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1 A VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) ISABEL LIBERATO ARRUDA MENDONÇA Prof. Orientador Fabiane Muniz FORTALEZA-CE AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA … · 3 RESUMO O presente estudo aborda a vida sexual dos portadores de insuficiência renal crônica (IRC). Tem-se como questão central

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1

A VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

(IRC)

ISABEL LIBERATO ARRUDA MENDONÇA

Prof. Orientador

Fabiane Muniz

FORTALEZA-CE

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

2

A VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

(IRC)

ISABEL LIBERATO ARRUDA MENDONÇA

Monografia apresentada ao Instituto A

Vez do Mestre como requisito parcial

para obtenção do título de Especialista

em Sexualidade.

Prof. Orientador: Fabiane Muniz

FORTALEZA-CE

2015

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

3

RESUMO

O presente estudo aborda a vida sexual dos portadores de insuficiência renal

crônica (IRC). Tem-se como questão central a seguinte indagação: É possível os

pacientes renais conseguirem obter uma satisfatória atividade sexual durante o

processo de hemodiálise? Neste exposto, o objetivo geral deste trabalho é adaptar

os portadores de Insuficiência Renal Crônica à doença, ao tratamento e as novas

limitações em sua (não) sexualidade. Os objetivos específicos são: Ajudar os

pacientes renais na sua sexualidade; Ajudar os companheiros e a família dos

portadores de Insuficiência Renal Crônica a terem uma maior compreensão da

sua sexualidade; Melhorar sua autoestima. Este estudo tem como metodologia

pesquisa de cunho bibliográfico. Conclui-se que a doença crônica traz consigo um

desgaste natural do corpo humano, além disso, o tratamento da hemodiálise

acaba fazendo com que as funcionalidades sejam reduzidas, acarretando em

problemas físicos, psíquicos e sociais.

4

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5

CAPÍTULO 1 ........................................................................................................... 9

SEXUALIDADE ...................................................................................................... 9

1.1 CONCEITO DE SEXUALIDADE ....................................................................... 9

1.2 IDENTIDADE E SEXUALIDADE ..................................................................... 10

1.3 DISFUNÇÕES SEXUAIS ................................................................................ 12

CAPÍTULO 2 ......................................................................................................... 14

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA ..................................................................... 14

2.1 DEFINIÇÃO ..................................................................................................... 14

2.2 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................ 16

2.3 HEMODIÁLISE ................................................................................................ 20

CAPÍTULO 3 ......................................................................................................... 24

VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

(IRC) ..................................................................................................................... 24

3.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO PORTADOR DE IRC ............................... 24

3.2 QUALIDADE DE VIDA .................................................................................... 27

3.4 DISTÚRBIOS DA SEXUALIDADE DO PORTADOR DE IRC.......................... 31

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 37

5

INTRODUÇÃO

O presente estudo aborda a vida sexual dos portadores de insuficiência

renal crônica. Tem-se como questão central a seguinte indagação: É possível os

pacientes renais conseguirem obter uma satisfatória atividade sexual durante o

processo de hemodiálise? Diante dessa problemática, estudar sobre a vida sexual

desses pacientes e seus companheiros, a diferença existente antes da doença e

durante o período de hemodiálise. Estudar as mudanças, as causas e os efeitos

na vida sexual dos portadores de Insuficiência Renal Crônica.

Considerando a pouca pesquisa na área sobre a sexualidade dos pacientes

renais, acredito ser importante desenvolver uma pesquisa sobre esse assunto,

para um maior esclarecimento sobre a sexualidade e sua consequências e

implicações. Como a doença é definida como a perda definitiva das funções

renais, onde o paciente deve seguir um rigoroso tratamento, através de dietas

especificas, constante controle médico e em geral, dialítico. O tratamento impõe

aos pacientes intensas restrições, e tem como consequências, várias

manifestações psíquicas e comportamentais, frustrações, estados estressantes

tanto em nível físico, como psíquico.

A intenção do trabalho é mostrar quem são esses pacientes, suas

problemáticas, propor uma forma de ajuda em torno da sua sexualidade a ser

mais explorada e ampliada, mostrar que existem outras possibilidades de explorar

seu corpo, com a ajuda terapêutica. Aumentar a qualidade de vida não somente

do paciente renal, mais como do seu parceiro (a).

Diante dessa problemática enfrentada pelo paciente renal crônico em

hemodiálise, buscou-se estudar a relação paciente-máquina-doença.

6

Neste exposto, o objetivo geral deste trabalho é adaptar os portadores de

Insuficiência Renal Crônica à doença, ao tratamento e as novas limitações em sua

(não) sexualidade. Os objetivos específicos são: Ajudar os pacientes renais na sua

sexualidade; Ajudar os companheiros e a família dos portadores de Insuficiência

Renal Crônica a terem uma maior compreensão da sua sexualidade; Melhorar sua

autoestima.

Diante dessa problemática enfrentada pelo paciente renal crônico em

hemodiálise, buscou-se estudar a relação paciente-máquina-doença com o

objetivo de proporcionar uma melhor adaptação do paciente ao tratamento,

promovendo a reabilitação social desse individuo: preparando este e seus

familiares para uma nova percepção da sua realidade, podendo até mesmo

transformá-la, dentro de suas limitações.

Uma vez que o paciente perde suas funções físicas, como o vigor e a

resistência para as atividades da vida diária, o lazer, o trabalho e a atividade

sexual. Entretanto, com a ajuda do psicólogo, que deverá atuar com o intuito de

minimizar o impacto da doença no paciente e na família, tentará impedir os efeitos

do tratamento, juntamente com a equipe multidisciplinar, objetivando a

manutenção do tratamento terapêutico com a finalidade de alcançar os objetivos

propostos que é a melhoria da condição não só sexual, mais em sua vida como

um todo.

O quadro clínico dos pacientes renais é bem complexo, o desinteresse

sexual acontece devido a uma soma de fatores, como exemplos; total falecimento

corporal, capacidade de se concentrar, fases de agitação alternadas como

letargia, hiperirritabilidade neuromuscular, tremores, câimbras, alterações dos

reflexos, distúrbios sensitivos como queimação e formigamentos, fraqueza

muscular e até perda completa da sensibilidade pela diminuição de lubrificação

nas mulheres e a dificuldade de ereção nos homens. O paciente sofre uma serie

de perdas, conduzindo-o a um esfacelamento total de sua vida física, orgânica e

7

social, mudando de uma maneira drástica a relação que seu paciente tem com

seu corpo.

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido no Instituto do Rim da cidade de Fortaleza (CE),

com a finalidade de mostrar o trabalho realizado por uma equipe, constituído por

médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiras e serviço social, frente a esses

pacientes renais para a obtenção de sua melhora.

Neste estudo foi mostrado o trabalho do psicólogo, como este facilita o

processo pela abordagem utilizada no hospital: a Psicoterapia breve de apoio,

estabelecendo um vínculo de confiança com o terapeuta, permitindo assim, a

colocação dos problemas enfrentados por eles, as emoções vivenciadas, falar de

seus problemas pessoais, até então escondidos, seja por vergonha de sua nova

condição, de uma forma consciente ou inconsciente.

Este estudo tem como metodologia pesquisa de cunho bibliográfico e

também de campo, uma vez que será desenvolvido entrevistas com os pacientes

renais sobre sua sexualidade em sua totalidade. Com critérios éticos, utilizaremos

as informações necessárias para o auxilio ao paciente, sem destruir o respeito, a

privacidade e a confiança existente na relação terapêutica, necessária para a

manutenção e o avanço desta.

Os capítulos foram divididos, sendo o primeiro capitulo 1 a sexualidade, seu

conceito, gênero e sexualidade e identidade e sexualidade. No capítulo 2 será

apresentada a insuficiência renal crônica, epidemiologia, terapêutica, hemodiálise

e transplante renal.

O capítulo seguinte trará em seu bojo a vida sexual dos portadores de

insuficiência renal crônica, incluindo seus aspectos psicológicos, qualidade de

vida, afetividade e intimidade do portador IRC e distúrbios da sexualidade do

portador de IRC.

8

Foi de extrema importância a contribuição em especial dos autores Ana

Cristina Garcia, 2007 e Bortolotto, 2008, já que nos mostra os desafios e os

impactos da doença e da sexualidade dos pacientes renais de uma forma bastante

clara e com muitos aspectos a serem estudados e considerados diante dessa

problemática enfrentada pelo paciente renal crônico em hemodiálise.

Os autores também mostram a relação paciente-maquina-doença com o

objetivo de proporcionar uma melhor adaptação do paciente ao tratamento,

promovendo a reabilitação social desse individuo: preparando este e seus

familiares para uma nova percepção da sua realidade, podendo até mesmo

transformá-la, dentro de suas limitações.

No decorrer do trabalho monográfico retrata que o paciente perde suas

funções físicas, como o vigor e a resistência para as atividades da vida diária, o

lazer, o trabalho e a atividade sexual. Entretanto, com a ajuda do psicólogo, que

deverá atuar com o intuito de minimizar o impacto da doença no paciente e na

família, tentará impedir os efeitos do tratamento, juntamente com a equipe

multidisciplinar, objetivando a manutenção do tratamento terapêutico com a

finalidade de alcançar os objetivos propostos que é a melhoria da condição não só

sexual, mais em sua vida como um todo.

Para finalizar, na conclusão mostra de uma maneira resumida o papel do

psicólogo dentro do hospital, prestando maiores esclarecimentos aos pacientes

enquanto sua nova condição da vida sexual, despertando uma sensação de apoio

e de maior segurança, por estar sendo assistido por uma gama de profissionais

com o objetivo comum, que é a promoção de sua saúde e bem estar.

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CAPÍTULO 1

SEXUALIDADE

1.1 CONCEITO DE SEXUALIDADE

A sexualidade pode ser definida como características morfológicas,

fisiológicas e psicológicas relacionadas ao sexo. A OMS coloca a sexualidade da

seguinte forma:

A sexualidade é uma energia que nos motiva a procurar

amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no modo

como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é

ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia

pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso,

influencia também a nossa saúde física e mental.

Importa destacar que a definição de sexualidade resulta de um conjunto

que envolve sexo, gênero, identidades, orientação sexual, erotismo, prazer,

intimidade e reprodução. Ambos são experimentados a partir de sua interação

(PONTES, 2006).

Na definição contemporânea, a sexualidade tem diversos níveis e

aspectos. Um deles é o sexo biológico-reprodutivo que envolve todos os seres

vivos. O outro é o nível psicossocial em que se constroem diferenças entre o sexo

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masculino e feminino, constituindo-se os papeis sociais. Independente do nível, a

sexualidade é uma área do saber polêmica, por envolver elementos de ordem

religiosa e ética de diferentes universos sociais (NUNES, 2005).

Quanto aos direitos sexuais, a OMS no ano de 2002 identificou os

seguintes aspectos:

1) Acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva; 2)

procurar, receber e partilhar informação relacionada com

sexualidade; 3) educação sexual; 4) respeito pela integridade

corporal; 5) escolher os seus parceiros; 6) decidir ser

sexualmente activo ou não; 7) manter relações sexuais

consensuais; 8) casamento consensual; 9) decidir se quer ou

não e quando ter filhos; e 10) alcançar uma vida sexual

caracterizada pela satisfação, segurança e prazer.

A definição de sexualidade resulta de um amplo significado que se

experiência durante o ciclo de vida, através de costumes, leis e moral, sendo

moldada por fatores históricos.

1.2 IDENTIDADE E SEXUALIDADE

A sexualidade é uma forma de expressão dos desejos e prazeres codificada

nas múltiplas identidades de gênero que constituem o individuo socialmente.

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Assim, a identidade forma grupos sociais que podem ser mulheres, homens,

homoafetivos.

Fonseca (2004, p. 24) repara:

Conceito de identidade é um conceito relacional porque é

através da socialização, ou seja, da convivência, que o

indivíduo realiza suas identificações e diferenciações,

iniciando um processo de configuração e reconfiguração de

sua identidade, o qual não tem fim.

Destaca-se que determinou como marca corporal a constituição do sujeito

feminino e masculino, no entanto, outras representações surgem com nova

linguagem, culturalmente específica, com desejos sexuais particulares,

transpondo-se ao binarismo de gênero (LOURO, 1999).

A aceitação de outra forma de sexualidade, se não o feminino e o

masculino, é um produto do entendimento da identidade como destino, como

resistência e como escolha. Esta última inicia-se quando o indivíduo se torna

consciente de sua diferença para com os outros. Em seguida começa a sentir

essas diferenças no mundo social. A partir de então reconhece a si mesmo e

aceita os seus sentimentos e estilo de vida (WEECKS, 2000).

Verifica-se, deste modo, que há grande intenção das considerações

teóricas sobre a identidade sexual, visando estabelecer uma fundamentação

sólida e segura, enquanto preocupação ou cuidado para com o outro humano.

12

1.3 DISFUNÇÕES SEXUAIS

As disfunções sexuais podem ocorrer tanto em mulheres como em homens.

Define-se como qualquer tipo de desarranjo relacionado ao desejo sexual, tendo

maior prevalência em mulheres (MENDONÇA; AMARAL, 2011).

Na mulher cita-se o transtorno da excitação feminina que consiste em uma

incapacidade persistente de manter uma resposta à excitação sexual não

conseguindo consumar a atividade sexual. Inclui-se também o vaginismo que se

caracteriza por contração involuntária dos músculos do períneo quando há

tentativa de penetração (MENDONÇA; AMARAL, 2011).

Dentre os fatores psíquicos relacionados à disfunção sexual, Lara ET. AL

(2008, p. 315) diz que:

Estados depressivos e distúrbios psíquicos podem cursar

com disfunção sexual. As tensões no trabalho têm impacto

negativo na função sexual, especialmente em mulheres.

Experiência sexual prévia negativa e traumas por violência

sexual, como abuso sexual na infância e estupro, têm alto

impacto negativo na função sexual.

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No homem, citam-se como transtornos sexuais o desejo sexual hipoativo

que se caracteriza por baixos níveis de fantasias e atividades sexuais; transtorno

de aversão ao sexo em que se evita todo e qualquer contato sexual; transtorno

erétil definido como:

Impotência, diz respeito à incapacidade – periódica ou

persistente – do homem conseguir ou manter a ereção até a

finalização da atividade sexual. Este transtorno apresenta

grande importância clínica, pois 36 a 53% dos homens

recorrem a clínicas especializadas por conta do transtorno

erétil masculino (LIDÁRIO; TATAREN, 2012, p. 21).

Tem-se ainda o transtorno orgásmico quando à ausência ou demora

excessiva de orgasmo durante a estimulação sexual; ejaculação precoce que se

refere à estimulação mínima sexual; dispareunia que se caracteriza como uma dor

durante a relação sexual (LIDÁRIO; TATAREN, 2012).

Destaca-se que esses transtornos aqui citados, sistematizam os distúrbios

sexuais, relacionados à libido, ereção, ejaculação e ao orgasmo.

14

CAPÍTULO 2

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

2.1 DEFINIÇÃO

A doença renal crônica – DRC está definida por alterações na taxa de

filtragem glomerular mantidas pelo menos por três meses. Se o diagnóstico for

realizado precocemente poderá o indivíduo ser encaminhado para o nefrologista

possibilitando pré-diálise e medidas preventivas para o retardo ou interrupção da

progressão para estágios avançados de IRC (BASTOS; KIRSZTAJN, 2011).

A insuficiência renal crônica – IRC, por sua vez, se define quando a taxa de

filtragem glomerular fica menor que 60mL/min/1,73m² por mais de três meses

independente de ter ou não lesão renal (BORTOLOTTO, 2008).

A IRC é definida como a perda definitiva das funções renais, no qual o

tratamento impõe ao paciente, restrições intensas com várias manifestações

psíquicas e comportamentais (MACIEL, 2002).

Considera-se a insuficiência renal crônica como o resultado final do

comprometimento da função renal por doenças que acometeram os rins, sendo

necessária adesão ao tratamento que em geral se dá por meio hemodialítico.

Explica-se que os rins são fundamentais para a manutenção da

homeostase do corpo e se houver uma redução da função renal,

consequentemente comprometerá os outros órgãos. Dentre aqueles que têm

maior suscetibilidade para IRC cita-se:

15

1. Hipertensos: A hipertensão arterial é comum na DRC,

podendo ocorrer em mais de 75% dos pacientes de qualquer

idade; 2. Diabéticos: Os pacientes diabéticos apresentam

risco aumentado para DRC e doença cardiovascular e devem

ser monitorizados frequentemente para a ocorrência da lesão

renal; 3. Idosos: A diminuição fisiológica da FG e, as lesões

renais que ocorrem com a idade, secundárias a doenças

crônicas comuns em pacientes de idade avançada, tornam

os idosos susceptíveis a DRC; 4. Pacientes com doença

cardiovascular (DCV): A DRC é considerada fator de risco

para DCV e estudo recente demonstrou que a DCV se

associa independentemente com diminuição da FG e com a

ocorrência de DRC; 5. Familiares de pacientes portadores de

DRC: Os familiares de pacientes portadores de DRC

apresentam prevalência aumentada de hipertensão arterial,

Diabetes mellitus, proteinúria e doença renal (BASTOS, et.

al, 2010, p. 249).

Na insuficiência renal o rim mantém suas múltiplas atividades

homeostáticas com adaptação dos néfrons remanescentes até a fase avançada

da doença (MACIEL, 2002).

Além de filtrar o sangue, os rins são importantes na manutenção

discoquímica do organismo, bem como exerce funções de glândula endócrina

produzindo eritropoietina e forma ativa de vitamina D.

Sá (2008, p. 16) explica o seguinte:

16

O funcionamento inadequado dos rins, ou seja, a insuficiência renal pode

levar o indivíduo à morte. Tal insuficiência ocorre quando, por algum

problema, o rim deixa de filtrar o sangue e é caracterizada pelo aumento

da uréia, proteína eliminada pela urina e que, na IRC, fica acumulada, no

sangue, o que leva a um conjunto de sinais e sintomas chamado de

uremia ou síndrome urêmica.

Por ser uma perda progressiva, a IRC se dá de forma lenta podendo ser

avaliada por medida de clearance de creatinina em urina de 24 horas, onde em

casos avançados a filtração pode reduzir em até 10-5 ml/min sendo necessário

tratamento dialítico ou transplante renal (DRAIBE; AJZEN, 2015).

2.2 EPIDEMIOLOGIA

Dados do Ministério da saúde informam que entre os anos de 1990 a 2007

o número de mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis é de 34,3%,

sendo que destas a IRC tem maior prevalência. A população idosa (acima de 60

anos) tem maior índice de IRC do que grupo etário menores de 30 anos de idade

(SAMPAIO, et. al, 2011).

No que se refere às causas de IRC, a Sociedade Brasileira de Nefrologia

apontou como fatores principais a hipertensão arterial, glomerulonefrite e diabetes

mellitus. A tabela abaixo explicita os dados:

CAUSA N %

Glomerulonefrite 666 23,5

17

Hipertensão 684 24,1

Diabetes Tipo 1 71 2,5

Diabetes Tipo 2 399 14,1

Nefrite intersticial 81 2,9

Rins policísticos 78 2,7

Uropatia obstrutiva 86 3,0

Outros 321 11,3

Desconhecida 453 16,0

TOTAL 2839 100,0

Doença renal primária. Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Nefrologia,

1996.

A Sociedade Brasileira de Nefrologia apontou que no ano de 2008, 87.044

pacientes se encontravam com IRC em tratamento hemodialítico no Brasil, sendo

que 57,4% pertenciam a região Sul do país e em menor número (19,1%) estavam

na região nordeste (SAMPAIO, et. al, 2011).

No ano 2000, 68.467 pacientes realizaram no Brasil terapia renal substituta,

onde 8.501 foram à óbito e 1.190 perdidos no acompanhamento até o final do ano

18

de 2004. Conforme tabela abaixo, tem-se a prevalência, incidência e letalidade de

pacientes submetidos a terapia renal substitutiva entre os anos de 2000 e 2004 no

Brasil:

Fonte: CHERCHIGLIA, ET. AL, 2010.

Verifica-se aumento de 5,5% entre os anos de 2000 a 2004 na prevalência

de pacientes em terapia renal substituta. Realizaram diálise no Brasil entre os

anos 200 e 2004, 90.356 pacientes, onde destes, 7% realizou transplante renal e

42% foram à óbito (CHERCHIGLIA, ET. AL, 2010).

Pacientes incidentes em hemodiálise, 10% iniciou TRS tendo

como acesso a fístula arteriovenosa. Em DP, 28% realizou

os procedimentos de treinamento indicados à entrada em

tratamento. Ao final do período de acompanhamento, 47%

dos pacientes em DP e 42% em hemodiálise foram a óbito,

devido principalmente a diabetes mellitus e doenças

cardiovasculares. O tempo médio de permanência dos

pacientes em TRS foi semelhante para ambas as

modalidades (CHERCHIGLIA, ET. AL, 2010, p. 645).

19

No ano de 2006, o Brasil teve o índice de 383 pacientes por diálise por

milhão da população (pmp), onde cerca de 5% destes faziam tratamento utilizando

medicamentos de grupo ou seguros particulares, o que não se computa nas

estatísticas governamentais. Destaca-se que 26% dos pacientes em diálise têm

mais de 60 anos de idade. A tabela abaixo apresenta um apanhado de pacientes

em diálise no Brasil entre os anos de 1994 a 2006:

Fonte: Sesso, 2006.

O último censo realizado pela SBN foi no ano de 2013, apontando para

50.961 pacientes em diálise. O gráfico abaixo demonstra a distribuição percentual

de pacientes em diálise conforme a faixa etária.

20

Fonte: Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia 2013

Conforme pode ser visto, há uma maior prevalência entre pacientes entre

19 a 64 anos e de 65 a 80 anos. Em menor número está o grupo etário de 1 a 12

anos.

2.3 HEMODIÁLISE

Pacientes diagnosticados com IRC devem realizar tratamento conservador

ou dialítico imediatamente para evitar complicações, dentre eles está a

hemodiálise que é um tipo de tratamento de diálise mais utilizada no Brasil, sendo

realizada por meio de um acesso vascular permitindo um fluxo sanguíneo elevado

21

para que seja transportado até um filtro capilar através de um circuito de

circulação extracorpóreo para ser purificado e em seguida retornar ao corpo por

meio do acesso vascular.

O sangue retirado de uma artéria é continuamente circulado através de uma

diálise, no qual é purificado e retorna a uma veia. Geralmente utiliza-se a artéria

radial e a veia cefálica (MACIEL, 2002).

A hemodiálise está indicada sempre que houver paralisação

da função renal, que pode ser classificada como Insuficiência

Renal Aguda (IRA), quando ocorre de forma súbita e

geralmente reversível e Insuficiência Renal Crônica (IRC)

quando se instala de forma lenta e progressiva acarretando

danos permanentes aos rins (MOYSÉS NETO et al, 2000, p.

343).

Esse procedimento é realizado em média três vezes por semana em um

período de três a quatro horas, devendo ser prescrito por nefrologista e

administrado por enfermeira ou técnico em ambiente especializado. Sobres esta

questão Madeiro et. al (2010, p. 2) dizem o seguinte:

A adesão ao tratamento de hemodiálise é considerada

bastante desgastante, por ser realizado três dias por

semana, durante quatro horas/dia, necessitando de

transporte; sabe-se que as atuais condições das estradas

brasileiras são precárias, sendo um fator de estresse para os

22

pacientes renais crônicos, dificultando a realização do

tratamento hemodialítico.

É primordial evitar riscos ao paciente à infecções realizando assepsia do

local de acesso e cateter e aderência à dietas e uso de medicamentos prescritos

(ARREDONDO et al., 1998).

Sugere-se a utilização da metodologia de blunde para redução de infecção

primária de corrente sanguínea laboratorial associada ao uso de cateter venoso

central, sendo entendida como uma prática clínica formada por um conjunto de

intervenções com cuidados específicos incluindo vigilância constante, educação

da equipe de saúde, treinamento e estratégias de prevenção de infecção de

corrente sanguínea.

Destaca-se a importância da higienização das mãos com aplicação de

gluconato de clorexidina como antisséptico, uso de barreira de máxima precaução

e evitar acesso a veia femoral. Pode-se utilizar tintura de iodo como antisséptico,

porém este só é indicado no caso de contra indicações ao uso de gluconato de

clorexidina.

Se realizada corretamente a hemodiálise trará melhora rapidamente do

edema generalizado, bem estar físico e controle de sintomas (DAUGIRDAS,

2003).

A ação da equipe multidisciplinar exerce grande influência na resposta às

necessidades de cada paciente, que se torna difícil ou no mínimo complexa

quando evidenciadas situações de dependência, medo, dor extrema, solidão e

abandono. Nessas condições, a equipe de profissionais de saúde, além de

habilidades técnicas precisa desenvolver competências de relacionamento

23

humano que possibilite empatia e a partir de então elaborar estratégias

terapêuticas para um cuidado individual.

Em situação de hemodiálise, tanto paciente como sua família estão

fragilizados, pelo estado físico do paciente e emocional de sua família. Devido a

esta situação em que se encontram paciente e família, o profissional de saúde

deve atuar de forma clara e objetiva, com interatividade e dinamicidade desde que

respeitadas a individualidade do paciente, proporcionando-lhe sensação de bem

estar e conforto para sua família (AVANCI, et. al, 2009).

24

CAPÍTULO 3

VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA

RENAL CRÔNICA (IRC)

3.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO PORTADOR DE IRC

Vários sentimentos perturbadores surgem como raiva, ansiedade e

depressão, devido à pequena expectativa de vida, medo da morte e de ser

abandonado pelo companheiro (MEIRELES; GOES; DIAS, 2004).

Dentre os problemas psíquicos, os portadores de doença renal sofrem a

angustia da iminência da morte, sentindo a ameaça constante de perder o vínculo

com a família e amigos, trazendo modificações nas suas relações pessoais, o que

acaba refletindo na deturpação da imagem corporal dos pacientes (CASTRO;

DIAS, 2007).

A ansiedade do paciente é freqüente, pois a doença é

percebida como ameaça à vida e à integridade corporal e

25

como interrupção do meio de sobrevivência, prejudicando a

sua identidade de autoridade - muitas vezes necessária ao

bem estar - e trazendo incerteza acerca do seu futuro

(MEIRELES; GOES; DIAS, 2004, p. 170).

Pacientes portadores de doenças crônicas passam por um processo de

adaptação psicológica em que se utilizam estratégias racionais para o

enfrentamento da doença, sendo importante manter relações harmônicas para a

manutenção da saúde física e mental (SERRATE, 2013).

A doença renal crônica acarreta no indivíduo alterações em sua vida desde

o diagnóstico, englobando manifestações psíquicas, desequilíbrios psicológicos,

interferindo no dia a dia tanto do paciente como de quem convive com ele

(FASSBINDER, ET. AL, 2011).

O paciente com IRC obriga-se a conviver diariamente com a

ideia de que possui uma doença incurável, a partir do

momento que passa a realizar hemodiálise, pois se depara

com a realidade de uma forma de tratamento dolorosa, de

longa duração, e que, além da própria evolução da doença,

irá acarretar ainda mais prejuízos na sua funcionalidade,

implicando diretamente na sua qualidade de vida

(FASSBINDER, ET. AL, 2011, p. 456).

Em geral o indivíduo fica em estado de alerta, tensão, ansioso e inseguro,

com estresse contínuo, tendo a autoimagem prejudicada, bem como humor

depressivo e sentimentos pessimistas (FASSBINDER, ET. AL, 2011).

26

A pessoa com insuficiência renal crônica vivencia uma

brusca mudança no seu viver, convive com limitações, com

um pensar na morte, com o tratamento doloroso que é a

hemodiálise, [...] responsável por um cotidiano monótono e

restrito, e as atividades desses indivíduos são limitadas após

o início do mesmo, favorecendo o sedentarismo e a

deficiência funcional, fatores que se refletem na vida diária

do paciente (RESENDE, ET. AL, 2007, P. 94).

É, portanto, necessário que as capacidades do paciente sejam estimuladas

adaptando-o ao seu novo estilo de vida, de modo que assuma o controle do

tratamento, melhorando o ajustamento biológico que para a psicologia refere-se

ao estado desejável.

É preciso que o ambiente seja compatível com as capacidades do paciente,

evitando o surgimento do estresse por falta de equilíbrio entre a capacidade de

adaptação e as alterações do corpo e do ambiente.

Relações positivas com os outros engloba ter com estes uma

relação de qualidade, calorosa, satisfatória e verdadeira;

preocupar-se com o bem-estar do outro; ser capaz de manter

relações afetuosas e agradáveis, sejam elas familiares, de

intimidade ou de amizade (RESENDE, ET. AL, 2007, P. 94).

27

O paciente que está cronicamente doente se sente em conflito, com

frustração e culpa geralmente expressando sentimentos negativos como a raiva,

necessitando em maior grau da presença e apoio de familiares e amigos (SILVA,

2013).

É importante que o paciente renal seja tratado de forma individual,

reconhecendo e respeitando suas crenças, suas fragilidades, reação positiva da

presença da família e amigos e desejo da presença constante dos seus e outras

reações e sentimentos muitas vezes demonstrados em silêncio. Os cuidados com

o doente com IRC exigem que o profissional tenha além de conhecimentos

técnicos, habilidades que permitem a identificação de sintomas e necessidades,

que vão além da situação física, pois nesta fase, o emocional e o espiritual são

abalados.

3.2 QUALIDADE DE VIDA

Desde o início da existência humana, a questão, Qualidade de Vida – QV

tem se constituído em um desejo transformado em uma busca constante por uma

vida saudável e prazerosa. Nesse sentido, qualidade de vida significa meio

ambiente, paz, alimentação, saúde, moradia digna, educação de qualidade, lazer,

transporte, liberdade, trabalho, autoestima, segurança, mobilidade urbana, água

com qualidade, energias confiáveis, tecnologia ao alcance de todos, relações

sociais, entre outras.

O tema “Qualidade de Vida” vem sendo motivo de estudos de diversas

áreas como sociais, filosóficas e políticas. Para Fleck et al. (1999), Bittencourt et

al. (2004) qualidade de vida é um movimento dentro das ciências humanas e

28

biológicas, no sentido de valorizar parâmetros mais amplos como a diminuição da

morbimortalidade, análise de intervenções terapêuticas e grau de satisfação do

indivíduo nas várias esferas de sua vida.

De acordo com Neri (1997) no início, o conceito de qualidade de vida era

usado por profissionais de saúde, relacionando-o com preocupações voltadas

para sobrevivência dos recém-nascidos, e atendimento de pacientes adultos e

idosos altamente fragilizados ou terminais, depois foi se estendendo

principalmente para as ciências sociais.

Para os autores Minayo, Hartz e Buss (2000) as boas condições de

saúde, os progressos políticos, socioeconômicos e ambientais influenciam

favoravelmente a qualidade de vida.

Para Paschoal (2000, p. 13):

O processo de autoavaliação da qualidade de vida é

intrapsíquico complexo, abrangendo julgamentos, emoções e

projeções para o futuro. Fatores ambientais e pessoais,

negativos e positivos, saúde e doença, o físico, o mental e o

social, tudo é processado pelo indivíduo, determinando o

“como” e o “quanto” ele valoriza sua vida. Portanto, cada

pessoa tem a sua visão do que foi sua vida, como ela está e

quais suas expectativas para o futuro.

Para a literatura, “qualidade de vida” possui diversas definições ao

considerar que é multidimensional, subjetiva, dependente de autoavaliação, e é

29

extremamente variável e sensível ao tempo. Tais conceitos são bastante

utilizados pelas políticas públicas em seu propósito para um envelhecimento bem

sucedido.

De acordo com Who (1994), qualidade de vida em geral é vista de forma

diferente pelas pessoas, ou seja, varia de acordo com a percepção de cada uma.

González (2007) afirma que a qualidade de vida se define como a percepção do

indivíduo sobre sua posição na vida, dentro do contexto cultural, do sistema de

valores em que vive e com respeito às suas metas, expectativas, normas e

preocupações.

Em pacientes renais crônicos, a qualidade de vida em pacientes renais

crônicos em tratamento dialítico é um dos fatores que merecem mais atenção,

implicando em queda do bem estar do indivíduo tendo em vista as conseqüências

dos sintomas, limitações da doença e da hemodiálise (NÓRA, 2009).

Silva; Coelho e Diniz (2012), em seu estudo identificaram que portadores de

IRC melhoraram sua qualidade de vida após modificar o tratamento de

hemodiálise convencional de três vezes por semana para diariamente, incluindo

melhora de energia, força, resistência e bem estar em geral.

Pacientes com IRC sofrem alteração no peso e apetite, boca seca,

constipação e distúrbios do sono. Além disso, a redução do convívio social ocorre

pelas limitações do tratamento, fazendo com que ele comece a se sentir inútil,

ocorrendo a redução da libido, impotência, e perda da autoestima (MEIRELES;

GOES; DIAS, 2004).

A Insuficiência renal crônica- IRC se comparada com outras doenças

crônicas está entre as que geram maior impacto na qualidade de vida-

30

QV do indivíduo. Com o tratamento e progressão da doença

a ocorrência de limitações e prejuízo no estado mental,

físico, funcional, assim como no bem estar geral e nas

interações sociais é cada vez mais frequente na vida do

paciente. Fato decorrente de fatores como, modificação

alimentar e de hábitos, esquema terapêutico, convívio com

doença incurável, dependência a uma máquina, modificação

da aparência corporal devido à presença da fistula

arteriovenosa, além de exercer efeito negativo sobre os

níveis de energia e vitalidade (SILVA, 2013, P. 9).

Neste sentido, as variáveis que mais interferem na qualidade de vida são a

dor física, necessidade de tratamento médico com dependência da equipe médica

de saúde e da família, além da falta de energia e disposição durante o dia a dia

em decorrência dos sintomas e complicações da doença (SERRATE, 2013).

A qualidade de vida dessas pessoas começa no propósito daqueles que

cuidam, quer sejam membros da família ou profissionais remunerados, que o

vejam como o ser capaz de ter independência e autonomia, mesmo com certas

limitações.

Autonomia significa dizer que um indivíduo possui plenas condições de

viver em sociedade, podendo fazer escolhas, permitindo a superação das perdas

e limitações provocadas pela doença. Porém a autonomia depende do nível de

consciência do doente. Todas as informações devem ser passadas para que

possa decidir (OLIVEIRA; SILVA, 2010).

31

A autonomia permite ao paciente sua decisão em relação ao seu tratamento

bem como sua interrupção. Kovacs (2003, p. 115) ressalta que:

Para isso é importante que o doente seja esclarecido quanto

ao processo da doença e suas condições de vida, para que

ele esteja apto a tomar decisões diante das opções

existentes.

Neste contexto, pessoas acometidas por IRC apresentam necessidades

diferentes dos outros pacientes, carecendo de que diferentes profissionais de

saúde motivem-nos para uma maior adesão ao tratamento, estimulando o

exercício da autonomia, de modo a assumir responsabilidade pela própria saúde,

evitando que estes deleguem todos os seus problemas para os profissionais e

familiares.

3.4 DISTÚRBIOS DA SEXUALIDADE DO PORTADOR DE IRC

Homens e mulheres com IRC sofrem problemas na função sexual, tendo

sido associada frequentemente à disfunção erétil, falta de libido e infertilidade,

cujos mecanismos decorrem da baixa taxa de progesterona, diabetes melito,

insuficiência vascular, estresse psicológico e outros (SMITH; TANAGHO, 2014).

Explica-se que em portadores de IRC, os níveis de testosterona total e livre são

32

reduzidos, havendo redução da resposta ao estímulo de liberação da testosterona

com administração de gonadotrofina coriônica humana (HCG) (BARROSO, 2007).

Pacientes masculinos com insuficiência renal crônica – IRC, apresentam

em geral disfunção erétil que é definida como incapacidade de obter ou manter

ereção suficiente para um bom desempenho sexual, envolvendo fatores orgânicos

e psicológicos, decorrendo de limitações impostas pelo tratamento dialítico

(NÓRA, 2009).

Estas anomalias são em princípio de natureza orgânica,

relacionadas não só com a uremia, mas também com outras

condições frequentemente associadas à insuficiência renal.

Fatores psíquicos e sociais podem também estar também

presentes, motivados não só pela perda da qualidade de vida

inerente à IRC como pelas alterações da atividade sexual

surgindo na maioria das vezes em idades jovens. Estes

fatores vão agravar ainda mais a disfunção sexual e

particularmente a disfunção erétil (DE) (MORALES; ROLO;

SÁ, 2001, p. 36).

Homens portadores de insuficiência renal crônica em diálise ou não tem

nível de fertilidade reduzida pela metade, no qual a qualidade do sêmen é pobre, o

volume ejaculado é baixo e a densidade e motilidade espermática são diminuídas.

Isto se deve ao dano à espermatogênese com eficiência hormonal (BARROSO,

2007).

As causas da disfunção erétil dividem-se em orgânica e psicogênica, sendo

que fatores de risco como idade, tabagismo, diabetes, depressão e insuficiência

33

renal crônica são considerados como principais. O fato é que a disfunção erétil

impacta na qualidade de vida tanto do homem como de sua parceira, afetando

negativamente a sua autoestima e relacionamento interpessoal.

Pacientes transplantados sofrem com disfunção erétil devido a redução do

suprimento sanguíneo para corpos cavernosos, má função do enxerto, efeitos

colaterais de imunossupressores, indução de hipertensão, medicações e aumento

do tônus simpático (BARROSO, 2007).

Distúrbios na função sexual são uma característica comum

de pacientes com insuficiência renal crônica.

Aproximadamente 50% de homens urêmicos têm disfunção

erétil e um percentual ainda maior apresenta diminuição da

libido e um declínio importante do número de relações

sexuais. A gênese da disfunção sexual é multifatorial e

primariamente, de origem orgânica. Em adição, à própria

uremia, a neuropatia periférica, insuficiência autonômica,

doença vascular periférica, e terapia farmacológica

(diuréticos, anti-hipertensivos), todas têm um papel

importante na gênese deste problema. Acrescente-se ainda o

estresse psicológico e físico tão comum nesta situação

(BARROSO, 2007, p. 20).

Pacientes portadores de IRC sofrem alterações nas quatro fases da

resposta sexual, desejo, excitação, orgasmo e resolução, fazendo com que se

reduza o interesse e a atividade sexual, principalmente quando há ocorrência de

dor durante o ato sexual (MARQUES, 2006).

34

O excesso de medicamentos utilizado durante o tratamento, a aparência

modificada, fistula, cicatrizes e outros provocam problemas na sexualidade

fazendo com que o indivíduo se sinta diferente em relação ao seu parceiro.

35

CONCLUSÃO

A partir deste estudo verificaram-se pontos importantes relacionados à

sexualidade dos pacientes portadores de insuficiência renal crônica. Abordaram-

se aqui também as disfunções sexuais femininas e masculinas, relatando os

fatores psíquicos, patológicos e estressantes envolvidos.

Portadores de IRC ao realizar tratamento hemodialítico sentem as

limitações, carecendo de intervenção multidisciplinar, incluindo psicólogos para

melhor adesão do paciente ao tratamento dialítico, atuando na sua reestruturação

psíquica, almejando a melhoria da qualidade de vida e resgate do bem estar.

Analisou-se que os pacientes têm uma percepção de sua doença como um

processo que levará à sua morte, desencadeando sentimentos negativos,

estresse, medos e fantasias.

É importante, pois o apoio dispensado tanto pela equipe de saúde como por

familiares e amigos dando-lhe apoio emocional e segurança, estimulando para

que os pacientes se sintam tranqüilos, além de fortalecer o vínculo durante o

tratamento.

Chegou-se aqui ao entendimento de que a IRC é a perda irreversível da

função renal, e o seu tratamento ocasionam transformações profundas no

cotidiano do paciente, trazendo desgaste físico e psíquico.

Ficou constatado que o tratamento de hemodiálise impacta na qualidade de

vida dos pacientes, devendo a assistência prestada ser qualificada para agir de

acordo com os princípios da integralidade e humanização, de modo a promover a

reabilitação do indivíduo portador de IRC.

36

Espera-se que esta pesquisa possa estimular as reflexões acerca das

alterações sexuais em indivíduos portadores de IRC, alertando para o cuidado

integral em saúde. Acredita-se que o estudo tenha contribuído de forma

satisfatória para o entendimento do assunto.

37

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