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MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL PROGRAMA BPC NA ESCOLA CADERNO 2 RECOMENDAÇÕES PARA FAZER AVANÇAR O BPC NA ESCOLA

PROGRAMA BPC NA ESCOLA CADERNO 2 ...mds.gov.br/.../assistencia_social/orientacoes/CADERNO_2_.pdfCADERNO 2: RECOMENDAÇÕES PARA FAZER AVANÇAR O BPC NA ESCOLA. A proposta é dar continuidade

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  • MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL

    PROGRAMA BPC NA ESCOLA

    CADERNO 2

    RECOMENDAÇÕES PARA FAZER

    AVANÇAR O BPC NA ESCOLA

  • Ministério do Desenvolvimento Social

    Secretaria Nacional de Assistência Social

    Programa de Acompanhamento e Monitoramento do Acesso

    e Permanência na Escola das Pessoas com Deficiência

    Beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada da

    Assistência Social - Programa BPC na Escola.

    ORIENTAÇÕES TÉCNICAS

    1ª versão

    Brasília-DF, 2018

  • 1. RECOMENDAÇÕES PARA FAZER AVANÇAR O BPC NA ESCOLA ................... 7

    1.1. A instância estadual no BPC na Escola ................................................................. 8

    1.2. Ampliando a intervenção do BPC na Escola no âmbito municipal .............. 13

    1.2.1 O Questionário de Identificação de Barreiras: escuta para gerar vínculos . 17

    Busca ativa para garantir direitos ...................................................................................... 19

    Ter disponibilidade para escutar e acolher ..................................................................... 20

    Cuidando das formas de comunicação ............................................................................ 23

    Respeitando a história e trajetória das pessoas ........................................................... 24

    Reconhecendo autonomia e fortalecendo protagonismo ........................................... 28

    Entrar em contato com a família em ocasião anterior à visita ................................... 28

    Usar linguagem clara e acessível ...................................................................................... 29

    Estar preparado para se deparar com situações desconhecidas ............................. 29

    Considerar demandas de atenção trazidas pela família .............................................. 30

    1.2.2. Diagnóstico de inclusão: informações sistematizadas gerando

    conhecimento .......................................................................................................................... 31

    Diagnóstico: instrumento para orientar ações............................................................... 34

    1.2.3. Acompanhando a inclusão: a contribuição do BPC na Escola para

    qualificar políticas públicas ................................................................................................ 36

    Diferentes formas de acompanhamento: a escala do Programa .............................. 37

    Acompanhar intersetorialmente para monitorar a inclusão ............................................... 40

    Ações de comunicação acessível para tornar desproteções visíveis ..................... 43

    Educação Permanente para qualificar a atenção .......................................................... 45

  • APRESENTAÇÃO

    A Secretaria Nacional de Assistência Social apresenta com muita satisfação este

    CADERNO 2: RECOMENDAÇÕES PARA FAZER AVANÇAR O BPC NA

    ESCOLA. A proposta é dar continuidade a abordagem contida no CADERNO 1,

    que aprofundou as considerações sobre o estágio atual do Programa BPC na

    Escola e os seus fundamentos e conceitos. Assim, na continuação das

    orientações técnicas, o Caderno 2 propõe insumos e reflexões que contribuirão

    para o desenvolvimento e o avanço dos compromissos e o alcance dos objetivos

    desse Programa Intersetorial.

    Inserido no campo do Sistema Único de Assistência Social/SUAS este Caderno

    destaca ações de duas naturezas: aquelas de característica intersetorial e,

    portanto, que podem ser desenvolvidas por qualquer política pública e as ações

    próprias da assistência social.

    Toma-se por fundamento que o trabalho profissional é criação cotidiana, que se

    estabelece a partir da interação entre os referenciais das profissões, em diálogo

    com as normativas das políticas públicas e considerando as especificidades de

    cada território e dos usuários e usuárias da política de assistência social. Desse

    modo, oferece-se ferramentas ou estratégias como recomendação, a pertinência

    delas para cada realidade e seu detalhamento em procedimentos de trabalho,

    são justamente a tarefa das equipes do SUAS ao assumir as responsabilidades

    dessa política pública.

    Convidamos a todas/todos à leitura do Caderno 1 e deste Caderno 2 que

    conjuntamente ofertam material de orientação e reflexão para o avanço do

    Programa BPC na Escola e consequentemente alcance e inclusão social das

    pessoas com deficiência e suas famílias.

  • 5

    INTRODUÇÃO

    A concepção de caderno de orientações aqui presente é aquela que entende

    que orientações técnicas não são receitas ou respostas prontas para o

    enfrentamento de desafios do cotidiano de implementação de ações públicas,

    mas sim, ofertam subsídios para adensar e estimular a reflexão sobre esses

    desafios. Tais insumos para além das construções normativas estão, nesse

    caso, fortemente assentadas em sistematização de algumas experiências

    profissionais que contribuirão para ampliar a inclusão de pessoas com

    deficiência e que podem ser classificados em um ou mais eixos do Programa, a

    saber:

    1. identificação dos beneficiários do BPC até 18 anos que estão dentro e

    fora da Escola;

    2. identificação das principais barreiras para o acesso e permanência na

    Escola das pessoas com deficiência beneficiárias do BPC;

    3. realização de estudos e desenvolvimento de estratégias conjuntas para

    superação destas barreiras;

    4. acompanhamento sistemático das ações e programas dos entes

    federados que aderirem ao Programa.

    Ressalte-se que ao longo desses mais de dez anos de implementação do

    Programa BPC na Escola, as normativas do Programa foram adensando a sua

    natureza intersetorial, de modo que na atualidade a nominação mais coerente

    com os objetivos, desafios e mesmo normativas técnicas em vigor seria BPC nas

    políticas setoriais ou algo dessa natureza. Ou seja, todas as ações do Programa

    estão voltadas para a inclusão em diferentes políticas públicas e não somente

    na escola, embora, seja reservada a essa política uma atenção muito específica

    e estruturante nas ações do BPC na Escola.

    Por ser um caderno de orientações elaborado no âmbito da política de

    assistência social, embora em diálogo com demais políticas setoriais, as

    questões específicas da proteção de assistência social, ganham especial

    relevância nesse produto. Desse modo, as ações intersetoriais1 serão tratadas

    1 São competências que devem ser compartilhadas, entre os diferentes atores participantes do Programa

    BPC na Escola, e desenvolvidas por meio de estratégias articuladas, com o intuito de superar as barreiras

    identificadas pelo Questionário no âmbito local, e efetivar o atendimento integral das crianças e

    adolescentes beneficiárias do BPC nos serviços, projetos, benefícios e programas ofertados pelas diversas

  • 6

    rigorosamente nessa dimensão, ou seja, não são responsabilidade específica

    e/ou exclusiva dessa ou daquela política pública. São intersetoriais, portanto,

    quaisquer áreas podem desenvolvê-las a depender do conhecimento

    institucional existente, ou do desejo de desenvolver competências nessa ou

    naquela direção e, naturalmente, a depender das condições estruturais para

    fazê-lo.

    Mas para as ações de assistência social, o tratamento dado aqui não é o mesmo.

    A tarefa assumida visa explicitar a natureza distinta e específica da proteção de

    assistência social aos beneficiários do BPC e suas famílias e, para tanto, sempre

    que possível, o Caderno buscou enfatizar, em seus conteúdos, as

    especificidades dessa política pública.

    Há que se considerar que esse caderno de orientações técnicas foi elaborado

    no contexto da vigência e implementação das ações previstas no II Plano

    Decenal da Assistência Social (2016-2026) e que propõe, ao término desse

    período, a proteção social para todos/as os/as brasileiros e brasileiras.

    Destaque-se essa condição, pois a aposta que orienta as escolhas de conteúdos

    e de abordagens metodológicas desse documento, se assenta na lógica de

    ampliação das ações do Programa BPC na Escola para dar materialidade à

    direção política e ética nele presente e destacar sua sinergia com os movimentos

    necessários para fortalecer o Sistema Único de Assistência Social – SUAS na

    próxima década.

    Cabe ainda ressaltar, que face a grandes e importantes desafios presentes na

    execução do Programa BPC na Escola não é possível respondê-los

    exclusivamente no âmbito de um caderno de orientações técnicas. Mas, a

    despeito dessa evidente limitação, publicações desse tipo podem fortalecer a

    direção política de alargamento de proteção, e podem, na divulgação de

    experiências em curso, ofertar repertórios que fomentem a reflexão de

    trabalhadores/as e gestores/as para fazer avançar suas intervenções e rediscutir

    concepções que as orientam.

    políticas públicas, envolvidas com a temática da pessoa com deficiência, prioritariamente, de Educação, de

    Saúde, de Assistência Social e dos Direitos Humanos.

  • 7

    1. RECOMENDAÇÕES PARA FAZER AVANÇAR O

    BPC NA ESCOLA

    Os aspectos aqui levantados são fruto do diálogo com profissionais e gestores

    de vários lugares do país que atuam com o Programa BPC na Escola, esses

    diálogos permitiram que levantássemos os desafios atuais do Programa, mas

    também permitiram uma aproximação com estratégias adotadas pelas equipes

    para enfrentar esses desafios. A perspectiva é adotar esses insumos para um

    aprendizado institucional que olhe para os desafios de forma propositiva e

    proativa.

    Outro aspecto importante é considerar que essa produção foi formulada no

    âmbito do Sistema Único de Assistência Social/SUAS, portanto as ações

    prioritárias aqui destacadas são de duas naturezas: aquelas de característica

    intersetorial e, portanto, que podem ser desenvolvidas por qualquer política

    pública e as ações próprias da assistência social. Não trataremos aqui da

    especificidade da Saúde, da Educação e da Política de Defesa de Direitos

    Humanos, por entender que cabe a essas políticas apontar suas especificidades,

    o que certamente acontecerá em produções técnicas posteriores a essa.

    Há ainda outro aspecto a ser destacado é que esse caderno não pretende fazer

    um passo-a-passo, ofertando uma receita de práticas exitosas e que podem, ou

    devem ser replicadas em outras localidades. O entendimento é que trabalho

    profissional é criação cotidiana, que se estabelece a partir da interação entre os

    referenciais das profissões, em diálogo com as normativas das políticas públicas

    e considerando as especificidades de cada território e dos usuários e usuárias

    da política de assistência social. Desse modo, oferece-se ferramentas ou

    estratégias como recomendação, a pertinência delas para cada realidade e seu

    detalhamento em procedimentos de trabalho, são justamente a tarefa das

    equipes do SUAS ao assumir as responsabilidades dessa política pública.

    E, por fim, considera-se importante destacar que, no âmbito do SUAS os

    Programas são estratégias para aperfeiçoar o alcance dos serviços

    socioassistenciais, não concorrem com eles e tampouco fazem ações que a eles

  • 8

    se sobrepõem, nesse sentido, as recomendações aqui buscam potencializar os

    serviços e definir um escopo próprio do Programa para caminhar nessa direção,

    independente se o agente público que as realize componha ou não as equipes

    dos serviços. Nesse caso, a vinculação institucional não é determinante ou

    condicionante da atenção, mas sim, a capacidade de responder às

    particularidades da intervenção do Programa.

    Assim, ao retomar as pactuações presentes nas normativas do Programa pode-

    se observar que há um fluxo definido e que, espera-se esteja em operação

    naquelas localidades que já o implantaram, como também é fundamental

    lembrar do Protocolo de Gestão Articulada entre Serviços e Benefícios, aprovado

    em 2009, e que guarda absoluta sinergia e relação com os propósitos e modos

    de funcionamento do Programa BPC na Escola.

    Como já apontado, o Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e

    Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único de Assistência Social –

    SUAS, estabelece procedimentos para o atendimento de indivíduos e de famílias

    beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada – BPC, dos programas de

    transferência de renda e dos benefícios eventuais, nos serviços socioassis-

    tenciais ofertados pelo SUAS. O Protocolo prevê, entre outras disposições, que

    as famílias que contam, entre seus membros, com beneficiários do BPC, sejam

    priorizadas no atendimento e no acompanhamento pelos serviços

    socioassistenciais.

    Cabe ainda destacar que o Programa BPC na Escola não é só intersetorial, ele

    é também intergovernamental, desse modo iniciamos as recomendações

    destacando as especificidades da gestão estadual.

    1.1. A instância estadual no BPC na Escola

    As regulações e o modelo de gestão de cada uma das políticas setoriais

    responsáveis pelo desenvolvimento do Programa estabelecem o papel do ente

    estadual, como é o caso do SUS, do SUAS e da Educação. Com base nisto o

    Termo de Adesão do Programa prescreve as competências dos Estados.

  • 9

    As responsabilidades dos Estados estão claramente consignadas nos sete

    incisos do Pacto de Adesão, sendo que cinco destas são efetivas, comparecendo

    a Unidade Federativa como garantidora de ofertas da Saúde e da Educação,

    considerando as competências já reguladas sobre cada uma das políticas.

    Importante ainda anotar que consta o apoio ao desenvolvimento de ações

    complementares para a garantia do objetivo central do Programa, e o

    desenvolvimento direto de tais ações.

    Para que o âmbito estadual responda por suas atribuições no Programa BPC na

    Escola, uma condição é a apropriação dos conteúdos e o envolvimento com

    o Programa, por parte de diferentes interlocutores. Isto denota o alcance de

    requisito básico de uma ação intersetorial: conhecimento nivelado do que se

    pretende alcançar e com que ações, bem como supõe pavimentar um caminho

    para a corresponsabilidade.

    Compromissos do âmbito Estadual no BPC na Escola, assumidos na adesão

    I - designar o Grupo Gestor Estadual do Programa, seu coordenador e garantir o apoio necessário

    para o seu funcionamento;

    II - apoiar a capacitação dos agentes envolvidos na gestão e execução do PROGRAMA BPC NA

    ESCOLA, nos Municípios no âmbito de seu território, compreendendo os componentes dos

    grupos gestores locais e estadual, técnicos responsáveis pela aplicação do Questionário para

    identificação das barreiras para o acesso e permanência na escola das pessoas com deficiência

    beneficiárias do BPC, e outros;

    III - garantir o acesso dos beneficiários do PROGRAMA BPC NA ESCOLA aos serviços de saúde e

    reabilitação do Sistema Único de Saúde - SUS;

    IV - garantir a matrícula dos beneficiários do BPC de 0 a 18 anos de idade, em classes comuns do

    ensino regular, em sua rede de ensino, com prioridade para as localizadas próximas da residência

    do aluno;

    V - garantir a oferta do Atendimento Educacional Especializado no turno inverso da escolarização;

    VI - apoiar os Municípios com ações complementares para garantir o acesso e permanência na

    escola das pessoas com deficiência beneficiárias do BPC; e

    VII - desenvolver ações complementares ao desenvolvimento do PROGRAMA BPC NA ESCOLA

    no âmbito do seu território”. (Portaria Interministerial nº 1.205/2011).

  • 10

    Nesse sentido, um primeiro aspecto a ser destacado e que indica um diálogo

    intersetorial mais avançado diz respeito à realização de ações conjuntas

    associadas a ações complementares nas diferentes áreas.

    Estamos nos referindo a ações comuns que envolvem todas as áreas e de ações

    específicas de cada política que complementam o trabalho. Assim, não se

    encontram fragmentadas. Porquanto, estamos destacando que, desenvolver

    ações conjuntas denota um avanço na gestão intersetorial que expressa um

    campo de decisão compartilhada e de criação de dispositivos institucionais para

    efetivar essas decisões, inclusive na mobilização e disponibilização dos recursos

    humanos e materiais necessários. Há um planejamento conjunto e uma parceria

    que respondem pelo mesmo trabalho, deixando de apresentar um protagonismo

    isolado, seja da assistência social ou de outro setor.

    Para que se alcance esse padrão de intervenção, a realização de reuniões é

    insuficiente. As ações se estendem para além dos encontros e diálogos

    intersetoriais, embora eles sejam imprescindíveis para gerar planejamento

    comum entre as diferentes áreas do Estado.

    Nesse nível de responsabilidade no âmbito do Programa a ação do Grupo Gestor

    Estadual é muito estratégica para pactuar ações complementares entre as

    diferentes áreas de governo envolvidas, assegurando, portanto, que essas

    diferentes responsabilidades estejam explícitas e sendo assumidas pelas

    respectivas áreas. Algumas questões se mostram mais desafiantes e, por isso

    mesmo, mais relevantes, apontaremos a seguir algumas delas.

    PLANEJAMENTO INTERSETORIAL. Para assegurar maior efetividade nas

    ações a serem desenvolvidas e para evitar desperdício de recursos há enorme

    consenso na literatura especializada em políticas públicas sobre a relevância de

    processos de planejamento. A partir dessas contribuições bem como a partir da

    inspiração que práticas em curso oferecem, seguem algumas sugestões para

    fortalecer o Planejamento Intersetorial no âmbito estadual.

    Um planejamento a partir da realidade conhecida. Para que haja essa

    proximidade com o real, em processos de planejamento, é necessário considerar

    as informações existentes nos diferentes setores governamentais e a elas somar

    as levantadas quando da aplicação do Questionário de mapeamento de

  • 11

    barreiras. Lembrando que pelas ferramentas existentes no Sistema do Programa

    BPC na Escola2 é possível, inclusive, construir uma série histórica das situações

    encontradas nas diferentes regiões do Estado.

    Destaque-se que essa é uma questão estratégica fundamental, usar as

    informações disponíveis e adensá-las a partir daquelas produzidas no próprio

    Programa.

    Planejar considerando a diversidade territorial e o princípio da

    descentralização. Para que as iniquidades territoriais sejam consideradas na

    busca da garantia de inclusão, ter em conta as diferenças locais é fundamental;

    assim, favorecer que os conhecimentos sobre os municípios, que as equipes

    descentralizadas das diferentes secretarias possuem, sejam considerados nas

    propostas de ação do Programa BPC na Escola é uma estratégia potente.

    Essa aproximação com as equipes do âmbito estadual pode se dar por meio de

    Seminários e Encontros Estaduais de monitoramento do Programa BPC na

    Escola, como pode ser desenvolvida por meio de diálogos virtuais, via internet,

    e análise e sistematização das informações produzidas.

    AÇÕES DIRETAS E EFETIVAS NO ÂMBITO ESTADUAL. Para além do

    planejamento, as equipes estaduais têm ações diretas e efetivas para assegurar

    o funcionamento do Programa, dentre as quais o principal destaque são:

    combater barreiras identificadas nos serviços sob sua responsabilidade de

    execução e apoiar tecnicamente os municípios nas ações do Programa.

    Enfrentamento de barreiras em serviços estaduais. Ao lidar com o combate

    as barreiras que impedem a inclusão de crianças e adolescentes e o acesso aos

    seus direitos, não é demais lembrar que há serviços estaduais responsáveis pelo

    atendimento às pessoas com deficiência, especialmente na educação e saúde,

    logo, as barreiras identificadas estão afetas a esses serviços também. Nessa

    direção, é necessário adotar as medidas cabíveis para eliminar essas barreiras,

    o que pode envolver, a depender das situações diagnosticadas, tanto ações

    relacionadas à capacitação de agentes públicos, adaptação de espaços físicos

    e até o financiamento e o incentivo de estudos e pesquisas para fazer avançar a

    2 Na publicação, o link do aplicativo do Programa poderia ser inserido.

  • 12

    inclusão de crianças e adolescentes com deficiência nos serviços, entre outras

    medidas aplicáveis em conformidade com a barreira encontrada.

    Apoio técnico aos municípios. Especificamente no apoio técnico e material

    aos municípios, alguns destaques são relevantes e, embora já fartamente

    explorados em publicações voltadas ao fortalecimento das relações

    intergovernamentais, são lembrados aqui para que estejam sempre presentes

    no debate.

    Um primeiro aspecto diz respeito à iniquidade territorial, essa dimensão é

    relevante para o planejamento das ações, como apontado, mas também é

    necessário na realização das ações do âmbito estadual. De modo que,

    considerar os dados disponíveis sobre situações de violação de direitos de

    crianças e adolescentes com deficiência, presentes em sistemas de informação

    de políticas públicas desagregados por região e município é relevante para uma

    pauta de apoio aos municípios que considere desafios específicos na lida com

    essa questão. Como também é importante considerar as estruturas existentes

    nas diferentes localidades/regiões do Estado. Essa é uma questão estratégica

    para que os processos de capacitação sejam mais assertivos.

    Sugere-se que as ações de capacitação, devem trazer debates que não se

    restrinjam à orientação sobre a aplicação do Questionário de Identificação de

    Barreiras e que adotem estratégias e metodologias mais participativas que

    favoreçam olhar para questões próprias dos diferentes municípios e regiões do

    estado.

    Desse modo, otimizar a presença de diferentes secretarias setoriais em

    encontros descentralizados favorece trocas de saberes e ampliação de

    conhecimentos sobre as deficiências e sobre mecanismos e tecnologias

    existentes para com elas lidar e conviver.

  • 13

    Mas

    considerando a extensão territorial do país e o custo dos deslocamentos é

    fundamental a adoção de ferramentas de educação à distância, para aquelas

    localidades conectadas na internet, tais como fóruns, chats, sites específicos,

    gravação de vídeos para disseminação via redes de internet, criação de páginas

    nas redes para divulgar ações do Programa no âmbito estadual, canais que

    podem, inclusive contar com a participação de pessoas com deficiência seja na

    produção de conteúdo seja na operação do sistema de informação.

    Algumas das ações aqui sugeridas precisam ser fomentadas pelo Grupo Gestor

    Estadual para ganhar escala e legitimidade, de modo que esse coletivo possa,

    de forma orgânica e complementar, impulsionar o BPC na Escola em todos os

    Estados.

    1.2. Ampliando a intervenção do BPC na Escola no âmbito

    municipal

    Ao longo desses mais de dez anos de implementação do Programa BPC na

    Escola, foi se definindo um fluxo para padronizar as ações do Programa e ofertar

    alguns parâmetros que permitam construir uma identidade para essas ações,

    naturalmente que a diversidade das questões com as quais o Programa BPC na

    Escola atua não permite estabelecer um único modo de funcionamento, mas

    também não é esse o objetivo ao se definir fluxos. Ao contrário, o propósito é

    ofertar uma base sobre a qual, as equipes dos Estados, Municípios e do Distrito

    Federal vão adensando intervenções e criando estratégias adequadas à sua

    realidade tanto no que se refere às barreiras identificadas quanto no que se

    refere às estruturas que possuem.

    AÇÕES ESTRATÉGICAS NO ÂMBITO ESTADUAL:

    Planejamento conjunto e a partir de informações disponíveis que devem ser sistematizadas e periodicamente atualizadas;

    Capacitação de agentes estaduais de diferentes políticas setoriais; Desenvolvimento de processos descentralizados e periódicos de

    capacitação de trabalhadores e gestores municipais. Comunicação ampla e com estratégias diversificadas para produzir

    visibilidade e consensos sobre a temática.

  • 14

    Esse fluxo não se configura como uma esteira produtiva em que uma etapa

    precisa ser vencida para que a outra se inicie, mas indica uma certa organicidade

    das ações do Programa que favorecem seu acompanhamento e fortalece sua

    identidade institucional, especialmente especificando sua natureza intersetorial,

    como também sua característica de ser um Programa voltado ao fortalecimento

    da gestão local, logo, não se confunde e não se sobrepõe a intervenção dos

    serviços das diferentes políticas públicas.

    A partir desse ponto do texto o propósito é ofertar subsídios e algumas

    recomendações para fortalecer as diferentes etapas do Programa, a ênfase não

    é a mesma para todas as ações, pois o que se pretende é adensar a reflexão

    sobre alguns aspectos que se mostram mais desafiantes. Logo, as ênfases

    buscam ofertar insumos para lidar com os desafios identificados.

    Assim, quatro blocos de questões foram destacados nessa abordagem, visando

    intensificar as ações do Programa, são eles: a criação e funcionamento do Grupo

    Gestor Local, a aplicação do Questionário de Identificação de Barreiras, a

    Figura 1: FLUXO DO PROGRAMA BPC NA ESCOLA

  • 15

    elaboração de diagnóstico, ou, em outros termos, o tratamento de informações

    para gerar leitura da realidade e tomada de decisão, e, por último, as ações de

    acompanhamento do Programa para enfrentamento e superação de barreiras.

    Tendo em vista o estágio de implementação do Programa, o detalhamento não

    se ocupará da criação do Grupo Gestor Local, por entender que já estão criados.

    De modo que o detalhamento de suas atribuições pode contribuir para que os

    grupos criados percebam se há necessidade de rever sua composição e/ou sua

    dinâmica de organização interna.

    Destaque-se que esses blocos de questões estão previstos nas atribuições

    específicas dos Municípios no Programa BPC na Escola, dentre as quais, a

    ampliação e qualificação da intervenção dos serviços para garantia de acesso

    de crianças e adolescentes com deficiência.

    Quanto a gestão intersetorial, no âmbito municipal, cumpre-nos anotar que cabe

    aos Municípios a execução das ações em consonância com as

    responsabilidades estabelecidas no Termo de Adesão. Vejamos as principais

    atribuições dos Municípios:

    COMPROMISSOS DO MUNICÍPIO NO PROGRAMA BPC NA ESCOLA.

    III - gerir e coordenar o PROGRAMA BPC NA ESCOLA no MUNICÍPIO;

    XII - assegurar a aplicação anual do Questionário;

    XIII - ofertar serviços socioassistenciais aos beneficiários do BPC e às suas respectivas famílias,

    pelos Centros de Referência da Assistência Social - CRAS e Centros de Referência

    Especializados da Assistência Social - CREAS e, na ausência destes, pela Secretaria Municipal

    de Assistência Social, ou congênere;

    XIV - garantir a integralidade na atenção à saúde das pessoas com deficiência, com

    acolhimento e atenção às necessidades de saúde na Atenção Básica, acesso aos serviços de

    saúde e reabilitação do Sistema Único de Saúde - SUS;

    XV - garantir a matrícula dos beneficiários do BPC, de 0 a 18 anos de idade, em classes comuns

    do ensino regular, com prioridade para as localizadas próximas da residência do aluno;

    XVI - garantir a oferta do Atendimento Educacional Especializado no turno inverso da

    escolarização; e

    XVII - desenvolver ações complementares ao desenvolvimento do PROGRAMA BPC NA

    ESCOLA no âmbito do seu território.

  • 16

    Dos dezessete incisos onde constam os compromissos, temos um grupo que se

    refere a atribuições de gestão assegurando a instituição do Grupo Gestor

    Municipal e a disponibilidade de equipe técnica responsável, bem como a criação

    de condições para a execução das ações previstas no Programa.

    Uma das primeiras ações concretas do município é a identificação das barreiras

    que impedem o acesso da Pessoa com Deficiência às políticas públicas, por

    meio de aplicação do Questionário específico. Antes, porém, as ações de

    capacitação adquirem um papel estratégico para subsidiar a intervenção.

    É necessário ainda o planejamento local das ações intersetoriais para fortalecer

    as políticas envolvidas e dar concretude a intervenção. Tal planejamento deve

    contemplar amplas ações de comunicação e mobilização dos agentes políticos

    e comunidade para combate as barreiras atitudinais identificadas. Deve acolher:

    processos de capacitação para agentes das diferentes políticas e com

    metodologias participativas; bem como, a criação de espaços de diálogo com os

    seus trabalhadores/as, com os órgãos de controle

    social, com o legislativo e com os sujeitos da

    intervenção que são as pessoas com deficiência e

    seus familiares.

    É preciso dar visibilidade às pessoas com

    deficiência e suas necessidades, essa é uma linha

    de intervenção que adensa uma das funções do

    SUAS, que é a Defesa Socioassistencial. Trata-se

    de uma ação de natureza política que traduz o

    reconhecimento da existência deste segmento

    como sujeitos de direitos. Para tanto, a divulgação

    ampla dos resultados das informações captadas

    por meio do Questionário é estratégica. Isto porque

    deve produzir a inquietação dos agentes políticos e

    da comunidade. E, por conseguinte, ficam forjadas

    as condições para que a questão componha a agenda pública e se torne um

    compromisso em todos os setores.

    O Planejamento Intersetorial local, inclui, a partir dos resultados obtidos com a

    aplicação do Questionário, a definição de territórios prioritários para ações

    MOBILIZAÇÃO INTERSETORIAL

    Cabe salientar a

    importância da leitura e

    sistematização dos dados

    com a presença dos

    trabalhadores envolvidos e

    das famílias e pessoas

    com deficiência.

    Este caminho de

    informação, conhecimento,

    mobilização e

    compromisso é

    determinante para que o

    Grupo Gestor Local possa

    funcionar de modo

    intersetorial e daí construir

    as ações unificadas e

  • 17

    intensivas de divulgação, mobilização, ampliação de cobertura e/ou qualificação

    da oferta de serviços.

    A definição de territórios para intervenção prioritária favorece a mobilização dos

    meios e se compromete com o alcance de metas. Para tanto é fundamental a

    atuação do Grupo Gestor Local. Este fórum, de composição intersetorial, é

    decisivo para a constituição da estratégia de enfrentar as ações fragmentadas e

    construir um processo de pacto e trabalho coletivo a partir de um objetivo

    comum.

    Algumas dessas atribuições aqui apontadas, serão desdobradas nos itens a

    seguir, para ofertar elementos que apoiem os Grupos Gestores Locais no

    desenvolvimento de suas atribuições, a oferta de sugestões não esgota,

    obviamente, as estratégias possíveis, mas podem ofertar caminhos a serem

    adensados, essa é a aposta.

    1.2.1 O Questionário de Identificação de Barreiras: escuta para

    gerar vínculos

    A identificação das barreiras que impedem o acesso da Pessoa com Deficiência

    às políticas públicas, por meio de aplicação do Questionário específico é uma

    ação estratégica do Programa, por ter centralidade na localização de pessoas

    que devem receber atenção nos serviços e que têm mais dificuldade de acesso

    a eles, podemos considera-la como uma ação de mobilização e de Busca Ativa.

    No caso específico do BPC na Escola, trata-se de localizar crianças e

    adolescentes beneficiárias do BPC e mapeá-las em cada território para

    aplicação do Questionário de Identificação de Barreiras e, inclusive, proceder a

    inserção no Cadastro Único.

    Na aplicação do Questionário, para além das questões nele inseridas é

    fundamental assegurar um olhar específico para as desproteções do campo

    relacional, identificando-as e registrando-as em instrumento complementar, pois

    estas dizem respeito às seguranças de convivência, acolhida e autonomia que

    configuram um campo próprio da assistência social, nem sempre visível e

  • 18

    pronunciado. Trata-se de identificar vivências de fragilização de vínculos como:

    isolamento, abandono, apartação territorial e conflitos. A aplicação do

    Questionário para a assistência social, também pode ser compreendida como

    parte de um necessário diagnóstico sócio territorial, sendo este último um dos

    procedimentos para a instalação ou implantação da Função de Vigilância Social.

    A forma e a adoção de estratégias para a abordagem das pessoas com

    deficiência beneficiárias do BPC na aplicação do Questionário são muito

    importantes, porque podem motivá-las, ou não para a participação nos Serviços,

    primeiramente, e forjar um ambiente de construção de autonomia – objetivo

    central do trabalho social.

    Desde o recebimento da listagem de beneficiárias/os, sugere-se que o grupo

    gestor local defina, em conjunto com profissionais que farão a aplicação do

    Questionário, como esse trabalho se dará. Esse é um momento estratégico de

    compartilhamento de saberes e impressões de outros agentes que já atuam nos

    territórios a serem visitados. A aposta é que se canais de comunicação estiverem

    ativados é possível adotar ações imediatas que possam superar violações

    observadas, facilitar o acesso aos territórios, evitar deslocamentos

    desnecessários das pessoas pela cidade, como também é possível para os

    serviços perceber e adotar medidas que podem melhorar as formas que

    garantem acesso à sua intervenção como também sua cobertura.

    A atuação deve ser proativa proporcionando, para além da identificação das

    desproteções, a construção de compromissos de superação com o engajamento

    dos usuários.

    Ao longo do processo de implementação do Programa BPC na Escola, alargou-

    se a preocupação com a identificação de barreiras que impeçam a inclusão em

    políticas públicas e a participação social dos beneficiários. Essa perspectiva

    busca a garantia dos direitos de crianças e adolescentes com deficiência e de

    suas famílias extrapolando o acesso ao benefício material, e não se restringindo

    à inclusão na Escola. Tal direção já estava presente na formulação inicial do

    Programa, mas que ganha maior intensidade após essa primeira década de

    implantação.

  • 19

    No ideário que orienta o Programa BPC na Escola essa diretriz ganha

    concretude a partir de ações de Busca Ativa3, tendo como principal instrumento

    a aplicação do Questionário de Identificação de Barreiras para o Acesso e

    Permanência na Escola dos Beneficiários com Deficiência do BPC.

    A seguir destacam-se alguns aspectos que podem tornar o questionário de

    identificação de barreiras um instrumento ainda mais potente na construção de

    relações de proteção de beneficiários do BPC e suas famílias.

    Busca ativa para garantir direitos

    A Busca Ativa é uma forte expressão de responsabilidade pública, pois exige das

    diferentes políticas sociais uma atuação proativa, colocando-se em movimento

    para fazer chegar a elas, pessoas e grupos que apresentam desproteções e

    sofrimentos produzidos pelas formas desiguais de organização social, de sorte

    que o poder público deve se fazer presente mesmo que tais situações não sejam

    efetivas no momento presente.

    [A Busca Ativa] tem como objetivo identificar as situações de vulnerabilidade e risco social ampliar o conhecimento e a compreensão da realidade social, para além dos estudos e estatísticas. Contribui para o conhecimento da dinâmica do cotidiano das populações (a realidade vivida pela família, sua cultura e valores, as relações que estabelece no território e fora dele); os apoios e recursos existentes e, seus vínculos sociais (BRASIL, 2009b, p. 29).

    Desenvolver ações de Busca Ativa é também ter compromisso com ampliação

    de cobertura e garantia de universalidade, ou seja, assegurar que todas as

    pessoas que vivam em condições degradantes, desiguais e iniquas sejam

    alcançadas pela proteção social pública.

    Para o Programa BPC na Escola, fortalecer essa diretriz no estágio atual de

    implementação é uma dimensão estratégica para avançar no alcance de seus

    3 A concepção de Busca Ativa ganha maior densidade no âmbito das ações do Programa Federal Brasil Sem Miséria - PBSM, implantado a partir de 2003. O PBSM tem intenso diálogo com o SUAS e a ele agrega a lógica de cadastramento único de todos os usuários, de forma a garantir cobertura universal a todas as pessoas nas mesmas condições, para assegurar tal desempenho inaugura-se essa lógica de um Estado Ativo, “com base na compreensão de que os mais pobres, exatamente pelo nível de exclusão, abandono, desinformação e isolamento, detêm menores condições de exigir e acessar direitos. (MDS, 2016, p. 10)

  • 20

    objetivos. Uma direção que está em absoluta consonância com as orientações

    técnicas do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), ao

    apontar que:

    No caso das famílias com pessoas com deficiência beneficiárias do BPC, o acompanhamento familiar do PAIF constitui, em muitos casos, a possibilidade de se definir estratégias para superar barreiras e preconceitos (com a família e comunidade) e de assegurar a inclusão social, bem como a inserção das pessoas em situação de isolamento nos serviços do SUAS e de outras políticas públicas. Nestes casos, a busca ativa e a visita domiciliar constituem o primeiro contato qualificado com essas famílias, o que, após elaboração de um diagnóstico social, junto com a família, pode gerar sua inserção em acompanhamento (em grupo ou particularizado) ou nos atendimentos do PAIF. (MDS, 2012, p. 36)

    Ter disponibilidade para escutar e acolher

    Ela chegou e eu tive a oportunidade assim de conversar o que eu sentia com ela e eu achei maravilhoso, ela escutou bem, foi isso que aconteceu. (Mãe de criança beneficiária do BPC)

    Para reafirmar e marcar uma direção, é importante destacar que a perspectiva

    que se adota nestas orientações é aquela que entende a aplicação do

    Questionário como uma acolhida da qual decorre uma relação mais contínua

    entre a pessoa com deficiência e sua família e os serviços de diferentes políticas.

    As ações do Programa BPC na Escola não se esgotam na aplicação do

    Questionário, visam disparar uma inclusão em serviço, ou seja, estabelecer

    relações de proteção e cuidados. A frequência dessa relação, e em que serviços

    ela se dá mais diretamente, é definida pelas demandas da família e que estão

    inscritas no âmbito das diferentes políticas públicas4.

    Nessa perspectiva, é muito importante considerar a aplicação do Questionário,

    como uma oportunidade de escuta e de diálogo, para reconhecer

    responsabilidades compartilhadas e combater sentimentos e experiências de

    solidão, abandono e isolamento, muito presentes em pessoas com deficiência e

    em suas famílias. Como também se constitui esse momento uma oportunidade

    singular para que profissionais se aproximem da realidade em que devem

    4 Cabe lembrar que as situações que demandam proteção de assistência social não estão afetadas somente a ter ou não renda, como já apontado em item anterior desse caderno.

  • 21

    intervir, para superar leituras reducionistas, ingênuas, mas também,

    estigmatizadoras sobre os modos de viver das pessoas com deficiência.

    [Trata-se] de trabalhar a partir daquilo que o dialético conhecimento da realidade proporciona a respeito daquela população. Ouvi-la, ouvir o que diz, pois a população sobrevive em situações tão adversas que nenhum trabalhador social é capaz de supor. Sem ouvir e pensar junto, de fato, pode-se até apresentar a melhor intenção, mas será vazia de potencial transformador. (COUTO, 2014: 397)

    Na produção de orientações sobre o exercício profissional de diferentes

    categorias, tem sido recomendado que a escuta seja qualificada e desenvolvida

    a partir de preceitos éticos. Ao considerar as características de uma escuta

    qualificada, um aspecto que comparece em diferentes produções diz respeito à

    capacidade de adotar uma postura isenta de julgamentos, o que favorece a

    confiança e cria uma ambiência propícia para que as narrativas sejam feitas com

    autonomia.

    Nesse sentido, ações como: interrupção da fala para ir direto ao assunto,

    comentários sobre como a pessoa deveria ter agido ou o que deveria ter feito

    nessa ou naquela situação, conclusão da frase ou antecipação do que a pessoa

    vai dizer enquanto ela está buscando modos de melhor se expressar, são

    posturas relativamente comuns, mas que não devem ser adotadas, sob nenhum

    pretexto, pois são desrespeitosas e estabelecem uma hierarquia entre narrador

    e ouvinte de modo que passa a predominar somente o que o ouvinte quer saber

    e não o que o narrador quer compartilhar.

    Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. Isso não quer dizer, evidentemente, que escutar exija de quem realmente escuta sua redução ao outro que fala. Isto não seria escuta, mas auto-anulação. A verdadeira escuta não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito de discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das ideias. (FREIRE, 2002, p.135)

    Na situação de escuta para preenchimento do Questionário os profissionais

    estarão preocupados e atentos para levantar as informações demandadas pelo

  • 22

    instrumento, é natural que seja assim. Mas se houver valorização desse

    momento, seguramente será possível captar questões relevantes na trajetória

    dessas famílias e que podem ser compartilhadas com os serviços para contribuir

    com sua intervenção.

    A aposta é que sentir-se ouvido com interesse é sentir-se valorizado. Falar de

    experiências e eventos que tornam as pessoas vulneráveis e de situações

    desencadeadoras de dor, é um momento de intensa delicadeza, porque a

    narrativa reaviva sofrimentos. Quando a relação estabelecida é de proteção, os

    fatos ocorridos não podem ser banalizados e/ou naturalizados.

    Um elemento fundamental da escuta é a facilitação que o interlocutor deve

    promover para permitir a elaboração de quem fala. São intervenções e posturas

    que ajudam e incentivam a narrativa, estabelecem uma interação. Seguem

    algumas sugestões, a partir da construção da educadora Ana Maria Costa e

    Silva.5

    O processo de escuta é composto por silêncios atentos e diálogos mobilizadores.

    Ocorre uma mistura desses elementos e isso se dá porque se está tratando de

    uma escuta ativa e corresponsável. Em uma escuta ativa não há um ouvinte

    passivo, de olhos baixos, concentrado em anotar o que é dito ou focado em

    preencher campos numa planilha. Ao contrário, na escuta ativa, o ouvinte

    5 A Dra. Ana Maria Costa e Silva é docente do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho, Portugal.

    ESCUTA ATIVA

    Técnicas Objetivos

    Mostrar interesse Transmitir interesse. Estimular o outro a falar.

    Clarificar Tornar claro o que é dito. Obter mais informação. Ajudar a ver outros pontos de vista.

    Parafrasear Mostrar que o que foi dito foi compreendido. Verificar o significado usando uma outra expressão com o mesmo sentido e checar se foi isso que a pessoa quis dizer.

    Ecoar Mostrar que está compreendo os sentimentos. Ajudar a outra pessoa a ficar mais consciente daquilo que sente.

    Resumir Verificar o progresso alcançado. Juntar os fatos e as ideias importantes.

  • 23

    dialoga, devolve, demonstra curiosidade, facilita a fala e mostra os impactos que

    a narrativa provoca em si. Na escuta ativa, se estabelece também, diálogo.

    Cuidando das formas de comunicação

    Pessoas com deficiência e suas famílias têm inúmeros relatos sobre o elevado

    desconhecimento sobre síndromes e deficiências. O desconhecimento está

    associado, de um lado, ao avanço das pesquisas que vão apurando diagnósticos

    e com isso trazendo novas denominações e novos modos de tratamento das

    deficiências. Mas, de outro lado, associa-se às dificuldades de profissionais de

    usarem uma comunicação clara, (HÖHER,2006) que favoreça que a pessoa6 e

    sua família entendam claramente os impactos da deficiência para com ela

    conviver sem mitos. Há depoimentos relativos à falas inadequadas, expressas

    em laudos fechados e fatalistas de profissionais que afirmam que crianças terão

    esse ou aquele comportamento em virtude de uma deficiência, ou que poderão,

    ou não, ter certas vivências. Prognósticos que, muitas vezes, vão sendo

    refutados na trajetória de crianças e adolescentes e suas famílias.

    “(...) a mãe do meu marido disse que quem tinha defeito era eu... Eu que sou doente. Se eu for engravidar, vai nascer outro doente pior que esse” (mãe 03, 29a). (NASCIMENTO e FARO, 2015, p. 197)7

    Essa trajetória de atendimento em diferentes serviços, nem sempre de forma

    adequada e acolhedora, produz uma vivência que, marcada pelo desrespeito, se

    caracteriza por desconfiança e, por vezes, resistência ao contato com agentes

    públicos, especialmente aqueles que não são conhecidos. Essas histórias

    precisam ser consideradas nas aproximações que pretendem superar barreiras

    para produzir proteção e inclusão, façamos uma breve reflexão sobre isso.

    6 É fundamental no diálogo com pessoas com deficiência que a conversa seja feita diretamente com elas, que ela possa falar de si, do que sente. Somente na hipótese da pessoa não ter condição de entender o que está sendo solicitado ou mesmo as orientações fornecidas é que a comunicação deve ser voltada às pessoas responsáveis pelos cuidados, em geral a mãe. Favorecer que a pessoa explicite diretamente sua perspectiva fortalece sujeitos.

  • 24

    Respeitando a história e trajetória das pessoas

    Para desenvolver ações de Busca Ativa que expressem de fato proteção, é

    fundamental reconhecer que a trajetória de famílias e indivíduos em vivência de

    sofrimento e desigualdade é fortemente marcada por humilhações, restrições de

    acesso, controles, desconfianças, enfim, por relações pautadas no não direito,

    inclusive nos serviços prestados por diferentes políticas públicas.

    Os itinerários terapêuticos percorridos pelas mães evidenciam que o cuidado de seus filhos exigiu muitos esforços, dedicação e abdicação da vida pessoal para garantir o acesso aos serviços oferecidos por instituições de saúde e de educação públicas e privadas, bem como por organizações civis. As mães relataram que empreenderam esforços para enfrentar os obstáculos

    RECOMENDAÇÕES PARA UMA CHEGADA RESPEITOSA E CUIDADOSA

    Na aproximação com com crianças e adolescentes beneficiárias do BPC e suas famílais,

    sugerem-se alguns cuidados: adotar procedimentos para conhecer as deficiências e suas

    expressões para não se surpreender ante o desconhecido, não emitir opiniões ou

    julgamentos pessoais, comunicar-se com clareza e sempre verificando se houve

    entendimento do que foi dito, falar diretamente e prioritariamente com a criança e/ou

    adolescente beneficiário, munir-se das informações sobre os serviços para poder divulgar às

    famílias e, dar devolutiva posterior de informações que não tenha no momento da visita

    inicial e ainda, cuidar para que a visita não seja incômoda por ocorrer em momento

    inadequada na dinâmica familiar.

    Lembrando um alerta de LEMES e BARBOSA (2007) ao analisar as formas de comunicação

    com as famílias.

    A falta de formação dos profissionais de saúde [e de outras áreas] no trabalho

    com a família os leva a um não comprometimento com suas atividades e

    provoca nos pais insatisfação pela forma como são tratados. Tal quadro torna-

    se mais sério quando os profissionais de saúde enfatizam os aspectos

    limitantes da deficiência, em vez de mostrar as possibilidades de

    desenvolvimento, as possíveis formas de superação das dificuldades, os locais

    de orientação familiar, os recursos de estimulação precoce e os centros de

    referência de atendimento às crianças com deficiência. A mensagem que os

    integrantes da equipe de saúde podem transmitir no momento de comunicar

    o diagnóstico de deficiência. É a de que estão presentes e, aos poucos, poderão

    ajudar a família a ver um futuro com potencialidades para o filho. É necessário

    veicular à família a mensagem de que se está iniciando um novo desafio, no

    qual se compartilham sentimentos e emoções. (p.442)

  • 25

    relacionados ao acesso geográfico, funcional e econômico aos serviços de saúde, muito além de suas capacidades. (CERQUEIRA, ALVES e AGUIAR, p. 3225, 2016)

    Desse modo, não raras vezes, e para muitas

    famílias, o receber um agente público, pode se

    constituir em uma experiência negativa, um

    momento incômodo associado a averiguação de

    denúncias ou mesmo associado a ações de

    repreensão ou ameaça. Algumas famílias podem

    até aceitar preencher o Questionário do

    Programa BPC na Escola, simplesmente por

    pensar que a recusa pode ser interpretada como

    uma tentativa de esconder algo o que poderia

    impactar no acesso ao seu benefício. É

    fundamental considerar também que essas

    trajetórias de violaçoes vividas pelas famílias, faz

    com que tenham inseguranças sobre a

    continuidade do benefício recebido.

    De outro lado, porém, quando uma cidadã ou cidadão é procurado com autêntico

    interesse de profissionais para saber as condições em que vive para mapear o

    que pode ser feito para melhorá-las, oferta-se uma expressão de

    reconhecimento de que sua existência com dignidade preocupa a coletividade.

    Esse movimento carrega um forte simbolismo sobre padrões de civilidade e de

    cidadania, só alcançáveis quando se é tratado de modo coerente com essa

    perspectiva.

    Ele começou a explicar os direitos que meu filho tinha, porque assim, onde eu chegava não dizia o que eu tinha direito, no INSS mesmo foi a maior polêmica para poder eu conseguir o benefício dele, e ele foi me explicando, até hoje foi a única visita assim que esclareceu tudo, foi uma ótima pessoa. (Mãe de criança beneficiária do BPC)

    Nesse sentido, o cuidado com a postura profissional é fundamental para que a

    relação de proteção seja facilmente identificada e a experiência de

    INFORMAÇÕES PARA ALARGAR DIREITOS

    Para fortalecer essa direção, é

    fundamental que as informações

    fornecidas pelo agente público

    que realiza a entrevista sejam

    coerentes e fortaleçam a noção do

    direito e indiquem onde ele possa

    ser reivindicado, caso tenha sido

    negado, como também e,

    principalmente, é fundamental

    deixar claro que o não

    atendimento será comunicado aos

    órgãos responsáveis para que

    sejam revistos e reparados.

    É fundamental também que as

    pessoas entrevistadas

    (beneficiárias e suas famílias)

    saibam que naquele momento

    estão contribuindo com as

    políticas públicas, pois estão

    ofertando um conhecimento

    fundamental para elas que é saber

    as reais condições de vida de

    quem deve ser por elas atendidos,

    de modo que precisa ficar claro

    que essa contribuição é

    espontânea, não obrigatória.

  • 26

    reconhecimento de cidadania seja orientadora do modo de se estabelecer a

    relação entre profissionais e cidadãs usuárias. O objetivo é que o momento de

    Busca Ativa por meio de visitas domiciliares seja uma oportunidade de atenção

    especializada e particularizada, de encontro para produção de vínculo e

    construção de referência e corresponsabilidade, o entendimento é que se

    inaugura ali uma relação de proteção que deve ser duradoura e que está à

    disposição da família todas as vezes que necessitar de outros agentes para

    alargar sua capacidade de proteção.

    Alguns atributos essenciais precisam demarcar esse encontro (vide figura 2),

    elementos que serão explorados a seguir, mas numa síntese retoma-se o 10º

    Direito do Decálogo dos direitos socioassistenciais, deliberado pelo CNAS e

    publicado na VII Conferência Nacional de Assistência Social.

    DIREITO AO CONTROLE SOCIAL E DEFESA DOS DIREITOS

    SOCIOASSISTENCIAIS. Direito, do cidadão e cidadã, a ser

    informado de forma pública, individual e coletiva sobre as ofertas

    da rede socioassistencial, seu modo de gestão e financiamento;

    e sobre os direitos socioassistenciais, os modos e instâncias

    para defendê-los e exercer o controle social, respeitados os

    aspectos da individualidade humana, como a intimidade e a

    privacidade. (BRASIL, CNAS, 2009)

  • 27

    Desse modo, recomenda-se que esse momento, para as equipes de assistência

    social e das demais políticas públicas8, seja considerado como uma estratégia

    de acolhimento inicial para inserção em sua rede de serviços e não como um

    momento de pesquisa que se esgota nele mesmo.

    Para firmar um entendimento: o Questionário de Identificação de Barreiras

    é um instrumento inicial e não o objetivo final do Programa BPC na Escola!

    8 O Questionário pode ser aplicado por qualquer agente público, não necessariamente profissionais de assistência social. Os parágrafos 4 e 5 do artigo 6º, da Portaria Interministerial nº 01, de 12 de março de 2008, estabelece que “A Equipe Técnica para aplicação do Questionário será composta por técnicos, preferencialmente, das áreas de educação, de assistência social e de saúde. O Coordenador da Equipe Técnica para aplicação do Questionário será, preferencialmente, um assistente

    social. A recomendação central é que seja lá quem for o profissional que tome esse momento como uma oportunidade de tornar mais próxima e conhecida essa política de proteção social para as pessoas e, de outro lado, que seja uma oportunidade para que os profissionais circulem pelos territórios e conheçam melhor o cotidiano vivido. Saber necessário para alargar a proteção. (PNAS, 2004)

    Figura 2: Para um encontro potente....

  • 28

    Reconhecendo autonomia e fortalecendo protagonismo

    Em diálogo com famílias que foram visitadas nas ações do Programa BPC na

    Escola, foi possível levantar algumas recomendações e cuidados que

    consideram importantes que os profissionais devem ter ao realizar as visitas para

    aplicação de Questionário ou mesmo para outras finalidades. A direção aqui é

    que beneficiárias/os e suas famílias se fortalecem como sujeitos quando suas

    perspectivas são consideradas. Assim, desde o lugar da casa onde a entrevista

    será feita, até a decisão sobre quais pessoas da família vão responder o

    Questionário, é fundamental tomar decisões conjuntas, priorizando sempre o

    beneficiário do BPC.9

    Entrar em contato com a família em ocasião anterior à visita

    Quando as pessoas são consultadas sobre a possibilidade de receber

    profissionais, isso oferece uma satisfação, porque reconhece e legitima sua

    autonomia e sua possibilidade de decisão. Quando indagadas sobre esse

    momento as famílias, mães principalmente, demonstraram muita satisfação

    quando lhes foi perguntado, por telefone, se poderiam receber um profissional

    que faria uma entrevista para identificar as dificuldades cotidianas que enfrentam

    com crianças e adolescentes com deficiência beneficiárias do BPC. Depreende-

    se, portanto, que agendar previamente a visita, explicando suas motivações, é

    uma expressão de respeito ao tempo das pessoas, mantem coerência com a

    ideia de que não há obrigatoriedade de responder o Questionário e,

    especialmente, combate inseguranças e desconfianças:

    Entretanto, pode haver dificuldades de comunicação com as famílias e não ser

    ter sido possível marcar antecipadamente. Nesse caso, é recomendável que

    essa dificuldade seja explicada e que o/a profissional esteja disposta/o a voltar

    em outra ocasião em que seja mais adequado o atendimento, se for necessário.

    9 No Caderno de Orientações do PAIF vol. 2, há recomendações detalhadas sobre a atenção desse serviço de forma a assegurar respeito aos desejos e necessidades das famílias.

  • 29

    O cuidado com o tempo das famílias produz um efeito de horizontalidade e de

    respeito à autonomia das pessoas. Ao afirmar uma abertura para dialogar

    quando for mais adequado para as pessoas, produz-se uma relação muito

    potente por ser dirigida a quem vive em filas de espera, aguardando longos

    agendamentos, ou mesmo precisa criar condições para chegar no horário

    marcado em locais distantes e de difícil acesso.

    Pode-se afirmar então, para fortalecer a autonomia e o protagonismo, as atitudes

    profissionais precisam ser, em todos os momentos, coerentes com a direção de

    que sujeitos fazem escolhas e precisam ter diferentes oportunidades de escolher

    o que é melhor para si.

    Usar linguagem clara e acessível

    A experiência de ter um filho ou uma pessoa da família com deficiência é

    frequentemente cercada de inseguranças diante de uma situação em que não

    se sabe como lidar, e, muitas vezes, não se sabe também como vai evoluir. Se

    essa vivência está associada à pobreza, à baixa escolaridade e ao precário

    acesso à informação, a condição de compreensão é ainda mais grave, porque,

    como já apontado, alguns profissionais também não conseguem explicar o que

    está acontecendo numa linguagem clara e acessível.

    Nesse sentido, é fundamental o cuidado com a linguagem utilizada e estar atento

    para avaliar se houve compreensão do que foi dito. Explicitar as razões da visita,

    verificar se essa motivação está clara e se há alguma questão que as pessoas

    desejem saber, é fundamental desde o primeiro contato. Para além, ao longo de

    toda a relação, deve-se manter essa postura para que o momento de contato

    com as famílias seja também de esclarecimento de dúvidas e de maior acesso

    a orientações e informações (Decálogo dos Direitos Socioassistenciais).

    Estar preparado para se deparar com situações desconhecidas

    Dentre as dificuldades de ter uma pessoa com deficiência na família,

    seguramente uma das mais impactantes é lidar com o desconhecimento das

    pessoas a respeito dessa vivência. Várias famílias vão apontando relatos de

  • 30

    tratamento inadequado recebido na relação com vizinhos, às vezes na Igreja e

    muitas vezes com profissionais de serviços públicos.

    Quando eu falo que minha filha é autista, sempre tem um “ah!”, esse “ah!”, às vezes quer dizer, ‘nunca ouvi falar disso, nem sei do que se trata’ ou então é um ‘ah’ que quer dizer, ‘coitadinha, mas ela vai superar, né?’ ou então se surpreendem dizendo: ‘Mas ela entende tudo’, e eu olho pra ela é falo ‘sim, ela entende’. (... mãe de Sophia, 9 anos)10

    Críticas, perguntas sobre cuidados na gravidez ou nos primeiros dias de vida,

    indagações sobre relações de parentesco entre os pais, por vezes, são buscas

    de motivação para explicar a deficiência que gera nas famílias, e nas mães em

    especial, sentimento de culpa pela deficiência do filho.

    Outra expressão de desconhecimento sobre a deficiência é quando os

    profissionais agem como se todas as pessoas tivessem que apresentar as

    mesmas características, em virtude do diagnóstico inicial, ignorando as múltiplas

    e diferentes expressões e intensidade de síndromes e outras deficiências.

    Portanto, retoma-se aqui uma recomendação feita anteriormente: estar diante de

    uma nova situação exige que profissionais ampliem seus conhecimentos para

    lidar com a diversidade humana. O trabalho profissionalizado não se pauta e não

    reproduz senso comum, ele é orientado por informações produzidas no âmbito

    da pesquisa e da sistematização da intervenção profissional. O diálogo

    preparatório para aplicação do Questionário com profissionais de diferentes

    políticas públicas, é uma ferramenta para evitar atitudes inadequadas, que, por

    falta de informações, reproduzem estigmas e humilhações.

    Considerar demandas de atenção trazidas pela família

    A divisão setorial de políticas públicas torna o percurso familiar para conseguir

    atenção às suas necessidades bastante complexo e, muitas vezes, frustrante.

    Dessa forma, é possível que as famílias apontem muitas demandas quando

    10 Depoimento transcrito a partir do documentário “Eu sou assim”, produzido e veiculado pela Emissora GNT. “Eu Sou Assim” é uma série documental que aborda transtornos e síndromes que ainda são alvo de estigmas e preconceitos, através de um ponto de vista positivo, construtivo e de superação. A série conta histórias de famílias que convivem com esses desafios e de indivíduos que aprenderam a lidar com as dificuldades.

  • 31

    percebem o interesse de um profissional sobre a situação vivida, e sobre as

    barreiras enfrentadas. Acolher essas demandas é fundamental, como também

    esclarecer os processos que serão desencadeados para que as solicitações

    cheguem aos serviços responsáveis. Isso é necessário para que não haja

    frustração e quebra de confiança. Sugere-se também deixar contatos e

    informações pertinentes para que as providências mencionadas sejam cobradas

    pela família, caso não sejam adotadas pelos serviços.

    É fundamental saber que as demandas trazidas são de responsabilidade

    compartilhada e não exclusivas dessa ou daquela política pública. Mas uma vez

    visível para agentes públicos, não se pode omitir de adotar providências para

    que sejam também conhecidas para toda a rede.

    Nesse sentido, é fundamental considerar que os objetivos do Programa BPC na

    Escola não se restringem a identificar barreiras, a perspectiva é de enfrentá-las.

    Sabe-se que o reconhecimento de direitos exige ações articuladas e

    complementares de diferentes políticas públicas, o agente que aplica o

    Questionário, seja representante de qual política pública for, não terá condições

    de atender a todas as necessidades, não há essa expectativa. No entanto, é

    fundamental que se saiba orientar beneficiários e familiares, e que haja

    dispositivos internos de comunicação entre serviços e políticas públicas para que

    demandas e ausências de atendimentos sejam revistas, como também,

    negligências institucionais sejam reparadas.

    1.2.2. Diagnóstico de inclusão: informações sistematizadas

    gerando conhecimento

    Constitui também o processo de busca ativa para além da postura acolhedora

    dos profissionais, que respeita e valoriza o interlocutor, o desenvolvimento da

    capacidade de identificação de barreiras impeditivas ao usufruto da cidadania

    em suas mais diferentes dimensões. Nesse sentido, é importante que haja uma

    permeabilidade para observar, ouvir e distinguir relações protetivas e provedoras

    de cuidados, de relações que produzem subalternização e subordinação. Essas

  • 32

    relações podem se expressar no interior da família, mas também nas relações

    destas com o território, vizinhança e serviços públicos.

    É fundamental reconhecer que modos de tratamento reiterados passam a ser

    considerados naturais e banais, de tal sorte que uma pessoa não relatará uma

    experiência negativa de atenção ou tratamento recebido, caso ela não tenha sido

    estimulada para tal, pois essa vivência já é tão comum que parece natural.

    Para que esse momento de aproximação desvele situações de sofrimento ou

    identifique sua construção na trajetória de quem as vive, não é suficiente atentar

    somente para o Questionário e seu conteúdo. É fundamental lançar um olhar

    curioso sobre a realidade, que capte o dito e o não dito, e que observe aspectos

    que possam demonstrar comprometimento do convívio social, da pessoa com

    deficiência e sua família, tais como: situações de violência, de abandono ou

    isolamento, de confinamento, de humilhação sofrida em serviços públicos, de

    discriminação ou violência vivida nas relações de vizinhança, entre outras

    situações que demonstrem a vivência de desproteção ou de interdição ao

    convívio sociofamiliar e territorial.

    A capacidade protetiva da família e o impacto da presença de pessoas com

    deficiência demandando cuidados é outro aspecto a ser observado,

    fundamentalmente, identificando a presença de sobrecarga das mulheres da

    família nesta atenção. A oferta de cuidados na família pode ser analisada a partir

    de uma equação em se que observam quantas pessoas são demandantes de

    cuidados e quantas estão em condições de ofertá-los. Se esses cuidados não

    estão bem distribuídos, há ainda mais relevância na oferta dos serviços públicos

    para compartilhar dessas responsabilidades.

    Ressalte-se também que a desproporção entre cuidadoras/es e demandantes

    de cuidados, faz com que algumas necessidades sejam priorizadas em relação

    a outras, o que gera, por vezes, o predomínio de ações para responder somente

    às necessidades físicas básicas, secundarizando estímulos associados à

    convivência social ou a ganhos de autonomia. Para dar um exemplo, é mais

    efetivo e rápido dar comida a alguém do que apoiá-la para que se alimente

    sozinha. Essas escolhas se estabelecem, muitas vezes, para dar conta de

    muitas tarefas num mesmo dia.

  • 33

    Agrava ainda mais essa situação, se não houver pessoas na família em

    condições de ofertar cuidados com regularidade, para crianças e adolescentes

    com deficiência que requeiram apoio para suas atividades cotidianas. Nesses

    casos, a possibilidade de acesso a oportunidades de aprendizado relacional e

    alargamento de experiências de respeito e valorização tendem a ser ainda mais

    raras, pois a sobrevivência física, naturalmente, é que será priorizada.

    Se considerarmos também que situações de desqualificação e produção de

    subalternidade podem se dar em diferentes espaços e instituições, é

    fundamental um olhar atento para identificar expressões que desvelem vivências

    de preconceito no atendimento em serviços públicos. Quando relatos de

    experiências de desrespeito são ignorados e desconsiderados, legitima-se tais

    práticas e reitera-se o desrespeito aos direitos.

    O reconhecimento de uma situação de sofrimento humano, como uma demanda

    de proteção pública se estabelece na intervenção profissional, não se dá por

    automático, se constrói numa relação em que a queixa, ou a narrativa de uma

    vivência, é interpretada numa relação de corresponsabilidade pública por aquela

    situação vivida. Isso requer, de um lado, reconhecer o escopo de proteção das

    políticas públicas e, de outro, associar e estabelecer nexos entre diferentes

    experiências e vivências às situações de desigualdade produzidas

    coletivamente.

    Em outras palavras, uma vivência passa a ser uma demanda para política

    pública, a partir da visibilidade que o trabalho social produz.

    Ao formular uma leitura de como esses processos de construção de demanda

    se estabelecem no âmbito da saúde, afirma Cecílio (2009, p. 120): “A demanda

    é o pedido explícito, a “tradução” de necessidades mais complexas do “usuário.”

    Mas quando a experiência com uma política pública está fortemente marcada

    por somente uma modalidade de atenção, como é o caso da farta relação entre

    necessidades materiais e assistência social, ou mesmo quando se está diante

    de situações de sofrimento vividas como culpa ou como castigo, seguramente,

    essas demandas não serão feitas de forma clara e direta.

    O profissional terá que estimular e interpretar narrativas e atitudes, acolhê-las e

    valorizá-las como relevantes, para, em seguida, fazer ecoar essas vivências de

  • 34

    modo a inserir na pauta dos serviços, no debate sobre o controle social, enfim,

    no âmbito público. Transitando assim de um problema individual ou familiar, para

    uma questão coletiva e pública.

    Diagnóstico: instrumento para orientar ações

    O conhecimento sobre situações de violação ou ausência de acesso aos

    direitos é um gatilho disparador de responsabilidade dos agentes públicos!

    Figura 3: Busca ativa e organizada

    Para além do Grupo Gestor Local, é fundamental que no âmbito dos serviços

    socioassistenciais e das demais políticas públicas, o conhecimento sobre as

    situações vividas seja compartilhado e seja foco de diálogos coletivos para

    avaliar a possibilidade de inclusão imediata em casos de maior presença de

    riscos sociais ou de violações de direitos.

    A aplicação do Questionário, em si, não gera informação. É necessário

    sistematizar os dados e proceder à análise das informações. De modo que só a

  • 35

    análise das informações coletadas por meio do Questionário é que empreende

    sentido à sua aplicação. A análise das informações, apropriadas por todos os

    segmentos envolvidos, é que deve permitir a formulação do planejamento de

    ações conjuntas.

    Exatamente porque a realidade não se apresenta homogênea em todos os

    territórios, nisto reside a relevância e a necessidade da atuação considerando o

    território. Há a característica das instituições locais, o perfil dos agentes públicos,

    o nível de informação, de mobilização e disponibilidade das pessoas com

    deficiência, suas famílias e comunidade. Além disso, a natureza das questões a

    serem enfrentadas, são algumas das variáveis que interferem na maior ou menor

    capacidade de articulação local.

    Essa dimensão é fundamental na produção de diagnóstico e para tanto, não

    basta lidar com informações secundárias é estratégico valorizar saberes de

    atores e agentes que nele estão e vivem. Tais como: agentes de saúde, técnicos

    de CRAS, trabalhadores de apoio nas escolas, motoristas de transporte público

    e principalmente usuários e suas famílias.

    A concepção que impera aqui considera o diagnóstico não só como um momento

    de leitura e sistematização de informações levantadas, mas também, como um

    momento participativo de articulação e mobilização de diferentes atores, o que

    requer capacidade de comunicação e existência de uma agenda de trabalho com

    objetivos claros. É imprescindível, nesta agenda, a instituição de espaços para

    circulação de informações sobre aspectos identificados como barreiras quando

    da aplicação do Questionário; realização de encontros para proporcionar a

    apropriação da realidade e o debate desses aspectos prioritários; constituição

    de grupos de estudos intersetoriais; elaboração de orientações técnicas

    conjuntas; produção e publicação das ações desenvolvidas, de modo

    sistematizado, para gerar conhecimento coletivo.

    O diálogo a partir do real pode fornecer indicadores para avaliar as condições de

    acesso aos serviços públicos, de modo que as rotinas das famílias nos diferentes

    territórios deve ser um elemento essencial para pensar a dinâmica dos serviços

    e, sempre que possível, ajustá-la conforme as necessidades das pessoas.

  • 36

    Portanto, o trabalho sob a ótica do território exige o exercício de sistematizar

    informações de perfil econômico, social, geográfico e físico, também sob o

    prisma territorial, aproximando aqueles com características semelhantes e

    destacando os que tem peculiaridades. Assim, o planejamento promete

    viabilidade e se compromete com resultados, porque está perto dos

    sujeitos e possui base na realidade.

    1.2.3. Acompanhando a inclusão: a contribuição do BPC na

    Escola para qualificar políticas públicas

    O acompanhamento no Programa BPC na Escola está afeto a ações de

    monitoramento e avaliação da superação ou permanência de barreiras de

    acesso aos serviços públicos ou à participação social de crianças e adolescentes

    beneficiárias do BPC.

    Vale, desde logo, ressaltar algumas medidas como: reuniões intersetoriais para

    sistematização de conhecimentos, para análise de medidas específicas para

    atender situações identificadas quando da aplicação do Questionário de

    Identificação de Barreiras e para planejamento de ações a serem desenvolvidas

    nas diferentes áreas; reaproximação com beneficiários e suas famílias cuja

    inclusão em serviços não tenha sido viabilizada; articulação para

    desenvolvimento de ações de capacitação ou colaboração interinstitucional para

    apoiar serviços na adoção de medidas inclusivas adequadas e em consonância

    com a legislação, dentre outras ações de monitoramento do alcance dos

    objetivos do Programa, medidas essas que podem ser complementares, mas

    não se sobrepõem ou substituem as adotadas nos serviços socioassistenciais.

    Relembramos o BPC na Escola é um Programa no âmbito da gestão local

    para qualificação de serviços.

    Essa característica de ser um programa de fomento a inclusão está expresso

    nas normativas do Programa, na seguinte construção:

    “O Programa de Acompanhamento e Monitoramento do Acesso e Permanência na Escola das Pessoas com Deficiência Benefi-ciárias do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – Programa BPC na Escola é um programa intersetorial

  • 37

    que tem por objetivo garantir o acesso e a permanência na escola de crianças e adolescentes com deficiência, de 0 a 18 anos, beneficiários do BPC.”( Portarias Interministeriais nºs 18/2007 e 1.205/2011)

    Não é demais esclarecer e firmar que para garantir acesso e permanência na

    Escola é necessário concomitantemente, a inserção na assistência social, na

    saúde e nas garantias da política de direitos humanos. Ratificamos assim o

    entendimento que se firmou na execução do Programa nessa primeira década,

    trata-se de Um Programa de Inclusão das Pessoas com Deficiência em Políticas

    Públicas, suas ações de monitoramento e acompanhamento, portanto, estão

    afetas ao desempenho das políticas, mais do que à atenção direta ao cidadão,

    trata-se de uma ação de gestão local para apoiar o desempenho de políticas, o

    BPC na Escola não é concorrente e não substitui ações de serviços das

    diferentes políticas públicas, pois ele atua para fortalecê-los.

    Diferentes formas de acompanhamento: a escala do Programa

    O uso da expressão acompanhamento é de farto uso na política de assistência

    social, então para contribuir com a distinção das referências de

    acompanhamento no BPC, nesta seção apresenta-se uma breve distinção entre

    acompanhamento de famílias ou indivíduos presentes nos serviços

    socioassistenciais e o acompanhamento no Programa BPC na Escola.

    Tomando como referência o entendimento de acompanhamento familiar

    assumido pelo Protocolo de Gestão Integrada de Serviços e Benefícios e pelo

    PAIF em suas Orientações Técnicas temos:

    [O acompanhamento é] conjunto de intervenções desenvolvidas em serviços continuados, com objetivos estabelecidos, que possibilitam à família acesso a um espaço onde possa refletir sobre sua realidade, construir novos projetos de vida e transformar suas relações-sejam elas familiares ou comunitárias”. (Caderno do PAIF. VII p. 62\63.)

    Trata-se de um processo que tem como característica ser continuado, planejado, com objetivos a serem alcançados e com tempo de intervenção determinado. Essa ação se desenvolve a

  • 38

    conjuntos de famílias, dentre as quais devem estar aquelas que tem beneficiários do BPC, pois são prioritárias para os serviços. (Caderno do PAIF. VII p. 63.)

    Postas estas questões preliminares de entendimento, podemos afirmar que a

    denominação de Acompanhamento no tocante a assistência social no caso do

    BPC tem duas dimensões: a de inclusão em benefícios e acesso em serviços do

    SUAS, e a dimensão do acompanhamento próprio do Serviço ofertado. Cada um

    com seu campo específico de atenção se articulam para cumprir o mesmo

    objetivo geral de garantir o exercício de direitos com a inclusão das pessoas com

    deficiência e suas famílias.

    A inclusão no SUAS se assenta no objetivo de enfrentar barreiras ao

    convívio, assegurar acolhida e fomentar autonomia, questão da maior

    magnitude e alcance para a Inclusão.

    De modo que a participação de pessoas com deficiência nos Serviços

    socioassistenciais resulta num significativo exercício de convívio entre

    diferentes, e seguramente, o enfrentamento de barreiras de discriminação e

    segregação. Da mesma forma, a inserção de suas famílias no PAIF,

    precipuamente das mães cuidadoras constituem acolhida e valorização das suas

    experiências, oportunidades de convívio, apoio no cuidado e logo,

    fortalecimento, construção de autonomia e da capacidade protetiva da família.

    O atendimento destas famílias pelo PAIF é essencial, pois estes grupos familiares podem experimentar sentimentos dolorosos e conflitantes, como medo e frustação no que concerne às possibilidades de cuidado e bem-estar que podem oferecer às pessoas com deficiência, podendo requerer a dedicação integral ou ocasionar situações de isolamento de todo o grupo familiar. Isto pode reforçar os padrões de superproteção, fazendo com que a deficiência seja superdimensionada em detrimento das capacidades e aptidões da pessoa com deficiência. (Caderno PAIF, v. 1, p.43)

    Cabe destacar que essa perspectiva não é nova, ela vem sendo afirmada em

    diferentes normatizações do SUAS, no caderno do PAIF essa priorização é

    explicitada em vários trechos do texto e destaca que as pessoas beneficiárias do

    BPC e suas famílias são público preferencial, logo prioritário, nesse serviço.

    Vejamos:

  • 39

    Atenção especial deve ser dispensada às famílias nas quais nasceu ou que receberam, recentemente, um integrante com deficiência, pois elas enfrentam transformações internas de caráter afetivo, temporal e econômico. É preciso apoiar as famílias para que consigam lidar com suas próprias emoções, revendo expectativas, valores e crenças a respeito da deficiência que o novo integrante possui, contribuindo para o enfrentamento de situações preconceituosas e discriminatórias, resolução dos problemas cotidianos relativos ao cuidado e acesso a direitos. (Caderno PAIF, 1, p. 44)

    Por fim, o PAIF (...) deve desenvolver ações com foco no “cuidar de quem cuida”, promovendo trocas de informações e vivências sobre as possibilidades e desafios de convívio e proteção das pessoas com deficiência e das pessoas idosas, buscando evitar o isolamento do cuidador e minimizar o desgaste físico e emocional inerentes ao processo de cuidar. Assim, “cuidar dequem cuida” é uma forma de garantir seus direitos, e, consequentemente, proporcionar mais proteção aos direitos de quem é cuidado. (Caderno PAIF, 44)

    Embora, os exemplos aqui adotados são de serviços de proteção social básica,

    essa mesma direção se estabelece para o âmbito de Serviços da Proteção

    Diálogos necessários sobre acompanhamento em serviços

    socioassistenciais

    O assumir a responsabilidade legal de garantir o direito de beneficiários à atenção

    em serviços socioassistenciais é cada vez mais urgente. Experiências em curso,

    vão mostrando que algumas medidas podem tornar esse processo mais ágil e

    efetivo, tais como:

    Dialogar coletivamente com todos os profissionais sobre a necessidade de

    reconhecer pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade relacional

    como público de serviços socioassistenciais;

    Alargar o entendimento sobre as responsabilidades dos serviços e sobre

    demandas próprias de Assistência Social. Há forte bibliografia produzida no

    SUAS que pode contribuir com essa tarefa, os cadernos do Capacita SUAS e

    a Concepção de Convivência e Fortalecimento de Vínculos podem contribuir

    nessa direção, além é claro de produzir ciclos de debates sobre a Lei

    Brasileira de Inclusão;

    Adotar medidas com finalidade de combater preconceitos e promover o

    convívio com diferenças entre usuários e usuárias dos serviços;

    Valorizar saberes existentes entre as famílias, outros serviços e

    principalmente os adquiridos pelas pessoas com deficiência em sua trajetória

    para ampliar os conhecimentos das equipes e fomentar relações respeitosas

    e produtoras de autonomia.

  • 40

    Especial, como o PAEFI e os Centros Dia. Nestes, as aquisições sociais

    esperadas para usuários e usuárias já tipificados em 2009, ofertam importantes

    parâmetros para avaliar se o acompanhamento realizado pelos serviços se

    efetiva na garantia de seguranças de acolhimento, convivência e autonomia. Isso

    só é possível mediante a articulação entre ações de identificação de barreiras e

    diálogos entre serviços da Proteção Social Básica e Especial.

    Mas, ao tratar do acompanhamento no âmbito do Programa BPC na Escola as

    ações são de natureza distinta e estão mais no âmbito da gestão local do que na

    atenção direta. Essas ações de acompanhamento, devem fazer parte do

    planejamento das ações intersetoriais desencadeadas pelo Grupo Gestor Local

    e podem ser divididas em quatro campos principais, aos quais em cada realidade

    serão adensadas diferentes estratégias.

    Figura 4: Eixos do acompanhamento do BPC na Escola

    Acompanhar intersetorialmente para monitorar a inclusão

    A