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Policy Paper | Nº 24 Maio, 2017 Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros Maria Julia de Barros Ferreira, Naercio Menezes Filho, Bruno Komatsu

Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros · Figura 1. Produtividade e Anos de Estudo: Brasil e Coreia Fonte: Barro e Lee (2010); Timmer, Vries e Vries (2014). Elaboração

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Page 1: Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros · Figura 1. Produtividade e Anos de Estudo: Brasil e Coreia Fonte: Barro e Lee (2010); Timmer, Vries e Vries (2014). Elaboração

Policy Paper | Nº 24

Maio, 2017

Produtividade e Educação nos

Municípios Brasileiros

Maria Julia de Barros Ferreira,

Naercio Menezes Filho, Bruno Komatsu

Page 2: Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros · Figura 1. Produtividade e Anos de Estudo: Brasil e Coreia Fonte: Barro e Lee (2010); Timmer, Vries e Vries (2014). Elaboração

Produtividade e Educação nos

Municípios Brasileiros

Maria Julia de Barros Ferreira Naercio Menezes Filho

Bruno Kawaoka Komatsu

Maria Julia de Barros Ferreira Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Centro de Políticas Públicas (CPP)

Rua Quatá, nº300 04546-042 - São Paulo, SP - Brasil

[email protected]

Naercio A. Menezes Filho Insper Instituto de Ensino e Pesquisa

Centro de Políticas Públicas (CPP) Rua Quatá, nº300

04546-042 - São Paulo, SP - Brasil [email protected]

Bruno Kawaoka Komatsu Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Centro de Políticas Públicas (CPP)

Rua Quatá, nº300 04546-042 - São Paulo, SP - Brasil [email protected]

Copyright Insper. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou integral do conteúdo

deste documento por qualquer meio de distribuição, digital ou impresso, sem a expressa autorização do Insper ou de seu autor.

A reprodução para fins didáticos é permitida observando-se a citação completa do documento.

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Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros1

Maria Julia de Barros Ferreira

Naercio Menezes Filho

Bruno Kawaoka Komatsu

Resumo

Esse texto tem como objetivo investigar o descompasso entre o crescimento da produti-

vidade e da escolaridade no Brasil. Especificamente, são estudadas as relações entre o

crescimento do percentual de concluintes do ensino médio e superior e o crescimento da

produtividade (valor agregado por trabalhador), salário médio e renda per capita a nível

municipal entre 2000 e 2010. Para isso, utilizamos dados dos Censos Demográficos e as

contas regionais desses anos. Os resultados obtidos mostram uma aparente correlação

negativa entre a produtividade e a escolaridade, que pode ser justificada pela união de três

constatações: (1) os municípios mais pobres ou menos produtivos inicialmente foram os

que tiveram o maior aumento de produtividade, salário médio e renda per capita; (2) os

municípios mais escolarizados foram aqueles que tiveram o maior crescimento no per-

centual de concluintes do ensino médio e, especialmente, do superior e (3) os municípios

inicialmente mais ricos ou produtivos são aqueles cujo percentual de concluintes do en-

sino médio e superior são mais altos. Assim, considerando constante o nível inicial da

produtividade, do salário médio e da renda per capita, de forma a controlar os seus efeitos

sobre os resultados, as correlações se tornaram positivas para o crescimento dessas três

variáveis e os dois níveis de escolaridade. Portanto, conclui-se que, o nível de educação

relaciona-se positivamente com a produtividade.

Palavras chave: Crescimento, produtividade, salário médio, renda per capita, ensino mé-

dio, ensino superior.

1 Agradecemos ao Data Zoom, desenvolvido pelo Departamento de Economia da Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que disponibiliza ferramentas para a leitura dos microdados das

pesquisas domiciliares do IBGE, utilizadas nesse trabalho.

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1. Introdução

Ao longo dos anos 2000 o nível de escolaridade da população brasileira aumentou

consideravelmente. Entre os adultos, a média de anos de estudo passou de 6,1 em 2001

para 7,9 em 2013, um crescimento de 28% (ou 2% ao ano em média) (Insper, 2014). Esse

crescimento, contudo, aconteceu junto com uma relativa estagnação da produtividade da

economia. Ao contrário do que se esperava e do que ocorreu em outros países, o aumento

da educação no Brasil não foi acompanhado pelo crescimento da produtividade. Em uma

perspectiva de longo prazo, na Figura Figura 1, fica claro que, apesar do crescimento da

escolaridade desde 1980 ter sido maior do que nas décadas de 1960 e 1970, a produtivi-

dade do trabalho no Brasil permaneceu estagnada. Em comparação, na Coreia do Sul, a

correlação entre as duas variáveis é claramente positiva ao longo dos anos.

Figura 1. Produtividade e Anos de Estudo: Brasil e Coreia

Fonte: Barro e Lee (2010); Timmer, Vries e Vries (2014). Elaboração própria.

Analisando a relação entre o nível de escolaridade e produtividade para os muni-

cípios brasileiros, a Figura Figura 2 não só reafirma a falta de associação entre as duas

variáveis, como aponta para uma tendência negativa, tanto quando se considerada o cres-

cimento do percentual de concluintes do ensino médio quanto do ensino superior.

1965

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Anos de Estudo

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Figura 2. Correlação entre a Variação na Produtividade e a Variação no

Percentual de Concluintes do Ensino Médio e Superior (2000-2010)

Fonte: Censos Demográficos/IBGE e IBGE/SUFRAMA. Elaboração própria. Valores deflacionados para

2010. Dispersão da variação da produtividade (em Ln) e do percentual de concluintes do ensino médio e

superior.

Devemos notar ainda que o sentido da relação de causalidade entre educação e

produtividade não é evidente. Pode-se argumentar que educação causa produtividade.

Florax (1992), analisando especificamente o ensino superior, argumenta que a expansão

deste traz impactos de longo prazo aos lugares afetados, através de mudanças nas técnicas

de produção, criação de novos produtos etc., como consequência do aumento de capital

humano. Estendendo a análise de Florax à expansão da educação como um todo, o au-

mento da educação causaria aumento da produtividade.

Outra forma de ver o problema é pensar na relação entre produtividade e educação

de maneira inversa, ou seja, produtividade causa educação. Nessa perspectiva, um au-

mento na produtividade poderia promover desenvolvimento local, trazendo benefícios

como aumento da renda, dos salários, criação de escolas, maior disponibilidade de vagas

etc. Está consolidado na literatura econômica que o crescimento da produtividade tem

efeito positivo no salário médio. O aumento da renda familiar permite que mais pessoas

tenham acesso à educação, tanto porque as famílias passam a poder pagar escolas e fa-

culdades particulares, quanto porque se torna menos necessário que os jovens e adoles-

centes abram mão de sua educação para trabalhar (VIEIRA, MENEZES FILHO,

KOMATSU, 2016). Também é possível que com o aumento da produtividade, as ativi-

dades realizadas no município se tornem mais complexas, sejam criadas novas oportuni-

dades de negócios, etc., de forma a atrair e aumentar a demanda por pessoas com maior

grau de escolaridade.

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Δ L

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Δ % Concluintes do Ensino Superior

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Esse estudo tem como objetivo investigar se, de fato, no agregado, a produtividade

e a educação no Brasil não estão correlacionadas ou, ainda, se estão correlacionadas ne-

gativamente. Especificamente, estudaremos a relação entre o crescimento do percentual

de concluintes do ensino médio e superior e o crescimento da produtividade, salário mé-

dio e renda per capita a nível municipal entre 2000 e 2010.

2. Revisão Bibliográfica

O problema dos retornos da escolaridade, tanto em termos de salário médio,

quanto em crescimento da produtividade, têm sido objeto de debate e pesquisa. Atual-

mente, diversos estudos econômicos destacam a relação positiva entre a educação e os

salários médios ou a produtividade, principalmente quanto ao retorno individual, havendo

algumas discordâncias em relação aos efeitos agregados.

O trabalho de Mincer (1974) foi de grande importância para o desenvolvimento

da literatura econômica sobre educação e seus retornos. Ele elaborou um modelo em que

os rendimentos poderiam ser explicados, entre outras variáveis, pela escolaridade. Em sua

equação, utilizou o logaritmo natural da renda e a quantidade de anos de estudo do indi-

víduo. A partir de então, a associação entre anos de estudo e logaritmo da renda do traba-

lho passou a ser utilizada de diversas maneiras, inclusive será estimada nesse trabalho.

Quanto ao retorno da escolaridade a nível macro, diversos resultados contraditó-

rios foram obtidos até se atingir um consenso. Autores como Barro e Sala-i-Martin’s

(1995), Benhabid e Spiegel’s (1994) e Pritchett (1996), encontraram resultados para da-

dos agregados que fizeram a associação entre o crescimento de capital humano e a taxa

de crescimento do valor da produção por trabalhador ser questionada. Pritchett (1996)

elaborou uma explicação para esses resultados, concluindo que os impactos da educação

variam de acordo com o país. Três fatores poderiam explicar essa diferença. O primeiro

é que as instituições de alguns países não funcionaram suficientemente bem para que o

aumento do capital humano fosse alocado às áreas socialmente produtivas. Em segundo

lugar, a demanda por trabalhadores qualificados aumentou de maneira desigual entre pa-

íses, de tal forma que, em alguns deles, ela cresceu menos do que o aumento da oferta de

trabalho. Por último, a qualidade da educação pode ter sido insuficiente para que mais

anos de estudo de fato formassem capital humano. A interação entre esses três fatores e a

extensão deles em cada país explicaria o efeito econômico da educação em cada um.

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A partir do estudo de Kruegel e Lindahll (2001), que novamente encontraram uma

relação positiva entre as duas variáveis, tornou-se consenso a presença de externalidades

positivas do aumento da educação não apenas na renda agregada, mas em diversas outras

variáveis.

No Brasil, muitos trabalhos procuraram estimar a relação entre produtividade e

escolaridade, encontrando diferentes taxas de retorno. Tavares et al. (2001) foram res-

ponsáveis por um desses estudos. Os autores buscaram verificar a importância do estoque

de capital humano, calculado como a média de anos de estudo, sobre o crescimento da

produtividade. Os resultados obtidos mostraram que o capital humano tem uma impor-

tância moderada no crescimento econômico brasileiro.

Barbosa Filho e Pessôa (2008) mensuraram a taxa interna de retorno da educação,

definindo-a como “a taxa de retorno que iguala o valor presente dos custos de um ano a

mais de educação ao valor presente dos benefícios deste ano adicional de estudo”. O cál-

culo foi realizado para os diferentes graus de escolaridade entre os anos de 1981 e 2004.

O autor utilizou como base de comparação as taxas de retorno de 1960 obtidas por Lan-

goni (1974). A taxa de retorno da pré-escola se manteve acima de 15% entre 1996 e 2004.

A taxa do ensino médio se manteve no mesmo nível entre 1960 e 2004, em torno de 14%.

Por fim, a taxa de retorno do ensino superior cresceu de maneira expressiva, passando de

5% para 14% entre os mesmos anos.

Jacinto (2015) procurou investigar ganhos de produtividade em firmas industriais

brasileiras decorrentes de aumentos no grau de escolaridade de seus trabalhadores. O au-

tor conclui que tanto um aumento na proporção de trabalhadores com ensino médio com-

pleto, quanto ensino superior, apresentam correlação positiva com a produtividade da

firma, independentemente de sua intensidade tecnológica. O ganho de produtividade pelo

aumento da proporção de trabalhadores com ensino superior completo foi maior em mag-

nitude do que pelo aumento da proporção de concluintes do ensino médio. Por fim, os

resultados mostram que, na média, empresas mais diversificadas em termos da escolari-

dade de seus trabalhadores, ou seja, que apresentam desvio padrão maior no grau de es-

colaridade, tem maior produtividade.

Esses dois últimos estudos mostraram uma preocupação com ensino superior, até

então pouco avaliado pela literatura econômica brasileira.

Focando unicamente nos retornos do ensino superior no Brasil, Barbosa et al.

(2014) procuraram avaliar a efetividade do programa REUNI, que promoveu uma interi-

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orização das universidades federais brasileiras. Os resultados mostraram que, nos muni-

cípios pequenos, os efeitos de curto prazo da implantação de novas universidades foram

significativos. Porém, esses efeitos foram consequências do aumento do multiplicador de

gastos e não propriamente de um aumento de produtividade com a absorção do capital

humano ali formado. Por outro lado, em municípios maiores, o aumento do capital hu-

mano foi melhor aproveitado, gerando efeitos de longo prazo relevantes, embora os efei-

tos de curto prazo tenham sido menos significativos. Para chegar a essa conclusão, os

autores utilizaram a teoria de Florax (1992), que separa o impacto da expansão do ensino

superior em efeitos de curto prazo (efeito gasto) e longo prazo (efeito conhecimento).

Menezes-Filho et al. (2016) contribuíram para a literatura econômica brasileira

sobre a educação superior estimando correlações entre o crescimento de concluintes do

ensino superior e a taxa de ocupação, o salário e a renda domiciliar per capita. Os resul-

tados encontrados indicam que a variação no percentual de adultos com ensino superior

completo está associada ao crescimento das três variáveis. Também observaram que, ao

diferenciar os concluintes do ensino superior por área de graduação, as áreas de educação,

saúde e bem-estar e de agricultura e veterinária foram as que se destacaram no cresci-

mento da taxa de ocupação e do salário médio. A área de ciências sociais, negócios e

direito, que concentra o maior número de formados, mostrou influência relevante na taxa

de ocupação, mas não nos salários. A área de serviços apresentou estimativas negativas

para as três variáveis de interesse.

Esse texto utilizará esses estudos para compreender e dar uma melhor interpreta-

ção a aparente falta de correlação entre a produtividade e o nível de escolaridade da po-

pulação à nível municipal no Brasil.

3. Descrição dos Dados e Metodologia

O trabalho utilizou dados provenientes dos Censos Demográficos dos anos de

2000 e 2010 e dados dos mesmo anos das contas regionais, disponibilizados pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Censo Demográfico é realizado aproximadamente a cada dez anos pelo IBGE.

Ele abrange todos os municípios do Brasil e é feito através de uma pesquisa domiciliar,

na qual, além das questões aplicadas a todos os domicílios, se aplica a uma amostra de

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deles um questionário com perguntas sobre condições socioeconômicas dos seus mora-

dores. O Censo Demográfico fornece informações que permitiram calcular as variáveis

relativas à escolaridade, salário, renda e situação de ocupação dos indivíduos. O Censo

está disponível em micro dados. As variáveis calculadas foram agregadas por áreas míni-

mas comparáveis (AMC)2. As primeiras diferenças foram definidas entre 2000 e 2010.

Além disso, o IBGE, em parceria com Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias

Estaduais de Governo e a SUFRAMA, realiza anual e trimestralmente pesquisas regionais

relacionadas à produção de estados e municípios. Eles disponibilizam, por exemplo, valor

adicionado e produto interno bruto total e por atividade econômica de estados e municí-

pios, além de variação de volume, participação de cada atividade e estado na economia

etc. O valor adicionado municipal foi agregado em AMCs e utilizado para construir a

variável de produtividade. Ademais, utilizamos outras variáveis disponibilizadas pelas

contas regionais para elaborar um deflator de valor adicionado adequado. Esses dados

estão disponíveis a nível estadual.

A seguir, apresentaremos algumas estatísticas descritivas das AMCs brasileiras

para as variáveis de interesse, obtidas por meio das bases apresentadas. A Tabela Erro!

Fonte de referência não encontrada. mostra a média do percentual de concluintes por nível

de escolaridade nos anos de 2000 e 2010, além de sua variação.

Tabela 1. Percentual e Variação da Média de Concluintes por

Nível de Escolaridade nas AMCs

Percentual de Concluintes

Nível de Escolaridade 2000 2010 Δ

Fundamental Incompleto 80% 66% -14%

Fundamental 8% 12% 4%

Ensino Médio 10% 16% 7%

Ensino Superior 2% 6% 4%

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria.

Podemos observar que, na média dos municípios, a grande maioria da população

(66%), mesmo em 2010, não completou 8 anos de estudo, equivalente a ter ensino funda-

2 Entre 2000 e 2010, muitos municípios foram criados e outros se juntaram a algum já existente. Por isso,

agregamos os dados em áreas mínimas comparáveis, isto é, unidades geográficas que se mantiveram iguais

ao longo do período de estudo. Utilizamos a correspondência sugerida pelo Data Zoom.

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mental completo. Contudo, é possível observar uma clara evolução do nível de escolari-

dade da população ao longo desses 10 anos. Houve uma diminuição importante (de 14

pontos percentuais) no percentual da população sem qualquer nível de escolaridade. O

percentual de concluintes do ensino médio foi o que mais cresceu, apresentando uma va-

riação de 7 pontos percentuais entre os dois anos. Os concluintes do ensino superior con-

tinuam representado uma parcela pequena da população, embora também tenha ocorrido

um crescimento significativo nessa categoria (de 4 pontos percentuais).

A Tabela 2 mostra as médias municipais de produtividade, salário médio e renda

per capita em 2000 e 2010 e o crescimento percentual nesses dez anos.

Tabela 2. Percentual e Variação da Média da Produtividade,

Salário Médio e Renda per Capita nas AMCs

Médias (R$)

Variáveis 2000 2010 Δ

Produtividade 22020 27202 24%

Salário Médio 736 822 12%

Renda per Capita 339 481 42%

Fonte: Censos Demográficos/IBGE e IBGE/SUFRAMA. Elaboração

própria. Salário e renda deflacionados por INPC para reais de julho de

2010. Produção deflacionada por deflatores estaduais de valor adicio-

nado para reais de 2010.

Podemos notar que, das três variáveis, a renda per capita foi a que teve o maior

salto na média dos municípios, apresentando um crescimento de 42%. A produtividade e

o salário médio também tiveram um aumento expressivo, embora menor do que o da

renda, equivalentes a 24% e 12%, respectivamente.

4. Resultados

Como vimos na Figura 3, a princípio, a correlação entre a variação no percentual

de concluintes do ensino médio e fundamental parece estar negativamente correlacionada

com a variação na produtividade a nível municipal. Ou seja, os municípios que mais cres-

ceram em termos de produtividade, tiveram o menor aumento no percentual de concluin-

tes do ensino médio e fundamental.

Quando fazemos a mesma análise para o salário médio e renda per capita dos

municípios, percebemos que essa correlação também não é claramente positiva como po-

deria ser esperado, especialmente quando consideramos o percentual de concluintes do

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ensino superior. As Figuras 3 e 4 mostram esse resultado para o salário médio e renda per

capita, respectivamente.

Figura 1. Correlação entre a Variação no Salário Médio e a Variação no

Percentual de Concluintes do Ensino Médio e Superior (2000-2010)

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria. Valores deflacionados para julho de 2010. Dis-

persão da variação do salário médio (em Ln) e do percentual de concluintes do ensino médio e superior.

Figura 2. Correlação entre a Variação na Renda per Capita e a Variação no

Percentual de Concluintes do Ensino Médio e Superior (2000-2010)

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria. Valores deflacionados para julho de 2010. Dis-

persão da variação da renda per capita (em Ln) e do percentual de concluintes do ensino médio e superior.

Isso não significa que o aumento do percentual de concluintes do ensino médio e

superior não afetam ou que influenciam negativamente o salário médio e a renda per ca-

pita municipais. Como visto na revisão bibliográfica, já foi consolidado na literatura eco-

nômica que o percentual de concluintes do ensino médio e superior tem efeito positivo

no salário médio agregado, quando o exercício é mais controlado. Ou seja, provavelmente

outras variáveis estão afetando esse resultado.

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Δ % Concluintes do Ensino Superior

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Δ % Concluintes do Ensino Superior

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As Figuras 5, 6 e 7 mostram a relação entre o crescimento da produtividade, do

salário médio e da renda per capita entre 2000 e 2010 e seus níveis iniciais, respectiva-

mente. O objetivo desses gráficos é analisar até que ponto o crescimento dessas variáveis

pode ser explicado pelo seu nível inicial.

Figura 5. Correlação entre a Variação da Produtividade

e a Produtividade Inicial por Região

Fonte: Censos Demográficos/IBGE e IBGE/SUFRAMA. Elaboração própria. Valores deflacionados para

2010. Dispersão da variação da produtividade e do seu nível inicial (ambos em Ln).

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Ln Produtividade em 2000

Nordeste Sudeste Sul Norte Centro-Oeste

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Figura 6. Correlação entre a Variação do Salário Médio

e o Salário Médio Inicial por Região

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria. Valores deflacionados para 2010. Dispersão da

variação do salário médio e do seu nível inicial (ambos em Ln).

Figura 7. Correlação entre a Variação da Renda per Capita

e a Renda per Capita Inicial por Região

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria. Valores deflacionados para 2010. Dispersão da

variação da renda per capita e do seu nível inicial (ambos em Ln).

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Ln Salário Médio em 2000

Nordeste Sudeste Sul Norte Centro-Oeste

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01

0-2

00

0)

Ln Renda per Capita em 2000

Nordeste Sudeste Sul Norte Centro-Oeste

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Como podemos ver, os municípios com menor produtividade, salário médio e

renda per capita iniciais foram aqueles que mais cresceram. Esse efeito deve ser conside-

rado quando analisamos a relação entre essas variáveis e o percentual de concluintes do

ensino médio e fundamental.

Devemos notar, também, que existe um padrão regional nessa relação do cresci-

mento das variáveis em questão e seu nível inicial. Os municípios do Nordeste são os que

apresentaram menores níveis iniciais de produtividade, salário médio e renda per capita,

mas, em média, maiores níveis de crescimento dessas variáveis. Ao Sul e Sudeste, per-

tencem os municípios que apresentaram maiores níveis iniciais das três variáveis, mas

menor taxa de crescimento. Os municípios do Centro-Oeste se concentraram em posições

intermediárias, com crescimento e nível inicial medianos. Além disso, o Sudeste apresen-

tou a maior dispersão em termos de salário médio e renda per capita iniciais e o Sul, a

maior dispersão no crescimento. Os municípios do Norte são bastante dispersos, não se

concentrando em alguma região específica dos gráficos. Por fim, podemos notar que a

produtividade foi a variável que apresentou a maior dispersão tanto em termos de cresci-

mento quanto em seu estado inicial.

Analisando agora a relação entre a variação, de 2000 a 2010, no percentual de

concluintes do ensino médio e do ensino superior e o percentual no ano de 2000, obtemos

as Figuras 8 e 9, respectivamente.

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Figura 8. Correlação entre a Variação do Percentual de Concluintes do

Ensino Médio e o Percentual Inicial por Região

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria.

Figura 9. Correlação entre a Variação do Percentual de Concluintes do

Ensino Superior e o Percentual Inicial por Região

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria.

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Δ%

Co

ncl

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20

10

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00

)

% Concluintes do Ensino Médio em 2000

Nordeste Sudeste Sul Norte Centro-Oeste

-0,01

0,01

0,03

0,05

0,07

0,09

0,11

0,13

0,15

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25Δ%

Co

ncl

uin

tes

do

Ensi

no

Sup

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20

10

-20

00

)

% Concluintes do Ensino Superior em 2000

Nordeste Sudeste Sul Norte Centro-Oeste

Page 16: Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros · Figura 1. Produtividade e Anos de Estudo: Brasil e Coreia Fonte: Barro e Lee (2010); Timmer, Vries e Vries (2014). Elaboração

As Figuras 8 e 9 mostram que os municípios que mais aumentaram o percentual

de concluintes do ensino médio e superior foram os que tinham a maior escolaridade

inicialmente. Isso é especialmente válido para o ensino superior. No ensino médio a cor-

relação, apesar de positiva, é próxima de zero. Também podemos notar que, no caso do

ensino médio, não existem padrões regionais bem definidos e poucos municípios tinham

um percentual de concluintes igual a zero em 2000. No caso do ensino superior, por outro

lado, é possível observar claramente um padrão regional. Ao Nordeste e ao Norte perten-

cem as cidades com o menor nível inicial e crescimento de graduados no ensino superior,

muitas delas, inclusive, com percentual de graduados igual a zero. Em situação interme-

diária se encontra o Centro-Oeste. O Sul e o Sudeste apresentaram os maiores percentuais

iniciais e crescimento dos concluintes do ensino superior.

Essa tendência entre a escolaridade inicial e sua variação é oposta à observada

quando tratamos da produtividade, salário médio e renda per capita. Isso nos ajuda a es-

clarecer alguns fatos. Os municípios mais ricos ou produtivos inicialmente foram os que

menos aumentaram sua produtividade, salário médio ou renda per capita. Além disso, é

consolidado na literatura que municípios mais escolarizados são mais produtivos e têm

maiores salários e renda. Também observamos que as cidades mais escolarizadas inicial-

mente (que, portanto, têm maior renda e produtividade iniciais, além de menor cresci-

mento nesse sentido) foram as que passaram pelo maior crescimento do percentual de

concluintes do ensino médio e, especialmente, do superior. Unindo essas três constata-

ções, chegamos a uma possível explicação para a relação negativa entre o crescimento do

percentual de concluintes do ensino superior e da produtividade, do salário médio e da

renda per capita. Devemos notar ainda que isso não significa que o ensino superior afeta

essas variáveis de maneira negativa. Na verdade, outras variáveis estão interferindo nesse

resultado.

Levando o que foi exposto em consideração, é interessante observarmos o que

acontece com a relação entre o crescimento da produtividade e do nível de escolaridade

quando consideramos a produtividade inicial constante. A Figura 10 mostra que a corre-

lação com o ensino superior se torna sensivelmente positiva e, no caso do ensino médio,

fica próxima de zero.

Page 17: Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros · Figura 1. Produtividade e Anos de Estudo: Brasil e Coreia Fonte: Barro e Lee (2010); Timmer, Vries e Vries (2014). Elaboração

Figura 10. Correlação entre a Variação da Produtividade e do Percentual

de Concluintes do Ensino Médio: Produtividade Inicial Constante

Fonte: Censos Demográficos/IBGE e IBGE/SUFRAMA. Elaboração própria. Valores deflacionados para

2010. Dispersão dos resíduos da regressão da variação da produtividade no seu nível inicial (ambos em

Ln), e dos resíduos da regressão da variação dos concluintes no ensino médio e superior no nível inicial da

produtividade (em Ln).

No caso do salário médio e renda per capita, desconsiderando o efeito de seus

níveis iniciais, o crescimento dessas variáveis tem uma correlação significativamente po-

sitiva, especialmente em relação ao percentual de concluintes do ensino superior. As Fi-

guras 11 e 12 mostram os resultados para o salário médio e renda per capita, respectiva-

mente, que são bastante semelhantes.

Figura 11. Correlação entre a Variação do Salário Médio e do Percentual

de Concluintes do Ensino Médio e Superior: Salário Médio Inicial Constante

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria. Valores deflacionados para julho de 2010. Dis-

persão dos resíduos da regressão da variação do salário médio no seu nível inicial (ambos em Ln), e dos

resíduos da regressão da variação dos concluintes no ensino médio e superior no nível inicial do salário

médio (em Ln).

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

-0,15 -0,1 -0,05 0 0,05 0,1 0,15

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Resíduos Δ % Concluintes do Ensino Médio

-1,5

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-0,15 -0,1 -0,05 0 0,05 0,1 0,15

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os

Δ L

n P

rod

uti

vid

ade

Resíduos Δ % Concluintes do Ensino Superior

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

-0,15 -0,1 -0,05 0 0,05 0,1 0,15

Res

ídu

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Δ L

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édio

Resíduos Δ % Concluintes do Ensino Médio

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

-0,15 -0,1 -0,05 0 0,05 0,1 0,15

Res

ídu

os

Δ L

n S

alár

io M

édio

Resíduos Δ % Concluintes do Ensino Superior

Page 18: Produtividade e Educação nos Municípios Brasileiros · Figura 1. Produtividade e Anos de Estudo: Brasil e Coreia Fonte: Barro e Lee (2010); Timmer, Vries e Vries (2014). Elaboração

Figura 12. Correlação entre a Variação da Renda per Capita e do Percentual

de Concluintes do Ensino Médio e Superior: Renda per Capita Inicial Constante

Fonte: Censos Demográficos/IBGE. Elaboração própria. Valores deflacionados para julho de 2010. Dis-

persão dos resíduos da regressão da variação da renda per capita no seu nível inicial (ambos em Ln), e dos

resíduos da regressão da variação dos concluintes no ensino médio e superior no nível inicial da renda per

capita (em Ln).

Essas três últimas figuras indicam que o controle pelo nível inicial de produtivi-

dade, salário médio e renda per capita tem grande importância, principalmente, quando

consideramos o efeito da variação no percentual de concluintes do ensino superior sobre

o crescimento dessas variáveis.

5. Conclusão

Esse estudo teve como objetivo investigar o descompasso entre o crescimento do

nível de escolaridade e da produtividade no Brasil. Para isso, analisamos a correlação da

variação no percentual de concluintes do ensino médio e superior com o crescimento da

produtividade, salário médio e renda per capita para áreas mínimas comparáveis brasilei-

ras.

Os resultados obtidos mostram que, quando consideramos apenas a correlação

simples, o crescimento da produtividade está negativamente correlacionado com o cres-

cimento do percentual de concluintes dos dois níveis de escolaridade em questão. Nesse

caso, a educação afetaria negativamente a produtividade. Analisando o salário médio e a

renda per capita, a correlação simples é positiva para o ensino médio e negativa para o

superior.

Contudo, percebemos que o crescimento dessas três variáveis se altera de forma

significativa dependendo do seu nível inicial. Os municípios mais pobres ou menos pro-

dutivos inicialmente foram os que tiveram o maior aumento de produtividade, salário

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

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-1,5

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Resíduos Δ % Concluintes do Ensino Superior

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médio e renda per capita. Também vimos que os municípios mais escolarizados foram

aqueles que tiveram o maior crescimento no percentual de concluintes do ensino médio

e, especialmente, do superior. Como os municípios mais ricos ou produtivos são aqueles

cujo percentual de concluintes do ensino médio e superior são mais altos e como o nível

de escolaridade cresce mais nesses municípios, então o nível inicial do salário médio,

renda per capita e produtividade interferem nas relações em análise.

Assim, considerando constante o nível inicial da produtividade, do salário médio

e da renda per capita, de forma a controlar os seus efeitos sobre os resultados, as correla-

ções se mostraram mais favoráveis, tornando-se positivas para o crescimento dessas três

variáveis e os dois níveis de escolaridade. A única que se manteve muito próxima de zero

foi a correlação entre o crescimento do percentual de concluintes do ensino médio e o

crescimento da produtividade. Possivelmente, adicionando outros controles, poderia se

obter uma relação significativamente positiva.

Portanto, conclui-se que o nível de educação se correlaciona positivamente com a

produtividade. Dessa forma, a ausência de correlação entre as variáveis de educação e

produtividade no nível agregado e no longo prazo (mostrada na Figura 1) pode estar re-

lacionada a outros fatores.

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