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10 Jornal da Fruta SETEMBRO/2007 Produção de morango em estufa * João Bernardi o morangueiro é cultivado, no Bra- sil, em várias formas: no solo, com ou sem cobertura plástica, em túneis bai- xos ou em estufas, ou no sistema hi- dropônico, com ou sem substrato. A cultura é desenvolvida, em gran- de parte, por agricultores familiares que possuem áreas de cultivo pequenas. Vis- to que é recomendado fazer rotação de culturas para evitar o aumento da incidência de podridões de raízes e do colo por fungos e pela crescente conscientização do produtor em relação ao risco de uso de agrotóxicos, os pro- dutores de morango têm procurado novas maneiras à produção. Uma alternativa para contornar esse problema é a produção de morangos em ambiente protegido onde é limitado o ata- que de pragas e doenças. É a produção em substrato artificial sem contamina- ção por fungos e com fertirrigação (sis- tema semi-hidropônico). Esta alterna- tiva é de grande importância para os produtores, porque reduz a demanda de agrotóxicos no morangueiro e propor- ciona a continuação da atividade. Os ambientes protegidos são aqueles que propiciam um microclima adequado ou próximo para o desenvolvimento das culturas. As estufas podem ser peque- nas ou grandes dependendo da quanti- dade de mudas utilizadas. As armações das estufas podem ser construídas em vários formatos e com vários materiais: em madeira, em PVC e mistas(com madeira e PVC; ou com madeira e aço galvanizado). Essas armações são cobertas com plástico, destinado a esse fim, colocados nas partes de cima, na frente e nas laterais da estufa. A estufa deve ter pé direito acima de 3 m. fazer rotação de culturas das áreas de produção, prática necessária para redu- zir a podridão de raízes no sistema de túneis baixos. - O manejo da cultura pode ser realizado em pé e em dias de chuva. - Cada novo ciclo de produção é estabelecido com a troca do saco plástico e do substrato a cada dois anos. Se ocorrer doenças em algum saco é só retirar esse sem comprometer toda área. - O sistema protege as plantas do efeito da chuva e facilita a ventilação. - Como há menos pressão de doenças, o uso de agrotóxicos podem ser substi- tuídos por práticas culturais, uso de agentes de controle biológico e produ- tos alternativos, reduzindo muito o ris- co de contaminação dos frutos, sem afetar a rentabilidade da produção. - O período de colheita pode ser estendido - Permite a produção de frutas com qua- lidade e menor perda por doenças. - O sistema facilita a adoção de princípios de segurança dos alimentos. Estrutura - No sistema semi-hidro- pônico são utilizadas desde uma banca- da até várias em diferentes níveis. As bancadas em um nível são construídas sobre palanques de sustentação a um metro de altura acima do solo. Sobre estes palanques são fixadas travessas e ripas que sustentarão as embalagens com os substratos e o sistema de irrigação. Entre as bancadas deve haver um espaço que permita que sejam feitos manejos, tratos culturais e a colheita dos frutos, devendo ter a distância mí- nima de 80 cm. O sistema de uma ban- cada oferece uma distribuição de ener- gia sola mais uniforme às plantas, o que pode fazer com que os frutos tenham melhor sabor. Existem vários tipos de to. Existem vários tipos de compos- tos que podem ser utilizados para for- mulação de substratos para o culti- vo semi-hidropônico. Dentre eles estão: a) casca de arroz carbonizada' b) mistura com diferentes porcentagen~ de casca de arroz carbonizada + casca de pinus; c) mistura, em diferentes por- centagens, de casca de arroz carboni- zada + turfa + vermiculita, entre outros. Alguns utilizam materiais orgânicos (casca de arroz, turfa e húmus) e ou- tros minerais. O substrato é acondicionado em em- balagens de filme tubular, preferencial- mente branco disponível no mercado em rolos de mais ou menos 30 em de largu- ra e 500 m de comprimento. O tamanho da embalagem para plantio das mudas pode variar, mas o tamanho de um metro de comprimento podemos plantar 8 mu- das e é de fácil transporte e manuseio. Pode ser em menores tamanhos onde se- rão plantadas menos mudas por embala- gem. O espaçamento entre as embalagens nas bancadas colocadas uma ao lado da outra é de no mínimo 20 cm. O uso de embalagens menores apresenta vantagens porque, caso ocorra contaminação por doenças, em alguma embalagem é só des- cartar essas embalagens. A drenagem das embalagens ocorre na parte inferior da ~~~ ~_~~I __ ~_ r_· ... 1 r viar para reciclagem. Irrigação - No cul- tivo protegido do morangueiro semi-hi- dropônico, em substrato artificial, utiliza- se a irrigação por gotejamento. A irriga- ção localizada tem como vantagens: alta eficiência de aplicação, economia de água, energia e mão-de-obra, permite automa- tização, fertirrigação e não interfere nos tratamentos fitossanitários. A qualidade da água é um fator im- portante na irrigação; água de má quali- dade poderá causar toxicidade nas plan- tas, e, se for suja, entupirá o sistema de irrigação, que é bastante sensível a partí- culas minerais e orgânicas. A irrigação pode ser feita co mangueiras gotejadoras que atravessam os sacos plásticos com o substrato com gotejadores com espaça- mento de 10 em e outra com microgote- jadores colocados individualmente para cada planta. Para evitar problemas de en- tupimento dos gotejadores é necessário utilizar filtros. Os filtros mais usados são os de disco e o de areia. Os filtros usados devem ser os de disco. São colocados entre a saída do reservatório e as prate- leiras com as mudas. A instalação pode ser também antes do reservatório que auxiliará a retenção de silte e argila que estão em suspensão na água. Outros equi- pamentos necessários são: conjunto moto-bomba, uma balança para pesar os nlltrlpntpç: nllP rí\rnn"r~f) ~ Cnll1r~{\ rnr,

Produção de morango em estufa - Embrapa

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10 Jornal da FrutaSETEMBRO/2007

Produção de morango em estufa * João Bernardi

o morangueiro é cultivado, no Bra-sil, em várias formas: no solo, com ousem cobertura plástica, em túneis bai-xos ou em estufas, ou no sistema hi-dropônico, com ou sem substrato.

A cultura é desenvolvida, em gran-de parte, por agricultores familiares quepossuem áreas de cultivo pequenas. Vis-to que é recomendado fazer rotação deculturas para evitar o aumento daincidência de podridões de raízes edo colo por fungos e pela crescenteconscientização do produtor em relaçãoao risco de uso de agrotóxicos, os pro-dutores de morango têm procuradonovas maneiras à produção.

Uma alternativa para contornar esseproblema é a produção de morangos emambiente protegido onde é limitado o ata-que de pragas e doenças. É a produçãoem substrato artificial sem contamina-ção por fungos e com fertirrigação (sis-tema semi-hidropônico). Esta alterna-tiva é de grande importância para osprodutores, porque reduz a demanda deagrotóxicos no morangueiro e propor-ciona a continuação da atividade.

Os ambientes protegidos são aquelesque propiciam um microclima adequadoou próximo para o desenvolvimento dasculturas. As estufas podem ser peque-nas ou grandes dependendo da quanti-dade de mudas utilizadas. As armaçõesdas estufas podem ser construídas emvários formatos e com vários materiais:em madeira, em PVC e mistas(commadeira e PVC; ou com madeira eaço galvanizado). Essas armações sãocobertas com plástico, destinado a essefim, colocados nas partes de cima, nafrente e nas laterais da estufa. A estufadeve ter pé direito acima de 3 m.

fazer rotação de culturas das áreas deprodução, prática necessária para redu-zir a podridão de raízes no sistema detúneis baixos. - O manejo da culturapode ser realizado em pé e em dias dechuva. - Cada novo ciclo de produçãoé estabelecido com a troca do sacoplástico e do substrato a cada dois anos.Se ocorrer doenças em algum saco ésó retirar esse sem comprometer todaárea. - O sistema protege as plantas doefeito da chuva e facilita a ventilação. -Como há menos pressão de doenças, ouso de agrotóxicos podem ser substi-tuídos por práticas culturais, uso deagentes de controle biológico e produ-tos alternativos, reduzindo muito o ris-co de contaminação dos frutos, semafetar a rentabilidade da produção. - Operíodo de colheita pode ser estendido- Permite a produção de frutas com qua-lidade e menor perda por doenças. - Osistema facilita a adoção de princípiosde segurança dos alimentos.

Estrutura - No sistema semi-hidro-pônico são utilizadas desde uma banca-da até várias em diferentes níveis. Asbancadas em um nível são construídassobre palanques de sustentação a ummetro de altura acima do solo. Sobreestes palanques são fixadas travessas eripas que sustentarão as embalagens comos substratos e o sistema de irrigação.Entre as bancadas deve haver umespaço que permita que sejam feitosmanejos, tratos culturais e a colheitados frutos, devendo ter a distância mí-nima de 80 cm. O sistema de uma ban-cada oferece uma distribuição de ener-gia sola mais uniforme às plantas, o quepode fazer com que os frutos tenhammelhor sabor. Existem vários tipos de

to. Existem vários tipos de compos-tos que podem ser utilizados para for-mulação de substratos para o culti-vo semi-hidropônico. Dentre elesestão: a) casca de arroz carbonizada'b) mistura com diferentes porcentagen~de casca de arroz carbonizada + cascade pinus; c) mistura, em diferentes por-centagens, de casca de arroz carboni-zada + turfa + vermiculita, entre outros.Alguns utilizam materiais orgânicos(casca de arroz, turfa e húmus) e ou-tros minerais.

O substrato é acondicionado em em-balagens de filme tubular, preferencial-mente branco disponível no mercado emrolos de mais ou menos 30 em de largu-ra e 500 m de comprimento. O tamanhoda embalagem para plantio das mudaspode variar, mas o tamanho de um metrode comprimento podemos plantar 8 mu-das e é de fácil transporte e manuseio.Pode ser em menores tamanhos onde se-rão plantadas menos mudas por embala-gem. O espaçamento entre as embalagensnas bancadas colocadas uma ao lado daoutra é de no mínimo 20 cm. O uso deembalagens menores apresenta vantagensporque, caso ocorra contaminação pordoenças, em alguma embalagem é só des-cartar essas embalagens. A drenagem dasembalagens ocorre na parte inferior da

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viar para reciclagem. Irrigação - No cul-tivo protegido do morangueiro semi-hi-dropônico, em substrato artificial, utiliza-se a irrigação por gotejamento. A irriga-ção localizada tem como vantagens: altaeficiência de aplicação, economia de água,energia e mão-de-obra, permite automa-tização, fertirrigação e não interfere nostratamentos fitossanitários.

A qualidade da água é um fator im-portante na irrigação; água de má quali-dade poderá causar toxicidade nas plan-tas, e, se for suja, entupirá o sistema deirrigação, que é bastante sensível a partí-culas minerais e orgânicas. A irrigaçãopode ser feita co mangueiras gotejadorasque atravessam os sacos plásticos com osubstrato com gotejadores com espaça-mento de 10 em e outra com microgote-jadores colocados individualmente paracada planta. Para evitar problemas de en-tupimento dos gotejadores é necessárioutilizar filtros. Os filtros mais usados sãoos de disco e o de areia. Os filtros usadosdevem ser os de disco. São colocadosentre a saída do reservatório e as prate-leiras com as mudas. A instalação podeser também antes do reservatório queauxiliará a retenção de silte e argila queestão em suspensão na água. Outros equi-pamentos necessários são: conjuntomoto-bomba, uma balança para pesar osnlltrlpntpç: nllP rí\rnn"r~f) ~ Cnll1r~{\ rnr ,

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Os plásticos das laterais podem sererguidos dependendo das condições cli-máticas como chuva, frio, vento etc.Isso possibilita que temperaturas eleva-das sejam amenizadas, ao erguê-Io, emdias muito quentes ou manter ou impe-dir que as mesmas baixem muito, em diasmais frios. Nas laterais das estufas sãocolocadas telas de nylon com 5 m dealtura. Essa tela tem o objetivo de prote-ger a estufa contra a entrada de animais.

Características do Sistema Semi-Hidropônico - O sistema semi-hidro-pânico é bastante utilizado na Europapor possibilitar a melhor utilização doespaço na pequena propriedade. No Bra-sil é necessário definir alguns compo-nentes tecnológicos para oti mizar oretomo ao produtor. Para produção emestufa usa-se bancadas com sacos plás-ticos de um metro de comprimento emais ou menos 33 em de largura e sãoenchidos com um substrato.

Apresenta algumas vantagensclaras frente ao sistema convencio-nal, como: - O produtor não precisa

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estufas. Para poucas bancadas ou paramais. Neste caso o tamanho e o forma-to da estufa podem variar. Existem es-tufas feitas de armações de canos dePVC e cobertas com plástico e, estu-fas maiores, com armações de madei-ras ou outros materiais. O custo apro-ximado de uma estufa de 360 rrr' comarmações de madeira e com capaci-dade de 2.400 mudas é em torno deR$ 5.000,00. Se tiver os materiais ocusto será bem menor. Substratos -O substrato serve como suporte ondeas plantas fixarão suas raízes e retém olíquido que a planta usará. Um subs-trato considerado ideal deve apresen-tar características como: a)capa ci-dade de retenção de água facilmente dis-ponível; b) distribuição das partículasde tal modo que, ao mesmo tempo queretenha água, mantenham aeração paraque as raízes não sejam submetidas abaixos níveis de oxigênio, o que com-promete o desenvolvimento da cultura·c) decomposição lenta; d)que seja dis~ponível para compra e e) de baixo cus-

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mesma, onde são feitos alguns furos quedrenarão. O excesso de água retida nofundo da embalagem. Manejo - As mu-das de boa qualidade devem ser prepara-das retirando as folhas cortando-as na hastedeixando com 3 em de comprimento. Asraízes são cortadas a 4 em. O plantio éfeito nas embalagens previamente satura-das de umidade. Após a saturação são fei-tos furos nas embalagens a cada 30 empara inserir as mudas. É importante ob-servar que as raízes não fiquem do-bradas ao serem plantadas, pois issopoderá comprometer o crescimento daplanta. Após o plantio são feitos furosembaixo da embalagem para drena-gem da água que fica retida no fundo.

Aos 15 dias após o plantio, come-çam a emitir flores. Porém, para que asplantas cresçam e se desenvolvam bem,é necessário um desbaste contínuo atéas plantas apresentarem cinco folhas.À medida que as plantas crescem hánecessidade de serem feitas limpezas,retirando-se as folhas velhas, com al-guma contaminação por doença, ama-relecendo. Este trabalho é feito, maisou menos uma vez por mês ou a qual-quer momento quando observar folhascom problemas. Todo material que forretirado deve ser acondicionado em sa-cos plástico, que se destina a esse fim.À medida que esses ficam cheios de-vem ser retirados do local e colocadosem covas que deverão ser cobertas. Aembalagem deverá ser manuseada comcuidado para não disseminar doençasque possam estar no seu interior e en-

nutrientes que comporão a solução nu-tritiva que será fornecida à cultura, reser-vatórios para preparar solução nutritiva,um condutivímetro para medir a conduti-vidade elétrica da soluça e um peagâme-tro para medir o pH da solução.

Para uma obter melhor qualidade e pro-dução recomenda-se ter caixas de abe-lhas ou outros insetos polinizadores per-to das estufas. A falta de polinização fazcom que muitos frutos fiquem deforma-dos. Para que as abelhas e outros insetospolinizadores entrem na estufa é neces-sário que esteja com as laterais levanta-das. No inverno, com o frio, a tendênciaé deixar as laterais abaixadas para evitar ofrio no interior da estufa e, com isso, ocor-rem esses problemas de deformação. Adeformação pode ocorrer também comfrio muito intenso, o qual pode causar tam-bém a queima das flores e frutos.

A colheita é feita, de modo geral, duasvezes por semana de pendendo da épocado ano e da temperatura ambiental, Nacolheita devemos ter o cuidado necessá-rio a uma fruta delicada, estar com higie-ne pessoal, ter as mãos limpas, livre decontaminações e, se for possível, colherdireto na cumbuca (embalagem onde es-tão os frutos para comercialiuzação)quevai ao mercado para manusear o mínimopossível os frutos. Cada muda produz emde 800 g ou mais por ano. De maneirageral as plantas produzem por doisanos quando deverão ser retiradas ecolocar mudas novas e substrato novo.

* Eng Agr E. E. da Embrapa - Vaca-ria/RS - [email protected]. br