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1 Direito Processual Penal – Renato Brasileiro 2013 Indicação bibliográfica: - Norberto Avena - Nestor Távora e Rosmar Rodrigues - Curso de Processo Penal – Volume único – Renato Brasileiro (Editora Ímpetus) Intensivo I: 1. Investigação preliminar (04 aulas) 2. Ação Penal (05 aulas) 3. Competência Criminal (04 aulas) 4. Provas (04 aulas) 5. Medidas cautelares de natureza pessoal (05 aulas) 1.Investigação Preliminar 1.1. Inquérito Policial 1.1.1. Conceito É o procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. 1.1.2. Natureza jurídica Heloise Nort

Processo Penal

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013Indicao bibliogrfica: - Norberto Avena - Nestor Tvora e Rosmar Rodrigues - Curso de Processo Penal Volume nico Renato Brasileiro (Editora mpetus)

Intensivo I: 1. Investigao preliminar (04 aulas) 2. Ao Penal (05 aulas) 3. Competncia Criminal (04 aulas) 4. Provas (04 aulas) 5. Medidas cautelares de natureza pessoal (05 aulas)

1. Investigao Preliminar1.1. Inqurito Policial

1.1.1. Conceito o procedimento administrativo inquisitrio e preparatrio, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de colher elementos de informao quanto autoria e materialidade da infrao penal, a fim de permitir que o titular da ao penal possa ingressar em juzo. 1.1.2. Natureza jurdica considerado um procedimento administrativo, pois dele no resulta a imposio direta de nenhuma sano. Ou seja, inqurito no processo. Pergunta de concurso: se houver alguma ilegalidade no inqurito, essa ilegalidade contamina o processo? No, tendo em vista que, por se tratar de procedimento, eventuais vcios constantes do inqurito no contaminam de nulidade o processo a que der origem, salvo em se tratando de provas ilcitas.Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013*Persecuo penal atividade desenvolvida pelo Estado para impor a algum o cumprimento de uma sano. Subdivide-se em duas fases: investigatria (1 fase) e processual (2 fase). 1.1.3. Finalidade A finalidade do inqurito policial a colheita de elementos de informao quanto autoria e materialidade da infrao penal. No momento do inqurito no se fala em provas, mas em elementos informativos, conforme artigo 155 do Cdigo de Processo Penal:Art. 155. O juiz formar sua convico pela livre apreciao da prova produzida em contraditrio judicial, no podendo fundamentar sua deciso exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigao, ressalvadas as provas cautelares, no repetveis e antecipadas.

*Provas cautelares: so aquelas em que h um risco de desaparecimento do objeto da prova em razo do decurso do tempo. Podem ser produzidas na fase investigatria e na fase judicial, e dependem de autorizao judicial, sendo que o contraditrio ser diferido (ou postergado contraditrio sobre a prova). Exemplo: interceptao telefnica. *Provas no repetveis: aquela que, uma vez produzida, no tem como ser novamente coletada, em virtude do desaparecimento da fonte probatria. Podem ser produzidas na fase investigatria e na fase judicial, e no dependem de autorizao judicial, sendo o contraditrio tambm postergado. Exemplo: exame de corpo de delito em infraes penais cujos vestgios desapareceram posteriormente. *Provas antecipadas: so aquelas produzidas com a

observncia do contraditrio real, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou at mesmo antes do incio do processo, em virtude de situao de urgncia e relevncia. Podem ser produzidas na fase investigatria e na fase judicial, e dependem de autorizao judicial, sendo que o contraditrio ser real (contraditrio para a prova). Exemplo: artigos 225 e 366 do CPP e artigo 19-A, pargrafo nico, da Lei 9.807/99:Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instruo Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013criminal j no exista, o juiz poder, de ofcio ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento. Art. 366. Se o acusado, citado por edital, no comparecer, nem constituir advogado, ficaro suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produo antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar priso preventiva, nos termos do disposto no art. 312. Art. 19-A. [...] Pargrafo nico. Qualquer que seja o rito processual criminal, o juiz, aps a citao, tomar antecipadamente o depoimento das pessoas includas nos programas de proteo previstos nesta Lei, devendo justificar a eventual impossibilidade de faz-lo no caso concreto ou o possvel prejuzo que a oitiva antecipada traria para a instruo criminal.

Elemento Informativo - colhido na fase investigatria (no necessariamente no inqurito, pois o Estado possui outros instrumentos investigatrios); - quanto a sua produo, no obrigatria a observncia do contraditrio e da ampla defesa; - papel do juiz: s deve intervir quando necessrio (exemplo: interceptao telefnica), e desde que seja provocado nesse sentido; - finalidades: a) so teis para a decretao de medidas cautelares, e b) servem para a formao da convico do titular da ao penal (opinio delicti); - exclusivamente (art. 155 do CPP): elementos informativos, isoladamente considerados, no podem fundamentar uma sentena, porm tais elementos no devem ser desprezados durante a fase judicial, podendo se somar prova produzidaHeloise Nort

Prova - em regra, produzida na fase judicial, ressalvadas as provas cautelares, no repetveis e antecipadas (art. 155); - obrigatria a observncia do contraditrio (real ou diferido) e da ampla defesa; - papel do juiz: a prova de ser produzida na presena do juiz, direta (fisicamente presente) ou remota (videoconferncia); - vigora o princpio da identidade fsica do juiz (art. 399, pargrafo 2, do CPP: O juiz que presidiu a instruo dever proferir a sentena.); - durante a fase processual (e apenas nessa fase), o juiz dotado de iniciativa probatria, a ser exercida de maneira residual; - finalidade: auxiliar na formao da convico do juiz.

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013em juzo para auxiliar na formao da convico do magistrado (STF, HC 83.348).

1.1.4. Termo Circunstanciado Procedimento investigatrio de infraes de menor potencial ofensivo. *Infrao de menor potencial ofensivo: contravenes penais e crimes com pena mxima no superior a dois anos, cumulada ou no com multa, submetido (ou no) a procedimento especial, ressalvadas as hipteses de violncia domstica e familiar contra a mulher. 1.1.5. Atribuio para o inqurito policial Essa atribuio para presidncia do inqurito policial est relacionada espcie de crime praticado. Exemplos: a) Crime militar da competncia da Justia Militar da Uniao: Foras Armadas, atravs de Oficial nomeado para atuar como Encarregado de Inqurito Policial Militar. b) Crime militar da competncia da Justia Militar Estadual: investigao pela prpria Polcia Militar ou Corpo de Bombeiros, tambm atravs de Oficial nomeado. c) Crime eleitoral: por ser de competncia da Justia Eleitoral (da Unio), deve ser investigado pela Polcia Federal. Entendimento do TSE: nas localidades em que no h Polcia Federal, crimes eleitorais podem ser investigados pela Polcia Civil. d) Crime federal (de competncia da Justia Federal): deve ser investigado pela Polcia Federal. e) Crime comum (de competncia da Justia Estadual): deve ser investigado pela Polcia Civil ou pela Polcia Federal (desde que o crime tenha repercusso interestadual ou internacional art. 144, 1, I, da CF/88). Observao: como o inqurito um mero procedimentoHeloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013administrativo, ainda que presidido pela autoridade desprovida de

atribuies, no h impedimentos ao oferecimento da pea acusatria. 1.1.6. Caractersticas do inqurito policial a) Procedimento escrito artigo 9 do CPP:Art. 9 Todas as peas do inqurito policial sero, num s processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.o

*H possibilidade, entretanto, de gravar alguns atos do inqurito artigo 405, 1, do CPP: 1 Sempre que possvel, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas ser feito pelos meios ou recursos de gravao magntica, estenotipia, digital ou tcnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informaes.o

b) Procedimento dispensvel se o titular da ao penal contar com elementos informativos obtidos a partir de procedimento investigatrio diverso do inqurito, este poder ser dispensado. *Todo e qualquer procedimento investigatrio diverso do inqurito denominado pelo CPP de pea de informao (artigo 28). c) Procedimento sigiloso em regra, o sigilo e a consequente surpresa so indispensveis para se assegurar a eficcia das investigaes. Exemplo de exceo regra do sigilo: retrato falado. - Advogado tem acesso aos autos do inqurito? Sim, previsto no artigo 5, LXIII, da CF/88, e no artigo 7, XIV, do Estatuto da OAB:LXIII - o preso ser informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistncia da famlia e de advogado. Art. 7 So direitos do advogado: XIV - examinar em qualquer repartio policial, mesmo sem procurao, autos de flagrante e de inqurito, findos ou em andamento, ainda que conclusos autoridade, podendo copiar peas e tomar apontamentos;

- Advogado precisa de procurao para ter acesso aos autos? No h necessidade, salvo se houver informaes relativas vida privada do investigado. - Advogado tem acesso irrestrito aos autos? No, o acesso limitado s informaes j documentadas, e o advogado no ter acesso s diligncias em andamento (interceptao telefnica, busca domiciliar, etc) Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013Smula vinculante n. 14. *Instrumentos a serem utilizados diante da negativa de acesso aos autos: a) Reclamao ao STF (em virtude da existncia de smula vinculante art. 103-A, 3, da CF/88); b) Mandado de segurana com pedido de medida liminar (impetrado no juzo de 1 grau, em nome do advogado); c) Habeas corpus com pedido de medida liminar (impetrado no juzo de 1 grau, em nome do investigado, e desde que haja risco liberdade de locomoo no cabe em caso de pena de multa). d) Procedimento inquisitorial - De acordo com a corrente majoritria, entende-se que, durante o inqurito policial, no obrigatria a observncia do contraditrio e da ampla defesa, pois o elemento da surpresa importante para garantir a eficcia das investigaes. H uma corrente minoritria, entretanto, que defende ser obrigatria a observncia da ampla defesa. *Exerccio exgeno do direito de defesa: aquele efetivado fora dos autos do inqurito policial. Exemplos: Habeas Corpus,

requerimentos ao juiz e ao MP. *Exerccio endgeno: aquele efetivado dentro dos autos do inqurito policial. Exemplos: oitiva do investigado, diligncias solicitadas autoridade policial. H quem diga que a prpria Constituio Federal assegura, em seu artigo 5, LXIII, a qualquer pessoa o direito de ser ouvida.LXIII - o preso ser informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistncia da famlia e de advogado.

*Ateno: no Inqurito para Expulso do Estrangeiro (Lei 6.815/80), obrigatria a observncia do contraditrio e da ampla defesa. e) Procedimento discricionrio O Cdigo de Processo Penal prev um rol exemplificativo de diligncias a serem realizadas pela autoridade policial (artigos 6 e 7). *Discricionariedade = liberdade de

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013atuao nos limites da lei (no se confunde com arbitrariedade, que est relacionada a uma atuao contrria lei). Exemplo: artigo 14 do CPP.Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado podero requerer qualquer diligncia, que ser realizada, ou no, a juzo da autoridade.

*Cuidado: Essa discricionariedade no tem natureza absoluta, pois h diligncias cuja realizao obrigatria. Exemplo: exame de corpo de delito (artigo 158 do CPP):Art. 158. Quando a infrao deixar vestgios, ser indispensvel o exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo supri-lo a confisso do acusado.

f) Procedimento Indisponvel a autoridade policial no pode arquivar autos de inqurito policial. Previsto no artigo 17 do Cdigo de Processo Penal:Art. 17. A autoridade policial no poder mandar arquivar autos de inqurito.

g) Procedimento temporrio em se tratando de investigado solto, o prazo para a concluso do inqurito pode ser prorrogado quantas vezes forem necessrias. A jurisprudncia, entretanto, comeou a se manifestar no sentido de que a garantia da razovel durao do processo tambm deve ser aplicada ao inqurito policial (STJ, HC 96.666). 1.1.7. Formas de instaurao do Inqurito Policia l I) Crimes de ao penal privada ou de ao penal pblica condicionada: - O inqurito policial no pode ser instaurado de ofcio. - Depende de requerimento da vtima ou de requisio do Ministro da Justia. No caso do requerimento da vtima, no h necessidade de formalismo. - A pea de inaugurao do inqurito ser uma Portaria. II) Crimes de ao penal pblica incondicionada: a) de ofcio ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do crime por meio de suas atividades rotineiras. Nesse caso, a pea inaugural ser, tambm, uma Portaria.Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013b) requisio do juiz ou do MP atualmente, entende-se que essa requisio do juiz viola a garantia da imparcialidade e o prprio sistema acusatrio, sendo considerada inconstitucional. O ideal a aplicao do artigo 40 do CPP:Art. 40. Quando, em autos ou papis de que conhecerem, os juzes ou tribunais verificarem a existncia de crime de ao pblica, remetero ao Ministrio Pblico as cpias e os documentos necessrios ao oferecimento da denncia.

*Ateno: 1) No h hierarquia entre o MP e a Polcia. 2) O delegado instaura o inqurito por fora do princpio da obrigatoriedade, salvo em se tratando de requisio ilegal. A doutrina entende que, nesse caso, a prpria requisio seria a pea inaugural desse inqurito policial. c) por requerimento da vtima ou de seu representante legal Nesse caso, a pea inaugural ser uma Portaria. Caso o requerimento seja indeferido pela autoridade policial, a vtima pode fazer um requerimento diretamente ao MP, ou, ainda, interpor um recurso inominado ao Chefe de Polcia (depende do Estado, pode ser o Delegado-Geral, o Secretrio de Segurana, ou o Superintendente da Polcia Federal). d) por meio de uma notcia oferecida por qualquer pessoa do povo sendo a pea inaugural, tambm, uma Portaria. e) pelo auto de priso em flagrante hiptese em que a pea inaugural ser o prprio auto de priso em flagrante. 1.1.8. Notitia Criminis Notitia criminis nada mais que o conhecimento, espontneo ou provocado, por parte da autoridade policial, acerca do fato delituoso. *Espcies de notitia criminis: a) de cognio imediata (ou espontnea) a autoridade policial toma conhecimento do crime por meio de suas atividades rotineiras. b) de cognio mediata (ou provocada) nesse caso, a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por meio de um expediente escrito.Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013c) de cognio coercitiva - ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por meio da apresentao de indivduo preso em flagrante. *Notitia Criminis inqualificada conhecida por denncia annima. Por si s, no serve para fundamentar a instaurao de um inqurito policial. Porm, a partir dela, pode a polcia realizar diligncias preliminares para verificar a procedncia das informaes e, ento, instaurar o inqurito policial propriamente dito (STF, HC 95.244). 1.1.9. Identificao criminal - A identificao criminal abrange: 1) identificao fotogrfica 2) identificao datiloscpica (impresses digitais) 3) identificao do perfil gentico (Lei 12.654/12) - Antes da CF/88, a identificao criminal era obrigatria, ainda que houvesse a identificao civil. Nesse sentido, Smula 568 do STF:A IDENTIFICAO CRIMINAL NO CONSTITUI CONSTRANGIMENTO ILEGAL, AINDA QUE O INDICIADO J TENHA SIDO IDENTIFICADO CIVILMENTE.

- Aps o advento da CF/88, o assunto ganha um novo quadro por conta da redao do artigo 5, LVIII:LVIII - o civilmente identificado no ser submetido a identificao criminal, salvo nas hipteses previstas em lei.

- Concluses: 1) se o indivduo no se identificar civilmente, poder ser submetido identificao criminal; 2) o civilmente identificado no ser submetido identificao criminal, salvo nas hipteses previstas em lei. Ou seja, essa Smula 568 no possui mais validade, uma vez que anterior Constituio Federal. *Leis que tratam da identificao criminal: a) Lei 8.069/90 (Estatuto da Criana e do Adolescente), artigo 109 prev a identificao criminal do adolescente. b) Lei 9.034/95 (Lei das Organizaes Criminosas), artigo 5 .

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013c) Lei 10.054/00 como o artigo 3, I, no ressalvou a ao praticada por organizaes criminosas, teria havido a revogao tcita do artigo 5 da Lei 9.034/95. (STJ, RHC 12.965) d) Lei 12.037/09 lei que trata apenas sobre a identificao criminal; revogou expressamente a Lei 10.054/00 (artigo 9). Apenas esta lei prev as hipteses de identificao criminal do civilmente identificado (artigo 1):Art. 1 O civilmente identificado no ser submetido a identificao criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei.

As hipteses de identificao criminal esto previstas no artigo 3 dessa lei:Art. 3 Embora apresentado documento de identificao, poder ocorrer identificao criminal quando: I o documento apresentar rasura ou tiver indcio de falsificao; II o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; - exemplo: certido de nascimento III o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informaes conflitantes entre si; IV a identificao criminal for essencial s investigaes policiais, segundo despacho da autoridade judiciria competente, que decidir de ofcio ou mediante representao da autoridade policial, do Ministrio Pblico ou da defesa; - nica possibilidade que depende de autorizao judicial V constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificaes; VI o estado de conservao ou a distncia temporal ou da localidade da expedio do documento apresentado impossibilite a completa identificao dos caracteres essenciais.

e) Lei 12.654/12 essa lei passou a prever a identificao do perfil gentico. Alterou a Lei 12.037/09: quando a identificao for essencial s investigaes policiais, poder abranger a identificao do perfil gentico, mediante prvia autorizao judicial. *Compatibilidade com o princpio que veda a

autoincriminao possvel a identificao do perfil gentico desde que a coleta do material biolgico seja feita de maneira no invasiva. H doutrinadores que defendem que a coleta do material gentico serviria apenas para fins de identificao, e no para o fim probatrio. Mas esse entendimento no est consolidado, o prprio STF j se manifestou em sentido contrrio (STF, RCL-QO 2.040). 1.1.10. Incomunicabilidade do indiciado presoHeloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado depender sempre de despacho nos autos e somente ser permitida quando o interesse da sociedade ou a convenincia da investigao o exigir. Pargrafo nico. A incomunicabilidade, que no exceder de trs dias, ser decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do rgo do Ministrio Pblico, respeitado, em qualquer hiptese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963)

A doutrina entende que esse artigo 21 do Cdigo de Processo Penal no foi recepcionado pela Constituio Federal, pois, na verdade, a Constituio no autoriza a incomunicabilidade sequer no estado de defesa. Ateno: No Regime Disciplinar Diferenciado no h

incomunicabilidade, mas sim maiores restries ao direito de visitas. 1.1.11. Indiciamento I) Conceito: - Indiciar atribuir a algum a autoria de determinada infrao penal. - O indiciamento no cabvel em termo circunstanciado. II) Momento: Desde o incio das investigaes at o incio do processo. De acordo com o STJ, aps o incio do processo no possvel o indiciamento (HC 182.455). III) Espcies: a) indiciamento direto aquele que feito na presena do investigado. b) indiciamento indireto ocorre quando se trata de investigado ausente. IV) Pressupostos necessrios: Elementos informativos quanto autoria e materialidade da infrao penal apesar de no constar do CPP, a doutrina afirma que o indiciamento deve ser fundamentado (h, inclusive, uma Instruo Normativa da Polcia Federal sobre o assunto IN 11/2011). V) Desindiciamento: Nada mais que a desconstituio de anterior indiciamento. PodeHeloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013ser feito pela prpria polcia, ou pelo Poder Judicirio. VI) Atribuio para o indiciamento: ato privativo da autoridade policial. - A requisio de indiciamento feita pelo MP um erro. VII) Sujeito passivo do indiciamento: Em regra, qualquer pessoa poder ser indiciada. *No podem ser indiciados: - Magistrados - Membros do MP *Titulares de foro por prerrogativa de funo no podem ser investigados e nem indiciados sem prvia autorizao do Tribunal competente (STF, INQ. 2411, QO/MT). VIII) Afastamento do servidor pblico como consequncia do indiciamento nos crimes de lavagem de capitais: - Lei 9613/98, alterada pela Lei 12.683/12:Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor pblico, este ser afastado, sem prejuzo de remunerao e demais direitos previstos em lei, at que o juiz competente autorize, em deciso fundamentada, o seu retorno.

H doutrinadores j se manifestando pela inconstitucionalidade do aludido artigo. No entanto, nada impede que o juiz determine a suspenso do exerccio da funo pblica. Ou seja, o delegado teria que representar ao juiz, pedindo que ele determine a suspenso. 1.1.12. Concluso do Inqurito Policial I) Prazo: LEI Cdigo de Processo Penal Lei 5.010 (Inqurito Policial Federal) Inqurito Policial Militar INVESTIGADO PRESO 10 dias 15 dias, podendo ser prorrogado por mais 15 dias 20 dias INVESTIGADO SOLTO 30 dias 30 dias (CPP) 40 dias, podendo ser prorrogado por mais 20 dias

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013Lei 11.343/06 (Lei de Drogas) Crimes contra a Economia Popular Priso Temporria (priso que serve apenas para a fase investigatria) Priso Temporria em Crimes Hediondos ou equiparados Observaes: a) Em se tratando de investigado solto, possvel a prorrogao dos prazos artigo 10, 3, do CPP: 3 Quando o fato for de difcil elucidao, e o indiciado estiver solto, a autoridade poder requerer ao juiz a devoluo dos autos, para ulteriores diligncias, que sero realizadas no prazo marcado pelo juiz.o

30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30 dias 10 dias 5 dias, podendo ser prorrogado por mais 5 (caindo no mesmo prazo do CPP) 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30

90 dias, podendo ser prorrogado por mais 90 dias 10 dias (a lei no diferencia se investigado preso ou solto) -

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*Natureza do prazo: - investigado solto: natureza processual, aplicando-se os 1 e 3 do artigo 798 do CPP: 1 No se computar no prazo o dia do comeo, incluindo-se, porm, o do vencimento. 3 O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se- prorrogado at o dia til imediato.o o

- investigado preso: a) 1 corrente (defendida por Guilherme de Souza Nucci): prazo de natureza material, aplicando-se o artigo 10 do Cdigo Penal:Art. 10 - O dia do comeo inclui-se no cmputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendrio comum.

*prazos materiais so fatais e improrrogveis (se o prazo terminar no sbado, no h prorrogao at segunda-feira, devendo o direito ser exercido at sexta-feira). b) 2 corrente (prevalece entre os demais doutrinadores, como Denilson Feitosa e Julio Fabrini Mirabete): natureza processual. No se pode

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013confundir o prazo da priso cautelar, que tem natureza material, com o prazo do inqurito, que tem natureza processual. II) Relatrio: - Pea de carter descritivo. - O delegado deve se abster de fazer um juzo de valor, pois no ele o titular da ao penal pblica, salvo no caso de drogas, hiptese em que h expressa previso legal (artigo 52, I, Lei 11.343/06):Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polcia judiciria, remetendo os autos do inqurito ao juzo: I - relatar sumariamente as circunstncias do fato, justificando as razes que a levaram classificao do delito, indicando a quantidade e natureza da substncia ou do produto apreendido, o local e as condies em que se desenvolveu a ao criminosa, as circunstncias da priso, a conduta, a qualificao e os antecedentes do agente;

- A elaborao do relatrio dever funcional da autoridade policial, mas essa pea no indispensvel para o oferecimento da denncia. III) Destinatrio: - Os autos do inqurito policial so encaminhados ao Poder Judicirio, sendo distribudos a uma determinada vara, com posterior vista ao Ministrio Pblico. * cada vez mais comum a expedio de portarias e resolues dos tribunais determinando a tramitao direta entre Polcia e Ministrio Pblico, como medida de economia processual, salvo se houver medidas urgentes que dependam de autorizao judicial (exemplo: priso em flagrante). IV) Providncias a serem adotadas pelo Ministrio Pblico aps ter vista dos autos do Inqurito: a) ao penal privada: o Ministrio Pblico deve requerer a permanncia dos autos em cartrio, aguardando-se a iniciativa do ofendido. b) ao penal pblica: 1) Oferecimento da denncia. 2) Promoo de arquivamento.

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 20133) Requisio de diligncias, desde que indispensveis formao da opinio delicti (convico do titular da ao penal). *Essa requisies devem ser feitas diretamente autoridade policial, salvo se houver necessidade de autorizao judicial. 4) Declinao de competncia deve ser feita se o Ministrio Pblico entender que o juiz perante o qual atual no tem competncia para o julgamento do crime. 5) Suscitar conflito de competncia ou de atribuies no pedido de declinao de competncia, nenhum outro juzo havia se manifestado quanto (in)competncia. No conflito, j houve prvia manifestao de outro juzo acerca da (in)competncia. *Conflito de competncia: trata-se de instrumento que visa dirimir eventual controvrsia entre duas ou mais autoridades judicirias acerca da (in)competncia para o processo e julgamento de determinada demanda. perfeitamente possvel que, ao julgar o conflito de competncia, o Tribunal entenda que a competncia de rgo jurisdicional diverso daqueles que estavam em conflito. *Espcies de conflito de competncia: - positivo: ocorre quando duas ou mais autoridades jurisdicionais consideram-se competentes para o julgamento. - negativo: ocorre quando dois ou mais juzes consideram-se incompetentes para o julgamento da demanda. *Limites temporais para suscitar o conflito de competncia: Smula 59 do STJ:No h conflito de competncia se j existe sentena com trnsito em julgado, proferida por um dos juzos conflitantes.

*Regras bsicas para a definio do Tribunal competente para o julgamento do conflito: 1) Onde houver hierarquia jurisdicional, no haver conflito de competncia. 2) Deve-se buscar um rgo jurisdicional hierarquicamente superior e comum aos juzes em conflito.Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013- Exemplos: a) Juiz Estadual de Cabo Frio/RJ x TJRJ no h conflito (regra da hierarquia). b) Juiz Federal do Cera (5 Regio) x Juiz Federal da Bahia (1 Regio) o conflito ser decidido pelo STJ. c) Juiz do Juizado Especial Criminal Estadual de Belo Horizonte x Juiz Estadual da Vara Criminal de Belo Horizonte o conflito ser decidido pelo TJ/MG. *Ateno: com o julgamento do RE 590.409, foi cancelada a Smula 348 do STJ, cuja redao era Compete ao Superior Tribunal de Justia decidir os conflitos de competncia entre juizado especial federal e juzo federal, ainda que da mesma seo judiciria. Atualmente, a Smula que regula o assunto a 428:Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competncia entre juizado especial federal e juzo federal da mesma seo judiciria.

d) Juiz Estadual de uma Vara Criminal do RS x Juiz de Direito do Juzo Militar do RS o conflito ser decidido pelo STJ (pois MG, SP e RS existe Tribunal de Justia Militar). Nos casos dos Estados que no possuem Tribunal de Justia Militar, o conflito ser decidido pelo TJ do respectivo estado. *Conflito de atribuies: consiste na divergncia estabelecida entre rgos do Ministrio Pblico acerca da responsabilidade ativa para a persecuo penal. - Exemplos: - MP/PA x MP/PA o conflito ser decidido pelo Procurador Geral de Justia/PA. - MPF/ES x MPF/RJ o conflito ser decidido pela Cmara de Coordenao e Reviso do MPF (Lei Complementar 75). - MPF/SP x MPM/SP Procurador Geral da Repblica - MP/MG x MP/GO de acordo com uma corrente minoritria (Eugnio Pacceli de Oliveira), na verdade se trata de um conflito virtual de competncia, que deve ser decidido pelo STJ. Prevalece o entendimento,

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013entretanto, de que se trata de mero conflito de atribuio, cuja competncia para resoluo ser do STF (por ser conflito entre dois Estados). - MPF/MS x MP/MG o conflito ser tambm decidido pelo STF, por envolver dois Estados. 1.1.13. Arquivamento dos autos do Inqurito Policial I) Natureza jurdica do arquivamento: - O arquivamento uma deciso judicial que resulta do consenso entre o Ministrio Pblico e autoridade judiciria. - Por no ser o titular da ao penal, o juiz no pode decidir de ofcio. - Tambm possvel o arquivamento do Termo Circunstanciado. II) Fundamentos do arquivamento (construo doutrinria): a) ausncia dos pressupostos processuais ou das condies da ao. - CJF b) ausncia de lastro probatrio (justa causa) para o oferecimento da denncia. - CJF c) manifesta atipicidade formal/material (exemplo: princpio da insignificncia causa excludente da atipicidade material). CJFM (STF, HC 84.156) d) causa excludente da ilicitude (legtima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal). CJFM (entendimento doutrinrio. Entretanto, h uma deciso da 1 Turma do STF, proferida no HC. 95.211, no sentido de que essa deciso faria apenas CJF. H, ainda, outro HC tramitando no STF (HC 87.395), no qual trs ministros j se manifestaram pela CJFM) e) causas excludentes da culpabilidade (coao moral irresistvel, obedincia hierrquica, erro de proibio, entre outras), salvo na hiptese de inimputabilidade do artigo 26, caput, caso em que deve ser oferecida a denncia, porm com pedido de absolvio imprpria (com aplicao de medida de segurana). - CJFM

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013f) causa extintiva da punibilidade. CJFM no caso de certido de bito falsa, os Tribunais entendem que se trata de ato inexistente, sendo possvel a reabertura das investigaes. III) Coisa julgada no arquivamento: Depende do que fundamentou o arquivamento (ver item anterior). *Coisa julgada formal (CJF) corresponde imutabilidade da deciso dentro do processo em que foi proferida. *Coisa julgada material (CJFM) corresponde imutabilidade da deciso fora do processo em que foi proferida. Pressupes a coisa julgada formal. IV) Desarquivamento e posterior oferecimento de denncia: *Desarquivamento reabertura das investigaes. - Pressuposto: notcia de provas novas. - Atribuio: a) 1 corrente: autoridade policial (artigo 18 do CPP) b) 2 corrente: Ministrio Pblico, sob o fundamento de que o Inqurito j teria passado pelo MP. *Oferecimento de denncia aps o desarquivamento, se surgirem novas provas, o Ministrio Pblico deve oferecer denncia. - Provas novas: so aquelas capazes de alterar o contexto probatrio dentro do qual foi proferida a deciso de arquivamento. A doutrina costuma citar duas espcies de provas novas: a) prova formalmente nova aquela que j era conhecida, mas ganhou nova verso. b) prova substancialmente nova uma prova indita, ou seja, desconhecida poca do arquivamento. V) Procedimento do Arquivamento A) Justia Estadual: - Diante da promoo de arquivamento, pode o magistrado:Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 20131) Concordar com a promoo de arquivamento, havendo, ento, a homologao da aludida promoo. 2) No concordar com a promoo do arquivamento. Nesse caso, o juiz encaminhar os autos ao Procurador-Geral de Justia, conforme disposto no artigo 28 do Cdigo de Processo Penal:Art. 28. Se o rgo do Ministrio Pblico, ao invs de apresentar a denncia, requerer o arquivamento do inqurito policial ou de quaisquer peas de informao, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razes invocadas, far remessa do inqurito ou peas de informao ao procurador-geral, e este oferecer a denncia, designar outro rgo do Ministrio Pblico para oferec-la, ou insistir no pedido de arquivamento, ao qual s ento estar o juiz obrigado a atender.

*Observaes: 1) Esse artigo 28 chamado por alguns doutrinadores de princpio da devoluo. 2) O juiz exerce uma funo anmala de fiscal do princpio da obrigatoriedade, que ser estudado nas aulas de ao penal. 3) Recusa injustificada de oferecimento pelo MP de transao penal e tambm de suspenso condicional do processo + recusa injustificada do MP em aditar a pea acusatria = artigo 384 do CPP:Art. 384. Encerrada a instruo probatria, se entender cabvel nova definio jurdica do fato, em conseqncia de prova existente nos autos de elemento ou circunstncia da infrao penal no contida na acusao, o Ministrio Pblico dever aditar a denncia ou queixa, no processo em crime de ao pblica, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. 1 No procedendo o rgo do Ministrio Pblico ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Cdigo.o

- Smula 696 do STF:REUNIDOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PERMISSIVOS DA SUSPENSO CONDICIONAL DO PROCESSO, MAS SE RECUSANDO O PROMOTOR DE JUSTIA A PROP-LA, O JUIZ, DISSENTINDO, REMETER A QUESTO AO PROCURADOR-GERAL, APLICANDOSE POR ANALOGIA O ART. 28 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL.

- Providncias que podem ser adotadas pelo ProcuradorGeral de Justia: 1) oferecer denncia; 2) requisitar diligncias; 3) insistir no arquivamento (caso em que o magistrado obrigado a atend-lo); 4) designar outro membro do MP para atuar no caso. *Observaes:Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 20131) A designao para atuar no pode recair sobre o mesmo Promotor. 2) Prevalece o entendimento de que esse outro Promotor age por delegao (longa manus), estando obrigado a oferecer denncia quando a designao for nesse sentido. 3) O STF j decidiu que essa designao no ofende o princpio do promotor natural (HC 92.885). B) Justia Federal / Justia comum do DF: - Qual o rgo do MP que atua nessas hipteses? Na Justia Federal o MPF, e na Justia comum do DF o MPDFT. MPU = MPF + MPDFT + MPM + MPT - Aplica-se, portanto, a Lei Complementar n. 75/93. Procedimento: A promoo de arquivamento ser encaminhada ao juiz federal, que ter duas possibilidades. Se o juiz federal concordar com a promoo de arquivamento, haver a homologao do arquivamento. Caso o juiz no concorde, os autos sero remetidos Cmara de Coordenao e Reviso.do MPF (aplica-se apenas no mbito da Unio).Art. 62. Compete s Cmaras de Coordenao e Reviso: IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inqurito policial, inqurito parlamentar ou peas de informao, exceto nos casos de competncia originria do Procurador-Geral;

Observao: Segundo a doutrina, a manifestao da Cmara de Coordenao e Reviso possui carter meramente opinativo, uma vez que, aps a sua manifestao, os autos so encaminhados ao Procurador-Geral da Repblica, que tomar a deciso final. Entretanto, na prtica h uma delegao do PGR para a Cmara de Coordenao e Reviso tomar a deciso final. - Ver Enunciados 7 e 9 da 2 Cmara de Coordenao e Reviso:Enunciado 7 - O magistrado, quando discordar da motivao apresentada pelo rgo do Ministrio Pblico para o no oferecimento da denncia, qualquer que seja a fundamentao, deve remeter os autos 2 Cmara de Coordenao e Reviso, valendo-se do disposto nos artigos 28, do Cdigo de Processo Penal e 62, IV, da LC 75/93. Enunciado 9 - A promoo de arquivamento feita pelo membro do Ministrio Pblico Federal ser submetida 2 Cmara de Coordenao Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013e Reviso, que se manifestar no exerccio de sua competncia revisional.

C) Justia Eleitoral: A promoo de arquivamento feita por um promotor de justia estadual atuando como MP eleitoral. Essa promoo de arquivamento ser analisada por um juiz estadual, fazendo as vezes de juiz eleitoral. Pergunta: Caso o juiz no concorde, a quem os autos so encaminhados? O artigo 357 do Cdigo Eleitoral (Lei 4737/65) determina que os autos sejam encaminhados ao Procurador Regional Eleitoral:Art. 357. Verificada a infrao penal, o Ministrio Pblico oferecer a denncia dentro do prazo de 10 (dez) dias. 1 Se o rgo do Ministrio Pblico, ao invs de apresentar a denncia, requerer o arquivamento da comunicao, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razes invocadas, far remessa da comunicao ao Procurador Regional, e ste oferecer a denncia, designar outro Promotor para oferec-la, ou insistir no pedido de arquivamento, ao qual s ento estar o juiz obrigado a atender.

Entretanto, a Jurisprudncia entende que esse dispositivo teria sido tacitamente revogado pela LC 75/93, prevalecendo o entendimento de que os autos devem ser encaminhados 2 Cmara de Coordenao e Reviso do MPF. Enunciado n. 29:Enunciado 29 - Compete 2 Cmara de Coordenao e Reviso do Ministrio Pblico Federal manifestar-se nas hipteses em que o Juiz Eleitoral considerar improcedentes as razes invocadas pelo Promotor Eleitoral ao requerer o arquivamento de inqurito policial ou de peas de informao, derrogado o art. 357, 1 do Cdigo Eleitoral pelo art. 62, inc. IV da Lei Complementar n 75/93.

D) Hipteses de atribuio originria do PGR ou PGJ: - Se o Procurador-Geral da Repblica entende que caso de arquivamento, ele precisa sujeitar a sua promoo de arquivamento ao STF? Em regra, o arquivamento uma deciso judicial. Porm, nos casos de atribuio originria do PGR ou do PGJ, ou mesmo quando se tratar de insistncia de arquivamento nos casos do artigo 28 do Cdigo de Processo Penal, trata-se de deciso de carter administrativo, que sequer precisa ser submetida avaliao do Tribunal competente (STF, Inqurito 2.054). No entanto, quando o arquivamento for capaz de produzir coisa julgada formal e material, obrigatrio que o requerimento ministerial seja analisado pelo Tribunal competente (STF, Inqurito 1.443).Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013VI) Arquivamento implcito Ocorre quando o titular da ao penal deixa de incluir na denncia algum fato investigado ou algum indiciado, sem se manifestar

expressamente no sentido do arquivamento. Caso o juiz no se pronuncie na forma do artigo 28 do CPP, dar-se-ia o arquivamento implcito em relao ao que foi omitido na pea acusatria. Entretanto, esse arquivamento implcito no admitido pelos Tribunais (RHC 95.141, STF). VII) Arquivamento indireto Ocorre quando o juiz, em virtude do no oferecimento de denncia pelo MP fundado em razes de incompetncia, recebe tal manifestao como se tratasse de pedido de arquivamento. Como o juiz no pode obrigar o promotor a oferecer denncia, sob pena de violao de sua independncia funcional, deve aplicar, por analogia, o artigo 28 do CPP, remetendo os autos ao Procurador-Geral de Justia. VIII) Recorribilidade no arquivamento O arquivamento uma deciso irrecorrvel, no sendo cabvel ao penal privada subsidiria da pblica. *Excees: 1) Crimes contra a economia popular ou contra a sade pblica nesse caso, o artigo 7 da Lei 1521/51 assim dispe:Art. 7. Os juzes recorrero de ofcio sempre que absolverem os acusados em processo por crime contra a economia popular ou contra a sade pblica, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo inqurito policial.

Observao esse artigo 7 no se aplica ao trfico de drogas (crime contra a sade pblica), pois prevalecem as disposies da lei especial. 2) Contravenes do jogo do bicho e corrida de cavalos fora do hipdromo nesse caso, h previso legal do Recurso em Sentido Estrito (Lei 1.508).

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 20133) Arquivamento pelo Procurador-Geral de Justia nesse caso, a lei prev a possibilidade de Pedido de Reviso ao Colgio de Procuradores. IX) Arquivamento por juzo absolutamente incompetente De acordo com o STF, a deciso de arquivamento, mesmo que proferida por juzo absolutamente incompetente, pode produzir coisa julgada formal e material, dependendo do fundamento utilizado pelo julgador (HC 94.982). [recuperar]

2. Ao Penal2.1. Princpios da Ao PenalAo Penal Privada - Ne procedat index officio - Ne bis in idem processual - Princpio da oportunidade ou convenincia - Princpio da disponibilidade - Princpio da indivisibilidade Ao Penal Pblica - Ne procedat index officio - Ne bis in idem processual - Princpio da obrigatoriedade - Princpio da indisponibilidade

- Princpio da oportunidade ou convenincia: O ofendido tem o direito de escolher se processar ou no o autor do fato delituoso. Caso no haja interesse em exercer o direito de queixa, h as seguintes possibilidades: a) decadncia causa extintiva da punibilidade, que se caracteriza pela inrcia do ofendido em crimes de ao penal privada ou que dependa de representao. b) renncia ato unilateral e voluntrio, por meio do qual o legitimado ao exerccio da ao penal privada abre mo do seu direito de queixa. Trata-se de causa extintiva da punibilidade nas hipteses de ao penal exclusivamente privada ou privada personalssima. Na ao penal privada subsidiria da pblica no se fala em extino da punibilidade por meio de renncia. Observaes:

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 20131) Ocorre antes do incio do processo. 2) Independe de aceitao por parte do autor do delito (ato unilateral). 3) Pode ser expressa (firmada atravs de declarao inequvoca artigo 50 do CPP) ou tcita (consiste na prtica de ato incompatvel com a vontade de processar artigo 104 do CP).Art. 50. A renncia expressa constar de declarao assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Art. 104 - O direito de queixa no pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente. Pargrafo nico - Importa renncia tcita ao direito de queixa a prtica de ato incompatvel com a vontade de exerc-lo; no a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenizao do dano causado pelo crime.

4) O fato de o ofendido receber indenizao no implica em renncia tcita, salvo no mbito dos juizados na hiptese de composio dos danos civis, conforme previsto no artigo 74 da Lei 9099/85:Art. 74. A composio dos danos civis ser reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentena irrecorrvel, ter eficcia de ttulo a ser executado no juzo civil competente. Pargrafo nico. Tratando-se de ao penal de iniciativa privada ou de ao penal pblica condicionada representao, o acordo homologado acarreta a renncia ao direito de queixa ou representao.

-

Princpio

da

indisponibilidade

(ou

indesistibilidade):

Desdobramento lgico do princpio da obrigatoriedade, manifestado no curso do processo. a impossibilidade de o rgo ministerial desistir do processo, mas nada impede que se manifeste pela absolvio. Artigos 42 e 576 do CPP:Art. 42. O Ministrio Pblico no poder desistir da ao penal. Art. 576. O Ministrio Pblico no poder desistir de recurso que haja interposto. Art. 385. Nos crimes de ao pblica, o juiz poder proferir sentena condenatria, ainda que o Ministrio Pblico tenha opinado pela absolvio, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.

Exceo (apontada pela doutrina): suspenso condicional do processo artigo 89 da Lei 9099:Art. 89. Nos crimes em que a pena mnima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou no por esta Lei, o Ministrio Pblico, ao oferecer a denncia, poder propor a suspenso do processo, por dois a Heloise Nort

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013quatro anos, desde que o acusado no esteja sendo processado ou no tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspenso condicional da pena (art. 77 do Cdigo Penal).

Ateno: Para o STF, quando a pena de multa vier cominada de forma alternativa (exemplo: artigo 7 da Lei 8.137), ser cabvel a suspenso condicional do processo mesmo que a pena mnima cominada seja superior a um ano (HC 83926). - Princpio da disponibilidade: O querelante pode dispor do processo em andamento. Formas de disposio: a) conciliao e desistncia no procedimento dos crimes contra a honra de competncia do juiz singular artigo 522:Art. 522. No caso de reconciliao, depois de assinado pelo querelante o termo da desistncia, a queixa ser arquivada.

b) perdo do ofendido o ato bilateral e voluntrio por meio do qual o querelante resolve no prosseguir com o processo que j estava em andamento, perdoando o acusado. Trata-se de causa extintiva da punibilidade nos casos de ao penal exclusivamente privada ou privada personalssima. Na ao penal privada subsidiria da pblica no se fala em extino da punibilidade por meio do perdo. Observaes: 1) O perdo do ofendido (artigo 107, V, do CP) no se confunde com o perdo judicial (artigo 107, IX, do CP):Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: V - pela renncia do direito de queixa ou pelo perdo aceito, nos crimes de ao privada; IX - pelo perdo judicial, nos casos previstos em lei.

- Melhor exemplo de perdo judicial (artigo 121, 5, do Cdigo Penal): 5 - Na hiptese de homicdio culposo, o juiz poder deixar de aplicar a pena, se as conseqncias da infrao atingirem o prprio agente de forma to grave que a sano penal se torne desnecessria.

2) Ao contrrio da renncia, que se manifesta antes do incio do processo, o perdo s pode ser concedido pelo querelante durante o curso do processo e at o trnsito em julgado da sentena condenatria Artigo 106, 2, do CP:

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013 2 - No admissvel o perdo depois que passa em julgado a sentena condenatria.

3) O perdo do ofendido depende de aceitao do querelado (ato bilateral), que pode ser expressa ou tcita. O silncio do querelado importa na aceitao tcita do perdo artigo 58 do CPP:Art. 58. Concedido o perdo, mediante declarao expressa nos autos, o querelado ser intimado a dizer, dentro de trs dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silncio importar aceitao.

c) perempo a perda do direito de prosseguir no exerccio da ao penal privada em virtude da negligncia do querelante, com a consequente extino da punibilidade nos crimes de ao penal

exclusivamente privada ou privada personalssima. No se aplica ao penal privada subsidiria da pblica. Observaes: 1) no se confunde com a decadncia, que a perda do direito de dar incio ao processo em crimes de ao penal privada. As causas de perempo esto previstas no artigo 60 do Cdigo Penal:Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se- perempta a ao penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, no comparecer em juzo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber faz-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenao nas alegaes finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurdica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos prevalece o entendimento de que o querelante deve ser intimado para apresentar eventual justificativa para o abandono do processo. A contagem desse prazo de 30 dias deve ser contnua, ininterrupta. II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, no comparecer em juzo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber faz-lo, ressalvado o disposto no art. 36 prevalece o

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Direito Processual Penal Renato Brasileiro 2013entendimento de que no h necessidade de cada um dos sucessores, pois seria invivel. III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenao nas alegaes finais A ausncia do querelante audincia de conciliao nos crimes contra a honra no causa de perempo, mas sim demonstrao inequvoca de desinteresse na reconciliao. Ao contrrio da ao penal pblica, na qual possvel a condenao do acusado mesmo diante de pedido absolutrio do MP, quando se tratar de acao penal exclusivamente privada ou privada personalssima, o pedido de absolvio formulado pelo querelante causa de perempo. - Princpio da indivisibilidade: O processo de um obriga ao processo de todos. Artigo 48 do CPP:Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigar ao processo de todos, e o Ministrio Pblico velar pela sua indivisibilidade.

- Fiscalizao do princpio da indivisibilidade pelo MP: a) se a omisso do querelante foi voluntria, ou seja, tinha conscincia do envolvimento de mais de um agente, mas ofereceu queixa apenas contra um deles, deve ser reconhecido que houve renncia tcita quanto quele no includo na queixa, renncia esta que ir se estender a todos os demais coautores e partcipes Artigo 49 do CPP:Art. 49. A renncia ao exerccio do direito de queixa, em relao a um dos autores do crime, a todos se estender.

O mesmo se d com o perdo Artigo 51 do CPP:Art. 51. O perdo concedido a um dos querelados aproveitar a todos, sem que produza, todavia, efeito em relao ao que o recusar.

b) se a omisso do querelante foi involuntria, ou seja, o querelante no tinha conscincia do envolvimento dos demais agentes, o MP deve requerer a intimao do querelante para que proceda ao aditamento da queixa crime, sob pena de, no o fazendo, haver renncia tcita que se estender aos demais coautores e partcipes.

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