Produção Social do Espaço Urbano na periferia da metrópole

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  • 8/9/2019 Produo Social do Espao Urbano na periferia da metrpole

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    1A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLEA INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA

    NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    MARIA AYARA MENDO PREZ

    Orientadora:Prof. Dr. Maria Cristina Cabral

    Coorientadora:Prof. Dr. Rachel Coutinho Marques da Silva

    RIO DE JANEIRO, 2014

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    2PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    MARIA AYARA MENDO PREZ

    PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLEA INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    Dissertao de mestrado em urbanismoPs Graduao em Urbanismo da Universidade Federal de Rio de Janeiro (PROURB-UFRJ)

    Orientadora:Prof. Dr. Maria Cristina Cabral

    Coorientadora:Prof. Dr. Rachel Coutinho Marques da Silva

    RIO DE JANEIRO, 2014

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    3A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

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    4PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    MARIA AYARA MENDO PREZ

    PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLEA INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps Graduao em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro(PROURB_UFRJ) aprovada pela Banca Examinadora abaixo assinada.

    Data: ________/_________/_________

    Maria Cristina Cabral | Doutora | Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Rachel Coutinho Marques da Silva | Doutora | Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Eliane da Silva Bessa | Doutora | Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Maria Fernanda Rodrigues Campos Lemos | Doutora | Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro

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    5A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    Mendo Prez, Maria Ayara.M539 Produo social do espao urbano na periferia da metrpole: a

    incorporao da antiga colnia Juliano Moreira no tecido formal do Rio deJaneiro / Maria Ayara Mendo Prez. Rio de Janeiro: UFRJ / FAU, 2014.

    128 f.:il.; 21 cm.

    Orientador: Maria Cristina Cabral.

    Coorientador: Rachel Coutinho Marques da Silva.

    Dissertao (mestrado) UFRJ / PROURB / Programa de Ps-Graduao

    em Urbanismo, 2014.

    Referncias bibliogrficas: f. 102-5.

    1. Urbanismo Aspectos sociais. 2. Espaos urbano. 3. Urbanizao. 4.Poltica urbana Rio de Janeiro (RJ). 5. Planejamento urbano. I. Cabral, MariaCristina. II. Silva, Rachel Coutinho Marques da. III. Universidade Federal do Riode Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Ps-Graduao em Urbanismo. IV. Ttulo.

    CDD 711.13

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    6PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    DEDICATORIA

    A todos los rostros annimos que con su sonrisa

    me inspiran cada da a pensar en una ciudad mas justa,

    a todos aquellos que un da abrieron la puerta de sus

    casas para mostrarme otras formas de vida,

    a los que me ensearon una nueva lengua y

    nuevas formas de pensar,

    y nalmente a todos los que me ayudan cada da a vivir y

    sobrevivir en esta, nuestra ciudad innita.Setor 2 da Colnia Juliano MoreiraFotografa:Acervo prprio, 2014.

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    7A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    AGRADECIMENTOS

    Meus agradecimentos Maria Cristina Cabral, pelo apoio,carinho, dedicao e generosa orientao ao longo domestrado e Rachel Coutinho pela co-orientao. Tam-bm a todas as pessoas que trabalham no Programa dePs-graduao em Urbanismos da FAU/UFRJ em especiala Keila Araujo, sempre disposta a ajudar a todos e cada umdos estudantes e pesquisadores do Programa.

    Agradecimentos fundao FAPERJ y CNPq por investirem pesquisa, fazendo possvel que estudantes e pesquisa-dores de diferentes pases e contextos podamos realizarnovas reexes das cidades brasileiras.

    Aos inicialmente colegas de turma e hoje amigos queatravs dos debates e trabalhos fora e dentro das aulasme mostraram e ensinaram a entender cada dia melhor asgrandes questes politicas, sociais e urbanas do Brasil.

    Devo aqui agradecer especialmente a todas as pessoasque trabalham e pesquisam no Campus Fiocruz MataAtlntica, principalmente Equipe Tcnico de Panejamen-to Tcnico e Regularizao Fundiria (ETPTRF) pois comeles iniciei o meu conhecimento real e pratico de uma dasquestes que hoje em dia focam o meu interesse, o direito um lugar digno onde morar para todos os cidados desta

    cidade, ao Fernando, Artur, Marcus, Flora, Carol, Clia eLus.

    A relao de gratido com todas as pessoas que acederama serem entrevistados no mbito desta pesquisa, pois nofoi fcil para muitos deles relembrar e falar de determina-dos assuntos, agradeo enormemente o tempo dedicadopois desta forma cada um deles protagonista destetrabalho.

    As minhas amigas Flvia, Livia e Flora, ja que elas soparte essencial desta pesquisa, pois atravs de conversasao longo destes ltimos anos, vemos sonhando e pensan-

    do novas urbanidades. Agradeo enormemente o totalapoio em todos os sentidos assim como por elas ter sido asminhas professoras da lngua portuguesa.

    Ao Marcelo pois com muito carinho me acompanhou aolongo do caminho.

    Finalmente agradeo a minha me, que mesmo na dis-tancia, ela a principal responsvel deste sonho tenha-setornado realidade.Setor 2 da Colnia Juliano Moreira

    Fotografa:Acervo prprio, 2014.

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    8PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    RESUMO

    Esta dissertao de mestrado trata da produo social do espao urbano a partir da dinmica socio-poltica de incorporao de reas perifricas no tecido urbano formal das metrpoles, identicando ascausas e caractersticas deste fenmeno socioterritorial que provoca o crescimento espraiado da man-cha urbana. Este processo qualicado a partir do estudo da rea delimitada pela antiga Colnia JulianoMoreira (CJM), no bairro de Jacarepagu, analisando o processo de incorporao da ocupao informalno tecido urbano formal da metrpole do Rio de Janeiro. Esta transformao est sendo realizada atra -vs da requalicao urbanstica executada por meio de recursos pblicos do Programa de Aceleraoao Crescimento (PAC), desde o ano 2007 at os dias de hoje. No processo de incorporao ao tecido for-mal aplicam-se os instrumentos urbansticos fornecidos pelo Estatuto da Cidade, como a regularizaofundiria e a transformao dos terrenos ocupados em reas de Especial Interesse Social (AEIS), comobjetivo de possibilitar a urbanizao e favorecer a permanncia das famlias no seu local de moradia.

    Atravs da reviso bibliogrca, da anlise a documentos histricos e entrevistas com agentes sociaisdo territrio, so levantadas diculdades e desaos enfrentados no processo de gesto e planejamento,consequncias das foras e interesses conitantes entre os agentes sociais envolvidos na produo doespao urbano da Colnia. A partir da compreenso destes impasses e perspectivas encontrados, busca-se apontar dinmicas de transformao socioterritorial nas periferias metropolitanas, visando colaborarna reexo sobre a necessidade de renovao metodolgica para a implantao de polticas urbanas, im-plementadas pelos rgos de planejamento urbano e gesto territorial. Entende-se que devem ser pen-sados e elaborados marcos de atuao, que estejam baseados em experincias prticas, como diretrizesde negociao frente as diferentes lgicas dos agentes sociais envolvidos, com o objetivo de solucionarsituaes de conito na produo social do espao. A partir da incorporao desta populao perifricaao sistema urbano formal das metrpoles, com acesso a infraestrutura e servios pblicos, deve semprerespeitar o modo de vida pr-existentes desta populao, como no caso do estudo de caso que revelaum modelo urbano-rural-orestal que deve ser fonte de estudos e discusses transdisciplinares. Assim,destaca-se um grande desao a ser enfrentado nas prximas dcadas: a incorporao das periferias notecido formal das metrpoles, considerando a produo social do espao urbano e aprofundando a pol-

    tica urbana atravs do desenvolvimento de projetos experimentais, discutidos de forma interdisciplinar.

    Palavras-chave: informalidade urbana, urbanizao, produo social do espao urbano,instrumentos urbansticos.

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    9A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    abstract

    This Master thesis deals with the social production of the urban space from the sociopolitical dynamics ofincorporation of new peripheral areas within the formal urban fabric of metropolises, identifying the causesand characteristics of such a socio-territorial phenomenon that leads to the scattered growth of the urbanspot. This process is contextualized by means of the study of the area delimited by the old Colnia JulianoMoreira (CJM) an institution located in the neighbourhood of Jacarepagu, in the process of incorporationin the formal urban fabric of Rio De Janeiro. This transformation is being carried through urban regene -ration, performed by means of public resources on the Programa de Acelerao ao Crescimento (PAC,Growth Acceleration Program), since 2007 to the present day. In the process of incorporation to the formalurban fabric, the urbanistic instruments supplied by the Statute of the City are applied together with theagrarian regularization and the transformation of occupied lands into reas de Especial Interesse Social(AEIS, Areas of Special Social Interest), with the aim of making urbanization possible and to favor the per-

    manence of the families in their housing. Through the literature review, and the documentary analysis ofthe interviews, the diculties faced in the process are raised as a consequences of the forces and interestsconcerning the involved social agents in the production of the urban space of the area. From the unders-tanding of these obstacles and the perspectives found, the study seeks for a dynamic for socio-territorialtransformation within the metropolitan peripheries, aiming at assisting the agencies of urban planningand territorial management in the methodological renewal of implantation of public policies and urbanis-tic instruments. A creation of an agency or public power device is suggested, which must have the objec-tive of scalizing the informal land divisions, but mainly to guarantee the security of the proper inspectorstowards the possible threats of informal institutions. This agency or device also would have to assure thatduring the application of the public policies and urbanistic instruments, the democratic and participativeprocesses are guaranteed. Therefore, the creation of a device with reaction capacity to complex situationsis adviced. Action frames must be thought and elaborated, based on action rules as negotiation lines of di-rection towards the dierent logics of the involved agents, with the aim of conciliating solutions to conictsituations. It is concluded that the incorporation of this population to the urban system, with access to pu-blic infrastructure and services, must always respect their existing way of life and sources of income, in thiscase study an urban-agricultural-forest model is shown, which must be a source of multidisciplinary studiesand discussions. This discussion will be a major challenge in urban policy which must be faced in the deca-des coming, through the development of experimental projects, discussed in an interdisciplinary manner.

    Key-words: urban informality, urbanization, social production of the urban space,urbanistic instruments.

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    10PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    LA CIUDAD INFINITAEn la ciudad infinita existe valenta y realidad

    La valenta de los que ocupan

    La realidad de quien mira sin miedo a ver

    En la ciudad infinita un da encontr aquello que quizs siempre busqu.

    Elaborao: prprio autor.

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    11A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    LISTA DE ILUSTRAES_CAPITULO 1

    Figura 1.1: Mapa mundial representando a porcentagem de populao urbana em relao populao total em cada pais, em

    2010.

    Figura 1.2: Crescimento da mancha urbana da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro desde a dcada de 1970 at a dcada

    de 2000.

    Figura 1.3: Relao entre o mapa ndice de desenvolvimento social por setor censitrio (2000) e o mapa Loteamentos irregula-

    res ou clandestinos no Rio de Janeiro (2004).

    Figura 1.4: Mapa das unidades a urbanizar pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com recurso pblico atravs do programa Morar

    Carioca em 2013.

    _CAPITULO 2

    Figura 2.1: Limites administrativos do Plano Diretor de 2011 do municpio do Rio de Janeiro.

    Figura 2.2: Localizao da RA- Jacarepagu no municpio do Rio de Janeiro.

    Figura 2.3: Proporo da populao moradora em setor censitrio subnormal no total da populao, por Regies Administrati-

    vas, 2000.

    Figura 2.4: Ocupao territorial do Plano Diretor de 2011 do municpio do Rio de Janeiro.

    Figura 2.5: Croqui do Plano Piloto da Baixada de Jacarepagu, elaborado por Lucio Costa. (1969)

    Figura 2.6: Proporo de domiclios com todos os servios adequados, por RAs, 2000.

    Figura 2.7: Proporo de domiclios ligados rede geral de esgoto ou que possuem fossa sptica por Regies Administrativas,

    2000.

    Figura 2.8: Mapa conceitual do municpio do Rio de Janeiro sinalizando os quatro clusters dos Jogos Olmpicos de 2016.

    Figura 2.9: Sistema de corredores BRTs que esta sendo implantado no municpio do Rio de Janeiro.

    Figura 2.10: Dinmica da populao por Regio Administrativa-Municpio do Rio de Janeiro, 2010.

    _CAPITULO 3

    Figura 3.1: Localizao do bairro de Jacarepagu no municpio do Rio de Janeiro.

    Figura 3.2: Localizao da Colnia Juliano Moreira no bairro de Jacarepagu.

    Figura 3.3: Fotos do trabalho agropecurio desenvolvido na Colnia Juliano Moreira na dcadas de 1940-1950.

    Figura 3.4: Diviso em setores da rea da Colnia Juliano Moreira.

    Figura 3.5: Mapa de gradientes de ocupao da Colnia Juliano Moreira no Programa de Acelerao ao Crescimento.

    Figura 3.6: Mapa de zoneamento da Colnia Juliano Moreira no Programa de Acelerao ao Crescimento.

    Figura 3.7: Mapa indicando a rea de adensamento do Setor 2 Colnia Juliano Moreira no Programa de Acelerao ao Cresci-

    mento.

    Figura 3.8: Mapa indicando a rea de urbanizao e regularizao fundiria do Setor 3 da Colnia Juliano Moreira no Programa

    de Acelerao ao Crescimento.

    Figura 3.9: Esquema indicando as obras que vo ser realizadas no escopo do Morar Carioca na Colnia Juliano Moreira.

    Figura 3.10: Mapa indicando a rea que deve ser orestada na Colnia Juliano Moreira no Programa de Acelerao ao Cresci-

    mento.

    Figura 3.11: Planta geral do urbanismo da rea da Colnia Juliano Moreira com o traado da TransOlmpica, 2013.

    Figura 3.12: Mapa das vias expressas projetadas para conectar os diferentes polos dos Jogos Olmpicos.

    _CAPITULO 4

    Figura 4.1: Mapa da diviso em rea de Especial Interesse Social (AEIS) e rea de Especial Interesse Funcional (AEIF) realizada

    em 2008, na rea da antiga Colnia Juliano Moreira.

    Figura 4.2: Fotos da Cooperativo do Grupo Esperana realizando a construo das moradias atravs de mutiro autogerido no

    setor 2 da Colnia Juliano Moreira em 2013.

    Figura 4.3: Foto panormica do Parque Estadual da Pedra Branco (PEPB).

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    12PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    LISTA DE GRFICOS E TABELAS

    _GRFICOS

    Grco I.1: Agentes sociais entrevistados.

    Grco I.2 : Estrutura da dissertao.

    Grco 1.1: Agentes sociais que produzem o espao urbano, conforme estudado pelos autores: Gottdiener (1993), Villaa

    (2001), Abramo (2009) e Ribeiro, Silva, Rodrigues (2011).

    Grco 1.2: Diagrama representativo dos agentes urbanos, as inter-relaes que se estabelecem entre eles, e os mecanismos

    que aplicam na dominao do espao urbano, conforme as teorias dos autores pesquisados.

    Grco 2.1: Domiclios particulares ocupados em setores censitrios de aglomerados subnormais, por caractersticas e locali-

    zao predominantes do sitio urbano. Brasil, 2010.

    Grco 3.1: Agentes sociais que produzem o espao urbano na Colnia Juliano Moreira entrevistados no mbito desta pesqui-

    sa.

    Grco 3.2: Diagrama do histrico da ocupao da Colnia Juliano Moreira desde 1659 at 1996.

    Grco 4.1: Diagrama dos agentes sociais atuantes na produo do espao urbano da rea da Colnia Juliano Moreira.

    Grco C.1: Diagrama da inter-relao entre os agentes sociais atuantes na produo do espao urbano da rea da Colnia

    Juliano Moreira.

    _TABELAS

    Tabela 1.1: Metrpoles brasileiras. Populao IBGE 2010.

    Tabela 1.2: Populao urbana, Meio Ambiente, e Desenvolvimento no Brasil. 2011

    Tabela 1.3: Populao residente em aglomerados subnormais nas regies metropolitanas de So Paulo, Rio de Janeiro, Belm,

    Salvador e Recife.

    Tabela 3.1: Oramento destinado a realizar a TransOlmpica, entre os anos 2012 e 2016.

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    13A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS

    AEIS_ rea de Especial Interesse Social

    AEIF_ rea de Especial Interesse Funcional

    AP_ rea de Planejamento

    APP _ rea de Proteo Permanente

    BRT_ Transporte Rpido por nibus

    CEF _ Caixa Econmica Federal

    CJM_ Colnia Juliano Moreira

    CDRU_ Concesso de Direito Real de Uso

    CEDAE_ Companhia Estadual de gua e Esgotos

    COMLURB_ Companhia Municipal de Limpeza Urbana

    CUEM_ Concesso de Uso Especial para ns de Moradia

    EC_Estatuto da Cidade

    ETPTRF_ Escritrio Tcnico de Planejamento Territorial e Regularizao Fundiria

    FIOCRUZ_Fundao Oswaldo Cruz

    IMASJM _Instituto Municipal de Assistncia Sade Juliano Moreira

    ISER_ Instituto de Estudos da Religio

    MCMV-E _ Minha Casa Minha Vida Entidades

    MDA _ Ministrio de Desenvolvimento Agrrio

    PAC_Programa de Acelerao ao Crescimento

    PDCFMA _ Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlntica

    PEPB_ Parque Estadual da Pedra Branca

    RA_ Regio Administrativa

    SABREN_ Sistema de Assentamentos de Baixa Renda

    SMAC

    _ Secretaria Municipal de Meio Ambiente

    SMH_ Secretaria Municipal de Habitao

    SMG_ Secretaria Municipal de Governo

    SMO_ Secretaria Municipal de Obras

    SMS _ Secretaria Municipal de Sade

    SMU_ Secretaria Municipal de Urbanismo

    SNUC_ Sistema Nacional de Unidades de Conservao

    SPU

    _Secretaria de Patrimnio da UnioSUS _Sistema nico de Sade

    UC_Unidades de Conservao

    UNMP_Unio Nacional pela Moradia Popular

    ZEIS_ Zona de Especial Interesse Social

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    14PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    SUMRIOINTRODUO 15

    CAPTULO I_ASPECTOS DO CRESCIMENTO ESPRAIADO DAS pERIFERIAS NAS METRPOLES BRASILEIRAS 22

    1.1. Particularidades dos processos de urbanizao de reas perifricas dos grandes ncleos metropolitanos brasileiros 221.2. A informalidade e a disperso na constituio do tecido intraurbano perifrico 28

    1.3. A produo social do espao urbano nas periferias metropoliTANAS 31

    1.3..1 Os agentes sociais 32

    CAPTULO II_ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO URBANO DA REGIO ADMINISTRATIVA DE JACAREPAGU 37

    2.1 Processo de urbanizao na Regio Administrativa de Jacarepagu 38

    2.1.1 Localizao e situao no municpio do Rio de Janeiro 38

    2.1.2 Processo histrico da ocupao urbana 41

    2.1.3 O desenvolvimento da infraestrutura e servios urbanos na regio 43

    2.2 Produo social do espao urbano na XVI RA-Jacarepagu 48

    CAPTULO III_INCORPORAO DA COLNIA JULIANO MOREIRA METROPOLE CARIOCA 51

    3.1 A Colnia Juliano Moreira: da criao decadncia do hospital-colnia de sade mental 52

    3.1.1 Localizao e situao no bairro de Jacarepagu 52

    3.1.2 Processo da ocupao informal da rea 53

    3.2. Municipalizao da Colnia Juliano Moreira e desmembramento da rea em setores 62

    3.3. Os projetos urbanos atuais na Colnia Juliano Moreira 65

    3.3.1 Os programas de urbanizao, regularizao fundiria e promoo de habitao popular:

    PAC - Colnia, Morar Carioca e Minha Casa Minha Vida 65

    3.3.2 A construo da via expressa TransOlmpica dentro da rea da Colnia Juliano Moreira 73

    CAPITULO IV_ A PRODUAO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA COLONIA JULIANO MOREIRA 78

    4.1 As inter-relaes entre os agentes que produzem o espao urbano na Colnia 79

    4.1.1. As relaes interinstitucionais 80

    4.1.2. As instituies informais 85

    4.1.3. Os movimentos sociais 87

    4.1.4. Os moradores da Colnia 89

    4.2. Os instrumentos urbansticos oferecidos pelo Estatuto da Cidade aplicados na Colnia 91

    4.3 Os modos de vida na Colni a: transio entre o rural e o urbano informal 93

    CONSIDERAES FINAIS 98

    REVISO BIBLIOGRFICA 104

    APNDICE A 107

  • 8/9/2019 Produo Social do Espao Urbano na periferia da metrpole

    15/131

    15A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    INTRODUO

    Parque Estadual da Pedra BrancaFotografa: Lin Lima, 2013.

  • 8/9/2019 Produo Social do Espao Urbano na periferia da metrpole

    16/131

    16PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    INTRODUO

    Esta dissertao aborda a produo social do es-pao urbano dentro da rea delimitada pela antigaColnia Juliano Moreira (CJM) no bairro de Jacare-pagu, na dinmica sociopoltica de incorporao

    na malha urbana da metrpole do Rio de Janeiro.

    Atravs deste estudo de caso, pretende-se estudaro processo de produo e reproduo do espao ur-bano nas periferias das metrpoles brasileiras, iden-ticando as causas e caractersticas deste fenmenosocioterritorial que provoca o crescimento espraiadoda mancha urbana, incorporando paulatinamentenovas reas perifricas ao tecido urbano das cidades.

    No mbito desta pesquisa o conceito produo doespao urbano denido conforme explica o pes-quisador Mark Gottdiener (1993). Segundo o autor,o espao uma construo social em todas as suasdimenses, que reproduz as mesmas relaes so-ciais que o engendram. Conforme esta teoria, o ur-banismo tradicional como cincia aplicada estariaobsoleta, pois no se prope estudar a inuncia dastransformaes econmicas, polticas e culturais naprpria forma do espao urbano. Logo, neste traba-lho se visa atender as recomendaes de Gottdie-ner (1993) quando aconselha analisar e entender asdinmicas socioeconmicas que esto produzindo

    as morfologias urbanas contemporneas, antes depropor ou implementar polticas publicas que nolevam em considerao as relaes sociais do local.Por conseguinte, pretende-se analisar no processode incorporao da antiga CJM no tecido urbanoformal da cidade, os impasses na implantao depolticas publicas e instrumentos urbansticos devi-do aos diferentes interesses entre os agentes sociaisatuantes na produo do espao urbano do local.

    Segundo o pesquisador brasileiro Flavio Villaa(2001) as camadas de mais alta renda da sociedade

    brasileira so o agente social que domina e produzo espao urbano por cima do prprio poder pblicoou do mercado. Dentre os mecanismos de controledo espao urbano, o autor explica que a burguesiaatua atravs do Estado para controlar a prpria le-gislao urbanstica, o que prejudica as camadaspobres da populao, uma vez que no conseguemse adaptar a esta legislao vigente e, como conse-quncia, vivem na clandestinidade e na ilegalidadeurbana. Esta linha de raciocnio ser estabelecidatambm como uma das hipteses da pesquisa, pois

    a rea a ser estudada inicia sua ocupao urbana in-formal massiva na dcada de 1980 sendo o Estadoo principal agente social que tolera e provoca estadinmica socioeconmica. O quadro de foras de-senhado por Villaa (2001) na produo do espaourbano no contexto brasileiro o principal marco

    terico-conceitual utilizado no mbito desta pes-quisa, na denio dos agentes sociais atuantes nolocal assim como dos mecanismos de controle do es-pao urbano utilizados por cada um destes agentes.Para completar o conjunto de foras atuantes, tam-bm foram pesquisados outros autores brasileiros,entre os quais, Pedro Abramo (2009), que deneum novo agente social que produz o espao urbanona cidade informal latino americana, as instituiesinformais. Em outras palavras, frente ao abando-no do poder pblico, o vazio deve ser preenchidoem vrias conjunturas, que vo desde realizar as

    transaes econmicas no mercado informal dosolo urbano, produo de moradia, comercia-lizao dos servios pblicos urbanos, seguranada populao, at a gura da justia ou uma pr-pria lei instaurada pelas instituies informais.

    Ao mesmo tempo, outros especialistas, como Ri-beiro, Silva e Rodrigues (2011), apontam que tam-bm devemos incorporar as novas inuncias queos interesses econmicos internacionalizados es-to produzindo no espao urbano das metrpolesbrasileiras. Neste contexto de grandes megaeven-tos esportivos, na metrpole do Rio de Janeiro,principalmente, possvel perceber uma ampliaodeste agente internacional, constituindo uma fortealiana entre poderes econmicos nacionais e in-ternacionais, o que potencializa a prpria dinmicasocioeconmica de periferizao j existente. Estesinteresses econmicos internacionalizados estotambm inuenciando na produo do espao ur-bano da Colnia, que ser cortada por uma das trsvias expressas que a prefeitura vai construir com oobjetivo de melhorar e redenir a mobilidade na

    metrpole carioca, a TransOlmpica1

    .Esta obra fazparte da agenda que a cidade deve cumprir para osJogos Olmpicos de 2016 e causar profundas mu-danas nas dinmicas territoriais do novo bairro.

    Portanto, conforme revelado por Gottdiener

    1 A Transolmpica vai ligar os dois principais po-los de competies da cidade, Deodoro e Barra da Ti -

    juca, onde acontecer a maior parte das provas dos Jo-gos Olmpicos de 2016. Os 23 kms de extenso vo cortarbairros importantes, como Magalhes Bastos, Curicica e Sulacap.

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    17A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    (1993), a produo do espao urbano um proces-so que envolve foras polticas, econmicas e cul-turais. Assim, estas foras, e suas inter-relaes,sero estudadas atravs da anlise dos agentessociais atuantes, dentro recorte de espao urbanoestabelecido neste trabalho.

    O nosso recorte espacial, a antiga Colnia JulianoMoreira, localiza-se no bairro de Jacarepagu, naXVI RA de mesmo nome, na cidade do Rio de Ja -neiro. Neste territrio, encontramos, atualmente,algumas caractersticas expostas em relao s pe-riferias metropolitanas brasileiras, como o espraia-mento urbano disperso associado reproduo deum grande nmero de ocupaes informais.

    A ocupao da rea de estudo, tem origem no per-odo colonial, na Fazenda do Engenho Novo ligada a

    atividades rurais, como a cana de acar e o cultivode caf. Em 1912, a partir da desapropriao da fa-zenda pelo governo federal, se implantou a ColniaJuliano Moreira, um projeto pblico, consideradoinovador, de hospital-colnia. A ocupao com nsde moradia para os funcionrios do mesmo con-

    junto hospitalar se prolongou por setenta dcadas,caracterizando o territrio em vrios aspectos mor-folgicos e scio-polticos, que devem ser conside-rados at os dias de hoje.

    A partir do processo de municipalizao, em 1996,comea uma importante transformao sociopol-tica do territrio, a qual, ainda hoje, representa umprocesso em curso. Esta transformao supe umasignicativa recongurao poltica, pois o territ-rio deixa de ser administrado apenas pelo poderpblico nacional, ou seja, o governo federal, e pas-sa a ser dividido e administrado por vrios poderes,entre eles, o poder pblico municipal, ou seja, aprefeitura da cidade do Rio de Janeiro, que realizaa gesto da rea que est sob sua administraoatravs das Secretarias de Sade (SMS), Habitao

    (SMH), e Urbanismo (SMU), e a Fundao OswaldoCruz (Fiocruz). Congura-se outro quadro de inter-relaes institucionais que vo conformar os inte-resses dos novos agentes na produo do espaourbano da Colnia at os dias de hoje. A parceriaentre o poder pblico municipal e os poderes pbli-cos nacionais se estabelece com o mesmo objetivode desenvolvimento da regio: a incorporao aotecido urbano formal da cidade. Tal processo incor-pora a Prefeitura do Rio de Janeiro, como agenteprotagonista o poder pblico municipal, para ad-

    ministrar e implementar este novo projeto urbano.Atravs de um acordo poltico interinstitucional,em 2007, o projeto urbano desenvolvido para area da Colnia Juliano Moreira selecionado comoprioritrio na obteno de recursos do Programa deAcelerao ao Crescimento2 (PAC) e apresenta-se

    como modelo para o territrio nacional: a ColniaJuliano Moreira pode representar um modelo de ocu-pao e o incio de um processo de requalifcao darea mirando o conceito de sustentabilidade em seusaspectos social, econmico e ambiental.No contexto do PAC-Colnia, atravs do qual se re-cebe os recursos pblicos para a requalicao ur-bana da rea, a grande diculdade, uma vez a reaseja incorporada malha urbana da cidade, serassegurar a regularizao fundiria das famlias.Vrios dos instrumentos urbansticos oferecidospelo Estatuto da Cidade (EC) esto sendo aplicados

    dentro da rea da Colnia Juliano Moreira, a m dese garantir o direito cidade desta populao. Es-to sendo realizadas, por exemplo, a regularizaofundiria e a transformao dos terrenos ocupadosem reas de Especial Interesse Social (AEIS), comobjetivo de possibilitar a urbanizao e favorecera permanncia das famlias no seu local de mora-dia. Com estes instrumentos, pretende-se regulara propriedade urbana, de modo que a especulaoimobiliria na rea no suponha um impedimentoao direito moradia regular da populao.

    No panorama brasileiro, esto sendo implemen-tadas muitas polticas pblicas para urbanizar osncleos de ocupao informal, mas estas mesmasiniciativas encontram muitas diculdades na horade garantir, posteriormente, a segurana da posse,por meio da regularizao fundiria das famlias.Esta uma das questes importantes que vai serestudada neste trabalho, pois a diculdade que opoder pblico enfrenta na implantao destes ins-trumentos urbansticos consequncia das foras einteresses conitantes entre os agentes sociais en-

    volvidos na produo do espao urbano da rea. Asinter-relaes entre os agentes sociais e sua tradu-o na produo do espao urbano da Colnia se-ro desvendadas ao longo da pesquisa, atravs dasinformaes recolhidas, principalmente nos relatosdas entrevistas realizadas com os prprios agentesatuantes no local.

    2 PAC a sigla para Programa de Acelerao ao Cresci-mento, projeto do governo federal que tem como objetivo esti-mular o crescimento da economia nacional atravs de obras deinfraestrutura, tendo sido lanado pelo governo Lula em 2007.

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    18PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    Objetivos da pesquisaA partir da compreenso dos impasses e perspec-tivas que a requalicao urbana e a implantaodestes novos instrumentos urbansticos encontramna rea da antiga Colnia Juliano Moreira, busca-seestudar os agentes sociais que produzem o espao

    urbano nas periferias metropolitanas, visando cola-borar na reexo sobre como estes interesses con-itantes na gesto do territrio prejudicam a imple-mentao das polticas urbanas.

    Os objetivos especcos da pesquisa so enten-der: (1) O processo histrico de ocupao informalda rea da antiga Colnia Juliano Moreira desde adcada de 1980 at os dias atuais, facilitando aspesquisas posteriores a estas transformaes; (2)A transformao sociopoltica na recongurao econtrole do espao urbano da rea da Colnia Julia-no Moreira; (3) As inter-relaes entre os diferentesagentes sociais que produzem o espao urbano atu-almente na Colnia Juliano Moreira.

    Abordagem metodolgicaA metodologia desta pesquisa consistiu numaabordagem qualitativa, de carter exploratrio-descritiva, que tem por objetivo proporcionar maiorentendimento de uma dinmica urbana ainda emtransformao. A pesquisa de carter exploratria

    realizada para investigar estudos de caso, pois importante observar que no nosso recorte espaciala incorporao ao tecido urbano formal da metr-pole ainda est em processo de desenvolvimento e,portanto, no concludo. Tambm a pesquisa possuium carter qualitativo, pois no contem instrumen-tos estatsticos no processo de anlise do objeto. Apesquisa utilizou trs meios de investigao: a revi-so bibliogrca, o estudo de caso e a pesquisa decampo.

    Na reviso bibliogrca, que embasa o plano deanlise e dispe o quadro terico-conceitual, ob-serva-se o contexto brasileiro no crescimento es-praiado das reas perifricas metropolitanas, paradescrever os conceitos e noes que caracterizamas dinmicas socioespaciais de urbanizao e me-tropolizao das reas informais, estudadas porautores brasileiros como Nestor Goulart Reis, Erm-nia Maricato, Flavio Villaa, e Pedro Abramo, entreoutros. Este levantamento bibliogrco revelou ascaractersticas em comum presentes nas dinmicas

    de crescimento informal destes territrios periur-banos e que tambm encontram-se na rea da an-tiga Colnia Juliano Moreira. Desta forma o recorteespacial, enquadra-se dentro das teorias j estuda-das e reveladas pelos pesquisadores brasileiros nasltimas dcadas. Outro propsito da reviso biblio-

    grca foi denir os agentes sociais que produzemo espao urbano nas metrpoles brasileiras, seusinteresses e conitos decorrentes. No caso destapesquisa considerada principalmente a teoria deFlavio Villaa, pois este autor aprofunda-se no estu-do do caso especico brasileiro. Portanto, esta te-oria a mais adequada para enquadrar os agentessociais que produzem o espao urbano na Colniae seus mecanismos de dominao urbana. A pes-quisa realizada por Villaa (2001) no aprofunda naproduo social do espao urbano informal, e porisso, so trazidos outros marcos tericos que com-

    plementam a teoria de Villaa, tanto na descriodos agentes como das inter-relaes, entre eles, ospesquisadores brasileiros, Pedro Abramo (2009),Ermnia Maricato (2001), Ribeiro, Silva e Rodrigues(2011).

    Em paralelo realizou-se o estudo de caso e a pes-quisa de campo. A pesquisa de campo foi realizadaem duas etapas, primeiramente foi realizada umapesquisa documental atravs do analise de trs do-cumentos da dcada de 1980, no Arquivo do Insti-tuto Municipal de Assistncia a Sade Juliano Mo-reira (IMASJM) perodo das ocupaes massivasinformais da rea, e tambm atravs do Estudo dasFamlias Moradoras no Campus de Jacarepagu:Diagnstico e Alternativas de Ao, realizado em2004 pelo Instituto de Estudos da Religio (ISER).Buscando-se nestes documentos compreender adinmica sociopoltica da ocupao informal, assimcomo, o reconhecimento dos agentes que provoca-ram este processo. Posteriormente foi efetuada apesquisa documental referente ao perodo da mu-nicipalizao (1996) at os dias de hoje e, para este

    m, foram pesquisados documentos fornecidospelo Escritrio Tcnico de Planejamento Territoriale Regularizao Fundiria (ETPTRF) do CampusFiocruz da Mata Atlntica (CFMA), entre os quais,o Plano Diretor do Campus Fiocruz da Mata Atln-tica (FIOCRUZ, 2009) e o projeto proposto para oPAC-Colnia elaborado em 2008. Outros documen-tos foram necessrios para analisar os projetos queesto sendo executados atualmente na rea, paraisso foi pesquisado o site da Prefeitura do Rio de Ja-neiro e desta forma foram analisados os relatrios

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    19A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    que existem no site em relao aos projetos de urbanizao que esto sendo realizados na cidade, todosestes datados em 2013.

    Na continuao deniu-se os agentes sociais que deviam ser entrevistados, e elaborou-se a entrevistasemi-estruturada, atravs dos conceitos dos fenmenos urbanos estudados no marco terico conceitual.A entrevista foi estruturada em quatro itens (assuntos-conceitos) para os moradores entrevistados, e em

    dois itens para os tcnicos, mas procurando em todas as entrevistas dar a maior liberdade possvel aosentrevistados para poderem desenvolver os assuntos ou anedotas que eles considerassem apropriados,pois nos relatos improvisados so reveladas as inter-relaes entre os diferentes agentes sociais que pro-duzem o espao urbano da Colnia. Decidiu-se entrevistar oito agentes, entre os quais, dois agentes dopoder publico3 e seis da sociedade civil. Tambm optou-se por guardar o anonimato de todos os agentessociais entrevistados, pois algumas das informaes obtidas nas entrevistas so de ndole condencial,portanto, por questes de segurana dos prprios entrevistados, se omite o nome e sobrenome. Expe-seas informaes relativas ao cargo e tempo desempenhado pelo agente entrevisto, pela relevncia signi-cativa no mbito desta pesquisa, conforme o grco I.1. O relato completo das oito entrevistas realizadasencontra-se no Apndice A.

    Grco I.1:Agentes sociais entrevistados

    Elaborao: prprio autor.

    3 Entre os poderes pblicos envolvidos na produo do espao urbano da Colnia Juliano Moreira encontra-se tam-bm a Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) a qual, desde o ano 1999 esta implantando o Campus Fiocruz Mata Atlntica (CFMA) narea da antiga CJM. A autora da dissertao forma parte da equipe de pesquisa no Escritrio Tcnico de Planejamento Territo -rial e Regularizao Fundiria (ETPTRF) do Campus Fiocruz da Mata Atlntica (CFMA), portanto, devido as questes de integrida -de cientica visando a objetividade no analise dos agentes sociais, se decide no entrevistar os tcnicos ou coordenadores da Fiocruz.

    rgo que pertenceAgentes sociaisentrevistados

    Apelidos

    PodermunicipalPrefeitura

    Secretaria Municipal deHabitao (SMH)

    Arquiteto Coordenador doPlanejamento e ProjetosNo perodo 2009-2013

    ARQUITETO 1

    Poderpblico Poder

    nacionalGovernoFederal

    SecretariaPatrimnio da Unio

    (SPU)Terras pblicas

    Coordenadora da RegularizaoFundiria

    No perodo 2000-2013ADVOGADA 1

    Movimentossociais

    Unio Nacional pelaMoradia Popular

    (UNMP)

    Coordenadora Nacional eRegional.

    Deste 1992LIDERANA 1

    Moradora.Nasce na CJM

    em 1924Ocupaoautorizada

    MORADOR 1

    Morador. Nascena CJM em

    1939Ocupaoautorizada

    MORADORA 2

    Funcionrioaposentado ou famlia

    de funcionrios da CJM

    Morador daCJM desde

    1994Compramoradia

    MORADOR 3

    Moradora daCJM desde

    1990Ocupaoautorizada

    MORADORA 4

    Populaoque reside

    no local

    Populao dolocal

    Sem vinculo com a

    Instituio da CJM Morador daCJM desde

    1998Compramoradia

    MORADOR 5

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    20PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    Estrutura da pesquisaEsta pesquisa organiza-se em quatro captulos,alem da introduo e consideraes nais, comuma estrutura sequencial.

    No capitulo 1, constri-se o marco terico-concei-

    tual para abordar posteriormente o nosso estudode caso, a antiga Colnia Juliano Moreira (CJM), queser estudado atravs da compreenso das carac-tersticas em comum nos processos de urbanizaodas reas perifricas nas metrpoles brasileiras.Aborda-se a dinmica scio-urbana no crescimen-to espraiado e disperso destes territrios, obser-vando a inter-relao entre a informalidade urbanae a morfologia do tecido disperso. Enfatiza-se atransformao no modo de vida da populao, queadquire um modo de vida urbano, mas sem os ser-vios pblicos4 nem as infraestruturas urbanas im-prescindveis. Procura-se tambm entender quemso os agentes sociais que esto produzindo, cons-truindo e gerindo estas reas da metrpole, tendocomo pano de fundo os seguintes autores: Gottdie-ner (1993), Villaa (2001), Abramo (2009) e Ribeiro,Silva, Rodrigues (2011).

    No capitulo 2, apresenta-se o processo histricorecente de urbanizao e incorporao na malhaurbana da atual XVI Regio Administrativa - Jaca-repagu como rea perifrica da metrpole do Rio

    de Janeiro, pois a antiga Colnia Juliano Moreira,encontra-se dentro deste limite administrativo. Orecorte temporal estabelecido abarca desde 1970at os dias de hoje, pois foi a partir da proposta doPlano Piloto para a Baixada de Jacarepagu reali-zado pelo urbanista Lucio Costa que acentuou ocrescimento urbano espraiado na regio. A seguiranalisa-se a produo social desta regio urbananas ltimas dcadas e as consequncias socioespa-ciais na atualidade.

    No capitulo 3, aborda-se a incorporao da antiga

    Colnia Juliano Moreira (CJM) malha urbana dacidade em dois perodos de tempo. Inicialmenteaborda-se as causas e caractersticas do processo de

    4 Denidos segundo o Ministrio das Cidades como ativi-dades de interesse comum reguladas e/ ou mantidas pelo poderpblico, compreendendo os sistemas saneamento ambiental abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, drenagem eresduos slidos de energia e iluminao pblica, de circulaoe transportes, de telecomunicaes, de informao e atendi-mento s questes de interesse pblico. Disponvel em http://www.cidades.gov.br/index.php/reabilitacao-de-areas-urbanas-centrais/928-duvidas-frequentes.html. Acesso em janeiro de 2014.

    ocupao informal da rea, desde a dcada de 1980 quando comeam as ocupaes massivas infor-mais da rea at os dias de hoje. Posteriormenteprocura-se entender o processo de transformaoscio poltica do territrio desde 2007 at os dias dehoje e o processo de incorporao no tecido formal

    da cidade. Em paralelo aborda-se a nova congura-o estabelecida entre o conjunto dos agentes so-ciais e instituies envolvidos na gesto e produodesta transformao urbana.

    No capitulo 4, a pesquisa enfoca as inter-relaesestabelecidas entre os agentes sociais que produ-zem o espao urbano na Colnia Juliano Moreira, noltimo perodo de tempo analisado, ou seja, desde2007 at os dias de hoje. O registro deste processode transformao pesquisado atravs do cruza-mento entre as informaes extradas nas entrevis-

    tas realizadas aos agentes sociais atuantes no locale a teoria que fundamenta os captulos anteriores,principalmente, a teoria da produo do espaourbano do pesquisador brasileiro Villaa (2001)acrescentada com as teorias dos autores Gottdie-ner (1993) e Abramo (2009). Por m, discutem-se osinstrumentos urbansticos que o poder pblico pos-sui, contidos no Estatuto da Cidade (EC), e sendoaplicados na rea da Colnia Juliano Moreira, visan-do mudar as relaes de poder existentes na basefundiria da Colnia com objetivo de possibilitar aurbanizao da rea e favorecer a permanncia dasfamlias no seu local de moradia. O esquema destaestrutura se encontra no grco I.2:

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    21A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    Introduo

    Marco terico - conceitualReviso bibliogrfica

    CAPITULO 1

    -Urbanizao de reas perifricas nos grandesaglomerados urbanos-Dinmica scio-morfolgica na informalidade urbana

    perifrica-Agentes sociais que produzem o espao urbano nasmetrpoles brasileiras

    Contextualizao do objeto de estudoPesquisa documental

    CAPITULO 2

    -Processo de urbanizao da XVI RA-Jacarepagu-Caractersticas da ocupao informal da regio-Produo social do espao urbano da rea

    Anlise do objetoPesquisa documental

    Levantamento de campoColeta de dados/entrevistasSistematizao das informaes

    CAPITULO 3

    -Definio da rea de estudo-Caractersticas da ocupao informal da rea da CJM-Transformao sociopoltica do territrio-Processo de incorporao no tecido urbano formal da

    metrpole

    Analise do objetoPesquisa documental

    Levantamento de campoColeta de dados/entrevistas

    Sistematizao das informaes

    CAPITULO 4

    -Produo social do espao urbano na CJM

    -Inter-relao entre os agentes

    -Instrumentos urbansticos do poder pblico aplicadosna reverso da informalidade urbana

    Consideraes finais

    Grco I.2 :Estrutura da dissertao

    Elaborao: prprio autor.

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    22PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    CAPTULO I_ASPECTOS DO CRESCIMENTO ESPRAIADO DASPERIFERIAS NAS METRPOLES BRASILEIRAS

    Parque Estadual da Pedra BrancaFotografa: Lin Lima, 2013.

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    23A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    CAPTULO I_

    ASPECTOS DO CRESCIMENTO ESPRAIADO DASpERIFERIAS NAS METRPOLES BRASILEIRAS

    Pretende-se fazer, neste captulo, uma leitura dosprocessos de urbanizao e metropolizao de re-as no urbanas e perifricas nos grandes aglome-rados metropolitanos brasileiros. Nestes territriosse consolidou um crescimento espraiado, onde apopulao adquire um modo de vida urbano, massem os servios pblicos nem as infraestruturas ur-banas imprescindveis. Nesse sentido, importanteesclarecer vrios aspectos da metropolizao e doprocesso de urbanizao das aglomeraes urba-nas brasileiras, uma vez que as metrpoles continu-am crescendo atualmente nas suas reas perifricas

    (1.1). Desta forma, a inter-relao entre a informa-lidade urbana e a morfologia do tecido dispersona escala intraurbana ser um fator estudado paraentender as causas dos grandes problemas destasperiferias metropolitanas (1.2). E nalmente, abor-da-se quem so os agentes sociais que esto pro-duzindo, construindo e gerindo estas reas da me-trpole, e quais so as decorrncias socioespaciaisdesta dinmica do crescimento perifrico metropo-litano, tendo como pano de fundo alguns autoresque reetiram sobre o papel desenvolvido por estesagentes no espao urbano, Gottdiener (1993), Villa-a (2001), Abramo (2009) e Ribeiro, Silva, Rodrigues(2011) (1.3).

    1.1. Particularidades dos processos de

    urbanizao de reas perifricas dos grandes

    ncleos metropolitanos brasileiros

    As metrpoles brasileiras continuam crescendo,com um ritmo de crescimento inferior s dcadas

    de 1970 e 1980, mas ainda sem sofrer os processosde decrescimento que vemos acontecer em outrascidades do mundo5 . No contexto urbano mundialexiste uma tendncia de urbanizao total (REIS,2010), conceito entendido como o aumento domodo de vida urbano que se apropria de territrios

    5 O fenmeno urbano das cidades decrescentesest sendo investigado atravs de uma rede internacio-nal de pesquisa, disponvel em: https://sites.google.com/site/shrinkingcitiesnetwork/. Acesso em janeiro de 2014.

    existentes nas reas perifricas dos grandes ncleosurbanos, desaparecendo paulatinamente os modosde vida rurais. Segundo o ultimo relatrio de NaesUnidas World Population6 de 2012 a proporo depopulao que mora em reas urbanas aumentoude 29% em 1950 para 50% em 2010. Espera-se que

    em 2050, 69% da populao global, ou seja, 6,3 bi-lhes de pessoas, morem em reas urbanas. O Brasilse encontra no conjunto dos pases com maior por-centagem de populao urbana do mundo, entre75-100% da populao brasileira mora em centrosurbanos, como mostra a gura 1.1, abaixo. O focodeste primeiro ponto entender estes processos deurbanizao de reas no urbanas e perifricas dosgrandes ncleos metropolitanos brasileiros, comsuas determinadas caractersticas locais.

    Figura 1.1: Mapa mundial representando a porcenta-

    gem de populao urbana em relao populao totalem cada pais, em 2010.

    Fonte: Relatrio World Population, 2012. Naes Unidas.

    Desde j importante observar que o conceito deurbano que trabalhamos nesta pesquisa refere-seao conceito denido por Flavio Villaa (2001). No li-vro Espao Intra-urbano no Brasil, ele categoriza ourbano atravs de duas caractersticas: a existnciade uma rede de infraestrutura (vias, redes de gua,esgoto, pavimentao, energia, etc.) e a possibili-dade de locomoo de produtos e de pessoas prin-cipalmente. Na perspectiva de Villaa, a localizaodene o tempo e a possibilidade de deslocamento

    das pessoas no espao urbano e, portanto, dominaa estruturao do espao intraurbano:

    A acessibilidade mais vital na produo de locali-zao do que a disponibilidade de infraestrutura. Napior das hipteses, mesmo no havendo infraestrutu-ra, uma terra jamais poder ser considerada urbanase no for acessvel - por meio do deslocamento di-

    6 Disponvel em: http://esa.un.org/wpp/unpp/panel_population.htm. Acesso em janeiro de 2014.

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    24PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    rio de pessoas - a um contexto urbano e a um conjun-to de atividades urbanas (...). E isso exige um sistemade transporte de passageiros. (VILLAA, 2001, p.23)

    A repercusso deste conceito vai ser discutido pos-teriormente no mbito das consequncias que esta

    localizao urbana tem no espao intraurbano dasnossas metrpoles. importante ressaltar comoVillaa determina o espao urbano atravs de duascaractersticas, mas enfatiza que o mais importantepara denir um territrio urbano a acessibilidadepor meio do deslocamento dirio de pessoas, mes-mo no havendo infraestruturas. Esta descrioelegida por Villaa para explicar o conceito de terraurbana, reete o que seria frequentemente aceitocomo espao urbano nas cidades brasileiras.

    Porm, tambm preciso esclarecer que o conceito

    de urbanizao est sendo utilizado neste captulotambm no sentido de processo social e no neces-sariamente no sentido fsico, apenas. Quer dizer,em coerncia com o conceito de urbano de Villa-a, urbanizao neste contexto a mudana nosmodos de vida da populao, que adota modos devida urbanos ou metropolitanos mesmo em reasafastadas dos ncleos metropolitanos e no neces-sariamente urbanizadas no sentido fsico, na exten-so das redes de infraestruturas, servios urbanos,e equipamentos comunitrios7.

    Para entender as causas desta contradio urbanae social, devemos entender as caractersticas doprocesso de insero urbana no Brasil. Entre 1960 eo nal dos anos 1970 houve um crescimento demo-grco muito forte nos centros urbanos brasileiros,principalmente de populao que emigrou do cam-po em direo as cidades. Estima-se que neste pe-rodo foram mais de 40 milhes de pessoas chegan-do aos principais ncleos urbanos do pas (RIBEIRO,SILVA e RODRIGUES, 2011).

    Neste contexto surge uma grande demanda de es-

    pao urbano, servios pblicos e redes de infraes-truturas em um perodo de tempo muito curto. Es-tas reas eram demandadas principalmente pelascamadas mais baixas da populao recm-migrada

    7 Denidos segundo o Ministrio das Cidades comobens e edicaes que abrigam atividades e servios de inte -resse pblico de sade, educao, segurana, desporto, la-zer, convivncia comunitria, assistncia infncia e ao ido-so, gerao de trabalho e renda. Disponvel em http://www.cidades.gov.br/index.php/reabilitacao-de-areas-urbanas-centrais/928-duvidas-frequentes.html. Acesso em janeiro de 2014.

    ou lhos destes migrantes rurais. Frente decin-cia dos recursos pblicos que deviam fornecer estesservios, as nossas metrpoles se transformaramem grandes centros de pobreza urbana.

    Nesse quadro, as grandes transformaes urbanas,

    polticas e econmicas no foram acompanhadaspor uma mudana social e o Brasil continuou forte-mente marcado pela desigualdade social. A popu-lao se industrializou, mas no de forma espacial-mente equitativa. Este fato uma das causas destaparticular transformao urbana. O poder pblicono teve a capacidade de criar uma adequada redenacional de infraestruturas metropolitanas. Dian-te disso, pode-se armar que no Brasil os proces-sos de urbanizao e metropolizao foram muitoprximos, tivemos uma urbanizao rpida e umametropolizao precoce. (RIBEIRO, SILVA e RO-

    DRIGUES, 2011, p.4).

    Por isso, so muitos os estudiosos que reforamesta opinio da velocidade do processo de urba-nizao brasileiro como causa da metropolizaoprecoce, entre eles, a pesquisadora Ester Limo-nad (2007), quando lembra que este processo acon-teceu em apenas duas dcadas:

    Se at o inicio da dcada de 1960 o pas ainda apre-sentava fortes caractersticas rurais, os resultados dosltimos censos demogrcos (1991 e 2000) do Ins-

    tituto de Geograa e Estatstica (IBGE) no deixammais margens a dvidas. O Brasil enm converteu-se em um pas urbano. Cerca de 82% de sua popu -lao reside em reas urbanas. (LIMONAD, 2007)

    Neste marco de crescimento urbano, muitas reasno urbanas so incorporadas aos novos aglome-rados urbanos mudando especialmente os modosde vida da populao. No Brasil, este processo deabsoro de uma rea no urbana em rea urbanaconta com caractersticas especcas pelo fato deexistirem territrios com modos de vida urbanos es-

    tabelecidos durante varias dcadas, mas ainda seminfraestruturas e nem servios pblicos urbanos. por isso que o processo de incorporao adquireuma complexidade social maior, como explica EsterLimonad (2007) no artigo Nunca fomos to Metro-

    politanos. Consideraes Terico-Metodolgicas so-bre as tendncias recentes da urbanizao brasileira:

    [...] Alm da mescla de usos do solo para ativida -des urbanas e rurais dicultar a delimitao fsi-ca e funcional destas reas de urbanizao difu-

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    25A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    sa, geralmente estas reas apresentam-se em constante mudana e redenio de atividades. Embora apresentemtraos tpicos do mbito rural e apesar de seus habitantes viverem no campo, no dependem dele para sua sobrevi-vncia e reproduo. Ou seja, a insero produtiva desta populao residente no campo no se d necessariamen-te em atividades agrrias, no obstante muitos possuam hortas e galinheiros. O campo aparece como local de resi -dncia, e pode ser at o local de trabalho de atividades de servios ou trabalho a domicilio. (LIMONAD, 2007, p.189)

    Portanto, entendemos esta incoerncia sociourbana, como uma das caractersticas principais que deve-riam ser abordadas nos estudos urbano-metropolitanos brasileiros.O ltimo relatrio das Naes Unidas realizado em 2011, Urban Population, Development and the Envi-ronment, indica que no Brasil, atualmente, 87% da populao reside em reas urbanas, concentradas emapenas 2,2% do territrio total do pas8. Podemos interpretar que estes 87% de populao que mora emaglomerados urbanos tm acesso a servios e infraestruturas urbanas? Podemos comparar numa mesmapesquisa internacional os dados de uma populao urbana mundial que mora em condies urbanas todivergentes? E ainda, como esse dado pode ser esclarecido na proposta de polticas pblicas urbanas, seno Brasil se camua o modo de vida real desta populao urbana perifrica?Em termos quantitativos, de acordo com o IBGE, o Brasil, tinha 15 metrpoles em 2010. O somatrio dapopulao metropolitana no territrio nacional totalizava 69 milhes, como se pode ver abaixo na tabela1.1. O ltimo relatrio de Naes Unidas em 2011, Urban Population, Development and the Environment,

    indica que, atualmente, 29% da populao urbana no Brasil habita em assentamentos precrios9

    , comose pode ver abaixo na tabela 1.2. Se levarmos em considerao os dados citados acima, realizando a por-centagem de 29% sobre o total da populao das metrpoles (69 milhes) teramos como resultado con-tabilizando s estas 15 metrpoles 23 milhes de pessoas morando em assentamentos precrios, querdizer, uma metrpole com duas vezes a populao do Rio de Janeiro.

    Tabela 1.1: Metrpoles brasileiras. Populao IBGE 2010.

    Fonte: Observatrio das Metrpoles (2004, 2010)

    Tabela 1.2: Populao urbana, Meio Ambiente, e Desenvolvimento no Brasil. 2011.

    Fonte: Relatrio de Naes Unidas. Urban Population, Development and the Environment. 2011

    8 Esta medida foi realizada no ano 2000.

    9 Esta pesquisa foi realizada com dados tomados entre os anos 2005 e 2007.

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    26PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    Segundo os pesquisadores Ribeiro, Silva e Rodri-gues (2011), tambm a forma de incorporao aomercado laboral de uma populao de migrantesfoi feita de forma precria. Esta cou em grandespropores desempregada ou subempregada nomercado informal, condio presente at hoje na

    populao metropolitana perifrica.

    Alm disso, na dcada de 1980, no Brasil, houveuma grande crise econmica de graves consequn-cias para as nossas cidades. Foi um amplo perodode ocupao massiva informal de terras urbanaspor estas camadas que estavam sendo excludasdo mercado formal e dos espaos urbanizados si-camente e, por isso, o poder pblico, em todas asescalas, no teve como conter a consolidao e a

    potencializao de um mercado informal de terras ur-banas. (ABRAMO, 2009, p.27)

    Frente escassez de espao urbano consolidado,os poderes pblicos nacionais e locais estabelece-ram uma poltica de tolerncia na formao ps-ocupao deste novo espao urbano pelas camadasmais pobres da populao que se dene como: pre-crio, autoconstrudo e informal. O que foi poten-cializado a partir das ultimas dcadas a partir depolticas de mobilidade rodoviria, oferecendo onibus como uma nica alternativa ao transportepblico de massas para estas reas perifricas. A te-oria da relao entre a periferia e o nibus defen-dida pelas pesquisadoras Raquel Rolnik e DanielleKlintovitz, para a metrpole paulista: a predomi-nncia do nibus e a ampliao do sistema virio jviabilizavam a abertura dos loteamentos popularesna periferia metropolitana, oferecendo o modal detransporte adequado a uma expanso dispersa e debaixa qualidade.(ROLNIK e KLINTOVITZ, 2011)

    Neste sentido podemos armar que o espraiamentometropolitano que se desenvolveu durante os anos80 nas grandes aglomeraes urbanas brasileiras

    Este dado sugere que os aglomerados urbanos noBrasil possuem certas caractersticas muito particu-lares. Elegemos neste trabalho, ento, uma descri-o de aglomerado urbano que nos ajude a delimi-tar estas caractersticas. por isso que escolhemosesta explicao de metrpole defendida pelos pes-

    quisadores do Observatrio das Metrpoles, Ribei-ro, Silva e Rodrigues:

    [...] Refere-se a aglomerados urbanos que apresentamas dimenses de polarizao e concentrao no terri-trio brasileiro nas escalas nacional, regional e local.[...] Internamente, estes espaos tambm apresentamuma hierarquizao, j que so aglomerados com con-centrao de poder econmico, social e cultural queno se distribui homogeneamente nos municpios neleinseridos. (RIBEIRO, SILVA e RODRIGUES, 2011, p.1).

    Como j foi defendido at agora, estes ncleos seconcentram na escala nacional, e se dispersam noespao intraurbano (REIS, 2010). O que dene ni-tidamente o conceito de metrpole em qualquercontexto mundial a hierarquia urbana, emboraseja importante denir quais so as caractersticasparticulares brasileiras nestes espaos urbanos for-temente hierarquizados. Esta hierarquia espacialno limitada ao sentido morfolgico ncleo-peri-feria, tambm se refere grande desigualdade so-cioeconmica, como defende Milton Santos (1993)no livro A Urbanizao Brasileira: ao longo do s-

    culo, mas sobretudo, nos perodos mais recentes,o processo brasileiro de urbanizao revela umacrescente associao com o da pobreza, cujo locuspassa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo agrande cidade. (SANTOS, 1993, p.11). A teoria deMilton Santos constatada no censo demogrcodo IBGE 2010 segundo o qual, os 53% da popula-o residente em aglomerados subnormais estoconcentrados nas regies metropolitanas de SoPaulo, Rio de Janeiro, Belm, Salvador e de Recife,conforme a tabela 1.3:

    Tabela 1.3: Populao residente em aglomerados sub-normais nas regies metropolitanas de So Paulo, Riode Janeiro, Belm, Salvador e Recife.

    Fonte: IBGE, Censo Demogrco, 2010

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    27A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    tem duas caractersticas especicas: perifrico einformal. Estas qualidades das nossas metrpo-les so denidas pelo pesquisador brasileiro PedroAbramo: o processo de metropolizao apresentoutambm um carter de periferizao e segregaosocioespacial elevado, com um papel considervel da

    cidade ilegal.(ABRAMO, 2009, p.11)Entretanto, na dcada de 1990, as periferias con-tinuaram crescendo, e os ncleos metropolitanosapresentaram paulatinamente menor ritmo decrescimento at chegar ao ponto de crescimentozero na dcada de 2000, dcadas nas quais a popu-lao tende a sair do ncleo em direo periferia.Como justicam os pesquisadores Ribeiro, Silva eRodrigues (2011), no caso especico da metrpoledo Rio de Janeiro o saldo migratrio intrametro-

    politano permaneceu negativo para o ncleo, mas ovolume dessa perda diminuiu, foram mais de 100 mil

    pessoas que saram do ncleo para a periferia de 1995para 2000, j de 2005 para 2010 aproximadamente73 mil pessoas. (RIBEIRO, SILVA e RODRIGUES,2011, p.16).Em outras palavras, nestas ultimas dcadas, existeuma reorganizao interna e disperso de espaos

    j urbanizados em pocas anteriores. Apesar daconsidervel reduo, entre 2000 e 2010, as peri-ferias continuaram crescendo (RIBEIRO, SILVA eRODRIGUES, 2011). No , portanto, uma dinmi-ca estagnada hoje em dia: as periferias das nossasmetrpoles continuam crescendo mesmo que sejaa um ritmo inferior. Conforme observamos na ima-gem 1.2, a mancha urbana da Regio Metropolitanado Rio de Janeiro, continua crescendo tambm nadcada de 2000.

    Figura 1.2: Crescimento da mancha urbana da RegioMetropolitana do Rio de Janeiro desde a dcada de 1970at a dcada de 2000.

    Fonte: Observatrio das Metrpoles (2013)

    Nesse sentido, importante esclarecer vrios as-pectos da metropolizao e do processo de urba-nizao das aglomeraes urbanas brasileiras, umavez que as metrpoles continuam atualmente cres-cendo nas suas reas perifricas. Estas reas perif-ricas que esto sendo absorvidas pela malha urba-

    na paulatinamente so caracterizadas como novosespaos urbanos, mas sem infraestruturas, serviospblicos urbanos e equipamentos comunitrios im-prescindveis. Ao mesmo tempo, a populao incor-pora um modo de vida urbano, isto , depende eco-nomicamente do ncleo da metrpole, e fenmenode interdependncia denominada por Flavio Villaacomo conurbao.Quando um ncleo urbano depende economica-mente do outro, a sua populao sofre o resultadodesta dependncia e hierarquia no espao urbano.Este conceito de conurbao urbana foi esclarecido

    no contexto brasileiro pelo professor Flavio Villaa(2001) no livro Espao Intra-Urbano no Brasil:

    O processo de conurbao ocorre quando uma cidadepassa a absorver ncleos urbanos localizados sua volta,pertenam eles ou no a outros municpios. Uma cidadeabsorve outra quando passa a desenvolver com ela umaintensa vinculao socioeconmica. Esse processo en-volve uma srie de transformaes tanto no ncleo urba-no absorvido como no que absorve. (VILLAA, 2001, p.49)

    O fenmeno da conurbao urbana se apresentatambm dentro do mesmo municpio, como defen-de Villaa, quando existe uma nica centralidade noaglomerado metropolitano. por isso que a popu-lao incorporada ao modo de vida urbano condi-cionada a sair da periferia para trabalhar no ncleo,sendo esta dinmica denominada de mobilidadependular ncleo-periferia. A conurbao metropo-litana se apresenta assim, como um processo devo-rador de cidades e produtor de bairros. (VILLAA,2001, p.49).

    Os pesquisadores Ribeiro, Silva e Rodrigues (2011),

    demonstram como as cifras de pessoas que preci-sam se locomover todos os dias da periferia at oncleo dobrou entre os anos 2000 e 2010: [...]

    preciso notar que mais que dobrou o quantitativo depessoas que mora na periferia e trabalha no ncleo passando de quase 250 mil pessoas para quase 520 mil(de 7,3% para 10% do total de pessoas que realizammovimento pendular intrametropolitano para traba-lho). (RIBEIRO, SILVA e RODRIGUES, 2011, p.17).Portanto, independente das condies fsicas, estelugar seria considerado como rea urbana segundo

    dcada 1970

    dcada 1980

    dcada 1990

    dcada 2000

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    28PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    No intra-urbano o foco se concentra no estudo damorfologia do tecido urbano, acessibilidade, usos,e diviso da propriedade:

    O espao intra-urbano fundamentalmente concre-to e tende a ser registrado por suas formas geom-

    tricas de diviso da propriedade e edicao (teci-do urbano), pela infraestrutura e pelos servios demercado de uso. um espao cujo valor dado pe-las edicaes e pelas obras que lhes conferem aces-sibilidade e condies de uso. (REIS, 2006, p.44)

    Por isso a discusso desta pesquisa ser abordadana escala intraurbana do tecido urbano da metr-pole do Rio de Janeiro, por ser a escala onde se en-contra denido o uso e transformao do espaofsico. Em outras palavras, no tecido intraurbanodevem ser estudadas as transformaes de um es-pao pblico em um espao privado e as alteraesna propriedade da terra, uma vez que entendemoscomo tecido urbano o modo pelo qual se defnem asrelaes entre espaos pblicos e espaos privados(enquanto propriedade ou posse), entre espaos deuso privado e de uso coletivo, sejam estes de proprie-dade pblica ou privada. (REIS, 2010, p.44). As trssituaes que se denem com nitidez nesta escalaso: a propriedade (ou posse), a produo (constru-o) material, e o uso ou transformao (do uso)deste espao.Apesar da pesquisa realizada por Nestor Goulart

    Reis (2006) no estar limitada ao estudo da perife-ria informal das nossas metrpoles, a sua caracteri-zao da disperso urbana colabora neste trabalhopara esclarecer as caractersticas comuns da disper-so diferenciada no contexto brasileiro:

    -pelo esgaramento crescente do tecido dos prin-cipais ncleos urbanos, em suas reas perifricas;-pela formao de constelaes ou nebulosas de ncleosurbanos e bairros isolados em meio ao campo, de diferen-tes dimenses, integrados em uma rea metropolitanaou em um conjunto ou sistema de reas metropolitanas;-pelas mudanas no transporte dirio intrametropoli-

    tano de passageiros, que transformou as vias de trans-porte interregional, de tal modo que estas se tornaramgrandes vias expressas inter e intrametropolitanas;-pela difuso ampla de modos metropolitanos de vida e deconsumo, tambm estes dispersos pela rea metropolitanaou pelo sistema de reas metropolitanas. (REIS, 2010, p. 13)

    Estas so caractersticas particulares da abordagemgeral de disperso urbana em todos os contextossocioterritoriais, que abrange a disperso das ca-madas mdias e altas da populao em tipologias

    o conceito denido por Villaa anteriormente.

    A dinmica de mobilidade pendular associada aospreos atuais do transporte pblico nas grandesmetrpoles so fatores que ampliam a segregaosocioespacial como expe Pedro Abramo: o fen-

    meno das super-periferias revela o seu aspecto per-verso e de iniqidade social com o comprometimentocrescente do oramento familiar em custos de deslo-camento.(ABRAMO, 2009, p.38).

    Enquanto as nossas metrpoles so, cada vez mais,plos de concentrao econmica nacional e inter-nacional, as periferias que fazem parte delas per-manecem estagnadas e apresentando altos indica-dores de pobreza invisibilizados.

    1.2. A informalidade e a disperso na consti-tuio do tecido intraurbano perifrico

    Como j foi defendido no ponto anterior, as nossasmetrpoles frente elevada taxa de urbanizao secaracterizam pela sua disperso e espraiamento noterritrio, sem limites bem denidos ou planejados.Com o objetivo de entender na escala intraurbanaos motivos do crescimento urbano, o professorNestor Goulart Reis (2009), explica as caractersti-cas especcas locais e temporais do conceito de

    disperso urbana nas metrpoles brasileiras e comoso dspares das caractersticas das metrpoles eu-ropeias:

    Nossa disperso se estabelece nas regies rurais deuma s vez. Na Europa h um grande nmero de al-deias e povoados rurais, e uma parte da disperso sefez a partir dessas aldeias. A populao ali se trans-forma e adota padres metropolitanos. No Brasil, adisperso se d em reas ainda desocupadas, de umavez s. Em 30 anos passamos por todas as etapas quea Europa passou em dois sculos. (REIS, 2006, p.21)

    Nestor Goulart Reis defende que este tema deve serestudado em duas escalas paralelamente: na escalametropolitana10 e do intra-urbano, mas entenden-do que cada uma delas tem um objetivo de anlisediferente. Para ele, o processo de disperso urba-na caracterstica especica da escala intraurbana.

    10 Na escala metropolitana, a disperso se estuda com o ob-jetivo de entender as polaridades dentro do aglomerado urbano,os eixos de transporte e comunicao da populao, e as diver-sas maneiras de agrupao das classes sociais no espao urbano.

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    de condomnios privados e outras similares. Porm, no nosso caso vamos estudar as caractersticas espe-ccas da disperso na periferia informal metropolitana. Portanto, as questes a desenvolver neste pontoso: Atravs de que mecanismos socioeconmicos se desenvolve esta informalidade perifrica? Como estadinmica socioeconmica urbana interfere na formao de uma morfologia particularmente dispersa?No espao intraurbano das periferias metropolitanas, a forma mais estabelecida de construo de habita-o a autoconstruo da casa pela famlia, aps a compra de um lote poro de terra na maioria dos

    casos sem rede de infraestrutura urbana. Por conseguinte, antes da ocupao das famlias deve ser reali-zado um loteamento ilegal e informal, que converte o uso de um territrio no urbano podendo ter usoagrcola ou no em uso de moradia sem disponibilizar as redes de infraestruturas urbanas pelo poderpblico ou os poderes privados que vendem os lotes. Em relao a inuncia deste sub-mercado de lotea-mentos na morfologia urbana das periferias, Pedro Abramo (2009) a considera como principal responsvelpela dinmica de disperso urbana:

    O primeiro sub-mercado (loteamentos) opera o fracionamento de glebas na periferia das cidades, constituindo-se no principalvetor de expanso da malha urbana e da dinmica de periferizao precria cuja caracterstica principal nas grandes cidadeslatino-americanas a inexistncia (ou precariedade) de infraestruturas, servios e acessibilidade urbana. (ABRAMO, 2009, p.11)

    Portanto, a inter-relao entre a irregularidade da posse e a morfologia do tecido disperso na escala in-

    traurbana um fator que deve ser estudado e aprofundado para entender as causas dos grandes proble-mas metropolitanos. Numa abordagem inicial, podemos identicar de forma esquemtica, trs atoressociais produzindo este espao urbano: (1) o poder pblico incapaz de fomentar uma oferta massiva eregular de habitaes dentro da rede da infraestrutura urbana, que tolera as ocupaes de terra pblica naperiferia metropolitana; (2) os agentes pblicos ou privados que dividem e vendem esta terra como terraurbana com nalidade habitacional; e (3) a populao pobre que, sem acesso moradia regular, compra oslotes e constri sua moradia na periferia dos grandes ncleos metropolitanos.Neste contexto de grande desigualdade social e econmica surgem os movimentos de ocupao de terrasurbanas massivas ou individuais, espontneas ou organizadas, atravs de diferentes interesses polticosou econmicos, movidas por uma lgica da necessidade de ter acesso vida urbana(ABRAMO, 2005, p.3).Desta forma se consolidou durante varias dcadas o modus operandide fazer periferia.

    Figura 1.3:Relao entre o mapa ndice de desenvolvimento social por setor censitrio (2000) e o mapa Loteamen-tos irregulares ou clandestinos no Rio de Janeiro (2004).

    Fonte: Instituto Pereira Passos. Prefeitura do Rio de Janeiro. Disponvel em: http://ipprio.rio.rj.gov.br/frame-mapoteca/. Acessoem janeiro de 2014. Elaborao: prprio autor.

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    A gura do loteador agente social do espao urbano que ser explicado no prximo ponto procura umarea da metrpole sem infraestrutura e nem servios urbanos bsicos, na periferia mais ou menos distantedo centro urbano. Para denir a periferizao o essencial no a questo da localizao, e sim do acessoaos servios pblicos, como explica Mauricio de A. Abreu: o conceito inclui tambm a no acessibilidade aoconsumo de bens e servios que, embora produzidos socialmente pelo Estado, localizam-se apenas nas reasmais privilegiadas da metrpole, benefciando, portanto, principalmente, aqueles que a residem(ABREU,

    1987, p.15).

    Neste sentido, a venda de terra na periferia das metrpoles para ns de moradia sem as condies deinfraestrutura mnima tem a perversidade do denominado fator de antecipao de infraestrutura e servi-os futuros (ABRAMO, 2009). Quer dizer, pelo fato de estar numa rea periurbana o loteador vende a terraantecipando o valor futuro dela.

    Aquilo que hoje periferia amanha ser incorporado ao tecido urbano da cidade, e o poder pblico dispo-nibilizar a infraestrutura e os servios urbanos bsicos, para converter essa antiga periferia em um novobairro da metrpole. Este tempo entre a venda e a construo de infraestrutura urbana, essencial paradenir o lucro do loteador. Uma rea que est na periferia, mas com a promessa poltica de receber umprojeto pblico nacional ou municipal de construo de infraestrutura urbana como o PAC ou o Morar

    Carioca11 vo valorizar altamente essas terras. Como podemos conferir na prxima pgina, na gura 1.4,a Prefeitura do Rio de Janeiro promete urbanizar entre o ano 2012 e at 2020 um total de 255.757 domic-lios.

    Figura 1.4: Mapa das unidades a urbanizar pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com recurso pblico atravs do progra-ma Morar Carioca em 2013.

    Fonte: Relatrio o legado dos grandes eventos para a cidades do Rio de Janeiro e o seu impacto social. Prefeitura do Rio de Ja-neiro. Secretaria Municipal de Habitao. 2013. Disponvel em: http://www.transparenciacarioca.rio.gov.br/. Acesso em janeirode 2014.

    11 O Morar Carioca um programa da Prefeitura do Rio de Janeiro que tem como objetivo promover a incluso so-cial, atravs da integrao urbana e social das favelas do Rio at o ano de 2020, foi criado por Eduardo Paes em julho de 2010.

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    Como defende Pedro Abramo (2009) esta dinmicase manifesta na permanente procura de novas re-as perifricas, com objetivo de ser loteadas e vendi-das com um valor agregado a promessa da urba-nizao no sentido fsico que no existe na horada venda, mas existir no futuro. Portanto, este

    sub-mercado potencializa o espraiamento das pe-riferias sem limites denidos nem planejados e ca-racteriza morfologicamente o territrio periurbanocomo disperso/difuso:

    [...] a melhor estratgia do ponto de vista espacial abusca de glebas baratas e sem infraestrutura na franjada ocupao urbana do solo. O resultado, em termos deproduo da forma de ocupao do solo da cidade, umatendncia a extensicao contnua produzindo uma es-trutura difusa da territorialidade da informalidade urba-na. Em uma palavra, o funcionamento do submercadode loteamentos informais promove a extensicao douso do solo e a sua resultante a produo de uma for-ma difusa do territrio informal. (ABRAMO, 2009, p12)

    Diante disso, devemos ento esclarecer o concei-to de informalidade urbana, que at ento no foidenido. Esta informalidade transparece na irregu-laridade construtiva e urbanstica, como produtoconstrudo na escala intraurbana que no atende normativa estabelecida pelo poder pblico noespao urbano. Porm, muitas dessas construesirregulares no so denidas como assentamentosinformais. Por causa disto, a caracterstica que de-niria a informalidade urbana seria relacionada propriedade da terra e ao acordo econmico. Emoutras palavras, o mercado informal de uso do solo a somatria de duas dimenses da informalidade: ainformalidade urbana e a informalidade econmica.(ABRAMO, 2009, p.6). Neste sentido, importantedestacar a denio de informalidade econmica,que se refere s irregularidades relativas aos con-tratos de mercado que regulam as transaes mer-cantis(ABRAMO, 2009, p.6).

    O resultado desta dinmica socioeconmica vis-lumbrado nas caractersticas morfolgicas do teci-do intraurbano das nossas periferias, consolidadasno conceito anteriormente denido por fator deantecipao, que dever ser disponibilizado pelopoder pblico.

    Est tecnicamente demonstrado que construir aposteriori uma rede de infraestrutura e servios ur-banos em reas dispersas tem um custo econmicomuito mais alto do que construir em um territrio

    de alta densidade. Os custos de construir infraes-truturas em densidades baixas so muito altos, jque esses custos so comparados com o nmero defamlias que sero beneciadas (relao custo pormoradia). Em altas densidades, estes custos sodivididos por um nmero maior de famlias e, por-

    tanto, mais rentvel urbanizar reas compactas.Cabe indagar, por que o poder pblico tolera estadinmica urbana durante dcadas? Por que aceitaloteamentos de terras pblicas, vendidas irregular-mente para as camadas mais pobres da populaocom um valor agregado denominado fator de an-tecipao que depois dever custear, sendo cientedeste custo pblico mais elevado? Existem alianasou interesses polticos que potencializam estas di-nmicas? Quem so os agentes urbanos que produ-zem ento estas periferias? E nalmente, existemestratgias dentro das polticas pblicas urbanas

    para frear esta dinmica? Estas questes sero re-tomadas adiante.

    1.3. A produo social do espao urbano

    nas periferias metropolitanas

    Tal como foi apresentado no item anterior, atu-almente, muitos pesquisadores dos fenmenosurbanos aprofundam-se na anlise das relaesentre a geograa, a antropologia e o urbanismo.Muitos deles reforam a hiptese da inter-relao

    entre a morfologia urbana e as foras econmicas,polticas e culturais. Quando em 1993 o socilogoestadunidense Mark Gottdiener escreve o livro A

    produo social do espao urbano, tem como objeti-vo demonstrar que a forma do espao no s um

    produto social, mas tambm seu valor. Em suma, oespao uma construo social em todas as suas di-menses. (GOTTDIENER, 1993, p.28). O autor de-fende que a cincia urbana tradicional est obsoletapelo fato de no analisar a inuncia das transfor-maes econmicas, polticas e culturais na prpriaforma do espao urbano. Neste sentido, Gottdiener

    recomenda estudar e entender as dinmicas socio-econmicas que esto produzindo formas urbanascontemporneas, antes de propor polticas urbanasque no levam em considerao as relaes sociaisdo local. Para abordar essas dimenses vamos es-tudar e analisar as foras econmicas, polticas eculturais que produzem o espao urbano nas perife-rias das metrpoles brasileiras, atravs das pesqui-sas de vrios estudiosos, entre eles o estadunidenseGottdiener (1993) que dene os agentes que produ-

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    32PRODUO SOCIAL DO ESPAO URBANO NA PERIFERIA DA METRPOLE.

    perspectiva do autor este grupo de foras do setorimobilirio no tem uma hierarquia, nem uma forasuperior externa que controle este grupo:

    O setor imobilirio, inclusive a frao de capital nancei-ro organizada em torno dos investimentos na terra, a

    linha de frente da materializao desse processo de des-envolvimento capitalista tardio no espao. constitudode fraes de classe, que muitas vezes competem entresi, bem como de redes pr-crescimento que unem inte-resses de outro modo dispares. Embora as aes dessesetor possam ser combinadas e organizadas, no existenenhum mecanismo abrangente de coordenao. A te-rra sempre um investimento atraente, graas ao seu ca-rter exvel e aos incentivos produzidos pelas relaesvigentes de produo. (GOTTDIENER, 1993, p.268)

    Por outro lado o urbanista e pesquisador FlvioVillaa amplia esta teoria da estrutura de poder em

    rede quando escreveu o livro Espao Intraurbanono Brasil, em 2001. Nessa pesquisa, o autor, expeque as camadas de mais alta renda da sociedadebrasileira se conformam como o agente social quedomina e produz o espao urbano por cima do pr-prio poder pblico ou do mercado, portanto, elas seaproveitam das estruturas do mercado imobilirioe do poder pblico como mecanismos de controleda produo deste espao urbano que, junto com aideologia, completa as trs linhas de dominao daburguesia:

    As camadas de mais alta renda controlam a produodo espao urbano por meio do controle de trs meca-nismos: um de natureza econmica o mercado, nocaso, fundamentalmente o mercado imobilirio; outrode natureza poltica: o controle do Estado, e, nalmen-te, atravs da ideologia. Sobre o primeiro controle - o domercado versa a quase totalidade desta obra. Analo que se mostra nela como se constituem os interes-ses espaciais da classe dominante e de suas satlites ecomo, por sua vez, elas comandam o mercado imobili-rio conforme esses interesses. (VILLAA, 2001, p. 335)

    Villaa dene esta dominao como uma luta declasses pelo espao urbano. Mesmo que os indi-vduos das camadas de alta renda tambm faamparte do poder pblico ou do setor imobilirio, oshomens no disputam enquanto indivduos, mas en-quanto classes, e essa disputa determinar a estrutu-ra intra-urbana em qualquer modo de produo noapenas no capitalismo e em qualquer sociedade declasses. (VILLAA, 2001, p. 333). Segundo esse au-tor este grupo ou classe social mais abastada notinha um poder to forte at a segunda metade do

    zem o espao urbano na realidade estadunidense eos pesquisadores brasileiros Flavio Villaa (2001) ePedro Abramo (2009) que focam suas pesquisas noentendimento das metrpoles brasileiras. impor-tante ressaltar que o professor Villaa (2001) estudae analisa profundamente as teorias urbanas tanto

    de Gottdiener (1993), como de Castells (1976) paradepois realizar a pesquisa prpria no contexto bra-sileiro, por isso, estas comparaes esto sendo re-alizadas a partir da compreenso da importncia dese ampliar e contextualizar as teorias de Gottdienerno contexto do Brasil.

    1.3.1. Os agentes sociais

    Gottdiener (1993) caracteriza o poder municipal,ou Estado local, como agente que pode se associar

    ao setor privado formando uma rede de poder semuma hierarquia estabelecida, a qual tem como in-teresse o desenvolvimento imobilirio de uma de-terminada rea com uma ideologia em comum: odesenvolvimento econmico do territrio atravsde empreendimentos imobilirios. Assim, o poderlocal utiliza o controle de regular a terra municipalcomo a sua principal fora de dominao e produ-o do espao urbano. Nas palavras do prprio au-tor este processo se congura da seguinte forma:

    Alm dos programas e polticas nacionais, o Estado lo-

    cal tambm se envolve na produo do espao, princi-palmente como um regulador do desenvolvimento douso da terra ou manipulando a arrecadao tributriapara subsidiar o desenvolvimento econmico e da pro-priedade. J que a ideologia fundamental da vida muni-cipal envolve a legitimao do impulso de crescimentoeconmico e como o controle da terra o poder princi-pal atravs do qual as jurisdies locais podem regularo setor privado, lideres polticos municipais e interes-ses organizados em torno do desenvolvimento da te-rra formam muitas vezes como que uma corporao dedesenvolvimento imobilirio, juntando governo e em-presrios para criar uma rede pr-crescimento. Essas

    redes constituem o modo principal pelo qual a trans-ferncia local da terra se transforma num motor paraa produo do espao. (GOTTDIENER, 1993, p.269)

    Na dinmica socioeconmica descrita por Gottdie-ner, o setor imobilirio seria a esfera de poder queextrai maior benefcio dessa simbiose, uma vez queconsegue lucrar atravs da produo e construodesta forma urbana, sempre otimizada para o maiorlucro possvel, atravs do apoio e consentimentodo poder pblico. interessante observar que na

  • 8/9/2019 Produo Social do Espao Urbano na periferia da metrpole

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    33A INCORPORAO DA ANTIGA COLNIA JULIANO MOREIRA NO TECIDO FORMAL DO RIO DE JANEIRO

    sculo XX, quando se articula com o mercado imo-bilirio, o marketing, os meios de comunicao e adinmica econmica, tendo em vista um mesmoobjetivo poltico.

    Em contraposio, na simbiose exposta por Got-

    tdiener (1993), existem unicamente dois agentessociais bem denidos: o poder pblico local e o se-tor imobilirio, os quais no constituem classes epodem se integrar em uma nica rede, que, com ummesmo objetivo manipular o processo de tomadade deciso sobre o uso da terra a fm de conseguir per-misso para um projeto que os faa ganhar dinheiro.(GOTTDIENER, 1993). Em meio a essa dinmica so-cioeconmica, apesar de serem pequenas as ma-nipulaes sobre o uso da terra, tais modicaesinuenciam a produo de grandes reas do espaourbano, que sero planejadas na raiz desta mudan-

    a, deixando os urbanistas sem opo de produzirum correto planejamento urbano, uma vez que notem o controle do uso da terra.

    Muito importante para o desenvolvimento da nossapesquisa a hiptese de Villaa (2001) em relao dominao das camadas de mais alta renda, j queelas exercem trs mecanismos de controle sobre opoder publico, de modo que aturam para alm deuma inter-relao em rede. Dentre estes mecanis-mos de controle, o autor explica que a burguesiaatua atravs do Estado para controlar a prprialegislao urbanstica, o que prejudica as camadaspobres da populao, uma vez que no conseguemse adaptar a esta legislao vigente e, como conse-quncia, vivem na clandestinidade e na ilegalidadeurbana:

    [...] O primeiro [mecanismo] a localizao dos aparelhosdo Estado [...]. O segundo mecanismo a produo deinfraestrutura. Finalmente, o Estado atua atravs da le-gislao urbanstica. Esta, sabido, feita pela e para asburguesias. Isso se revela pelo fato de se colocar na clan-destinidade e na ilegalidade a maioria dos bairros e das

    edicaes de nossas metrpoles. (VILLAA, 2001, p.338)

    Villaa (2001) defende esta abordagem armandoque a maioria dos loteamentos e das edifcaesrealizados para as camadas populares esto impos-sibilitados pelas leis do mercado de obedecer legislao urbanstica e edilcia. Assim, nos bairrospopulares a legislao urbana no existe na prtica,o que, segundo o autor, representa uma das formasde controle da burguesia brasileira na produo doespao urbano.

    Para abordar essas dimenses, devemos ainda ana-lisar a hiptese de Pedro Abramo (2009) a partir doestudo das cidades latino americanas, no artigo Acidade com-fusa: mercado e a produo da estrutu-ra urbana nas grandes cidades latino-americanas.Segundo esse autor, a legislao urbanstica das ci-

    dades latino-americanas tambm um instrumen-to de produo de espao urbano irregular, pois utilizada como barreira de incluso das classes po-pulares no espao urbano formal. Neste sentido,Abramo considera este mecanismo como a causaessencial da existncia do amplo mercado informalnas metrpoles brasileiras:

    A existncia do mercado informal de solo atribuda a v-rios fatores, mas sobretudo, a uma legislao urbansticamodernista que dialoga com os estratos de renda eleva-dos das cidades latino-americanas. O modelo de cidade

    formal modernista das elites latino-americanas impeum conjunto de requisitos normativos que produziu umaverdadeira barreira institucional para a proviso de mora-dias para os setores populares com rendimento abaixo detrs salrios mnimos, e induziu a ao irregular e/ou clan-destina de loteadores e processos de ocupao popularde glebas urbanas e peri-urbanas. (ABRAMO, 2009, p.4)

    Neste artigo, Abramo, ao falar desta hiptese, fazreferncia tambm professora e urbanista brasi-leira Ermnia Maricato (2001), que no livro Brasil,cidades, alternativa para a crise urbana, defe