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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
LARISSA HORTENCIA SANTOS GOES
PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E
CARACTERÍSTICAS DE FERMENTAÇÃO DA SILAGEM
DA RAMA DE CULTIVARES DE MANDIOCA
SÃO CRISTÓVÃO-SE
2015
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
LARISSA HORTENCIA SANTOS GOES
PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E
CARACTERÍSTICAS DE FERMENTAÇÃO DA SILAGEM DA
RAMA DE CULTIVARES DE MANDIOCA
Dissertação entregue à Universidade
Federal de Sergipe como parte das
exigências para obtenção de título de
mestre em Zootecnia.
Orientador
Prof. Dr. Evandro Neves Muniz
Co-orientador
Prof. Dr. Gladston Rafael de Arruda
Santos
SÃO CRISTÓVÃO-SE
2015
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
G598p
Goes, Larissa Hortencia Santos Produtividade, composição bromatológica e características de fermentação da silagem da rama de cultivares de mandioca / Larissa Hortencia Santos Goes; orientador Evandro Neves Muniz. – São Cristóvão, 2015.
43 f.
Dissertação (mestrado em Zootecnia)– Universidade Federal de Sergipe, 2015.
1. Mandioca - Pesquisa. 2. Mandioca - Cultura. 3. Mandioca -
Silagem. 4. Mandioca - Reaproveitamento. I. Muniz, Evandro Neves, orient. II. Título.
CDU 633.493
Agradecimentos
Agradeço à Deus, a Nossa Senhora e a minha família maravilhosa. A educação e os
exemplos que tenho de perseverança, de bondade, de união, de honestidade, de alegria e
de carinho são os alicerces que construo minha vida. Sabem o quanto batalhei, todas as
dificuldades que passei e me ajudaram a superar tais barreiras para eu chegar ao meu
objetivo.
Então agradeço a meu pai - José Resende, minha mãe - Maria Hortencia, minha irmã,
Vanessa Hortencia, meu irmão - Júnior, minha sobrinha - Nicolle e meu sobrinho -
Vitor Gabriel pelo apoio, pelos sorrisos e pela paciência.
Agradeço a amizade fraternal de Andresa Fonseca e Luiz Carlos. Agradeço a Seu
Monteiro, D. Leda (meus sogros), Joelice Siqueira e Simone pelo suporte na minha
vida, facilitando meus momentos de estudo.
Agradeço meu marido Emerson Monteiro por ter insistido em me inscrever na seleção
do mestrado, por todo o amor, carinho, companheirismo, por me fazer sorrir, pela calma
que me passa.... enfim, por sua presença em minha vida e principalmente pelo maior
presente de nossas vidas: nossa filha Valentina. Que Deus nos deu no meio do curso de
mestrado e completou nosso coração.
Agradeço a todos os professores pelos conhecimentos repassados. Agradeço ao
professor Alfredo por ter acreditado e confiado em mim. Ao professor Jailson pelos
puxões de orelha. Ao professor Gladston o suporte, compreensão e orientações
essenciais para eu conseguir chegar a esse momento.
Agradeço em especial ao professor e meu orientador Evandro Muniz. Obrigado pelo
estímulo, pela confiança, por ter acreditado em mim. Sem o senhor esse sonho nunca se
concretizaria. No momento que eu quase desistia, me deu força e me ajudou. Palavras
não expressam o agradecimento que sinto.
E agradeço ao BNB (Banco do Nordeste) pelo financiamento do projeto.
Sumário
RESUMO................................................................................................................................i
ABSTRACT...........................................................................................................................ii
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................3
2.1 A SECA NO NORDESTE ........................................................................................... 3
2.3 CONSERVAÇÃO DE FORRAGEM ........................................................................... 4
2.4 CULTURA DA MANDIOCA ...................................................................................... 5
2.5 CARACTERIZAÇÃO DA MANDIOCA ..................................................................... 6
2.6 SUBPRODUTOS INDUSTRAIS DA MANDIOCA .................................................... 8
2.6.1 Bagaço da mandioca ..................................................................................................8
2.6.2 Farelo da mandioca ...................................................................................................9
2.6.3 Manipueira ................................................................................................................9
2.6.4 Parte aérea da mandioca .......................................................................................... 10
2.7 TOXIDEZ DA MANDIOCA ..................................................................................... 12
2.8 RUMINANTES e a MANDIOCA .............................................................................. 13
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 15
CAPÍTULO 1: Produtividade, composição bromatológica e características da fermentação
da silagem da rama de variedades de mandioca ................................................................ 23
1.1 Resumo ...................................................................................................................... 23
1.2 Abstract...................................................................................................................... 24
1.3 Introdução .................................................................................................................. 25
1.4 Materiais e Métodos ................................................................................................... 27
1.5 Resultados e Discussão .............................................................................................. 29
1.6 Conclusões ................................................................................................................. 34
1.7 Referências Bibliográficas .......................................................................................... 35
i
RESUMO
GOES, Larissa. Produtividades, composição bromatológica e características de
fermentação da silagem da rama de cultivares de mandioca. Sergipe: UFS, 2015. 43p.
(Dissertação - Mestrado em Zootecnia)
A mandioca é uma cultura bastante difundida na região Nordeste e apresenta grande
importância econômica. Dentre os resíduos que produz, a parte aérea pode ser utilizada na
alimentação animal especialmente na forma de ensilagem, sendo uma opção de alimento
na época seca. O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar as produções de parte aérea
e de raízes, a composição bromatológica e as características de fermentação de cultivares
de mandioca oriundas de duas localidades de Sergipe, São Domingos e Lagarto. As
variedades utilizadas foram as 9783/13, Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca,
BRS Tapioqueira, BRS Verdinha, Caravela, Irará, Lagoão e Preta do Sul. A idade de corte
para pesagens e para confecção das ensilagens foi de 10 meses e foram utilizados mini
silos laboratoriais de PVC com 10 cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, lacrados com
tampas de PVC e presilhas de metal. Para cada tratamento foram confeccionados seis mini
silos, sendo 3 de cada local de colheita, totalizando 60 repetições, em um delineamento
experimental inteiramente casualizado (DIC). Após 180 dias os silos foram abertos e
analisados quanto a sua composição bromatológica e fermentativo. Observou-se que as
cultivares BRS Poti Branca e Lagoão se destacaram no município de São Domingos,
especialmente quanto à produtividade. No município de Lagarto, as variedades com
resultados mais interessantes em produtividade foram as Irará, 9783/13 e a BRS Poti
Branca. Em relação à qualidade da silagem, as cultivares BRS Caipira e Caravela
apresentaram os melhores resultados.
Palavras-chave: ensilagem; mandiocultura; nutrição animal.
i
ABSTRACT
GOES , Larissa . Productivity, chemical composition and fermentation characteristics
of silage aerial part of cassava cultivars . Sergipe : UFS , 2015. 43p . ( Dissertation -
Master in Zootecnia)
Cassava is a widespread culture in the Northeast of Brasil and has great economic
importance. Among the waste produced, the aerial part can be used for animal feed
especially in the form of silage, being a food option in the dry season. The objective of this
study was to evaluate and compare the productions of aerial part and roots, the chemical
composition and fermentation characteristics of cassava cultivars derived from two
locations of Sergipe, São Domingos and Lagarto. The varieties used were as 9783/13,
Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca, BRS Tapioqueira, BRS Verdinha,
Caravela, Irará, Lagoão and Preta do Sul. The age cut for weighing and preparation of
silage was 10 months and it were used PVC mini laboratory silos with 10 cm diameter and
30 cm in length, sealed with plastic caps and metal clamps. For each treatment were made
six mini silos, 3 of each sampling point, a total of 60 replicates in a completely randomized
design (CRD). After 180 days, the silos were opened and analyzed for bromatological and
fermentative composition. It was observed that the cultivars BRS Poti Branca and Lagoão
stood out in the municipality of São Domingo, especially on productivity. In the city of
Lagarto, varieties with more interesting results in productivity were the Irará, 9783/13 and
BRS Poti Branca. Regarding the quality of the silage, the BRS Caipria and Caravela
cultivars showed the best results.
Keywords: silage; cassava; animal nutrition.
ii
1
1 INTRODUÇÃO
As gramíneas tropicais constituem o principal recurso forrageiro para ruminantes no
Nordeste. Contudo, fatores climáticos restringem sua produtividade e representam um dos
maiores entraves na exploração agropecuária, limitando a produção de leite e de carne
(FERREIRA et al., 2007; SILVA et al., 2010; SOUZA et al., 2012).
No período de estiagem há necessidade de práticas de manejo diferenciadas que
possibilitem manter ou até melhorar os índices de produção. A utilização de volumosos
alternativos e a prática de conservação de forragens (principalmente ensilagem e fenação)
para esse período podem ser fundamentais para o sucesso da atividade (MODESTO et al.,
2008; ARAÚJO et al., 2009; ROCHA NETO et al., 2012).
Nesse sentido, procura-se utilizar espécies forrageiras nativas, adaptadas ao meio,
que possam ser produzidas ou adquiridas pelos próprios criadores. Tais alternativas
alimentares podem reduzir o uso de concentrados convencionais e diminuir custos com a
alimentação animal (ARAÚJO et al., 2009; SOUZA et al., 2011; SILVA et al., 2012).
Essa busca por novas fontes alimentares de boa qualidade e de baixo custo também
potencializou o interesse para a utilização de coprodutos e resíduos industriais
(FERREIRA et al., 2007; SILVA et al., 2012). Estes, quando utilizados de forma
planejada, podem melhorar a eficiência dos sistemas de produção pecuária no semiárido
(ARAÚJO et al., 2009; CARVALHO JÚNIOR et al., 2009; PIRES et al., 2009A; PIRES et
al., 2009B).
Por se adaptar a ambientes de baixa disponibilidade de água e a diversos tipos de
solos, além de apresentar bom valor nutricional, a mandioca (Manihot esculenta Cranz) é
uma das mais importantes culturas alimentares nos trópicos (SOUZA et al., 2012;
FIORDA et al., 2013). Essa cultura pode contribuir com o aumento de fornecimento de
nutrientes na alimentação de ruminantes de várias maneiras e, dentre elas, merece destaque
a silagem da parte aérea (NUNES IRMÃO et al., 2008).
A utilização de plantas fibrosas e de seus subprodutos na alimentação de ruminantes
é teoricamente viável devido ao peculiar sistema digestivo e à capacidade fermentativa do
rúmen desses animais (FORBES et al., 2007; GONÇALVES et al., 2014). O consumo de
nutrientes é um dos principais fatores associados ao desempenho animal, em especial o
2
consumo de matéria seca (MS), pois é determinante no atendimento das exigências de
mantença e produção de ruminantes (DIAS et al., 2008a; LIMA et al., 2008).
Deste modo, os conhecimentos sobre produtividades, composição química e valor
nutricional dos alimentos são imperativos para saber sua real aplicabilidade nos sistemas
de produção (AZEVEDO et al., 2006). Assim sendo, o objetivo desse trabalho foi avaliar a
produção de parte aérea e de raízes, índice de colheita, a qualidade nutricional e
características de fermentação da silagem de diferentes variedades na mandioca.
3
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A SECA NO NORDESTE
O sucesso da produção de determinadas culturas, sobretudo em áreas que não são
irrigadas, depende muito do regime pluviométrico. A região Nordeste apresenta uma média
de precipitação pluvial de 1000 mm ao ano. Contudo a maior parte desta região do Brasil
se situa dentro da zona semiárida, a qual tem como característica principal as chuvas
irregulares, tanto espacialmente quanto de um ano para o outro. (SILVA et al., 2011).
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Estado de
Sergipe segue esse padrão de variação de chuvas e o índice de precipitação decresce do
litoral para o oeste do Estado. No litoral leste são observados 1600mm ao ano enquanto
que no sertão semiárido a precipitação pluviométrica anual é inferior a 800mm, decaindo
em algumas localidades para menos de 500mm. O período chuvoso vai de abril a agosto,
com maiores concentrações de chuvas nos meses de maio, junho e julho.
Da mesma forma observam-se diferenças no número de meses secos ao ano. O litoral
mais sudeste apresenta apenas entre 0 e 2 meses secos ao ano, aumentando em direção ao
noroeste do Estado de Sergipe para 7 a 8 meses secos ao ano (DINIZ, 2014).
Somado a isso, a região semiárida se caracteriza por apresentar altos níveis de
irradiação (PORFIRIO, 2012). Portanto, é uma região com alto potencial de evaporação de
água em função da enorme disponibilidade de energia solar e altas temperaturas.
De acordo com o Quinto Relatório Anual do Painel Intergovernamental sobre as
Mudanças Climáticas (IPCC), projeções nas mudanças climáticas nessa região indicam
diminuição da disponibilidade de água, devido a reduções na precipitação e aumento da
evaporação. É previsto que até 2100 ocorra um aquecimento em 4ºC na temperatura e uma
redução em aproximadamente 20% nos índices de pluviosidade.
Os processos vegetais que dependem do aumento do volume celular são os mais
sensíveis ao déficit hídrico (LAGO et al., 2011). Restrição da área foliar pode ser
considerada como uma primeira reação das plantas a esse déficit (SANTOS e CARLESSO,
1998). Outra implicação é fechamento dos estômatos com consequente diminuição das
trocas gasosas, da transpiração e da assimilação do CO2 (MORENO F., 2009). Logo, a
4
inibição desses processos pode causar redução da produtividade e na qualidade da
produção (LAGO et al., 2011).
Segundo Gabriel et al. (2014) a mandioca é uma boa alternativa de alimentação por
se adaptar a adversidades e suas as raízes tuberosas não devem ter a produtividade reduzida
mesmo com o aumento de temperatura projetado para os futuros cenários climáticos.
2.3 CONSERVAÇÃO DE FORRAGEM
A fim de reduzir o problema de escassez de alimento no período seco, o uso de
alternativas para conservação das forrageiras tropicais, especialmente de culturas
alternativas e de seus coprodutos agroindustriais, tem tido espaço em substituição às
culturas tradicionais (CARVALHO JÚNIOR et al., 2009; SILVA et al., 2010). Para tanto,
pesquisam-se espécies forrageiras que apresentem boas taxas produção de matéria seca,
com boa relação folha/colmo e alto valor nutricional (CARVALHO et al., 2006;
MIRANDA et al., 2008; SOUZA et al. 2012).
Na região semiárida algumas plantas se apresentam como boas alternativas, cita-se a
palma forrageira, leucena, gliricídia, guandu, algaroba, maniçoba, pornunça e a mandioca,
dentre outras (DRUMOND e MORGADO, 2004; CARVALHO et al. 2006; FERREIRA et
al., 2009). E, dentro desse contexto, mencionar a utilização da parte aérea da mandioca
(Manihot sculenta Crantz) na alimentação animal, especialmente quando conservada na
forma de feno ou silagem (CARVALHO et al., 2010).
O processo de fenação envolve remoção de grande quantidade de água da planta
(retendo menos de 15% de teor de umidade). Está diretamente relacionado ao estágio de
crescimento da planta que determina seu valor nutritivo. Pode ser realizado naturalmente
(ao sol) ou artificialmente (MODESTO et al. 2008; NUNES IRMÃO et al., 2008; NERES
et al., 2010).
Já o processo de ensilagem, que é o foco desse trabalho, consiste em conservar os
nutrientes da forragem através da fermentação lática em ausência de ar. O teor de umidade
da forragem ensilada deve ser em torno de 70%. Teores acima podem atrapalhar o
processo de conservação através do poder acidificante das bactérias lácticas. Essas
bactérias produzem ácido lático a partir de substratos como açúcares solúveis, ácidos
orgânicos e compostos nitrogenados solúveis, reduzindo o pH para cerca de 4, inibindo as
5
atividades das bactérias do gênero Clostridium, que produzem ácido butírico e são
responsáveis pela deterioração da silagem. (MODESTO et al. 2008; SANTOS et al., 2010;
MOTA et al., 2011).
Para uma boa ensilagem, uma boa compactação é fundamental. Esse processo deve
ser realizado de forma de eliminar ao máximo o oxigênio dentro do silo controlando a
respiração e proporcionando boa fermentação pelos microrganismos o que evita a perda de
nutrientes da forragem ensilada (SANTOS et al., 2010).
Um material muito seco pode dificultar a compactação, propiciar bolsões de ar e
favorecer o desenvolvimento de bactérias aeróbicas e anaeróbicas facultativas, mofos e
leveduras que utilizam oxigênio para a degradação de substratos que seriam utilizados para
fermentação láctica. Com isso, atrapalha o rápido declínio do pH sendo essa queda
importante para a redução da atividade proteolítica mediada por enzimas das plantas. O
aumento da hidrólise das proteínas acarreta formação de nitrogênio amoniacal (SANTOS
et al., 2010; MOTA et al., 2011).
Além disso, com maiores taxas de oxigênio e de respiração, há aumento de
temperatura acima do desejado e formação de “produtos de maillard” (polimerização de
açúcares e aminoácidos), diminuindo a digestibilidade da MS, da proteína e o valor
nutritivo da silagem (VAN SOEST, 1994).
A quantidade de carboidratos solúveis também possui relação direta no processo de
ensilagem. Se a concentração de carboidratos é suficientemente alta, as condições são mais
favoráveis para o estabelecimento e crescimento de bactérias desejáveis, permitindo
melhor conservação da forragem (PINHO et al., 2008).
Outro fator que influencia diretamente na qualidade da ensilagem é o poder tampão.
O “poder tampão” indica a intensidade com que a forragem resiste à mudança de pH
durante a ensilagem. Quanto maior o poder tampão maior será a quantidade de ácido
necessária para reduzir o pH da silagem, mais longo será o processo fermentativo, maior o
consumo de carboidratos solúveis e maiores serão as perdas (FAUSTINO, 2003).
2.4 CULTURA DA MANDIOCA
No mundo, foram produzidos aproximadamente 277 milhões de toneladas de
mandioca em 2013 e o Brasil foi o quarto maior produtor, com cerca de 21,5 milhões de
toneladas, atrás apenas da Nigéria (53 milhões de toneladas), Tailândia (30,2 milhões de
6
toneladas) e Indonésia (24 milhões de toneladas). Representa a quinta maior produção
agrícola brasileira, perdendo para a cana-de-açúcar (768 milhões de toneladas), soja (81,7
milhões de toneladas), milho (80,2 milhões de toneladas) e leite fresco (34,2 milhões de
toneladas) (FAOSTAT, 2015).
No Brasil, a região Norte foi a que mais se destacou, produzindo quase 7,5 milhões
de toneladas, seguida do Sul (aproximadamente 5,5 milhões de toneladas), do Nordeste
(4,8 milhões de toneladas), do Sudeste (2,5 milhões de toneladas) e, por fim, do Centro-
Oeste (com 1,2 milhões de toneladas) (IBGE 2013).
Os principais Estados produtores foram: Pará (4,6 milhões de toneladas), Paraná (3,8
milhões de toneladas), Bahia (1,9 milhões de toneladas), Maranhão e São Paulo (1,3
milhões de toneladas cada) e Rio Grande do Sul (1,2 milhões de toneladas). Já em Sergipe
foram produzidos 434 mil toneladas, sendo o município de Lagarto o que mais de destacou
com 152 mil toneladas produzidas, representando o oitavo maior município produtor do
país (IBGE 2013).
2.5 CARACTERIZAÇÃO DA MANDIOCA
A mandioca pertence à família Euphorbiaceae. É um arbusto perene e propagado
vegetativamente através de pedaços do caule denominados manivas ou por semente sexual
(ALVES, 2006; BARCELOUX, 2009; FERREIRA et al. 2009).
Ocorrem distintas fases de desenvolvimento durante o crescimento da planta. Entre 5
e 15 dias após o plantio aparecem as primeiras raízes, seguido dos primeiros brotos e das
pequenas folhas. Após essa fase, inicia-se o desenvolvimento foliar e a formação do
sistema radicular que dura até 90 dias. Em sequência, acontece o estabelecimento da copa
até 180 dias. Apesar da translocação de carboidratos para as raízes iniciar a partir dos 60
dias após plantio, somente ocorre de forma mais expressiva entre 180 e 300 dias. Também
nessa etapa, aumentam a senescência foliar e a taxa de queda das folhas e as hastes se
tornam mais lignificadas. Por fim, ocorre a fase de dormência (300 a 360 dias após o
plantio), em que há redução a taxa de produção de folhas, quase todas as folhas caem e o
crescimento vegetativo dos ramos é paralisado. Apenas é mantida a tuberização das raízes
de reserva (ALVES, 2006).
7
O crescimento da mandioca é favorecido em ambientes cujas temperaturas anuais
variem de 25 a 29ºC, contudo a planta pode crescer sob temperaturas entre 16 e 38ºC.
Além disso, a brotação das gemas da maniva é beneficiada em temperaturas em torno de
28-30ºC, sendo drasticamente diminuída em temperaturas superiores a 37ºC ou inferiores a
17ºC. O fotoperíodo ótimo para a mandioca está em torno de 12 a 14 horas. Condições de
baixa radiação solar limitam a fotossíntese e grande parte dos fotoassimilados são
utilizados para o crescimento da parte aérea, afetando significativamente o
desenvolvimento das raízes de reserva (ALVES, 2006; EL-SHARKAWY, 2004;
GABRIEL et al., 2014).
A elevada capacidade fotossintética das folhas da mandioca em ambientes favoráveis
de temperatura e radiação e a manutenção de taxas fotossintéticas razoáveis durante
períodos prolongados de seca são um dos fatores responsáveis pela alta produtividade
dessa cultura (EL-SHARKAWY, 2007).
A mandioca é normalmente cultivada em áreas que recebem menos de 800mm de
chuva por ano, suportando uma variação de 600 a 1500 mm (ALVES, 2006; GABRIEL et
al., 2014). Durante déficits hídricos prolongados, a mandioca reduz a área de sua copa
através da perda das folhas mais velhas e formação de novas e menores, o que reduz a
interceptação da luz, outra característica de adaptação à seca (EL-SHARKAWY, 2007).
Fato observado por Ferreira et al. (2009) em seu experimento em que houve redução do
crescimento em altura e perda parcial das folhas em condições de restrição hídrica.
Somados a isso, possui um sistema de raízes menos densas que podem chegar a 2
metros de comprimento, que permite a retirada lenta de água em partes mais profundas do
solo, e um controle estomático eficiente sobre as trocas gasosas, reduzindo perdas de água
quando há déficit de água no solo ou quando há baixa umidade do ar, protegendo as folhas
de uma desidratação severa (EL-SHARKAWY, 2007).
Apesar da produção de raízes também ser reduzida sob seca (porém em menor escala
em comparação a redução do crescimento da parte aérea), a cultura pode se recuperar
quando a água se torna disponível, via a rápida formação de novas folhas com taxas
fotossintéticas muito maiores que as de plantas não-estressadas, de modo a compensar
perdas de produção. Como efeito, a produção se aproxima ou supera a de cultivos bem
irrigados (EL-SHARKAWY, 2007; SOUZA et al.,2010).
Outra característica que propicia o cultivo da mandioca em condições adversas são as
reservas na forma de amido na raiz, o que viabiliza a manutenção do crescimento e das
8
folhas em condições adversas. Além disso, a mandioca apresenta alta resistência à seca e
tolerância a solos pobres e ácidos (FERREIRA et al., 2009). Um dos fatores que propiciam
tal fato é a presença de fungos micorrízicos arbusculares nativos (espécie Glomus
manihotis) nas raízes da mandioca, aumentando sua eficiência em absorver nutrientes,
sobretudo o fósforo (SOUZA et al., 1999).
2.6 SUBPRODUTOS INDUSTRAIS DA MANDIOCA
O processamento industrial da mandioca está relacionado com a fabricação de
farinha e à extração de fécula (amido) (FERREIRA et al., 2007). A partir desse
processamento, obtém-se os resíduos sólidos (casca, entrecasca e a parte aérea) e o resíduo
líquido, que é a manipueira. Podem ser oferecidos na alimentação animal in natura, como
bagaços, farelos, feno e silagens. (CALDAS NETO et al., 2000; ABRAHÃO et al., 2006;
VELOSO et al., 2006; NUNES IRMÃO et al., 2008).
2.6.1 Bagaço da mandioca
Na produção da fécula da mandioca (Manihot esculenta Crantz), após a raiz de
mandioca ser descascada e triturada, é feita a lavagem da massa para extração do amido,
gerando o bagaço de mandioca, que é o resíduo fibroso da raiz e contém parte do amido
que não foi possível extrair no processamento (SOUSA et al., 2012; FIORDA et al., 2013).
Composto por altas taxas de carboidratos não fibrosos (CNF) e de matéria seca (MS),
e baixas taxas de fibra detergente neutro (FDN) e proteína bruta (PB), pode ser utilizado
como aditivo à silagem ou como concentrado. Análises comprovaram que apenas 5% de
inclusão do bagaço da mandioca reduzem o excesso de umidade de silagem do capim-
elefante (Pennisetum purpureum, Schum) e propicia um bom consumo e desempenho de
novilhas leiteiras (SILVA et al., 2006).
Como concentrado, recomenda-se seu uso até 15% de inclusão na dieta de novilhas e
vacas leiteiras. Devido ser um alimento rico em amido, o qual possui alta degrabilidade
ruminal, seu uso acima de 20% de inclusão em dietas pode provocar redução do pH
ruminal e como consequência os animais apresentarem distúrbios fisiológicos e
nutricionais, como acidose metabólica, diminuição da digestibilidade de nutrientes e
9
timpanismo. (SILVA et al., 2006; DIAS et al., 2008b; LIMA et al., 2008; PINHEIRO et
al., 2011).
2.6.2 Farelo da mandioca
O farelo de mandioca é o resíduo da moagem e peneirarem da mandioca triturada
para posterior produção da fécula (CARVALHO JÚNIOR et al., 2009). Assim como o
bagaço, apresenta elevados teores de CNF e MS e baixos de FDN e PB, e tem sido
pesquisado como concentrado e como aditivo na produção de silagens.
Carvalho Júnior et al. (2009) compararam o desempenho de ovinos da raça Santa
Inês mantidos com dietas com capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum) ensilado
com a adição do farelo de mandioca, farelo de cacau e da casca de café, todos a 15%. O
tratamento com o farelo de mandioca foi o que proporcionou melhor consumo de MS, de
PB, de nutrientes digestíveis totais e maior ganho de peso ao dia.
Pinho et al. (2008) comprovaram que 8% de inclusão de farelo de mandioca em
ensilagens de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum) é eficiente no controle das
perdas tanto por gases quanto por efluente, bem como na redução do teor de nitrogênio
amoniacal (N-NH3) da silagem. E, além de garantir as características fermentativas da
ensilagem, melhora sua composição química agregando valor nutritivo (ANDRADE et al.,
2010; OLIVEIRA, A.L. et al., 2012).
No momento ideal do corte algumas forrageiras, como o capim-elefante, apresentam
alta umidade e baixos teores de carboidratos solúveis, os quais comprometem a produção
de silagem de boa qualidade (PINHO et al., 2008). Por seus elevados teores de matéria
seca e carboidratos solúveis, tanto o farelo de mandioca quanto o bagaço, apresentam
características atraentes para serem utilizados como aditivos e contribuírem para o
aperfeiçoamento do processo de fermentação da ensilagem (OLIVEIRA, A.L. et al., 2012).
2.6.3 Manipueira
A manipueira é o resíduo úmido da extração da fécula da mandioca. Na alimentação
animal, pode ser utilizado em substituição ao concentrado, como afirmaram Abrahão et al.
(2006), os quais testaram a digestibilidade dos nutrientes de dietas contendo resíduo úmido
10
de mandioca em substituição ao milho em tourinhos de terminação, não havendo alteração
dos coeficientes de digestibilidade à exceção dos carboidratos.
Gonçalves et al. (2014) analisaram a utilização da manipueira ensilada. Estudaram a
composição química e o perfil de fermentação da ensilagem, porém não obtiveram bons
resultados em relação ao processo de ensilagem, já que propiciaram a elevação de teores
fibrosos (como fibra detergente ácido - FDA - e lignina) que reduzem a digestibilidade da
MS e de nutrientes.
Porém é principalmente empregada na agricultura, especialmente como
biofertilizante (CARDOSO et al., 2009), pode ser utilizada também como nematicida
(BALDIN et al., 2012), na produção de etanol (SUMAN et al., 2011), na produção de
biogás (KUZCMAN et al, 2011), dentre outros.
2.6.4 Parte aérea da mandioca
A parte aérea da mandioca é subaproveitada, sendo geralmente desprezada por
ocasião da colheita das raízes (geralmente apenas 10% são reutilizados para novo plantio).
Concentram alto conteúdo energético e digestibilidade elevada (SILVA et al., 2012).
Segundo Nunes Irmão et al. (2008), para a alimentação animal, utiliza-se o terço superior
mais enfolhado, mais rico nutricionalmente, de cultivos acima dos oito meses.
É toda porção da planta que se encontra acima do solo e corresponde a
aproximadamente 50% do peso fresco dela, sendo composta por talos e pecíolos (40%) e
folhas (10%). Por esse motivo, a parte aérea da mandioca se caracteriza por apresentar
maiores teores de fibra e proteína, enquanto as raízes e os demais subprodutos da mandioca
apresentam elevados teores de carboidratos não estruturais (FERREIRA et al., 2007;
ROCHA NETO et al., 2012).
Quando comparadas com outras forrageiras tropicais, a mandioca foi uma das que
apresentou maior proporção de folhas em relação às hastes, perdendo apenas para o guandu
(VELOSO et al., 2000). Além disso, suas folhas possuem boas características de
degradação ruminal e, assim sendo, constituem-se fontes alimentares de potencial de uso
na dieta de ruminantes (VELOSO et al., 2006). Contudo, recomenda-se que a utilização de
folhas e caules mais maduros na alimentação animal, por apresentarem menores teores de
ácido cianídrico evitando risco de intoxicação (OLIVEIRA, N.T. et al., 2012).
11
Carvalho et al. (2006) avaliaram a digestibilidade ruminal em bovinos de fenos de
capim-elefante (Pennisetum purpureum), palma (Opuntia ficus), guandu (Cajanus cajan) e
parte aérea da mandioca (Manihot esculenta). Concluíram que o feno da mandioca, assim
como as folhas, apresentou uma das melhores degradabilidades potenciais para MS e PB,
além de ter uma boa degradabilidade efetiva ruminal.
Já Ferreira et al. (2009) compararam o crescimento, a produtividade e a composição
química bromatológica da mandioca, da maniçoba (Manihot glaziowii Mull.) e da
pornunça. Observaram que a mandioca e a pornunça apresentaram os melhores teores de
proteína bruta. Entretanto, a mandioca apresentou os maiores valores de fósforo e melhor
regularidade no crescimento durante o período experimental, possivelmente devido às suas
reservas de amido na raiz.
Diante do exposto, observamos que a mandioca pode ser oferecida na forma fresca
(folhas) ou de feno, contudo apresenta características fermentativas adequadas ao processo
de ensilagem, despertando o interesse nesse tipo de conservação (AZEVEDO et al., 2006).
Sua ensilagem apresenta bom valor nutricional, rusticidade, baixa perda de matéria seca,
alta produtividade e grande difusão geográfica no país (MOTA et al., 2011; SILVA et al.,
2010; SOUZA et al., 2012).
Além disso, o processo de ensilagem também oferece a vantagem de minimizar os
riscos de intoxicação dos animais por ácido cianídrico, produzido pela hidrólise de
glicosídios cianogênicos presentes em altas concentrações em alguns tipos de mandioca
(SENA et al., 2014).
Resultados favoráveis em relação ao desempenho animal foram notados quando esse
volumoso foi utilizado. Modesto et al. (2008) testaram níveis de substituição (0, 20, 40 e
60%) da silagem de milho pela silagem da rama da mandioca em vacas Holandesas não
lactantes e no terço final da gestação. Esses autores observaram que pode ocorrer a
substituição em todos os níveis já que não houve alterações no consumo, nos parâmetros
ruminais e na digestiblidade da matéria seca e nutrientes (exceto proteína bruta).
A silagem do terço superior da parte aérea da mandioca é um resíduo rico em
proteína (12%), teor maior do que o observado para forrageiras normalmente empregadas
na alimentação de vacas em lactação e moderado teor de FDN (aproximadamente 50% da
MS). (MODESTO et al. 2004; MODESTO et al., 2008; SILVA et al., 2010).
A literatura demonstra que tanto a composição bromatológica quanto a cinética de
fermentação da silagem da rama da mandioca diferem de acordo com o tipo de variedades
12
da mandioca (AZEVEDO et al., 2006; MARQUES et al., 2013). E que, mesmo dentro da
mesma variedade, diferentes frações da parte aérea da mandioca variam em composição.
Observa-se que, tanto como forragem fresca quanto ensilado, o terço superior apresenta
melhores teores bromatológicos e melhores qualidades fermentativas para ensilagem
quando comparadas com as frações sobras de plantio e planta inteira (SOUZA et al. 2011;
MOTA et al., 2011; LONGHI et al. 2013).
2.7 TOXIDEZ DA MANDIOCA
A mandioca possui compostos cianogênicos, com ocorrência natural dos glicosídeos
linamarina e lotaustralina (OLUWOLE et al., 2007; OLIVEIRA, N.T. et al., 2012). A
liberação do ácido cianídrico (HCN) das plantas advém da hidrólise dos glicosídeos
cianogênicos (AMORIM et al., 2005). A faixa de teores destes glicosídeos é utilizada para
classificar as plantas de mandioca em: mansas (baixos teores), bravas (teores elevados) e
intermediárias (OLIVEIRA, N.T. et al., 2012).
Sua ingestão pode causar intoxicação e até morte. Exemplos de tais fatos foram
observados no levantamento realizado por Assis et al. (2009) na Paraíba, em que vinte e
três produtores relataram a intoxicação por Manihot spp.
Já na investigação realizada por Schons et al. (2012) em Rondônia, a intoxicação por
Manihot esculenta foi relatada em duas propriedades. No primeiro surto, os três bovinos
foram intoxicados quando beberam a água utilizada para lavar as raízes quebradas de M.
esculenta durante a fabricação de farinha. O segundo surto de intoxicação ocorreu em
bovinos que ingeriram mandioca triturada ensilada no cocho. Quatro animais apresentaram
dificuldade respiratória, tremores musculares e decúbito lateral. Após seis horas, três
bovinos se recuperam e um morreu.
Na pesquisa realizada por Sant’Ana et al. (2014) em Goiás, no surto de intoxicação
da Manihot esculenta em bovinos, todos os animais morreram minutos após a ingestão de
cascas frescas de mandioca recém-colhida. Apresentaram como sinais clínicos diarréia,
ataxia, timpanismo, cianose, dispnéia, sialorréia e decúbito lateral. Já no surto ocorrido em
ovinos, 25 borregos morreram após comer cascas de mandioca e folhas da planta. O
principal sinal clínico descrito foi timpanismo e morte com curso clínico superagudo.
13
O teor de HCN varia entre os cultivares, parte da planta e idade. Como pesquisado
por Oliveira, N.T. et al. (2012) que constaram que o teor de HCN diminui linearmente com
a idade da planta e que o córtex da raiz acumula o maior teor de ácido cianídrico em
proporções bem superiores às folhas, o caule e a polpa da raiz.
2.8 RUMINANTES e a MANDIOCA
Contando com um rebanho de 211,7 milhões de bovinos, 17,3 de ovinos e 8,8 de
caprinos, atualmente os ruminantes são uma das principais criações econômicas no Brasil.
O Nordeste é detentor de 13,7% dos bovinos, 56,5% dos ovinos e 91% dos caprinos. O
rebanho sergipano é de 1,2 milhão de bovinos, 187 mil de ovinos e 22 mil caprinos (IBGE,
2013).
Sua produção está diretamente relacionada à nutrição, a qual depende de fatores
como exigências nutricionais, composição e digestibilidade dos alimentos e quantidade de
nutrientes que o animal ingere (MACEDO JÚNIOR et al., 2007; SILVA et al., 2012).
Estes animais desenvolveram mecanismos para reter alimentos no corpo, a fim de dar
tempo a uma extensa digestão, que ocorre através de microorganismos simbióticos com as
suas próprias secreções digestivas (FORBES et al., 2007).
Portanto, os ruminantes apresentam características especiais quanto à digestão. As
peculiaridades ruminação, aparelho digestivo formado por quatro compartimentos
gástricos e a realização de uma digestão fermentativa permitem a utilização de alimentos
fibrosos como diversos resíduos e subprodutos industriais em sua alimentação, inclusive a
silagem da parte aérea da mandioca (MODESTO et al, 2004; CUNNIGHAM, 2008;
GONÇALVES et al., 2014).
Lembrando que a mandioca e alguns de seus subprodutos se caracterizam por
apresentar altos teores de carboidratos não-estruturais, sobretudo o amido (PIRES et al.,
2008). Os carboidratos são a principal fonte energética para o desenvolvimento dos
microorganismos do rúmen (MOURO et al. , 2002; FORBES et al., 2007).
Porém quantidades excessivas de carboidratos de rápida fermentação no rúmen,
como no caso do amido da mandioca, podem aumentar a produção de ácidos de tal forma
que exceda a capacidade tamponante do bicarbonato salivar, provocando redução no pH
ruminal e alterando a população microbiana. Assim, ocorre desvio da rota degradativa do
14
amido e aumento da produção do ácido láctico, podendo acarretar acidose (MARQUES et
al., 2000; MACEDO JÚNIOR et al., 2007).
Contudo, a silagem da parte aérea da mandioca se caracteriza por apresentar menores
teores de carboidratos de rápida degrabilidade ruminal, diferentemente dos demais
sobprodutos. Sua composição com maior quantidade fibrosa e protéica a distingue como
um alimento viável em épocas de déficit de oferta de nutrientes e de chuvas, já que
garantem a ruminação, suprem a necessidade energética da microbiota ruminal e a síntese
de proteína microbiana (BERCHIELLI et al, 2006; VELOSO et al. 2006; SENA et al.,
2014).
O objetivo deste trabalho foi verificar a produtividade da raiz e da parte aérea, a
composição bromatológica e o perfil de fermentação da silagem da parte aérea de 10
genótipos de mandioca em Sergipe.
15
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folhas e folíolos de forrageiras tropicais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.2,
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23
CAPÍTULO 1: PRODUTIVIDADE, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E
CARACTERÍSTICAS DA FERMENTAÇÃO DA SILAGEM DA RAMA DE
VARIEDADES DE MANDIOCA
1.1 Resumo
A mandiocultura apresenta grande importância no Nordeste, tanto culturalmente
quanto economicamente. Apresenta uma gama de resíduos que podem ser utilizados na
alimentação animal, dentre eles a parte aérea. Esse material pode ser conservado na forma
de ensilagem, com o intuito de utilizá-la na época seca, quando há déficit de alimentos para
os animais. O objetivo deste trabalho foi verificar a produtividade de parte aérea, de raízes,
as características bromatológica e de fermentação de cultivares de mandioca oriundas de
duas localidades de Sergipe, São Domingos e Lagarto. As variedades utilizadas foram as
9783/13, Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca, BRS Tapioqueira, BRS Verdinha,
Caravela, Irará, Lagoão e Preta do Sul. A idade de corte para pesagens e para confecção
das ensilagens foi de 10 meses e foram utilizados mini silos laboratoriais de PVC com 10
cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, lacrados com tampas de PVC e presilhas de
metal. Para cada tratamento foram confeccionados seis mini silos, sendo 3 de cada local de
colheita, totalizando 60 repetições, em um delineamento experimental inteiramente
casualizado (DIC). Após 180 dias os silos foram abertos e analisados quanto a sua
composição bromatológica e fermentativo. Observou-se que as cultivares BRS Poti Branca
e Lagoão se destacaram no município de São Domingos, especialmente quanto à
produtividade. No município de Lagarto, as variedades com resultados mais interessantes
em produtividade foram as Irará, 9783/13 e a BRS Poti Branca. Em relação à qualidade da
silagem, as cultivares BRS Caipira e Caravela apresentaram os melhores resultados.
Palavras-chave: ensilagem, mandiocultura, nutrição animal.
24
1.2 Abstract
The cassava has great importance in the Northeastof Brazil, culturally and
economically. It features a range of waste that can be used in animal feed, including the
aerial part. This material can be stored as silage, in order to use it in the dry season, when
there is shortage of food for the animals. The objective of this study was to verify the aerial
part and roots productivity, bromatological and fermentation characteristics of cassava
cultivars coming from two locations of Sergipe, São Domingos and Lagarto. The varieties
used were 9783/13, Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca, BRS Tapioqueira, BRS
Verdinha, Caravela, Irará, Lagoão and Preta do Sul. The age cut for weighing and
preparation of silage was 10 months and they were used PVC mini laboratory silos with 10
cm diameter and 30 cm in length, sealed with plastic caps and metal clamps. For each
treatment were made six mini silos, 3 of each sampling point, a total of 60 replicates in a
completely randomized design (CRD). After 180 days, the silos were opened and analyzed
for bromatological and fermentative composition. It was observed that the cultivars BRS
Poti Branca and Lagoão stood out in the municipality of São Domingos, especially on
productivity. In the city of Lagarto, varieties with more interesting results in productivity
were the Irará, 9783/13 and BRS Poti Branca. Regarding the quality of the silage, the BRS
Caipria and Caravela cultivars showed the best results.
Keywords: silage, cassava, animal nutrition.
25
1.3 Introdução
A mandioca (Manihot esculenta Cranz) é uma das culturas agrícolas mais
importantes no Nordeste, produzida principalmente por os pequenos produtores, apresenta
importância econômica e cultural, visto que esta cultura é sustento de muitas famílias e
também uma das que melhor remunera a mão de obra familiar (SENA, 2006).
Juntamente com o milho e a cana-de-açúcar, a mandioca representa as três maiores
lavouras do Estado de Sergipe. Possui uma média de produção de 15 toneladas por hectare
(ton/ha), acima da média nacional (13,8 ton/ha). Dentre seus principais municípios
produtores estão Lagarto e São Domingos com produtividades superiores a 18 toneladas
por hectares (IBGE 2013).
É uma planta de fácil cultivo, de expressiva produção e que apresenta características
especiais de adaptação à ambientes de baixa pluviosidade e a diferentes tipos de solo. Sua
rama ou parte aérea apresenta boa composição nutricional e pode ser utilizada na
alimentação de ruminantes.
Em regiões em que existem limitações climáticas, custo com a alimentação tende a
ser mais expressivo devido à necessidade de compra de insumos externos para enfrentar o
período da seca. Nesse contexto, a utilização de alimentos não convencionais e de seus
resíduos assume grande importância, como a exemplo a parte aérea da mandioca.
A produção de parte aérea é fator importante na cultura da mandioca, tanto como
material de propagação como produção de forragem para a alimentação animal (VIDIGAL
et al., 2000; GOMES et al. 2007). A literatura cita a parte aérea representa 50% do peso
total da planta e que apenas 10% de toda parte aérea produzida sejam reutilizados em novo
plantio. Portanto estima-se que mais de 13 ton/ha de parte aérea são desprezadas no
momento da colheita aqui no Estado de Sergipe.
Uma alternativa a esse desperdício é o ensilamento da rama que a conserva por
longos períodos, elimina a toxicidade do material e pode ser uma solução para amenizar a
perda de produtividade do rebanho no período de escassez de alimentos.
Definir quais são as variedades de mandiocas disponíveis em Sergipe que apresentam
melhor composição bromatológica, perfil fermentativo, produtividades de parte aérea e de
raiz e maiores índices de colheita, não só visa atender as necessidades das agroindústrias
locais, como principalmente despertar o interesse dos criadores para uma opção de
alimento para ruminantes.
26
O objetivo deste trabalho foi verificar de forma comparativa as produtividades de
parte aérea, de raiz e índice de colheita, as qualidades bromatológica e fermentativa da
silagem da parte aérea de dez cultivares de mandioca plantadas nos municípios de Lagarto-
SE e São Domingos-SE.
27
1.4 Materiais e Métodos
Foram conduzidos 2 experimentos, um no município de São Domingos-SE e outro no
município de Lagarto-SE. Esses municípios estão localizados no sertão ocidental sergipano,
possuem 4 a 5 meses secos ao ano, pluviosidades médias de 1000mm ao ano e temperaturas
médias anuais de 24ºC. São Domingos se localiza na bacia hidrográfica do rio Vaza Barris, já
Lagarto na bacia do rio Piauí.
Utilizaram-se cultivares de mandioca (Amansa Burro, BRS Caipira, BRS Poti branca,
BRS Tapioqueira, BRS Verdinha, Caravela, Irará, Lagoão e Preta do Sul) no ano agrícola de
2011/2012 e aos dez meses após plantio, procedeu-se a colheita das plantas e avaliação das
seguintes características de produção:
a) produção média da parte aérea: expressa em ton/ha, obtida pela pesagem da parte
aérea de todas as plantas;
b) produção média de raízes: expressa em ton/ha, obtida pela pesagem das raízes de
todas as plantas;
c) índice de colheita (IC): expresso em percentagem (%), obtido por meio da relação
entre o peso das raízes e o peso total das plantas (raízes + parte aérea).
Os dados foram submetidos à análise estatística segundo procedimento PROC GLM do
pacote estatístico SAS, para cada experimento e, posteriormente, em análise conjunta.
Quando constatados efeitos significativos foram submetidos ao teste de T (P<0,05).
Já para a confecção das silagens foram utilizados mini silos laboratoriais de PVC com
10 cm de diâmetro e 30 cm de comprimento, lacrados com tampas de PVC e presilhas de
metal.
O material vegetal da mandioca in natura foi colhido no mesmo dia da confecção das
silagens. Para cada variedade foram confeccionados seis mini silos, sendo 3 de cada local de
colheita, totalizando 60 repetições, em um delineamento experimental inteiramente
casualizado (DIC). Com o auxilio de bastões de madeira, os mini silos foram preenchidos e
compactados gradativamente até estarem completamente cheios. Cada mini silo foi fechado
mediante o uso da tampa e presilha de metal, e visando a vedação total foi utilizada fita
adesiva. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal (LNA),
da Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizado no município de Aracaju – SE.
28
As silagens foram abertas após 180 dias da confecção dos mini silos, em seguida, foram
descartados de 6 a 8 cm da parte superior e inferior do material ensilado. A parte central do
material foi coletada e homogeneizada manualmente em bandeja e após este procedimento,
foram retiradas sub amostras para posteriores análises, sendo: 100 g para teor ácido lático, 50
g para teor nitrogênio amoniacal (N-NH3), 9 a 10 g para pH e 500 g para análises quanto a
sua composição química.
Após os procedimentos citados, as amostras processadas foram analisadas quanto a sua
composição química, sendo os componentes analisados: matéria seca total (MST) e matéria
mineral (MM) segundo metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002), fibra em detergente
ácido e neutro (FDA e FDN respectivamente) segundo Souza et al., (1999), proteína bruta
(PB) pelo método KJEDAHL modificado por Viana et al., (2008) e a digestibilidade in vitro
pelos procedimentos de (TILLEY e TERRY, 1963).
As análises químicas de avaliação da qualidade fermentativa da silagem (pH, ácido
lático e nitrogênio amoniacal) foram realizadas nas amostras recém retiradas dos mini silos
onde: o pH foi realizado com auxílio de pHmetro portátil digital Gehaka modelo PG 1400
(SILVA e QUEIROZ, 2002), o teor de N-NH3 através do método baseado na extração com
cloreto de potássio, seguido de destilação com óxido de magnésio em destilador Kjeldahl
Tecnal modelo TE 036/1 e posterior titulação com ácido clorídrico (NOGUEIRA e SOUZA,
2005), para determinação do teor de ácido lático, as amostras foram prensadas a 10 toneladas
(Prensa hidráulica Tecnal modelo TE 098) em telas de nylon e o suco obtido passou por
leitura em espectrofotômetro de absorção molecular Femto modelo Genesys 10S UV-VIS
(SILVA e QUEIROZ, 2002).
Os dados foram submetidos à análise estatística segundo procedimento PROC GLM do
pacote estatístico SAS, considerando-se efeitos de genótipo e de local de produção e, quando
constatados efeitos significativos, foram submetidos ao teste de Duncan (P<0,05).
29
1.5 Resultados e Discussão
Os dados relativos à produtividade da parte aérea e da raiz e o índice de colheita das
variedades estudadas estão na Tabela 1.
TABELA 1. Produtividade de parte aérea (ton/ha), raiz (ton/ha) e índice de colheita (IC, %) de 10
variedades de mandioca em Lagarto-SE e São Domingos-SE.
Lagarto São Domingos
Parte
aérea (ton)
Raízes
(ton)
Índice de
colheita (%)
Parte
aérea (ton)
Raízes
(ton)
Índice de
colheita (%)
9783/13 40,0a 35,0a 46,3c 24,0ab 32,7ab 57,3c
Amansa Burro 27,3c 21,3b 43,7c 19,7ab 27,7b 58,7bc
BRS Caipira 23,3c 35,7a 60,3a 19,0ab 36,3a 65,3ab
BRS Poti branca 40,3a 33,0a 46,7c 25,3a 35,3a 58,0c
BRS Tapioqueira 30,0bc 36,7a 55,3b 22,0ab 29,7ab 57,3c
BRS Verdinha 27,3c 36,0a 57,0ab 22,0ab 34,0ab 60,7abc
Caravela 28,0c 35,7a 56,0ab 16,7b 31,3ab 65,7a
Irará 43,3a 36,0a 47,0c 24,3ab 32,3ab 57,0c
Lagoão 38,7ab 30,3a 43,7c 26,0a 36,7a 62,3abc
Preta do Sul 26,7c 30,3ab 53,3b 19,3ab 30,7ab 61,0abc
Médias 32,5 33,0 50,9 21,8 32,7 60,3
P 0,0001 0,0003 <0,0001 0,0043 0,0064 0,0005
CV% 10,26 9,87 3,30 12,17 8,04 3,86
IC= representa a relação entre o peso das raízes e o peso total da planta Médias para características seguidas de letras diferentes: diferença estatística pelo teste T a 5% de
significância.
Apenas considerando a parte aérea, pode-se observar que as variedades foram mais
produtivas quando cultivadas no município de Lagarto do que quando cultivadas em São
Domingos, apresentando média de 32,5 ton/ha em Lagarto e de 21,8 ton/ha em São
Domingos. Estas médias são superiores a encontrada por Gomes et al. (2007) e por Silva et
al. (2009), que encontraram 10,8 e 18,5 toneladas por hectare respectivamente.
Foram encontradas diferenças significativas entre os cultivares (P<0,05) e as que se
destacaram foram a Lagoão, a Irará, a 9783/13 e a Poti Branca, independente do local de
plantio. Uma possível explicação para essas diferenças significativas é o fato de que a parte
aérea da mandioca ser formada por folhas, hastes e ramificações e, de acordo com Ros et
al. (2011), as quantidades e a presença de tais características somadas à altura da planta
diferem entre as cultivares. Gomes et al. (2007) e Otsubo et al. (2008) também observaram
em seu experimento diferença entre a altura das plantas e esta característica teve relação
direta com o peso da parte aérea.
30
Assim como na parte aérea, a média de peso das raízes foi superior no município de
Lagarto (33,0 ton/ha) do que no município de São Domingos (32,7 ton/ha). Ambas as
médias foram superiores a encontrada por Ros et al. (2011) que obtiveram uma média de
29,15 toneladas por hectare. Entre as variedades estudadas houve diferenças (P<0,05). Em
Lagarto todas tiveram ótimos resultados, apenas a Preta do Sul teve valor inferior (30,3)
(57,0). Já em São Domingos os cultivares com maiores produção de raízes foram a Lagoão
(36,7), a BRS Caipira (36,3) e a BRS Poti Branca (35,3).
O número de raízes, seus comprimentos e diâmetros diferem entre os cultivares
segundo Gomes et al. (2007) e, portanto, são os prováveis fatores responsáveis pelo
resultado aqui demonstrado. Como as colheitas foram realizadas na mesma idade de ciclo
vegetativo (10 meses), possivelmente as variedades da mandioca com resultados mais
expressivos na produtividade de raízes foram as mais precoces no processo de acumulação
de amido nas raízes.
O índice de colheita teve média superior a 50%, sendo as variedades BRS Caipira e
Caravela as que mais se destacaram em ambas as cidades. Isoladamente o índice de
colheita não fornece informação precisa sobre o comportamento da planta, já que altos
valores podem ser obtidos com o aumento da produção de raízes ou diminuição da
produção de parte aérea (Carvalho Júnior et al, 2005). É possível observar neste
experimento que o índice de colheita em São Domingos (60,3) foi em média mais alto do
que em Lagarto (50.9%) devido aos maiores valores de produção de parte aérea deste com
relação ao primeiro.
Tais resultados sugerem que tanto fatores ambientais quanto o genótipo influenciam
especialmente na produção da parte aérea, assim como afirma Vidigal et al. (2000) ao
concluírem que os resultados obtidos pela cultivar IAC 14 nas características altura e
produção da parte da aérea sofreram interferência de genótipo e de fenótipo.
Fatores como temperaturas, fotoperíodo e nível de sombreamento podem
disponibilizar mais água para a planta e propiciar maior ou menor quantidade de folhagens
e hastes. Temperaturas mais altas acima de 28ºC aceleram a queda das folhas. Já altos
níveis de sombreamento e fotoperíodo prolongados aumentam a altura da planta e a área
foliar. Contudo baixa luminosidade e dias curtos afetam de forma mais significativa as
raízes do que a parte aérea, ocorrendo diminuição do crescimento e do comprimento e
diâmetro das raízes (ALVES, 2006). Além disso, as plantas se desenvolvem com mais
vigor em solos com maiores disponibilidades de nutrientes (OTSUBO et al., 2008).
31
Os resultados obtidos quanto aos teores de matéria seca, proteína bruta, cinzas, fibra
em detergente neutro, fibra em detergente ácido e digestiblidade in vitro da matéria seca
estão apresentados na Tabela 2. Não houve interação entre tais resultados e os locais de
produção.
Não foi encontrada diferença significativa para os dados em relação à matéria seca
dentre os materiais ensilados. Mota et al. (2011) e Souza et al. (2011) pesquisaram os
cultivares Amarelinha, Olho roxo, Periquita e Sabará, para silagem e para forragem fresca,
respectivamente, e ambos observaram diferenças significativas (p<0,05) para MS, sendo as
variedades Amarelinha e Olho Roxo as que apresentaram maiores teores.
O valor médio de MS foi 31,32% que está dentro do recomendado por Van Soest
(1994) como percentual ideal para ensilagem. Valor maior do que o encontrado por
Modesto et al. (2008) que encontraram 25,64% para matéria seca para o cultivar Fibra.
TABELA 2. Médias de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), cinzas, fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente ácido (FDA) de digestibilidade in vitro da matéria seca DIVMS) de silagens da parte aérea de diferentes variedades de mandioca.
Variedade MS % PB % Cinzas % FDN % FDA % DIVMS %
9783/13 31,3 5,9bcd 3,3 57,2ab 50,0ab 38,7c
Amansa Burro 30,5 4,9cd 3,1 58,7a 51,2ab 39,4c
BRS Caipira 30,2 7,6a 3,2 56,2ab 50,1ab 41,8abc
BRS Poti Branca 31,1 4,6d 2,4 56,1ab 47,4ab 43,4abc
BRS Tapioqueira 31,0 5,1cd 3,3 58,1a 51,4a 38,4c
BRS Verdinha 33,3 5,7bcd 3,5 47,1c 41,5c 47,0a
Caravela 31,6 7,1ab 2,8 51,7bc 46,3b 42,9abc
Irará 31,7 5,3cd 4,1 55,3ab 48ab 42,1abc
Lagoão 33,3 4,9cd 3,6 54,6ab 47,3ab 45,5ab
Preta do Sul 29,2 6,5abc 3,3 55,1ab 49,8ab 40,5bc
CV% 13,5 21,2 25,5 8,1 7,3 9,1
P 0,8741 0,0114 0,1266 0,0049 0,0014 0,0066
Médias para características seguidas de letras diferentes: diferença estatística pelo teste Duncan a 5% de
significância.
Foi encontrada diferença significativa (P<0,05) para proteína bruta da silagem entre
as cultivares estudadas sendo que a cultivar BRS Caipira apresentou maior valor com 7,6%
e a BRS Poti branca o menor valor com 4,6%, com média geral de 5,8%. Os valores
encontrados estão abaixo dos encontrados Azevedo et al. (2006) e Modesto et al. (2008)
que encontraram média de 9,19% e 11,95%, respectivamente. Azevedo et al. (2006)
32
estudaram os cultivares S 60-10, RS 13 e Frita 29,79 e também encontraram diferenças
(P<0,05) entre variedades de mandioca na composição protéica, com valores que variaram
entre 7,24% e 10,44%.
Isto possivelmente aconteceu devido ao maior teor de caule em relação a folhas
encontrada na silagem deste trabalho, que é explicada também pelo maior teor de FDN
(média de 55,03%) e FDA (média de 48,31%) encontrado em relação aos estudos de
Azevedo et al. (2006) que encontraram 51,61% de FDN e de Modesto et al. (2008) que
encontraram 50,04% de FDN e 44,17% de FDA. Como já mencionado, entre os cultivares
há diferenças no número de hastes e folhas e uma maior relação folha/haste implica maior
teor protéico (RÓS et al., 2011; SOUZA et al. 2011).
Em relação ao FDN e ao FDA, foi encontrada diferença significativa (P<0,05) entre
as cultivares estudadas. Os maiores valores obtidos foram da Amansa Burro (58,7% FDN e
51,2% FDA) e da Tapioqueira (58,1% FDN e 51,4% FDA). A BRS Verdinha obteve os
menores valores tanto de FDN quanto de FDA - 47,1% e 41,5%, respectivamente. Para
Van Soest (1994) valores maiores que 55-60% de FDN pode implicar diminuição do
consumo de massa seca de uma espécie forrageira.
Não houve diferença significativa para cinzas, sendo seu valor médio de 3,3. Média
menor do que as encontradas por Ferreira et al. (2009) e por Marques et al. (2013), com
6,83% e 6,42% respectivamente.
Entre as variedades houve diferenças (P<0,05) quanto à DIVMS. A maior
percentagem de DIVMS foi obtida pela BRS Verdinha, 47,0%. Nota-se que essa variedade
também apresentou os maiores valores de MS e os menores de FDN e FDA. Inversamente
ao observado nas variedades 9783/13, Amansa Burro e Tapioqueira que obtiveram os
menores valores de DIVMS (38,7%, 39,4% e 38,4% respectivamente) e altos valores de
FDN e FDA. A média da DIVMS foi de 42%, próximo ao encontrado por Ferreira et al.
(2009) que encontraram 43% de DIVMS para a mandioca.
Quanto aos parâmetros fermentativos, (N-NH3, pH e ácido lático), não foram
encontradas diferenças significativas entre as variedades estudadas, conforme tabela 3. A
média de N-NH3 foi de 7,33%, valor considerado um pouco alto, o que demonstraria
elevada proteólise das silagens. As enzimas proteolíticas são principalmente secretadas
pelas bactérias Clostridium e a extensão proteólise depende da rapidez com que as
condições ácidas são estabelecida (MOTA et al., 2011). Segundo Guim et al. (2004), o
valor aceitável para N-NH3 é abaixo de 6%. Azevedo et al. (2006) e Mota et al. (2011)
33
encontraram valores médios para N-NH3 mais baixos que o deste trabalho, correspondendo
a 1,29% e 1,69% respectivamente.
Neste experimento, os valores de pH encontrados ficaram em média de 4,04, muito
semelhantes aos de Azevedo et al. (2006) que encontraram 4,06 para o pH e Mota et al.
(2011) que encontraram 4,07. Estes valores podem ser considerados satisfatórios de acordo
com Borges et al. (1997) que recomendam valores entre 3,5 e 4,2. Essa faixa de pH
possibilita uma boa conservação da massa ensilada, garantindo qualidade do produto
(SIQUEIRA et al., 2007).
Pacheco et al. (2014) mencionam que o pH não deve ser empregado como critério
exclusivo na avaliação da fermentação, pois seu efeito inibidor é dependente da velocidade
de declínio da concentração iônica e do teor de umidade do material ensilado.
Em relação ao ácido lático, os valores encontrados neste estudo foram de 3,28. Já
Mota et al. (2011) observaram uma média de 8,22 de ácido lático. De acordo Moisio e
Heikonen (1994), apesar de todos os ácidos contribuírem para a redução do pH da silagem,
o ácido lático é um ácido forte e principal responsável nesse processo. Apesar de não haver
diferenças significativas entre as variedades, é possível observar neste trabalho que as
variedades com maiores teores de ácido lático foram as que apresentam baixos teores de
pH e N-NH3.
TABELA 3. Médias de nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3), pH e ácido lático de silagens da parte aérea de diferentes variedades de mandioca.
Variedade N-NH3 % pH % AL %
9783/13 6,3 4,0 3,1
Amansa Burro 7,1 4,1 3,0
BRS Caipira 5,9 3,8 3,3
BRS Poti Branca 8,9 4,1 2,9
BRS Tapioqueira 6,9 3,84 3,2
BRS Verdinha 9,7 3,9 2,6
Caravela 5,9 3,8 3,5
Irará 6,9 4,2 3,1
Lagoão 7,5 4,1 2,3
Preta do Sul 7,7 4,1 2,8
CV% 32,8 9,54 44,2
P 0,1827 0,5973 0,9226
Médias para características seguidas de letras diferentes: diferença estatística pelo teste T a 5% de
significância.
34
1.6 Conclusões
Os resultados permitem concluir que as cultivares BRS Poti Branca e Lagoão se
destacaram no município de São Domingos, especialmente quanto à produtividade.
Para o município de Lagarto, as variedades com resultados mais interessantes em
produtividade foram as Irará, 9783/13 e a BRS Poti Branca.
Em relação à qualidade da silagem, as cultivares BRS Caipira e Caravela
apresentaram os melhores resultados.
35
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