Processos Verbais Em Resenhas Das Áreas de Literatura

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    PROCESSOS VERBAIS EM RESENHAS DAS REAS DE LITERATURA EHISTRIA: O VERBO TRATAR

    SILVA1BARBARA2

    Pontifcia Universidade Catlica de So [email protected]@uol.com.br

    Resumo

    O presente trabalho se desenvolveu no contexto de uma pesquisa maior que pretendecontribuir para os estudos sobre o gnero resenha, tendo como corpus materiais das reas deLiteratura, Histria e Lingustica. Objetiva analisar diferenas e semelhanas que permitamidentificar um parmetro mais consistente que possa ser seguido por estudiosos que

    desenvolvem suas pesquisas nessa rea, bem como por aqueles que necessitam utiliz-lo,como o caso de alunos em geral, por tratar-se de um importante instrumento de escolha paraseleo de leitura, permitindo que os leitores possam inteirar-se das diversas publicaes quecirculam no meio acadmico; assim, reconhece-se a grande relevncia desse gnero no meioacadmico. Como base terica sero utilizados conceitos e categorias propostas pelaLingustica Sistmico-Funcional (HALLIDAY, 1994), mais especificamente a metafunoideacional, adotando a concepo do gnero resenha proposta por (SWALES, 1990; MOTTA-ROTH, 1995). Com o apoio da Lingustica de Corpus, atravs do programa WordsmithTools.5 (SCOTT, 2008), foi realizado o tratamento do corpus, utilizando as ferramentaswordliste concordancer.Palavras-chave:resenhas, Literatura, Histria

    1. Introduo

    Este trabalho teve como objetivo descrever processos verbais que compem parte docorpus da minha pesquisa de mestrado, que objetiva analisar a modalidade e o lxicoavaliativo em resenhas acadmicas das reas de Histria, Literatura e Lingustica, objetivandoentender as preferncias dos pesquisadores dessas reas para, posteriormente, poder oferecersugestes de ensino. Como recorte do projeto, o trabalho abordar somente resenhas das reasde Literatura e Histria, comparando-as e avaliando semelhanas e diferenas entre elas noque se refere ao uso de tais processos.

    Como base terica, sero utilizados conceitos e categorias propostos pela LingusticaSistmico-Funcional (HALLIDAY, 1994), mais especificamente a metafuno ideacional e osistema de transitividade, adotando a concepo do gnero resenha proposta por (SWALES,1991; MOTTA-ROTH, 1995). Com o apoio da Lingustica de Corpus, foi realizado omapeamento do corpusatravs do programa Wordsmith Tools.5(SCOTT, 2008), utilizando asferramentas wordliste concordancer.

    Por tratar-se de um gnero (SWALLES, 1990; MOTTA-ROTH, 1995) que dialoga,ou seja, envolve a relao entre um resenhista, o texto e um pblico leitor em um determinadocontexto, deduziu-se que o processo verbal teria participao importante no corpus. Tendo

    1 Aline Cristina Flvio da Silva. Mestranda na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo- Bolsista CAPES2Leila Barbara. Professora doutora na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo - Bolsista CNPQ

    Anais do SIELP. Volume 2, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2012. ISSN 2237-8758

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    como ponto de partida o levantamento de frequncias da wordlist, do programa WordsmithTools.5(SCOTT, 2008), verificou-se que o processo verbal mais frequente foi o: tratar. O usodesse verbo, analisado com o auxlio da ferramenta concordance, reveloualta complexidadee, diante disso, optou-se por descrev-lo e analis-lo em seus diferentes contextos de uso.

    Desse modo, busca-se descrever as ocorrncias do processo verbal tratar nas reas

    em apreo, sendo uma parte das resenhas retirada do Scieloe outras de outras fontes, pormclassificadas como Qualis A1 ou A2.Acredita-se que, trabalhando com resenhas publicadas em algumas das revistas mais

    bem conceituadas pela comunidade cientfica, ser possvel contribuir para umaperfeioamento da escrita acadmica, principalmente nas duas reas ora pesquisadas.

    2. Fundamentao Terica2.1 A Resenha enquanto prtica social

    De acordo com Eggins e Martin (1997, p. 236), diferentes gneros so meios de usara linguagem para alcanar diferenas culturalmente estabelecidas em tarefas e textos dediferentes gneros, que esto alcanando diferentes propostas de acordo com a cultura. Elestambm pontuam que a teoria do gnero sugere que os modos textuais que esto empregandodiferentes funes desdobraro diferentes modos, trabalhando com diferentes estgios eetapas (p. 236). Fica claro que, para os autores, a resenha se destaca como um gnero que serealiza como um processo social, orientado para um propsito de divulgao de uma obra,seja ela livro ou artigo e organizado em etapas.

    Na mesma direo, segundo Motta-Roth (1995), o gnero resenha compreende umevento comunicativo, pois envolve a relao entre pessoas que esto agindo de acordo comum contexto social e estabelecendo certas regras para alcanarem seus objetivos; ou seja, opropsito comunicativo reconhecido por membros de uma comunidade discursiva. Assim, ocontexto social em que os resenhistas objetivam descrever e avaliar as novas publicaes a

    revista cientfica. importante destacar que, para Swales apudArajo et al (2009), a noo de gnero ecomunidade discursiva esto estreita ou intrinsecamente relacionadas, assim, Swales propea comunidade discursiva como o lugar em que um grupo de pessoas que regularmentetrabalham juntas e tm uma noo estvel de seus objetivos de grupo e ao mesmo tempopercebem a possibilidade de mudanas nesses objetivos. Diante disso, levamos em contatambm que, de acordo com Arajo (2009), a construo das resenhas tanto pessoal quantoinstitucionalizada, pois os resenhistas associam a obra resenhada a um sistema de valoresestabelecidos socialmente por membros de uma comunidade discursiva.

    De acordo com Motta-Roth (2002, p. 92), o gnero resenha pode ser consideradocomo envolvendo um contnuo entre descrio e avaliao, com diferentes exemplares

    tendendo para um ou outro extremo. Entendemos que algumas resenhas so mais descritivasque avaliativas ou vice-versa, mas no nos deteremos nessas questes para esse trabalho.

    2.2 O delinear de escolhas lingusticas: uma abordagem vista sob o ponto de vista daLSF

    A Lingustica Sistmico Funcional (doravante LSF) uma teoria lingustica de basesocial, que estuda a linguagem em seu contexto de uso que varia sua realizao condicionadaa fatores relacionados ao contexto da situao e da cultura. Como bem esclarece Halliday(1970, p. 141), a natureza da lngua est intimamente relacionada com as necessidades que

    lhe impomos, com as funes que deve servir e que so especficas de uma cultura. Aaplicao dessa teoria tem apresentado resultados importantes no que se refere ao ensino,

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    sendo ferramenta importante como subsdio aos estudos de resenhas para descrever padresdesse gnero, no intuito de guiar quem vir a utiliz-lo.

    Ao fazer diferentes escolhas para a escrita de um texto, os usurios da lngua revelamos diferentes tipos de processos que se relacionam aos diferentes participantes de um dilogo,levando em conta o carter interativo que compe o texto, como bem esclarece Halliday:

    O texto a forma lingustica de interao social. uma progresso contnuade significados, em combinao tanto simultnea como em sucesso. Ossignificados so as selees feitas pelo falante das opes que constituem opotencial de significado; o texto a atualizao desse potencial designificado, o processo de escolha semntica. (HALLIDAY, 1978, p. 122)

    Fazendo essas escolhas, nos valemos da lxico-gramtica que traz todo o arsenalnecessrio atravs das metafunes, sendo elas, de acordo com Halliday (1985, 1994), a

    Ideacional, ligada ao universo de idias e conceitos veiculados; Interpessoal, ligada aoaspecto interativo da linguagem e s relaes sociais e de poder manifestas nos textos; e

    Textual, relacionada organizao do texto.A LSF nos permite tanto descrever gramaticalmente um texto como criar modos deanalis-lo, pois podemos descrever a forma como os elementos esto organizados e o porqudessa organizao. Essa caracterstica bem descrita por Gouveia:

    Em concreto, trata-se de uma teoria de descrio gramatical, uma construoterico-descritiva coerente que fornece descries plausveis sobre o como eo porqu de a lngua variar em funo de e em relao com grupos defalantes e contextos de uso. Mas, para alm de ser uma teoria de descriogramatical, razo pela qual adquire muitas vezes a designao mais restritade Gramtica Sistmico-Funcional (GSF), ela fornece tambm instrumentosde descrio, uma tcnica e uma metalinguagem que so teis para a anlise

    de textos, pelo que, adicionalmente, pode ser encarada como um modelo deanlise textual. (GOUVEIA, 2009, p. 14).

    Essa viso de gramtica baseada no uso da lngua como instrumento de comunicao que aLSF prope relevante para a anlise desse gnero resenha, que moldado pelo contexto de uso edispe de escolhas feitas pelo resenhista, sendo legitimadas pela rea acadmica e podendo serdescritas e utilizadas como parmetros de escrita do gnero.

    2.2 O sistema de transitividade: os processos decorrentes do verbo tratar

    Para a LSF, as escolhas lingusticas feitas se realizam em termos de sistemas, que seconectam s metafunes e, ao mesmo tempo, s variveis do registro correspondentes a elas

    e, segundo Eggins e Martin (1997), o conceito de registro descreve e explica a relaotexto/contexto justificando as escolhas do falante em diferentes situaes. Assim, o registropermite analisar a relao do texto com seu contexto, indicando quem falou, como e o qu;logo, podemos avaliar o sistema de transitividade e assim o componente ideacional.

    De acordo com Gouveia (2009, p. 30), em termos gerais, a transitividade constitui-secomo o recurso lingustico que d conta de quem fez o qu, a quem e em que circunstncias.Desta forma, o sistema de transitividade, elemento da metafuno ideacional, leva avaliaodos processos que representam/modelam as experincias do falante/escritor. Nesse contexto,destacamos que o sistema de transitividade fundamenta nossa abordagem sobre o verbo tratare os processos decorrentes de seu uso.

    Os processos, de acordo com Halliday (1994), se constituem pelo prprio processo, osparticipantes envolvidos nesse processo e as circunstncias que os circundam, e essainterpretao tripartida dos processos o que est por trs da distino gramatical das classes

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    de palavras. Representativo de nossas experincias, uma vez que dialogamos, expressamosnossos pensamentos, comportamo-nos de determinada forma, esses processos so divididosem material, mental, comportamental, verbal, relacional e existencial.

    importante assinalar que Halliday (1995, p. 138) esclarece que o processo verbal,bem como o existencial e comportamental, um processo subsidirio, j os processos

    material, mental e relacional so os tipos 'principais', no sentido de serem o fundamento dagramtica como uma teoria da experincia, pois apresentam trs tipos diferentes deconfigurao estrutural e do conta da maioria das oraes de um texto, assim, o processoverbal partilha caractersticas do mental e do relacional.

    Os processos relacionais demonstram que uma relao est sendo estabelecida entreduas entidades separadas e eles podem ser divididos em atributivos e identificativos. Deacordo com Halliday (1994), o que define a diferena entre atribuio e identificao areversibilidade, j que algo que ocorre na identificao e no se verifica na atribuio, e aatribuio indica o vnculo a uma classe.

    Segundo Fuzer e Cabral (2010, p. 71), as oraes relacionais atributivas tmpotencial para construir relaes abstratas de membros de uma classe, ou seja, atribuem a uma

    entidade caractersticas comuns aos membros dessa classe. Podemos exemplificar por umexemplo em que se atribui a algum a caracterstica de legal, como Pedro legal, temos quedentre os participantes Pedro portadore legal um atributo.

    Por outro lado, temos uma relao de identificao em que os participantes sochamados identificado e identificador e nesse caso no se trata de mostrar pertencimento auma classe. De acordo com Halliday (1994, p 122), ser membro de uma classe no servepara identificar; em Sarah is wise, admite-se a existncia de outras pessoas sbias, alm deSarah o que no d a ela uma identidade. Assim, em um exemplo como Joo o

    professor, o identificado a entidade que recebe a identificao, portanto, Joo, enquantoidentificador, a identidade atribuda ao referente, logo, o professor.

    De acordo com Fuzer e Cabral (2010, p. 68), os processos relacionais ajudam nacriao e descrio de personagens e cenrios em textos narrativos; contribuem na definiode coisas, estruturando conceitos. Essa uma definio importante para o contexto de nossasanlises, uma vez que podemos perceber se h muita ocorrncia, em se tratando de um gneroque evidenciar caractersticas de uma obra.

    No que tange ao processo verbal, Halliday (1994) explica que os participantes doverbo dizer so: o Dizente, que emite a mensagem; o Receptor, para quem a mensagem direcionada; o Alvo, a entidade que atingida pelo processo, e a Verbiagem, a mensagempropriamente dita.

    De acordo com Halliday (1994, p. 141), a verbiagem a funo que correspondequilo que dito, podendo ser: o contedo do que dito ou o nome do dito. O que dito no

    sentido de um discurso direto no verbiagem e sim projeo. Assim, como bem esclareceGouveia (2009) o que comunicado pode ter forma directa ou indirecta, constituindo-se emorao separada, uma orao projectada, que no parte constituinte do processo verbal, masde um complexo oracional de projeco. (p. 32).

    A ttulo de exemplificao podemos mostrar que na orao: (A) ele falou: vamos aocinema, o que temos na segunda orao (vamos ao cinema) uma projeo, ou seja, umacitao direta do que algum falou. J no exemplo (B) ele falou sobre a nossa ida ao cinema,temos na segunda orao (ida ao cinema) uma circunstncia de assunto.

    Em relao aos processos materiais, de acordo com Halliday (1994), so processos de'fazer', expressam a noo de que alguma entidade 'faz' algo que pode ser feito 'para' outraentidade. Assim podemos perguntar sobre tais processos, ou 'testar' esses processos fazendo

    questionamentos como: O que o senador faz? O que o senador faz para o governo?.

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    Segundo Gouveia (2009. p. 31), os processos materiais so prototipicamente,representaes de aces concretas, fsicas, isto , do conta de mudanas no mundo materialque podem ser percepcionadas, comprovadas, vistas, mas o autor tambm reconhece quealgumas representaes de processos materiais so representaes de processos de fazer deteor abstracto como, por exemplo, na orao: A mensalidade subiu 13% em relao ao

    ltimo ano. Nessa orao, o processo material subir vem acompanhado de um elementoque serve para dar continuidade ao: 13% em relao ao ltimo ano; esse elemento chamado de extenso ou escopo. Nesse caso, entende-se que a ao de subir ocorre somenteno nvel abstrato.

    Outros participantes tambm so considerados por Halliday e Matthiessen (2004),sendo eles escopo, beneficirio e atributo.

    2.3 Metodologia

    O corpusde estudo compreende 88 resenhas, sendo 47 de Histria e 41 de Literatura,

    coletados em revistas do Scielo Brasile algumas que no constam no Scielo, mas todas QualisA1 ou A2, disponveis online.Para levantamento e mapeamento dos dados, foi utilizado o programa Wordsmith Tools

    (Scott, 2008), que permite a manipulao rpida e eficiente de grande quantidade de dados.As listas de palavras (WordLists) permitem selecionar as palavras presentes no texto, asconcordncias de interesse para a pesquisa e as listas de concordncias (concordances), quepermitem avaliar o co-texto dos itens selecionados e os colocados (collocates), os elementosque coocorrem com os itens analisados e organiz-los para entender o contexto.

    A lista de palavras oferece dados estatsticos dos quais os principais constam da tabela 1:

    1,335,684 1,534,052 ( ) 14,459 14,099 / 15.79 12.25 2,542 3,020

    Tabela 1: Informao estatstica do corpus

    A tabela 1 mostra que o corpusde Literatura cerca de 10% maior que o de Histria,mas as palavras diferentes em Histria tem um percentual 25% maior que Literatura, apesarde o corpusde Histria conter menos textos e possuir mais palavras diferentes. A cada 100palavras nas revistas de Histria, 15 so diferentes, e a cada 100 de Literatura, 12 so asdiferentes.

    Assim, a rea de Literatura, proporcionalmente ao nmero de oraes, tem maiornmero de palavras que Histria, que apresenta menos oraes.

    Da lista de palavras, retiramos os 14 processos verbais mais frequentes (Tabela 2) enos concentraremos no primeiro deles, o verbo tratar:

    79 77

    70 74 68 63

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    36 30 35 0 32 0 29 0 22 65

    14 54 12 0 0 20

    0 19 0 15 0 10

    Tabela 2: Lista dos processos verbais mais frequentes no corpus

    Os quatro primeiros verbos (tratar, dizer, apresentar, revelar) aparecem em nmerosmais aproximados nas duas reas, os verbos demonstrar, discutir, chamar e ressaltar

    possuem presena significativa na rea de Histria, enquanto na rea de Literatura estoausentes, j os verbos sugerir, narrar, perguntar e anunciar esto presentes na rea deLiteratura, mas no nos textos de Histria. Verificou-se tambm que os verbos contare falaraparecem bem mais em Literatura do que em Histria.

    A escolha inicial desse verbo, como dito acima, ocorreu em funo de ser ele oprimeiro da lista. Essa razo foi reforada pelo fato desse verbo atuar no s como processoverbal, mas tambm como material e relacional. A tabela 2 mostra que esse o mais frequentenas duas reas, e o na forma presente (ver tabela 3), tanto nas resenhas de Literatura quantonas de Histria, o tempo verbal mais utilizado foi o presente do indicativo trata, o quedestaca a busca de atualidade em ambas as reas, como no exemplo:

    01- O livro dos mandarins, trata da vida no mundo corporativo, de todo oimaginrio que cerca este mundo, ento a prpria escrita ter uma aparnciafria, eu diria, um ritmo direto e circular, quase documental. (LTELBC11)

    A distino das formas do verbo tratarnos dois corpora est exposta na tabela 3:

    54 34

    2 4

    0 2 1 0

    0 2

    0 1

    1 2

    0 1

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    10 12

    5 3

    1 3

    3 5

    0 1

    0 5

    Tabela 3: Formas do verbo tratar

    Note-se pela tabela que as formas mais usadas nos dois contextos so as do presente(57, 40) e alm delas o infinitivo e as formas nominais tiveram uma frequncia um poucomaior que as demais sendo o infinitivo (10, 12) e as formas nominais em frequncia de (9, 17)e das 14 formas verbais encontradas sete no foram utilizadas nas resenhas de Literatura eapenas uma no o foi nas de Histria. Logo, percebe-se que a diferena dos usos na rea de

    Histria mais representativa do que em Literatura, j que em todas as formas verbais queso recorrentes em ambas as reas observa-se que as de Histria tm maior frequncia.

    Como veremos nas anlises apesar de ser o mais frequente o verbo tratar pode serusado como diferentes processos.

    4. Anlise e Discusses

    Conforme j foi exposto, o verbo tratar est presente nas duas reas analisadas e seapresenta como processo verbal, relacional e material. De qualquer modo, o significadoexpresso pelo tipo de processo advm do contexto, conforme verificaremos nos exemplos aseguir:

    02- Quero deixar claro que a aparente desordem exposta no primeirocaptulo decorrente da grandeza da matria tratada pelo autor (...)(HSH0N4)

    O exemplo 02 um processo verbal, j que poderamos fazer uma parfrase com overbo mudando para apresentada/discutida, que so verbos do dizer expressos em trabalhosescritos. Alm disso, observamos a apresentao do assunto da obra resenhada e, portanto,destaca-se a verbiagem, em que o resenhista se refere quilo que est resenhando, logo,poderamos fazer a pergunta: Do que est tratando? E a resposta no exemplo 02 a matria.Observamos tambm que o exemplo 02 mostra uma linguagem elaborada pelo uso danominalizao, que o que caracteriza a verbiagemno processo verbal.

    Outros exemplos do verbo tratar como processo verbal so descritos a seguir:03-DeNova Lisboa a Brasliaprope uma leitura histrica da construo deBraslia no apenas no estabelecimento de uma linhagem cronolgica dosdiversos projetos e planos de transferncia, que pela primeira vez foramtratadosem seu conjunto como uma unidade (...) (HSHON3).04- h uma espcie de emergncia, auge e decadncia da brasilidaderevolucionria na estrutura de sentimento, processo apreendido emmateriais expressivos os mais diversos, produzidos por agentes e instituiesescolhidos para cada captulo/perodo tratado. (HSESOQ)05- A problemtica da imaginao tratada em trs momentos distintos: noprimeiro, a nfase de uma crtica pautada em um Stevens (...) (apudLTSENNA)

    06- levam o leitor a participar da leitura e a criar imagens de que tudo o queexiste ao seu redor pode ser assunto a ser tratado nos livros que a traa

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    comia e, consequentemente, por ser diversificado e em grande quantidade,ela no aguentaria. (LTIPO092)

    No exemplo (03) temos um processo verbal, pois fazendo a parfrase com os verbosapresentados/discutidos/explicados caractersticos do processo do dizer, teremos uma

    verbiagem advinda da estrutura linhagem cronolgica dos diversos projetos e planos detransferncia.Verificamos que no exemplo (04) o verbo apresenta semanticamente o sentido do

    dizer, alm disso tem-se pressuposta uma estrutura passiva assim como em grande parte dosexemplos da rea de Histria, conforme indicado na tabela 3.

    Os exemplos (05) e (06) tambm so exemplos de estrutura passiva, havendo a elipsedo verbo ser acrescentado do particpio do outro verbo. Os exemplos podem ter suasestruturas trocadas pelos verbos discutida para o exemplo (05) e dito/anunciado para oexemplo (06).

    Diante dos exemplos e analisando o grfico 1, verificamos que quanto presena dosprocessos verbais, eles so mais recorrentes na rea de Histria, o que mostra que a

    preocupao com a linguagem elaborada menos preocupante na rea de Literatura, aindaque seja presente no corpus.O processo material apareceu somente em dois exemplos da rea de Histria,

    entendido pelo significado de fazer, representar, produzir como mostram os exemplos 07 e08 a seguir:

    07- Alan Costall e Ann Richards tratam da representao do passado porimagens. (HSHN5)

    Atravs desse exemplo (07), observamos que ao fazer uma parfrase substituindo overbo tratam porrepresentam, formando a frase (...) representam o passado por meio deimagens no alteramos o sentido da frase e temos a presena de um processo material. Alm

    disso, podemos fazer a pergunta o que representam por meio de imagens? e obtemos comoresposta o passado, logo temos Alan e Ann Richards como atores e o passado comobeneficirio ou escopo, que recebe a ao de ser representado.

    No exemplo (08) podemos trocar o verbo tratada por feita, representada e temoscomo participantes do processo material a situao como ator e questo poltica o escopo:

    08-Nessa perspectiva, a questo do desenvolvimento parece ter surgidoprecocemente na agenda pblica mineira devido a uma conscincia cada vezmais ntida do retrocesso relativo da economia regional, associada a umapercepo de que a situao deveria ser tratadacomo uma questo poltica.(HTEB)

    Uma outra ocorrncia verificada no corpus, mais recorrente na rea de Literatura, aocorrncia do verbo tratarna forma do presente trata vinculado ao pronome se(trata-seese trata). Nesse contexto pode-se avaliar que essas formas verbais indicam o funcionamentodo verbo como processo relacional, podendo ser mudado para o verbo ser (), conformemostram os exemplos a seguir:

    09 - Trata-sede um tema relevante (...) (LTSENNC)10- Trata-sede dois movimentos em suas reflexes: um, especfico, pois safirma o que de fato e de direito encontra nos textos de Drummond(...)(LTCE1)11- Inspirada na potica de Fernando Pessoa, Gauvin considera que se tratade literaturas do desassossego (littratures de lintranquillit), emcontraposio ao conceito de literatura menor, cunhado por Gilles Deleuzee Jacques Guattari em seu livro sobre Kafka(...) (LTSENDA)

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    12- No se trata, para Derrida, como assinala Crpon, de confrontar duasinterpretaes ou dois comentrios opostos; mas, ao contrrio, dereivindicar o direito de deixar na indeciso as palavras emersas do poemade acordo com a escuta do amigo. (LTITILANG)

    Entendemos que essa preferncia dos resenhistas pelo uso de um processo relacionalrevela a preocupao deles em organizar conceitos e atribuir caractersticas ao objetoresenhado, o que de grande importncia para o trabalho deles, pois como a resenha umimportante instrumento de escolha para selecionar produes para leitura, permitindo que osleitores possam inteirar-se das diversas publicaes que circulam o meio acadmico, imprescindvel que ele faa referncias no sentido de caracterizao da obra resenhada.

    O processo relacional atributivo , pelo que se verificou no corpus, como umportador a quem atribudo uma caracterstica, um atributo, j que h uma atribuio,definio para o que ele se dedica enquanto descritor/avaliador de uma obra. No exemplo 09acima podemos fazer a parfrase um tema relevante e temos tema como portador e oatributo, no caso a qualificao dada: relevante.

    Podemos observar no exemplo (10) a presena de um atributo dois movimentos e oportador no identificado nessa frase, mas sabemos que se trata do objeto de anlise daresenha. No exemplo (11) tambm temos como portador literaturas do desassossego queatribui uma caracterstica obra resenhada que trata de Literaturas de lngua francesa.

    O exemplo (12) mostra uma explicao por meio de atribuio, parafraseandopodemos dizer no , para Derrida, confrontar duas interpretaes ou dois comentriosopostos (...) em que confrontar o atributo e o portador Derrida.

    O grfico 1 destaca os tipos de processos que caracterizam o verbo tratar e aporcentagem de suas ocorrncias. Pelo que podemos verificar, uma rea est o oposto daoutra, pois verifica-se que a porcentagem dos processo verbais na rea de Literatura aproximada da porcentagem de processos relacionais na rea de Histria e a rea de Literatura mais representativa de processos relacionais do que verbais, enquanto a rea de Histriapossui mais processos verbais.

    Grfico 1: Representao percentual dos processos oriundos do verbo tratar nas reas deLiteratura e Histria

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    5. Consideraes Finais

    Conforme j descrito, nossa proposta inicial foi analisar os processos verbais em duasreas distintas no intuito de avaliar semelhanas e diferenas que permitam caracterizar asescolhas feitas no gnero e que possam servir como um parmetro mais consistente a serseguido por estudiosos que pretendam contribuir com esse gnero acadmico, bem como paraestudantes em geral. No entanto, diante da complexidade que observamos no verbo tratar,optamos por investig-lo e descrever seus usos.

    Desse modo, a anlise permitiu observar que, embora as duas reas acadmicascompartilhem de escolhas lxico-gramaticais similares, e em propores tambm similarescomo vimos no quadro 02, elas fazem uso com propsitos diferentes e, em virtude do exposto,foi possvel evidenciar as alteraes de ocorrncias do verbotratarno corpusdas diferentesreas enfocadas, sendo que na rea de Literatura o processo mais frequente foi o relacionalatributivo, o que indica que nessa rea os resenhistas se preocupam enfaticamente em atribuircaractersticas ao texto resenhado, e apesar de terem um texto com mais palavras e maisoraes, revelam menor quantidade de palavras diferentes se comparada s resenhas de

    Histria.As resenhas da rea de Literatura indicam que o resenhista dedica menor preocupaoem evidenciar o assunto e utiliza mais palavras para expor sua descrio/avaliao da obraresenhada, no se preocupando com o uso de nominalizaes.

    Por outro lado, a rea de Histria apresenta um texto com menor nmero de palavras,porm h mais palavras diferentes e maior variedade de assuntos, o que pode ser evidenciadopela maior presena do verbo tratar enquanto processo verbal, atravs da verbiagemapresenta o assunto da obra resenhada, indicando a preocupao de destacar o assunto a sertratado. Alm disso, podemos entender que as resenhas da rea de Histria apresentam maiorpreocupao com a escrita elaborada, fazendo o uso de nominalizao que o que caracterizaa presena da verbiagem.

    De qualquer modo, observamos que as resenhas da rea de Literatura apresentammaiores tentativas de discusses por parte do resenhista uma vez que ele intensifica suapreocupao em discutir sua anlise da obra resenhada no momento em que faz atribuiesque a caracterizam, utilizando o verbo nas formas trata-se e se trata indicando o processorelacional atributivo.

    Sobre a presena do processo material na rea de Histria e sua ausncia na rea deLiteratura, podemos dizer que caracteriza a necessidade de indicar aes e acontecimentosque uma caracterstica da rea de Histria e ainda que seja em pequena quantidade, e,referindo-se a um fazer no sentido abstrato representativa da rea essa ocorrncia.

    Como esse artigo trata-se de apenas um recorte de um trabalho maior, esclarecemosque ainda h muito a ser investigado sobre os outros verbos presentes no corpus e os

    processos deles decorrentes, de modo que possamos descrever melhor as escolhas feitas pelosresenhistas de revistas conceituadas, j que os diferentes padres podem indicar papeisespecficos no gnero e, portanto, cabe encontrar tais padres nos termos de suas ocorrnciase seus funcionamentos, articulando-os aos valores e propsitos dos grupos sociais queutilizam tais gneros.

    6. Referncias bibliogrficas

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