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Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 58 Produção de Morte como Prática de Governo: Discursos Sobre Segurança Pública Production of Death as a Practice of Government: Discourses On Public Safety Producción de La Muerte Como Una Práctica De Gobierno: Los Discursos Sobre La Seguridad Pública Carolina dos Reis Doutoranda em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, Pesquisadora no Núcleo E-politcs, Professora na Universidade de Santa Cruz do Sul. E-mail: [email protected] Neuza Maria de Fátima Guareschi PhD pela University of Wisconsin. Docente no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do Núcleo de Estudos em Políticas e Tecnologias Contemporâneas de Subjetivação (E-politcs). E-mail: [email protected] Resumo Este artigo tem por objetivo analisar as políticas de segurança pública nas intervenções que levam à produção de mortes pelas polícias. Para tanto partimos de episódios relacionados à leta- lidade policial noticiados em sites de abrangência nacional para problematizar como, em meio ao dever do Estado de promover a segurança da população, vai se legitimar a produção de morte como prática no interior das ações de segurança pública. Fundamentados nas noções foucaul- tianas de biopoder e biopolítica, evidenciamos a forma como vai se produzindo discursos que definem quem pode viver e quem deve morrer nas intervenções policiais. Palavras-chave: Biopoder; Letalidade policial; Segurança pública; Direitos humanos. Abstract This article aims to analyze the security policies in interventions that leads to the production of deth thru the police action. In order to do that, we use episodes related to the lethality of the police reported at sites with nationwide to discuss how in the midle of the State’s duty to pro- mote the safety of the population the legitimacy of the production of death as practice within the public security actions became possible. Based on Foucauldian notions of biopower and biopolitics, we show how the discourses that define who can live and who must die in police

Produção de Morte Como Prática de Governo

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Este artigo tem por objetivo analisar as políticas de segurança pública nas intervenções quelevam à produção de mortes pelas polícias. Para tanto partimos de episódios relacionados à letalidadepolicial noticiados em sites de abrangência nacional para problematizar como, em meioao dever do Estado de promover a segurança da população, vai se legitimar a produção de mortecomo prática no interior das ações de segurança pública. Fundamentados nas noções foucaultianasde biopoder e biopolítica, evidenciamos a forma como vai se produzindo discursos quedefinem quem pode viver e quem deve morrer nas intervenções policiais.

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  • Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 5 8

    Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica

    Production of Death as a Practice of Government: Discourses On Public SafetyProduccin de La Muerte Como Una Prctica De Gobierno: Los Discursos Sobre La

    Seguridad Pblica

    Carolina dos ReisDoutoranda em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, Pesquisadora no Ncleo E-politcs,

    Professora na Universidade de Santa Cruz do Sul.

    E-mail: [email protected]

    Neuza Maria de Ftima GuareschiPhD pela University of Wisconsin. Docente no Programa de Ps-Graduao em Psicologia Social e

    Institucional (PPGPSI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do

    Ncleo de Estudos em Polticas e Tecnologias Contemporneas de Subjetivao (E-politcs).

    E-mail: [email protected]

    Resumo

    Este artigo tem por objetivo analisar as polticas de segurana pblica nas intervenes que

    levam produo de mortes pelas polcias. Para tanto partimos de episdios relacionados leta-

    lidade policial noticiados em sites de abrangncia nacional para problematizar como, em meio

    ao dever do Estado de promover a segurana da populao, vai se legitimar a produo de morte

    como prtica no interior das aes de segurana pblica. Fundamentados nas noes foucaul-

    tianas de biopoder e biopoltica, evidenciamos a forma como vai se produzindo discursos que

    definem quem pode viver e quem deve morrer nas intervenes policiais.

    Palavras-chave: Biopoder; Letalidade policial; Segurana pblica; Direitos humanos.

    Abstract

    This article aims to analyze the security policies in interventions that leads to the production

    of deth thru the police action. In order to do that, we use episodes related to the lethality of the

    police reported at sites with nationwide to discuss how in the midle of the States duty to pro-

    mote the safety of the population the legitimacy of the production of death as practice within

    the public security actions became possible. Based on Foucauldian notions of biopower and

    biopolitics, we show how the discourses that define who can live and who must die in police

  • Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 59

    interventions are produced.

    Keywords: Biopower; Lethality of the police; Public safety; Human rights.

    Resumen

    Este artculo tiene como objetivo analizar las polticas de seguridad en las intervenciones pbli-

    cas que conducen a la produccin de los homicidios cometidos por la polica. Para esto partimos

    de episodios relacionados a la letalidad de la polica reportados en los sitios com cobertura en

    todo el pas para discutir la manera que en medio de la obligacin del Estado de promover la

    seguridad de la poblacin va a se legitimar la produccin de la muerte como una prctica dentro

    de las acciones de seguridad. Con base en las nociones Foucaultianas de biopoder y biopoltica,

    observamos cmo se producen los discursos que definen quin puede vivir y quin debe morir

    en las intervenciones policiales.

    Palabras-clave: Biopoder; Letalidad de la policia; Seguridad pblica; Derechos humanos.

    O suplcio como espetculo

    So Paulo, 12 de setembro de 2012.

    Os jornais noticiam uma operao policial

    que resultou na morte de 9 pessoas e na

    priso de outras 8. Segundo informaes di-

    vulgadas pela Polcia Militar PM, 8 dos

    9 mortos eram ligados uma faco crimi-

    nosa, supostamente o Primeiro Comando

    da Capital - PCC, e foram baleados aps

    reagirem a tiros chegada de 10 equipes

    da tropa de elite da polcia. De acordo com

    a Secretaria de Segurana Pblica, a pol-

    cia foi acionada aps receber uma denn-

    cia annima informando o local onde um

    homem suspeito de estupro seria julgado

    por uma espcie de tribunal do crime. Se-

    gundo a PM a 9 pessoa morta na ao era,

    justamente, o suspeito que estava sendo jul-

    gado. Dentro da chcara restaram vivas a

    suposta vtima do estupro, uma menina de

    12 anos, e sua me. Segundo informaes

    da PM esses tribunais do crime so uma

    prtica do PCC atravs da qual um grupo

    formado por membros da faco julga,

    condena e executa o ru. Nenhum dos 40

    policiais que compunham as 10 equipes se

    feriu1.

    Ao longo dos ltimos anos, vimos o

    aumento das notcias que denunciam o re-

    crudescimento da violncia policial no pas.

    Em estados como Rio de Janeiro e So Pau-

    lo, os ndices de letalidade policial, princi-

    palmente aqueles relacionados s grandes

    operaes de ocupao das favelas, tm ad-

    quirido expressiva visibilidade, inclusive no

  • Reis, C.; Guareschi, N.

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 6 0

    cenrio mundial. No nordeste, os holofotes

    recaem sobre os esquadres da morte com-

    postos por policiais que exterminam mora-

    dores de rua, usurios de drogas e realizam,

    at mesmo, execues a partir de contratos

    privados. No Rio Grande do Sul, embora

    no existam prticas de extermnio to for-

    malmente organizadas ou um forte movi-

    mento de denncia e visibilidade dos casos,

    em muitos bairros da Grande Porto Alegre,

    os moradores convivem, cotidianamente,

    com prticas policiais abusivas e violadoras

    de direitos.

    De acordo com o Mapa da Violn-

    cia de 20122, produzido pelo Instituto San-

    gari, no ano de 2010, no Brasil, as taxas de

    homicdios chegaram 26,2 para cada 100

    mil habitantes. No Rio Grande do Sul, en-

    tre os anos 2000 e 2010, o nmero de mu-

    nicpios com taxas de homicdios acima da

    mdia nacional duplicou. No Rio de Janeiro

    a taxa de 2006 a 2010 fica prxima mdia

    do pas com registros dos mesmos 26,2 ho-

    micdios para cada 100 mil habitantes. Em

    So Paulo, a mdia do estado extrapola es-

    ses ndices chegando 3,3 homicdios para

    cada 100 mil habitantes. J no Mapa da

    Violncia - Os jovens do Brasil3, especfi-

    co para anlise de homicdios de jovens en-

    tre 15 e 24 anos, publicado no final do ano

    de 2011, indica-se que os ndices de morte

    por causas externas (homicdio, suicdio e

    acidente de trnsito) representam 73,6% das

    causas de morte registradas nessa popula-

    o. Os homicdios representam 39,7% des-

    te total. Quando comparamos com a popula-

    o no jovem, esse nmero cai para 1,8%,

    evidenciando a expressividade destes ndi-

    ces. No cenrio mundial, o Brasil ocupa a 6

    posio entre os pases com maiores ndices

    de homicdios de jovens, ficando atrs so-

    mente de pases subdesenvolvidos da Am-

    rica Latina.

    Muitos desses so crimes para os

    quais no so anunciados suspeitos ou tes-

    temunhas, que ficam sem investigao ou

    julgamento, logo, crimes que no so con-

    figurados enquanto tal. Em uma pesquisa

    realizada pela Associao Brasileira de Cri-

    minalstica4, divulgada em 2011, indicou-se

    que no Brasil o ndice de elucidao de ho-

    micdios de somente 5% a 8% dos casos.

    Nos Estados Unidos este ndice de 65%, j

    na Frana chega a 80%. No Brasil, em ge-

    ral, os poucos assassinatos que chegam a ser

    elucidados so em decorrncia de priso em

    flagrante ou de casos que adquirem visibili-

    dade na mdia. Muitos casos so arquivados

    na prpria delegacia, sem que seja efetivada

    a denncia.

    Outro elemento emblemtico da for-

    ma como as polticas de segurana pblica

    tm se efetivado no pas so os chamados

    autos de resistncia5. Essa a forma como

    so classificadas as mortes decorrentes de

    confrontos com a polcia frente resistn-

  • Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 61

    cia priso, com imposio de risco de vida

    eminente aos agentes pblicos. Nestas si-

    tuaes o assassinato se configuraria como

    um ato de legtima defesa por parte do poli-

    cial. Embora exista essa previso legal que

    legitima o uso da violncia pelo policial

    para fazer agir a lei, esse uso deveria estar

    em uma proporo tal que permitisse evitar

    a fuga priso, mas que no caracterizasse

    excesso. Entretanto, o que ocorre em mui-

    tos casos o uso dos autos de resistncias

    para legitimar execues de jovens morado-

    res de periferias que no estavam resistindo

    priso. Muitas vezes so casos de jovens

    que estavam desarmados e no possuam

    nenhum envolvimento com prticas ilcitas.

    Ainda, se v o uso dos autos de resistncia

    como forma de legitimar outras prticas

    abusivas das polcias, nas quais estas, tais

    como o PCC, sentem-se no direitos de jul-

    gar, condenar e executar sujeitos que com-

    etem atos considerados ilcitos.

    na possibilidade de caracterizao

    da morte das 9 pessoas executada pela PM

    de So Paulo, em setembro do ano passa-

    do, como autos de resistncia, que se funda-

    menta a fala do ento Governador do estado

    de So Paulo, Geraldo Alkmin. Ao ser ques-

    tionado se houve ou no excesso no uso da

    fora policial na operao relatada, esse res-

    ponde que quem no resistiu t vivo6.

    No Rio Grande do Sul, no incio

    deste ano um grupo de Policiais Militares

    foi preso por torturar e matar pessoas que

    eram acusadas de crimes que no haviam

    tido a priso decretada pelo Sistema de Jus-

    tia, todas as vtimas eram supostamente

    relacionadas ao trfico de drogas7. A justifi-

    cativa do grupo era a de que estariam fazen-

    do a justia que o sistema formal no teria

    sido capaz de fazer. Os prprios movimen-

    tos comunitrios que combatem a violncia

    policial, quando denunciam os excessos das

    aes policiais, atentam especialmente em

    afirmar que as vtimas eram jovens traba-

    lhadores que no tinham vinculao com o

    trfico de drogas; como se fosse isso o que

    lhes assegurasse o direito vida ou o de ter

    as circunstncias de sua morte investigadas.

    Se, por um lado, temos em nosso

    pas polcias abusivas, por outro lado, te-

    mos tambm uma sociedade paralisada

    frente ao discurso do medo que constri

    sobre determinados sujeitos a imagem do

    inimigo interno. contra esses que a popu-

    lao pede a interveno do Estado atravs

    do uso da violncia legtima. Exemplos

    disso podem ser encontrados nos comen-

    trios deixados pelos leitores em sites que

    noticiaram a ao da PM de So Paulo:

    Bandido bom bandido morto!, Pra fi-

    car mais lindo s se tocasse fogo. LIXO

    LIXO. Porque temos que nos subme-

    ter ao bel prazer desses canalhas? FOGO.

    Sem pena. Ah! Parabns ALCKMIN pelo

    apoio., J tinha visto a reportagem mas

  • Reis, C.; Guareschi, N.

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 6 2

    no os vagabundos mortos, essa notcia s

    deixou meu dia mais alegre.8.

    Opinies como essas espalham-se

    em meio a vrias notcias sobre letalidade

    policial, tais como a morte de um policial

    militar em Porto Alegre, paisana, fora de

    seu horrio de trabalho, assassinado ao ten-

    tar impedir um furto. Abaixo da notcia, se-

    guem alguns comentrios dos leitores: Est

    na hora de ativar a escuderia novamente.

    Lembram-se quando ela estava na ativa?

    Mas ai vieram os Direitos Humanos e hoje

    est isto que vemos todos os dias: a inverso

    dos valores. Bandido deve ser tratado como

    bandido, regalias s para cidado de bem.

    SALVE O ESQUADRO DA MORTE!.

    Ainda: Enquanto a hipocrisia dos doutos

    e as leis cada vez mais brandas protegerem

    esta escria, continuaremos sendo vtimas.

    Cada vez mais vontade, a marginalia se-

    gue cometendo atrocidades e rindo da impo-

    tncia da sociedade.9

    Entendemos que no possvel pro-

    duzir anlises sobre a construo das po-

    lticas de segurana pblica no Brasil de

    forma reducionista ou dicotomizada. Essa

    suposta distino entre vtimas e algozes

    no exerccio da violncia urbana no to

    passvel de discriminao quanto as falas

    dos leitores querem fazer crer. Atravs do

    aumento da demanda social por polticas

    repressivas de segurana, expresso nessas

    falas, evidencia-se uma multiplicidade na

    rede de atores, que operam na produo de

    discursos no campo da segurana pblica,

    produzindo objetividades e subjetividades,

    que tem legitimado que as polcias realizem

    prticas semelhantes quelas produzidas

    por membros do PCC, se autoconferindo

    o exerccio do poder de julgar, condenar e

    executar.

    Nesse sentido, frente as arbitrarie-

    dades que temos acompanhado nas prticas

    de segurana pblica no Pas, tais como a

    letalidade das ocupaes das favelas, o uso

    dos autos de resistncia como forma de

    legitimar prticas de extermnio, a organi-

    zao de esquadres da morte, o arquiva-

    mento de casos de homicdios sem a devida

    denncia, nesse artigo, objetivamos colocar

    em questo as polticas de segurana pbli-

    ca nas intervenes que levam produo

    de mortes. A partir do dever do Estado de

    promover a segurana da populao, pro-

    blematizamos a forma como se legitima a

    produo de morte como prtica no inte-

    rior das aes de segurana pblica. Isto ,

    como vai se permitir que agentes do Esta-

    do faam uso do poder de matar de forma

    arbitrria e/ou abusiva na execuo de suas

    funes pblicas. Para tanto, nos funda-

    mentamos nas noes foucaultianas de bio-

    poder e biopoltica, para evidenciar a forma

    como se produzem os discursos que defi-

    nem quem pode viver e quem deve morrer

    nas intervenes policiais.

  • Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 63

    Do direito sobre as vidas e mortes

    As preocupaes sociais em torno da

    segurana tem se constitudo como uma das

    problemticas centrais na contemporaneida-

    de. Essas preocupaes produzem efeitos na

    organizao do espao urbano, nos modos

    como nos vestimos, como circulamos no dia

    a dia das cidades, como nos relacionamos

    com outros, e mesmo na forma como elege-

    mos nossos representantes polticos. em

    nome da proteo ordem social e frente a

    esse sentimento de insegurana que a popu-

    lao delega ao Estado o uso da violncia

    legtima.

    Se pensarmos nas anlises a respei-

    to dos motivos que levam os homens a se

    organizarem coletivamente em torno de es-

    truturas como o Estado, identificaremos que

    estas tem como eixo central a segurana. As

    teorias contratualistas, protagonizadas por

    pensadores como Hobbes, Rousseau e Lo-

    cke, partem da anlise sobre o que seria o

    estado de natureza do homem, para pen-

    sar porque empreendemos esse pacto social,

    por meio do qual abrimos mo de parte dos

    nossos direitos naturais, individuais, em

    prol da proteo fornecida por uma autori-

    dade maior. Para Thomas Hobbes (1651) o

    estado de natureza do homem seria intrin-

    secamente violento. No estado natural todos

    os homens teriam direito a tudo, entretanto,

    como as coisas so escassas, isso levaria

    os homens a uma guerra constante. Isto ,

    sem mecanismos de controle, os homens

    ficariam entregues barbrie e ao caos so-

    cial. Seria em nome do interesse em acabar

    com as guerras e estabelecer a ordem que

    os homens aceitariam aderir ao contrato so-

    cial (Bobbio, 1909). Neste os sujeitos abrem

    mo de algumas liberdades individuais em

    nome de um poder centralizado que assegu-

    ra proteo e ordem. J Jean Jacques Rous-

    seau (1762), afirmava que o contrato social

    deveria assegurar as liberdades individuais.

    O papel do soberano deveria ser o de prote-

    ger o povo contra aqueles que fazem o mal,

    garantindo a possibilidade de exerccio da

    autonomia dos homens. Por fim, para Jonh

    Locke (1689) os homens teriam direitos na-

    turais, que so o direito vida, liberdade e

    propriedade. Seria para proteger esses di-

    reitos que o homem criou os governos.

    Contemporaneamente, o Estado se-

    ria esse rgo central que cumpre a funo

    de controle que, por meio da violncia leg-

    tima que lhe foi concedida pelos indivdu-

    os, impe-se frente s formas de violncia

    exercidas por entes privados. Deste modo,

    em nome do medo de uma suposta natureza

    violenta e para proteo dos direitos indivi-

    duais que se concede ao Estado o poder de

    matar.

    O que passa a ser naturalizado nas te-

    orias desses autores acerca do contrato social,

    por exemplo, a existncia de uma demanda

  • Reis, C.; Guareschi, N.

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 6 4

    de ordem social e da necessidade de sua de-

    fesa. Entretanto, como apontado por Reisho-

    ffer e Bicalho (2009), questionamos de que

    ordem estamos falando, em quais momentos

    histricos e vinculada a quais saberes.

    Coimbra, Lobo e Nascimento (2008)

    atentam para o fato de que:

    O surgimento de uma concepo do humano

    e da universalizao dos direitos no se

    deu da forma grandiosa e afirmativa como

    nos querem fazer acreditar as revolues

    burguesas e suas declaraes. Naquele

    mesmo perodo, no sculo XVII, foi

    necessrio dar visibilidade cientfica ao

    chamado indivduo perigoso, atravs do

    saber mdico e da reforma das prticas

    de punio, para que uma nova forma de

    ordenao social pudesse se manter: a

    normalizao das populaes (p.93).

    Isto permite que se desmistifique a

    ideia de que qualquer ordem social seria na-

    tural. Ainda, possibilita que pensemos que

    essas noes de ordem social esto articu-

    ladas a mecanismos biopolticos de contro-

    le das condutas individuais e coletivas. Ao

    falamos em biopoltica estamos nos reme-

    tendo a forma como Foucault analisou a

    emergncia de uma arte de governar. A bio-

    poltica dirige-se multiplicidade dos ho-

    mens, no enquanto corpo-indivduo, mas

    como corpo-populao. A populao en-

    tendida no como um simples conjunto de

    pessoas, mas como uma massa global afe-

    tada por processos que so prprios da vida,

    como nascimentos, taxas de fecundidade,

    mortalidade e longevidade. A biopoltica

    opera sobre a populao como um elemen-

    to que possui suas regularidades e leis pr-

    prias de transformao e deslocamento que

    so passveis de serem estudadas e descritas

    pela cincia.

    Nesse contexto, para o autor, um

    dos instrumentos essenciais de gerencia-

    mento populacional so os dispositivos de

    segurana. Esses mecanismos constituem-

    -se como aes de governo orientadas para

    a proteo da sociedade frente s condutas

    desviantes daqueles que ousam insurgir-se

    contra a sua ordem (Foucault, 1977-1978).

    No se referem apenas a instituies como

    a polcia, mas a todas as instituies e fun-

    es sociais ramificadas em diferentes pon-

    tos da sociedade que servem para assegurar

    o cumprimento dos regulamentos e o fun-

    cionamento dos poderes do Estado (Olivei-

    ra, 2009). Atravs dos dispositivos de segu-

    rana busca-se apreender o ponto em que as

    coisas iro se produzir, sejam elas desej-

    veis ou no. No se trata simplesmente de

    evitar determinadas condutas, mas de admi-

    nistr-las, operando no somente sobre os

    corpos individuais, mas nas relaes entre

    as pessoas e destas com as coisas. Abre-se

    a um campo frutfero de criao de apara-

    tos de governo sobre a vida da populao.

  • Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 65

    A biopoltica uma das estratgias

    que compem o biopoder. Este refere-se

    a um poder do Estado que tem como foco

    o investimento na vida. Michel Foucault

    (1977-1978), em seu curso intitulado Se-

    gurana, Territrio, Populao, ao definir

    o que denomina de biopoder, vai evidenciar

    de que forma, na passagem do sculo XVIII

    para o XIX, a vida biolgica e a sade se

    tornaram alvos fundamentais de um poder

    sobre a vida por meio de um processo de

    estatizao do biolgico. Com a necessida-

    de de fortalecimento dos Estados-Nao, o

    poder de vida e morte do soberano foi subs-

    titudo por um poder destinado a produzir

    foras, a faz-las crescer e a orden-las,

    mais do que barr-las, dobr-las ou destru-

    -las. Fala-se de um poder que gere a vida,

    que empreende sua gesto, majorao, mul-

    tiplicao e o exerccio de controles preci-

    sos e regulaes de conjunto.

    A partir dessas noes foucaultianas,

    reinscrevemos os discursos que atravessam

    o campo da segurana pblica no escopo

    poltico dos quais supostamente foram afas-

    tados pelas mscaras da cincia, da tecni-

    cidade e do humanismo. A manuteno da

    ordem e da (in)segurana no podem ser

    compreendidas de outra forma que no no

    interior de uma razo de Estado.

    A partir disso assumimos uma postu-

    ra de estranhamento frente a essa oposio

    entre a barbrie e a civilizao, supostamen-

    te garantida pelos Direitos Humanos, e reto-

    mamos a questo: se, de fato, a positivao

    dos Direitos Humanos pelas constituies

    estatais impe a construo de polticas p-

    blicas que garantam a proteo vida, como

    possvel explicar os extermnios pratica-

    dos por agentes do Estado? Ainda: como,

    em meio ao Estado democrtico de direito,

    torna-se possvel o desenvolvimento de uma

    poltica de segurana pblica violadora des-

    ses direitos? Para nos aproximarmos dessas

    questes preciso colocar em anlise a pr-

    pria construo dos Direitos Humanos, evi-

    denciando-os no somente como uma fer-

    ramenta de contra-poder10, mas como algo

    que tambm opera modos de governamento.

    A economia dos direitos

    Em seu curso intitulado O Naci-

    mento da Biopoltica, Foucault (1978-

    1979) analisa a forma como essa raciona-

    lidade de governo, que opera atravs de

    tecnologias biopolticas, emerge, em parte,

    impulsionada pelo desenvolvimento dos

    ideais liberais no sculo XVIII. A necessi-

    dade de expanso dos mercados impunha

    uma demanda de restrio das intervenes

    do Estado no sistema econmico. Neste

    mesmo perodo, o crescimento populacional

    tornava necessrio o desenvolvimento de

    tecnologias de governo que dessem conta de

    administrar no somente os sujeitos indivi-

  • Reis, C.; Guareschi, N.

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 6 6

    duais, mas esse conjunto da populao. Para

    que esse modelo de governo produzisse

    efeito no conjunto da populao era preciso

    que os sujeitos fossem livres para gerir suas

    condutas. Nesse sentido, os mecanismos de

    governo biopolticos vo atuar como aes

    sobre aes, de forma cada vez menos coer-

    citiva, permitindo o aumento da autonomia

    da populao, respondendo tambm a de-

    manda de produo de sujeitos livres para

    atuarem no jogo de mercado (Guareschi,

    Lara & Adegas, 2010).

    A primeira declarao de direitos,

    intitulada Declarao Universal dos Direitos

    do Homem e do Cidado, de 1789, emerge

    articulada a essa necessidade de restrio

    dos poderes soberanos. A primeira decla-

    rao buscava a proteo dos cidados em

    relao s violncias produzidas pelos Esta-

    dos ditatoriais e totalitrios, afirmando o di-

    reito integridade, segurana e s diversas

    formas de liberdade. por isto que essa pri-

    meira declarao considerada por muitos

    juristas como relativa a direitos negativos,

    isto , que se efetivariam sem a interveno

    do Estado, uma vez que viriam, justamente,

    restringir a possibilidade de ao deste. A

    formulao desses direitos, ainda que atre-

    lada a um processo de lutas sociais contra

    os excessos dos governos absolutistas,

    tambm o que vai ancorar o desenvolvimen-

    to dos Estados modernos e do capitalismo.

    Norberto Bobbio (1909) analisa a

    ntima relao entre as afirmaes de Di-

    reitos Humanos11 e o desenvolvimento de

    uma concepo individualista. Para ele, o

    que ocorre na primeira declarao de direi-

    tos uma inverso que coloca o indivduo

    como anterior ao Estado. Segundo referido

    no texto da prpria declarao: A conser-

    vao dos direitos naturais e imprescritveis

    do homem o objetivo de toda associao

    poltica (DDHC, 1789). Nesta inverso, a

    finalidade do Estado estaria vinculada ao

    crescimento dos indivduos e a ampliao

    de sua autonomia. Para o autor, o indivi-

    dualismo estaria tambm na base do ideal

    democrtico, uma vez que todos os sujeitos

    so livres para tomar as decises que lhes

    dizem respeito. No se tem um olhar para o

    todo, pois o interesse coletivo representa-

    do pela soma dos interesses individuais.

    Embora a segurana seja um direi-

    to de primeira gerao, isto relacionado

    restrio dos poderes do Estado, para que

    se possa garantir a proteo da integridade

    pessoal e patrimonial preciso que o Esta-

    do disponha de grande investimento no apa-

    relhamento das instituies de segurana e

    na construo de diretrizes polticas para a

    conduo das aes de segurana pblica.

    Nesse sentido, se por um lado esse

    contrato social, representado pelas garantias

    constitucionais dos Estados-Nao, que pro-

    porciona a possibilidade de efetivao dos

  • Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 67

    Direitos Humanos, por outro lado, esse

    mesmo mecanismo que d abertura e legi-

    timidade para as aes de governo do Esta-

    do de uso da violncia legalizada, em nome

    da defesa da vida individual e das relaes

    sociais. Diante da constatao dos limites

    das declaraes de Direitos Humanos como

    ferramenta de contra-poder, para finalizar,

    trazemos as discusses foucaultiana sobre o

    que o autor denominou do direito dos go-

    vernados como possibilidade de produzir

    resistncia frente s violaes de direitos

    produzidas pelo Estado.

    As Polticas de Segurana Pblica e os

    Direitos Humanos: quem pode viver e

    quem deve morer?

    Por fim, trazemos aqui a questo

    dos excessos do biopoder e do direito dos

    governados. Foucault (1975-1976), no

    curso Em defesa da sociedade, coloca

    em questo a forma como, em meio a um

    poder que tem como objetivo aumentar a

    vida e multiplicar suas possibilidades, vai

    se exercer o direito de matar e a funo

    do assassnio. Como, nessas condies,

    possvel, para um poder poltico, matar,

    reclamar a morte, pedir a morte, mandar

    matar, dar a ordem de matar, expor mor-

    te no s seus inimigos, mas seus prprios

    cidados? (p.304). Frente a esse questio-

    namento, Foucault (1975-1976) apresenta

    a problemtica do racismo de Estado, este

    seria o meio de produzir, no interior do

    contnuo biolgico da espcie humana, um

    corte que permite subdividir a espcie e di-

    ferenciar aqueles que devem viver e os que

    devem morrer. O racismo de Estado pro-

    duzir uma espcie de relao biolgica e

    positiva entre a morte de uns e a qualifica-

    o da vida de outros. Para a qualificao

    da vida da populao, enquanto espcie,

    seria preciso eliminar do interior desta os

    degenerados, os anormais, os criminosos,

    os desviantes. A funo assassina do Esta-

    do ser possvel, pois se justifica, no inte-

    rior do biopoder, como forma de fortalecer

    a vida. Foucault (1975-1976) atenta, ainda,

    para o fato de que essa produo de morte

    no se refere somente ao assassinato direto,

    mas tambm as diversas formas de exposi-

    o morte, aos riscos ou mesmo a morte

    poltica, a rejeio, a aniquilao da potn-

    cia de vida.

    Uma das formas de legitimao do

    uso da violncia letal pelo Estado, funda-

    menta-se no discurso da proteo social,

    tanto no que se refere a segurana individu-

    al, quanto na manuteno da ordem pbli-

    ca, frente proliferao de algo como, por

    exemplo, uma epidemia das drogas, que

    supostamente levaria mais e mais sujeitos

    para a criminalidade, principalmente, junto

    ao trfico de drogas. Somos forados, pelos

    discursos alarmantes da suposta epidemia, a

  • Reis, C.; Guareschi, N.

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 6 8

    pensar no uso de drogas como um proble-

    ma para o campo da segurana pblica que

    coloca em risco a prpria condio do Es-

    tado de proteo de seus cidados, frente

    ameaa de ampliao da ao do trfico de

    drogas. O racismo de Estado coloca, assim,

    a possibilidade de fazer agir o direito de

    morte. Coloca de um lado os reconhecidos

    cidados e do outro esses sujeitos do trfico,

    da violncia e da criminalidade.

    No por acaso, observamos o uso

    do discurso belicoso da guerra s drogas

    por parte dos agentes da segurana pblica.

    Essa guerra a que ficamos expostos se faz

    em nome da vida, muitas vezes, em nome

    da vida da prpria juventude a quem se

    mata. Abre-se, em pleno modelo biopolti-

    co, a possibilidade de uso do velho poder

    soberano de fazer morrer. O racismo fora

    o jogo entre os mecanismos de biopoder e o

    direito soberano de matar (Foucault, 1975-

    1976). Neste cenrio, entendemos que no

    possvel fazer uma leitura do exerccio

    do biopoder que o reduza a uma tanatopo-

    ltica12, mas tambm no possvel ignorar

    a produo da morte como uma estratgia

    presente no cenrio poltico ou, no mnimo,

    a produo de polticas e prticas de gover-

    no que efetivamente produzem morte.

    frente a esses excessos do biopo-

    der que Foucault (1968) evoca o direito dos

    governados. Para tanto, parte da recusa des-

    sa noo de direitos humanos fundamentais

    que existiriam arraigados uma natureza

    etrea, enquanto direitos sagrados que nos

    protegeriam de coisas inerentemente ma-

    lvolas frente uma populao vitimiza-

    da, e, entendendo o poder como processos

    de captura e resistncia, passa a pensar no

    direito dos governados. Isto possibilita pen-

    sar que a biopoltica age por pactuaes que

    podem produzir excessos de governo, mas

    age tambm produzindo resistncias. Cabe

    ento questionar como no ser governado

    deste jeito e como fazer valer a vontade de

    construir outros modos de vida. Cabe pensar

    as formas como resistimos a esses excessos

    de governo que se do dentro de um Estado

    de direito, supostamente democrtico. Cabe

    pensar como no interior da democracia abre-

    -se espao para a tirania, mas tambm como

    isso gera aes de denncia e resistncia.

    Por fim, entendemos que as anlises

    foucaultianas nos auxiliam a pensar que as

    aes da polcia aqui relatadas, que levam

    a produo de morte, nas quais se faz agir

    o poder de julgar, condenar e executar, no

    podem ser compreendidas dissociadas de

    uma prtica governamental. Logo, o que

    est em questo a forma como a pobreza,

    a violncia, o trfico e, em ltima medida, a

    morte desses sujeitos, vai se inserir nos cl-

    culos biopolticos contemporneos operan-

    do um corte na populao que divide aque-

    les a quem se assegura o direito de viver,

    daqueles a quem se faz, ou se deixa, morrer.

  • Produo de Morte como Prtica de Governo: Discursos Sobre Segurana Pblica

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 69

    Notas

    1 Folha de So Paulo: http://www1.folha.

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    da-rota-deixa-9-mortos-e-8-presos.shtml.

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    pol ic ia /sp-operacao-da-rota-contra-

    39tribunal-do-crime39-termina-com-9-

    mortos,ef42ac68281da310VgnCLD20

    0000bbcceb0aRCRD.html. G1: http://

    g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/

    not icia/2012/10/pol icia-reconst i tui-

    operacao-da-rota-que-matou-nove-em-

    varzea-paulista.html.2 Waiselfisz, Julio Jacobo (2011a).3 Waiselfisz, Julio Jacobo (2011b).4 Disponvel em: http://oglobo.globo.

    com/pais/apenas-32-dos-inqueritos-nao-

    solucionados-sao-concluidos-5194705.5 Os chamados autos de resistncia esto

    previstos no Cdigo de Processo Penal,

    Decreto Lei n 3.689 de 03 de Outubro de

    1941, Art. 292, onde diz que: Se houver,

    ainda que por parte de terceiros, resistncia

    priso em flagrante ou a determinada

    por autoridade competente, o executor e

    as pessoas que o auxiliarem podero usar

    dos meios necessrios para defender-se

    ou para vencer a resistncia, do que tudo

    se lavrar auto subscrito tambm por duas

    testemunhas.

    6 G1: http://g1.globo.com/sao-paulo/

    noticia/2012/09/quem-nao-reagiu-esta-

    vivo-diz-alckmin-sobre-acao-da-rota.html7 Notcia disponvel em: . Acessado

    em: setembro/2012.8 http://www.issoebizarro.com/blog/

    acidentes-tragedias-assassinatos-suicidios/

    policiais-da-rota-matam-9-vagabundos-

    pcc-na-varzea-paulista-em-sp/9 Notcia disponvel em: http://zerohora.

    c l i c rb s . com.b r / r s /no t i c i a /2009 /05 /

    policial-militar-morre-apos-tiroteio-com-

    assaltantes-em-porto-alegre-2498027.html.10 Expresso utilizado por Michel Foucault

    em Microfsica do Poder (1979).11 Embora a segunda Declarao Universal dos

    Direitos Humanos, de 1948, tenha tido como

    foco a afirmao dos direitos econmicos e

    sociais, como a sade, educao, assistncia

    social, trabalho, moradia, entre outros, em

    uma oposio clara as mazelas produzidas

    pelo capitalismo, seus efeitos tambm no

    podem ser analisados se no dentro de

    uma lgica de mercado e em interface com

    essa perspectiva individualista. Ao buscar

    garantir a melhoria das condies de vida

    da populao, essa segunda declarao

    vai impulsionar o desenvolvimento

    de polticas pblicas que tero como

    foco o desenvolvimento da autonomia,

  • Reis, C.; Guareschi, N.

    Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):58-71 | 7 0

    traduzida, na grande maioria das vezes,

    como a possibilidade de sobrevivncia dos

    indivduos dentro do jogo de mercado. Logo,

    ao analisarmos os movimentos de defesa dos

    Direitos Humanos e a construo de polticas

    pblicas, tais como as polticas de segurana

    pblica, precisamos estar atentos para os

    jogos de interesse que esto articulados a

    elas e que vinculam intimamente o sujeito

    de direito e o sujeito de interesse.12 Para Foucault (1988) a tanatopoltica seria

    o avesso da biopoltica. Enquanto essa busca

    o investimento na vida, aquela tem a morte

    como estratgia de governo.

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    Recebido em: 15/10/2013 Aceito em: 15/12/2013