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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – DOUTORADO
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO
CLAUDETE REJANE BLATT
EDUCAÇÃO INTEGRAL E ATIVIDADES ESPORTIVAS: UMA ANÁLISE SOBRE A INSERÇÃO DOS ESPORTES EM UMA POLÍTICA
PÚBLICA
Salvador 2015
CLAUDETE REJANE BLATT
EDUCAÇÃO INTEGRAL E ATIVIDADES ESPORTIVAS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSERÇÃO DOS ESPORTES EM UMA POLÍTICA PÚBLICA
Tese apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Doutora em Educação.
Orientador: Prof. Dr. Jose Albertino C. Lordêlo
Salvador 2015
BLATT, Claudete Rejane. B644e Educação integral e atividades esportivas: uma análise sobre a inserção dos esportes em uma política pública. / Claudete Rejane Blatt. Salvador: 2015. 158 p. il. (Tese) Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. Orientador: Prof. Dr. Jose Albertino C. Lordêlo.
1.Educação integral (Bahia). 2.Educação esportiva (Bahia). 3.Atividades esportivas (Pesquisa) 4.Política pública (Educação) I. Lordêlo, José Albertino C. II. Título.
CDU 2.ed. 796.011:373.3
CLAUDETE REJANE BLATT
EDUCAÇÃO INTEGRAL E ATIVIDADES ESPORTIVAS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSERÇÃO DOS ESPORTES EM UMA POLÍTICA PÚBLICA
Tese apresentada como requisito para obtenção do grau de Doutora em Educação, Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.
Aprovada em 18 de setembro de 2015.
Jose Albertino Carvalho Lordêlo – Orientador__________________________ Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA.
Coriolano Pereira da Rocha Junior __________________________________ Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFBA.
Luiz Vitor Castro Junior ___________________________________________ Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP - UEFS.
Claudia Miranda Souza ___________________________________________ Doutora em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia – UFBA.
Regina Sandra Marchesi __________________________________________ Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA.
Maria Eleni Henrique da Silva______________________________________ Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba – UFCE.
A
Pedro Henrique, por me ensinar a não desistir.
Minha família, meus pais e irmãos de sangue e de coração.
AGRADECIMENTOS
São tantos e tão especiais...
A minha família de sangue e de coração que, neste período, esteve sempre ao meu
lado nas horas mais difíceis, seja apenas emprestando o ombro, o ouvido ou
dividindo um pedaço de bolo.
A Jose Albertino Lordêlo, meu orientador, sempre presente, firme quando preciso,
mas com muita paciência para nortear meu caminho, enfim um verdadeiro mestre.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal da Bahia,
pelo apoio, infraestrutura e preciosidade no atendimento por parte dos professores e
funcionários.
Ao Instituto Federal da Bahia, pelo apoio incondicional.
A Prefeitura Municipal de Salvador, através da Coordenação do Programa Mais
Educação, pela autorização de acesso e pesquisa em suas escolas.
Às escolas pesquisadas, aos gestores, coordenadores e monitores do Programa
Mais Educação da cidade de Salvador, pela confiança em prestarem seus
depoimentos e dedicação do seu tempo.
Muito obrigada a todos, por possibilitarem essa oportunidade gratificante para meu
crescimento como profissional e ser humano.
ENTRE AMIGOS
Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão
corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos
nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com
solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.
Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo,
empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o réveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.
Martha Medeiros (2015)
BLATT, Claudete Rejane. Educação integral e atividades esportivas: uma análise sobre a inserção dos esportes em uma política pública. 158 f. 2015. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.
RESUMO
As atividades esportivas são componentes intrínsecos na construção de um modelo de educação integral no Brasil e elas estão inseridas no Programa Mais Educação. O objetivo deste estudo foi identificar se as práticas esportivas se apresentam incorporadas e executadas conforme projeto político-pedagógico da escola e se atendem aos objetivos do programa nas Escolas da Rede Municipal de Salvador. A pesquisa foi ancorada na abordagem do ciclo de políticas - dos contextos de influência, produção de texto e da prática, nas escolas municipais de Salvador, no ano de 2014. Os dados foram coletados por meio de entrevistas e questionários e processados em um programa estatístico, onde foram avaliados por dimensões definidas como o projeto político- pedagógico das escolas analisadas, a formação do gestor e do monitor, as práticas esportivas e os espaços físicos utilizados para a realização destas. As atividades esportivas foram o macrocampo com maior número de oferta nas escolas investigadas, mas estas não apresentavam a infraestrutura física para desenvolver as modalidades propostas pelo programa. Tais modalidades aconteciam sem organização didático-pedagógica, apresentando-se apenas como atividade de entretenimento após a jornada escolar obrigatória, funcionando os monitores como cuidadores. Portanto, a escola acaba por exercer a função social do estado de cuidar e proteger as crianças. O discurso ideológico presente nos programas e políticas de inserção social, mediante as atividades esportivas desenvolvidas no Programa Mais Educação as reconhece como um canal de socialização positivo ou de inclusão social distinguindo a importância dessas na formação da criança. É preciso assumir essa positividade das práticas esportivas nos projetos das escolas, possibilitando aos sujeitos atendidos pelo programa oportunidades de experimentar, praticar e desenvolver hábitos saudáveis através da execução das atividades físicas por meio dos esportes.
Palavras-chaves: Educação Integral. Atividades Esportivas. Educação.
BLATT, Claudete Rejane. Comprehensive education and sports activities: an analysis of the sports inclusion in public policy. 158 p. 2015. Thesis (Ph.D.) - Faculty of Education, Federal University of Bahia, Salvador, 2015.
ABSTRACT
Sporting activities are intrinsic components in building a comprehensive education model in Brazil and they are inserted in the More Education Program. The aim of this study was to identify whether the sports activities present incorporated and implemented as school political-pedagogical project and meet the program objectives in the School of the Salvador Municipal Network. The research was anchored in the policy cycle approach - the influence of contexts, text production and practice in public schools in Salvador, in the year 2014. Data were collected through interviews and questionnaires and processed in a statistical program where they were analyzed dimensions defined as the political-pedagogical project of the analyzed schools, training manager and the monitor, sports practices and physical spaces used for the realization of these. Sports activities were macrocampo with more supply in the analyzed schools, but these did not have the physical infrastructure to develop the modalities proposed by the program. Such modalities happened without didactic-pedagogic organization, appearing only as a leisure activity after the compulsory school day, working monitors as caregivers. Therefore, the school turns out to exercise the state's social function to care for and protect children. The ideological discourse present in the programs and policies of social integration through sports activities in the More Education Program recognizes them as a positive socialization channel or social inclusion distinguishing the importance of the child's education. We need to take this positivity of sports practices in projects of schools, allowing the subjects enrolled in the program opportunities to experience, practice and develop healthy habits by implementing the physical activity through sports.
Keywords: Integral Education. Sports activities. Education.
BLATT, Claudete Rejane. Actividades educativas y deportivas integrales: un análisis de la inclusión del deporte en las políticas públicas. 158 f. 2015. Tesis (Doctorado) - Facultad de Educación de la Universidad Federal de Bahía, Salvador, 2015.
RESUMEN
Las actividades deportivas son componentes intrínsecos en la construcción de un modelo de educación integral en Brasil y que se insertan en el Programa Mais Educação. El objetivo de este estudio fue determinar si las actividades deportivas presentes incorporan e implementan como proyecto político-pedagógico de la escuela y cumplir con los objetivos del programa en la Escuela de la Red Municipal de Salvador. La investigación fue ancorada en el abordaje del ciclo de políticas - de los contextos de influencia, producción de texto y de la práctica, en las escuelas municipales de Salvador, en el año de 2014. Los datos fueron colectados por medio de entrevistas y cuestionarios y procesados en un programa estadístico, donde fueron analizados por dimensiones definidas como el proyecto político-pedagógico de las escuelas analizadas, la formación del gestor y del monitor, las prácticas deportivas y los espacios físicos utilizados para la realización de estas. Las actividades deportivas fueron el macro campo con mayor número de oferta en las escuelas investigadas, pero estas no presentaban la infraestructura física para desarrollar las modalidades propuestas por el programa. Dichas modalidades sucedieron sin organización didáctico-pedagógica, presentándose solamente como una actividad de entretenimiento después de la jornada escolar obligatoria, funcionando los monitores como cuidadores. Por lo tanto, la escuela acaba por ejercer la función social del estado de cuidar y proteger a los niños. El discurso ideológico presente en los programas y políticas de inserción social, mediante las actividades deportivas desarrolladas en el Programa ―Mais Educação‖ reconoce en las actividades deportivas un canal de socialización positiva o de inclusión social distinguiendo la importancia de estas en la formación de los niños. Es necesario asumir esa positividad de las prácticas deportivas en los proyectos de las escuelas, posibilitando a los sujetos atendidos por el programa posibilidades de experimentar, practicar y desarrollar hábitos saludables a través de la ejecución de las actividades físicas por medio de los deportes.
Palabras clave: Educación Integral. Actividades deportivas. Educación.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Mandala do Programa Mais Educação e Ministério dos Esportes ............. 75
Figura 2 - Participação das Escolas da Rede Municipal de Salvador no PME .......... 89
Figura 3 - Caminhos percorridos ............................................................................... 91
Figura 4 - Estratégia da UNESCO para Educação Física de qualidade .................. 130
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Comparativo entre as LDBs em relação à Educação Física. .................. 57
Quadro 2 - Dimensões, definições e indicadores da pesquisa .................................. 86
Quadro 3 - Escolas da Rede Municipal da Cidade de Salvador ................................ 88
Quadro 4 - Práticas esportivas .................................................................................. 92
Quadro 5 - Pesquisa operacional .............................................................................. 93
Quadro 6 - Códigos e regiões ................................................................................... 96
Quadro 7 - Relação das escolas pesquisadas .......................................................... 99
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Justificativas para o não desenvolvimento do PME. ............................... 103
Tabela 2 Itens analisados quanto ao projeto político-pedagógico ......................... 106
Tabela 3 Formação do gestor e seu tempo de coordenação no PME .................. 109
Tabela 4 Região de localização da escola e formação do coordenador do PME. . 110
Tabela 5 Escolaridade e experiência do monitor ................................................... 112
Tabela 6 Formação e tempo de experiência dos monitores .................................. 113
Tabela 7 Atividades esportivas ofertadas nas escolas .......................................... 116
Tabela 8 Atividades esportivas desenvolvidas pelo PME na cidade de Salvador . 117
Tabela 9 Atividades esportivas relacionadas com formação acadêmica do
monitor ................................................................................................... 120
Tabela 10 Situação dos espaços utilizados nas atividades esportivas ................... 122
Tabela 11 Conservação dos espaços esportivos .................................................... 124
Tabela 12 Materiais esportivos ................................................................................ 125
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIB Ação Integralista Brasileira
BIOE Banco Internacional de Objetos Educacionais
CENAP Coordenação do Programa Mais Educação
CEUS Centros Educacionais Unificados
CFE Conselho Federal de Educação
CIACS Centros Integrados de Atendimento à Criança e ao Adolescente
CIEPS Centros Integrados de Educação Pública
CNRH-IPEA Centro Nacional de Recursos Humanos do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada
CRE
CREAS
Coordenadoria Regional de Educação
Centro de Referência Especializado de Assistência Social
DAF Dispositivos facilitadores
DEF-MEC Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura
DIF Dispositivos dificultadores
EFQ
EJA
Educação Física de Qualidade
Educação de Jovens e Adultos
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministério da Educação
NEE Núcleo de Esporte Escolar
OBMEP Olimpíada Brasileira de Matemática para as Escolas Públicas
OLP Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo para o Futuro
OMS Organização Mundial da Saúde
PARFOR Plano Nacional de Formação de Professores de Educação
Básica
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola
PDDEWEB Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação
PELC Programa de Esporte e Lazer da Cidade
PME Programa Mais Educação
PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNBE Programa Nacional de Biblioteca na Escola
PNE Plano Nacional de Educação
PNEM Pacto pelo fortalecimento do Ensino Médio
PRADIME Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação
ProEMI Programa Ensino Médio Inovador
PROINFANCIA Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de
Equipamentos para a Rede Escola de Educação Infantil
PROFIC Programa de Formação Integral da Criança
PSE Programa Saúde na Escola
PST Programa Segundo Tempo
SEB Secretaria de Educação Básica
SECADI Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
e Inclusão
SPSS
TCLE
UEX
Statistical Package for Social Sciences
Termo de Livre Consentimento Esclarecido
Unidade Executora Própria
UNESCO Organizações das Nações Unidas para a Educação
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 18
2 ABORDAGEM TEÓRICA ............................................................................... 29
2.1 CICLO DE POLÍTICAS E O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO ......................... 30
2.2 CONTEXTO DE INFLUÊNCIA ........................................................................ 32
2.2.1 O contexto histórico da educação integral ................................................ 33
2.3 CONTEXTO DA PRODUÇÃO DO TEXTO ...................................................... 44
2.4 CONTEXTO DA PRÁTICA .............................................................................. 51
2.4.1 Educação Física e atividades esportivas: dando início aos vínculos com
a educação integral ...................................................................................... 53
2.4.2 Esporte e lazer: opção do Programa Mais Educação ................................ 66
2.4.3 Atividades esportivas: um conceito estruturado ....................................... 76
3 PERCURSO METODOLÓGICO ..................................................................... 84
3.1 A PESQUISA E SUA OPERACIONALIZAÇÃO ............................................... 84
3.1.1 Contexto institucional: a rede municipal de educação de Salvador e os
sujeitos da pesquisa..................................................................................... 88
3.2 DELINEAMENTO METODOLÓGICO: CAMINHOS DA PESQUISA ............... 90
3.2.1 Liberação e autorização de pesquisa ......................................................... 90
3.2.2 Envio e coleta dos resultados ..................................................................... 93
3.2.3 Procedimentos na análise dos resultados ................................................. 98
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .......................................... 103
4.1 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO .......................................................... 104
4.2 FORMAÇÃO DO GESTOR E DO MONITOR ................................................ 109
4.2.1 Gestor .......................................................................................................... 109
4.2.2 Monitor ......................................................................................................... 111
4.3 PRÁTICAS ESPORTIVAS ............................................................................ 115
4.4 ESPAÇOS FÍSICOS E ESTRUTURAS UTILIZADAS. ................................... 121
4.5 MATERIAIS ESPORTIVOS .......................................................................... 124
4.6 AVALIAÇÃO DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO PELOS GESTORES E
MONITORES ................................................................................................ 126
4.7 AS ATIVIDADES ESPORTIVAS DO PME E AS AULAS REGULARES DE
EDUCAÇÃO FÍSICA ..................................................................................... 127
17
4.8 INTERPRETANDO OS DADOS .................................................................... 128
5 CONCLUSÃO ............................................................................................... 136
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 140
APÊNDICE A - Parecer do comitê de ética em pesquisa ......................... 146
APÊNDICE B - Autorização de pesquisa cenap ....................................... 148
APÊNDICE C - Modelo de formulário de pesquisa ................................. 149
APÊNDICE D - Termo de livre consentimento esclarecido .................... 157
APÊNDICE E - Roteiro de observação ...................................................... 158
1 INTRODUÇÃO
As práticas corporais1 são compreendidas como elementos essenciais na
formação humana. As instituições escolares como locus privilegiado da constituição
do sujeito podem ser também definidas como espaços do desenvolvimento desta
importante dimensão constitutiva.
De fato, em diferentes contextos históricos, os exercícios corporais
apresentam-se congregados na constituição humana, seja pela necessidade natural
dos movimentos ou por meio da influência midiática nos diversos formatos e
segmentos. Ou ainda, mediante a transmissão de saberes e competências como
elemento integrante da cultura.
Educação e atividades esportivas são aspectos importantes na construção da
identidade do indivíduo, em sua plenitude. Estes elementos são considerados de
grande relevância devido a suas características próprias e suas possíveis
amplitudes na construção do homem enquanto ser social e político.
As práticas corporais mantêm uma especificidade própria, são organizadas e
construídas ao longo da história de diferentes maneiras. Diferenciam-se por conta de
suas peculiaridades apesar de manifestarem diversos pontos em comum (DARIDO,
2002).
Os esportes podem ser considerados como uma das principais ferramentas
pedagógicas que agregam valores à educação seja no desenvolvimento das
competências ou no incremento das habilidades. Estas necessitam estar inseridas
na busca constante dos princípios e dos valores éticos, sociais e morais pertinentes
à educação formal e informal do homem.
A educação formal no Brasil utilizou-se durante muito tempo e ainda se utiliza
das aulas de Educação Física por meio de conteúdos onde as práticas corporais, os
jogos esportivos ou as atividades físicas são desenvolvidos com a finalidade de
constituir o homem forte. Este formato de ensino permite considerar essas práticas
como excludentes, mormente quando representam determinados padrões que
privilegiam o vencedor.
As atividades físicas e os esportes também foram considerados como um dos
elementos essenciais no desenvolvimento dos componentes da obediência, do
1 Práticas Corporais: podem ser classificadas como jogos, esportes, danças, ginásticas e lutas.
(DARIDO, 2002).
19
esforço e da concorrência, utilizados, em essencial, como meio para se atingir o
objetivo da manutenção, da ordem e da disciplina no âmbito escolar, principalmente
durante o período correspondente à Ditadura Militar no Brasil.
A legislação educacional brasileira vigente, em especial, as Leis de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB/1996), apresenta um significativo destaque à Educação
Física e não às práticas esportivas procurando sempre ressaltar sua integração aos
projetos pedagógicos das escolas.
As atividades esportivas não se encontram relacionadas na LDB como
elemento obrigatório, entretanto são encontradas por sua notoriedade,
funcionalidade ou até mesmo pelo clamor do público. Aparecem sempre em
Decretos, Leis e também na Constituição Brasileira.
As principais políticas públicas de esportes hoje existentes no Brasil, seja no
âmbito estadual, municipal ou federal, são desenvolvidas com a finalidade de
fomentar os grandes eventos esportivos, impulsionando o esporte de rendimento.
Um número muito reduzido de políticas públicas busca a emancipação e o
desenvolvimento humano por meio das práticas esportivas. As organizações
esportivas, como clubes, centros de treinamentos, dentre outros, passam a cumprir
funções públicas nas quais o Estado tem interesse.
Essas políticas públicas na área do esporte encontram-se ancoradas na
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Constituição esta que
reafirma a valorização do cidadão, atribuindo-lhe o direito ao esporte e ao lazer por
meio da promoção da democratização do acesso à prática esportiva e também pela
necessidade de descobrir talentos esportivos na possibilidade de promover a
emancipação e o desenvolvimento humano.
Durante muito tempo, os esportes, principalmente os de rendimento,
aconteceram dentro e fora da escola, via as organizações esportivas. Essas práticas
foram executadas como reforço na busca da saúde, permitindo desta forma que se
tornassem o eixo central da Educação Física Escolar.
Apesar de não ser esse o objeto de estudo desta pesquisa, tornou-se
necessário explicitar que Educação Física e esportes são campos diferentes. A
Educação Física escolar hoje é idealizada por diversos autores (BETTI e ZULIANI,
2002) como cultura corporal de movimento.
20
Esta concepção emerge de um movimento social, onde os esportes estão
contidos nos elementos desta cultura, se apresentando como um dos fenômenos
mais expressivos da atualidade, como conteúdo fim e não meio.
Atribuir à Educação Física o papel social do esporte, seja de rendimento ou de
entretenimento, não é a única limitação no desenvolvimento das atividades, embora
estas se apresentem como principal ou quase único papel de sua atuação. Esses
elementos ainda se encontram muito enraizados pelos eixos do desenvolvimento da
saúde e do lazer.
Outra limitação muito incisiva configura-se no modo como os esportes se
consolidaram dentro da educação formal2 no Brasil. Com a pretensão de
proporcionar aos educandos, saúde e entretenimento, foram ofertadas diversas
práticas esportivas, configuradas como principal elemento na obtenção dos objetivos
voltados à qualidade de vida e à saúde.
As práticas esportivas inseridas em uma escola formal de turno único
encontram-se fundamentalmente executadas no contraturno escolar, cumprindo
categoricamente o papel para o qual foram criadas, o de oferecer atividades com
vistas à melhoria da saúde. Também aparecem como forma de interação e
socialização em substituição às aulas de Educação Física no turno regular,
principalmente no ensino privado.
As atividades de esportes consideradas elementos da educação formal (via
disciplina de Educação Física) e também não formal3 (via todas as atividades
esportivas oferecidas nas Escolas) sempre foram identificadas com grande destaque
por suas características de saúde, dentre outras, por serem um excelente marketing
da instituição promotora, por meio dos resultados das competições esportivas.
O esporte sempre se destacou por sua característica marcante e acentuada,
sobretudo em períodos nos quais as competições de elite (desempenho) obtêm
amplo destaque na mídia.
O esporte no Brasil se estabelecia em três grandes grupos: 1) Esporte de Alto
Rendimento; 2) Esporte Educacional; 3) Esporte e Lazer; conforme determina a
2 Educação formal: Sistema educativo altamente intelectualizado, cronologicamente graduado e
hierarquicamente estruturado, que se estende da escola primária até a Universidade (COOMBS,1993). 3 Educação não formal: Toda atividade organizada, sistemática, educativa, realizada fora do marco do
sistema oficial para facilitar determinados tipos de aprendizagem para subgrupos específicos da população, tanto crianças como adultos (COOMBS,1993).
21
Constituição Brasileira de 1988, no Capitulo III – Da Educação, da Cultura e do
Desporto, art. 206 e art. 217 (TUBINO, GARRIDO e TUBINO, 2007).
O esporte de rendimento também denominado como esporte de elite aumentou
consideravelmente o número de praticantes e de modalidades praticadas. Passou a
ser reconhecido como um meio de fomentar o consumo de produtos esportivos e de
propiciar espetáculos.
Por sua vez, o esporte educacional se desenvolveu nas instituições escolares
devido a Educação Física ter sido apresentada como tendo um único conteúdo
durante muito tempo: apenas como ensino e prática das modalidades esportivas.
Já o esporte e o lazer ganham cada vez mais uma configuração de
entretenimento e promoção da saúde, utilizados na maioria das vezes como políticas
públicas, porque o fomento da prática esportiva para a população é importante na
promoção e manutenção do bem-estar.
Diversas esferas de governo utilizam-se dessas políticas públicas, ainda que
remetidas às políticas de pão e circo. No intuito de propiciar grandes eventos ou
espetáculos, acabam por ocupar um lugar de destaque na vida das pessoas e
principalmente da mídia no Brasil e em outros países.
O esporte pode ser considerado, neste caso, como um instrumento de
afirmação política (medido pelos resultados). Se os resultados esportivos são
satisfatórios, todos os problemas são resolvidos, o trabalho foi correto. Em caso
negativo, ocorrem diversas afirmações contrárias a tudo o que foi construído e
pensado em termos esportivos, até mesmo em todo o sistema político-econômico do
país.
O esporte no Brasil vive atualmente um momento de grande expressão, devido
à realização de megaeventos esportivos a nível mundial, como a Copa do Mundo de
Futebol, a Copa das Confederações, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, dentre
outros.
Esse modelo de esporte midiático, ou seja, de esporte de rendimento, quando
inserido no âmbito escolar, nas aulas de Educação Física ou na execução das
atividades de introdução ao esporte, amplia as expressões características do
movimento esportivo.
O formato do esporte de rendimento desenvolvido no âmbito escolar não
desenvolve a proposta de desempenho ou rendimento ou qualquer outra finalidade,
sendo utilizado apenas como lazer. Ou ainda, como ocupação dos horários das
22
aulas de Educação Física ou das atividades de esportes oferecidas no contraturno
escolar.
Esse movimento de utilização do esporte como preenchimento das aulas de
Educação Física na escola gerou uma crise de identidade no desenvolvimento de
sua proposta pedagógica, provocando mudanças curriculares, principalmente frente
às Instituições Escolares. Esta crise identitária nos movimentos esportivos escolares
deve muito à conjuntura da própria Educação Física.
A Educação Física passou a ser compreendida como cultura corporal de
movimento e não mais como prática esportiva que promova unicamente a busca do
desempenho esportivo e da saúde. Reconhece-se a importância do esporte ou das
atividades esportivas, configurando-se como uma das principais atividades do
movimento da cultura corporal, deixando de ser único e exclusivo.
Considerada um elemento fundamental e fundante do esporte, a educação
também vive seu momento de crise. Para Cavaliere (2002), a escola fundamental
brasileira vive um momento de perda de identidade cultural e pedagógica.
Programas e políticas oficiais desordenados apresentam uma realidade em que as
atividades sócioeducadoras assumem uma posição prioritária no contexto das
escolas. Ampliando a discussão, a autora exemplifica que:
Busca-se, de forma pouco explícita e pouco sistematizada, um novo formato para essa escola que associe a instrução escolar a uma forte ação no campo da socialização primária e da integração social de contingentes da população ainda em grande parte pouco marcados pelo ethos escolar. Não é por outro motivo que as secretarias de educação desenvolvem, em muitos estados brasileiros, programas de complementação do horário escolar com atividades esportivas, culturais ou de reforço da aprendizagem. (CAVALIERE, 2002, p. 250).
Segundo Henz (2012), da escola levamos o que vivenciamos, na totalidade e
complexidade das dimensões em que vamos aprendendo e constituindo o nosso
ser, não importando se como educandos ou como educadores.
Afirma ainda esse autor, que é preciso constituir um ser humano sócio-
histórico-cultural, entrelaçado por meio de cinco dimensões: a dimensão ético-
política, a técnico-científica, a epistemológica, a estético-afetiva e a pedagógica.
A dimensão ético-política permite perceber que a escola e o ensino e
aprendizagem não têm um fim em si mesmo, mas em prestar um serviço aos
indivíduos e à sociedade. Dimensão esta ratificada por Freire (1993), quando diz que
23
em uma educação democrática não é possível realizar uma educação da cidadania
e sim uma educação para a cidadania.
Já a dimensão técnico-científica permite que as teorias não sejam encaradas
de forma indiscutível e sim como auxílio na compreensão dos processos de ensino
aprendizagem. A dimensão epistemológica discute conhecimentos sistematizados a
partir da realidade dos alunos, possibilitando a construção de novas competências a
partir do que já foi investigado e discutido.
Pensar em uma dimensão estético-afetiva é refletir a busca por meio de uma
educação voltada para pessoa enquanto corpo consciente (emoções, olhares,
sentimentos, sensibilidade), na perspectiva de uma escola mais emotiva. A
dimensão pedagógica ocorre quando os processos de ensino-aprendizagem
acontecem com reciprocidade. Quem ensina tem sempre algo a aprender.
A escola de turno integral pode se apresentar como um espaço em que a
educação, ao tornar-se integral e integrada, possibilita ao educador e ao educando
os desafios e as condições para descobrir-se, assumir-se e ser mais, contribuindo
para a formação pensada nas cinco dimensões constitutivas do homem.
Ao considerar a perspectiva pedagógica da educação integral, Henz (2012),
afirma que a função do educador nesse contexto não é a de instruir e sim a de
caminhar junto ao educando, descobrindo os processos de ensino aprendizagem e
andando juntos na construção deste sujeito e suas dimensões.
Para Moll (2012), desde 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional já apresentava consigo a perspectiva da educação em tempo integral nas
escolas, referindo-se ao artigo 34, ―a jornada escolar no ensino fundamental incluirá
pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo
progressivamente ampliado o período de permanência na escola‖.
Ao discutir educação e propor a ampliação da jornada escolar, a autora
acrescenta ainda que as redes escolares públicas de ensino precisam realizar
esforços que objetivam a progressão do ensino fundamental, do regime de turno
único para o de escolas de tempo integral, demonstrando a clara intenção do
sistema federal de educação em cumprir a legislação em vigor.
A escola de tempo integral ambiciona articular distintas dimensões com a
proposta de transformar a educação, principalmente, a da escola pública. A
educação integral não deve ter turno e contraturno, exceto quando tem apenas um
único objetivo, o de ampliação da jornada escolar, com prerrogativa de oferecer as
24
mais diversas possibilidades de aprendizagem, que não conseguiriam ser abarcadas
em um mesmo turno, ou período escolar (GIOLO, 2012).
Ampliar o tempo em que o aluno passa na instituição escolar não se configura
necessariamente que aconteça uma educação integral. É preciso mais do que
ocupar os locais dos sujeitos e da escola. É preciso ressignificar estes espaços e as
atividades que nele se desenvolvem.
[...] de nada adiantará esticar a corda do tempo: ela não redimensionará, obrigatoriamente, esse espaço. E é nesse contexto que a educação integral emerge como uma perspectiva capaz de (re) significar os tempos e espaços escolares (MEC/SECADI, 2009b).
Desde 2004, o Brasil começou um processo de enfrentamento das
desigualdades que se encontravam na educação pública brasileira. Iniciou a
discussão da construção de um desenho da educação integral. Esta articulada a
partir dos espaços escolares, por meio do diálogo com os governos e as
comunidades locais. Foram utilizados ainda como respaldo alguns dados referentes
ao desempenho na Educação Básica, na busca da construção de uma educação
como direito de todos.
Em 2006, foram encontrados pelo IDEB (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica) números muito discrepantes em relação à educação básica no
território nacional, que revelaram as desigualdades de acesso, permanência e
aprendizagem na educação escolar. Na busca para superar as desigualdades
diagnosticadas, recuperaram-se compreensões e práticas da educação integral.
As concepções na construção de uma escola integral no Brasil iniciaram,
principalmente, com Anísio Teixeira e, depois, tiveram sua continuidade com Darcy
Ribeiro, dentre outros. Esses educadores buscavam constituir uma educação básica
com objetivo de minimizar os efeitos dos contextos sociais (configurados por
desigualdades e diversidades).
Ao implantar no Brasil o Programa Mais Educação (PME), retomou-se o
sonho e muitas das concepções utilizadas por Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, em
suas escolas de modelo integral ou integradas.
Neste Programa, foram ofertadas atividades optativas nas escolas públicas
(inscritas no PME) no contraturno escolar, descritas inicialmente como:
acompanhamento pedagógico, meio ambiente, esporte e lazer, cultura e artes,
cultura digital, prevenção e promoção da saúde, comunicação e uso de mídias,
educação científica e educação econômica.
25
Este Programa vem sendo exercido como um dos constructos para
estabelecer as bases na implantação de uma política pública de educação integral
no Brasil, referenciada pelas práticas já existentes de ampliação da jornada escolar.
Tem como objetivo principal a indução do fomento à educação integral de crianças,
adolescentes e jovens, por meio de atividades socioeducativas, desenvolvidas no
contraturno escolar e articuladas ao projeto político-pedagógico da instituição
educativa.
A Portaria Interministerial que instituiu o Programa Mais Educação4 determina
que as ações e projetos relacionados ao mesmo devam estar integrados ao projeto
político-pedagógico das escolas participantes5.
Ao implantar esse Programa indutivo à educação integral no Brasil, tornou-se
necessário identificar, mapear e encontrar dados que norteassem o fomento à
educação integral no ensino público do país.
Uma pesquisa6 encomendada em 2007 pela Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade, do Ministério da Educação, diagnosticou e
analisou, então, as experiências de educação ampliada no Brasil. Esta investigação
teve como finalidade encontrar subsídios necessários para a proposição de políticas
públicas voltadas à implementação da educação integral.
Em todas as regiões estudadas, os esportes apareceram como principal
atividade desenvolvida nas experiências de jornada escolar ampliada. Este relatório
demonstrou que, independentemente da região geográfica, a sala de aula ainda se
constitui em um local privilegiado para a realização das atividades (77%), além do
pátio (60,4%), da quadra de esportes (51,4%) e da biblioteca (45,9%).
Independente de região geográfica, os campos de futebol/quadra constituem-
se em locais fora da escola mais utilizados para a realização das experiências de
jornada escolar ampliada.
Um dado muito importante exposto nesse estudo é que no Nordeste, mais
especificamente na Bahia, 70% das escolas que desenvolveram experiências de
jornada escolar ampliada até a data do relatório apresentaram as atividades de
4 Instituído pela Portaria Normativa Interministerial nº 17, de 24 de abril de 2007, o Programa Mais
Educação tem por objetivo fomentar a educação integral por meio do apoio a atividades socioeducativas no contraturno escolar. 5 &2º, do art. 4º; inciso III, do art. 6º; inciso I, do art. 8º da Portaria Normativa Interministerial nº 17, de
24 de abril de 2007. 6 BRASIL. Educação Integral/ educação integrada e (em) tempo integral: concepções e práticas
na educação brasileira. Mapeamento das experiências de jornada escolar ampliada no Brasil. Brasília: MEC/SECADI. 2010.
26
esportes como sua principal atividade no contraturno, mas, contrapondo a este
dado, apenas 40% têm quadra de esportes, e as que não a possuem realizam as
práticas esportivas em áreas inadequadas.
Após análise do relatório, identificou-se a quantidade de atividades esportivas
oferecidas no contraturno e a necessidade de investigar para se compreender se
essas atividades encontram-se inseridas no projeto político-pedagógico e se estão
sendo executadas de acordo com este documento.
O relatório demonstra ainda que, naquele momento, os professores
contratados ou concursados não respondiam pelas atividades esportivas das
instituições, mas outro profissional, na maioria das vezes sem a formação
especializada para a área esportiva desenvolvida.
Situação similar se repete quando da elaboração e implantação do Mais
Educação. Este Programa de governo permite que o executor das práticas
esportivas possa ser um monitor e não necessariamente um profissional
especializado nas funções esportivas.
A inserção de atividades esportivas como uma dimensão formativa na rede
pública escolar, no âmbito do Programa Mais Educação, sem educadores com a
formação exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, e também sem a
infraestrutura adequada na escola e com uma articulação duvidosa com o projeto
pedagógico, gera muitas dúvidas e inquietações na comunidade escolar e na
academia sobre o real alcance desse Programa.
Entre os professores de Educação Física e outros educadores, paira certa dose
de desconfiança quanto à incorporação desta importante dimensão do
desenvolvimento humano à educação escolar, sem o acompanhamento por
especialistas na área.
Assim, diversos questionamentos emergem: Que critérios servem de
referências para a definição das atividades esportivas pela escola dentro das opções
propostas pelo Programa Mais Educação, na jornada escolar ampliada? Como
essas atividades se vinculam ao projeto político-pedagógico das escolas, aos
diferentes estágios do desenvolvimento humano e à diversidade própria da sala de
aula? As atividades esportivas que acontecem no contraturno não configuram a
existência de duas escolas diferentes? A ênfase em determinadas atividades no
contraturno escolar encontra-se associada ou não às diferentes concepções de
educação integral, ou aos objetivos do projeto político-pedagógico das escolas? As
27
atividades esportivas acontecem de acordo com os espaços possíveis de utilização
pela escola?
São estas as questões para as quais esta investigação procura respostas.
Os pressupostos assumidos são que:
As atividades esportivas compõem o projeto político-pedagógico da escola,
mas não se desenvolvem em conformidade com o proposto.
As atividades esportivas se apresentam como ocupação do turno oposto ao da
educação formal, sem vínculo a nenhum programa ou projeto macro de
sustentação.
As atividades esportivas desempenham o papel de ocupação do turno
contrário, como atividades de maior atrativo para os alunos atendidos pelo
Programa.
As atividades esportivas vêm sendo executadas por pessoas sem habilitação
profissional, comprometendo os objetivos dispostos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s), ou no Programa Nacional de Educação e no
Programa Mais Educação.
As atividades esportivas vêm sendo realizadas em espaços inadequados e
improvisados, comprometendo os objetivos dispostos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s), no Programa Nacional de Educação e no
Programa Mais Educação.
A partir desta estrutura fundamental, configurou-se como objetivo geral deste
estudo: identificar se as atividades de esportes se apresentam incorporadas e
executadas, conforme projeto político-pedagógico da escola, e se atendem aos
objetivos do Programa Mais Educação na rede municipal de Salvador.
Neste contexto, os objetivos específicos foram investigar e descrever as
práticas esportivas como subprojeto integrado ao projeto político-pedagógico das
escolas municipais que desenvolveram o Programa Mais Educação, da Cidade de
Salvador, no ano de 2014. Também foi considerado como objetivo específico
identificar os espaços, os equipamentos esportivos e a formação dos gestores e dos
responsáveis pela execução das práticas esportivas desenvolvidas dentro do PME.
28
O discurso ideológico presente nos programas e políticas de inserção social,
mediante as atividades esportivas existe, como no caso do Programa Mais
Educação, campo empírico desta investigação. Entretanto, é preciso analisar o que
a prática das atividades esportivas nos apresentaram.
Esta investigação, portanto, permitiu uma ampliação do conhecimento sobre a
efetividade dessas atividades no âmbito das escolas municipais de Salvador, que
desenvolveram o Programa Mais Educação neste ano.
A pesquisa tem ampla relevância, porque poderá resultar em propostas para o
aprimoramento das intervenções pedagógicas, contribuindo para a efetividade das
políticas públicas.
A análise da política pública educacional foi ancorada na abordagem de Ciclo
de Políticas, divididos em contextos de influência, contexto da produção do texto e
contexto da prática.
Esta tese apresenta-se estruturada em secções ou capítulos. Além desta
introdução, o 2º capítulo é dedicado à abordagem teórica. O 3º, aos aspectos
operacionais da pesquisa e o percurso metodológico. No 4º capítulo, destacam-se
as análises e as interpretações dos resultados. Finalizando a tese, apresenta-se a
conclusão de todo o processo investigativo.
2 ABORDAGEM TEÓRICA
A constituição do corpo teórico desta tese está ancorada na abordagem
proposta por Stephen Ball como Ciclo de Políticas, entendendo o Programa Mais
Educação (PME) como uma política pública de indução à educação integral.
A primeira parte deste capítulo trata exatamente desta abordagem e sua
articulação com o PME. Conceitua-se o Ciclo de Políticas em paralelo com a
caracterização do Programa Mais Educação, observando os contextos de influência,
produção de texto e prática. Contextos estes que distinguem os elementos
norteadores da idealização do PME, também a construção deste como um programa
de governo e, posteriormente, uma política pública. Situa-se, ainda neste espaço,
toda a efetivação deste Programa, sua forma de aplicação e suas propostas para a
indução à educação integral. O contexto da prática identifica os diversos
macrocampos e suas ementas, como partes integrantes e opcionais do Programa
Mais Educação.
A segunda secção discorre sobre a Educação Física, atividades esportivas e
seus vínculos com a educação, principalmente a educação integral e o Programa
Mais Educação. Procurou-se compreender como essas atividades se comportaram
no decorrer da história, principalmente enquanto elemento da LDB, observando as
alterações na legislação brasileira quanto à Educação Física e seus componentes. O
esporte e lazer ganham um destaque especial nesta secção, devido a sua
importância dentro do programa indutor da educação integral, por estar sendo
oferecido como uma das alternativas mais escolhidas pelas escolas que a
desenvolvem.
Ampliando ainda, nesta etapa do contexto da prática, as possiblidades do uso
da expressão atividades esportivas dentro do macrocampo esporte e lazer,
apresentando um conceito próprio, para ser, de forma mais ampla, um dos
delineadores da avaliação dos espaços de aprendizagem por meio da execução do
Programa Mais Educação.
30
2.1 CICLO DE POLÍTICAS E O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO
A abordagem do ciclo de políticas (policy cycle approach), formulada por
Stephen Ball e colaboradores, comporta uma análise crítica, contextualizada de
programas e políticas de educação, considerando as conjunturas macrossociais de
sua elaboração até sua implantação no contexto da prática e os seus resultados
correspondentes (MAINARDES, 2006).
Um dos fatores determinantes da avaliação da política pública deve ser o
monitoramento e reajustamento desta, partindo de dados objetivamente
mensuráveis. Ao propor que o desenvolvimento da pesquisa crítica acolha as
políticas culturais da diferença e combine-as com as políticas sociais da igualdade,
Ball (2006) advoga a necessidade da compreensão histórica da formulação das
políticas públicas. Ao afirmar que uma pesquisa crítica referente a políticas públicas
precisa requerer a compreensão do contexto social e histórico em que será aplicada
ou desenvolvida, o autor agrega à esta compreensão uma investigação que perceba
as políticas culturais da diferença, combinando-as com as políticas sociais da
igualdade.
Para o autor, o caminho da pesquisa e análise de política pública deve ser
construído pelo pesquisador, com base no conhecimento complexo da formulação
da política e no conhecimento do espaço e do público a que estas se destinam e
qual seu propósito. Defende ainda que as pesquisas críticas sociais precisam ser
concebidas como meio de desenvolver estratégias, com a finalidade de lidar com as
desigualdades produzidas em decorrência das atuais políticas.
Essas táticas são reforçadas devido ao fato de, muitas vezes, tais políticas não
terem nascido da necessidade do povo, mas da concepção idealista de gestores e
políticos responsáveis pela estrutura e criação dos ideais presentes no sistema
político vigente. Isso pode resultar em resistências de indivíduos ou grupos às
mudanças no momento de sua implementação (BALL, 2006).
É possível perceber que as políticas públicas, principalmente as educacionais,
não apresentam o que é preciso fazer (metodologia), apenas estabelecem metas e
criam circunstâncias, onde o espectro de soluções possíveis é restrito. Ficam
implícitas, principalmente para o executor, as soluções ao cumprimento do programa
de governo.
31
As concepções de políticas públicas não se configuram como única condição
de sua análise, mas também seu processo de aplicação e implantação, que
contempla o próprio conceito e compreensão como uma condição ou situação que
venha do povo para o povo.
Dentre os programas educacionais no Brasil, na última década, se destaca o
Programa Mais Educação (PME), concebido como uma política pública com vistas
ao cumprimento de um fim e o bem-estar da população a que se destina. Foi criado
com a finalidade de ser um programa indutor, representando, hoje ainda, uma
estratégia para a construção de uma concepção contemporânea de educação
integral.
Com a implantação do PME em 2007, coordenado pela Secretaria de
Educação Básica, do Ministério da Educação (SEB/MEC), em parceria com as
Secretarias Estaduais e/ou municipais, o Brasil começou a traçar um percurso
diferente (mas não único ou inusitado), na busca e na expectativa de fomentar e
induzir a educação integral nos diversos níveis educacionais.
A necessidade de ampliar a oferta da educação, principalmente da educação
integral, surgiu em 2006, quando o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) revelou as mais profundas desigualdades nas condições de aprendizagem
na educação escolar.
Com a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade e Inclusão (SECADI) em 2004, permitiu-se o desenvolvimento de uma
série de propostas na busca do enfrentamento dos desafios na educação pública
brasileira. Um dos principais agentes motivadores de criação dessa secretaria foi a
perspectiva de universalizar o acesso, a permanência e a aprendizagem na escola
pública. Essas condições de desigualdades se apresentavam caracterizadas como
sendo um reflexo da estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira. O
governo federal vem procurando melhorar esses índices, buscando nas próprias
instituições escolares a solução para os problemas detectados pelo IDEB.
A partir da construção de uma ação intersetorial entre as políticas públicas
educacionais e sociais, com objetivos voltados para diminuição das desigualdades
educacionais, o desenho de uma nova proposta de educação integral no Brasil
começou a se formar, fruto de diversos setores, como poder público, comunidade
escolar e a sociedade civil, assegurando o compromisso de todos com a construção
32
de um projeto de educação que estimule o respeito aos direitos humanos e ao
exercício da cidadania (MEC/SECADI, 2009b).
O Estado, ao buscar promover a educação integral, percebeu a possibilidade
de diversas conexões e aprendizagens no processo de escolarização, identificando
as dimensões múltiplas dos indivíduos, com vistas à reestruturação da escola, com a
finalidade de atender aos novos desafios. Esta proposta de educação integral foi
construída na pretensão de valorizar a diversidade cultural brasileira e priorizar uma
gestão compartilhada entre vários órgãos e setores (intersetorial, interministerial e
intergovernamental
O Brasil optou como proposta de solução imediata, média e de longo prazo, a
incorporação de atribuições à Escola, no que até então eram de responsabilidades
da família e do estado. As competências a serem desenvolvidas pelas escolas nesta
nova perspectiva são: desenvolvimento de hábitos de higiene, saúde, alimentação e
socialização e principalmente as atividades de esportes e lazer, com vistas a ocupar
o tempo disponível das crianças e dos adolescentes, após o cumprimento das
tarefas da escola formal.
Esta tese toma como moldura a abordagem do Ciclo de Políticas, utilizando-se
dos contextos de influência, produção do texto e prática para identificar as
interferências na edificação do Programa Mais Educação, assim como os suportes
para a produção do texto e a análise dos efeitos e resultados do momento em que a
política é executada e sujeita à interpretação.
2.2 CONTEXTO DE INFLUÊNCIA
O primeiro contexto denominado como contexto de influência é definido como
etapa de análise da influência histórica e social, do diagnóstico da edificação do
Programa Mais Educação e da construção dos discursos políticos para a formação
da política pública.
Considera-se a ponderação de Mainardes e Marcondes (2009) de que a
estratégia política e o contexto de influência possuem características similares e,
deste modo, podem ser representados em apenas um único contexto, opção feita
nesta tese.
33
Nesse contexto, os conceitos adquirem legitimidade e os discursos são
construídos na intenção de oferecer embasamento aos Programas de Governo
(MAINARDES, 2006).
Ao identificar o Programa Mais Educação como uma política pública
educacional, foi preciso revisitar as principais influências históricas e pedagógicas,
que nortearam as concepções e ofereceram suporte à construção deste Programa
de indução à educação integral.
2.2.1 O contexto histórico da educação integral
Diversas experiências de escolas públicas de turno ampliado vêm sendo
desenvolvidas no Brasil, desde o início do século XX, pautadas ou não, nas mais
diferentes concepções de educação integral, ou apenas utilizadas como referência
para a ampliação da jornada escolar.
Destacaram-se como principais experiências a Escola Parque em Salvador-
Bahia (1950), de Anísio Teixeira, os Centros Integrados de Educação Pública
(CIEPS), no Rio de Janeiro, no período de 1983 a 1986 e de 1991 a 1994, de Darcy
Ribeiro, o Programa de Formação Integral da Criança (PROFIC), no período de
1986 a 1993 em São Paulo e os Centros Integrados de Atendimento à Criança e ao
Adolescente (CIACS - mesmo modelo dos CIEPS) no período de 1991.
Experiências mais recentes como a Escola Cidadã em Porto Alegre, Bairro
Escola em Nova Iguaçu e os Centros Unificados de Educação em São Paulo
aparecem com grande evidência, dentre outras no Brasil. O programa de educação
integral em Apucarana no Paraná, também, se apresenta como destaque no cenário
nacional de educação ampliada.
Diversas também são as concepções de educação integral utilizadas no
contexto nacional. Para Silva e Silva (2012), quatro concepções teóricas
metodológicas de Educação Integral se destacam com maior incidência no Brasil:
Conservadora-Integralista; socialista-anarquista; socialista-marxista; liberal-
pragmatista.
A concepção Conservadora-Integralista tem origem no movimento integralista
na década de 30. Esse idealismo foi pensado pela Ação Integralista Brasileira (AIB),
34
que tinha como principal expoente Plínio Salgado. A AIB foi criada como um
movimento cultural, que teria a pretensão de ser mais que um partido político,
incluindo como lema a educação integral para o homem integral.
Ao ser transformado em partido no ano de 1935, a AIB estruturou seu
pensamento de educação integral contemplando o envolvimento da família, do
estado e da religião, fatores estes que até então eram somente regulados pela
escola em uma intensiva ação educativa.
Sugere-se ainda, neste movimento de educação integral, a contemplação da
formação do homem nos aspectos espirituais, sociais e físicos. Propõe-se a educar
o homem como um todo, formando o espírito com os deveres para com Deus e o
físico por meio da conservação da higiene e da força muscular. Mantém-se, desta
forma, o corpo são e sustentando a concepção da formação do sujeito, por força da
disciplina e da ordem.
O ponto de vista da educação socialista-anarquista tem por princípio
desenvolver as capacidades do homem em sua totalidade. Para os socialistas-
anarquistas, a escola significa uma instituição reprodutora da ideologia capitalista, e
seus defensores rejeitam qualquer proposta vinda do governo. Esta concepção
defendeu a educação intelectual por meio de assimilação da cultura, determinada
pela humanidade ao longo dos períodos.
A Educação Física, nesta concepção, é voltada para o trabalho, organizada em
três aspectos (recreativa e esportiva; educação manual e educação profissional) que
buscam socializar o sujeito por meio de jogos, exercícios físicos e trabalho em
equipe.
Na perspectiva socialista-marxista, o autor destaca a abordagem marxista
gramsciana, que pensava a educação partindo do âmbito dos trabalhadores e a
formulação de um novo homem e um novo estado. Reafirma a ideia de que
educação neste aspecto, deveria assegurar o desenvolvimento integral da
personalidade individual partindo do processo de construção de novas formas
coletivas.
A educação integral a partir do ponto de vista de Gramsci utiliza, como
referência, esta perspectiva socialista-marxista; ela preconiza a escola com uma
concepção humanista, acrescida da formação para o trabalho onde os alunos
deveriam ter dedicação integral aos estudos.
35
Ao propor uma escola única, rigorosa e igualitária, diferenciada pela
capacidade individual e não pela classe, Gramsci (1982) concebeu-a nos múltiplos
aspectos que envolviam a educação: definição da necessidade de a escola ser
pública e para todos; formação e número de professores por aluno; instalações
escolares e sobre a permanência dos alunos na escola. Demonstrou na concepção
dessa instituição escolar a sua intenção de ampliar o tempo de permanência dos
alunos com a pretensão do aumento das diversas atividades físicas, intelectuais,
manuais, oferecidas a esses sujeitos.
[...] uma escola-colégio, com dormitórios, refeitórios, bibliotecas especializadas, salas aptas ao trabalho de seminário etc. Por isso, inicialmente, o novo tipo de escola deverá ser e não poderá deixar de ser, própria de grupos restritos, de jovens escolhidos por concurso ou indicados, sob sua responsabilidade, por instituições idôneas. (GRAMSCI, 1982. p.122).
Gramsci (1982) pensou sua escola com uma proposta de currículo integral,
definindo as bases da Escola Unitária, onde o primeiro grau é considerado como
elementar e com duração de três a quatro anos, com a pretensão de ensinar a ler,
escrever, fazer contas, geografia, história.
Este ensino sob o ponto de vista grasmiciano necessitava desenvolver direitos
e deveres, figurando estes, como elementos essenciais de uma nova concepção do
mundo e de sujeitos.
Já para o Ensino Médio (formação da Escola Média), o restante do curso não
deveria durar mais de seis anos. Refere-se sem estranheza à necessidade de certos
grupos retardarem a vida escolar dos filhos em virtude de questões sociais
específicas. Admite, ainda, a existência de capacidades cognitivas diferenciadas de
cada sujeito e o caráter restritivo desta escola.
Ao observar de forma enfática o papel da escola e do professor na formação
dos estudantes, Gramsci associava uma vida disciplinada nos colégios a uma
possibilidade de autodesenvolvimento, estimulado por atividades que permitiriam
aos mesmos produzir seus conhecimentos.
Segundo Nosella (2004), a escola do trabalho de Gramsci não tratava apenas
de se colocar um torno na sala de aula, mas sim de ler um livro sobre o significado,
sobre a história e as implicações econômicas do torno (exemplo) na escola, na
fábrica, no dia a dia do indivíduo.
36
Gramsci acreditava que, ao criar um modelo de escola unitária e apresentar
sua proposta de educação ao mundo, estaria mostrando a todos que a melhor forma
de aprimorar as condições do proletariado era promover o acesso à escola para
todos indistintamente.
Neste modelo de educação, os alunos precisariam ter dedicação integral aos
estudos. Esta escola apresentava-se como rigorosa e igualitária, diferenciada
apenas pelas competências e habilidades individuais e não pela classe social ou
poder aquisitivo do sujeito.
Já a concepção liberal-pragmatista encontrava-se intrinsecamente ligada ao
movimento escolanovista7 no início do século XX.
Entre o período de 1920 e 1930, aconteceram inúmeras discussões sobre
pedagogia e educação, permeando os interesses diversos dos vários segmentos
opositores ao sistema político e educacional desse período: liberais versus
conservadores; esquerda socialista e anarquista contrária aos de direita.
Os liberais democráticos (simpatizantes da Escola Nova) imbuídos na
esperança de democratizar e transformar a sociedade por meio da escola,
proporcionaram a renovação e o apoio das técnicas utilizadas neste período com um
caráter mais científico. Apresentaram como proposta uma escola única (não
dualista), obrigatória e gratuita, com áreas diversas, como: sociologia, psicologia,
biologia e pedagogia moderna (CAMBI, 1999).
Nesse mesmo período, o Brasil encontrava-se em uma crescente
industrialização e urbanização, fator ativador das desigualdades sociais que deram
origem a uma discussão entre os intelectuais e políticos na busca da valorização e
transformação escolar.
Apesar dos debates que aconteciam na sociedade vigente, na maioria das
vezes o governo estruturava suas reformas políticas e educacionais, que não se
configuravam democráticas e igualitárias.
Diversos estados brasileiros realizaram suas reformas pedagógicas
organizadas por aqueles que, mais tarde, seriam os expoentes do movimento
7 Movimento escolanovista: Movimento nascido ao final do século XIX, ligado à expansão do ensino
fundamental e ao desenvolvimento de uma nova ciência, tendo como principais expoentes Anísio Teixeira e Lourenço Filho.
37
escolanovista do século seguinte, caracterizado como precursor da disseminação da
Escola Nova brasileira.
As ―Escolas Novas‖ se desenvolveram propiciando uma série de pesquisas e
destinadas a mudar profundamente a instituição escolar, não apenas no seu aspecto
organizativo e institucional, mas também nos aspectos ligados aos ideais formativos
e aos objetivos culturais.
Cambi (1999) assegura que, na Escola Nova, existia a proposta de um ideal
comum, inspirado na participação ativa dos cidadãos, tanto na vida social, quanto
política, no sentido das próprias relações sociais ligadas à concepção individualista
do homem, sem prejudicar a consciência e a liberdade de escolha.
Segundo Saviani (2011), Lourenço Filho forneceu ao movimento da Escola
Nova as bases psicológicas, já Fernando de Azevedo elaborou as bases
sociológicas e as reformas do ensino e Anísio Teixeira, por sua vez, proveu as
bases filosóficas e políticas de renovação escolar a que se propunha o movimento
escolanovista.
Anísio Teixeira foi um dos principais responsáveis pela disseminação e
implantação das escolas de turno ampliado no Brasil, teve sua formação e
principalmente sua estrutura filosófica definida a partir do encontro com John Dewey
e suas obras, ao cursar o Masters of Arts. Anísio tornou-se responsável por
disseminar as ideias do pragmatismo no Brasil.
John Dewey, ao considerar a relação da teoria com a prática, definiu de forma
clara e concisa o seu principal detalhamento para a educação, o aprender fazendo.
Dewey partiu do princípio de que a aprendizagem acontece a partir das experiências
concretas do aluno, uma das principais características ligadas aos objetivos do
pragmatismo (BORGHI, 1951).
Para Borghi (1951) apud Cambi (1999), Dewey apresentava uma filosofia que
continha um evolucionismo pragmático e instrumentalista. Essa filosofia continha
uma reflexão política. Girava em torno de uma democracia constantemente
construída por uma educação escolar, que pretendia formar o cidadão na e para a
democracia, estimulando ainda a atividade individual.
Uma democracia é algo mais que uma forma de governo. É antes de tudo, um
tipo de vida associada, de experiência continuamente comunicada. Consiste na
extensão do espaço do número de indivíduos que participam de um interesse, de tal
38
modo, que cada um deve relacionar a sua ação à dos outros e considerá-las para
dar um motivo e uma direção à sua própria.
Este pensamento equivale ao desmoronamento daquelas barreiras de classe,
de raça e de território nacional, que impediam os homens de colher o pleno
significado de sua atividade (DEWEY, 1916 apud CAMBI, 1999).
Influenciado pela filosofia pragmatista americana, Anísio Teixeira desenvolveu
uma nova forma de pensar o ensino, estabelecendo-o como um processo contínuo
de crescimento e desenvolvimento. Constitui, assim, o início da construção de um
projeto de reforma para a educação brasileira e um marco no início de suas
atividades políticas, educacionais e ideológicas.
Anísio Spínola Teixeira, ao assumir o cargo de Inspetor Geral do Ensino da
Bahia, de 1924 a 1928, modificou e reformou o ensino baiano. Criou a Lei nº 1.846,
de 14 de agosto de 1925, que propôs a concepção de que a escola deveria oferecer
uma educação integral, desenvolvendo nos alunos qualidades cívicas, morais,
intelectuais e de ação. Em 1931 assumiu o cargo de Diretor da Instrução Pública do
Distrito Federal. Em sua gestão, a evasão escolar e seu inconformismo frente à
mesma se estabeleceram como fatores motivadores de seu pensamento referente à
educação escolar e à jornada ampliada.
As preocupações educacionais da década de 1920 tiveram o auge na
elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932. Os
idealizadores deste documento foram os principais expoentes do meio educacional
brasileiro na época. Este Manifesto foi liderado por Fernando de Azevedo, com o
apoio de Anísio Teixeira, Roquette Pinto, Mario Casassanta, Cecília Meirelles e
vários outros, partindo de ideias implantadas em outros países, mas adaptadas ao
Brasil.
Para esses educadores, o maior problema do país era a segregação social. A
escola nova mostrava como estruturar a educação e buscava para que esta
deixasse de ser um privilégio determinado pela condição econômica e social do
indivíduo, para então assumir um ―caráter biológico‖ para todos.
O indivíduo deveria ser educado até onde suas aptidões naturais assim o
permitissem. A educação precisaria ser gratuita, pública e de qualidade. O
documento abordava todos na perspectiva da igualdade, diferenciados apenas por
suas capacidades cognitivas e não suas capacidades econômicas.
39
Dentre muitos, Lourenço Filho (1930) pensava a Escola Nova e demonstrava a
possibilidade da existência de uma ponte entre essa e o pensamento
contemporâneo. Repercutiu, então, na construção de alguns princípios e algumas
questões críticas da Educação Nova, possíveis de serem utilizados, hoje ainda, na
educação.
Princípios:
Caráter socializador da Escola Nova. Aprende-se em sociedade. E a escola
deve ser um ambiente social que favorece aprendizagens. ―O homem não se
apresenta como homem, para depois viver em comunidade; sem esta
comunidade, o ser humano não é, de modo algum, um homem‖ (LOURENÇO
FILHO, 1930, p.188). A escola tem assim um destacado papel de formação
para a vida em sociedade.
Caráter de respeito à individualidade da criança. Não se opõe à socialização. A
socialização que se quer é a de uma formação para a democracia onde se
espera que as pessoas possam se expressar livremente.
Caráter funcional da educação. Entendimento de que a educação precisa
atender a necessidades de cada um.
Caráter vitalista da educação renovada. Entendimento de que a educação deve
estar voltada para as dimensões afetivas da vida, acompanhado por uma
crítica ao intelectualismo da educação acadêmica (tradicional).
Questões críticas:
A questão dos programas. Na educação tradicional há programas de estudo
bastante rígidos. A Escola Nova propõe que o centro de estudos seja o
interesse dos alunos. Volta-se contra o programa rígido, o ensino acadêmico,
centrado em matérias.
Uma dificuldade no ensino graduado. Uma conveniência administrativa, não
uma determinação em termos de aprendizagem.
A solução: o programa mínimo. Lourenço Filho defende certo padrão nacional
(posição contrária ao radicalismo de nenhum programa defendido por alguns
escolanovistas). Aceita um programa mínimo, mas com bastante liberdade para
40
que as coisas se organizem de acordo com necessidades e interesses das
crianças.
A questão do horário. A rigidez do horário escolar contraria a naturalidade das
crianças. A passagem de uma para outra disciplina, em intervalos rigidamente
controlados, e sem qualquer ligação estrutural entre elas, é artificial,
desinteressante. É preciso repensar a questão do tempo na escola.
Horário de rotação semanal. Uma possível solução, com mais tempo para cada
assunto, sem interrupções e esfacelamento disciplinar.
A questão da disciplina. Algo inexistente na Escola Nova. Nada de controle.
Então, as crianças fazem o que querem? Não, o que as conduz é o interesse, a
educação autêntica.
O brinquedo na educação. ―O jogo é atividade de coordenação profunda,
forma de autoeducação por excelência‖.
Autonomia dos escolares.
Liberdade das crianças (LOURENÇO FILHO, 1930).
No ano de 1934, Anísio Teixeira realizava suas primeiras experiências no Rio
de Janeiro, criando cinco escolas de educação integrada. As influências das ideias
renovadoras já se mostravam perceptíveis nestas escolas, ainda que predominasse
neste o sentimento republicano, democratizador e político, característico da época e
inculcado nas diversas reformas ocorridas nos sistemas públicos estaduais de
educação no Brasil (CAMBI, 1999).
A escola tradicional, no final do século XIX, sofria forte oposição pelo
movimento denominado ―escolanovismo‖ onde o aluno deveria ser o centro dos
processos de aquisição do conhecimento escolar, constituindo a obtenção da escrita
elemento imprescindível dentro dos processos.
Ler e escrever passaram a ser racionalizados e associados; a sistematização
do conhecimento se adquiria pela experiência. É evidente que o entusiasmo pela
educação escolar, nas primeiras décadas do século XX, perpassando as diversas
correntes ideológicas, fazia surgir um movimento que buscava a educação integral
do indivíduo como parte integrante e participativa da sociedade.
41
Ainda para Anísio Teixeira, a escola tinha no analfabetismo o principal desafio,
pois, para a criança, além de compreender a leitura, a escrita e as quatro operações,
eram necessários, a familiarização e o hábito no manejo de instrumentos de cultura.
Tornava-se importante oferecer a esse indivíduo a condição de viver em um mundo
de mudança e transformação permanente (TEIXEIRA, 1967).
Com o golpe do Estado Novo (1937-1945), surgiu um governo centralizador e
ditatorial, influenciado pelo nazismo e fascismo da Europa. Getúlio Vargas, ao
controlar a estrutura sindical, subordinou-a ao Estado. Conseguiu, desta forma,
manipular a opinião pública por meio da propaganda de governo e também se
utilizando de forte censura.
Esse governo sufocou todos os que discordaram e expressaram suas ideias ou
ideais, por meio de prisões, torturas e exílios. A Constituição Brasileira de 1937
refletiu as tendências fascistas e nazistas do Estado Novo, deslocando o dever do
estado para com a educação, oportunizando a educação para a iniciativa privada.
No período da ditadura Vargas no Brasil, o movimento renovador da educação
entrou em recesso. Entretanto, a oferta de escolarização durante este período foi
ampliada, aumentando o desenvolvimento do ensino primário e secundário.
Após um período de afastamento da vida pública, que correspondeu à ditadura
Vargas, Anísio Teixeira retomou sua ação política e intelectual, na tentativa de
manter a defesa da escola pública que acreditava. Uma escola conectada ao
trabalho, à prática e à ciência.
Retomou e desenvolveu sua concepção de educação escolar ampliada e a
defesa do horário integral, na pretensão de construir uma política educacional para a
nação brasileira.
Para que esta concepção de educação se configurasse, seria necessário
manter o número de séries escolares existentes, prolongar o ano letivo (de 640
horas para 1080 horas), enriquecendo ainda, o programa com atividades educativas
independentes do ensino intelectual e, principalmente, preparar o professor para
desempenhar suas funções.
A concepção formulada na educação integral era que esta é vida e não
preparação para a vida.
Anísio Teixeira apresentava em sua trajetória seu posicionamento em defesa
da escola ―pública‖ ou da escola ―comum‖ ligada ao trabalho, à prática e à ciência
42
que informa essa prática. Ao buscar uma escola não elitizada, elaborou uma
concepção de educação escolar ampliada, defendendo o horário integral.
Ao concretizar seu sonho, com a construção do Centro Educacional Carneiro
Ribeiro (1950) em Salvador-Bahia, Anísio Teixeira conseguiu estabelecer uma
relação entre o prédio escolar e a qualidade de ensino na escola de horário integral.
Com a criação da Escola Parque – Centro Educacional Carneiro Ribeiro, concretizou
a ideia de um espaço escolar com escolas nucleares e parques escolares. Nestes
ambientes escolares a criança era obrigada a frequentar ambos.
A escola funcionava organizada em dois turnos, onde o aluno receberia a
formação básica, o ensino propriamente dito em um turno e no outro a Educação
Social, a Educação Física, a Educação Musical, a Educação Sanitária, a Assistência
Alimentar e o uso da leitura em bibliotecas infantis e juvenis (TEIXEIRA, 1967).
Na década de 1960, Anísio Teixeira, já presidente do INEP, foi convocado pelo
então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, para coordenar uma comissão
encarregada de criar o ―Plano Humano‖, junto com Darcy Ribeiro e outros principais
expoentes com objetivo de ampliar a oferta e a jornada da educação brasileira.
A comissão elaborou um sistema educacional para Brasília, na pretensão de
ser um modelo educacional para todo o Brasil. O sistema educacional, inspirado no
modelo da Escola Parque de Salvador, criou as Escolas Parques de Brasília. Como
fruto dessa organização, resultou a Universidade de Brasília e um Plano para a
Educação Básica no país.
Os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS), implantados no país,
concebidos por Darcy Ribeiro (que teve grande atuação na discussão da primeira
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961) e oriundos do Plano para
a educação se apresentavam com a denominação de ―Escola Integral em horário
integral‖ (propostos a partir da experiência de Anísio Teixeira).
Também os Centros Educacionais Unificados (CEUs), nos anos 80, têm sua
importância reconhecida pela articulação do desenvolvimento de atividades
educacionais, recreativas, culturais em um mesmo espaço físico, com a finalidade de
se constituírem como locais de experiências comunitárias (SANTOS, 2004).
Cavaliere (2002), na busca de bases teóricas para a educação integral, aponta
uma ressignificação do escolanovismo por vários pensadores que se utilizam das
43
ideias de John Dewey, como um referencial, para definir uma proposta a um ensino
que atenda às necessidades existentes nas escolas públicas fundamentais.
De acordo com Cambi (1999), a pedagogia proposta por Dewey, caracterizava-
se por: a) propor um permanente contato entre o momento teórico e prático,
tornando o educando o ponto central da aprendizagem; b) entender que a educação
deve recorrer para definir seus próprios problemas; c) empenhar-se em construir
uma filosofia de educação que incumbe a ela (educação) o desenvolvimento
democrático da sociedade e a formação de um cidadão dotado de mentalidade
moderna científica e aberto à colaboração.
Para Dewey, a criança deveria ser o centro da educação, e a escola precisaria
oferecer espaços que desenvolvessem seus principais interesses (CAMBI, 1999
apud BORGHI, 1951).
Ao considerar a relação entre a teoria e a prática, Dewey se contrapõe de
forma veemente à educação tradicional. Esperava que os alunos aprendessem
melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. Quanto à
estruturação do pensamento escolar, pensava que o professor não deveria se
encontrar na escola apenas para impor hábitos aos alunos, mas sim para selecionar
influências que irão agir sobre a criança, para que este sujeito se posicione favorável
ou não a essas influências.
A democracia proposta por Dewey deveria acontecer não somente no campo
institucional (sala de aula), mas também no campo administrativo das escolas. O
principal objetivo da educação proposta era preparar o aluno para a sociedade do
desenvolvimento tecnológico e para a convivência democrática. Esta formação do
sujeito aconteceria por meio da busca da reorganização da educação, de modo que,
a instrução se efetivaria em conexão com a concretização das atividades
determinadas com a finalidade de instruir e educar (BORGHI, 1951).
Cambi (1999) reforça o pensamento de que, ao lado da industrialização e dos
movimentos nas classes sociais, a contemporaneidade tornou-se o período dos
direitos, do reconhecimento teórico e de sua afirmação prática, produzindo as
massas.
Em paralelo ao período dos direitos, cresceram os mecanismos para seu
controle, desde as ideologias até as associações, a propaganda, o uso do tempo
livre, os meios de comunicação. Este binômio dinâmico de massificação e de
44
regulamentação das massas se manifesta como uma das características mais
profundas, mais constantes do tempo presente.
Para Cavaliere (2002), o pensamento de Dewey enriquecido pelo de
Habermas, oferece a fundamentação de uma concepção contemporânea de
educação.
[...]. No primeiro, o aspecto de maior validade e atualidade é a compreensão da escola como sendo um ambiente onde se reconstroem experiências sociais. Isso prefigura um formato de vida escolar ao qual é preciso, desde que se incorpore a crítica de Habermas, associar tanto a explicitação dos aspectos políticos inerentes a ela como daqueles referentes à sua inserção na estrutura social vigente (CAVALIERE, 2002, p.267).
O texto constituído pelo governo federal para servir de referência para o debate
nacional da educação integral trouxe a afirmação de que essa hoje se caracteriza
pela ideia de uma formação mais completa possível para o ser humano. Contudo,
não apresenta em seus referenciais uma definição específica para o que esteja
chamando de formação mais completa possível.
As atividades físicas e esportivas encontram-se presentes em toda a trajetória
histórica estabelecida na construção de uma educação integral. Estas atividades
apresentam-se como um dos eixos norteadores e fundamentais na formação do
homem integral em todo o percurso da educação e das instituições escolares no
Brasil.
Os pressupostos assumidos para a educação integral em um novo contexto
contemporâneo, principalmente na figura do Programa Mais Educação, nasceram da
diversidade cultural e educacional brasileira, com a intenção de articular diversas
áreas dos saberes escolares e comunitários.
2.3 CONTEXTO DA PRODUÇÃO DO TEXTO
O contexto da produção do texto reflete a construção da política de fato,
constituída por textos políticos e legislativos que formam a proposta e oferecem
suporte às bases iniciais para que sejam colocadas em prática (MAINARDES, 2007).
45
As políticas públicas educacionais representam a configuração do poder e do
conhecimento gerado por disputas e acordos realizados quando da construção do
texto e da configuração de sua representatividade como política.
Para Lima e Marran (2013), a elaboração do texto de toda e qualquer política
pública tem consequências que serão vivenciadas no contexto da prática. Esses, em
sua grande maioria, não se apresentam de forma clara e concisa, sendo inclusive
contraditórios em alguns momentos.
Em sua maioria, a teoria do que é proposto pelos textos políticos não encontra
a realidade, pois se constituiu a partir de objetivos abstratos e não concretos. Podem
não expressar a real necessidade e objetividade de cada comunidade (GADOTTI,
2009). Muitas vezes a sua formatação acontece por ensaios e erros, reelaborados e
modificados por meio de complexos processos de influências, de discursos e de
recriação no contexto da prática.
A proposta de educação integral no Brasil como documento é fruto de debates
entre o poder público, a comunidade escolar e a sociedade civil. Esses debates
buscaram assegurar uma construção coletiva e respeito aos direitos humanos e ao
exercício da democracia (MEC/SECADI, 2009b).
Afirma ainda o texto referência, que a educação integral está implicada na
oferta dos serviços públicos, requeridos pela atenção irrestrita e aliada a proteção
social, articulando o campo da educação, do desenvolvimento social, da saúde, do
esporte, da inclusão digital e da cultura. A educação integral tornou-se, hoje, um
dever do Estado e um direito do cidadão, conforme documentos referenciais
(MEC/SECADI, 2009b).
Existe atualmente uma grande variedade e diversidade de experiências e
inovações, que se autodenominam Programas de Educação Integral. Para que estas
ideias realmente se configurem como um programa de implantação de educação
integral e como uma política pública é preciso que estas experiências e inovações
contribuam para desenvolver o que é mais específico na escola: a aprendizagem
(GADOTTI, 2009).
Afirma esse autor que a educação integral no Brasil foi concebida tanto como
projeto especial (não alcança a totalidade dos sistemas educacionais e, na maioria
das vezes, eleitoreiros), quanto como política pública.
46
Procurando constituir um espaço democrático de educação integral, o governo
federal vem desenvolvendo estratégias que visam promover a ampliação de tempos
na escola, espaços, oportunidades educativas e do compartilhamento da tarefa de
educar com os profissionais da educação e de outras áreas. Importante evidenciar
que educação integral em tempo integral ou ampliação do tempo de escolaridade ou
ampliação do tempo da jornada escolar não significa, necessariamente, estar
implantando educação integral.
O Programa Mais Educação (PME) se concretizou nesta última década como
uma das principais estratégias de implantação da educação integral no Brasil. Ele foi
desenvolvido por meio da parceria dos Ministérios da Educação, do
Desenvolvimento Social, do Esporte, da Ciência e Tecnologia, da Cultura e do Meio
Ambiente.
Arroyo (2002) afirma que a proposta de educação integral, construída pelo
Programa Mais Educação, manifesta no seu contexto todas as tensões vividas para
reorganizar espaços, tempos e saberes.
Isto implica dizer da necessidade de a instituição executora do PME assumir
um diálogo para a construção de um projeto político e pedagógico, que contemple
ações compartilhadas e intersetoriais na direção da educação integral. É necessário,
para que a educação integral se concretize, a manutenção do foco na educação e
principalmente na qualidade da aprendizagem.
Por meio do Caderno de Educação Integral (2009), o Ministério da Educação
buscou sanar esta lacuna tornando a construção dos objetivos estruturantes deste
programa, em fins mais concretos, ao afirmar que a escola por meio de
planejamentos integrados e seu projeto pedagógico pode proporcionar experiências
não formais, vinculadas a projetos formais elaborados pela comunidade escolar.
Para implantação do PME, o Ministério da Educação elaborou documentos
norteadores, denominados de Concepção Contemporânea de Educação Integral.
Estes apontamentos têm por objetivo fundamentar a elaboração do projeto político-
pedagógico, da proposta curricular e do modelo de gestão, definidos pela instituição
executora do PME.
Os documentos construídos como referência são denominados: Programa Mais
Educação - Gestão Intersetorial no Território; Educação Integral - Texto Referência
47
para o debate Nacional e o Caderno Rede de Saberes Mais Educação;
Pressupostos para Projetos Pedagógicos de Educação Integral (2009).
Na composição estrutural do Programa Mais Educação, foram utilizados leis,
normas e estatutos, assim, destacados dentre outros: Constituição Federal de 1988,
Decreto nº 7083/2010 (Mais Educação), Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
nº 10.172 de Educação Integral, Lei nº 9.394/1996, Lei nº 11.494/2007, - FUNDEB,
Lei nº 11947 – PNAE (Mais Educação), Lei nº 11947, Manual de Educação Integral –
PDDE/2012, Portaria Normativa 17, Portaria Normativa 17 I, Portaria Normativa 17,
Portaria Normativa 19 I, Portaria Normativa 19 II, Resolução/ CD/ FNDE/ nº 38/2009
– PNAE/ Mais Educação, Resolução/ CD/ FNDE/ nº 38/2009 – PNAE/ Mais
Educação, Resolução/ CD / FNDE/ nº 67/2009 – PNAE/Mais Educação, Resolução/
CD/ FNDE/ nº21/ 2012.
O PME é considerado parte constitutiva do Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE), criado pela Portaria Interministerial nº 17, de 24 de abril de 2007, é
regulamentado pelo Decreto nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010.
O PME sugere atender preferencialmente escolas com baixo Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), situadas em capitais, regiões
metropolitanas e grandes cidades, em territórios marcados por situações de
vulnerabilidade social, que requerem a tendência prioritária de políticas públicas e
educacionais. Apresenta, como objetivo principal de acordo com a Portaria nº
17/2007:
[...] contribuir para a formação integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio da articulação de ações, de projetos e de programas do Governo Federal e suas contribuições às propostas, visões e práticas curriculares das redes públicas de ensino e das escolas, alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes, métodos, processos e conteúdos educativos (BRASIL, 2007a, p. 2).
Ao expandir as possiblidades do território da educação escolar, o Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e
Inclusão (SECADI) sugere uma interface com a comunidade em que a escola está
inserida.
A relação da escola com a comunidade precisa ser pensada por meio da
possibilidade do diálogo, da construção dos saberes e, mais precisamente, da
construção de uma comunidade de aprendizagem. Uma das principais trocas entre a
48
comunidade e a escola é o compartilhamento dos espaços públicos, destinados ao
esporte e lazer.
Quando o PME propõe a utilização e uso dos espaços e equipamentos
disponíveis da comunidade, não apenas os das instituições escolares, ele amplia as
possibilidades de realização das diversas atividades práticas esportivas e
recreativas.
Ao estabelecer uma análise dos espaços educativos, das instituições escolares
e da comunidade do seu entorno, Silva e Silva (2012) afirma que a escola é o único
ou um dos únicos equipamentos disponíveis deste programa de governo e que
acaba esbarrando entre realidade e possibilidade.
Ao oferecer múltiplas possibilidades educativas, este programa sugere que os
conteúdos da base nacional curricular, Lei de Diretrizes e Bases (LDB) Lei n.
9.394/96, a serem propostos, dentro do Programa Mais Educação, dialoguem com
temas estruturantes e contemporâneos, utilizados nos macrocampos.
Com o intuito de ampliar a jornada escolar para sete horas diárias, o PME se
organizou inicialmente em sete macrocampos definidos pelo Ministério da Educação,
como: 1. Acompanhamento Pedagógico; 2. Agroecologia, 3. Cultura, Artes e
Educação Patrimonial; 4. Educação em Direitos Humanos; 5. Esporte e Lazer; 6.
Iniciação Científica; 7. Memória e História das Comunidades Tradicionais.
No PME, o macrocampo esporte e lazer figura como uma das principais opções
escolhidas pelas escolas, principalmente por oferecer uma diversidade de atividades
esportivas recreativas inseridas no contraturno da escola formal. Estas opções
encontram-se listadas nos documentos norteadores como componentes deste
macrocampo. Proporcionam, dessa forma, aos executores a liberdade na escolha
das atividades desenvolvidas no contraturno, possibilitando adequação à realidade
dos espaços físicos, dos equipamentos esportivos e recreativos.
É possível perceber uma liberdade de escolha de certa forma muito frágil,
muito direcionada. Exemplifica-se, nas opções propostas pelo macrocampo esporte
e lazer, do PME, quando da necessidade da escolha da atividade esportiva, esta
precisa necessariamente estar relacionada nos macrocampos, conforme definição
da estrutura do Programa Mais Educação.
A atividade escolhida deve estar listada no macrocampo definido nas ementas
e propostas do PME.
49
De acordo com o projeto educativo em curso, as escolas podem escolher atividades no universo de possibilidades ofertadas. Uma dessas atividades, obrigatoriamente, deve ser do macrocampo Acompanhamento Pedagógico. O detalhamento de cada atividade em termos de ementa e de recursos didático-pedagógicos e financeiros previstos é publicado, anualmente, em manual específico e relativo à Educação Integral, que acompanha a resolução do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, do FNDE (BRASIL, 2014, p.7).
Todas as atividades oferecidas dentro do PME, indiferentes do macrocampo
escolhido, precisam estar conectadas ao projeto político-pedagógico da instituição
escolar executora. A metodologia desta conexão é estruturada com a capacidade de
integrar a produção do conhecimento e da cultura, considerando a diversidade dos
saberes da realidade nacional.
Para Arroyo (2002), a proposta de educação integral apresentada por meio do
PME vem carregada das tensões para reorganizar espaços, tempos e saberes, o
que implica assumir uma disposição para o diálogo e para a construção de um
projeto político-pedagógico que contemple princípios, ações compartilhadas e
intersetoriais nesta direção.
Em sua concepção, este Programa atribui à escola múltiplas finalidades, as
quais compreendem dentre outras:
[...] a ampliação do tempo e do espaço educativo e a extensão do ambiente escolar; combater evasão escolar, a reprovação e a distorção idade/série; promover o‖ atendimento educacional especializado‖ às crianças como necessidades educacionais especiais‖; prevenir e combater o trabalho infantil, a exploração sexual e outras formas de violência contra crianças adolescentes e jovens, promover a formação da ―sensibilidade, da percepção e da expressão de crianças, jovens e adolescentes nas linguagens artísticas literárias e estéticas, estimular as práticas corporais, educacionais e de lazer‖; ―promover a aproximação entre a escola, as famílias e as comunidades‖ e; prestar assistência técnica e conceitual aos entes federados‖ com vistas a operacionalização da portaria que implementa o Programa ( BRASIL, 2007a, p.2).
O PME tem como parte inclusa em sua proposta atuar como agente de
prevenção de situações de violações de direitos da criança e do adolescente, e,
também como agente na melhoria do desempenho escolar e na permanência na
escola, principalmente em territórios mais vulneráveis. Ao estabelecer a articulação
entre Educação, Assistência Social, Cultura e Esporte, dentre outras políticas, o
Programa Mais Educação pode vir a se constituir como um importante fator de
intervenção para a proteção social (MEC/SECADI, 2009b).
50
Uma das análises mais expressivas relatadas na pesquisa de Silva e Silva
(2012), em relação ao Programa Mais Educação, diz respeito à contenção e guarda
de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social como forma de realizar
uma ação do governo em torno da melhoria do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB).
Finalizando sua avaliação, o autor confirma que o Programa Mais Educação,
ao sugerir a realização de várias atividades fragmentadas, acaba servindo a um
processo de ocupação e contenção de crianças e jovens definido por Algebaile
(2009) apud Silva e Silva (2012, p. 226) como ―disciplinamento da pobreza‖.
Silva e Silva (2012) ressaltam ainda, em sua análise, que o Programa Mais
Educação surge caracterizado pela defesa da ampliação da jornada escolar,
ancorada na doutrina de ―proteção integral‖ das crianças e adolescentes, no intuito
de viabilizar uma educação de qualidade. Observa-se, neste sentido, que a
ampliação da jornada escolar preconiza a necessidade de um aumento no número
de professores e funcionários nas instituições escolares executoras do Projeto.
No sentido de suprir a necessidade dos professores e minimizar custos, o
Programa Mais Educação apresenta um incentivo ao voluntariado, baseado na Lei
nº 9.608, de 18 de fevereiro de 19988. Este incentivo surgiu na tentativa de
solucionar a falta de profissionais que desenvolvam as ações do Programa Mais
Educação.
É possível perceber que o incentivo ao voluntariado demonstra uma enorme
lacuna e vulnerabilidade do PME, que irá refletir exatamente no lado mais frágil de
todo o processo educativo: o aluno da educação básica participante do Programa.
Cabe ao monitor (educadores populares, estudantes, agentes da comunidade,
técnicos) a tarefa de ser agente educador e responsável pelo processo de execução
da educação, como um elemento fomentador da educação integral dentro do
Programa.
O sistema educacional emergido do PME repassa principalmente, ao
oficineiros, estagiários, a responsabilidade da execução das propostas esportivas,
recreativas a serem desenvolvidas no turno ampliado, para com os sujeitos
integrantes do programa.
8 Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998 - Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras
providências.
51
O Programa Mais Educação, por meio de parcerias e do envolvimento da
comunidade, acontece mais pelo engajamento e decisão política da comunidade, do
que propriamente pela responsabilidade da instituição fomentadora. Esta se mantém
quase que exclusivamente ao fomento e repasse de verbas ínfimas, apenas a título
de um pró-labore aos oficineiros, ou na aquisição de materiais por meio dos
programas parceiros e que, muitas vezes, não chegam em tempo hábil, devido aos
procedimentos excessivamente burocráticos.
Conforme Paro (2009), é preciso evitar que se repita a história mais uma vez,
em mais um projeto educacional, que envolve recursos públicos e vidas. Desta
forma, é de fundamental importância a intervenção do poder público na organização
de diversas ações, tanto na implantação, quanto na manutenção dos programas de
governos, principalmente os direcionados para a educação.
Estas definições na gestão pública são elementos essenciais à instituição
escolar, assim como o planejamento, a coordenação, o monitoramento e a avaliação
das ações pedagógicas, por sua vez, necessitam de um acompanhamento e de uma
apreciação constante, por parte dos gestores, nos diversos níveis e esferas do
Programa Mais Educação, principalmente no contexto da prática.
2.4 CONTEXTO DA PRÁTICA
O contexto da prática para Ball e Bowe (1992) apud Lima e Marran (2013) é o
momento em que a política está sujeita à interpretação. É considerado como o
espaço onde são produzidos os efeitos, os resultados, as consequências geradoras
de alterações e as transformações importantes para a área ou setor a que se
destina.
Mainardes (2006) considera que esse contexto pode ser um micro processo no
qual a política está sujeita à criação e recriação, onde produz efeitos e
consequências que podem representar mudanças e transformações significativas na
política original.
Para o autor, a análise da prática envolve a apreciação de dados estatísticos
quanto ao desempenho de alunos e diversos outros subsídios que se tornarem
essenciais à pesquisa.
52
Para Lima e Marran (2013), na abordagem do ciclo de políticas percebe-se que
o profissional desse contexto também é um autor das políticas educacionais, pois a
sua interpretação do texto é o que irá definir a sua prática.
O desenho de abordagem proposto pelo Ciclo de Políticas para a investigação
da prática expressa a necessidade da análise desse contexto, principalmente a de
diagnóstico e apreciação de como a política é reinterpretada pelos profissionais que
atuam no nível micro e também na análise das relações de poder, resistência, dentre
outras possibilidades (MAINARDES, 2006).
O contexto de prática desta tese se reporta às atividades esportivas,
desenvolvidas no Programa Mais Educação, nas escolas municipais da cidade de
Salvador.
Ao estabelecer uma articulação com os outros contextos e com a própria
política pública educacional, investiga-se a realidade concreta (prática) das
atividades esportivas que são desenvolvidas nesses locais disponibilizados pelos
executores do PME e utilizados como espaços de aprendizagem.
Esta opção por compreensão da política por meio do contexto da prática
apresenta, em um primeiro momento, o percurso na construção da identidade da
educação integral em paralelo com as atividades físicas e esportivas. Estas se
revelam como um dos elementos essenciais na construção da identidade do sujeito.
Em um segundo momento, discute-se a articulação do Programa Mais
Educação com a perspectiva do esporte e do lazer, estes inseridos como uma das
opções de atividades extracurriculares do PME e dos vários órgãos relacionados e
integrados junto à execução dessas atividades.
No terceiro momento deste contexto, buscou-se compreender a amplitude da
expressão atividades esportivas para o Programa Mais Educação. Esta
consideração mostrou a necessidade da construção de um conceito próprio e, de
certa forma, mais abrangente que fosse capaz de abraçar todas as atividades
esportivas e recreativas desenvolvidas no macrocampo esporte e lazer, objeto de
análise desta tese.
53
2.4.1 Educação Física e atividades esportivas: dando início aos vínculos com
a educação integral
A Educação Física como prática pedagógica na escola é datada do final do
século XVIII e início do XIX, influenciada pela instituição militar, e principalmente
ligada à área da saúde por meio do cuidado com o corpo.
Segundo Bracht (1999), a Educação Física nasceu para cumprir a função de
colaborar na construção de corpos saudáveis e dóceis, adaptando o homem ao
processo produtivo e econômico, mantendo-se vinculada às instituições escolares
por meio de suas regulamentações e especificidades.
O esporte por sua vez sempre existiu, quer seja por seu caráter utilitarista ou
como desenvolvimento do paradigma aptidão física ou das atividades esportivas.
Cumpre sua função como elemento colaborador na formação da saúde do homem,
desempenhando seu papel como coadjuvante e, na maioria das vezes, como ator
principal.
No final do século XIX e início do século XX, houve no Brasil uma propagação
da prática da Educação Física e, por extensão, das atividades esportivas. As
atividades esportivas começaram a ganhar notoriedade por meio da participação do
país em algumas competições internacionais. Paralelo a este processo de
crescimento desenvolveram-se também as publicações especializadas em
Educação Física e esportes que se tornaram responsáveis pela disseminação das
ideias dos benefícios da prática esportiva e da atividade física.
Aliado ao aumento das publicações sobre Educação Física e esportes emergiu
a relação do esporte com o estado, dando início, ao Decreto Lei nº 3.199, de
14/04/419, que estabeleceu a primeira legislação desportiva no país.
O esporte nacional sofreu um processo de estatização a partir do Estado Novo,
estabelecendo uma coerência efetiva entre as primeiras normas e princípios que
ordenavam e norteavam a organização esportiva do País. Concretiza-se, dessa
forma, a institucionalização destas no Estado Novo, sob a referência e controle do
Estado.
Com o fim do Estado Novo, o Brasil avançou no processo de urbanização, no
desenvolvimento industrial e no aumento dos meios de comunicação de massa. Em 9 Decreto Lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos em
todo o país. Disponível em < www.planalto.gov.br>. Acesso em 07 fev.2013.
54
paralelo ao crescimento social brasileiro, apareceu a influência do esporte sobre a
Educação Física, afirmando-se como um dos principais elementos da cultura
corporal (OLIVEIRA, 2005).
Em 1946, elaborou-se no Brasil uma nova Carta Magna10 (substituindo a de
1937) na tentativa de demonstrar contornos liberais-democráticos que distinguissem
esta dos traços ditatoriais de sua antecessora (CASTELLANI FILHO, 1988). Na área
educacional também apareceram contornos e reflexões de um pensamento mais
liberal ao se começar a construção de um debate em torno da educação nacional.
Em 1948, Clemente Mariano, então Ministro da Educação e Saúde Pública
apresentou o anteprojeto da Lei das Diretrizes e Bases (LDB), presidido pelo então
Diretor Geral do Departamento Nacional de Educação, Professor Manuel Bergstron
Lourenço Filho. O Projeto teve como Relator Geral Antônio Ferreira de Almeida
Júnior.
Até a promulgação da LDB, em 20 de dezembro de 1961, pelo então
presidente João Goulart, 13 anos de tumultuadas discussões se passaram. Estas
delinearam no Brasil o início de um novo pensamento para a educação,
principalmente, para a educação básica.
A Educação Física sempre se fez presente, nas mais distintas formas, na
educação e na legislação, mais especificamente na Lei de Diretrizes e Bases, que, a
partir de sua promulgação em 1961, tornou sua prática obrigatória no sistema
escolar até aos 18 anos de idade.
Ao documentar a prática da Educação Física, na LDB/96, enquanto disciplina,
coube ao Conselho Federal de Educação (CFE) sua regulamentação, mormente por
encontrar-se realizando diversos questionamentos neste período quanto à eficiência
desta atividade, devido a acontecer um número reduzido de aulas nas escolas.
Em maio de 1969, o Centro Nacional de Recursos Humanos do Instituto de
Pesquisas Econômica Aplicada (CNRH-IPEA) do Ministério de Planejamento e a
Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura (DEF-MEC), a
Coordenação Geral e a Divisão de Educação Física do Ministério de Educação e
Cultura, assinam um convênio para a elaboração de um diagnóstico sobre a
Educação Física e o esporte em todo o país.
10
Carta Magna: Constituição Brasileira promulgada em 18 de setembro de 1946.
55
Esse diagnóstico serviu para determinar e apresentar um caráter científico à
Educação Física no Brasil (COSTA, 1971). Neste momento, pretendeu-se construir
um cidadão brasileiro, sem a necessidade de considerar as relações de classe,
revelando uma preocupação no sentido de aprimorar o homem.
Ao afirmar que existe no Brasil uma preocupação da formação do novo homem
brasileiro, voltado para a eficiência produtiva, a sustentabilidade da Educação Física
escolar vai se confirmando, de forma que:
O objetivo prioritário da Educação Física/ Desportos é o da melhoria da aptidão física da população como um todo. Assim sendo, as instalações para a atividade física fazem parte do equipamento básico urbano, da mesma forma as destinadas à recreação passiva.
A tendência prospectiva, localizada diante das crescentes possibilidades econômicas e do tempo livre disponível, é a de deslocar progressivamente a recreação – tanto passiva quanto ativa para a posição de realce na sociedade. Portanto a Educação Física, Desportiva e Recreativa deve regular o enfoque de lazer, a fim de preparar as populações urbanizadas no que se refere às necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais advindas da vida sedentária (COSTA, 1971, p. 20).
Partindo de algumas conclusões levantadas nesse diagnóstico, comprovou-se
que a Educação Física e o esporte cresceram em quantidade de participantes e
importância, mesmo apresentando distorções regionais. Esse estudo serviu de base
para o governo brasileiro estabelecer o aceleramento e a modernização da
legislação esportiva por meio da Lei nº 6.251, de 08 de outubro de 1975. Porém,
esse processo não agradou a opinião pública, e novas considerações foram
efetuadas.
Durante a I Reunião de Ministros de Esportes em Paris, no ano de 1976, ficou
determinado que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) publicaria e faria a divulgação de um documento com as
diretrizes efetivas que referenciassem as questões relativas ao esporte. Esse
documento foi denominado Carta Internacional de Educação Física e Esporte11,
servindo como início para a ressignificação das práticas esportivas e da Educação
Física (BELTRAMI, 2006).
11
Carta Internacional de Educação Física e Esporte, publicada em 1978. Reconhece as práticas
esportivas como direito de todas as pessoas, rompendo o pressuposto de que o esporte tem como única perspectiva o rendimento, reconhecendo o direito de todos ás práticas esportivas.
56
Como reflexo direto das discussões realizadas, foi possível perceber quanto
fundamental era a relevância da modernização do esporte nacional brasileiro. Essas
conversas serviram para caracterizar e modernizá-lo por meio do exercício como
direito de todos, expresso e definido, como: esporte-educacional (esporte na
escola), esporte na comunidade (lazer da comunidade) e esporte institucionalizado
(esporte de rendimento) (TUBINO, GARRIDO e TUBINO, 2007).
As atividades esportivas e a Educação Física (devido a suas características de
formação, educação e desenvolvimento de grupos) e principalmente por meio do
esporte educacional, sustentaram e ainda mantêm uma relação constante com a
educação. Esta afinidade se apresenta continuamente na formulação das
concepções teóricas, metodológicas e pedagógicas educacionais das escolas e das
políticas públicas.
O esporte na comunidade desenvolveu-se com a construção de espaços
públicos para atividades sem a preocupação formal das regras e códigos, apenas
como entretenimento.
No Brasil, o esporte de rendimento era produzido dentro e fora das escolas, por
meio da disciplina de Educação Física e dos clubes, respectivamente. A Comissão
de Reformulação do Esporte Brasileiro de 198512 sugeriu a ampliação do conceito de
esporte no Brasil, saindo da perspectiva única de desempenho para abranger as
concepções de esporte-educação (desenvolvido nas escolas) e esporte-participação
(esporte em forma de lazer).
No momento em que ocorreu a reformulação do esporte no Brasil, tornou-se
necessária, nas instituições escolares a adequação das diferentes compreensões da
Educação Física e dos esportes. Essas novas concepções apresentaram diversas
contradições ao proposto para Educação Física, gerando diferentes práticas desta
disciplina, reflexos das condições históricas e atuais, presentes no cotidiano escolar.
Estas induziram, em alguns casos, na modificação das atividades esportivas
ensinadas e praticadas durante as aulas, permitindo sair do ponto de vista de
rendimento, como único e exclusivo, para o de participação e ou educação.
A compreensão de Educação Física como componente essencial na educação
integral é uma destas concepções propostas pela reformulação do esporte brasileiro,
12
A Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro (1985), presidida por Manoel Gomes Tubino e instalada pelo Decreto nº 91.452, de 19 de julho de 1985, institui a Comissão para realizar estudos sobre o Desporto Nacional.
57
sendo muito utilizada e principalmente nas teorias e elaborações de políticas
públicas de educação integral.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que define e regulariza a
educação brasileira, utilizando como base os princípios norteadores presentes
na Constituição Brasileira, criada em 1961, seguida por uma versão em 1971,
vigorou até a promulgação da mais recente em 1996.
A cada movimento novo de educação, introduz-se na sociedade uma nova
discussão que referenda questões elementares na confirmação da estrutura da
sociedade contemporânea, traduzindo-se em alterações na legislação das bases
educacionais. A Educação Física sempre acompanhou essas alterações mantendo-
se legalizada pela LDB.
As Leis de Diretrizes e Bases são expostas em um quadro comparativo onde
apenas o recorte da Educação Física é apresentando, demonstrando o movimento
cíclico que acompanha toda a educação brasileira, inclusive a Educação Física,
considerada como elemento fundamental na educação, representada no quadro um.
Quadro 1 - Comparativo entre as LDBs em relação à Educação Física.
Fonte: adaptado de BRASIL, 2014.
LDB/1961 LDB/1971 LDB/1996
Lei nº 4.024, de 20.12.1961 Lei nº 5.692, de 11.08.1971 Lei nº 9.394, de 20.12.1996
Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Fixa as Diretrizes e Bases para o Ensino de 1° e 2º Graus, e dá outras providências.
Estabelece as Diretrizes e Bases para a Educação Nacional.
Local onde a
LDB trata da
Educação
Física.
TÍTULO V
Dos Sistemas de ensino: Art. 22 será obrigatória a
prática da Educação Física nos cursos primários e médio até a idade de 18 anos.
CAPÍTULO I
Do Ensino de 1º e 2º graus: Art. 7º Será obrigatória a inclusão
de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observado quanto à primeira o disposto no Decreto-Lei nº 369, de 12.09.1969.
CAPÍTULO II
Seção I
Da Educação Básica, das Disposições Gerais. Art. 26 § 3 a Educação Física integrada à proposta pedagógica da
escola é componente curricular da Educação Básica ajustando-se as faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativo no curso noturno.
Local onde
Educação
Física sofreu
alterações:
Decreto Lei nº 58.130, de 31.03.1966 que: regulamentou a prática da Educação Física no Brasil, conforme previsto na LDB no artigo 22.
Decreto Lei nº 705, de 25.07.1969 que:
Art. 22. Será obrigatória a prática da Educação Física em todos os níveis de escolarização, com predominância esportiva no ensino superior.
Lei nº 5.564, 21.06.1971, altera o Decreto Lei e insere o Parágrafo Único: Os cursos noturnos podem ser dispensados da prática da Educação Física.
* revogada pela
Lei nº 9.394, de 20.12.96.
Em 12.12.2001, a Lei nº 10.308 altera a redação:
§ 3 a Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola é componente curricular obrigatório da Educação Básica ajustando-se
as faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativo no curso noturno.
Em 1º.12.2003, a Lei nº 10.793 altera e insere a redação na LDB.
§ 3 a Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola é componente curricular obrigatório da Educação Básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I - Que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas. II - Maior de 30 anos de idade. III - Que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado a prática da Educação Física. IV- Amparados pelo Decreto Lei nº 1044, de 21.10.69 que atribui caráter de exceção para portadores de afecções congênitas ou adquiridas... V – Vetado. VI - Que tenha prole - decreto Lei nº 10793, de 01.12.2003.
58
A primeira LDB (1961), que regulamentou a existência dos Conselhos
Estaduais de Educação e também do Conselho Federal de Educação, diminuiu um
pouco a centralização da responsabilidade do Ministério da Educação. Apresentou
ainda, no item ―Dos Sistemas de Ensino‖, pela primeira vez, a inserção da
obrigatoriedade da Educação Física, no currículo das escolas, nos cursos primário e
médio. Esta lei compreendeu que deveria manter a obrigatoriedade da prática
somente até aos 18 anos.
A economia brasileira neste período transitava do agrícola para o industrial. A
preocupação da implantação da Educação Física, nos sistemas de ensino,
sustentou-se, principalmente, por meio da preparação física dos jovens estudantes
para o mercado de trabalho, que se ampliava mormente na área industrial.
O Decreto Lei nº 58.130 (1966) veio regulamentar o artigo nº 22, da Lei nº
4.024, (1961), da obrigatoriedade da Educação Física nas escolas. A LDB, de 1961,
considerou como sendo um dos principais objetivos da educação nacional o
desenvolvimento integral da personalidade do homem brasileiro, mantendo uma
ligação intrínseca aos interesses da defesa nacional, para a qual a Educação Física
contribuiu de forma essencial. Este, ao codificar a Educação Física, considerou-a
obrigatória, com os objetivos de utilizar e dirigir as forças do indivíduo (físicas,
morais, intelectuais e sociais) na perspectiva de valer-se da sua totalidade
neutralizando, desta forma, as condições negativas do meio13.
Por sua vez, o Decreto Lei nº 705 (1969) alterou a obrigatoriedade dos
objetivos pertinentes à prática de Educação Física, situando que esta disciplina, no
nível superior, deveria ser preferencialmente esportiva. Este Decreto recebeu um
parágrafo único, via Lei nº 5.564 (1971), que dispensava os cursos noturnos da
prática da Educação Física.
Quando da aprovação da Lei nº 5.692 (LDB, de 1971), as modificações
anteriores foram mantidas, sustentando a obrigatoriedade da Educação Física nas
escolas de 1º e 2º graus e também no nível superior, ainda que estas sejam
preferencialmente desenvolvidas como prática esportiva.
No ano de 1996, o Brasil apresentava uma economia muito diversificada e o
setor industrial tinha maior peso na composição da riqueza nacional seguido pelo
setor de serviços e agricultura. Com uma enorme dívida externa e uma inflação
13
Decreto Lei nº 58.130, de 30.03.1966.
59
quase incontrolável, o país lança o plano real, na tentativa de estabilização
monetária. Diversas reformas constitucionais foram realizadas, dando grande
destaque à privatização dos setores ligados à produção de matéria prima e da
infraestrutura, permitindo redução significativa da dívida pública. Dentre as
propostas, a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional foi reformulada e
aprovada (Lei nº 9394, de 1996).
Esta alteração na legislação representou um grande avanço para a Educação
Física Escolar. Permitiu estabelecer a prática da disciplina e a integração desta à
proposta pedagógica da escola, ajustada às faixas etárias e às condições da
população escolar.
A obrigatoriedade da inclusão da Educação Física integrada ao Projeto
Pedagógico Institucional Escolar permanece hoje ainda, assim como a utilização
desta inserção enquanto referência à construção de projetos e políticas públicas de
educação integrada ou educação integral.
A Educação Física, ao proporcionar uma reflexão das atividades físicas e
esportivas, conquistou sua importância no desenvolvimento da qualidade de vida do
sujeito e na sua integração ao processo pedagógico da escola, contribuindo para
que os objetivos da formação do indivíduo sejam alcançados. Este fato reforçou a
condição de permanência desta mantendo-a integrada a todos os processos
escolares propostos pela Legislação Educacional.
A LDB (1996), ao abranger os processos formativos da família, do trabalho, do
ensino e da pesquisa vinculada ao mundo do trabalho e a prática social, conseguiu
estabelecer com a Educação Física uma relação intrínseca. Esta afinidade das
atividades físicas e esportivas com a sociedade encontra-se reforçada por meio das
diversas intersetorialidades a que tais práticas se propõem, tanto no destaque ao
desenvolvimento corporal e cognitivo quanto na promoção da saúde e na qualidade
de vida, permeando todos os saberes desta disciplina.
As atividades esportivas têm se apresentado dentro e fora das aulas de
Educação Física como um dos elementos que podem proporcionar uma ampla
possibilidade de formar sujeitos democráticos, críticos, tendo como parte fundante e
essencial, o fundamento ético e político, que poderá ser capaz de transformar a
ação e humanizar.
60
TUBINO (2005), ao escrever ―Sports Physical Education and Values for Ethics
in Physical Education and Sports Activities‖ para o boletim da FIEP (Federation
Internationale D’Education Physique) em 2005, afirma que todo o indivíduo, ao
participar de uma ou mais prática de esportes que tenham por objetivo a formação e
a ética de convivência, induz os sujeitos beneficiários dessas atividades a um amplo
desenvolvimento da cidadania, desde que essas práticas esportivas contemplem
princípios socioeducativos.
A carta da UNESCO (Organizações das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura) para a Educação Física (1978) apresenta alguns destaques
essenciais na relação homem, educação, sociedade e Educação Física (artigos 1º,
2º e 3º):
Artigo 1.º
A prática da educação física e do desporto é um direito fundamental de todos.
1.1 Todas as pessoas humanas têm o direito à educação física e ao desporto, indispensáveis ao desenvolvimento da sua personalidade. O direito ao desenvolvimento das aptidões físicas, intelectuais e morais, através da educação física e do desporto, deve ser garantido, tanto no quadro do sistema educativo, como nos outros aspectos da vida social.
1.2 Todas devem ter a possibilidade de praticar educação física, de melhorar a sua condição física e de atingir o grau de aptidão desportiva correspondente às suas capacidades, em conformidade com a tradição desportiva do respectivo país.
1.3 Devem ser dadas condições especiais aos jovens, inclusive às crianças em idade pré-escolar, aos idosos e às pessoas com deficiência, a fim de permitir o desenvolvimento integral da sua personalidade, através de programas de educação física e de desporto adaptados às suas necessidades.
Artigo 2.º
A educação física e o desporto constituem um elemento essencial de educação permanente no sistema global de educação.
2.1 A educação física e o desporto, elementos essenciais da educação e da cultura, devem desenvolver as aptidões, à vontade e o autocontrole das pessoas humanas e contribuir para a sua inserção social.
2.2 Ao nível individual, a educação física e o desporto contribuem para a preservação e a melhoria da saúde, para uma sã ocupação dos tempos livres e permitem às pessoas resistir melhor aos contratempos da vida moderna. Ao nível social, enriquecem as relações sociais e desenvolvem o desportivismo (―fair play‖), indispensável à vida social, para além do próprio desporto.
2.3 Qualquer sistema global de educação deve reservar para a educação física e o desporto o lugar e a importância necessários ao estabelecimento do equilíbrio e reforço das relações entre as atividades físicas e os outros elementos de educação.
61
Artigo 3.º
Os programas de educação física e de desporto devem corresponder às necessidades dos indivíduos e da sociedade
3.1 Os programas de educação física e de desporto devem ser concebidos em função das necessidades e das características pessoais dos praticantes, assim como das condições institucionais, culturais, socioeconômicas e climáticas de cada país. Eles devem dar prioridade às necessidades dos grupos especialmente cadenciados no seio da sociedade.
3.2 Num processo de educação global, os programas de educação física e de desporto devem contribuir, tanto pelo seu conteúdo, como pelos seus horários, para a criação de atitudes e comportamentos propícios ao desenvolvimento da pessoa humana.
3.3 O desporto de competição, mesmo durante as manifestações de espetáculos, deve permanecer, seguindo o ideal olímpico, ao serviço do desporto educativo, seu corolário e glória. Ele deve estar livre de qualquer influência de interesses comerciais baseados na obtenção de lucros (UNESCO, 1978).
O Manifesto Mundial da Educação Física (2000) destaca a relação homem,
educação, sociedade e Educação Física. Tubino (2005) vem ratificar esse
documento quando afirma que cidadania, formação e ética de convivência podem
ser construídas a partir das práticas esportivas, do esporte/educação e de princípios
socioeducativos desenvolvidos por profissionais de Educação Física.
O Manifesto confirma que a educação e a aprendizagem não acontecem
somente nas escolas, mas incidem a todo o momento e em todos os lugares,
notando-se que os espaços de aprendizagem se modificam e se ampliam muito
rapidamente. Este fator se reflete também no esporte que vai adequando-se,
normatizando-se de forma acelerada e acompanhando as mudanças propostas pela
globalização da educação e das atividades esportivas.
Ao se compreender a ampliação dos espaços de aprendizagem, bem como, a
exigência de um novo profissional adaptado às mudanças, tornou-se necessário o
desenvolvimento de competências14 e habilidades para ambos: profissional e
educando.
Estas habilidades e competências (de compreender e colocar em prática)
delineadas pela globalização da educação, apresentam a intenção de formar um
novo sujeito, mais exigente, mais crítico. Na perspectiva de se atingir os objetivos de
14
A definição de competência, implica na aquisição de um conjunto de conhecimentos e processos
que poderão nortear na compreensão, interpretação e resolução de problemas. Já o termo habilidades pressupõe ser capaz de colocar em prática o que se aprende.
62
transformação do indivíduo frente às mudanças, a educação mostra-se como o
principal caminho.
Ao se perceber a ressignificação dos espaços de ensino aprendizagem,
identificou-se a necessidade de um profissional que seja capaz de estabelecer um
vínculo entre as atividades realizadas (no caso, as esportivas, físico, recreativas)
com todo o processo ensino aprendizagem das instituições escolares.
As reformas educacionais mostram essa tendência e identificam as escolas
como locais de transformação, apresentando como referência alguns conceitos
como autonomia, gestão descentralizada e avaliação crítica de todos os envolvidos
neste processo.
Oliveira e Duarte (2011) afirmam que a instituição escolar é um ambiente de
aprendizagem, de construção coletiva e de participação ativa de todos na tomada de
decisões. Para educar, é preciso o envolvimento de todos, não obstante apenas o
conhecimento e domínio das competências educacionais, é preciso mais do que
isso, é preciso clareza nos objetivos.
Construir um modelo de educação não é uma tarefa simples. Ao pretender
formar o indivíduo como integrante e um agente modificador na concepção deste
novo período torna-se necessário o desenvolvimento neste de capacidades de
compreensão e habilidades de principalmente saber fazer, justificados pela era
globalizada.
Ao se referir à globalização, Touraine (1996) afirma que presente no conceito
desta, compreendida como uma gama de fatores esconde-se a ideologia
neoliberal.15 Essa forma de compreensão ideológica afeta a educação escolar de
várias maneiras, essencialmente na necessidade de formar um novo sujeito, mais
flexível, mais polivalente, adaptado a sociedade contemporânea.
Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) preconizam que a globalização é um reflexo
de um somatório de várias transformações. A instituição escolar como parte
integrante destas vem se modificando e questionando seu papel frente às
transformações políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo.
A educação legitimada por meio das políticas e diretrizes educacionais norteia
o desenvolvimento institucional da escola e da formação do educando, atribuindo à
15
Ideologia neoliberal pode ser considerada como um conjunto de ideias políticas e econômicas
capitalistas que defendem a não participação do estado na economia, para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país.
63
instituição educacional, a necessidade de produzir e modificar as suas práticas
escolares, por conta do avanço tecnológico e das políticas públicas educacionais
que representam um reflexo desta globalização.
Alguns modelos de escola e de políticas educacionais fazem com que esta
escola globalizada, politizada, atualizada continue excluindo os que ―não são feitos
para ela‖, apesar de os manter em seu interior, relegando-os a um ensino
desvalorizado e outorgando-lhes um diploma sem valor no mercado.
Ao permitir compreender o papel da escola, o papel do ensino, das políticas e
dos processos de transmissão familiares que estes podem exercer, Bourdieu (1983)
realiza uma análise dos impactos geradores representados pelo papel da escola no
mundo contemporâneo. Preocupa-se ainda com o fato de que as políticas públicas
possam agravar as desigualdades, por estarem oferecendo privilégio aos
conhecimentos associados aos padrões de elite, acrescentando que a escola nunca
exerceu um papel tão importante, embora chame a atenção para os aspectos
ligados à crítica do sistema escolar.
O governo federal, por meio do Ministério da Educação, vem desenvolvendo
diversas ações e projetos voltados para solucionar as lacunas na educação
brasileira, dividindo-a em níveis educacionais definidos como: Educação Superior,
Educação Profissional e Tecnológica, Educação Básica, Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão.
Cada nível educacional apresenta diversos programas, que têm como
responsáveis suas secretarias. Aqui, destacamos a Secretaria de Educação Básica,
à qual compete:
[...] zelar pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. A educação básica é o caminho para assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Atualmente os documentos que norteiam a educação básica são a Lei nº 9.394, que estabelece que as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e o plano Nacional de Educação para os anos 2011-2020. [...]. Outros documentos fundamentais são a Constituição da República Federativa do Brasil e o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2014, p.1).
64
Fazem parte da Secretaria de Educação Básica (2014) os seguintes
programas:
Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: O objetivo do pacto é
alfabetizar em Português e Matemática todas as crianças até os oito anos de
idade, no final do 3º ano do Ensino Fundamental. O programa irá apoiar as
escolas públicas em diferentes necessidades: formação continuada de
professores alfabetizadores, distribuição materiais didáticos e pedagógicos
específicos para alfabetização, obras literárias, além de outras tecnologias
educacionais, como jogos.
Ensino Médio Inovador (ProEMI): integra as ações do Plano de
Desenvolvimento da Escola (PDE), como estratégia para induzir a
reestruturação dos currículos do Ensino Médio na perspectiva da Educação
Integral. O ProEMI compreende que as ações propostas inicialmente
incorporadas ao currículo escolar, ampliando o tempo dos estudantes na
escola e a diversidade de práticas pedagógicas, atendendo às necessidades e
expectativas em prol da equidade social e racial na educação.
Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio (PNEM): representa a articulação e
a coordenação de ações estratégicas entre os poderes federais, estaduais e
municipais na formulação e implantação de políticas para elevar a qualidade do
Ensino Médio brasileiro.
PROINFANCIA: Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de
Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil procurando
oportunizar aquisição de equipamentos para a rede física escolar desse nível
educacional, considerando estes como indispensáveis à melhoria da qualidade
da educação.
Programa Saúde na Escola (PSE): contribui para a formação integral dos
estudantes por meio de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças,
visando o enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno
desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens da rede pública.
65
Atleta na Escola: Considerando o cenário esportivo atual do Brasil (Copa do
Mundo 2014, Olimpíadas e Paralimpíadas em 2016), o programa de formação
esportiva escolar tem os objetivos de incentivar a prática esportiva nas escolas,
democratizar o acesso ao esporte, desenvolver e difundir valores olímpicos e
paralímpicos entre estudantes de educação básica, estimular a formação do
atleta escolar e identificar e orientar jovens talentos. O governo federal, em
parceria com os estados, Distrito Federal e municípios, com o intuito de
alcançar os objetivos expostos, lança o Programa de Formação Esportivo
Escolar composto de duas ações: 1) Jogos Escolares: competições que
identificarão talentos na modalidade de atletismo; 2) Núcleo de Esporte Escolar
(NEE): acolhimento dos talentos identificados nos jogos escolares.
Formação continuada para professores: Vários programas com a finalidade de
atualização permanente dos professores. Destacam-se, dentre eles: Formação
no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa; Proinfantil; Plano
Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR); Proinfo
Integrado; e-Proinfo; Pró-letramento; Gestar II.
Livros e materiais para escolas, estudantes e professores: Programa Nacional
Biblioteca da Escola (PNBE); Programa Nacional do Livro Didático (PNLD);
Coleção Explorando o Ensino; Publicações da Secretaria de Educação Básica.
Tecnologia a serviço da educação básica: TV Escola; Portal do Professor; Salto
para o Futuro; Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE); Domínio
Público; Guia de Tecnologias.
Apoio a Gestão Educacional: Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE);
Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação (PRADIME);
Escola de Gestores da Educação Básica; Programa Nacional de
Fortalecimento dos Conselhos Escolares; Programa Nacional de Capacitação
dos Conselheiros Municipais de Educação (Pró-Conselho).
Infraestrutura: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é o
responsável pela execução de políticas públicas educacionais do Ministério da
Educação; Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, de
fundo especial de natureza contábil e de âmbito estadual; Plano de Ações
66
Articuladas; Caminho da Escola – Transporte Escolar; Dinheiro Direto na
Escola; Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Avaliações da Aprendizagem: É Coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Composto por: Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB); Sistema de Avaliação da
Educação Básica (SAEB); Prova Brasil; Provinha Brasil.
Prêmio e Competições: Olimpíada Brasileira de Matemática para as Escolas
Públicas (OBMEP); Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo para o Futuro
(OLP); Prêmio Professores do Brasil.
TV Escola: Canal de educação destinado a professores e educadores, um
canal para quem se ―preocupa com educação ou simplesmente aprender‖.
Programa Mais Educação: Instituído pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e
regulamentada pelo Decreto nº 7.083/10, de indução à ampliação da jornada
escolar e à organização curricular na perspectiva da educação integral.
Diversos são os programas de governo implantados para melhoria da
educação no País, nos mais variados níveis educacionais. Destacam-se, dentre
eles, os Programas voltados para a Educação Básica, no caso, principalmente o
Programa Mais Educação, considerado um Programa indutor à educação integral,
objeto de estudo desta tese.
2.4.2 Esporte e lazer: opção do Programa Mais Educação
Ao transcorrer em um primeiro momento, um diálogo com o PME, constitui-se
uma compreensão do que é proposto pelo macrocampo esporte e lazer e suas
interlocuções. É possível perceber neste contexto como se encontra configurada
cada uma dessas linguagens, incluídas pelo macrocampo e em consonância com o
Programa Mais Educação.
67
A compreensão destes fenômenos é elemento essencial na busca por
estabelecer uma ideia própria que defina um conceito específico para atividades
esportivas. Pretendeu-se constituir um vínculo entre os objetivos estabelecidos pelo
Programa Mais Educação e os objetivos propostos para esta tese.
Considerando os principais documentos norteadores do PME (Constituição
Federal/1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8.069/90, Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9.394/96) é possível identificar que
todos sempre exibem como destaque no planejamento de políticas públicas a
perspectiva de garantir a crianças e adolescentes o direito à educação e à proteção
integral.
Inúmeras políticas governamentais ou ações vêm sendo desenvolvidas ao
longo desses anos pelo governo federal a serviço da educação básica, tendo como
destaque o Ensino Médio Inovador, Pro - Infância, Saúde na Escola, Atleta na
Escola, Formação Continuada para Professores, Livros e Materiais para as Escolas,
Estudantes e Professores, Tecnologia.
Todos os programas, indistintamente, funcionavam de forma individualizada e
com muito pouco alcance, conforme dados do Ministério da Educação
disponibilizados em 2013 (BRASIL, 2014). Em 2007, o Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE) pretendeu construir uma perspectiva de alinhamento entre as
políticas educacionais com a finalidade de garantir uma educação inclusiva e de
qualidade.
Organizado em torno da educação básica, superior, profissional e
alfabetização, o PDE considerou eixos norteadores que objetivam dar continuidade
às metas quantitativas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE). O
Programa Mais Educação (PME) se destacou e se destaca dentre os programas de
governo, por apresentar como finalidade: expressar o enlace necessário, entre
educação, território e desenvolvimento de um lado e o enlace entre qualidade,
equidade e potencialidade, de outro (BRASIL, 2007b).
O objetivo do PME é fomentar a educação integral por meio do apoio a
atividades socioeducativas no contraturno escolar. A Portaria Interministerial nº 17,
de 24 de abril de 2007, que o instituiu, também define sua concepção de educação
integral, como possibilidade de formação integral do ser humano:
68
Art. 1º - Instituir o Programa Mais Educação, com o objetivo de contribuir para a formação integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio de articulação de ações, de projetos e de programas do Governo Federal e suas contribuições às propostas, visões e práticas curriculares das redes públicas de ensino e das escolas, alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes, métodos, processos e conteúdos educativos.
Parágrafo único – o programa será implementado por meio de apoio à realização, em escolas e outros espaços socioculturais, de ações sócio educativas no contraturno escolar, incluindo os campos da educação, artes, cultura, esporte, lazer, mobilizando-os para a melhoria do campo educacional, ao cultivo de relações entre professores, alunos e suas comunidades, à garantia da proteção social da assistência social e à formação para a cidadania, incluindo perspectivas temáticas dos direitos humanos, consciência ambiental, novas tecnologias, comunicação social, saúde e consciência corporal, segurança alimentar e nutricional, convivência e democracia, compartilhamento comunitário e dinâmica de redes (BRASIL, 2007a, p. 2).
Destaca-se, dentre o conjunto de atribuições do PME, o art. 6º que orienta a
ampliação do tempo escolar, direcionando-o à formação integral do indivíduo. Tem o
intuito de contemplar o aumento do tempo e dos espaços educativos pautados pela
noção de formação integral e emancipadora.
O PME apresenta como principal estratégia a mediação dos saberes para a
caracterização da educação integral, considerada como principal objetivo deste
programa enquanto política pública indutora de educação integral.
O programa hoje se estrutura em macrocampos, diferenciados para escolas do
campo16 e para as escolas urbanas.
As escolas denominadas escolas do campo possuem os macrocampos:
Acompanhamento Pedagógico; Agroecologia; Cultura Artes e Educação Patrimonial;
Educação em Direitos Humanos; Esporte e Lazer; Iniciação Cientifica; Memória e
História das Comunidades Tradicionais.
Para as escolas urbanas, o Programa Mais Educação prevê os macrocampos:
Acompanhamento Pedagógico; Comunicação e uso de Mídias e Cultura Digital e
Tecnológica; Cultura, Artes e Educação Patrimonial; Educação Ambiental
Desenvolvimento Sustentável e Economia Solidária e criativa, Educação Econômica;
Esporte e Lazer.
O macrocampo acompanhamento pedagógico é o único obrigatório, tanto nas
escolas do campo, quanto nas escolas urbanas. Para o Programa Mais Educação,
cada um dos macrocampos dialoga diretamente com os programas de governo, que
16
Escolas do campo: Escola vinculada aos povos do campo, ou seja, para os que vivem no meio rural.
69
servem de referência para a transferência de recursos por meio do Programa
Dinheiro Direto na Escola - PDDE, do Fundo Nacional do Desenvolvimento da
Educação (FNDE) e também para as escolhas pedagógicas e o potencial educativo
dos Programas Ministeriais, assim exemplificados:
Ministério do Esporte: Esporte e Lazer da Cidade - PELC e Segundo Tempo;
Ministério da Cultura: Cine Clube na Escola; Cultura Viva; Casas do
Patrimônio;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: Programa de
Atenção Integral à Família; Projovem Adolescente; Centro de Referência
Especializado de Assistência Social - CREAS e Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil - PETI;
Ministério da Ciência e da Tecnologia: Casa Brasil Inclusão Digital; Centros
Vocacionais Tecnológicos e Centros Museus da Ciência;
Ministério da Educação: Com Vidas; Comissão Meio Ambiente e Qualidade de
Vida; Educação e Direitos Humanos; Educação Inclusiva: direito à diversidade;
Escola que Protege; Escola Aberta; Educar na Diversidade; Sala de Recursos
Multifuncionais e PROINFO;
Ministério do Meio Ambiente: Sala Verde; Municípios Educadores Sustentáveis
e Viveiros Educadores.
O Ministério do Esporte é responsável por construir uma Política Nacional de
Esporte. Sua estrutura é configurada em duas Secretarias: Secretaria Nacional de
Esporte de Alto Rendimento, responsável pelo esporte na perspectiva de rendimento
e a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social
(BRASIL,2014).
Ao executar diversas ações de inclusão social por meio do esporte este órgão
procura garantir à população o acesso gratuito à prática esportiva e a uma melhor
qualidade de vida.
A essa Secretaria compete:
70
Fazer proposições sobre assuntos da sua área para compor a política e o
Plano Nacional de Esporte;
Coordenar, formular e implementar políticas relativas ao esporte educacional,
desenvolvendo gestão de planejamento, avaliação e controle de programas,
projetos e ações;
Implantar as diretrizes relativas ao Plano Nacional de Esporte e aos Programas
Esportivos Educacionais, de Lazer e de Inclusão Social;
Planejar, supervisionar, coordenar e realizar estudos compreendendo: o
desenvolvimento das políticas, programas e projetos esportivos educacionais,
de lazer e de inclusão social; a execução das ações de produção de materiais
esportivos em âmbito nacional; a execução das ações de promoção de
eventos;
Zelar pelo cumprimento da legislação esportiva, relativa à sua área de atuação;
Prestar cooperação técnica e assistência financeira supletiva a outros órgãos
da administração pública federal, aos Estados, ao Distrito Federal, aos
Municípios e às entidades não governamentais sem fins lucrativos, nas ações
ligadas aos programas e projetos sociais esportivos e de lazer;
Manter intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais,
internacionais e com governos estrangeiros, em prol do desenvolvimento dos
programas sociais esportivos e de lazer;
Articular-se com os demais segmentos da administração pública federal, tendo
em vista a execução de ações integradas na área dos programas sociais
esportivos e de lazer;
Planejar, coordenar e acompanhar estudos e pesquisas com as universidades
e outras instituições correlatas com vistas à obtenção de novas tecnologias
voltadas ao desenvolvimento do esporte educacional, recreativo e de lazer para
a inclusão social; e articular-se com os demais entes da Federação para
implementar política de esporte nas escolas (BRASIL, 2014).
71
Ao definir o esporte e lazer como um de seus macrocampos, o PME opta por
um vínculo pedagógico e esportivo aliado ao potencial educativo dos Programas de
Esporte e Lazer da Cidade - PELC e Segundo Tempo, ambos vinculados ao
Ministério do Esporte, reafirmando desta forma a importância da prática dessas
atividades no âmbito escolar.
O Programa de Esporte e Lazer da Cidade (PELC) visa oferecer o acesso ao
esporte e ao lazer como possibilidade de emancipação e desenvolvimento humano.
É constituído por ações voltadas para a consolidação destes como política pública.
O PELC foi constituído com a pretensão de democratizar e garantir o acesso
da população às oficinas de atividades físicas, esportivas, artísticas, manuais,
intelectuais, turísticas e sociais, e ainda aos eventos como ruas de lazer, colônia de
férias, gincanas e festivais. As principais estratégias empregadas para se alcançar
os objetivos propostos são definidas pela implantação de Núcleos de Esporte e
Lazer, espaços de convivência social, onde são planejadas e desenvolvidas as
manifestações esportivas e de lazer como princípio da gestão democrática e
participativa. O Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Esporte e do Lazer se
configura como um dos elementos fundamentais a serem implantados e
desenvolvidos no PME por meio do PELC.17
O Programa Segundo Tempo (PST) se caracteriza pelo acesso a diversas
modalidades esportivas e às ações complementares oferecidas no contraturno
escolar. Estas atividades podem ser desenvolvidas na escola ou em espaços
comunitários.
O PST apresenta, como estratégia para as atividades esportivas, a oferta
destas no contraturno, com frequência mínima de três vezes por semana e duas
horas ao dia. É necessário que os núcleos ofereçam, no mínimo, três modalidades
esportivas, sendo duas coletivas e uma individual de acordo com a escola. Ao definir
como objetivo a oferta de práticas esportivas educacionais em condições adequadas
e de qualidade, o programa pretende estimular crianças e adolescentes a manter a
interação efetiva da prática com o meio social, contribuindo na formação integral
deste sujeito.
As interfaces pedagógicas propostas pelo Programa Segundo Tempo:
17
Os argumentos postos nesse parágrafo são encontrados no Caderno Gestão Intersetorial no
Território da Série Mais Educação (MEC/ SECADI, 2009c).
72
Oferta de atividades esportivas, integradas ao projeto pedagógico da escola;
Utilização dos espaços físicos já existentes e ociosos;
Vinculação de recursos humanos das áreas da Educação Física, Pedagogia ou
Esporte oportunizando a experiência profissional e a qualificação;
Oferta de atividades esportivas a cada beneficiado;
Incentivo à realização de eventos que promovam a integração entre
beneficiados, família e comunidade;
Acompanhamento e avaliação permanente das ações;
Integração do programa com outros projetos e ações sociais que possam
potencializar o atendimento promovido (MEC/SECADI, 2009c).
Essas interações com outros programas governamentais permitem ao PME
fazer com que a escola receba diferentes recursos, de diversos programas. Estes
podem ser executados interligados e exercidos em uma mesma atividade esportiva.
Em uma exemplificação mais concreta, pode-se afirmar que uma atividade esportiva
pode receber recursos do Programa Mais Educação e do Programa Segundo Tempo
concomitantemente.
A SECADI identificou os Programas Segundo Tempo e Esporte e Lazer da
Cidade como que dialogando diretamente com o PME. Essa articulação oportunizou
à escola manter-se como protagonista na formação do sujeito, ainda que se
mantenha interagindo com todos os processos sociais. Possibilitou a compreensão
de elementos essenciais na construção do homem, entendendo desta forma que sua
ação é necessária, mas dividindo as responsabilidades nas tarefas de educar os
sujeitos.
Uma das principais tarefas na educação do sujeito é garantir a este todos os
direitos inerentes a pessoa humana oferecendo-lhe garantia de proteção integral. A
prática do desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade também são priorizadas no programa e na Constituição
Federal.
73
O PME ao propor às escolas tanto do campo quanto as urbanas, uma indução
à educação integral conseguiu unificar o direito ao lazer, às práticas esportivas, à
educação e também à proteção e guarda dessas crianças.
Ao estabelecer como ponto de pesquisa a rede Municipal da Cidade de
Salvador, automaticamente define-se a investigação do Programa Mais Educação,
apenas para as escolas denominadas Escolas urbanas. O macrocampo esporte e
lazer proposto pelo PME para essas instituições apresenta inúmeras atividades
esportivas que podem ser escolhidas no manual operacional como forma de
oportunizar atividades físicas e recreativas dentro do processo de Educação Integral.
Para o manual operacional do Programa Mais Educação, o macrocampo
esporte e lazer representa:
Atividades baseadas em práticas corporais, lúdicas e esportivas, enfatizando o resgate da cultura local, bem como o fortalecimento da diversidade cultural. As vivências trabalhadas na perspectiva do esporte educacional devem ser voltadas para o desenvolvimento integral do estudante, atribuindo significado às práticas desenvolvidas com criticidade e criatividade. O acesso à prática esportiva por meio de ações planejadas, inclusivas e lúdicas visa incorporá-la ao modo de vida cotidiano (BRASIL, 2014, p.15).
São apresentadas como opções de atividades esportivas: Atletismo;
Badminton, Basquete; Basquete de rua; Corrida de orientação; Futebol; Futsal;
Ginástica rítmica; Handebol; Judô; Karatê; Luta Olímpica; Natação; Recreação e
Lazer/Brinquedoteca; Taekwondo; Tênis de campo; Tênis de mesa; Voleibol; Vôlei
de Praia; Xadrez tradicional; Xadrez virtual; Yoga/Meditação.
O Manual Operacional de Educação Integral (2014), utilizado como referência
na composição e implantação do Programa Mais Educação, apresenta as ementas
para o macrocampo esporte e lazer, assim determinadas pela SECADI, como:
Atletismo; Badminton; Basquete; Futebol; Futsal; Handebol; Natação; Tênis de
Campo; Tênis de Mesa; Voleibol; Vôlei de Praia; Xadrez Tradicional e Xadrez
Virtual - Apoio às práticas esportivas para o desenvolvimento integral dos
estudantes pela cooperação, socialização e superação de limites pessoais e
coletivos, proporcionando, assim, a promoção da saúde.
Basquete de Rua - Movimento esportivo-cultural, surgido espontaneamente
como forma de lazer e entretenimento social, faz interface com a Cultura Hip-
74
Hop, sob a lógica da interação sociocultural garantindo a prática esportiva
saudável e fortalecendo a cultura urbana.
Corrida de Orientação - Trata-se de uma atividade multidisciplinar, na qual o
terreno exige vivências motoras, cognitivas e físicas variadas. O mapa de
orientação deve retratar detalhes de uma região (relevo, vegetação, hidrografia,
edificações e outros) por meio de símbolos.
Esporte da Escola/Atletismo e Múltiplas Vivências Esportivas - Ação
pedagógica, por meio de uma proposta planejada, inclusiva, participativa, que
possibilita o desenvolvimento de diversas modalidades, tais como: futebol,
voleibol, basquetebol, handebol, futsal, jogos e brincadeiras, tendo o atletismo
como base. As atividades devem valorizar o prazer e o lúdico, pressupostos do
Esporte Educacional.
Ginástica Rítmica - Esse esporte envolve a prática de evoluções especiais,
numa combinação de elementos, que exige força, equilíbrio e precisão.
Também inclui exercícios de solo, isto é, performances que são executadas
numa espécie de tablado, com movimentos acrobáticos, associados na forma
de coreografias. Possui grande valor para promoção da disciplina,
concentração e desenvolvimento corporal.
Judô, Karatê, Luta Olímpica e Taekwondo - Estímulo à prática e vivência das
manifestações corporais relacionadas às lutas e suas variações, como
motivação ao desenvolvimento cultural, social, intelectual, afetivo e emocional
de crianças e adolescentes. Acesso aos processos históricos das lutas e suas
relações às questões histórico-culturais, origens e evolução, assim como o
valor contemporâneo dessas manifestações para o homem. Incentivo ao uso e
valorização dos preceitos morais, éticos e estéticos trabalhados pelas lutas.
Recreação e Lazer/Brinquedoteca - Incentivo às práticas de recreação e lazer
como potencializadoras do aprendizado das convivências humanas em prol da
saúde e da alegria. Priorização do brincar como elemento fundamental da
formação da criança e do adolescente.
Yoga/Meditação - Atividades que estimulem o funcionamento do cérebro, a
inteligência e a criatividade, contribuindo para a aprendizagem dos estudantes.
75
Desenvolvimento de exercícios respiratórios, controle da energia vital, cujo
resultado traz efeito calmante, potencializando atividades cotidianas, pois
tranquiliza o corpo e o fluxo do pensamento.
O Programa Mais Educação desenvolveu no Caderno Rede Saberes - Mais
Educação, Pressupostos para Projetos Pedagógicos de Educação Integral
(SECADI/MEC, 2009c) uma mandala que representa o diálogo de saberes na
construção da educação integral. Visualizando-se, de forma clara, a proposta
pedagógica deste Programa de Governo, para o macrocampo esporte e lazer;
representado pelo Ministério do Esporte e seus subprogramas.
Figura 1- Mandala do Programa Mais Educação e Ministério dos Esportes
Fonte: Adaptado de MEC/SECADI (2009c).
76
Esta proposta encontra-se pautada na descoberta de novas formas de
perceber as regras e os jogos esportivos e como princípio conhecer outros povos do
mundo via atividades esportivas. Além disso, procura por meio desta concepção
analisar os jogos e as diferenças de gênero, desenvolvendo noções de conjunto e
de trabalho em equipe.
Ao identificar a amplitude de objetivos na representação da mandala,
percebeu-se a necessidade da compreensão do que é proposto para as diversas
atividades práticas recreativas e esportivas por meio do Programa Mais Educação.
Na busca de se construir indicadores de avaliação que figurassem como elementos
integrantes da constituição e na formação do sujeito integral, identificou-se a
necessidade da elaboração de um conceito próprio, de atividades esportivas, que
comportasse todas as propostas do PME para esta área do conhecimento. Este
utilizado como principal elemento de análise desta tese.
2.4.3 Atividades esportivas: um conceito estruturado
As atividades de esporte e lazer consideradas como elementos integradores e
indispensáveis no fomento de uma concepção de educação integral ganham
destaque e notoriedade no Programa Mais Educação. Destacam-se, mais
precisamente, por se configurarem como uma das principais opções de escolha das
atividades desenvolvidas no contraturno escolar, nas instituições executoras do
programa.
As práticas esportivas representam no PME uma ferramenta pedagógica que
agrega valor à Educação, principalmente no desenvolvimento de competências e
habilidades necessárias à aprendizagem dos alunos. Estas atividades programadas
precisam, necessariamente, estar vinculadas ao Projeto Pedagógico da Instituição
executora.
Para que se possa investigar se as atividades esportivas se encontram
atendendo ao que se propõe, e se estão em consonância com os projetos político-
pedagógico das escolas, foi necessário primeiro entender o que esta tese
compreende e define por atividades esportivas. Esta compreensão requereu a
77
construção de um conceito próprio que abarcasse todos os elementos definidos para
o macrocampo esporte e lazer.
Ao pensar na estruturação do conceito ―atividades esportivas‖, ponderou-se
uma série de questões, descritas como essenciais, principalmente no trato de novas
demandas e exigências sociais. Estas, consideradas identitárias, precisaram ser
enfrentadas e criticadas, observando desta forma um maior rigor nesta construção
conceitual (MELO, 2010).
Koselleck (1992) nos oportuniza um olhar mais aprofundado para a diferença
entre palavra e conceito. Ao afirmar que, ―todo conceito se prende a uma palavra,
mas nem toda palavra é um conceito social e político‖, propõe uma análise mais
aprofundada quando da construção e estruturação de uma expressão conceitual.
Ao estruturar o conceito ligado ao movimento histórico e também às novas
demandas sociais, tornou-se possível estabelecer a construção deste, de forma que
represente a identidade do movimento a ser constituído, neste caso, o de atividade
esportiva.
Observando o macrocampo abordado, que é definido pelo MEC/SECADI como
esporte e lazer compreendeu-se a inserção deste em uma política pública por meio
de suas influências históricas e sociais, configuradas na sua proposta pedagógica,
cuja construção está refletida na elaboração do Programa Mais Educação e
abordada no contexto de influência e de produção do texto.
A construção conceitual da expressão ―atividades esportivas‖ encontra
ancoragem na história da construção das palavras, que posteriormente contribuíram
na definição do próprio conceito.
O termo sport é uma palavra inglesa, estruturada como conceito no período
que compreende o século XV ao XX. Já os franceses, nos séculos XIX-XX, passam
a utilizar desport (variante de deport que significa divertimento), hoje definido por
Ferreira (2004, p. 233) como: sm. V. esporte (1).
Segundo Melo (2010), o Brasil, a partir da metade do século XX, passou a
utilizar o termo esporte, assim também em outros idiomas como o inglês, o francês,
o alemão e o italiano. Em Portugal, ainda é utilizada a palavra desporto, bem como
os espanhóis utilizam o termo deporte. Para o autor, a palavra sport se manteve no
decorrer da história até que em determinando momento, se desenhou o que
chamamos de esporte moderno.
78
Não se pretendeu estabelecer um percurso histórico na construção do conceito
esporte. Entretanto, tornou-se um elemento fundamental a compreensão deste. Para
esse autor é preciso que se defina o início e término de um movimento dentro de
uma perspectiva histórica e, ao mesmo, tempo atual. Para esta tese, foi necessário
identificar subsídios e tendências, considerados essenciais na estruturação da
expressão ―atividade esportiva‖, como conceito.
Melo (2010) estabelece um olhar que admite identificar duas grandes
tendências referentes ao tema esporte. A primeira afirma que a manifestação
esportiva já existia na Antiguidade, sendo perceptível em jogos que eram praticados
por chineses, egípcios, gregos, romanos, dentre outros.
Já a segunda tendência procura entender esporte como um fenômeno
moderno, que, mesmo apresentando similaridades técnicas com as antigas
manifestações culturais, possui sentidos e significados bastante diferenciados
daqueles jogos denominados ―pré-desportivos‖.
Tubino, Garrido e Tubino (2007) ao afirmarem que o esporte poderia ser
classificado em antigo e moderno, fortalecem a divisão entre o mundo
contemporâneo e o mundo antigo, referindo-se a fatores históricos. O esporte antigo
abrange toda a Antiguidade até o século XIX. O esporte moderno iniciou em 1820,
na Inglaterra, com Thomaz Arnold, que codificou os jogos existentes e levou o
esporte à institucionalização e também ao esporte contemporâneo.
A perspectiva do esporte de rendimento, neste momento, era a única opção
definida para o termo, que, com a publicação da Carta Internacional de Educação
Física e Esporte pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO, 1978), rompe sua construção de rendimento/desempenho
tornando-se direito de todos.
O esporte neste momento necessitou de renovação e modificação. Não apenas
na sua palavra, no seu conceito, mas também, na sua prática e em seus objetivos.
Precisou abandonar a sua única e exclusiva definição, a perspectiva de rendimento
e procurar atender as modificações que se apresentavam, justificado pelas
demandas sociais que ora se impunham à sociedade.
79
Quando discutem a renovação do esporte como princípios norteadores, Tubino,
Garrido e Tubino (2007), abordam este sob a perspectiva baseada em suas novas
dimensões: Esporte – Educação18, Esporte – Lazer19, Esporte – Rendimento20.
Com esta nova perspectiva de esportes, diversas formas foram se
configurando como os esportes para a terceira idade, as atividades práticas para
portadores de deficiências que mais tarde viriam se tornar os esportes adaptados.
Devido às novas possibilidades e à amplitude da abrangência do termo esporte
e também para a expressão atividades esportivas, tornou-se preciso, nesta tese,
definir um conceito próprio que possibilitasse abranger todas as áreas envolvidas no
contexto da prática do Programa Mais Educação, no macrocampo esporte e lazer.
O conceito de atividades esportivas foi construído a partir da utilização das
ideias de Koselleck (1992) quanto ao rigor e às análises das interpretações
relacionadas à sua construção.
A perspectiva histórica de Melo (2010) encontra-se presente nas referências
constitucionais do conceito e nas tendências do tema e, ainda, Weineck (2003)
forneceu subsídios como fomentador na estruturação do conceito proposto.
Na sua construção, tornou-se necessário, apresentar em destaque algumas
definições já contextualizadas e experimentadas por diversos autores, nas áreas
mais específicas e abrangentes, componentes estes indispensáveis na construção
do conhecimento.
Destacam-se, a seguir, algumas opiniões importantes na estrutura do
conhecimento e no trato prático metodológico para a construção de um conceito
próprio. Estes, assim determinados como:
Educação Física:
Prática pedagógica que tematiza com a intenção pedagógica as manifestações da cultura corporal de movimento (BRATCH, 1999. p.16).
Processo educacional que usa o movimento como meio de ajudar as pessoas a adquirir habilidades, condicionamento, conhecimento e atitudes
18
Esporte-Educação: Vivência e apropriação dos conhecimentos esportivos e estímulo a uma reflexão
crítica da importância do esporte enquanto agente formativo e educativo (TUBINO, 2001). 19
Esporte-Lazer: Nesta perspectiva o conteúdo esporte tem como propósito o prazer lúdico, procurando garantir o bem-estar social dos praticantes, buscando a descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e as relações entre pessoas (TUBINO, 2001). 20
Esporte-Rendimento: Mantém a preocupação na obtenção de resultados, sendo regido por regras universalmente preestabelecidas que estão vinculadas às Federações, Confederações Nacionais ou Internacionais (TUBINO, 2001).
80
que contribuem para seu ótimo desenvolvimento e bem-estar (BARBANTI, 2011, p.147).
Esporte:
[...] quase tudo que é entendido sob o termo esporte é menos determinado por análises científicas em seus domínios que pelo uso diário e pelo desenvolvimento histórico e transmitido pelas estruturas sociais, econômicas, políticas e judiciais. Para os sociólogos do esporte, uma definição bastante aceita diz: ―É uma atividade competitiva que envolve esforço físico vigoroso ou o uso de habilidades motoras relativamente complexas, por indivíduos cuja participação é motivada pela combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos. ‖ O objetivo no esporte é comparar rendimentos. O critério para as comparações do que se realiza necessita da padronização do equipamento e das instalações, assim como da existência de um procedimento quantitativo de comparação dentro do escopo de Ciência do Esporte. O esporte é estudado sob vários ângulos, entre eles o da agressão. Pesquisas indicam que há muitos modelos explicativos para as situações especificas do esporte, onde o comportamento agressivo não é apenas típico dos esportistas, mas dos espectadores também. Além da agressão a motivação também pode ser considerada como relacionada fortemente com o esporte. O esporte pode ser relacionado em vários contextos: 1) a diferentes grupos de participantes (universitários, homens, mulheres, estudantes, etc.); 2) a diferentes tipos de esportes (individual, de equipe, etc.); 3) aos vários níveis de competição (local, regional, nacional, internacional) (BARBANTI, 2011. p.171).
Esporte Contemporâneo: Formas de exercício do direito de todos, expresso nas manifestações, tem no jogo o seu vínculo cultural e na competição seu elemento essencial, o qual deve contribuir para a formação e aproximação dos seres humanos ao reforçar o desenvolvimento de valores como a moral, a ética, a solidariedade, a fraternidade e a cooperação, o que pode torná-lo um dos meios mais eficazes para a convivência humana (TUBINO, GARRIDO e TUBINO, 2007, p.37).
Atividade:
Quando se refere a movimento, são habilidades motoras como andar, correr, levantar, empurrar, etc. e seus relacionamentos funcionais com o meio ambiente. Ela é somente considerada do ponto de vista funcional e estrutural. No sentido de movimento, ela é sempre acompanhada do adjetivo ―física‖ para distinguir da atividade cognitiva e da atividade mental (BARBANTI, 2011, p.40).
Atividade física:
O termo se refere à totalidade de movimentos executados no contexto do esporte, da aptidão física, da recreação, da brincadeira, do jogo e do exercício. Num sentido mais restrito, é todo o movimento corporal, produzido por músculos esqueléticos que provoca um gasto de energia (BARBANTI, 2011, p. 40).
Para Weineck (2003), atividade física não é tudo, mas tudo não é nada sem
atividade física.
81
Atividade Física e esporte não podem ser separados, pois o esporte é uma atividade física caracterizada por uma modalidade esportiva específica e assim por uma variedade infinita de formas. Todo tipo de esporte tem o seu repertório típico de movimentos e seu perfil característico de exigências e, com isso, o seu efeito especial. O termo atividade física é, portanto, ―a forma básica do movimentar-se‖, como, por exemplo, no âmbito das atividades diárias. O esporte, em contrapartida seria uma forma mais especial de ―movimentar-se‖ (WEINECK, 2003, p. 22).
Após análise de conceitos de diversos autores, referente às palavras-chaves
(esporte, atividade e atividades físicas), tornou-se possível, a partir de uma
adaptação dos conceitos de atividades físicas de Weineck (2003) e de outros
autores analisados, estabelecer e definir o termo que, imbuído do conceito a ser
utilizado nesta pesquisa, foi utilizado também como referência para as análises
quantitativas e qualitativas.
A expressão ―práticas esportivas‖ compõe o conceito assim definido nesta tese,
como:
Todo movimento corporal que envolva gasto de energia no seu desenvolvimento, quer seja como entretenimento ou competição, com uso ou não de material adequado e espaço predeterminado para execução destes movimentos e ou atividades.
A partir da definição do conceito tornou-se fundamental constituir uma estrutura
linear que permitiu aproximar a definição de atividade esportiva com as
classificações contemporâneas, estabelecendo uma relação do conceito construído
com os já exteriorizados.
Tubino, Garrido e Tubino (2007) consideram cinco classificações que visam
explicar este fenômeno denominado esporte contemporâneo como sendo um
fenômeno sócio cultural: 1. Quanto ao período histórico do esporte; 2. Quanto à
formalidade; 3. Quanto às formas de exercício do direito às práticas esportivas; 4.
Quanto ao sentido do esporte; 5. Classificação do esporte quanto às correntes
esportivas.
Ao optar pela classificação do esporte, quanto às correntes esportivas de
Tubino, Garrido e Tubino (2007), admitiu-se um enquadramento dessas opções no
macrocampo esporte e lazer do PME.
As correntes esportivas identificadas e classificadas por Tubino, Garrido e
Tubino (2007) são assim representadas: esportes tradicionais; esportes – aventura/
82
na natureza/ radicais; esportes das artes marciais; esportes de identidade cultural;
esportes intelectivos; esportes com música; esportes com motores; esportes com
animais; esportes adaptados (para pessoas com necessidades especiais); esportes
militares; esportes derivados de outros esportes.
Essa classificação possibilitou que uma modalidade esportiva se encaixe em
mais de uma categoria, com a ampliação das opções, principalmente para os
esportes denominados esportes intelectivos (TUBINO, GARRIDO E TUBINO, 2007).
Ficaram fora desta classificação, os jogos de azar e eletrônicos, justificando
ainda, que os jogos de azar tratam da alternância de sorte ou azar em detrimento
das pessoas. Os jogos eletrônicos foram excluídos pela existência de software nas
disputas eletrônicas, atuando com uma certa predominância sobre as pessoas.
Ao identificar o Programa Mais Educação com as correntes esportivas
definidas pelo autor, instituiu-se um vínculo que possibilitou a interface e posteriores
análises quantitativa e qualitativa das mais possíveis e diversas atividades
esportivas, desenvolvidas nas escolas municipais de Salvador e nas quais é
desenvolvido o Programa Mais Educação.
Ao considerar as atividades esportivas como contexto da prática, ou seja, a
realidade concreta, inserida no Programa mais Educação, tornou-se possível,
identificar a necessidade de estabelecer uma pesquisa comprometida com a
perspectiva crítica e com a análise das suas relações com a comunidade e com o
sujeito.
As atividades esportivas encontram-se presentes no contexto das políticas
públicas e principalmente nas políticas públicas educacionais, o que nos permite
afirmar como sendo de grande contribuição a participação destas nos diversos
segmentos e nas diversas problemáticas sociais.
Ao constituir uma análise destas atividades como elementos importantes à
formação do homem como cidadão, constituem-se paralelos que se mantêm
permeando durante toda a trajetória educacional do sujeito. E, possivelmente, com
reflexos e posturas, diante de todo o contexto social em que este se encontra
inserido.
A trajetória percorrida neste capítulo teórico sustentou os marcos legais e as
influências históricas, epistemológicas do Programa Mais Educação. A abordagem
por contextos permitiu compreender e identificar, de forma histórica e conceitual, o
83
macrocampo esporte e lazer como sendo a parte prática a ser investigada nesta
tese. O percurso metodológico utilizado na investigação será apresentado no
próximo capítulo.
3 PERCURSO METODOLÓGICO
3.1 A PESQUISA E SUA OPERACIONALIZAÇÃO
Avaliar políticas públicas significa examinar os processos pelos quais estão
sendo implantadas e os efeitos a elas atribuídos para permitir verificar se os seus
objetivos estão sendo alcançados (BARRETO e PINTO, 2001).
A prática da avaliação de programas e políticas públicas guarda a expectativa
da intervenção, revisão e melhoria no desenho dos programas e políticas.
Mainardes (2009) afirma que, ao se realizar pesquisa neste campo, principalmente
na área educacional, é imprescindível explicitar que, além da totalidade das relações
envolvidas, existe a necessidade de articular o tema da pesquisa com o contexto
político e socioeconômico, assim como o conjunto dessas políticas implementadas.
Ao se optar pela abordagem do ciclo de políticas nesta tese, permitiu-se
compreender e analisar a trajetória desta pesquisa, mais especificamente a de um
sistema indutor da Educação Integral, de seus antecedentes formadores até os
resultados/efeitos. Estes sujeitos e elementos encontram-se presentes em todo o
contexto da política pública e de suas estratégias de configuração, desenvolvimento,
execução e análise dos efeitos e resultados (MAINARDES, 2009).
Esta abordagem foi proposta inicialmente por três contextos: influência,
produção de textos políticos e prática (BALL e BOWE, 1992). Em 1994, Ball
acresceu mais dois, denominados como contextos dos resultados e da estratégia
política, atentando, dessa forma, para os possíveis efeitos da política e não apenas
para os resultados. Esta tese considerou que o contexto dos resultados se encontra
na prática e o da estratégia política inserido no de influência.
Quando se optou pela abordagem por ciclos de políticas, priorizou-se
compreender, em um primeiro momento, a estrutura conceitual do Programa Mais
Educação, desde sua concepção, suas influencias históricas, principalmente as de
caráter filosófico, epistemológico e geral. Estas compreensões foram abordadas no
contexto de influência e de produção de texto. No de influência, observou-se como
estas são iniciadas e de que forma os discursos políticos são construídos. Na
produção do texto estão representados os textos oficiais e políticos, comentários
formais e/ou informais, percebendo-se que as políticas são influenciadas por meio
85
da notoriedade, aliadas à fundamentação histórica, oral, escrita e bibliográfica e
ainda, alguns patrocínios oferecidos e recomendados por agências multilaterais,
como o Banco Mundial, por exemplo.
Esses dois primeiros contextos foram construídos e analisados no formato de
investigação teórica, utilizando como referência os diversos documentos, livros e
artigos disponíveis para o tema. Essas influências, por sua vez, implicaram nas
relações do sujeito construído e do objeto investigado, neste caso, o Programa Mais
Educação, com suas pertinências formativas e executoras.
Ao analisar a prática no terceiro contexto, Mainardes (2006) corrobora com a
afirmação de Ball e Bowe (1992) de que, nesta conjuntura, a política está sujeita a
interpretação e recriação, produzindo ainda efeitos e consequências que podem
representar mudanças e transformações significativas na política original.
Considerou-se que, neste espaço, acontecem as relações e as tensões provocadas
pelos sujeitos e pelos elementos que compõem o Programa. Essas acontecem não
apenas dentro do contexto da prática, mas estão sujeitas a interpretações pelos
executores desse Programa.
Os profissionais que atuam no contexto da prática (escolas) não enfrentam os textos políticos como leitores ingênuos, eles vivem suas histórias, experiências, valores e propósitos. Políticas serão interpretadas diferentemente uma vez que histórias, experiências, valores, propósitos e interesses são diversos. A questão é que os autores dos textos políticos não podem controlar os significados de seus textos. Partes podem ser rejeitadas, selecionadas, ignoradas, deliberadamente mal-entendidas, réplicas podem ser superficiais, etc. Além disso, a interpretação é uma questão de disputa. Interpretações diferentes serão contestadas, uma vez que se relacionam com interesses diversos, uma ou outra interpretação predominará, embora desvios ou interpretações minoritárias possam ser
importantes (BALL, BOWE e GOLD, 1992, apud MAINARDES, 2006, p.53).
No Programa Mais Educação (PME), sujeito, objeto e contexto apresentam-se
como elementos necessários às relações estruturais da pesquisa, considerando
suas relações de objetividade, tensões e encaminhamentos pertinentes a toda a
trajetória deste enquanto política pública. Essas relações são identificadas por Lima
e Marran (2013) apud Brito e Leonardos (2001, p.30), como ponto inicial para a
construção de um quadro de análise para se investigar essa prática.
Ponderando as definições e as justificativas expostas pelos autores, verificou-
se, como caráter imprescindível, a construção de um desenho estruturado em
86
categorias empíricas, determinando neste, as dimensões e indicadores
considerados elementos norteadores desta pesquisa, em todos os seus processos e
contextos analisados, no quadro dois.
Quadro 2 - Dimensões, definições e indicadores da pesquisa Dimensão: Definição: Indicadores/descritores
Projeto Político- Pedagógico
(PPP).
Documento que define as diretrizes pedagógicas da escola, seus objetivos, metas, ações, a relação com os alunos e com suas famílias etc.
Relação dos sujeitos da pesquisa com o PPP.
O PME e sua relação com o PPP da escola.
Relação dos esportes implementados na escola com aqueles previstos no PPP.
Adequação das atividades esportivas com os objetivos do PME.
Formação do gestor e do
monitor.
Escolaridade: Formação escolar. Nível de escolaridade.
Experiência docente:
Trabalho anterior do educador no campo específico da atividade que desenvolve atualmente na escola.
Tempo de experiência anterior no exercício da mesma atividade ocupada atualmente na escola. Diversidade de experiências anteriores similares às atividades atualmente desenvolvidas na escola.
Cursos de pós-graduação: Cursos de aperfeiçoamento e desenvolvimento do responsável pela prática do esporte ou da atividade física desenvolvida na Escola.
Cursos de curta duração realizados na área de formação.
Experiência como prático da atividade física ou esportiva.
Práticas Esportivas e Atividades
Físicas
Prática esportiva:
Todo movimento corporal que envolva gasto de energia no seu desenvolvimento, quer seja como entretenimento ou competição, com uso ou não de material adequado e espaço predeterminado para execução destes movimentos e ou atividades.
Atividades definidas pelo macrocampo esporte e lazer do PME.
Atividade física:
Qualquer exercício com ou sem material que possibilite movimento.
O termo refere-se à totalidade de movimentos executados no contexto do esporte, da aptidão física, da recreação, da brincadeira, do jogo e do exercício, em um sentido mais restrito é todo o movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que provoca um gasto de energia (BARBANTI, 2011).
Atividades definidas pelo macrocampo esporte e lazer do PME:
(continua)
87
Quadro 2 – Dimensões, definições e indicadores da pesquisa
(continuação)
Práticas Esportivas e Atividades Físicas
Educação Física:
Disciplina regulamentada pela LDB (9394/96) que prevê a prática de atividade física integrada ao projeto político-pedagógico da Instituição.
“Educação Física abrange as atividades pedagógicas, tendo como tema o movimento corporal e que tem lugar na instituição educacional” (BRATCH, 1989, p.28).
Processo educacional que usa o movimento como meio de ajudar as pessoas a adquirirem habilidades, condicionamento, conhecimento e atitudes que contribuem para seu ótimo desenvolvimento e bem-estar (BARBANTI, 2011).
Atividades esportivas devolvidas e inseridas no ensino formal como prática regular das aulas de
Educação Física
Cultura corporal:
Formas de atividades expressivas corporais como o jogo, esporte, dança e ginástica, dentre outros (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Concepções da sociedade sobre o corpo humano. Inclui a imagem corporal, os ideais corporais e as práticas corporais (BARBANTI, 2011).
Relação das atividades da cultura corporal de movimento com as práticas desenvolvidas nas escolas.
Espaços Físicos Utilizados:
Espaço físico utilizado para atividades de esporte.
Quadra poliesportiva com ou sem cobertura, ginásio de esportes, praça, campo de grama, pista de atletismo, sala de ginástica e ou dança, academia de ginástica, pátio da escola, piscina.
Estado físico/ espaço, do material, da quadra, dos equipamentos esportivos.
Acesso aos espaços.
Quantidade de materiais de cada esporte.
Espaço coberto/ área aberta.
Espaço próprio, alugado ou emprestado.
Fonte: Elaboração do autor, 2014.
As dimensões estruturadas com suas definições e indicadores permitiram
organizar e estabelecer a investigação teórica e prática, analisando o Programa
Mais Educação como uma política pública educacional. O contexto da prática foi
analisado dessa forma a partir das experiências construídas e executadas nas áreas
de atuação do Programa Mais Educação, no município de Salvador - Bahia.
88
3.1.1 Contexto institucional: a rede municipal de educação de Salvador e os
sujeitos da pesquisa
A cidade de Salvador mantém preservada em sua memória partes ricas e vivas
do Brasil que compostas por seu conjunto arquitetônico e sua história se apresentam
como elementos fundantes na área turística e na área da educação brasileira.
No quadro educacional construído historicamente no Brasil, a cidade de
Salvador sempre se fez representar por seus principais expoentes, como Rui
Barbosa e Anísio Teixeira, dentre outros, que se destacaram na educação e
principalmente na educação integral.
A educação básica na Bahia hoje acontece em escolas públicas e particulares.
As escolas públicas, caracterizadas como Escolas Estaduais e Escolas Municipais,
desenvolvem o ensino em seus diversos níveis, sendo que os municípios são os
principais mantenedores do ensino fundamental, do primeiro ao quinto ano.
A rede educacional municipal possui 426 escolas que desenvolvem a
Educação Básica no município de Salvador, divididas em regiões, conforme dados
da Secretaria Municipal de Educação de Salvador representadas no quadro três.
Quadro 3 - Escolas da Rede Municipal da Cidade de Salvador
CRE Quantidade CRE Quantidade
Centro 45 Cabula 47
Cidade Baixa 28 Pirajá 36
São Caetano 40 Subúrbio I 40
Liberdade 28 Cajazeiras 43
Orla 39 Subúrbio II 30
Itapuã 50 Total de Escolas 426
Fonte: Sistema de Matrícula Informatizada da Prefeitura Municipal de Salvador. Bahia, 2014.
O governo federal participa de forma indireta na educação básica através dos
recursos disponibilizados e utilizados pelas instituições escolares. Recursos
provenientes de fundos federais, via principalmente programas educacionais e
políticas públicas voltados para a educação. Dentre eles apresenta-se como
89
destaque o programa de indução à educação integral denominado Programa Mais
Educação, que é desenvolvido preferencialmente nas escolas com baixo índice de
desenvolvimento da educação básica (uma das principais prerrogativas para a
adesão ao PME), dentre outros aspectos.
A Prefeitura Municipal de Salvador, mais especificamente a Secretaria da
Educação, Cultura, Esporte e Lazer, em 05 de outubro de 2010, através do Decreto
Municipal nº 26.216, o então prefeito João Henrique Barradas Carneiro instituiu a
adesão ao Programa Mais Educação, do Governo Federal, com a intenção de
ampliar a jornada escolar. Este decreto dispõe sobre as diretrizes para a
implantação da educação integral em jornada ampliada e a implementação no
Sistema Municipal de Ensino de Salvador.
As diretrizes políticas determinadas para a continuidade da implantação do
programa de escola de tempo integral foram mantidas pelo atual prefeito Antônio
Carlos Magalhães Neto, por meio do Decreto nº 23.772, de 2 de janeiro de 2013.
O decreto determinou a elaboração de plano para a implantação do programa
aluno em tempo integral, proporcionando, assim, a continuidade do Programa Mais
Educação no Município de Salvador. Hoje, do total das 426 escolas municipais, 179
delas desenvolvem o Programa Mais Educação (dados de 2014) e representam o
universo da pesquisa.
Figura 2 - Participação das Escolas da Rede Municipal de Salvador no PME
Fonte: Dados da Secretaria da Educação do Município de Salvador, 2014.
426
179
247
Total
Escolas com adesão ao PME
Escolas sem adesão ao PME
Escolas da Rede Municipal de Salvador
90
As fontes e os sujeitos da pesquisa foram definidos de acordo com as
categorias e dimensões construídas, estando desta forma identificadas como sendo:
Projeto político-pedagógico das escolas participantes do Programa Mais
Educação do Município de Salvador- Bahia.
Profissionais envolvidos no Processo (responsáveis pela gestão e
execução do Programa Mais Educação nas Escolas do Município de
Salvador).
3.2 DELINEAMENTO METODOLÓGICO: CAMINHOS DA PESQUISA
Ao pensar em pesquisa e defini-la como um processo formal e sistemático de
desenvolvimento do método científico, Gil (2009) permite compreender e
estabelecer, como objetivo fundamental, a descoberta de respostas desta
investigação para os problemas, mediante procedimentos científicos. Estes foram
utilizados nesta tese de forma sequenciada e normatizada, definidas como etapas
operacionais, atentando para os recursos, prazos e metodologias necessárias.
3.2.1 Liberação e autorização de pesquisa
Os itinerários para a autorização da pesquisa estão apresentados na figura
três.
91
Figura 3 - Caminhos percorridos
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
Em março de 2014, foram iniciados os primeiros contatos com a Prefeitura
Municipal de Salvador (PMS), mais especificamente com a Secretaria Municipal de
Educação, via coordenação do Programa Mais Educação (CENAP).
Em paralelo, no aguardo da liberação e autorização de acesso aos espaços
escolares, que desenvolviam o Programa Mais Educação (2014), foram testados os
instrumentos de pesquisa em 64 monitores, todos pertencentes ao Programa Mais
Educação (Curso de Extensão do Esporte da Escola, realizado no Instituto Federal
da Bahia, Campus Salvador, nos dias 17 e 18 de julho de 2014).
No dia 13 de março de 2014, foi dado entrada no Comitê de Ética em
Pesquisa, via Instituto Federal da Bahia, que concedeu parecer favorável à
aplicação desta pesquisa no dia 26 de setembro de 2014 (APÊNDICE A).
A CENAP autorizou o acesso às escolas no dia 09 de maio de 2014
(APÊNDICE B). No aguardo do Parecer do Comitê de Ética, organizou-se um banco
de dados que apresentava as seguintes informações: nome, endereço e região de
todas as escolas que desenvolvem o Programa Mais Educação na cidade de
Salvador. Este banco de dados representou um suporte documental, com contatos
eletrônicos e endereços físicos, para o envio dos formulários, para todas as
instituições educacionais. Os e-mails, endereços, telefones foram cedidos pela
Coordenação do Programa Mais Educação.
No intuito de resguardar e oficializar a pesquisa, a CENAP enviou um
documento online às Escolas Municipais, informando da pesquisa a ser realizada.
Autorização de Pesquisa Prefeitura
Municipal de Salvador
Autorização do Comitê de Ética em
Pesquisa – Plataforma Brasil
Dispositivos Dificultadores:
Burocracia
Prazos demorados
Informações diferentes de um setor para outro
Dados de contato incorretos das
escolas e gestores
Dispositivos facilitadores:
Acesso a escolas
Autorização de pesquisa pelos entrevistados
92
Quando da aplicação dos instrumentos em campo, apenas três escolas confirmaram
o recebimento desse e-mail informativo.
Ao observar o itinerário burocrático e principalmente o período de tempo que foi
percorrido pela autorização para execução da pesquisa, tornou-se necessário definir
2014 como sendo o ano de avaliação desta política pública. Esta opção se justifica
pelo fato de que o PME é optativo da Instituição Escolar, podendo ou não ser
renovado ou iniciado a cada período letivo, tendo prazos iniciais para implantação e
recebimentos dos recursos a cada início de ano, quando da adesão ao Programa.
A abordagem através de contextos possibilitou uma avaliação da prática, em
especial das atividades esportivas desenvolvidas nas escolas da rede municipal de
Salvador que executaram o Programa Mais Educação no ano de 2014.
Definiu-se como método de pesquisa a utilização do survey. Este caminho
permitiu a obtenção dos dados e informações da população, relacionando estes às
categorias pesquisadas, respaldado em Gil (2009).
Na composição do formulário utilizado na pesquisa, optou-se por construir um
quadro que apresenta a relação das atividades esportivas (devidamente
codificadas), descritas no Manual Operacional do Programa Mais Educação (2014) e
acrescida das práticas esportivas definidas no campo operacional, com a finalidade
de facilitar a inserção e avaliação das informações coletadas, representadas no
quadro quatro.
Quadro 4 - Práticas esportivas
Código Práticas esportivas Código Práticas esportivas
1 Atletismo 14 Karatê
2 Ginástica Rítmica 15 Taekwondo
3 Corrida de Orientação 16 Esporte da Escola/ atletismo e múltiplas vivências esportivas
4 Natação 17 Luta Olímpica
5 Basquete de Rua 18 Xadrez Virtual
6 Tênis de Campo 19 Recreação e Lazer/ Brinquedoteca
7 Voleibol 20 Ioga
8 Basquetebol 21 Capoeira (não consta como esporte)
9 Futebol 22 Badminton
10 Futsal 23 Xadrez tradicional
11 Handebol 24 Dança (não consta como esporte)
12 Tênis de Mesa 25 Jiu-jitsu
13 Judô 26 Vôlei de Praia
Fonte: Elaboração do autor, 2014.
93
Para Gil (2009), a pesquisa tipo survey interroga diretamente as pessoas e
apresenta como principais vantagens: o conhecimento direto da realidade (as
próprias pessoas informam acerca de seus comportamentos e crenças); economia e
rapidez (torna possível a obtenção de grande quantidade de dados em curto espaço
de tempo); a quantificação (os dados obtidos podem ser agrupados em tabelas,
possibilitando a sua análise estatística).
O instrumento utilizado para a coleta dos dados (APÊNDICE C) foi um
formulário estruturado a partir das dimensões, dos indicadores e descritores da
pesquisa. As variáveis observadas na construção do instrumento de coleta de dados
foram: projeto político-pedagógico, formação do gestor e do monitor, práticas
esportivas e atividades físicas, espaços físicos utilizados para a realização destas
práticas.
3.2.2 Envio e coleta dos resultados
Diversas foram as formas utilizadas para realizar a coleta de dados,
identificadas como etapas. Elas estão descritas com seus elementos dificultadores
(DIF) e os facilitadores (DAF) no quadro cinco.
Quadro 5 - Pesquisa operacional
1ª Etapa Nenhuma resposta
Pesquisa online. Elaboração e envio do instrumento de pesquisa via banco de dados criado.
DIF
E-mails desatualizados recebidos da CENAP. Elaboração de um banco de dados com validação
DAF
As respostas recebidas foram para um banco de dados.
2ª Etapa Nenhuma resposta 1 e-mail para esclarecimento
Refazer lista, conferir e-mails e telefone, reenviar
DIF
Escolas sem internet ou telefone Ligar individualmente para as escolas, solicitar dados e reenviar.
DAF
As respostas recebidas foram automaticamente para um banco de dados.
(continua)
94
Quadro 5 – Pesquisa operacional
(continuação)
3ª Etapa 12 respostas
Refazer lista, conferir e-mails e telefone, reenviar via google docs. Ligar para autorização de uso dos e-mails pessoais.
DIF Número de respostas muito pequeno em relação a confirmação da lista.
DAF
Inserir o formulário em um banco de dados para facilitar as respostas. Reenviar para toda a lista.
4ª Etapa 68 escolas visitadas e entrevistadas.
Visitar as escolas.
DIF
Acesso aos locais, transporte urbano precário. Autorização de pessoas para acesso aos bairros. Moradores mandam embora, por não ser do bairro. Perigo de roubo conforme informações dos moradores locais. Período de tempo muito pequeno, de setembro a dezembro.
DAF
Conhecer a realidade, espaços, materiais, número de alunos. Conversar com monitores e gestores.
Fonte: Elaboração do autor, 2015. Legenda: DIF: dispositivos dificultadores; DAF: dispositivos
facilitadores.
Com auxílio de um estudante colaborador (Pedro Fernandes, voluntário na
pesquisa, do curso de Licenciatura em Matemática, do Instituto Federal da Bahia,
Campus Salvador), criou-se um programa, para envio eletrônico do formulário e para
o recebimento das respostas, assim descritos.
Para disponibilizar o formulário da pesquisa para os entrevistados, foi utilizado
o Sistema de Gerenciamento de Conteúdo Drupal 7.32. O Drupal é uma plataforma
com suporte das mais diversas tecnologias web, possui um núcleo base podendo
ser ampliado pela adição de módulos, tanto o núcleo quanto os módulos são
fornecidos sob a licença GLP (General Public License) podendo ser modificado e
distribuído livremente. O Drupal foi instalado em um servidor de web
gratuito, serverfree.com, disponível 24h/dia sem interrupções. Para suporte às
funcionalidades, foram acrescentados módulos que permitiam: realizar cópias de
segurança em intervalos de tempo pré-determinados, personalização e controle de
usuários, criação e manutenção de formulários eletrônicos, envio e controle de mala
direta e módulos relacionados à diagramação e aparência.
A opção do servidor web "Serverfree” ocorreu devido ao completo suporte a
plataforma bem como estabilidade e ausência de publicidade forçada. O módulo
95
responsável pela criação do formulário realiza um vínculo entre as informações
inseridas e um banco de dados além de permitir a validação das entradas inseridas
evitando incorreções no preenchimento. Para evitar o acesso do formulário por
pessoas externas à pesquisa, foram criados códigos individuais para cada um dos
participantes a fim de que fossem introduzidos ao iniciar a pesquisa. O envio dos
convites para preenchimento do formulário e os respectivos códigos foram
realizados de maneira automatizada por meio de mala direta e configuradas para
reenvio, caso o entrevistado não confirmasse o recebimento do e-mail após 5 dias
ou não iniciasse o preenchimento do formulário.
Por ser o formulário extenso, foi acrescentada a funcionalidade de salvar um
rascunho dos dados preenchidos, possibilitando que o entrevistado completasse o
preenchimento com sua disponibilidade de tempo. Um servidor extra foi configurado
para utilização em caso de pane do servidor principal e, para tanto, foi criado um link
de redirecionamento pelo serviço k6.com.br. Esse redirecionador permitiria de forma
transparente alterar o caminho de acesso ao formulário. As cópias de segurança do
formulário e do banco de dados são realizadas de forma redundante, em três
diferentes diretórios e servidores diferentes.
Os sujeitos respondentes foram identificados e cadastrados como sendo os
responsáveis pela Coordenação do Programa Mais Educação ou Gestão deste
Programa nas Escolas Municipais de Salvador.
Em seguida, após a liberação da CENAP e do Comitê de Ética em Pesquisa,
iniciou-se a 1ª etapa com o envio dos formulários para todas as Escolas cadastradas
como executoras do Programa Mais Educação na cidade de Salvador no ano de
2014.
Após um período de 15 dias, não havíamos recebido resposta alguma, nem ao
menos uma solicitação de esclarecimento. Optou-se por um contato telefônico,
quando possível (existência de número de telefone), para todas as instituições,
confirmando o endereço do e-mail institucional. Reenviaram-se todos os
instrumentos (2ª etapa) e nenhuma resposta foi recebida, dentro do prazo de 15
dias. Realizou-se mais um reenvio dos instrumentos, e nenhuma alteração ocorrida
no quadro de recebimento de respostas.
Em um terceiro momento (3ª etapa), realizou-se a conferência da lista
novamente, utilizando o auxílio da internet e de novo contato telefônico, desta vez
96
solicitando um e-mail particular. Em um processo paralelo, optou-se por inserir o
instrumento de pesquisa, no Google Docs, no intuito de facilitar a resposta,
considerando que esta é uma das formas de coleta de dados mais divulgada e
amplamente conhecida. Deste novo esforço, conseguiu-se obter apenas 12
respostas, mesmo após o envio de lembretes de pesquisa (no mínimo três para
cada Instituição Escolar cadastrada).
Na busca de ampliar as informações e a coleta de dados das escolas
municipais de Salvador, definiu-se como estratégia principal a ida a campo (4ª
etapa). Optou-se, inicialmente, por criar um código para cada região a ser visitada. A
seguir, o quadro seis apresenta códigos e regiões, o que posteriormente facilitou a
transcrição dos dados ao programa de análise.
Quadro 6 - Códigos e regiões
Fonte: Elaboração do autor, 2014.
Iniciaram-se assim às visitas as escolas municipais, procurando agendar e
informar os gestores quanto ao trabalho do pesquisador. Constatou-se que, em sua
maioria, os números de telefones disponibilizados pela CENAP e pela home page na
internet não existem. Muitas vezes estes números eram de telefones públicos ou até
mesmo de telefones pessoais (celulares). A melhor opção encontrada, então, foi
obedecer uma ordem pré-determinada e visitar as escolas sem agendamento prévio,
ou ainda visitar a escola e agendar uma entrevista.
Quando da ida às escolas, um dos fatores determinantes para que gestores e
monitores concordassem em responder, foi o Ofício de Autorização de Pesquisa da
CENAP, e da Secretaria Municipal de Educação, assim como o Termo de Livre
Consentimento Esclarecido (APÊNDICE D). Estes documentos tornaram-se
preponderantes e essenciais nas visitas às escolas, caracterizando-se com um dos
principais dispositivos facilitadores (DAF).
Códigos Regiões Códigos Regiões
1 Centro 7 Pirajá
2 Orla 8 Cajazeiras
3 Liberdade 9 São Caetano
4 Cabula 10 Cidade Baixa
5 Subúrbio I 11 Itapuã
6 Subúrbio II
97
A cidade de Salvador é uma metrópole, com um número muito grande de
habitantes e uma vasta expansão territorial. Esta situação geográfica foi um dos
muitos dispositivos dificultadores (DIF) no acesso às instituições públicas municipais
de educação, principalmente por questões de segurança.
Outro dispositivo dificultador foi a quantidade de feriados e dias sem aulas nas
escolas devido a atividades de conselho de classe, reformas nas escolas,
revezamentos de turmas, eleições nos diversos âmbitos, inclusive nas próprias
instituições escolares para a escolha do novo gestor.
Em todas as escolas de rede municipal de Salvador os procedimentos
utilizados na coleta dos dados foram exatamente idênticos:
Ligar para agendar horário e conhecer as informações do Gestor que seria o
responsável pelas informações;
Enviar o Ofício da CENAP, de autorização de pesquisa, sempre que possível,
via e-mail, antes de ir às escolas.
Ao chegar às instituições, conversar com os diretores (as), explicando o
trabalho, os objetivos do estudo e apresentar o ofício original de aceitação da
pesquisa.
Antes de iniciar a entrevista, sempre esclarecer o Termo de Livre
Consentimento Esclarecido (TCLE), garantir ainda o anonimato e o respeito a
cada um dos entrevistados e à instituição escolar.
Solicitar do entrevistado a assinatura do termo e autorização do uso das
informações na investigação.
Aplicar o instrumento.
Conversar com o respondente, solicitando uma avaliação do Programa Mais
Educação em sua Escola.
Realizar uma visita pelas dependências da escola, dos espaços esportivos e
das aulas de atividades esportivas pertencentes ao Programa Mais Educação
desenvolvido em cada Instituição Escolar visitada.
Observar as aulas das práticas esportivas.
98
Em todas as 80 escolas pesquisadas foram observadas as aulas, os espaços
disponibilizados para estas práticas, o material, a relação destas atividades com a
proposta da Escola. Também se observou o monitor desenvolvendo as práticas
esportivas, estabelecendo, desta forma, o mesmo parâmetro utilizado como
referência, na construção do survey para observação realizada.
Para a observação foi construído um roteiro (APÊNDICE E), que considerou
como variáveis: práticas esportivas desenvolvidas e espaços físicos disponíveis
para as atividades realizadas.
Alguns autores, como Gil (2009), apontam limitações dos levantamentos de
pesquisa survey, tais como, os fenômenos sociais que são determinados por fatores
pessoais e institucionais. Estes dados obtidos podem ser considerados como pouco
adequados para a investigação profunda do fenômeno, proporcionando uma visão
estática do fenômeno estudado.
Na busca de superar esta lacuna na obtenção do conhecimento aliada ao
preenchimento do formulário, se encontram as entrevistas e as observações,
realizadas em todas as instituições escolares investigadas. Pretendeu-se, desta
forma, ampliar a compreensão do fenômeno, procurando suprir as limitações
estabelecidas através da aplicação do survey.
3.2.3 Procedimentos na análise dos resultados
Por meio do survey, os dados coletados das entrevistas e observações foram
analisados conforme as categorias empíricas pré-determinadas, definidas no
diagnóstico e utilizadas na pesquisa histórica e na contextualização.
Na perspectiva de ampliar o conhecimento dos dados coletados, este estudo
utilizou procedimentos de análise quantitativa e de análise qualitativa. Destacam-se,
dentre estes, a análise de tabelas e escalas construídas com os dados pesquisados.
Essas categorias empíricas foram utilizadas tanto na construção teórica
metodológica quanto na elaboração do survey e do questionário utilizado na
entrevista e na observação das atividades e dos espaços físicos.
99
Essas categorias estão definidas como formação do gestor e do monitor,
integração com o projeto político-pedagógico, práticas educativas, espaços
destinados para atividades.
Ao estabelecer na abordagem por contextos a avaliação da prática, conseguiu-
se manter uma coerência na investigação. Buscando viabilizar, codificar e estruturar
os dados obtidos, foram adotados alguns procedimentos e sistemas de catalogação
destes dados.
Utilizou-se o aplicativo de análise estatística Statistical Package for Social
Sciences (SPSS). Visando facilitar a inserção e cadastramento dos dados coletados,
determinou-se a codificação das escolas visitadas, partindo da compilação já pré-
determinadas para as regiões onde estas escolas então inseridas, representadas no
quadro sete.
Quadro 7 - Relação das escolas pesquisadas
Quantidade pesquisadas
Escolas Legenda
1. Centro
1 Escola Municipal Vivaldo da Costa Lima 111
2 Escola Municipal João XXIII 112
3 Escola Municipal Lélis Piedade 113
4 Escola Municipal Ruy de Lima Maltez 114
5 Escola Municipal Amélia Rodrigues 115
6 Escola Municipal Olga Figueiredo de Azevedo 116
7 Escola Municipal Comunitária da Histarte 117
8 Escola Municipal Sebastião Dias 118
9 Escola Municipal Abrigo do Salvador 119
10 Escola Municipal Terezinha Vaz Silveira 120
11 Escola Municipal João Pedro dos Santos 121
12 Escola Municipal Professor Aristides Novis 122
13 Escola Municipal Perminio Leite 123
14 Escola Municipal Martagão Gesteira 124
2 Orla
15 Escola Municipal Teodoro Sampaio 211
16 Escola Municipal José Calazans da Silva 212
17 Escola Municipal Artur de Sales 213
18 Escola Municipal Ajuda Social a Criança 214
19 Escola Municipal Cidade de Jequié 215
(continua)
100
Quadro 7 - Relação das escolas pesquisadas
(continuação)
20 Escola Municipal Iacy Vaz Fagundes 216
21 Escola Municipal Batista Vasco da Gama 217
22 Escola Municipal Zulmira Torres 218
23 Escola Municipal Vale das Pedrinhas 219
24 Escola Municipal Casa da Amizade 220
3 Liberdade
25 Escola Municipal Cardeal da Silva 311
26 Escola Municipal Manoel Florêncio 312
27 Escola Municipal Julieta Viana 313
28 Escola Municipal Pirajá da Silva 314
29 Escola Municipal Carlos Novareze 315
30 Escola Municipal Pau Miúdo 316
31 Escola Municipal Cidade Nova 317
32 Escola Municipal Josafa Carlos Borges 318
4 Cabula
33 Escola Municipal Deputado Gersino Coelho 411
34 Escola Municipal Eugenia Anna dos Santos 412
35 Escola Municipal Francisco de Nascimento Brito 413
36 Escola Municipal Maximiniano da Encarnação 414
37 Escola Municipal Jesus de Nazaré 415
5 Subúrbio I
38 Escola Municipal de Fazenda Coutos 511
39 Escola Municipal São Roque do Lobato 512
40 Escola Municipal Santa Luzia do Lobato 513
41 Escola Municipal Santo Antônio das Malvinas 514
42 Escola Municipal Úrsula Catarino 515
43 Escola Municipal Coração de Jesus 516
6 Subúrbio II
44 Escola Municipal Francisca de Sande 611
45 Escola Municipal de Peri Peri 612
46 Escola Municipal Colina Mar 613
47 Escola Municipal Oito de Maio 614
48 Escola Municipal Alto de Coutos 615
49 Escola Municipal Nossa Senhora das Candeias 616
50 Escola Municipal Dom Pedro I 617
51 Escola Municipal Álvaro Vasconcelos 618
52 Escola Municipal Almirante Mourão de Sá 619
(continua)
101
Quadro 7 - Relação das escolas pesquisadas
(continuação)
7 Pirajá
53 Escola Municipal de Castelo Branco 711
54 Escola Municipal Roberto Correia 712
55 Escola Municipal Manoel de Abreu 713
56 Escola Municipal São Marcos 714
57 Escola Municipal Orlando Imbassaí 715
58 Escola Municipal Sociedade Fraternal 716
59 Escola Municipal Syd Porto Brandão 717
8 Cajazeiras
60 Escola Municipal Cajazeira XI 811
61 Escola Municipal Maria Antonieta Alferano 812
62 Escola Municipal de Canabrava 813
63 Escola Municipal Novo Marotinho 814
64 Escola Municipal Adauto Pereira de Souza 815
65 Escola Municipal Irmã Maria Elisa 816
9 São Caetano
66 Escola Municipal Comunitária do Bom Juá 911
67 Escola Municipal Fonte do Capim 912
68 Escola Municipal Antônio Carlos Magalhães 913
69 Escola Municipal Antônio Carvalho Guedes 914
70 Escola Municipal Jaqueira do Carneiro 915
10 Cidade Baixa
71 Escola Municipal Santa Barbara 1011
72 Escola Municipal Dr. Augusto Lopes Pontes 1012
73 Escola Municipal Eloyna Barradas 1013
74 Escola Municipal Carmelitana do Menino Jesus 1014
75 Escola Municipal Hilberto Silva 1015
11 Itapuã
76 Escola Municipal Bairro da Paz 1101
77 Escola Municipal Juiz Oscar Mesquita 1102
78 Escola Municipal Metodista Suzana Wesley 1103
79 Escola Municipal Lagoa do Abaete 1104
80 Escola Municipal Carlos Murion 1105
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
A análise documental e o aporte do conceito de ciclo de políticas permitiram
avaliar diversos documentos destacados na abordagem do contexto de influência e
na produção de textos, considerando a cronologia da construção do Programa Mais
Educação. Avaliaram-se ainda seus elementos históricos, seus principais
102
influenciadores, na busca da identificação das principais ideias deste programa de
indução à educação integral.
Por meio do uso de diversas perspectivas metodológicas, utilizou-se da técnica
de triangulação de fontes (LAKATOS e MARCONI, 2011), de métodos e de teorias,
para se atingir uma melhor compreensão do fenômeno estudado, pois este permeia
diversas esferas sociais e educacionais.
Apresentado este percurso metodológico, o capítulo seguinte descreve e
discute os resultados desta investigação.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A análise e o processamento dos dados coletados nas Escolas Municipais de
Salvador foram realizados de acordo com as dimensões e os indicadores
predeterminados que constituíram a direção desta pesquisa. Esses estiveram
presentes em todas as etapas desenvolvidas desde a construção da investigação
até a avaliação dos subsídios encontrados no campo.
Foram pesquisadas 80 escolas, de um total de 179 que se encontravam
cadastradas e desenvolvendo o Programa Mais Educação no ano de 2014. Essas
escolas estão divididas em termos geográficos denominados como regiões para
Prefeitura Municipal de Salvador. Do total das escolas pesquisadas, nenhuma região
ficou com um número menor do que cinco, representando um percentual de 6,3%
mínimo por região, concebendo desta forma uma visão geral referente às categorias
investigadas.
Constatou-se que, durante o período de investigação (2014), diversas escolas
não se encontravam desenvolvendo o PME, embora constassem no cadastro do
município e da união como instituições que realizam o programa. Diversas foram as
justificativas para o seu não-desenvolvimento. A tabela um representa, de forma
clara os principais agentes motivadores que contribuíram para que as instituições
escolares, que, mesmo estando cadastradas não desenvolvessem neste momento o
Programa Mais Educação.
Tabela 1- Justificativas para o não desenvolvimento do PME.
Justificativas Número de escolas %
Não tem estrutura física 8 10,0
Em reforma 4 5,0
Escola Municipal não existe mais 1 1,2
Escola não tem estrutura física e encontra-se em reforma 3 3,8
Escola Interditada 1 1,2
Subtotal (1) 17 21,2
Subtotal (2) Escolas que desenvolvem o PME 63 78,8
Total geral 80 100
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
104
Das 80 escolas pesquisadas (100%), 63 unidades escolares (78,8%)
desenvolvem o Programa, sendo que, destas, 17 não o estão executando no ano de
2014, fator que representa um total de 21,2%. O principal motivo apresentado foi a
falta de estrutura física acrescido de fatores, como: escola está sendo reformada ou
em vias de iniciar a reforma (aguardado o início pela Secretaria Municipal de
Educação, Cultura, Esporte e Lazer).
Algumas situações inusitadas também chamaram a atenção pelo fato de a
escola não mais estar existindo (embora cadastrada) ou encontrar-se interditada por
situações surpreendentes, como o descontrole financeiro na prestação de contas.
Demonstrou ainda a pesquisa que não foi apenas um motivo que levou as escolas a
não executarem o programa, mas sim um conjunto de motivos considerados vitais
para a viabilização do PME. A precária infraestrutura disponível ou reforma estrutural
dos espaços físicos (iniciadas ou no aguardo) foram assinaladas como as principais
dificuldades encontradas. A falta de coordenadores para o PME foi uma das
situações encontradas principalmente nas escolas localizadas nos bairros mais
distantes do centro de Salvador, fator este explicado pelo fato de não existir até o
ano de 2014 um concurso específico, na rede municipal, para a função. Este cargo é
previsto no desenvolvimento do PME.
Na secção seguinte, apresenta-se a análise recortada por cada uma das
dimensões descritas no capítulo da metodologia: projeto político-pedagógico;
formação do gestor e do monitor do PME; atividades esportivas desenvolvidas e sua
efetividade no PME; os espaços físicos e as estruturas utilizadas.
4.1 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
A primeira dimensão analisada foi o projeto político-pedagógico (PPP) de
cada instituição escolar investigada, considerando que o Programa Mais Educação,
instituído pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e regulamentado pelo Decreto
7.083/10, define que este, quando desenvolvido, deva estar obrigatoriamente
inserido no projeto político-pedagógico da escola executora.
O PPP, enquanto instrumento normatizador das escolas é quem define a
identidade e indica os caminhos e procedimentos que elas deverão adotar para
105
ensinar, determinando, assim, as diretrizes pedagógicas, objetivos, metas e ações.
A relação com os alunos e suas famílias também deve estar explícita e concisa em
cada parte integrante do documento, facilitando as suas funções no ambiente
escolar como fator determinante que norteia todas as ações das escolas. O projeto
político-pedagógico da escola é definido por Lopes (2011, p. 22), como:
Projeto, porque reúne propostas de ações concretas a serem executadas durante determinado tempo;
Político, por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir.
Pedagógico, porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem.
Os princípios norteadores do projeto político-pedagógico são definidos de
acordo com Veiga (1995), como: igualdade de condições de acesso e permanência
na escola; qualidade não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais;
gestão democrática que abrange as dimensões pedagógicas, administrativa e
financeira; liberdade associada ao princípio da autonomia; valorização do magistério.
Ao se investigar o PPP das Instituições executoras do Programa Mais
Educação na cidade de Salvador, priorizou-se a educação, a formação e inserção do
aluno atendido por um Programa que tem como finalidade a ampliação da jornada
escolar de forma a induzir uma educação integral, assim como também a
organização curricular na perspectiva da educação integral (BRASIL, 2014).
O principal desafio para a construção e principalmente a implantação do projeto
político-pedagógico nas escolas não pode gerar um tipo de ―saber‖ ou ―programa
oficial‖, que se enrijece ao passar a exigir fidelidade em vez de competências
(BUSSMANN, 1995). O Programa Mais Educação, inserido por força de execução
no PPP, precisa responder ao que se propõe, ou melhor, ao que a escola se permite
construir, planejar e executar no intuito de ampliar as possibilidades do caminho
ensino-aprendizagem e desenvolvimento de múltiplas possiblidades em toda a
comunidade escolar.
A implementação do PPP nas escolas é um dos grandes desafios
contemporâneos nas instituições escolares, principalmente quando da razão e
expectativa pela melhoria da qualidade dos serviços educacionais (BUSSMANN,
1995). Ainda que para este autor a escola, especialmente a pública, assuma cada
106
vez mais a importância do espaço-tempo onde as prioridades sócioeducacionais dos
cidadãos podem se concretizar, essas ações de melhorias na educação viabilizadas
pelas políticas públicas precisam ser sistematizadas com ações planejadas e
práticas educativas, representadas neste espaço pelo Programa Mais Educação.
Todas as unidades escolares foram entrevistadas quanto a diversas questões
da dimensão projeto político-pedagógico, sempre direcionadas para o PME, objeto
deste estudo. A análise foi construída a partir dos descritores identificados, como:
quem define o PPP, a afinidade deste com a escola e sua relação com as atividades
esportivas nela desenvolvida por meio do Programa Mais Educação.
A tabela dois identifica e responde aos descritores analisados na dimensão
projeto político-pedagógico.
Tabela 2 - Itens analisados quanto ao projeto político-pedagógico
Itens analisados Não Respondeu
% Sim % Não % Em partes ou sendo revisado
% Total
O PPP é discutido regularmente
3 4,7 53 84,1 5 8,0 2 3,2 63
O PPP contempla as atividades esportivas desenvolvidas na Instituição
3 4,7 43 68,3 10 15,9 7 11,1 63
O PPP contempla o Programa Mais Educação
3 4,7 32 50,8 15 23,8 13 20,7 63
O PPP foi alterado ou revisto quando da opção da Escola pelo PME
3 4,7 22 35,0 12 19,0 26 41,3 63
O PPP foi construído de forma coletiva
3 4,7 55 87,4 3 4,7 2 3,2 63
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
Das 63 escolas que executaram efetivamente o PME, 84,1% afirmaram que o
PPP foi discutido regularmente, apenas um percentual muito pequeno (8,0%),
informou que este não foi discutido. Somente 68,3% confirmaram que as práticas
esportivas desenvolvidas estão contempladas no PPP.
Considerando que 27,0% (17 escolas) das atividades esportivas não
aparecem no projeto político-pedagógico ou encontram-se em partes contempladas,
é possível perceber que os dados coletados representam um amplo conhecimento
107
por parte de todos, no que se refere à existência desse documento. Entretanto,
durante a realização das entrevistas, nenhum respondente conseguiu identificar com
precisão quando foi a última reunião para tratar deste assunto. Alguns afirmavam
que iriam se reunir na próxima semana, que a reunião teria a finalidade de discutir
as questões inerentes ao processo de inserção do Programa Mais Educação no
PPP.
Algumas contradições apareceram nas respostas quando questões referentes
ao conhecimento do processo ensino aprendizagem foram realizadas, contrapondo
as informações iniciais.
O Programa Mais Educação encontrava-se inserido no projeto político-
pedagógico em apenas 32 escolas do universo pesquisado, representando um total
de 50,8%. Entretanto, ao observar a tabela referente à pergunta se o PPP foi
alterado quando da implantação do Programa Mais Educação, percebeu-se uma
redução de 32 para 22 escolas, alterando para 35,0% o percentual de instituições
que modificaram seu PPP quando da implantação do PME.
Do universo entrevistado, 41,3% das unidades afirmaram que o documento se
encontrava sendo revisado e 19,0% informaram que não houve nenhuma discussão
ou alteração do PPP desde a sua implantação.
A maioria dos entrevistados (87,4%) afirmou que o PPP foi construído de
forma coletiva e com a participação de todos os envolvidos no processo de ensino
(professores, gestores, secretaria da educação), com exceção para participação dos
monitores. Apenas duas escolas afirmaram que os monitores participaram da
construção das atividades do PME, assim como das discussões pedagógicas. As
afirmativas para a não inserção dos monitores foi principalmente a rotatividade, o
baixo valor da remuneração (o que faria com que o monitor permanecesse menos
tempo na escola) e principalmente a falta de instrução deste, o que dificultaria no
acompanhamento e planejamento das atividades pertinentes ao Programa.
Ao identificar discrepâncias e diferenças nas observações analisadas nas
tabelas apresentadas, encontrou-se facilmente o projeto político-pedagógico
existente por força de lei nas escolas, mas não implementado. O PPP existe em
todas as escolas entrevistadas, todos têm conhecimento da existência deste
importante instrumento regulador. Na maioria das instituições escolares este não
vem sendo discutido, utilizado e instrumentalizado. É possível, desta forma, dizer
que o projeto político-pedagógico não foi alterado na maioria das Instituições e ainda
108
se tem muita coisa por fazer, tanto quanto da implantação à execução do PME,
principalmente para que alcance seus objetivos.
Possível também perceber que, em sua grande maioria, as escolas que
executam o PME não apresentaram uma relação com o instrumento normatizador
da instituição escolar, a resposta para este fundamento, ―ele está sendo revisado,
alterado, ou será revisado, alterado‖. As escolas estão desenvolvendo as atividades
do PME desconectadas do PPP. Em muitos casos, percebe-se que o PPP existe
apenas como protocolo para cumprir uma exigência legal, requisito da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996).
Algumas poucas escolas municipais de Salvador começaram a dar os
primeiros passos na atualização do PPP, trazendo estas discussões à pauta
pedagógica uma vez que o PME torna obrigatório a inserção das atividades
integradas ao planejamento da escola.
O projeto político-pedagógico precisa conter o Programa Mais Educação
como um dos elementos que propiciem o desenvolvimento do sujeito, que, por sua
vez, compreende as atividades esportivas (presentes no macrocampo de esporte e
lazer) desenvolvidas no Programa Mais Educação.
Muito embora a informação vinda das entrevistas se apresentassem com um
número muito acentuado de que todos tenham contribuído na confecção do PPP nas
escolas, percebeu-se que este documento não sofreu nenhuma modificação, desde
a criação da escola, reforçando a afirmação anterior que este existe apenas como
uma exigência legal. Claro que existem exceções apresentadas, estas confirmadas
principalmente nas escolas em que o coordenador pedagógico assume as duplas
tarefas, ser coordenador da escola e também coordenador do Mais Educação, ou
ainda, nos casos, em que este coordenador foi contratado (pela Secretaria Municipal
e não pelo PME) e designado especialmente para realizar a coordenação do
programa. Este número, infelizmente, é muito insignificante, diante da totalidade de
escolas municipais que executam o PME.
109
4.2 FORMAÇÃO DO GESTOR E DO MONITOR
Esta dimensão é relevante dada a sua relação intrínseca com a qualidade dos
processos educativos. Gestores e monitores são considerados como principais
responsáveis pela execução e fomento das atividades esportivas desenvolvidas por
meio do Programa Mais Educação.
4.2.1 Gestor
Quando analisamos a tabela três, que representa o tempo de coordenação e
a formação dos coordenadores do programa, é possível comparar as variáveis
formação e experiência.
Tabela 3 - Formação do gestor e seu tempo de coordenação no PME
Formação acadêmica Quanto tempo de atuação na coordenação do PME
Total Não tem
coordenador 0 a 6 meses 6 meses a 1 ano
1 a 3 anos
3 a 5 anos
5 a 10 anos
Mais de 10 anos
Não tem coordenador 4 -- -- -- -- -- -- 4 Ensino Fundamental completo -- 1 -- -- -- -- -- 1 Ensino Médio incompleto -- 1 -- -- -- -- -- 1
Ensino Médio completo -- 1 -- 1 1 -- -- 3
Superior incompleto -- 3 4 3 1 -- -- 11
Superior completo -- 4 4 12 3 1 1 25
Especialização -- 3 6 6 3 -- -- 18
Total 4 13 14 22 08 1 1 63
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
É possível identificar na tabela que 6,4% das 63 escolas que desenvolvem o
PME não têm coordenador do Programa. Isto indica que a coordenação do
programa é assumida concomitantemente pela gestora da Escola, ou ainda pelo
coordenador pedagógico.
Do universo investigado que desenvolveu no ano de 2014 o PME, o número
de coordenadores (43) com nível superior completo representa 68,3%. Destes,
41,9% têm curso de especialização.
110
Dos entrevistados 25,4% não possuem formação com nível superior. Destes,
um tem apenas o Ensino Fundamental.
As escolas que possuem coordenadores com uma formação acadêmica de
nível superior ou ainda especialização estão localizadas nos bairros mais centrais da
cidade de Salvador, demonstrado na tabela quatro.
Tabela 4 - Região de localização da Escola e formação do coordenador do PME.
Região de localização da
Escola
Formação do Coordenador do PME
Total Não tem coordenador
Ensino Fundamental
completo
Ensino Médio incompleto
Ensino Médio completo
Superior incompleto
Superior completo
Especialização
Centro 1 -- -- 1 -- 2 8 12
Orla -- -- -- -- 1 3 4 8
Liberdade -- -- -- -- -- 3 -- 3
Cabula -- -- -- -- -- 3 1 4
Subúrbio I -- -- -- -- 4 -- -- 4
Subúrbio II 1 -- 1 -- 2 2 2 8
Pirajá -- -- -- -- 2 4 -- 6
Cajazeiras -- 1 -- -- 1 2 1 5
São Caetano 1 -- -- 1 1 1 1 5
Cidade Baixa 1 -- -- -- -- 2 -- 3
Itapuã -- -- -- 1 -- 3 1 5
Total 4 1 1 3 11 25 18 63
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
Quando da observação de campo, foi possível constatar que as escolas que
possuem coordenador pedagógico com formação específica conseguem planejar e
executar suas ações de modo mais articulado. Estes coordenadores planejam e
orientam os monitores para que atuem também como educadores, não apenas e
exclusivamente como monitores ou observadores de disciplina durante as atividades
esportivas.
111
4.2.2 Monitor
As escolas que realizaram a opção pelo PME em 2104 deveriam oferecer o
mínimo de sete horas diárias ou 35 horas semanais de atividades em tempo integral.
Para que essas atividades fossem efetivadas, o programa previa a contratação de
monitores voluntários, que precisavam necessariamente atuar nas escolas públicas
junto aos alunos nas atividades realizadas nos macrocampos.
Os monitores assinavam um termo de adesão e compromisso de
voluntariado, definido pela da Lei n° 9.608, de 18 de fevereiro de 1988, definidos em
Resolução do Conselho Deliberativo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, que dispõe, anualmente, sobre os procedimentos e as formas de
execução e prestação de contas do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE).
O voluntário faz jus apenas ao ressarcimento das despesas com transporte e
alimentação decorrentes da prestação do serviço e que este não será remunerado e
não gerará vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista,
previdenciária ou afim. Não existe uma carga horária específica de trabalho para os
monitores, esta depende da quantidade de turmas e do plano de atividades
elaborado pela escola que influencia no valor do auxílio a ser recebido pelo monitor.
Conforme manual operacional do Programa Mais Educação, o ressarcimento
dos monitores ocorre da seguinte forma:
As atividades desenvolvidas pelos monitores, são consideradas de natureza voluntária, nos termos da Lei n° 9.608, 18 de fevereiro de 1988, e esses voluntários farão jus ao ressarcimento das despesas com transporte e alimentação decorrentes da prestação do serviço. As unidades escolares devem solicitar aos voluntários o preenchimento e assinatura do Termo de Adesão e Compromisso de Voluntário, disponível no portal do FNDE (www.fnde.gov.br), junto à Resolução CD/FNDE vigente no exercício. O ressarcimento será efetivado mediante o preenchimento e assinatura por parte do voluntário do Relatório e Recibo Mensal de Atividades Desenvolvidas por Voluntário, disponível no portal do FNDE (www.fnde.gov.br), junto à Resolução vigente no exercício. O valor do ressarcimento será calculado por mês de atividade, de acordo com o número de turmas monitoradas e/ou tutoreadas, tomando como referencial os seguintes valores: a) escolas urbanas: R$ 80,00 (oitenta reais) mensais, por turma monitorada; b) escolas rurais: R$ 120,00 (cento e vinte reais) mensais, por turma monitorada c) o valor do ressarcimento dos tutores da ação Mais Educação para Jovens de 15 a 17 Anos no Ensino Fundamental, das escolas urbanas e rurais será de R$ 80,00 (oitenta reais) mensais, por turma tutoreada (BRASIL, 2014).
112
Os gestores apresentaram como uma das principais dificuldades para a
contratação do monitor o valor do pró-labore e a localização das escolas, muitas
com um acesso difícil e um transporte público ineficiente. A tabela cinco destaca o
nível de escolaridade desse voluntário e sua experiência nas práticas esportivas
desenvolvidas.
Tabela 5 - Escolaridade e experiência do monitor
Escolaridade
Tempo de experiência (nº anos) Total
0-1 % 2-3 % 3-5 % + 5 % Sem exp. % %
Fundamental incompleto -- -- -- -- -- -- 1 1,1 -- -- 1 1,1
Fundamental completo -- -- -- -- 1 1,1 2 2,2 -- -- 3 3,3
Ensino Médio incompleto -- -- 1 1,1 5 5,3 7 7,6 1 1,1 14 15,1
Ensino Médio completo 2 2,2 1 1,1 8 8,6 15 16,3 1 1,1 27 29,3
Ensino Superior incompleto 2 2,2 1 1,1 2 2,2 15 16,3 3 3,3 23 25,1
Ensino Superior completo 1 1,1 -- -- -- -- 15 16,3 2 2,2 18 19,6
Não informaram 6 6,5 -- -- -- -- -- -- -- -- 6 6,5
Total 11 12 3 3,3 16 17,2 55 59,8 7 7,7 92 100
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
O monitor encontrado no campo possui formação acadêmica muito
diversificada, mas com uma grande experiência nas atividades esportivas.
Identificou-se que 59,8% deles tem mais de cinco anos de experiência. Um número
menor (20,5%) possui entre dois e cinco anos e 12,0% têm menos de um ano no
desenvolvimento das atividades esportivas.
Do universo de monitores entrevistados, 25,1% possuem o ensino superior
incompleto e demonstram uma grande experiência nas atividades desenvolvidas.
Esses voluntários são alunos de diversos cursos, ou ainda são estudantes que
trancaram suas matriculas e estão sem participar das aulas.
Os monitores encontrados com apenas o ensino fundamental, completo ou
incompleto, são monitores pertencentes à comunidade onde a escola está inserida e
apresentam de três a cinco anos de experiência.
113
Com o ensino médio incompleto, encontraram-se 15,1% dos monitores. Dos
voluntários encontrados com ensino médio completo ou incompleto, ou ainda ensino
fundamental completo ou incompleto, a maioria traz como experiência as atividades
como atletas praticantes de modalidades esportivas ou lutas.
Apenas 7,7% dos entrevistados não possuem experiência nas atividades que
desenvolvem. Uma grande parte deles afirmou já ter trabalhado em outros
programas do governo ou ainda na própria comunidade a que pertence. Também
esses voluntários apresentam como experiência principalmente as atividades
desenvolvidas como atletas ou praticantes da modalidade em que atuam como
monitores.
Dos 92 monitores que responderam a entrevista, identificou-se a formação
específica desse profissional. Importante destacar que foram observados apenas os
voluntários do macrocampo esporte e lazer, o que levou esta pesquisa a considerar
como formação específica apenas as que habilitam esses profissionais a
trabalharem nesta área. A tabela seis permitiu conhece-los na sua formação
específica e experiência profissional.
Tabela 6 - Formação e tempo de experiência dos monitores
Tempo de experiência nº anos
Formação específica 0-1 % 2-3 % 3-5 % + 5 % Sem exp. %
%
Bacharelado em Educação Física -- -- -- -- 1 1,1 1 1,1 -- -- 2 2,2
Licenciatura em Educação Física -- -- 1 1,1 3 3,3 3 3,3 -- ---- 7 7,7
Monitor de Educação Física -- -- -- -- 1 1,1 1 1,1 -- -- 2 2,2
Monitor de outros cursos 1 1,1 -- -- -- -- 2 2,2 2 2,2 5 5,5
Nenhuma 2 2,2 -- -- -- -- 5 5,5 -- -- 7 7,7
Prática Diária 1 1,1 2 2,2 12 13 43 46,5 5 5,4 63 68,2
Não informou 6 6.5 -- -- -- -- -- -- -- -- 6 6,5
Total 10 10,9 3 3,3 17 18,5 55 59,7 7 7,6 92 100
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
114
Dos profissionais que atuaram junto aos alunos na educação básica, no
Programa Mais Educação, na cidade de Salvador em 2014, nas escolas municipais
pesquisadas, percebeu-se que a maioria tem uma grande experiência em trabalhos
como monitores de atividades esportivas. Desses, 68,2% têm como formação a
prática diária. Apenas 12,1% possuem cursos ligados à área da Educação Física,
seja na Licenciatura, Bacharelado, ou ainda, como estudante universitário destes
cursos. Alguns dentre o universo investigado não possuem formação nenhuma,
representando um total de 7,7%. Existem também, dentre os monitores encontrados
nas escolas, aqueles que são voluntários, não recebendo ajuda, nem mesmo para
transporte.
Para o PME, todo o trabalho de monitoria deveria ser desempenhado
preferencialmente por estudantes universitários com formação específica nas áreas
de desenvolvimento das atividades ou pessoas da comunidade com habilidades
apropriadas, como, por exemplo, instrutor de judô ou mestre de capoeira. Além
disso, afirma ainda que os estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e
estudantes do ensino médio podem desempenhar a função de monitoria de acordo
com suas competências, saberes e habilidades (BRASIL,2014).
Para os coordenadores do Programa, a proposta de utilizar monitores da
comunidade foi muito bem aceita, facilitando principalmente fatores como transporte
e acesso à escola. Esses voluntários, na maioria das vezes, conseguem falar a
linguagem dos alunos, igual à da comunidade, por pertencer a mesma. Em algumas
atividades, como capoeira, os mestres já desenvolvem um trabalho no local já sendo
conhecidos e respeitados pelos alunos e suas famílias. O grande desafio dos
gestores do PME é encontrar um monitor da comunidade com formação adequada,
capacitado e disponível para realizar esta atividade de monitoria, quase um
programa voluntário.
O programa recomenda ainda a não utilização de professores da própria
escola para atuarem como monitores. Principalmente quando isso significar
ressarcimento de despesas de transporte e alimentação com recursos do FNDE.
Esta situação foi encontrada apenas em uma escola, pois as escolas em sua grande
maioria não possuem sequer professor de Educação Física.
115
4.3 PRÁTICAS ESPORTIVAS
O PME prevê a oferta de diversas atividades oferecidas através dos
macrocampos que fomentem práticas educativas e promovam aos estudantes a
compreensão do mundo em que vivem, de si mesmo, do outro, do meio ambiente,
da vida em sociedade, das artes, das diversas culturas, das tecnologias e de outras
temáticas (BRASIL, 2014).
As escolas consideradas escolas urbanas deverão eleger quatro atividades
dentre os macrocampos oferecidos. A atividade ―Orientação de Estudos e Leitura‖,
do macrocampo Acompanhamento Pedagógico é obrigatória. As escolas
participantes do Programa Mais Educação, em 2012, puderam optar pela atividade
Esporte da Escola/Atletismo e Múltiplas Vivências Esportivas no momento do
recadastramento no PDDE Interativo (BRASIL, 2014).
Quando a instituição escolar realiza a opção pelo macrocampo esporte e
lazer, este deve ser considerado como:
Atividades baseadas em práticas corporais, lúdicas e esportivas, enfatizando o resgate da cultura local, bem como o fortalecimento da diversidade cultural. As vivências trabalhadas na perspectiva do esporte educacional devem ser voltadas para o desenvolvimento integral do estudante, atribuindo significado às práticas desenvolvidas com criticidade e criatividade. O acesso à prática esportiva por meio de ações planejadas, inclusivas e lúdicas visa incorporá-la ao modo de vida cotidiano (BRASIL, 2014).
As atividades propostas pelo Manual Operacional do PME (2014) para o
macrocampo esporte e lazer estão definidas, como: Atletismo; Badminton; Basquete;
Futebol; Futsal; Handebol; Natação; Tênis de Campo; Tênis de Mesa; Voleibol; Vôlei
de Praia; Xadrez Tradicional e Xadrez Virtual; Basquete de Rua; Corrida de
Orientação; Esporte da Escola/Atletismo e Múltiplas Vivências Esportivas,
incumbindo as escolas executoras do programa a opção por uma ou mais atividade.
Dentre as escolas investigadas na cidade de Salvador, verificou-se o número
de atividades esportivas oferecidas por essas instituições no macrocampo esporte e
lazer demonstrado na tabela sete.
116
Tabela 7 - Atividades esportivas ofertadas nas escolas
Nº de atividades Frequência %
Não desenvolvem atividades esportivas 4 6,4
Uma atividade esportiva 30 47,6
Duas atividades esportivas 21 33,3
Três atividades esportivas 8 12,7
Total 63 100
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
Das escolas que realizaram o PME, apenas 12,7% oferecem três opções de
atividades esportivas, 33,3% oferecem duas e um número maior (47,6%)
disponibiliza apenas uma atividade. As quatro instituições (6,4%) que não
desenvolveram as atividades esportivas em 2014 afirmaram que diversos fatores
influenciaram nesta não opção. Estes foram descritos como a falta da estrutura física
adequada, a escola encontrava-se em reforma, a ausência de monitores específicos
ou ainda a não-opção efetivamente por este macrocampo (situação relatada em
apenas um caso).
A maioria dos entrevistados reconheceu a importância das atividades
esportivas para os alunos. Justificaram a baixa oferta devido à falta de espaço, ao
número reduzido de monitores e aos poucos recursos disponibilizados para a
execução e aplicação destas práticas.
As diversas possibilidades de atividades esportivas apresentadas pelo
macrocampo esporte e lazer foram ampliadas em algumas escolas. Estas estão
listadas na tabela oito, assim como também todas as opções do Programa Mais
Educação na cidade de Salvador, sejam como 1ª, 2ª ou 3ª prática esportiva.
117
Tabela 8 - Atividades esportivas desenvolvidas pelo PME na cidade de Salvador
Atividades esportivas desenvolvidas Uma % D
uas % Três % Total %
Ginástica Rítmica 1 1,1 -- -- -- -- 1 1,2
Basquetebol 2 2,3 -- -- -- -- 2 2,3
Futebol 2 2,3 1 1,1 -- -- 3 3,4
Futsal 11 12,5 -- -- -- -- 11 12,5
Judô 3 3,4 1 1,1 -- -- 4 4,5
Karatê 4 4,5 2 2,3 -- -- 6 6,8
Esporte da Escola 23 26,1 2 2,3 1 1,1 26 29,5
Recreação e Lazer 4 4,5 5 5,7 2 2,3 11 12,5
Capoeira 7 8 6 6,8 3 3,4 16 18,2
Dança 1 1,1 1 1,1 -- -- 2 2,3
Jiu-jitsu 1 1,1 -- -- -- -- 1 1,1
Handebol -- -- 2 2,3 -- -- 2 2,3
Taekwondo -- -- 1 1,1 -- -- 1 1,1
Xadrez tradicional -- -- -- -- 2 2,3 2 2,3
Total 59 67,0 21 23,9 8 9,1 88 100
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
Das 88 escolas que realizaram a opção pelo macrocampo esporte e lazer,
algumas modalidades se destacam, principalmente o Esporte da Escola/Atletismo e
Múltiplas Vivências Esportivas (basquete, futebol, futsal, handebol, voleibol e xadrez)
no total de 29,5% do universo encontrado.
Esta modalidade apresenta sua ementa definida como ―Ação pedagógica, por
meio de uma proposta planejada, inclusiva, participativa, que possibilita o
desenvolvimento de diversas modalidades, tais como: futebol, voleibol, basquetebol,
handebol, futsal, jogos e brincadeiras, tendo o atletismo como base. As atividades
devem valorizar o prazer e o lúdico, pressupostos do Esporte Educacional‖ (BRASIL,
2014, p. 15).
A ementa do Esporte da Escola possibilita aos executores diversas
interpretações, principalmente quando trata de atividades esportivas voltadas ao
prazer e o lúdico. Práticas que enquanto componente pedagógico possuem uma
característica própria que por si só já direcionam ao lúdico, mas necessitam de uma
118
organização que requer um planejamento definindo uma sequência metodológica.
Assim elas direcionam as atividades para o desenvolvimento do sujeito e, portanto,
pressupõem certo conhecimento profissional, como o próprio manual do PME
sugere em sua concepção.
As atividades como dança e capoeira foram encontradas em diversas escolas
enquanto componentes do macrocampo esporte e lazer, muito embora façam parte
no Manual Operacional de Educação Integral (2014) do macrocampo Cultura, Artes
e Educação Patrimonial.
A capoeira aparece como a segunda modalidade (18,2%) mais desenvolvida
nas instituições municipais da cidade de Salvador. Possui uma forte influência na
região nordeste, na Bahia principalmente por fatores históricos e culturais, o que
pode explicar e justificar um maior número de praticantes, que também funcionam
como multiplicadores possibilitando, então, uma maior oferta de monitores para as
atividades.
Nas práticas desenvolvidas na modalidade esporte da escola, e em quase
todas as outras observadas, o que se encontrou foram jogos de futsal em espaços
improvisados, ou atividades de recreação com a presença do monitor apenas para
controlar e cuidar dos alunos envolvidos.
O futsal aparece em terceira colocação juntamente com as atividades de
recreação e lazer, representando ambas 12,5% das escolhas das escolas.
Duas escolas informaram realizar a modalidade de futebol de campo,
entretanto somente podem realizá-la uma vez por semana, pois o espaço disponível
pertence a uma associação existente na comunidade, que o utiliza para suas
próprias atividades.
Algumas modalidades apareceram em determinadas escolas como o
Taekwondo, o jiu-jitsu e a ginástica rítmica, devido a o monitor contratado ter
formação mais específica nesta prática, do que por opção da escola. Observou-se,
neste caso, que a opção da escola foi pela contratação do monitor para o programa
e, somente após, definiu-se a atividade de acordo com a formação ou experiência
dele.
O xadrez tradicional foi encontrado em duas escolas como terceira opção de
atividades, o qual, segundo os coordenadores, possibilita aos alunos participantes
uma melhoria na atenção às aulas e no rendimento escolar. Informam, porém, que
um número muito pequeno de alunos participa das aulas por interesse próprio. Isto
119
se deve ao fato de que o jogo tem uma complexidade e exige muita concentração,
tarefas ainda difíceis para a média de idade dos alunos do ensino fundamental.
Em nenhuma escola foram observadas aulas das atividades esportivas com
uma sequência de ações pedagógicas e curriculares, principalmente nas que
explicitaram desenvolver as atividades esportivas como no caso do basquetebol,
futebol, futsal, handebol, voleibol, ou o próprio esporte da escola. Encontrou-se na
maioria dos espaços os famosos ―babas‖, (designação local para os jogos de
futebol), ou seja, jogos sem muita preocupação com regras ou resultados.
Observou-se que as aulas de artes marciais, principalmente as de Karatê, são
as melhores em termos de organização, principalmente no item uniformização e
disciplina (muito próprio da arte marcial).
Somente em uma escola foi permitido o acesso ao planejamento das aulas
executadas pelos monitores. Na maioria dos locais, as documentações formais
(planejamentos de aulas, relatórios, prestação de contas) são preenchidas pelo
coordenador ou gestor, sem o conhecimento do monitor, apenas para cumprir a
formalidade, a exigência legal.
Constatou-se ainda que as práticas mais desenvolvidas são as que necessitam
menor infraestrutura, menor espaço físico e podem ser realizadas em salas de aula,
refeitórios, pátios e ou locais similares.
As atividades esportivas encontradas nas escolas funcionavam principalmente
como práticas de lazer ou de ocupação do tempo disponível (livre das atividades
pedagógicas formais do ensino), ou ainda como merecimento por bom
comportamento (dado informado pelos coordenadores do PME em algumas escolas
investigadas), considerando que tais práticas esportivas são alvo de desejo de todas
as comunidades escolares diagnosticadas.
Após a identificação das principais práticas esportivas desenvolvidas pelo PME
na cidade de Salvador, observou-se formação do monitor de cada prática
desenvolvida, conforme demonstra a tabela nove.
120
Tabela 9 - Atividades esportivas relacionadas com formação acadêmica do monitor
Atividades LEF % BEF % MEF % MOC % PD % SF % Total
Ginástica Rítmica 1 1,1 -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- 1
Basquetebol -- -- -- -- -- -- 1 1,1 -- -- 1 1,1 2
Futebol -- -- -- -- -- -- -- 2 2,3 1 1,1 3
Futsal 1 1,1 -- -- -- -- -- 9 10,4 1 1,1 11
Judô -- -- -- -- -- -- -- 4 4,5 - -- 4
Karatê 2 2,3 -- -- -- -- 1 1,1 2 2,3 1 1,1 6
Esporte da Escola 4 4,5 -- -- 2 2,3 1 1,1 19 21,6 - -- 26
Recreação e Lazer -- -- 1 1,1 -- -- 1 1,1 7 8,0 2 2,3 11
Capoeira -- -- -- -- -- -- -- -- 15 17,3 1 1,1 16
Dança -- -- -- -- -- -- -- -- 2 2,3 -- -- 2
Jiu-jitsu -- -- -- -- -- -- -- -- 1 1,1 -- -- 1
Handebol -- -- -- -- -- -- -- -- 2 2,3 -- -- 2
Taekwondo -- -- -- -- -- -- -- -- 1 1,1 -- -- 1
Xadrez tradicional -- -- -- -- -- -- -- -- 1 1,1 1 1,1 2
Total 8 9,0 1 1,1 2 2,3 4 4,4 65 74,3 8 8,9 88
Fonte: Elaboração do autor, 2015. Legenda: LEF: Licenciatura em Educação Física; BEF: Bacharelado em Educação Física; MEF: monitor de Educação Física; MOC: monitor de outros cursos; PD: prática diária; SF: Sem formação.
Identificou-se que 74,3% dos responsáveis pela execução das atividades
esportivas têm apenas a formação da prática diária. Apenas 9,0% dos monitores
possuem a Licenciatura em Educação Física, somente um monitor tem o
Bacharelado em Educação Física.
Os monitores responsáveis pela modalidade mais desenvolvida, o esporte na
escola, têm principalmente como formação apenas a prática diária, representando
um total de 29,5% do total dos voluntários. Destes, 15,4% possuem curso de
Licenciatura em Educação Física, 7,7% são monitores estudantes do curso de
Educação Física e 3,8% são estudantes de outros cursos universitários.
A capoeira, que aparece como a segunda atividade mais desenvolvida, não
possui monitor formado, quase todos têm apenas como formação a prática diária e
apenas um desses voluntários não possui experiência ou prática.
121
Alguns monitores desenvolvem mais de uma atividade na escola, como
forma de aumentar a carga horária, gerando assim uma possiblidade de aumento na
remuneração, segundo explicação de alguns coordenadores.
As práticas esportivas foram consideradas por todos os entrevistados como
sendo de extrema importância, principalmente na formação integral do indivíduo.
Esta informação é corroborada pela maioria deles. As atividades esportivas servem
muitas vezes, inclusive, como fator de premiação ou bonificação. Também
funcionam nas instituições escolares como único momento de lazer e diversão dos
alunos, conforme relatos dos sujeitos envolvidos nos processos.
4.4 ESPAÇOS FÍSICOS E ESTRUTURAS UTILIZADAS.
Para o Programa Mais Educação - Passo a Passo (2011), o espaço físico para
a realização das atividades esportivas inerentes ao programa não é sua
responsabilidade e sim das escolas. Fica para estas o mapeamento, a locação dos
espaços, dos tempos e das oportunidades junto à comunidade ou dentro de sua
própria estrutura funcional.
Os entrevistados expressaram das mais diversas formas a situação dos locais
utilizados para as atividades esportivas. As categorias encontradas no discurso dos
coordenadores e monitores foram classificadas por ordem de citação nos
depoimentos. A falta de estrutura física dos espaços esportivos foi o item mais
apresentado, seguido pela ausência de chuveiros, banheiros e refeitórios. Outro
ponto bastante destacado foi também que não existe espaço físico para construção
de locais para as atividades esportivas, embora tenha ocorrido uma reforma na
unidade recentemente. O estacionamento também foi utilizado como espaço para as
atividades esportivas.
Como pode ser observado, as falas convergem para a descrição de um
ambiente físico absolutamente inadequado ao desenvolvimento das atividades
esportivas.
Dentro do universo pesquisado, foi possível detectar os locais de realização
das práticas esportivas, assim como a situação destes espaços demonstrados na
tabela dez.
122
Tabela 10 - Situação dos espaços utilizados nas atividades esportivas
Situação Ginásio coberto %
Quadra sem cobertura %
Pátio da Escola %
Sala de aula %
Outras opções % Total
Próprio 2 2,3 23 26,1 36 40,9 11 12,5 2 2,3 74
Alugado -- -- 1 1,1 -- -- -- -- -- -- 01
Emprestado -- -- 9 10,3 -- -- 1 1,1 3 3,4 13
Total 2 2,3 33 37,5 36 40,9 12 13,6 5 5,7 88
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
O PME afirma que apenas o espaço da escola não é mais suficiente para o
conjunto de aprendizagens e que as novas gerações precisam enfrentar os novos
desafios da sociedade contemporânea. Utiliza-se da perspectiva do movimento das
Cidades Educadoras de Cesar Coll (1999) para reforçar a aproximação da cidade
integrada à oferta de atividades locais e culturais (MEC/SECADI, 2009b).
O pátio da escola é o local mais utilizado (40,9%), devido à falta de outros
espaços disponíveis nas escolas e na comunidade. A sala de aula também é um dos
espaços mais utilizados, representando 13,6% do total. Um dado interessante
encontrado é que locais como sala de almoxarifado, cantina e refeitórios são
adaptados em alguns momentos para a realização das atividades esportivas.
Das atividades esportivas encontradas nas escolas apenas duas são
realizadas em ginásio coberto e próprio. A maioria (37,5%) acontecia em uma
quadra sem cobertura, quase todas sem as demarcações no piso.
Foi possível identificar que os espaços utilizados para as práticas esportivas se
encontravam majoritariamente dentro das próprias escolas (26,1%) contrariando o
proposto pelo programa para a expansão e ampliação do espaço escolar inserido na
comunidade. Desses, apenas 10,3% eram emprestados da comunidade e uma única
escola alocava um local para a realização das atividades esportivas.
Diversas são as observações para a não utilização dos espaços próximos às
escolas. Essas afirmativas dos entrevistados foram organizadas em categorias como
a segurança e a infraestrutura disponível na comunidade.
123
Para a categoria segurança, identificou-se nas falas que o não uso dos
espaços existentes se deve ao fato de que grupos rivais, dominantes da região, não
permitem o acesso por estudantes que frequentam a escola em local dominado por
outro grupo e vice-versa. Ainda nesta questão, percebeu-se através das falas dos
responsáveis do PME, que estes têm receio de sair com os alunos pelas ruas devido
à violência no trânsito e ainda pela insegurança quanto a assaltos e homicídios
ocorridos frequentemente nos bairros onde a unidade se encontra localizada.
Na categoria espaços disponíveis, foi constatado nas falas que, nas
comunidades onde as escolas estão inseridas, não existem em sua maioria outros
espaços próprios para desenvolver atividades esportivas. Quando existe uma
quadra, esta já se encontra utilizada pela própria comunidade como espaço de lazer
e usada para as atividades esportivas, muitas vezes até mesmo pela própria
instituição.
Das poucas escolas que afirmaram usar espaços comunitários, destacou-se
nas análises das falas que algumas atividades acontecem esporadicamente na praia
(escola fica em uma região na beira-mar), e uma escola utiliza o espaço emprestado
de uma associação que se encontra em situação muito precária, sem condições
adequadas para a realização das atividades propostas ou programadas.
A realidade encontrada nas diversas unidades investigadas demonstrou que
todos os envolvidos na gestão do PME realizam enorme esforço para que este
programa aconteça. As escolas em sua grande maioria não possuem espaços
adequados disponíveis para a realização de suas próprias atividades curriculares.
Ao optar pelo PME, precisaram agregar mais atividades em sua programação em
uma jornada de turno ampliado, necessitando idealizar horários e turnos
diferenciados para que aconteçam. Para ilustrar esta situação foi transcrita a fala de
um coordenador que afirmou: ―o que está acontecendo é o estrangulamento do
espaço físico das escolas para abraçar o programa‖.
Os espaços esportivos que foram encontrados nas escolas investigadas foram
considerados bons (45,5%), já os que consideraram os espaços regulares foram em
torno de 27,3%. Apenas 15,9% consideraram os espaços péssimos, conforme
demonstra a tabela onze.
124
Tabela 11 - Conservação dos espaços esportivos
Quanto ao estado de conservação dos espaços esportivos utilizados
Frequência %
Péssimo 14 15,9
Ruim 24 27,3
Bom 40 45,5
Muito Bom 6 6,8
Excelente 4 4,5
TOTAL 88 100
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
Das escolas investigadas, um número muito grande se encontrava em reforma
ou aguardando seu início. Muitas, mesmo em reforma, não terão a possiblidade de
ampliar ou construir novos espaços esportivos, por motivos, como a localização
geográfica do terreno (muito acidentado) e espaços físicos disponíveis (não tem
disponibilidade de terreno ou área para construção). Portanto, apesar de estarem
acontecendo diversas melhorias na infraestrutura na maioria das escolas, estas não
terão espaços disponíveis adequados para atividades esportivas.
4.5 MATERIAIS ESPORTIVOS
O apoio financeiro ao Programa Mais Educação é repassado por intermédio do
Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE/Educação Integral em conta bancária
específica, aberta pelo FNDE no banco e agência indicados no cadastro da entidade
no sistema PDDE web, em nome da Unidade Executora Própria (UEx)
representativa da unidade escolar. Significa dizer que cada escola considerada uma
UEx tem autonomia para gerir os recursos recebidos pelo PME. Estes se destinam
para custeio e capital. As atividades de custeio devem ser utilizadas para
ressarcimento do transporte e alimentação dos monitores (voluntários), também para
a aquisição de materiais pedagógicos e de consumo. As atividades denominadas de
capital servem para aquisição de bens ou materiais necessários ao desenvolvimento
das atividades (BRASIL, 2014).
Este manual também relaciona os kits que servem como sugestão na compra
de materiais que deverão ser utilizados nos macrocampos, principalmente no de
esporte e lazer. Essas listas servem como referencial para efeito de cálculo do
125
recurso e para a prestação de contas. Toda economia gerada com a aquisição da
compra destes pode ser remanejada, podendo ser empregada em outros materiais
ou serviços desde que direcionados às atividades da educação integral
desenvolvidas nas escolas pelo PME.
O elemento facilitador na aquisição dos materiais necessários às práticas
esportivas se reflete na sua qualidade e quantidade encontradas nas escolas,
conforme descritas na tabela doze.
Tabela 12 - Materiais esportivos
Qualidade Número %
Péssimo 4 4,5
Bom 25 28,4
Muito bom 51 58,0
Excelente 8 9,1
Total 88 100
Fonte: Elaboração do autor, 2015.
Apenas quatro (4,5%) dos entrevistados consideraram o material esportivo
utilizado no programa como sendo de péssima qualidade.
De uma forma geral, todos os entrevistados asseguraram que os materiais são
bons ou muito bons (86,4%) ou ainda que são de excelente qualidade (9,1%). Fator
explicado, quando se percebe que é a própria escola quem adquire os materiais. Em
todas as instituições, quem realiza a cotação e aquisição dos materiais é o próprio
gestor do programa.
Existe também no PME a possibilidade de deslocamento da verba de aquisição
para outras despesas. O PDDE/Educação Integral (2014) afirma em seus
documentos que esses movimentos na aquisição de materiais são permitidos desde
que contribuam para o desenvolvimento do programa e sejam justificados na
prestação de contas. Para ilustrar essa possiblidade de ajustes na verba de
aquisição de materiais esportivos, encontrou-se em uma determinada escola uma
máquina de lavar roupa adquirida com os recursos do programa, justificada para
lavar os coletes e materiais utilizados pelos alunos nas atividades práticas
esportivas.
126
4.6 AVALIAÇÃO DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO PELOS GESTORES E
MONITORES
O Programa Mais Educação foi avaliado pelos sujeitos respondentes da
pesquisa. Criaram-se categorias com a finalidade de analisar essas informações.
Foram definidas assim: a escolha de implantação do PME pela escola, as
contribuições do programa para os alunos envolvidos, os monitores, a estrutura
física disponível das escolas e da comunidade para o desenvolvimento do PME.
Para os respondentes, as escolas com baixo desempenho foram inicialmente
obrigadas ou sugestionadas a implantar o PME, acontecendo em muitas, inclusive
de forma concomitante, a jornada integral já existente.
O Programa teve uma grande aceitação por parte dos gestores, que o
entendem como uma tentativa de resgate à proposta de Anísio Teixeira. Contribuiu
também para o desenvolvimento das crianças, principalmente no que diz respeito ao
esporte e lazer que foram considerados como as atividades que mais atraem os
alunos. Segundo relato dos respondentes, os pais gostam que os filhos
permaneçam nas escolas, pois se encontram protegidos da violência urbana.
Os monitores foram relacionados como sendo os verdadeiros responsáveis
pela efetivação do Programa, trabalhando mais por doação do que pelo valor da
remuneração que é insignificante. Muitos voluntários não possuem nenhuma
formação específica, mas procuram sempre colaborar nas atividades e na disciplina
dos alunos.
A estrutura física existente nas escolas foi considerada precária e insuficiente
para o desenvolvimento do Programa. As atividades acontecem em espaços
improvisados de forma inadequada.
O Programa Mais Educação foi considerado um programa com uma proposta
que pode vir a contribuir no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças. A
estrutura física disponível não possibilita a execução das atividades, principalmente
das atividades do macrocampo esporte e lazer, consideradas como as mais
procuradas pelos alunos do programa.
127
4.7 AS ATIVIDADES ESPORTIVAS DO PME E AS AULAS REGULARES DE
EDUCAÇÃO FÍSICA
As atividades esportivas são as mais procuradas pelos participantes do
programa. Em 27,5% das unidades pesquisadas, as atividades substituem as aulas
regulares de Educação Física. Apenas 37,5% informaram que as atividades do PME
não são consideradas as aulas de Educação Física. Para 35,0% dos entrevistados
apenas algumas atividades esportivas desenvolvidas pelo Programa são
consideradas como aulas regulares.
A LDB/96, alterada pela Lei nº 10793/03, diz que a Educação Física deva estar
integrada à proposta pedagógica da escola sendo componente curricular obrigatório
da Educação Básica. As escolas municipais encontram-se ainda na fase de
adequação, muitas escolas da rede municipal de Salvador não possuem professores
de Educação Física.
As escolas municipais na cidade de Salvador são, em sua maioria, pequenas,
de infraestrutura precária e com um número reduzido de alunos matriculados. Em
algumas escolas, todos os alunos fazem parte do Programa, o que poderia justificar
a realização e a combinação das atividades curriculares com as atividades do PME.
Para o Ministério da Educação, conforme Manual Operacional de Educação
Integral (2014), a educação integral deveria ser implementada nas escolas,
preferencialmente com a participação de 100 estudantes no Programa Mais
Educação, exceto nas escolas em que o número de estudantes inscritos no censo
escolar do ano anterior seja inferior a esse número.
O número de alunos participantes do Programa Mais Educação nas escolas
pesquisadas não confere com os dados informados. Em nenhuma escola, foram
encontrados mais de 30 alunos desenvolvendo as atividades. Poderia ser
considerado o número dos praticantes de apenas uma atividade, no entanto esse
número representou o total de alunos participantes das diversas modalidades, não
somente nas práticas esportivas no dia da aplicação da pesquisa.
Diversas foram as explicações referentes a esta discrepância nos números,
tais como: os alunos faltaram, hoje não tem merenda, então os alunos não
comparecem, as aulas acontecem somente até metade do turno, ou ainda, o monitor
faltou. Também se observou que, em algumas escolas, os alunos não são atendidos
diariamente, mas sim em dias e horários alternados.
128
4.8 INTERPRETANDO OS DADOS
Os resultados desta investigação descritos anteriormente merecem uma
reflexão. Eles convergem com outros achados contemporâneos da literatura que
examinaram essas políticas recentes de indução à escola integral.
O Programa Mais Educação foi compreendido nesta tese como uma política
pública de estratégia indutora que visa construir a educação integral, por meio do
fortalecimento da escola de tempo integral, em meio a um movimento social
crescente que segue na direção da superação da escola de turnos e analisado sob a
ótica do ciclo de políticas (BALL, 1994).
A abordagem do ciclo de políticas possibilita ao analista uma visão não linear e
fragmentada da política em estudo, pois a própria ideia de contextos oferece uma
possibilidade de leitura não unilateral, mas multidisciplinar e global, sendo que as
etapas do ciclo não ocorrem isoladamente e uma a cada vez, ao contrário, elas se
entrelaçam, num movimento de interação, e se completam (JESUS, 2014).
Esta forma de organizar a educação em torno de políticas universais é produto
da influência dos organismos multilaterais. Hoje, é preciso pensar em uma política
pública com direito à diversidade, que, apesar de não ter extinguido as
discriminações de classe, as novas formas de marginalização e de exclusão
produzem diferentes recortes nas relações sociais, sendo que os segmentos mais
vulneráveis tendem a ser aqueles mais precariamente atendidos pelos serviços
públicos (BARRETO, 2009).
Carlini (2012), ao avaliar o Programa Mais Educação, ressalta que este país
ainda carece de uma escola que oferte escolarização para além dos muros da
escola, que tenha uma jornada escolar ampliada, ofertando inúmeras atividades de
cultura, esporte, lazer, cidadania, além daquelas que atendem ao currículo oficial.
Essas atividades pretenderam se materializar por meio do PME, que buscou
impulsionar a realização da política de educação integral e busca essa ampliação
com a construção da oferta da concepção de educação integral. Este programa
ampliou o tempo diário dos alunos nas escolas públicas brasileiras, renovando a
oferta de educação pública com objetivo de oferecer aprendizagem de qualidade.
Nesta tese, observou-se que as escolas do município de Salvador que
desenvolveram o PME no ano de 2014 não conseguiram superar essa escola de
turno, conforme descrito nos resultados. Elas foram percebidas funcionando de
129
forma idêntica a efetivada antes do processo de implantação do PME, este que se
tornou apenas mais um programa para ser executado.
O Programa Mais Educação demonstra em sua concepção incompatibilidade
com o direito à educação das classes sociais desfavorecidas. Esse se encontra bem
distante da realidade, as condições gerais em que se processa a implementação do
programa são precárias e acabam dependendo, muito mais, da ―boa vontade‖ dos
sujeitos envolvidos e das circunstâncias locais das escolas do que da ação efetiva
do poder público, seja ele federal, estadual ou municipal (SILVA, 2013).
Essa realidade também foi encontrada nas escolas municipais de Salvador,
conforme depoimentos e análises de gestores e monitores referentes ao PME,
quando afirmam que a sua realização fica muito a serviço da vontade dos que as
estão executando do que propriamente da política em si.
As políticas contemporâneas têm produzido novas formas de provisão de
recursos, novas práticas, novos valores e subjetividade. Essas políticas criam
circunstâncias que são analisadas e executadas de acordo com a interpretação,
alocando para os sujeitos problemas que necessariamente precisam de respostas
criativas (BALL, 2006).
Os dados do IDEB foram utilizados para direcionar a implementação do
Programa Mais Educação nas escolas públicas municipais. O uso dos dados para
implantação do PME funcionou como um processo que alimentou os sistemas de
incentivo e performance recompensada financeiramente.
Na ânsia de transformar as escolas públicas em escolas mais eficazes, as
gestões públicas definem os seres humanos como sujeitos a serem administrados,
este discurso que legitima o exercício da autoridade. O programa de indução à
educação integral foi condicionado como uma política educacional que traz consigo
a proposta de reconceitualizar a escola objetivando melhorar o desempenho dos
estudantes.
A busca pela eficácia escolar pretendeu reconceitualizar a escola, fornecendo
uma tecnologia de controle e de mensuração organizacional (BALL e MAINARDES,
2011).
Nesta procura pela eficácia escolar como forma de garantir a sustentação do
Programa e de outras atividades, é possível justificar as discrepâncias encontradas
nos números informados pelos entrevistados com a realidade encontrada nas
escolas investigadas. Esses apareceram muito divergentes, tanto em números que
130
vão desde a inserção do PME no projeto político-pedagógico da escola (encontra-se
em reformulação) até o número de alunos atendidos pelo Programa (observados
durante as práticas analisadas nas escolas) que não coincidem com o número
informado nos relatórios.
Nesta proposta de reconceitualização da escola, encontra-se o PME, que,
ancorado no aumento da jornada escolar, sugere a oferta de diversas atividades no
contraturno. Para Silva e Silva (2012), recorrer à ajuda das atividades de tempo livre
para complementar as atividades escolares não se caracteriza como uma estratégia
nova na política educacional brasileira. A diferença no caso do PME é a interação
entre diversos setores envolvendo várias dimensões de uma ação intersetorial.
Diversos Ministérios se destacam nesta ação intersetorial, principalmente o
Ministério dos Esportes, que interage diversos programas de esportes com o
Programa Mais Educação.
O macrocampo esporte e lazer, interligado ao Ministério dos Esportes, se
apresentou nesta investigação como uma das principais atividades desenvolvidas no
contraturno, principalmente na oferta de atividades esportivas.
Do universo entrevistado, apenas quatro não executam atividades ligadas à
área de esporte e lazer, e não o fazem por não possuírem estrutura física
necessária, segundo fala dos próprios gestores do programa nas escolas.
Para que se consigam oferecer atividades esportivas de qualidade é preciso
que se ofereçam condições mínimas necessárias que busquem garantir tal oferta. A
UNESCO apresenta nas diretrizes para uma Educação Física de qualidade para
gestores de políticas (2015) uma proposta de estratégia nacional que visa
desenvolver uma Educação Física de qualidade, representada na figura quatro.
Figura 4 - Estratégia da UNESCO para Educação Física de qualidade
Fonte: adaptado dos aspectos centrais da oferta de EFQ. UNESCO,2015.
ESTRATÉGIA NACIONAL PARA UMA EDUCAÇÃO
FÍSICA DE QUALIDADE
Formação, eficácia e aperfeiçoamento dos professores
Instalações, equipamentos e
recursos
Flexibilidade do programa escolar
Parcerias comunitárias
Monitoramento e garantia de qualidade
131
Muito embora esta pesquisa não tenha analisado as aulas de Educação Física
nas escolas municipais de Salvador, esta figura pôde ser adaptada para as
atividades esportivas desenvolvidas pelo Programa Mais Educação, considerando
que estas estão contidas nas aulas.
A estratégia apresentada pela UNESCO define cinco pontos importantes para
uma Educação Física de qualidade, denominados, como: a formação, a eficácia e
aperfeiçoamento dos professores; as instalações, os equipamentos esportivos e
recursos; a flexibilidade do programa escolar; as parcerias comunitárias; o
monitoramento e a garantia de qualidade.
As instalações e os equipamentos esportivos, previstos na estratégia da
UNESCO como uma das condições necessárias para o desenvolvimento das
atividades esportivas com qualidade são relacionados como os espaços, as
instalações e os equipamentos adequados e acessíveis, incluindo espaços de
armazenamento e apoio. Assegura-se ainda, neste documento, que a oferta destas
atividades não deva ser marginalizada em favor de outras disciplinas.
Para os pesquisadores espanhóis Frago e Escolano (2001), o espaço escolar
se caracteriza como sendo resultante da arquitetura e dos usos propostos,
permitidos e efetivados desse espaço considerado como escolar, mas não
educativo.
Faria (2011) aborda, neste sentido, que, a partir deste ponto de vista, a
organização física dos espaços internos e externos precisa desenvolver o potencial
educativo proposto tanto pelas atividades esportivas quanto pelo Programa ao qual
essas encontram-se inseridas.
A configuração do modelo de escola proposta por Anísio Teixeira (modelo que
serviu de inspiração ao PME) não se sustentou por diversos motivos, mas
principalmente, devido aos custos elevados de manutenção e infraestrutura
adequada para a realização das oficinas e atividades esportivas que estavam
subordinadas ao poder público.
Na proposição de desvincular do estado a responsabilidade na manutenção e
instalações de espaços e equipamentos esportivos, com a justificativa de ampliar a
escola para além dos muros, o PME idealizou essa colaboração imaginando que
esta estratégia incluiria a sociedade nos processos de ensino e aprendizagem e no
desenvolvimento das atividades esportivas.
132
Essa estratégia, também utilizada pela proposta da UNESCO, considerou
como importante as parcerias entre escolas, clubes e organizações esportivas
comunitárias, pois podem proporcionar resultados mais amplos para toda a vida,
incluindo saúde e bem-estar, assim como o desenvolvimento pessoal e social. Esse
documento reforça ainda que o princípio das parcerias é uma característica
essencial da estratégia da Organização Mundial da Saúde (OMS), bem como a
Resolução do Parlamento Europeu sobre o papel do esporte na educação21.
Nas observações encontradas na pesquisa de campo, verificou-se que as
escolas municipais de Salvador não conseguiram se utilizar desta estratégia de
parcerias, devido principalmente à inexistência de espaços esportivos disponíveis na
comunidade ou ainda, quando existentes, não sendo facultado o uso para as
escolas por questões, como segurança, traslado, etc.
Em sua avaliação quanto aos espaços educativos, Silva e Silva (2012) afirma
que na maioria dos bairros, a escola é o único ou um dos únicos equipamentos
públicos disponíveis, considera ainda que as concepções expressas nos
documentos norteadores vão desde a ausência de uma conceituação necessária
para a implementação até uma abordagem simbólica/cultural, esbarrando na
contradição entre realidade e possibilidade.
Ainda, considerando a avaliação dos locais existentes nas escolas que
desenvolveram o PME em Salvador no ano de 2014, um número muito insignificante
apresentou as quadras como sendo o espaço disponível para a realização das
atividades esportivas. Essas quando encontradas estavam em péssimas condições,
sem cobertura e necessitando de reformas urgentes. Grande parte dessas
atividades aconteciam em locais improvisados como salas de aula e pátios ou ainda
em refeitórios (as mesas e cadeiras eram empilhadas). Esses lugares, considerados
inadequados e sem o mínimo de conforto, de acessibilidade e de condições de
oferecer atividades esportivas que deveriam propiciar benefícios inerentes ao
desenvolvimento dos alunos participantes do Programa.
No item formação e aperfeiçoamento de professores, o documento afirma que
a formação dos professores deve ser desenvolvida a partir de um conjunto de
critérios que delineiam os princípios básicos para os professores com
responsabilidade de oferecer as atividades esportivas com qualidade. Prevê ainda
21
INI. European Parliament resolution of 13 November 2007 on the role of sport in education, 2007/2086.2007.
133
que as políticas públicas estabeleçam expectativas para que a Educação Física seja
ensinada por professores qualificados em todos os níveis de ensino. As políticas
precisam também garantir que os contratos de trabalho dos professores reflitam seu
papel como facilitadores das atividades físicas extracurriculares e do esporte escolar
fora da escola.
Em paralelo, sobre as funções da instituição escolar, estão as discussões
sobre o papel dos professores e de todos os outros envolvidos neste processo de
educar dentro da proposta do PME (ROSA,2013). A autora utiliza-se ainda de outros
autores, Nobrega (2010); Silva (2010); Faria (2011) apud Rosa, 2013 para confirmar
que existe uma abertura para o reconhecimento de diferentes agentes educadores
na política do Programa Mais Educação para as pessoas que convivem e trabalham
na escola, de preferência conhecedores da realidade local, ou de saberes
comunitários.
O PME previu a contratação de monitores e do professor comunitário
(coordenador do programa), definidos nesta investigação como gestores, que
deveriam ser uma peça-chave no desenvolvimento do Programa.
A proposta do programa requer um profissional que assuma multifunções,
atuando como um empreendedor comunitário. É esse profissional que deve
planejar, executar e garantir a efetivação do programa no cotidiano escolar. Estas
diversas funções e atribuições impostas sobrecarregam o seu fazer, não mais tão
―pedagógico‖ em razão de seu feitio operacional e administrativo, segundo Triches
(2010) apud Rosa (2013).
Esse trabalho nas escolas municipais de Salvador em 2014 foi desenvolvido
por profissionais caracterizados como gestores do programa. Constatou-se que a
política implementada pelo PME contribui para a precarização e, acima de tudo, para
a desvalorização do trabalho docente, conforme Rosa (2013).
O município de Salvador apresenta uma enorme distorção no cumprimento da
tarefa de contratar o gestor ou professor comunitário para o Programa. Utiliza-se, em
algumas situações, dos professores afastados da sala de aula, ou reconduzem-se
monitores mais antigos para exercerem essa função. Em um número muito pequeno
de escolas, esse profissional tem a formação e o perfil adequados para exercer essa
função com múltiplas atribuições.
O Programa Mais Educação prevê também a contratação de monitores
(voluntários) para exercerem a função de executar as atividades realizadas nos
134
macrocampos. Identificou-se que, nas escolas municipais de Salvador, a maioria
deles não têm formação universitária, apenas possuem a formação da prática e
alguns até mesmo sem experiência na área, apresentando-se outros somente com
ensino fundamental. Esses monitores ou voluntários exercem as atividades sem a
mínima formação adequada que possibilite garantir a eficiência e a eficácia a que se
propõem as atividades esportivas dentro do macrocampo esporte e lazer do
Programa Mais Educação.
Ainda, em alguns itens, como a flexibilidade do programa escolar,
monitoramento e garantia de qualidade, propostos pelas diretrizes da Unesco,
admite-se, como uma das questões principais, que o currículo da Educação Física
seja inclusivo, permitindo variações nos métodos de trabalho, a fim de se adaptar a
diferentes ambientes, oferecendo recursos necessários para diferentes estilos e
conteúdos de aprendizagem. Esses, muito embora, não especificados como
dimensões nesta pesquisa contribuem na construção dos programas de Educação
Física e das atividades esportivas das escolas.
O Programa Mais Educação apresentou uma flexibilidade na disposição das
atividades esportivas encontradas no universo investigado. A escolha dessas é de
responsabilidade da escola executora. Apresentou, também em sua concepção,
ementas que buscam dar uma direção às atividades desenvolvidas nos
macrocampos. Esta forma ampla de especificar as atividades esportivas dificultou
ainda mais o trabalho dos monitores nas escolas, pelo fato de que eles na maioria
das situações encontradas não possuem a mínima formação necessária. Esses
voluntários trabalharam apenas como tutores, ou ainda como cuidadores das
crianças nas atividades que funcionam como recreação e ocupação do tempo
disponível.
O macrocampo esporte e lazer configurou-se como um dos mais executados
nas escolas que optaram pelo PME em Salvador, entretanto as atividades
esportivas, em sua maioria, estão sendo realizadas sem a relação com o projeto
político-pedagógico ou com qualquer outro projeto da instituição, muito
provavelmente, porque apenas, há muito pouco tempo, a disciplina Educação Física
tornou-se obrigatória com a presença do professor licenciado. E, em sua grande
maioria, as escolas municipais de Salvador ainda não possuem este profissional. As
práticas esportivas acontecem apenas como ocupação do tempo livre das outras
135
atividades didáticas escolares, elemento esse, que se manteve com o mesmo
formato quando da implantação do PME nas escolas da rede municipal de Salvador.
Kempp (2014) diz que, nas experiências do Programa Mais Educação por ela
observada, as atividades de esporte eram as práticas mais escolhidas, como no
caso das escolas em Salvador. Entretanto, detectou que essas práticas não se
configuraram como práticas de esporte, e sim como ausência do esporte nas
escolas, evidenciando que as crianças ficavam livres na maior parte do tempo
dessas atividades, sem um direcionamento pedagógico.
Os motivos observados por Kempp (2014), para essa ausência do esporte,
foram similares aos observados nesta investigação nas escolas municipais de
Salvador como a rotatividade e a dificuldade de conseguir novos monitores devido
ao trabalho voluntário, à falta de formação adequada e, dessa forma, utilizando-se
do monitor disponível nas escolas, mesmo que ele exercesse apenas a função de
cuidador das crianças.
O discurso ideológico, presente nos programas e políticas de inserção social e
também de indução à educação integral, mediante as atividades esportivas, existe,
como no caso do Programa Mais Educação, campo empírico desta tese. Entretanto,
ao analisar o que a prática dessas atividades esportivas nos apresentaram,
encontraram-se nos resultados confirmação dos pressupostos assumidos, que serão
apresentados na conclusão.
5 CONCLUSÃO
A perspectiva de jornada ampliada e educação integral é uma realidade no
Brasil em quase todos os âmbitos e níveis escolares. A escola de turno integral
pretende se apresentar como local que constitui um sujeito sócio-histórico-cultural
ligado por dimensões ética, política, técnico-cientifica, epistemológica, estético-
afetiva e pedagógica.
Esta investigação se propôs, por meio do Ciclo de Políticas, identificar,
compreender e conhecer o Programa Mais Educação, caracterizado como indutor da
educação integral, desenvolvido nas escolas municipais de Salvador no ano de
2014, analisando o que a prática das atividades esportivas desenvolvidas neste
programa nos apresenta.
Esse ciclo representado pelos contextos de influência, da produção de texto e
da prática representaram e construíram referenciais importantes nessa análise.
No contexto de influência identificou-se como principal referência o modelo de
escola de Anysio Teixeira, respaldados pelo pensamento de Dewey e Habermas,
estruturando dessa forma uma proposta de concepção moderna de educação,
caracterizada pela formação mais completa possível do ser humano. Essas,
refletidas na construção do modelo de política indutora à educação integral, na
diversidade cultural e educacional brasileira, articulada com as diversas áreas de
saberes escolares e comunitários.
A proposta exibida para o Programa Mais Educação apresentou uma educação
integral fruto de debates entre diversos poderes, comunidade escolar e civil. Através
de documentos norteadores os agentes responsáveis pela elaboração e implantação
desse programa buscaram sanar as principais dúvidas quanto aos procedimentos e
normas para sua implantação, atribuindo à escola múltiplas finalidades, buscando
equacionar e reorganizar espaços, tempos e saberes.
Considerando o contexto da produção de texto, o programa configurou-se,
segundo documentos referenciais e modelos de gestão, como um elemento de
ampliação da jornada escolar, ofertando diversas possiblidades de práticas
esportivas, educacionais, atividades complementares e formativas.
Para o contexto da prática, no momento da interpretação da política, esta
pesquisa pretendeu identificar se as atividades de esportes se apresentam
137
incorporadas e executadas, conforme projeto político-pedagógico da escola, e se
atendem aos objetivos do Programa Mais Educação na rede municipal de Salvador.
Objetivou ainda esta pesquisa, mais especificamente, investigar e descrever as
práticas esportivas, como subprojeto integrado ao projeto político-pedagógico das
escolas municipais, que desenvolveram o Programa Mais Educação da Cidade de
Salvador no ano de 2014; investigar a formação do responsável pela execução das
práticas esportivas desenvolvidas dentro do PME.
Neste sentido, resgatando os questionamentos iniciais: - Que critérios servem
de referências para a definição das atividades esportivas pela escola dentro das
opções propostas pelo Programa Mais Educação, na jornada escolar ampliada?
Como essas atividades se vinculam ao projeto pedagógico das escolas, aos
diferentes estágios do desenvolvimento humano e à diversidade própria da sala de
aula? As atividades esportivas que acontecem no contraturno não configuram a
existência de duas escolas diferentes? A ênfase em determinadas atividades no
contraturno escolar encontra-se associada ou não às diferentes concepções de
educação integral, ou aos objetivos do Projeto pedagógico das escolas? As
atividades esportivas acontecem de acordo com os espaços possíveis de utilização
pela escola? - que deram origem aos objetivos da pesquisa, serão apresentadas
algumas apreciações e reflexões nas considerações finais.
Os resultados estatísticos da pesquisa demonstraram que um número muito
grande dos sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem das escolas
tem conhecimento da existência do projeto político-pedagógico, que funciona como
um instrumento normatizador. Poucas escolas realizaram alterações nesse
documento quando da implantação do Programa Mais Educação. A grande maioria
afirmou estar discutindo ou se organizando para iniciar para então efetivar ou não
uma possível alteração. As escolas não possuem as atividades esportivas
relacionadas no projeto pedagógico e, também na prática muitas ainda não têm o
professor de Educação Física. As atividades esportivas desenvolvidas pelo PME nas
unidades investigadas não apresentam relação com o projeto político- pedagógico,
conforme observado por meio das análises dos instrumentos de pesquisa.
Das atividades esportivas detectadas nas escolas, a modalidade mais
encontrada foi a denominada esporte da escola, seguida pela capoeira, recreação e
futsal. Estas acontecem de forma ampla e genérica sem nenhuma organização
138
didático-pedagógica. As atividades de capoeira são as mais procuradas devido a
motivos, como regionalidade, ou ao monitor normalmente pertencer a comunidade e,
não precisar de local específico para ser desenvolvida. O futsal aparece como uma
opção recreativa. Já as atividades denominadas de esporte da escola funcionam
como uma solução mais viável e executável, devido principalmente a falta de
espaços e profissionais especializados. Tais atividades funcionam como ocupação
do tempo disponível, mais como uma recreação ou atividade de lazer; normalmente
são atividades de correr, jogos de futsal, amarelinha.
Os espaços mais utilizados para a prática das atividades esportivas são os
pátios escolares, as salas de aula, ou ainda os refeitórios. O número de espaços
utilizados da comunidade é mínimo, devido a sua não existência, ou ainda a não
possibilidade de uso do equipamento por motivos de segurança. As quadras
esportivas existentes nas escolas necessitam, na maior parte, de melhorias.
Embora muitas escolas se encontrassem em reforma ou com o planejamento para
ser reestruturada (inclusive como motivo para cancelar ou suspender o PME em
2014), muitas não apresentaram a menor possibilidade de construção ou ampliação
dos espaços esportivos por falta de área física disponível.
Os profissionais encontrados nesta investigação desenvolvendo as atividades
esportivas no PME, são voluntários, conforme a própria regulamentação deste, e
que em sua maioria, não possuem formação específica na modalidade que
executam, tendo na prática de esportes a sua principal experiência. Os monitores
funcionam, principalmente, mais como tutores ou cuidadores das crianças no
momento disponibilizado pela escola para que essas atividades sejam
desenvolvidas. Essas acontecem apenas como ocupação do tempo livre e não como
elemento de formação para o sujeito.
As atividades esportivas cumprem apenas, única e exclusivamente, os
objetivos de contenção e guarda das crianças, que são atendidas em horários
disponibilizados após a jornada regular do ensino formal.
Os resultados demonstram que a maioria dos entrevistados (gestores e
monitores) reconhecem no Programa uma perspectiva de oferecer uma educação
mais completa com novas oportunidades. O fator mais precário do PME se referiu à
estrutura física das escolas e aos monitores, estes sem a formação adequada
139
necessária para atender as prerrogativas propostas pelos diversos órgãos
normatizadores.
A partir da análise dos pressupostos, foi possível perceber que as atividades
esportivas encontradas nas escolas como sendo desenvolvidas pelo PME,
encontram-se dissociadas do projeto político-pedagógico e dos objetivos do
Programa.
Os resultados encontrados apontam que o PME tem uma característica teórica
muito bem fundamentada e respaldada por organismos nacionais e internacionais,
na tentativa de solucionar diversos problemas, como acesso à educação de
qualidade e ampliação da jornada escolar. O macrocampo esporte e lazer aparece
como o principal nas escolhas das escolas e dos alunos participantes do Programa.
As escolas não possuem infraestrutura física para desenvolver atividades esportivas,
e estas não se apresentam com uma proposta pedagógica, apenas como uma
atividade de lazer, funcionando os monitores como cuidadores. Portanto, a escola
acaba por exercer a função social do estado de cuidar e proteger as crianças.
Importante frisar que o discurso ideológico presente nos programas e políticas
de inserção social, mediante as atividades esportivas do PME existe, tanto assim
que os órgãos ou setores responsáveis pela gestão, implantação e execução
reconhecem a importância das atividades esportivas na formação da criança.
O reconhecimento das atividades esportivas como um canal de socialização
positivo ou de inclusão social dentro do PME é notório. É preciso assumir essa
positividade das práticas esportivas nos projetos das escolas, possibilitando as
crianças a experimentar, a praticar e desenvolver hábitos saudáveis através da
execução das atividades físicas por meio dos esportes.
Esta pesquisa não esgota a discussão em torno das atividades esportivas
inseridas em uma política pública; ela suscita novos estudos que podem ampliar as
discussões em prol de uma educação integral efetiva. Novas temáticas podem
complementar este estudo, como a contribuição das atividades esportivas na
avaliação da Educação Básica ou, ainda, como desenvolver a articulação dos
saberes das práticas esportivas dentro de um processo de educação integral.
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WEINECK, Jurgen. Atividade Física e Esporte: para quê? Barueri, SP: Manole, 2003.
APÊNDICE A - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa
APÊNDICE B - Autorização de Pesquisa CENAP
APÊNDICE C - Modelo de formulário de pesquisa
APÊNDICE D - Termo de Livre Consentimento Esclarecido
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APÊNDICE E - ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO
ROTEIRO ANOTAÇÕES
PRÁTICA ESPORTIVA Qual prática esportiva observada
MONITOR Formação e postura do monitor na atividade
LOCAL DA PRÁTICA ESPORTIVA Onde está acontecendo a prática esportiva
MATERIAIS UTILIZADOS Quais os materiais que estão sendo utilizados e quanto a qualidade e quantidade destes
NÚMERO DE ALUNOS PARTICIPANTES DAS ATIVIDADES
Número de alunos participantes no momento da observação.