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Transinformação, Campinas, 17(2):123-151, maio/ago., 2005 1 Artigo elaborado a partir da dissertação de M.F. LOUREIRO, intitulada “O bibliotecário como profissional da informação: análise da inserção no mercado de trabalho brasileiro segundo o Censo Demográfico de 2000”. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2004. 131p. 2 Bibliotecária, Mestre em Ciência da Informação, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Rua Armando Sebastião Bonomi, 295, Barão Geraldo, 13084-170, Campinas, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: M.F. LOUREIRO. E-mail: <[email protected]>. 3 Doutor em Demografia, Docente, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Pontifícia Universidade Católica de Campinas e da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rua Gal, Canabarro, 706, 2º andar, Maracanã, 20271-201, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: <[email protected]>. Recebido em 31/1/2005 e aceito para publicação em 18/05/2005. ARTIGO Profissional da informação: um conceito em construção 1 The information professional: a concept under construction Mônica de Fátima LOUREIRO 2 Paulo de Martino JANNUZZI 3 R E S U M O Para discutir o conceito de Profissional da Informação estudou-se o histórico das profissões ligadas ao tratamento da informação, com ênfase dada ao bibliotecário. Abordou-se ainda a relação entre as áreas da Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação e Museologia. Finalmente, compilaram-se alguns trabalhos cujo tema e objeto de estudo era o profissional da informação, visando verificar se há consenso quanto ao conceito de Profissional da Informação, na literatura de Ciência da Informação. Concluiu- -se não existir consenso em relação a um conceito que defina quem é o Profissional da Informação. Evidenciou-se, portanto, que esse tema merece mais estudos, tanto para manter a integridade da categoria profissional, como para assegurar o reconhecimento da sua atuação profissional por parte da sociedade. Palavras-chave: profissional da informação, bibliotecário, atuação profissional. A B S T R A C T To discuss the concept of “Information Professional”, a study was performed, focusing on the history of professions related to the processing of information,

Profissional da informação: um conceito em construção · PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO: UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO Transinformação, Campinas, 17(2):123-151, maio/ago., 2005

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PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO: UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO

Transinformação, Campinas, 17(2):123-151, maio/ago., 2005

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11111 Artigo elaborado a partir da dissertação de M.F. LOUREIRO, intitulada “O bibliotecário como profissional da informação:análise da inserção no mercado de trabalho brasileiro segundo o Censo Demográfico de 2000”. Pontifícia UniversidadeCatólica de Campinas, 2004. 131p.

22222 Bibliotecária, Mestre em Ciência da Informação, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Rua Armando SebastiãoBonomi, 295, Barão Geraldo, 13084-170, Campinas, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: M.F. LOUREIRO.E-mail: <[email protected]>.

33333 Doutor em Demografia, Docente, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Pontifícia Universidade Católicade Campinas e da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rua Gal, Canabarro,706, 2º andar, Maracanã, 20271-201, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: <[email protected]>.Recebido em 31/1/2005 e aceito para publicação em 18/05/2005.

ARTIGO

Profissional da informação: umconceito em construção1

The information professional: a concept under construction

Mônica de Fátima LOUREIRO2

Paulo de Martino JANNUZZI3

R E S U M O

Para discutir o conceito de Profissional da Informação estudou-se o históricodas profissões ligadas ao tratamento da informação, com ênfase dada aobibliotecário. Abordou-se ainda a relação entre as áreas da Arquivologia,Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação e Museologia.Finalmente, compilaram-se alguns trabalhos cujo tema e objeto de estudo erao profissional da informação, visando verificar se há consenso quanto ao conceitode Profissional da Informação, na literatura de Ciência da Informação. Concluiu--se não existir consenso em relação a um conceito que defina quem é oProfissional da Informação. Evidenciou-se, portanto, que esse tema merecemais estudos, tanto para manter a integridade da categoria profissional, comopara assegurar o reconhecimento da sua atuação profissional por parte dasociedade.

Palavras-chave: profissional da informação, bibliotecário, atuação profissional.

A B S T R A C T

To discuss the concept of “Information Professional”, a study was performed,focusing on the history of professions related to the processing of information,

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with emphasis on the librarian functions. The study’s approach included ananalysis of the relationships among such areas as Archivology, Librarianship,Information Science, Documentation and Museology. Finally, to verify whetherthe concept of Information Professional had, or not, a consensus in the literatureabout Information Science, a compilation was made, of selected works whoseobject of study was the Information Professional. The conclusion was that thereis no consensus on such concept, and that this subject deserves more studies,as much to preserve the integrity of the professional category, as to assure therecognition of its function by the society.

Key words: information professional, librarian, professional working field.

I N T R O D U Ç Ã O

Na literatura da Ciência da Informação, écada vez mais comum o uso de termos como‘profissional’ ou ‘profissionais da informação’,para designar os trabalhadores que têm a

informação como seu principal objeto de trabalho

(MARCHIORI, 1996; ALMEIDA JR., 2000;

GUIMARÃES, 2000; PEREIRA, 2000; PONJUÁNDANTE, 2000; SMIT, 2000; VALENTIM, 2000;

DAMASIO, 2001; JANNUZZI; MATTOS, 2001;

PEGORARO, 2001; FERREIRA, 2002; NEVES,

2002; RODRIGUES, 2002; TARAPANOFF et al.,

2002; CUNHA; CRIVELLARI, 2004; MUELLER,2004). Em cada estudo, tais termos adquirem

contornos específicos, referindo-se tanto à

categoria particular de Bibliotecários, como a

toda a gama de profissionais de diferentes áreas

de formação, tais como Analistas de Sistemas,Administradores de Sistemas, Analistas deMercado, Consultores Organizacionais, Jorna-listas, enfim, profissionais ligados de algumaforma à cadeia de processamento da informa-ção - seja na produção, no tratamento, na análise

ou na disseminação.

Se tal elasticidade conceitual propor-

ciona, por um lado, um campo propício de

pesquisa na área, por outro, retira-lhe a especifi-cidade necessária para poder-se enfocar ques-

tões importantes acerca da inserção e atividades

no mercado de trabalho, dos profissionais

egressos de cursos de Biblioteconomia e Ciência

da Informação.

Nesse sentido, este trabalho procuracontribuir para os estudos na área, ao fazer umacompilação de textos que, além de resgatar oprocesso histórico de criação e desenvolvimentoda ocupação de Bibliotecário, discutem seupapel e os desafios de sua inserção profissionalno mundo do trabalho contemporâneo.

O registro da informação como geradorda função de organizador

O homem, como ser inteligente e social,procurou registrar suas experiências desde ostempos mais remotos. É de conhecimentocomum que as primeiras manifestações deinscrição de informações encontram-se emparedes de cavernas, onde os primitivos desenha-vam imagens, hoje interpretadas como ligadasàs atividades do seu cotidiano, tais como a caça,a pesca e a coleta de alimentos.

Com o passar do tempo, a humanidadese desenvolveu, ocorreram várias descobertas einventos e, assim, com novos recursos, o homempassou a registrar e a controlar cada vez maisos aspectos de sua vida, como a contagem deanimais que possuía, suas propriedades, formasde renda, etc. (GEORGE JÚNIOR, 1972). Dessasatividades de controle resultaram documentos.

Além desses documentos de controle, ohomem desenvolveu documentos ligados àcriação artística e às crenças religiosas,ademais daqueles que registravam os resultadosde suas pesquisas e estudos científicos. Os

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materiais criados ao longo dos séculos - entreeles destacando-se os livros, jornais, periódicos,quadros, esculturas, objetos, documentos decontrole, fotografias -, precisaram ser organi-zados e guardados. A relação do homem comesses vários tipos de materiais, ajuda-o a obteras informações necessárias ao seu trabalho eàs diversas atividades do seu dia-a-dia,constituindo-se, ainda, em formas de entrete-nimento (no caso da literatura e das demaisartes).

Nesse contexto surge a figura da pessoaque guarda, organiza, que cuida da classificaçãodesses materiais e de sua recuperação. Emrelação à cultura, percebe-se que é forte o vínculoentre esta e o profissional que trabalha com ainformação. Assim, a função do organizador dainformação registrada remonta ao aparecimentodos primeiros documentos, os quais tinham comosuporte as tábuas de argila. Kobashi (1996),estudando as várias formas de representação dainformação, ao longo da história, comenta queatividades para organização e representação deinformações eram praticadas desde o segundomilênio a.C. Destaca ainda que os documentosmesopotâmicos da época das cidades-Estadojá apresentavam uma forma de tratamentodocumentário: “as obras cunhadas em tábuasde argila eram protegidas por uma espécie deenvelopes, sobre os quais se transcreviaminformações que cumpriam função semelhanteà dos modernos resumos (fornecer informaçãoconcisa sobre o documento original).”(KOBASHI, 1996, p.5).

Tempos depois, foram criados os manus-critos, que tiveram como suporte o papiro e opergaminho, e depois evoluíram para o livro emrolo (volumen) e o livro em cadernos (codex)(CHARTIER, 1994), além de materiais tridimen-sionais, mapas e, nos dias atuais, os documen-tos eletrônicos.

Com o crescimento da produção deinformações registradas, foi preciso que asformas de organização também se desenvol-

vessem, visando dar conta de uma quantidadecada vez maior de informações, registradas nosmais variados suportes. Surgiram também asinstituições criadas com o objetivo de armazenare organizar informações para sua posteriorrecuperação e uso, destacando-se entre elas asbibliotecas.

Recorre-se a McGarry (1999, p.111) paraconfirmar que “as bibliotecas, em seu sentidomais amplo, existem há quase tanto tempoquanto os próprios registros escritos”. A criaçãodessas instituições está ligada ao instinto depreservação do homem e à sua paixão porcolecionar, pois “qualquer que seja a sua formaexterna, a essência de uma biblioteca é umacoleção de materiais organizados para uso.”(McGARRY, 1999, p.111, grifos do autor). Nessesentido, Oliveira (1983) considera que a orga-nização de documentos passou de um comporta-mento individual para uma necessidade dasociedade.

Entre as mais antigas instituições mere-cem destaque: a biblioteca do templo de Ramsés,em Tebas, que possuía um grande acervo, mas,com acesso restrito à casta sacerdotal deescribas e autoridades; as bibliotecas da Assíriae da Babilônia, que tinham caráter governamentale forneciam informações visando estabelecer aordem (McGARRY, 1999); a biblioteca dePérgamo, fundada por Átalo I e legada aosromanos por Átalo III em 133 a.C., abrigou cercade 200 mil pergaminhos no século I a.C., e suacoleção de obras somente era inferior à dabiblioteca de Alexandria (NOVA..., 1999). Nestamesma biblioteca ocorreu a introdução doconceito de autor como ponto de acesso a umaobra (MEY, 1995); a biblioteca de Nínive, na

Mesopotâmia, que possuía perto de 20 mil obrasdos mais variados assuntos, como magia,

religião, história e astrologia, além de catálogos

de plantas e animais gravados em placas de

argila (MELLO, 1979); e, por último, talvez uma

das mais comentadas bibliotecas em todo o

mundo: a de Alexandria.

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Devido ao seu tamanho e aos desastresque se abateram sobre ela até a sua destruiçãofinal, por volta de 640 d.C., a biblioteca deAlexandria conquistou reconhecimento e fama.Ela foi fundada pelos governantes gregos doEgito, da dinastia dos Ptolomeus (McGARRY,1999). O sonho dos bibliotecários dessa insti-tuição era reunir em seu acervo a totalidade daliteratura existente, ou segundo Cânfora (1996,p.24), “recolher em Alexandria os livros de todosos povos da terra.”

Os exemplares eram arrumados emordem sistemática. Os bibliotecários tinham apreocupação de manter as coleções completase restaurar as obras defeituosas. Destacam-seainda, nessa instituição, os primeiros passosdados para o estabelecimento de uma políticade formação de acervos, através de negociaçõescom autores, comerciantes, colecionadores,além da prática de copiar os livros que estivessemsendo transportados nos navios que aportavamem Alexandria (McGARRY, 1999). Essa práticaficou conhecida como “o fundo dos navios”(CÂNFORA, 1996; BATTLES, 2003). Mello(1979) narra outro fato interessante em relaçãoa essa biblioteca: segundo esse autor, Ptolomeupedia emprestado aos gregos obras para seremcopiadas e devolvia-lhes as cópias, ficando emAlexandria as originais.

No auge de seu desenvolvimento, abiblioteca de Alexandria chegou a possuir pertode meio milhão de rolos de papiros; McGarry(1999, p.112) comenta que essa instituiçãoconseguiu constituir-se em uma “combinação decentro de pesquisas, editora, instituto de estudoslingüísticos, museu e repositório cultural.”

Por um longo período, a imagem dosprofissionais que exerciam a função de bibliote-cários, ligados à organização e representaçãode informações registradas, era a de eruditos daépoca. Shera (1980, p.93) ressalta que, desde otempo de Ptolomeu, “o bibliófilo dominou a

profissão até o início do século XIX”, tendo conhe-cimentos em variadas áreas, como demonstraFonseca (1992, p.104):

Calímaco de Cirene (c. 305 a.C.-c. 240),um dos mais representativos poetasda erudita e sofisticada escola de

Alexandria, foi quem organizou ocatálogo da biblioteca; Zenódoto deÉfeso (fl. c. 280 a.C.), notável gramático,

responsável pela primeira ediçãocrítica de Homero e pela Teogonia deHesíodo, foi diretor da biblioteca;

Aristófanes de Bizâncio (c. 257-180a.C.), organizou edições de Homero,Hesíodo, Píndaro, Eurípides, Aristó-

fanes, Anacreonte, foi bibliotecário--chefe em cerca de 195 a.C.; Aristarcode Samotrácia (c. 217-147 a.C.), discí-

pulo do precedente, com ele colaborouna edição de autores gregos, tendosido bibliotecário-chefe em 153.

Nessa época, uma obra poderia seconstituir de vários rolos de papiro4, acarretandodificuldades para sua consulta. Assim, para asobras muito extensas, os profissionais resumiamo conteúdo dos rolos, anotavam em pequenasetiquetas de pergaminho e afixavam-nas nosrolos para facilitar a identificação nas prateleirasda biblioteca (SMIT, 1996).

De acordo com Mello (1979), a primeiraintenção de criação de uma biblioteca de acesso

público apareceu com Júlio César, sendoconcretizada tempos depois com o orador Asino

Pólio, em 39 a.C., que a estabeleceu no átrio do

templo romano da Liberdade. Ainda em Roma,

merecem destaque às bibliotecas de Ulpiano,

fundada por Trajano, e a Palatina, ambas do

século IV.

A partir das informações referentes às

bibliotecas antigas podem-se ressaltar as

primeiras atividades desenvolvidas pelos organi-

zadores da informação: serviços de aquisição

44444 Por exemplo, a obra Pinakes, de Calímaco, ocupava 120 rolos e tratava-se de uma bibliografia crítica que catalogava toda avasta coleção de literatura grega guardada em Alexandria (SMIT, 1996; BATTLES, 2003).

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de materiais, restauração de obras, disposiçãoorganizada de documentos nas estantes,indexação - como “processo de condensaçãode conteúdos de textos.” (KOBASHI, 1996,p.11) - de materiais para sua recuperação.

Vale destacar o comentário de Mello(1979) sobre os povos antigos, como os assíriose os egípcios, para os quais os conceitos debiblioteca e de arquivo se confundiam. O autorressalta que a maioria das bibliotecas daAntigüidade tinha o acesso restrito, não tendopor finalidade o uso público; em relação a esselimitado acesso de usuários, destaca-se o fatode que, naquele período, as habilidades deleitura e de escrita estavam restritas a umaparcela muito pequena da população.

Na Idade Média, período em que a religiãoera dominante, existiam os scriptoriamonásticos, onde a atividade mais freqüente eraa cópia de textos. Smit (1996) ressalta mais umainiciativa dos monges copistas, visando àrepresentação de informações: os copistas, aotranscrever os manuscritos, freqüentemente,anotavam na margem uma informação queresumia o conteúdo da página: a marginália.

Mello (1979, p.209) comenta que, nesseperíodo, devido ao poder político da Inquisição,obras consideradas pagãs e perigosas,principalmente as da Antigüidade, eramincineradas, e a biblioteca tinha caráter sagrado,sendo “um tesouro de um mosteiro”. Fonseca(1979) acrescenta que os acervos das bibliotecasmedievais formavam-se a partir de uma misturade textos litúrgicos e teológicos, obras didáticaspara o ensino de latim e, em alguns casos, obrasclássicas.

No século VIII foi criada uma das primeiraslistas de obras de bibliotecas medievais,provavelmente um inventário do acervo, contendoapenas título e, por vezes, nome do autor, massem ordem visível (talvez a ordem das estantes).No ano de 1247, houve um curioso acréscimofeito ao registro dos livros na lista da bibliotecade Glastonbury, na Inglaterra: “inúteis”, “legíveis”,

“velhos” e “bons”, provavelmente se reportandoàs condições do livro (MEY, 1995).

Mey (1995) observa que no século XVsurgem, pela primeira vez, as remissivas - regis-tros que remetem a outros registros ou obras -,ainda que de forma primitiva, no catálogocompilado por Amplonius Ratnick de Berka, entre1410 e 1412. No final desse século há um avançoimportante: Johann Tritheim, bibliógrafo ebibliotecário alemão, compila uma bibliografia,apresentada em ordem cronológica e incluindo,pela primeira vez, em apêndice, um índicealfabético de autores. De acordo com Mello(1979, p.212), já no século XV, as bibliotecasvão deixando de ser apenas um “depósito delivros” para se transformarem em instituiçõesmodelares, que possuíam regulamentosdisciplinares para seu uso.

Ainda na Idade Média se desenvolvem asbibliotecas universitárias, como a de Coimbra,em 1536; as nacionais, como a de Paris, em1595; e as públicas, como as de Viena,Mogúncia, Lyon, Berna e outras (BOTTENTUIT;CASTRO, 2000). O estudo de Burke (2003, p.44)sobre história social do conhecimento, confirmaque, juntamente com o aparecimento dasuniversidades, outras instituições começarama ser fundadas - muitas vezes dentro delaspróprias -, como “jardins botânicos, anfiteatrosde anatomia, laboratórios e observatórios”, asquais, segundo Burke, podiam ser consideradas“ilhas de inovação dentro de estruturas maistradicionais”.

As universidades, a imprensa e anecessidade da organização dos acervos

Com a criação das primeiras universi-dades instauram-se alguns problemas: a) anecessidade de livros para milhares deestudantes: o processo de cópia manuscrita deobras, por ser muito lento, não poderia dar contada demanda; b) o acesso aos materiais: tantonas instituições monásticas, como nas

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acadêmicas, o acervo era dividido em duas partes- os livros mais consultados eram acorrentadosna biblioteca principal, e os disponíveis paraempréstimo eram guardados numa sala separada(McGARRY, 1999). Fazia-se necessária, portan-to, a adoção de novas maneiras de disponibilizaras informações aos usuários.

Entende-se que, com a criação dasuniversidades, e, em conseqüência, das bibliote-cas universitárias, os usuários passaram a ficarcada vez mais exigentes quanto à organizaçãoe disponibilidade dos conhecimentos registrados.

A partir do desenvolvimento da imprensade tipos móveis, em meados do século XV, porGutenberg (1397-1468), acentuou-se o aumentodo número de publicações. Instituiu-se o pro-cesso editorial e as publicações tornaram-seprodutos industriais, obedecendo às normastécnicas da época (FONSECA, 1992). A invençãoda imprensa aparece como um marco, segundoBurke (2003, p.127), pois, a partir dela, osdocumentos manuscritos foram separados dosimpressos e organizados como um tipo particular,ocupando uma parte especial das bibliotecas ou,em alguns casos, um prédio próprio. Apesar deexistirem obras científicas em formato manus-crito, de períodos anteriores (que ficaram nasbibliotecas), grande parte desses documentoscontinha informações do Estado, da Igreja ou depropriedades particulares (o que anteriormentechamou-se de documentos de controle, oudocumentos administrativos). Essas coleções dedocumentos passaram a constituir o acervo dosarquivos, sendo os arquivistas os “guardiãesespeciais” desses materiais. Entretanto, existemregistros que confirmam a atuação debibliotecários nos primeiros arquivos, destacando--se os da Igreja em geral (dioceses, por exemplo)e do Vaticano.

Burke (2003, p.56) acrescenta que, apósa invenção da imprensa, as bibliotecas, demaneira geral, aumentaram em importância epassaram a ser “centros de estudos, locais desociabilidade culta e de troca de informações e

idéias, além de serem lugares de leitura”, e que,nesse momento, a exigência de silêncio nasbibliotecas era inimaginável, pois as mesmas seconstituíam como locais para a discussão:

portanto, servindo a uma combinação entre a

comunicação oral e a impressa.

Ressalta-se a visão do clérigo escocêsJohn Durie segundo a qual, os bibliotecáriosdeveriam ser “agentes para o progresso do saberuniversal.” (WEBSTER citado por BURKE, 2003,p.56). O mesmo clérigo foi autor de um curto

tratado sobre a função de bibliotecário, em que

argumenta que “um bibliotecário de universidade

deveria ser obrigado a ´prestar contas´ anuais

de seu ´lucro no ofício´, em outras palavras, oaumento das aquisições, descritas como o

´acervo de conhecimento´.” (WEBSTER citado

por BURKE, 2003, p.105).

Os anos de 1560 e 1595 são marcos do

surgimento dos primeiros códigos de catalo-gação, pelas iniciativas de Trefler e Maunsell:

Florian Trefler, monge beneditino, publicou um

tratado sobre a manutenção de uma biblioteca,

desenvolvendo, também, um sistema de classifi-

cação. O livreiro inglês Andrew Maunsell

compilou um catálogo dos livros inglesesimpressos, determinando, no prefácio, as regras

para o registro das obras. Maunsell preconizou

a entrada dos nomes pessoais pelo sobrenome

e, para obras anônimas, usou o título ou assunto

e às vezes ambos. Estabeleceu a entrada unifor-

me para a Bíblia e defendeu a idéia de que umlivro devia ser encontrado tanto pelo sobrenome

do autor, como pelo assunto e pelo tradutor.

Incluiu em seus registros o tradutor, impressor

ou pessoa para quem o livro foi impresso, data e

número do volume (MEY, 1995). Segundo Burke

(2003, p.88), o catálogo da Bodleian Library, emOxford, “publicado em 1605, separava os livros

em quatro grupos principais - artes, teologia,

direito e medicina - com um índice geral deautores e índices especiais de comentadores deAristóteles e da Bíblia”.

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Vale destacar ainda o nome do médico

Gabriel Naudé (1600-1653), considerado o

primeiro teórico da moderna organização de

bibliotecas; Naudé organizou a mais antigabiblioteca pública de Paris, a biblioteca do cardeal

Mazarin, hoje a Bibliothèque Mazarine, aberta

ao público em 1643, e que, dez anos depois,

possuía cerca de 40 mil volumes (NOVA..., 1999).

Fonseca (1979) aponta a obra de Naudé, Advis

pour dresser une bibliothèque, publicada em1627, como o primeiro livro de biblioteconomia,

o qual foi traduzido para vários idiomas e

influenciou o contexto da época.

Ainda em relação ao século XVII, Burke

(2003, p.44) destaca a formação de “gabinetesde curiosidades”, montados nas casas de filóso-

fos e estudiosos da época, e contendo materiais

variados como “pedras, conchas ou animais

exóticos (crocodilos, por exemplo)”, entre outros

materiais. Tais “gabinetes” podem ser conside-

rados uma primeira forma do que veio a constituiros museus modernos. Segundo Burke, o

entendimento dos estudiosos e pesquisadores

dos dias atuais, em relação às pinturas e regis-

tros gráficos desse período, coloca os museus

como instituições que tinham o objetivo principal

de “dar aos espectadores uma impressão nãosó de abundância mas de heterogeneidade”

(BURKE, 2003, p.100), pois muitos desses

gabinetes continham, muitas vezes lado a lado,

[...] peixe empalhado pendurado no teto

(junto com um pequeno urso), egalhadas de veado exibidos na paredejunto com chifres de beber. O catálogo

revela um conjunto ainda mais amplode objetos, incluindo uma múmia

egípcia, um antigo broche romano,

dinheiro de Java, manuscritos da

Etiópia e do Japão e cachimbos do

Brasil, além de muitas antigüidades

nórdicas - lanças da Groenlândia, umarco da Lapônia, esquis da Finlândia

e um antigo escudo da Noruega.(BURKE, 2003, p.100).

Mesmo mesclando os mais variados tiposde objetos, Burke (2003, p.100) considera queexistia, na forma de disposição dos materiais,um desejo de classificar, como demonstramas pesquisas sobre o museu de Ole Worm(1588-1654), polimata dinamarquês (BURKE,2003, p.241), que incluía os materiais em caixasrotuladas como “Metal”, “Pedra”, “Madeira”,“Conchas”, “Ervas”, “Raízes”, entre outras.

Coleções de materiais como a de Worm,foram organizadas e publicadas como livros (oschamados “museus em papel”) nesse mesmoperíodo, pois se entendia que o museu era um“microcosmo, um universo em miniatura”(BURKE, 2003, p.102) e, a partir dele, as pessoaspoderiam se instruir e entender aspectos da vidaem diferentes partes do mundo. As moedas, porexemplo, poderiam ser organizadas segundovárias categorias, como de imperadores, deprovíncias, de deuses, de virtudes, de guerras,de jogos, etc., ou simplesmente em ordemcronológica. Outro ponto destacado pelo autorem relação à criação dos museus é o apareci-mento de uma diversidade de materiais provindosdos novos continentes, muitas vezes diferentesdaqueles materiais aos que os europeus estavamacostumados (BURKE, 2003). Essa idéia denovos horizontes, de diversidade e de cresci-mento, indubitavelmente se refletia na vida culturaldas pessoas.

A partir de 1609, de acordo com Burke(2003), governos de países como a Inglaterra, aEspanha e a França, começaram a atribuir no-meações oficiais aos profissionais organiza-dores, que eram chamados de arquivistas oucuradores de documentos. Muitos dessesprofissionais eram estudiosos e eruditos quedesempenhavam, primeiramente em tempoparcial e depois, em tempo integral, atividadesde guarda, organização e indexação dedocumentos.

Burke comenta que a criação dos arqui-vos, inicialmente, não teve o caráter de servir àpesquisa e aos pesquisadores (embora mais

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tarde esses documentos tenham sido muitoutilizados para esse fim), mas para facilitar aadministração dos reis e dos governantes e que“o princípio do acesso público aos arquivos sófoi proclamado com a Revolução Francesa”(BURKE, 2003, p.129).

O século XVIII é marcado pelo cresci-mento substancial das bibliotecas na Europa,gerado pelo desenvolvimento da pesquisacientífica e atividades de estudo. Um aconte-cimento que merece destaque ocorreu durantea Revolução Francesa, quando as bibliotecas dosnobres foram confiscadas e transformadas embibliotecas de uso público, levando assim ogoverno da Revolução a estabelecer, em 1791,normas para sua organização, dando origem aoprimeiro código nacional de catalogação. Datadesse período, o uso de catálogos em fichas(MEY, 1995).

Martins (1996, p.323) considera que, doséculo XVI até o XVIII, as bibliotecas sofreramum processo gradativo de mudança, caracte-rizado por quatro fatores principais: “1) a laiciza-ção; 2) democratização; 3) especialização; 4)socialização”. A laicização é a libertação dapressão religiosa, caracterizada pelo acessolimitado, tanto em relação aos prédios das bi-bliotecas quanto aos seus materiais de consulta(livros, periódicos ou quaisquer outros documen-tos); os livros, especialmente, perdem o caráterde objetos sagrados e secretos, e passam a servistos como instrumentos de trabalho.

Em relação à democratização, essasinstituições vêm a adotar uma postura, emrelação a todos os usuários, no sentido de quehouvesse uma “ascensão do homem comum aosprivilégios que antes estavam reservadosapenas a uma minoria.” (MARTINS, 1996,p.324). A democratização levou à especialização,pois as necessidades das pessoas foram setornando cada vez mais variadas, sendoimpossível uma instituição conseguir abarcar, emseu acervo, todos os assuntos. Primeiro,surgiram as coleções especializadas; mais

tarde, constituíram-se as bibliotecas especializa-das; uma primeira divisão estabelecida foi entreas bibliotecas de conservação (como as de obrasraras) e as de consumo, que se prestavam aouso coletivo, centrando-se nas necessidadesmais simples de informação (como as públicas).Em seguida, aparecem as bibliotecasuniversitárias, militares, industriais, escolares,médicas, e as jurídicas, entre tantas outras.

A socialização é o último fator destacado,e refere-se à preocupação das instituições ematrair um número cada vez maior de usuários,buscando satisfazer seus desejos e necessi-dades informacionais (MARTINS, 1996).

Importantes avanços aconteceram noséculo XIX, com a criação da ClassificaçãoDecimal de Dewey (CDD), criada por MelvilDewey, bibliotecário norte-americano, em 1876.Este é um sistema de classificação decimal paracatalogar livros e documentos, que passou a seradotado por inúmeras bibliotecas em todo omundo (NOVA..., 1999). Ainda no mesmo ano,Charles Ami Cutter publicou suas Rules for adictionary catalogue (Regras para um catálogodicionário) com um esquema de classificação euma tabela representativa de sobrenomes, quesão utilizados até os dias atuais (MEY, 1995).

Em 1895, o advogado belga Paul Otletfundou o Instituto Internacional de Bibliografia,juntamente com Henri-Marie La Fontaine. Juntosdesenvolveram, no final do século XIX, aClassificação Decimal Universal (CDU), umtratado para organização e indexação de acervos(FONSECA, 1992; NOVA..., 1999).

Ainda no século XIX, marcado pela revolu-ção industrial e pelo desenvolvimento tecnoló-gico, constata-se um vertiginoso aumento naprodução editorial. Começam a aparecer publica-ções sistemáticas, como os primeiros índicescumulativos. Neste período, nasceu a idéia defazer-se um Controle Bibliográfico Universal(CBU) e o Instituto Internacional de Bibliografiase propôs a fazer um registro (uma “ficha”) paracada obra publicada, de forma a viabilizar o CBU.

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Porém, logo verificou-se que o CBU não era umprojeto possível, e sim, um sonho grande demais.

García Gutiérrez (1999) entende a iniciati-va do CBU como um marco histórico que impôsa existência de uma área preocupada emestabelecer a organização de todo o repertóriobibliográfico do mundo. Mesmo não tendocontinuidade, a partir daí tomou-se consciênciade que a descrição dos documentos, feita comuniformidade e consistência, era importante enão se podia mais trabalhar de forma individuali-zada, pois almejava-se a troca ampla de informa-ções (SMIT, 1996).

Como alternativa para o controle bibliográ-fico, porém de maneira mais restrita, aparece odepósito legal, uma lei que obriga os editores adepositarem um exemplar de cada publicaçãonas bibliotecas designadas como depositárias(McGARRY, 1999). No Brasil, a BibliotecaNacional, no Rio de Janeiro, ficou responsávelpelo depósito legal e controle da produçãobibliográfica nacional. Segundo Martins (1996),que em sua obra transcreve a lei do depósitolegal brasileira, de 20 de dezembro de 1907, ficamobrigadas as editoras a depositarem não sólivros, mas periódicos, folhetos, jornais, obrasmusicais, mapas, plantas e estampas chegandoaté aos selos, medalhas e outras espécies demateriais numismáticos.

Segundo Martins (1996), até a Renas-cença existiam profissionais que organizavamos materiais. Do século XV ao século XIX obibliotecário era um profissional “contratado porinstituições particulares, sem formação espe-cializada, quase sempre um erudito ou umescritor”. (MARTINS, 1996, p.332). Para esseautor, a profissão de bibliotecário, como atividadeespecializada, só apareceu no século XIX, sendoreconhecida pelo Estado como uma profissãosocialmente indispensável. Mesmo com aprofissão instituída, os eruditos ainda ocuparamposições de bibliotecários, muitas vezes semespecializações técnicas, até o aparecimentodos cursos de biblioteconomia.

Também é do século XIX a criação daLibrary of Congress (LC), fundada em 1800 esediada em Washington. Esta desempenha afunção de biblioteca nacional dos EstadosUnidos, principalmente servindo de fonte deinformações ao Congresso e a outros órgãos ofi-ciais desse país (FONSECA, 1979; FONSECA,1992; NOVA..., 1999).

No século XX, a comunicação humanaexpande-se ainda mais com o desenvolvimentodas Tecnologias de Informação e Comunicação(TIC). A primeira aplicação do processamento dedados nas bibliotecas se deu em 1935, naUniversity of Texas e, em 1941, na Boston PublicLibrary, na qual se introduziu o uso dos cartõesperfurados para o controle de empréstimo delivros (FONSECA, 1979).

No Brasil, no campo da organização deinformações destaca-se, com o aparecimentodos computadores - na década de 1960 - aautomação de serviços de documentação e, porintermédio dela, uma tentativa de padronizaçãodo processamento das informações. Nesseperíodo também começaram as primeiraspesquisas sobre indexação automática, ou seja,o tratamento de conteúdo feito por computador(SMIT, 1996).

De acordo com Souza et al. (2000), odesenvolvimento da tecnologia de redes eletrô-nicas intensificou o fenômeno da explosão dedocumentos eletrônicos, ocasionando o aumentodo volume de informações disponíveis. Nestecontexto, foi desenvolvido o conceito de meta-dado - “dado sobre o dado” -, isto é, a descriçãodo documento eletrônico visando facilitar suarecuperação nos sistemas de busca e recupe-ração. Nesta área, destaca-se o formato MARC(MAchine Readable Cataloging) para descriçãode informações bibliográficas, desenvolvidodesde 1968 pela Library of Congress e difundidopor todo o mundo (FONSECA, 1979).

Como destacam Smit e Barreto (2002),de nada adianta haver um grande estoque deinformações armazenadas, tanto em bases de

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dados como em bibliotecas, arquivos, museusou quaisquer outras instituições, sem que existauma comunicação consentida entre a fonte (osestoques) e o receptor, pois esses estoques deinformação não têm compromisso direto e finalcom a produção de conhecimento. É de sumaimportância o tratamento desses estoques paraque as informações neles contidas possam serbem exploradas e aproveitadas pela coletividade.Nesse sentido, destaca-se a posição do organi-zador e difusor da informação: o indivíduoresponsável pelo seu tratamento, com vistas aoacesso e ao compartilhamento das informações.Além disso, este trabalho apresenta um aspectode suma responsabilidade, pois requer aadequação das informações aos diferentes tiposde usuários, os quais apresentam variados grausde instrução, diferentes níveis de renda,professam diversas religiões, e pertencem adiversas raças - fatores que interferem no seuacesso à informação.

Até aqui, pretendeu-se traçar um brevehistórico, ressaltando o desenvolvimento dasvárias formas de registro da informação comomotivo do nascimento da função do organizadorde informação. Os dados até aqui apresentadospermitem afirmar que, até o início do século XX,a profissão de bibliotecário tinha um caráterelitista, tanto pelo alto nível de conhecimento eerudição dos profissionais, quanto pelo fato de ainstituição biblioteca atender quase exclusi-vamente às pessoas com alto nível educacional.A imagem do profissional estava ligada àbiblioteca, na condição de “aposento que ou lugaronde se colocam livros; galeria, construção cheiade livros” (CHARTIER, 1994, p.70), mesmo quenela constassem outros tipos de materiais.

Organizadores e difusores dainformação: o bibliotecário em questão

A partir da exposição anterior, a respeitodos diferentes tipos de materiais que foramcriados ao longo da história pela humanidade e

da necessidade de profissionais que cuidassemde sua organização e disponibilização com oobjetivo de acessar esses materiais no futuro,passa-se agora a abordar especificamente ascaracterísticas de alguns desses profissionais:o bibliotecário e o documentalista.

Novamente recorrendo a McGarry (1999,p.111), lembramos que “as bibliotecas, em seusentido mais amplo, existem há quase tantotempo quanto os próprios registros escritos”;entende-se que elas foram as primeiras insti-tuições criadas com a intenção de organizar ainformação registrada e que as iniciativasdestacadas no tópico anterior, somadas a outrosconhecimentos que não foram citados, formaramo arcabouço de conhecimentos da Bibliote-conomia.

De acordo com Fonseca (1992, p.59), aorigem da palavra biblioteca vem do gregobibliothéke, em que biblion significa livro e thékedenota “qualquer estrutura ou invólucro protetorcomo cofre, estojo, caixa, estante e edifício”. Daísua ligação tão fortemente estabelecida, até osdias atuais, com o livro como portador deinformação.

O profissional que atua nas bibliotecas éo bibliotecário, desde que seja diplomado emcurso de biblioteconomia (FONSECA, 1992,p.101). A formação do bibliotecário teve duascorrentes principais: uma linha humanista pro-posta pela École Nationale des Chartes, fundadaem Paris, em 1821, e outra, de caráter tecnicista,surgida em 1887, nos Estados Unidos, com aSchool of Library Economy, fundada por MelvilDewey na Columbia University em Nova York(BOTTENTUIT; CASTRO, 2000). Martins (1996)ressalta que o ensino da escola francesa era omesmo para bibliotecários, arquivistas-paleógra-fos e arqueólogos.

O Brasil sofreu influência dessas duasescolas, prevalecendo, no entanto, o modeloamericano. De acordo com Bottentuit e Castro(2000), por volta de 1940, duas escolas funciona-vam no país: uma em São Paulo, inspirada nos

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métodos norte-americanos e uma no Rio deJaneiro, subordinada à Biblioteca Nacional, queseguia a linha européia.

O curso de Biblioteconomia da BibliotecaNacional sofreu reformas, sob a orientação doescritor Josué Montello. Montello, citado porBottentuit e Castro (2000, p.35) relata:

[...] fiz em 1944 a grande transformação

e atualização do curso que ainda eramuito voltado para o saber huma-nístico. Eu procurei dar a esse curso

uma orientação técnica moderna,resultado dos trabalhos técnicos daBiblioteconomia. E fui encarregado

pelo Diretor da Biblioteca, para dirigiresses cursos. E a direção que dei, eraeminentemente atualizada com o que

se estava fazendo em última palavranas escolas americanas.

Martins (1996, p.332) ressalta, comoresultado da adoção da linha norte-americana,

que a profissão de bibliotecário tomou, ao longo

do tempo, o caráter de “técnico puro”. O autor

ainda discute “a estreiteza mental que decorre,freqüentemente demais, da especialização” ecomo ponto positivo destaca “a organizaçãoracional do trabalho”. Na verdade, Martins (1996)coloca como ideal uma combinação das duascorrentes, pois segundo ele, não se pode admitirum bibliotecário erudito que não domine astécnicas biblioteconômicas, porém, um“bibliotecário exclusivamente preso aos númerosda tabela de Dewey é também inferior ao que abiblioteca representa como cultura e às própriasfunções que deve desempenhar.” (MARTINS,1996, p.338).

Ferreira, citada por Souza (1994, p.12),indica que, desde 1973, quando da promoçãode um seminário pela Universidade Federal deMinas Gerais (UFMG) sobre a “Formação dobibliotecário face às exigências profissionais daatualidade”, se discutiam problemas relaciona-

dos à escolha do curso de Biblioteconomia;Ferreira enfatiza que tal escolha se devia mais afatores secundários como a “menor duração docurso, influência de amigos, gosto por livros, doque a uma decisão consciente, por vocação”.

Dias, citado por Oliveira (1983, p.6),destacava a preocupação com a especializaçãotécnica excessiva dos profissionais, comentandoserem eles “pouco familiarizados com os proble-mas da cultura e da pesquisa”. Reforçando esteponto de vista, Lorusso, citada por Souza (1994,p.5), ao discutir a posição das escolas deBiblioteconomia em 1992, aponta:

[...] já é fato consumado que o currículo

mostra-se incompatível com a reali-dade cotidiana, quer pela terminologia,quer pela continuidade do currículo

anterior em termos de mentalidade econteúdos. Em muitas escolas, aterminologia mudou, mas o conteúdo

permaneceu. Uma roupa nova numconteúdo antigo. E o que é pior: amanutenção dos mesmos hábitos ouvícios preconizados.

Recentemente, Rodrigues (2002), emestudo sobre a formação dos Profissionais daInformação (PI) nesse novo ambiente, aindaressalta o caráter técnico da formação, mas jáconstata um movimento que tenta minimizare/ou romper com a massificação técnica dosprofissionais, evidenciando a importância dapesquisa nas universidades, com o intuito deenriquecer o perfil dos profissionais por elaformados.

A Documentação5 nasce pela iniciativa deOtlet e de La Fontaine, caracterizada como“processo que permite reunir, classificar e difundirtodos os documentos de toda a espécie, relativosa todos os setores da atividade humana.”(SHERA, 1980, p.95). Segundo Buckland (1991),o termo documento ou unidade documentária foiutilizado como um termo genérico que denotava

55555 Existiam duas linhas de formação profissional: uma, na Europa, formando profissionais chamados documentalistas; outra,nos Estados Unidos e América Latina, formando bibliotecários.

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coisas informativas. Briet, citada por Buckland(1991, p.355), definiu documento como “qualquerindicação concreta ou simbólica, preservada ouregistrada, para reconstruir ou para comprovarum fenômeno, seja físico ou mental”. Por essarazão, documento poderia ser desde ummanuscrito até uma peça de museu. Robredo eCunha (1994, p.3) entendem que o termodocumento foi ampliado e passou a englobar“todo tipo de suporte físico da informação, quepermita o seu armazenamento”. Neste sentido,passou a incluir também os cartões perfuradosdo início da informática, as fitas magnéticasgravadas e os programas de computador.

O caráter de erudição do profissionalligado à organização da informação e do conheci-mento registrado foi perdido, segundo GarcíaGutiérrez (1999, p.36), em decorrência docontexto social-histórico em que foram estabele-cidas essas profissões, citando como exemploo documentalista. O autor afirma que a “Informa-ção/Documentação deve ser observada no marcogeral dos fenômenos que dizem respeito à Culturae à Comunicação de massas”, surgindo comouma “ferramenta fundamental de instruçãosocial.” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1999). Portanto,seu profissional, o documentalista, se instituiucom um forte caráter social.

Entretanto, o mesmo autor critica a posi-ção dos que acreditam ser esse profissional “umaespécie de representante e benfeitor dosdesprotegidos usuários que desejam informar-se para produzir mais informação.” (GARCÍAGUTIÉRREZ, 1999, p.37). Ressalta, ainda, queo documentalista de meios de comunicação, demaneira geral, possuía cultura média e desenvol-via um trabalho rotineiro e impessoal, com poucoreconhecimento e prestígio social, passandoesse mesmo profissional a contemplar a informa-ção que manuseava como uma verdadeiramassa disforme, fora de contexto (GARCÍAGUTIÉRREZ, 1999). Para García Gutiérrez(1999), faltou a esse profissional uma posturacrítica e subentende-se que essa falta deveu-seà sua pouca instrução.

Shera (1980) acrescenta que a mudançade foco na orientação, da preservação dainformação, para o usuário, já era latente naconferência de bibliotecários que se realizou em1853, a partir do enfoque no serviço ao público(grifos nossos). Pode-se, a partir das colocaçõesde García Gutiérrez e de Shera, já citadas,analisar alguns pontos:

1) inicialmente, à época das primeirasuniversidades, os bibliófilos (ou bibliotecárioseruditos) atuavam em bibliotecas tendocontato com um número reduzido de usuários;portanto, tinham mais tempo para estudar econhecer seu acervo, que crescia emproporções bem menores do que as de hoje;

2)os bibliotecários eruditos, em suamaioria, eram formados primeiramente em outraárea do conhecimento, e a partir daí se dis-punham a organizar as bibliotecas; o que leva àdiscussão sobre a Biblioteconomia como áreaque deve ser estudada em nível de pós-graduação- Cunha (2000, p.73), estudando a formação dosPI na França, destaca a opinião emitida pelaassociação francesa dos profissionais deinformação e documentação, segundo a qual “adupla formação é indispensável para trabalhar ainformação”, não sendo possível “tratar a infor-mação corretamente sem ser especialista doassunto tratado”;

3)as linhas americana e francesa valori-zavam diferentemente a técnica e a erudição.A partir da implementação dos cursos deBiblioteconomia, entende-se que, dependendoda linha escolhida - e no Brasil sabe-se quepredominou a norte-americana -, a classeprofissional, de forma geral, foi influenciada e seestabeleceu dentro dessa linha, com o predo-mínio da função técnica.

Martins (1996, p.335) entende que aênfase na técnica, em detrimento da cultura geral,aliada ao crescente aumento de materiais detodas as espécies - explosão informacional -, foiresponsável pelo fato de a categoria de bibliote-cários passar a encarar os materiais como “umacarga e um estorvo”.

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O trabalho de Oliveira (1983) apresentaos pontos-chave responsáveis pela instituciona-lização da profissão de bibliotecário: a elaboraçãode um código de ética; a criação de associaçõesprofissionais; a elaboração de currículos acadê-micos próprios; o treinamento especializado; odesenvolvimento de um corpo teórico; um volumesignificativo de publicações; o trabalho serassegurado pela legislação; o fornecimento deserviços à comunidade; a aceitação, por parteda comunidade, da autoridade desse profissional.

Mesmo com uma profissão instituída, acategoria começou a enfrentar problemas emrelação à sua visibilidade, pelos próprios bibliote-cários e por outras categorias profissionais.Martins (1996, p.333) apresenta em sua obra umadiscussão ocorrida em um congresso de bibliote-cários promovido em São Paulo, no ano de 1951,pela Organização das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura (Unesco), emque se destacavam quatro perfis principais debibliotecários atuantes na América Latina: oprimeiro era formado por pessoas “muitoestimáveis, conscienciosas, dignas de confiançae amantes da leitura”, porém “sem a menor idéiadas técnicas da área”; o segundo, englobava“certo número de mulheres casadas ou desolteironas, também das mais estimáveis, que,por qualquer motivo, tiveram necessidade deganhar a vida” e que “não passavam de guardiãsde livros” (estereótipo comentado até os dias

atuais); o terceiro perfil incluía “´a personalidade

em evidência´ com todas as qualidades inte-lectuais, mas sofrendo da moléstia incurável e

inconfessável de não ser técnico”; o último, era

composto pelos bibliotecários profissionais com

formação na área.

A transcrição do trecho acima pretendeapenas demonstrar que a discussão em relaçãoà categoria dos bibliotecários não é recente. Parailustrar ainda mais as discussões, desde tempospassados, ressalta-se a observação de Litton(1976, p.187) alertando sobre a “falta de visão ea pouca ou nula vontade que possuem os

bibliotecários de enfrentar os novos e crescentesusos e manifestações da documentaçãocientífica”.

Oliveira (1983) ressalta largamente osproblemas relacionados à prevalente mápercepção da profissão, discutidos por diversosautores em vários congressos da área, entre asdécadas de 1950 e 1970. Tais problemas sãoapresentados, a seguir, de forma resumida,acentuando-se a necessidade de mudançanesses aspectos: a mentalidade dos pro-fissionais da área, que deveriam ter maiorpreocupação com sua realização profissional emais consciência do seu papel; ausência totalde criatividade para a implantação de serviços(por esses profissionais se prenderem muito àstécnicas); isolamento dos profissionais (falta deconsciência de classe); e visão estereotipadaque o público tem dos mesmos (devido ao grandenúmero de mulheres não qualificadas,empregadas na categoria).

Trabalhos mais atuais, como o de Bar-bosa (1998), ainda discutem a questão dadenominação do bibliotecário como resultado daligação quase que exclusiva aos livros na visãoda sociedade em geral. Na realidade, aspessoas consideram que o ambiente da bibliote-ca é apenas mais um edifício que guardamateriais, desconhecendo que este profissionaltrabalha com fluxos de informação armazenada.O autor ainda ressalta que “o verdadeiro ́ negócio´da biblioteconomia é a informação, e não livros”.(BARBOSA, 1998, p.55).

Guimarães (2000) entende que é por meioda melhor formação do profissional da informaçãoque se poderá obter um maior reconhecimentoprofissional por parte da sociedade; esta melhorformação deve ser promovida através de investi-mentos das universidades e das instituiçõesformadoras em uma dimensão investigativa, paraque dela possam resultar conhecimentos teóricose práticos (metodologias, aplicações) para quea coletividade possa ver e reconhecer o esforçoda área e entender a atuação dos PI. Sem essa

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iniciativa, o autor entende que a formação sevincula basicamente à reprodução de conheci-mentos. Smit (2000) corrobora as colocaçõesde Guimarães e opina que a pesquisa - tantoteórica como de aplicação prática - traráprogresso para a Ciência da Informação (CI) comoárea do conhecimento e, em conseqüência, aosseus profissionais. Cunha, citada em Cunha eCrivellari (2004) entende que, “quanto maior opoder de abstração teórica de uma profissão,mais sólida ela será no espaço social e nosistema profissional”.

Acredita-se que, com o passar do tempo,muitas das colocações acima citadas, como avisão estereotipada dos profissionais atuantesnas categorias de bibliotecários e documenta-listas, por exemplo, foram sendo cristalizadas eas áreas passaram a incorporar essas posiçõesaté os dias de hoje (salvo exceções), levando aoutros problemas, como a falta de reconheci-mento pelos próprios profissionais e também pelacoletividade.

Profissional da Informação: umprofissional em busca de identidade

Como se vem destacando, com a diversi-dade de materiais e suportes de informação,houve a necessidade de as instituições, eportanto, de seus profissionais, se especiali-zarem. De maneira bem geral, em uma primeiratentativa de divisão, pode-se pensar que museuscuidam de objetos, arquivos guardam documen-tos de controle ou administrativos, e bibliotecasarmazenam informações para estudo, comolivros e periódicos. Buckland (1991) corroboraessa divisão com uma similar - bibliotecas lidamcom livros; sistemas de informação baseadosem computadores manuseiam dados em bits oubytes; museus manuseiam diretamente objetos,mas assinala que a intenção comum é sempreauxiliar os usuários a se tornarem informados.

Para Smit (2000) as áreas da Bibliote-conomia/Documentação, Arquivologia e

Museologia são áreas afins. Grosso modo,apesar de se esperar que as bibliotecas tra-balhem basicamente com livros e periódicos, osarquivos, com documentos administrativos e osmuseus, com objetos, na prática, um arquivopode possuir livros em seu acervo; uma bibliote-ca, por sua vez, pode ter uma coleção de fotosou gravuras, enquanto um museu pode guardarquaisquer tipos de documentos que retratem umaépoca que se deseja representar, incluindo-sefotos e livros, entre outros materiais, cabendoaos profissionais específicos saber como lidarcom eles. Fica claro, portanto, que as três áreasse relacionam, pois trabalham com a informação,possuem estoques de materiais e têm comoobjetivo comum guardá-los, conservá-los edisponibilizá-los para a presente e as futurasgerações.

Robredo e Cunha (1994) colocam arqui-vistas, bibliotecários e museólogos como irmãosde profissão, lembrando que, em alguns países,os três formam uma mesma família profissional.Fonseca (1979) destaca uma primeira tentativade agrupamento entre as áreas de Bibliote-conomia, Documentação e Arquivologia com acriação, pela Unesco, em 1948 do ConselhoInternacional de Arquivos. Em 1952 foi realizado

um evento em Madri, o I Congresso Ibero-

-Americano de Arquivos, Bibliotecas e Proprieda-

de Intelectual e, em 1972, em Washington, oSeminário Interamericano sobre Integração deServiços de Informação dos Arquivos, Bibliotecase Centros de Documentação. Por últimodestaca-se, em 1974, a realização da Conferên-cia Intergovernamental sobre a Planificação dasInfra-Estruturas Nacionais de Documentação, deBibliotecas e de Arquivos, promovida pelaUnesco, em Paris. Essa mobilização ficouconhecida como o pacto entre bibliotecas earquivos.

O que diferencia os profissionais que

atuam nessas áreas? Seria o tipo de material

com que trabalham? Mesmo assim, como sedemonstrou no parágrafo anterior, cada instituição

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acima citada - arquivo, biblioteca e museu - podeter em seu acervo documentos e materiais quedeveriam, por essa regra de tipo de material, estarem poder de outra instituição. Smit (2000) argu-menta que a diferenciação das áreas por tipo dematerial com que trabalham não é a melhoropção, mas sim a diferenciação pelo uso que sefaz da informação veiculada por esse material:

A informação sendo una, “informação”sem outros predicados, é o usuário,

em sua busca, e de acordo com suasnecessidades, que atribui funçõesdiferenciadas à informação. É nessa

acepção que proponho que passemosa entender as expressões “informaçãoarquivística”, “informação bibliográfica”

e “informação museológica”, ou seja,entender que os atributos que especi-ficam o termo-raiz “informação” não

designam tipos de documentos mastipos de utilização da informação.(SMIT, 2000, p.128).

Guimarães (2000), em estudo que tratouda formação dos PI, destacou a iniciativa doMinistério da Educação a respeito da elaboraçãode diretrizes curriculares nas diversas áreas doconhecimento. Para a comissão de CI foramconvocados profissionais renomados de diversasuniversidades; desse encontro surgiu um primeirodelineamento de diretrizes curriculares queabrangessem os cursos de Arquivologia, Bibliote-conomia e Museologia, por estas áreaspossuírem um núcleo comum de conteúdos,centrados no documento e na informação. Esseautor enfatiza a necessidade de maior diálogoentre essas áreas, para que saibam reconhecera atuação de cada uma e promovam o respeitodos seus profissionais em relação às outras árease à coletividade, além de tratarem do estabe-lecimento de ações integradas para sua melhorvisibilidade.

Existem duas outras áreas que se juntama essa discussão em relação às definições, ade Documentação e a de Ciência da Informação.De acordo com Fonseca (1992), a Bibliote-

conomia tem como objetivo a democratizaçãoda cultura por meio das bibliotecas públicas; apreservação e difusão do patrimônio bibliográficode cada nação, por meio das bibliotecasnacionais e bibliografias nacionais correntes eretrospectivas; o apoio documental ao ensino eà pesquisa oferecidos pelas bibliotecas universi-tárias. À Documentação compete fornecerresumos de pesquisas, concluídas ou emandamento, por meio de artigos, comunicaçõesa congressos, relatórios, teses, patentes, etc.,e, eventualmente, traduções desses documen-tos, muitos dos quais não impressos. A Ciênciada Informação tem como objetivo estudar agênese, transformação e utilização da infor-mação.

Le Coadic (1997, p.517), trata da Ciênciada Informação e suas disciplinas correlatas - Bi-blioteconomia, Documentação, Arquivística,Museologia e Comunicação - considerando-aspráticas empíricas de organização e não,ciências rigorosas (grifos nossos). A comuni-cação é vista como um contato, uma interaçãoentre pessoas. São tratados os processos decomunicação da informação: os escritos (o artigo,a revista, a literatura) e os orais (contatos,reuniões, congressos).

A CI é uma disciplina relativamente nova,surgida na década de 1950, e que possui grandeligação com as TIC.

[A informação é] o objeto de estudo da

Ciência da Informação como campoque se ocupa e se preocupa com osprincípios e práticas da criação,organização e distribuição dainformação, bem como com o estudodos fluxos de informação desde sua

criação até a sua utilização, e sua trans-missão ao receptor em uma variedadede formas, por meio de uma variedade

de canais. (SMIT e BARRETO, 2002,p.17, grifos nossos).

Robredo e Cunha (1994, p.5) discutem ocaráter interdisciplinar da CI, defendendo queesta se relaciona com áreas como “as matemá-

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ticas, a lógica, a lingüística, a psicologia, ainformática, a pesquisa operacional, a análisede sistemas, as artes gráficas, as comunica-ções, a biblioteconomia, a administração etc.”Ressaltam, ainda, que tanto a biblioteca tradi-cional quanto a documentação “não são maisdo que aplicações particulares da ciência dainformação”.

No debate sobre a ligação da Bibliote-conomia, Documentação e Ciência da Informaçãoexistem autores que entendem ser, cada umadessas áreas, a continuação da outra, caracteri-zando-as como evolução da mesma disciplina(SHERA, 1980; ALMEIDA JÚNIOR, 2000;HJØRLAND, 2000). Abaixo, alguns pontos quepretendem sustentar essa abordagem:

“Novamente como em Biblioteconomia, aquestão não é sobre o campo de atuação, massobre paradigmas, fundações teóricas e solu-ções pragmáticas, e por último, suas conveniên-cias para os problemas humanos de informação”.(SARACEVIC, 1995, p.38).

Hjørland (2000, p.509) entende que a CIé um desenvolvimento, ou uma evolução, da áreada Documentação, a qual, por sua vez, e deacordo com o autor, “é um neologismo, isto é,uma nova nomenclatura, desenvolvidaprimeiramente por Paul Otlet para designararmazenamento e recuperação da informação,serviços primeiros da Biblioteconomia”.

É importante destacar os tênues limitesentre a Biblioteconomia, a Documentação e aCiência da Informação. Shera (1980) destacaetapas de um processo, em que a evolução entreas áreas fica quase comprovada:

No entanto, não só se propuseram afazer um trabalho completo, mas tam-bém submeter os materiais bibliográ-

ficos a uma análise de conteúdo maisprofunda do que a até então feita pelosbibliotecários e, para diferenciar sua

atividade da Biblioteconomia, deram--lhe o nome de Documentação.(SHERA, 1980, p.91).

O Quadro 1 mostra algumas definiçõessobre as áreas mais discutidas, para facilitar oentendimento em relação à confusão instalada,pelos próprios pesquisadores, sobre a atuaçãode cada área que trabalha com a informação.

Em relação ao exposto no Quadro 1destacam-se, por exemplo, as definições deBibliologia de Paul Otlet, de 1934, comparando--a com a de Documentação, de Javier Lasso dela Vega, de 1954: as duas definições partem deuma coleção de materiais, sendo que a primeirase centra nos livros e, a segunda não especificao tipo de material, mas deduz-se que sejamdocumentos pelo fato de a definição ser a deDocumentação. De acordo com a definição deBriet, citada por Buckland (1991, p.355), e jáapresentada anteriormente, entende-se pordocumento “qualquer indicação concreta ousimbólica, preservada ou registrada, parareconstruir ou para comprovar um fenômeno, sejafísico ou mental”; portanto, segundo esseraciocínio, poderiam incluir-se livros à definiçãode Lasso de la Vega.

Sobre as definições de Ciência da Informa-ção de R.S. Taylor, de 1963, e de Documentaçãoda Federação Internacional de Documentação(FID), de 1971 ressalta-se que ambas se referemà organização e à difusão de informação, nãosendo especificado nenhum suporte.

As diferentes definições das áreas serefletiram na nomenclatura de instituiçõesimportantes: por exemplo, o InstitutoInternacional de Bibliografia, fundado em 1895,em 1931 passou a ser chamado FederaçãoInternacional de Documentação (FID), a partir de1986 até os dias atuais, é chamado FederaçãoInternacional de Informação e Documentação(FID). Outro exemplo, o American DocumentationInstitute, fundado com esse nome, passou achamar-se American Society for InformationScience (ASIS) em 1968 (GARCÍA GUTIÉRREZ,1999) e, a partir de 2000, mudou outra vez seunome, para American Society for InformationScience and Technology (ASIS&T)

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(AMERICAN..., 2004), destacando-se a influênciadas TIC. No Brasil, o Instituto Brasileiro deBibliografia e Documentação (IBBD), criado em1954, passou a se chamar, a partir de 1976,Instituto Brasileiro de Informação em Ciência eTecnologia (IBICT) (FONSECA, 1979; 1992).Segundo Fonseca (1992, p.115), “a transfor-

mação do IBBD em IBICT corresponde àtransição da documentação para a ciência dainformação”.

A situação é bem complexa. Com cadaárea mudando de nome seguidamente, osprofissionais recebiam distintas denominaçõesem cada uma delas, mesmo que estivessem

Definição

Descrição de livros, coleção, cuidado e administração.

Ciência que estuda a produção, conservação, circulação

e uso de documentos.

Arte de coletar, classificar e fazer acessíveis os

documentos.

Processo de colecionar e classificar por matérias e de

facilitar testemunho aos inventores e descobridores.

Ciência e prática da elaboração e da organização da

informação em todos os domínios científicos e técnicos.

Ciência que estuda as propriedades das forças que

regem o fluxo e os meios do processo informativo, isto

é, a criação, difusão, coleção, organização, armaze-

namento, busca, interpretação e uso da informação.

Estudo das propriedades do conhecimento e da transfe-

rência de informação.

Disciplina que estuda a estrutura da informação científica

e as leis que a regem, assim como sua teoria, história

e métodos.

Organização, ordenação, investigação, difusão e ava-

liação da informação sobre ciências, tecnologias e

artes, registrada em qualquer suporte.

Processo contínuo e sistemático (identificação, coloca-

ção (emprego), aquisição, análise, depósito, recupe-

ração, circulação e conservação de documentos e

dados para usuários especializados).

Análise do conteúdo intelectual da literatura especiali-

zada, sua organização sistemática e sua difusão.

Ciência geral que tem por objeto o estudo do processo

de transmissão e recuperação das fontes para a

obtenção de novo conhecimento.

Armazenamento e invest igação da informação

documental em sua relação com a tecnologia.

Data

1934

1934

1948

1954

1959

1963

1964

1967

1971

1976

1977

1980

1981

Área

Bibliografia

Bibliologia

Documentação

Documentação

Documentação

Ciência da Informação

Ciência da Informação

Informatika*

Documentação

Documentação

Documentação

Documentação

Documática

Autor

Paul Otlet

Paul Otlet

S. C. Bradford

Javier Lasso de la Vega

FID

R. S. Taylor

R. S. Taylor

A. I. Mikhailov

FID

Gernot Wersig

IFLA

José López Yepes

ADBS

Fonte: García Gutiérrez (1999).

(*) García Gutiérrez (1999, p.32) destaca que deve ser observada a diferença de sentido entre a “Informática (igual à Informatologia,nas palavras de Pauline Atherton) e a Informatics = Computing Science anglo-saxônica”.

Quadro 1. Diferentes definições em relação à organização da informação e suas áreas.

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desenvolvendo as mesmas atividades ousimilares. O que dizer do profissional da área deDocumentação, o documentalista; da Biblioteco-nomia, o bibliotecário ou biblioteconomista; daArquivologia, o arquivista; da Museologia, o mu-seólogo; da Ciência da Informação, o profissionalda informação ou cientista da informação. Nãosão todos eles profissionais que lidam cominformação?

Biblioteconomista ou Profissional daInformação: eis a questão!

A partir das diferentes denominaçõesencontradas na literatura - e atualmente com ainserção das novas TIC, elas têm aumentadoainda mais - questiona-se a real existência, nomercado de trabalho de profissionais registradoscom denominações incomuns como bibliodo-cumentalista, cibertecário, infomediário, entreoutras (ALMEIDA JÚNIOR, 2000, p.48). Em quese deve basear a denominação de umprofissional? No tipo de material que manipula?Em sua atividade prática? Nas competênciasque possui? No tipo de instituição em que atua?

Neste sentido, Smit (2000) reconhece quea denominação de Moderno Profissional daInformação (MIP), baseado num estudo desen-volvido pela FID, engloba uma família compostapelos arquivistas, bibliotecários/documentalistase museólogos, cuja competência específica deveser o tratamento da informação; elimina-se assimo hábito de denominar-se cada profissional peloambiente ou pelas instituições em que atua.

Rezende (2002) destaca que o processode globalização, o avanço e o desenvolvimentomundial em várias áreas, principalmente a tecno-lógica, trouxeram a necessidade de que asorganizações (basicamente as empresas)passassem a contar com profissionais queauxiliassem na gestão dos negócios. Nessenicho começam a aparecer na literatura, inclusiveda CI, expressões como agentes do conheci-mento, capital intelectual, inteligência empre-sarial e gestão do conhecimento.

Ainda segundo Rezende (2002, grifosnossos), o grupo de agentes do conhecimentoengloba os agentes criativos (que utilizam ainformação na solução de problemas); os agentesintérpretes (que interpretam o contexto deatuação da organização e utilizam a informaçãocomo ferramenta para gerar novos negócios); osagentes intermediários (que intermediam efavorecem o acesso à informação, desenvolvendotanto a identificação, quanto a interpretação dasdemandas de informação do negócio, além deidentificarem as fontes de informação maisfavoráveis para esse tipo de negócio. Esse grupoé composto quase que exclusivamente porbibliotecários, em virtude da facilidade que têmpara organizar e manter os acervos informa-cionais); e, por último, os agentes do conheci-mento (uma nova categoria de profissionais, cujaatividade principal é administrar o capitalintelectual das empresas).

A mesma autora ressalta que, as denomi-nações adotadas na prática para essa diferenteatuação dos bibliotecários, no nível empresarial,vêm gerando termos mais abrangentes tais comogestores ou profissionais da informação, e quesua área de atuação “deixou de ser chamada debiblioteconomia para ser ciência da informação.”(REZENDE, 2002, p.82).

A denominação profissional da informaçãotem causado grandes discussões e divergênciasem relação ao perfil do profissional e ao conceitoque defina quem é/o que faz esse profissional.Segundo Barbosa (1998, p.53) “não há definiçãouniversalmente aceita a respeito do que constituium profissional de informação.”

Nessa categoria já foram incluídos váriosprofissionais como “pesquisadores, engenheiros,projetistas, desenhistas industriais, gerentes,contadores e todos aqueles eventualmenteremunerados para criar conhecimento, comuni-car idéias, processar informação”. Definiçõesvariadas são citadas na literatura, algumas decaráter muito abrangente como “aquele quetrabalha com informação em vez de objetos.”

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(BARBOSA, 1998, p.53). O autor ainda observaque existem iniciativas por parte de alguns órgãosnacionais de estatísticas de vários países - comoCanadá, Estados Unidos e México - em conse-guir uma melhor definição de quem/o que são,tanto os profissionais, como as organizações deinformação.

Em vista da diversidade de definiçõescitadas é importante frisar que, se a própria áreade CI ainda está se firmando, ou como dizemSmit e Barreto (2002, p.20) “sofre de indeter-minações”, o que dizer de um profissional quenão sabe a que área pertence? A crise de identi-dade também é confirmada pelos questiona-mentos centrados em uma interminável discus-são sobre bibliotecário versus profissional dainformação, trabalhos técnicos versus trabalhosgerais, sobre o profissional antigo e o moderno(ALMEIDA JÚNIOR, 2000; VALENTIM, 2000;SOUZA, 2001).

A posição de Almeida Júnior (2000, p.31)é a de que existe uma teimosia no emprego dotermo bibliotecário para o profissional atuantenesse novo ambiente, pois essa é “uma tentativade manutenção de uma estrutura não mais condi-zente com as atuais necessidades sociais”.O autor classifica ainda o perfil do bibliotecáriocomo “vinculado a exigências sociais ultra-passadas e retrógradas.” (ALMEIDA JÚNIOR,2000, p.31).

Arruda et al. (2000, p.19) citando osresultados da pesquisa sobre o MPI, realizada

pela FID, destacam que a “tecnologia desponta

como propulsora das principais modificações”.

Trazem ainda a observação da vice-presidente

da FID, Sra. Margarita Almada de Ascencio:

Nenhum profissional da atualidadetem condições de reunir todas as habi-

lidades, conhecimentos e competên-cias necessários para interagir e equa-cionar os problemas decorrentes dos

fluxos de informação e conhecimento.Para resolvê-los é necessária a forma-ção de equipes interdisciplinares em

todos os níveis e processos: estraté-gicos, gerenciais e operatórios.(ALMADA DE ASCENCIO citada por

ARRUDA et al., 2000, p.19).

Para Almeida Júnior (2000, p.32), pro-fissional da informação é um termo, “umadesignação não específica do bibliotecário, masque abrange um grupo de profissionais que atuamtendo como base a informação” em “seus váriosaspectos, abordagens, suportes e momentos.”(ALMEIDA JÚNIOR, 2000, p.42).

Cunha e Pereira (2003) lembram que asfunções dos profissionais consideradas “emer-gentes”, como gestão, análise da informação ecomunicação, não são novas, e que, o que vemmudando não são as atividades e sim os ambien-tes informacionais, os quais têm ficado cada vezmais diversificados e complexos. As autorasainda ressaltam que, com o desenvolvimentomundial, a informação passou a ser vista comoum ativo fundamental para todos os setores dasociedade.

Valentim (2000, p.139, grifo do autor)entende que o profissional da informação temum papel de “processador e filtrador da informa-ção” e que deve exercer esse papel “de formacoerente e eficiente, voltado para o usuário/cliente.”

Ponjuán Dante (2000, p.93) entende queo conceito de profissional da informaçãoencontra-se em evolução e coloca como PI todos“aqueles que estão vinculados profissional eintensivamente a qualquer etapa do ciclo de vidada informação”. Destaca ainda que esses pro-fissionais devem ser capazes de “operar eficientee eficazmente em tudo o que é relativo à informa-ção em organizações de qualquer tipo ou emunidades especializadas de informação.”(PONJUÁN DANTE, 2000, p.93).

Pegoraro (2001, p.13) ressalta queconceitos abrangentes, como o acima citado,não podem ser aceitos pela área de CI. Paraela, somente os profissionais que trabalham coma informação como objeto central é que pode-

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riam compor essa categoria. Em outro ponto desua pesquisa Pegoraro (2001 p.10) afirma queos bibliotecários são também conhecidos comoprofissionais da informação, o que demonstra agrande confusão em que vivem os própriostrabalhadores a respeito de sua área de atuação.Trabalhos como o de Souza (1994) e de Pegoraro(2001), deixam transparecer que a bibliote-

conomia não deve ser vinculada ao livro ou à

biblioteca e sim à informação, que constitui sua

essência.

Sergean, citado por Cunha e Crivellari

(2004, p.46), explica a dificuldade para se definir

o campo de informação, pela própria natureza

da informação: ela não é um campo exclusivo

de um grupo profissional, mas “concerne a todosos indivíduos”, sendo o trabalho informacional

comum a vários profissionais, os quais, em

determinadas condições, acabam exercendo

atividades de informação.

Cronin, citado por Cunha e Crivellari (2004,p.46), considera que “não existe uma profissão

da informação”, mas sim, “um grupo grande e

heterogêneo de profissionais que podem ser

qualificados como tais”, pois o espectro de

funções desempenhadas, além de suas

habilidades, é muito diversificado para concentrá--los sob um mesmo conceito. Para esse autor o

termo profissionais da informação é uma “rubrica

vaga, conveniente, que pressupõe um conjunto

de categorias profissionais e ignora as diferenças

de orientação, de formação básica e das

atividades por eles exercidas.” (CRONIN citadopor CUNHA; CRIVELLARI, 2004, p.46).

Diante dessa discussão entende-se que,no contexto atual, marcado pela presença dasnovas TIC, o termo bibliotecário restringe aatuação desse profissional ao âmbito dasbibliotecas, na visão de muitas pessoas. O termoprofissional da informação é mais abrangente,porém abarca outros trabalhadores da informaçãocomo professores, jornalistas, etc., dificultandoa delimitação dos profissionais por área de

atuação e interferindo em sua identidadeprofissional.

Galvin, citado por Barbosa (1998, p.56),

considera que o problema já nasce na formação

dos profissionais. Destaca a grande proliferação

de especializações com as mais diferentes deno-

minações - por exemplo “mestre em gerência

de recursos informacionais, especialista eminformação geográfica, especialização em

sistemas de informações gerenciais” etc. - como

responsável por “um quadro confuso para os

públicos externos”, que, segundo ele, não conse-

guem entender o que fazem esses profissionais

e o que é a Ciência da Informação (BARBOSA,1998, p.56).

Entende-se que, para que os estudoscientíficos e pesquisas a respeito dessa categoriapossam ocorrer e para que esses estudosretratem a realidade, é preciso uma delimitaçãoclara. Entende-se, ainda, que uma definição maisexata influenciará a visibilidade da categoria portodos os profissionais, inclusive de outras áreas,e ajudará os próprios profissionais da informaçãoa crescerem e amadurecerem.

Esse é um problema a ser enfrentadopelos profissionais da CI. Vale frisar que, emoutras áreas, como Direito, Medicina e Engenha-ria, as novas tecnologias também trouxeramreflexos na atuação dos seus profissionais, coma utilização de equipamentos cada vez maismodernos e informatizados; entretanto, elescontinuam sendo reconhecidos como advogados,médicos e engenheiros.

Inversamente, sabe-se que não adiantamudar a denominação de uma classe profissionalsem que se mude, de fato, a postura e a atuaçãode seus profissionais. Além disso, um grupoprofissional precisa possuir uma história e umatradição para poder ser reconhecido pela socieda-

de e garantir sua identidade como classe

profissional. Entretanto, esse comportamento

não descarta a oportunidade de aprender e deadaptar-se ao novo - como às tecnologias.

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Os estudos sobre o Profissional daInformação: o perfil de competências ehabilidades

Inicialmente foram destacados os princi-pais acontecimentos históricos, desde a Antigüi-dade até os dias atuais, para entender-se comose desenvolveu a profissão do organizador edifusor da informação. Em seguida apresentou--se uma discussão em relação ao bibliotecárioe ao documentalista, inclusive sobre a formaçãodesses profissionais. Depois, destacou-se ainfluência das definições das áreas que tratam ainformação na denominação de seusprofissionais, trazendo e discutindo os diferentesconceitos apresentados, tanto para as áreascomo para os profissionais.

Neste tópico se dará ênfase aos tipos deestudos na área da CI que têm tanto o bibliote-cário como o profissional da informação comoobjetos de estudo. A partir dessa discussãopretende-se mostrar quais são os enfoques maiscomuns nos estudos do tema, na literatura daárea.

O estudo de Cunha e Pereira (2003)

investigou a inserção profissional dos egressos

do curso de Biblioteconomia da Universidade

Federal de Santa Catarina (UFSC) no períodode 1991-2000. O método utilizado foi um

questionário encaminhado aos profissionais por

e-mail e, para alguns entrevistados, foi usado o

telefone. Apesar de as autoras destacarem que

não atingiram o número desejado de responden-

tes (apenas 15,8% dos profissionais formadosnaquela instituição responderam), conseguiram

chegar a algumas conclusões interessantessobre o perfil profissional dos alunos formadosno curso de Biblioteconomia da citada instituiçãoe sobre sua inserção no mercado de trabalho: apredominância dos profissionais da área queresponderam, é do sexo feminino; essesprofissionais atuam basicamente em universi-dades privadas no interior de Santa Catarina; asatividades mais desenvolvidas eram análise,

referência e gestão da informação. Os conteúdosmais solicitados pelos PI para constarem doscurrículos dos cursos de formação em Bibliote-conomia são os ligados à Informática e às novastecnologias.

Pereira (2000) pesquisou a ocorrência dotema ‘profissional da informação’, enfatizando suafunção gerencial, em dois periódicos da área:Ciência da Informação e Perspectivas em Ciênciada Informação no período de 1996 a 1999. Deacordo com os resultados, o tema foi enfocadopelos dois periódicos durante todo o períodoestudado, sendo que Ciência da Informaçãodivulgou mais amplamente o assunto. A autoraainda destacou que a maior influência nascitações e referências analisadas foi de autoresde língua inglesa. Estudos dessa naturezademonstram que os periódicos científicos, sendoum canal de comunicação entre os pares dequalquer área do conhecimento, são ferramentasimportantes, tanto para a discussão de temasde relevância para a área, como para a atuali-zação dos profissionais em relação aos assuntosde pesquisa.

Em relação ao perfil de habilidades ecompetências dos PI, destacam-se os trabalhosde Marchiori (1996), Ponjuán Dante (2000),Pegoraro (2001), Ferreira (2002) e Neves (2002).Marchiori (1996, p.2) traça primeiramente umparalelo entre a função de bibliotecário e deprofissional da informação, ressaltando suasprincipais diferenças: enquanto ao bibliotecáriocabe “adquirir, tratar e conservar materiaisbibliográficos e multimeios”, ao profissional dainformação cabe “identificar a necessidade deinformação de seu cliente”; o bibliotecário deve“realizar pesquisas sob demanda”, o profissional

da informação deve “desenvolver estratégias debusca de informação”; o bibliotecário deve

“preservar os materiais” e o profissional da

informação “recuperar informação”; o bibliotecário

deve “atender ao leitor (quando solicitado)” e o

profissional da informação deve “avaliar informa-ção”; o bibliotecário deve ainda “desenvolver

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atividades recreativas e culturais” e o profissionalda informação “analisar informação”; ao bibliote-cário cabe “oferecer serviços de extensão” e aoprofissional da informação cabe “sintetizar infor-mação”; o bibliotecário deve “desempenharfunções administrativas” e o profissional dainformação deve “empacotar/re-empacotar infor-mação”, devendo ainda o profissional da informa-ção “elaborar e prover produtos e serviços deinformação”.

Para a autora, o bibliotecário até pode serum profissional da informação, mas, para isso,deve ter habilidades além das que tradicional-mente possui, entre elas:

- o real conhecimento da informação:no sentido de possuir conhecimento técnico,tecnológico e de computadores, aliado a um“profundo entendimento das dinâmicas e fontesde informação, com habilidades interpessoais eempatia para oferecer respostas que possamauxiliar a tomada de decisões de seus clientes”;- dominar habilidades de venda: pelo fato dea informação passar a ser considerada comouma mercadoria (commodity) é preciso que elepossua facilidade para “discutir, implementar eacompanhar os preços e as oportunidades devendas nas transações, serviços e produtos deinformação”; - dominar habilidades afiliativas:estabelecendo alianças e parcerias “com osintegrantes da indústria da informação (vendedo-res, indivíduos com propriedade intelectual,bibliotecas, etc.).” (MARCHIORI, 1996, p.3, grifosdo autor).

É preciso salientar que, analisando-se asatividades do bibliotecário e comparando-as comas do profissional da informação, de acordo coma obra de Marchiori (1996), entende-se que ummesmo profissional pode efetuar todos essesserviços.

Ponjuán Dante (2000), comparando váriosestudos internacionais a respeito do perfil exigidodo profissional da informação para os novostempos, coteja várias listas de habilidades queos bibliotecários já possuem e outras que eles

ainda precisam desenvolver. Em síntese, a partirdo levantamento que a autora faz, ela entendeque as principais habilidades exigidas estãoligadas “à gestão, à tecnologia, à informação, àbiblioteconomia, à comunicação, aos negóciose à cultura geral.” (p.97). Destaca, ainda, que oprofissional da informação é um agente demudanças, um educador e um promotor culturalcom grande responsabilidade social em suaatuação.

Pegoraro (2001) indica como principaisconhecimentos exigidos para o profissional dainformação, no século XXI, conhecimento defontes de informação, de administração egerência, das tecnologias de informação e demarketing, entre outros. Quanto às competên-cias, chama a atenção para o trato com ainformação, o desenvolvimento de produtos eserviços de informação, uso das tecnologias deinformação, etc.. Quanto às habilidades básicas,ressalta o domínio de outro idioma, a responsabi-lidade social, o domínio metodológico para aanálise de informações, etc.

Ferreira (2002) comenta que muitos PIconcentram sua atuação nos espaços tradi-cionais da Biblioteconomia e que, apesar de asempresas de recrutamento e seleção teremconhecimento da necessidade de um profissionalque lide efetivamente com informação, não oligam com os profissionais formados pela CI. Aautora afirma que grande parte da população nãoreconhece a CI como uma ciência social aplicadae não entende a atuação de seus profissionaisna prática. Segundo Ferreira (2002), as habili-dades e competências exigidas pelo mercadosão um conjunto formado por atitudes comporta-mentais, diploma e conhecimento efetivo emdeterminada área.

Neves (2002) cita entre as característicasmais requisitadas para esse profissional, ashabilidades comportamentais, as quais nãoadvêm de cursos ou estudos e dependem, namaioria das vezes, da iniciativa do própriotrabalhador: por exemplo, a capacidade de atuar

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em equipe, a facilidade de comunicação,a capa-cidade de identificar e julgar a importância dasinformações, o envolvimento no cargo, a criativi-dade, a motivação, a liderança, o dinamismo e aflexibilidade, entre outras.

O trabalho de Tarapanoff et al. (2002)destaca a função social do profissional da infor-mação, como muito ligada à alfabetização eminformação, ou seja, a tarefa de promover a forma-ção de uma cultura informacional na sociedade,ajudando-a a melhor utilizar as informações e,nesse sentido, conseguir que ela ingresse naEra da Informação e do Conhecimento com umavisão mais crítica e com mais bagagem, pararesolver problemas ou tomar decisões. Nessetrabalho os autores destacam também a info--alfabetização, sendo esta uma parte da alfabeti-zação em informação, em que as pessoasaprendem a usar o computador e acessar asinformações desejadas, sempre com umareflexão crítica sobre elas. Como principais

características do profissional da informação

apontam a de mediador da informação: “me-

diador entre o mundo digital e a capacidade real

de entendimento do receptor da informação,garantindo a efetiva comunicação e a satisfação

da necessidade informacional do usuário dessa

tecnologia.” (TARAPANOFF et al., 2002, p.4).

Baseando-se na literatura estrangeira,

Tarapanoff et al. (2002, p.5), trazem ainda osperfis emergentes relacionados ao novo ambien-

te, muito influenciado pelas TIC e pelas redes,em que constam:

- os gestores da informação (são os

“que mantêm sistemas de informação,sistemas de apoio à decisão e opera-ções similares, no setor público e

privado”; entretanto, segundo os auto-res, esses profissionais “nunca seviram como partícipes da mesma

profissão que os bibliotecários, arqui-vistas ou cientistas da informação”);

- os gestores do conhecimento (usam

as tecnologias para capturar e distribuir

conhecimento para as organizações etêm como responsabilidades “criar ainfra-estrutura para a gestão da

informação; construir a cultura doconhecimento na organização; e fazercom que tudo dê certo”);

- os trabalhadores do conhecimento(grupo formado pelos “gestores doconhecimento, profissionais do conhe-

cimento e empregados (do conheci-mento) que compreendem comocolocar a informação a serviço da

produção”); e

- os engenheiros do conhecimento(termo encontrado na literatura como

sinônimo de gestor do conhecimento;entretanto, os autores destacam que“a diferença é que o gerente estabelece

a direção que um processo deve tomar,enquanto que o engenheiro desenvol-ve os meios para executar esta

diretiva”).

Além desses, Tarapanoff et. al. (2002, p.6)destacam os especialistas: especialistas emgestão do conhecimento (profissionais cujasfunções “já eram desempenhadas por pro-fissionais como os documentalistas, o pessoalligado ao treinamento, analistas de negócios eespecialistas de apoio ao desenvolvimento

organizacional”); especialistas em conteúdos

informacionais (campo onde podem atuar os

bibliotecários como especialistas de informação,geralmente ocupado por profissionais indepen-

dentes, como consultores em que a principal

função é “prover serviços de informação”);

especialistas em uso de ferramentas inteligentes

(o profissional que deve “entender os processos

computacionais, formatos-padrão, linguagens esoftwares; deve também saber gerenciar a

informação”). Depois desta longa explanação de

perfis emergentes, os autores concluem que

[...] é impossível encontrar, em apenas

uma profissão ou em um determinadoperfil, a síntese de atividades quecompreenda todas as facetas da infor-

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mação e do conhecimento necessá-rias para o desenvolvimento dasatividades de organização ou do desen-

volvimento de uma sociedade.

(TARAPANOFF et al., 2002, p.7).

A pesquisa de Arruda et al. (2000) focou

a atuação dos bibliotecários no novo ambiente,

em que o trabalho em si vem sofrendo inúmeras

transformações. Segundo os autores, o novocenário passou a exigir maior número de

competências tanto por parte dos PI, como de

outros profissionais; portanto, o trabalhador deve

ser mais qualificado, e o bibliotecário precisa se

adequar às exigências do mercado para

melhorar sua colocação e conquistar novaspossibilidades de trabalho, aliando a educação

continuada às competências pessoais.

Note-se que há uma divergência nas posi-

ções abordadas acima, a de Arruda et al. (2000)

e a de Cunha e Pereira (2003): a primeira pesqui-sa constatou mudanças no trabalho dos bibliote-

cários nos dias atuais e a segunda afirma que o

que tem sofrido alterações não são as atividades

e sim os ambientes.

A pesquisa de Cronin et al. (1993) procu-

rou identificar o mercado emergente para os PIno estado de Indiana, nos Estados Unidos. O

estudo baseou-se em entrevistas com pro-

fissionais atuantes e na análise de anúncios de

emprego publicados em Indianapolis Star, The

New York Times, ASIS Jobline, Information

Today, Library Journal e SpeciaList. Algunsresultados, que puderam ser generalizados,

indicam existir um mercado mensurável para

os PI, exigindo deles um “mix de talentos,

know-how e experiência” (p.3); entretanto, esse

mercado é difuso e não deve fidelidade a qualquer

corpo profissional estabelecido ou a qualquercurso disciplinar; os títulos e funções de trabalho

são extremamente variadas; as escolas deBiblioteconomia e CI precisam rever, não somen-te seus currículos, como também a própriacultura, para que seus profissionais possam ter

mais êxito no mercado de trabalho; o nível demestrado (ou em alguns casos Master onBusiness Administration -MBA) tem sido umaexigência comum dos empregadores e, quandonão exigido, é bem visto o profissional que opossua; além disso, uma larga experiência emdeterminado campo pode contar tanto quantouma pós-graduação.

As mais variadas denominações sãoencontradas para as funções e destacam-sealgumas: “especialista de dados; analista demercado de informação, cientista da informação,especialista de tecnologia da informação, gerentede serviços de informação; coordenador deinformação de mercado; indexador de documen-tos jurídicos” entre tantos outros (CRONIN et al.,1993, p.4).

Valentim (2000), tratando das perspecti-vas profissionais e atuação dos PI, entende queo mercado de trabalho do profissional bibliote-cário se divide em três grandes grupos: 1) omercado informacional tradicional - composto porbibliotecas públicas, escolares, universitárias,especializadas (pertencentes a institutos depesquisa e a empresas públicas ou privadas),centros culturais, bibliotecas de arquivos e demuseus; 2) os mercados informacionaisexistentes e não ocupados (ou pouco ocupados)- de que fazem parte as bibliotecas escolares(que segundo a autora não é um mercado detrabalho totalmente aproveitado devido aos baixossalários e à estrutura de trabalho inadequada,entre outros obstáculos), editoras, livrarias,empresas privadas, provedores de internet,bancos e bases de dados, além de consultoriase assessorias (com atuação dos PI comoprofissionais autônomos ou terceirizados); 3) astendências de mercado informacional - sãocaracterizadas pela autora como um imenso ecrescente mercado de trabalho, aberto aos PI ecalcado no paradigma da informação.

O estudo de Smit e Barreto (2002) desen-volve a relação entre o profissional e sua áreaformadora, ressaltando a importância de que estetenha pleno conhecimento do arcabouço teórico

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de seu campo de formação e trabalho. Emconseqüência dessa ligação, fica clara a impor-tância da pesquisa na formação dos PI, para queestes se aprofundem nos aspectos conceituaisda área e para que possam desenvolvê-la aindamais com a execução de novas pesquisas. Osautores trazem ainda um importante conceito deinformação, a ser destacado, em que ela é vistacomo

[...] estruturas simbolicamente signifi-cantes, codificadas de forma social-mente decodificável e registradas (para

garantir permanência no tempo eportabilidade no espaço) e que apre-sentam a competência de gerar

conhecimento para o indivíduo e parao seu meio. Estas estruturas signifi-cantes são estocadas em função de

um uso futuro, causando a institu-cionalização da informação. (SMIT;BARRETO, 2002, p.21).

A discussão dos autores é extremamenteinteressante por ressaltar alguns pontos-chavea respeito da informação como objeto de trabalhodo profissional da informação: o caráter decodi-ficável da informação (para que seja utilizada); anecessidade de que seja registrada em qualquersuporte (para diferenciar informação volátil, comoa tácita, de uma informação que foi registradacom a intenção de ser socializável); além de ainformação ser socializável, ela é reunida emestoques de acordo com uma utilidade que lhefoi atribuída, seja por uma instituição, um governoou qualquer agente; possuindo um caráterinstitucional, a informação torna-se social. É apartir dessa cadeia, e com esse enfoque, quedeve trabalhar o profissional da informação.

Os estudos sobre o profissional dainformação: inserção no mercado detrabalho

Outra linha de trabalhos na área deCiência da Informação tem procurado investigar,em uma perspectiva empírica mais geral, a

questão da inserção dos PI no mercado detrabalho. Nesta linha, têm destaque as pesquisasde Jannuzzi e Mattos (2001) e de Bueno (2004).

Baseando-se no conceito de profissionalda informação de Ponjuán Dante (2000), já citadoneste trabalho, aparece a pesquisa sobre ainserção dos PI no Brasil, no período de 1980até 1996, de Jannuzzi e Mattos (2001). Osautores incluíram nessa categoria bibliotecários,arquivistas, museólogos, analistas de sistemase estatísticos, analistas socioeconômicos eprofessores universitários, jornalistas e escrito-res. Os resultados apontaram que os PI, comooutras categorias no país, também sofreramproblemas de inserção por influência econômica(como exemplo, cita-se a época de recessãodevida ao plano Collor); entretanto, segundo osautores, os PI conseguiram manter níveis deproteção social e direitos básicos bastantesuperiores em relação aos demais trabalhadoresde outras categorias; quanto aos salários, dentrea média dos ocupados, os dos PI eram duas acinco vezes maiores.

Estudando a economia da informação noBrasil, Bueno (2004) destacou a atuação dosPI, que movimenta a economia com a produti-vidade de seu trabalho e também com osordenados e salários desses profissionais nomercado. Baseando-se na metodologia de Porat(1977), o autor utilizou os microdados do CensoDemográfico de 2000 para identificar, delimitar,dimensionar e caracterizar as atividades ba-seadas em informação, em termos econômicos,no Brasil. De acordo com Schement citado porBueno (2004, p.44):

[...] trabalho de informação ocorrequando a principal tarefa do trabalha-

dor envolve de alguma forma pro-cessamento ou manipulação da infor-mação, tais como produção, recicla-gem, ou manutenção da informação.Além do mais, a conseqüência dotrabalho da informação é mais informa-ção, seja na forma de novo conhe-cimento, seja reelaborado nas formas

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existentes. Diferente do trabalhador dalinha de montagem, um trabalhador dainformação, tal como uma telefonista,

processa e manipula informação comoum fim em si mesmo. A informaçãodefine a tarefa, o produto, e o tra-

balhador.

O grupo estudado por Bueno (2004, p.74),chamado de trabalhadores da informação, seriaformado por produtores, processadores, distri-buidores de informação e, no Brasil, mais dametade seria representado pelos processadoresda informação (58%, perto de 6,79 milhões depessoas). Em relação ao perfil educacional, ostrabalhadores da informação superam a médiados demais trabalhadores, pelo fato de suaatividade exigir maior número de habilidades econhecimentos.

C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

Destaca-se o registro da informação comoponto fundamental para o nascimento dasprofissões ligadas à organização e à difusão deinformações. O histórico apresentado destaca aprofissão de bibliotecário, que se formou inicial-mente pautada em largo conhecimento culturale humanístico, passando até a ser consideradaelitista, devido ao grande conhecimento e erudi-ção de seus profissionais, para depois mergulharna técnica, perdendo sua visão crítica e chegandoa ser considerada reduto de pessoas “bondosas,porém incompetentes, verdadeiras guardiãs numdepósito de documentos”. Com o advento dasTIC, a categoria resolveu assimilar o ambientevirtual como campo de trabalho e optou pelamudança de denominação, atitude que não foi

aceita em consenso pela totalidade da comuni-dade científica da área.

Argumenta-se que esse posicionamentodá ingresso aos profissionais de outras áreas,com conhecimentos práticos de informática, tãonecessários para se atuar no meio virtual. Seráque os bibliotecários estarão prontos paraassumir essa empreitada? Nesse sentido, maisuma vez, a categoria poderá sofrer prejuízos, poisa atuação em uma profissão depende tanto dodomínio de técnicas específicas e das compe-tências de inserção no mercado de trabalho,quanto das necessidades criadas por essemercado, além de estar ligada ao próprioreconhecimento da função da classe pelasociedade.

A ligação do termo bibliotecário com olivro e os objetos culturais não deveria ser motivode vergonha, mas sim de orgulho. As entidadesde área deveriam se organizar no sentido demobilizar as autoridades em relação a investi-mentos na área de Bibliotecas públicas e esco-lares, destacando-se aí, a função de educadordo PI. O incentivo à cultura no Brasil é funda-mental para melhorar o ambiente atual.

O quadro teórico esboçado mostrou umgrande número de trabalhos que enfocam o perfildos PI, suas habilidades e competências,principalmente em relação ao que o mercado detrabalho exige.

Depois desse percurso, finaliza-seressaltando que o conceito de Profissional daInformação precisa ser mais discutido, para serdefinido e aceito pela comunidade, visandofortalecer a categoria. Segundo esta pesquisaentende-se que o conceito de Profissional daInformação ainda encontra-se em construção.

R E F E R Ê N C I A S

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