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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTOSENSU DO INSTITUTO DE
ENSINO E PESQUISA DO GRUPO SANTA CASA DE BELO HORIZONTE
MARA LÍVIA CARVALHO DUFFLES TEIXEIRA
EFEITO DO LASER DE BAIXA INTENSIDADE NA PREVENÇÃO DE
ADERÊNCIAS ABDOMINAIS E CICATRIZAÇÃO DA PELE APÓS
PERITONIECTOMIA EM MODELO EXPERIMENTAL
BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS
2012
II
MARA LÍVIA CARVALHO DUFFLES TEIXEIRA
EFEITO DO LASER DE BAIXA INTENSIDADE NA PREVENÇÃO DE
ADERÊNCIAS ABDOMINAIS E CICATRIZAÇÃO DA PELE APÓS
PERITONIECTOMIA EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-
graduação e Pesquisa da Santa Casa de
Belo Horizonte como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Medicina e
Biomedicina.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Ronaldo Alberti
Coorientador: Prof. Dr. Leonardo de Souza
Vasconcellos
BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS
2012
III
MARA LÍVIA CARVALHO DUFFLES TEIXEIRA
EFEITO DO LASER DE BAIXA INTENSIDADE NA PREVENÇÃO DE
ADERÊNCIAS ABDOMINAIS E CICATRIZAÇÃO DA PELE APÓS
PERITONIECTOMIA EM MODELO EXPERIMENTAL
Dissertação apresentada ao Núcleo de
Pós-graduação e Pesquisa da Santa
Casa de Belo Horizonte como requisito
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Medicina e Biomedicina.
Data da defesa: ____/____/____
Comissão Examinadora formada pelos Professores:
Dr. Geraldo Magela Gomes da Cruz
Dr. Lívio de Barros Silveira
Prof. Dr. Luiz Ronaldo Alberti – Orientador
Prof. Dr. Leonardo de Souza Vasconcellos – Coorientador
IV
Ao meu marido, Cláudio, pelo incentivo e companheirismo
durante todos os momentos desta caminhada.
Aos meus filhos, Gabriel, Thiago e Isabela, que
compreenderam minhas ausências e falhas durante todo
este processo.
Aos meus pais, por tudo que fizeram por mim, para que
eu conseguisse atingir esta etapa profissional.
V
AGRADECIMENTOS
Ao meu Orientador, Dr. Luiz Ronaldo Alberti, pela amizade, apoio e
presença, que foram indispensáveis ao desenvolvimento desta pesquisa.
Ao meu Coorientador, Dr. Leonardo de Souza Vasconcellos, pela amizade e
grande contribuição em todas as etapas desta pesquisa.
Ao Dr. Marcus Vinicius Lucas Ferreira, pesquisador do Centro de Tecnologia
Biomédica (CTBio-UFMG), pela orientação nos estudos do laser de baixa
intensidade.
Ao colega Tharcísio Gê de Oliveira, cirurgião geral, pelo auxílio nas cirurgias
experimentais.
À médica veterinária, Nelma Maria da Silva, pela orientação sobre
procedimentos anestésicos em animais.
Ao médico anatomopatologista, Maurício Buzelin Nunes, do Departamento
de Anatomia Patológica da Santa Casa de Belo Horizonte, pelas análises
histológicas.
À Sra. Ivone Marinho da Cruz e ao Professor Marcos Cláudio Moreira,
ambos do Departamento de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas
Gerais, pela confecção das lâminas histológicas.
Aos Srs. Marcelo Moreira de Jesus e Derlim Severiano de Paula, do Núcleo
de Experimentação Animal da Faculdade de Medicina da UFMG, pelos cuidados
com os animais.
Ao Professor Marcos Rodrigues Duffles Teixeira, pela correção ortográfica.
A todos os funcionários do Centro de Pós-Graduação do Instituto de Ensino
e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte (IEP), que demonstraram disponíveis e
acessíveis sempre que necessitei.
VI
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS........................................................................................ - V -
SUMÁRIO ........................................................................................................ - VI -
LISTA DE TABELAS ..................................................................................... - VIII -
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .............................................................................. - IX -
LISTA DE GRÁFICOS ..................................................................................... - XI -
RESUMO ........................................................................................................ - XII -
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. - 1 -
1.1 ADERÊNCIAS ............................................................................................ - 1 -
1.2 LASER ........................................................................................................ - 6 -
2. OBJETIVOS ................................................................................................. - 9 -
3. MÉTODO .................................................................................................... - 10 -
3.1. ÉTICA ...................................................................................................... - 10 -
3.2. ANIMAIS .................................................................................................. - 10 -
3.3. DISTRIBUIÇÃO DOS ANIMAIS .............................................................. - 11 -
3.4. PRÉ-OPERATÓRIO ................................................................................ - 11 -
3.5. TÉCNICA ANESTÉSICA ......................................................................... - 12 -
3.6. COLETA DE SANGUE ............................................................................ - 12 -
3.7 - PROCEDIMENTO OPERATÓRIO.......................................................... - 13 -
3.8. EQUIPAMENTO E PARÂMETROS DE UTILIZAÇÃO DO LASER DE BAIXA
INTENSIDADE ................................................................................................ - 16 -
3.9. CUIDADOS GERAIS DURANTE A APLICAÇÃO DO LASER DE BAIXA
INTENSIDADE NO PÓS- OPERATÓRIO ....................................................... - 19 -
3.10. NECROPSIA DOS ANIMAIS ................................................................. - 20 -
VII
3.11. ANÁLISE DAS ADERÊNCIAS .............................................................. - 20 -
3.11.1. PARÂMETROS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS ..................... - 21 -
3.12. ANÁLISE HISTOLÓGICA ..................................................................... - 22 -
3.13. ENSAIO MECÂNICO DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO .......................... - 23 -
3.14. ANÁLISE ESTATÍSTICA ....................................................................... - 26 -
4. RESULTADOS ........................................................................................... - 27 -
4.1. ACHADOS MACROSCÓPICOS ............................................................. - 27 -
4.2 ENSAIOS MECÂNICOS ........................................................................... - 33 -
4.3. EXAMES LABORATORIAIS ................................................................... - 34 -
5. DISCUSSÃO ............................................................................................... - 40 -
6. CONCLUSÕES ........................................................................................... - 47 -
ANEXO 1 ........................................................................................................ - 53 -
VIII
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1.1 – Presença de aderência abdominal nos três grupos no 14° dia pós-operatório....................................................................................................................................... - 27 -
Tabela 4.1.2 - Comparação entre número de aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.................................................................................................................. .- 29 -
Tabela 4.1.3 - Comparação entre áreas de aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.................................................................................................................. - 29 -
Tabela 4.1.4 - Tenacidade das aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório................................................................................................................................... - 31 -
Tabela 4.1.5- Vascularização das aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório................................................................................................................................ - 32 -
Tabela 4.1.6- Comparação entre a localização das aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório............................................................................................. - 32 -
Tabela 4.2.1 - Limite de resistência à tração da pele entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório........................................................................................................................................ - 34 -
Tabela 4.2.2- Limite de resistência à tração da parede e entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.............................................................................................................................. - 34 -
Tabela 4.3.1 - Resultado do Leucograma (média e desvio padrão) dosado nos animais dos três grupos no pré-operatório (D0) e no 4° dia pós-operatório (D4)....................................................... - 35 -
Tabela 4.3.2- Intensidade do processo inflamatório na cicatriz cirúrgica entre os animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório................................................................................................... - 36 -
Tabela 4.3.3- Intensidade do processo inflamatório nas aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.................................................................................................... - 37 -
IX
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Identificação dos animais (A) e gaiolas (B). ..................................................................... - 11 -
Figura 2 – Coleta de sangue através da dissecação e punção da veia femoral (seta). Coleta realizada no pré-operatório (D0) e repetida no 4º dia pós-operatório (D4) ...................................................... - 12 -
Figura 3 – Tonsurotomia realizada na região anterior do tórax e abdome. ...................................... - 13 -
Figura 4 – Laparotomia mediana longitudinal (A), abertura e afastamento por planos das bordas da parede abdominal do coelho, (B), molde de plástico (seta), medindo 3 cm x 1 cm, utilizado para padronização da retirada de fragmento de peritônio da parede abdominal do coelho (C) e aparência da parede abdominal (seta) após a retirada do fragmento de peritônio parietal (D). ....................... - 14 -
Figura 5 – Aplicação perioperatória do laser de baixa intensidade na lateral direita (A) e esquerda (B) da parede abdominal do coelho, logo após a peritoniectomia. ......................................................... - 15 -
Figura 6 – Sutura da ferida cirúrgica em planos: aponeurose e peritônio parietal e pele, com nylon 3-0. ........................................................................................................................................................... - 15 -
Figura 7– Aparelho Twin Flex Evolution Laser ®, InGaIP, 658 nm, vermelho. ................................ - 17 -
Figura 8 – Proteção da caneta laser com filme de PVC incolor (seta). ............................................ - 18 -
Figura 9 – Óculos de proteção para aplicação do laser de baixa intensidade. ................................ - 18 -
Figura 10– Aplicação diária do laser de baixa intensidade no pós-operatório, em quatro pontos distintos, dois em cada lado da ressecção peritoneal, com base no molde plástico padrão, durante os quatro primeiros dias de pós-operatório. .......................................................................................... - 19 -
Figura 11 – Esquema da incisão em “U” invertido na parede abdominal anterior (A). Exame da cavidade abdominal através da incisão em forma de “U” invertido (B). ........................................... - 20 -
Figura 12 – Contagem do número de aderências abdominais. ........................................................ - 22 -
Figura 13 – Medição da superfície de contato entre as estruturas (A) e da espessura das aderências (B). ..................................................................................................................................................... - 22 -
Figura 14 – Máquina universal de ensaio da marca Kratos ®. ......................................................... - 24 -
Figura 15 - Confecção do corpo de prova com molde plástico (*) medindo 8 cm x 2,5 cm. Indicação da posição da cicatriz cirúrgica (seta). ................................................................................................... - 24 -
Figura 16 – Fragmento da pele sob tração. Observar cicatriz na parte central (seta). .................... - 25 -
Figura 17 – Exame da cavidade abdominal constatando ausência de aderência abdominal em animais n. 2 e 5 do GL2 (Grupo laser dose 3,6 J), respectivamente (A e B). Presença de aderência abdominal entre parede abdominal e intestino grosso no coelho n. 4 do GC (Grupo Controle) (C) e no coelho n. 6 do GL1 (Grupo laser dose 0,2 J) (D). ............................................................................. - 28 -
Figura 18 – Medição da superfície de contato entre estruturas aderidas (A), coelho número dois do GC (Grupo Controle) e da espessura das aderências (B), coelho número três do GC (Grupo Controle). ........................................................................................................................................... - 30 -
X
Figura 19 - Aderências abdominais presentes no coelho número cinco do CG (Grupo Controle) (seta) classificadas como firme (necessitou tripsia para ser desfeita) (A) e frouxa (sem necessidade de tripsia para ser desfeita) presente no coelho número três do GL1 (Grupo laser dose 0,2 J ) (B). ... - 31 -
Figura 20 - Aderência abdominal entre parede e intestino grosso (seta) no coelho número dois do GC (Grupo Controle) (A) e parede e omento (seta) no coelho número sete do GL2 (Grupo laser dose 3,6 J) (B). ................................................................................................................................................. - 33 -
Figura 21 – Microscopia da cicatriz cirúrgica do coelho número dois, Grupo GL1 (Grupo laser dose 0,2 J). Observar presença de processo inflamatório leve/moderado (setas) com predomínio de polimorfonucleares (A) Aumento de 40x; (B) Aumento de 100x. Corado com hematoxilina e eosina. ... - 36 -
Figura 22 - Microscopia da aderência abdominal do coelho número dois, Grupo GL1 (Grupo laser dose 0,2 J). Observar a presença de processo inflamatório leve/moderado (setas) com predomínio de células polimorfonucleares. (A) Aumento de 40x; (B) Aumento de 100x. Corado com hematoxilina e eosina. ............................................................................................................................................... - 38 -
Figura 23 - Microscopia da aderência abdominal do coelho número 18, Grupo GL2 (Grupo laser dose 3,6 J). Observar presença de vascularização (setas). (A) Aumento de 40x; (B) Aumento de 100x. Hematoxilina e eosina. ...................................................................................................................... - 39 -
XI
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Resumo das avaliações quantitativas das aderências encontradas nos três grupos. ... - 30 -
Gráfico 2 - Resumo das avaliações quanlitativas das aderências encontradas nos três grupos. .... - 33 -
XII
RESUMO
Introdução: As aderências abdominais são frequentes após cirurgias e são causas
de obstrução intestinal, dor abdominal crônica e infertilidade. Sua prevenção
permanece um desafio para os profissionais da área da saúde, principalmente no
campo da cirurgia.
Objetivos: Avaliar os efeitos da aplicação do laser de baixa intensidade na
prevenção de aderências abdominais e cicatrização da pele após peritoniectomia.
Método: Foram utilizados 24 coelhos machos da raça Nova Zelândia, com cerca de
2 meses de idade, distribuídos aleatoriamente em 3 grupos (n=8): GC – grupo
controle, não submetido ao laser, GL1 – grupo com aplicação do laser na dose de
0,2 J e GL2 – grupo com aplicação do laser na dose de 3,6 J. Em todos os animais
foi realizada uma laparotomia mediana longitudinal e ressecção bilateral de
fragmento peritoneais medindo 3 cm x 1 cm. Os animais abordados com laser
receberam uma aplicação, a cada 24 horas, a contar do horário da cirurgia, por um
período de quatro dias. No 14° dia de pós-operatório os animais foram sacrificados e
a formação de aderência foi avaliada quantitativa e qualitativamente, através de uma
laparotomia em forma de "U" invertido que permitiu ampla verificação da parede da
cavidade abdominal e órgãos. Foi realizada também a avaliação quantitativa e
qualitativa do tecido cicatricial e da resposta inflamatória aguda pela análise de PCR
(proteína C reativa) e leucograma. As diferenças foram consideradas significativas
para p<0,05.
Resultados: A formação de aderência foi observada em 100% dos coelhos dos
grupos GC e GL1 e 37,5% dos animais do grupo GL2 (p<0,01). A avaliação da
tenacidade e vascularização das aderências entre os grupos não apresentou
diferença significativa. A comparação dos sítios de localização das aderências, entre
os grupos, mostrou que 100% das aderências formadas no grupo GL2 não
envolveram estruturas viscerais. Já nos grupos GC e GL1, 72% e 83% das
aderências envolveram tais estruturas, respectivamente. A resistência à tração da
XIII
pele entre os grupos não foi significativa (p=0,3106). As resistências dos segmentos
cutâneos entre os grupos GL2 e GC não foram diferentes, sendo melhores que o
GL1, (p=0,01). A intensidade do processo inflamatório verificada por meio de
leucograma, PRC e PCR ultrassensível não apresentou diferença entre os grupos.
A exame histológica da ferida cirúrgica e das aderências formadas não apresentou
diferença significativa quanto à intensidade do processo inflamatório.
Conclusão: A aplicação do laser de baixa intensidade na dose de 3,6 J, fluência de
90 J/cm2, potência de 40 mW e tempo de 90 s é eficaz na redução da formação,
número e área de aderências abdominais em coelhos, sem modificar as
características (tenacidade, vascularização e inflamação) e sem comprometer a
resistência cicatricial pós-operatória da parede abdominal.
Descritores: Aderências peritoneais, laser fotobioestimulação, irradiação laser de
baixa potência, terapia laser de baixa potência, irradiação laser de baixa potência,
terapia laser, cicatrização, coelho, resistência à tração, PCR.
- 1 -
1. INTRODUÇÃO
1.1. ADERÊNCIAS
Aderências são conexões anormais de órgãos ou estruturas corporais. Essas
conexões ou pontes podem se constituir de uma fina lâmina de tecido conjuntivo, de
uma lâmina tecidual mais espessa contendo vasos sanguíneos e nervos, ou
representar um contato direto entre a superfície de dois órgãos. Aderências podem
ser encontradas na cavidade peritoneal, pericárdica, pleural, uterina, no interior de
articulações ou das câmaras oculares. Aderências na cavidade abdominal são
conhecidas como aderências peritoneais, uma vez que o peritônio visceral ou
parietal está sempre envolvido. Sua incidência após ato cirúrgico é elevada podendo
ocorrer em até 93% das laparotomias. (1)
Os avanços da medicina possibilitaram o aumento do número de cirurgias, mas as
aderências ainda ocorrem com elevada incidência, mesmo tendo diminuído. (1) (2)
(3)
Segundo Ellis et al, 34,6% dos pacientes submetidos à operação abdominal ou
pélvica foram readmitidos no hospital, uma média de 2,1 vezes, nos 10 anos
subsequentes, devido às complicações diretamente relacionadas às aderências. Do
total de readmissões (n=1.209), 5,7% foram relacionadas diretamente com a
presença de aderências, sendo que 3,8% (n=1.169) necessitaram de nova
operação. Mais de 22% de todas as readmissões ocorreram no primeiro ano, após o
procedimento inicial. (2)
Aderências estão associadas ao risco de vida efetivo ou potencial, pois estão
relacionadas a complicações graves, como a obstrução intestinal. (1) (3) Também
podem causar dor abdominal crônica (4) e infertilidade feminina. (5)
Aderência pós-operatória é a causa mais prevalente de obstrução aguda e
recidivante de intestino delgado, estando associada a taxas de mortalidade de até
15%. (6) (2) (7) (8)
- 2 -
Moreira Jr e colaboradores (2005), avaliando pacientes atendidos em serviço de
urgência com diagnóstico de obstrução intestinal, no período de 1999 a 2000,
concluíram que as aderências foram a causa mais comum de obstruções intestinais,
correspondendo a 37,2% dos casos. A obstrução do intestino delgado foi causada
por aderências em 82,8% dos casos, sendo que desses, 62,66% necessitaram de
cirurgia e 37,73%, de tratamento clínico, com 30,30% de enterectomias e 9,09% de
lesão acidental ao intestino delgado. Ocorreram oito óbitos (sete casos operados e
um caso tratado clinicamente). Nesse estudo, a doença aderencial foi a causa mais
importante de oclusão intestinal e está associada à morbimortalidade elevada, pois
são tratados, quase sempre, em situações de emergência e em evolução avançada.
(9)
Vidal (2005) avaliou as principais causas de obstrução intestinal em pacientes
admitidos no serviço de urgência do Hospital Governador João Alves Filho-
Aracajú/SE e concluiu que a principal causa foi aderência do delgado (44%).
Dessas, 30% apresentaram-se complicadas e 10% dos pacientes faleceram. (10)
Segundo Wiseman (2007), é muito comum pensar que somente as mulheres são
propensas a aderências, mas os homens não estão excluídos do problema.
Estatísticas americanas coletadas de altas hospitalares (CID9) a partir dos dados
mais recentes disponíveis (2001-2005), revelam que mais de 50 mil homens
receberam alta hospitalar em 2005, com diagnóstico de aderências peritoneais,
representando 28% do total desse diagnóstico quando comparado com as altas
femininas que representaram os outros 72%. Do total de homens hospitalizados em
virtude das aderências, 71,56% apresentaram obstrução intestinal. Mais de dois mil
homens e mulheres morrem todo ano com diagnóstico de obstrução intestinal
causada por aderência, representando 3% do total de altas com este diagnóstico.
Aderência é um problema clínico significante para homens e mulheres, sendo que os
homens, com diagnóstico de obstrução intestinal causada por aderências, têm risco
ligeiramente maior de morrer do que as mulheres, bem como permanecem
hospitalizados por mais tempo, ocasionando um custo superior estimado em US$
48.000,00. (11)
- 3 -
A presença de aderências também pode ser um complicador ao tratamento do
câncer. A irradiação adjuvante ou neoadjuvante e por recidiva tumoral em tecidos
alterados por cirurgia anterior tende à maior morbidade uma vez que aderências
prévias fixam segmentos intestinais quando submetidas a altas doses de radiação
subsequente. (12)
A administração de quimioterapia intra-abdominal também pode ficar prejudicada na
presença de aderências. A distribuição da droga deve ser feita de forma uniforme,
por toda a cavidade peritoneal, para otimizar e evitar a exposição excessiva em
focos restritos. (12)
No Brasil, estima-se que os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) e os impactos
socioeconômicos oriundos da formação de aderências e suas respectivas
complicações também sejam expressivos, embora não haja dados na literatura que
contabilizem esses gastos. (9)
Trauma peritoneal (cortes, cauterização, suturas, etc.), corpos estranhos, isquemia
tecidual e infecções de vísceras abdominais são os principais fatores associados
com a formação de aderências pós-operatórias. (13)
A lesão peritoneal causa uma reação inflamatória serossanguínea que leva a
depósitos de fibrina. Bem oxigenadas, intactas, as células mesoteliais produzem
ativador de plasminogênio, que lisa os coágulos de fibrina formados após a lesão. A
proliferação de células mesodérmicas regenera uma camada única de mesotélio
novo entre três e cinco dias após a injúria. Nas feridas experimentais, atividade
fibrinolítica foi encontrada três dias após a lesão, antes da reconstrução da
integridade mesotelial. Esse processo é rápido e, geralmente, reconstitui a parede
peritoneal sem formação de aderências. Por outro lado, fibrinólise inadequada
permite que a proliferação de fibroblastos produza aderências fibrosas. Com a
hipóxia, a matriz fibrinosa é invadida por fibroblastos, havendo estimulação de
angiogênese e síntese de colágeno. Aderências fibrosas plenamente desenvolvidas
formam-se após 10 dias e tornam-se máximas entre duas e três semanas após a
injúria. (12)
- 4 -
Cita-se a relação direta entre a presença de mastócitos no processo inflamatório e o
início do processo adesivo. Acredita-se que o mastócito se une aos fibroblastos
intestinais, desencadeando sua proliferação, mecanismo comprovado in vitro e em
modelos experimentais. (14)
A fisiopatologia específica das aderências permanece incerta. Segundo Henrrick e
colaboradores (2001) a formação de aderências é consequência de uma lesão
peritoneal, com isquemia local e falsa regeneração. (4)
Estudo em humanos revelou a morfologia, qualidade e composição das aderências
peritoneais maduras, concluindo que as mesmas eram ricas em células
mononucleares, fibroblastos, adipócitos e endotélios. Tais achados suportam a
hipótese de que o reparo inadequado da superfície peritoneal poderia propiciar
formação de aderências persistentes, sendo consequência de um processo de
remodelação e cicatrização permanentes. (15)
Cerca de 90% dos pacientes desenvolvem aderências após laparotomia. Em se
tratando de cirurgia ginecológica esse número pode chegar a 100%. (3)
Certamente a prevenção de aderências reduzira a incidência e a gravidade de suas
complicações. (16)
As medidas profiláticas para redução da formação de aderências visam diminuir a
intensidade da resposta inflamatória e a coagulabilidade, além de impedir o contato
prolongado entre superfícies justapostas, por meio de efeitos siliconizantes (6).
Segundo Cruz (1969), os primeiros métodos utilizados para a prevenção de
aderências foram a instilação de ar na cavidade peritoneal, promoção de
peristaltismo intestinal precoce, uso de heparina e outros anticoagulantes na
cavidade abdominal, instilação de soluções hipotônicas, hialuronidase e esteroides
na cavidade peritoneal, dentre outros. O uso da fibrinolisina como agente de
prevenção reduz a formação de aderências peritônio-viscerais contudo enseja a
- 5 -
deiscência de suturas cólicas com obtidos por peritonite, na dosagem de 195 U/g de
peso corporal (17).
Existem também métodos de barreiras físicas como telas de celulose oxidada
regenerada (ORC) que visam separar fisicamente os tecidos que potencialmente
poderiam se aderir, como o Surgigel®, Seprafilm® e o Interceed ®. Tais métodos
podem prevenir a formação de aderências quando em uso, sendo reabsorvidos
quando não são mais necessários (18) (19) (20), contudo sua eficácia pode ser
significativamente reduzida na presença de sangue e processo inflamatório
contaminado, além do elevado custo, sua disponibilidade e a dificuldade de
manuseio do material. (21) (16)
Kumar e colaboradores (2009), em estudo de revisão que cobriu o período de 1966
a 2008, concluíram que há evidências de que o uso do ácido hialurônico e
membrana de carboximetilcelulose pode reduzir a incidência, extensão e gravidade
das aderências o que, teoricamente, beneficiaria as reoperações abdominais.
Contudo, não há evidência de que a incidência de obstrução intestinal ou a
necessidade de nova intervenção cirúrgica tenham sido reduzidas com este tipo de
tratamento. (22)
Outras tentativas baseadas no processo de síntese do colágeno também foram
estudadas. O colágeno é diferente de todas as outras proteínas, pois sofre várias
modificações quando atinge o ambiente extracelular. Nesse ambiente, ocorrem
cross-linking formando fibrinas e fibras de colágeno. A enzima responsável por esta
etapa, a oxidase lisil, requer a presença de cobre e pode ser inibida pelo
b-aminopropionitrilo (BAPN) e d-penicillamina. A inibição do cross-linking do
colágeno tem sido estudada em animais e, em um grau limitado, em humanos, na
tentativa de evitar deposição excessiva de colágeno em aderências e fibroses
subsequentes. Os resultados têm sido modestos. (12)
- 6 -
1.2. LASER
A palavra laser é um acrônimo do inglês "Light Amplification by Stimulated Emission
of Radiation", o que significa "amplificação da luz pelo efeito da emissão estimulada
da radiação". A geração da onda eletromagnética depende da excitação dos
elétrons presentes no meio condutivo (sólido, líquido ou gasoso) que constitui o
laser. A energia a laser não existe na natureza e é transformada a partir de algum
tipo de fonte de energia, como uma lâmpada, que estimula um grande número de
elétrons em repouso, os quais são capazes de produzir fótons de luz. Esse processo
desencadeia uma ação repetida de emissão de energia gerando luz intensa. (23)
A luz gerada por um meio sólido (por exemplo, rubi e alexandrita) ou gasoso (por
exemplo, CO2) para adquirir as três principais características dos laseres, que são:
raios colimados (todos os raios de luz caminham na mesma direção, permitindo que
uma grande quantidade de energia seja transmitida a um alvo preciso), luz
monocromática (tem uma única cor, que corresponde a um comprimento de onda do
espectro eletromagnético) e raios coerentes (todos os raios da luz do laser
caminham paralelos no tempo e no espaço). Dessa forma, têm-se diferentes tipos de
equipamentos de laser, dependendo do comprimento de onda emitido. (24)
A primeira publicação sobre Laser data de 1958, no artigo de Schawlow e Townes.
(25). Em 1960 Maiman utilizando um cristal de rubi, desenvolveu a primeira fonte de
laser. (26)
Em 1965, foi criado por Sinclair e Knol um aparelho de laser com efeito
fotobioestimulante em tecidos vivos, o chamado laser terapêutico. (27)
O laser de baixa intensidade, também chamado de baixa potência ou ainda
bioestimulante, tem sido usado desde o final da década de 1960, sendo sua
grandeza de radiação tão baixa (entre 2 e 30 mW) que seus efeitos biológicos
ocorrem devido a radiação e não como resultado do aquecimento, não sendo capaz
de elevar a temperatura do tecido vivo além de 1 ºC. A penetração do laser chega
- 7 -
apenas a poucos milímetros da pele, sendo absorvida nos seus diferentes estratos.
(23)
Em 1967, Endre Mester, médico húngaro, publicou trabalho com a utilização de laser
de baixa potência (Soft Laser) He-Ne, para cicatrização de feridas e úlceras,
demonstrando que era possível obter bons resultados terapêuticos com baixa
densidade energética (potência média de 1,0 a 10,0 mW). (28)
A laserterapia de baixa potência tem sido cada vez mais utilizada e investigada.
Fatores como o não traumatismo dos tecidos, custo reduzido, bons resultados na
cicatrização e controle da dor parecem contribuir para seu uso contínuo e cada vez
mais frequente. (29)
Apesar de várias investigações, ainda não foi possível parametrizar o uso do laser
no processo de cicatrização. Algumas revisões (30) (31) (32) e meta-análise (33)
publicadas recentemente concluíram que a laserterapia é benéfica à cicatrização e
ao controle da dor, mas não foi possível estabelecer protocolos, uma vez que uma
considerável variação nos projetos de pesquisa, metodologia e parâmetros de
irradiação empregados limitou a comparação dos resultados entre os estudos. (30)
(33) (31) (32)
Bjordal e colaboradores (2006) avaliaram os efeitos biológicos e clínicos de curto
prazo (até sete dias após injúria) do laser na dor aguda em lesão de tecido mole,
demonstrando que essa terapia pode modular processo inflamatório de uma maneira
dose-dependente e é capaz de reduzir significativamente a dor inflamatória aguda.
(30)
Sete artigos de revisão (30) (34) (35) (32) (36) (37) (31), publicados entre 2006 e
2010 e uma meta-análise (33), publicada em 2009, avaliaram os efeitos do laser
sobre a cicatrização de feridas e dor. Em nenhuma dessas publicações foram
encontrados estudos avaliando o efeito do laser sobre a formação de aderências.
(30) (34) (35) (33) (32) (36) (37) (31)
- 8 -
Embora o laser já seja utilizado em larga escala, com o objetivo de facilitar o
processo de cicatrização há pelo menos 50 anos (25), ainda não foram publicados
estudos avaliando o efeito dessa terapia sobre a formação de aderências
abdominais.
- 9 -
2. OBJETIVO
Avaliar os efeitos do laser de baixa intensidade sobre a formação, morfologia e
aspectos inflamatórios das aderências abdominais e cicatrização da pele após
peritoniectomia em coelhos.
- 10 -
3. MÉTODO
3.1. ÉTICA
Os aspectos legais e éticos foram observados conforme a determinação da Lei
11.794, de 8 de outubro de 2008, que dispõe sobre procedimento para uso científico
de animais (38) e Princípios Éticos para o Uso de Animais de Experimentação,
editado pelo Comitê de Ética e Experimentação Animal (CETEA) da Universidade
Federal de Minas Gerais. (39) O experimento foi devidamente aprovado pelo CETEA
– UFMG, certificado 21/2011. (Anexo I)
3.2. ANIMAIS
Este trabalho foi realizado no Núcleo de Experimentação Animal da Faculdade de
Medicina da UFMG. Os animais foram adquiridos na Fundação de Estudos e
Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia – Fazenda Veterinária da UFMG e
transportados para o Núcleo de Experimentação Animal da Faculdade de Medicina
da UFMG em gaiolas apropriadas.
Foram utilizados vinte e quatro coelhos machos Oryctolagus Cunículus, da raça
Nova Zelândia, pesando entre 2.110 g e 2.590 g. Os animais foram identificados
com marcação em suas orelhas (Figura 1 A) com caneta dermatográfica e alocados
em gaiolas individuais, identificadas externamente com etiqueta adesiva (Figura 1
B).
Os animais permaneceram em observação por 15 dias antes do experimento para
verificar seu estado de saúde, a fim de excluir afecções que pudessem interferir na
investigação.
- 11 -
Figura 1 - Identificação dos animais (A) e gaiolas (B).
3.3. DISTRIBUIÇÃO DOS ANIMAIS
Os coelhos foram distribuídos, aleatoriamente, em 3 grupos (n=8) conforme a
terapêutica adotada:
GC – 8 coelhos, grupo controle, não irradiado com laser;
GL1 – 8 coelhos, grupo irradiado com laser: energia de 0,2 J, fluência de 5
J/cm2, potência de 0,005 W, tempo de 40 s por ponto ;
GL2 – 8 coelhos, grupo irradiado com laser: energia de 3,6 J, fluência de 90
J/cm2, potência de 0,04 W, tempo de 90 s por ponto.
3.4. PRÉ-OPERATÓRIO
Os animais foram mantidos no Núcleo de Experimentação Animal da Faculdade de
Medicina da UFMG, em gaiolas específicas para este fim, em temperatura ambiente,
com livre acesso à água potável e ração de origem industrial padronizada,
respeitando ciclo normal de dia e de noite. Antes do procedimento operatório, os
animais foram pesados em balança eletrônica digital.
- 12 -
3.5. TÉCNICA ANESTÉSICA
O procedimento cirúrgico foi realizado sob anestesia intramuscular, na região glútea,
com cloridrato de cetamina (Cetamin®, Syntec, Cotia, SP) na dose de 20mg/kg
associado a cloridrato de xilazina (Xilazin®, Syntec, Cotia, SP) a 2%, na dose de
6mg/kg. Realizou-se antibioticoprofilaxia com Cefalexina monoidratada (Keflex®, Eli
Lilly, São Paulo, SP) na dose de 50mg/kg através da administração intramuscular,
30 minutos antes do procedimento. Durante todo o procedimento operatório foram
avaliados os padrões respiratórios e de sedação dos animais. Quando necessário,
foi aplicada adicionalmente metade da dose inicial dos anestésicos.
3.6. COLETA DE SANGUE
Foi realizada previamente à cirúrgica (D0), coleta de sangue através da dissecação e
punção da veia femoral para análise de proteína C reativa (PCR) e leucograma. O
mesmo procedimento foi repetido no 4º dia pós-operatório (D4) (Figura 2).
Figura 2 – Coleta de sangue através da dissecação e punção da veia femoral (seta). Coleta realizada no pré-operatório (D0) e repetida no 4º dia pós-operatório (D4)
- 13 -
A proteína C reativa (PCR) foi dosada por química seca (VITRUS – Johnson &
Johnson) (valor de referência < 10mg/L). A Proteína C Reativa Ultra-sensível
(PCRus) foi dosada por nefelometria, no Laboratório Hermes Pardini (Valor de
referência < 8mg/L para doença inflamatória na fase aguda).
3.7. PROCEDIMENTO OPERATÓRIO
As cirurgias foram realizadas na sala de cirurgia do Núcleo de Experimentação
Animal Central da Faculdade de Medicina da UFMG. Os animais foram posicionados
em decúbito dorsal. Um foco cirúrgico iluminou o campo operatório. O instrumental
cirúrgico foi constituído por bisturi de lâmina descartável, tesouras retas e de
Metzenbaum, pinças anatômicas e dente-de-rato, pinças homeostáticas curvas,
retas e porta agulha. Após a tonsurotomia de toda a região anterior do tórax e
abdome com lâmina de aço inoxidável (Figura 3), foram colocados os campos
operatórios estéreis.
Figura 3 – Tonsurotomia realizada na região anterior do tórax e
abdome.
- 14 -
O ato cirúrgico foi realizado conforme as seguintes etapas:
1. Laparotomia longitudinal mediana medindo 7 cm de extensão, 4 cm
distalmente ao apêndice xifoide (Figura 4 A);
2. Abertura da parede abdominal por planos (pele, subcutâneo, aponeurose e
peritônio parietal) (Figura 4 B);
3. Ressecção de fragmento de peritônio parietal, medindo 3 cm x 1 cm, situado 1
cm lateralmente as margens da incisão, com uso de molde para padronizar
o tamanho de todos os fragmento ressecados (Figuras 4 C). Aparência da
parede abdominal após a retirada do fragmento de peritônio parietal (Figura 4
D).
Figura 4 – Laparotomia mediana longitudinal (A), abertura e afastamento por planos das bordas da parede abdominal do coelho, (B), molde de plástico (seta), medindo 3 cm x 1 cm, utilizado para padronização da retirada de fragmento de peritônio da parede abdominal do coelho (C) e aparência da parede abdominal (seta) após a retirada do fragmento de peritônio parietal (D).
- 15 -
4. Aplicação perioperatória do laser de baixa intensidade nos Grupos GL1 e
GL2 em quatro pontos, 1 cm distantes entre si, dois na lateral direita e dois
na lateral esquerda, nos locais onde foram retirados os retalhos (Figura 5 A e
B).
Figura 5 – Aplicação perioperatória do laser de baixa intensidade na lateral direita (A) e esquerda (B) da parede abdominal do coelho, logo após a peritoniectomia.
5. Sutura contínua da ferida cirúrgica, em planos (aponeurose e peritônio parietal e
pele) com fio de nylon 3-0 (Thecnofio®, Goiânia, GO) (Figura 6).
Figura 6 – Sutura da ferida cirúrgica em planos: aponeurose e peritônio parietal e pele, com nylon 3-0.
- 16 -
Todos os animais do GC foram submetidos ao mesmo procedimento, porém sem a
aplicação do laser de baixa intensidade.
3.8. EQUIPAMENTO E PARÂMETROS DE UTILIZAÇÃO DO LASER DE BAIXA
INTENSIDADE
O aparelho utilizado no experimento foi o Twin Flex Evolution Laser ® (Figura 8),
fabricado pela MM Optics Ltda. Características do laser: meio condutivo InGaAIP,
comprimento de onda de 658 nm +- 10 nm, luz visível vermelha, área do spot igual
a 0,04 cm2, operação em modo contínuo, potência máxima de saída de 40 mW +-
20%.
Os parâmetros adotados para aplicação do laser de baixa intensidade foram:
GL1 - Dose: 0,2 J, fluência de 5 J/cm2. Aplicado no peri e pós-operatório,
aplicação realizada perpendicularmente ao tecido cicatricial e em contato direto
com o mesmo, com tempo de aplicação de 40 s por ponto, na potência de 5 mW,
aplicados em 4 pontos por animal em cada sessão diária durante 4 dias;
GL2 - Dose: 3,6 J, fluência de 90 J/cm2. Aplicado no peri e pós-operatório,
aplicação realizada perpendicularmente ao tecido cicatricial e em contato direto
com o mesmo, com tempo de aplicação de 90 s por ponto, na potência de 40
mW, aplicados em 4 pontos por animal em cada sessão diária durante 4 dias;
- 17 -
Figura 7– Aparelho Twin Flex Evolution Laser ®, InGaIP, 658 nm, vermelho.
A caneta de aplicação foi mantida perpendicular à área aplicada e em contato direto
com a pele do animal. A ponteira foi protegida com filme de PVC, incolor, que foi
devidamente esticado, evitando a formação de dobras que poderiam prejudicar a
transmissão do feixe de luz laser (Figura 9). O filme foi trocado a cada aplicação. As
aplicações foram realizadas com a utilização de óculos de proteção fornecidos pelo
fabricante do equipamento (Figura 10).
- 18 -
Figura 8 – Proteção da caneta laser com filme de PVC incolor (seta).
Figura 9 – Óculos de proteção para aplicação do laser de baixa intensidade.
- 19 -
3.9. CUIDADOS GERAIS DURANTE A APLICAÇÃO DO LASER DE BAIXA
INTENSIDADE NO PÓS- OPERATÓRIO
Após o ato cirúrgico os coelhos permaneceram em temperatura ambiente, com livre
acesso à água potável e ração de origem industrial padronizada. Cumpriram ciclo
normal de dia e de noite.
Os animais do GL1 e GL2 receberam, na pele, uma aplicação diária de laser de
baixa intensidade na mesma dose utilizada no peroperatório, a partir do horário da
cirurgia inicial, durante os quatro primeiros dias de pós-operatório. Foi utilizado um
molde (Figura10) para padronização da aplicação do laser. Cada aplicação foi
realizada em quatro pontos, dois na lateral direita e dois na lateral esquerda,
afastados 1,5 cm da linha média e com a distância de 1 cm entre os pontos de
aplicação (Figura 10).
Figura 10– Aplicação diária do laser de baixa intensidade no pós-operatório, em quatro pontos distintos, dois em cada lado da ressecção peritoneal, com base no molde plástico padrão, durante os quatro primeiros dias de pós-operatório.
- 20 -
3.10. NECROPSIA DOS ANIMAIS
Todos os animais foram sacrificados no 14º dia pós-operatório, por pneumotórax,
após anestesia intramuscular de cloridrato de cetamina (Cetamin®, Syntec, Cotia,
SP), na dose de 50mg/kg.
A cavidade abdominal foi examinada após uma ampla laparotomia mediana
longitudinal em forma de "U" invertido abraçando a cicatriz cirúrgica (Figura 11 A e
B).
Figura 11 – Esquema da incisão em “U” invertido na parede abdominal anterior (A). Exame da cavidade abdominal através da incisão em forma de “U” invertido (B).
3.11. ANÁLISE DAS ADERÊNCIAS
A constatação da formação ou não de aderências foi realizada através da avaliação
da região da cicatriz cirúrgica no peritônio. Todas as aderências encontradas foram
contadas e estudadas.
- 21 -
3.11.1. PARÂMETROS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS
A qualificação e a quantificação das aderências foram baseadas no estudo de
MORENO-EGEA, AGUAYO, ZAMBUDIO e PARRILLA (1993), modificado. (40).
Foram avaliados os seguintes parâmetros das aderências:
1) Animais livres de aderência: foram relacionados ao número de animais
onde não havia a formação de aderência (Figura 17 A e B);
2) Número: foi relacionado à quantidade de aderências encontradas (Figura 12);
3) Área: foi mensurada através de paquímetro digital, tendo sido realizadas duas
medições por aderência, a primeira referindo-se à superfície de contato entre as
estruturas aderidas (Figura 13 A) e a segunda referindo-se à espessura da
aderência (Figura 13 B). A partir dessas duas dimensões foi calculada a área de
aderência;
4) Tenacidade: as aderências foram caracterizadas como frouxa (a aderência
que se descolava facilmente, sem necessidade de dissecção) e firme (quando
houvia necessidade de dissecção para ser descolada);
5) Vascularização: presença ou não de vasos sanguíneos na aderência, sem o
uso de lentes de aumento;
6) Localização: foi classificada da seguinte forma: aderência entre o peritônio
parietal e o omento, entre o omento e alças intestinais, entre órgãos e entre
peritônio parietal e alças intestinais.
- 22 -
Figura 12 – Contagem do número de aderências abdominais.
Figura 13 – Medição da superfície de contato entre as estruturas (A) e da espessura das aderências (B).
3.12. EXAME HISTOLÓGICO
Foi realizado exame histológico de segmentos da parede abdominal na região da
cicatriz cutânea e das aderências formadas. Todos os fragmentos foram coletados
no 14º dia pós-operatório, fixados em solução de formaldeído a 4% (formol a 10%).
- 23 -
De cada segmento, foram colhidos fragmentos para exame histológico, incluídos em
parafina, de acordo com métodos rotineiros do Laboratório do Departamento de
Patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Foram realizados
cortes histológicos de 4-5 µm de espessura que foram corados por hematoxilina e
eosina (HE). Os exames histológicos foram realizados, no Serviço de Anatomia
Patológica da Santa Casa de Belo Horizonte, por um único patologista, sem
conhecimento prévio dos animais e grupos avaliados. As lâminas foram examinadas
em microscópico de luz com aumentos de 40X e 100X.
Para a padronização das avaliações foram definidos os seguintes critérios:
1) Intensidade do processo inflamatório (cicatriz cirúrgica e aderência):
a. Processo inflamatório ausente (ausência de células inflamatórias);
b. Processo inflamatório leve a moderado (presença leve ou moderada de
células inflamatórias);
c. Processo inflamatório intenso (presença intensa de células inflamatórias).
2) Vascularização das aderências:
a. Ausência de vasos sanguíneos;
b. Presença de vasos sanguíneos.
3.13. ENSAIO MECÂNICO DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO
Para a realização do ensaio mecânico de resistência à tração da pele e da parede
abdominal sem a pele foi utilizada uma máquina universal de ensaio, marca Kratos
®, modelo DEK 200 kgf, do Laboratório de Análises Mecânicas da empresa AG-
REMY Stretch Film do Brasil Ltda, Belo Horizonte/MG. Essa máquina foi equipada
com uma célula de carga de 20 kgf e interface direta a um microcomputador, com
- 24 -
software específico, responsável pelo comando do equipamento e plotagem do
gráfico carga versus deslocamento de cada ensaio (Figura 14).
Figura 14 – Máquina universal de ensaio da marca Kratos ®.
A parede abdominal foi retirada e um corpo de prova foi confeccionado com bisturi,
através de um molde plástico, visando à padronização dos mesmos (Figura 15). A
cicatriz cirúrgica foi colocada no centro do molde (Figura 15, seta).
Figura 15 - Confecção do corpo de prova com molde plástico (*) medindo 8 cm x 2,5 cm. Indicação da posição da cicatriz cirúrgica (seta).
- 25 -
Foi feita a separação da pele do restante da parede abdominal utilizando-se bisturi.
Os fragmentos da parede abdominal sem a pele e da pele foram acondicionados em
frascos, individualmente identificados e umedecidos com gaze embebida em solução
salina. Os ensaios foram realizados no tempo máximo de 3 horas após a preparação
dos corpos de prova.
No momento do ensaio, os fragmentos da parede abdominal sem a pele e da pele
foram acoplados ao equipamento conforme metodologia estabelecida pelo
laboratório da empresa AG-Remy Stretch Film do Brasil Ltda, sendo que o centro da
cicatriz cirúrgica foi colocado à distância média das duas garras. A distância total
entre garras foi fixada em 5 cm e foi aplicada uma pré-carga de 0,100 kgf, durante o
tempo de acomodação de 3 segundos, com o objetivo de provocar acomodação do
sistema. Após a pré-carga, o ensaio prosseguiu com velocidade de deslocamento de
100,00 mm/min, temperatura ambiente de 25°C e umidade relativa de 50%. A carga
aplicada foi registrada pelo software em intervalos regulares de alongamento até que
a resistência elástica fosse vencida, ou seja, a partir desse ponto a deformação do
tecido é irreversível (Figura 16). O resultado do limite da resistência máxima foi
registrado em kgf/mm2.
Figura 16 – Fragmento da pele sob tração. Observar cicatriz na parte central (seta).
- 26 -
3.14. ANÁLISE ESTATÍSTICA
As informações coletadas foram digitadas em planilhas eletrônicas no aplicativo
Excel. As análises foram realizadas através de calculadora livre disponível nos
endereços eletrônicos: http://faculty.vassar.edu/lowry/anova1u.html para o teste
ANOVA e Tukey HSD Test e http://faculty.vassar.edu/lowry/fisher2x3.html para o
teste Freeman-Halton, extensão do teste exato de Fisher.
Os resultados foram obtidos utilizando frequência e porcentagens para as
características das variáveis categóricas e da medida de tendência central (média e
mediana) e de dispersão (desvio-padrão) para as variáveis quantitativas.
As variáveis categóricas foram comparadas, entre os grupos, utilizando o teste
Freeman-Halton, extensão do teste exato de Fisher. As variáveis quantitativas foram
comparadas, entre grupos, utilizando o teste Anova. Quando se verificou diferença
com significância estatística, foi realizado o teste de Tukey HSD para verificar quais
grupos eram diferentes entre si. As análises estatísticas foram consideradas
significativas para p<0,05.
- 27 -
4. RESULTADOS
Todos os animais recuperaram-se espontaneamente no pós-operatório e
sobreviveram durante os 14 dias do experimento, sem intercorrências, quando foram
sacrificados.
4.1. ACHADOS MACROSCÓPICOS
Feita a comparação quanto à presença de aderências abdominais observou-se que
somente três (37,5%) coelhos do grupo GL2 apresentaram aderências enquanto
todos os animais dos grupos GC e GL1 apresentaram este tipo de formação (Tabela
4.1.1)
Tabela 4.1.1 – Presença de aderência abdominal nos animais do três grupos no 14° dia pós-
operatório.
ADERÊNCIA
GRUPOS
Valor-p GC GL1 GL2
Presente
Ausente
8 (100%) 8 (100%) 3 (37,5%)
- - 5 (62,5%)
0,003*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J. Valores
expressos em números absolutos e porcentagem. * Teste Freeman-Halton, extensão do teste exato
de Fisher.
- 28 -
5.
Figura 17 – Exame da cavidade abdominal constatando ausência de aderência abdominal em animais n. 2 e 5 do GL2 (Grupo laser dose 3,6 J), respectivamente (A e B). Presença de aderência abdominal entre parede abdominal e intestino grosso no coelho n. 4 do GC (Grupo Controle) (C) e no coelho n. 6 do GL1 (Grupo laser dose 0,2 J) (D).
Após contagem das aderências abdominais entre animais dos três grupos verificou-
se que nos animais do grupo GL2 o número de aderências foi significativamente
menor do que nos animais dos outros grupos (GC e GL1) (Tabela 4.1.2).
- 29 -
Tabela 4.1.2 - Comparação entre número de aderências abdominais entre animais dos três
grupos no 14º dia pós-operatório.
NÚMERO DE ADERÊNCIAS
GRUPOS
Valor-p ANIMAL GC GL1 GL2
1 2 7 0
2 3 3 0
3 4 2 0
4 2 2 0
5 4 1 1
6 4 3 1
7 3 4 0
8 3 1 1
TOTAL (Média+-DP) 3,13+-0,83 2,88+-1,96 0,38+-0,52 0,000414*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J.
Os valores expressos em média +- desvio padrão. * Anova (p=0,000414). Teste de Tukey para análise de comparação múltipla: GL2<GC=GL1.
A Tabela 4.1.3 mostra a comparação das áreas de aderência abdominal nos animais
dos três grupos. O valor da área corresponde à multiplicação da medida da
superfície de contato entre as estruturas aderidas e a da espessura da aderência
(Figura 18). Observa-se que a área de aderência formada no grupo GL2 é
significativamente menor do que nos outros grupos (GC e GL1).
Tabela 4.1.3 - Comparação entre áreas de aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
GRUPOS AREA (cm2) Valor-p
GC 1.75 ± 0.89
GL1 2.00 ± 0.93
GL2 0.50 ± 0.76
0.0062*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J
Os valores expressos em média +- desvio padrão. * Anova (p=0,0062). Teste de Tukey para análise de comparação múltipla: GL2<GC=GL1.
- 30 -
Gráfico 1 – Resumo das avaliações quantitativas das aderências encontradas nos três grupos.
Figura 18 – Medição da superfície de contato entre estruturas aderidas (A), coelho número dois do GC (Grupo Controle) e da espessura das aderências (B), coelho número três do GC (Grupo Controle).
Não foi verificada diferença quanto à tenacidade da aderência abdominal entre
animais submetidos ou não ao laser de baixa intensidade (p=0,7107) (Tabela 4.1.4).
0
5
10
15
20
25
Presente Ausente Número Area (cm2)
GC 8 0 25 1,75
GL1(0.2J) 8 0 23 2
GL2(3,6J) 3 5 3 0,5
Aderências - Resumo Avaliação Quantitativa
- 31 -
Tabela 4.1.4 - Tenacidade das aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
ADERÊNCIA
GRUPOS
Valor-p GC GL1 GL2
Firme 9 (36%) 15(65%) 3(100%)
Frouxa 16(64%) 8(35%) -
0.7107*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J. Valores
expressos em números absolutos e porcentagem. * Teste Freeman-Halton, extensão do teste exato de Fisher: CG=GL1=GL2.
Figura 19 - Aderências abdominais presentes no coelho número cinco do CG (Grupo Controle) (seta) classificadas como firme (necessitou tripsia para ser desfeita) (A) e frouxa (sem necessidade de tripsia para ser desfeita) presente no coelho número três do GL1 (Grupo laser dose 0,2 J ) (B).
Quando avaliado macroscopicamente, o uso do laser não modificou a
vascularização das aderências, sendo as aderências predominantemente
vascularizadas em todos os grupos, sem diferença entre eles (p=0,82) (Tabela
4.1.5).
- 32 -
Tabela 4.1. 5- Vascularização das aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
ADERÊNCIA
GRUPOS
Valor-p GC GL1 GL2
Vascularizada 20 (80%) 20(86.96%) 3(100%)
Avascularizada 5(20%) 3(13.04%) -
0.8240*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J. Valores
expressos em números absolutos e porcentagem. * Teste Freeman-Halton, extensão do teste exato de Fisher: GC=GL1=GL2.
Quanto à localização nenhuma aderência presente nos coelhos do grupo GL2
envolveu estruturas viscerais. Entretanto houve envolvimento de estruturas viscerais
em 72% dos animais do GC e em 83% dos animais do GL2 (Tabela 4.1.6).
Tabela 4.1. 6- Comparação entre a localização das aderências abdominais entre animais
dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
LOCALIZAÇÃO DAS ADERÊNCIAS
GRUPOS
GC GL1 GL2
Parede e Omento 7 (28%) 4 (17%) 3 (100%)
Omento e Intestinos 9 (36%) - -
Entre Órgãos 1 (4%) 5 (22%) -
Parede e Intestinos
8 (32%) 14 (61%)
-
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J. Valores expressos
em números absolutos e porcentagem.
- 33 -
Figura 20 - Aderência abdominal entre parede e intestino grosso (seta) no coelho número dois do GC (Grupo Controle) (A) e parede e omento (seta) no coelho número sete do GL2 (Grupo laser dose 3,6 J) (B).
Gráfico 2 - Resumo das avaliações quanlitativas das aderências encontradas nos três grupos.
4.2. ENSAIOS MECÂNICOS
Não foi verificada diferença quanto ao limite de resistência à tração da pele nos
animais submetidos ou não ao laser de baixa intensidade (p=0,3106) (Tabela 4.2.1).
0
10
20
30
40
50
60
70
Firmes Frouxas Vascularizadas Avascularizadas EnvolvimentoIntestinal (%)
9 16
20
5
68
15 8
20
3
61
3 3 0
Aderências – Resumo Avaliação Qualitativa
GC GL1(0.2J) GL2(3,6J)
- 34 -
Tabela 4.2. 1 - Limite de resistência à tração da pele entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
GRUPOS LIMITE DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (KGF/MM2) Valor-p
GC 4,23 ± 1,20
GL1 3,10 ± 1,79
GL2 3,42 ± 1,25
0,3106*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J
Os valores expressos em média +- desvio padrão. * Anova (p=0,3106).
Quando comparamos o limite de resistência à tração da parede, exceto pele; os
grupos irradiados com laser não apresentaram limite diferente daquele apresentado
pelo grupo controle (GC), porém GL2 obteve resultado superior ao do GL1 (p=0,001)
(Tabela 4.2.2).
Tabela 4.2. 2- Limite de resistência à tração da parede e entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
GRUPOS LIMITE DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (KGF/MM2) Valor-p
GC 3,70 ± 0,89
GL1 2,79 ± 0,74
GL2 4,88 ± 1,21
0,001*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J
Os valores expressos em média +- desvio padrão. * Anova (p=0,01). Teste de Tukey para análise de comparação múltipla: GC=GL1, GC=GL2, GL2>GL1.
4.3. EXAMES LABORATORIAIS
A comparação entre o leucograma no pré-operatório (D0) e no 4° dia de pós-
operatório (D4), entre os animais dos três grupos foi realizada e não foram
observadas diferenças entre os grupos (p<0,05) (Tabela 4.3.1).
- 35 -
Tabela 4.3. 1 - Resultado do Leucograma (média e desvio padrão) dosado nos animais dos três grupos no pré-operatório (D0) e no 4° dia pós-operatório (D4).
TEMPO
VALORES DE
REFERÊNCIA
EM D0
D4
Valor-p *
DADOS
LEUCOGRAMA
GRUPOS
GC GL1 GL2
WBC 10
3/μl 2,23 +- 0,74 4,15 +- 1,95 4,14 +- 1,86 2,13 +- 0,38 0,130
NEU (%) 54,53 +- 13,29 53,23 +- 17,65 50,70 +- 8,55 48,07 +- 7,86 0,908
LYM (%) 41,99 +- 13,83 43,23 +- 13,62 42,34 +- 10,56 46,37 +- 16,40 0,964
MONO (%) 2,27 +- 0,21 2,46 +- 0,35 5,03 +- 3,15 3,61 +- 0,37 0,518
EOS (%) 0,14 +- 0,02 0,20 +- 0,02 0,67 +- 0,09 0,25 +- 0,08 0,523
BASO (%) 1,06 +- 0,02 0,88 +- 0,01 1,23 +- 0,03 1,65 +- 0,08 0,293
RBC 106/μl 6,02 +- 0,52 4,96 +- 0,072 5,46 +- 1,04 5,8 +- 0,59 0,228
HGB g/dL 12,53 +- 0,76 10,33 +- 0,75 10,98 +- 1,79 12,27 +- 0,49 0,339
HCT (%) 39,54 +- 2,72 30,97 +- 3,13 34,70 +- 6,16 38,10 +- 2,21 0,329
PLT 103/μl 361,34 +- 63,97 295,83 +- 76,25 334,52 +- 80,85 471,00 +- 93,19 0,606
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J DO=Coleta Prévia ao Experimento, D4=4° dia de Pós-operatório. Os valores expressos em média +- desvio padrão. * Anova. WBC=Leucocitos, NEU=Neutrófilos, LYM=Linfócitos, MONO=Monócitos, EOS=Eosinófilos, BASO=Basófilos, RCB=Eritrócitos, HGB=Hemoglobina, HCT=Hematócrito e PLT=Plaquetas.
Quando avaliado o processo inflamatório encontrado na cicatriz cirúrgica verificou-se
que todos os animais apresentavam infiltrado inflamatório, predominantemente
composto por polimorfonucleares (Figura 21). Não foram constatadas diferenças
entre os grupos (tabela 4.3.2).
- 36 -
Tabela 4.3. 2- Intensidade do processo inflamatório na cicatriz cirúrgica entre os animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
PROCESSO INFLAMATÓRIO
GRUPOS
Valor-p GC GL1 GL2
Ausente 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%)
Leve a Moderado 4 (50%) 7 (100%) 4 (50%)
Intenso 4 (50%) 0 (0%) 4 (50%)
0.0789*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J. Valores
expressos em números absolutos e porcentagem. * Teste Freeman-Halton, extensão do teste exato de Fisher: GC=GL1=GL2.
Figura 21 – Microscopia da cicatriz cirúrgica do coelho número dois, Grupo GL1 (Grupo laser dose 0,2 J). Observar presença de processo inflamatório leve/moderado (setas) com predomínio de polimorfonucleares (A) Aumento de 40x; (B) Aumento de 100x. Corado com hematoxilina e eosina.
- 37 -
A avaliação do processo inflamatório presente nas aderências abdominais não
apresentou diferença entre os grupos (Tabela 4.3.3). A Figura 22 ilustra o processo
inflamatório leve/moderado na aderência.
Tabela 4.3. 3- Intensidade do processo inflamatório nas aderências abdominais entre animais dos três grupos no 14º dia pós-operatório.
PROCESSO INFLAMATÓRIO GRUPOS
Valor-p GC GL1 GL2
Ausente 1(25%) 0(0%) 0(0%)
Leve a Moderado 3(75%) 7(100%) 1(100%)
Intenso 0(0%) 0(0%) 0(0%)
0.4166*
GC= Grupo Controle; GL1 = Grupo laser dose 0,2 J ; GL2 = Grupo laser dose 3,6 J. Valores
expressos em números absolutos e porcentagem. * Teste Freeman-Halton, extensão do teste exato de Fisher: GC=GL1=GL2.
- 38 -
Figura 222 - Microscopia da aderência abdominal do coelho número dois, Grupo GL1 (Grupo laser dose 0,2 J). Observar a presença de processo inflamatório leve/moderado (setas) com predomínio de células polimorfonucleares. (A) Aumento de 40x; (B) Aumento de 100x. Corado com hematoxilina e eosina.
- 39 -
Todas as aderências avaliadas à microscopia de luz apresentaram vascularização
(P=1,00). A Figura 23 ilustra a presença de vasos sanguíneos.
Figura 233 - Microscopia da aderência abdominal do coelho número 18, Grupo GL2 (Grupo laser dose 3,6 J). Observar presença de vascularização (setas). (A) Aumento de 40x; (B) Aumento de 100x. Hematoxilina e eosina.
- 40 -
5. DISCUSSÃO
Aderências abdominais continuam a ser um desafio para os profissionais da área da
saúde, sobretudo para os cirurgiões. (41) Estão relacionadas com readmissão
hospitalar após cirurgia abdominal e pélvica (2) (5) (9), obstrução intestinal (7) (6)
(10; 41), infertilidade feminina e dor (42). Além disso, representam um considerável
custo socioeconômico para o sistema de saúde de diversos países. (1) (2) (43)
Tripsia (lise de aderências) é a única forma de tratamento para aderências
abdominais instaladas. No entanto, esse procedimento acarreta um risco maior de
complicação perioperatória e alta taxa de recorrência, não impedindo a recorrência
de aderências que podem levar a obstrução intestinal futura. (44) (41)
Fevang e colaboradores (2004) mostraram que cerca de 30% dos pacientes
submetidos à tripsia em virtude de obstrução do intestino delgado necessitaram de
outra operação para liberar aderências recorrentes. Esses dados também sugerem
que a cirurgia para lisar as aderências é quase tão adesiogênica quanto a operação
original. Dois terços das obstruções intestinais ocorreram nos cinco primeiros anos,
quase um quarto, nos 10 anos subsequentes e mesmo após 20 anos o risco ainda
estava presente. Isso coloca claramente aderências na categoria de complicação de
longo prazo. (45)
A prevenção da formação das aderências deve ser então o foco das atenções. O
trauma peritoneal é a base para a formação de aderências abdominais após
cirurgias. (12) Segundo Arung e colaboradores (2011) somente técnica cirurgia
minuciosa pode ser recomendada para reduzir a formação de aderências
persistentes, morbidade e taxas de mortalidade oriundas das mesmas. (46)
Revisão realizada por Arung e colaboradores (2011) investigou vários agentes de
prevenção contra a formação de aderências pós-operatórias. Os agentes visavam
alterar a ativação da fibrinólise, dificultar a coagulação, diminuir a resposta
inflamatória, inibir a síntese de colágeno ou criar uma barreira física entre superfícies
de feridas adjacentes. Os resultados são encorajadores mas a maioria deles
contraditórios e realizados em modelos animais. (46)
- 41 -
No presente trabalho, foi escolhido o coelho como modelo experimental. Na
literatura, o coelho tem sido utilizado em cerca de 35% dos estudos do complexo
musculoesquelético, em ciências biomédicas. Apresenta como vantagem o
tamanho, a facilidade de manuseio e o fato de atingir a maturidade esquelética logo
após a maturidade sexual, por volta dos seis meses de idade bem como similaridade
com a pele humana. (47) (48)
A peritoniectomia é modelo experimental consagrado para indução da formação de
aderências. (14) (15) Na presente pesquisa, tal intervenção foi eficaz, uma vez que
todos os animais do grupo controle (GC) apresentaram aderências. Esse achado é
consistente com a literatura que identifica a agressão ao peritônio como uma das
causas da formação de aderências. (49) (42) A etiologia das mesmas estaria ligada
às falhas no mecanismo de reparo peritoneal, fazendo então surgirem cicatrizes que
se desenvolvem em locais de trauma, após uma intervenção cirúrgica. (50) (51)
A utilização do laser de baixa intensidade com o objetivo de auxiliar o reparo tecidual
já é pesquisada desde 1963. (28) Seis artigos de revisão (30) (34) (35) (32) (37)
(31), publicados entre 2006 e 2010 e uma meta-análise (33), publicada em 2009,
avaliaram os efeitos do mesmo sobre a cicatrização de feridas e para alívio da dor.
Essas investigações demonstraram que o laser de baixa intensidade tem um papel
relevante na cicatrização de feridas, agindo por fotobioestimulação dos tecidos
lesados (35) (32), acelerando o reparo tecidual (31), modulando o processo
inflamatório e reduzindo a dor aguda em decorrência de processo inflamatório (30).
Contudo considerável variação nos projetos de pesquisa, metodologia e parâmetros
de irradiação empregados limitou a comparação dos resultados entre os estudos.
(30) (33) (31) (32)
Para definição dos parâmetros de aplicação do laser é necessário considerar um
grande número de variáveis. O que determina se a luz é fotobioestimulante ou lesiva
ao tecido é a intensidade (I), também chamada de irradiância ou densidade de
potência. Intensidade é definida como sendo a potência útil do laser, expressa em
Watts (W), dividida pela área irradiada, expressa em centímetros quadrados (cm2). A
- 42 -
fluência (F), também chamada de densidade de energia ou ainda dose de energia
(DE), é o termo utilizado para descrever a taxa de energia que está sendo aplicada
no tecido biológico e é dada pela multiplicação da intensidade (expressa em Watts
por centímetro quadrado ou W/cm2), pelo tempo de exposição (em segundos) sendo
expressa em Joules por centímetro quadrado (J/cm2). Existe ainda a energia (E),
grandeza física que, na aplicação do laser, representa a quantidade de luz laser que
está sendo depositada no tecido e é definida multiplicando-se a potência óptica útil
do aparelho (expressa em Watts) pelo tempo de exposição (expresso em segundos).
O resultado obtido tem como representação a unidade Joule (J). (29)
A maioria dos trabalhos descreve a dose em fluência (J/cm2), outros em Joule (J),
mas não informa os outros parâmetros como comprimento de onda, energia
depositada no tecido, densidade de energia, área do feixe, tempo de aplicação,
potência de pico (modo contínuo) ou potência média (modo pulsado) e densidade de
potência. A falta de dados completos dificulta a reprodução e comparação de
resultados. (29) (52)
Segundo o WALT (World Association for Laser Therapy), é necessária aplicação de
1 a 4 J de energia final para alcançar efeitos fotobioestimulantes pelo laser de baixa
intensidade, para comprimentos de onda de 780 a 904 nm, não existindo uma tabela
de referência para o comprimento de onda de 660 nm. (52) No presente trabalho,
foram utilizadas duas doses de laser, uma fora da janela terapêutica (5J/cm2 por 40 s
= 0,2J) e uma próxima ao final da janela (90J/cm2 por 90 s = 3,6J), com o objetivo de
saber se a janela terapêutica proposta por WALT também se aplicaria ao laser no
comprimento de onda de 660 nm.
Uma das dificuldades em se conduzir uma pesquisa sobre formação de aderências
tem sido a falta de uniformidade nas classificações e interpretações das aderências
encontradas na literatura. (13) (15) (20). A maioria dos métodos utiliza índices
compostos por diversos parâmetros, não informando de forma precisa a avaliação
de cada um deles. Uso de termos subjetivos como “número reduzido” (53),
“aderências generalizadas” (54), “vascularização limitada” (55), aderências
- 43 -
moderadas” (53), “aderências mínimas” (56) também dificultam a comparação dos
resultados.
Na avaliação da presença ou ausência de aderências, o laser de baixa intensidade,
na dose de 3,6 J (dentro da janela terapêutica) grupo GL2, foi capaz de reduzir
significativamente essa formação. A aplicação na dose de 0,2 J (fora da janela
terapêutica) grupo GL1, teve resultado igual ao do grupo controle (GC). O índice de
animais do grupo GL2 livre de aderências (62,5%) foi superior ao alcançado pela
membrana reabsorvível Seprafilm® (51%) (57), considerado, atualmente, um dos
métodos mais eficazes para diminuir a formação de aderências. (46) No entanto, o
uso de Seprafilm® aumenta significativamente a incidência de abscessos
abdominais e deiscências e fístulas de anastomoses em cirurgia potencialmente
contaminadas. (58)
D`Oliveira e colaboradores (2001) avaliaram o uso da Rifamicina® para prevenir
aderências no pós-operatório de ratos submetidos apenas à laparotomia. Foi
verificada média de 3,4 aderências por animal, número superior à presente
investigação. Deve-se levar em conta que, no presente trabalho, realizou-se, além
da laparotomia, uma ressecção bilateral de fragmento peritoneal, o que
provavelmente estimularia ainda mais o surgimento de aderências. (53)
Na dose de 3,6 J (dentro da janela terapêutica), a aplicação do laser de baixa
intensidade foi eficaz em reduzir a área das aderências formadas. Lamentavelmente,
a medição da área de formação de aderência é incomum nos trabalhos levantados
na Literatura, o que dificulta a comparação dos dados desse experimento. (15) (13)
(20) A dificuldade de mensuração desse parâmetro também pode ser um fator
limitante, pois as aderências não se apresentam de forma uniforme. No presente
trabalho, o método empregado é original e buscou apresentar os dados referentes
ao contato entre as superfícies aderidas. Acredita-se que novos trabalhos devam ser
conduzidos para esclarecimento dos mecanismos fisiopatológicos dessa redução.
A ausência de diferença entre as tenacidades das aderências entre os grupos
sugere que a aplicação do laser de baixa intensidade não modificou a qualidade do
tecido tratado. Embora não existam estudos semelhantes, algumas investigações
- 44 -
demonstraram que a aplicação do laser de baixa intensidade não altera a qualidade
do tecido cicatricial formado, somente acelerando o processo de cicatrização, o que
poderia explicar, em tese, a ausência de diferença entre os grupos. (32) (36) (31)
(33) (35)
No presente trabalho, do total de 53 aderências formadas, 45 (84,90%) eram
vascularizadas quando observadas a olho nu e quando a avaliação foi realizada à
microscopia de luz, 100% eram vascularizadas. Esse achado está de acordo com a
literatura que descreve as aderências como tecido altamente vascularizado,
contendo arteríolas, vênulas e capilares bem desenvolvidos. (60) (4) (15)
O maior envolvimento do intestino grosso e delgado pelas aderências é semelhante
aos demais trabalhos, (1) (6) (2) (41), contudo na dose de 3,6 J (dentro da janela
terapêutica), a aplicação do laser de baixa intensidade foi capaz de minimizar esse
envolvimento. Todas as aderências formadas no grupo GL2 (3,6J) envolveram
somente parede e omento. Segundo a literatura, o laser de baixa intensidade
acelera o processo cicatricial. É possível que a resolução mais rápida da
cicatrização tenha reduzido a gravidade das aderências. Aderências que poupam o
intestino têm menor chance de se tornarem sintomáticas e causarem abdome
agudo. (33) (31) (37)
Os estudos biomecânicos têm por objetivo determinar as propriedades mecânicas
de um material e, dependendo de suas características físicas, pode-se submetê-lo
aos ensaios de tração, torção, compressão e flexão. (61) No presente trabalho, foi
realizado teste de limite de resistência à tração com o objetivo de identificar se a
aplicação do laser de baixa intensidade alteraria esse limite no tecido cicatricial da
pele e da parede abdominal exceto a pele. Buscou-se identificar o limite elástico, ou
seja, ponto no qual o tecido não sofre uma deformação definitiva. Interrompendo o
ensaio antes deste ponto e retirando a força de tração, o corpo de prova volta à sua
forma original, tal como um elástico.
A aplicação do laser, seja dentro (3,6J – GL2) ou fora da janela terapêutica (0,2 J –
Gl1), não alterou o limite de resistência à tração da pele quando comparado ao
grupo controle (GC - sem tratamento). Esse achado está de acordo com a literatura,
- 45 -
confirmando que a aplicação do laser de baixa intensidade não altera a qualidade do
tecido cicatricial formado, o que poderia explicar a ausência de diferença entre os
grupos. (32) (36) (31) (33) (35)
Pelo fato de não haver um suporte ósseo na parede da cavidade abdominal, sua
resistência é derivada inteiramente da conformação das estruturas moles que a
compõem. A resistência da parede abdominal é de grande importância, pois o seu
enfraquecimento é o principal responsável pela formação de hérnias e eventrações.
A aplicação do laser dentro (3,6J – GL2) ou fora da janela terapêutica (0,2 J – Gl1)
não alterou o limite de resistência à tração da parede abdominal quando comparado
ao grupo controle (GC - sem tratamento), evidenciando que a aplicação do laser não
promoveu enfraquecimento da parede abdominal, sendo seu uso seguro em
cirurgias abdominais, no tocante à formação de hérnias e eventrações.
A comparação do leucograma dos animais no pré-operatório (D0) e no 4º dia de pós-
operatório (D4) não apresentou diferença significativa entre os grupos assim como a
avaliação do marcador de fase aguda PCR. Na avaliação da PCR, tendo em vista
que os resultados em todos os animais foram inferiores a 10 mg/L, optou-se também
por realizar a dosagem dessa proteína por método ultrassensível, com objetivo de
avaliar se haveria ou não diferença entre os grupos. O PRC ultrassensível não
apresentou diferença. Inadequação do Kit utilizado para dosagem em animais ou a
PCR em coelhos não ser um bom marcador para monitoramento do processo agudo
talvez possa explicar a falta de diferença entre os grupos. Revisão conduzida por
Nunes e colaboradores (2011) avaliando pacientes no pós-operatório, de diversos
tipos de cirurgia indicou que o pico de concentração sérica de PCR ocorre entre o
segundo e terceiro dia de pós-operatório quando cai rapidamente na ausência de
complicações. Talvez o comportamento da PCR em coelhos seja semelhante ao dos
humanos e o fato de se terem colhido as amostras no quarto dia de pós-operatório
também possa justificar a ausência de diferença entre os grupos. (62). De acordo
com esses dados, não se observou efeito deletério sistêmico do laser no processo
inflamatório e nas células sanguíneas, sendo seu uso seguro.
- 46 -
A comparação da intensidade do processo inflamatório da ferida cirúrgica no 14º dia
de pós-operatório não apresentou diferença entre os grupos, o mesmo acontecendo
quando foi feita a avaliação da intensidade do processo inflamatório nas aderências
formadas. Esses resultados são divergentes da literatura que preconiza que a
terapia laser de baixa intensidade reduz o processo inflamatório. (32) (36) (31) (33)
(35). O pequeno número de amostras talvez explique a ausência de diferença entre
os grupos.
Novos estudos utilizando-se diferentes dosagens de laser e outros comprimentos de
onda devem ser realizados de maneira a se compreender melhor o mecanismo de
atuação do laser de baixa intensidade.
- 47 -
6. CONCLUSÕES
A aplicação do laser de baixa intensidade na dose de 3,6 J, fluência de 90 J/cm2,
potência de 40 mW e tempo de 90 s é eficaz na redução da formação, número e
área de aderências abdominais em coelhos, sem modificar as características
(tenacidade, vascularização e inflamação) e sem comprometer a resistência
cicatricial pós-operatória da parede abdominal.
- 48 -
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