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Este artigo tem por objetivo analisar as políticas de segurança pública nas intervenções quelevam à produção de mortes pelas polícias. Para tanto partimos de episódios relacionados à letalidadepolicial noticiados em sites de abrangência nacional para problematizar como, em meioao dever do Estado de promover a segurança da população, vai se legitimar a produção de mortecomo prática no interior das ações de segurança pública. Fundamentados nas noções foucaultianasde biopoder e biopolítica, evidenciamos a forma como vai se produzindo discursos quedefinem quem pode viver e quem deve morrer nas intervenções policiais.
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Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 5 8
Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica
Production of Death as a Practice of Government: Discourses On Public SafetyProduccin de La Muerte Como Una Prctica De Gobierno: Los Discursos Sobre La
Seguridad Pblica
Carolina dos ReisDoutoranda em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, Pesquisadora no Ncleo E-politcs,
Professora na Universidade de Santa Cruz do Sul.
E-mail: [email protected]
Neuza Maria de Ftima GuareschiPhD pela University of Wisconsin. Docente no Programa de Ps-Graduao em Psicologia Social e
Institucional (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do
Ncleo de Estudos em Polticas e Tecnologias Contemporneas de Subjetivao (E-politcs).
E-mail: [email protected]
Resumo
Este artigo tem por objetivo analisar as polticas de segurana pblica nas intervenes que
levam produo de mortes pelas polcias. Para tanto partimos de episdios relacionados leta-
lidade policial noticiados em sites de abrangncia nacional para problematizar como, em meio
ao dever do Estado de promover a segurana da populao, vai se legitimar a produo de morte
como prtica no interior das aes de segurana pblica. Fundamentados nas noes foucaul-
tianas de biopoder e biopoltica, evidenciamos a forma como vai se produzindo discursos que
definem quem pode viver e quem deve morrer nas intervenes policiais.
Palavras-chave: Biopoder; Letalidade policial; Segurana pblica; Direitos humanos.
Abstract
This article aims to analyze the security policies in interventions that leads to the production
of deth thru the police action. In order to do that, we use episodes related to the lethality of the
police reported at sites with nationwide to discuss how in the midle of the States duty to pro-
mote the safety of the population the legitimacy of the production of death as practice within
the public security actions became possible. Based on Foucauldian notions of biopower and
biopolitics, we show how the discourses that define who can live and who must die in police
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interventions are produced.
Keywords: Biopower; Lethality of the police; Public safety; Human rights.
Resumen
Este artculo tiene como objetivo analizar las polticas de seguridad en las intervenciones pbli-
cas que conducen a la produccin de los homicidios cometidos por la polica. Para esto partimos
de episodios relacionados a la letalidad de la polica reportados en los sitios com cobertura en
todo el pas para discutir la manera que en medio de la obligacin del Estado de promover la
seguridad de la poblacin va a se legitimar la produccin de la muerte como una prctica dentro
de las acciones de seguridad. Con base en las nociones Foucaultianas de biopoder y biopoltica,
observamos cmo se producen los discursos que definen quin puede vivir y quin debe morir
en las intervenciones policiales.
Palabras-clave: Biopoder; Letalidad de la policia; Seguridad pblica; Derechos humanos.
O suplcio como espetculo
So Paulo, 12 de setembro de 2012.
Os jornais noticiam uma operao policial
que resultou na morte de 9 pessoas e na
priso de outras 8. Segundo informaes di-
vulgadas pela Polcia Militar PM, 8 dos
9 mortos eram ligados uma faco crimi-
nosa, supostamente o Primeiro Comando
da Capital - PCC, e foram baleados aps
reagirem a tiros chegada de 10 equipes
da tropa de elite da polcia. De acordo com
a Secretaria de Segurana Pblica, a pol-
cia foi acionada aps receber uma denn-
cia annima informando o local onde um
homem suspeito de estupro seria julgado
por uma espcie de tribunal do crime. Se-
gundo a PM a 9 pessoa morta na ao era,
justamente, o suspeito que estava sendo jul-
gado. Dentro da chcara restaram vivas a
suposta vtima do estupro, uma menina de
12 anos, e sua me. Segundo informaes
da PM esses tribunais do crime so uma
prtica do PCC atravs da qual um grupo
formado por membros da faco julga,
condena e executa o ru. Nenhum dos 40
policiais que compunham as 10 equipes se
feriu1.
Ao longo dos ltimos anos, vimos o
aumento das notcias que denunciam o re-
crudescimento da violncia policial no pas.
Em estados como Rio de Janeiro e So Pau-
lo, os ndices de letalidade policial, princi-
palmente aqueles relacionados s grandes
operaes de ocupao das favelas, tm ad-
quirido expressiva visibilidade, inclusive no
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cenrio mundial. No nordeste, os holofotes
recaem sobre os esquadres da morte com-
postos por policiais que exterminam mora-
dores de rua, usurios de drogas e realizam,
at mesmo, execues a partir de contratos
privados. No Rio Grande do Sul, embora
no existam prticas de extermnio to for-
malmente organizadas ou um forte movi-
mento de denncia e visibilidade dos casos,
em muitos bairros da Grande Porto Alegre,
os moradores convivem, cotidianamente,
com prticas policiais abusivas e violadoras
de direitos.
De acordo com o Mapa da Violn-
cia de 20122, produzido pelo Instituto San-
gari, no ano de 2010, no Brasil, as taxas de
homicdios chegaram 26,2 para cada 100
mil habitantes. No Rio Grande do Sul, en-
tre os anos 2000 e 2010, o nmero de mu-
nicpios com taxas de homicdios acima da
mdia nacional duplicou. No Rio de Janeiro
a taxa de 2006 a 2010 fica prxima mdia
do pas com registros dos mesmos 26,2 ho-
micdios para cada 100 mil habitantes. Em
So Paulo, a mdia do estado extrapola es-
ses ndices chegando 3,3 homicdios para
cada 100 mil habitantes. J no Mapa da
Violncia - Os jovens do Brasil3, especfi-
co para anlise de homicdios de jovens en-
tre 15 e 24 anos, publicado no final do ano
de 2011, indica-se que os ndices de morte
por causas externas (homicdio, suicdio e
acidente de trnsito) representam 73,6% das
causas de morte registradas nessa popula-
o. Os homicdios representam 39,7% des-
te total. Quando comparamos com a popula-
o no jovem, esse nmero cai para 1,8%,
evidenciando a expressividade destes ndi-
ces. No cenrio mundial, o Brasil ocupa a 6
posio entre os pases com maiores ndices
de homicdios de jovens, ficando atrs so-
mente de pases subdesenvolvidos da Am-
rica Latina.
Muitos desses so crimes para os
quais no so anunciados suspeitos ou tes-
temunhas, que ficam sem investigao ou
julgamento, logo, crimes que no so con-
figurados enquanto tal. Em uma pesquisa
realizada pela Associao Brasileira de Cri-
minalstica4, divulgada em 2011, indicou-se
que no Brasil o ndice de elucidao de ho-
micdios de somente 5% a 8% dos casos.
Nos Estados Unidos este ndice de 65%, j
na Frana chega a 80%. No Brasil, em ge-
ral, os poucos assassinatos que chegam a ser
elucidados so em decorrncia de priso em
flagrante ou de casos que adquirem visibili-
dade na mdia. Muitos casos so arquivados
na prpria delegacia, sem que seja efetivada
a denncia.
Outro elemento emblemtico da for-
ma como as polticas de segurana pblica
tm se efetivado no pas so os chamados
autos de resistncia5. Essa a forma como
so classificadas as mortes decorrentes de
confrontos com a polcia frente resistn-
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cia priso, com imposio de risco de vida
eminente aos agentes pblicos. Nestas si-
tuaes o assassinato se configuraria como
um ato de legtima defesa por parte do poli-
cial. Embora exista essa previso legal que
legitima o uso da violncia pelo policial
para fazer agir a lei, esse uso deveria estar
em uma proporo tal que permitisse evitar
a fuga priso, mas que no caracterizasse
excesso. Entretanto, o que ocorre em mui-
tos casos o uso dos autos de resistncias
para legitimar execues de jovens morado-
res de periferias que no estavam resistindo
priso. Muitas vezes so casos de jovens
que estavam desarmados e no possuam
nenhum envolvimento com prticas ilcitas.
Ainda, se v o uso dos autos de resistncia
como forma de legitimar outras prticas
abusivas das polcias, nas quais estas, tais
como o PCC, sentem-se no direitos de jul-
gar, condenar e executar sujeitos que com-
etem atos considerados ilcitos.
na possibilidade de caracterizao
da morte das 9 pessoas executada pela PM
de So Paulo, em setembro do ano passa-
do, como autos de resistncia, que se funda-
menta a fala do ento Governador do estado
de So Paulo, Geraldo Alkmin. Ao ser ques-
tionado se houve ou no excesso no uso da
fora policial na operao relatada, esse res-
ponde que quem no resistiu t vivo6.
No Rio Grande do Sul, no incio
deste ano um grupo de Policiais Militares
foi preso por torturar e matar pessoas que
eram acusadas de crimes que no haviam
tido a priso decretada pelo Sistema de Jus-
tia, todas as vtimas eram supostamente
relacionadas ao trfico de drogas7. A justifi-
cativa do grupo era a de que estariam fazen-
do a justia que o sistema formal no teria
sido capaz de fazer. Os prprios movimen-
tos comunitrios que combatem a violncia
policial, quando denunciam os excessos das
aes policiais, atentam especialmente em
afirmar que as vtimas eram jovens traba-
lhadores que no tinham vinculao com o
trfico de drogas; como se fosse isso o que
lhes assegurasse o direito vida ou o de ter
as circunstncias de sua morte investigadas.
Se, por um lado, temos em nosso
pas polcias abusivas, por outro lado, te-
mos tambm uma sociedade paralisada
frente ao discurso do medo que constri
sobre determinados sujeitos a imagem do
inimigo interno. contra esses que a popu-
lao pede a interveno do Estado atravs
do uso da violncia legtima. Exemplos
disso podem ser encontrados nos comen-
trios deixados pelos leitores em sites que
noticiaram a ao da PM de So Paulo:
Bandido bom bandido morto!, Pra fi-
car mais lindo s se tocasse fogo. LIXO
LIXO. Porque temos que nos subme-
ter ao bel prazer desses canalhas? FOGO.
Sem pena. Ah! Parabns ALCKMIN pelo
apoio., J tinha visto a reportagem mas
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no os vagabundos mortos, essa notcia s
deixou meu dia mais alegre.8.
Opinies como essas espalham-se
em meio a vrias notcias sobre letalidade
policial, tais como a morte de um policial
militar em Porto Alegre, paisana, fora de
seu horrio de trabalho, assassinado ao ten-
tar impedir um furto. Abaixo da notcia, se-
guem alguns comentrios dos leitores: Est
na hora de ativar a escuderia novamente.
Lembram-se quando ela estava na ativa?
Mas ai vieram os Direitos Humanos e hoje
est isto que vemos todos os dias: a inverso
dos valores. Bandido deve ser tratado como
bandido, regalias s para cidado de bem.
SALVE O ESQUADRO DA MORTE!.
Ainda: Enquanto a hipocrisia dos doutos
e as leis cada vez mais brandas protegerem
esta escria, continuaremos sendo vtimas.
Cada vez mais vontade, a marginalia se-
gue cometendo atrocidades e rindo da impo-
tncia da sociedade.9
Entendemos que no possvel pro-
duzir anlises sobre a construo das po-
lticas de segurana pblica no Brasil de
forma reducionista ou dicotomizada. Essa
suposta distino entre vtimas e algozes
no exerccio da violncia urbana no to
passvel de discriminao quanto as falas
dos leitores querem fazer crer. Atravs do
aumento da demanda social por polticas
repressivas de segurana, expresso nessas
falas, evidencia-se uma multiplicidade na
rede de atores, que operam na produo de
discursos no campo da segurana pblica,
produzindo objetividades e subjetividades,
que tem legitimado que as polcias realizem
prticas semelhantes quelas produzidas
por membros do PCC, se autoconferindo
o exerccio do poder de julgar, condenar e
executar.
Nesse sentido, frente as arbitrarie-
dades que temos acompanhado nas prticas
de segurana pblica no Pas, tais como a
letalidade das ocupaes das favelas, o uso
dos autos de resistncia como forma de
legitimar prticas de extermnio, a organi-
zao de esquadres da morte, o arquiva-
mento de casos de homicdios sem a devida
denncia, nesse artigo, objetivamos colocar
em questo as polticas de segurana pbli-
ca nas intervenes que levam produo
de mortes. A partir do dever do Estado de
promover a segurana da populao, pro-
blematizamos a forma como se legitima a
produo de morte como prtica no inte-
rior das aes de segurana pblica. Isto ,
como vai se permitir que agentes do Esta-
do faam uso do poder de matar de forma
arbitrria e/ou abusiva na execuo de suas
funes pblicas. Para tanto, nos funda-
mentamos nas noes foucaultianas de bio-
poder e biopoltica, para evidenciar a forma
como se produzem os discursos que defi-
nem quem pode viver e quem deve morrer
nas intervenes policiais.
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Do direito sobre as vidas e mortes
As preocupaes sociais em torno da
segurana tem se constitudo como uma das
problemticas centrais na contemporaneida-
de. Essas preocupaes produzem efeitos na
organizao do espao urbano, nos modos
como nos vestimos, como circulamos no dia
a dia das cidades, como nos relacionamos
com outros, e mesmo na forma como elege-
mos nossos representantes polticos. em
nome da proteo ordem social e frente a
esse sentimento de insegurana que a popu-
lao delega ao Estado o uso da violncia
legtima.
Se pensarmos nas anlises a respei-
to dos motivos que levam os homens a se
organizarem coletivamente em torno de es-
truturas como o Estado, identificaremos que
estas tem como eixo central a segurana. As
teorias contratualistas, protagonizadas por
pensadores como Hobbes, Rousseau e Lo-
cke, partem da anlise sobre o que seria o
estado de natureza do homem, para pen-
sar porque empreendemos esse pacto social,
por meio do qual abrimos mo de parte dos
nossos direitos naturais, individuais, em
prol da proteo fornecida por uma autori-
dade maior. Para Thomas Hobbes (1651) o
estado de natureza do homem seria intrin-
secamente violento. No estado natural todos
os homens teriam direito a tudo, entretanto,
como as coisas so escassas, isso levaria
os homens a uma guerra constante. Isto ,
sem mecanismos de controle, os homens
ficariam entregues barbrie e ao caos so-
cial. Seria em nome do interesse em acabar
com as guerras e estabelecer a ordem que
os homens aceitariam aderir ao contrato so-
cial (Bobbio, 1909). Neste os sujeitos abrem
mo de algumas liberdades individuais em
nome de um poder centralizado que assegu-
ra proteo e ordem. J Jean Jacques Rous-
seau (1762), afirmava que o contrato social
deveria assegurar as liberdades individuais.
O papel do soberano deveria ser o de prote-
ger o povo contra aqueles que fazem o mal,
garantindo a possibilidade de exerccio da
autonomia dos homens. Por fim, para Jonh
Locke (1689) os homens teriam direitos na-
turais, que so o direito vida, liberdade e
propriedade. Seria para proteger esses di-
reitos que o homem criou os governos.
Contemporaneamente, o Estado se-
ria esse rgo central que cumpre a funo
de controle que, por meio da violncia leg-
tima que lhe foi concedida pelos indivdu-
os, impe-se frente s formas de violncia
exercidas por entes privados. Deste modo,
em nome do medo de uma suposta natureza
violenta e para proteo dos direitos indivi-
duais que se concede ao Estado o poder de
matar.
O que passa a ser naturalizado nas te-
orias desses autores acerca do contrato social,
por exemplo, a existncia de uma demanda
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de ordem social e da necessidade de sua de-
fesa. Entretanto, como apontado por Reisho-
ffer e Bicalho (2009), questionamos de que
ordem estamos falando, em quais momentos
histricos e vinculada a quais saberes.
Coimbra, Lobo e Nascimento (2008)
atentam para o fato de que:
O surgimento de uma concepo do humano
e da universalizao dos direitos no se
deu da forma grandiosa e afirmativa como
nos querem fazer acreditar as revolues
burguesas e suas declaraes. Naquele
mesmo perodo, no sculo XVII, foi
necessrio dar visibilidade cientfica ao
chamado indivduo perigoso, atravs do
saber mdico e da reforma das prticas
de punio, para que uma nova forma de
ordenao social pudesse se manter: a
normalizao das populaes (p.93).
Isto permite que se desmistifique a
ideia de que qualquer ordem social seria na-
tural. Ainda, possibilita que pensemos que
essas noes de ordem social esto articu-
ladas a mecanismos biopolticos de contro-
le das condutas individuais e coletivas. Ao
falamos em biopoltica estamos nos reme-
tendo a forma como Foucault analisou a
emergncia de uma arte de governar. A bio-
poltica dirige-se multiplicidade dos ho-
mens, no enquanto corpo-indivduo, mas
como corpo-populao. A populao en-
tendida no como um simples conjunto de
pessoas, mas como uma massa global afe-
tada por processos que so prprios da vida,
como nascimentos, taxas de fecundidade,
mortalidade e longevidade. A biopoltica
opera sobre a populao como um elemen-
to que possui suas regularidades e leis pr-
prias de transformao e deslocamento que
so passveis de serem estudadas e descritas
pela cincia.
Nesse contexto, para o autor, um
dos instrumentos essenciais de gerencia-
mento populacional so os dispositivos de
segurana. Esses mecanismos constituem-
-se como aes de governo orientadas para
a proteo da sociedade frente s condutas
desviantes daqueles que ousam insurgir-se
contra a sua ordem (Foucault, 1977-1978).
No se referem apenas a instituies como
a polcia, mas a todas as instituies e fun-
es sociais ramificadas em diferentes pon-
tos da sociedade que servem para assegurar
o cumprimento dos regulamentos e o fun-
cionamento dos poderes do Estado (Olivei-
ra, 2009). Atravs dos dispositivos de segu-
rana busca-se apreender o ponto em que as
coisas iro se produzir, sejam elas desej-
veis ou no. No se trata simplesmente de
evitar determinadas condutas, mas de admi-
nistr-las, operando no somente sobre os
corpos individuais, mas nas relaes entre
as pessoas e destas com as coisas. Abre-se
a um campo frutfero de criao de apara-
tos de governo sobre a vida da populao.
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A biopoltica uma das estratgias
que compem o biopoder. Este refere-se
a um poder do Estado que tem como foco
o investimento na vida. Michel Foucault
(1977-1978), em seu curso intitulado Se-
gurana, Territrio, Populao, ao definir
o que denomina de biopoder, vai evidenciar
de que forma, na passagem do sculo XVIII
para o XIX, a vida biolgica e a sade se
tornaram alvos fundamentais de um poder
sobre a vida por meio de um processo de
estatizao do biolgico. Com a necessida-
de de fortalecimento dos Estados-Nao, o
poder de vida e morte do soberano foi subs-
titudo por um poder destinado a produzir
foras, a faz-las crescer e a orden-las,
mais do que barr-las, dobr-las ou destru-
-las. Fala-se de um poder que gere a vida,
que empreende sua gesto, majorao, mul-
tiplicao e o exerccio de controles preci-
sos e regulaes de conjunto.
A partir dessas noes foucaultianas,
reinscrevemos os discursos que atravessam
o campo da segurana pblica no escopo
poltico dos quais supostamente foram afas-
tados pelas mscaras da cincia, da tecni-
cidade e do humanismo. A manuteno da
ordem e da (in)segurana no podem ser
compreendidas de outra forma que no no
interior de uma razo de Estado.
A partir disso assumimos uma postu-
ra de estranhamento frente a essa oposio
entre a barbrie e a civilizao, supostamen-
te garantida pelos Direitos Humanos, e reto-
mamos a questo: se, de fato, a positivao
dos Direitos Humanos pelas constituies
estatais impe a construo de polticas p-
blicas que garantam a proteo vida, como
possvel explicar os extermnios pratica-
dos por agentes do Estado? Ainda: como,
em meio ao Estado democrtico de direito,
torna-se possvel o desenvolvimento de uma
poltica de segurana pblica violadora des-
ses direitos? Para nos aproximarmos dessas
questes preciso colocar em anlise a pr-
pria construo dos Direitos Humanos, evi-
denciando-os no somente como uma fer-
ramenta de contra-poder10, mas como algo
que tambm opera modos de governamento.
A economia dos direitos
Em seu curso intitulado O Naci-
mento da Biopoltica, Foucault (1978-
1979) analisa a forma como essa raciona-
lidade de governo, que opera atravs de
tecnologias biopolticas, emerge, em parte,
impulsionada pelo desenvolvimento dos
ideais liberais no sculo XVIII. A necessi-
dade de expanso dos mercados impunha
uma demanda de restrio das intervenes
do Estado no sistema econmico. Neste
mesmo perodo, o crescimento populacional
tornava necessrio o desenvolvimento de
tecnologias de governo que dessem conta de
administrar no somente os sujeitos indivi-
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duais, mas esse conjunto da populao. Para
que esse modelo de governo produzisse
efeito no conjunto da populao era preciso
que os sujeitos fossem livres para gerir suas
condutas. Nesse sentido, os mecanismos de
governo biopolticos vo atuar como aes
sobre aes, de forma cada vez menos coer-
citiva, permitindo o aumento da autonomia
da populao, respondendo tambm a de-
manda de produo de sujeitos livres para
atuarem no jogo de mercado (Guareschi,
Lara & Adegas, 2010).
A primeira declarao de direitos,
intitulada Declarao Universal dos Direitos
do Homem e do Cidado, de 1789, emerge
articulada a essa necessidade de restrio
dos poderes soberanos. A primeira decla-
rao buscava a proteo dos cidados em
relao s violncias produzidas pelos Esta-
dos ditatoriais e totalitrios, afirmando o di-
reito integridade, segurana e s diversas
formas de liberdade. por isto que essa pri-
meira declarao considerada por muitos
juristas como relativa a direitos negativos,
isto , que se efetivariam sem a interveno
do Estado, uma vez que viriam, justamente,
restringir a possibilidade de ao deste. A
formulao desses direitos, ainda que atre-
lada a um processo de lutas sociais contra
os excessos dos governos absolutistas,
tambm o que vai ancorar o desenvolvimen-
to dos Estados modernos e do capitalismo.
Norberto Bobbio (1909) analisa a
ntima relao entre as afirmaes de Di-
reitos Humanos11 e o desenvolvimento de
uma concepo individualista. Para ele, o
que ocorre na primeira declarao de direi-
tos uma inverso que coloca o indivduo
como anterior ao Estado. Segundo referido
no texto da prpria declarao: A conser-
vao dos direitos naturais e imprescritveis
do homem o objetivo de toda associao
poltica (DDHC, 1789). Nesta inverso, a
finalidade do Estado estaria vinculada ao
crescimento dos indivduos e a ampliao
de sua autonomia. Para o autor, o indivi-
dualismo estaria tambm na base do ideal
democrtico, uma vez que todos os sujeitos
so livres para tomar as decises que lhes
dizem respeito. No se tem um olhar para o
todo, pois o interesse coletivo representa-
do pela soma dos interesses individuais.
Embora a segurana seja um direi-
to de primeira gerao, isto relacionado
restrio dos poderes do Estado, para que
se possa garantir a proteo da integridade
pessoal e patrimonial preciso que o Esta-
do disponha de grande investimento no apa-
relhamento das instituies de segurana e
na construo de diretrizes polticas para a
conduo das aes de segurana pblica.
Nesse sentido, se por um lado esse
contrato social, representado pelas garantias
constitucionais dos Estados-Nao, que pro-
porciona a possibilidade de efetivao dos
Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica
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Direitos Humanos, por outro lado, esse
mesmo mecanismo que d abertura e legi-
timidade para as aes de governo do Esta-
do de uso da violncia legalizada, em nome
da defesa da vida individual e das relaes
sociais. Diante da constatao dos limites
das declaraes de Direitos Humanos como
ferramenta de contra-poder, para finalizar,
trazemos as discusses foucaultiana sobre o
que o autor denominou do direito dos go-
vernados como possibilidade de produzir
resistncia frente s violaes de direitos
produzidas pelo Estado.
As Polticas de Segurana Pblica e os
Direitos Humanos: quem pode viver e
quem deve morer?
Por fim, trazemos aqui a questo
dos excessos do biopoder e do direito dos
governados. Foucault (1975-1976), no
curso Em defesa da sociedade, coloca
em questo a forma como, em meio a um
poder que tem como objetivo aumentar a
vida e multiplicar suas possibilidades, vai
se exercer o direito de matar e a funo
do assassnio. Como, nessas condies,
possvel, para um poder poltico, matar,
reclamar a morte, pedir a morte, mandar
matar, dar a ordem de matar, expor mor-
te no s seus inimigos, mas seus prprios
cidados? (p.304). Frente a esse questio-
namento, Foucault (1975-1976) apresenta
a problemtica do racismo de Estado, este
seria o meio de produzir, no interior do
contnuo biolgico da espcie humana, um
corte que permite subdividir a espcie e di-
ferenciar aqueles que devem viver e os que
devem morrer. O racismo de Estado pro-
duzir uma espcie de relao biolgica e
positiva entre a morte de uns e a qualifica-
o da vida de outros. Para a qualificao
da vida da populao, enquanto espcie,
seria preciso eliminar do interior desta os
degenerados, os anormais, os criminosos,
os desviantes. A funo assassina do Esta-
do ser possvel, pois se justifica, no inte-
rior do biopoder, como forma de fortalecer
a vida. Foucault (1975-1976) atenta, ainda,
para o fato de que essa produo de morte
no se refere somente ao assassinato direto,
mas tambm as diversas formas de exposi-
o morte, aos riscos ou mesmo a morte
poltica, a rejeio, a aniquilao da potn-
cia de vida.
Uma das formas de legitimao do
uso da violncia letal pelo Estado, funda-
menta-se no discurso da proteo social,
tanto no que se refere a segurana individu-
al, quanto na manuteno da ordem pbli-
ca, frente proliferao de algo como, por
exemplo, uma epidemia das drogas, que
supostamente levaria mais e mais sujeitos
para a criminalidade, principalmente, junto
ao trfico de drogas. Somos forados, pelos
discursos alarmantes da suposta epidemia, a
Reis, C.; Guareschi, N.
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pensar no uso de drogas como um proble-
ma para o campo da segurana pblica que
coloca em risco a prpria condio do Es-
tado de proteo de seus cidados, frente
ameaa de ampliao da ao do trfico de
drogas. O racismo de Estado coloca, assim,
a possibilidade de fazer agir o direito de
morte. Coloca de um lado os reconhecidos
cidados e do outro esses sujeitos do trfico,
da violncia e da criminalidade.
No por acaso, observamos o uso
do discurso belicoso da guerra s drogas
por parte dos agentes da segurana pblica.
Essa guerra a que ficamos expostos se faz
em nome da vida, muitas vezes, em nome
da vida da prpria juventude a quem se
mata. Abre-se, em pleno modelo biopolti-
co, a possibilidade de uso do velho poder
soberano de fazer morrer. O racismo fora
o jogo entre os mecanismos de biopoder e o
direito soberano de matar (Foucault, 1975-
1976). Neste cenrio, entendemos que no
possvel fazer uma leitura do exerccio
do biopoder que o reduza a uma tanatopo-
ltica12, mas tambm no possvel ignorar
a produo da morte como uma estratgia
presente no cenrio poltico ou, no mnimo,
a produo de polticas e prticas de gover-
no que efetivamente produzem morte.
frente a esses excessos do biopo-
der que Foucault (1968) evoca o direito dos
governados. Para tanto, parte da recusa des-
sa noo de direitos humanos fundamentais
que existiriam arraigados uma natureza
etrea, enquanto direitos sagrados que nos
protegeriam de coisas inerentemente ma-
lvolas frente uma populao vitimiza-
da, e, entendendo o poder como processos
de captura e resistncia, passa a pensar no
direito dos governados. Isto possibilita pen-
sar que a biopoltica age por pactuaes que
podem produzir excessos de governo, mas
age tambm produzindo resistncias. Cabe
ento questionar como no ser governado
deste jeito e como fazer valer a vontade de
construir outros modos de vida. Cabe pensar
as formas como resistimos a esses excessos
de governo que se do dentro de um Estado
de direito, supostamente democrtico. Cabe
pensar como no interior da democracia abre-
-se espao para a tirania, mas tambm como
isso gera aes de denncia e resistncia.
Por fim, entendemos que as anlises
foucaultianas nos auxiliam a pensar que as
aes da polcia aqui relatadas, que levam
a produo de morte, nas quais se faz agir
o poder de julgar, condenar e executar, no
podem ser compreendidas dissociadas de
uma prtica governamental. Logo, o que
est em questo a forma como a pobreza,
a violncia, o trfico e, em ltima medida, a
morte desses sujeitos, vai se inserir nos cl-
culos biopolticos contemporneos operan-
do um corte na populao que divide aque-
les a quem se assegura o direito de viver,
daqueles a quem se faz, ou se deixa, morrer.
Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica
Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 69
Notas
1 Folha de So Paulo: http://www1.folha.
uol.com.br/fsp/cotidiano/65888-operacao-
da-rota-deixa-9-mortos-e-8-presos.shtml.
Terra: http://noticias.terra.com.br/brasil/
pol ic ia /sp-operacao-da-rota-contra-
39tribunal-do-crime39-termina-com-9-
mortos,ef42ac68281da310VgnCLD20
0000bbcceb0aRCRD.html. G1: http://
g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/
not icia/2012/10/pol icia-reconst i tui-
operacao-da-rota-que-matou-nove-em-
varzea-paulista.html.2 Waiselfisz, Julio Jacobo (2011a).3 Waiselfisz, Julio Jacobo (2011b).4 Disponvel em: http://oglobo.globo.
com/pais/apenas-32-dos-inqueritos-nao-
solucionados-sao-concluidos-5194705.5 Os chamados autos de resistncia esto
previstos no Cdigo de Processo Penal,
Decreto Lei n 3.689 de 03 de Outubro de
1941, Art. 292, onde diz que: Se houver,
ainda que por parte de terceiros, resistncia
priso em flagrante ou a determinada
por autoridade competente, o executor e
as pessoas que o auxiliarem podero usar
dos meios necessrios para defender-se
ou para vencer a resistncia, do que tudo
se lavrar auto subscrito tambm por duas
testemunhas.
6 G1: http://g1.globo.com/sao-paulo/
noticia/2012/09/quem-nao-reagiu-esta-
vivo-diz-alckmin-sobre-acao-da-rota.html7 Notcia disponvel em: . Acessado
em: setembro/2012.8 http://www.issoebizarro.com/blog/
acidentes-tragedias-assassinatos-suicidios/
policiais-da-rota-matam-9-vagabundos-
pcc-na-varzea-paulista-em-sp/9 Notcia disponvel em: http://zerohora.
c l i c rb s . com.b r / r s /no t i c i a /2009 /05 /
policial-militar-morre-apos-tiroteio-com-
assaltantes-em-porto-alegre-2498027.html.10 Expresso utilizado por Michel Foucault
em Microfsica do Poder (1979).11 Embora a segunda Declarao Universal dos
Direitos Humanos, de 1948, tenha tido como
foco a afirmao dos direitos econmicos e
sociais, como a sade, educao, assistncia
social, trabalho, moradia, entre outros, em
uma oposio clara as mazelas produzidas
pelo capitalismo, seus efeitos tambm no
podem ser analisados se no dentro de
uma lgica de mercado e em interface com
essa perspectiva individualista. Ao buscar
garantir a melhoria das condies de vida
da populao, essa segunda declarao
vai impulsionar o desenvolvimento
de polticas pblicas que tero como
foco o desenvolvimento da autonomia,
Reis, C.; Guareschi, N.
Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 7 0
traduzida, na grande maioria das vezes,
como a possibilidade de sobrevivncia dos
indivduos dentro do jogo de mercado. Logo,
ao analisarmos os movimentos de defesa dos
Direitos Humanos e a construo de polticas
pblicas, tais como as polticas de segurana
pblica, precisamos estar atentos para os
jogos de interesse que esto articulados a
elas e que vinculam intimamente o sujeito
de direito e o sujeito de interesse.12 Para Foucault (1988) a tanatopoltica seria
o avesso da biopoltica. Enquanto essa busca
o investimento na vida, aquela tem a morte
como estratgia de governo.
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Recebido em: 15/10/2013 Aceito em: 15/12/2013