107
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia EFEITO DA Abarema cochliacarpos (Gomes) NA LESÃO MUSCULAR INDUZIDA PELO VENENO DE Bothrops leucurus Jeison Saturnino de Oliveira SÃO CRISTÓVÃO/SE 2014

Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia · apostarem no sucesso da nossa equipe. Aos meus alunos de Anatomia Humana, monitores, iniciação científica e aos funcionários da

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia

    EFEITO DA Abarema cochliacarpos (Gomes) NA LESÃO MUSCULAR INDUZIDA PELO VENENO DE

    Bothrops leucurus

    Jeison Saturnino de Oliveira

    SÃO CRISTÓVÃO/SE

    2014

  • ii

    JEISON SATURNINO DE OLIVEIRA

    Efeito da Abarema cochliacarpos (Gomes) na lesão muscular induzida pelo veneno de Bothrops leucurus

    SÃO CRISTÓVÃO/SE

    2014

    Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de Sergipe, RENORBIO/SE, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor.

  • iii

    Jeison Saturnino de Oliveira

    Efeito da Abarema cochliacarpos (Gomes) na lesão muscular induzida pelo

    veneno de Bothrops leucurus

    Defesa em 26/02/2014 Conceito:

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________________

    Prof. Dr. Lucindo José Quintans Junior (orientador)

    Universidade Federal de Sergipe-UFS

    _______________________________________

    Prof. Dr. Charles dos Santos Estevam

    Universidade Federal de Sergipe-UFS

    _______________________________________

    Prof. Dra. Rosilene Calazans Soares

    Universidade Federal de Sergipe-UFS

    _______________________________________

    Prof. Dra. Karina C. Gomes Machado de Araújo

    Universidade Federal de Sergipe-UFS

    _______________________________________

    Prof. Dra. Deise Maria Furtado de Mendonça

    DBCI – Campus Itabaiana

    Universidade Federal de Sergipe-UFS

  • iv

    Dedicatória

    Eu dedico este trabalho:

    A minha esposa ELIZABETH e meus

    filhos INÁCIO E JOÃO, pelo carinho,

    apoio e exemplos de lealdade, amor e

    fraternidade.

    A minha mãe MARIA CELESTINA e

    meu pai JOSUÉ SATURNINO (in

    memorian), pelos exemplos de vida,

    pelos ensinamentos morais e pelo

    apoio em todos os setores da minha

    vida.

    Aos meus avós OTÍLIA ALBANI e

    ALCEBÍADES PEREIRA (ambos in

    memorian), que me ensinaram o valor

    da ética na vida de um ser humano.

    Aos meus irmãos Josimeri, Josiane,

    Jeferson e Jansen, pela compreensão,

    torcida e carinho dedicado a mim.

  • v

    Agradecimentos

    A Deus, pela saúde e oportunidade de ampliar o conhecimento!

    Ao Prof. Dr. Lucindo José Quintans Júnior, meu orientador, por ter aberto as portas do

    seu laboratório, pela paciência, tolerância, amizade e estimável orientação.

    Ao Prof. Dr. Márcio Roberto Viana Santos, meu co-orientador, pelas sugestões

    estabelecidas neste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Paulo de Assis Melo, pai científico de intocáveis alunos e pela colaboração

    na área de toxinas ofídicas.

    Ao Prof. Dr. Durvanei Maria, pelo apoio na microscopia eletrônica.

    Ao Prof. Dr. Charles Santos Estevam, coordenador do RENORBIO/SE, pela amizade,

    confiança e apoio a todos os doutorandos.

    Aos professores e amigos Glória Maria, Miguel Lemos, José Tadeu Madeira, Norberg,

    Tereza Solero, Ana Martinez, Rosangela Machado, Di Pietro, Fabrício Rios, Mércia Margoto,

    Angelo Antoniolli, Anderson Marçal, Alexandre, Brancilene, Marcli e tantos outros que sempre

    me incentivaram.

    Aos colegas e amigos do doutorado: Magna (SE), Alana (SE), Lidiane (PE), Lorena

    (SE), Marco (SE), Maria Helena (PE) e Mônica (SE) por tudo que passamos juntos. Na certeza

    de que a “nossa” frase é verdadeira: “TUDO PARECE IMPOSSÍVEL ATÉ QUE SEJA FEITO

    (NELSON MANDELA)”.

    Aos amigos Mônica Melo, Marília, Geovana, Makson, Adriana Gibara, Aldirene,

    Douglas, Simone, Michele, Juliana, Rosana, Renan,........ e tantos outros, por dividirem comigo

    a alegria de ser um ALUNO LAPEC.

    Ao colega Antônio Dias, pela presteza em liofilizar o extrato.

    Aos professores do Departamento de Morfologia/UFS, meus colegas de trabalho, por

    apostarem no sucesso da nossa equipe.

    Aos meus alunos de Anatomia Humana, monitores, iniciação científica e aos

    funcionários da UFS, em especial ao senhor Osvaldo (Biotério setorial da UFS), pela amizade,

    simpatia e disposição em ajudar.

    Um agradecimento especial à secretária da pós-graduação da RENORBIO/SE,

    Jackeline Rittes, que sempre cuidou de tudo incansavelmente, inclusive funções que cabiam a

    mim e aos meus colegas.

    E finalmente, quero agradecer a todos que de alguma forma colaboraram para a

    realização deste trabalho: MUITO OBRIGADA!

  • vi

    RESUMO

    SATURNINO-OLIVEIRA, J. Efeito da Abarema cochliacarpos (Gomes) na lesão muscular induzida pelo veneno de Bothrops leucurus. 2014. 100f. Tese (Doutorado em Biotecnologia) – Universidade Federal de Sergipe, Aracaju/SE, 2014.

    O ofidismo é um problema de saúde pública em todo o mundo, especialmente nos

    países tropicais. O objetivo deste trabalho foi de investigar os mecanismos envolvidos

    no efeito do extrato hidroetanólico da entrecasca da Abarema cochliacarpos (EAc)

    (popularmente conhecida como “barbatimão”) na lesão muscular induzida pelo veneno

    de Bothrops leucurus (BlV). Foram utilizados camundongos Swiss machos (28-32 g;

    n=6 por grupo), que receberam injeção perimuscular do veneno Bothrops leucurus (BlV

    – 1 mg/Kg/pata – Volume 50µl) no membro posterior direito, tratados por via oral

    (v.o.), com veículo (solução salina) ou EAc (100, 200 ou 400 mg/kg). Na

    hipernocicepção mecânica os animais foram avaliados nos tempos 2, 4 e 6 horas,

    utilizando o analgesímetro digital (Von Frey). Na atividade edematogênica os animais

    foram avaliados nos tempos 15, 30, 60 e 90 minutos, utilizando o paquímetro digital. Já

    atividade motora foi avaliada pelo teste de rota-rod e os animais foram avaliados em 1,

    3 e 7 dias. Na avaliação histológica o músculo Extensor digitorum longus (EDL) foi

    isolado, retirado, fixado, emblocado com parafina (Microscopia óptica) e resina

    (Microscopia eletrônica) e cortados. Os tecidos foram corados com hematoxilina-

    eosina e observados ao microscópio óptico e eletrônico e posteriormente fotografados.

    Os protocolos experimentais foram aprovados pelo comitê de ética em pesquisa com

    animais da UFS (CEPA: 61/12). Os resultados foram analisados utilizando o teste

    StudentʼS t-test. O tratamento, por v.o, com EAc (400 mg/Kg) inibiu a hipernocicepção

    mecânica, (2h 5,1±0,76; 4h 5,70±0,65; 6h 5,93±0,49; p

  • vii

    ABSTRACT

    SATURNINO-OLIVEIRA, J. Effect of Abarema cochliacarpos (Gomes) in muscle

    injury induced by Bothrops leucurus. 2014. 100f. Thesis (Ph.D. in Biotechnology) -

    Federal University of Sergipe, Aracaju / SE, 2014.

    The snakebite is a public health problem worldwide, especially in tropical countries.

    The objective of this study was to investigate the mechanisms involved in the effect of

    hydroethanolic extract of the stem bark Abarema cochliacarpos (EAc) in muscle injury

    induced by Bothrops leucurus. Male swiss mice were used (28-32g ; n= 6 groups),

    where they received perimuscular injection Bothrops leucurus venom (BlV – 1

    mg/Kg/paw – Volume 50 µl) the right hind limb, treated orally (po), with vehicle

    (saline) or EAc (100, 200 or 400 mg / kg). In the mechanical hypernociception animals

    were evaluated in time 2, 4 and 6 hours using digital analgesymeter (von Frey). Edema

    activity in the animals were evaluated at 15, 30, 60 and 90 minutes, using a digital

    caliper. Have motor activity was assessed by the rota -rod test and the animals were

    evaluated at 1, 3 and 7 days. Histological evaluation extensor digitorum longus muscle (EDL) was isolated, removed, fixed, paraffin emblocado (Optical Microscopy) and resin

    (Electron Microscopy) and cut. Tissues were stained with hematoxylin and eosin and

    observed under optical and electron microscopy and subsequently photographed. The

    experimental protocols were approved by the ethical committee for animal research at

    UFS (CEPA: 61/12). The results were analyzed using followed by Studentʼs t-test. The

    treatment orally with EAc (400 mg / kg

    ) inhibited mechanical hypernociception (2h 5.1 ± 0.76, 5.70 ± 0.65 4h, 6h 5.93 ± 0.49,

    (p < 0, 05) compared with the BlV venom group (2h 2.08 ± 0.33; 4h 2.28 ± 0.18; 6h

    2.52 ± 0.24). The inhibition of edema was also seen in activity with EAc (400 mg / kg)

    (15 min 15.35 ± 0.27; 30 min 12.63 ± 0.69; 60 min 9.38 ± 0,29 and 90 min 6.83 ± 0.66,

    p < 0.05) compared with the BlV venom group (15 min 29.7 ± 0.17; 30 min 25.8 ± 0.26;

    60 min 20.15 ± 0.24 and 90 min 14.76 ± 0.21). Regarding motor activity, the EAc (400

    mg / kg) preserved motor ability (1day 83.22 ± 0.46; 3 days 98.02 ± 0.20 and 7 days

    119.24 ± 0.48, p < 0.05) compared to the BlV venom group (1 day 20.03 ± 0.26, 3 days

    35.22 ± 0.36 and 7 days 111.21 ± 0.18). Histological analysis showed an protection of

    muscle injury after administration of EAc (400 mg / kg), maintaining muscle fibers. Our

    results demonstrated that EAc inhibited the harmful effects of the venom, suggesting

    that this compound has biotechnological potential in adjuvant treatment of snakebite.

    Key-words: Bothrops leucurus, Abarema cochiliacarpos, snakebite, inflammation,

    muscle injury.

  • viii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

    AAI- Antioxidant activity index

    AAPH – Diidrocloreto de 2,2 azobis (2-amidinopropano)

    ACN- Acetonitrila

    ANOVA- Análisedevariância

    BlV- Veneno Bothrops leucurus

    CaCL2 – Cloreto de Cálcio

    CF- chloroform fraction

    CK- Creatino kinase

    CO2- Gás Carbônico

    COX2- cyclooxygenase-2

    DPPH- 2,2’-difenil-1-picril-hidrazil

    EAc- Extrato Abarema cochliacarpos

    EAF- ethyl acetate fraction

    EAFS- ethyl acetate subfraction

    EC- Eletroforesecapilar

    EDL- Extensor digitorum longus

    EE- hidroetanolic extract

    ELISA- Enzyme Linked Immunono Sorbent Assay

    EM- Espectro de massa.

    ESI- Espectroscopia de ionização.

    FeSO4- Ferrous sulfate

    FGF- Fatores de crescimento fibroblásticos

    GSPHx- Gluthatione peroxidase

    GSR- Gluthatione reductase

    H2O- Água

    HF- hexane fraction

    HMF- hidromethanol fraction

    HPLC- High Performance/Pressure Liquide Chromatography

    IL-1 – Interleucina 1

    iNOS- Óxido Nítrico

    IP- Inhibition percentage

  • ix

    KCL- Cloreto de Potássio

    LOO- Peroxyl

    MgCL2- Cloreto de Magnésio

    NaCL- Cloreto de Sódio

    NaHCO3- Bicarbonato de Sódio

    NaHPO4- Fosfato de Sódio

    NO- Óxido de nítrico.

    O2- Oxigênio

    PBS- Solução Tampão Fosfato

    PDGF- Platelet derived growth factor

    PLA2- Fosfolipase A2

    PSS- Solução Salina

    PTT- Tempo Parcial de tromboplastina

    RMN- Ressonância magnética nuclear.

    RNS- Reactive nitrogen species

    ROS- Reactive oxygen species

    SAB- Soro Antibotrópico.

    SOD- Superoxide dismutase

    TAR- Total antioxidante reactivity

    TBA- Thiobarbituric Acid

    TBARS- Thiobarbituric acid-reactive substance

    TC- Tempo de Coagulação

    TCA- Trichloroacetic Acid

    TLC- Thin layer chromatography

    TNF-α- Fator de necrose tumoral

    TRAP- Total reactive antioxidante potential

    TS- Tempo de Sangramento

  • x

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 1

    2 OBJETIVOS........................................................................................................ 3

    3 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 4

    3.1 – AS SERPENTES PEÇONHENTAS DO BRASIL..................................... 4

    3.1.1 Gênero Bothrops......................................................................................... 4

    3.1.2 Análise Epidemiológica dos Acidentes Ofídicos.........................................

    3.1.3 Composição e Atividades Biológicas dos Venenos Botrópicos..................

    3.1.4 Resposta Inflamatória..................................................................................

    3.1.5 Lesão Músculo-Esquelética.........................................................................

    3.1.6 Manifestações Clínicas, Diagnóstico e Prognóstico....................................

    7

    11

    12

    16

    20

    3.2 – AGENTES ANTIOFÍDICOS...................................................................... 22

    3.2.1 Soroterapia...................................................................................................

    3.2.2 Potencial antiofídico de plantas medicinais.................................................

    3.2.3 Abarema cochliacarpos (Gomes) Barneby e Grimes..................................

    22

    24

    27

    4 CAPÍTULO I – Artigo Científico – Abarema cochliacarpos extract inhibited

    the inflammatory process and skeletal muscle injury induced by Bothrops

    leucurus venom...................................................................................................

    30

    5 CAPÍTULO II – Prospecção e Patente – Plantas medicinais no tratamento

    do acidente ofídico: Uma prospecção tecnológica.................................................

    6 CONCLUSÃO.....................................................................................................

    7 PERSPECTIVA..................................................................................................

    53

    64

    65

    8 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 66

    9 APÊNDICE........................................................................................................ 76

    10 ANEXOS............................................................................................................ 80

  • 1

    ___ 1 Introdução

    Os acidentes ofídicos apresentam elevada frequência e altas taxas de morbi-

    mortalidade, logo é um sério problema de saúde pública no mundo, principalmente

    nos países tropicais.

    O Brasil tem o maior número de ataques de serpentes venenosas da América

    do Sul, com 20.000 casos notificados a cada ano e uma taxa de letalidade de 0,45%.

    A maioria desses casos são por serpentes do gênero Bothrops e com menor

    frequência as do gênero Crotalus, Lachesis e Micrurus. A região Nordeste apresenta

    43% das serpentes de maior importância médica, incluindo 12 do gênero Bothrops

    (B.atrox, B.brasili, B.eritromelas, B. jararaca, B. jararacussu, B. leucurus, B. lutzi, B.

    marajoensis, B. moojeni, B. muriciensis, B. neuwiedi e B. pirajai) (OLIVEIRA et al.,

    2010).

    A serpente Bothrops leucurus é uma espécie pouco investigada e pode ser

    encontra do Sul do Espírito Santo ao Ceará, tratando-se da serpente peçonhenta

    mais comum em lavouras de cacau e canaviais onde provavelmente produz também

    o maior número de mordeduras. Sua mordedura produz dor local, edema,

    hemorragia e necrose que, após algum tempo, pode evoluir para a completa

    degeneração do músculo, nervos e vasos, podendo ser irreversível, tendo como

    consequência a amputação do membro atingido.

    O único medicamento oficialmente aprovado pelo Ministério da Saúde para o

    tratamento de acidentes ofídicos é o soro antiofídico ou antiveneno, apropriado para

    cada tipo de serpente. O antiveneno usado no tratamento do empeçonhamento por

    serpentes do gênero Bothrops é o soro antibotrópico (SAB). É necessário considerar

  • 2

    a possibilidade de ocorrer reações adversas devido à administração de proteínas

    estranhas, como reação alérgica e até mesmo o choque anafilático. O soro

    antibotrópico é eficiente em antagonizar os efeitos hemorrágicos do veneno e

    previne a letalidade, entretanto, não previne completamente o dano tecidual, como a

    mionecrose.

    Apesar das estratégias do Ministério da Saúde em distribuir imunobiológicos

    para as Secretarias Estaduais de Saúde, frequentemente os casos de

    envenenamentos por serpentes (e outros animais) são tratados com preparados

    populares feitos com plantas medicinais regionais. Já existem muitos estudos

    biológicos para investigar a eficácia das plantas em neutralizar as ações dos

    venenos de serpentes, porém nenhum deles foi patenteado.

    A Abarema cochliacarpos é uma planta da família Fabaceae

    (Leguminoseae), que contém seus princípios ativos principalmente no caule e

    apresenta no seu perfil fitoquímico saponinas, catequinas, taninos, fenóis e

    antraquinonas. Conhecida popularmente como barbatimão essa espécie vegetal tem

    grande uso nas comunidades tradicionais. Entre as aplicações clínicas desta

    espécie destacam-se suas propriedades antisséptica, antiinflamatória, analgésica e

    cicatrizante (DIAS et al., 2012).

    Desta forma, a pesquisa por novas propostas terapêuticas para o tratamento

    do acidente ofídico continua sendo uma incessante busca dos pesquisadores e um

    grande desafio na área biotecnológica. Logo, justifica-se a condução de trabalhos de

    pesquisa que possibilitem uma avaliação mais precisa dos mecanismos envolvidos

    no efeito do extrato hidroetanólico da entrecasca da Abarema cochliacarpos e seus

    derivados na lesão muscular induzida pelo veneno de Bothrops leucurus.

  • 3

    2 Objetivos

    Objetivo Geral:

    Investigar os efeitos do extrato hidroetanólico da entrecasca da Abarema

    cochliacarpos (EAc) como agente antiinflamatório, antinociceptivo e antimiotóxico

    na lesão do músculo esquelético Extensor digitorum longus de camundongos

    induzida pela injeção do veneno bruto de Bothrops leucurus.

    Objetivos Específicos:

    Avaliar o efeito do EAc na atividade edematogênica em camundongos injetados

    com o veneno bruto de Bothrops leucurus;

    Avaliar a hiperalgesia de camundongos injetados com o veneno bruto de

    Bothrops leucurus e tratados com EAc;

    Avaliar a atividade motora de camundongos injetados com o veneno bruto de

    Bothrops leucurus e tratados com EAc;

    Avaliar qualitativamente o aspecto morfológico (Microscopia óptica e eletrônica)

    da lesão do músculo Extensor Digitorum Longus de camundongos injetado com o

    veneno bruto de Bothrops leucurus e tratado com EAc;

    Traçar uma prospecção tecnológica dos pedidos de patentes referentes à

    utilização e aplicação das plantas medicinais no tratamento do acidente ofídico;

    Descrever e depositar a patente “Extrato da Abarema cochliacarpos no

    tratamento coadjuvante do acidente ofídico causado por serpentes do gênero

    Bothrops”, juntamente ao INPI.

  • 4

    3 Revisão de Literatura

    3.1 As Serpentes Peçonhentas do Brasil

    3.1.1. Gênero Bothrops

    No Brasil existem alguns gêneros de serpentes conhecidas popularmente por

    “serpente de quatro ventas” consideradas peçonhentas, por apresentarem dentes

    inoculadores bem desenvolvidos e móveis, situados na porção anterior do maxilar

    (fig. 2) e fosseta loreal que é um orifício entre o olho e a narina (fig. 1), um órgão

    termorreceptor, encontradas nas serpentes do gênero Bothrops, Crotalus e

    Lachesis, exceto nas serpentes do gênero Micrurus (fig.3), que possuem dentes

    inoculadores pouco desenvolvidos e fixos na região anterior da boca (fig.4). Esses

    gêneros também podem ser identificados pelo tipo de cauda que são classificadas

    como: lisa, guizo ou chocalho e escamas eriçadas (fig. 5, 6,7) (BRASIL, 2001;

    BERNARDE, 2013).

    Fig.1 Fig.2

    nariz

    Fosseta loreal nariz

    presas

  • 5

    Fig. 3 Micrurus Fig. 4 Micrurus

    Distribuídas por todo o território nacional as serpentes do gênero Bothrops

    pertencem a Família Viperidae e compreendem cerca de 30 espécies. As mais

    conhecidas são Bothrops pirajai, endêmica do sudeste da Bahia e de algumas áreas

    do recôncavo baiano, Bothrops muriciencis, endêmica do Alagoas, ambas restritas a

    áreas de Mata Atlântica e Bothrops erythromelas encontrada em ambientes áridos e

    semiáridos que circundam florestas tropicais secas, áreas rochosas, vegetações

    rasteiras de bromélias terrestres e ao longo de margens de rios, também registraram

    a sua ocorrência na Região Metropolitana do Salvador (Lauro de Freitas e Salvador,

    municípios litorâneos caracterizados por apresentarem formações secundárias de

    Mata Atlântica e restingas). As espécies não estão restritas à Bahia, mas também

    podem ser encontradas em Sergipe, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte,

    ressaltando que, neste último, a caatinga atinge o litoral, assim ampliando sua

    distribuição (LIRA-DA-SILVA, et al. 2009; BRASIL, 2001 e 2010; ARGOLO, 2006).

    olho

    nariz presas

    Cauda lisa

    Guizo ou Chocalho

    Escamas eriçadas

    Fig. 5 Bothrops Fig. 6 Crotalus Fig. 7 Lachesis

  • 6

    As Bothrops são popularmente conhecidas como jararaca, ouricana,

    jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco (filhotes), malha-de-sapo,

    cabeça-de-patrona (ou simplesmente “patrona”), surucucurana, combóia, surucucu-

    pingo-de-ouro, surucucu-de-ouricana, surucucu-pico-de-jaca (ou simplesmente

    “pico-de-jaca”) patioba, jaracuçu-tapete, jaracuçu-quatro-ventas (ou simplesmente

    “quatro-ventas”) e caissaca (jovens). Possuem cauda lisa, não tem chocalho e as

    suas cores variam muito, dependendo da espécie e da região onde vivem,

    preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja

    facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Tem

    hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares, quando se sentem

    ameaçadas apresentam comportamento agressivo desferindo botes sem produzir

    ruídos (CARDOSO, 2009; FENWICK, 2009).

    A serpente Bothrops leucurus (Fig.8) é vista com frequência da região do

    Ceará até o Espírito Santo, sendo a mais importante espécie causadora de

    acidentes nessa região. Essa constatação, no entanto, ainda carece de dados sobre

    a abundância, aspectos da biologia e etologia das espécies (LIRA-DA-SILVA, et al.

    2009; ARGOLO, 2006).

    Fig. 8: Bothrops leucurus Foto: Breno Hamdan.

  • 7

    3.1.2 Análise epidemiológica dos acidentes ofídicos

    Em 1901 foi realizado o primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos

    por Vital Brazil, quando registrou-se o número de óbitos por mordeduras de

    serpentes peçonhentas no Estado de São Paulo, registrando 63, 88 e 104 óbitos em

    1897, 1899 e 1900, respectivamente. Após esse registro Vital Brazil entregou os

    primeiros tubos de soros antipeçonhentos para o consumo em 14 de agosto do

    mesmo ano e a partir daí passou a distribuir, junto com as ampolas de soro, o

    Boletim para Observação de Accidente Ophidico, para ser preenchido com dados

    referentes ao acidente que levou ao uso desses antivenenos. Os estudos

    epidemiológicos sobre acidentes ofídicos realizados no Brasil apresentados por Vital

    Brazil em seu Boletim para observação de Accidente Ophídico, analisam sexo e

    idade da vítima, mês de ocorrência do acidente, local da picada, gênero da serpente,

    tempo decorrido entre o acidente e o atendimento e evolução (FRANÇA et al., 2009).

    A consolidação do controle do acidente ofídico no Brasil veio a partir de 1987,

    com o Programa Nacional de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos, onde

    implantou-se uma política de coordenação da produção, distribuição de antiveneno,

    capacitação de recursos humanos e vigilância epidemiológica a nível nacional.

    Porém, nas primeiras ações de sistematização verificou-se ausência de informações

    atualizadas das equipes de saúde, tanto em referência ao diagnóstico e tratamento,

    quanto à identificação do agente agressor. Com o intuito de melhorar o atendimento,

    a Coordenação Nacional de Zoonoses e Animais Peçonhentos (CNCZAP-MS)

    passou a coordenar as ações envolvendo as Secretarias Estaduais e Municipais,

    Centros de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos, Núcleos de Ofiologia e

    Laboratórios Produtores. Dentre essas ações, foram apoiados os primeiros projetos

  • 8

    regionalizados sobre a distribuição das serpentes no país. Em 1998 foi implantado o

    VIGISUS – Estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde,

    primeiramente direcionado para a região Sul e Sudeste e o segundo, para a região

    Nordeste (LIRA-DA-SILVA, et al., 2009).

    Em conseqüência nesta ação foi realizada uma atualização da distribuição

    geográfica, com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre as espécies de

    serpentes de importância médica do Nordeste do Brasil que possibilitou a

    fundamentação necessária às ações da vigilância ambiental pelos órgãos públicos

    da região, bem como permitiu o diagnóstico presuntivo da etiologia destes acidentes

    e subsidiou as políticas de produção e distribuição de soro antiofídico (IBGE, 2011).

    Hoje os acidentes por serpentes representam problema de Saúde Pública

    especialmente em países tropicais, devido à morbi-mortalidade e por algumas

    informações colhidas com omissões, subnotificações de dados e deficiências na

    coleta subestima a real magnitude dos acidentes ofídicos no país (LIMA, et al. 2009;

    MELGAVAREJO, 2009).

    A definição de medidas de prevenção e controle, bem como para explicar o

    porquê de um município apresentar mais ou menos casos que seus vizinhos esta

    associada uma análise da relação entre variáveis ambientais e sócio-econômicas

    com a incidência deste tipo de acidente, de forma a apontar possíveis fatores de

    risco ou mesmo de proteção (WALDEZ & VOGT, 2009).

    Cerca de 21.000 acidentes por serpentes são registrados no Brasil

    anualmente. Foram notificados 81.611 acidentes, o que corresponde ao coeficiente

    de incidência de 13,5 acidentes/100.000 habitantes de janeiro de 1990 a dezembro

    de 1993 no Brasil. Na região nordeste registrou-se a maior letalidade (0,81%), cerca

  • 9

    do dobro da média nacional (0,45%), apesar de apresentar o menor coeficiente de

    incidência do País (6,84 acidentes/100.000 habitantes) (SIAN, 2009).

    No período de 1999 a 2003, foram notificados 15.345 acidentes ofídicos, o

    que corresponde a uma média de 3.069 casos por ano. A incidência média para a

    Região foi de 4,57/100.000. A Bahia mostrou maior número de casos (8.599, média

    de 1.719,8 casos por ano) e maior incidência média (13,16 casos/100.000hab.) no

    período (Tabela 1) (LIRA-DA-SILVA, et al. 2009).

    Tabela 1: Incidência do acidente ofídico no Nordeste (LIRA-DA-SILVA, et al. 2009).

    Existem aproximadamente 250 espécies de serpentes no mundo, sendo 70

    são peçonhentas, devem-se as serpentes do gênero Bothrops (jararaca, jararacuçu,

    urutu e outros) e Crotalus (cascavel), sendo raros os Lachesis (surucucu,

    surucutinga) e Micrurus (coral). Dentre os acidentes por serpentes, o acidente

    botrópico destaca-se pela sua elevada incidência, onde se observou um maior

    percentual de acidentes por Bothrops (78,6%), seguida por Crotalus (20,8%) e

    Micrurus (6%) (RIBEIRO, 2008).

    Em 2001, aspecto epidemiológico CIAVE-BA atendeu e/ou notificou 740

    acidentes ofídicos; destes, 665 (89,9%) foram acidentes botrópicos perfazendo uma

  • 10

    incidência de 5,0 acidentes botrópicos/100.000 habitantes. Apenas 11 (1,7%) dos

    casos foram confirmados com a identificação da serpente causadora do acidente,

    sendo todos exemplares da espécie Bothrops leucurus (MISE, 2007). Já em agosto

    de 2003 a agosto de 2004, foi feito uma distribuição das espécies de serpentes de

    importância médica nos Estados do Nordeste brasileiro, onde foram identificadas 25

    espécies de serpentes, das quais doze do gênero Bothrops (LIRA-DA-SILVA, 2009).

    A ocorrência do acidente ofídico está, em geral, relacionada a fatores

    climáticos e aumento da atividade humana nos trabalhos no campo. A maior

    ocorrência de acidentes com pessoas do sexo masculino tem sido referida em todas

    as casuísticas nacionais e provavelmente deve-se à maior frequência com que os

    homens realizam atividades no campo. Já foi referida também a acentuada

    frequência de acidentes com indivíduos entre 15 e 49 ou 50 anos de idade

    (GRACIANO, et al., 2013). Na Bahia, os acidentes botrópicos registrados

    predominaram nos meses de março a agosto, devido provavelmente à inundação

    dos abrigos e outros esconderijos, tornando-as mais susceptíveis a atacarem suas

    presas (MISE, 2007).

    A predominância de acidentes ofídicos acometendo membros inferiores

    (75,2%) reflete o hábito terrícola da maioria das espécies do gênero Bothrops.

    Seguido por membros superiores (22,8%), cabeça e pescoço (0,5%) e tronco

    (0,3%). Essa situação, observada em todas as regiões do Brasil, denota a não

    utilização de equipamentos de proteção, em especial nas zonas de agricultura não

    mecanizada (PAULA, 2010).

  • 11

    3.1.3 Composição e atividades biológicas dos venenos botrópicos

    O veneno da serpente contém vinte ou mais componentes da peçonha

    botrópica, e é mais complexa de que outros gêneros. Mais de 90% do peso seco do

    veneno é composto por proteínas (proteínas não-tóxicas), tem uma grande

    variedade de toxinas não-enzimáticas como as fosfolipases, fosfodiesterases,

    fosfatases, acetilcolinesterases e enzimas proteolíticas (CALVETE, 2013).Conforme

    a origem geográfica a toxicidade da complexa mistura de compostos dos venenos

    ofídicos contém componentes protéicos (enzimáticos e não enzimáticos) e não-

    protéicos (orgânicos e inorgânicos), (HIDALGO, 1999; CAMARGO et al., 2012).

    Segundo Gutiérrez, 2009, no veneno botrópico não-protéico encontram-se

    substâncias inorgânicas e orgânicas, onde desempenha um papel importante

    ajudando na ação enzimática, que é menos expressivo em quantidade e ativo

    biologicamente. As substâncias inorgânicas são encontradas nos metais (cátions e

    ânions), pode variar de um veneno pra o outro a fração de metais (cálcio, zinco,

    magnésio, sódio, potássio, cobre, ferro e níquel), que agem como neutralizadores de

    cargas que compõem os protéicos do veneno, principalmente os cátions

    monovalentes, em maior quantidade o sódio, já os íons monovalentes não

    apresentam nenhuma significância em termos biológicos nas atividades enzimáticas.

    No entanto, na constituição de metaloproteínas e diferentes atividades biológicas e

    enzimáticas, alguns metais bivalentes atuam como co-fatores. O cálcio por ser um

    metal bivalente é utilizado para a ativação da fosfolipase A2, em concentrações

    moderadas nos venenos ofídicos.

    O veneno pertencente das espécies do gênero Bothrops tem efeito

    proteolítico, coagulante, hemorrágico, inflamatório, edematogênico e miotóxico

  • 12

    (MELO, et al., 2010; CINTRA-FRANCISCHINELLI, et al., 2010; MOREIRA, et al.,

    2011; PATRÃO-NETO, et al., 2013). Com as técnicas bioquímicas de separação,

    cerca de 70 proteínas foram encontradas, com ou sem ação enzimática, e

    peptídeos, que são constituídos em um único veneno e com ampla variação de

    ações farmacológicas e tóxicas (TASHIMA, et al., 2012).

    Vários componentes foram isolados das secreções dos venenos botrópicos,

    apresentando um fator clínico hemorrágico (HIGUCHI, et al., 2011), proteases que

    atuam na coagulação sangüínea causando distúrbios de coagulação (NAUMANN,

    et al., 2011), enzimas proteolíticas (GOMES, et al., 2011) e as miotoxinas, que

    encontradas nas enzimas proteolíticas e as fosfolipases nas atividades miotóxicas

    dos venenos ofídicos. (CACCIN, et al., 2013; SARAVIA-OTTEN, et al., 2013;

    TONELLO, et al., 2012; SCHAFFAZICK, et al., 2010; TOMAZ, et al., 2008).

    3.1.4 Resposta Inflamatória

    O processo inflamatório ocorre devido principalmente à presença de agentes

    que lesam os tecidos e a reação pode ser desencadeada por bactérias, agentes

    físicos como corpo estranho, a luz solar em alta intensidade, o calor e mesmo a

    corrente elétrica. A intensidade da resposta inflamatória irá depender da capacidade

    do agente em estimular a liberação de citocinas, quimiotaxinas e da grande

    mobilização de células que resultará em vasodilatação, transudação, edema, calor

    local e dor (COTRAN, 2012).

    Os leucócitos aderem aos vasos sangüíneos e deixam a corrente sangüínea

    para exercerem influências protetoras nos tecidos vizinhos. Para isto, ocorrem

    interações complexas entre o endotélio e diferentes categorias de leucócitos.

  • 13

    Participam deste processo mediadores como as citocinas. As citocinas são

    polipeptídeos produzidos por diversos tipos celulares e têm uma grande variedade

    de propriedades biológicas na resposta inflamatória. O fator de necrose tumoral

    (TNF-α) e a interleucina 1 (IL-1) são exemplos destas moléculas solúveis que agem

    através da ligação com receptores específicos, na superfície das células alvo (ROCK

    & KONO, 2008).

    Quando os leucócitos são recrutados para a área da inflamação, eles passam

    pelas seguintes etapas: rolagem, ativação, adesão e transmigração. Para que estas

    etapas ocorram, é preciso que as células mudem sua localização no vaso. E é

    exatamente o que acontece no evento chamado de marginação. Ou seja, o aumento

    da permeabilidade vascular leva à diminuição do fluxo sanguíneo e modificação no

    curso das células que normalmente seguiam o fluxo no centro do vaso e passam

    para a posição periférica, próximas às células endoteliais que revestem o vaso. O

    aumento da expressão das moléculas de adesão na superfície do endotélio e nas

    células pode ser induzido por TNF-α e IL-1, sintetizados por macrófagos. Isto faz

    com que as células rolem pelo endotélio, se tornem ativadas, sofram adesão firme e

    migrem para o local da inflamação (MEDZHITOV, 2008; COTRAN, 2012).

    Neutrófilos e macrófagos são capazes de fagocitar e destruir o antígeno e

    este fato, em parte, explica o recrutamento destas células para o local da

    inflamação. A fagocitose também leva à produção do óxido nítrico (NO) por

    macrófagos e este gás solúvel, que é radical livre, é citotóxico para

    microorganismos. Além disso, causa vasodilatação contribuindo para o edema e

    recrutamento de outras células. Tanto o TNF-α quanto a IL-1 estimulam

    macrófagos e em conseqüência deste estímulo há o aumento da produção do NO e

    a liberação de enzimas proteolíticas (proteases, colagenases, elastases) e

  • 14

    metabólitos reativos do oxigênio que podem induzir destruição tecidual (KING,

    2007).

    A inflamação é reação característica do envenenamento pelos venenos de

    serpentes Viperidae e Crotalidae, apresentando fase aguda e crônica. Durante a

    fase aguda ocorre intenso edema seguido de infiltração do tecido lesado de

    polimorfonucleares, mastócitos e plaquetas. Naqueles empeçonhamentos em que o

    veneno possui componentes hemorrágicos além do edema e infiltrados inflamatório

    aparecem hemácias e plaquetas, que demonstram a ocorrência de lesão vascular.

    Nestes casos, a reação inflamatória é mais intensa e o dano celular é muito maior. O

    aparecimento de macrófagos caracteriza a fase crônica do processo inflamatório

    (Fig. 9) (GALVÃO, et al., 2010; TEIXEIRA, et al., 2009).

    Fig. 9: Inflamação induzida por serpente do gênero Bothrops (TEIXEIRA, et al., 2009).

  • 15

    A hipernocicepção inflamatória depende da ativação de nociceptores

    quimiossensíveis a mediadores inflamatórios. No teste da pressão de pata,

    carragenina e lipopolissacarídeos estimula a hipernocicepção resultante da liberação

    de uma cascata de vários mediadores. A Bradicinina, que inicia a cascata, estimula

    a liberação de fator de necrose tumoral (TNF-α) que, por sua vez, induz a liberação

    interleucina-1-β (IL-1-β), a interleucina-6 (IL-6) e interleucina-8 (IL-8).

    Posteriormente, a IL-1 e IL-6 estimulam a produção de eicosanóides, enquanto que

    a IL-8 estimula a produção de aminas simpatomiméticas (CUNHA et al. 1991 e 1992;

    FERREIRA et al. 1993; POOLE et al. 1999).

    Teixeira e colaboradores, (1994) demonstraram primeiramente que a

    hipernocicepção causada pelo veneno botrópico é independente de respostas

    edematogênicas induzidas pelo veneno e é mediada por prostaglandinas e

    leucotrienos. Rocha e colaboradores, (2000) mostraram a participação de aminas

    biogênicas e metaloproteases na hipernocicepção induzida pelo veneno de Bothrops

    jararaca. Chacur e colaboradores, (2002) sugeriram que receptores de bradicinina

    B2 estariam envolvidos na hipernocicepção induzida pelo veneno de Bothrops

    jararaca.

  • 16

    Fig.10: Hipernocicepção induzida pelo veneno Bothrops (CHACUR et al., 2002; Adaptação

    Adriana Gibara).

    3.1.5 Lesão Músculo-Esquelética

    No tecido muscular lesado, imediatamente após a lesão, inicia-se o processo

    degenerativo do segmento afetado. A primeira etapa deste processo é marcada pela

    autólise celular em resposta à perda da homeostasia intracelular e á entrada de íons

    cálcio e consequente ativação de proteases cálcio-dependentes (BYRD, 1992;

    TIDBALL, 2008). Em seguida, os fibroblastos que se encontram em estado

    quiescente no músculo, são ativados e atraídos para o sítio de lesão pela ação de

    fatores de crescimento como o FGF(Fibroblast growth factors) e o PDGF(platelet-

    derived growth fator), liberados pelo tecido necrótico. Após serem sensibilizados, os

    fibroblastos causam a degradação da matriz extracelular próximo às células lesadas,

    e os fragmentos proteolíticos produzidos são quimiotáxicos para outros fibroblastos

    HIPERALGESIA Veneno Bothrops

    TNF-α

    IL-1β KC

    Ácido Araquidônico

    COX

    Prostaglandinas

    Aminas

    simpatomiméticas

  • 17

    e células inflamatórias, e podem estimular a atividade fagocítica de neutrófilos e

    macrófagos (TIDBALL, 2008). Com a sinalização quimiotáxica, células

    mononucleares são atraídas para o sítio de lesão, tendo papel fundamental na

    liberação de proteases e remoção dos componentes celulares lesados. A fagocitose

    das fibras lesadas é um evento muito importante, uma vez que a presença de tecido

    necrótico inibe o início da regeneração (SUMMAN, et al., 2006; SERRANO &

    MUÑOZ-CÁNOVES, 2010).

    Segundo TIDBALL (2008), os neutrófilos são as primeiras células

    inflamatórias que aumentam substancialmente em número entre 1 a 6 horas pós –

    lesão. Em seguida, observa – se o aumento da população de macrófagos, enquanto

    que a de neutrófilos diminui. O acúmulo de macrófagos no sítio de lesão é muito

    importante, já que são responsáveis, além da fagocitose, pela liberação de

    mediadores quimiotáxicos para linfócitos e polimorfonucleares, e também pela

    estimulação da angiogênese.

    As alterações das células musculares produzidas pelas miotoxinas dos

    venenos caracterizam-se por hipercontração dos miofilamentos levando à agregação

    das miofibrilas, acompanhada por despolarização e necrose da célula. O mecanismo

    proposto para explicar essas alterações tem sido o de que haveria hidrólise dos

    fosfolipídios da membrana devido à atividade enzimática, ruptura do sarcolema e

    perda da habilidade da célula em regular o fluxo de cálcio extracelular, o que levaria

    às alterações patológicas observadas (Fig. 11) (GUTIÉRREZ & OWNBY, 2003;

    GUTIÉRREZ et al., 2010). Mitocôndrias também mostram sinais de danos, como o

    intumescimento, cristas anormais, densidades floculantes e ruptura. Algumas

    enzimas, tais como a creatino kinase (CK) são rapidamente liberadas das fibras

    necróticas. O processo degenerativo é acompanhado por edema tecidual e

  • 18

    infiltração de células fagocitárias. Aproximadamente, entre 12 e 24 horas após a

    inoculação do veneno, as fibras musculares encontram-se totalmente destruídas

    com aparência amorfa e hialina (EVANS & OWNBY, 1999; CALIL-ELIAS et al.,

    2002a ; 2002b).

    Fig. 11: Características da Mionecrose induzida pelo veneno Botrópico (GUTIÉRREZ

    & OWNBY, 2003).

    Estudos realizados por Melo e colaboradores (2010) sobre as diferentes

    etapas da mionecrose em experimentos com venenos de Crotalus viridis, Naja naja

    e Crotalus atrox mostraram que estas etapas se manifestam em quatro períodos:

    fase inicial (15 min a 3 horas), fase intermediária (3 a 72 horas), fase tardia (72 a 96

    horas) e fase final (após 96 horas). O início do processo caracteriza-se pelas

    chamadas lesões “delta” (MURAKAMI et al., 2005), que são lesões das fibras

    musculares em forma triangular→ originada por lise focal da membrana plasmática.

  • 19

    Além disso, há o aparecimento de vacúolos claros, miofibrilas em diferentes

    graus de condensação, intercaladas com áreas claras irregulares, de aparência

    amorfa no citoplasma (o que levou pesquisadores estrangeiros a usar a expressão

    “moth-eaten lesions“ por assemelharem-se essas regiões da fibra como se tivessem

    sido comidas por traças). Em uma fase intermediária, durante a patogênese do

    processo mionecrótico predominam pelo menos dois estágios patológicos

    caracterizados por miofibrilas condensadas, que se assemelham às da fase inicial, e

    por células com aparência amorfa, e, em uma terceira fase, a presença de intenso

    infiltrado de células fagocíticas, e na fase final, áreas de células musculares

    pequenas, em fase de regeneração, intercaladas com áreas de tecido fibrótico

    (Fig.12) (SATURNINO-OLIVEIRA, et al., 2012).

    Fig. 12: Exemplo da lesão mionecrótica induzida pelo veneno Bothrops (SATURNINO-OLIVEIRA, et al., 2012).

  • 20

    3.1.6 Manifestações clínicas, diagnóstico e prognóstico.

    As Manifestações sistêmicas se apresentam em forma de sangramentos em

    ferimentos cutâneos preexistentes, hemorragias à distância como gengivorragias,

    epistaxes, hematêmese e hematúria, náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão

    arterial sendo mais raro o choque e nefrotoxicidade. Já as manifestações locais são

    caracterizadas por dor e edema endurecido no local da mordedura de caráter

    precoce e progressivo. Com mais freqüência surgem equimoses, lesões bolhosas e

    sangramentos no local da mordedura. No estado mais grave, pode ocorrer necrose

    de tecidos moles com formação de abscessos e desenvolvimento de síndrome

    comportamental, podendo deixar seqüelas e perda funcional do membro acometido

    (MANUAL, 2001, PINHO, 2001; PITTA, 2003).

    Essas manifestações aparecem devido às serpentes possuírem

    importantes atividades fisiopatológicas de ações proteolíticas, coagulante e

    hemorrágica. As ações proteolíticas do veneno causam processo inflamatório onde

    estão envolvidos a histamina, bradicinina, prostaglandina, leucotrienos e

    eicosanóides, levando o tecido afetado à necrose tecidual. As ações anticoagulantes

    e hemorrágicas também influenciam na evolução da atividade inflamatória

    (HERRERA, 2009).

    A ação coagulante ativa os fatores da coagulação sangüínea onde forma um

    coágulo visível in vitro sendo tidos como coagulantes. O veneno botrópico, pró-

    coagulante, ativa o fator X ou o fator II (protrombina) da cascata de coagulação,

    gerando trombina, que por sua vez hidrolisa diretamente o fibrinogênio em fibrina

    podendo induzir incoagulabilidade sanguínea por consumo de fibrinogênio. Este

    processo promove liberação de substâncias hipotensoras e provoca lesões na

    membrana basal dos capilares por ação das hemorraginas (ação hemorrágica), que

  • 21

    associada à plaquetopenia e alterações da coagulação, induz a hemorragia,

    freqüentemente disseminada (OLIVEIRA, et al. 2003; HERRERA, 2009).

    Os acidentes botrópicos são classificados em casos leves, moderados e

    graves de acordo com alterações clínicas e laboratoriais. Manifestações sistêmicas

    que definem o caso como grave independentemente do quadro local são hipotensão

    arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas (BRASIL, 2001; PINHO, 2001;

    PITTA, 2003).

    A avaliação laboratorial é realizada através do tempo de coagulação (TC),

    exame de baixo custo e de fácil execução, que é importante para o

    acompanhamento dos casos, geralmente está aumentado, bem como o tempo

    parcial de tromboplastina (PTT), ambos são importantes para diagnóstico, conduta e

    evolução clínica. O valor poderá estar normal (até 10 min), prolongado (entre 10 e 30

    min) ou incoagulável (>30 min). Após a terapia com soro antibotrópico deve-se fazer

    o controle até a sua normalização. É interessante salientar, que o tempo de

    sangramento (TS) não se altera (BRASIL, 2001; AZEVEDO-MARQUES, 2003;

    PITTA, 2003).

    Outros exames também podem ser solicitados como hemograma que

    geralmente revela leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda,

    hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e plaquetopenia de

    intensidade variável. O exame sumário de urina pode apresentar proteinúria,

    hematúria e leucocitúria. Outros exames complementares importantes incluem

    dosagem de eletrólitos, uréia e creatinina, com a finalidade de detectar

    precocemente distúrbios hidroeletrolíticos e insuficiência renal aguda. A confirmação

    laboratorial do acidente pode ser feita através do Método de imunodiagnóstico

    (técnica de ELISA), onde antígenos do veneno botrópico podem ser detectados no

  • 22

    sangue ou outros líquidos corporais do paciente (BRASIL, 2001; AZEVEDO-

    MARQUES, 2003; PITTA, 2003).

    3.2 Agentes Antiofídicos

    3.2.1 Soroterapia

    A soroterapia é uma imunização passiva artificialmente adquirida pela

    transferência de anticorpos de um indivíduo sensibilizado (doador) para outro

    indivíduo (receptor). Pode ser homóloga quando ambos doadores e receptores na

    mesma espécie animal, e heteróloga quando espécies diferentes (GUIDOLIN, 1989).

    Nos estudos pioneiros de dois pesquisadores, o francês Albert Calmette e o

    brasileiro Vital Brazil foram evidenciados os princípios da soroterapia sendo o

    procedimento mais efetivo no tratamento da mordedura de serpente (BRASIL, 1998;

    ROSENFELD, 1969; BRAZIL, V. 1987; SCHVARTSMAN, 1992).

    Os primeiros soros antiofídicos que chegaram ao Brasil, através do médico

    Vital Brazil em 1905, para combater o veneno foram os de Bothrops, Lachesis

    lanceolatus (hoje classificada como Bothrops jararaca) e contra o veneno de

    Crotalus, Crotalus terrificus (hoje, Crotalus durissus terrificus) (SCHVARTSMAN,

    1992). Vital Brazil, iniciou preparando no Brasil os antivenenos (1901) mono e

    polivalentes, demonstrando sua especificidade. Foi criada assim a soroterapia

    heteróloga com o desenvolvimento de uma terapia efetiva para vítimas de acidentes

    ofídicos e o antiveno monovalente, que já existia, incluía o soro anticrotálico e

    antibotrópico (IHERING, 1911; ROSENFELD, 1969; BÜCHERL, 1980; GUIDOLIN,

    1989; WATT, 1989).

  • 23

    No Brasil, a produção de antivenenos é feita pelo Instituto Butantan (SP),

    Instituto Vital Brazil (RJ) e Fundação Ezequiel Dias (MG), sendo distribuído para

    todo o país pelo Ministério da Saúde. A preparação do antiveno é obtida através de

    solução purificada de imunoglobulinas específicas do soro de eqüinos

    hiperimunizados com venenos de serpentes ou aracnídeos e escorpiões

    (SCHVARTSMAN, 1992; CAMEY et al., 2002). A comercialização no Brasil da

    maioria dos antivenenos (AV) é de origem equina e a imunização é realizada de

    maneira que possa aumentar o espectro de neutralização do antisoro com venenos

    de várias espécies de serpentes de mesmo gênero, ou de diferentes gêneros

    (RUSSELL, 1988).

    Ménez, 1985, demonstrou que a neutralização de diferentes espécies de

    venenos usadas na imunização pode ocorrer devido à reatividade antigênica

    cruzada, podendo estar relacionadas entre si, farmacológica e/ou estruturalmente, o

    que permite a consequente neutralização por AV heterólogo.

    O tratamento fundamental quando indicado para os pacientes acidentados

    pela maioria dos animais peçonhentos é a soroterapia AV. O objetivo do tratamento

    é neutralizar a maior quantidade possível de veneno circulante independente de ser

    em adultos ou crianças, a dose utilizada independentemente do peso do paciente e

    aplicação deve ser feita, preferencialmente, na unidade de emergência ou de

    internação (BRASIL, 1993).

    A patogenia da doença deve-se à formação do complexo imune AV/veneno,

    com ativação e consumo de complemento, embora seja a única abordagem

    terapêutica a soroterapia heteróloga usada nos acidentes ofídicos, pode acarretar

    reações adversas, como reações anafiláticas, anafilactóides e a doença do soro,

    além disso, os pacientes podem apresentar febre, artralgia, linfadenomegalia,

  • 24

    hepatoesplenomegalia, urticária e proteinúria. (MALASIT et al., 1986; JURKOVICH

    et al., 1988; CARDOSO et al., 1993; BRASIL, 1993; DART & HOROWITZ, 1996;

    OTERO-PATIÑO et al., 1998).

    Os venenos de cinco espécies botrópicas brasileiras tem o efeito

    farmacológico letal, atividade hemorrágica, necrotizante, proteolítica da fosfolipase,

    coagulante e fibrinolítica. A eficácia de um antiveneno produzido in vitro e in vivo a

    partir de um “pool” neutralizador no veneno atividade tóxica e enzimática dos

    mesmos, indica que o antiveneno foi efetivo na neutralização sistêmica da atividade

    tóxica de todos os venenos testados. Entretanto, os efeitos locais ainda não são

    neutralizados pelo uso dos antivenenos, verificados na Fundação Ezequiel Dias

    (FUNED) contra veneno botrópico (CAMEY et al. 2002; DA SILVA et al. 2007;

    WILLIAMS, et al. 2010).

    3.2.2 Potencial Antiofídico de Plantas Medicinais

    Desde época dos egípcios, assírios e hebreus (2.300 a.c.) cultivavam e

    utilizavam diversas ervas em suas atividades diárias, como embalsamento de

    múmias, que com o decorrer da história do homem ainda utilizamos plantas como

    medicamento, por apresentar propriedades terapêuticas ou tóxicas importância na

    medicina popular. A flora brasileira é considerada uma ampla fonte de material com

    potencial farmacológico e biotecnológico do mundo devido à diversidade de

    espécies e aos conhecimentos oriundos da medicina tradicional, torna-se cada vez

    maior o interesse pelas plantas medicinais nativas do Brasil e em outros países (DE

    FÁTIMA, et al., 2008).

  • 25

    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 65 a

    80% da população mundial que vive em países em desenvolvimento dependem

    essencialmente de plantas que são os primeiros cuidados de saúde e uma

    alternativa para tratar diversas enfermidades, devido da falta de acesso pela

    pobreza a medicamentos industrializados (ARAÚJO, et al., 2002).

    Todas as populações nativas do mundo vêm usando plantas no combate aos

    efeitos dos acidentes ofídicos, utilizando o sulco da maceração destas plantas

    aplicando-o sobre o local da mordedura ou mesmo fazendo ingestão oral,

    principalmente nas regiões onde o acesso à soroterapia é limitado. Através desses

    conhecimentos, surgiram evidências científicas sobre as propriedades antiofídicas

    destes extratos, sendo que nos meios científicos só foram dar atenção nos últimos

    vinte anos (MARTZ, 1992; RIZZINI, et al., 1988; PEREIRA, et al., 1984).

    No Brasil são utilizados como foco medicinal 152 espécies de plantas com

    potencial terapêutico, sendo que cerca de 578 plantas apresentam potencial

    terapêutico antiofídico, distribuídas em 94 famílias, principalmente Asteraceae (9%),

    Leguminosae (7,8%) e Euphorbiaceae (4,5%) (MARCUSSI, et al., 2007; SOARES,

    et al., 2004).

    As que possuem validação científica são 18 espécies (12%) onde mostram

    uma pequena fração de plantas documentadas cientificamente. Sendo assim, vários

    estudos estão sendo realizados com o intuito de investigar o isolamento e

    caracterização dos princípios ativos presentes nos extratos vegetais como agentes

    terapêuticos, destacando alguns extratos de plantas e seus princípios ativos com

    propriedades antiofídicas (MARCUSSI, et al,. 2007).

    Apesar de poucos relatos sobre o possível mecanismo de ação de diversas

    plantas das mais diferentes regiões do planeta capazes de neutralizar os venenos

  • 26

    de diversas serpentes, poucos autores atribuem esta propriedade a uma

    determinada classe de substâncias (PEREIRA, et al.,1984; SILVA, et al., 2004).

    Uma alternativa no tratamento ofídico, por conter um grande número de

    componentes químicos com diversas propriedades farmacológicas de interesse

    medicinal destas plantas é atribuída a classes de constituintes ativos, incluindo

    flavonóides, alcalóides, taninos e outras (MAIORANO, et al., 2005). Tem sido

    testado e demonstrado excelente atividade antiofídica nos extratos de plantas,

    principalmente o extrato aquoso de Mandevilla veluntina e o Mikonia glomerata que

    foram capazes de inibir atividades farmacológicas de diversos venenos de

    serpentes. (SOARES, et al., 2004; MELO, et al., 1994, OLIVEIRA, et al., 2005;

    BIONDO, et al., 2003; MAIORANO, et al., 2005).

    Borges e colaboradores, (2000) relataram que o extrato aquoso de Casearia

    sylvestris (Flacourtiaceae), uma espécie vegetal nativa encontrada em pastos

    abertos brasileiros, tem a capacidade de inibir os efeitos miotóxicos,

    edematogênicos e hemorrágicos dos venenos de Bothrops moojeni, B. pirajai, B.

    neuwiedi e B. Jararacussu e suas toxinas isoladas Lys49 e Asp49-PLA2. Já

    Cavalcante e colaboradores, (2007) demonstraram que o extrato aquoso de C.

    sylvestris apresentou efeito protetor na lesão muscular induzida por duas

    fosfolipases isoladas do veneno botrópico (Lys49-PLA 2 - PrTX-I de B. pirajai e

    BthTX-I de B. jararacussu).

    As principais classes de inibidores da PLA2 são os compostos fenólicos, os

    quais incluem flavonóides (Primetina), cumestanos (wedelolactona), alcalóides (12-

    Metoxi-Nb-metil-voacalotina), esteróides (sitosterol e estigmasterol) e os terpenóides

    (mono-, di-, e triterpenos), e polifenóis (taninos vegetais) (CARVALHO, et al., 2013).

  • 27

    3.2.3 Abarema cochliacarpos (Gomes) Barneby e Grimes

    Uma espécie de árvore na família das Fabaceae (Leguminoseae) (IUCN,

    2009) planta nativa do Brasil, principalmente no Nordeste Sergipano na cidade de

    Lagarto, encontrada na Mata Atlântica e nos biomas da Caatinga chamada de

    A.cochiliacarpos (Fig.13) popularmente conhecida “barbatimão”, representada por

    uma espécie vulnerável à extinção, devido à classificação à fragmentação de sua

    área de ocorrência e ainda é pouco estudada as suas propriedades farmacológicas

    (DA SILVA et al., 2010; SILVA, 2003).

    Fig.13: Árvores de A.cochliacarpos (Gomes).Fonte: SILVA, 2013.

    No Brasil existem outras quatro diferentes espécies de plantas que possuem

    o mesmo nome popular (barbatimão). São as espécies Stryphnodendron

    adstringens, S. poliphylum, S. obovatum e Imorphandra mollis, que são utilizadas

    para os mesmos propósitos terapêuticos. Estudos têm demonstrado que extratos

    das cascas de S.adstringens possuem propriedades como cicatrizantes,

    antisséptica, anti-inflamatória e propriedades antiulcerogênicas (MIGLIATTI, 2003).

    Lopes e colaboradores, (2005) destacaram que cascas de S. adstringens, S.

  • 28

    obovatum e S. polyphylum têm sido utilizadas na medicina popular para o tratamento

    de feridas, queimaduras e outras injúrias da pele.

    Já a Abarema cochliacarpos é muito utilizada na medicina tradicional na

    forma de chá como cicatrizante, analgésica, antiulcerogênica, antiinflamatória,

    antisséptica, dentre outros usos. Suas atividades biológicas vêm sendo

    comprovadas em laboratório, seu extrato aquoso reduziu significamente as lesões

    gástricas (SILVA, 2003 e 2009) e o extrato hidroetanólico apresentou atividade

    antimicrobiana frente às bactérias Gram-positivas (ARAÚJO et al., 2002; SANTOS et

    al., 2007).

    Silva, (2006) avaliou a atividade antinociceptiva e o perfil fitoquímico dos

    extratos aquosos e metanólico produzidos a partir de cascas do caule de

    A.cochliacarpos. Os extratos apresentaram atividade analgésica quando avaliado

    pelo teste das contorções abdominais induzidas pelo ácido acético por via

    intraperitoneal, apresentando respostas superiores às drogas usadas como

    referência acetominofeno e ácido acetil salicílico, bem como no modelo de dor

    induzida por capsaicina. Já a avaliação fitoquímica demonstrou a presença de

    saponinas, catequinas, taninos, fenóis e antraquinonas.

    Da Silva e colaboradores, (2010), com a técnica de espectroscopia de

    ionização (ESI) acoplado ao espectro de massa (EM), encontraram na fração

    butanólica um elevado conteúdo de polifenóis, tais como taninos, proantocianidinas,

    destacando-se como majoritários, catequinas e em menor proporção seus dímeros e

    trímeros. Tais constituintes foram confirmados através de espectrospia de

    ressonância magnética nuclear (RMN).

    Sánchez-Fidalgo, (2013) após ter caracterizado a fração butanólica do extrato

    da Abarema cochliacarpos - BFAC, também identificou a (+) – catequina como seu

  • 29

    principal componente (Fig.14). Após o teste de indução do processo inflamatório por

    bactéria lipossacarídea (Escherichia coli) - LPS em macrófagos peritoneais,

    verificou-se que ambos BFAC e (+) - catequina apresentaram efeito antioxidante e

    antiinflamatório. Reduzindo significativamente a expressão de proteínas pró-

    inflamatórias, provavelmente através das vias de sinalizações: c-Jun N-terminal

    quinase e MAPK p38.

    Fig.14. Identificação por UPLC/MS dos componentes presentes na fração butanólica da Abarema cochliacarpos (SÁNCHEZ-FIDALGO, S. 2013).

  • 30

    Capítulo I

    Artigo científico:

    Abarema cochliacarpos extract inhibited the inflammatory process

    and skeletal muscle injury induced by Bothrops leucurus venom

  • 31

    Title: Abarema cochliacarpos extract inhibited the inflammatory process and skeletal muscle

    injury induced by Bothrops leucurus venom

    Authors:

    Jeison Saturnino de Oliveira1,3,4

    ; [email protected]

    Daiana Do Carmo Santos1; [email protected]

    Adriana Gibara Guimarães1; [email protected]

    Antônio Santos Dias2; [email protected]

    Marcelo Amorim Tomaz5; marcelotomaz.fisio@gmail

    Marcos Monteiro-Machado5; [email protected]

    Charles Santos Estevam2; [email protected]

    Waldecy De Lucca Júnior3; [email protected]

    Durvanei Augusto Maria6; [email protected]

    Paulo de Assis Melo5; [email protected]

    Adriano Antunes de Souza Araújo7; [email protected]

    Márcio Roberto Viana Santos8; [email protected]

    Lucindo José Quintans Júnior1; [email protected]

    1 Laboratório de Farmacologia Pré-clínica de Produtos Naturais, Departamento

    de Fisiologia, Universidade Federal de Sergipe, SE, Brasil

    2 Laboratório de Bioquímica e Química de Produtos Naturais, Departamento de

    Fisiologia, SE, Brasil

    3 Departamento de Morfologia - Laboratório de Biologia Celular e Estrutura – Universidade Federal de Sergipe,

    SE, Brasil

    4 Programa de Pós-Graduação RENORBIO – Universidade Federal de Sergipe, SE, Brasil

    5 Instituto de Ciências Biomédicas – Laboratório de Toxinas Ofídicas – Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    RJ, Brasil

    6 Instituto Butantan - Laboratório de Ciências Fisiológicas e Química - São Paulo, SP, Brasil

    7 Departamento de Fisiologia - Laboratório de Ensaios e de toxicidade farmacêutica – Universidade Federal de

    Sergipe, SE, Brasil

    8 Departamento de Fisiologia - Laboratório Cardiovascular e Produtos Naturais – Universidade Federal de

    Sergipe, SE, Brasil

    Corresponding author:

    Department of Physiology - Laboratory Preclinical Pharmacology of Natural Products - Federal University of

    Sergipe, S/N Marechal Rondon Ave – ZIP Code: 49.100-000, São Cristovão, SE - Brazil.

    Phone: + 55 (79) 2105-6645 / Fax: + 55 (79) 3212-6640,

    E-mail: [email protected]; [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:marcelotomaz.fisio@gmailmailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 32

    Abstract

    Snakebites are a public health problem, especially in tropical countries. However,

    treatment with antivenom has limited effectiveness against venoms’ local effects. Here we

    investigated the ability of Abarema cochliacarpos hydroethanolic extract (EAc) to protect

    mice against injection of Bothrops leucurus venom. Swiss mice received perimuscular venom

    injection and were subsequently treated orally with EAc in different doses. Treatment with

    EAc 100, 200 and 400 mg/kg reduced the edema induced by B. leucurus in 1%, 13% and

    39%, respectively. Although lower doses showed no anti-hypernociceptive effect in the Von

    Frey test, the higher dose significantly reduced hypernociception induced by the venom.

    Antimyotoxic activity of EAc was also observed by microscopy assessment, with treated

    muscles presenting preserved structures and decreased edema and inflammatory infiltrate as

    compared to untreated ones. Finally, on the rotarod test the treated mice showed better motor

    function, once muscle fibers were preserved and there was less edema and pain. Treated mice

    could stand four times more time on the rotating rod than untreated ones. Our results have

    shown that EAc presented relevant activities against injection of B. leucurus venom in mice,

    suggesting that it can be considered as an adjuvant in the treatment of envenomation.

    Keywords: Bothrops leucurus, Abarema cochiliacarpos, antiophidic plants, myotoxicity.

    1. Introduction

    Accidents with venomous snakes represent a significant health problem, especially in

    tropical countries, where they frequently affect young and economically active men working

    in the countryside. In Brazil, most accidents are caused by snakes belonging to Bothrops

    genus, which induce extensive local damage, such as myonecrosis and edema [1, 2].

    Particularly, the snake Bothrops leucurus is present in the Northeastern region of Brazil [3],

    being related to accidents with rural workers who often have difficult access to health services

    to receive the antiophidic treatment proposed by the Health Ministry, i.e. the antibothropic

    antivenom.

    Antibothropic antivenom is the only official treatment available, but it has low and

    limited effectiveness against the local effects of venoms [1]. The antivenom therapy is often

    applied late after the accident, when tissue destruction is already in process, potentially

  • 33

    causing irreversible and disabling damage [4, 5, 6]. The use of plants and other alternative

    approaches to halt the effect of snake venoms or to accelerate tissue recovery has been

    proposed by previous studies [7, 8, 9, 10, 11]. Therefore, our group has been particularly

    concerned with the search for new and effective pharmacologically active principles from

    plants used in folk medicine to treat or prevent damage caused by accidents with venomous

    snakes.

    Many traditional communities of Northeastern Brazil make use of the bark of Abarema

    cochliacarpos in popular medicine. A. cochliacarpos is an ornamental tree native to Brazil,

    occurring mainly in the Atlantic Forest and in the Caatinga biomes. It belongs to the

    Mimosaceae family, being popularly known as “barbatimão” [12, 13]. An

    ethnopharmacological survey accomplished in a rural community in the Caatinga in the state

    of Sergipe, Northeastern Brazil, identified popular applications of the bark of A.

    cochliacarpos [12]. In this community, the decoction of the bark is used to wash external

    ulcers while its tincture, made by placing the bark in the Brazilian beverage known as

    “cachaça”, is used against inflammation and gastric ulcers, among other uses [12, 13]. Other

    authors also observed similar applications in different traditional communities [14, 15].

    According to previous studies, the hydroethanolic extract presents phenolics such as aurones,

    catechins, chalcones, flavanols, flavones, flavonols, leucoanthocyanidins, tannins and

    xanthones, besides saponins and steroids [30].

    In our study we assessed the antiophidic ability of A. cochliacarpos extract, in order to

    propose a new option for the treatment of envenoming, besides the antivenom, by using a

    plant that is abundant in Brazil, and compared the extract activity with dexamethasone, a

    steroidal anti-inflammatory drug previously described to be active against some Bothrops

    venoms’ effects [11].

  • 34

    2. Material and Methods

    2.1 Material

    B. leucurus snake venom was obtained from CEPLAC (Bahia, Brazil). B. leucurus

    venom and hydroethanolic extract of A. cochliacarpos were dissolved in physiological saline

    solution (PSS); PSS was composed of (mM): NaCl, 135; KCl, 5; CaCl2, 2; MgCl2, 1; NaHPO4,

    1; NaHCO3, 15 and dextrose, 11. The pH of this solution was equilibrated to 7.3 with 5% CO2

    / 95% O2. Dexamethasone was obtained from Aché (São Paulo, Brazil).

    2.2 Plant material and extract preparation

    Abarema cochliacarpos (Gomes) Barneby & Grimes stem barks were collected in São

    Cristóvão, state of Sergipe, Brazil (230 m, 11° 01′ 63.2″ South, 37° 15′ 86.6″ West). The plant

    material was identified by Dr Ana Paula Prata and a voucher specimen was deposited at the

    herbarium of the Federal University of Sergipe under the number ASE 014639. Plant material

    (5 kg) was dried at 370C with air circulation and renewal until complete dehydration. Then, it

    was reduced to powder and subsequently subjected to extraction in 90% ethanol for 5 days

    with exhaustive maceration. After this period, the extract was filtered and concentrated in a

    rotary evaporator under reduced pressure at 50°C yielding 533.4 g of hydroethanolic extract.

    The phytochemical analysis of Abarema cochliacarpos has been recently performed and

    described [30].

    2.3 Animals

    Male Swiss mice (25.0 ± 5.0 g), 2-3 months of age, were used throughout this study.

    The animals originated from the Central Bioterium of the Federal University of Sergipe. The

    animals were randomly housed in appropriate cages at 22 ± 2ºC on a 12h light/dark cycle with

  • 35

    free access to food and water. Experimental protocols were approved by the Animal Care and

    Use Committee (CEPA/UFS # 10/11) at the Federal University of Sergipe.

    2.4 Experimental Design

    Mice were divided into six groups of 6 animals. They were anesthetized with

    ketamine (100 mg/kg) and xylazine (10 mg/kg) and then injected with crude venom of

    Bothrops leucurus (BlV) 1.0 mg/kg in PSS by applying 50 µL of the solution next to the

    extensor digitorum longus (EDL) muscle of the right hind limb (EDL perimuscular

    injection, in order to prevent direct mechanical damage to the muscle), as described

    previously [9, 16].

    Group I (Control group): Mice were not subjected to muscle injury induced by venom and

    instead they received PSS in order to check for any changes in the parameters analyzed.

    Group II (BlV group): Mice received 1.0 mg/kg of B. leucurus venom injection (50 µL) into

    the right paw.

    Group III (BlV + Dexamethasone – Dexa): 10 minutes after venom injection, intravenous

    dexamethasone (2 mg/kg) was administered.

    Group IV (BlV + EAc 100 mg/kg): 10 minutes after venom injection, mice received oral

    hidroethanolic extract of A. cochliacarpos (Eac, 100 mg/kg in 100 L).

    Group V (BlV + EAc 200 mg/kg): 10 minutes after venom injection, mice received oral

    hidroethanolic extract of A. cochliacarpos (Eac, 200 mg/kg in 100 L).

    Group VI (BlV + EAc 400 mg/kg): 10 minutes after venom injection, mice received oral

    hidroethanolic extract of A. cochliacarpos (Eac, 400 mg/kg in 100 L).

  • 36

    2.5 Edematogenic activity

    The induction of edema was evaluated in all groups. Measurements were made at 0,

    15, 30, 60, and 90 min after venom injection. An analog caliper rule was used to measure the

    mediolateral and anteroposterior widths of the paw, and the product of these values is

    reported as mm2.

    2.6 Motor functional activity: rotarod test

    Motor activity was assessed using the rotarod test to analyze the riding time as

    previously described [9]. The mice were trained daily for a period of 120 s for 5 days on the

    rotating cylinder (8 rpm). One, three and seven days after injection of 1.0 mg/kg venom alone

    or with treatments, the animals were submitted to the rotarod test and the time spent by the

    animal on the apparatus was recorded. Each animal underwent three trials, and the mean time

    spent on the rod was determined for each group.

    2.7 Hypernociception induced by B. leucurus venom

    Mechanical sensation of the hind paw as an index of mechano-hypernociceptive test

    was assessed by pressure stimulation method as described by [17]. Briefly, the nociceptive

    threshold was measured at different times after venom injection and treatments using an

    electronic anesthesiometer (Insight®, Brazil). A force (in g) of increasing magnitude was

    applied to the paw. When the animals reacted by withdrawing the paw, the force needed to

    induce such response was recorded and represented the nociceptive threshold.

  • 37

    2.8 Histological examination

    Light microscopy: Twenty-four hours after the venom injection and respective

    treatments, the animals were killed under anesthesia; their EDL muscles were gently

    removed, fixed in standard paraformaldehyde, embedded in paraffin, longitudinally sectioned,

    and stained with hematoxylin and eosin (HE) for light microscopy analysis.

    Scanning electron microscope (SEM): Some mice had their EDL muscles studied by

    scanning electron microscopy after the removal of connective tissue matrices using

    collagenase. Muscles were rinsed twice in PBS and fixed in 2.5% glutaraldehyde and 2%

    paraformaldehyde in phosphate buffer overnight at room temperature. After being washed

    three times in PBS, samples were fixed in 1% osmium tetroxide (pH 7.4) at 4 °C for 1 h. They

    were then dehydrated, dried in a critical point dryer and gold sputtered. Scanning electron

    microscope (SEM) images were taken on a LEO 435 VP SEM (Carl Zeiss, Oberkochen,

    Germany).

    2.9. Statistical Analysis

    Data were expressed as mean ± SEM, and Student’s t-test was used for statistical

    analysis. The p value

  • 38

    inhibited by increasing doses of A. cochliacarpos extract and by dexamethasone (figures 1A

    and 1B). Treatment with dexamethasone (2.0 mg/kg) reduced the overall edema in 52%,

    while 100, 200 and 400 mg/kg A. cochliacarpos extract reduced the edema induced by B.

    leucurus in 1%, 13% and 39%, respectively (figure 1B).

    Time (min.)

    0 15 30 60 90

    Are

    a v

    aria

    tio

    n (

    mm

    2)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    *

    *

    *

    *

    *

    *

    *

    *

    BlV

    BlV + Dexa

    BlV + EAc 100 mg/kg

    BlV + EAc 200 mg/kg

    BlV + EAc 400 mg/kg

    Control

    AU

    C (

    mm

    2.m

    in.)

    300

    600

    900

    1200

    1500

    1800

    A

    Control BlV BlV + Dexa BlV + EAc 100 mg/kg BlV + EAc 200 mg/kg BlV + EAc 400 mg/kg

    *

    **

    B

    Figure 1. Effect of A. cochliacarpos extract (EAc) on B. leucurus venom’s edematogenic activity. Mice received perimuscular injection of PSS or B. leucurus venom (1 mg/kg). The animals were treated

    with oral EAc oral at 100 mg/kg, 200 mg/kg and 400 mg/kg and i.v. dexamethasone (2 mg/kg) 5 min

    after venom injection. Results show hind limb edema measured with a caliper rule until 90 minutes after

    venom injection (panel A). Panel B shows the area under the curve analysis with the data observed in A.

    Data report means ± SEM (n=6). * p < 0.05 vs venom group (Student’s t-test).

    The injection of BlV (1 mg/kg) into the mice hind limbs caused a significant

    decrease in nociceptive threshold (hypercociception), besides the increase in limb volume. In

    our protocol, the peak of the hypernociceptive response occurred 2 h after venom injection,

    and after this time the phenomenon started to decrease and completely disappeared at 24 h

    (data not shown). When animals were treated with 400 mg/kg A. cochliacarpos extract or

  • 39

    with dexamethasone, the hypernociceptive response was significantly reduced. Lower doses

    of the extract showed no anti-hypernociceptive effect (figure 2).

    Time (h)0 2 4 6

    Inte

    nsity o

    f stim

    ulu

    s (

    g)

    2

    4

    6

    8

    **

    *

    ** **

    **

    Control

    BlV

    BlV + Dexa

    BlV + EAc 100 mg/kg

    BlV + EAc 200 mg/kg

    BlV + EAc 400 mg/kg

    Figure 2. Effect of A. cochliacarpos extract (EAc) on B. leucurus venom’s mechanical hypernociception response. Mice received perimuscular injection of PSS or B. leucurus venom (1

    mg/kg). The animals were treated with oral EAc at 100 mg/kg, 200 mg/kg and 400 mg/kg and i.v.

    dexamethasone (2 mg/kg) 5 min after venom injection. Results show in g the force needed to cause

    paw withdraw (pain threshold). Data report means ± SEM (n=6). * p < 0.05 and ** p < 0.01 vs venom

    group (Student’s t-test).

    After B. leucurus venom injection, all animals, including those receiving treatment,

    showed a decrease in functional ability to stand on the rotarod. However, on the first and third

    days after injection, mice receiving venom only or venom treated with 100 mg/kg and 200

    mg/kg EAc showed a more pronounced decrease, compared to animals treated with Dexa or

    400 mg/kg EAc. This result shows that EAc decreased the impact of venom on motor

  • 40

    functional activity. On the seventh day, all animals were able to remain on the rod as long as

    the control mice, showing recovered function (Fig. 3).

    Time (days)

    0 1 3 7

    Tim

    e o

    n r

    ota

    rod (

    s)

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    Control

    BlV

    BlV + Dexa

    BlV + EAc 100 mg/kg

    BlV + EAc 200 mg/kg

    BlV + EAc 400 mg/kg

    * **

    *

    Figure 3. Functional activity. Time spent by mice on the rotarod (8 rpm) before and after receiving

    B. leucurus venom (1.0 mg/kg). The animals were treated with oral EAc at 100 mg/kg, 200 mg/kg and

    400 mg/kg and i.v. dexamethasone (2 mg/kg) 5 min after venom injection. Time zero represents data

    obtained before venom injection. Data report means ± SEM (n=6). * p < 0.05 vs venom group

    (Student’s t-test).

    Light microscopy of the EDL muscles 24 h after injection of B. leucurus venom showed

    structural disorganization of muscle fibers with cellular damage and inflammatory cellular

    infiltration, characteristics of a typical inflammatory reaction. Treatment with 400 mg/kg A.

    cochliacarpos extract and with dexamethasone preserved the muscle fibers and seemed to

    reduce the presence of inflammatory cells (figure 4).

    Ultrastructural study of EDL muscle fibers confirmed the observations of light

    microscopy (figure 5). Control muscles injected with PSS had a constant diameter of about 20

  • 41

    µm and showing long cylindrical forms, occasionally splitting or dividing to provide branches

    within the muscle (figure 5A). On the other hand, in the muscles injected with B. leucurus

    venom (1.0 mg/kg) focal areas of myonecrosis were abundant after 24 h. Injured fibers

    presented dilated sarcoplasmic reticulum, disoriented and condensed myofibrils (figures 5B

    and 5C). Furthermore, as shown in figure 5D, hemorrhage was apparent in the endomysial

    connective tissue, and hemolysis was discernible. Degeneration was pronounced in areas

    where the erythrocytes were tightly packed between the muscle fibers. Myofibrils were

    hypercontracted leaving, as a consequence, areas of overstretched myofibrils as well as empty

    spaces. On its turn, muscles of mice treated with i.v. dexamethasone showed no damage or

    extensive hemorrhage (figure 5E). Finally, the oral administration of A. cochliacarpos

    hydroalcoholic extract (400 mg/kg) also decreased the myonecrotic effect of B. leucurus

    venom, with fewer areas of hypercontracted myofilaments or hemorrhagic components (figure

    5F).

  • 42

    Figure 4. Light microscopy of mouse EDL muscle 24 h after perimuscular injection of B. leucurus venom: effect A. cochliacarpos extract (EAc). Longitudinal sections stained with

    hematoxylin and eosin: (A) PSS; (B) venom (1.0 mg/kg); (C) venom + dexamethasone (2 mg/kg, i.v);

    (D) venom + EAc 100 mg/kg; (E) venom + EAc 200 mg/kg; and (F) venom + EAc 400 mg/kg (n= 6

    per group). In panel A, panoramic view of control muscle showing normal multinucleated myofibers

    with peripheral nuclei (arrow) and no morphological changes. Panels B, D and E show necrotic

    myofibers in different stages of degeneration (arrowheads), edema between the fibers (stars) and

    intense inflammatory infiltrate (asterisks) that reaches the internal portions of the muscle (arrow). In C

    and F, observe preserved muscle fibers with peripheral nuclei (arrows). Magnification: 40x.

  • 43

    Figure 5. The cytoarchitecture of mouse EDL muscle 24 h after perimuscular injection of B. leucurus venom: effect of A. cochliacarpos extract (EAc). Muscles were studied by

    scanning electron microscopy after the removal of connective tissue matrices using a

    modified KOH-collagenase digestion method. (A) PSS; (B), (C) and (D) venom (1.0 mg/kg); (E) venom + dexamethasone (2 mg/kg, i.v); (F) venom + EAc 400 mg/kg (n= 6 per group).

    4. Discussion

    Our study confirmed the ability of Bothrops leucurus venom injection to induce

    muscle damage, edematogenic activity, hypernociception and motor function impairment.

    Among the important components of this venom are several metalloproteinases and

  • 44

    phospholipases A2 (PLA2) which present cytotoxic and proinflammatory properties [3, 18, 19,

    20, 21, 22]. Our results provide for the first time an experimental and scientific support for the

    use of A. cochliacarpos extract in cases of accidents with B. leucurus snake venom, which

    had some important activities inhibited in experimental conditions by the plant’s crude

    extract.

    Edema is an important effect of Bothrops venoms, which along with tissue necrosis

    can be severe enough to cause functional loss or even compartment syndrome [23]. As part

    of the classical inflammatory reaction, the edema generation was rapidly set following venom

    injection. Venom-induced edema has been described as an inflammatory process induced by

    components that involve local mediators derived from arachidonic acid and autacoids such as

    histamine and serotonin, and is not substantially antagonized by antivenom [24, 25],

    constituting a major complication related to accidents caused by Bothrops in large animals. In

    agreement with previous studies [11, 26], the anti-inflammatory properties of dexamethasone

    were able to partially inhibit the edema induced by venom injection, strongly supporting that

    at least in part the venom activity depends on inflammation. Interestingly, the crude extract of

    A. cochliacarpos was also able to reduce the edematogenic effect of B. leucurus venom

    injection, confirming early observations showing that this plant presents some anti-

    inflammatory properties [27, 28, 29, 30, 31].

    Inflammation is frequently associated with pain and hypernociception [32, 33].

    Inflammatory hypernociception follows alterations in transduction sensitivity in the peripheral

    terminals (nociceptors) and in excitability in the central nervous system. Such alterations are

    secondary to the activation of chemosensitive nociceptors by inflammatory mediators, which

    are extensively induced by snake venom injection [33, 34, 35]. It has been shown that

    hyperalgesia induced by Bothrops sp venoms is not neutralized when antivenoms are

    administered after envenomation [35], and the clinical relevance of pain following

  • 45

    envenomation points to the need to develop pain-controlling therapeutic strategies. The

    known anti-hyperalgesic actions of dexamethasone [36] were confirmed in our study. Again,

    oral administration of A. cochliacarpos extract successfully decreased the hypernociceptive

    action of B. leurucus venom.

    As previously shown, i.m. injection of the Bothrops venoms induces extensive

    myonecrosis in mice [37, 38, 39, 40, 41, 42]. Our study showed the important in vivo

    myotoxicity of B. leucurus venom, which was inhibited by both dexamethasone and A.

    cochliacarpos extract. This is of great importance considering the high myotoxicity of

    Bothrops venoms and the lack of protection from this activity by the available treatment, the

    antibothropic antivenom, leading to functional disabilities due to poor muscle regeneration

    [43].

    Local and systemic skeletal muscle degeneration is a common consequence of

    envenomations due to snakebites. PLA2s are important myotoxic components in Bothrops

    venoms, inducing a similar pattern of degenerative events in muscle cells. Myotoxic PLA2s

    bind to acceptors in the plasma membrane, which might be lipids or proteins and which may

    differ in their affinity for the PLA2s. Upon binding, myotoxic PLA2s disrupt the integrity of

    the plasma membrane by catalytically dependent or independent mechanisms, provoking a

    pronounced Ca2+

    influx which, in turn, initiates a complex series of degenerative events

    associated with hypercontraction, activation of calpains and cytosolic Ca2+

    -dependent PLA2s,

    and mitochondrial Ca2+

    overload [6, 44]. Our experiments showed dose-dependent inhibition

    of B. leucurus myotoxic activity by A. cochliacarpos extract, which could be related to

    inhibition of the venom’s PLA2s, besides decreasing muscle damage by the inflammatory

    reaction itself.

    Finally, mice receiving treatment with dexamethasone or A. cochliacarpos extract

    showed better functional performance, i.e. because the morphological and biochemical