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Produção Didático-pedagógica:
O campo de conhecimento da Ginástica: possibilidades de trato na
Educação Física Escolar
APRESENTAÇÃO
Esse trabalho tem por objetivo reunir ideias de atividades a partir do campo de
intervenção da Ginástica, com o intuito de oferecer ao professor possibilidades de trato
com esse conhecimento nas aulas de Educação Física Escolar. As atividades aqui
propostas não são rígidas, nem tão pouco constituem uma única forma de abordagem da
Ginástica, mas vislumbram possíveis caminhos metodológicos para aplicá-la neste
contexto. Desse modo, espera-se que o professor, a partir dos encaminhamentos
apresentados, possa (re) criar suas ações de modo a legitimar a Ginástica no contexto da
escola, tornando-a repleta de sentido e significado na vida dos alunos.
Por que a Ginástica?
Esse conhecimento destaca-se por ser pouco visto nas aulas de Educação Física
e pelo seu grande valor educativo e lúdico. Tratar a Educação Física pela ótica da
Ginástica traz incontáveis benefícios aos educandos, pois ao mesmo tempo em que
educa, possibilita o conhecimento do próprio corpo, de suas possibilidades e limites,
divertindo, alegrando, proporcionando realização pessoal, por meio de atividades
desafiadoras.
Institucionalmente, a Ginástica é um dos conhecimentos legítimos da área e nas
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCEs-PARANÁ, 2008) ela está presente
como conteúdo estruturante, e deste ramificam-se outros conteúdos, denominados
básicos, os quais podemos destacar: a Ginástica Rítmica, Ginástica de Condicionamento
Físico, Ginástica Artística/Olímpica e a Ginástica Geral.
A partir desse conhecimento espera-se que o aluno tenha condições de conhecer
as possibilidades do próprio corpo, adquirindo “subsídios para questionar os padrões
estéticos, a busca exacerbada pelo culto ao corpo e aos exercícios físicos, bem como os
modismos que atualmente se fazem presentes nas diversas práticas corporais, inclusive
na ginástica” (PARANÁ, 2008, p.67). A proposta apresentada pelas DCEs é de
proporcionar ao aluno um conhecimento amplo acerca da Ginástica, englobando não só
a vivência prática da manifestação, mas também conhecimentos teóricos e críticos que
permeiam seu surgimento e consolidação da na sociedade.
Em Souza (1997) encontramos outra possibilidade de sistematização da
Ginástica, a partir de campos de atuação. A autora traz uma organização de cinco
campos, sendo que alguns deles são também contemplados pelas DCEs. Os campos são:
a) Ginástica de condicionamento físico;
b) Ginástica de conscientização corporal;
c) Ginásticas fisioterápicas;
d) Ginásticas competitivas;
e) Ginástica de demonstração.
Neste sentido, a partir das orientações das DCEs, a qual norteia o trabalho nas
escolas públicas do Paraná, e do encaminhamento proposto por Souza (1997) sobre os
campos de atuação da Ginástica, buscaremos reunir nesse estudo os principais aspectos
dessa manifestação da cultura corporal, além de indicar propostas de atividades para as
aulas de Educação Física escolar. Vale salientar que as Ginásticas fisioterápicas não
serão discutidas aqui, uma vez que pertencem à área da fisioterapia. As demais serão
tratadas mais detalhadamente, vislumbrando possibilidades de abordagem no contexto
da escola.
GINÁSTICA DE CONDICIONAMENTO FÍSICO
São as modalidades ginásticas que objetivam a aquisição ou a manutenção do
condicionamento físico de indivíduos normais ou de atletas. Dentre elas, podemos
citar a localizada, aeróbica, musculação, step, entre outras (SOUZA, 1997).
Essa variação ginástica pode ser observada em muitos locais, como as
academias, os clubes e também os treinamentos desportivos, sendo que sua meta
principal é atingir alta performance. Assim sendo, ela também se faz presente na
preparação para os esportes, assumindo papel relevante. Ainda podemos observar essa
modalidade nas aulas de Educação Física escolar, onde muitas vezes apresenta uma
conotação de aquecimento e preparação para a aula em si. Sobre esse assunto, Barbosa-
Rinaldi e Souza (2003, p. 118) salientam que
as ginásticas de condicionamento físico também estão presentes no treinamento de equipes esportivas, em especial, as de alto nível. Talvez, por isso, seja comum seu trato na escola acontecer nos mesmos moldes, com caráter utilitarista. Muitas vezes, é usada como aquecimento para a parte principal da aula, configurada pelos esportes, sobretudo os coletivos, como voleibol, basquete e handebol.
As academias de ginástica, na forma como são estruturadas nos dias atuais,
foram introduzidas no Brasil a partir do século XIX e apresentavam variados formatos.
Umas dedicavam-se ao ensino de lutas, outras de ginástica, outras da natação e outras,
ainda, com um formato semelhante às academias de hoje, agregando o halterofilismo e a
ginástica associada à dança clássica e/ou moderna (CAPINUSSÚ, 2006).
As variadas formas ginásticas são muito procuradas nas academias, na
atualidade, sendo que o motivo principal é a busca do corpo perfeito, ideal, aquele corpo
veiculado pela mídia e aceito pelas pessoas como modelo a seguir. As pessoas lotam as
academias de ginástica, submetendo-se a uma carga intensa e muitas vezes massacrante
de exercícios, numa busca desenfreada e inconsciente de um corpo socialmente
determinado e desejado (SOUZA, 1992). Entretanto, a Educação Física é a área do
conhecimento mais apropriada para desmistificar este culto, o culto ao corpo perfeito,
sem falhas, liso, magro. Este corpo, tido como ideal, na realidade, não é o de todos e na
maioria das vezes não pode ser atingido. Dessa forma, é necessário mostrar ao aluno,
durante as atividades, essa realidade; proporcionar um direcionamento crítico para a
aula, de modo que cada um reconstrua seus conceitos sobre o assunto. É importante
fazer o aluno compreender as várias manifestações da ginástica na contemporaneidade e
lançar um olhar crítico sobre essa questão, formando uma nova imagem. Não
permanecendo com um conceito equivocado e turvo sobre essa realidade.
As Diretrizes Curriculares para a Escola Pública do Estado do Paraná já
demonstram essa preocupação quando trazem os chamados elementos articuladores.
Eles visam romper com a maneira tradicional com que são tratados os conteúdos e, em
contrapartida, propõem uma prática mais reflexiva e contextualizada. Os elementos
articuladores relacionados à prática da ginástica de condicionamento físico podem ser:
Cultura Corporal e Corpo, Cultura Corporal e Saúde, Cultura Corporal e Mídia,
entre outros de igual importância.
De acordo com as DCEs, essas temáticas devem ser abordadas pelo professor
de Educação Física de maneira que leve o aluno a refletir criticamente o contexto social,
fazendo-o perceber e discutir a cultura corporal e a partir de suas relações com o Corpo,
com a Saúde e com a Mídia, entre outras. “As preocupações com o corpo e com os
significados que o mesmo assume na sociedade constituem um dos aspectos que
precisam ser tratados no interior das aulas de Educação Física, para que sejam
desmistificadas algumas perspectivas ingênuas no trato com essa questão” (PARANÁ,
2008, p. 54).
O documento ainda acrescenta que “os cuidados com a saúde não podem ser
atribuídos tão somente a uma responsabilidade do sujeito, mas sim, compreendidos no
contexto das relações sociais, por meio de práticas e análises críticas dos discursos a ela
relativos” (PARANÁ, 2008, p. 56). A prática pedagógica no contexto da escola, de
acordo com as diretrizes, deve estar baseada em uma ação crítica e reflexiva que parte
da ação do professor, principal responsável no processo de construção e reconstrução do
pensamento. Sendo assim,
a atuação do professor de Educação Física é de suma importância para aprofundar a abordagem dos conteúdos, considerando as questões veiculadas pela mídia em sua prática pedagógica, de modo a possibilitar ao aluno discussão e reflexão sobre: a supervalorização de modismo, estética, beleza, saúde, consumo; os extremos sobre a questão salarial dos atletas; os extremos de padrões de vida dos atletas; o preconceito e a exclusão; a ética que permeia os esportes de alto nível, entre outros aspectos que são ditados pela mídia (PARANÁ, 2008, p. 62).
Nesse sentido, cabe ao professor de Educação Física cuidar para garantir esse
direito a seus alunos, tornando as aulas mais produtivas e fazendo do conhecimento
crítico e consciente a sua principal meta. Transformar a sua aula num espaço para
ampliar horizontes, tirar dúvidas e fazer o aluno refletir sobre assuntos que nunca antes
tinha refletido, torna o ensino da Educação Física mais completo e legítimo.
Figura 1: Ginástica de Condicionamento Físico – Aula de Ginástica com camas
elásticas (Fonte: http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginásticas. Acesso
em: 22/06/2011).
Pensando as Ginásticas de Condicionamento Físico na Educação Física
Escolar...
1. Apresentação de um vídeo sobre ginásticas de condicionamento físico:
musculação, aeróbica e treinamento desportivo. Em seguida, realizar discussão do tema
com os alunos, enfocando questões como os sacrifícios dos atletas, a busca do corpo
perfeito, o padrão de beleza ditado pela sociedade e propagado pela mídia, os altos
salários dos jogadores de futebol, entre outros.
2. Realizar um circuito com steps, pesos, abdominais, alongamentos.
Dividir os alunos em grupos de cinco ou seis, que deverão passar por todas as estações
por, aproximadamente, dois minutos cada uma.
3. Ao finalizar, discutir com os alunos as impressões causadas pela
atividade. Perceber como o corpo se comporta antes, durante e após a atividade.
4. Levantar questões como: a) O que você entende por condicionamento
físico? b) Como seria uma ginástica para melhorar o condicionamento físico? c) Quem
busca a ginástica nessa perspectiva? d) Em que locais podemos encontrar esse tipo de
manifestação? Fomentar discussões acerca da Ginástica de Condicionamento Físico, a
Saúde, a Mídia e os padrões corporais na sociedade contemporânea.
5. Identificar os padrões corporais e suas relações com a ginástica, presente
nos meios de comunicação e trazer para a próxima aula, para discutirmos a respeito do
assunto.
GINÁSTICA DE CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL
São técnicas alternativas que reúnem novas propostas de abordagem do corpo.
Surgiram na década de 70 no Brasil e tiveram origem na busca de soluções para
problemas físicos e posturais. Tem como pioneira, a Anti-Ginástica. Mais exemplos
são a eutonia, a bioenergética, etc. (SOUZA, 1997).
Para Souza (1992, p. 11), algumas palavras definem essas novas tendências
(Eutonia, Antiginástica, Bioenergética, Biodança, etc.) as quais a autora julga
fundamentais para quem trabalha com a área da Educação Física, a saber, “consciência
de si, reeducação postural, toque, distensionamento, relaxamento, respeito ao ritmo
individual e prazer no movimento”.
Essa nova concepção de ginástica surgiu em contraposição à forma tradicional
de se praticar atividades físicas, onde o desrespeito à individualidade e a repetição
mecânica do exercício impedem a percepção do movimento e o conhecimento do
próprio corpo. Sob essa perspectiva tradicional, os exercícios são feitos de forma
parcial, não tratando o indivíduo na sua totalidade. Em contrapartida, a proposta da
Ginástica de Conscientização Corporal, que também recebe outras denominações como
Propostas Alternativas de Abordagem do Corpo, Ginásticas Suaves, Movimentos
Alternativos, Ginástica Light, entre outras, propõe como ponto de partida uma visão
integral do ser humano, não separando suas dimensões, o que leva à Consciência
Corporal. Muitas pessoas que não se adaptam às atividades físicas convencionais
demonstram grande aceitação por essas novas tendências, as quais apresentam como
aspectos imprescindíveis o prazer da prática e a realização pessoal (SOUZA, 1992).
Segundo Dias (2010), o diálogo que a pessoa estabelece com o seu mundo
vivido é elemento norteador dos processos que organizam e dinamizam a consciência
corporal desta mesma pessoa, nas mais variadas faixas etárias. Para compreender
melhor essa temática, e no intuito de oferecer mais subsídios para o trabalho do
professor na escola, segue abaixo maiores esclarecimentos de algumas manifestações
que fazem parte desse campo de atuação.
Antiginástica:
Diferentemente do que sugere o nome, não é uma reação contrária ao exercício
físico. Trata-se de uma técnica corporal que usa movimentos precisos, respeitando a
anatomia humana, a fisiologia dos músculos e as articulações, e trazendo uma
consciência mais ampla do próprio corpo. O nome polêmico justifica-se pela época em
que surgiu. A fisioterapeuta francesa Thérèse Bertherat, hoje com 75 anos, criou a
técnica durante os anos 70, no auge da contracultura. Sobre a antiginástica, Thérèse
Bertherat afirma "É uma aliança do corpo, do coração e da cabeça. Ou, ainda, uma
forma de percepção das emoções que o corpo abriga" (Relatos da fisioterapeuta Thérèse
Bertherat, CASO, 2006).
Eutonia:
A palavra eutonia (do grego eu = harmonia e tonos = tensão), foi criada em 1957
por GERDA ALEXANDER, para traduzir a ideia de uma tonicidade harmoniosamente
equilibrada e adaptada à situação, ou a busca do equilíbrio das tensões. O método
objetiva tornar o corpo consciente, na tentativa de suprir as tensões e adquirir uma
gestualidade eutônica, ou seja, econômica, harmônica e fluída. Pretende reencontrar o
movimento natural do corpo humano, restaurando o equilíbrio comprometido pela vida
moderna. Estimula o indivíduo a tomar consciência de sua posição habitual, a fim de
perceber o que se passa em seu corpo (SOUZA, 1992, P. 34).
Bioenergética:
Esta variação ginástica tem como ponto de partida o trabalho corporal, buscando
a integração entre corpo, mente e espírito, já que o homem deve ser visto como uma
unidade psicossomática.
Souza (1992), afirma que a bioenergética procura tornar os indivíduos mais
conscientes e sensíveis ao que se passa neles, considerando o corpo como um todo, ou
seja, algo indivisível, dando enfoque à respiração, que deve ser natural, ampla e
determinante do ritmo do movimento.
Biodança:
É uma experiência educacional e re-educacional que busca o desenvolvimento
pleno das pessoas na sua essência verdadeira, como seres capazes de criar, amar e viver
em contato consigo mesmas, com os outros e com transcendente (a totalidade).
Biodança é uma abordagem terapêutica pedagógica, sem ideologias políticas, religiosas,
culturais, mas com um profundo vínculo com todas as ideologias que se encontram a
favor da vida e da liberdade (PAULA, 2009).
Souza (1992, p. 36) sobre a biodança, afirma ainda que uma das características
presentes nessa prática está na estimulação ao contato ou a aproximação sensorial com o
outro. E que seu principal objetivo é desenvolver potencialidades do indivíduo,
definidas como: vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência.
Observando essas definições e levando esses exemplos para a escola, podemos
perceber que é extremamente importante respeitar a individualidade de cada aluno e não
estabelecer como critério para as aulas um modelo que privilegie apenas a técnica, mas
que leve em consideração as diferenças e limites de cada um, proporcionando
oportunidades de reconhecimento do próprio corpo (autoconsciência) e de contato com
o outro.
Dentre os elementos articuladores apresentados pelas DCEs (PARANÁ, 2008),
os seguintes poderiam trazer inúmeras discussões em sala de aula, quando o assunto é
ginástica de conscientização corporal: Cultura Corporal e Corpo, onde “o corpo é
entendido em sua totalidade, ou seja, o ser humano é o seu corpo, que sente, pensa e
age” (p.54); Cultura Corporal e Saúde, que propõe que o professor levante
importantes questões como, por exemplo, “a crítica à lógica do sacrifício e do
sofrimento – não somente físico -; o excesso de exercícios que aumentam o risco de
lesões graves e a possível degradação do corpo...” (p. 56); bem como Cultura
Corporal e Diversidade, que sugere “uma conscientização das diferenças existentes
entre as pessoas” (p.61).
Figura 2: Ginástica de Conscientização Corporal: exercício de equilíbrio e
concentração para o desenvolvimento da consciência corporal (Fonte:
http://search.creativecommons.org/?q=imagens%20de%20eutonia. Acesso em:
29/06/2011).
Pensando as Ginásticas de Conscientização Corporal na Educação Física
Escolar...
1. Distribuir colchonetes aos alunos. Cada um deve se deitar sobre o seu
colchonete. O professor deve propor um relaxamento geral do corpo. Que se esqueçam
das coisas de fora da aula. Que se concentrem em seu próprio corpo, livrando-o de
tensões.
2. Em seguida, pede para que os alunos deem atenção ao pé direito; que
sintam cada dedo desse pé, movimentando-o devagar. Em seguida, flexionando, depois,
estendendo, girando para a direita, para a esquerda...
3. Assim deverá acontecer com cada parte do corpo: o pé esquerdo, as
pernas, um braço, depois o outro, as mãos, o tronco, pescoço e cabeça, etc. Sempre
pedindo que fiquem relaxados e que foquem sua atenção em cada parte designada,
separadamente. Ao final da atividade, discutir com os alunos sobre as impressões que
tiveram do exercício.
4. Pesquisar em casa sobre a antiginástica, a eutonia e a biodança, fazendo
cartazes, ou trazendo informações para apresentar à turma.
5. Na aula seguinte, os alunos deverão expor aquilo que encontraram nas
pesquisas, fazendo comparações entre os estilos, promovendo um espaço para
discussões.
6. Levar os alunos a um ambiente espaçoso e livre; propor que vendem os
olhos e caminhem pelo espaço. Ao encontrar um amigo, tocar sua face, cabelos e corpo,
tentando descobrir quem é.
7. Propor um futebol com os olhos vendados, utilizando uma bola com
guizo, a fim de mostrar as limitações dos diferentes, mas não menos importantes que os
outros.
Figura 3: Ginástica de Conscientização Corporal: exercício de alongamento para
o desenvolvimento da consciência corporal (Fonte:
http://search.creativecommons.org/?q=imagens%20de%20eutonia. Acesso em 29/06/2011).
GINÁSTICAS COMPETITIVAS
São todas as modalidades ginásticas que envolvem eventos de competição. Para
isso, possuem regras pré-estabelecidas que as regulamentam internacionalmente.
A FIG (Federação Internacional de Ginástica) é o órgão responsável por essa
regulamentação (BARBOSA-RINALDI, 2010).
Entre as ginásticas competitivas de responsabilidade da FIG estão:
As diferentes modalidades descritas acima são totalmente distintas e definidas
no regulamento técnico e no código de pontuação editado pela FIG. Cada modalidade
conta com suas regras pré-definidas que são respeitadas em competições regionais,
nacionais e internacionais. A FIG, por meio do seu Comitê Executivo e dos Comitês
Técnicos, determina o formato e título das competições, dimensões dos aparelhos,
valorização dos elementos, número e grau de dificuldade exigido em cada aparelho,
padrão de uniforme para ginastas e árbitros, número e função dos árbitros nas bancas,
formas de sorteio e o sorteio dos inscritos, normas disciplinares para ginastas, técnicos,
árbitros, federações filiadas e sansões aplicáveis (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA
DE GINÁSTICA, 2011).
As Ginásticas Competitivas, como a Artística, constituem modalidades elitistas,
por si só, visto que a maioria esmagadora dos adeptos não atinge o alto nível.
Entretanto, as mesmas propiciam grande desenvolvimento dos domínios corporal e
- Ginástica Acrobática;
- Ginástica Aeróbica;
- Ginástica Artística;
- Ginástica Rítmica;
- Ginástica de Trampolim.
cognitivo, que podem vir a ser utilizados em outras atividades, como o giro de pivô,
numa partida de basquetebol ou o salto com vara, no atletismo, citando apenas dois
exemplos (TSUKAMOTO e NUNOMURA, 2005, p. 162). Por esses e muitos outros
motivos são atividades que podem, e devem, ser tratadas nas aulas de Educação Física
escolar.
Ao abordarem as ginásticas competitivas no contexto escolar, Soares et al.,
(1992, p. 77) afirmam que a falta de aparelhos e instalações adequadas, unidas a uma
tendência à esportivização, que fixa normas de movimento, sexismo das provas, e a
capacidade individual inata, gera o que podemos chamar de elitização da ginástica,
criando um desestímulo para o professor ensiná-la. No entanto, neste contexto, o trato
com as ginásticas competitivas pode ir além da simples execução perfeita de
movimentos, sendo que em conexão com os elementos articuladores propostos pelas
DCEs podem promover valiosas experiências de discussão e reflexão.
Dentre os elementos articuladores que podem provocar discussões com o
universo da Ginástica Competitiva, podemos citar: Cultura Corporal e Corpo,
Cultura Corporal e Mundo do Trabalho, Cultura Corporal e Desportivização,
Cultura Corporal Técnica e Tática e Cultura Corporal e Mídia.
As relações com o trabalho se evidenciam uma vez que, para a maioria dos
atletas de alto nível, o esporte deixa de ser amador e torna-se uma profissão. A
desportivização por sua vez pode ser discutida quando, em muitos casos, sendo usada
pela mídia a fim de mascarar problemas sociais sérios como a fome, ou ainda quando a
padronização corporal se sobrepõe ao processo criativo da expressão corporal. Sob a
ótica da técnica e da tática, faz-se necessário um conhecimento mais amplo da
manifestação esportiva, não apenas pelo viés dos gestos mecânicos, técnicos e táticos.
E, por fim, propiciar discussões acerca das práticas corporais transformadas em
espetáculo e objeto de consumo, as quais são exibidas nos meios de comunicação,
vinculadas à divulgação e venda de produtos (PARANÁ, 2008).
Buscando conhecer melhor as modalidades competitivas reunidas pela FIG,
segue abaixo uma sinopse de cada uma delas com suas características principais.
Ginástica Acrobática:
É a mais nova modalidade da FIG e é caracterizada pela execução de exercícios
de força, equilíbrio, agilidade e flexibilidade. Consiste num esporte bonito, dinâmico e
espetacular para homens e mulheres. Possui muitos movimentos de solo da Ginástica
Artística nas suas séries, e movimentos rítmicos que ligam exercícios dinâmicos,
estáticos e individuais. Está dividida em cinco categorias:
1. Dupla mista;
2. Dupla feminina;
3. Dupla masculina;
4. Trio feminino;
5. Quarteto masculino.
Figura 5: Ginástica Competitiva - Ginástica Acrobática: exercício estático
realizado por trio feminino (Fonte:
http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginasticas. Acesso em 22/06/2011).
Suas séries são apresentadas num tempo máximo de 2 minutos e 30 segundos,
em um tablado de 12x12 metros e acompanhadas por música e coreografia
(CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA, 2011).
Os estudos realizados por Merida e Nista-Piccolo (2008) e Merida, Nista-Piccolo
e Merida (2008) mostram que a Ginástica Acrobática tem alto valor pedagógico para a
área da Ginástica e da Educação Física, uma vez que pode proporcionar vivências
motoras valiosas, necessita de poucos materiais e permite a participação de ginastas
com diferentes estruturas físicas. “Esta característica particular permite a longevidade
da participação esportiva e pode desencorajar a especialização precoce que, não raras
vezes, ocorre em certas modalidades esportivas” (MERIDA; NISTA-PICCOLO;
MERIDA, 2008, p. 160).
Ginástica Aeróbica:
Figura 6: Ginástica Competitiva - Ginástica Aeróbica: pose em série individual
feminina (Fonte: http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginasticas. Acesso
em: 22/06/2011).
Modalidade onde se executam padrões de movimentos aeróbicos complexos,
continuamente e com alta intensidade, originários da dança aeróbica tradicional,
utilizando a estrutura e o estilo da música, e interpretando-a. As coreografias devem
demonstrar força, flexibilidade, agilidade e equilíbrio. O praticante deve apresentar-se
de forma alegre, porém com naturalidade, sem expressões faciais exageradas
(CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA, 2011).
Poucos são os estudos realizados na área da Ginástica Aeróbica, e no Brasil ela
ainda é uma modalidade pouco conhecida. Em competições ela pode ser apresentada em
cinco categorias diferentes:
1) Individual Feminino
2) Individual Masculino
3) Par Misto
4) Trio (de homens, de mulheres ou misto)
5) E grupos de seis ginastas (de homens, de mulheres ou misto).
De acordo com o Código de Pontuação da modalidade as principais
características da Ginástica Aeróbica são: Complexidade, Coordenação, Originalidade,
Variedade, Dinamismo, Alta frequência de movimentos, Vigor, Energia, Intensidade,
Resistência, Potência, Velocidade, Força, Flexibilidade, Ritmo, Dança, Aeróbica,
Música, Expressão, Alegria, Carisma e Personalidade (FEDERAÇÃO
INTERNACIONAL DE GINÁSTICA, 2009).
Ginástica Artística:
Consiste em um conjunto de exercícios corporais sistematizados, aplicados com
fins competitivos, em que se conjugam a força, a agilidade e a elasticidade. É um
esporte tanto emocionante quanto belo, que não requer apenas coragem de seus adeptos,
mas também graça e domínio de corpo.
As provas são sempre executadas individualmente por homens ou mulheres. As
masculinas: barra fixa, barras paralelas, cavalo com alças, salto sobre a mesa e solo. Já
as femininas contam com exercícios de solo (com fundo musical), salto sobre a mesa,
paralelas assimétricas e trave de equilíbrio (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
GINÁSTICA, 2011).
Figura 7: Ginástica Competitiva - Ginástica Artística: Prova de Cavalo com
Alças (Fonte: http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginasticas. Acesso em
22/06/2011).
De acordo com Nunomura (2000), estudiosos da área da Ginástica Artística
verificaram que todas as habilidades específicas da modalidade partem de seis Padrões
Básicos de Movimento (PBMs) e de suas combinações. Ao compreender as
características de cada um deles o professor têm condições de iniciar o trabalho com
essa modalidade em qualquer contexto. São elas: Aterrissagens; Posições Estáticas;
Deslocamentos; Rotações; Saltos e Balanços. “Esses PBMs foram agrupados de acordo
com princípios mecânicos comuns. Indivíduos que já estão mais familiarizados com as
habilidades específicas da Ginástica Artística podem notar que, independente do
aparelho, esses PBMs realmente abrangem qualquer habilidade conhecida na
modalidade” (NUNOMURA, 2003, p. 31).
Apesar de ser uma modalidade de alto custo, devido aos aparelhos de grande
porte e preços inacessíveis, trabalhos de sucesso podem ser visualizados na escola. A
experiência desenvolvida por Schiavon (2005), por exemplo, mostra que a essa
modalidade pode ser adequada para o contexto escolar com a utilização de materiais
alternativos. O trabalho desenvolvido em mais de 15 escolas desde o ano de 1997, além
do baixo custo, solucionou o problema da carência de materiais, foi convidativo para as
crianças, adaptou sem descaracterizar a modalidade, tornou-se uma alternativa prática e
eficiente e facilitou o processo de aprendizagem.
Ginástica Rítmica:
Caracteriza-se por ser uma modalidade praticada por homens e mulheres, sendo
que no Brasil a mais popular é a praticada pelo público feminino. É um esporte bastante
plástico, que se destaca pela elegância e beleza dos movimentos. A Ginástica Rítmica
(GR) é caracterizada principalmente pela execução de exercícios corporais realizados
em harmonia com manejo de aparelhos portáteis e interpretação musical.
Figura 8: Ginástica Competitiva - Ginástica Rítmica (Fonte:
http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginasticas. Acesso em 22/06/2011).
Os aparelhos da Ginástica Rítmica feminina são: corda, bola, arco, maças e fita,
e para os homens os aparelhos são: corda, bastão, aros e maças (um pouco maiores que
as femininas). Para crianças, as medidas dos aparelhos podem variar, a fim de facilitar o
seu manejo (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA, 2011).
Apesar de ser uma área da cultura corporal que oferece inúmeras possibilidades
educativas, encontramos pouco ou nada da GR no contexto escolar. Com base em
Barbosa-Rinaldi e Cesário (2010), notamos que esse problema está vinculado, entre
outros, à formação profissional em Educação Física, que prioriza a técnica. As autoras,
em pesquisa realizada nas cidades de Maringá e Londrina, concluíram também que a
GR ainda está atrelada à ideia de esporte de competição. Os resultados mostraram que
“tanto os professores pesquisados de Londrina quanto os de Maringá afirmam não se
considerarem capacitados para trabalhar com a GR por falta de conhecimento e que não
trabalham por falta de espaço físico e materiais adequados [...]” (BARBOSA-
RINALDI; CESÁRIO, 2010, p. 306).
Portanto, a abordagem dessa modalidade como um esporte de rendimento
durante o processo de formação profissional “acaba eliminando a possibilidade de
trabalhos além dos ditados pela modalidade (alto nível de rendimento e performance,
materiais obrigatórios, espaço determinado e vestimenta estritamente feminina)”
(BARBOSA-RINALDI e CESÁRIO, 2010, p. 306)
Dessa forma, para contemplar em grande estilo os objetivos almejados pela
educação e pela Educação Física, faz-se necessário repensar a prática pedagógica da GR
por parte dos profissionais que atuam na formação inicial, de modo que desenvolvam
estratégias como a utilização de materiais alternativos, a exploração de diferentes
espaços escolares, o envolvimento de meninos e meninas, aproveitando a riqueza de
movimentos corporais em conjunto com aparelhos.
Ginástica de Trampolim:
É difícil especificar exatamente suas origens, mas segundo Brochado e Brochado
(2005), desde a Idade Média se tem notícias da execução de acrobacias com trampolim
em apresentações circenses. E em 1941, realizou-se a primeira competição em Dallas,
Texas, conjuntamente ao campeonato anual de ginástica da “Amateur Athletic Union”.
E no ano de 1955 ele apareceu, pela primeira vez, nos Jogos Panamericanos. O primeiro
país a fundar uma federação nacional de trampolim foi a Escócia, em 1958.
A Confederação Brasileira de Ginástica, confirmando o exposto por Brochado e
Brochado, afirma que a modalidade apareceu há centenas de anos e apesar de não se
precisar exatamente seu surgimento, sabe-se de seus precursores já na idade média,
onde acrobatas de circo utilizavam tábuas flexíveis em suas apresentações e trapezistas
realizavam novos saltos, a partir do impulso da rede de segurança.
Essa modalidade é dividida em quatro provas: Trampolim Individual,
Trampolim Sincronizado, Duplo Mini Trampolim e Tumbling (CONFEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE GINÁSTICA, 2011).
Figura 9: Representação de um movimento ginástico - (Fonte:
http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginasticas. Acesso em: 22/06/2011).
De forma geral, a Ginástica não é o conteúdo preferido na escola durante as
aulas de Educação Física, para além de uma questão cultural de tradição na área,
Nunomura (2008, p. 28) destaca um problema que pode justificar essa não adesão dos
alunos e que está voltada para as diferenças de gênero na GA:
A ginástica artística é, ao mesmo tempo, graciosa e vigorosa. Por isso as meninas também precisam de força - característica tipicamente masculina -, assim como os meninos também precisam de graciosidade – tipicamente feminina. Não quer dizer nem que as meninas vão se masculinizar nem que os meninos vão ficar
afeminados. Mesmo porque essa força não é usada com brutalidade, assim como graça e beleza não são evidenciadas rebolando.
No entanto, as meninas apresentam mais graça nas demonstrações do que os
meninos devido à mistura de dança e balé nas coreografias, ao passo que eles, quando
estão em ação, evidenciam muito mais a força e vigorosidade. Portanto, não há motivos
para se preocupar com essa questão, nem tão pouco deixar de praticar a ginástica em
função dessa visão machista e equivocada.
Figura 10: Ginástica Competitiva - Ginástica Rítmica: ginasta realizando uma
pose com o aparelho Maças (Fonte:
http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginasticas. Acesso em: 22/06/2011).
Pensando as Ginásticas Competitivas na Educação Física Escolar...
1. Dividir os alunos em cinco grupos e sortear entre eles as ginásticas de
competição: artística, acrobática, aeróbica, rítmica e de trampolim. Cada grupo deve
pesquisar a sua modalidade e trazer para ser apresentada na próxima aula. A
apresentação deverá conter informações e curiosidades a respeito do tema, podendo
contar com vídeos, fotos, slides, recortes de jornais e notícias a respeito da ginástica
competitiva.
2. Montar uma mesa redonda, organizando os alunos em um grande
círculo. A partir dos materiais trazidos de casa pelos alunos, promover discussões a
respeito da Ginástica competitiva no panorama mundial. Abordar questões como a
dicotomia corpo/mente, imagem dos atletas na sociedade, uso de anabolizantes,
sacrifício e sofrimento físico e emocional, gênero, supervalorização do esporte, a prática
corporal como espetáculo, usada para atender ao consumismo exacerbado, respeito à
individualidade e às potencialidades de cada um.
3. Convidar equipes de ginástica, que se dedicam à prática da ginástica
artística e rítmica, ou outras modalidades competitivas, para fazerem uma demonstração
na escola para as turmas. Caso isso não seja possível, apresentar vídeos de ginástica aos
alunos, no intuito de estimular a sua participação nas aulas práticas sobre esse conteúdo.
4. Nas atividades práticas com Ginástica Acrobática: iniciar a aula
explicando aos alunos a responsabilidade de quem faz a segurança; a importância do
desenvolvimento da confiança entre os parceiros durante a execução das acrobacias.
Abordar os aspectos relacionados com o equilíbrio e o desequilíbrio. Explicar o que é
“base”(aquele que sustenta) e “volante” (aquele que fica no topo do conjunto), bem
como os elementos “intermediários”(que mediam os movimentos entre o “base” e o
“volante”).
5. Como aquecimento propor uma atividade com música, onde os alunos se
movimentam de acordo com o ritmo. Ao parar a música, eles devem ficar em estátua,
dois a dois, realizando exercícios de equilíbrio, um apoiando no outro.
6. Para um trabalho de força e contração, propor brincadeiras como “João
Bobo”, em trios.
7. Em duplas, propor exercícios de equilíbrio mais elaborados. Nessas
atividades pode-se ainda ter a figura da terceira pessoa que dará o suporte necessário.
8. Juntar duas duplas, formando quatro integrantes, e realizar movimentos
de pirâmides. Assim também, podem-se juntar três duplas, formando seis integrantes,
para realizar novas combinações.
9. Para finalizar a aula, cada grupo apresenta a toda turma a sua montagem
acrobática. Os próprios grupos votam na melhor criação, não podendo votar na sua
própria.
10. Falar com os alunos sobre a Ginástica Rítmica. Propor a confecção dos
aparelhos da GR, com materiais alternativos. Dar dicas a respeito do que usar para a
criação de cada um. Depois de prontos os aparelhos, convidar outros professores e
alunos de outras turmas para conhecer as criações. Pode-se organizar, também, a
exposição dos aparelhos confeccionados para demonstração na escola.
SUGESTÕES:
- O professor pode levar câmera fotográfica para registrar os momentos mais
importantes da aula, especialmente as pirâmides realizadas com ginástica acrobática.
- Para a abordagem das ginásticas competitivas, o professor, após um longo
trabalho teórico-prático com os alunos, pode promover festivais de ginástica. Os alunos
ficam responsáveis pela montagem de suas séries e apresentam a partir de suas
habilidades e criatividade.
GINÁSTICAS DEMONSTRATIVAS
São as modalidades ginásticas que tem como principal característica a NÃO
competitividade, tendo como função a interação social, isto é, a formação integral
do indivíduo nos seus aspectos: motor, cognitivo, afetivo e social. É representante
deste grupo a Ginástica Geral (SOUZA, 1997).
Ginástica para Todos:
A Ginástica Geral (GG), também chamada de Ginástica para Todos (GPT), nos
traz um fato de grande importância: é a única ginástica não competitiva a compor um
dos comitês da FIG. Barbosa-Rinaldi (2010, p.196) acrescenta que ela é “... a única
ginástica não competitiva capaz de conviver com outras competitivas”.
Figura 11: Ginástica Demonstrativa: coreografia de Ginástica para Todos com a
utilização do paraquedas, material de grande porte. (Fonte:
http://search.creativecommons.org/?q=imagensdeginasticas. Acesso em: 22/06/2011).
Para a Confederação Brasileira de Ginástica (2011) a GPT é uma manifestação
abrangente que se fundamenta em outras modalidades ginásticas, como Ginástica
Artística, Ginástica Rítmica, Ginástica Acrobática, Ginástica Aeróbica e Ginástica de
Trampolim, além de englobar outras manifestações como as danças, as expressões folclóricas e
jogos, representados de forma livre e criativa. Seu objetivo é
promover o lazer saudável, proporcionando bem estar físico, psíquico e social aos praticantes, favorecendo a performance coletiva, respeitando as individualidades, em busca da auto-superação pessoal, sem qualquer tipo de limitação para a sua prática, seja quanto às possibilidades de execução, sexo ou idade, ou ainda quanto à utilização de elementos materiais, musicais e coreográficos, havendo a preocupação de apresentar neste contexto, aspectos da cultura nacional, sempre sem fins competitivos.
De acordo com Ayoub (1998) a proposta do nome Ginástica Geral foi feita pela
FIG no final da década de 1970 e início da de 1980, a fim de se referir às atividades da
Ginástica fora da competição, ou seja, para distinguir os Esportes Ginásticos do
universo não competitivo da Ginástica.
Ao vislumbrar a presença de uma ginástica contemporânea Ayoub (2007, p.39-
40) ressalta a importância da consolidação de uma prática que rompa com os vícios do
presente e também do passado, de modo a privilegiar, acima de tudo
[...] o humano do homem, o que quer dizer o homem-cultura e não o homem-máquina, o homem-sujeito e não o homem-objeto, o homem-liberto e não o homem-alienado. Uma Ginástica que se reconheça científica, mas que consiga reagir aos dogmas da ciência positivista para encontrar as suas respostas (ou ainda, as suas perguntas). Uma ginástica que esteja aberta aos ensinamentos multifacetados da cultura corporal, inclusive os do Esporte, porém sem se render aos apelos e às armadilhas da esportivização... Uma Ginástica que procure superar as artimanhas do culto ao corpo – objeto de consumo, mercadoria-, com seus modismos e imposições. Enfim, uma Ginástica que crie espaço para o componente lúdico da cultura corporal, “redescobrindo” o prazer, a inteireza e a técnica/arte da linguagem corporal. Acredito ser possível projetar essas imagens através da Ginástica Geral (1998, p. 48).
A mesma autora acrescenta ainda que a ludicidade, a liberdade de expressão e
a criatividade são pontos marcantes na Ginástica Geral.
Entende-se, portanto, que uma Ginástica para Todos (GPT) é aquela que
respeita o homem como ser humano, cheio de limites, falhas e que precisa redescobrir
suas reais possibilidades, no intuito de alcançar felicidade e realização pessoal. Nesse
sentido, essa modalidade se mostra essencial no meio educacional, já que proporciona
aos seus praticantes oportunidades ímpares de reconhecimento do próprio corpo, de
descobertas e satisfação consigo mesmo.
Souza (1997) acrescenta ainda que a utilização de aparelhos tradicionais da
Educação Física, assim como de materiais alternativos como os adaptados da natureza
ou de fabricação humana, é uma característica importante da Ginástica Geral, pois é
uma forma de interação social (nos aparelhos de grande porte são necessárias várias
pessoas para movimentá-lo), é motivante e facilita o desenvolvimento da criatividade.
Nesse contexto, podemos entender a Ginástica Geral como uma modalidade
muito apropriada para ser tratada no ambiente escolar, em aulas de Educação Física, já
que, apoiada na FIG, Ayoub (2007, p.46) define a Ginástica Geral como “a esfera da
Ginástica orientada para o lazer e engloba programas de atividades no campo da
Ginástica (com ou sem aparelhos), Dança e Jogos, conforme as preferências nacionais e
culturais”. Isso significa que ela é realizada com liberdade e pelo prazer em praticar,
trazendo aspectos culturais em sua essência. Ainda segundo a mesma autora, sua prática
favorece a saúde, a condição física e a integração social, despertando o interesse pessoal
para a atividade física, promovendo o bem estar físico e psicológico de seus praticantes,
além de oferecer a oportunidade da criatividade.
O ápice da Ginástica Geral acontece em um grande evento: a Gymnaestrada
Mundial, que consiste no mais importante festival internacional da modalidade, sendo o
evento oficial da FIG, o qual reúne vários países, de quatro em quatro anos, para
realizarem apresentações, trocar informações sobre os trabalhos de cada um e discutir a
GPT como importante elemento de aprimoramento humano. Compreende exercícios das
diferentes variações ginásticas, onde grupos de todas as idades e condições físicas
mostram, em forma de coreografia, a sua forma de praticar a Ginástica Geral. O ideal da
Gymnaestrada sintetiza-se na seguinte frase: “Os vencedores na Gymnaestrada são os
participantes” (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA, 2011).
O nome “Gymnaestrada” é a fusão de dois termos: Gymna, relativo à Ginástica,
e strada, que significa rua (street), caminho, palco. Portanto, Gymnaestrada consiste
em: caminho que leva à Ginástica, ou local onde as atividades gímnicas são
apresentadas (SOUZA, 1997, p. 38).
Como Ginástica de Demonstração também não podemos deixar de citar as artes
circenses, as quais constituem grande espetáculo, originadas no século XVIII de forma
semelhante a que conhecemos hoje. Desde então, o circo vem evoluindo e buscando seu
espaço na sociedade. Seus praticantes sofreram grande discriminação, já que a
burguesia do século XVIII não via utilidade em suas façanhas. Muito antes de o
picadeiro surgir como palco de apresentações circenses, era nas feiras e praças públicas
que anões, gigantes, palhaços e acrobatas se apresentavam ao público, despertando um
misto de curiosidade, medo, maravilhamento, temor e satisfação nos espectadores
(DUPRAT, 2007, p.19).
Figura 12: Arte Circense: Acrobacias de solo em grupo (Fonte:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/4educacao_fisica/6circo
2.jpg. Acesso em: 21/06/2011).
Duprat (2007) esclarece que muitos circos contemporâneos contratam ex-atletas
(especialmente os de ginástica) para fazerem parte de suas apresentações, como
podemos observar nas apresentações do Cirque du Soleil. O mesmo autor, citando
Baroni (2006, p.91) esclarece que a Ginástica presente no circo “se distingue no seu
objetivo final que ao invés de pontos, tempo e distância, tem um espetáculo artístico a
ser representado e trocado para e com o público”. Essa colocação deixa claro que as
práticas circenses também podem estar presentes nos trabalhos desenvolvidos com as
Ginásticas Demonstrativas.
Entre as práticas circenses mais comuns podemos citar os malabares, tecidos,
palhaços, acrobacias, contorcionismo, equilibrismo, entre outras. Nas Diretrizes
Curriculares do Paraná (PARANÁ, 2008) as Artes Circenses são alocadas junto com a
Ginástica, o que aponta para fronteiras tênues entre as duas manifestações.
Dos elementos articuladores apontados pelas DCEs (PARANÁ, 2008) e que
apresentam conexão com as Ginásticas Demonstrativas selecionamos: Cultura
Corporal e Ludicidade, Cultura Corporal e Lazer e Cultura Corporal e
Diversidade.
Nesse sentido, o lúdico se apresenta como parte integrante do ser humano e se
firma nas interações sociais, sejam elas na infância, na idade adulta ou na velhice. A
ludicidade deve ser tratada nas aulas não como um meio, mas como um fim, que
representa ação espontânea, importante para a construção da autonomia.
Já o lazer, segundo as mesmas diretrizes, potencializa o desenvolvimento
pessoal e social dos indivíduos, podendo objetivar o relaxamento, o prazer pela prática
ou pela contemplação, permitindo uma melhor compreensão da realidade. O professor
deve levantar questões como: o que cada um faz com seu tempo livre? De que forma o
aproveita? Ou até mesmo, quando um atleta (profissional) está desenvolvendo sua
atividade, ela caracteriza-se como lazer? E para nós, espectadores, tal atividade é lazer?
É importante trabalhar o conceito de lazer com os alunos.
A diversidade se faz presente uma vez que a Ginástica Geral respeita o
“diferente”. Com essa mesma visão, também as DCEs preconizam uma conscientização
das diferenças existentes entre as pessoas, tendo o respeito e o convívio social como
pressuposto básico de convivência.
Pensando as Ginásticas Demonstrativas na Educação Física Escolar...
1. Iniciar a aula com um aquecimento utilizando movimentos de equilíbrio;
pedir para os alunos se equilibrarem em dois apoios, excetuando a posição convencional
de dois pés. Em seguida, três apoios, um apoio, etc. A partir da quantidade de apoios
solicitada pelo professor o aluno pode criar diferentes formas de se equilibrar.
2. Desenvolver atividades explorando os equilíbrios ginásticos. Pedir aos
alunos que fiquem em posições de equilíbrio comuns, como: avião, vela, parada de
mãos, entre outros. Para alguns equilíbrios mais complexos, pode-se abrir mão do
auxílio do colega.
3. Com a utilização de colchonetes suspensos por bancos, propor exercícios
de rolamento para frente (com as pernas flexionadas, com as pernas afastadas, com as
pernas unidas e estendidas, passando por dentro de um arco), rolamento para trás, roda e
parada de mão. O professor deve fazer as intervenções necessárias para facilitar a
realização dos movimentos, com total segurança para os alunos.
4. Com a utilização de um banco, propor aos alunos que realizem saltos
sobre o banco (transpondo-o), dando atenção especial para a postura e finalização. Na
sequência dessa atividade, o professor deve desafiar os alunos a fazerem alguns saltos
próprios da ginástica: grupado, com as pernas afastadas lateralmente, tesoura, com as
pernas afastadas para frente e para trás, entre outros.
5. O professor pode, ainda, trabalhar elementos gímnicos como giros,
ondas, saltitos, poses, etc., com o intuito de oferecer condições para os alunos
explorarem suas possibilidades por meio dos movimentos ginásticos mais básicos. Essa
atividade pode ser realizada a partir da brincadeira do “Siga o Mestre”, em que os
alunos devem utilizar os elementos ginásticos vistos até aqui, ou outros, de acordo com
a criatividade de cada um, tudo de uma forma lúdica.
6. Propor aos alunos a realização de combinações dos exercícios já
realizados. Alguns exemplos podem ser: - uma corrida, um salto e uma pose; - corrida,
giro, salto e pose; - corrida, salto, rolamento e pose; - saltito, salto, equilíbrio e pose.
7. Reunir os alunos para um feedback sobre o trabalhado até o momento.
Como tarefa para a próxima aula, todos devem pesquisar sobre Ginástica Geral ou
Ginástica Para Todos e trazer um conceito particular, que se formará após a pesquisa.
Após o trabalho de pesquisa, cada aluno deve apresentar, oralmente, o seu conceito
pesquisado sobre a Ginástica Geral aos demais colegas. O professor pode conduzir as
discussões sobre o assunto.
8. Desafiar os alunos, individualmente, a montarem uma série de ginástica,
contando com três exercícios diferentes. Seguidamente, formar duplas e propor que
unam suas séries já montadas anteriormente. Depois, juntar trios e seguir o mesmo
procedimento. Cada trio deve demonstrar suas séries para a turma.
9. Promover uma conversa com os alunos, pedindo sugestões de materiais
que poderiam ser usados para a montagem de séries de GG. Dar o exemplo de guarda-
chuvas coloridos, que podem transformar uma apresentação em algo muito atrativo.
10. Formar três ou quatro grupos com a turma, sendo que cada grupo escolhe
um material (diferente dos convencionais da ginástica) para ser usado (o professor pode
fazer um sorteio para ser mais democrático). O próximo passo será a escolha da música
a ser usada. Auxiliar os alunos na montagem de uma apresentação de GG, em que os
grupos participarão juntos, cada qual com o seu material. A série deve ser montada
alternando a execução de cada grupo, dentro de uma mesma coreografia. Depois de
pronta a coreografia, o professor pode marcar uma data para apresentá-la a toda a
escola.
SUGESTÕES:
- Para a escolha da música, o professor deve orientar para que não seja uma
música “da moda”, pois além de não ser apropriada para o ambiente escolar, a música
deve transcender os modismos da indústria cultural, valorizando produções artísticas
mais ricas. E baseados nos apontamentos de Bertolini (2005), a emoção de uma
apresentação de ginástica geral é sentida não só pelos “olhos”, mas também pelos
“ouvidos”, podemos entender a importância que a música representa para uma
coreografia. Por esses motivos, é necessário se tomar muito cuidado na hora dessa
definição.
- Com relação ao vestuário, por se tratar de uma escola, onde o objetivo maior é
a participação de todos, pode-se usar o próprio uniforme, realizando apenas algumas
modificações no mesmo. Ou, ainda, estabelecer uma roupa fácil para todos, como calça
e blusa preta, por exemplo. Essa escolha facilita a vida do professor e dos pais, além de
diminuir os empecilhos para a participação de todos.
- Algumas sugestões de formação podem ser trabalhadas com as crianças.
Bertolini (2005, p.56) dá algumas dicas para facilitar o trabalho com a coreografia:
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X X X X X
X X X X X
REFERÊNCIAS
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