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Orientações de Psicologia e Terapia Ocupacional PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO SEXUAL Afinal, ninguém é tão limitado a ponto de não poder amar e ser amado (Maia, 2007, p.77). Introdução “A sexualidade é um conceito amplo: envolve sentimentos, ações, afetos, desejo e prazer. Diz respeito à identidade de gênero, a papéis e as práticas e ultrapassa a idéia restrita de sexo” (Maia, 2007, p.72). Maia (2007) afirma que a sexualidade é um conceito histórico e social, envolvendo sentimentos e atitudes mediadas por representações sociais e culturais. Todos somos seres sexuados, independente de nossas deficiências. A sexualidade é considerada como parte integrante do desenvolvimento do individuo. Desde a década de 70, vem sendo considerada sua inclusão nos temas abordados dentro do currículo escolar. Principalmente pelo aumento da gravidez entre adolescentes e do risco de contaminação pelo HIV, bem como de outras doenças sexualmente transmissíveis. A família muita vezes não consegue falar sobre o assunto com seus filhos, seja pelo conservadorismo, timidez e/ou mesmo pela própria educação que receberam, em que a sexualidade era tratada, e ainda o é hoje, como um tabu. Entretanto, suas atitudes transmitem posturas e opiniões. Por isso falar sobre sexualidade leva não apenas a uma educação sexual mais séria, no sentido de transmitir conceitos e costumes familiares, mas também aumenta a intimidade, a confiança, favorece o diálogo e o convívio entre pais e filhos. Não podemos esperar que as crianças e jovens aprendam apenas através da mídia, colegas e experiências próprias, pois esses meios além de não serem confiáveis, não permitem aos jovens o contato com outras perspectivas e possibilidades de reflexão e discussão. Sendo assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem o tema Orientação Sexual como sendo parte integrante da nova proposta curricular. Tratar de sexualidade com portadores de necessidades especiais também não é algo visto como necessário pela comunidade em geral, mesmo que as manifestações

PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO SEXUAL paara Portadores de necessidades especiais

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Orientações de Psicologia e Terapia Ocupacional

PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO SEXUAL

Afinal, ninguém é tão limitado a ponto de não poder amar e

ser amado (Maia, 2007, p.77).

Introdução

“A sexualidade é um conceito amplo: envolve sentimentos, ações, afetos, desejo

e prazer. Diz respeito à identidade de gênero, a papéis e as práticas e ultrapassa a idéia

restrita de sexo” (Maia, 2007, p.72).

Maia (2007) afirma que a sexualidade é um conceito histórico e social,

envolvendo sentimentos e atitudes mediadas por representações sociais e culturais.

Todos somos seres sexuados, independente de nossas deficiências.

A sexualidade é considerada como parte integrante do desenvolvimento do

individuo. Desde a década de 70, vem sendo considerada sua inclusão nos temas

abordados dentro do currículo escolar. Principalmente pelo aumento da gravidez entre

adolescentes e do risco de contaminação pelo HIV, bem como de outras doenças

sexualmente transmissíveis.

A família muita vezes não consegue falar sobre o assunto com seus filhos, seja

pelo conservadorismo, timidez e/ou mesmo pela própria educação que receberam, em

que a sexualidade era tratada, e ainda o é hoje, como um tabu. Entretanto, suas atitudes

transmitem posturas e opiniões. Por isso falar sobre sexualidade leva não apenas a uma

educação sexual mais séria, no sentido de transmitir conceitos e costumes familiares,

mas também aumenta a intimidade, a confiança, favorece o diálogo e o convívio entre

pais e filhos.

Não podemos esperar que as crianças e jovens aprendam apenas através da

mídia, colegas e experiências próprias, pois esses meios além de não serem confiáveis,

não permitem aos jovens o contato com outras perspectivas e possibilidades de reflexão

e discussão.

Sendo assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem o tema Orientação

Sexual como sendo parte integrante da nova proposta curricular.

Tratar de sexualidade com portadores de necessidades especiais também não é

algo visto como necessário pela comunidade em geral, mesmo que as manifestações

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estejam claras, muitos ainda insistem em vê-los como assexuadas crianças que não

possuem desejos nem vontades. Contudo, a realidade é outra: vemos que muitas vezes

eles não sabem lidar com tudo o que estão sentindo, com as manifestações de seu corpo,

exatamente porque não sabem o que isso significa e representa.

Ignorando o assunto, exporemos cada vez mais esses indivíduos que como

quaisquer outros têm o direito de sentir prazer, seja através de uma conversa, uma

brincadeira ou uma relação sexual. Uma orientação sexual ajuda-os a tomarem medidas

preventivas, defenderem-se de abusos e terem uma vida mais saudável.

Maia (2006) relata em seu trabalho a necessidade de uma orientação sexual para

os portadores de deficiência auditiva

as dificuldades em lidar com questões práticas do cotidiano

como relacionamento afetivo, o “ficar”, a distinção entre

público/privado, bem como diversas outras questões que o

tema sexualidade abrange. Diante disso, os jovens têm

demonstrado a falta de informação e de espaço para reflexão

e discussão, seja na família, na escola e no próprio

CEDALVI1, de temas como o namoro, a afetividade, a

relação sexual, a privacidade, etc.

“O educador deve reconhecer como legítimo e lícito, por parte das crianças e dos

jovens, a busca do prazer e as curiosidades manifestas acerca da sexualidade, uma vez

que fazem parte de seu processo de desenvolvimento” (Radespiel, 1998, p. 7).

Estudos em escolas que já possuem uma orientação sexual em seus currículos

apontam para o aumento do rendimento escolar (devido ao alivio de tensão e

preocupação com questões da sexualidade) e aumento da solidariedade e do respeito

entre alunos; com crianças menores, diminuição de angustia e da agitação na sala de

aula; e adolescentes bem informados tendem a iniciar suas vidas sexuais mais tarde de

forma mais responsável.

A orientação sexual realizada pela escola visa complementar a feita pela família,

de modo a permitir uma auto-reflexão e escolha do aluno, bem como oferecer-lhe

suporte para suas decisões.

1 CEDALVI: Centro de Atendimento aos Distúrbios da Audição, Linguagem e Visão, de Bauru.

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Objetivos

A presente proposta visa organizar um espaço de reflexões e questionamentos

sobre posturas, crenças, valores a respeito de relacionamentos e comportamentos

sexuais, favorecendo o exercício prazeroso e responsável da sexualidade através de

informações sobre o desenvolvimento sexual, saúde reprodutiva, relações interpessoais,

afetividade, imagem corporal, auto-estima, relações de gênero.

Metodologia

O trabalho visa uma apresentação de temas de forma pedagógica, não invadindo

a intimidade dos alunos. Haverá a apresentação dos temas de forma a problematizar,

questionar e ampliar seus conhecimentos e opções.

Para tanto serão propostas aos professores a leitura e discussão de material

informativo sobre sexualidade, bem como uma reflexão de seus próprios valores, para

que tais não sejam impostos aos alunos. Contaremos ainda com o auxilio da

fonoaudióloga devido à presença de alunos portadores de deficiência auditiva.

O tema a ser trabalhado será repassado e discutido com as professoras, em

horários pré-definidos, quinzenalmente. Os meios ficarão a cargo do professor,

juntamente com os especialistas para que possam ir de encontro com a necessidade e o

compreendimento dos alunos, pode ser utilizado com uma turma de forma satisfatório,

entretanto não o ser com outras. Não seguido necessariamente a ordem aqui proposta, e

considerando sempre em cada momento os sentimentos vividos durante essa fase.

Após apresentação dos temas em sala de aula, psicóloga e terapeuta ocupacional

poderão organizar grupos para discussão, na própria sala ou em ambiente distinto, de

acordo com a necessidade da própria turma, podendo nesses ser abordada a intimidade

dos alunos, se assim o desejarem.

Os temas serão apresentados e discutidos acompanhando o desenvolvimento do

aluno, não pretendendo de forma alguma estimular comportamentos inadequados a sua

faixa etária.

a)Temas a serem trabalhados:

1. Conhecendo o próprio corpo (apresentação de figuras do corpo humano de

ambos os sexos, função de cada parte, diferenças entre sexos);

2. Mudanças no corpo com o advento da puberdade;

3. Privacidade e propriedade do corpo: quem toca em mim é quem eu permito;

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4. Noções de higiene pessoal, menstruação, polução noturna;

5. Relacionamentos e sentimentos,

6. Noções de privado e publico;

7. Relações sexuais,

8. Prevenção e doenças sexualmente transmissíveis.

b) Material sugerido:

1. Desenho da Figura Humana;

2. Filmes para discutir alguns temas: menstruação, namoro, relacionamentos (Meu

primeiro amor)

3. Apresentação das pranchas e/ou slides dos temas: afetos, namoro, casamento,

masturbação, jogos sexuais, menstruação, relação sexual, gravidez, parto,

amamentação e abuso sexual.

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Referências Bibliográficas

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental (1997). Parâmetros Curriculares

Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília: Ministério da Educação e

Cultura, v.10.

Cursino,H.M.; Rodrigues, O.M.P.R.; Maia, A.C.B.; Palami, M.E.G. (janeiro, 2006).

Orientação sexual para jovens adultos com deficiência auditiva. Rev. Brasileira de

Educação Especial, Marília, v.12, n.1, p.29-48. Obtido em 25 de abril de 2009 do

World Wide Web: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-

65382006000100004&script=sci_arttext&tlng=pt

Gherpelli MHBV (1996). A Educação preventiva em sexualidade na adolescência. Série

Idéias, n. 29. São Paulo: FDE. Obtido em 24 de abril de 2009 do World Wide Web:

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/eds_a.php?t=002

Maia, A.C.B. (junho,1997). A necessidade especial do desejo. Rev. Mente e Cérebro,

p.72-77.

Radespiel, M. (1998). Alfabetização sem segredos: Temas Transversais. Contagem:

IEMAR.

Suplicy, M. (1998). Sexo para adolescentes: amor, puberdade, masturbação,

homossexualidade, anticoncepção, DST/AIDS, drogas. São Paulo: FTD.

_________ (1999). Papai, Mamãe e Eu: o desenvolvimento sexual da criança de zero a

dez anos. São Paulo: FTD.