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Transinformação, Campinas, 16(2):133-161, maio/ago., 2004 ARTIGO A prática de indexação: análise da evolução de tendências teóricas e metodológicas 1 Theindexingpractice:adevelopmentanalysis oftheoreticalandmethodologicaltrends Maria dos Remédios da SILVA 2 Mariângela Spotti Lopes FUJITA 3 R E S U M O Almejando contribuir com uma reflexão sobre a prática do indexador e tendo em vista a evolução do processo de indexação, os autores procuram identificar, pela revisão da literatura, o desenvolvimento teórico e metodológico de tal processo, extraindo as principais tendências e influências ali presentes. A revisão da literatura foi sistematizada por duas análises: a da literatura fundamental e a dos relatos de experiência. A primeira análise divide-se em três categorias: definição, história e aspectos teóricos e metodológicos da indexação, as quais permitiram evidenciar a constante preocupação, por parte dos estudiosos, com relação à abordagem do assunto do documento, tendo em vista sua recuperação. Com isso, conclui-se que a maior ênfase nesse processo está relacionada à indexação acadêmica – resultante da concepção de análise de assunto assumida pelo indexador. Este segundo tipo de análise tem suas influências mais diretamente relacionadas às áreas de interface da Análise Documentária – a Lingüística, a Lógica e a Psicologia Cognitiva, mais recentemente abordada pelos estudos teóricos, ainda não aprofundados. 1 Parte integrante do Projeto integrado “Leitura em análise documentária: uma contribuição à formação do indexador”, sob coordenação de M.S.L. FUJITA. Apoio do CNPq. 2 Mestranda, Curso de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista,Marília,SP,Brasil. E-mail :<[email protected]>. 3 Livre-Docente, Departamento de Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista. Av.HyginoMuzziFilho,737,CampusUniversitário,17525-900,Marília,SP,Brasil.Correspondênciapara/ Correspondenceto : M.S.L.Fujita. E-mail :<[email protected]>. Recebido em 8/7/2003 e aceito para publicação em 28/6/2004.

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A PRÁTICA DE INDEXAÇÃO: ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DE TEDÊNCIAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

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ARTIGO

A prática de indexação: análise da evolução

de tendências teóricas e metodológicas1

The indexing practice: a development analysis

of theoretical and methodological trends

Maria dos Remédios da SILVA2

Mariângela Spotti Lopes FUJITA3

R E S U M O

Almejando contribuir com uma reflexão sobre a prática do indexador e tendo em

vista a evolução do processo de indexação, os autores procuram identificar,

pela revisão da literatura, o desenvolvimento teórico e metodológico de tal

processo, extraindo as principais tendências e influências ali presentes. A

revisão da literatura foi sistematizada por duas análises: a da literatura

fundamental e a dos relatos de experiência. A primeira análise divide-se em

três categorias: definição, história e aspectos teóricos e metodológicos da

indexação, as quais permitiram evidenciar a constante preocupação, por parte

dos estudiosos, com relação à abordagem do assunto do documento, tendo

em vista sua recuperação. Com isso, conclui-se que a maior ênfase nesse

processo está relacionada à indexação acadêmica – resultante da concepção

de análise de assunto assumida pelo indexador. Este segundo tipo de análise

tem suas influências mais diretamente relacionadas às áreas de interface da

Análise Documentária – a Lingüística, a Lógica e a Psicologia Cognitiva, mais

recentemente abordada pelos estudos teóricos, ainda não aprofundados.

1 Parte integrante do Projeto integrado “Leitura em análise documentária: uma contribuição à formação do indexador”, sobcoordenação de M.S.L. FUJITA. Apoio do CNPq.

2 Mestranda, Curso de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade EstadualPaulista, Marília, SP, Brasil. E-mail: <[email protected]>.

3 Livre-Docente, Departamento de Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista.Av. Hygino Muzzi Filho, 737, Campus Universitário, 17525-900, Marília, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to:M.S.L. Fujita. E-mail: <[email protected]>.Recebido em 8/7/2003 e aceito para publicação em 28/6/2004.

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Quando estes aspectos lógicos, lingüísticos e cognitivos estiverem mais

esclarecidos, permitirão ao indexador a realização de uma análise conceitual

do documento mais efetiva, pois são estes aspectos que vão auxiliar na

determinação da tematicidade do documento.

Palavras-chave: indexação, história da indexação, metodologia de indexação,

análise documentária, leitura documentária.

A B S T R A C T

To contribute with a reflection on the indexer’s practice, having in mind the evolution

of the indexing process, the authors of this paper sought to assess the theoretical

and methodological development of such process, through a survey of the

literature, extracting from it the main trends and influences. The scrutiny of the

relevant literature was systematized in two types of analyses: one, the analysis of

fundamental literature in the area, and the other, that of experience stories. The

first analysis was divided in three categories: theoretical and methodological

definition, history, and aspects of indexing. These have allowed the authors to

substantiate a constant concern on the part of the scholars, regarding the

approach to the document as a subject and having in mind its recovery. The

authors conclude that the emphasis in this process rests in the academic

indexing-resultant of the outset of subject analysis carried out by the indexer.

This second type of analysis is more directly influenced by the interfacing areas

of Documentation Analysis - Linguistics, Logic and more recently, of sciences

such as the Cognitive Psychology, which was approached in theoretical studies

that did not prove deep enough yet. Once the logical, linguistic and cognitive

aspects affecting document contents be better clarified, they will assist the indexing

professionals in determining the topics actually involved in a document, and will

allow them to accomplish a more effective conceptual analysis of such document.

Key words: indexation, history of the indexation, methodology of indexation,

documentary analysis, documentary reading.

I N T R O D U Ç Ã O

Temos constatado pela história da Indexa-ção que o ato de construir índices define-se comouma prática bastante antiga no processo detratamento de documentos. A atividade deindexação, como processo, é realizada maisintensamente desde o aumento das publicaçõesperiódicas e da literatura técnico-científica,surgindo a necessidade de criação de mecanis-mos de controle bibliográfico em centros de

documentação especializados. Dessa forma, oaparecimento de mecanismos de controlebibliográfico aconteceu fora do âmbito dasbibliotecas tradicionais, representando umaevolução no processo de tratamento da informa-ção e dando origem teórico-prática, naquelaocasião, a uma nova área, a Documentação.

Dentro da perspectiva evolutiva do trata-mento da informação, está vinculada a Indexaçãocomo operação do tratamento temático quecomporta a análise, síntese e representação. A

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leitura documentária representa principal fasedessa operação, por ser inicial e desencadeartodas as ulteriores. Dessa forma, exerce umainfluência contundente no que concerne àqualidade das outras fases, resultando nosprodutos desse processo.

Nas pesquisas sobre leitura documen-tária, desenvolvidas por Fujita (1999; 2003), paraobservação da leitura do indexador, verifica-seuma constante preocupação com os procedi-mentos de análise do documento. Os resultadosrevelaram que o leitor indexador apresentadificuldades quanto à identificação e seleção deconceitos representativos do assunto dodocumento. Tal constatação proporcionou aelaboração de diretrizes que contém propostade um modelo de leitura documentária paratextos científicos, combinando as estratégias deexploração da estrutura textual e abordagemsistemática de identificação de conceitos, vistoque a compreensão de como se dá essa leiturapoderá auxiliar o leitor-indexador a obter umaanálise conceitual efetiva, que representeadequadamente o assunto tratado no documento.

As pesquisas realizadas no âmbitodessas pesquisas, também tiveram comoobjetivo investigar os procedimentos de leitura eestratégias de leituras com leitores indexadoresespecialistas e não-especialistas. O diagnósticoapontou resultados similares para ambos oscasos. No entanto, os indexadores especialistasforam mais rápidos na realização da tarefa deindexar por dominarem a área de assunto dosdocumentos, ao passo que os não especialistasfizeram mais usos de estratégias, em especiala associação com a linguagem do sistema deindexação.

Outro aspecto a ser lembrado é que aanálise de assunto feita com base unicamentena linguagem do sistema poderá acarretarproblemas para a verdadeira representação doconteúdo do documento; um deles é a incompa-tibilidade entre a terminologia empregada nodocumento e a linguagem do sistema. Lancaster

(1993) esclarece que a terminologia usada peloautor pode não corresponder exatamente aostermos do vocabulário controlado, o que podeocasionar uma atribuição errônea do termo.Complementa, ainda, que devem ser indexadasas idéias do autor do texto e não as palavras.

Consideramos que esses aspectosestão, provavelmente, relacionados à falta deconsolidação teórica da área de Indexação, umavez que está muito articulada com o desenvolvi-mento da prática. Por isso, propõe-se realizar aidentificação e análise das tendências naliteratura publicada em Ciência da Informaçãosobre o desenvolvimento teórico e metodológicode indexação com ênfase em leitura documen-tária, tendo como objetivo contribuir com umareflexão sobre a prática do indexador.

A metodologia adotada constituiu-se derevisão da literatura sistematizada por duasanálises: a de literatura fundamental e outra derelatos de experiência. Denominamos revisão deliteratura fundamental aquela que enfocou ostextos sobre a temática em estudo e, identificouvariáveis do processo de indexação para posteriorcomparação com a literatura de relatos deexperiência sobre prática de indexação, a fimde, relacioná-los com os conteúdos teóricos-metodológicos.

Para a revisão de literatura da prática deindexação foram selecionados 10 textos (artigos)contendo relatos de experiência de sistemas deinformação brasileiro. Os textos selecionadosforam separados por décadas e o conteúdo foianalisado para identificar as variáveis influentesna leitura documentária anteriormente ressalta-das pela revisão de literatura fundamental. Cadaartigo foi descrito fisicamente por referênciabibliográfica seguida de uma descrição baseadano resumo de cada texto, com acréscimos deinformações retiradas de seu conteúdo e, quandonão havia resumo a descrição foi realizada combase no texto. Em seguida à descrição,procedeu-se à análise para identificação dasvariáveis apontadas na literatura fundamental e

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discussão decorrente da categorização dasvariáveis, cuja avaliação com a literatura derelatos de experiência, encontra-se no itemresultados.

A Indexação em revisão de literaturafundamental

A revisão de literatura fundamental desta-cou subsídios para a discussão de temaspresentes na evolução da indexação e osagrupou em três categorias: “Conceituação”,“História” e “Aspectos teóricos e metodológicosde indexação”. Após essa categorizaçãoincluíram-se em “Aspectos teóricos e metodoló-gicos da indexação” outras sub-categorias portratar-se de um tema amplo que justifica umaabordagem mais sistematizada para compreen-são dos diferentes aspectos encontrados nasevolução da indexação e que, certamente,demonstram o seu grau de importância naformação e atuação do profissional bem comopara atendimento da demanda da comunidadeusuária durante a recuperação da informação.

Conceituação de indexação

O conceito de indexação surgiu a partirda elaboração de índices e atualmente está maisvinculada ao conceito de análise de assunto.Com a evolução da prática, em decorrência danecessidade de recuperação cada vez maisrápida, precisa e especializada por parte deInstituições informacionais, a construção deíndices passou a contar com um aparatometodológico e instrumental mais diversificadoe muito mais voltado para o contexto de cadadocumento. Ressalta-se que, a partir da evidên-cia da Documentação como área científica nadécada de 60 e do surgimento dos serviços deinformação em áreas especializadas, a indexa-ção e a elaboração de resumos utilizados naelaboração dos serviços bibliográficos pararecuperação de artigos de periódicos científicos,

ganharam espaço e notoriedade mantidos atéhoje. Bradford (1961), em seu clássico livro,“Documentação”, até hoje considerado comoreferência para a Documentação, destacaindexação para a análise de documentos. Otermo, então, passou a ter um significado maisabrangente.

No âmbito da Análise Documentária,segundo a linha teórica de Gardin, a Indexaçãoé vista como uma operação de representaçãodocumentária com a finalidade pragmática deRecuperação da Informação. Contudo, sob aperspectiva de outros teóricos, principalmenteingleses e norte-americanos, a Indexação é aprópria Análise documentária, composta dasmesmas etapas operacionais com o objetivo derepresentação do conteúdo informacional dedocumentos para a elaboração de índices.

A partir da evolução que determinou aimportância do contexto do documento para arecuperação da informação, a área de indexaçãopassa a incorporar os estudos dirigidos àcompreensão do conteúdo dos textos a seremanalisados. Esses estudos, porém, estãoclaramente inseridos em correntes teóricas e éfácil confundir, na literatura, a função da indexaçãoperante a necessidade de análise de conteúdo.Na literatura observa-se a existência de duascorrentes teóricas: a francesa e a inglesa.

A expressão “Análise Documentária” foiformalmente conceituada por Gardin (1981, p.29)como “um conjunto de procedimentos efetuadoscom a finalidade de expressar o conteúdo dedocumentos científicos, sob formas destinadasa facilitar a recuperação da informação”.

A corrente francesa adota a expressãoAnálise Documentária, introduzida por Gardin(1981) e este, tem seus seguidores como:Chaumier, Kobashi, Smit, Tálamo, Ginez de Lara,Cintra, Cunha, Guimarães, Fujita, Gil Leiva, RuizPerez, Pinto Molina, entre outros. Segundo essaconcepção, a Análise Documentária é um macrouniverso no qual a indexação está inserida. Aindexação é, então, o resultado da fase de

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representação, fase final da análise documen-tária, em que se utilizam as linguagens documen-tárias para a geração de produtos documentários(índices e notações classificatórias, etc.)(GUIMARÃES, 2000).

Para Chaumier (1980) a indexação é aparte mais importante da análise documentária.Conseqüentemente, é ela quem condiciona ovalor de um sistema documentário. O autor nosadverte que uma indexação inadequada ou umaindexação insuficiente representa 90% dascausas essenciais para aparição de ‘ruídos’ oude ‘silêncios’.

A expressão Análise Documentária, doponto de vista dos teóricos espanhóis, comportadois níveis de divisão: o da forma – análisedescritiva ou bibliográfica – refere-se ao trata-mento físico da informação ligado com o suporte;e o do conteúdo, que se refere ao tratamentotemático da informação e destina-se à represen-tação condensada do assunto intrínseco ouextrínseco tratado em um determinadodocumento.

Há, portanto, uma diferença da concepçãofrancesa de Análise Documentária entreespanhóis e franceses. Para os teóricos france-

ses, a Análise Documentária refere-se somente

ao tratamento do conteúdo do documento, não

adotando a divisão em forma e conteúdo, ou

descrição física e temática do documento.

A corrente inglesa, representada porautores como Foskett, Lancaster, Campos, VanSlype, Farrow, entre outros, faz o uso daexpressão indexação, entendendo-a como umprocesso.

Segundo Borko e Bernier (1978, p.8) a

indexação é definida como “o processo de

analisar o conteúdo informacional dos registros

do conhecimento e sua expressão na linguagemdo sistema de indexação”. Para Van Slype (1991)é “a operação que consiste em enumerar osconceitos sobre os quais trata um documento erepresentá-los por meio de uma linguagem

combinatória: lista de descritores livres, lista deautoridades e o thesaurus de descritores”.

Na concepção da corrente inglesa,análise documentária e indexação compreen-dem processos idênticos, incluindo-se a análisede assuntos como etapa inicial da indexação.

A existência de diferentes correntesteóricas explica o uso de termos como análisede assuntos, análise de conteúdos documen-tários e análise documentária. Observa-se que,em estudos da área, os termos “Indexação”,“Indexador” e “Análise de assunto” aparecem commais freqüência do que “Análise documentária”e “Documentalista”. A mais importantebibliografia da área, a Library and InformationScience Abstracts (LISA), traz em seu índicede assunto os termos Indexing e Indexer, masnão Documentary analysis ou Documentalist, oque justifica uma boa quantidade de publicaçõesutilizando aquela nomenclatura.

A despeito dessas divergências, advindasde correntes teóricas, é preciso considerar que,dentro de uma perspectiva histórica, a Indexaçãotinha uma finalidade específica de construçãode índices e o termo “Indexação” se ajustavaperfeitamente à atividade, porém, com o uso de

tecnologias de recuperação da informação a

necessidade de elaboração de índices foi sendo

substituída pela necessidade de representação

do conteúdo documentário por termos de

indexação em decorrência da análise de assun-to. O conceito de indexação, elaborado por

Esteban Navarro (1999, p.70), expõe essanecessidade de maneira bem detalhada:

A indexação consiste em um processo

destinado a identificar e descrever oucaracterizar o conteúdo informativo deum documento mediante a seleção

das matérias sobre as quais versa(indexação sintética) ou dos conceitos

presentes (indexação analítica) para

sua expressão da língua natural e sua

reunião em índice, com objetivo de

permitir posterior recuperação dos

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documentos pertencentes a umacoleção documental ou conjunto dereferências documentais como res-

posta a uma demanda acerca do tipode informação que este contém.

Ainda para Esteban Navarro (1999) aindexação tem como objetivo a:

[...] representação do conteúdo dosdocumentos que formam parte de umconjunto para garantir sua eficaz

recuperação durante o processo debusca nesse grupo.

Para o autor, o processo de indexaçãose constrói a partir do exame tanto da

atividade que é realizada durante oexercício dessa técnica, como tambémem um sistema de informação

documentária.

Dessa forma, compreendemos a análisedocumentária como área teórica e metodológicacom o objetivo de tratamento temático dedocumento que abrange as atividades deIndexação, Classificação e elaboração deresumos, considerando as diferentes finalidadesde recuperação da informação.

A indexação em análise documentária,sob o ponto de vista dos sistemas de informação,é reconhecida como a parte mais importanteporque condiciona os resultados de umaestratégia de busca. O bom ou mau desempenhoda indexação reflete-se na recuperação dainformação feita pelos índices.

Por isso, segundo o UNISIST (1981), háde se considerar a indexação sob dois pontosde vista distintos: enquanto processo queconsiste em descrever e identificar um documentocom ajuda de representações dos conceitos nelecontidos e quanto à sua finalidade, permitindobusca e acesso à informação armazenada.

Maiores considerações a respeito dodesempenho da indexação e sua importânciapara a recuperação demandam a verificação decomo esta é operacionalizada, haja visto osprocedimentos de análise existentes.

História da Indexação

A indexação surgiu com a atividade deelaboração de índices. Gomes e Gusmão (1983,p.12) afirmam que o índice, como um instrumen-to de armazenagem e recuperação dainformação, tem sua origem a partir do momentoem que o homem passou a se preocupar emtornar acessível a informação registrada em umdocumento e para isso resolve ordená-la dealguma forma.

A forma mais antiga de armazenagem deinformação de que se tem conhecimento foiencontrada nas tábuas de argila produzidas pelaextinta Mesopotâmia no século II a.C. Nelas foigrafada uma espécie de resumo dos livrosantigos considerada como forma de represen-tação condensada do conteúdo informacional quedava acesso ao assunto dos livros (WITTY, 1973).

No histórico da indexação, Collinson(1971) indica que o primeiro tipo de indexaçãoexistente era baseado na memória. Textoscélebres, como as grandes epopéias, porexemplo, eram transmitidos oralmente. Depoisdisso, os primeiros índices de que se têm notíciaeram arranjados pela primeira sentença de cadaparágrafo.

Na Biblioteca de Alexandria, organizadapela classificação de Calímaco, seu catálogo eraarranjado em ordem alfabética de autores esubordinados a assuntos mais gerais. Váriasobras, principalmente as histórias e peças dosgrandes dramaturgos da época, eramcondensadas.

No século II, Cláudio Galeno compilou DeLibris Propiis Líber, determinando o aparecimentodos primeiros guias para obras isoladas:cabeçalhos de capítulos, tábuas de matéria ousumários, cabeçalhos nas margens dos parágra-fos, cabeçalhos descritos no alto das páginas.

No século V, a obra anônima Apothegmata,apresenta-se como o trabalho que mais seaproximou do índice alfabético de assunto porqueconsistia de uma listagem de provérbios gregos

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sobre tópicos teológicos. É nessa época que asobras aparecem já arranjadas em capítulos eseções numeradas permitindo, portanto, alocalização de suas partes.

No século XIV era comum a elaboraçãode inventários ou catálogos dos livros existentesnos mosteiros e a elaboração de listas completasera um objetivo definido.

A partir disso passaram a surgir os guiaspara cada livro e a esse respeito Collinson (1971,

p.8) pontua, mas não descreve, alguns métodos

que se fixaram e ficaram permanentes, como:

- Os cabeçalhos de capítulos de livros são

antigos e os livros sempre apresentavam, desde

então, sumário ou tábuas de matéria;

- Para a inserção de cabeçalhos em

parágrafos nas margens, ou como entradas nospróprios parágrafos cita as obras Short Historyof English Literature de Saintsbury e History ofGreece de Bury;

- A impressão de um cabeçalho descritivo

no alto de cada página muda de página parapágina em alguns livros, porém , o mais freqüente

é repetir apenas o título do livro ou do capítulo.

A noção de índice nessa época significou

uma lista de conteúdo, lista de resumos ou váriasnotas e muito raramente essas listasrepresentavam o que se conhece de índiceatualmente.

Os copistas, na tentativa de esclarecerou indicar os pontos principais do assunto tratado

em trechos ou parágrafos mais longos, escre-

viam às margens dos livros algumas palavras ou

sentenças que indicassem o conteúdo. Isso

acontecia de acordo com o grau de entendimento

de cada copista, sendo mantido o critério derelevância dos pontos principais tratados noslivros até que um copista fosse substituído poroutro. Temos, aqui, a primeira afirmação de quea indexação realizada em épocas diversas e porpessoas diferentes diferia, também, quanto àqualidade.

Em seqüência, a necessidade de elabo-ração de índices, segundo Collinson (1971),apresentou-se logo que surgiu a Bíblia inglesa ea indexação surgiu, então, em grande escala em1737 com a compilação da primeira concordânciacompleta da Bíblia por Alexandre Cruden. Essefoi o primeiro passo para que os próximos índicesadquirissem grande valor, pois relacionavamcitações com sua localização no texto. O séculoXVII foi, portanto, o início da grande época doíndice facilitada pela Reforma Protestante quepossibilitou a tradução da Bíblia e, portanto,franqueada ao público em geral.

Cruden indexou a Bíblia e Johnson noséculo XVIII indexou a língua inglesa.Estabeleceu as passagens a serem indexadase o termo pelo qual deveria ter entrada. Foi umtrabalho feito, a partir das coordenadas deJohnson por seis escribas. É atribuído a Crudene a Johnson o estabelecimento de verdadeirospadrões de clareza e consistência para aindexação.

Com a difusão dos procedimentos deindexação, surgiu na Alemanha a contribuiçãoda idéia de palavra-chave na representação deum item com o sistema de escolha da“schlagwort” (palavra-chave), que representouuma melhoria para a busca de informações.

Para Kobashi (1994) a documentaçãocomo é praticada hoje, nasceu no século XVIIcom a edição de Le Journal des Sçavanspublicado em Paris no ano de 1665. Tratava-sede um periódico semanal que trazia os resumosdos trabalhos científicos, filosóficos e artísticos.Esse periódico deu origem a uma série de outrosposteriores de mesma natureza que surgiram naEuropa. Nos séculos seguintes, XVIII e XIX,aconteceu o crescimento com mais intensidadede periódicos referenciais que atualmenteencontram-se no formato eletrônico denominadosbase de dados.

Até o surgimento da imprensa, os índiceseram a única forma de acesso aos livros encon-trados nas bibliotecas dos mosteiros, a partir do

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registro dos títulos dos livros. A partir de então,houve um significativo aumento da literatura queimpulsionou o aparecimento de várias listas comdiferentes finalidades. Konrad Gesner elaborouum repertório geral e europeu – o BibliothecaUniversalia – no qual relacionava cerca de 12mil títulos de todos os livros latinos, gregos ehebraicos de seu conhecimento. Mais tarde foipublicado o índice alfabético de assunto doreferido repertório, cujo nome era Pandectarumsive partitionum uníversalium, libri XXI.

A indexação, hoje conhecida como açãode descrever e identificar um documento deacordo com o seu assunto (UNISIST, 1981, p.84)nos permite afirmar que os índices antigos nãotinham uma indexação, ou “indexação critica”.A literatura da área registra que isso se justificapelo fato de que as pessoas da época desconhe-ciam o processo analítico que atualmenteconsiste a indexação e por esse motivo, osíndices apresentavam uma entrada limitada esimples como nomes próprios ou entradas poracontecimentos diretos.

A literatura da área registra que a históriada indexação tem seu início com a história dabibliografia e que a indexação teve maior atençãoa partir do surgimento das publicaçõesperiódicas. Esse fato fez com que surgisse anecessidade de elaboração de uma técnica paraorganização por assunto do conteúdo desse tipode publicação.

Os trabalhos que contribuíram mais signi-ficativamente para o aprimoramento desseprocesso, são:

- década de 40 do século XIX, apareceu oPeriódico Punch e Ilustrated London News queapresentava ainda índices pobres;

- século XIX, Willian Fredrick Poole publica

An Alphabetical Index to Subjects Trated in theReview and other Periodicals na Universidade de

Yale;

- 1882, Willian Fredrick Poole criou oPoole‘s Index onde introduziu os índices cumula-

tivos de periódicos, usando para artigos de jornaisentradas de assunto representados pelaspalavras-chave retiradas dos títulos dos artigosindexados;

- 1876, Melvil Dewey publica o seu índicerelativo da Classificação Decimal, tido como amais expressiva contribuição à Indexação.

É nos Estados Unidos que surgem osmelhores índices de periódicos e onde foipossível observar os mais importantes pro-gressos, enquanto que, na Europa, W.F. Poolefoi responsável pelos grandes índices dosperiódicos do século XIX.

Consideramos que o século XIX foi operíodo em que a indexação começou aapresentar um aprimoramento de sua execuçãoe ao mesmo tempo ser apreciado pelo público,que sentia necessidade de encontrar umafórmula para o controle da massa documentalque crescia em demasia. Temos com issoinstituições particulares indexando livros, índicesantigos sendo refeitos, elaboração de índicesretrospectivos, índices cumulativos, índicescooperativos, entre outros.

Em 1901, com o lançamento de Reader’sGuide to Periodical Literature por H.W. Wilson,os métodos de indexação ganharam um grau deaprimoramento ainda mais significativo. Nesseperiódico, cada artigo foi indexado pelo seu autore por assunto em específico. Trazia inúmeras

remissivas que ligavam um assunto a outros

correlatos, mantendo, desde o início, um padrãomuito alto de uniformidade e exatidão

(COLLINSON, 1971, p.11).

A partir de então, surgiram muitos bons

índices, tanto gerais como específicos. O aprimo-

ramento da técnica de indexar acompanhava o

aumento da publicação de livros. Como exemploda melhoria da técnica de indexação, encontra-

mos o índice da Encyclopeadia Britânicaconsiderada maior representante do aper-feiçoamento da indexação no século XIX dada aclareza e apresentação gráfica dos seus índices.

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Diante do exposto, podemos concluir queo século XIX foi a grande fase da indexação, dadoo aumento significativo da massa documental.A indexação evoluiu dos índices das obrasisoladas para os índices de vários volumes e paraos índices cooperativos e em nível internacional.

Podemos dividir a história da indexaçãoassociando-lhe trabalhos que originaram suaprática e que na maioria coincidem com a históriada documentação/bibliografia, porém, os títulosde trabalhos, datas, locais, instituições e autorespresentes da literatura de história da documenta-ção diferem daqueles presentes na história daindexação.

No caso da documentação, encontramoscomo autores mais destacados Paul Otlet eHenri La Fontaine criadores do OfficeInternational de Bibliographie, em Bruxelas noano 1892. A história da documentação temaproximação com o que se convencionouchamar de “explosão bibliográfica” ou “explosãodocumental” com ocorrência no século XX,portanto, posterior ao aparecimento dos índicese da indexação.

Segundo Chaumier (1971) foi em 1931que a palavra “documentação” começou a serusada. Os organismos criados pelas atividadesde Documentação foram o Institute Internationalde Documentation (FID) e a Union Française desOrganismes de Documentation (UFOD). Osprincipais instrumentos de organização documen-tária criados, foram os sistemas de classificaçãobibliográfica com destaque para a ClassificaçãoDecimal Universal (CDU), os estudos paracriação de sistemas classificatórios realizadosem 1929 e 1933 por H.G. Bliss e R.S.Ranganathan, a criação da ClassificaçãoDecimal de Dewey (CDD), além dos repertóriosdocumentais que incluíam as bibliografias,códigos de abreviaturas dos títulos de periódicose catálogos bibliográficos. É importante ressaltarque La Fontaine e Paul Otlet introduziram oprincípio de pré-coordenação, ao criarem na CDUo uso de dois pontos (:) para relacionar duasclasses de assunto.

Apesar de atualmente presenciarmosuma evolução ainda maior da indexação, éimportante considerarmos a importância do índiceenquanto ferramenta de busca. Robredo (1994,p.202) classifica índice em dois sentidos: nosentido tradicional e no amplo. No primeirosentido afirma ser uma listagem alfabética ousistemática de tópicos que indicam a existênciae localização de cada um deles num documentoou em uma coleção de documentos. No segundosentido,

[...] um conjunto ordenado de códigosrepresentativos de assuntos, tópicos

ou conceitos (por exemplo, códigos declassificação, grafismos diversos,incluindo palavras ou frases), os quais

podem servir como critérios de buscarelacionando com alguma chave deacesso que permita localizar os

documentos – ou suas partes ou repre-sentações – relativos a cada assunto.

O autor complementa dizendo que oíndice é o mais significativo instrumento pararecuperação da informação Sendo definido comouma ‘chave’ condensada que dá acesso àinformação contida nos documentos, ou comouma ponte entre o conteúdo de um acervo deinformação e os usuários (ROBREDO, 1994,p.244).

Aspectos teóricos e metodológicos daindexação

Após a perspectiva histórica, realizou-seuma exploração dos princípios teóricos e

metodológicos da indexação a partir da revisão

da literatura fundamental, obtendo-se subsídiospara discussão de temas presentes na evoluçãoda indexação. A partir desses temas a revisãode literatura fundamental dividiu-se em: indexa-ção alfabética de assunto; a indexaçãocoordenada, sobretudo a pré-coordenação doscabeçalhos de assunto; a indexação automá-tica e a relação entre o indexador humano e o

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automático; a leitura em indexação e osaspectos ligados a ela como: a) tematicidade;os aspectos b) lógicos, c) lingüísticos e os d)cognitivos que influem na identificação dosconceitos que irão representar o conteúdo dodocumento; e os procedimentos de inde-xação, com base nos princípios do UNISIST,normas do International StandardOrganization (ISO) e a Associação Brasileirade Normas Técnicas (ABNT) e na abordagemsistemática de identificação de conceitos dosistema de indexação PRECIS. As explicaçõesque se sucedem dão ênfase aos itens de maiorimportância.

Indexação alfabética de assunto

A indexação alfabética de assunto estávinculada à determinação de cabeçalhos deassuntos e por isso é, em alguns casos, tambémdenominada de catalogação de assuntos. Apesardas divergências sobre semelhanças ediferenças entre os termos, a indexação alfabé-tica de assuntos e a catalogação de assuntossão equivalentes porque são resultados de ummesmo processo: a análise de assunto. Asdiferenças que induzem à uma distinção referem--se à utilização de linguagens documentáriasdistintas quanto à origem e estrutura: listas decabeçalhos de assunto e tesauros a seremempregadas para a elaboração de diferentesinstrumentos de recuperação (índices de assun-to e catálogos de assunto).

Por outro lado, Lancaster (1993, p.16)argumenta que

O processo que consiste em decidirdo que trata um documento e de

atribuir-lhe um rótulo que representeesta decisão é conceitualmente omesmo, que o rótulo atribuído seja

extraído de um esquema de classifica-ção, de um tesauro ou de uma lista decabeçalhos de assuntos, que o item

seja uma parte bibliográfica completa

ou parte dela, quer o rótulo sejasubseqüente arquivado em ordemalfabética ou em alguma outra

seqüência ou, com efeito, nãoarquivado de modo algum, quer oobjeto do exercício seja organizar

documentos em estantes ou registrosem catálogos, índices impressos oubase de dados legíveis por computa-

dor.

Para completar, o autor acima citadoafirma que a indexação de assunto é idêntica àcatalogação de assunto. A catalogação deassunto é considerada um método de expressaro conteúdo informacional do documento, usandoum número limitado de descritores. O uso dotermo “catalogação de assunto” é influência dos

Estados Unidos da América reforçado pelo uso

das listas de cabeçalhos de assunto por diversas

instituições. Assim, caracterizou-se o termo

catalogação de assunto, basicamente, como

atribuição de cabeçalhos de assunto pararepresentar o conteúdo total dos documentos em

catálogos de bibliotecas. A origem do termo

catalogação de assuntos está ligada a constru-

ção dos catálogos de bibliotecas, principalmente,

do catálogo de assuntos que é organizado

mediante determinação de cabeçalhos deassuntos que funcionam como enunciados de

assuntos formados a partir da composição

ordenada de palavras.

Milstead (1983) afirma que a catalogação

de assunto e a indexação são conceitualmentea mesma atividade e são tratadas como se

fossem separadas, atividades distintas. A autora

assume uma posição ao discutir o assunto, ou

seja, de que catalogação de assunto e indexa-

ção são a mesma coisa. Afirma que considera

aquela como uma forma dessa, e se quisermospensar o contrário será a mesma coisa. Contudo,

do ponto de vista da prática atual, a autoraconsidera que a catalogação e a indexação sãode fato diferentes e esses dois ramos da análiseda informação podem aprender um com o outro.

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Entendemos que a catalogação de assun-tos deve ser considerada como um ramo dentrodo âmbito maior que é a indexação alfabética deassuntos, pois existem cem anos de estudosrealizados em torno da indexação alfabética deassunto desde a publicação, em 1876, da obrabásica de Charles Ammi Cutter Rules for adictionary catalog até a idealização do sistemade indexação PRECIS por Derek Austin em 1974.

Os cabeçalhos de assunto são a primeira

tentativa de sistematização para a representação

alfabética de assuntos. O aparecimento doscabeçalhos de assuntos foi determinado pelos

seguintes fatores: os títulos das obras não

representavam de forma adequada o assunto

nelas tratado; problemas relativos às subdivisõesde assunto; existiam obras com mais de umassunto; a interdisciplinaridade dos assuntos emuma mesma obra; obras que relacionavam osassuntos a lugares e épocas diferentes.

Os princípios básicos que nortearamCutter a estabelecer um cabeçalho de assuntoestão pautados em princípios fundamentais que,segundo (CESARINO; PINTO, 1978, p.274),podem ser resumidos em: a) princípio específico:os assuntos são representados pela entrada dotermo mais específico, desconsiderando a classede assunto a qual está subordinado; b) princípiode uso: prevê a necessidade do usuário; c)princípio sindético: desenvolvimento nas listasde cabeçalhos de assunto de estruturas sindéti-cas, entendidas como uma rede de remissivascruzadas para superar o problema de entradaalfabética dos cabeçalhos de assunto.

Foskett (1973) aponta alguns problemasreferentes à metodologia de indexação propostapor Cutter, como:

� a entrada dupla para superar necessi-dade de especificidade revelava uma prática queprejudicava a facilidade do uso e o desenvolvi-mento de índices alfabéticos;

� o catalogo alfabético de assunto nãose presta ao tipo de estratégias de pesquisa queenvolve a procura sistemática de cabeçalhos.

Cutter, também, limitava o uso de remissi-vas descendentes, ou seja, a relação de assuntosgenéricos para assuntos específicos e vice-versa.Contudo, a obra de Cutter representa o primeiroestudo dos problemas relativos à indexaçãoalfabética de assunto, quanto às implicações deentradas específicas de assunto e as dificuldadesda aplicação dos termos simples, compostos egeográficos.

Por uma síntese evolutiva, abaixo de-monstrada, é possível observar que, embora apreocupação principal dos estudos seja o produtofinal, ou seja, a geração do índice, a análise queenvolve a transformação do conteúdo em índiceestá expressa tanto pela proposição de catego-rias quanto pelos sistemas para indexação,como se observa na evolução dos principaisestudos teóricos:

- Kaiser (1911) – com a publicação dotrabalho Systematic Indexing propõe a análisede assuntos compostos pela combinação de trêscategorias: um “concreto”, um “processo” e“lugar”;

- Ranganathan (1965) (1933 – primeiraedição de The Colon Classification) – desenvolveuum esquema de classificação baseado naanálise de facetas e o uso de cinco categoriasfundamentais: Personalidade, Matéria, Energia,Espaço e Tempo;

- Coates (1960) – em seu livro “SubjectCatalogues”, apresenta a formulação de cabe-çalhos de assunto específicos por categorias:coisa – parte – matéria – ação;

- Metcalfe (1959) – admite que a entradadeve ser direta e discute o propósito da cataloga-ção de assunto como sendo o de indicar somentea classe de assunto em que está inserido;

- Lynch (1973) – criou e desenvolveu osíndices articulados de assunto num estudo deíndices para o Chemical Abstracts;

- Farradane (1977) – idealizou um sistemade indexação que adota nove operadores rela-cionais, para indicar as relações entre termos

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em etapas de discriminação no tempo e noespaço;

- Postulated-based Permuted SubjectIndexing Language (POPSI), idealizado porNeelameghan e Gopinath (1975), é um sistemainteiramente baseado em princípios classificató-rios e que utiliza cabeçalhos de classificaçãocomo termos de entrada na produção dos índicescuja padronização é derivada das categorias daclassificação de dois pontos de Ranganathan;

- Craven (1978) – idealizou inicialmente osistema NEPHIS Nested Phrase IndexingSystem e depois, em conseqüência de uma

evolução experimental, o sistema LIPHIS LinkedPhrase Indexing System (LIPHIS). Ambos são

sistemas de indexação automática;

- Austin (1974) – idealizou para a BritishNational Bibliography (BNB) o PRECIS, cujofuncionamento se fundamenta em estruturassemântica e sintática e em esquema de operado-res de função.

A noção de índice sempre esteve muito

ligada ao processo de indexação. Os índicesoutrora existentes em sistemas de recuperação

da informação, tais como os antigos catálogos

de fichas de biblioteca, foram consideradosdentro de uma perspectiva classificatória, porqueos chamados cabeçalhos de assunto eramcompostos sob influência da terminologiaclassificatória e não do texto e seu conteúdo.

O grande elemento transformador dentroda indexação alfabética a marcar os estudosteóricos foi a análise em facetas proposta porKaiser, Ranganathan e seus seguidores, demar-cando a possibilidade de maior especificidade euniformidade com o uso dos conceitos essen-ciais: espaço, tempo, processo, concreto, coisa,ação etc.

Após Ranganathan, o ClassificationResearch Group desenvolveu a aplicação dos

princípios da análise em facetas assumindo ainfluência da classificação facetada e passou autilizar e desenvolver uma metodologia facetada(PIEDADE, 1983). Vickery (1975, p.181), citadopor Esteban Navarro (1999, p.74), por exemplo,ampliou a quantidade de facetas propostas porRanganathan: Personalidade, Matéria, Energia,Espaço e Tempo (PMEST) para Tipo, Estrutura,Constituintes, Propriedades, Processos,Operações, Técnicas, Generalidades.

Segundo Esteban Navarro (1999, p.73)“...a faceta permite descobrir as relações quemantêm entre si os conceitos mediante aformulação de uma série de perguntas peculiarespara o domínio disciplinar em que se situa oassunto do documento...” Nesse sentido, asfacetas relacionadas ao assunto “materiaisdentários”, por exemplo, seriam reveladas a partirdos seguintes conceitos:

- Tipo de materiais dentários: Materiaisdentários metálicos e Materiais Dentários não-metálicos.

- Constituintes: Ouro, alumínio, porcela-na, prata.

- Propriedades: resistência à fratura,fotoelasticidade, rigidez.

- Processos: Amalgamação, polimeriza-ção.

- Operações: Vibração.

- Técnicas de laboratório: Fase Gama etc.

Na visão de Esteban Navarro (1999, p.79)a identificação de conceitos na indexação deveutilizar questões construídas a partir da “análisedas facetas que caracterizam um conjunto deassuntos relacionados entre si”. Se retomarmosa recomendação dos “Princípios de indexação”do UNISIST e da Norma 12.676 (ASSOCIAÇÃOBRASILEIRA..., 1992) para identificação deconceitos4 , veremos que a base é a mesma, ouseja, a influência da análise em facetas permeia

4 “A escolha dos conceitos pode obedecer a um esquema de categorias reconhecidas como importantes no campo coberto pelodocumento, ex.: o fenômeno, o processo, as propriedades, as operações, o material, o equipamento, etc.” (UNISIST, 1981,p.87).

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o processo de análise em indexação. Os autorescitados mencionam a identificação do temareferindo-se a conceitos, categorias e facetas,que podemos considerar como a mesma coisa,porque o tema é constituído da presença deconceitos.

As publicações sobre indexação alfabéti-ca de assunto privilegiam a discussão em tornoda ordem de citação, de entrada do assunto noscatálogos e não do processo de análise doassunto.

Indexação coordenada

Esse tipo de indexação caracteriza-sepela composição de assunto usada para

representar o conteúdo informacional de um

documento. A pré-coordenação em cabeçalhos

de assunto remonta aos princípios de Cutter em1876 que consiste em recolher de um documento

um ou mais aspectos dominantes tendo em vista

certas subdivisões do assunto.

Para Robredo (1986, p.80) a indexaçãocoordenada baseia-se

[...] na suposição de que o conteúdosubstancial de um documento e deuma pergunta podem ser representa-

dos com suficiente precisão e demaneira suficientemente completamediante um certo número de descrito-

res ou palavras-chave, explícita ouimplicitamente contidos no documentoou na pergunta.

A indexação pré-coordenada apresenta-

se nos chamados sistemas de recuperação da

informação tradicionais, que usam catálogos deassuntos alfabéticos ou classificados pelos quais

o assunto de um documento é representado de

modo mais geral. A diferença básica entre pré e

pós-coordenada é que, na primeira, os termos

são combinados no momento da elaboração do

índice e na segunda os termos são combinadosno momento da busca para recuperação da

informação. O assunto é reunido numa dadaentrada que deve obedecer às formas específicasde entradas nos catálogos ou etiquetasnuméricas de programas de automação debibliotecas.

Indexação automática

A indexação automática é segundoRobredo (1986, p.96) qualquer procedimento quepermita identificar e selecionar os termos querepresentem o conteúdo dos documentos, sema intervenção direta do documentalista. Faz-se,entretanto, necessária uma distinção entreindexação automática e indexação automati-zada.

Comparando o processo de indexaçãoautomática com a indexação manual, Vieira(1988, p.48) afirma que aquela refere-se àoperação que identifica palavras ou expressõessignificativas dos documentos para descrever seuconteúdo de forma condensada por meio deprogramas de computador.

Guimarães (2000, p.1) apresenta o pro-cesso de indexação que envolve o uso docomputador em três concepções - a primeira estárelacionada pelo uso de programas informáticosque dão suporte ao armazenamento dos termos

de indexação obtidos pela análise conceitual; a

segunda pelo uso dos sistemas que analisamdocumentos de forma automática com validaçãodos termos por um profissional (indexação semi--automática) e, a terceira, refere-se a indexação

automática propriamente dita conforme definiçãode Robredo (1986) e Vieira (1988) e classificadapor Guimarães (2000) como aquela realizadapelos programas de computador sem nenhumtipo de validação por profissionais.

A indexação automatizada seria, portan-to, aquela resultante do trabalho intelectual deum profissional para checagem do valor dostermos atribuídos a um documento por umprograma de computador.

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A indexação automática abrange uma

diversidade de experimentações e modelos, mas

nesta revisão de literatura será centrada em Key-

-Word-in Context (KWIC) e Keyword-out-of--Context (KWOC) por questões históricas.

Foi na década de 1960 que o índice KWIC,

indexação pela palavra-chave no contexto,

apareceu propagando um novo método de

indexação: a indexação pela palavra. Representaa primeira aplicação de indexação automática

de documentos técnicos, tendo por base as

palavras significativas dos títulos. A história da

indexação evidencia que a sua criação foi

atribuída a William Frederick Poole que em 1882

com a publicação de “Poole´s Index”, criou umíndice dando entrada do assunto pela palavra-

-chave do título dos artigos desse periódico. É

atribuída a Poole a criação do índice KWIC

(BORKO; BERNIER, 1978, p.8).

Foskett (1973) afirma que esse métodode indexação dispensa o uso de nenhum esforço

intelectual. Foi utilizado por Cretadoro na com-

pilação do catálogo da Biblioteca Pública de

Manchester. Esse índice é mais conhecido como

índice permutado por computador e, nesse caso,

é atribuído a Hans Peter Lunh, a sua criação em1953, coincidindo com os primeiros e promisso-

res trabalhos de Chomsky que abriam um novo

caminho investigador sobre a estrutura da frase

(PINTO MOLINA, 1993, p.225).

Para a autora esse foi um dos primeiros

métodos de indexação automática baseado emmétodos estatísticos de recuperação da informa-ção superficiais e pouco rigorosos, mas que deuorigem aos primeiros trabalhos de carátermorfológicos e sintáticos.

O índice KWIC é caracterizado pelo usoda linguagem natural, conseqüentemente não hácontrole de termos significativos e os sinônimosnão são identificados.

Em suma, sua metodologia consiste nodeslocamento dos títulos de vários documentostanto à direita como à esquerda de forma aordenar alfabeticamente as palavras tomadascomo significativas. Nesse índice, cada títuloaparece na listagem alfabética igualmente aonúmero de vezes das palavras significativas.

O índice KWOC – palavra fora do contexto,é para Lancaster (1993, p.48) aquele em que apalavra-chave usada como ponto de entrada nãose repete no título mas é substituído porasterisco (*) ou outro símbolo. Nesse tipo deíndice, as palavras significativas do título sãoextraídas e colocadas na ordem alfabética e nãohá uma permutação do título como no KWIC; otítulo aparece na mesma ordem da suaapresentação e a “palavra significativa” emlinguagem natural fica na ordem alfabética comocabeçalho. Suas limitações são comparadas àsdo índice KWIC.

Nesse tópico, além da abordagem sobrea metodologia empregada para realização dosíndices automáticos KWIC e KWOC, sãodiscutidas as vantagens e desvantagens acercada indexação automática.

De acordo com Ward (1996, p.217) autordo artigo intitulado The future of the humanindexer5 com objetivo de esclarecer como oindexador automático poderia suplantar ou com-pletar o trabalho do homem, considerando-se osprincípios de indexação e as habilidades inte-lectuais que ela envolve, afirma que uma boaindexação requer:

1) conhecimento prévio da literatura;

2) capacidade para avaliar o que deve serindexado, e em que profundidade;

3) habilidades de leitura - a) incluindodados não verbais, b) análise e avaliação dedados;

4) criação de um sumário, incluindo aformação de relações intertextuais;

5 Indexador técnico da PAWERLINK textbase – índice interno da Biblioteca de Recardo Consulting Engineers. Nesse artigo o autorprocura responder a questão a qual seu texto faz e suas considerações vêem da sua participação naquele índice automático.

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5) habilidades para catalogar e classificarnecessárias para criação de texto-base.

Além dos itens responsáveis por uma boaindexação, Ward (1996) indica as vantagens edesvantagens do indexador automático:

- Desvantagens de um indexador automá-tico: 1) funciona somente em documentosseparadamente; 2) não consegue fazer relaçõesentre os textos ou entre um texto e uma visãode mundo; 3) fica amarrado ao vocabulário e àgramática usada no documento indexador; 4) nãoconsegue lidar com dados gráficos; 5) nãoconsegue lidar com línguas estrangeiras; 6) nãoconsegue avaliar textos; 7) não consegue criarrelações intertextuais; 8) só consegue indexar oque está explícito; não consegue indexar o queestá implícito; 9) não é capaz de imitar oquestionamento, a resposta humana a um texto,o que acrescenta valor à indexação; 10) requerconstante aprimoramento para manter-se em diacom os novos desenvolvimentos; 11) nãoconsegue catalogar ou classificar.

- Vantagens de um índice automático: 1)leitura instantânea de todo texto; 2) diz-se que émais coerente do que um indexador humano; 3)não é tendencioso.

Os problemas dos índices automáticossão que não representam os assuntos dosdocumentos da mesma forma que a indexaçãohumana o faz. Isso se justifica pelo fato de queainda se desconhece o processo mental deanálise de assunto envolvido durante o processode indexação. Consideramos que, enquanto nãose conhecer tais processos realizados peloindexador humano, não será possível atribuir aocomputador indexação semelhante. O computa-dor representa maior agilidade em tarefasrepetitivas mais simples, em que a análiseconceitual não se faz necessária.

Leitura documentária

A leitura documentária faz-se presente nomomento em que o indexador realiza a análise

do assunto tratado em um documento a fim derepresentá-lo em termos de indexação. É nessemomento que se inicia a identificação deconceitos - principal etapa da análise de assunto- por meio da qual o indexador compreende osconceitos tratados em um documento, bem comoverifica sua importância para seu sistema deinformação. É aqui que os aspectos lógicos,lingüísticos e cognitivos, envolvidos na indexa-ção, representam fatores de interferência,cabendo ao indexador a habilidade necessáriapara poder realizar a análise conceitual efetivado documento.

A identificação de conceitos também estáatrelada ao seu contexto, pois é necessário queo indexador verifique, por meio da leitura, qual aimportância dos conceitos selecionados para osistema de informação. Nesse sentido, a leiturado indexador está condicionada a determinadosobjetivos e ao contexto do sistema de informa-ção. Torna-se, pois, difícil, dissociar essesaspectos da atividade de leitura.

A leitura para fins de indexação difere daleitura tratada de modo geral por possuirfinalidades profissionais e pragmáticas. Noentanto, os conhecimentos basilares necessá-rios para uma boa compreensão de um textosão comuns a ambas. Segundo Beghtol (1986),para tal compreensão, é necessário: conheci-mento do assunto primário e estrutura doconhecimento; o leitor indexador deve conhecero assunto e possuir conhecimento extratextualtomando por base as instruções de uso dosistema lingüístico.

A leitura documentária caracteriza-se, deacordo com Ginez de Lara (1993), pela presençade operações seletivas voltadas para o processode identificação e extração de informações.Nesse processo a autora afirma que a leituradocumentária é realizada sob variáveis que lhesão específicas, além daquelas que sãocaracterísticas de um leitor comum, nãoprofissional. Dentre elas destaca: instruçõestextuais, condições de produção, circunstâncias

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de enunciação, momento e lugar de enunciaçãoetc.

Evidencia-se que a leitura documentária,

realizada pelo leitor-indexador na fase de análise,

corresponde à primeira fase de abordagem entre

o leitor-indexador e o texto a ser analisado. Esta

tem por finalidade, no primeiro momento, aidentificação de conceitos que caracterize o

assunto tratado no documento e no segundo

momento, a seleção dos conceitos.

O indexador, na atividade de leitura parafins documentários, tem por objetivo identificar otema ou assunto do documento. Kleiman (2000,p.42), observa que o estabelecimento de objetivosna leitura deixa claro três aspectos: “1) que sedeve ler apenas para procurar as idéias principais,e por isso, não os detalhes; 2) serve para criarexpectativa e, dessa forma, permitirá o reconhe-cimento de itens lexicais globalmente e 3)mantendo em mente os objetivos da leitura, não

perderá de vista o texto em sua totalidade”.

A esse respeito, ressaltamos a relevânciado objetivo de leitura para o leitor, ou seja, ter

consciência do porquê estar lendo um texto.

Essa consciência torna sua leitura metacogni-

tiva6 . A metacognição significa o conhecimento

do conhecimento disponível para executar uma

determinada tarefa e, é importante, porquepodemos realizar um monitoramento de nossa

atividade de leitura evitando erros e incompreen-

são. O leitor indexador, durante a atividade de

leitura documentária, deve buscar a compreen-

são, pois somente assim terá condição de

concretizar sua atividade de indexação.

A compreensão do texto pelo leitor

indexador, segundo Farrow (1991, p.151),

acontece na mesma medida em que leitoresfluentes compreendem um texto. No entanto,acrescenta que a compreensão do leitor indexa-dor tem implicações de quatro aspectosdiferentes, a saber:

1) Indexador tem a pressão do tempopara indexar os documentos, o que fazcom que leia o documento rapida-

mente ao invés de ler normalmente,ou extensivamente.

2) Muitos indexadores compreendem

o texto apenas com o propósito declassificar, indexar ou resumirdocumento.

3) A compreensão de texto é seguidadiretamente pela produção de umresumo.

4) Muitos indexadores trabalham

dentro de um âmbito estreito de tiposde textos e campos de assunto e oelemento repetitivo conseqüentemente

no trabalho deles conduz ao processa-mento automático.

Nesse sentido, a leitura do indexador

está condicionada a determinadosobjetivos, voltados para uma determi-nada realidade e definida pela razão

de ser da sua tarefa profissional.

A literatura sobre leitura revela umatendência importante quanto à visão intera-cionista da leitura. Segundo essa visão, defendidapor Giasson (1993) e Cavalcanti (1989), ainteração em leitura concretiza-se no envolvi-mento de três variáveis intrínsecas ao processode compreensão. São elas: o texto, o leitor e ocontexto.

Na perspectiva da comunicação, Cintra(1987, p.30) considera que o texto como variávelimportante do processo de interação com o leitoré “produzido para determinados receptores e quea sua eficácia depende, em boa parte, dacapacidade do autor em estabelecer com seusleitores potenciais uma relação cooperativa”.

Cintra (1987), também, concorda comKato (1985) ao afirmar que a leitura é umprocesso interativo entre o leitor e o texto. Essaautora, aponta três fatores que atuam comosuporte à legibilidade do texto: a qualidade, o

6 Estratégias conscientes utilizadas na resolução de dificuldades durante a leitura (BROWN, 1980).

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conhecimento prévio do leitor e o tipo de estraté-gias que o texto exige. No que diz respeito àqualidade do texto, Cintra (1987) pontua: amanutenção do tema, a adequação lexical e aestruturação do texto.

Com relação à leitura feita pelo indexador,de acordo com Cintra (1987, p.31) considera-seque a cooperação leitor/texto é rompida, tendoem vista que o autor não previu o indexador comoleitor. Desse ponto de vista, o leitor-indexadornem sempre é o especialista da área de assuntodo texto em análise, necessitando usarestratégias diversificadas e fazendo mais uso deestratégias metacognitivas.

A leitura do indexador, portanto, é guiadapelos seus objetivos, demanda do sistema deinformação e de suas habilidades de leitor,definidas pelos seus conhecimentos préviosnecessários à atividade de indexação. Essesconhecimentos prévios da indexação, entende-mos que sejam um conjunto formado porconhecimentos profissionais e conhecimentosque estão relacionados à tematicidade dodocumento e aos aspectos: lingüísticos; lógicose cognitivos.

Tematicidade

Durante a leitura documentária, o indexa-dor tem por objetivo identificar conceitos quecompõem o tema do documento. Ao identificaros conceitos, também, poderá selecionaraqueles que considera mais representativo doconteúdo do documento. A seleção deconceitos, ressaltamos aqui, é determinadaconforme o grau de interesse que o conceitoapresenta perante as necessidades informa-cionais dos usuários de um sistema deinformação, tendo em vista que o objetivo daindexação é tratar os documentos para que osmesmos possam ser recuperados e seusconteúdos disseminados.

A determinação do tema ocorre, na leituradocumentária, mediante análise conceitual para

identificação dos conceitos presentes noconteúdo textual. Segundo Lancaster (1993, p.8),isso implica em decidir do que trata umdocumento. Essa questão sobre o que trata umdocumento é apontada na literatura de AnáliseDocumentária como algo difícil de ser respondidoou demonstrado.

Para muitos estudiosos da área, quandose busca pesquisar sobre a problemática daidentificação do tema, estamos pesquisandosobre aboutness. O termo originário da línguainglesa pode ser traduzido como “do que trataum texto”, em português. Foi introduzido em 1986na Grã-Bretanha por Begthol, que estudou anoção de assunto mediante a lingüística textuale propôs que a tematicidade em classificaçãobibliográfica dos documentos fosse determinadapelas cinco macroregras do modelo de leiturade Van Dijk e Kintsch (1983), descritas logo aseguir.

No idioma português, há divergências

entre os pesquisadores para se referir a

aboutness; para alguns, o referido termo, pode

ser “tematicidade”, por se considerar como umsubstantivo ligado ao termo temático, enquanto

outros adotam “atinência”.

Na opinião de Begthol (1986), o documen-

to tem uma tematicidade que lhe é relativamente

permanente, porém um número variado de

mensagens ou significados que podem sermedidos, conforme o uso exato do documento

para o usuário. Destaca ainda, que o mesmo

documento pode ter significados diferentes para

o mesmo leitor, em épocas diferentes, mas,

como o documento por si mesmo, é imutável,

presume-se possuir uma tematicidade que lhe éfundamental.

Os pesquisadores Ellieker, Connel e

Lancaster (1989) citados por Naves (2000, p.66)destacam que “a tematicidade poderá referir-seao conteúdo do documento sendo caracterizadacomo tematicidade intrínseca e que questõesexternas de como o documento poderá ser usado,

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por que ele foi adquirido, entre outras, são identifi-cadas como tematicidade extrínseca”.

Elucidando a definição acima, acredita-mos que a tematicidade sempre será o conteúdorelevante do documento, no entanto, algumasvariáveis como os interesses informacionais dosusuários do sistema irão influenciar na determi-nação desse conteúdo, entre outras. Portanto,a escolha do tema de um documento sempreestará relacionada com os interesses de taisusuários, independente da quantidade deinformações referentes ao tema selecionado.

Nesse sentido, Wilson (1985) citado porTodd (1992 p.102), afirma que podemos entendertambém que o grau de relação entre tematicidadee significado é variável porque depende do

[...] uso que a pessoa pode encontrarda tematicidade do documento numa

certa época, e o mesmo documentopode vir a ter diferentes significadospara o mesmo leitor em diferentes

épocas, entretanto o documento possuiuma tematicidade fundamental.

A determinação do tema do texto coinci-de com a identificação de sua estrutura temática.Segundo Tálamo (1994, p.24) o documentopossui uma estrutura temática na qual o temaestá representado pelos seguintes componentes:Quem? (ser), O quê? (tema), Como? (modo),Onde? (lugar) e Quando? (tempo). Conforme aautora, identificando essa estrutura temáticaencontra-se o objetivo principal do texto, isto é,as informações relevantes, separando-as assimdas acessórias.

Entendemos aqui que os componentesfundamentais identificados no tema podem seros propostos por Tálamo, pois Kobashi (1994)procurou identificar a estrutura temática propostapor Tálamo, destacando que a categoria “Quem?”não foi identificada em textos técnicos científicos,enquanto que a categoria “O quê?” é essencialpor ser o “elemento nuclear da estrutura temá-tica”. As categorias Quando?, Onde? e Como?são categorias acessórias da principal “O quê?”,

podendo, assim, aparecerem ou não, no texto,independente da ordem de procedência, entreelas.

Na literatura, encontramos também, ummodelo de leitura de Van Dijk e Kintsch (1983)citado por Todd (1992, p.103) que orienta o leitora identificar o tema por meio da “macroestrutura”de um documento, desencadeando as seguintesações cognitivas:

1) Regra de deleção fraca: supressãode informação acidental, isto é,detalhes que não mudam o significado

ou influenciam a interpretação dassentenças seguintes.

2) Regra de deleção forte: supressãode informação importante localmente:

a informação que é suprimida espe-cifica associações normais ouesperadas.

3) Regra de deleção zero: nenhumaredução ocorre. Todas as informaçõessão consideradas relevantes, e são

admitidas diretamente na macroestru-tura.

4) Regra de Generalização: referência

a diversos objetos ou propriedades damesma classe superordenada, deforma global, pelo nome da classe

superordenada.

5) Regra de Construção: a combina-ção ou integração de informação quedenota propriedades, causas, compo-

nentes, conseqüências, etc. de um fatode nível superior.

Na opinião de Farrow (1996), apesar dasmacro-regras parecerem adequadas para aidentificação do tema, é preciso ressaltar que asua aplicação demandaria muito tempo, tornan-do-a inviável para a indexação, devido a grandequantidade de documentos a indexar. Essasmacrorregras não foram testadas porindexadores na realização das atividades deindexação, logo elas exigem do indexador umconhecimento prévio “profundo” sobre o assuntoa ser indexado. No entanto, para Begthol (1986)

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a teoria de Van Dijk do processamento dodiscurso, apresentada pelas macrorregras,fornece uma definição sucinta e viável datematicidade do documento e o modelo potencialde análise de assunto.

Podemos observar que o tema para ospesquisadores é a informação relevante abordadano texto, mas é preciso ressaltar que a seleçãodo tema sofre a influência da política do sistemade indexação. Portanto, observamos sobre anecessidade de existir uma equivalência darelevância do tema do documento, tanto para oindexador, como para o usuário, pois o objetivomaior da indexação é garantir a recuperação dainformação. Aquele atingirá esse objetivo seelaborar informações documentárias (índices eresumos) consistentes, devendo para isso, deacordo com Kobashi (1994, p.103), integrar àessas (informações documentárias), aspropriedades pertencentes aos princípiosconversacionais de Grice (1975) que consistemem:

� concisão (princípio de quantidade):o resumo e o índice devem fornecer

informação suficiente, não mais do queo necessário. Este aspecto é funda-mental para a economia do sistema

porque facilita a estocagem e arecuperação de informações;

� pertinência (princípio de qualidade e

de relação): o resumo e o índice devemrepresentar o conteúdo do documentotão fielmente quanto possível. Desse

modo, não se pode integrar a elesinformações que não estejam no textooriginal;

� precisão e objetividade (princípio demodo): o resumo e o índice não devemcomportar ambigüidade, devendo ser

formulados em termos precisos; no

caso do resumo, deve-se acrescentar

duas ordens de questões: 1) as

informações devem ser apresentadas

em uma ordem adequada; 2) o resumo

não deve comportar julgamento.

O indexador tem o objetivo de tornar otema conhecido para os usuários interessados,portanto, é, também, função do “indexadoraumentar a visão do que os outros podem lerem um texto” (HUTCHINS, 1977, p.19).

Aspectos Lingüísticos

Os aspectos lingüísticos na indexaçãosão evidenciados no momento da leitura, pois a“análise do conteúdo é um método de apreensãoda informação transmitida por uma língua”(CHAUMIER, 1986, p.19), sobretudo no momentoda tradução dos termos que representam osconceitos identificados no documento em lingua-gem natural para a linguagem de indexação.

Moreiro González (1994, p.206) classifica,da seguinte forma, as fases em que os fatoreslingüísticos se fazem presente no fazer documen-tário:

1) Leitura-análise: que consiste emidentificar e compreender o conteúdo

dos documentos e sua distribuição; 2)Síntese: mediante la cual se interpretay simplifica el discurso a las líneasmacroestruturales para poder mane-jarlo e 3) Representação: Re- expresiónde la información en el uso social de lainformación manejada.

Kobashi (1996, p.6) nos apresenta ainterface entre a lingüística e a análise documen-tária, a partir das semelhanças dos processosdocumentários com os de tradução automática.Dessa forma, os estudos de interface entrelingüística e documentação começaram a surgirem fins dos anos 1960, com a implantação doscomputadores nos trabalhos documentários,indicando que estavam ligados às análises dasentidades que se manipulavam, como: aspalavras, frases, resumos, descritores.

Navarro (1988, p.46) afirma que “somentea partir da necessidade de sistematizar asrelações entre a linguagem natural e as lingua-gens documentárias, principalmente visando-se

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procedimentos automatizados, a intersecção foipercebida e tratada em nível teórico”.

Durante a atividade de indexação e nomomento de atribuir o termo que melhor repre-sente uma palavra, o indexador deve consideraro contexto em que a palavra será usada, toman-do como base, por exemplo, como os usuáriosinteressados no documento recuperariam por“aquele” determinado termo.

Os aspectos lingüísticos estão presentesna leitura para indexação, por meio da lingüísticatextual que, segundo Fávero e Koch (1988, p.14)é a área responsável por “determinar o que fazcom que um texto seja um texto e diferenciar asvárias espécies de textos.”

O conceito de tipologia textual está,portanto, intrinsecamente associado à noção deque todo texto apresenta uma sintaxe que organi-za as suas várias partes. É, a essa forma globalde organização do texto que Van Dijk e Kintsch(1983) dão o nome de superestrutura.

Dessa forma, ao definir a estrutura textualdas várias espécies de texto, a Lingüística textualpossibilita à área de Análise Documentáriaconhecer e utilizar essas estruturas no momentoda indexação, uma vez que o conhecimento daorganização textual possibilita ao indexadoridentificar quais as partes que determinado textoapresenta, bem como, o conceito pertencente acada parte. Outrossim, esse conhecimentopermitirá que o indexador faça a indexação dodocumento realizando uma leitura mais rápida.

Os resultados obtidos no estudo sobreleitura documentária (FUJITA, 2003) comprovamque se os indexadores conhecerem e explorarema estrutura textual, tendem a encontrar, maisfacilmente, a informação relevante em determina-do documento, para o que, salientamos anecessidade do conhecimento de estruturatextual, por parte do indexador, como um fator aser considerado nas propostas de novasmetodologias para a análise de conteúdo.

Finalmente, os estudos sobre estruturastextuais possibilitarão elaborar ou adaptar meto-

dologias para a identificação de conceitosvisando elaboração de condensações (índices eresumos) de documentos a indexar.

Aspectos lógicos

No momento da leitura do documento paraindexação, o indexador realiza esforços mentaisclassificados dentro de uma das divisões da“Ciência Normativa Lógica”, que por sua vezpertence a uma ciência maior, a Filosofia.

A divisão da Lógica, conforme Santaella(1992) citada por Naves (2000, p.74), pode serentendida como:

1- Lógica Utens: é direcionada para oraciocínio comum dos seres humanos

visando formar opiniões, mas que,porém, não é suficiente por si somente.

2- Lógica Docens: exige do ser

humano uma capacidade invertida,degeneralização, de elaboração dateoria, ou seja, estudos dos processos

de raciocínio e a investigação demétodos que dêem bases maisconfiáveis ao pensar, e apressem o

avanço do conhecimento para osresultados desejados.

Segundo Naves (2000, p.74), durante aidentificação do tema, o indexador utiliza esfor-ços mentais relacionados à Lógica Docens,porque nesse momento percebe-se a capacidadeinvertida de generalização e de construçãoteórica por parte do indexador, muito além daLógica do bom senso do homem comum.

Para Cunha (1989, p.51), os procedimen-tos lógicos que ocorrem na identificação do temadurante a indexação do documento, peloindexador são:

�� Relações de inclusão/exclusão,todo/parte, gênero/espécie, embasa-

das em juízos e raciocínios, além dacapacidade de programar a traduçãodo conteúdo do texto em etapas

seqüenciais lógicas.

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� No mesmo procedimento de identifi-cação e tradução de informaçõessignificativas encontram-se, implícitas,

as questões relativas à construção dodiscurso do autor/produtor, que quandocientífico envolve a identificação e

avaliação (na medida em que obibliotecário/analista da documenta-ção decide o que é significativo ou não)

dos métodos, hipóteses, leis, teoriase resultados, utilizados pelo autor/produtor com fim de chegar a

determinada ‘informação nova’.

A Análise Documentária e a Lógica têmpouco a oferecer uma a outra, entretanto, épreciso mencionar que da Lógica a AnáliseDocumentária pode apoiar-se na Lógica Formalporque, segundo Pinto Molina (1994, p.128) aLógica Formal “se limita a um sistema desímbolos, relacionando o exercício do raciocíniológico a um cálculo algébrico”.

Aspectos cognitivos

O indexador, além dos processoslingüísticos e lógicos, utiliza, também, processoscognitivos que interagem na leitura.

Iniciando a abordagem dos processoscognitivos salientamos que são objeto de estudoda Psicologia Cognitiva, constituindo-se de:

[...] processos e estruturas mentais

implicados na aquisição, no processa-mento e no uso do conhecimento ouda informação, entre os quais podem

ser diferenciados os processosmentais básicos (memória e atenção),as representações mentais (imagina-

ção, formulação de proposições eestabelecimento de categorias) e osprocessos mentais complexos (com-

preensão, raciocínio e solução deproblemas) (PINTO MOLINA, 1994).

Os processos cognitivos envolvidos naleitura documentária, estabelecidos por Monday(1996), são: representação do conhecimento;

esquemas; unidades cognitivas; organização doconhecimento; compreensão e estruturas dotexto; estruturas semânticas e esquemáticas dotexto.

Consideramos, assim, que os processoscognitivos utilizados pelo leitor durante a leiturasão: o seu conhecimento sobre a estruturatextual, visando identificar a informação queconsidera relevante; o conhecimento prévio sobreo assunto do texto; e a recuperação de esque-mas de compreensão formados com suaexperiência de vida que o permite inferir sobre oassunto abordado.

Naves (2000, p.85) identifica o processode inferência como um dos muitos processoscognitivos, caracterizando-os em:

Inferência lógica – usada paraestabelecer causas, motivações e

condições que permitem fatos espe-cíficos. Inferência evolutiva – na qualanalistas aplicam suas crenças às

situações descritas. Inferênciaintegrativa – executada no momentoda compreensão e baseada nos

conceitos e propriedades da organi-zação hierárquica. Inferência Constru-tiva – baseada no conhecimento do

indexador.

Shaw e Fonchereaux (1993), citados porMilstead (1994, p.578) esclarecem que existemdois processos cognitivos envolvidos na AnáliseDocumentária, tanto na atividade de indexaçãocomo de classificação:

1) decidir sobre o que um texto ou umainformação fala (do que trata um texto ou umainformação e/ou que questão ele/ela responde);

2) traduzir essa decisão em termosusados no sistema de indexação.

Ressaltamos que o enfoque do processocognitivo envolve os componentes básicosnecessários: texto, contexto, dados do conheci-mento do analista, objetivos documentários e ummétodo de avaliação (PINTO MOLINA, 1994,p.130).

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Em seu trabalho sobre a “abordageminterdisciplinar do conceito e prática da análisede conteúdo do texto documentário escrito(WTDCA)”, Pinto Molina (1994), esclareceenfaticamente que

[...] é inviável sem a contribuição decertas disciplinas tais como: a

lingüística (textual), a lógica (formal) ea psicologia cognitiva. Há uma relaçãode superfície entre a lógica e a estrutura

textual profunda. Quanto à psicologiacognitiva, e especialmente a psicologiado processamento da informação abre

bons prospectos para o WTDCA. Alógica, especialmente a lógica formalpermite a análise sintática essencial

dos textos. A lingüística textual, fundadana gramática transformacional,contribui decisivamente para a

transcrição difícil entre a forma e oconteúdo.

Consideramos, ao final de nossaabordagem dos aspectos lógicos, lingüísticos ecognitivos, que para adaptar ou propormetodologia que garanta uma eficiente análisede conteúdo dos documentos, é precisoestabelecer interface com a Lógica formal, aLingüística textual e a Psicologia cognitiva quetêm o texto escrito como objeto de estudo paraleitura. Entretanto, o pesquisador da AnáliseDocumentária deve ficar atento para estabelecero devido “recorte” do conhecimento desenvolvidonas áreas interdisciplinares, destacando o querealmente apresenta viabilidade de aplicação parafins de tratamentos documentários, até porqueé preciso verificar se não está se apropriando detodo o conhecimento desenvolvido por umadeterminada área. (KOBASHI, 1994).

Procedimentos de indexação

Analisaremos a seguir os procedimentosde indexação fundamentados na norma ABNT12676 de 1992 que é uma tradução da NormaISO 5696 de 1985 International Organization For

Standardization e, em seguida, a abordagem deidentificação de conceitos propostos pelosistema de indexação PRECIS a fim de verificaras influências que tiveram na determinação doassunto de um documento.

Do ponto de vista da norma ABNT 12676de 1992, a Indexação corresponde ao ato deidentificar e descrever o conteúdo de umdocumento com termos representativos dos seusassuntos. O processo de indexação, segundo anorma, possui três estágios: 1) exame dodocumento e estabelecimento do assunto de seuconteúdo; 2) identificação de conceitospresentes no assunto; 3) tradução dessesconceitos em termos de uma dada linguagemde indexação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA...,1992).

Como já verificado, o objetivo da indexa-ção é o de representar o conteúdo informacionaldo documento, tendo em vista sua recuperação,para tanto, realiza-se um exame do documentoa fim de identificar conceitos pelos quais atematicidade de um documento estarárepresentada. Essa tematicidade é determinadapelo indexador através da leitura do documento,tendo em mente as necessidades informacionaisda comunidade usuária do sistema deinformação.

A norma ISO 5696 (InternationalOrganization For Standardization, 1985) ébaseada nos princípios de indexação do UNISIST(1981, p.83) que considera a realização doprocesso de indexação em dois estágios:analítico – é realizada a compreensão do textocomo um todo, identificação e seleção de con-ceitos válidos para indexação e tradução – con-siste na representação de conceitos por termosde uma linguagem de indexação.

Segundo tais princípios, na operaciona-lização da indexação do assunto de umdocumento o primeiro estágio subdivide-se emtrês etapas: 1) Compreensão do conteúdo dodocumento como um todo, os objetivos do autoretc; 2) identificação dos conceitos que

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representam este conteúdo este conteúdo,objetivos etc; 3) seleção dos conceitos válidospara recuperação. Na prática de indexação,segundo o UNISIST (1981, p.86), esses trêsestágios se superpõem para escolha dosconceitos e, com relação à fase de identificaçãodos conceitos, o “indexador deve adotar umaabordagem lógica, selecionando os conceitosque melhor expressarão o assunto dodocumento”.

Considerando que o momento de seleçãoé o mais delicado, o UNISIST (1981, p.90)recomenda que “o critério principal deve sersempre seu valor potencial como um elementode expressão do conteúdo do documento”.Nesta tarefa, o indexador deve ter em mente asprováveis questões que os usuários farão àunidade de informação. E nesse sentido asindicações do UNISIST (1981, p.90) apontamcomo critério: escolher os conceitos que sãomais apropriados a uma determinada comuni-dade de usuários; modificar, se necessário, tantoos instrumentos de indexação quanto osprocedimentos com base no feedback dequestões.

Além disso, a seleção de conceitos deveser feita, tendo em vista os objetivos para osquais as informações serão selecionadasdestacando-se dois fatores que afetam maisdiretamente essa escolha: exaustividade,especificidade.

Para a exaustividade na indexação, oindexador deverá procurar “todos os conceitosde um documento que possam ter um valorpotencial para os usuários de um sistema deinformação [...]” (UNISIST, 1981, p.88). Para aregra de especificidade, os conceitos devem seros mais específicos possíveis e, os maisgenéricos, podem ser selecionados com vistaaos objetivos do sistema de informação.

A fim de assegurar a organização dosconceitos de uma forma que seja útil e acessível,“é necessário o conhecimento profundo dosinstrumentos de indexação” (UNISIST, 1981,

p.90). Caberá, portanto, ao indexador ter familiari-dade com os instrumentos para poder manipulá-los sabendo, de antemão, que estes podemimpor algumas limitações na prática deindexação.

As recomendações da norma 12676(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA..., 1992) baseadasnos princípios do UNISIST (1981), estabelecemque o indexador na análise de assunto, deverárealizar uma leitura do documento examinandoas partes mais relevantes, visto que a leituracompleta do item documental é impraticável. Aanálise do assunto na norma ABNT 12676 de1992 é dividida em dois estágios: o primeiro é oexame do documento e o segundo é a identifica-ção de conceitos.

No exame do documento a norma indicaa verificação das seguintes partes do documento,tais como: título; resumo; lista de conteúdos;introdução (vendo as frases que iniciam capítulose parágrafos); conclusão; ilustrações; diagramas;tabelas (e suas legendas); palavras em destaque.

Assim como o UNISIST, a norma ABNT,alerta que a indexação não deve ser guiadasomente pelo exame do título ou resumo dodocumento. Isso se justifica, tendo em vista queos títulos, muitas vezes não são adequados eaté ambíguos e, no caso dos resumos, alertaque podem ser inadequados. Em suma, essesdois itens não constituem únicas fontes paraidentificação do assunto. A seguir, a normarecomenda que a análise siga uma abordagemsistemática para a identificação dos conceitosconsiderados essenciais na descrição doassunto.

A abordagem para identificação dosconceitos deverá ser feita com base em umquestionamento sistemático, proposto pelanorma:

O documento possui em seu contextoum objeto sob efeito de uma atividade?

O assunto contém um conceito ativo(por exemplo, uma ação, uma opera-ção, um processo etc.)? O objeto é

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influenciado pela atividade identifi-cada? O documento possui um agenteque praticou esta ação? Este agente

refere-se a modos específicos pararealizar a ação (por exemplo, instru-mentos especiais, técnicas ou

métodos)? Todos esses fatores sãoconsiderados no contexto de um lugarespecífico ou ambiente? São identifica-

das algumas variáveis dependentesou independentes? O assunto foiconsiderado de um ponto de vista

normalmente não associado com ocampo de estudo (por exemplo, umestudo sociológico ou religioso)?

A etapa de seleção dos termos, segundoa norma 12676 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA...,1992) é feita em função da tradução dosconceitos identificados em descritores de umalinguagem de indexação. Para essa seleçãoconsideram-se o sistema de informação e ousuário desse sistema.

O último item diz respeito à qualidade daindexação; nesse sentido, consta na norma, quea qualidade da indexação depende de factuaiscomo: a competência do indexador e a qualidadedos instrumentos de indexação.

Um outro procedimento de indexação quemerece destaque é o do PRECIS (FUJITA, 1989),um sistema de indexação que apresenta suaanálise conceitual como metodologia deidentificação de conceitos baseando-se em umquestionamento dirigido unicamente ao texto,caracterizando, conforme Albrechtsen (1993) suaconcepção de análise de assunto orientadaunicamente para o conteúdo, a saber: O queaconteceu? (ação); A que ou a quem isto

aconteceu? (objeto da ação – sistema chave);

Que ou quem fez isto? (agente da ação); ondeaconteceu? (local).

De outra forma, os procedimentos deindexação propostos pelo UNISIST (1981) e pelanorma 12676 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA...,1992), estão direcionados, simultaneamente,para duas concepções de análise de assunto

identificadas por Albrechtsen (1993): a orientadapara o conteúdo, representada pela indicaçãoda abordagem sistemática de identificação dosconceitos e a orientada para a demanda, pororientar que a seleção dos conceitos seja feitacom base no uso dos termos pelo usuário.

Revisão de literatura de relatos deexperiência: resultados discutidos comos temas da revisão de literaturafundamental

Com objetivo de leitura analítica daliteratura de relatos de experiência, foram sele-cionados 10 textos (artigos) que tratavam daprática de indexação em sistemas de informaçãobrasileiros. A sistematização desses artigosobedeceu à divisão por décadas a fim de verificara existência da leitura documentária em práticade indexação.

Cada artigo foi descrito fisicamente porreferência bibliográfica, seguida de uma descriçãobaseada no resumo de cada um, acrescida deinformações retiradas de seu conteúdo. Naausência do resumo, a descrição baseou-se na

leitura do texto integral. Em seguida à descrição,

segue uma análise em que se apresenta aexistência ou não das variáveis apontadas naliteratura fundamental e a discussão subse-qüente dá-se conforme categorização dessasvariáveis.

A revisão de literatura fundamental emIndexação revelou que na prática de indexação

encontram-se várias questões que interferem nasua realização, podendo-se destacar, em pri-meiro lugar, a questão da confusão terminológicaentre catalogação de assunto e indexaçãoalfabética de assunto.

O termo “catalogação de assunto” foi aexpressão mais usada na prática de indexaçãonos relatos de experiência, em decorrência demuitas instituições, em décadas passadas erecentes, adotarem os cabeçalhos de assuntos

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como linguagem de indexação nos seus siste-mas de informação. Isso revela, apesar doprocesso de indexação ter evoluído, que aindapersiste a primeira concepção baseada emCutter que formulou as primeiras tentativas deorganização de assuntos representados peloscabeçalhos. Talvez isso possa explicar-se pelofato da Biblioteca do Congresso dos EstadosUnidos ter dado continuidade aos cabeçalhosde assunto pela sua Lista de Cabeçalho deAssunto, atualizando-a e disponibilizando-asomente pelo preço de uma cópia.

Apesar da indexação existir há muitotempo, até hoje se desconhece o que lhe éfundamental, ou seja, a determinação do assuntoou tema do documento. Questão que volta àtona, sempre que se deseja a automação daindexação. Verificamos que, a partir da décadade 1950, quando começaram os estudos deindexação automática, apareceram as preocupa-ções com áreas de interface, como a Lingüística.Evidencia-se a partir de então, a importância doser humano com relação ao juízo de valor datematicidade do documento.

As análises dos textos que tratam daprática de indexação mostram a inexistência dadescrição do processo de indexação, especial-mente no que diz respeito ao momento de comose processa a análise de assunto, o que talvezse explica pelo fato do resultado da indexaçãoestar sujeita à leitura que o indexador realizapara a determinação do assunto do documento.E isso, depende muito das ações mentais quecada indexador realiza no fazer documentário.

Os textos analisados na revisão deliteratura fundamental evidenciaram a presençados aspectos que interferem no processo deindexação, como os lingüísticos, lógicos,cognitivos e a questão da tematicidade. Ostextos descritos e analisados na revisão daliteratura de relatos de experiência mostraramuma tendência para a indexação automática,dando destaque aos aspectos lingüísticos elógicos da indexação.

O aspecto lingüístico é um dos elementosque mais contribuem para a determinação doassunto e este somente é evidenciado medianteo processo de leitura, pelo qual o indexadoridentifica e seleciona conceitos relacionados aoassunto tratado no texto guiando-se pelo seuconhecimento de estrutura textual.

A contribuição desse aspecto foi demons-trada na leitura dos textos que versam sobremetodologia de indexação, ao indicarem duasconcepções de análise de assunto: uma voltadapara o conteúdo que é expresso pela língua emque está escrito o documento e outra para ademanda da informação que exige do indexadorconhecimento do contexto no qual está inseridaa instituição.

C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

Ao realizarmos a pesquisa tínhamoscomo pressupostos que o fator mais importantena atividade de indexação era a concepção deanálise de assunto assumida pelo indexador; queuma análise conceitual não poderia ser feitaunicamente com base na linguagem do sistemade informação e, que esses fatores estãodiretamente ligados à falta de fundamentaçãoteórica na área de indexação, uma vez que estámuito articulada com o desenvolvimento daprática.

Desenvolveu-se, então, no estudo, aanálise e discussão das tendências na literaturacom relação ao desenvolvimento teórico deindexação e sua influência na prática doindexador.

Pudemos verificar pela evolução daindexação, sobretudo na evolução dos cabe-çalhos de assunto, que o fator de maior impor-tância é a determinação do assunto, ainda queseja agravado pela dificuldade de uma linguagemque irá representá-lo.

Desde Cutter, a literatura publicada temdemonstrado a preocupação dos estudiosos com

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Transinformação, Campinas, 16(2):133-161, maio/ago., 2004

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essa questão, procurando não só o desenvolvi-mento de linguagens de indexação como também

soluções na indexação automática. No entanto,o problema persiste, uma vez que a maior parte

dos estudos não tem sido voltada para a questão

da determinação do assunto.

Ora, se a indexação existe para que a

recuperação da informação seja efetiva, então oque queremos recuperar? Pensamos que a

resposta a essa pergunta seja a chave para as

possíveis soluções futuras acerca da determi-

nação do assunto do documento. E o que a

prática tem mostrado é evidenciado pelos

estudos que procuram saber como o indexadorage na escolha de conceitos para representação

do assunto do documento.

Na revisão de literatura de relatos de

experiência, a análise dos textos de prática de

indexação revelou que nenhum fez referência ao

modo como a leitura foi realizada, denotando falta

de reflexão sobre os procedimentos de indexa-

ção e a influência da leitura. Cogitamos que,

talvez, não exista a devida ênfase nos programas

de formação do indexador. Considerando que é

por meio da ação de leitura que o indexador faz

a análise conceitual, e por se tratar de uma

atividade ligada à psicologia cognitiva, recomen-

da-se que os próximos estudos venham a

focalizar esse aspecto da indexação, ainda

inexplorado.

Verificamos pela revisão de literatura

fundamental, que a indexação deve ser feita tendo

em vista o conhecimento prévio do indexador,

as necessidades informacionais do usuário, apolítica de indexação da unidade de informação

e a estrutura textual dos documentos.

Um dos critérios da análise conceitual,

além dos acima citados, é descobrir porque o

documento foi adquirido pelo sistema deinformação e examinar se os termos estabele-

cidos para a representação do documento sãocompatíveis com os termos que provavelmente

o usuário adotará ao formular a expressão de

busca da informação. Sugerimos, portanto,

examinar como o usuário formula uma questão

de busca, além dos processos cognitivos,

envolvidos durante a leitura pelo indexador.

Tendo em vista que o objetivo do estudo

foi o de contribuir com uma investigação teórica

em indexação para detectar quais as influências

e tendências na prática de indexação, con-

cluímos que as influências detectadas pela

revisão de literatura fundamental estão parcial-

mente presentes na prática de indexação,

sobretudo no que se refere à inexistência de

detalhamento dos procedimentos de indexação.

Nesse sentido, pode-se afirmar que as

tendências e influências dos estudos teóricosem prática de indexação provêm mais especifi-camente das áreas de interface da AnáliseDocumentária, como a Lingüística, a Lógica e aPsicologia Cognitiva.

A Lingüística tradicional contribui para a

indexação com seus aspectos semânticos e

sintáticos e, agora, a preocupação com a

necessidade do usuário, inserem-se, também,

aspectos lingüísticos-pragmáticos (LingüísticaAplicada) como interação leitor-autor regida pela

relevância-leitor, que em última análise, para a

área de Indexação, é a relevância para o usuário-

leitor final.

Já a Lingüística textual colabora comseus esquemas formais de diferentes tipos de

texto; a Lógica com as inferências lógicas a partir

de pistas do texto e a Psicologia Cognitiva com

os mecanismos mentais e as estratégias,

exclusivamente fundadas no conhecimento prévio

do leitor.

Ao dominar esses aspectos, que auxi-

liarão na determinação da tematicidade do

documento, o indexador conseguirá realizar uma

análise conceitual com efetividade, realizada em

termos da tematicidade do autor, do leitor e dousuário.

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A PRÁTICA DE INDEXAÇÃO: ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DE TEDÊNCIAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

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