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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA LARISSA HORTENCIA SANTOS GOES PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E CARACTERÍSTICAS DE FERMENTAÇÃO DA SILAGEM DA RAMA DE CULTIVARES DE MANDIOCA SÃO CRISTÓVÃO-SE 2015

PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E … · Vanessa Hortencia, meu irmão - Júnior, minha sobrinha - Nicolle e meu sobrinho - Vitor Gabriel pelo apoio, ... por todo o amor,

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

LARISSA HORTENCIA SANTOS GOES

PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E

CARACTERÍSTICAS DE FERMENTAÇÃO DA SILAGEM

DA RAMA DE CULTIVARES DE MANDIOCA

SÃO CRISTÓVÃO-SE

2015

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

LARISSA HORTENCIA SANTOS GOES

PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E

CARACTERÍSTICAS DE FERMENTAÇÃO DA SILAGEM DA

RAMA DE CULTIVARES DE MANDIOCA

Dissertação entregue à Universidade

Federal de Sergipe como parte das

exigências para obtenção de título de

mestre em Zootecnia.

Orientador

Prof. Dr. Evandro Neves Muniz

Co-orientador

Prof. Dr. Gladston Rafael de Arruda

Santos

SÃO CRISTÓVÃO-SE

2015

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

G598p

Goes, Larissa Hortencia Santos Produtividade, composição bromatológica e características de fermentação da silagem da rama de cultivares de mandioca / Larissa Hortencia Santos Goes; orientador Evandro Neves Muniz. – São Cristóvão, 2015.

43 f.

Dissertação (mestrado em Zootecnia)– Universidade Federal de Sergipe, 2015.

1. Mandioca - Pesquisa. 2. Mandioca - Cultura. 3. Mandioca -

Silagem. 4. Mandioca - Reaproveitamento. I. Muniz, Evandro Neves, orient. II. Título.

CDU 633.493

Agradecimentos

Agradeço à Deus, a Nossa Senhora e a minha família maravilhosa. A educação e os

exemplos que tenho de perseverança, de bondade, de união, de honestidade, de alegria e

de carinho são os alicerces que construo minha vida. Sabem o quanto batalhei, todas as

dificuldades que passei e me ajudaram a superar tais barreiras para eu chegar ao meu

objetivo.

Então agradeço a meu pai - José Resende, minha mãe - Maria Hortencia, minha irmã,

Vanessa Hortencia, meu irmão - Júnior, minha sobrinha - Nicolle e meu sobrinho -

Vitor Gabriel pelo apoio, pelos sorrisos e pela paciência.

Agradeço a amizade fraternal de Andresa Fonseca e Luiz Carlos. Agradeço a Seu

Monteiro, D. Leda (meus sogros), Joelice Siqueira e Simone pelo suporte na minha

vida, facilitando meus momentos de estudo.

Agradeço meu marido Emerson Monteiro por ter insistido em me inscrever na seleção

do mestrado, por todo o amor, carinho, companheirismo, por me fazer sorrir, pela calma

que me passa.... enfim, por sua presença em minha vida e principalmente pelo maior

presente de nossas vidas: nossa filha Valentina. Que Deus nos deu no meio do curso de

mestrado e completou nosso coração.

Agradeço a todos os professores pelos conhecimentos repassados. Agradeço ao

professor Alfredo por ter acreditado e confiado em mim. Ao professor Jailson pelos

puxões de orelha. Ao professor Gladston o suporte, compreensão e orientações

essenciais para eu conseguir chegar a esse momento.

Agradeço em especial ao professor e meu orientador Evandro Muniz. Obrigado pelo

estímulo, pela confiança, por ter acreditado em mim. Sem o senhor esse sonho nunca se

concretizaria. No momento que eu quase desistia, me deu força e me ajudou. Palavras

não expressam o agradecimento que sinto.

E agradeço ao BNB (Banco do Nordeste) pelo financiamento do projeto.

Sumário

RESUMO................................................................................................................................i

ABSTRACT...........................................................................................................................ii

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................3

2.1 A SECA NO NORDESTE ........................................................................................... 3

2.3 CONSERVAÇÃO DE FORRAGEM ........................................................................... 4

2.4 CULTURA DA MANDIOCA ...................................................................................... 5

2.5 CARACTERIZAÇÃO DA MANDIOCA ..................................................................... 6

2.6 SUBPRODUTOS INDUSTRAIS DA MANDIOCA .................................................... 8

2.6.1 Bagaço da mandioca ..................................................................................................8

2.6.2 Farelo da mandioca ...................................................................................................9

2.6.3 Manipueira ................................................................................................................9

2.6.4 Parte aérea da mandioca .......................................................................................... 10

2.7 TOXIDEZ DA MANDIOCA ..................................................................................... 12

2.8 RUMINANTES e a MANDIOCA .............................................................................. 13

3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 15

CAPÍTULO 1: Produtividade, composição bromatológica e características da fermentação

da silagem da rama de variedades de mandioca ................................................................ 23

1.1 Resumo ...................................................................................................................... 23

1.2 Abstract...................................................................................................................... 24

1.3 Introdução .................................................................................................................. 25

1.4 Materiais e Métodos ................................................................................................... 27

1.5 Resultados e Discussão .............................................................................................. 29

1.6 Conclusões ................................................................................................................. 34

1.7 Referências Bibliográficas .......................................................................................... 35

i

RESUMO

GOES, Larissa. Produtividades, composição bromatológica e características de

fermentação da silagem da rama de cultivares de mandioca. Sergipe: UFS, 2015. 43p.

(Dissertação - Mestrado em Zootecnia)

A mandioca é uma cultura bastante difundida na região Nordeste e apresenta grande

importância econômica. Dentre os resíduos que produz, a parte aérea pode ser utilizada na

alimentação animal especialmente na forma de ensilagem, sendo uma opção de alimento

na época seca. O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar as produções de parte aérea

e de raízes, a composição bromatológica e as características de fermentação de cultivares

de mandioca oriundas de duas localidades de Sergipe, São Domingos e Lagarto. As

variedades utilizadas foram as 9783/13, Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca,

BRS Tapioqueira, BRS Verdinha, Caravela, Irará, Lagoão e Preta do Sul. A idade de corte

para pesagens e para confecção das ensilagens foi de 10 meses e foram utilizados mini

silos laboratoriais de PVC com 10 cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, lacrados com

tampas de PVC e presilhas de metal. Para cada tratamento foram confeccionados seis mini

silos, sendo 3 de cada local de colheita, totalizando 60 repetições, em um delineamento

experimental inteiramente casualizado (DIC). Após 180 dias os silos foram abertos e

analisados quanto a sua composição bromatológica e fermentativo. Observou-se que as

cultivares BRS Poti Branca e Lagoão se destacaram no município de São Domingos,

especialmente quanto à produtividade. No município de Lagarto, as variedades com

resultados mais interessantes em produtividade foram as Irará, 9783/13 e a BRS Poti

Branca. Em relação à qualidade da silagem, as cultivares BRS Caipira e Caravela

apresentaram os melhores resultados.

Palavras-chave: ensilagem; mandiocultura; nutrição animal.

i

ABSTRACT

GOES , Larissa . Productivity, chemical composition and fermentation characteristics

of silage aerial part of cassava cultivars . Sergipe : UFS , 2015. 43p . ( Dissertation -

Master in Zootecnia)

Cassava is a widespread culture in the Northeast of Brasil and has great economic

importance. Among the waste produced, the aerial part can be used for animal feed

especially in the form of silage, being a food option in the dry season. The objective of this

study was to evaluate and compare the productions of aerial part and roots, the chemical

composition and fermentation characteristics of cassava cultivars derived from two

locations of Sergipe, São Domingos and Lagarto. The varieties used were as 9783/13,

Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca, BRS Tapioqueira, BRS Verdinha,

Caravela, Irará, Lagoão and Preta do Sul. The age cut for weighing and preparation of

silage was 10 months and it were used PVC mini laboratory silos with 10 cm diameter and

30 cm in length, sealed with plastic caps and metal clamps. For each treatment were made

six mini silos, 3 of each sampling point, a total of 60 replicates in a completely randomized

design (CRD). After 180 days, the silos were opened and analyzed for bromatological and

fermentative composition. It was observed that the cultivars BRS Poti Branca and Lagoão

stood out in the municipality of São Domingo, especially on productivity. In the city of

Lagarto, varieties with more interesting results in productivity were the Irará, 9783/13 and

BRS Poti Branca. Regarding the quality of the silage, the BRS Caipria and Caravela

cultivars showed the best results.

Keywords: silage; cassava; animal nutrition.

ii

1

1 INTRODUÇÃO

As gramíneas tropicais constituem o principal recurso forrageiro para ruminantes no

Nordeste. Contudo, fatores climáticos restringem sua produtividade e representam um dos

maiores entraves na exploração agropecuária, limitando a produção de leite e de carne

(FERREIRA et al., 2007; SILVA et al., 2010; SOUZA et al., 2012).

No período de estiagem há necessidade de práticas de manejo diferenciadas que

possibilitem manter ou até melhorar os índices de produção. A utilização de volumosos

alternativos e a prática de conservação de forragens (principalmente ensilagem e fenação)

para esse período podem ser fundamentais para o sucesso da atividade (MODESTO et al.,

2008; ARAÚJO et al., 2009; ROCHA NETO et al., 2012).

Nesse sentido, procura-se utilizar espécies forrageiras nativas, adaptadas ao meio,

que possam ser produzidas ou adquiridas pelos próprios criadores. Tais alternativas

alimentares podem reduzir o uso de concentrados convencionais e diminuir custos com a

alimentação animal (ARAÚJO et al., 2009; SOUZA et al., 2011; SILVA et al., 2012).

Essa busca por novas fontes alimentares de boa qualidade e de baixo custo também

potencializou o interesse para a utilização de coprodutos e resíduos industriais

(FERREIRA et al., 2007; SILVA et al., 2012). Estes, quando utilizados de forma

planejada, podem melhorar a eficiência dos sistemas de produção pecuária no semiárido

(ARAÚJO et al., 2009; CARVALHO JÚNIOR et al., 2009; PIRES et al., 2009A; PIRES et

al., 2009B).

Por se adaptar a ambientes de baixa disponibilidade de água e a diversos tipos de

solos, além de apresentar bom valor nutricional, a mandioca (Manihot esculenta Cranz) é

uma das mais importantes culturas alimentares nos trópicos (SOUZA et al., 2012;

FIORDA et al., 2013). Essa cultura pode contribuir com o aumento de fornecimento de

nutrientes na alimentação de ruminantes de várias maneiras e, dentre elas, merece destaque

a silagem da parte aérea (NUNES IRMÃO et al., 2008).

A utilização de plantas fibrosas e de seus subprodutos na alimentação de ruminantes

é teoricamente viável devido ao peculiar sistema digestivo e à capacidade fermentativa do

rúmen desses animais (FORBES et al., 2007; GONÇALVES et al., 2014). O consumo de

nutrientes é um dos principais fatores associados ao desempenho animal, em especial o

2

consumo de matéria seca (MS), pois é determinante no atendimento das exigências de

mantença e produção de ruminantes (DIAS et al., 2008a; LIMA et al., 2008).

Deste modo, os conhecimentos sobre produtividades, composição química e valor

nutricional dos alimentos são imperativos para saber sua real aplicabilidade nos sistemas

de produção (AZEVEDO et al., 2006). Assim sendo, o objetivo desse trabalho foi avaliar a

produção de parte aérea e de raízes, índice de colheita, a qualidade nutricional e

características de fermentação da silagem de diferentes variedades na mandioca.

3

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A SECA NO NORDESTE

O sucesso da produção de determinadas culturas, sobretudo em áreas que não são

irrigadas, depende muito do regime pluviométrico. A região Nordeste apresenta uma média

de precipitação pluvial de 1000 mm ao ano. Contudo a maior parte desta região do Brasil

se situa dentro da zona semiárida, a qual tem como característica principal as chuvas

irregulares, tanto espacialmente quanto de um ano para o outro. (SILVA et al., 2011).

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Estado de

Sergipe segue esse padrão de variação de chuvas e o índice de precipitação decresce do

litoral para o oeste do Estado. No litoral leste são observados 1600mm ao ano enquanto

que no sertão semiárido a precipitação pluviométrica anual é inferior a 800mm, decaindo

em algumas localidades para menos de 500mm. O período chuvoso vai de abril a agosto,

com maiores concentrações de chuvas nos meses de maio, junho e julho.

Da mesma forma observam-se diferenças no número de meses secos ao ano. O litoral

mais sudeste apresenta apenas entre 0 e 2 meses secos ao ano, aumentando em direção ao

noroeste do Estado de Sergipe para 7 a 8 meses secos ao ano (DINIZ, 2014).

Somado a isso, a região semiárida se caracteriza por apresentar altos níveis de

irradiação (PORFIRIO, 2012). Portanto, é uma região com alto potencial de evaporação de

água em função da enorme disponibilidade de energia solar e altas temperaturas.

De acordo com o Quinto Relatório Anual do Painel Intergovernamental sobre as

Mudanças Climáticas (IPCC), projeções nas mudanças climáticas nessa região indicam

diminuição da disponibilidade de água, devido a reduções na precipitação e aumento da

evaporação. É previsto que até 2100 ocorra um aquecimento em 4ºC na temperatura e uma

redução em aproximadamente 20% nos índices de pluviosidade.

Os processos vegetais que dependem do aumento do volume celular são os mais

sensíveis ao déficit hídrico (LAGO et al., 2011). Restrição da área foliar pode ser

considerada como uma primeira reação das plantas a esse déficit (SANTOS e CARLESSO,

1998). Outra implicação é fechamento dos estômatos com consequente diminuição das

trocas gasosas, da transpiração e da assimilação do CO2 (MORENO F., 2009). Logo, a

4

inibição desses processos pode causar redução da produtividade e na qualidade da

produção (LAGO et al., 2011).

Segundo Gabriel et al. (2014) a mandioca é uma boa alternativa de alimentação por

se adaptar a adversidades e suas as raízes tuberosas não devem ter a produtividade reduzida

mesmo com o aumento de temperatura projetado para os futuros cenários climáticos.

2.3 CONSERVAÇÃO DE FORRAGEM

A fim de reduzir o problema de escassez de alimento no período seco, o uso de

alternativas para conservação das forrageiras tropicais, especialmente de culturas

alternativas e de seus coprodutos agroindustriais, tem tido espaço em substituição às

culturas tradicionais (CARVALHO JÚNIOR et al., 2009; SILVA et al., 2010). Para tanto,

pesquisam-se espécies forrageiras que apresentem boas taxas produção de matéria seca,

com boa relação folha/colmo e alto valor nutricional (CARVALHO et al., 2006;

MIRANDA et al., 2008; SOUZA et al. 2012).

Na região semiárida algumas plantas se apresentam como boas alternativas, cita-se a

palma forrageira, leucena, gliricídia, guandu, algaroba, maniçoba, pornunça e a mandioca,

dentre outras (DRUMOND e MORGADO, 2004; CARVALHO et al. 2006; FERREIRA et

al., 2009). E, dentro desse contexto, mencionar a utilização da parte aérea da mandioca

(Manihot sculenta Crantz) na alimentação animal, especialmente quando conservada na

forma de feno ou silagem (CARVALHO et al., 2010).

O processo de fenação envolve remoção de grande quantidade de água da planta

(retendo menos de 15% de teor de umidade). Está diretamente relacionado ao estágio de

crescimento da planta que determina seu valor nutritivo. Pode ser realizado naturalmente

(ao sol) ou artificialmente (MODESTO et al. 2008; NUNES IRMÃO et al., 2008; NERES

et al., 2010).

Já o processo de ensilagem, que é o foco desse trabalho, consiste em conservar os

nutrientes da forragem através da fermentação lática em ausência de ar. O teor de umidade

da forragem ensilada deve ser em torno de 70%. Teores acima podem atrapalhar o

processo de conservação através do poder acidificante das bactérias lácticas. Essas

bactérias produzem ácido lático a partir de substratos como açúcares solúveis, ácidos

orgânicos e compostos nitrogenados solúveis, reduzindo o pH para cerca de 4, inibindo as

5

atividades das bactérias do gênero Clostridium, que produzem ácido butírico e são

responsáveis pela deterioração da silagem. (MODESTO et al. 2008; SANTOS et al., 2010;

MOTA et al., 2011).

Para uma boa ensilagem, uma boa compactação é fundamental. Esse processo deve

ser realizado de forma de eliminar ao máximo o oxigênio dentro do silo controlando a

respiração e proporcionando boa fermentação pelos microrganismos o que evita a perda de

nutrientes da forragem ensilada (SANTOS et al., 2010).

Um material muito seco pode dificultar a compactação, propiciar bolsões de ar e

favorecer o desenvolvimento de bactérias aeróbicas e anaeróbicas facultativas, mofos e

leveduras que utilizam oxigênio para a degradação de substratos que seriam utilizados para

fermentação láctica. Com isso, atrapalha o rápido declínio do pH sendo essa queda

importante para a redução da atividade proteolítica mediada por enzimas das plantas. O

aumento da hidrólise das proteínas acarreta formação de nitrogênio amoniacal (SANTOS

et al., 2010; MOTA et al., 2011).

Além disso, com maiores taxas de oxigênio e de respiração, há aumento de

temperatura acima do desejado e formação de “produtos de maillard” (polimerização de

açúcares e aminoácidos), diminuindo a digestibilidade da MS, da proteína e o valor

nutritivo da silagem (VAN SOEST, 1994).

A quantidade de carboidratos solúveis também possui relação direta no processo de

ensilagem. Se a concentração de carboidratos é suficientemente alta, as condições são mais

favoráveis para o estabelecimento e crescimento de bactérias desejáveis, permitindo

melhor conservação da forragem (PINHO et al., 2008).

Outro fator que influencia diretamente na qualidade da ensilagem é o poder tampão.

O “poder tampão” indica a intensidade com que a forragem resiste à mudança de pH

durante a ensilagem. Quanto maior o poder tampão maior será a quantidade de ácido

necessária para reduzir o pH da silagem, mais longo será o processo fermentativo, maior o

consumo de carboidratos solúveis e maiores serão as perdas (FAUSTINO, 2003).

2.4 CULTURA DA MANDIOCA

No mundo, foram produzidos aproximadamente 277 milhões de toneladas de

mandioca em 2013 e o Brasil foi o quarto maior produtor, com cerca de 21,5 milhões de

toneladas, atrás apenas da Nigéria (53 milhões de toneladas), Tailândia (30,2 milhões de

6

toneladas) e Indonésia (24 milhões de toneladas). Representa a quinta maior produção

agrícola brasileira, perdendo para a cana-de-açúcar (768 milhões de toneladas), soja (81,7

milhões de toneladas), milho (80,2 milhões de toneladas) e leite fresco (34,2 milhões de

toneladas) (FAOSTAT, 2015).

No Brasil, a região Norte foi a que mais se destacou, produzindo quase 7,5 milhões

de toneladas, seguida do Sul (aproximadamente 5,5 milhões de toneladas), do Nordeste

(4,8 milhões de toneladas), do Sudeste (2,5 milhões de toneladas) e, por fim, do Centro-

Oeste (com 1,2 milhões de toneladas) (IBGE 2013).

Os principais Estados produtores foram: Pará (4,6 milhões de toneladas), Paraná (3,8

milhões de toneladas), Bahia (1,9 milhões de toneladas), Maranhão e São Paulo (1,3

milhões de toneladas cada) e Rio Grande do Sul (1,2 milhões de toneladas). Já em Sergipe

foram produzidos 434 mil toneladas, sendo o município de Lagarto o que mais de destacou

com 152 mil toneladas produzidas, representando o oitavo maior município produtor do

país (IBGE 2013).

2.5 CARACTERIZAÇÃO DA MANDIOCA

A mandioca pertence à família Euphorbiaceae. É um arbusto perene e propagado

vegetativamente através de pedaços do caule denominados manivas ou por semente sexual

(ALVES, 2006; BARCELOUX, 2009; FERREIRA et al. 2009).

Ocorrem distintas fases de desenvolvimento durante o crescimento da planta. Entre 5

e 15 dias após o plantio aparecem as primeiras raízes, seguido dos primeiros brotos e das

pequenas folhas. Após essa fase, inicia-se o desenvolvimento foliar e a formação do

sistema radicular que dura até 90 dias. Em sequência, acontece o estabelecimento da copa

até 180 dias. Apesar da translocação de carboidratos para as raízes iniciar a partir dos 60

dias após plantio, somente ocorre de forma mais expressiva entre 180 e 300 dias. Também

nessa etapa, aumentam a senescência foliar e a taxa de queda das folhas e as hastes se

tornam mais lignificadas. Por fim, ocorre a fase de dormência (300 a 360 dias após o

plantio), em que há redução a taxa de produção de folhas, quase todas as folhas caem e o

crescimento vegetativo dos ramos é paralisado. Apenas é mantida a tuberização das raízes

de reserva (ALVES, 2006).

7

O crescimento da mandioca é favorecido em ambientes cujas temperaturas anuais

variem de 25 a 29ºC, contudo a planta pode crescer sob temperaturas entre 16 e 38ºC.

Além disso, a brotação das gemas da maniva é beneficiada em temperaturas em torno de

28-30ºC, sendo drasticamente diminuída em temperaturas superiores a 37ºC ou inferiores a

17ºC. O fotoperíodo ótimo para a mandioca está em torno de 12 a 14 horas. Condições de

baixa radiação solar limitam a fotossíntese e grande parte dos fotoassimilados são

utilizados para o crescimento da parte aérea, afetando significativamente o

desenvolvimento das raízes de reserva (ALVES, 2006; EL-SHARKAWY, 2004;

GABRIEL et al., 2014).

A elevada capacidade fotossintética das folhas da mandioca em ambientes favoráveis

de temperatura e radiação e a manutenção de taxas fotossintéticas razoáveis durante

períodos prolongados de seca são um dos fatores responsáveis pela alta produtividade

dessa cultura (EL-SHARKAWY, 2007).

A mandioca é normalmente cultivada em áreas que recebem menos de 800mm de

chuva por ano, suportando uma variação de 600 a 1500 mm (ALVES, 2006; GABRIEL et

al., 2014). Durante déficits hídricos prolongados, a mandioca reduz a área de sua copa

através da perda das folhas mais velhas e formação de novas e menores, o que reduz a

interceptação da luz, outra característica de adaptação à seca (EL-SHARKAWY, 2007).

Fato observado por Ferreira et al. (2009) em seu experimento em que houve redução do

crescimento em altura e perda parcial das folhas em condições de restrição hídrica.

Somados a isso, possui um sistema de raízes menos densas que podem chegar a 2

metros de comprimento, que permite a retirada lenta de água em partes mais profundas do

solo, e um controle estomático eficiente sobre as trocas gasosas, reduzindo perdas de água

quando há déficit de água no solo ou quando há baixa umidade do ar, protegendo as folhas

de uma desidratação severa (EL-SHARKAWY, 2007).

Apesar da produção de raízes também ser reduzida sob seca (porém em menor escala

em comparação a redução do crescimento da parte aérea), a cultura pode se recuperar

quando a água se torna disponível, via a rápida formação de novas folhas com taxas

fotossintéticas muito maiores que as de plantas não-estressadas, de modo a compensar

perdas de produção. Como efeito, a produção se aproxima ou supera a de cultivos bem

irrigados (EL-SHARKAWY, 2007; SOUZA et al.,2010).

Outra característica que propicia o cultivo da mandioca em condições adversas são as

reservas na forma de amido na raiz, o que viabiliza a manutenção do crescimento e das

8

folhas em condições adversas. Além disso, a mandioca apresenta alta resistência à seca e

tolerância a solos pobres e ácidos (FERREIRA et al., 2009). Um dos fatores que propiciam

tal fato é a presença de fungos micorrízicos arbusculares nativos (espécie Glomus

manihotis) nas raízes da mandioca, aumentando sua eficiência em absorver nutrientes,

sobretudo o fósforo (SOUZA et al., 1999).

2.6 SUBPRODUTOS INDUSTRAIS DA MANDIOCA

O processamento industrial da mandioca está relacionado com a fabricação de

farinha e à extração de fécula (amido) (FERREIRA et al., 2007). A partir desse

processamento, obtém-se os resíduos sólidos (casca, entrecasca e a parte aérea) e o resíduo

líquido, que é a manipueira. Podem ser oferecidos na alimentação animal in natura, como

bagaços, farelos, feno e silagens. (CALDAS NETO et al., 2000; ABRAHÃO et al., 2006;

VELOSO et al., 2006; NUNES IRMÃO et al., 2008).

2.6.1 Bagaço da mandioca

Na produção da fécula da mandioca (Manihot esculenta Crantz), após a raiz de

mandioca ser descascada e triturada, é feita a lavagem da massa para extração do amido,

gerando o bagaço de mandioca, que é o resíduo fibroso da raiz e contém parte do amido

que não foi possível extrair no processamento (SOUSA et al., 2012; FIORDA et al., 2013).

Composto por altas taxas de carboidratos não fibrosos (CNF) e de matéria seca (MS),

e baixas taxas de fibra detergente neutro (FDN) e proteína bruta (PB), pode ser utilizado

como aditivo à silagem ou como concentrado. Análises comprovaram que apenas 5% de

inclusão do bagaço da mandioca reduzem o excesso de umidade de silagem do capim-

elefante (Pennisetum purpureum, Schum) e propicia um bom consumo e desempenho de

novilhas leiteiras (SILVA et al., 2006).

Como concentrado, recomenda-se seu uso até 15% de inclusão na dieta de novilhas e

vacas leiteiras. Devido ser um alimento rico em amido, o qual possui alta degrabilidade

ruminal, seu uso acima de 20% de inclusão em dietas pode provocar redução do pH

ruminal e como consequência os animais apresentarem distúrbios fisiológicos e

nutricionais, como acidose metabólica, diminuição da digestibilidade de nutrientes e

9

timpanismo. (SILVA et al., 2006; DIAS et al., 2008b; LIMA et al., 2008; PINHEIRO et

al., 2011).

2.6.2 Farelo da mandioca

O farelo de mandioca é o resíduo da moagem e peneirarem da mandioca triturada

para posterior produção da fécula (CARVALHO JÚNIOR et al., 2009). Assim como o

bagaço, apresenta elevados teores de CNF e MS e baixos de FDN e PB, e tem sido

pesquisado como concentrado e como aditivo na produção de silagens.

Carvalho Júnior et al. (2009) compararam o desempenho de ovinos da raça Santa

Inês mantidos com dietas com capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum) ensilado

com a adição do farelo de mandioca, farelo de cacau e da casca de café, todos a 15%. O

tratamento com o farelo de mandioca foi o que proporcionou melhor consumo de MS, de

PB, de nutrientes digestíveis totais e maior ganho de peso ao dia.

Pinho et al. (2008) comprovaram que 8% de inclusão de farelo de mandioca em

ensilagens de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum) é eficiente no controle das

perdas tanto por gases quanto por efluente, bem como na redução do teor de nitrogênio

amoniacal (N-NH3) da silagem. E, além de garantir as características fermentativas da

ensilagem, melhora sua composição química agregando valor nutritivo (ANDRADE et al.,

2010; OLIVEIRA, A.L. et al., 2012).

No momento ideal do corte algumas forrageiras, como o capim-elefante, apresentam

alta umidade e baixos teores de carboidratos solúveis, os quais comprometem a produção

de silagem de boa qualidade (PINHO et al., 2008). Por seus elevados teores de matéria

seca e carboidratos solúveis, tanto o farelo de mandioca quanto o bagaço, apresentam

características atraentes para serem utilizados como aditivos e contribuírem para o

aperfeiçoamento do processo de fermentação da ensilagem (OLIVEIRA, A.L. et al., 2012).

2.6.3 Manipueira

A manipueira é o resíduo úmido da extração da fécula da mandioca. Na alimentação

animal, pode ser utilizado em substituição ao concentrado, como afirmaram Abrahão et al.

(2006), os quais testaram a digestibilidade dos nutrientes de dietas contendo resíduo úmido

10

de mandioca em substituição ao milho em tourinhos de terminação, não havendo alteração

dos coeficientes de digestibilidade à exceção dos carboidratos.

Gonçalves et al. (2014) analisaram a utilização da manipueira ensilada. Estudaram a

composição química e o perfil de fermentação da ensilagem, porém não obtiveram bons

resultados em relação ao processo de ensilagem, já que propiciaram a elevação de teores

fibrosos (como fibra detergente ácido - FDA - e lignina) que reduzem a digestibilidade da

MS e de nutrientes.

Porém é principalmente empregada na agricultura, especialmente como

biofertilizante (CARDOSO et al., 2009), pode ser utilizada também como nematicida

(BALDIN et al., 2012), na produção de etanol (SUMAN et al., 2011), na produção de

biogás (KUZCMAN et al, 2011), dentre outros.

2.6.4 Parte aérea da mandioca

A parte aérea da mandioca é subaproveitada, sendo geralmente desprezada por

ocasião da colheita das raízes (geralmente apenas 10% são reutilizados para novo plantio).

Concentram alto conteúdo energético e digestibilidade elevada (SILVA et al., 2012).

Segundo Nunes Irmão et al. (2008), para a alimentação animal, utiliza-se o terço superior

mais enfolhado, mais rico nutricionalmente, de cultivos acima dos oito meses.

É toda porção da planta que se encontra acima do solo e corresponde a

aproximadamente 50% do peso fresco dela, sendo composta por talos e pecíolos (40%) e

folhas (10%). Por esse motivo, a parte aérea da mandioca se caracteriza por apresentar

maiores teores de fibra e proteína, enquanto as raízes e os demais subprodutos da mandioca

apresentam elevados teores de carboidratos não estruturais (FERREIRA et al., 2007;

ROCHA NETO et al., 2012).

Quando comparadas com outras forrageiras tropicais, a mandioca foi uma das que

apresentou maior proporção de folhas em relação às hastes, perdendo apenas para o guandu

(VELOSO et al., 2000). Além disso, suas folhas possuem boas características de

degradação ruminal e, assim sendo, constituem-se fontes alimentares de potencial de uso

na dieta de ruminantes (VELOSO et al., 2006). Contudo, recomenda-se que a utilização de

folhas e caules mais maduros na alimentação animal, por apresentarem menores teores de

ácido cianídrico evitando risco de intoxicação (OLIVEIRA, N.T. et al., 2012).

11

Carvalho et al. (2006) avaliaram a digestibilidade ruminal em bovinos de fenos de

capim-elefante (Pennisetum purpureum), palma (Opuntia ficus), guandu (Cajanus cajan) e

parte aérea da mandioca (Manihot esculenta). Concluíram que o feno da mandioca, assim

como as folhas, apresentou uma das melhores degradabilidades potenciais para MS e PB,

além de ter uma boa degradabilidade efetiva ruminal.

Já Ferreira et al. (2009) compararam o crescimento, a produtividade e a composição

química bromatológica da mandioca, da maniçoba (Manihot glaziowii Mull.) e da

pornunça. Observaram que a mandioca e a pornunça apresentaram os melhores teores de

proteína bruta. Entretanto, a mandioca apresentou os maiores valores de fósforo e melhor

regularidade no crescimento durante o período experimental, possivelmente devido às suas

reservas de amido na raiz.

Diante do exposto, observamos que a mandioca pode ser oferecida na forma fresca

(folhas) ou de feno, contudo apresenta características fermentativas adequadas ao processo

de ensilagem, despertando o interesse nesse tipo de conservação (AZEVEDO et al., 2006).

Sua ensilagem apresenta bom valor nutricional, rusticidade, baixa perda de matéria seca,

alta produtividade e grande difusão geográfica no país (MOTA et al., 2011; SILVA et al.,

2010; SOUZA et al., 2012).

Além disso, o processo de ensilagem também oferece a vantagem de minimizar os

riscos de intoxicação dos animais por ácido cianídrico, produzido pela hidrólise de

glicosídios cianogênicos presentes em altas concentrações em alguns tipos de mandioca

(SENA et al., 2014).

Resultados favoráveis em relação ao desempenho animal foram notados quando esse

volumoso foi utilizado. Modesto et al. (2008) testaram níveis de substituição (0, 20, 40 e

60%) da silagem de milho pela silagem da rama da mandioca em vacas Holandesas não

lactantes e no terço final da gestação. Esses autores observaram que pode ocorrer a

substituição em todos os níveis já que não houve alterações no consumo, nos parâmetros

ruminais e na digestiblidade da matéria seca e nutrientes (exceto proteína bruta).

A silagem do terço superior da parte aérea da mandioca é um resíduo rico em

proteína (12%), teor maior do que o observado para forrageiras normalmente empregadas

na alimentação de vacas em lactação e moderado teor de FDN (aproximadamente 50% da

MS). (MODESTO et al. 2004; MODESTO et al., 2008; SILVA et al., 2010).

A literatura demonstra que tanto a composição bromatológica quanto a cinética de

fermentação da silagem da rama da mandioca diferem de acordo com o tipo de variedades

12

da mandioca (AZEVEDO et al., 2006; MARQUES et al., 2013). E que, mesmo dentro da

mesma variedade, diferentes frações da parte aérea da mandioca variam em composição.

Observa-se que, tanto como forragem fresca quanto ensilado, o terço superior apresenta

melhores teores bromatológicos e melhores qualidades fermentativas para ensilagem

quando comparadas com as frações sobras de plantio e planta inteira (SOUZA et al. 2011;

MOTA et al., 2011; LONGHI et al. 2013).

2.7 TOXIDEZ DA MANDIOCA

A mandioca possui compostos cianogênicos, com ocorrência natural dos glicosídeos

linamarina e lotaustralina (OLUWOLE et al., 2007; OLIVEIRA, N.T. et al., 2012). A

liberação do ácido cianídrico (HCN) das plantas advém da hidrólise dos glicosídeos

cianogênicos (AMORIM et al., 2005). A faixa de teores destes glicosídeos é utilizada para

classificar as plantas de mandioca em: mansas (baixos teores), bravas (teores elevados) e

intermediárias (OLIVEIRA, N.T. et al., 2012).

Sua ingestão pode causar intoxicação e até morte. Exemplos de tais fatos foram

observados no levantamento realizado por Assis et al. (2009) na Paraíba, em que vinte e

três produtores relataram a intoxicação por Manihot spp.

Já na investigação realizada por Schons et al. (2012) em Rondônia, a intoxicação por

Manihot esculenta foi relatada em duas propriedades. No primeiro surto, os três bovinos

foram intoxicados quando beberam a água utilizada para lavar as raízes quebradas de M.

esculenta durante a fabricação de farinha. O segundo surto de intoxicação ocorreu em

bovinos que ingeriram mandioca triturada ensilada no cocho. Quatro animais apresentaram

dificuldade respiratória, tremores musculares e decúbito lateral. Após seis horas, três

bovinos se recuperam e um morreu.

Na pesquisa realizada por Sant’Ana et al. (2014) em Goiás, no surto de intoxicação

da Manihot esculenta em bovinos, todos os animais morreram minutos após a ingestão de

cascas frescas de mandioca recém-colhida. Apresentaram como sinais clínicos diarréia,

ataxia, timpanismo, cianose, dispnéia, sialorréia e decúbito lateral. Já no surto ocorrido em

ovinos, 25 borregos morreram após comer cascas de mandioca e folhas da planta. O

principal sinal clínico descrito foi timpanismo e morte com curso clínico superagudo.

13

O teor de HCN varia entre os cultivares, parte da planta e idade. Como pesquisado

por Oliveira, N.T. et al. (2012) que constaram que o teor de HCN diminui linearmente com

a idade da planta e que o córtex da raiz acumula o maior teor de ácido cianídrico em

proporções bem superiores às folhas, o caule e a polpa da raiz.

2.8 RUMINANTES e a MANDIOCA

Contando com um rebanho de 211,7 milhões de bovinos, 17,3 de ovinos e 8,8 de

caprinos, atualmente os ruminantes são uma das principais criações econômicas no Brasil.

O Nordeste é detentor de 13,7% dos bovinos, 56,5% dos ovinos e 91% dos caprinos. O

rebanho sergipano é de 1,2 milhão de bovinos, 187 mil de ovinos e 22 mil caprinos (IBGE,

2013).

Sua produção está diretamente relacionada à nutrição, a qual depende de fatores

como exigências nutricionais, composição e digestibilidade dos alimentos e quantidade de

nutrientes que o animal ingere (MACEDO JÚNIOR et al., 2007; SILVA et al., 2012).

Estes animais desenvolveram mecanismos para reter alimentos no corpo, a fim de dar

tempo a uma extensa digestão, que ocorre através de microorganismos simbióticos com as

suas próprias secreções digestivas (FORBES et al., 2007).

Portanto, os ruminantes apresentam características especiais quanto à digestão. As

peculiaridades ruminação, aparelho digestivo formado por quatro compartimentos

gástricos e a realização de uma digestão fermentativa permitem a utilização de alimentos

fibrosos como diversos resíduos e subprodutos industriais em sua alimentação, inclusive a

silagem da parte aérea da mandioca (MODESTO et al, 2004; CUNNIGHAM, 2008;

GONÇALVES et al., 2014).

Lembrando que a mandioca e alguns de seus subprodutos se caracterizam por

apresentar altos teores de carboidratos não-estruturais, sobretudo o amido (PIRES et al.,

2008). Os carboidratos são a principal fonte energética para o desenvolvimento dos

microorganismos do rúmen (MOURO et al. , 2002; FORBES et al., 2007).

Porém quantidades excessivas de carboidratos de rápida fermentação no rúmen,

como no caso do amido da mandioca, podem aumentar a produção de ácidos de tal forma

que exceda a capacidade tamponante do bicarbonato salivar, provocando redução no pH

ruminal e alterando a população microbiana. Assim, ocorre desvio da rota degradativa do

14

amido e aumento da produção do ácido láctico, podendo acarretar acidose (MARQUES et

al., 2000; MACEDO JÚNIOR et al., 2007).

Contudo, a silagem da parte aérea da mandioca se caracteriza por apresentar menores

teores de carboidratos de rápida degrabilidade ruminal, diferentemente dos demais

sobprodutos. Sua composição com maior quantidade fibrosa e protéica a distingue como

um alimento viável em épocas de déficit de oferta de nutrientes e de chuvas, já que

garantem a ruminação, suprem a necessidade energética da microbiota ruminal e a síntese

de proteína microbiana (BERCHIELLI et al, 2006; VELOSO et al. 2006; SENA et al.,

2014).

O objetivo deste trabalho foi verificar a produtividade da raiz e da parte aérea, a

composição bromatológica e o perfil de fermentação da silagem da parte aérea de 10

genótipos de mandioca em Sergipe.

15

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23

CAPÍTULO 1: PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E

CARACTERÍSTICAS DA FERMENTAÇÃO DA SILAGEM DA RAMA DE

VARIEDADES DE MANDIOCA

1.1 Resumo

A mandiocultura apresenta grande importância no Nordeste, tanto culturalmente

quanto economicamente. Apresenta uma gama de resíduos que podem ser utilizados na

alimentação animal, dentre eles a parte aérea. Esse material pode ser conservado na forma

de ensilagem, com o intuito de utilizá-la na época seca, quando há déficit de alimentos para

os animais. O objetivo deste trabalho foi verificar a produtividade de parte aérea, de raízes,

as características bromatológica e de fermentação de cultivares de mandioca oriundas de

duas localidades de Sergipe, São Domingos e Lagarto. As variedades utilizadas foram as

9783/13, Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca, BRS Tapioqueira, BRS Verdinha,

Caravela, Irará, Lagoão e Preta do Sul. A idade de corte para pesagens e para confecção

das ensilagens foi de 10 meses e foram utilizados mini silos laboratoriais de PVC com 10

cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, lacrados com tampas de PVC e presilhas de

metal. Para cada tratamento foram confeccionados seis mini silos, sendo 3 de cada local de

colheita, totalizando 60 repetições, em um delineamento experimental inteiramente

casualizado (DIC). Após 180 dias os silos foram abertos e analisados quanto a sua

composição bromatológica e fermentativo. Observou-se que as cultivares BRS Poti Branca

e Lagoão se destacaram no município de São Domingos, especialmente quanto à

produtividade. No município de Lagarto, as variedades com resultados mais interessantes

em produtividade foram as Irará, 9783/13 e a BRS Poti Branca. Em relação à qualidade da

silagem, as cultivares BRS Caipira e Caravela apresentaram os melhores resultados.

Palavras-chave: ensilagem, mandiocultura, nutrição animal.

24

1.2 Abstract

The cassava has great importance in the Northeastof Brazil, culturally and

economically. It features a range of waste that can be used in animal feed, including the

aerial part. This material can be stored as silage, in order to use it in the dry season, when

there is shortage of food for the animals. The objective of this study was to verify the aerial

part and roots productivity, bromatological and fermentation characteristics of cassava

cultivars coming from two locations of Sergipe, São Domingos and Lagarto. The varieties

used were 9783/13, Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca, BRS Tapioqueira, BRS

Verdinha, Caravela, Irará, Lagoão and Preta do Sul. The age cut for weighing and

preparation of silage was 10 months and they were used PVC mini laboratory silos with 10

cm diameter and 30 cm in length, sealed with plastic caps and metal clamps. For each

treatment were made six mini silos, 3 of each sampling point, a total of 60 replicates in a

completely randomized design (CRD). After 180 days, the silos were opened and analyzed

for bromatological and fermentative composition. It was observed that the cultivars BRS

Poti Branca and Lagoão stood out in the municipality of São Domingos, especially on

productivity. In the city of Lagarto, varieties with more interesting results in productivity

were the Irará, 9783/13 and BRS Poti Branca. Regarding the quality of the silage, the BRS

Caipria and Caravela cultivars showed the best results.

Keywords: silage, cassava, animal nutrition.

25

1.3 Introdução

A mandioca (Manihot esculenta Cranz) é uma das culturas agrícolas mais

importantes no Nordeste, produzida principalmente por os pequenos produtores, apresenta

importância econômica e cultural, visto que esta cultura é sustento de muitas famílias e

também uma das que melhor remunera a mão de obra familiar (SENA, 2006).

Juntamente com o milho e a cana-de-açúcar, a mandioca representa as três maiores

lavouras do Estado de Sergipe. Possui uma média de produção de 15 toneladas por hectare

(ton/ha), acima da média nacional (13,8 ton/ha). Dentre seus principais municípios

produtores estão Lagarto e São Domingos com produtividades superiores a 18 toneladas

por hectares (IBGE 2013).

É uma planta de fácil cultivo, de expressiva produção e que apresenta características

especiais de adaptação à ambientes de baixa pluviosidade e a diferentes tipos de solo. Sua

rama ou parte aérea apresenta boa composição nutricional e pode ser utilizada na

alimentação de ruminantes.

Em regiões em que existem limitações climáticas, custo com a alimentação tende a

ser mais expressivo devido à necessidade de compra de insumos externos para enfrentar o

período da seca. Nesse contexto, a utilização de alimentos não convencionais e de seus

resíduos assume grande importância, como a exemplo a parte aérea da mandioca.

A produção de parte aérea é fator importante na cultura da mandioca, tanto como

material de propagação como produção de forragem para a alimentação animal (VIDIGAL

et al., 2000; GOMES et al. 2007). A literatura cita a parte aérea representa 50% do peso

total da planta e que apenas 10% de toda parte aérea produzida sejam reutilizados em novo

plantio. Portanto estima-se que mais de 13 ton/ha de parte aérea são desprezadas no

momento da colheita aqui no Estado de Sergipe.

Uma alternativa a esse desperdício é o ensilamento da rama que a conserva por

longos períodos, elimina a toxicidade do material e pode ser uma solução para amenizar a

perda de produtividade do rebanho no período de escassez de alimentos.

Definir quais são as variedades de mandiocas disponíveis em Sergipe que apresentam

melhor composição bromatológica, perfil fermentativo, produtividades de parte aérea e de

raiz e maiores índices de colheita, não só visa atender as necessidades das agroindústrias

locais, como principalmente despertar o interesse dos criadores para uma opção de

alimento para ruminantes.

26

O objetivo deste trabalho foi verificar de forma comparativa as produtividades de

parte aérea, de raiz e índice de colheita, as qualidades bromatológica e fermentativa da

silagem da parte aérea de dez cultivares de mandioca plantadas nos municípios de Lagarto-

SE e São Domingos-SE.

27

1.4 Materiais e Métodos

Foram conduzidos 2 experimentos, um no município de São Domingos-SE e outro no

município de Lagarto-SE. Esses municípios estão localizados no sertão ocidental sergipano,

possuem 4 a 5 meses secos ao ano, pluviosidades médias de 1000mm ao ano e temperaturas

médias anuais de 24ºC. São Domingos se localiza na bacia hidrográfica do rio Vaza Barris, já

Lagarto na bacia do rio Piauí.

Utilizaram-se cultivares de mandioca (Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca,

BRS Tapioqueira, BRS Verdinha, Caravela, Irará, Lagoão e Preta do Sul) no ano agrícola de

2011/2012 e aos dez meses após plantio, procedeu-se a colheita das plantas e avaliação das

seguintes características de produção:

a) produção média da parte aérea: expressa em ton/ha, obtida pela pesagem da parte

aérea de todas as plantas;

b) produção média de raízes: expressa em ton/ha, obtida pela pesagem das raízes de

todas as plantas;

c) índice de colheita (IC): expresso em percentagem (%), obtido por meio da relação

entre o peso das raízes e o peso total das plantas (raízes + parte aérea).

Os dados foram submetidos à análise estatística segundo procedimento PROC GLM do

pacote estatístico SAS, para cada experimento e, posteriormente, em análise conjunta.

Quando constatados efeitos significativos foram submetidos ao teste de T (P<0,05).

Já para a confecção das silagens foram utilizados mini silos laboratoriais de PVC com

10 cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, lacrados com tampas de PVC e presilhas de

metal.

O material vegetal da mandioca in natura foi colhido no mesmo dia da confecção das

silagens. Para cada variedade foram confeccionados seis mini silos, sendo 3 de cada local de

colheita, totalizando 60 repetições, em um delineamento experimental inteiramente

casualizado (DIC). Com o auxilio de bastões de madeira, os mini silos foram preenchidos e

compactados gradativamente até estarem completamente cheios. Cada mini silo foi fechado

mediante o uso da tampa e presilha de metal, e visando a vedação total foi utilizada fita

adesiva. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal (LNA),

da Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizado no município de Aracaju – SE.

28

As silagens foram abertas após 180 dias da confecção dos mini silos, em seguida, foram

descartados de 6 a 8 cm da parte superior e inferior do material ensilado. A parte central do

material foi coletada e homogeneizada manualmente em bandeja e após este procedimento,

foram retiradas sub amostras para posteriores análises, sendo: 100 g para teor ácido lático, 50

g para teor nitrogênio amoniacal (N-NH3), 9 a 10 g para pH e 500 g para análises quanto a

sua composição química.

Após os procedimentos citados, as amostras processadas foram analisadas quanto a sua

composição química, sendo os componentes analisados: matéria seca total (MST) e matéria

mineral (MM) segundo metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002), fibra em detergente

ácido e neutro (FDA e FDN respectivamente) segundo Souza et al., (1999), proteína bruta

(PB) pelo método KJEDAHL modificado por Viana et al., (2008) e a digestibilidade in vitro

pelos procedimentos de (TILLEY e TERRY, 1963).

As análises químicas de avaliação da qualidade fermentativa da silagem (pH, ácido

lático e nitrogênio amoniacal) foram realizadas nas amostras recém retiradas dos mini silos

onde: o pH foi realizado com auxílio de pHmetro portátil digital Gehaka modelo PG 1400

(SILVA e QUEIROZ, 2002), o teor de N-NH3 através do método baseado na extração com

cloreto de potássio, seguido de destilação com óxido de magnésio em destilador Kjeldahl

Tecnal modelo TE 036/1 e posterior titulação com ácido clorídrico (NOGUEIRA e SOUZA,

2005), para determinação do teor de ácido lático, as amostras foram prensadas a 10 toneladas

(Prensa hidráulica Tecnal modelo TE 098) em telas de nylon e o suco obtido passou por

leitura em espectrofotômetro de absorção molecular Femto modelo Genesys 10S UV-VIS

(SILVA e QUEIROZ, 2002).

Os dados foram submetidos à análise estatística segundo procedimento PROC GLM do

pacote estatístico SAS, considerando-se efeitos de genótipo e de local de produção e, quando

constatados efeitos significativos, foram submetidos ao teste de Duncan (P<0,05).

29

1.5 Resultados e Discussão

Os dados relativos à produtividade da parte aérea e da raiz e o índice de colheita das

variedades estudadas estão na Tabela 1.

TABELA 1. Produtividade de parte aérea (ton/ha), raiz (ton/ha) e índice de colheita (IC, %) de 10

variedades de mandioca em Lagarto-SE e São Domingos-SE.

Lagarto São Domingos

Parte

aérea (ton)

Raízes

(ton)

Índice de

colheita (%)

Parte

aérea (ton)

Raízes

(ton)

Índice de

colheita (%)

9783/13 40,0a 35,0a 46,3c 24,0ab 32,7ab 57,3c

Amansa Burro 27,3c 21,3b 43,7c 19,7ab 27,7b 58,7bc

BRS Caipira 23,3c 35,7a 60,3a 19,0ab 36,3a 65,3ab

BRS Poti branca 40,3a 33,0a 46,7c 25,3a 35,3a 58,0c

BRS Tapioqueira 30,0bc 36,7a 55,3b 22,0ab 29,7ab 57,3c

BRS Verdinha 27,3c 36,0a 57,0ab 22,0ab 34,0ab 60,7abc

Caravela 28,0c 35,7a 56,0ab 16,7b 31,3ab 65,7a

Irará 43,3a 36,0a 47,0c 24,3ab 32,3ab 57,0c

Lagoão 38,7ab 30,3a 43,7c 26,0a 36,7a 62,3abc

Preta do Sul 26,7c 30,3ab 53,3b 19,3ab 30,7ab 61,0abc

Médias 32,5 33,0 50,9 21,8 32,7 60,3

P 0,0001 0,0003 <0,0001 0,0043 0,0064 0,0005

CV% 10,26 9,87 3,30 12,17 8,04 3,86

IC= representa a relação entre o peso das raízes e o peso total da planta Médias para características seguidas de letras diferentes: diferença estatística pelo teste T a 5% de

significância.

Apenas considerando a parte aérea, pode-se observar que as variedades foram mais

produtivas quando cultivadas no município de Lagarto do que quando cultivadas em São

Domingos, apresentando média de 32,5 ton/ha em Lagarto e de 21,8 ton/ha em São

Domingos. Estas médias são superiores a encontrada por Gomes et al. (2007) e por Silva et

al. (2009), que encontraram 10,8 e 18,5 toneladas por hectare respectivamente.

Foram encontradas diferenças significativas entre os cultivares (P<0,05) e as que se

destacaram foram a Lagoão, a Irará, a 9783/13 e a Poti Branca, independente do local de

plantio. Uma possível explicação para essas diferenças significativas é o fato de que a parte

aérea da mandioca ser formada por folhas, hastes e ramificações e, de acordo com Ros et

al. (2011), as quantidades e a presença de tais características somadas à altura da planta

diferem entre as cultivares. Gomes et al. (2007) e Otsubo et al. (2008) também observaram

em seu experimento diferença entre a altura das plantas e esta característica teve relação

direta com o peso da parte aérea.

30

Assim como na parte aérea, a média de peso das raízes foi superior no município de

Lagarto (33,0 ton/ha) do que no município de São Domingos (32,7 ton/ha). Ambas as

médias foram superiores a encontrada por Ros et al. (2011) que obtiveram uma média de

29,15 toneladas por hectare. Entre as variedades estudadas houve diferenças (P<0,05). Em

Lagarto todas tiveram ótimos resultados, apenas a Preta do Sul teve valor inferior (30,3)

(57,0). Já em São Domingos os cultivares com maiores produção de raízes foram a Lagoão

(36,7), a BRS Caipira (36,3) e a BRS Poti Branca (35,3).

O número de raízes, seus comprimentos e diâmetros diferem entre os cultivares

segundo Gomes et al. (2007) e, portanto, são os prováveis fatores responsáveis pelo

resultado aqui demonstrado. Como as colheitas foram realizadas na mesma idade de ciclo

vegetativo (10 meses), possivelmente as variedades da mandioca com resultados mais

expressivos na produtividade de raízes foram as mais precoces no processo de acumulação

de amido nas raízes.

O índice de colheita teve média superior a 50%, sendo as variedades BRS Caipira e

Caravela as que mais se destacaram em ambas as cidades. Isoladamente o índice de

colheita não fornece informação precisa sobre o comportamento da planta, já que altos

valores podem ser obtidos com o aumento da produção de raízes ou diminuição da

produção de parte aérea (Carvalho Júnior et al, 2005). É possível observar neste

experimento que o índice de colheita em São Domingos (60,3) foi em média mais alto do

que em Lagarto (50.9%) devido aos maiores valores de produção de parte aérea deste com

relação ao primeiro.

Tais resultados sugerem que tanto fatores ambientais quanto o genótipo influenciam

especialmente na produção da parte aérea, assim como afirma Vidigal et al. (2000) ao

concluírem que os resultados obtidos pela cultivar IAC 14 nas características altura e

produção da parte da aérea sofreram interferência de genótipo e de fenótipo.

Fatores como temperaturas, fotoperíodo e nível de sombreamento podem

disponibilizar mais água para a planta e propiciar maior ou menor quantidade de folhagens

e hastes. Temperaturas mais altas acima de 28ºC aceleram a queda das folhas. Já altos

níveis de sombreamento e fotoperíodo prolongados aumentam a altura da planta e a área

foliar. Contudo baixa luminosidade e dias curtos afetam de forma mais significativa as

raízes do que a parte aérea, ocorrendo diminuição do crescimento e do comprimento e

diâmetro das raízes (ALVES, 2006). Além disso, as plantas se desenvolvem com mais

vigor em solos com maiores disponibilidades de nutrientes (OTSUBO et al., 2008).

31

Os resultados obtidos quanto aos teores de matéria seca, proteína bruta, cinzas, fibra

em detergente neutro, fibra em detergente ácido e digestiblidade in vitro da matéria seca

estão apresentados na Tabela 2. Não houve interação entre tais resultados e os locais de

produção.

Não foi encontrada diferença significativa para os dados em relação à matéria seca

dentre os materiais ensilados. Mota et al. (2011) e Souza et al. (2011) pesquisaram os

cultivares Amarelinha, Olho roxo, Periquita e Sabará, para silagem e para forragem fresca,

respectivamente, e ambos observaram diferenças significativas (p<0,05) para MS, sendo as

variedades Amarelinha e Olho Roxo as que apresentaram maiores teores.

O valor médio de MS foi 31,32% que está dentro do recomendado por Van Soest

(1994) como percentual ideal para ensilagem. Valor maior do que o encontrado por

Modesto et al. (2008) que encontraram 25,64% para matéria seca para o cultivar Fibra.

TABELA 2. Médias de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), cinzas, fibra em detergente neutro

(FDN), fibra em detergente ácido (FDA) de digestibilidade in vitro da matéria seca DIVMS) de silagens da parte aérea de diferentes variedades de mandioca.

Variedade MS % PB % Cinzas % FDN % FDA % DIVMS %

9783/13 31,3 5,9bcd 3,3 57,2ab 50,0ab 38,7c

Amansa Burro 30,5 4,9cd 3,1 58,7a 51,2ab 39,4c

BRS Caipira 30,2 7,6a 3,2 56,2ab 50,1ab 41,8abc

BRS Poti Branca 31,1 4,6d 2,4 56,1ab 47,4ab 43,4abc

BRS Tapioqueira 31,0 5,1cd 3,3 58,1a 51,4a 38,4c

BRS Verdinha 33,3 5,7bcd 3,5 47,1c 41,5c 47,0a

Caravela 31,6 7,1ab 2,8 51,7bc 46,3b 42,9abc

Irará 31,7 5,3cd 4,1 55,3ab 48ab 42,1abc

Lagoão 33,3 4,9cd 3,6 54,6ab 47,3ab 45,5ab

Preta do Sul 29,2 6,5abc 3,3 55,1ab 49,8ab 40,5bc

CV% 13,5 21,2 25,5 8,1 7,3 9,1

P 0,8741 0,0114 0,1266 0,0049 0,0014 0,0066

Médias para características seguidas de letras diferentes: diferença estatística pelo teste Duncan a 5% de

significância.

Foi encontrada diferença significativa (P<0,05) para proteína bruta da silagem entre

as cultivares estudadas sendo que a cultivar BRS Caipira apresentou maior valor com 7,6%

e a BRS Poti branca o menor valor com 4,6%, com média geral de 5,8%. Os valores

encontrados estão abaixo dos encontrados Azevedo et al. (2006) e Modesto et al. (2008)

que encontraram média de 9,19% e 11,95%, respectivamente. Azevedo et al. (2006)

32

estudaram os cultivares S 60-10, RS 13 e Frita 29,79 e também encontraram diferenças

(P<0,05) entre variedades de mandioca na composição protéica, com valores que variaram

entre 7,24% e 10,44%.

Isto possivelmente aconteceu devido ao maior teor de caule em relação a folhas

encontrada na silagem deste trabalho, que é explicada também pelo maior teor de FDN

(média de 55,03%) e FDA (média de 48,31%) encontrado em relação aos estudos de

Azevedo et al. (2006) que encontraram 51,61% de FDN e de Modesto et al. (2008) que

encontraram 50,04% de FDN e 44,17% de FDA. Como já mencionado, entre os cultivares

há diferenças no número de hastes e folhas e uma maior relação folha/haste implica maior

teor protéico (RÓS et al., 2011; SOUZA et al. 2011).

Em relação ao FDN e ao FDA, foi encontrada diferença significativa (P<0,05) entre

as cultivares estudadas. Os maiores valores obtidos foram da Amansa Burro (58,7% FDN e

51,2% FDA) e da Tapioqueira (58,1% FDN e 51,4% FDA). A BRS Verdinha obteve os

menores valores tanto de FDN quanto de FDA - 47,1% e 41,5%, respectivamente. Para

Van Soest (1994) valores maiores que 55-60% de FDN pode implicar diminuição do

consumo de massa seca de uma espécie forrageira.

Não houve diferença significativa para cinzas, sendo seu valor médio de 3,3. Média

menor do que as encontradas por Ferreira et al. (2009) e por Marques et al. (2013), com

6,83% e 6,42% respectivamente.

Entre as variedades houve diferenças (P<0,05) quanto à DIVMS. A maior

percentagem de DIVMS foi obtida pela BRS Verdinha, 47,0%. Nota-se que essa variedade

também apresentou os maiores valores de MS e os menores de FDN e FDA. Inversamente

ao observado nas variedades 9783/13, Amansa Burro e Tapioqueira que obtiveram os

menores valores de DIVMS (38,7%, 39,4% e 38,4% respectivamente) e altos valores de

FDN e FDA. A média da DIVMS foi de 42%, próximo ao encontrado por Ferreira et al.

(2009) que encontraram 43% de DIVMS para a mandioca.

Quanto aos parâmetros fermentativos, (N-NH3, pH e ácido lático), não foram

encontradas diferenças significativas entre as variedades estudadas, conforme tabela 3. A

média de N-NH3 foi de 7,33%, valor considerado um pouco alto, o que demonstraria

elevada proteólise das silagens. As enzimas proteolíticas são principalmente secretadas

pelas bactérias Clostridium e a extensão proteólise depende da rapidez com que as

condições ácidas são estabelecida (MOTA et al., 2011). Segundo Guim et al. (2004), o

valor aceitável para N-NH3 é abaixo de 6%. Azevedo et al. (2006) e Mota et al. (2011)

33

encontraram valores médios para N-NH3 mais baixos que o deste trabalho, correspondendo

a 1,29% e 1,69% respectivamente.

Neste experimento, os valores de pH encontrados ficaram em média de 4,04, muito

semelhantes aos de Azevedo et al. (2006) que encontraram 4,06 para o pH e Mota et al.

(2011) que encontraram 4,07. Estes valores podem ser considerados satisfatórios de acordo

com Borges et al. (1997) que recomendam valores entre 3,5 e 4,2. Essa faixa de pH

possibilita uma boa conservação da massa ensilada, garantindo qualidade do produto

(SIQUEIRA et al., 2007).

Pacheco et al. (2014) mencionam que o pH não deve ser empregado como critério

exclusivo na avaliação da fermentação, pois seu efeito inibidor é dependente da velocidade

de declínio da concentração iônica e do teor de umidade do material ensilado.

Em relação ao ácido lático, os valores encontrados neste estudo foram de 3,28. Já

Mota et al. (2011) observaram uma média de 8,22 de ácido lático. De acordo Moisio e

Heikonen (1994), apesar de todos os ácidos contribuírem para a redução do pH da silagem,

o ácido lático é um ácido forte e principal responsável nesse processo. Apesar de não haver

diferenças significativas entre as variedades, é possível observar neste trabalho que as

variedades com maiores teores de ácido lático foram as que apresentam baixos teores de

pH e N-NH3.

TABELA 3. Médias de nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3), pH e ácido lático de silagens da parte aérea de diferentes variedades de mandioca.

Variedade N-NH3 % pH % AL %

9783/13 6,3 4,0 3,1

Amansa Burro 7,1 4,1 3,0

BRS Caipira 5,9 3,8 3,3

BRS Poti Branca 8,9 4,1 2,9

BRS Tapioqueira 6,9 3,84 3,2

BRS Verdinha 9,7 3,9 2,6

Caravela 5,9 3,8 3,5

Irará 6,9 4,2 3,1

Lagoão 7,5 4,1 2,3

Preta do Sul 7,7 4,1 2,8

CV% 32,8 9,54 44,2

P 0,1827 0,5973 0,9226

Médias para características seguidas de letras diferentes: diferença estatística pelo teste T a 5% de

significância.

34

1.6 Conclusões

Os resultados permitem concluir que as cultivares BRS Poti Branca e Lagoão se

destacaram no município de São Domingos, especialmente quanto à produtividade.

Para o município de Lagarto, as variedades com resultados mais interessantes em

produtividade foram as Irará, 9783/13 e a BRS Poti Branca.

Em relação à qualidade da silagem, as cultivares BRS Caipira e Caravela

apresentaram os melhores resultados.

35

1.7 Referências Bibliográficas

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