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1 PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE HORTOFRUTÍCOLAS GREENFOOD PROJECT 2010-1-ES1-LEO05-20948

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PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE

HORTOFRUTÍCOLAS

GREENFOOD PROJECT

2010-1-ES1-LEO05-20948

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Índice

1. Introdução .............................................................................. 3

2. Produção biológica de frutas ..................................................... 4

2.1. Selecção de espécies e variedades ................................................ 4

2.2. Gestão do solo e nutrição das plantas ............................................ 9

2.3. Gestão da entre-linha ............................................................... 15

2.4. Gestão de pragas e doenças ...................................................... 17

2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte ...................... 25

2.6. Exemplos práticos ................................................................... 30

3. A produção biológica de hortícolas .......................................... 34

3.1. Escolha do local e selecção varietal ............................................. 34

3.2. Gestão da fertilidade do solo ...................................................... 40

3.3 Rotação e Consociação de plantas ................................................ 43

3.4. Pragas, doenças e infestantes .................................................... 49

3.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte ...................... 53

4. Bibliografia e documentação ................................................... 64

5. Glossário ............................................................................... 66

6. Auto-avaliação ....................................................................... 68

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1. Introdução

Na União Europeia, a produção biológica de hortofrutícolas está

condicionada à aplicação do Regulamento (CE) n.º 834/2007 do Conselho, e

do Regulamento (CE) n.º 889/2008 da Comissão.

De um modo geral, a produção biológica exclui a utilização de muitos

factores de produção utilizados na agricultura convencional, muito

particularmente fertilizantes e pesticidas de síntese química.

Os sistemas de produção biológicos assentam em práticas como a rotação

de culturas, a utilização de resíduos das culturas, de fertilizantes orgânicos

de origem animal, de espécies leguminosas, de siderações ou adubos

verdes, de resíduos domésticos orgânicos e de luta biológica no combate a

pragas e doenças. Estas práticas mantêm a produtividade do solo, fornecem

os nutrientes de que as plantas necessitam e ajudam a combater os

insectos e as ervas infestantes.

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2. Produção biológica de frutas

A produção biológica de frutas é uma das mais importantes componentes da

produção biológica na Europa. Os principais países produtores de fruta em

zonas temperadas são a Itália, a França e a Espanha. A figura abaixo

representa a situação actual da produção biológica de fruta na Europa.

Figura 1 – Produção biológica de fruta, vinha e bagas em zonas temperadas: principais países

em 2007 (incluindo área em conversão); Fonte: FIBL, 2009

2.1. Selecção de espécies e variedades

O processo de selecção das espécies e das variedades usadas nos pomares

em Agricultura biológica (AB) deve ter em consideração a finalidade a que

se destina o pomar, nomeadamente, se se trata de utilização comercial,

doméstica, paisagística, ou agro-florestal.

O principal objectivo deste capítulo consiste no estudo da produção de fruta

para comercialização.

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A produção biológica de fruta pode ser obtida a partir de pomares novos ou

através da conversão de pomares convencionais, sendo para ambos os

casos aplicados os mesmos princípios.

Instalação de novos pomares

A selecção da espécie e da variedade a plantar é muito importante. O

pomar deve estar suficientemente afastado de fontes poluidoras,

nomeadamente estradas com elevado volume de tráfego, pólos industriais

ou mesmo pomares convencionais. As empresas industriais e agro-

industriais devem estar localizadas para além de uma distância de

segurança recomendada pelo organismo de controlo e certificação de cada

país. É ainda necessário que os níveis de materiais pesados presentes nos

solos cultivados respeitem os limites estabelecidos pelas autoridades de

protecção ambiental. Os pesticidas e os herbicidas utilizados nos pomares,

ou nos terrenos circundantes, não podem contaminar os pomares

biológicos.

A escolha da variedade deve ser feita de forma a que sejam respeitadas as

condições edafoclimáticas locais. Assim, a selecção das variedades deve ter

em consideração o clima da região, a localização geográfica e as

propriedades do solo. Deve ainda dar-se preferência a variedades

resistentes a pragas e doenças, de acordo com as práticas de protecção

fitossanitária indicadas na legislação europeia, atrás referenciada.

Para obter a certificação biológica, é necessário um período de conversão de

três anos. Este período pode ser reduzido, se o organismo de certificação e

a autoridade competente reconhecerem que foram utilizados previamente

métodos de produção agrícola compatíveis com as exigências da protecção

do ambiente e da preservação do espaço natural.

O período de conversão do pomar convencional pode ser iniciado após a

última aplicação de qualquer tratamento convencional. A eventual

autorização para diminuir o período de conversão deverá ser dada pelo

organismo de certificação competente.

Condições climáticas

As condições climáticas determinam a produtividade das variedades

utilizadas. Assim, podemos escolher as variedades a implementar em

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determinado local, em função do conhecimento que temos acerca das suas

necessidades em luz, temperatura e água.

Condições pedológicas

As seguintes espécies toleram solos arenosos: macieira, damasqueiro,

pessegueiro, aveleira, framboesa e groselha. Algumas espécies podem

crescer em solos pedregosos com uma fina camada fértil: damasqueiro,

pessegueiro, amendoeira, nespereira e castanheiro.

A maioria das espécies desenvolve-se melhor em solos com uma camada

fértil profunda. Algumas delas toleram solos argilosos, como por exemplo a

pereira, o marmeleiro, a cerejeira, a ameixeira e a aveleira. A preferência

por determinado tipo de solo é influenciada pelo sistema radicular das

árvores e pelas suas necessidades nutricionais específicas. A circulação de

ar é muito importante para o sistema radicular das árvores. Desta forma,

algumas das espécies como o pessegueiro, o damasqueiro, a amendoeira, a

cerejeira e a framboesa e os citrinos são particularmente sensíveis à

existência de boas condições de circulação de ar no solo.

Algumas espécies podem tolerar ou até mesmo necessitar de solos

húmidos, com elevada disponibilidade em água. É o caso da macieira, da

pereira, do marmeleiro, da ameixeira, da nogueira, da aveleira, da

framboesa, do morango, da groselha, da amora. Algumas características do

solo, como o pH, podem constituir um factor limitante para algumas

espécies. É o caso do castanheiro, da macieira, da aveleira, da framboesa e

do morango, do mirtilo, que necessitam de solos ácidos. Por outro lado,

elevados níveis de alcalinidade do solo podem ser também um factor

limitativo para outras espécies, como o damasqueiro e a amendoeira.

Culturas como a macieira, a pereira, o marmeleiro, a nogueira, o morango e

a groselha preta, toleram níveis elevados de água no solo. O marmeleiro e

vários porta-enxertos de macieira resistem mesmo a algumas semanas de

encharcamento durante o período de repouso vegetativo.

Localização geográfica e nível de exposição solar

A localização geográfica e a situação topográfica desempenham um papel

importante na formação do microclima. A altura acima do nível do mar, a

exposição solar, a qualidade do solo, a direcção do vento, o nível de águas

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superficiais e a proximidade de zonas florestais são aspectos determinantes

do ponto de vista geográfico.

A altura acima do nível do mar influencia a temperatura do ar, dado que em

média, a um aumento de 100 m de altitude corresponde uma diminuição da

temperatura de 0,5°C. As diferenças em altitude podem ser importantes no

caso de danos provocados por geadas.

A exposição solar está relacionada com o declive e a direcção da encosta.

As exposições a sul e a sudoeste são favoráveis à produção agrícola,

enquanto a orientação a norte é menos favorável. Em clima mediterrânico,

com cada vez maiores problemas de escaldão da fruta, nas espécies e

variedades mais sensíveis, a orientação norte pode ser vantajosa.

Os vales podem ser desfavoráveis devido à possibilidade de se verificarem

níveis elevados de humidade e nevoeiro, e à existência de geadas nas zonas

mais baixas.

Selecção de variedades para produção de fruta em AB

A escolha das variedades deve ter em conta as características do local de

produção, a sua adaptação às condições edafoclimáticas existentes e a

procura actual ou potencial do mercado.

Devem ser escolhidas variedades resistentes às doenças, bem como

variedades que exijam menos intervenção, designadamente ao nível de

tratamentos fitofarmacêuticos.

Os principais aspectos que determinam o valor e o interesse das variedades

na produção de frutas biológicas são:

A qualidade externa dos frutos (tamanho, forma, cor, resistência da casca,

ausência de defeitos, sintomas de doenças, etc.)

A qualidade interna dos frutos (valores nutricionais, nível de fibras, sabor,

aroma, aptidão para o processamento, teor de vitaminas e outros factores

nutricionais, etc.).

O valor de mercado das variedades é determinado pelo grau de

receptividade dos consumidores (atractividade, procura, etc.),

perecibilidade e a adequação para a transformação (qualidade da epiderme,

consistência da polpa, grau de perecibilidade).

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Ao nível dos factores produtivos, a produtividade, a estabilidade da

produção, a susceptibilidade a pragas e doenças, a tendência para a queda

dos frutos, o vigor vegetativo, a biologia da floração e as características de

fertilização, são aspectos determinantes nas escolhas a efectuar.

Polinização por insectos

As flores das árvores de fruto são na sua maioria polinizadas por insectos,

apesar da polinização pelo vento desempenhar também um papel

importante. Assim, dependendo da variedade, devem estar localizadas no

pomar, no período de floração, 2 a 10 colmeias de abelhas, por hectare.

Porta-enxertos (PE)

As características genéticas desempenham um papel fundamental na

dimensão das árvores e arbustos. Todavia, no caso de muitas espécies (por

exemplo, a macieira e a pereira), esta característica pode ser influenciada

também pelos porta-enxertos e pela altura do ponto de enxertia. A

utilização de PE bem adaptados é importante na tolerância a condições

desfavoráveis de solo, como a má drenagem ou a presença de bactérias ou

fungos patogénicos (doenças de solo ou outras que possam atingir o PE,

como o fogo bacteriano).

Sistemas de produção e condução

Na produção biológica devemos criar uma harmonia entre a variedade e o

PE, a distância entre as árvores e a forma de condução. Em AB a criação de

um bom equilíbrio entre crescimento vegetativo e produção, pode ser

alcançado com uma poda mais ligeira.

Compasso de plantação

A distância entre árvores deve ser adaptada ao crescimento e vigor da

combinação variedade e PE. A orientação das linhas deve ser norte -sul. A

forma da copa deve respeitar, dentro do possível, a forma natural da

árvore, com um tronco central rodeado de diversas pernadas em todo o

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contorno (eixo central revestido). Nalguns casos de menor vigor e na falta

de postes e arames de suporte, pode optar-se por formas mais baixas, em

vaso (ou esféricas no caso dos citrinos), de modo a manter a árvore direita.

A forma de condução também depende da espécie e do vigor do PE.

Linhas duplas não são permitidas em AB, porque este sistema é mais

susceptível às doenças.

Se forem plantadas culturas consociadas nas entrelinhas do pomar, devem

usar-se PE mais vigorosos, sem aramação de suporte. Neste caso as

distâncias entre árvores são maiores, com os seguintes compassos:

- em árvores de fruto: 5-10m x 4-10m;

- em pequenos frutos: 1,2-2,0m x 0,8-1,5m.

2.2. Gestão do solo e nutrição das plantas

O terreno a cultivar deve ser adequado à produção de espécies frutíferas. O

mais importante no manejo do solo é a conservação e melhoria da sua

fertilidade e actividade biológica. Um aspecto fundamental a ter em conta

consiste no nível de húmus do solo, que deve ser aumentado ao longo dos

anos. Para além da protecção e conservação do solo há ainda a vantagem

climática do sequestro de carbono que é transferido da atmosfera ficando

retido por muitos anos na matéria orgânica.

Melhoramento do solo

O melhoramento do solo pode também ser necessário, de acordo com as

análises efectuadas. Estas devem ser feitas antes de se iniciar o processo

produtivo, com base em amostras obtidas em vários locais do campo de

cultura.

Em solos ácidos, o valor do pH do solo pode ser modificado através da

realização de “calagens”, através da aplicação de correctivos minerais

alcalinizantes (calcário moído com ou sem magnésio, algas marinhas

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calcárias e cal industrial resultante do fabrico de açúcar). A cal viva e a cal

apagada estreme, não são autorizadas. Em solos alcalinos, o pH do solo

pode ser corrigido com enxofre ou turfa ácida. Em ambos os tipos de solo

(ácido e alcalino) a aplicação de matéria orgânica na forma de composto,

também corrige o pH.

Para contextos pedológicos com baixo teor em húmus (<1%), deve ser

adicionada uma grande quantidade de material orgânico (80 a 100 t/ha de

estrume ou composto, que não seja proveniente de pecuária intensiva sem

terra) antes de iniciar a plantação.

Fertilização orgânica

Na produção de fruta biológica, é adicionado ao solo matéria orgânica para

melhorar a sua estrutura e para favorecer a actividade biológica. Portanto,

a composição dos nutrientes presentes no estrume ou composto utilizado

deve ser bem conhecida. Os fertilizantes orgânicos usados devem ser

provenientes da agricultura biológica certificada, mas, na falta daqueles,

podem ser de agricultura convencional, com excepção da pecuária industrial

sem terra, em que os animais estão sempre fechados e sem contacto com o

terreno agrícola. O fornecimento de fertilizantes deverá ser feito de acordo

com a informação do anexo I ao Reg. (UE) n.º 889/2008.

Preparação do solo

Na preparação do solo devem evitar-se lavouras muito profundas com

reviramento da leiva, porque tal procedimento poderá prejudicar a camada

superficial mais rica em húmus, trazendo o subsolo à superfície. A

profundidade de mobilização do solo não deverá ser superior a 0,90 m e

sempre com ripagem em vez de lavoura de charrua. A instalação da cultura

deve ser efectuada em condições climáticas adequadas e com um nível de

humidade do solo ideal, devendo a profundidade de instalação situar -se

entre 0,25m a 0,40 m. Depois da ripagem, o solo deve ser preparado mais

finamente, com alfaias combinadas (dentes mais discos e rolo destorroador)

ou, na falta destas, com grade de discos seguido de escarificador.

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Sideração ou adubação verde

A sideração é um método que permite a melhoria do solo, tanto na fase

anterior à plantação, como depois, ao nível da adubação nas entrelinhas.

Durante o período de conversão, este método é sobretudo aplicado na

preparação do solo para as novas plantações.

Sideração antes da plantação. Dependendo do tipo de preparação do solo e

das suas características, pode ser usada adubação verde de Inverno ou de

Verão, com diferentes tipos de misturas de plantas. Em sementeiras de

Primavera, sugere-se a utilização de uma mistura de girassol com as

seguintes leguminosas: fava-cavalinha, ervilha e tremoço. Em sementeiras

tardias de Verão/Outono (Setembro/Outubro) sugere-se uma mistura de

centeio, ervilha e trevo-encarnado. As adubações verdes também protegem

o solo da erosão provocada pelas chuvas.

Preparação do solo mais prolongada. Em situações em que o solo apresenta

características mais desfavoráveis, designadamente com má estrutura,

deficiência em nutrientes, ou uso prévio excessivo, é recomendada uma

sementeira anual com uma mistura de gramíneas e luzerna (em caso de

fadiga de solo), durante 3 a 5 anos. A protecção contra nemátodos apenas

pode ser bem sucedida com culturas de cobertura (crucíferas), durante

vários anos, permitindo assim a existência de raízes com, pelo menos,

60cm de profundidade. Antes da plantação das árvores, o trabalho

mecânico é feito com um cultivador.

Plantação

A altura ideal para a plantação é usualmente o final de Outono e princípio

de Inverno. Para a plantação, é suficiente a abertura manual de uma cova

de 0,40x0,40x0,40 m. A abertura de covas através de meios mecânicos não

é a melhor solução, particularmente em solos húmidos. É recomendado

introduzir 5 a 10 kg de estrume curtido, uniformemente distribuído no

fundo da cova da plantação, e posteriormente cobertos com 80 a 100 mm

de uma camada de solo.

Antes da plantação, a raiz do porta-enxerto é cortada plana, com a

superfície de corte virada para baixo. As raízes são imersas numa calda

espessa feito com água, argila e micorrizas para inoculação da raiz.

As plantas devem ser irrigadas com 10 a 20 litros de água, conforme a

capacidade do solo em reter essa a água.

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Na plantação de Outono, nas regiões mais frias, o tronco pode precisar de

ser protegido do frio com um montículo de terra. No caso de plantação de

Primavera essa protecção não é necessária. Depois da época das geadas,

faz-se a descava ao redor do tronco em círculo com diâmetro até 1m.

A cobertura ou empalhamento do solo na linha tem como objectivo

preservar a humidade do solo e assegurar o combate às ervas infestantes.

Palha, estrume, palha misturada com estrume, casca de pinho, aparas de

madeira, pó de cortiça, engaço de uva, bagaço de azeitona, são bons

materiais para esta prática. Alguns materiais sintéticos como, filme de

polietileno negro, folhas de polipropileno, também podem ser aplicados

como cobertura do solo.

Protecção do tronco

Tanto nas plantações de Primavera como nas de Outono (e, em particular

nestas últimas) é importante proteger o tronco de eventuais mordeduras de

animais. Para tal, pode ser usado papel, canas, redes ou tubos especiais

para proteger troncos, feitas de metal ou de plástico.

Vedações

Para uma maior protecção contra animais selvagens e eventuais roubos é

recomendada instalação de uma vedação no momento da plantação, ou

mesmo antes.

Sebes naturais e faixa de flores

De forma a favorecer o isolamento é necessário envolver a plantação com

sebes naturais compostas por várias espécies (árvores, arbustos). Estas

devem ser originárias do ecossistema natural da zona. Uma faixa de flores

deve também ser implementada, sendo composta por espécies anuais, que

permanecerão no pomar durante a fase de floração, abrigando os

organismos auxiliares.

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Após 2003, só pode ser usado na instalação de uma nova plantação

material de propagação (e.g. enxertos) sujeito aos requerimentos da

produção biológica, produzido por viveiros certificados e fornecido com

certificado de produção biológica.

No período de transição, pode ainda ser utilizado material de plantação

oriundo de viveiros tradicionais. Esta utilização deverá ser efectuada

debaixo de um maior nível de supervisão por parte da organização

certificadora. Na criação e funcionamento de um viveiro biológico devem

ter-se em consideração todas as normas e regulamentos que incidem sobre

um viveiro tradicional, completadas com os requerimentos aplicáveis à

agricultura biológica (Reg. (EU) 889/2008).

Nutrição das plantas

A gestão do solo e a nutrição das plantas tem um impacto muito

significativo sobre a produtividade global do pomar. Uma boa gestão do solo

deve permitir alcançar os seguintes objectivos:

Arejamento do solo;

Capacidade de retenção da água;

Captação de nutrientes;

Capacidade de utilização dos estrumes incorporados;

Preservação e aumento do nível de matéria orgânica no solo;

Protecção contra infestantes;

Protecção contra a erosão e a deterioração do solo

Fornecimento de nutrientes

Na produção biológica o fornecimento de nutrientes às árvores de fruto

baseia-se sobretudo na disponibilidade natural em nutrientes e na

capacidade do solo em fornecer nutrientes. A capacidade de disponibilização

de nutrientes é igualmente influenciada pelo tipo de solo, teor em húmus,

estrutura do solo e actividade biológica da camada de solo próximo das

raízes (rizosfera). Considerando que a utilização de fertilizantes industriais

de síntese não é permitida, tanto antes como depois da plantação, é muito

importante assegurar que o solo apresenta uma capacidade constante para

fornecer nutrientes às plantas.

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Os dois principais nutrientes são o Azoto (N) e o Potássio (K). O azoto

participa na formação de todos os organismos (como componente proteico).

A presença de 1% de húmus no solo equivale a 30-40 Kg/ha de azoto, por

ano, o que pode ser quase suficiente para uma produção média, se a

mineralização for assegurada por condições pedológicas favoráveis

(ar/água). Por esta razão, deve ser seriamente ponderada a decisão de

iniciar a produção de fruta em MPB em solos com menos de 1% de teor em

húmus. Como boas fontes de azoto podemos referir: sideração com

misturas de leguminosas (50 a 150 Kg/ha de azoto no caso de 20 t/ha de

massa verde), e plantas leguminosas estremes (ervilha de inverno, tremoço

de primavera, favas, etc.).

Bitter pit (ou “manchas encortiçadas”) é uma das mais importantes doenças

que ocorrem em maçãs e peras, e é causada por uma deficiência em cálcio

do fruto. Na base deste problema pode estar o excesso de potássio e de

azoto no solo, um desenvolvimento vigoroso e demasiado rápido, devido a

um excesso de fertilização azotada, ou uma poda de inverno incorrecta. A

forma mais eficaz de evitar esta doença consiste em manter o fornecimento

ideal de azoto e potássio, sem excessos, bem como o respectivo equilíbrio

nutricional.

Os fertilizantes (matérias primas) que podem ser aplicados na produção

biológica estão referenciados no Anexo I do Reg. (UE) 889/2008,

actualizados através da publicação “Guia de factores de produção

permitidos em agricultura biológica”, divulgada pela organização

certificadora de cada país, ou por empresas de assistência técnica à

produção.

Rega

A maioria das espécies frutíferas necessita ser irrigada. O nível de irrigação

depende das condições de precipitação locais e das necessidades hídricas

das espécies/ variedades em causa. A água utilizada na rega não deve

conter matérias ou substâncias poluidoras, prejudiciais à árvore e à saúde

humana.

Preservação da humidade e dos níveis de água no solo

A utilização de métodos de cultura que preservam a água no solo e a

plantação de vedações naturais que protegem as plantas do vento,

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diminuindo a desidratação, desempenham um papel determinante. Para

além disso, devem ser aplicados sistemas de rega que preservem a

estrutura do solo, como por exemplo, microaspersores suspensos, debaixo

da copa, ou rega gota-a-gota.

Rega com propósitos específicos

A irrigação por cima da copa (com aspersores) é recomendada sobretudo

como factor preventivo de geadas

Figura 2 - Pomar jovem: na linha, o solo está protegido por um sistema de mulching

(“empalhamento”). Na entrelinha, o terreno está plantado. (http://www.orchardworld.co.uk)

2.3. Gestão da entre-linha

Na AB o pomar faz parte do ecossistema. Para que este seja equilibrado,

pode recorrer-se à sementeira das entrelinhas com plantas que favorecem a

biodiversidade, e ainda através da interligação do pomar aos elementos

naturais do ecossistema, no território em que se insere. Em climas secos e

áridos é necessário adoptar com muito cuidado as práticas de países do

Norte, com maiores índices de precipitação. Em condições de produção

áridas, a totalidade da planta pode não exceder 50% da largura total da

entrelinha. Na produção de fruta biológica, as entrelinhas são

frequentemente cobertas com culturas de cobertura. A vegetação usada nas

entrelinhas tem de estar biologicamente conectada com as sebes naturais,

16

as plantas existentes ao redor da plantação e até mesmo com a

comunidade natural de plantas.

A selecção adequada das culturas de cobertura (arrelvamento) pode ser

feita tendo como base as condições edafoclimáticas do local (clima,

características do solo, etc.), a disponibilidade em matéria orgânica e a

melhoria da estrutura do solo (ou a sua ausência).

Existem sobretudo duas versões para implementar um arrelvamento nas

entrelinhas:

Sementeira anual de uma mistura de gramíneas com

leguminosas, estabelecida de acordo com as necessidades

previamente definidas. Como requerimento de partida, as plantas

utilizadas devem tolerar relativamente bem o pisoteio, a pressão, e

que não se expandam de forma agressiva para a linha, onde estão as

árvores. Igualmente, devem ser escolhidas as espécies menos

exigentes em água. É recomendada a seguinte mistura: festuca

rubra, poa pratensis e trevo subterrâneo. O período ideal para esta

sementeira é o final do Verão, princípio do Outono.

Com cortes regulares da vegetação natural da entrelinha surgirá

em alguns anos uma cobertura do solo ecologicamente equilibrada,

podendo mesmo, no primeiro ano, fornecer protecção ao solo na

entrelinha. É uma solução muito prática e cómoda em climas com

tendência para a falta de água. A limpeza na linha de árvores pode

ser obtida através do ensombramento do solo (diminuição dos índices

de luminosidade). O mais adequado neste caso é a utilização de

estrume da exploração já compostado, dado que este é rico em azoto

e noutros macro e microelementos, fornecendo-os de forma contínua

às árvores de fruto. Esta actuação protege o solo da desidratação e

previne o surgimento de ervas infestantes. O espalhamento de uma

camada densa de palha pode também ser um método a utilizar, dado

que esta possui um nível considerável de potássio. Outras plantas

trituradas podem também ser utilizadas para este propósito. As

cascas de árvores trituradas são também muito utilizadas como

cobertura, sobretudo em solos que perdem rapidamente a humidade,

solos leves, pobres em húmus.

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Figura 3 - Gestão da entrelinha num pomar de maçãs em AB, com aplicação de uma mistura de gramíneas e leguminosas (fotos: Z. Szalai)

Figura 4 - Arrelvamento por todo o espaço de implantação do pomar (fotos: Z. Szalai)

2.4. Gestão de pragas e doenças

Controlo de ervas infestantes em pomares biológicos

Um bom plano de gestão e controlo de infestantes deve representar um

risco mínimo de erosão, fornecer uma “plataforma” para o movimento dos

equipamentos da exploração, e não ter um impacto negativo no controlo

das pragas e das doenças ou na fertilidade do solo. Adicionalmente, deve

minimizar a competição das infestantes pela água e pelos nutrientes.

Métodos de controlo de infestantes: agrotécnicos e culturais.

18

Os mecanismos de controlo das infestantes são:

Culturas de cobertura, empalhamento, e solarização do solo

Gestão da entrelinha em pomares

Gestão física de infestantes – métodos mecânicos para controlo de

infestantes

A acção mecânica pode ser suficiente como forma de controlar as

infestantes. Em sistemas de produção que incluem a cobertura permanente

do solo, a acção mecânica pode ser limitada a uma limpeza ao longo da

linha de árvores. O contrário pode também ser verdade em sistemas que

empregam o empalhamento para supressão das infestantes debaixo das

árvores e a mecanização é utilizada para controlar as infestantes e

incorporar as culturas de cobertura no espaço entrelinhas.

Em qualquer caso, a acção mecânica deverá ser superficial para minimizar

os danos provocados nas raízes das árvores e para evitar trazer mais

sementes de infestantes para a proximidade da superfície, permitindo que

germinem.

O trabalho manual pode ser eficaz numa escala pequena. Mas em pomares

ou vinhas de grandes dimensões – onde a mobilização na linha é desejável

– os meios mecânicos podem ser muito úteis.

A extensão permitida pelos cultivadores montados em tractores permite o

trabalho junto do tronco da árvore ou do pé da vinha, sem danificar a

planta.

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Figura 5 - Cortando uma mistura de gramíneas com leguminosas debaixo da linha, num pomar do Research Institute of Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai)

Gestão da entrelinha. Aplicação de culturas de cobertura na entrelinha e,

se a precipitação o permitir, em toda a superfície da plantação (ver capítulo

da gestão da entrelinha). Os cortes são necessários e o seu número é

determinado pelo índice de crescimento das plantas, pelo nível de

fornecimento de nutrientes pelo solo e pela precipitação, ou sistema de

rega.

Figura 6 - Utilização de discos especiais num solo coberto por uma mistura de gramíneas com leguminosas, debaixo da linha de árvores no Research Institute of

Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai)

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Monda térmica de infestantes

A morte de ervas infestantes pelo calor da queima de gás é o sistema mais

conhecido, com uma eficácia de 80 a 80%, mas apresenta elevados custos

energéticos. As plantas devem ser sujeitas a temperaturas de 60 a 70ºC, no

mínimo. O efeito desta técnica traduz-se pela prostração imediata da planta

que acaba por secar ao fim de alguns dias. Este método só é efectivo contra

infestantes dicotoledónias anuais, não devendo ser aplicado em cardos ou

em infestantes com estolhos ou rizomas.

Controlo biológico de infestantes

Insectos

Doenças

Alelopatia

Vertebrados

Vertebrados: gansos e galinhas. Estas, em particular, têm sido usadas

para controlo de infestantes num grande número de culturas. Os animais

são abrigados em pequenas estruturas móveis e são mudados

periodicamente de espaço.

Figura 7 - Exemplo da utilização de galinhas num pomar de aveleiras (Corillus avellana), numa exploração experimental em Heilbron (Alemanha). (foto: Z. Szalai)

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Insectos auxiliares e controlo de pragas provocadas por ácaros em

pomares

O facto de as árvores de fruto terem um período de vida significativo pode

permitir o desenvolvimento de populações de insectos nocivos ao longo do

tempo. Por outro lado, é também possível que estes ambientes agrícolas

estáveis permitam o desenvolvimento de populações de organismos

auxiliares, favorecendo assim a existência de um equilíbrio biológico, que

favorece a saúde das plantas.

Luta biológica

A luta biológica diz respeito à utilização de organismos vivos para controlar

a população de uma determinada praga. Exemplos de artrópodes auxiliares

que têm sido utilizados para controlar pragas em árvores de fruto incluem

os ácaros predadores Phytoseiulus persimilis e Metaseiulus occidentalis, os

quais atacam os aranhiços vermelhos; joaninhas e crisopas, as quais se

alimentam de afídeos (pulgões); e microhimenópteros do género

Trichogramma, as quais parasitam os ovos de várias pragas, incluindo o

bichado da fruta (Cydia pomonella L.).

A existência arrelvamento e de vegetação adjacente, como as sebes

naturais, constituem excelentes soluções para atrair e sustentar populações

autóctones de insectos auxiliares. A selecção do inimigo natural mais

adequado para uma praga específica constitui um aspecto muito

importante. Neste contexto, distinguimos entre a utilização de curto prazo

de organismos auxiliares e a introdução de longo prazo de insectos

auxiliares. O momento exacto para as libertações é muito importante, tendo

em consideração o período óptimo para a intervenção. A libertação dos

inimigos naturais deve coincidir com um estadio favorável do hospedeiro, e

deve ser precocemente, de forma a ter sucesso. Por exemplo, os

microhimenópteros do género Trichogramma parasitam os ovos, e, por esse

motivo, não controlam directamente os adultos quando estes se encontram

já numa fase activa no terreno.

Aprovisionamento ambiental. É fundamental ter a certeza de que as

“necessidades ambientais”, tais como a disponibilidade em néctar, fontes

alimentares alternativas e água, estão disponíveis para os organismos

auxiliares adultos. Com efeito, se o ambiente e as condições de vida não

forem os mais adequados, os insectos auxiliares podem abandonar a área

de produção ou até mesmo morrer. A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt)

consitui um exemplo de uma forma biológica recorrente no controlo de

22

pragas. Produtos com esporos e toxinas provenientes da bactéria Bacillus

thuringiensis, como o Turex, por exemplo, combatem diversas larvas de

lepidópteros que se alimentam das folhas das árvores de fruto. Os produtos

à base de Bt não são igualmente eficazes contra as pragas de lepidópteros

que passam a sua fase larvar alimentando-se dentro de caules, troncos ou

frutos, como o bichado da fruta (maçã, pêra, noz) e a zeuzera (broca dos

ramos em diversas espécies de árvores de fruto). Outros bioinsecticidas

incluem o Bacillus popilliae, o vírus granuloso para ataque ao bichado da

fruta, e nemátodos parasitas de insectos para o combate a larvas de

insectos.

Produtos biológicos, extractos de plantas e biopesticidas

Os pesticidas autorizados em AB podem ser extractos de plantas,

reguladores do crescimento de insectos, feromonas sintéticas para

promover a desregulação na fase acasalamento, sabões, óleos, minerais tal

como o enxofre em pó, e biopesticidas à base de microrganismos. O termo

“biológico” ou “pesticida bioracional” é utilizado para descrever pesticidas –

aceitáveis do ponto de vista da produção biológica” refere-se a produtos

com impactos mínimos nos insectos auxiliares e no ambiente.

Os insecticidas vegetais são elaborados através da extracção de

componentes tóxicos das plantas que têm propriedades repelentes para os

insectos. Aqueles insecticidas ocorrem naturalmente, têm um período de

actuação curto, e não libertam resíduos prejudiciais. Todavia, muitos

insecticidas botânicos são venenos de largo espectro, afectando tanto as

pragas e doenças como os organismos auxiliares. Por este motivo não são

sempre a escolha bioracional. Alguns dos insecticidas derivados de plantas

mais comuns são os piretróides (actualmente apenas permitidos em

armazéns), a rotenona (não homologada na EU), a azadiractina (extraída da

bagas de Azadirachta indica ou neem) e a quassia (extraída de Quassia

amara).

Sabões de potássio especialmente formulados, com elevados níveis de

ácidos gordos, são eficazes contra vários insectos de estrutura pouco rígida,

como é o caso de afídeos, mosca-branca, cigarrinha-verde e aranhiço

vermelho. Os sabões insecticidas penetram no corpo do insecto,

desregulando o funcionamento celular normal e as suas membranas,

permitindo que o seu conteúdo saia. Os sabões são activos apenas no

estado líquido e apenas também como pulverização de contacto. Não deve

ser esperada qualquer actividade insecticida a partir do momento em que a

solução secou.

23

Feromonas de insectos são substâncias químicas produzidas por insectos

para a comunicação e.g. para comunicação sexual. Normalmente, estas

feromonas são específicas de uma dada espécie ou género de insectos. É

largamente utilizado para monitorizar a emergência ou a simples presença

de pragas nas culturas. Tecnologia recente permite também a utilização das

feromonas no processo de desregulação e confusão da actividade sexual de

certas pragas, especialmente em fruticultura e viticultura, desde que a área

da cultura seja suficientemente grande ou isolada para evitar a entrada de

fêmeas já acasaladas.

Controlo de doenças em pomares de fruta biológica

Muitas doenças das árvores de fruta são específicas de determinadas

espécies ou variedades. Dada a relativamente frágil estrutura dos frutos e o

elevado teor em açúcar da maior parte dos frutos maduros, ou quase

maduros, os fungos são uma preocupação constante do agricultor. A

ocorrência da maior parte das doenças causadas por fungos tem lugar em

condições climáticas caracterizadas pelos elevados índices de humidade. A

forma ecológica de minimizar as possibilidades de a fruta apodrecer

consiste em permitir uma boa circulação de ar e em favorecer a penetração

do sol no interior da copa das árvores. No caso de árvores, em particular

das de grande porte, isto implica a necessidade de efectuar podas

adequadas e de levar a cabo técnicas de condução eficazes. A instalação de

pomares de árvores de fruto, qualquer que este seja, deve ser feita em

locais com excelentes condições de circulação de ar.

Todo o material vegetal resultante das podas deve ser sempre removido do

pomar, ou destruído com uma fina trituração. Igualmente, devem remover-

se as plantas infectadas e os hospedeiros alternativos ou materiais

inoculados que possam favorecer o desenvolvimento de organismos

prejudiciais.

Fungicidas e bactericidas permitidos

Embora apresentem inconvenientes, os derivados do cobre e do enxofre são

os principais fungicidas e bactericidas usados pelos produtores biológicos.

De facto, estes materiais podem causar danos às plantas se aplicados de

forma incorrecta. O enxofre é também medianamente tóxico para alguns

insectos auxiliares, e tóxico para ácaros predadores, podendo assim

24

provocar outro tipo de problemas. A utilização de fungicidas à base de

cobre, por longos períodos, pode também levar à existência de níveis

tóxicos de cobre no solo. Igualmente, estes fungicidas são efectivamente

menos eficazes que as alternativas sintéticas, e têm de ser utilizados numa

base preventiva, requerendo frequentes aplicações. Os produtores devem

ter em consideração que a quantidade de cobre metálico aplicado num ano

está limitada a 6Kg/ha, de acordo com a legislação comunitária para a

agricultura biológica.

Biofungicidas

Os biofungicidas podem ser obtidos, por exemplo, a partir de várias

formulações do fungo Trichoderma harzianium, utilizado no controlo da

podridão cinzenta (Botrytis). Embora algumas plantas e extractos

compostos tenham propriedades fungicidas, é preferível utilizar técnicas

agrícolas correctas e variedades resistentes, aplicando derivados de cobre e

enxofre apenas quando necessário.

Animais vertebrados

Várias espécies de aves, gamos, ratos, ratazanas, coelhos e outros animais

vertebrados podem constituir-se como verdadeiras pragas para as árvores

de fruto. De uma forma geral, os programas de certificação biológica não

permitem a utilização de venenos para controlar este tipo de pragas. Ao

contrário, encorajam a utilização de armadilhas não letais, o controlo de

movimentos com vedações ou sebes, ou ainda a utilização de sistemas

repelentes ou de amedrontamento.

25

Figura 8 - Disponibilização de um local de nidificação para insectos auxiliares e aves, num pomar de macieiras no Research institute of Weinsberg, Alemanha (foto: Z. Szalai)

2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte

A colheita deve ser planeada atempadamente e o momento em que a

mesma é efectuada deve ser determinado de acordo com os parâmetros de

maturação, em função do destino final da fruta. Para a maior parte das

variedades de fruta, a colheita pode ser efectuada com sistemas multi-

recolha selectivos. O grau de maturação para a colheita depende da

variedade, e é sobretudo determinado pelo tamanho e pela coloração do

fruto. Outros índices de maturação incluem a análise de lenticelas nos

frutos, o seu teor em amido, e a concentração interna de etileno. Tamanho

e forma uniformes, ausência de lesões internas, necroses, cicatrizes,

escaldão, danos causados por insectos, e outros defeitos, são importantes

indicadores de qualidade. A estimativa de produção deverá ser feita antes

da colheita, e os seus dados registados. Após a colheita, os frutos devem

ser enviados o mais depressa possível para o seu destino final. Tanto na

colheita como no circuito de distribuição, só podem ser utilizados os tipos

de embalagem permitidos.

Durante o transporte, a fruta biológica não deve, mesmo que por acaso, ser

misturada com a fruta obtida através dos métodos convencionais. Também

não pode ser transportada em estruturas conjuntas de transporte. A fruta

26

deve estar devidamente marcada com uma referência distintiva na

embalagem, e com indicação na guia de transporte ou factura de que se

trata de fruta de agricultura biológica certificada por um determinado

organismo de certificação. As estruturas de acondicionamento e embarque

devem estar protegidas da contaminação externa. Dado que se trata de

produtos biológicos, a fruta colhida deve estar devidamente referenciada

com os documentos de certificação do produto em causa, especialmente

para posterior utilização pelo organismo certificador e pelo distribuidor ou

retalhista.

Armazenamento dos frutos

Maçãs, peras

Armazenamento em atmosfera normal. As peras devem ser armazenadas a

uma temperatura entre -1 e 0ºC e uma humidade relativa de 90 a 95%,

sendo para as maçãs uma temperatura um pouco superior (0-2ºC),

dependendo também da variedade. O período de armazenamento depende

também da variedade. Em climas moderados e frios, a maioria das

variedades são de verão ou Outono, as quais amadurecem em Agosto ou

Setembro e podem ser armazenadas desde alguns dias a algumas semanas,

ou alguns meses em câmara frigorífica, em atmosfera normal ou

controlada.

Sensibilidade ao etileno: a maior parte das variedades de maçãs e peras é

sensível ao etileno.

Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada. As maçãs de

colheita no final do Verão e no Outono e algumas variedades de pêra

podem ser armazenadas em atmosfera controlada a -1ºC durante mais de

quatro meses. Limites óptimos: 1-2% O2 + 0-1% CO2. A pêra Rocha, por

exemplo, pode ser conservada por um período superior a 8 meses.

“Frutos de caroço”

A temperatura óptima de armazenamento situa-se entre -1 e 0ºC, e a

humidade relativa entre 90 e 95%. O período de “vida comercial” varia

desde uma a oito semanas e é diferente entre as diversas variedades.

Algumas variedades são sensíveis à refrigeração. A fruta mais sensível,

27

armazenada entre 2 a 8ºC, é mais susceptível a este problema. Os maiores

benefícios da atmosfera controlada durante o armazenamento/envio dizem

respeito à manutenção da firmeza da fruta e à preservação da sua cor. A

incidência de podridões não foi reduzida com atmosferas controladas de 1-

2% de O2 e 3-5% de CO2.

Bagas ou pequenos frutos

É necessário um arrefecimento rápido com ar forçado, seguido de um

armazenamento a 0ºC com humidade relativa de 90 a 95%. Este

procedimento tem como objectivo diminuir o desenvolvimento da podridão

cinzenta, causada pela Botrytis cinerea, a qual é a maior causa das perdas

na pós-colheita de morangos.

Entre as frutas de baga, a framboesa é aquela que apresenta um maior

índice de perecibilidade. Este fruto pode ser armazenado durante apenas 2

a 5 dias, em temperaturas que variam entre 0 e 0,5ºC e uma HR de 90 a

95%. Para o mirtilo, a temperatura óptima de armazenamento situa-se

também entre 0 e 0,5ºC e a HR deverá ser de 90 a 95%. Nestas condições,

o período de armazenamento pode prolongar-se por duas semanas.

No caso de embalamento para envio, uma atmosfera modificada com 10 a

15% de dióxido de carbono reduz o desenvolvimento da Botrytis cinerea.

Processamento da fruta

De acordo com a legislação comunitária relativa aos produtos biológicos, a

seguinte prescrição deverá ser seguida: os alimentos apenas podem ser

considerados como “biológicos” se, pelo menos, 95% dos seus ingredientes

forem também biológicos. Ingredientes biológicos em alimentos não

biológicos podem ser referenciados como biológicos na lista de ingredientes,

desde que aqueles ingredientes tenham sido produzidos de acordo com a

legislação da AB. De forma a assegurar um maior grau de transparência, o

número de código do organismo certificador deve ser indicado. É proibida a

utilização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) ou produtos

deles derivados. Os produtos biológicos não podem ser tratados ou sujeitos

a processos de radiação ou ionização. Desde 1 de Julho de 2010 que os

produtores de alimentos biológicos europeus devem usar o logótipo

28

comunitário da AB. A utilização do logótipo em produtos biológicos oriundos

de países terceiros, todavia, é opcional. No caso de este ser utilizado, a

legislação promulgada obriga, desde 1 de Julho de 2010, a que o local de

produção dos ingredientes agrícolas utilizados seja indicado.

Necessidades de matéria-prima para o processamento de produtos

biológicos

Maturação. Os frutos atingem o seu estado óptimo quando se obtém, para

cada variedade, a melhor relação ácido/açúcar. A excessiva maturação

afecta as características do fruto, designadamente o seu sabor. Os frutos

devem ter um aspecto saudável, não devendo verificar-se podridão,

deterioração ou deformação.

Pureza. Os frutos não devem conter materiais ou substâncias estranhas,

tais como pó ou poeiras, terra, folhas, etc. Os frutos devem ser lavados

com água fresca e limpa, antes do processamento. A matéria-prima deve

ser exclusivamente originária de produção biológica certificada, devendo a

mesma estar documentada. Na fábrica, a matéria-prima biológica só pode

ser processada numa linha de transformação específica, independente das

restantes. Cada fase deverá ser acompanhada da devida documentação. As

mesmas regras deverão ser seguidas no processamento de produtos

“caseiros”.

Conservas, compotas, geleias de frutos, sumos

Na fase de processamento e conservação só podem ser utilizados métodos

físicos (tratamento pelo calor, congelamento, pressão). Igualmente, só

podem ser empregues aditivos naturais. O conjunto de aditivos que podem

ser utilizados é muito vasto, pelo que é aconselhável obter informação da

literatura técnica, antes do processamento do produto. Os aditivos

originários de produção não biológica não podem exceder 5%, em peso.

Corantes sintéticos, aromatizantes, adoçantes, antioxidantes, potenciadores

de sabor e conservantes alimentares, não deverão ser usados. Condições

ideais de conservação passam pela esterilização com calor, enchimento a

quente, e posterior pasteurização (vapor ou água quente).

As fases seguintes dizem respeito ao processamento dos produtos à base

de frutas.

Conservas. Frutos inteiros maduros, juntamente com um líquido de

preenchimento arrefecido (eventualmente suplementado com sumo de

29

limão) são introduzidos em recipientes fechados e posteriormente sujeitos a

tratamento com calor. Os doces de frutas têm açúcar adicionado e são

sujeitos a preparação culinária, contendo também alguns pedaços de fruta.

Na maior parte dos casos, podem ser feitos a partir de fruta não totalmente

madura. As geleias são elaboradas a partir de fruta totalmente madura,

mesmo amassada, com açúcar adicionado e preparação culinária (que

promove a esterilização). Pode ter um aspecto mole ou pode mesmo ter

uma consistência rígida e ser cortada. O seu adoçamento é feito de acordo

com as necessidades; é adicionado um aditivo alimentar natural (pectina).

O teor em pectina dos frutos é diverso, pelo que a adição atrás referida só

deverá ser feita em frutos com baixo teor em pectina. Frutos com um

elevado teor em pectina são a groselha, o marmelo e a maçã. De entre

aqueles que têm baixo teor em pectina destacam-se o morango, a

framboesa e a cereja

Frutos secos

No processo de secagem, é reduzido em cerca de 80 a 90% o conteúdo em

água natural dos frutos. O período de vida dos frutos secos é determinado

pelo seu teor em água residual. Excelentes frutos secos são obtidos

essencialmente a partir das maçãs, das ameixas e dos damascos, existindo

variedades com maior aptidão para a secagem, como é o caso das ameixas,

Rainha Cláudia, Stanley, e Prune d’Agen. O sumo de limão pode ser

utilizado para o “embranquecimento”, prevenindo a oxidação. Tanto o

simples e tradicional método de secagem no forno, como a secagem em

bandejas, são métodos comuns de secagem de frutos. Enquanto a secagem

se inicia a uma temperatura alta, mas não demasiadamente elevada, na

segunda parte do processo a utilização de uma temperatura mais baixa é

mais favorável à obtenção de um produto de qualidade.

O vinagre de fruta biológico é produzido exclusivamente através do método

de fermentação.

Marketing

Os produtos comercializados devem ser etiquetados de acordo com as suas

características de produção e processamento biológicos, contendo o número

de código do organismo certificador. O produto certificado é acompanhado

pelo respectivo documento de certificação, emitido pela entidade

certificadora. Igualmente, devem também ser indicados o nome do produto,

30

o endereço do produtor, o peso líquido escorrido, a data de validade,

ingredientes e aditivos incorporados e as recomendações de

armazenamento (ambiente frio ou seco, etc.). A fruta biológica pode ser

comercializada do seguinte modo: 1) venda directa pelo produtor na

exploração agrícola; 2) venda em mercados locais; 3) entrega em casa na

sequência de pedido expresso; 4) venda do quadro do agro-turismo; 5)

abastecimento de restaurantes, hotéis, e através da rede de mercados

grossistas.

2.6. Exemplos práticos

Damasco (Armeniaca vulgaris L.)

A espécie Armeniaca pertence ao subgénero Prunus, o qual se insere na

grande família das Rosáceas. Esta, inclui numerosas espécies selvagens e

domésticas. O damasco cresceu primeiro na Ásia Central e Ocidental,

tendo-se espalhado a partir daí para a Grécia, a Itália, França, Espanha e

Califórnia.

Morfologia e necessidades biológicas do damasco. O damasco é uma

árvore de raízes profundas com um tronco de cor castanho-avermelhado.

Os ramos e a copa são avermelhados, com numerosas lenticelas. A

produção de damascos tem sempre lugar em “ramos produtivos”, nos quais

as partes produtivas têm sempre um ano. A árvore torna-se produtiva aos

cinco ou seis anos de idade e o volume máximo da copa é atingido entre os

seis a dez anos. Devido à precoce floração na Primavera, o damasqueiro

sofre frequentemente com as baixas temperaturas de algumas noites

primaveris.

Necessidades Ecológicas. Necessidades em termos de temperatura. Uma

exigência fundamental do damasco é a existência de uma temperatura

anual média de 10ºC e uma temperatura média no mês de Julho de 18ºC. O

damasco necessita de 1900 horas de sol no período vegetativo (i.e. do

31

quarto ao nono mês), e a temperatura acumulada deve ser superior a

3200ºC. As temperaturas baixas são importantes para o seu

desenvolvimento e o vingamento dos frutos: 40 dias com 3ºC a 4ºC são

suficientes para a floração, mas mais do que isto e os frutos sofrerão lesões

provocadas pelo frio. Portanto, estas árvores não devem ser plantadas nas

vertentes orientadas a Sul. Algumas variedades seleccionadas já são menos

exigentes em frio invernal.

Necessidades de água. Os frutos necessitam 550-600 mm de precipitação

anual, se uniformemente distribuída. As necessidades hídricas são maiores

durante a fase da diferenciação das gemas vegetativas, em Agosto, e

durante o desenvolvimento dos botões florais, em Setembro/Outubro.

Necessidades pedológicas. O damasqueiro necessita de um solo com

uma estrutura “solta” e uma camada inferior de argila. Devido às

elevadíssimas necessidades em arejamento no solo, esta árvore sofre de

asfixia radicular em solos mais “pesados”.

Uso de porta-enxertos. O porta-enxertos com base no damasqueiro

selvagem caracteriza-se sobretudo pelo seu crescimento vigoroso; os porta-

enxertos de ameixeira selvagem apresentam também um crescimento

vigoroso, embora tenha sido registado um efeito de nanismo na ameixa

vermelha. Algumas ameixeiras nobres podem proporcionar excelentes

porta-enxertos, como é o caso dos clones de Besztercei. Em algumas áreas,

a os enxertos obtidos a partir da Prunus domestica ssp. institia podem

também ser adequados. No caso de colheita mecânica deve usar-se o

porta-enxerto mirabolano.

Crescimento. O damasqueiro atinge o volume máximo de copa entre os

seis e os 10 anos de idade. A fase de máxima floração acontece

normalmente em Março. É importante sublinhar que devido às condições

específicas de polinização do damasqueiro, devem ser plantadas várias

variedades.

32

Fornecimento de nutrientes. Tal como sucede com outras culturas, é

fundamental efectuar análises de solos e de folhas antes da adubação. Para

assegurar um volume médio de produção (i.e. 20 a 25 toneladas/ha), o

suplemento anual em nutrientes recomendado deverá situar-se entre 1000

a 1500 Kg/ha de estrume curtido ou composto. Em termos de fornecimento

de nutrientes, o estrume e o composto desempenham um papel

fundamental.

Protecção das plantas. Para garantir que as árvores de fruto estejam em

boas condições, o melhor método preventivo consiste em efectuar uma boa

plantação, com plantas fortes e saudáveis. De seguida, é também

importante a monitorização do pomar, designadamente, efectuando as

podas nas alturas adequadas, mantendo o pomar limpo e arrumado,

fazendo cortes regulares no espaço das entrelinhas, mobilizando o solo

mecanicamente nas linhas, ou então recorrendo ao empalhamento nas

mesmas. Igualmente, devem destruir-se os ramos infectados e retirar-se do

pomar as folhas e os frutos infectados. Desta forma, removem-se ou

afastam-se do pomar os focos de pragas e doenças.

A seguinte tabela simplificada apresenta alguns métodos biológicos

aplicáveis na protecção de plantas, relativamente ao damasco.

Protecção de plantas em AB: damasco e peras. Fonte: Biocont Hungaria Kht

Praga Método de protecção Aplicação

Aranhiço vermelho

europeu

(Panonychus ulmi)

Aranhiço amarelo

(Tetranychus

urticae)

Typhlodromus Pyri

ácaro fitoseídeo

Em cada uma das árvores: 1-3 doses de

Typhlodromus. Devem ser colocadas entre

Dezembro e Fevereiro

(em geral não é preciso aplicar, pois a limitação

natural com os auxiliares autóctones é suficiente)

Afídeos Garbol

óleo de Verão a 856g/l

Pulverização com uma concentração de 2-3% no

período de repouso vegetativo, e com uma

concentração de 0,5-1%, durante o período de

crescimento

Anarsia

(Anarsia lineatella)

Isonet A 1000 difusores de feromona/ha, especialmente

para pomares com mais de 3ha. Aplicação entre 5

a 10 de Maio.

Traça Oriental do

pessegueiro

(Cydia molesta)

Dipel, Turex Bacillus thuringiensis var. kurstaki: 1,5 a 2 litros,

ou kg/ha, diluído em 800 a 1000 litros de água de

acordo com os resultados de monitorização das

armadilhas de feromonas, no estádio larvar da

praga.

33

Traça Oriental da

fruta

(Grapholita

molesta)

Isomate 600 difusores de feromona/ha especialmente para

pomares com mais de 3 ha, e aplicação antes do

início do voo

Oídio Thiovit com 80% de enxofre Antes da floração: 7,5 kg/ha; Após a floração: 3 a

4 kg/ha

Coryneum

beijerinckii

(crivado)

Monilia laxa

(moniliose)

Kocide 2000

53% de cobre

Aplicável até à fase de botão vermelho da flor do

damasco em concentrações de 1,75-2,0 kg/ha,

com 1000-1500 litros de água

Oídio

Monilia laxa,

Apiognomia

erythrostoma

Afídeos e ácaros

Calda sulfo-cálcica com 23%

de polisulfureto de cálcio,

contra doenças provocadas

por fungos e insectos.

É necessária autorização por

parte da entidade certificadora

Não está homologada em

Portugal

No estadio de dormência: 8-10% de

concentração.

No início do desenvolvimento botão:

3-5%;

No estadio vegetativo: 1-2%

Monitorização do desenvolvimento da população das pragas de insectos: Armadilhas com

feromonas; Armadilhas cromotrópicas amarelas pegajosas; Armadilhas brancas para microhimenópteros

da fruta

Colheita. A colheita manual é efectuada em duas ou três fases (70-80

Kg/hora). A maturidade é definida pela cor da pele, firmeza da polpa, e pelo

conteúdo em ácido. A colheita mecânica pode ser feita, sobretudo se está

em causa o posterior processamento pela indústria alimentar. Após a

colheita, os frutos devem ser pré-arrefecidos o mais rapidamente possível.

O damasco não tolera bem o armazenamento em frio: poderá assim ser

guardado por um período máximo de duas semanas.

Consumo e processamento. O damasco é recomendado sobretudo para

consumo em fresco, mas também é excelente processado sob a forma de

compotas, geleias e sumos. A desidratação é uma excelente oportunidade

para os damascos.

34

3. A produção biológica de hortícolas

Os métodos usados na produção biológica reproduzem os ciclos naturais da

vida, incluindo a senescência e a renovação. Com a produção em

agricultura biológica, o solo recupera os seus nutrientes e o material

orgânico, criando assim um solo de elevada qualidade para o produtor

biológico. Igualmente, obtêm-se melhores plantas e uma utilização eficiente

do solo e dos desperdícios, neste caso, através da reciclagem.

3.1. Escolha do local e selecção varietal

O sucesso da produção de hortícolas em AB pode estar muito dependente

da escolha do local. Para além de todas as razões óbvias relacionadas com

a escolha de um local (clima e solo adequados, correcto fornecimento de

água, transporte e mercados), o local deve estar relativamente livre das

pragas e doenças que incidem nas culturas que o agricultor pretende

cultivar. A presença de algumas espécies de ervas infestantes, como a

grama e a junça, são em geral ainda mais problemáticas, dada a

impossibilidade de aplicar herbicidas.

O sucesso da produção vegetal em AB assenta no estabelecimento de um

correcto plano de rotações. Isto poderá significar uma redução da área de

produção destinada ao mercado e a implementação de zonas com plantas

que se destinam a posterior sideração. Estes terrenos serão colocados em

produção comercial na rotação seguinte.

Os produtos hortícolas podem ser cultivados com sucesso sobretudo

em zonas “baixas”, planas e com clima temperado. As elevadas

altitudes diminuem o período vegetativo, o que reduz o leque de

espécies e variedades a utilizar.

O microclima do local é crucial na medida em que cada planta tem

necessidades específicas em termos climáticos.

Locais com frequentes geadas nocturnas na Primavera e no Outono

contribuem para tornar o êxito da produção mais aleatório.

35

O período vegetativo pode ser prolongado utilizando estruturas de

cobertura, tais como estufas e túneis de plástico, ou cobrindo as

culturas com manta térmica.

A precipitação é muito importante, sobretudo para culturas mais

exigentes em água, que apresentam maior área foliar. No caso de os

períodos de precipitação serem curtos e insuficientes, devem ser

instalados sistemas de irrigação.

Características das espécies de acordo com as condições climáticas e a

luminosidade

As plantas com maiores necessidades de calor ou que vivem em

zonas com dias mais curtos necessitam de um número mais elevado

de horas sem luz para iniciarem a floração.

As plantas com menores exigências de calor ou que crescem em

zonas com dias mais longos necessitam de um menor número de

horas de escuridão, em cada 24 horas, para induzir a floração.

Descrição de temperaturas óptimas para produtos hortícolas segundo

Markov-Haev

25 C° – melão, melancia

22 C° – tomate, beringela, pimento

18 C° – cebola, alho

16 C° – cenoura, ervilha, feijão

13 C° – couve, rabanete, hortícolas de folha larga

Variedades e selecção de culturas

Desde 31 de Dezembro de 2003 que constitui um requerimento da

produção biológica a necessidade de as variedades escolhidas deverem ser

obtidas a partir de sementes ou plântulas certificadas. A variedade

escolhida deve também ser reconhecida no mercado, apresentar produções

significativas, ter uma resistência a pragas e doenças, e ter um bom vigor

vegetativo e desenvolvimento da parte aérea de forma a conter as

infestantes. Algumas variedades têm características específicas, como por

exemplo, pêlos ou superfícies rugosas, que as tornam pouco “atractivas”

para as pragas.

36

Adequação ao mercado

É importante contactar os grossistas, os retalhistas e os exportadores de

produtos biológicos para saber o que o mercado procura e quando o

necessita. Alguns tipos de produtos hortícolas podem escassear em algumas

alturas do ano, e pode ser possível preencher essa lacuna sazonal no

mercado. Certos restaurantes e operadores de catering podem desejar

espécies específicas de hortícolas, como por exemplo, de pequena

dimensão, tipo “baby”. Mercados locais ou comércio na exploração podem

constituir uma possibilidade interessante, sendo neste caso aconselhável a

produção da uma vasta gama de produtos reconhecidos. Uma empresa de

processamento pode ser também outro destino possível: alimentos

biológicos tipo “baby”, têm uma procura crescente em vários países

europeus. De uma forma geral, as espécies destinadas ao processamento

são diferentes daquelas destinadas ao consumo em fresco, e este aspecto

deve ser analisado com cuidado. Provavelmente, os industriais terão as

suas próprias necessidades, que podem incluir variedades específicas,

quantidade e momento do fornecimento, forma, ou composição, como por

exemplo a percentagem da componente de sólidos solúveis no produto.

Adequação às condições ambientais de cultura

Uma vez tomada a decisão quanto ao que produzir, o próximo passo

consiste em escolher uma variedade adequada. É importante fazer alguma

pesquisa “local”: contactar o departamento de agricultura mais próximo,

outros produtores, e alguns viveiristas, para saber que variedades se

desenvolvem melhor na zona em causa. O tipo de solo e características

sazonais, como a duração do dia e a amplitude térmica podem determinar

as variedades a cultivar e quando cultivar. Pode também ser possível

modificar alguns factores ambientais para proteger as culturas ou alterar o

período de maturação das mesmas, usando, por exemplo, coberturas de

culturas (ou na linha), ou mesmo produção em estufa.

Pragas, doenças e resistência a infestantes

Entre as características varietais que podem dar à produção biológica uma

vantagem significativa estão a resistência intrínseca a pragas e doenças, o

vigor vegetativo, a existência de folhas largas, bem desenvolvidas

(provocando ensombramento nas infestantes) e a existência de frutos com

pêlos (como acontece em alguns tipos de cucurbitáceas). Podem ser

37

plantadas variedades em função do seu período de maturação de forma a

evitar a elevada incidência de pragas e doenças em períodos determinados.

Disponibilidade de sementes e de plântulas

De acordo com os critérios de certificação biológica, deve ser dada

preferência à utilização de sementes e plântulas oriundas de AB. Desde 01

de Janeiro de 2001 que tal procedimento está inscrito no Regulamento

Europeu da Produção Biológica. A partir de então, foi desenvolvida uma

base de dados com as características dos produtores e fornecedores de

sementes e plântulas biológicas. Variedades de polinização aberta ou não

híbridas são também preferíveis, mas não obrigatórias. As variedades

geneticamente modificadas (transgénicas) não são permitidas em AB. Deve

ter-se todo o cuidado no sentido de a semente ter uma correcta

germinação. Antes da introdução no solo, pode ser aconselhável semear

algumas sementes num recipiente e analisar a percentagem de germinação.

As sementes não podem ser tratadas com pesticidas químicos de pré-

sementeira.

Considerações sobre a utilização do espaço

No momento do planeamento da cultura alguns aspectos relacionados com

a utilização do espaço podem ser o tipo de linhas e o espaço entrelinhas, o

número de linhas por cama, e a eventual consociação com outras espécies,

as quais poderão funcionar como planta hospedeira ou armadilha.

Solo e nutrição das culturas

A maior parte dos produtos hortícolas desenvolve-se melhor em solos

argilosos, bem drenados, com um pH situado entre 6 a 6,5. É fundamental

uma análise prévia dos solos para identificar eventuais necessidades de

intervenção ao nível da sua estrutura ou da sua capacidade de fornecimento

de nutrientes. Provavelmente, antes da plantação/sementeira, serão

necessários alguns “ajustamentos” no solo para que este disponibilize os

nutrientes necessários à cultura em causa. O solo deve também ser

analisado de forma a despistar eventuais resíduos de pesti cidas ou

contaminação provocada por metais pesados. Neste caso, níveis

inaceitáveis podem excluir a produção da certificação biológica ou podem

38

excluir a produção de determinadas culturas, como os hortícolas de raiz. O

composto constitui um input nutricional essencial numa exploração agrícola

em AB, constituindo assim uma vantagem a possibilidade de facilmente se

poder ter acesso a uma fonte local de compostagem. O composto pode

incluir estrume animal e desperdícios de culturas efectuadas noutras

empresas agrícolas, mas, neste caso, os materiais utilizados deverão estar

livres (ou ter uma baixa incidência) de resíduos de pesticidas e de metais

pesados. Muitos organismos certificadores preferem o desenvolvimento de

sistemas que permitam que a compostagem numa determinada exploração

utilize apenas materiais obtidos nessa mesma exploração. O produtor

biológico deve destinar uma área da exploração para a produção de

composto, longe de depósitos e cursos de água, e com os cuidados devidos

para evitar a poluição.

Água

Deve existir uma fonte de água de qualidade e em quantidade, sendo

essencial assegurar o seu acesso, nomeadamente, confirmando esta

possibilidade junto das autoridades competentes. A água disponível deve

ser testada com vista a determinar a sua adequação para a irrigação;

também deve ser testada quanto a uma eventual contaminação química,

em particular, se essa água atravessa terrenos que não estão em AB, como

por exemplo, canais de rega e cursos de água naturais. O conteúdo em sais

da água deve também ser analisado antes da sua utilização.

Proximidade de explorações agrícolas que não estão em AB

Se existe um potencial de contaminação, os produtores biológicos devem

introduzir “zonas-tampão”, não certificadas, entre as áreas certificadas e as

propriedades adjacentes. As “zonas-tampão” podem ser constituídas por

“quebra-ventos”, corredores para vida selvagem, áreas com culturas não

certificadas, ou outras infra-estruturas ecológicas. Quando adequadamente

seleccionadas e instaladas, as zonas de vegetação complementar favorecem

a biodiversidade na exploração e atraem aves e outras espécies benignas

que auxiliam no controlo de pragas.

39

Transporte

É fundamental dispor de transporte de qualidade para escoar os produtos

frescos para o mercado. O transporte em causa poderá ter de ser

refrigerado se transportar produtos altamente perecíveis, e os operadores

logísticos devem estar conscientes de que o produto transportado é

biológico pelo que deverá ser isolado dos produtos convencionais, para

minimizar o risco de contaminação.

Equipamento e maquinaria

Muitas empresas de sucesso, com grande dimensão, vocacionadas para a

produção biológica de hortícolas utilizam uma larga gama de máquinas e

utensílios nas operações culturais. O equipamento necessário depende

largamente de cada situação. Alguns produtores cultivam vegetais em

canteiros (1,5 metros é uma largura comum), pelo que os tractores devem

ter elevada precisão e uma distância entre rodas adequada ao tamanho da

cama. Existe no mercado uma larga gama de equipamento agrícola para

viveiristas e produtores, designadamente para controlo de ervas

infestantes.

Monitorização de desempenho

A manutenção de registos da actividade agrícola é essencial e constitui

mesmo um requerimento do processo de certificação. Idealmente, todos os

canteiros devem estar numerados, e devem ser mantidos registos relativos

ao desenvolvimento das plantas, infestantes, incidência de pragas e

doenças e medidas de controlo usadas, sucessos e fracassos, resultados de

análises de solos, siderações, fertilizantes e outros inputs aplicados, e dados

climáticos. A informação deve ser guardada imediatamente após o fim da

operação a que reporta.

40

3.2. Gestão da fertilidade do solo

O fornecimento adequado de nutrientes pode ser realizado através do

sistema global de gestão do solo, o qual inclui a rotação de culturas, a

preparação do solo e o fornecimento de nutrientes (matéria orgânica). É

muito importante alcançar um nível elevado de actividade biológica no solo

através dos microrganismos vivos que o mesmo contém. A planta utilizará

assim os nutrientes resultantes da actividade dos microrganismos do solo

Fertilizantes

Na produção de hortícolas biológicos o composto da própria exploração

constitui a base da nutrição das plantas. A utilização de fertilizantes

artificiais de síntese e de fácil solubilidade é estritamente proibida (Reg. UE

889/2008, Anexo I). De acordo com este Regulamento, fertilizantes

minerais com menor grau de solubilidade podem ser utilizados, apenas se

não for possível implementar um plano de nutrição adequado, baseado na

rotação de culturas e no fornecimento de nutrientes pelo solo.

Adicionalmente, a sideração é uma solução a utilizar, funcionando no

quadro da rotação de culturas. A matéria orgânica com origem na

exploração é fundamental e constitui o princípio básico da agricultura

biológica, que assenta na existência de um ciclo fechado de operações e

intervenções agrícolas.

O aspecto mais importante no crescimento de produtos hortícolas em MPB é

o estrume de bovinos ou suínos, ou de outros animais da exploração, e o

composto obtido a partir desses estrumes e dos resíduos de plantas da

exploração. Antes de ser utilizado, o estrume da exploração deve ser

decomposto em condições aeróbias (curtido) para que o azoto existente se

torne mais estável e disponível numa perspectiva de fertilização de longo

prazo, e para que os organismos patogénicos sejam eliminados. Se

necessário, e com a autorização da entidade certificadora, podem também

ser aplicados fertilizantes minerais. A lista dos fertilizantes minerais

permitidos e de outros melhoradores da fertilidade do solo e da microflora,

está disponível no Reg. (UE) 889/2008, no seu Anexo 2. Exemplo:

carbonato de cálcio natural, sulfato de potássio, sulfato de cálcio, sulfato de

magnésio.

41

A Sideração é outro importante melhorador da estrutura e da composição

do solo, com forte impacto na produção de hortícolas biológicos. Sideração

significa produzir espécies adequadas ao terreno e enterrá-las no solo

quando o teor em nutrientes, definido em função do seu estado fenológico,

for o melhor. A sideração apresenta vários aspectos positivos, tanto ao nível

do solo como das culturas subsequentes. Permite o aumento de teor em

azoto do solo (através das espécies leguminosas) e favorece igualmente a

melhoria da sua estrutura. De igual modo, a sideração permite a cobertura

do solo, antes ou depois da cultura principal, e favorece o combate às

infestantes. Algumas das espécies utilizadas são importantes para quebrar o

ciclo de desenvolvimento de pragas e doenças no terreno, apresentando

forte capacidade nematodicida, como por exemplo algumas espécies

Crucíferas (de que é exemplo a mostarda).

No processo de sideração, as plantas são incorporadas no solo na fase de

floração, quando as leguminosas atingem o pico da fixação biológica de

azoto. Uma vantagem deste método consiste na possibilidade de reduzir a

lixiviação mineral, e de dificultar a conversão de elementos minerais em

formas não disponíveis; em simultâneo, a sideração pode fazer aumentar o

teor em húmus e enriquecer o solo com azoto. Em terrenos sujeitos a

erosão, a sideração protege o solo através de uma maior retenção da água.

Com o ensombramento do solo, as infestantes podem ser controladas e a

diminuição da evaporação pode favorecer a retenção da água. A sideração

melhora a estrutura do solo, na medida em que as raízes criam uma

estrutura fragmentada na camada mais elevada do solo, e pode ter um

efeito de drenagem que compense a redução de nutrientes que tem lugar

na actividade agrícola intensiva. A sideração pode ser efectuada como

sendo a cultura principal da rotação, utilizando leguminosas anuais,

beterrabas forrageiras ou pousios verdes.

A sideração pode também constituir a cultura secundária na rotação, sendo

implantada através de sementeira na entrelinha da cultura já instalada, ou

sobre o restolho da última cultura. Esta sementeira pode fazer-se através

de sementes compradas ou a partir duma parte do adubo verde que se

deixa produzir semente. Se as plantas se encontrarem no seu estadio

óptimo de desenvolvimento, serão enterradas cortadas, ou não cortadas, ou

deixadas sobre o terreno, como cobertura morta (mulching). O valor da

sideração é fortemente determinado pela profundidade que atingem as

raízes das espécies utilizadas, bem como pelo tempo que medeia entre a

sementeira e a incorporação no solo. No primeiro caso, o volume de raízes

existentes nos primeiros vinte centímetros do solo é particularmente

importante.

42

Compostagem

Durante o processo de compostagem os materiais orgânicos grosseiros são

transformados em húmus, sendo este constituído por macromoléculas

orgânicas. Os resultados variam de acordo com as condições de maturação

e do tipo de material utilizado. Dado que se podem obter compostos com

diferentes capacidades de fornecimento de nutrientes, o agricultor poderá

utilizá-los, como fertilizantes, em diferentes culturas. Todos os tipos de

resíduos de plantas (excepto os infectados) podem ser convertidos em

fontes benéficas de nutrientes, refazendo a estrutura do solo e revitalizando

a actividade biológica. A reciclagem de materiais orgânicos assume uma

importante função de protecção ambiental, enquanto o composto, quando

bem produzido, tem vantagens adicionais. O calor desenvolvido na pilha

durante o processo de compostagem melhora as condições de sanidade e

evita as infestantes, quando não mesmo elimina todas as sementes de

infestantes, e destrói os fungos causadores de doenças e outros esporos. Se

o processo de compostagem for devidamente controlado obtém-se um

fertilizante com um valor nutricional mais elevado que os materiais

grosseiros iniciais. O elevado número de microrganismos favorece a vida no

solo e melhora a gestão natural de nutrientes do sol. As perdas mínimas de

nutrientes, o baixo investimento, e as reduzidas necessidades energéticas,

tornam este processo numa forma economicamente vantajosa de

fornecimento de nutrientes. A compostagem superficial é uma espécie de

mulching nutritivo que requer um baixo investimento; todavia, é um

método pouco eficiente e pode ser acompanhado por elevadas perdas de

nutrientes. No processo de maturação em pilha é efectuada a mistura dos

materiais grosseiros triturados, tendo o cuidado de manter uma estrutura

que permita o fácil arejamento. Durante o processo de maturação, deve ser

garantido o arejamento e o teor adequado de humidade. Durante a

maturação do composto o arejamento deve ser assegurado porque, ao

contrário da maturação do estrume líquido (chorume) da exploração, o

composto é formado através de um processo aeróbico, mesmo que parte da

matéria-prima seja estrume. O composto é aplicado em menores

quantidades no terreno (em comparação com correctivos orgânicos não

compostados), no Outono e na Primavera, sendo incorporado perto da zona

das raízes e, ocasionalmente, directamente à volta das plantas.

43

A importância da cobertura do solo na produção de hortícolas -

Mulching

A cobertura do solo protege os terrenos contra o impacto das chuvas e os

efeitos de desidratação do sol e do vento. Esta protecção incrementa a vida

no solo e constitui também uma fonte de nutrientes para os

microrganismos. A cobertura do solo evita a concentração anual de

infestantes, quando não mesmo eliminando-as completamente, e favorece o

desenvolvimento de frutos saudáveis (por exemplo, morangos e melões).

Esta técnica é especialmente apropriada para regiões onde o Verão é

quente e seco. Podem referir-se os seguintes tipos de mulching:

Palhas ou relva cortada, usados em culturas de ciclo longo que requerem

elevadas quantidades de matéria orgânica e que crescem em grandes

espaços abertos: tomate; beringela; pimento; melão, couve, alho, abóbora,

pepino e alho-francês;

Filme biodegradável, que impede a proliferação de pragas e doenças

quando o solo é aquecido, permite a circulação do ar e da água, enquanto

impede o desenvolvimento de infestantes;

Materiais à base de papel, para morangos e outras culturas hortícolas.

3.3 Rotação e Consociação de plantas

A importância da rotação cultural

A rotação de culturas é a base da produção biológica, na medida em que a

sua complexidade e diversidade asseguram a estabilidade do ecossistema

agrícola. As principais funções da rotação de culturas são:

Assegurar o suficiente fornecimento de nutrientes;

Assegurar o auto-abastecimento de azoto através da introdução de

plantas leguminosas;

Minimização dos danos causados por ervas infestantes, pragas e

doenças e protecção contra essas mesmas infestantes, pragas e

doenças;

44

Manutenção da estrutura do solo e do teor adequado em matéria

orgânica

Deve ter-se em linha de conta que não existe um sistema de rotação de

culturas que possa ser utilizado em qualquer sistema de produção agrícola.

A produção biológica tem quase tantos sistemas de produção como a

agricultura tradicional e a rotação de culturas é utilizada de diferentes

formas para dar uma resposta a cada caso específico. Em alguns casos,

como por exemplo, na gestão de pastagens ou produção de plantas

perenes, não existe qualquer tipo de rotação, e assim, a diversidade

temporal é substituída pela utilização de diferentes espécies.

Definição de rotação de culturas

A rotação de culturas assume uma relevância determinante na agricultura

biológica. De facto, este método holístico permite a construção de um

adequado sistema de fornecimento de nutrientes, favorece a protecção das

plantas e facilita o uso do solo. A rotação de cultura constitui igualmente a

forma mais eficiente de alterar os impactos de longo prazo para que seja

possível a adequação das actividades da exploração aos requisitos da

ecologia e da sustentabilidade. A interacção planta/solo, bem como a

actividade de organismos auxiliares presentes no solo, são importantes

factores de melhoria da fertilidade dos solos e, por essa via, promotores de

um melhor contexto de desenvolvimento das plantas.

Os quatro elementos-base de um sistema de rotação de culturas

são: a composição das plantas; a proporção das plantas; a sequência das

plantas ao longo do ano agrícola ou de um conjunto de anos, e a rotação ao

longo da totalidade dos anos. Normalmente, ao conjunto das espécies

produzidas na exploração, ou nas suas áreas adjacentes, designa-se

composição das plantas. Recentemente, as explorações agrícolas têm vindo

a produzir um número cada vez menor de espécies, e desta forma,

simplificando a designada composição das plantas. Esta prática deve ser

alterada na produção biológica, dado que se pretende obter um nível

bastante mais elevado de biodiversidade.

A proporção das plantas diz respeito à percentagem de área ocupada com

determinadas espécies de plantas.

45

A sequência de plantas tem a ver com a composição e proporção das

mesmas, e a forma como se sucedem numa determinada área, num

determinado conjunto de anos.

Rotação significa o período durante o qual todas as plantas na rotação

foram cultivadas, em todas as secções, de acordo com uma determinada

sequência e que, no final da rotação, a formação inicial é de novo

retomada.

Objectivos da rotação de culturas

A rotação tem vários objectivos. Os mais importantes são:

Manutenção e incremento da fertilidade do solo;

Manutenção e melhoria da estrutura do solo;

Uso mais versátil e adequado do solo;

Protecção do solo contra a erosão e o esgotamento;

Controlo de ervas infestantes;

Acção preventiva contra pragas e doenças;

Prevenção contra contaminações desnecessárias do ambiente

Manutenção e melhoria da fertilidade do solo

A fertilidade do solo só pode ser alcançada através de um sistema de

produção baseado na rotação de culturas. O impacto desfavorável de certas

plantas ou grupos de plantas deve ser compensado com o impacto

favorável de outras plantas. A ervilha, a ervilhaca e o feijão deixam mais

raízes no solo e o seu restolho permanece nos terrenos mais tempo do que

o trigo de inverno ou milho; as leguminosas anuais, e algumas gramíneas,

deixam no solo uma massa de resíduos orgânicos ainda mais elevada.

Manutenção e melhoria da estrutura do solo

As plantas de folha larga podem reduzir a erosão provocada pela forte

pluviosidade ou os efeitos de desidratação resultantes do excesso de sol e

vento. O sistema radicular das plantas cultivadas tem um efeito positivo na

46

estrutura do solo. As plantas da família Papilionacea (Fabaceae), também

conhecidas como leguminosas, são as que asseguram um melhor efeito de

ensombramento, tendo os cereais um impacto positivo menor. A

consociação de leguminosas com gramíneas é ainda melhor.

Protecção do solo contra a erosão e o esgotamento

Uma das formas mais eficientes para proteger o solo contra a erosão e o

esgotamento consiste no mulching ou cobertura do solo. O objectivo

consiste assim em utilizar, designadamente, plantas que cubram o solo

durante o maior período possível, em particular, durante os períodos

críticos.

Controlo de infestantes

Um sistema de produção sem rotação de culturas “abre as portas” à rápida

proliferação de certas espécies infestantes. A rotação de culturas é de facto

o sistema de controlo de infestantes mais económico e eficaz.

Desenho da rotação de culturas na produção de hortícolas

Na produção hortícola podemos definir três tipos de rotações de culturas:

De acordo com as necessidades em nutrientes das espécies

Rotação de culturas irrigada

Rotação de culturas combinada – desenhadas sobretudo para

culturas arvenses, nas quais os produtos hortícolas ocupam apenas

20-30% do território

Rotação definida de acordo com as necessidades nutritivas

É uma forma tradicional de desenhar uma rotação de culturas na produção

biológica de hortícolas. O primeiro grupo a entrar na rotação, após a

estrumação, são as Brássicas (em especial as couves), as Solanáceas, as

Cucurbitáceas, o milho doce, o alho-francês e, por vezes, o aipo.

47

O segundo grupo, menos exigente em termos de nutrientes, é composto

por hortícolas de raiz, cebola e hortícolas de folha larga (com excepção do

aipo).

O terceiro grupo congrega espécies leguminosas anuais: ervilhas; feijões.

O quarto grupo inclui as plurianuais: espargos; ruibardo

A rotação permite que o solo possa descansar e, em simultâneo, quebra o

ciclo biológico de desenvolvimento de muitas pragas e doenças. Consiste de

facto no método natural de controlo de pragas e de manutenção da

estrutura do solo.

No momento da planificação de uma rotação de culturas devem ter-se em

consideração os seguintes aspectos:

Os hortícolas de folha para salada têm idêntica posição na rotação

que as culturas de raiz.

Um intervalo mínimo no cultivo de uma mesma espécie, significa

quatro anos para a maior parte das hortícolas.

A sideração ou a introdução de culturas intercalares melhoradoras

permitem obter boas condições de produção para todos os hortícolas

(com excepção dos que pertencem à mesma família).

Para sistemas de produção de hortícolas ao ar livre, a rotação de

culturas deverá reservar 20% para as culturas leguminosas.

A sequência na rotação

O desenho da rotação deve ter em consideração o tipo de hortícolas a

escolher e a relação que se estabelece entre si. Igualmente, é importante

considerar a sua importância no âmbito da fertilização e da quebra dos

ciclos de algumas pragas e doenças, como é o caso das pastagens e da

sideração. Algumas considerações suplementares a ter em conta são as

características do mercado para as espécies escolhidas, os recursos

disponíveis (mão-de-obra e equipamento), a economia da rotação, e o

papel dos animais (bovinos e ovinos), se estes fizerem parte do sistema

produtivo da exploração.

48

Regras da rotação – desenho temporal

Evitar repetir culturas da mesma espécie e da mesma família

botânica – existirá um potencial para o desenvolvimento de pragas e

doenças

Considerar a relação entre o tipo de rotação cultural e o controlo de

infestantes

Preceder culturas esgotantes do solo por culturas melhoradoras. As

leguminosas podem fornecer o azoto necessário para as culturas

subsequentes. Culturas com raízes profundas são capazes de

explorar uma área maior da reserva de nutrientes do solo.

Utilização de consociações

A consociação de culturas foi desenvolvida há já muito tempo, baseada nas

experiências dos produtores que misturaram espécies hortícolas entre elas

e com outras espécies. Esta prática é vantajosa e tem hoje em dia um forte

suporte científico.

Vantagens das consociações

Melhor utilização da área disponível

Maiores produções

Cobertura do solo

Interacções entre plantas

Desvantagens das consociações

Maiores exigências ambientais

O produtor deve conhecer bem as necessidades das plantas utilizadas

No processo de definição e implementação da consociação, o produtor

poderá utilizar as interacções positivas que se desenvolvem entre as plantas

para influenciar a germinação, o crescimento, a fertilização e a formação de

49

frutos, e influenciar (negativamente) o surgimento e desenvolvimento de

pragas e doenças.

Existem diversas formas de promover o cultivo de consociações.

Frequentemente este processo é usado em pequena escala, em hortas e

pequenas explorações agrícolas, mas pode ser implementado em média e

larga escala, mesmo em explorações fortemente orientadas para o

mercado. A questão fundamental consiste em seleccionar o método

apropriado tendo em consideração a dimensão da exploração e os

objectivos que pretende alcançar.

Tipos de consociações

Plantação na linha de acordo com o método de Gertrud Frank (adequado

para hortas caseiras e produções hortícolas de ar livre, com pequena a

média dimensão)

Canteiros sobrelevados

Cultivo em forma de faixa (nas explorações de grande dimensão os faixas

são tão largas quanto o possibilitarem as alfaias e as máquinas utilizadas)

Culturas em linha intercaladas (utiliza-se em produções de pequena a

média dimensão e implica mecanização)

3.4. Pragas, doenças e infestantes

Método

Prevenção Protecção

Métodos de

produção

Livre de

infecções Biológico Físico

Uso de produtos químicos

autorizados

Ferramen

ta

Selecção do local

Material de

propagação

Viroses Recolha Bactericidas e

fungicidas

Produtos

ligeiros de

protecção de

plantas

Cultivo do solo Solo Bactéria Atracção Insecticidas Extractos de

plantas

Gestão de nutrientes Água de

irrigação

Fungos Alerta Acaricidas Óleos de

plantas

Rotação de culturas Artrópodes Tratamento com

calor

Óleos voláteis

Sementeira

Período vegetativo

Vertebrados Mudança de

agente

Densidade da cultura Anfíbios

Répteis

Inibição com

ferramenta

Selecção das

variedades

Aves

Mamíferos

50

Destruição de plantas

infectadas

Eliminação de

vectores

Método de luta

autocida

Os métodos de protecção de plantas aplicados na agricultura biológica são

sobretudos orientados no sentido da prevenção. As ferramentas para

prevenção são sensivelmente as mesmas que as utilizadas na protecção

convencional de plantas, mas a sua importância, neste caso, é múltipla e

determinante, na medida em que muitas das falhas registadas na

agricultura biológica não podem ser remediadas mais tarde, com outras

técnicas de protecção. Na tabela acima são apresentados os mais

significativos métodos e ferramentas de prevenção e protecção. Todavia, é

preciso sublinhar que na agricultura biológica, não podem existir produtos

para a protecção das plantas com tratamentos previamente calendarizados,

tal como não há tecnologias de produção de plantas estandardizadas. Assim

sendo, é necessário encontrar uma solução adequada para cada caso,

definindo as espécies e as variedades mais ajustadas, os melhores locais e

as tecnologias mais correctas e adaptadas. As soluções podem ser

encontradas e construídas usando os diferentes métodos e ferramentas

aplicáveis na protecção de plantas em AB.

Os métodos de protecção física são os seguintes: 1) alterar a composição

do meio ambiente, por exemplo em zonas de armazenamento, substituindo

o oxigénio (por CO2 ou Azoto); 2) isolamento das áreas de armazenamento

(montagem de grades e redes mosquiteiras); 3) cobertura individual dos

frutos (evitando moscas, traças, etc.); 4) o uso de redes ou manta térmica

sobre as plantas, evitando a maior parte das pragas (lagartas das couves,

pulgões ou piolhos das plantas, traças, etc.) pode mantê-los afastados das

plantas cultivadas; 5) proteger fisicamente os caules das árvores para

evitar danos mecânicos.

Protecção química: se a protecção biológica, preventiva ou física não for

suficiente para garantir a segurança da produção, poderão ser usados

certas substâncias químicas de protecção. Os produtos destinados à

protecção das plantas na agricultura biológica estão referenciados numa

“lista positiva”. Os produtos químicos registados em “listas positivas”

podem ser aplicados, mas, neste caso, apenas com a permissão da entidade

certificadora (Reg. UE 889/2008, Anexo II).

51

Soluções práticas na protecção de hortícolas

Controlo biológico natural. No caso de produtos hortícolas de ar livre, é

fundamental uma gestão atenta e cuidada do sistema agro-ecológico.

Quanto mais diversificado este for maior será o equilíbrio entre as pragas e

os respectivos inimigos naturais, presentes no local de produção. Os mais

importantes organismos e insectos auxiliares na protecção natural das

plantas são: ácaros predadores (fitoseídeos); insectos predadores como as

joaninhas e os sirfídeos, e; insectos himenópteros parasitóides.

Na produção hortícola, assume particular importância o isolamento de

fontes passíveis de provocar pragas, o que pode ser conseguido utilizando

diferentes tipos de redes de insectos, em particular, durante os transplantes

de plantas jovens da família das Crucíferas. No caso das couves, a mosca

da couve (Phorbia brassicae) pode provocar sérios prejuízos na Primavera,

sendo a cobertura do solo com filme plástico uma solução. Outra praga

importante é a áltica ou pulga das couves (Phyllotreta spp), sendo

aconselhável o uso de redes adequadas para proteger as plantas jovens.

Controlo biológico activo. Consiste em libertar e introduzir insectos

auxiliares ou microrganismos ou seus derivados como o Bacillus

thuringiensis (Bt). Este último pode ajudar prevenindo e evitando os

prejuízos causados pelas larvas das borboletas, e o Bt. var. tenebrionis

pode ser utilizado contra o escaravelho-da-batateira. Substâncias

autorizadas, como preparações à base de óleos, são utilizadas contra

afídeos, moscas brancas, e o aranhiço vermelho.

Produção em estufas. Existe no mercado um largo conjunto de insectos e

ácaros auxiliares para utilização em culturas de estufa como meio de luta

biológica. Por exemplo, Encarsia formosa contra a mosca-branca, e o ácaro

predador Phytoseulus persimilis contra o aranhiço-vermelho. Contra os

afídeos, podem ser usadas os himenópteros predadores Aphidius colemani e

o díptero predador Amphibolites aphidomyza.

Doenças provocadas por fungos. A ocorrência de doenças provocadas

por fungos depende sobretudo das condições micro-climáticas do local, e da

susceptibilidade ou capacidade de resistência da variedade seleccionada. A

52

importância da rotação de culturas na protecção das plantas já foi atrás

enfatizada, devendo esta técnica ser tida em especial atenção.

Método biológico. Preparados de microrganismos de solo com espécies

antagonistas (Trichoderma harzianum, Coniothirum minitrans, Steptomices

griesoviridis bacterium) dos fungos e nemátodos patogénicos,

desempenham também um importante papel contra as doenças e os

nemátodos que se desenvolvem no solo. A relevância das culturas de

cobertura e da sideração decorre fundamentalmente da sua capacidade em

quebrar o ciclo de desenvolvimento das doenças.

Os biopesticidas autorizados na agricultura biológica estão definidos de

acordo com o Regulamento da Comissão 889/2008, Anexo II. Uma das mais

importantes doenças provocadas por fungos é o míldio do tomate e da

batata; presentemente, podem ser aplicados produtos à base de cobre para

combater esta doença. Em agricultura biológica na UE, as quantidades

máximas de cobre aplicáveis ao solo não excedem os 6 Kg/ha e alguns

países tem valores mais baixos para a agricultura em geral.

Tabela 1 - Produtos usados contra patogéneos na produção hortícola

Produto Organismo auxiliar Organismo-alvo; local de aplicação

Koni Coniothyrium minitans (fungo) míldio

Mycostop Streptomyces griseoviridis (bactéria) fusário

Trichodex WP Trichoderma harzianum (fungo) Antracnose, alternariose

Tabela 2 - Produtos utilizados contra as pragas em horticultura

Produto Organismo benéfico Organismo-alvo; local de aplicação

Bactucid P Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Larvas de borboletas (lagartas)

Dipel e Dipel ES Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Larvas de borboletas (lagartas)

Eco-Bio Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Larvas de borboletas (lagartas)

Encarsia-sheet Encarsia formosa (himenópteros da

superfamília Chalcidoidea)

Mosca-branca das estufas

En-Strip Encarsia formosa (himenópteros da

superfamília Chalcidoidea)

Mosca-branca das estufas

Novodor FC Bacillus thuringiensis var. tenebrionis

(bactéria)

Escaravelho-da-batateira,

escaravelho-das-folhas

Thuricid HP Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Larvas de borboletas (lagartas)

53

3.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte

Alfaces

Armazenamento em atmosfera normal

Temperaturas de 0ºC e humidade relativa superior a 95% são condições

ambientais necessárias para optimizar o período de armazenamento das

alfaces. Nestas condições, é possível que as alfaces possam ter um período

de vida útil de 21 a 28 dias. Com temperaturas de 5ºC pode esperar-se um

período de vida útil de 14 dias, desde que não exista etileno no ambiente. O

arrefecimento em vácuo é frequentemente utilizado para a alface iceberg,

mas o método de arrefecimento com ar forçado pode também ser usado

com sucesso. O arrefecimento em vácuo, com aspersão do produto, ou o

método de hidroarrefecimento, são frequentemente usados na alface

romana, mas o arrefecimento com ar forçado pode também ser utilizado.

Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada

Podem ser alcançados alguns benefícios ao nível do período de conservação

quando se registam baixos níveis de oxigénio na atmosfera (1-3%) e

temperaturas de 0-5ºC. Baixos índices de oxigénio reduzem os níveis de

respiração e diminuem os efeitos prejudiciais do etileno. Com percentagens

de O2 inferiores a 2%, pode verificar-se a presença de CO2 e a ocorrência

de lesões (alterações fisiológicas, manchas escuras). Todavia, a alface

cortada para produtos de quarta gama, por exemplo, é normalmente

embalada em atmosferas com baixo teor em O2 (inferior a 1%) e elevados

níveis de CO2 (10%), porque estas condições evitam o acastanhamento nas

superfícies cortadas. Em porções de alface, o acastanhamento das

superfícies de corte ocorre de forma mais rápida e extensiva do que o

surgimento das manchas castanhas provocadas pelo CO2.

Couve-flor e brócolo

Armazenamento em atmosfera normal

A couve-flor e o brócolo podem ser armazenados a 0ºC e 95-98% de

humidade relativa durante três semanas, e a 5ºC durante duas semanas.

54

Após estes períodos, é possível o surgimento na couve-flor de manchas

acastanhadas e o amarelecimento e queda das folhas. O amarelecimento, é

o principal problema dos brócolos. Lesões provocadas pelo frio podem

iniciar-se a –0,8ºC na couve-flor e a –1ºC no brócolo.

Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada

Para a couve-flor, a permanência em atmosferas controladas ou

modificadas apresenta benefícios reduzidos ou médios. As lesões

provocadas por baixos níveis de O2 (inferiores a 2%) ou elevados teores de

CO2 (superiores a 5%) podem não ser visíveis a olho nu, e surgirem apenas

após a preparação culinária. Quando a parte branca da couve-flor se torna

acinzentada e extremamente macia, emite um forte odor. Níveis elevados

de CO2 (superiores a 10%) poderão provocar este tipo de lesão, a qual

acontecerá num espaço de 48 horas. A conjugação de baixos níveis de O2 e

de níveis ligeiramente elevados de CO2 (3-5%), atrasa o amarelecimento

das folhas e o surgimento de zonas acastanhadas na parte branca da

couve-flor (os primórdios florais), por alguns dias. Em consequência, é

recomendada uma taxa elevada de arejamento em transportes

convencionais de brócolos (sobretudo se em longas distâncias). A maior

parte das embalagens em atmosfera modificada de brócolo é definida de

forma a manter, tanto os níveis de O2, como de CO2, em cerca de 10%,

para evitar o desenvolvimento destes voláteis indesejados.

Pepino

Armazenamento em atmosfera normal

Os pepinos são sensíveis ao frio e devem ser armazenados a 10–12,5ºC,

com uma humidade relativa de 95%. O ciclo de armazenamento do pepino

é geralmente inferior a 14 dias, período a partir do qual o seu aspecto e a

sua qualidade sensorial se deterioram rapidamente. O emurchecimento e o

amarelecimento aumentam normalmente após períodos de armazenamento

de duas semanas, especialmente depois da sua introdução nas condições

típicas de retalho. São normalmente utilizados curtos períodos de

armazenamento, ou baixas temperaturas de transporte (por exemplo,

7,2ºC), mas, normalmente, estes procedimentos resultam em lesões

provocadas pelo frio, após dois ou três dias. Estas lesões podem traduzir -se

no aparecimento de manchas aquosas nos frutos, surgimento de sulcos e

rápida senescência.

Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada

55

O transporte ou o armazenamento em atmosfera controlada ou modificada

constitui um benefício reduzido ou médio para a manutenção da qualidade

do pepino. Baixos níveis de oxigénio (3-5%) atrasam o amarelecimento dos

frutos e o processo de senescência, em apenas alguns dias. O pepino tolera

níveis elevados de CO2 (em atmosfera controlada), acima de 10%, mas o

seu período de vida útil não se prolonga para além daquele que resulta dos

benefícios inerentes à incidência de baixos níveis de O2.

Tomate

Armazenamento em atmosfera normal

Tomates com um estado de maturação adequado podem ser armazenados

até 10 dias, com temperaturas de 10 a 12ºC e uma humidade relativa de

90 a 95%. O tomate é sensível a temperaturas baixas, situadas abaixo de

10ºC, se manuseados para além de duas semanas, ou a 5ºC, para períodos

superiores a 6-8 dias. Podem considerar-se lesões provocadas pelas baixas

temperaturas o deficiente amadurecimento e a incapacidade em

desenvolver todo o potencial de sabor e cor, o aparecimento de manchas

com diferente coloração, o amolecimento precoce, o surgimento de

pequenos sulcos na superfície dos frutos (pitting), e crescente senescência

(especialmente por bolores negros causados por Alternaria spp.). As lesões

provocadas pelas baixas temperaturas são cumulativas e podem iniciar -se

antes da colheita dos frutos.

Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada

O transporte e o armazenamento do tomate em atmosfera controlada

oferecem um nível moderado de benefícios. Baixos níveis de oxigénio (3-

5%) atrasam a maturação e o desenvolvimento de fungos na superfície dos

frutos e nos pedúnculos, sem no entanto apresentarem um impacto

significativo em termos sensoriais para a maior parte dos consumidores.

Níveis de CO2 elevados, acima de 3 a 5%, não são tolerados pela maior

parte das variedades, causando lesões evidentes. Reduzidos níveis de O2

(1%) podem causar sabores inesperados, odores desagradáveis, e outros

defeitos, como por exemplo o surgimento de manchas internas

acastanhadas.

56

Pimento

Armazenamento em atmosfera normal

O pimento deve ser arrefecido o mais depressa possível para reduzir as

perdas de água. Quando armazenado a temperaturas superiores a 7,5ºC, o

pimento perde água e o fenómeno de emurchecimento acentua-se. O

armazenamento a 7,5ºC é o indicado para um período de vida útil máximo

(3 a 5 semanas); o pimento pode ser guardado a 5ºC durante duas

semanas, e, embora este procedimento reduza as perdas de água, as

lesões provocadas por frio iniciar-se-ão após aquele período. Podem

considerar-se como sintomas provocados pelas baixas temperaturas o

surgimento de sulcos nos frutos (pitting), senescência, descoloração da

cavidade que contém as sementes e amolecimento sem perda de água. Os

pimentos coloridos ou num bom estado de maturação, são menos sensíveis

ao frio do que os pimentos verdes. O armazenamento em atmosfera

controlada não apresenta efeitos benéficos significativos na fase de pós-

colheita dos pimentos.

Métodos simples e económicos de armazenamento

Quantidades mais pequenas de produtos hortícolas podem ser armazenadas

em caves (suficientemente frias e húmidas), em espaços frios adequados, e

em covas. Nas regiões mais frias, as hortícolas de raiz e as pertencentes ao

género Brassica podem ser agrupados aos molhos e armazenados em

covas, ou no chão, cobertos por uma camada de solo. Os vegetais

permanecem sobre a areia ou palhas. Depois são cobertos por uma camada

de solo. As culturas podem ser danificadas por geadas severas durante o

Inverno.

Transporte de produtos hortícolas

Enquanto normalmente os produtos hortícolas crescem nas zonas rurais, os

consumidores desses produtos vivem em cidades ou nas grandes

metrópoles. O transporte destes produtos necessita assim, em muitos

casos, de logística e rigor nos prazos a cumprir. Quando se trata de

pequenas distâncias, carrinhas ou veículos com ar condicionado são

suficientes. Para distâncias mais longas e maiores quantidades, é necessária

a utilização de camiões com estruturas de refrigeração mais eficazes.

57

3.6. Exemplos práticos (Solanáceas)

Exemplo de Solanáceas

O tomate de mesa típico é sobretudo produzido em estufas, especialmente

nas regiões mais chuvosas, devido à sua elevada susceptibilidade ao míldio

das solanáceas (Phytophthora infestans). O tomate para indústria também

se desenvolve bem em estufas, mas normalmente é produzido ao ar livre

devido à sua baixa densidade de plantação. O cultivo com recurso a

sistemas de produção controlada é mais caro e apenas justificável no caso

de vendas na própria exploração ou produção em zonas desfavoráveis,

como é o caso das regiões com elevada pluviosidade, que favorecem o

desenvolvimento de Phytophthora infestans. Em oposição a esta situação,

muitos agricultores conseguem continuar a produzir tomate em áreas com

altas temperaturas, mesmo no Inverno, como é o caso da ilha de Creta.

Tanto o pimento como a beringela podem ser produzidos em estufas ou ao

ar livre, dependendo das especificidades do mercado. Todavia, nas áreas

fortemente infestadas com a variante europeia da broca do milho (Ostrinia

nubilalis), o pimento é frequentemente produzido em estufas.

Necessariamente, nas aberturas existentes são instaladas redes à prova de

insectos. Ao ar livre, devem ser escolhidas variedades de pimento capazes

de tolerar o sol (sobretudo, as queimaduras solares).

Os abelhões (Bombus terrestris) são muito utilizados na polinização do

tomate para consumo em fresco. No final do Inverno, princípio da

Primavera, é frequentemente aconselhável proteger as plântulas contra as

baixas temperaturas nas estufas através de pequenos túneis de polietileno

ou de outros materiais protectores até que as plantas atinjam um maior

estadio de desenvolvimento e que o risco de geadas termine. Ao ar livre, as

Solanáceas beneficiam muito da cobertura das linhas (possível através do

emprego de filmes de celulose ou de amido de milho biodegradável),

combinado com palhas. A rega gota-a-gota deve ser sempre adoptada. A

rega por aspersão deve ser evitada, porque a aspersão favorece a infecção

por patogéneos como por exemplo os fungos e as bactérias (ver Tabela 2),

particularmente a Phytophthora infestans, no caso do tomate.

Frequentemente, o controlo da humidade no solo é mais fácil através da

rega gota-a-gota, prevenindo assim o stress hídrico. Este, favorece o

emurchecimento, prejudica a coloração dos frutos e atrasa o crescimento

58

dos mesmos, especialmente no tomate e no pimento. A beringela é a

cultura que menos afectada é com a irrigação por aspersão.

Tabela 3 – Organismos do solo que atacam as Solanáceas

Fusarium spp., Rhizoctonia

solani

Pyrenochaeta

Iycopersici

Thielaviopsis

basicola

Phytophthora

capsici

Nematoda

Verticillium spp.

Pimento X X X X X X

Tomate X X X X X

Beringela X X X X X X

Batata X X X

Tabela 4 - Patogéneos das Solanáceas favorecidos pela irrigação por aspersão

Tomate Pimento Beringela Batata

Phytophthora infestans X X

Cladosporium fulvum X

Alternaria spp. X X X X

Bactérias (várias espécies) X X X X

Exemplo da cultura do tomate

i. Valor Nutricional do tomate

O tomate constitui a fonte de muitos minerais essenciais (potássio, cálcio,

fósforo), vitaminas (vitamina A e C, sobretudo), ácidos orgânicos, açúcar, e

proteínas. O seu teor em energia é de apenas 80 J (19 cal) por 100 gramas

de produto fresco.

ii. Importância económica do tomate

No ano de 2009, a cultura do tomate ocupou uma área global de 4,5

milhões de hectares, o que significa cerca de 9% da área total dedicada à

produção de hortícolas. 125 Milhões de toneladas de tomate foram

produzidos nesta área, ou seja, 14% de todos os produtos hortícolas.

China, EUA, Espanha, Itália, Egipto, Turquia, Brasil e Grécia são os maiores

59

produtores de tomate. México, Turquia, Espanha e Holanda são os maiores

exportadores mundiais de tomate fresco. Os EUA, a Rússia, a UE e o

Canadá são os responsáveis pela maior parte das exportações. 40% da

produção obtida é transformada.

iii. Taxonomia do tomate

O tomate pertence à família das Solanáceas e o seu nome científico mudou

várias vezes no passado. Actualmente, o seu nome oficial é Lycopersicon

lycopersicum (L.) KARSTEN. O género Lycopersicon pode ser dividido em

dois subgéneros: o de fruto vermelho Eulycopersicon e o de baga verde

Eriopercicon.

iv. A morfologia, a botânica e a biologia da floração do tomate

Raízes: o tomate apresenta fortes raízes perpendiculares no início do seu

crescimento, desenvolvendo-se posteriormente fortes raízes laterais. Na

família das Solanáceas apenas o tomate desenvolve raízes adventícias.

Caule: O tomateiro é uma espécie anual. Consoante as diferentes

variedades também poderemos encontrar distintas disposições e

características ao nível da quantidade, tipo e posição dos pêlos, extensão

dos entre-nós, e na própria posição do caule. Em função do

desenvolvimento do caule podem distinguir-se dois tipos fundamentais:

variedades de crescimento indeterminado ou indefinido, e; variedades de

crescimento determinado ou definido. Actualmente, a utilização de

variedades de crescimento indeterminado ou indefinido está em franco

desenvolvimento. Nestas variedades, o caule principal está em constante

crescimento devido à existência permanente de um meristema no seu

ápice. Entre duas inflorescências (grupadas) desenvolvem-se normalmente

três folhas. Em variedades específicas, cresce uma flor no final do rebento

principal. Estas variedades podem ser divididas em três subgrupos,

dependendo do número de inflorescências que terminam o rebento final e

do número de folhas que se desenvolvem entre as inflorescências.

60

v. Necessidades ambientais do tomate

Necessidades de luz: Tanto a intensidade luminosa, como a sua duração

e qualidade influenciam o desenvolvimento do tomateiro. Normalmente, é

necessário um mínimo de 5000 lux para um adequado desenvolvimento

desta espécie. Pelo menos, são necessárias 10 horas para uma adequada

floração. O tipo de luminosidade também afecta o crescimento do

tomateiro. Por exemplo, a luz vermelha favorece o alongamento da planta,

enquanto a luz azul, dificulta esse processo.

Necessidades de temperatura: O tomate pertence ao conjunto de

plantas que apreciam o calor, situando-se a temperatura óptima para o seu

desenvolvimento entre 22±7ºC. O tomate necessita de diferentes

temperaturas em função do seu estado fenológico. Embora apresente,

apesar de tudo, uma boa tolerância ao frio, sofre ligeiras lesões com

temperaturas de -1 e -2ºC, e lesões graves, com temperaturas iguais ou

inferiores a -3ºC.

Necessidades de água: Devido ao elevado número de folhas e à intensa

transpiração, o tomateiro utiliza elevadas quantidades de água durante a

sua longa estação de crescimento. Embora as suas necessidades hídricas

sejam elevadas, dado que possui um sistema radicular profundo e bem

desenvolvido, utiliza efectivamente a água que consome.

Necessidades em nutrientes: O tomateiro é muito exigente em termos

de nutrientes e, no caso da agricultura biológica, os nutrientes deverão ter

uma origem igualmente biológica. (estrume e composto) Azoto: um excesso

de fornecimento neste mineral conduz a um desenvolvimento exuberante

da planta e a uma produção insuficiente; a deficiência em azoto tem como

consequência um menor crescimento do sistema foliar. É muito exigente em

potássio e cálcio.

vi. Produção ao ar livre de tomate

Aspectos relacionados com a escolha da variedade: Mais do que

qualquer outra espécie hortícola, o tomate apresenta múltiplas variedades

cultiváveis (por exemplo, na Hungria, há cerca de 200 variedades). Na

produção de ar livre, em particular para a indústria transformadora, são

usadas variedades de desenvolvimento determinado ou definido (nestes

casos, a existência de uma inflorescência terminal bloqueia o crescimento

do caule principal). Os frutos destas variedades pesam entre 80 a 100

gramas, são consistentes e alongados, e a sua superfície é macia. Em

61

termos gerais, hoje em dia, todas as variedades desenvolvidas para a

colheita mecânica permitem a recolha dos frutos sem os respectivos

pedúnculos. Igualmente, é também importante que estas variedades

apresentem boa coloração, elevado teor em matéria seca e capacidade de

resistência a doenças. No caso de a produção recorrer a sistemas de

tutoragem, o desenvolvimento da planta deve terminar quando a mesma

apresentar 8 a 10 inflorescências. As variedades a utilizar devem ser do tipo

determinado ou definido e apresentarem forte vigor. A apresentação de um

elevado índice de fecundidade é também um aspecto muito importante a ter

em conta, bem como a necessidade de os frutos não apresentarem fissuras.

Preparação do solo e fornecimento de nutrientes: O cultivo do tomate

inicia-se com uma lavoura profunda de Outono e a preparação termina na

Primavera. O tomate necessita de estrume orgânico, o qual deverá ser

introduzido no solo com a lavoura de Outono. No que diz respeito aos

minerais, o tomate necessita aproximadamente das mesmas quantidades

de fósforo, azoto e potássio. Todavia, antes da sua aplicação, devem ser

feitas análises ao solo. Para o fornecimento de nutrientes, o estrume

orgânico e o composto, ambos produzidos na exploração, constituem a

melhor solução.

Propagação: Em muitos casos, o tomate é cultivado por sementeira ou por

transplante de plântulas de viveiro (mudas). Actualmente, as duas

tecnologias são usadas de forma equivalente.

Cultivo do solo: É necessária a constante mobilização do solo para o

tornar mais “solto”, para manter o seu teor em humidade e também para

favorecer a mistura dos nutrientes. Cobertura do solo: em produção de ar

livre, constitui um método muito eficiente para poupar água e para suprimir

as infestantes (ver capítulo sobre Mulching). Os materiais mais eficazes a

utilizar são palhas, telas plásticas, restos de madeiras, cascas de árvores, e

alguns tipos de papel.

Irrigação: A produção de tomate pode registar um incremento de 10 a

15% através de uma simples irrigação. No caso de irrigação contínua e

regular, o fornecimento de água pode fazer aumentar a produção em cerca

de 40 a 50%. Cerca de 100 mm de água são necessários para que se

processe um desenvolvimento continuado do tomateiro. A rega regular

aumenta a percentagem dos frutos de primeira categoria.

62

Colheita: Após a floração, os frutos necessitam de 30 a 40 dias para

atingirem a sua dimensão final. Este período varia necessariamente em

função da variedade utilizada e das condições específicas de produção.

Posteriormente, deverão decorrer mais 21 a 28 dias até ao

amadurecimento. A colheita manual do tomate em fresco deve iniciar-se

quando cerca de 50% dos frutos estão maduros. No caso da colheita

mecânica, aquela percentagem sobe para 80%. As máquinas recolhem

todos os frutos, pelo que será necessário que trabalhadores seleccionados

ou máquinas específicas que removem os frutos verdes. No caso de uma

única colheita, os frutos devem ser recolhidos sem pedúnculos.

vii. Forçagem da produção de tomate

Aspectos relacionados com a escolha da variedade: Um importante

objectivo de investigadores e viveiristas consiste em melhorar o sabor dos

frutos, e isto significa sobretudo o incremento dos teores em açúcar e ácido.

Forçagem precoce: O tomate é plantado algures entre a segunda metade

de Janeiro e o princípio de Fevereiro, e colhido a partir da primeira metade

de Abril. Forçagem semi-precoce: a plantação é feita nos finais de

Fevereiro, e a colheita a partir de meados de Abril. Os tomateiros devem

ser plantados com uma temperatura entre os 20 e os 25ºC em ambientes

controlados. A produtividade poderá alcançar os 30 kg/m2. Cultura longa:

neste caso, a produção não é interrompida no Verão, e poderá prolongar -se

por 10 a 11 meses, dependendo do momento da plantação. A produtividade

pode alcançar 40 a 60 kg/m2. Dupla utilização: o tomate pode ser

plantado após espécies hortícolas de colheita precoce (alface, rabanete,

cebolinho, salsa e sálvia).

Problemas com a protecção das plantas: Uma doença comum no

tomate é o vírus do mosaico do tabaco. Várias formas de míldio e oídio são

também comuns no tomate. As doenças mais comuns são assim, o míldio, o

oídio, a verticiliose, a fusariose, a alternariose, e o vírus do mosaico do

tabaco. Pragas importantes: nemátodos. Outras doenças importantes são o

vírus curly top, provocado pela cigarrinha da beterraba sacarina. Algumas

pragas comuns no tomateiro são: aranhiço vermelho; mosca-branca;

afídeos (pulgões); lagarta-do-tomate; lagarta-mineira-do tomate.

Investigação recente detectou alguns mecanismos de auto-defesa do

tomateiro. Assim, quando as plantas são atacadas produzem sistemina,

63

uma hormona peptídica, que activa mecanismos defensivos, tais como a

produção de inibidores de protease, que atrasam o crescimento dos

insectos.

Colheita e preparação para o Mercado. Após a colheita, a maturação

continua devido à libertação de etileno. O período de vida útil do tomate é

usualmente de 7 a 10 dias, dependendo sobretudo da temperatura. As

caixas e superfícies destinadas ao acondicionamento do tomate devem ser

construídas com materiais leves.

64

4. Bibliografia e documentação

Basile, S., Radics, L., Szalai, Z., Pusztai, P., Kormány, A., Moudry, J.,

Kovalina, P., Bavec, M., Globernik Mlakar, S., Toth, P., Tothova, M., Luik,

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http://www.nysipm.cornell.edu/organic_guide/

66

5. Glossário

BACILLUS THURINGIENSIS. Em agricultura biológica, é a preparação

bacteriana mais utilizada (é eficiente contra muitas espécies das ordens

Lepidoptera e Coleoptera, Diptera, etc.).

LUTA BIOLÓGICA. Significa a utilização de organismos vivos, ou seus

derivados, contra outros organismos vivos. Os designados “inimigos

naturais” ou “auxiliares” servem para manter as populações de pragas

fitófagas dentro de limites aceitáveis, e, consequentemente, aumentar o

número de espécies existentes no sistema agroecológico. Desta forma, este

torna-se mais complexo, diverso e estável. Os organismos auxiliares podem

ser mantidos ou introduzidos no sistema agrícola pelo agricultor.

COMPOSTAGEM. Reciclagem de biomassa efectuada na própria

exploração. Durante a compostagem, os resíduos orgânicos grosseiros são

transformados em húmus, o qual é genericamente composto por moléculas

de grande dimensão.

CULTURAS DE COBERTURA (EM ARRELVAMENTO OU EM

SIDERAÇÃO). Consiste em plantar uma cultura, não necessariamente para

ser colhida, durante os meses em que o solo usualmente está descoberto.

Desta forma, é impedida a proliferação e a disseminação de infestantes.

INSECTOS ENTOMÓFAGOS. São os principais agentes usados na luta

biológica. Podem ser classificados tanto como predadores como

parasitóides, sendo as suas características específicas condicionadoras da

sua eficácia. Predadores são organismos que atacam e se alimentam de um

número determinado de exemplares da praga. Alguns deles são predadores

durante todo o seu ciclo de vida (fitoseídeos, mirídeos, coccinelídeos e

antocorídeos), enquanto outros apenas o são na sua fase larval (sirfídeos,

cecidomídeos). Os parasitóides são parasitas durante os seus estados

imaturos, quando as larvas se desenvolvem dentro (endoparasitas) ou

sobre (ectoparasitas) o seu hospedeiro, provocando sempre a morte deste.

MONDA TÉRMICA. Consiste num método de luta contra ervas infestantes;

a exposição de plantas indesejáveis a altas temperaturas provoca um

choque térmico nos tecidos vegetais e uma deterioração irreversível da

funcionalidade da planta, a qual morre em dois ou três dias, sem que seja

incinerada. Neste método, recorre-se com frequência a queimadores

alimentados a GPL.

67

SIDERAÇÃO. Prática que consiste em semear uma espécie estreme, ou

uma mistura de espécies herbáceas, não tendo como objectivo final a

colheita mas sim a incorporação no solo da biomassa verde obtida.

HÚMUS. Matéria orgânica bem decomposta que é resistente a posteriores

decomposições e que pode manter-se por centenas de anos. O húmus

armazena alguns nutrientes, podendo libertá-los lentamente para as

plantas.

CONSOCIAÇÃO. Produção de duas ou mais culturas em simultâneo, no

mesmo terreno a uma distância que permita que as raízes de ambas

explorem o mesmo solo.

COBERTURA DO SOLO ou EMPALHAMENTO (MULCHING). Método que

consiste em espalhar materiais orgânicos – tais como palhas, composto, ou

aparas de madeira – sobre o solo, nas linhas e nas entrelinhas das culturas.

Este método ajuda a conservar a humidade do solo, combate as infestantes

e favorece a produção de matéria orgânica no solo.

ROTAÇÃO. Sistema agrícola em que as culturas se sucedem no tempo,

utilizando o mesmo espaço, de acordo com uma sequência pré-definida.

68

6. Auto-avaliação

1. Escolha as espécies com maiores necessidades de água

Maçã, pêra

Amêndoa, nêspera

Abrunho, ameixa

2. Escolha o nível mínimo de húmus (H%) adequado para a instalação de

um pomar de fruta em MPB

H%<1%

H%<0,5%

H%<2%

3. Seleccione as causas mais importantes que provocam o desenvolvimento

das “manchas amargas” (bitter pit) nas maçãs e peras

Deficiência em Cálcio e excesso de fornecimento de Azoto e Potássio

Fertilização em excesso de Azoto e Cálcio

Fornecimento de água insuficiente

4. Seleccione o método adequado para determinar o nível de nutrientes

adequado em pomares

Análise das plantas

Análise do solo

69

Análise das folhas e do solo

5. Seleccione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis

var. kustraky

Afídeos

Lagarta-do-tomate (Lépidopteros)

Escaravelho

6. Escolha a definição/descrição que se adequa à compostagem

Durante a compostagem, materiais orgânicos grosseiros transformam-se

numa camada de solo fértil

Compostagem é a transformação de húmus em matérias-primas

Durante a compostagem, matérias-primas orgânicas são transformadas

em húmus composto por grandes moléculas de elevada estabilidade

7. Os aspectos que tornam importante a aplicação da cobertura do solo

(mulching) são:

Retenção de água, protecção contra a erosão, compostagem superficial,

supressão de infestantes, desenvolvimento de frutos saudáveis.

Retenção de água, supressão de infestantes, amadurecimento dos frutos

Retenção da água, protecção do vento, abrigo para insectos

8. Os quatro componentes básicos de um sistema de rotação de culturas

são:

Percentagem relativa de cada planta, sequência das plantas, rotação,

selecção das plantas

70

Composição das plantas, território ocupado, sequência das plantas,

rotação

Composição das plantas, percentagem relativa de cada planta, sequência

das plantas, rotação

9. Escolha os métodos adequados à protecção física das plantas

Recolha, Vigilância, Tratamento térmico, Alteração do tipo de

acondicionamento intermédio, Recolha de insectos

Recolha, Isolamento, Atracção, Armadilhas com feromonas, Tratamento

térmico, Alteração do tipo de acondicionamento intermédio

Recolha, Destruição, Isolamento, Atracção, Vigilância, Tratamento

térmico, Alteração do tipo de acondicionamento intermédio

10. Seleccione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis

var. tenebrionis

Afídeos

Lagarta-do-tomate (Lépidopteros)

Escaravelhos