ainda se o Autor alega ter faltado ao
serviço por gozo de férias anuais e por dispensas de trabalho não
remuneradas, pergunta-se então quantos foram esses dias de faltas
e quando ocorreram essas faltas?
XV. É assim necessàrio apurar os dias concretos de trabalho e os dias
de ausência ao trabalho do Autor Recorrido para se poder
determinar as diferentes compensações, pois do registo de
entradas e saídas do Autor da RAEM não resulta que o mesmo
tenha trabalhado efectivamente 697 dias para a Ré Recorrente
nem que tenha efectivamente trabalhado em 13 dias de feriado
obrigatório, uma vez que o depoimento das duas testemunhas
ouvidas em julgamento é genérico sem concretizar se, em relação
ao Autor Recorrido, as coisas se passavam como se haviam
Ac. 556/2021-28
passando em relação a elas próprias.
XVI. Após reapreciação da prova efectuada em juízo por parte desse
Venerando Tribunal da Segunda Instância deverà ser proferido
douto Acórdão que julgue procedente o invocado vício de erro de
julgamento ao dar por provados os quesitos 5°,6°,21° e 22° da
douta Base Instrutória, os quais serão de dar por não provados,
relativamente à 1ª Ré,
pedidos por total ausência de prova.
Nestes termos e nos demais de direito
que V. Exas. doutamente suprirão, deve
ser dado provimento ao presente Recurso
e, em conformidade, deverá a Recorrente
B ser absolvida dos pedidos em que foi
condenada.
entenda, deverá ser revogada a sentença
recorrida nos termos supra explanados,
com as demais consequências legais,
Termos em que farão V. Exas. a
costumada
Justiça!
Admitidos no Tribunal a quo, os recursos, juntamente com o
recurso interlocutório admitido com a subida diferida, foram todos
feitos subir a este Tribunal de recurso.
Liminarmente admitidos os recursos e colhidos os vistos, cumpre
conhecer.
II
Ac. 556/2021-29
Antes de mais, é de salientar a doutrina do saudoso PROFESSOR
JOSÉ ALBERTO DOS REIS de que “quando as partes põem ao
tribunal determinada questão, socorrem-se, a cada passo, de
várias razões ou fundamentos para fazer valer o seu ponto de vista;
o que importa é que o tribunal decida a questão posta; não lhe
incumbe apreciar todos os fundamentos ou razões em que elas se
apoiam para sustentar a sua pretensão” (in CÓ DIGO DE
PROCESSO CIVIL ANOTADO, Volume V – Artigos 658.º a 720.º
(Reimpressão), Coimbra Editora, 1984, pág. 143).
Conforme resulta do disposto nos artºs 563º/2, 567º e 589º/3 do
CPC, são as conclusões do recurso que delimitam o seu objecto,
salvas as questões cuja decisão esteja prejudicada pela solução
dada a outras e as que sejam de conhecimento oficioso.
Inexistindo questão de conhecimento oficioso e face às conclusões
do recurso.
interposto pela Ré B.
O recurso interlocutório interposto pela Ré prende-se com o prazo
de prescrição dos créditos ora reclamados pelo Autor.
A única questão suscitada pela recorrente é no fundo a questão de
saber se houve cessação da relação de trabalho no momento em
que o Autor, passou da B para a C.
O Tribunal a quo entendeu que não.
O que merece a nossa inteira adesão.
Para nós, em vez de cessação da relação de trabalho entre o Autor
Ac. 556/2021-30
e a B, o que aconteceu é no fundo apenas a modificação
subjectiva, consistente na substituição de um sujeito antecessor (a
B) por um outro sucessor (a C) numa mesma relação de trabalho
que permanece mantida.
Na verdade, não tendo a modificação subjectiva ocorrida em
21JUL2003 feito cessar a relação laboral, o Autor não deve ficar
impedido de beneficiar da causa de suspensão por 2 anos a que
se alude o artº 311º/1-c) do CC, à luz do qual a prescrição não se
completa …… entre as partes de quaisquer outros tipos de
relações laborais, relativamente aos créditos destas emergentes,
antes de 2 anos corridos sobre o termo do contrato de trabalho.
Como se sabe, a mens legislatoris dessa causa de suspensão da
prescrição é prevenir o não exercício tempestivo do direito por
parte de um trabalhador subordinado, por causa da chamada
inibição psicológica do exercício do direito, decorrente da situação
de subordinação jurídica em que se encontra e do receio de
suscitar conflito com a entidade patronal que poderá colocar,
inclusivamente, em risco o seu emprego.
Admitimos que nas situações normais, tal inibição psicológica
cessa logo com a entrada de uma nova entidade patronal na
posição contratual da mesma relação laboral.
Todavia, existe uma particularidade no caso sub judice, que nos
leva a crer que tal inibição psicológica permanece presente mesmo
após a sucessão da C no lugar da B na mesma relação laboral
com o Autor.
Particularidade essa que é justamente o facto notório, ou pelo
menos o facto de que o tribunal tem conhecimento por virtude do
exercício das funções, de que, não obstante juridicamente distinta
Ac. 556/2021-31
da C, a entidade antecessora B, enquanto sociedade vulgarmente
denominada sociedade-mãe da C por ser sócio dominante desta,
continua a ser a entidade a quem o Autor se encontrava, “de facto,
subordinado”.
Tendo em conta a tal particularidade, cremos que a razão de ser da
causa de suspensão de prescrição prevista no artº 311º/1-c) do CC
continua a estar presente no caso em apreço mesmo depois da
sucessão da posição contratual da B pela C.
Assim, é de julgar improcedente o recurso interlocutório e manter a
decisão recorrida.
Passemos então a apreciar os recursos da sentença final.
Então comecemos pelo recurso interposto pela B, que se limitou a
impugnar a matéria de facto.
A recorrente B impugnou as respostas dadas à matéria dos
quesitos 5º, 6º, 21º e 22º da base instrutória.
A esses quesitos foram dadas as seguintes respostas:
Durante todo o período em que o Autor prestou trabalho, o Autor nunca deu
qualquer falta ao trabalho sem conhecimento e autorização prévia por parte
da Ré, sem prejuízo de 24 dias de férias anuais por cada ano civil e
dispensas de trabalho não remuneradas, nomeadamente entre 09/07/2002 e
01/08/2002 (24 dias), entre 07/06/2003 e 28/06/2003 (22 dias), 06/05/2004
e 29/05/2004 (24 dias), entre 05/04/2005 e 28/04/2005 (24 dias), entre
25/03/2006 e 18/04/2006 (25 dias), entre 03/04/2007 e 27/04/2007 (25 dias),
entre 03/06/2008 e 28/06/2008 (26 dias), entre 04/06/2009 e 28/06/2009 (25
dias), entre 04/05/2010 e 27/05/2010 (24 dias), entre 09/04/2011 e
07/05/2011 (29 dias), entre 10/10/2013 e 31/10/2013 (22 dias), entre
Ac. 556/2021-32
18/10/2014 e 08/11/2014 (22 dias), entre 07/11/2015 e 28/11/2015 (22 dias),
entre 24/09/2016 e 16/10/2016 (23 dias), entre 10/07/2017 e 12/08/2017 (34
dias), entre 06/01/2018 e 28/01/2018 (23 dias) e entre 19/10/2019 e
09/11/2019 (22 dias), bem como um dia de descanso no oitavo dia após
cada sete dias de trabalho consecutivos durante ao serviço da 2ª Ré. (5º 8º
16º)
……
Entre 27/06/2001 e 21/07/2003, o Autor prestou a sua actividade de
segurança durante em 1 de Janeiro, Ano Novo Chinês (3 dias), 1 de Maio e
1 de Outubro para a Ré (B), sem prejuízo da resposta aos quesitos 5º a 8º e
16º. (21º)
Entre 27/06/2001 e 21/07/2003, a Ré (B) nunca pagou ao Autor um qualquer
acréscimo salarial pelo trabalho prestado pelo Autor nos referidos dias de
feriado obrigatórios. (22º)
A recorrente alegou desconhecer tal factualidade e não possuir
documentos respeitantes ao Autor e à vida da Sociedade, por não
estarem obrigadas a conservá-los.
Não tem razão a recorrente.
Para nós, por um lado, não obstante o tempo entretanto decorrido,
a matéria que é de natureza pessoal da recorrente, pelo que o seu
desconhecimento equivale à sua confissão, nos termos do
disposto no artº 410º, nº 3 do CPC.
E por outro lado, como se sabe, em regra, o ónus de fazer prova
dos factos constitutivos de um direito cabe àquele que o invoca;
quanto aos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito,
a prova cabe àquele contra quem o direito é invocado – artº 335º
do CC.
A recorrente está a confundir a obrigação com o ónus.
Ac. 556/2021-33
A obrigação é imperativamente imposta por um comando legal que
normalmente comina uma sanção no caso do incumprimento da
obrigação, ao passo que o ónus, não sendo obrigatoriamente
imposto pela lei, impende sobre uma pessoa por forma a exigir-lhe
a prática de uma determinada conduta, sob pena de não alcançar
um benefício, ou suportar uma desvantagem.
Dada a riqueza da vida e a grandíssima variedade da matéria de
facto que pode vir a ser thema probandum nas acções cíveis, os
meios de prova não podem ser exaustivamente elencados a priori
pela lei, mas só devem ser escolhidos pelas partes de acordo com
os factos que pretendem provar e em atenção às circunstâncias
concretas de cada caso.
Portanto, não é aconselhável nem possível impor a todos os
cidadãos, potencialmente sujeitos processuais de uma acção civil
no futuro, a obrigação de conservar provas capazes de demonstrar
tudo quanto que se passa com eles ao longo da sua vida, por
forma a habilitá-los cumprir o seu ónus de prova caso pretenda
intentar uma acção civil ou venha a ser demandada numa acção
civil.
Assim, a obrigação não tem nada a ver com o ónus de prova, e a
inexistência de obrigação legal imposta a determinada pessoa para
guardar determinadas provas capazes de demonstrar uma
realidade integrante do elenco dos seus factos pessoais, não
exonera esta pessoa do seu cumprimento do ónus de impugnar
esta realidade, quando demandada numa acção civil em que
contra ela tiver sido invocada tal realidade.
Regressando ao caso, não tendo a Ré B cumprido o ónus, que
impende sobre ela, de provar os factos impeditivos do direito
Ac. 556/2021-34
invocado pelo Autor, o Tribunal não pode senão decidir contra as
parte onerada que é justamente a Ré.
Em segundo lugar, veio a recorrente imputar ao Tribunal a quo o
erro na apreciação da prova nas respostas dadas a alguns
quesitos, dado que na óptica da recorrente, o Tribunal a quo não
valorou correctamente o depoimento das testemunhas prestado na
audiência de julgamento.
Ora, se é verdade que, por força do princípio da livre apreciação
das provas consagrado no artº 558º do CPC, como regra geral, o
tribunal aprecia livremente as provas, decidindo os juízes segundo
a sua prudente convicção acerca de cada facto, não é menos certo
que a matéria de facto assente de primeira instância pode ser
alterada nos termos e ao abrigo do disposto no artº 629º do CPC.
Diz o artº 629º/1-a) do CPC que a decisão do tribunal de primeira
instância sobre a matéria de facto pode ser alterada pelo Tribunal
de Segunda Instância, se do processo constarem todos os
elementos de prova que serviram de base à decisão sobre os
pontos da matéria de facto em causa ou se, tendo ocorrido
gravação dos depoimentos prestados, tiver sido impugnada, nos
termos do artº 599º, a decisão com base neles proferida.
Apesar de in casu deverem ser tidas por satisfeitas as exigências
processuais para a viabilização da reapreciação da matéria de
facto com vista à eventual modificação por este Tribunal de
Segunda Instância da decisão do Tribunal a quo sobre a matéria
de facto, não é de proceder a pretensão por parte da recorrente de
ver alterada a matéria de facto nos termos requeridos.
Ora, tal como sucede com os outros meios de impugnação,
devolutivos ou não, a admissibilidade dos recursos funda-se na
Ac. 556/2021-35
falibilidade humana e na possibilidade de erro por parte dos juízes.
Portanto, recorre-se de uma decisão judicial por ser errada, e
geradora da injustiça.
In casu, está em causa o alegado erro na valoração das provas
para a fixação de matéria de facto.
Por força do princípio da livre apreciação das provas, consagrado
no artº 558º/1 do CPC, segundo o qual o tribunal aprecia e valora
as provas, segundo o critério de valoração racional e lógica do
julgador, com a observação das regras de conhecimentos gerais e
experiência de vida e dos critérios da lógica.
E quando estiverem em causa provas produzidas em audiência,
graças ao princípio da oralidade e da imediação, o Tribunal de
primeira instância é considerado estar em melhor condições do
que o Tribunal de recurso para a correcta valoração das provas
produzidas.
Assim, Tribunal de recurso só é legitimado para alterar a matéria
de facto fixada na primeira instância quando houver erro notório na
valoração das provas e na manifesta imprecisão na fixação dos
factos.
Portanto, para a alteração da matéria de facto, não basta a
invocada convicção formada nos termos diferentes pelo recorrente,
nem a convicção diversa da formada pelo Tribunal de recurso, é
preciso que haja erro notório na apreciação de provas cometido na
primeira instância.
Ac. 556/2021-36
O Tribunal a quo fundamentou a sua convicção nos termos
seguintes:
141415172019-A22242629313334(37
41)35363840 F G (
)
224)(2012
Ac. 556/2021-37
Ao passo que a recorrente se limitou a questionar a unicidade da
testemunha e a memória e a ciência da testemunha, sem que
tenha sido demonstrada a ainda vigência no nosso processo civil
da regra “unus testis nullus testis” e apontado o erro, muito menos
notório, na apreciação de provas na primeira instância.
Estando desactualizada desde há muito muito a tal regra arcaica
“unus testis nullus testis” e não tendo as recorrentes apontado o tal
erro, a impugnação da matéria de facto não pode deixar de
naufragar.
Arrumada a impugnação da decisão de facto, vamos apreciar o
recurso interposto pelo Autor.
nº24/89/M, quais são os multiplicadores para o cálculo do trabalho
prestado nos dias de descanso semanal e de feriado obrigatório, e
se, em face do disposto na Lei nº 7/2008, os descansos gozados
pelo Autor em cada oitavo dia após a prestação contínua de 7 dias
nova laboral são considerados com descanso semanal a que se
refere o artº 42º do mesmo diploma.
O Autor pede na acção a condenação da Ré a pagar-lhe, inter alia,
a compensação do trabalho prestado nos dias de descanso
semanal, referentes aos períodos de tempos sucessivos da
vigência das leis laborais velha e nova, assim como a
compensação de feriados obrigatórios não gozadas na vigência da
lei laboral nova.
O Tribunal a quo deu-lhe parcialmente razão e acabou por
reconhecer ao Autor esses direitos.
Ac. 556/2021-38
Mas o Autor questiona o multiplicador (X 1) para o cálculo do
trabalho prestado nos dias de descanso semanal e o multiplicador
(X 2) para o cálculo do trabalho prestado nos dias de feriados
obrigatórios, adoptados pelo Tribunal a quo, defendendo que deve
ser adoptado o multiplicador (X 2) e (X3), respectivamente, assim
como invocou o erro de direito em relação à compensação
arbitrada pelo trabalho prestado nos dias de descanso semanal na
vigência da Lei nº 7/2008.
Então vejamos estas questões:
1. Do multiplicador para o cálculo do trabalho prestado nos
dias de descanso semanal e do multiplicador para o cálculo
do trabalho prestado nos dias de feriados obrigatórios, na
vigência do Decreto-Lei nº24/89/M
Para nós, tem razão o recorrente no que diz respeito a estas duas
questões.
Pois no âmbito do Decreto-Lei nº 24/89/M, a lei regula as
condições do trabalho prestado em dias de descanso semanal e as
diferentes formas de compensações desse trabalho consoante as
variadas circunstâncias que o justificam.
Diz o artº 17º deste diploma que:
1. Todos os trabalhadores têm direito a gozar, em cada período de
descanso de vinte e quatro horas consecutivas, sem prejuízo da
correspondente retribuição, calculada nos termos do disposto sob o
artigo 26º.
2. O período de descanso semanal de cada trabalhador será fixado
pelo empregador, com devida antecedência, de acordo com as
exigências do funcionamento da empresa.
Ac. 556/2021-39
3. Os trabalhadores só poderão ser chamados a prestar trabalho nos
respectivos períodos de descanso semanal:
a) Quando os empregadores estejam em eminência de prejuízos
importantes ou se verifiquem casos de força maior;
b) Quando os empregadores tenham de fazer face a acréscimos
de trabalho não previsíveis ou não atendíveis pela admissão
de outros trabalhadores;
insubstituível para garantir a continuidade do funcionamento
da empresa.
4. Nos casos de prestação de trabalho em período de descanso
semanal, o trabalhador tem direito a um outro dia de descanso
compensatório a gozar dentro dos trinta dias seguintes ao da
prestação de trabalho e que será imediatamente fixado.
5. A observância do direito consagrado no nº 1 não prejudica a
faculdade de o trabalhador prestar serviço voluntário em dias de
descanso semanal, não podendo, no entanto, a isso ser obrigado.
6. O trabalho prestado nos termos do número anterior dá ao
trabalhador o direito a ser pago pelo dobro da retribuição normal.
Em face dos factos que ficaram provados nos presentes autos, não
se mostrando que o trabalho em dias de descanso semanal foi
prestado em qualquer das situações previstas no nº 3 e na falta de
outros elementos fácticos, a compensação deve processar-se nos
termos consagrados no nº 6, isto é, o trabalhador tem direito a ser
pago pelo dobro da retribuição normal.
Assim, no âmbito do Decreto-Lei nº 24/89/M, para cálculo de
quantia a pagar ao trabalho prestado em dias de descanso
semanal, a fórmula é:
2 X o salário diário médio X número de dias de
Ac. 556/2021-40
das situações previstas no artº 17º/3, nem para tal
constrangido pela entidade patronal.
E em relação ao trabalho prestado em dias de feriado obrigatório, o
trabalho em feriados obrigatórios e a forma das suas
compensações encontram-se regulados no artº 20º do Decreto-Lei
nº 24/89/M que prescreve:
1. O trabalho prestado pelos trabalhadores nos dias de feriado
obrigatório, referidos no nº 3 do artigo anterior, dá direito a um
acréscimo salarial nunca inferior ao dobro da retribuição normal e
só pode ser executado:
importantes ou se verifiquem casos de força maior;
b) Quando os empregadores tenham de fazer face a um
acréscimo de trabalho não previsível;
c) Quando a prestação de trabalho seja indispensável para
garantia a continuidade do funcionamento da empresa, nos
casos em que, de acordo com os usos e costumes, esse
funcionamento deva ocorrer nos dias de feriados.
2. Nos casos de prestação de trabalho em dia feriado obrigatório não
remunerado, ao abrigo da alínea b) do nº 1, o trabalhador que
tenha concluído o período experimental tem direito a um
acréscimo de salário nunca inferior a 50% do salário normal, a
fixar por acordo entre as partes.
Nos termos do disposto no artº 19º/3, os trabalhadores têm direito
à retribuição nos seis dias de feriado obrigatório (1 de Janeiro, os
primeiros 3 dias do Ano Novo Chinês, 1 de Maio e 1 de Outubro).
Perante a materialidade fáctica assente, o trabalho prestado pelo
trabalhador em dias de feriados obrigatório integra-se justamente
Ac. 556/2021-41
na circunstância prevista no artº 20º/1-c), pois o trabalhador estava
afectado aos casinos explorados pela entidade patronal, que como
vimos supra, se obrigava legalmente a manter os seus casinos em
funcionamento contínuo.
Assim, ao abrigo do disposto no artº20º/1, o trabalhador tem direito
a um acréscimo salarial nunca inferior ao dobro da retribuição
normal.
ensina o Dr. Augusto Teixeira Garcia que “......A prestação de
trabalho nestes dias dá o direito aos trabalhadores de receberem
um acréscimo de retribuição nunca inferior ao dobro da retribuição
normal (artº 20º, nº1). Assim, se um trabalhador aufere como
remuneração diária a quantia de MOP$100, por trabalho prestado
num dia feriado obrigatório e remunerado ele terá o direito de
auferir MOP$300, ou seja, MOP$100 que corresponde ao dia de
trabalho mais MOP$200, correspondente ao acréscimo salarial por
trabalho prestado em dia feriado.” – vide, op. cit., Capítulo V, ponto
9.2.
“acréscimo salarial”.
Assim, no âmbito do Decreto-Lei nº 24/89/M, para cálculo da
quantia a pagar o trabalho prestado em dias de feriado obrigatório
remunerado, a fórmula é:
3 X o salário diário médio X número de dias de
prestação de trabalho em feriado obrigatório
remunerado, nas situações previstas no artº 20º/1-c).
Procede o recurso quanto a estas duas questões.
Ac. 556/2021-42
Como, por um lado, a sentença recorrida adoptou o multiplicador X
1 para o cálculo da quantia a pagar ao trabalho prestado em dias
de descanso semana na vigência do Decreto Lei nº 24/89/M e o
multiplicador X 2 para o cálculo da quantia a pagar ao trabalho
prestado em dias de feriado obrigatório na vigência do Decreto Lei
nº 24/89/M, em vez de os multiplicadores X 2 e X 3,
respectivamente, que defendemos, e por outro lado não foram
impugnados pela Ré quer o número dos dias de descanso
semanal e de feriado obrigatório, em que trabalhou e quer o
quantitativo diário do salário, é de alterar a sentença recorrida e
passar a aplicar os multiplicadores X 2 e X 3 para o cálculo dos
quantitativos da compensação pelo trabalho prestado nos
descansos semanais e de feriado obrigatório, respectivamente.
Assim sendo, na vigência do Decreto-Lei nº24/89/M, merece o
Autor, a título da compensação pelo trabalho prestado nos dias de
descanso semanal, o valor de MOP$21.630,00 (HKD$250 X 1.03 X
266dias X 2 = MOP$136.990,00).
Todavia, o recorrente pediu apenas compensação correspondente
aos 255dias de trabalho, é de reduzir a quantia a arbitrar para a
quantia peticionada que é MOP$133.500,00, por força do princípio
do dispositivo, regente dos recursos civis e laborais.
E a título da compensação pelo trabalho prestado nos dias de
feriado obrigatório, o valor de MOP$23.947,50 (HKD$250 X 1.03 X
31dias X 3 = MOP$23.947,50).
2. Do erro de direito em relação à compensação pecuniária
arbitrada pelo trabalho prestado nos dias de descanso
semanal e ao dia compensatório na vigência da Lei nº
7/2008
Ac. 556/2021-43
Estão em causa factos ocorridos na vigência da Lei nº 7/2008.
Este diploma regula no seu artº 42º a matéria de descanso
semanal nos termos seguintes:
1. O trabalhador tem direito a gozar um período de descanso
remunerado de vinte e quatro horas consecutivas por semana.
2. O gozo do período de descanso pode não ter frequência
semanal em caso de acordo entre as partes ou quando a
natureza da actividade da empresa o torne inviável, casos em
que o trabalhador tem direito a gozar um período de descanso
remunerado de quatro dias por cada quatro semanas.
3. O período de descanso é fixado pelo empregador consoante
as exigências do funcionamento da empresa, com uma
antecedência mínima de três dias.
Na petição inicial, o Autor pediu a condenação da Ré a pagar-lhe
um dia de remuneração de base, acrescido de um dia de descanso
compensatório (substituído por um dia de remuneração de base),
pelo trabalho prestado ao sétimo dia, após a prestação de seis dias
consecutivos de trabalho em cada semana, quer na vigência do
Decreto-Lei nº 24/89/M quer na da Lei nº 7/2008.
Em sede de contestação, a Ré veio a defender-se dizendo que o
Autor gozou um período de descanso de vinte e quatro horas por
cada período de sete dias, embora sem regularidade semanal.
Ficou provado que:
­ Durante todo o período em que o Autor prestou trabalho, o Autor nunca
deu qualquer falta ao trabalho sem conhecimento e autorização prévia por
parte da Ré, sem prejuízo de 24 dias de férias anuais por cada ano civil e
Ac. 556/2021-44
e 01/08/2002 (24 dias), entre 07/06/2003 e 28/06/2003 (22 dias),
06/05/2004 e 29/05/2004 (24 dias), entre 05/04/2005 e 28/04/2005 (24
dias), entre 25/03/2006 e 18/04/2006 (25 dias), entre 03/04/2007 e
27/04/2007 (25 dias), entre 03/06/2008 e 28/06/2008 (26 dias), entre
04/06/2009 e 28/06/2009 (25 dias), entre 04/05/2010 e 27/05/2010 (24
dias), entre 09/04/2011 e 07/05/2011 (29 dias), entre 10/10/2013 e
31/10/2013 (22 dias), entre 18/10/2014 e 08/11/2014 (22 dias), entre
07/11/2015 e 28/11/2015 (22 dias), entre 24/09/2016 e 16/10/2016 (23
dias), entre 10/07/2017 e 12/08/2017 (34 dias), entre 06/01/2018 e
28/01/2018 (23 dias) e entre 19/10/2019 e 09/11/2019 (22 dias), bem
como um dia de descanso no oitavo dia após cada sete dias de trabalho
consecutivos durante ao serviço da 2ª Ré. (5º 8º 16º)
­ A Ré (C) pagou a título de salário de base mensal ao Autor as quantias
seguintes: (9º 13º)
Entre 01/08/2010 e 31/01/2011 MOP7,500.00
Entre 01/02/2011 e 31/12/2011 MOP7,875.00
Entre 01/01/2012 e 31/1/2013 MOP8,663.00
Entre 01/02/2013 e 31/12/2013 MOP9,183.00
Entre 01/01/2014 e 31/12/2014 MOP9,643.00
Entre 01/01/2015 e 31/07/2018 MOP10,126.00
Entre 01/08/2018 e 31/03/2019 MOP10,726.00
Entre 01/04/2019 e 20/07/2019 MOP11,326.00
­ Desde 22/07/2003 a 31/12/2019, o Autor prestou a sua actividade de
segurança para a Ré (C) num regime de turnos rotativos de sete dias de
trabalho consecutivos. (33º)
­ A que se segue um período de vinte e quatro horas de não trabalho, em
regra, no oitavo dia, que antecedia a mudança de turno. (34º, 37º 41º)
­ Entre 22/07/2003 a 31/12/2008 – descontados os períodos em que o Autor
esteve ausente de Macau – a Ré (C) não fixou ao Autor em cada período de
sete dias, um período de descanso de vinte e quatro horas consecutivas.
(35º)
­ Entre 22/07/2003 e 31/12/2008 a Ré (C) nunca pagou ao Autor qualquer
Ac. 556/2021-45
acréscimo salarial pelo trabalho prestado em cada um dos sétimos dias,
após a prestação de seis dias de trabalho consecutivo. (36º)
­ Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 – descontados os períodos em que o Autor
esteve ausente de Macau – a Ré (C) não fixou ao Autor um período de
descanso de vinte e quatro horas consecutivas em cada semana (leia-se, em
cada período de sete dias). (38º)
­ Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 – descontados os períodos em que o Autor
esteve ausente de Macau – a Ré (C) nunca solicitou ao Autor autorização
para que o período de descanso não tivesse uma frequência semanal. (39º)
­ Entre 01/01/2009 a 31/12/2019 a Ré (C) nunca pagou ao Autor um
acréscimo pelo trabalho prestado ao sétimo dia, após a prestação de seis
dias consecutivos de trabalho. (40º)
­ As Rés pagaram sempre ao Autor o salário correspondente aos dias de
descanso semanal. (42º)
Ora, quando globalmente interpretada a matéria tida por assente
na 1ª Instância e ora transcrita supra, é de concluir que o Autor não
gozou um período de 24 horas de descanso semanal num período
de sete dias, nos termos impostos pelo artº 42º da Lei nº 7/2008 e
prestou efectivamente trabalho naqueles períodos de 24 horas que
deveriam ser de descanso.
É verdade que ficou provado que gozou um dia de descanso no
oitavo dia após cada sete dias de trabalho consecutivos durante ao
serviço da Ré.
Todavia, não tendo sido demonstrado pela Ré, sobre a qual
impende o ónus de prova, que se verificou qualquer das
circunstâncias previstas no artº 42º/2 da Lei nº 7/2008, justificativas
da derrogação da regra geral da frequência semanal exigida no nº
1 do mesmo artigo, é de entender aplicável in casu essa regra
geral.
Ac. 556/2021-46
Assim, é de revogar a sentença ora recorrida e passar a arbitrar,
em substituição, ao Autor a compensação de dia de remuneração
de base, acrescido de um dia de descanso compensatório
(substituído por um dia de remuneração de base), pelo trabalho
prestado ao sétimo dia, após a prestação de seis dias consecutivos
de trabalho em cada semana, conforme detalhadamente apurado
na matéria assente de 1ª instância, no período entre 01JAN2009 e
31DEZ2019, em que vigora a Lei nº 7/2008.
Em relação ao facto provado de que o Autor gozou um dia de
descanso no oitavo dia após cada sete dias de trabalho
consecutivos durante ao serviço da Ré, entendemos que, por
razões de justiça, não nos repugna de aceitar que esse dia de
descanso no oitavo dia que se seguia sempre e regularmente aos
turnos rotativos de sete dias consecutivos seja considerado,
habilmente, no plano de juízo de direito, como descanso
compensatório a que se refere o artº 43º/2 da Lei nº 7/2008, ou
seja para compensar o descanso semanal que ficou por gozar no
período de sete dias imediatamente anterior.
Todavia, a questão da compensação pecuniária dos descansos
compensatórios não se põe neste recurso, uma vez que a
compensação a este título não foi arbitrada na sentença recorrida,
nem o Autor reagiu contra a sentença na parte respeitante ao não
arbitramento dessa compensação.
Portanto, só nos cabe apurar a compensação pelo trabalho
prestado ao sétimo dia, após a prestação de seis dias consecutivos
de trabalho em cada semana.
Assim, a título da compensação pelo trabalho prestado nos dias de
descanso semanal, é de arbitrar a favor do Autor a quantia de
MOP$116.172,50, correspondente à soma das quantias referentes
Ac. 556/2021-47
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