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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL PLANTERR MESTRADO PROFISSIONAL UM DESENHO A VÁRIAS MÃOS PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO: SUBSÍDIO PARA PROMOÇÃO DO TURISMO EM PASSAGEM, ANDARAÍ (BAHIA) JULIANA DE SOUZA ROCHA Feira de Santana 2017

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial - … · 2019-05-23 · 2 Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado R571d Rocha, Juliana de Souza “Um

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL PLANTERR – MESTRADO PROFISSIONAL

UM DESENHO A VÁRIAS MÃOS

PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO: SUBSÍDIO PARA PROMOÇÃO DO TURISMO EM PASSAGEM,

ANDARAÍ (BAHIA)

JULIANA DE SOUZA ROCHA

Feira de Santana 2017

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JULIANA DE SOUZA ROCHA

UM DESENHO A VÁRIAS MÃOS

PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO: SUBSÍDIO PARA PROMOÇÃO DO TURISMO EM PASSAGEM,

ANDARAÍ (BAHIA)

Relatório Técnico apresentado como requisito para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial, mestrado profissional. Orientadora: Dra. Telma Maria Sousa Santos

Feira de Santana

2017

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Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado

R571d Rocha, Juliana de Souza

“Um desenho a várias mãos”: plano territorial de desenvolvimento

turístico – subsídio para promoção do turismo em Passagem - Andaraí

(Bahia) /Juliana de Souza Rocha. -, 2017.

192 f.: il.

Orientadora: Telma Maria Sousa Santos

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Feira de

Santana, Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial,

2017.

1. Território - Planejamento. 2. Potencial turístico. 3. Passagem do

Paraguaçu – Andaraí, BA. I. Santos, Telma Maria Sousa, orient.. II.

Universidade Estadual de Feira de Santana. III. Título.

CDU: 711. (814.22)

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SAUDAÇÃO

Este é o meu canto de paixão canto que emana de um coração sofrido

pela saudade que agrilhoa a memória na explosão sentimental

de transbordante nostalgia

Canto que traz no seu sentir Gorjeios de pássaros

E o gargalhar de cachoeiras Cantigas e lavadeiras

Lavadas pelo rumoroso Escorrer das águas de ribeirões

De regatos e de riachos da minha infância - da serra que corre léguas

E enfurna mistérios Dos descobridores de diamantes

Neste meu canto outonal-ó Andaraí

Eu sinto no teu mapa Estampado em meu coração O murmurar dos teus arroios

O deslizar dos teus regatos O escorrer das águas dos ribeirões

E de riachos dos pés de serra A revolver seixos por sobre a areia

Alva e fina de seus leitos

Limoeiro/Garapa/Comercinho/ Justino/Floriz/Corrego d Padre Paulo Pinto/Piabas/Coisa–Boa

Quero beber a agua pura das tuas fontes- límpidas Filtrada dentre os diamantes

Água de que serviu-se o vigário Para cristão sagrar na velha igreja

Aquele que a memória da terra aqui registra

Este é o canto da terra natal De vida;/ de coisas/ de seres

Dos terreiros embandeirolados Festejando os meus santos

Das noites estreladas Com a lua a passear

Pelas ruas compridas Caiando o casario/ Rocando de névoa Os picos da serra/ Amo-te minha terra!

(Fernando Sales)

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Às famílias do povoado Passagem do Paraguaçu, cujo território se fizeram desvelar sendo símbolos de resistência da cultura e identidade territorial daqueles garimpeiros que fizeram a história das Lavras Diamantinas.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter dado coragem para concluir esse curso em meio a

várias outras ocupações cotidianas.

Com muita satisfação agradeço aos meus pais, meus irmãos e familiares pelo

apoio, pela motivação. A Vanderlei Guimarães e a filha Maria Júlia Guimarães

compreensivos, mas que sentiram muito a minha ausência durante o curso em

questão. Aos meus tios Mada, Valmi, Tércio, Jove, Babá pela acolhida, companhia, na

partilha dos saberes, valiosos para construção deste trabalho.

As famílias Pereira, Souza, Bispo, Guedes, Santana, Evangelista, Dourado e

Rocha aos demais moradores do povoado agradeço de coração, pois muito

colaboraram para que pudéssemos caminhar juntos revisitando as lembranças, as

tradições de um povo que merece ser reconhecido pela sua história e pelo coletivo que

se formou. Vocês muito honraram com seus relatos a vida cotidiana do povoado

Passagem do Paraguaçu.

Às amizades construídas durante o Mestrado em Planejamento Territorial, em

especial agradeço a Jorge Cerqueira. No curso foram valiosas experiências, trocadas.

Fortalecemos uma amizade sincera!

De antemão, agradeço à professora Dra. Telma Maria por ser referência nos

estudos sobre turismo na Universidade de Feira de Santana, cujas rodas de conversa

somaram reflexões ao longo da minha carreira acadêmica desde os estudos na

Iniciação Cientifica até a conclusão do mestrado e que muito gentilmente, sempre se

disponibilizou para que as orientações acontecessem neste projeto.

Aos professores do mestrado, cada um com suas experiências de vida e

acadêmicas, agregaram conhecimentos e reflexões durante o curso incentivando e

mostrando que estávamos no caminho certo, nos ajudaram a pensar no planejamento

territorial, como um alicerce para aplicação das experiências profissionais ,contribuindo

para que o conhecimento acadêmico, viesse cada vez mais se tornar conhecimento

compartilhado.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DP - Diagnóstico Participativo

EMBASA – Empresa Baiana de Águas e Saneamento

IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Biodiversidade

IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

PARNA-CD - Parque Nacional da Chapada Diamantina

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LISTA DE MAPAS

MAPA 1 - Localização e limites do município de Andaraí ......................................... 23

MAPA 2- Unidades de conservação presentes no município de Andaraí ................. 23

MAPA 3 - Zonas turísticas da Bahia .......................................................................... 79

MAPA 4 - Localização do Povoado Passagem ...................................................... 101

MAPA 5 – Passagem, década de 50 ....................................................................... 133

MAPA 6 - Meu lugar-representações cotidianas ..................................................... 134

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Elementos que compõe a identidade territorial .................................. 31

QUADRO 2 - Resumo dos elementos do espaço turístico ........................................ 35

QUADRO 3 - Classificação do potencial turístico ..................................................... 42

QUADRO 4 - Classificação da infraestrutura de apoio turístico ............................... .43

QUADRO 5 – Classificação dos serviços e equipamentos turísticos ........................ 43

QUADRO 6 – Classificação dos atrativos turísticos .................................................. 44

QUADRO 7 – Caracterização da atividade, produto e segmentação turística .......... 44

QUADRO 8 - Quadro síntese das motivações turísticas. .......................................... 45

QUADRO 9 – Definição de turismo alternativo ......................................................... 47

QUADRO 1 – Classificação do espaço turístico de Bullon (2002) ........................... 55

QUADRO 2 – Quadro síntese para implantação do Planejamento turístico ............. 56

QUADRO 12 - Zonas Turísticas da Chapada Diamantina ....................................... 79

QUADRO 13 - Execução das atividades planejadas ................................................ 95

QUADRO 14 - Caracterização do membro mais antigo da família. Fonte entrevista e

trabalho de campo .................................................................................................. 112

QUADRO 15 - Estratégias para sensibilização para o desenvolvimento do projeto:

“um desenho a varias mãos”. ................................................................................. 114

QUADRO 16 - Leitura de trechos do livro cascalho ............................................... 116

QUADRO 17 - Símbolos que representam a historia de construção territorial .................. 130

QUADRO 18 – Quadro síntese do roteiro de identificação de potencialidades

turísticas ................................................................................................................. 138

QUADRO 19 - Calendário de eventos ................................................................... 152

QUADRO 20 - Impacto do Plano de Desenvolvimento do turismo ......................... 157

QUADRO 21 – Roteiro para o planejamento do espaço turístico............................ 159

QUADRO 22 - Síntese fortalezas e fragilidades do território ................................ 162

QUADRO 23 - Qualificação dos recursos no território ........................................... 162

QUADRO 24 - Fatores da infraestrutura turística ................................................... 168

QUADRO 25 - Parâmetros e indicadores conceituais ............................................. 172

QUADRO 26 – Indicadores de viabilidade do projeto de intervenção ................... 174

QUADRO 27 – Prognostico do território .................................................................. 176

QUADRO 28 – Validação de benefícios do planejamento turístico por segmento .. 179

QUADRO 29- Avaliação dos temas do projeto pelas família................................... 180

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Constituição do território ....................................................................... 29

FIGURA 2 – Elementos do turismo pela geografia do turismo ................................. 37

FIGURA 3 – Cronograma de iniciativas pioneiras de planejamento para o turismo no

Brasil ......................................................................................................................... 53

FIGURA 4 – Hierarquização da sociedade garimpeira tradicional..............................63

FIGURA 5 - Esquema metodológica da pesquisa ..................................................... 94

FIGURA 6 - Atrativos elencados pela população da Passagem ............................ 155

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L ISTA DE FOTOS

FOTO 1 – Cachoeira da D’onana, rio Paraguaçu ................................................... 102

FOTO 2 – Ponte sobre o rio Paraguaçu, trecho de acesso ao povoado Passagem103

FOTO 3 - Seixos rolados, as margens do rio Paraguaçu ........................................ 104

FOTO 4 – Rio Piabas, assoreamento decorrente da exploração de diamantes ..... 105

FOTO 5 – Arvores frutíferas das propriedades ....................................................... 106

FOTO 6 – Coleta de frutas ...................................................................................... 106

FOTO 7– Uso da Catra nas atividades domésticas ................................................ 107

FOTO 8 – Uso do rio para atividades domésticas ................................................... 107

FOTO 9 – Casario da Praça Santo Antônio ............................................................ 107

FOTO 10 – Praça Santo Antônio ............................................................................ 107

FOTO 11 – Rua dos antigos moradores ................................................................ 108

FOTO 12 – Moradias apropriadas por turistas ........................................................ 108

FOTO 13 – Passagem do Paraguaçu, vista panorâmica ....................................... 108

FOTO 14 – Convivência social ............................................................................... 112

FOTO 15 – Cotidiano comunitário .......................................................................... 112

FOTO 16 e 17 – Entrega de trechos do livro Cascalho ........................................... 114

FOTO 18 e 19 - Primeira edição do livro Cascalho ................................................. 114

FOTO 20 – Visita domiciliar .................................................................................... 116

FOTO 21 - Apresentação do livro Cascalho ............................................................ 116

FOTO 22 – Exibição de filme ................................................................................. 120

FOTO 23 – Momento de mobilização da comunidade ........................................... 120

FOTO 24 – Registro das transformações sócioespaciais ....................................... 124

FOTO 25 – Montagem de painel ............................................................................. 124

FOTO 26 – Margens do rio Paraguaçu, pesca, 1985 ............................................. 125

FOTO 27 – Margens do Paraguaçu, banho 2011 ................................................... 125

FOTO 28 – lavagem de pratos no rio Paraguaçu, 1985 ......................................... 125

FOTO 29– Lavagem de roupa no rio ....................................................................... 125

FOTO 30 – Garimpo artesanal e rudimentar .......................................................... 127

FOTO 31 – Garimpo de dragas e maquinário ......................................................... 127

FOTO 32 – Marcas de ferro, utilizadas para marcar o gado ................................... 129

FOTO 13– Potes utilizados como reservatório de água .......................................... 129

FOTO 32 – Objetivos do sincretismo religioso ........................................................ 129

FOTO 35 – Lampiões a óleo ................................................................................... 129

FOTO 36 – Retrato de estudantes do povoado, década de 1950 ........................... 129

FOTO 37 – Bebidas feitas com ervas medicinais .................................................... 129

FOTO 38 – Construção da mapa mental ............................................................... 130

FOTO 38 – Montagem do mapa ............................................................................. 130

FOTO 39 – Placas de sinalização em inglês ........................................................... 134

FOTO 40 - Placas de sinalização de atrativos. ....................................................... 134

FOTO 41- Sinalização de camping ........................................................................ 134

FOTO 42 - Sinalização para serviços de guia ....................................................... 134

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FOTO 43 – Placas informativos ............................................................................ 135

FOTO 44 – Restrição ao acesso a espaço de eventos ........................................... 135

FOTO 45 – Atividade por grupo - reflexão sobre o território turístico ...................... 140

FOTO 46 - Encontro com moradores para tratar das questões sobre o turismo

comunitário .............................................................................................................. 140

FOTO 47 – Praça sem calçamento ......................................................................... 143

FOTO 48 – Construção de Quiosque ...................................................................... 143

FOTO 49– Acesso sem capinação ......................................................................... 143

FOTO 50– Construção de banheiro público e melhoria do acesso ......................... 143

FOTO 51 – Ponto de apoio do turismo no território ................................................. 144

FOTO 52 - Pousada Ecológica ................................................................................ 144

FOTO 53- Restaurante Malhado Guia .................................................................... 145

FOTO 54 – Balneário do Paraguaçu ...................................................................... 145

FOTO 55 – Toca do Morcego .................................................................................. 145

FOTO 56 – Balneário do Paraguaçu ....................................................................... 146

FOTO 57 – Trilha de acesso ao rio Piabas ............................................................ 146

FOTO 58 – Cachoeira da D’onana .......................................................................... 147

FOTO 59– Retiro dos católicos ............................................................................... 148

FOTO 60 – Momento de partilha ............................................................................. 148

FOTO 61-Tradição de montar altar ...................................................................... 148

FOTO 62-Tradição da familia de Antonio Pereira in memorian) .............................. 148

FOTO 63- Missa campal ......................................................................................... 149

FOTO 64 - Aniversário do morador Antonio de Souza (dia de Sto Antonio) ........... 149

FOTO 65 - Sincretismo no altar “Peji” ..................................................................... 149

FOTO 66 – Referencia ao “Jarê” ............................................................................ 149

FOTO 67 – Igreja de São José ................................................................................ 150

FOTO 68 – Capela de Santo Antonio ...................................................................... 150

FOTO 69 – Coleta de ervas medicinais .................................................................. 153

FOTO 70 – Coleta do coco de dendê (azeite) ......................................................... 153

FOTO 71 - “Mae” parteira e rezadeira ..................................................................... 153

FOTO 72- “conselheira” e raizeira ........................................................................... 153

FOTO 73 – Seleção de café, moído artesanalmente .............................................. 153

FOTO 74 - Visitante coletando frutas ...................................................................... 153

FOTO 75 – Registro do cotidiano do território ......................................................... 154

FOTO 76 – O cotidiano na lavoura .......................................................................... 154

FOTO 77 - Apresentação da proposta da oficina .................................................... 160

FOTO 78 – Detalhando o objetivo da proposta ....................................................... 160

FOTO 79 – Exposição da proposta relacionando ao cotidiano ............................... 160

FOTO 80, 81 e 82 - Registro das propostas por grupo de trabalho ........................ 161

FOTO 83 - Grupo de visitantes ............................................................................... 161

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GRÁFICO

GRÁFICO 1 - Ocupação dos moradores no mercado de trabalho. ......................... 164

GRÁFICO 2 - Infraestrutura turística. ...................................................................... 169

.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 18

2 NAS TRILHAS DO ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO ................................................ 26

2.1 REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE TERRITÓRIO ................................ 26

2.1.1 Identidade territorial e sua relação com o território turístico ........................... 31

2.2 CONCEPÇÕES EM TORNO DO TURISMO ................................................... 36

2.2.1 Turismo: potencial, classificação e motivação turística .................................... 40

2.2.2 Perspectiva de um turismo alternativo ........................................................... 46

2.3 PLANEJAMENTO NA (RE) PRODUÇÃO DE TERRITÓRIOS TURÍSTICOS ...... 52

2.3.1 A locomotiva da história das lavras diamantinas no interior da Bahia .............. 60

2.3.2 A produção de territórios turísticos na Chapada Diamantina .......................... 69

3. PASSOS PARA A CAMINHADA NA ROTA DO PLANEJAMENTO TURISTICO.84

3.1 METODOLOGIA DE TRABALHO ....................................................................... 85

3.1.1 Etapas da intervenção social ........................................................................... 87

4. DIAGNÓSTICO TERRITORIAL ............................................................................ 97

4.1 CONTEXTUALIZANDO A PASSAGEM DO PARAGUAÇU ............................... 98

4.1.1 A história contada ........................................................................................... 100

4.1.2 Descrição ambiental ....................................................................................... 104

4.1.3 Caracterização da socioespacial .................................................................... 106

4.1.4 Caracterização dos sujeitos da pesquisa ....................................................... 110

4.2 CONJUNTURA DA INTERVENÇÃO SOCIAL ................................................... 112

4.2.1 Primeiro momento: Sensibilização nas visitas aos domicílios ..................... 113

4.2.2 Segundo momento: Roda de conversa nos encontros coletivos ................... 119

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5. INVENTÁRIO DA OFERTA TURÍSTICA .......................................................... 137

5.1 ANÁLISE DO TURÍSTICO EM PASSAGEM .................................................... 139

5.1.1 A infra-estrutura de apoio turístico ................................................................. 142

5.1.2 Os atrativos locais ......................................................................................... 146

6. PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO ............................................ 156

6.1 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TURISTICO ................................................... 158

6.1.1 Qualificação dos recursos ............................................................................. 162

6.1.2 Fatores de Infra estrutura turística ................................................................ 168

6.2 PROGNÓSTICO TERRITORIAL ....................................................................... 170

6.3 CONSTRUÇÃO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS ............................................... 175

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 182

REFERENCIAS

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RESUMO O espaço produzido em função das transformações da sociedade é permeado de contradições consequentemente resultam em situações de vulnerabilidades socioeconômica e cultual à população. Os territórios criados são resultantes das diferentes relações sociais existentes no espaço produzido. Em relação ao turismo, a atividade é criada no âmbito das relações sociais e exercida na consolidação de viagens de lazer possibilitando a visitação e promoção dos atrativos presentes nos territórios. No intuito de analisar o potencial turístico do povoado Passagem do Paraguaçu, localizado no município de Andaraí – Chapada Diamantina (Ba), abordou-se como objeto de analise o planejamento turístico a partir da valorização do território e o fortalecimento do grupo social na perspectiva de promoção da prática do turismo. A intervenção social ocorreu entre os anos de 2016 a 2017, com 10 famílias do povoado, cuja questão a ser investigada foi: como a população local podem promover a prática do turismo e seu planejamento? A hipótese versa na concepção de que a organização comunitária, a valorização do território e o conhecimento do potencial turístico presente, possibilitará o incentivo ao turismo, alicerçada em planos de desenvolvimento para a atividade turística de maneira sustentável. A reflexão conceitual aborda o território e o turístico importantes para pensarmos a promoção do turismo. No percurso metodológico a pesquisa-ação participante apoiou a construção coletiva das atividades, executadas no território. Desde o diagnóstico do território revelou-se as histórias de formação territorial e sua caracterização, demonstrando no processo de intervenção, o quanto os aspectos culturais também se tornam relevantes ao se analisar o potencial turístico. Ao serem apresentadas a oferta e demandas turísticas foram criadas estratégias para o turismo comunitário de base local, apoiada em prognósticos a partir das demonstrações e sugestões da população envolvida. Como resultado verificou-se a relevância de se conhecer a potencialidade local para comunidades latentes e com vocação para receber visitantes. Concluiu-se que a busca de possibilidades a partir do estudo do potencial turístico de um território, torna-se uma ferramenta que propicia repensar a produção do espaço relacionando os atrativos existentes a vocação turística em suas múltiplas interações. Ademais, o turismo pode dinamizar os espaços receptores, sendo necessário planejamento territorial para produzir a atividade turística, ou potencializá-la. Palavras-chave: Território – Turismo – Potencial Turístico – Planejamento

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ABSTRACT

The space produced as a result of the transformations of society is permeated with contradictions, consequently resulting in situations of socioeconomic and culturally vulnerable to the population. The territories created are the result of the different social relations existing in the space produced. In relation to tourism, the activity is created within the scope of social relations and exercised in the consolidation of leisure trips enabling the visitation and promotion of the attractions present in the territories. In order to analyze the tourist potential of the village Passage of Paraguaçu, located in the municipality of Andaraí - Chapada Diamantina (BA), it was approached as an object of analysis the tourism planning based on the valorization of the territory and the strengthening of the social group in the perspective of promoting the practice of tourism. The social intervention occurred between 2016 and 2017, with 10 families from the village, whose question to be investigated was: how the local population can promote the practice of tourism and its planning? The hypothesis is based on the conception that the community organization, the valorization of the territory and the knowledge of the tourism potential present, will enable the incentive to tourism, based on development plans for the tourism activity in a sustainable way. The conceptual reflection approaches the territory and the tourist important to think the promotion of tourism. In the methodological course, the participatory action research supported the collective construction of the activities carried out in the territory. Since the diagnosis of the territory revealed the stories of territorial formation and its characterization, demonstrating in the intervention process, how much the cultural aspects also become relevant when analyzing the tourist potential. When presenting the tourism offer and demands, strategies were created for community-based local tourism, supported by prognoses based on the demonstrations and suggestions of the population involved. As a result it was verified the relevance of knowing the local potential for latent communities and vocation to receive visitors. It was concluded that the search for possibilities from the study of tourism potential of a territory, becomes a tool that allows to rethink the production of the space relating the existing attractions to the tourist vocation in its multiple interactions. In addition, the tourism can dynamize the receiving spaces, being necessary territorial planning to produce the tourist activity, or to potentiate it.

Keywords: Territory – Tourism - tourist potential - Planning

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1 INTRODUÇÃO

“Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova referencia em face da vida, por um compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida.”

CARTA DA TERRA

A sociedade se relaciona com a natureza, transformando os espaços de

vivência conforme as suas necessidades. Essa proporção se intensifica com a

necessidade de acúmulo do capital típico da sociedade capitalista. O espaço

produzido em função das transformações da sociedade é também permeado de

desigualdades e contradições, que consequentemente resultam em situações de

vulnerabilidade socioeconômica e cultual à população.

Dentre as atividades humanas que utilizam o espaço para sua produção

está o turismo, que o apropria e o consome para satisfazer as necessidades de

lazer, negócios, dentre outros. Cada vez mais se intensifica no Brasil, uma

modalidade de turismo cuja prática ocorre em unidades de conservação ambiental,

em que a organização de ações está direcionada ao uso do espaço turístico e a

preservação ambiental. Associado a este fato, o turismo em comunidades locais,

também vem sendo agregadas como incremento para atividade turística.

Para Souza (1999) o turismo é uma atividade que significa lazer e descanso,

sendo seu enfoque primordial a produção e o consumo da paisagem, do território e

do espaço. Os espaços turistificados, ou seja, aqueles transformados em função da

atividade turística deveriam ser produzidos a partir das ações desencadeadas pelos

principais agentes no seu processo de construção, seja o Estado, os empresários ou

uma comunidade. Assim sendo, construir coletivamente estratégias de

empoderamento, mobilização e organização comunitária, diante do contexto

socioeconômico atual, ainda é um grande desafio.

Por isso, a corresponsabilidade na utilização dos recursos ambientais, na

perspectiva da equidade social, cultural, econômica e ambiental não pode ser

descartada quando tratamos do turismo no espaço geográfico. Se a população não

puder participar da gestão dos recursos de seu município, as alternativas para o

desenvolvimento local e de maneira sustentável, dificilmente conduzirá a

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participação comunitária. A perspectiva de um turismo alternativo, compreende as

características de envolvimento da comunidade desde o planejamento das ações á

articulação e execução da atividade, principalmente no segmento turístico que prevê

cuidado com os recursos ambientais.

Como exemplo de participação coletiva sobre um tema global, nos anos de

1970 houve uma maior consciência da crise ecológica em vários países. As

contestações sobre o desenvolvimentismo apresentado como solução dos

problemas econômicos gerou denuncias à exploração ilimitada dos bens e a

insustentabilidade social e ambiental por ele gerada. A crítica à ideia de

desenvolvimento se estende nos anos de 1980, mas também se iniciam propostas

que buscavam os caminhos de superação deste modelo, dentro dos marcos da

lógica capitalista. Agora além do movimento ecológico, entram em cena as grandes

instituições e órgãos internacionais (SCOTTO, 2007).

A Constituição Federal (BRASIL,1988) em seu art. 216 reconhece o meio

ambiente natural e cultural, que se traduz na história de um povo, como elementos

identificadores da cidadania. Tais elementos retratam um desenvolvimento em

escala humana, atendendo demandas sociais, e não apenas nos índices

quantitativos e o lucro (CORIOLANO, 1998). Apesar do avanço de políticas públicas

são muitos casos em que a participação efetiva de representantes da sociedade não

se consolida. Torna-se essencial, nesse sentido, a mediação do processo político

em grupos sociais para o controle no manejo dos espaços de forma sustentável.

Partindo do princípio de que a autonomia a partir do cuidado com o

ambiente e com os vínculos culturais conduzem a uma percepção crítica de

determinadas realidades as concepções sobre território e planejamento, através

do turismo – por exemplo - podem favorecer maior autonomia e inserção da

sociedade na efetivação das políticas públicas em voga. No tocante aos grupos

sociais, Gohn (2010 p. 122) irá apontar por exemplo que a criação de políticas

nacionais em defesa e preservação de bens imateriais possibilitou no Brasil a

organização de grupos locais, “estas ações têm grande potencial de crescimento

(...) e tem mobilizado mais grupos tradicionais em comunidades locais”.

Assim, a exploração de pedras preciosas na Bahia, atividade econômica

desenvolvida desde o século XVIII principalmente nos municípios de Andaraí,

Mucugê, Palmeiras e Lençóis, foi substituído paulatinamente pela atividade

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turística, trazendo uma nova dinâmica ao espaço geográfico, juntamente com a

criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PARNA-CD), em 1985. A

proibição do processo de garimpagem pelo governo Estadual, ao longo do leito de

rios (através de máquinas de sucção) conduziu a uma intervenção do Estado da

Bahia nas décadas de 1980-1990 que propôs estratégias para preservação

ambiental na Chapada Diamantina.

A compreensão do fenômeno turístico ocorrido na Chapada Diamantina,

indaga a uma reflexão a cerca da construção de planos de desenvolvimento turístico

em comunidades com potencial para o turismo. O planejamento de ações para o

desenvolvimento local de maneira sustentável em comunidades envolve todo um

contexto socioespacial. Em contrapartida, dada a demanda turística, contribuir para

novos estudos que contemplem a avaliação e análise do potencial turístico a partir

do diagnóstico e prognóstico do território e o reconhecimento de comunidades locais

pela sua importância na formação territorial, torna-se relevante nos arranjos

espaciais para um turismo alternativo.

A proposta de se contemplar a participação coletiva na tomada de decisões,

como também a evidência na criação de estratégias de gestão governamental são

atualmente aspectos importantes na temática do planejamento territorial. Na

Chapada Diamantina, se tem estruturado dois instrumentos legais, legislação que

implantou a Unidade de Conservação – Parque Nacional da Chapada Diamantina

(1985) e o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (2000), por

exemplo; criados com viés para a gestão do turismo, no entanto não se consolidou

um planejamento permanente, dinâmico e coletivo.

Diante dessa conjuntura, justifica-se pensar em uma pesquisa cuja

perspectiva é o fortalecimento de identidades para se pensar em um planejamento

territorial tendo como parâmetro o turismo. Prevê-se contribuir com o que é previsto

na Lei 11.771/2008 (Política Nacional de Turismo) que dentre seus objetivos no

artigo 5 estabelece propiciar a prática de turismo sustentável nas áreas naturais,

promovendo a atividade como veículo de educação e interpretação ambiental e

incentivando a adoção de condutas e práticas de mínimo impacto compatíveis com a

conservação do meio ambiente natural; e preservar a identidade cultural das

comunidades e populações tradicionais eventualmente afetadas pela atividade

turística. A Lei Estadual de Turismo (Lei 12. 933/2014) também fortalece a proposta

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de trabalho aqui apresentada, quando indica além do estímulo a preservação da

identidade cultural , o apoio ao resgate de suas manifestações culturais locais e dos

principais elementos de sua história.

Há 30 anos, com a criação do PARNA-CD e desenvolvimento do turismo no

interior da Bahia, ficou demarcado na ação do Estado da Bahia na delimitação desta

Unidade de Conservação (UC) e pôde inibir a degradação ambiental provocada pelo

garimpo e incentivar o turismo. No entanto, algumas comunidades e/ou agentes

locais se vêm à margem desse processo, surgindo uma questão a ser investigada

durante a pesquisa: como os grupos locais podem promover a prática do turismo

comunitário e seu planejamento participativo diante do contexto hegemônico do

turismo? A hipótese versa na concepção de que a organização comunitária, a

valorização do território e o conhecimento do potencial turístico presente,

possibilitará o incentivo ao turismo, alicerçada em planos de desenvolvimento para a

atividade turística de maneira sustentável.

Dentre os municípios da Chapada Diamantina, o escolhido foi o de Andaraí,

por compor juntamente com Mucugê, Palmeiras, Lençóis e Ibicoara - o Parque

Nacional da Chapada Diamantina. Pelos dados do IDHM (Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal), Andaraí possui os mais baixos índices IDHM

(0,555) da Chapada Diamantina (www.cidades.ibge.gov.br), supondo, portanto a

necessidade de produção de planos de intervenção no território em seus variados

aspectos ambientais, sociais, econômicos, educacionais dentre outros, para avançar

o desenvolvimento local.

A denominação Chapada Diamantina refere-se a uma extensão territorial do

Estado da Bahia, cujos aspectos ambientais ligados a formação geomorfológica com

subsolo conhecido pelas jazidas de pedras preciosas (gemas de diamantes)

caracterizou a região. Tal fato impulsionou os primeiros povoamentos, para

exploração das riquezas ali instaladas nos locais que hoje estão localizados os

municípios de Lençóis, Palmeiras, Andaraí, Mucugê, Ibicoara, Iraquara, Rio de

Contas, Nova Redenção, Itaetê, dentre outros. Toda uma conjuntura territorial,

condições de vida e trabalho, provenientes da extração e do comércio de pedras

preciosas, que se configurou nas também conhecidas lavras diamantinas.

O planejamento turístico é o objeto de estudo da presente pesquisa, a ser

realizado no município de Andaraí. A história de povoamento primitivo do território foi

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dada pelos índios Cariris. Algumas localidades e acidentes geográficos do

município, como exemplo a nomenclatura Andaraí marcam a presença remota dos

índios nessas terras. O nome de Andaraí significa "Rio dos Morcegos" na língua

indígena (Andira-morcego e Y-rio = rio dos morcegos), depois modificada para

Andhiray.

O município pertencia a freguesia de Santa Isabel do Paraguaçu (atual

Mucugê), e dar-se a apropriação de suas terras ao ano de 1845 pelo Capitão José

de Figueiredo (familiares e escravos) em busca de minérios (PEREIRA, 1916). Os

pioneiros a explorar pedras preciosas nessas terras, difundiram as minas de Andaraí

em Grão-Mongol (Minas Gerais), fato que gerou migração de garimpeiros que se

instalaram no território; mas agora vindos de Rio de Contas, de Caetité e Bom Jesus

do Rio de Contas. O núcleo populacional oriundo do garimpo de diamantes,

desenvolveu-se e em 11 de junho de 1878, elevou-se a distrito da freguesia de São

Joao do Paraguaçu e a divisão administrativa do povoado ocorreu em 28 de abril de

1884, quando elevou-se a município de mesmo nome, Andaraí, desmembrando de

Santa Isabel do Paraguaçu (Atual Mucugê) (www.cidades.ibge.org.br).

A sede do município de Andaraí (41º20’W e 12º 48’S) possui uma altitude

de 440m, dista 414 km da capital Salvador e faz limite com os municípios de

Mucugê, Palmeiras, Lençóis, Nova Redenção, Lajedinho, Ibiquera, Itaetê, Iramaia e

Ibicoara (mapa 1). Os municípios de Itaetê, Nova Redenção e Lagedinho se

emanciparam do município de Andaraí nas décadas de 1970 e 1980.

Localiza-se na zona fisiográfica da Chapada Diamantina, no Estado da

Bahia. A área total do município de Andaraí é de 1.590,316 Km² e a população geral

é de 13.948 habitantes; a densidade demográfica é de 8,77 hab/Km²

(www.ibge.gov.br). O município de Andaraí apresenta quatro Unidades de

Conservação: o Parque Nacional da Chapada Diamantina (Decreto Federal Lei

91655/1985), “onde harmonizam cursos d’agua, corredeiras, cacheiras, serras,

morros, vales íngremes e profundos, flora e fauna, e sítios histórico-culturais”, a Área

de Proteção Ambiental Marimbus-Iraquara (Decreto Estadual 2.216/1993) “abriga

diversidade de ecossistemas, distrito espeleológico, regiões serranas, área alagada

(BAHIA, 2000 p.48), o Parque histórico e municipal de Igatu – o Parque Urbano de

Preservação Ambiental, Histórica e Lazer, criado em 2007, protege áreas de ruínas

do Bairro Luís dos Santos e os afloramentos rochosos situados em antigo garimpo

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(BAHIA, 2016 p.5) e mais recentemente o Parque Municipal Rota das Cachoeiras,

constituído por um conjunto de cachoeiras de rica beleza natural

(www.guiachapadadiamantina. com.br).

A economia do município de Andaraí depende do comércio, dos recursos do

funcionalismo público, dos aposentados, dos programas sociais do governo Federal

e as atividades extrativistas (pesca e extração vegetal), da agricultura e pecuária. A

estrutura econômica municipal demonstra expressiva participação no setor de

Serviços (76% do PIB municipal). Segundo dados sobre os produtos agrícolas

cultivados no município, a produção de abacaxi, feijão, mamona e milho são os mais

expressivos (IBGE, 2010). A produção agrícola nos assentamentos rurais da

Reforma Agrária (Assentamentos de Mocambo/ Salobrinho, Andaraí I, Moco e Santa

Luzia das Gamelas) refletem os investimentos no âmbito da agricultura familiar.,

cerca de 85% dos produtores do município. Quanto a pecuária, há criação de

bovinos, e em menor expressão a criação de caprinos, equinos, galináceos, ovinos,

MAPA 1: Localização e limites do município de Andaraí. Elaboração: ROCHA, 2017

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suínos e vacas ordenhadas. O acervo bibliográfico e histórico-cultural do município

de Andaraí, presente na Biblioteca Herberto Sales, retrata os diversos ciclos

econômicos do passado, aferindo à gestão municipal a necessidade de maiores

investimentos no setor de turismo.

Nesse desencadeamento, o objetivo geral do trabalho em voga é analisar o

potencial turístico do Povoado Passagem do Paraguaçu, localizado no município de

Andaraí – Chapada Diamantina (Ba), como subsidio para o desenvolvimento do

plano do turismo local. A escolha se deu pelo fato do povoado localizar-se no

entorno do Parque Nacional da Chapada, apresentar diversos atrativos, mas que se

mantem fora da rota turística do município, e requer - a princípio – estudo sobre o

seu potencial turístico para subsidiar o planejamento territorial da atividade turística.

O estudo é pioneiro no município, pois envolveu organização comunitária,

abordagem dos moradores, visitantes e comerciantes locais.

De maneira especifica objetivou-se caracterizar a formação territorial do

povoado Passagem; identificar as potencialidades do território por meio de

diagnóstico e inventário turístico, estruturar a segmentação turística e por fim

desenvolver estratégias junto a população para o desenvolvimento do turismo de

base local, ou seja, a possibilidade de se pensar no turismo alternativo gerido e

executado na própria comunidade.

Se fez necessário, portanto, um trabalho técnico, com base em uma

intervenção social, que contemplasse a construção coletiva de ações visando

desenvolver no território estratégias para o desenvolvimento turístico. Abordou-se

como eixo norteador a valorização do território e o fortalecimento de um grupo social

na perspectiva de promoção da prática do turismo. Na tentativa de garantir

sustentabilidade a projetos de âmbito comunitário, há necessidade de uma revisão

continuada de seus objetivos em processo dinâmico no sentido de contemplar

variados agentes produtores do espaço ao longo do tempo.

A estrutura deste relatório compreende uma abordagem inicial em torno do

conceito de território e turismo, associando ao estudo do território turístico – aquele

apropriado pelos turísticas a partir da produção do espaço pela motivação do lazer.

No contexto do estudo o panorama geral é a Chapada Diamantina, tratada

exclusivamente neste relatório pelo viés das politicas publicas que motivaram o

ordenamento do território pelo Estado e consequentemente pelos demais agentes

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produtores do espaço. Em seguida será apresentado o contexto de um povoado

localizado no município de Andaraí, que embora com atrativos, necessita de apoio

técnico para avaliação do potencial turístico e posterior planejamento territorial. O

desenrolar deste trabalho culmina na realização do diagnóstico e prognóstico

situacional das potencialidades turísticas no povoado Passagem do Paraguaçu, a

partir desse montante, o destaque para criação de estratégias e construção do plano

de desenvolvimento turístico.

Esta ação conjunta, transformando os atores sociais envolvidos em

coparticipes, é uma possibilidade para melhoria das condições de exercício do

turismo nas comunidades estudadas, pensando principalmente na valorização dos

territórios. O fato de se compreender coletivamente espaços de vivência, com

criticidade em busca de novas possibilidades faz da intervenção uma ferramenta

importante para o planejamento territorial. Apoiada no contexto da valorização de

identidades territoriais, o relacionamento com o turista pode ser dinamizado, não

com modelos prontos de ação, mas construídos a partir da interação e

principalmente valorização das histórias e do próprio cotidiano.

Um turismo, cujo espaço geográfico decorre da produção e (re) produção da

sociedade deve, consolidar estratégias viáveis para o desenvolvimento pautado na

qualidade de vida da população e sustentabilidade dos recursos existentes. Quando

as ações são propostas absorvendo perspectivas múltiplas, sendo espaço de

reflexão, torna-se motivadora de atividades coletivas, construídas em “um desenho a

várias mãos” cuja articulação entre vários atores sociais e a ação do Estado no

cumprimento do seu papel na sociedade conduz à transformação social.

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2 NAS TRILHAS DO ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO

“Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente quantas vezes julgar necessárias. Então faça a si mesmo e apenas a si uma pergunta: Possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom”

(Carlos Castaneda)

A dinâmica socioespacial se estabelece na medida em que o espaço

geográfico é transformado, ao mesmo tempo em que se criam condições de

reprodução da vida em sociedade, refletindo no espaço características de um

determinado grupo social. Em se tratando do turismo, esta atividade pode dinamizar

os espaços receptores, sendo necessário planejamento para produzir a atividade

turística, ou potencializá-la. Essas considerações são importantes, pois a elaboração

de estratégias governamentais, em parceria entre Estado e sociedade fortalece um

aspecto importante: o controle e o manejo de ações no território.

Para condução deste trabalho, tomou-se como base o estudo sobre o

território, o turismo e o planejamento diante do potencial existente no território. No

contexto em que serão apresentados, serão abordadas na revisão bibliográfica a

relação entre a atividade turística e a (re) produção de territórios, e a necessidade de

se planejar para melhor condução de ações e estratégias no espaço geográfico.

Torna-se relevante também ampliar a reflexão sobre o papel do Estado enquanto

agente produtor do espaço na Chapada Diamantina, que conduziu a transformação

do espaço geográfico e as atividades econômicas nas décadas (1990-2010).

2.1 REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE TERRITÓRIO

Diversos estudiosos das ciências humanas tratam do conceito de território,

considerando múltiplas dimensões, sejam elas relações de vizinhança, de trabalho,

familiar, de lazer, em diferentes escalas e temporalidades. A princípio tratar-se-á do

conceito de território, enquanto categoria geográfica discorrendo a partir de Souza

(1995), Brito (2005) e Coelho Neto (2013) que trazem observações considerando o

conceito como polissêmico. As contribuições de Raffestin (1993) e Sack (1986 op.

cit BRITO, 2005) trazem a relação de poder como essencial para o conceito de

território; evitando o sentido de dominação ou propriedade de algum agente social,

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mas o que existe e é exercido. E nessa direção se caminhará com o levantamento

teórico dos componentes definidores do conceito de território e a relação espaço-

poder.

A relação entre espaço e poder a partir das contribuições de Souza (1995

p.79) refere-se ao fato do território representar o exercício do poder nas relações

sociais projetadas no espaço. Assim, “o território [...] é fundamentalmente um

espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder [...] o território é

essencialmente um instrumento de exercício do poder”. Para complementar essa

definição Souza (1995), ainda apresenta Arendt ao considerar que o poder

estabelecido no território depende de uma comunidade política que legitima tal poder

exercido. Ambas as definições apontam para o exercício do poder nas relações

sociais projetado no espaço e assim configurado enquanto território quando variados

agentes sociais legitimam o poder de um grupo social. Como aponta Arendt (1994

apud BRITO, 2005 p. 112) o poder emerge da relação de consenso entre os agentes

sociais.

Com essa concepção se dará a contribuição de Raffestin quando define o

território como aquele que

(...) se apoia no espaço (...) é uma produção, a partir do espaço (...), espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder (...) qualquer projeto no espaço que é expresso por uma representação revela a imagem desejada de um território, de um local de relações (RAFFESTIN, 1993 p. 114).

Segundo esta conceituação, o território é resultante das diferentes relações

sociais existentes a partir do espaço produzido. O autor ressalta ainda que esse

espaço é decorrente da ação conduzida por um ator sintagmático, ou seja, que

determina o que pode ou não fazer os agentes subordinados, produzindo territórios

com intencionalidades (RAFFESTIN, 1993). O território, portanto é onde acontecem

às múltiplas relações sociais de poder; e a funcionalidade deste espaço envolve

expressões simbólicas e materiais capazes de legitimá-lo.

A ação política presente nos territórios é marcada pelas relações sociais as

quais o espaço foi demarcado pelo poder exercido por agentes sociais. As relações

marcadas pelo controle de indivíduos ou grupos sociais em uma área geográfica,

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descritas por Rafestin (1993), por Souza (1995), apontada em Sack (1986) e Brito

(2005), resumem a ação política presente nos territórios.

SACK (1986 apud NETO, 2013 p. 35) apresenta que a territorialidade é

“definida como a tentativa por um indivíduo ou grupo para afetar, influenciar ou

controlar pessoas fenômenos e relações, pela delimitação e afirmação do controle

sobre uma área geográfica”. Esse controle e dominação sobre um determinado

espaço amplia a concepção de território apenas como Estado-nação. Brito (2005),

resgata o conceito de território a partir de várias concepções trazidas historicamente

pelas ciências humanas: para designar superfície terrestre, território enquanto

presença do Estado-Nacional, ou ainda território como uma forma de controle de uns

agentes sociais sobre outros. E assim sintetiza,

Estudos desenvolvidos a partir da década de 1980, por pesquisadores das ciências humanas, sobretudo da geografia, buscam superar a vinculação biológica que permeia o entendimento sobre o significado do conceito de território, com a valorização das ações sociais [...] remetem a territorialidade, que são as ações entre os agentes sociais, ao nível de relações hierarquizadas e com forte apelo sintagmático (BRITO, 2005 p. 116)

A territorialidade presente no âmbito do turismo, por exemplo, traz o

exercício do poder político dos agentes de viagens, no apelo às viagens de lazer,

garantirão promoção dos atrativos e visitação dos espaços. Considerando que “os

territórios são produzidos e podem ser desfeitos” e ainda “as relações sociais

desenvolvidas entre os diferentes agentes mediadas pelo poder e projetadas numa

dada porção do espaço geográfico, que se torna território” (BRITO, 2005 p. 117).

Souza (1995) traz suas contribuições com um resgate da relação entre

território, poder e desenvolvimento; ressalta que os territórios podem ser flutuantes,

mutáveis ou ainda instáveis, vez que depende essencialmente das relações

projetadas no espaço, a partir da dominação e poder de determinado grupo social,

quer seja por escala temporal, por territorialidades, ou ainda por interesses comuns.

A temporalidade é acrescentada no estudo do território é apresentado por Silveira

(2010) com a seguinte tendência:

Quadro de referências que emerge pautado pelo advento da globalização e por uma profunda transformação das noções de tempo e espaço, bem como pela sensação de que as ações sociais do homem moderno não mais se instituem de forma tão

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estáveis como outrora. Percepções que, por sua vez, promovem o aparecimento de um intenso debate sobre o que é pertencer culturalmente a uma coletividade e como esse sentimento nos define, enquanto sujeitos socialmente localizados e integrados a um dado contexto espaço-temporal. (SILVEIRA, 2010 p. 67)

O autor define que a relação espaço x tempo está permeada de

percepções e subjetividade. Mesmo com o advento da globalização os sujeitos

socialmente localizados configuram territórios. Na legitimação dos territórios são

impressas marcas e características que diferenciam os lugares entre si, o que lhes

confere uma particularidade territorial.

Assim, Carvalho (2009 p. 61) conclui que podemos esperar que “a ação de

um determinado ator social (engendradas num determinado contexto) possa

desencadear transformações [...] em sinergia com as ações de outros atores”.

Marcas no tempo e espaço, bem como contextos sociais diferenciados é que vão

influenciar a constituição dos territórios (FIGURA 1):

FIGURA 1 - Constituição do território. ROCHA, 2017

As práticas socioculturais expressas de variadas formas vão convergir na

determinação de territórios por consenso dos agentes sociais que o constitui. O

Relações Sociais

Poder

Trabalho

Controle

legítimo Ação

Política

Dominação

Cooperação

Competição

Contexto

social

Território

Flutuante

Mutável

Instável

Escala temporal

Fluidez

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contexto social que se configura o território, consiste principalmente das relações

sociais presentes no espaço, pautadas na legitimidade do poder estabelecido, como

também nas relações de trabalho, ralações políticas, de dominação, cooperação,

competição. Assim sendo, por não constituir em espaço fixo, o território é flutuante,

mutável, instável, fluído no espaço e no tempo.

Nos estudos sobre o território, Haesbaert (2006) contribui com a idéia de

relação de dominação da sociedade sobre o espaço apontando outros processos:

(des) territorialização e (re) territorialização. Na contemporaneidade, os efeitos da

globalização, das novas tecnologias da informação, da flexibilização da economia,

das redes são apresentadas pelo autor, por um complexo multiculturalismo na

definição das territorialidades, ou seja, os territórios tornam-se fluidos e instáveis,

sendo portanto (des) territorializados e (re) territorializados. Portanto, as inúmeras

interações entre agentes sociais pautadas tanto pela cooperação como pela

competição podem ser capazes de promover a constituição de territórios.

Portanto, o debate em torno do conceito de território torna-se relevante entre

os geógrafos por considerar variadas dimensões estruturais. Outro aspecto

relevante quando “o conceito de território encerra relações de poder entre os

distintos agentes, que se interessam por certos objetos localizados numa dada

porção do espaço geográfico” (BRITO, 2005 p. 115), bem como:

[...] o conjunto de relações mediadas pelo poder entre os distintos agentes sociais (Estado/Governo, empresas, instituições sociais, cidadãos) que se interessa por algum objeto comum localizado numa dada porção do espaço geográfico. A territorialidade implica a capacidade desses agentes sociais de produzirem e/ou organizarem sistematicamente territórios, segundo um projeto orientado por um agente hegemônico (BRITO, 2008 p. 19)

Em síntese, considera-se tanto a concepção clássica de Estado-nação e

suas fronteiras legitimadas; quanto as relações de poder associadas a dimensão

política e de dominação sócio-espacial; bem como a muldimensionalidade por

associação dos aspectos materiais e imateriais (simbólico-culturais) dos agentes

sociais, ambos (re) produzem territórios.

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2.1.1 Identidade territorial e sua relação com o território turístico

Neste item tratar-se-á prioritariamente do território turístico que se configura

como um território cujo espaço foi (re)produzido pela dinâmica do turismo. O

território turístico possui atrativos que motivam as viagens e o deslocamento de

pessoas no espaço para realização de atividades de lazer. O ator ou agente social

territorializa o espaço com a apropriação deste através da subjetividade, do

interesse e representação cultural constituindo assim as identidades territoriais. A

partir de relações afetivas e do sentimento de pertencimento, a identidade territorial

se fortalece.

A identidade territorial é apresentada por Fonseca (2001) constituída por três

elementos: o cenário, as atividades e os significados. Sintetizado no QUADRO 1.

ELEMENTOS DA IDENTIDADE TERRITORIAL

CENÁRIO A expressão da vivência

ATIVIDADES Uma relação de afetividade de um grupo em um determinado espaço

SIGNIFICADOS As múltiplas dimensões relações sociais, econômicas, políticas, ambientais e culturais igualmente relacionadas

QUADRO 1 - Elementos que compõe a identidade territorial. ROCHA, 2016

Em uma comunidade garimpeira, por exemplo, a atividade de mineração

derivada no cenário do garimpo é caracterizada por ferramentas de trabalho, o modo

de vida do garimpeiro e vivências do comércio de pedras preciosas, todos esses

elementos são carregados de subjetividade e significados, são, portanto, elementos

próprios da identidade territorial garimpeira. Agricultores familiares se distinguem

dos empresários do agronegócio, outro exemplo de como o cenário, as atividades e

o significado referentes aos elementos que compõem o território vão direcionar a

identidade territorial.

O termo identidade territorial é resultado da expressão de vivência, da

relação de afetividade de um grupo em um determinado espaço, e ainda as múltiplas

dimensões relações sociais, econômicas, políticas, ambientais e culturais igualmente

relacionadas, que culminam na constituição da territorialidade. Cabe destacar que as

identidades territoriais transferem aos espaços geográficos, as características de

uma população, sua cultura, traços que a qualificam enquanto território, sendo

assim, uma territorialidade construída. Haesbaert (1988) define que a territorialidade

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relaciona o espaço a identidade ideológico cultural, como movimento cultural e

político que se organiza no sentido de proteger um espaço socialmente delimitado e

reconhecido.

Assim, territorialidade está relacionada às formas de apropriação do espaço,

ao modo como a população se organiza no espaço e aos significados atribuídos aos

lugares que compõem a trama espacial da vida cotidiana (LEDA, 1993 p. 75). Em

Haesbaert (1997 p. 41) “[...] o território deve ser visto não apenas de um domínio ou

controle politicamente estruturado, mas também de uma apropriação que incorpora

uma dimensão simbólica, identitária”. Ainda em Haerbaert (1997 p.42):

[...] uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais como forma de controle simbólico sobre o espaço onde vivem (sendo portanto, uma forma de apropriação) e uma dimensão mais concreta, de caráter político disciplinar: o domínio do espaço pela definição de limites ou fronteiras visando a disciplinalização dos indivíduos e o uso/controle dos recursos (p. 42)

Conforme Haerbaert, os grupos sociais constituem um território quando é

exercido controle sobre o espaço. Já Coelho Neto (2012), traz um panorama sobre a

muldimesionalidade do território, considerando a dimensão imaterial e de caráter

simbólico-cultural, presente na territorialidade.

[...] parte significativa do debate se assenta em uma distinção (as vezes, oposição entre as dimensões material e imaterial, ou política-econômica e cultural-simbólica, e também na reafirmação do papel desempenhado pelos valores, pelas representações, pelo sentimento de pertencimento e pela identidade espacial no processo de construção da territorialidade [...] (HAESBAERT apud NETO, 2012 p.43)

As várias definições de territorialidade apontam para apropriação do espaço

por grupos socialmente construídos com especificidades e identidades

representativas. Assim sendo:

a territorialidade está relacionada as formas de apropriação e uso da terra, ao modo como a população se organiza no espaço e aos significados atribuídos aos lugares que compõem a trama espacial da vida cotidiana (LEDA, 1993 p. 75)

A territorialidade também é retratada por Brito (2005 e 2008) ao considerar

que o território é legitimado por agentes sociais que delegam e exercem poder sobre

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um dado espaço geográfico. Um território que é apropriado pela atividade turística,

pode em situações variadas conduzir ao fortalecimento ou ao enfraquecimento da

identidade territorial. O espaço geográfico pode ser transformado por várias

atividades, como o atividade turística, por proporcionar o lazer, por movimentar a

economia, ou por qualificar o resgate histórico-cultural das territorialidades

construídas.

Em Silveira (2006) esse contexto é definido a partir da expressão identidade

social que relaciona a temporalidade e espacialidade, como processo concreto de

uma construção social, ou seja, “uma ideologia do espaço” de expressão espacial de

uma identidade política e cultural. Ainda em Silveira (2006) a identidade não significa

pertencer a um grupo imutável e atemporal ligado exclusivamente a tradição ou

fidelidade as origens, mas é estar aberta a diversidade cultural, mesmo diferenciado

do contexto local. Esta consideração amplia o sentido de identidade territorial como

um conjunto de indivíduos (grupo social) que apresentam características comuns em

um determinado território.

Diferenciada da relação espaço e tempo atribuído a identidade em Gohn

(2010 p. 89) a relação de coesão do grupo “confere aos seus participantes uma

identidade centrada em fatores biológicos, étnicos/raciais ou geracional”, mais uma

definição propícia na caraterização do território. A identidade territorial é

considerada por Nardi (2006 p. 59) como sendo constituída por “um grupo se torna

mais que a soma dos seus indivíduos – quando desenvolve um determinado

relacionamento, um vínculo, uma força que dá ao indivíduo sentimento de

pertencer”. No grupo as pessoas mostram suas diferenças, onde as relações de

poder estão presentes e perpassam as decisões cotidianas, “onde o conflito é

inerente ao processo de relações que se estabelece; onde há uma convivência do

diferente, do plural” (NARDI, 2006 p.59)

Ainda nas ciências sociais, diante do contexto de grupo social, forma-se

um grupo de pessoas quando se compartilham determinadas condições objetivas,

mesma condição frente aos meios de produção e as mesmas condições

subjetivas, que compartilham a defesa consciente de seus interesses, de sua

situação como classe, capaz de desenvolver nova identidade. Os grupos sociais,

ou ainda movimentos coletivos a partir de uma prática cotidiana, marcam

mudanças na sociedade, para sua participação efetiva enquanto cidadãos.

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O território, portanto, possui sua base de formação no grupo social, que

possui identidades. Na antropologia, Ortiz (2003) vai destacar que os grupos

sociais possuem locais de atuação, que na geografia é bem definido com o

conceito de território. Para Ortiz (2003) o local significa indicar um espaço restrito,

bem delimitado, no interior do qual se desenrola a vida de um grupo ou de um

conjunto de pessoas, remete-se e vincula-se ao território mais familiar, mais

próximo e, portanto reconfortante, pois mais conhecido e autêntico. Na sociologia,

Castells (2010) discute a atuação politica dos grupos sociais, conforme a seguir:

as pessoas resistem ao processo de individualização e atomização, tendendo agrupar-se em organizações comunitárias que, ao longo do tempo, geram um sentimento de pertença e, em última análise, uma identidade cultural, comunal. (CASTELLS, 2010, p.79)

Para a formação de uma comunidade, ou agrupamento de pessoas com

características comuns, as relações identitárias são preponderantes e assim

fortalecem-se nos territórios. Nota-se que para se tornar comunidade, o valor da

identidade é ressaltado.

Sem identidade [...] não há propriamente comunidade, porque seria tão – somente um bando de gente. A razão histórica e concreta da coesão do grupo é o baú de onde se retira a fé em suas potencialidades, o horizonte de onde provem a envolvência solidária, o fruto da comprovação da capacidade histórica de sobreviver e criar. (DEMO, 1995, p.18)

Uma comunidade se configura como decorrente da identidade de um grupo,

e mesmo compreendendo que as especificidades individuais existam, é no grupo e

na organização comunitária que os interesses coletivos são firmados. O conceito de

comunidade como grupo homogêneo é um equívoco, como apresenta BARRETTO

(2005 p. 23) pois, toda comunidade “tem diferentes grupos de interesse, que

defendem suas prioridades, o que torna inevitável que alguns segmentos se

beneficiem mais, participem mais e tenham poder do que outros”. Por outro lado

ainda considerando a concepção da autora é na participação comunitária há um

processo complexo e condicionado a questões políticas e sociais – e por que não

incluir territoriais.

Retomando a definição de identidade territorial considerando-a, conforme

Souza (1995) ser mais funcional que afetiva, ou seja, territorialidades flexíveis que

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dependem das características comuns de agentes que detêm o poder e ocupam

territórios, conforme seus interesses. Para promoção da identidade territorial a de se

considerar a participação efetiva dos grupos sociais, ter objetivos comuns,

considerando os elementos econômicos, políticos, culturais, sociais e ambientais

(SILVA E SILVA, 2003).

Ao tratarmos da relação entre identidade territorial e o território turístico –

aquele dinamizado pela atividade turística - requer o entendimento de que os

agentes sociais podem influenciar atração de visitantes aos espaços. O território

turístico é composto pelas relações de poder entre o Estado, os empreendedores, os

guias turísticos, os moradores locais e os turistas por exemplo; e precisam de certa

consonância para que as partes se estabeleçam enquanto atividade – uma rede de

articulações. Knafou (1996, p.72-73) e Cruz (2011, p.6) abordam os três elementos

(fontes) essenciais do território turístico (QUADRO 2), a saber:

ELEMENTOS KNAFOU (1996) CRUZ (2001)

TURISTA

Está na origem do turismo Demanda

São os agentes que transformam os espaços em territórios turísticos, pela prática espontânea de visitantes.

MERCADO

Reside na concepção e colocação de produtos turísticos e nas práticas turísticas Oferta (atrativos)

Pela capacidade de criar produtos turísticos.

PLANEJADORES E PROMOTORES

(Estado, empresários ou comunidade local)

Promovem iniciativas locais, regionais ou mesmo nacionais ligadas a um lugar Infra estrutura, Equipamentos e serviços

Agentes que apresentam iniciativas assumidas em grande parte pelo poder público que mantem ligação aproximada com os lugares no incentivo ao turismo

QUADRO 2 – Resumo dos elementos do espaço turístico. ROCHA, 2017

O incentivo para o turismo permeia infraestrutura - de equipamentos e

serviços – demanda e oferta (atrativos) bem como a divulgação através do

marketing e o uso dos meios de comunicação. Outra característica na produção do

território turístico envolve venda de pacotes pré-programados, com visitas orientadas

e com passeios por ambientes projetados, visando atender demandas para o lazer

(CRUZ, 2001). Todavia, em muitos locais esse potencial necessita de maior controle

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e sedução pelos agentes que promovem o turismo, para só assim, tornar os

elementos do ambiente atrativos. Ao considerar o turismo enquanto prática social

torna-se atividade que apropria e organiza os espaços tornando-os mercadorias de

valor.

2.2 CONCEPÇÕES EM TORNO DO TURISMO

Mas afinal, o que é turismo? Segue a definição estabelecida pelo Ministério

do Turismo presente na Política Nacional de Turismo (BRASIL, 2008):

Art. 2 [...] considera-se turismo as atividades realizadas por pessoas físicas durante viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período inferior a 1 (um) ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras [...] Parágrafo único. As viagens e estadas de que trata o caput deste artigo devem gerar movimentação econômica, trabalho, emprego, renda e receitas públicas, constituindo-se instrumento de desenvolvimento econômico e social, promoção e diversidade cultural e preservação da biodiversidade.

A concepção do governo federal e que norteia a política de turismo no país,

segue o fim econômico, pois reforma a perspectiva do turismo ser instrumento de

desenvolvimento econômico. Em linhas gerais, alguns autores adotam o conceito

elaborado pela Organização Mundial de Turismo (OMT) que classifica o turismo

como uma modalidade de deslocamento espacial, que envolve motivação pelas

diversas razões como lazer, negócios, congressos, saúde e outros motivos (CRUZ,

2003, p. 4).

Em relação ao seu estudo mais aprofundado, a ciência geográfica vem

apresentando contribuições à sistematização da atividade nos estudos da Geografia

do Turismo e da Geografia Econômica. Dessa maneira, cabe salientar estudos de

Silva (1996) sobre o turismo, no qual o autor relaciona, as contribuições de Chistaller

e Ullman para a Geografia do Turismo a partir do enquadramento teórico-conceitual

da atividade turística na área locacional da Geografia Econômica.

Nessa concepção, o estudo do turismo abrange seu desdobramento nas

questões centro-periferia. A exemplificando do que aconteceu com a Bahia nos anos

de 1990, com a forte expansão e dispersão da atividade do setor para as periferias,

ou seja, o turismo da capital baiana, para incremento da atividade no extremo sul e

interior do Estado. Uma política expansionista que ocorreu por meio da intervenção

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do Estado com programas de incentivo ao turismo, associada ao desenvolvimento

regional, criando pólos de atratividade. O poder exercido pelo governo no território

baiano incentivou a dinamização do turismo, ampliando rotas de viagens para outros

pólos ainda não consolidados, como na Chapada Diamantina, ao longo do Rio São

Francisco ou ainda no extremo sul do Estado.

Um setor da economia que evita os lugares centrais e as aglomerações industriais. O setor do turismo, portanto a única atividade que intrinsecamente tem forças para combater a tendência a concentração [...] o mesmo potencial de desconcentração que o turismo, procurando, geralmente, locais aprazíveis mas não muito distantes das aglomerações metropolitanas. [...] beneficiando-se do capital natural e cultural favorável a produção científica e tecnológica e alta administração (SILVA, 1996 p. 126).

Tratando do campo dominado pela visão econômica, Knafour (1996 p. 69)

traz uma situação comum, em que muitos estudiosos veem somente o fenômeno em

sua face mercante. Exemplifica que o foco em geral está nas empresas turísticas (de

viagens, operadores de turismo, transportadora hoteleiros, donos de restaurantes

etc) [...] e os fluxos econômicos (as pousadas, as saídas, as recaídas econômicas,

direta e indireta etc.). A crítica de Knafour (1996) está justamente nas pesquisas

científicas sobre o turismo, pelo viés unilateral, quando afirma “certos estudos sobre

o turismo chegam mesmo a ignorar completamente os turistas e suas práticas”

(p.69). A figura 2, apresenta elementos essenciais na prática do turismo, estudados

pela geografia do turismo.

FIGURA 2 – Elementos do turismo pela geografia do turismo. ROCHA, 2017

Fluxos econômicos Práticas dos turistas Movimento de pessoas

Geografia do turismo

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Contraponto o aspecto economicista nos estudos sobre o turismo, o

pesquisador Ruschmann (1997) aponta para a concepção de que o turismo é

movimento de pessoas, é um fenômeno que envolve antes de mais nada “gente” e

ainda um ramo das ciências sociais e não das ciências econômicas, por considerar

que o turismo transcende a esfera das meras relações de “balança”. Dito isso, as

várias ciências estudam e agregam variadas explicações ao fenômeno turístico.

As definições de turismo expressos a seguir seguem duas perspectivas:

aquela que descaracteriza os lugares em decorrência da massificação e controle

capitalista, na venda de pacotes e adequação dos lugares aos modismos

contemporâneos – o turismo de massa; ou aquela que imprime autenticidade dos

lugares, com sua cultura, em um turismo que não é controlado por pacotes das

agências – o turismo alternativo.

Tanto em Knafou (1996) quanto em Rodrigues (1996) o conceito de turismo

é ampliado. O termo turismo é polissêmico, que enfoca tanto a definição de atividade

humana e social, quanto para uma atividade econômica. Dessa maneira o papel do

turismo pode ser avaliado como uma atividade multiforme, que envolve populações

em movimento e de difícil contabilização. Para Rodrigues (1996) o turismo se

caracteriza tanto por ser atividade econômica, quanto política, cultural, social acima

de tudo. Há a sub e supervalorização do papel do turismo a depender do agente

social que o analisa. Rodrigues (1996, p. 18), indica que vivemos em um período de

discussões férteis sobre a natureza do turismo como atividade, e reafirma:

é certamente um fenômeno complexo, designado por distintas expressões – uma instituição social, uma pratica social, uma frente pioneira, um processo civilizatório, um sistema de valores, um estilo de vida – um produtor, consumidor e organizador do espaço – uma indústria, um comércio, uma rede imbricada e aprimorada de serviços. (RODRIGUES, 1996 p.18)

Em termos históricos, o termo turismo nasceu na Europa, para definir o

deslocamento de citadinos às praias – o que mais tarde se chamou de “turistas”

(KNAFOUR, 1996). Ainda em meados do século XVII a função balneária aparece

sob princípios terapêuticos do banho do mar, indicados pelos médicos que viam nas

cidades europeias condições insalubres. O mar, a salinidade, o sol, a paisagem

marítima surgem nesse período como uma fuga para o restabelecimento das

populações mais nobres (BRASIL, 2008):

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No século XIX, os espaços praianos ganham uma função social e é na Europa que a praia assume papel de vilegiatura balnear, principalmente na Inglaterra, França, Itália e Espanha, por meio dos spars, do iatismo, dos bailes e passeios a beira-mar. Com o processo de industrialização (...) o visitante já não é somente originário das classes abastadas, a praia se populariza. (BRASIL, 2008, p.15)

Em se tratando de Brasil, as primeiras viagens turísticas ocorreram ainda no

século XIX, com a motivação terapêutica em centros termais, na época chamados

de balneários terapêuticos, destinado para o acesso de uma clientela mais

abastada. As estações balneárias ou estâncias termais tem seu auge no Brasil dos

anos de 1930 a 1950 (REJOWSKI, 2002) - na Bahia a Instância Hidromineral de

Tucano (Jorro) e Cipó foram exemplo do turismo termal de destaque na primeira

metade do século XX no Brasil. O turismo, associadas as dimensões terapêuticas

era capaz de estimular o volume de capitais, por meio de empreendimentos

turísticos e consequentemente expansão de investimentos nos lugares em

potencial.

A partir dos anos 1960 o turismo que valorizou as praias e o mar, surge no

Rio de janeiro, com destaque para a faixa de Copacabana. Atualmente o nordeste

brasileiro é um dos principais destinos turísticos do país e ampliam-se investimentos

púbicos e privados no setor, associado ao segmento do turismo náutico, do

ecoturismo, e o turismo de pesca esportiva.

O turismo enquanto atividade econômica considera a capacidade de

transformar os espaços receptores, seja negativamente ou positivamente. Diante do

atual modelo capitalista se utiliza também das identidades locais para projetar e

movimentar o capital. Nesse caso, os territórios turísticos, segundo Knafou (1996 p.

73) podem ser retomados pelos operadores turísticos e pelos planejadores e assim

se tornar um território turístico, ou seja, visto que se projeta a transformação e

produção sócio-espacial, para o uso do lazer.

Já a relação entre turismo e território é caracterizada por três tipos de

situação, como sendo:

a) territórios sem turismo (raro na contemporaneidade, pois efetivamente,

os turistas podem ir a qualquer parte);

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b) turismo sem território (turismo que não procede de iniciativa de turistas,

mas de operadores de turismo, ex-sítios e lugares equipados, sem

relação com o entorno);

c) território turístico aquele apropriado pelos turistas – territórios inventados

e produzidos pelos turistas, mais ou menos retomados pelos operadores

turísticos e pelos planejadores. (Knafou, 1996 p.73)

Assim sendo, destaca-se nesse momento a relevância do objeto da

pesquisa, por apresentar que o território turístico pode ser criado, mas para que

aconteça necessita projeta-lo com foco no lazer. As unidades de conservação

ambientais por exemplo, possibilita tanto o cuidado com o ambiente, quanto o prazer

em visitar as belezas naturais de um terminado espaço, sendo que as unidades em

geral são criadas pelo Poder Público (federal, estadual ou municipal), mas também

podem ser criadas por iniciativa particular.

Outro aspecto relevante sobre a abordagem da produção de territórios é o

estimulo do poder público mediante criação de planos de desenvolvimento, como o

Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável – território Chapada Diamantina

(BAHIA, 2010), cujas considerações finais informa a relevância da gestão social (a

curto, médio e longo prazo) nos planos territoriais, fazendo relação com o poder

público e a sociedade civil.

Como toda atividade humana no ambiente, o turismo causa impactos mais

conhecidos pelas transformações nos espaços receptores, nas relações de trabalho

e nas relações sociais em um dado território. As diversas estratégias criadas para

dinamizar os espaços e transformá-los em função do turismo são amplamente

utilizadas pelo poder público e absorvido por empresas como possibilidades para o

desenvolvimento econômico dos lugares em função dos atrativos existentes.

2.2.1 Turismo: potencial, classificação e motivação turística.

No turismo não basta que a localidade tenha recursos, mas estes recursos

precisam estar integrados a fim de fomentar roteiros de visitação em atividades

caracterizadas como sendo turísticas. Para análise sobre turismo serão utilizadas

propostas do Manual de Inventário Turístico do Ministério do Turismo, a Política

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Estadual de Turismo (Lei 12.933/2014) e as discussões de Boullon (2002) e

Carvalho (1997) que classificam, denominam o potencial e exemplificam as

motivações para o turismo.

É importante se compreender a diferença existente entre recurso e atrativo

turístico. O recurso refere-se aos elementos em sua forma original, seria a matéria

prima do turismo - a atração turística; já o atrativo somente pode ser considerado

como tal, quando os elementos estiverem em localidades acessíveis, formatado para

receber turistas e devidamente divulgados. Para execução do planejamento

turístico, por exemplo, é importante compreender quando uma área potencial se

torna um atrativo, ou seja, quando acontecem as viagens, e estas passam a integrar

roteiros de visitação (CORIOLANO, 2004). Ao constituir como uma mercadoria e

atrair visitantes, os recursos de uma área em potencial podem tornar-se um atrativo

desde que apresentem aspectos singulares de atratividade.

Um determinado território pode ter potencial por apresentar recursos

naturais, por exemplo, mas enquanto não ofertar condições para visitação e

articulação para o exercício da atividade turística, será meramente um recurso e não

se configurar como atrativo turístico.

a) Potencial turístico

O potencial turístico está associado aos aspectos naturais e histórico-

ambientais de um determinado espaço geográfico utilizados pelo lazer nas

atividades turísticas. Para Bullon (2002) uma área em potencial é a possibilidade de

destinar o espaço real a algum uso diferente do atual e em Carvalho (1997) o

potencial turístico compreende as atrações turísticas de um local que guardam em

sua essência valores culturais, a história, a técnica e a natureza. Ambas definições

se complementam por almejar a possibilidade de visitação diante dos atrativos

existentes.

No entanto, ainda conforme Carvalho (1997 p. 100) o potencial pode ser

dividido em: potencial Vivo, Morto ou potencial Latente: as atrações e espaços

turísticos consolidados são classificados como sendo Potencial Vivo. Já o Potencial

Morto, apresenta ainda hoje, grande valor histórico e cultural, pelas marcas da

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história presentes no espaço; e por fim o Potencial Latente embora com potencial,

não apresenta infraestrutura adequada para receber ou atrair visitantes.

Com o estudo sobre turismo, Carvalho (1997) ainda classifica o Potencial

Vivo, em categorias ou natureza, sendo representados pela natureza cultural,

natureza geográfica, natureza etnológica ou ainda natureza religiosa (QUADRO 3).

POTENCIAL TURISTICO

O potencial turístico compreende as atrações turísticas de um local que guardam em sua essência valores culturais, a história, a técnica e a natureza. CARVALHO (1997)

CLA

SS

IFIC

AO

Turismo Vivo naquele que oferece condições de ser visitado, desfrutando da presença e da administração em condições de serem visitados e que dispõem de fluxos turísticos.

a natureza cultural (atrativos históricos, arquitetônicos, monumentos públicos);

a natureza geográfica (rios, montanhas, aguas termais etc.); a natureza etnológica (costumes folclóricos, música popular);

a natureza arqueológica (pinturas rupestres, ruinas);

a natureza religiosa (igrejas, mosteiros, eventos).

Turismo Morto representa locais onde existem monumentos, construções ou outras atrações que se “perderam” na história.

Turismo Latente é um local com recurso que não tem condições de ser visitado por absoluta falta de infraestrutura.

QUADRO 3 – Classificação do potencial turístico. ROCHA, 2017

O reconhecimento do potencial é valioso para diagnosticar os atrativos

encontrados na promoção do turismo no espaço geográfico. Importante, também é

compreender a classificação das potencialidades para se compreender as

especificidades dos locais de visitação associados aos roteiros turísticos.

b) Classificação do turismo

Para avaliação dos atrativos é recomendável definir o grau de atratividade

por critérios técnicos, em um processo denominado inventário turístico, no qual os

atrativos são catalogados e classificados. O inventário é uma das etapas mais

importantes do processo de planejamento turístico, pois oferece informações que

servirão como base analítica e propositiva para o planejamento do turismo.

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Conforme o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil -

do Ministério do Turismo (2006), o inventário turístico dos municípios compreende: a

infraestrutura de apoio turístico; os serviços e equipamentos turísticos; e os atrativos

turísticos (QUADRO 4,5 e 6 respectivamente):

I - CLASSIFICAÇÃO DA INFRAESTRUTURA DE APOIO TURISTICO

INFORMAÇÕES BÁSICAS

Características gerais (políticas, geográficas, econômicas); aspectos históricos; administração municipal; legislação municipal; feriados e datas comemorativas; serviços públicos, outras informações.

MEIOS DE ACESSO

Terrestres (terminais/ estações rodoviárias/ estações ferroviárias); Aéreos (aeroportos e serviços aéreos) Hidroviários (portos/ estações marítimas/ serviços fluviais e lacustres)

SISTEMA DE COMUNICAÇÃO Agenciais postais, postos telefônicos/ telefonias celulares; radioamadores; emissoras de rádio/ tv; jornais e revistas; internet

SISTEMA DE SEGURANÇA Delegacias e postos de polícia/ posto de policia rodoviária; corpo de bombeiro; sérvio de busca e salvamento; serviço de polícia marítima/ área/ de fronteira

SISTEMA MÉDICO HOSPITALAR

Prontos socorros e emergências; hospitais; clinicas médicas; postos de saúde; farmácias/ drogarias; clinicas odontológicas

SISTEMA EDUCACIONAL Ensino Fundamental; Ensino Médio; Ensino Superior; Cursos técnicos; especializações

OUTROS EQUIPAMENTOS DE APOIO

Locadoras de imóveis; locadoras de automóveis/embarcações; comercio (lojas de artesanato, centros comerciais, galerias de arte e antiguidade; lojas de artigos Fotográfico; agencias bancárias; serviços mecânicos; postos de abastecimento; locais e templos; representações diplomáticas

QUADRO 4 – Classificação da infraestrutura de apoio turístico. Adaptado de instrumentos de pesquisa – Programa regionalização do turismo no Brasil (2006).

II - CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS TURISTICOS

MEIOS DE HOSPEDAGEM COM NECESSIDADE DE CADASTRO

Hotel, hotel histórico, hotel de lazer/resort; pousada; hotel de selva; apart-hotel/flat

MEIOS DE HOSPEDAGEM SEM NECESSIDADE DE CADASTRO

Hospedaria; pensão; motel

MEIO DE HOSPEDAGEM EXTRA-HOTELEIROS

Camping, colônia de férias, albergues

QUADRO 5 – Classificação dos serviços e equipamentos turísticos. Adaptado de instrumentos de pesquisa – Programa regionalização do turismo n Brasil (2006)

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III - CLASSIFICAÇÃO DOS ATRATIVOS TURISTICOS

ATRATIVOS NATURAIS Montanhas, planaltos e planícies, costas ou litoral, hidrografia, quedas d’agua, fontes hidrominerais ou termais, áreas de caça e pesca, flora, fauna, outros

ATRATIVOS CULTURAIS Sítios históricos, edificações, obras de artes, esculturas e monumentos, instituições culturais, festas e celebrações, gastronomia típica, musica e dança, feiras e mercados, saberes e fazeres

ATIVIDADES ECONOMICAS Agropecuária, extrativismo, indústria

REALIZAÇÕES TECNICO-CIENTIFICAS

Parque tecnológico, parque industrial, museu tecnológico, usina hidrelétrica/ barragem/ eclusa/ açude, planetário, viveiro, exposição técnica, exposição artística, ateliê, zoológico, jardim botânico outras

EVENTOS Congressos, convenções, feiras, exposições, simpósios, encontros, workshops, oficinas, shows, torneios, desfiles, concursos

QUADRO 6 – Classificação dos atrativos turísticos. Adaptado de instrumentos de pesquisa – Programa regionalização do turismo no Brasil (2006).

Assim sendo, ressalta-se agora que os atrativos turísticos dependem da

oferta criada através da infraestrutura, dos serviços, dos equipamentos e dos

próprios atrativos existentes num dado espaço geográfico. Na composição do

inventário turístico, além de se compreender a classificação dos atrativos,

equipamentos e serviços, bem como a infraestrutura de apoio é importante também

avaliar o grau de atratividade, observando o interesse dos grupos de visitantes. Na

legislação que rege a Política Estadual de Turismo (Lei 12.933/2014) classifica as

atividades, produto e segmentação turística (QUADRO 7):

QUADRO 7 – Caracterização da atividade, produto e segmentação turística. BAHIA, 2014.

•hospedagem, alimentação, agenciamento, transporte, recepção turística, eventos, recreação e entretenimento, além de outras utilizadas pelos turistas em seus deslocamentos

Atividade

•atrativos, infraestrutura, equipamentos e serviços turísticos, acrescidos de facilidades, ofertados no mercado de forma organizada, mediante gestão integrada, para compor um destino turístico por ser o espaço geográfico onde estão os produtos turísticos

Produto

•a forma de organização do turismo baseada nos elementos de identidade da oferta, nas características e variáveis da demanda, para fins de planejamento, gestão e mercado

Segmentação

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Ainda sobre definições a respeito do turismo é também essencial o processo

de conhecimento da atividade turística, em cada território. Esses elementos são

essenciais para se compreender o fenômeno turístico, bem como planejar a

atividade.

c) Motivação turística

Quando os empreendedores ou promotores do turismo organizam e

planejam os roteiros de viagem, o fazem conforme a motivação, ou seja, o produto

que ira proporcionar o lazer e bem estar em uma atividade turística. A relevância dos

aspectos, valores e motivações são elementos que mais se destacam quando se

trata do potencial turístico de um lugar e seu planejamento. O governo da Bahia

classificou no ano de 2005, as motivações para o turismo no Estado considerando a

atratividade turística e o fluxo de visitantes consolidados. Segue a síntese desse

estudo no quadro a seguir (QUADRO 8):

MOTIVAÇÃO PARA A ATIVIDADE TURISTICA

turismo de litoral e turismo náutico

as atividades náuticas e de cruzeiros marítimos, à hotelaria balneária e resorts

turismo de história, étnico ou cultural

o patrimônio material e imaterial, tais como festivais, museus, exposições, gastronomia, artesanato, costumes de um povo e tradições

turismo de esportes e aventura esportes radicais em contato com a natureza e campeonatos

turismo de negócios, eventos profissionais e intercambio

os congressos, convenções, eventos esportivos, viagens de negócios, intercambio para estudos

turismo de natureza ou ecoturismo

entendido como visitas a reservas e parques naturais e atividades ao ar livre

Enoturismo Visitação atividades ligadas a vitivinicultura

Turismo religioso Viagens motivadas pela fé, peregrinação a santuários, romarias, visitação a templos religiosos

Turismo de pesca Deslocamento de turistas como interesse na pesca amadora ou profissional, atração pela pesca esportiva

Turismo social Atividade democrática fundamental para o lazer de baixo custo, formação do cidadão e conhecendo os lugares fazendo boas ações e voluntariado

Turismo Sol e Praia/Mar Atividade turística ligada a recreação, entretenimento ou descanso em praias. Também conhecido como turismo de massa, realizados nas praias naturais (marítimas, fluviais e lacustres) e artificiais e geral de forma sazonal

Turismo rural Interesse pelas vivências do cotidiano rural, nos hotéis fazenda ou comunidades rurais

Termalismo e saúde Visita a instâncias termais, para o combate de enfermidades;

QUADRO 8 - Quadro síntese das motivações turísticas. Adaptado de BAHIA (2005) - Consolidação do turismo: estratégia turística da Bahia 2003-2020. ROCHA, 2017.

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Na Bahia se destaca várias categorias de turismo, como o turismo cultural,

o étnico, o enoturismo, o turismo náutico, o rural, o de aventura, o religioso, o de

turismo de negócios, de eventos e convenções, dentre outros. A produção do

território foi caracterizada pela presença do Estado na melhoria das estradas,

transportes, comunicações, hospedagens, estratégias de gestão presentes na

Política Estadual de Turismo (BAHIA, 2014). A proposta foi considerar dentre seus

objetivos ordenar, desenvolver e promover os diversos segmentos turísticos

potenciais no Estado da Bahia.

Para Knafour (1996), o mercado turístico pode gerar ou extinguir a atividade

turística, sendo necessário ser estruturada de forma sustentada, na tentativa de

garantir a promoção e manutenção de sua atratividade. Nessa perspectiva os

estudos de Knafou (1996) trazem uma grande contribuição ao tratar da relação

turismo e território. O autor aponta para diferentes tipos de territorialidades que se

confrontam nos lugares turísticos: “a territorialidade sedentária, dos que ai vivem

frequentemente e a territorialidade nômade dos que só passam, mas que não tem

menor necessidade de se apropriar (...) dos territórios que frequentam” (p. 64).

Ressalta ainda que um bom número de conflitos nesse sentido no território advêm

das diferenças de territorialidades.

Ao impulsionar e difundir as potencialidades para a atração de novos

mercados, o Estado enquanto agente modelador e promotor nesse caso - do turismo

- exerce o papel de dinamizador do espaço geográfico, quando assume um papel

fundamental no planejamento e promoção territorial. Direcionando à pesquisa em

questão, um estudo sobre o planejamento de um território a luz do turismo, envolve

territorialidades, e nessa perspectiva variados olhares sobre o turismo, como é o

caso do turismo alternativo.

2.2.2 Perspectiva de um turismo alternativo

Como toda atividade humana no ambiente, o turismo causa impactos mais

conhecidos principalmente pelas transformações dos espaços receptores, relações

de trabalho e relações sociais no dado território. Para que o turismo aconteça de

forma sustentável, deve ser desenvolvido com a finalidade de mitigar os possíveis

impactos sobre o ambiente, integrando esforços para o desenvolvimento ordenado

do espaço, conciliando aspectos econômicos, culturais e ambientais.

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Um espaço (re) territorializado pela dinâmica da atividade turística é aquele

que foi alvo da interferência de políticas públicas ou privadas e apresenta atividades

hegemonicamente priorizadas aos turistas (CORIOLANO, 2005), provocando o fluxo

de visitantes. Nas últimas décadas, a participação comunitária, vem se constituindo

no novo paradigma para o desenvolvimento do turismo. Dessa forma, BARRETTO

(2005 p.20) informa “a comunidade deve ter o direito de pronunciar-se, inclusive

sobre o não-desenvolvimento do turismo em um determinado local”.

O desenvolvimento do turismo em bases sustentáveis, portanto, realizado

pelos grupos sociais busca melhorias na qualidade de vida e significa mudanças nas

bases econômicas e na organização social, na perspectiva de valorização da

participação comunitária – pertinente neste trabalho de intervenção.

Existe uma modalidade de turismo que segue as premissas de

empoderamento de comunidades - são denominadas como turismo alternativo ou

ainda, turismo comunitário (de base local). O turismo alternativo é apresentado por

SEABRA (2007) e RODRIGUES (1997), conforme QUADRO 9:

TURISMO ALTERNATIVO

Um turismo alternativo apresenta em suas especificidades os aspectos referentes a cultura, hábitos e vivencias de um povo.

(SEABRA, 2007)

Utilização do fenômeno turístico para empoderamento local em comunidades impactadas por atividades econômicas diversas e que estão em estagnação.

RODRIGUES (1997)

QUADRO 9 – Definição de turismo alternativo. Elaboração ROCHA, 2007.

Estas modalidades são peculiares de muitos municípios do sertão

nordestino, visto que em muitos casos não apresentam condições estruturais

satisfatórias já consolidadas pelos centros de maior fluxo turístico; mas apresenta

em suas especificidades os aspectos referentes a cultura, hábitos e vivências de um

povo. Dentre os segmentos do turismo alternativo estão o turismo sertanejo, o

ecoturismo e o turismo rural:

a)o turismo rural - o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção típica local, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade (BAHIA, 2014);

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b)o ecoturismo - tem nos atrativos naturais sua principal matéria prima (BRITO, 2005 p. 139) c) o turismo sertanejo - desenvolvido em pequenos centros urbanos e no espaço rural aproveitando as atividades produtivas e as manifestações culturais típicas dos lugares (SEABRA, 2007, p.31)

Todas as caracterizações turísticas apresentadas revelam características

que trazem singularidades aos lugares,

Uma forma de lazer fundamentada na paisagem natural, no patrimônio cultural e desenvolvimento social das regiões interioranas do Brasil [...] com ênfase na valorização na identidade cultural/regional e na melhoria das condições de vida da comunidade local (SEABRA, 2007 p.31)

O turismo sertanejo torna-se uma via para alcançar o desenvolvimento local

em muitos municípios sertanejos. Outros autores também defendem o turismo

sertanejo, assentado na revitalização e diversificação da economia capaz de “atrair e

fixar população, de ocupar a população potencialmente ativa [...] de valorizar

produções, de renovar as habitações e as aldeias e assegurar melhores condições

de vida (CAVACO, 1996 p.98).

O ecoturismo, outra denominação inserida no turismo alternativo, vem sendo

muito valorizado nas últimas décadas em todo o mundo, e abrange a utilização dos

espaços de forma sustentável, estimulando o conhecimento do patrimônio natural e

cultural, a sua preservação e busca a formação de uma consciência ambientalista

através da interpretação do ambiente, promovendo a inserção das populações

envolvidas (YAZIGI et. al 2002). Uma prática presente no ecoturismo é apresentado

pelo Instituto de Ecoturismo do Brasil (CAMPANHOLA & SILVA 2000) que refere-se

ao ecoturismo como a pratica de turismo de lazer, esportivo ou educacional, em

áreas naturais, que utiliza a forma sustentável dos patrimônios naturais e cultural,

incentiva a sua conservação, promove formação de consciência ambiental e garante

o bem-estas das populações envolvidas.

Na outra denominação conhecida por turismo no meio rural, agroturismo ou

simplesmente turismo rural, consiste em atividades de lazer e recreação realizadas

nas propriedades rurais e abrange as atividades como, pesque-pague, o restaurante

típico, as vendas diretas do produtor, o artesanato, a industrialização caseira e

outras atividades associadas à recuperação de um estilo de vida dos moradores do

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campo (CAMPANHOLA & SILVA 2000). A Política Estadual de Turismo (BAHIA,

2014), apresenta uma seção só para tratar do turismo rural, dentre tão variadas

modalidades, dada a sua relevância atual para o Estado.

Um turismo alternativo quer seja pelas vias do turismo sertanejo, o

ecoturismo ou ainda o turismo rural, carregam características de imprimir no espaço

geográfico as características locais e identidade territorial no ambiente. Para

Rodrigues (1999 p. 10), a utilização do fenômeno turístico vem sendo utilizados para

empoderamento local em comunidades impactadas por atividades econômicas

diversas e que estão em estagnação, considerando

a melhoria da qualidade de vida da população, os lugares e regiões em áreas que já sofreram degradação por conta do uso indiscriminado de seus recursos e necessitam de estratégias urgentes para mitigação dos impactos.

Como exemplo a de elencar a promoção do ecoturismo estimulado na Bahia

- Chapada Diamantina diante da realidade de estagnação econômica do garimpo de

diamantes nas ultimas décadas do século XX, e pelo alto índice de degradação

ambiental com o garimpo mecanizado nos leitos dos rios, principalmente nos anos

de 1980. Através de estratégias governamentais, o turismo foi estimulado em vários

municípios do interior da Bahia, sendo criado o Parque Nacional da Chapada

Diamantina e o roteiro turístico Chapada Diamantina – rota dos diamantes.

Paralelo a ação do Estado, o momento atual exige que a sociedade esteja

mais motivada e mobilizada para assumir um caráter mais propositivo, para tanto, é

importante o fortalecimento das organizações sociais e comunitárias, a redistribuição

de recursos mediante parcerias, de informação e capacitação para participar

crescentemente dos espaços públicos de decisão e para a construção de

instituições pautadas por uma lógica de sustentabilidade (JACOBI, 2003 p. 203).

Significa, portanto, mudanças nas bases econômicas e na organização social, na

perspectiva de valorização das especificidades e participação comunitária, no intuito

de responder as demandas coletivas.

Um turismo que pode agregar características para o fortalecimento da base

local em que agrega valores, aproveita a biodiversidade, as atividades produtivas e

as manifestações culturais típicas dos lugares. É diferenciada de modalidades já

consolidadas como o turismo sol e praia (de litoral), que ocorre principalmente nas

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capitais do nordeste com aproveitamento das praias e do patrimônio urbano das

cidades.

Pensar em um turismo alternativo de valorização das comunidades emerge

controle e planejamento adequados, importantes para se compreender o impacto

socioambiental em comunidades vulneráveis, que inicia o processo de turistificação

do espaço.

O desenvolvimento supõe a conquista da felicidade individual e coletiva e não admite exclusão social e degradação ambiental; ao pensar desenvolvimento deve-se ter em mente a dimensão socioespacial, pressupondo que uma comunidade tenha autonomia para gerir seus destinos (RODRIGUES, 1999 p. 10)

Estes princípios visam propor orientações que intercedam nas realidades de

pequenas localidades, buscando soluções de desenvolvimento pautadas em

aspectos intrínsecos, comprometendo-se também com questões éticas e de

valorização da realidade local. Portanto, o turismo contribui para o desenvolvimento

local, desde que respeite as premissas assentadas na:

[...] revitalização e diversificação da economia capaz de atrair e fixar população, de ocupar a população potencialmente ativa com êxito econômico profissional e social, de valorizar produções, de renovar as habitações e as aldeias e assegurar melhores condições de vida. (CAVACO, 1996 p.1998)

Portanto, novas formas de valorização do potencial local em bases

sustentáveis, considerando que esta caracteriza-se, primeiro, pela defesa dos

recursos ambientais e culturais; e, segundo, pela busca de alternativas para

sobreviver ao processo de globalização hoje em curso. Já as preocupações

apontadas por Souza (1999) são um turismo de base local, definição especifica da

geografia do turismo, que se atenta a:

a. A manutenção da identidade cultural dos lugares com o próprio fator de atratividade turística e o estabelecimento de um maior intercâmbio e integração entre as populações hospedeiras e os visitantes; b. A construção de uma via democrática para o desenvolvimento de certas localidades [...] como fator estruturante da valorização das suas potencialidades ambientais e culturais, com a participação da população local na condução ativa desse processo; c. Estabelecimento de pequenas escalas de operação e baixos efeitos impactantes dos investimentos locais em infra-estrutura turística: conservação do meio ambiente, rusticidade local, valorização sem transformação. (SOUZA, 1999 p. 10)

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Na visão de Coriolano (2009) no típico turismo comunitário de base local é

aquele em que as comunidades de forma associativa organizam arranjos produtivos

locais, possuindo o controle efetivo das terras e das atividades econômicas

associadas à exploração do turismo. Nele o turista é levado a interagir com o lugar e

com as famílias residentes, seja de pescadores, agricultores, ribeirinhos, pantaneiros

ou de índios.

No turismo comunitário os residentes possuem o controle produtivo da

atividade desde o planejamento até o desenvolvimento e gestão dos arranjos

produtivos. Busca a regulamentação de unidades de conservação, assim como

organizar comitês para cuidar da gestão ambiental de seus espaços, com planos de

manejo e de conservação compatíveis com o turismo. (CORIOLANO, 2009 p. 289).

Tal conceito busca o envolvimento comunitário, ou seja, vai além do agregado de

pessoas, mas se constitui em integração, em relações mútuas, em envolvimento

coletivo, importante nas conquistas e para uma boa convivência social.

Diante das possibilidades apresentadas de um turismo menos denso, mas

de valorização comunitária, as premissas de turismo alternativo, tem possibilidade

de agregar a sustentabilidade torna-se de fato uma alternativa de inclusão das

comunidades (como as rurais) no processo turístico; portanto, desde que envolva

especificidades locais, potencialidades e a identidade do lugar, de forma a trazer

melhor qualidade de vida e envolvimento das comunidades na organização da

atividade turística.

E o que desenhar sobre o turismo alternativo de base comunitária como vetor

de desenvolvimento? Para Campanhola & Silva (2000 p.150) a relevância da

participação comunitária, considerando processos democráticos, transparentes,

dirimindo desigualdades sociais, é o foco no turismo alternativo. Sem esse sentido

maior, torna-se contraditório criar propostas coletivas de organização comunitária e

consequentemente desenvolvimento local, que não precisa necessariamente ser

desenvolvimento econômico, mas social, histórico ou cultural.

E o turismo pode se apropriar de todas essas vertentes, como outra

possibilidade para o turismo de massa, “que tende a homogeneizar os produtos e a

concentrar-se em determinados locais” (CAMPANHOLA & SILVA 2000 p.151). A

exemplo do turismo rural – que é antes de tudo um turismo local, de território, gerido

pelos residentes. Para ser um vetor de desenvolvimento local, o turismo tem que

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considerar o potencial da comunidade envolvida e as diversidades geográficas,

culturais e ambientais das áreas rurais e basear-se na interação e integração entre

seus atores – Estado, instituições privadas e comunidade local. Nesse contexto o

direcionamento das análises já postas sobre o turismo alternativo conduz a

perspectiva de desenvolvimento local.

Diante do exposto, acredita-se que através da consolidação de ações na

comunidade para desenvolvimento do turismo alternativo, possibilitara pensar por

melhorias da qualidade de vida de forma justa e sustentável, a organização

comunitária para fins de se pensar no desenvolvimento da atividade turística. Enfim,

poderá se efetivar no território objeto deste estudo.

2.3 PLANEJAMENTO NA (RE) PRODUÇÃO DE TERRITÓRIOS TURÍSTICOS

O planejamento da atividade turística vem se ampliando em todo o mndo

nos territórios turistificados em que o espaço é consumido, apropriado e

transformado pela atividade turística. O objetivo deste item é apresentar - diante das

noções sobre turismo alternativo - o planejamento turístico como primeiro passo

para refletir sobre a produção de território no segmento do turismo em uma

comunidade. Pretende-se detalhar a ideia de que o planejamento é necessário na

organização socioespacial, quando se pensa em projetar o futuro.

O termo planejamento apresenta variadas definições nas ciências humanas

e sociais; há flexibilidades e diversos fenômenos ao qual pode ser explicado. Nesse

sentido, prevê intervenções, como instrumento de execução do planejamento.

Apesar da diversidade de definições, apresenta um propósito bem definido:

o planejamento é uma atividade; não é algo estático. Normalmente parte de uma ação anterior [...] sendo um processo dinâmico está em permanente revisão e sofre muitas correções de rumo. Exige repensar constante mesmo após concretização dos objetivos. (BARRETTO, 2005 p.31).

O planejamento do território se constitui um princípio de organização social

(KNAFOU 1996). No entanto, mesmo com organização, torna-se limitado, pois

depende de outras políticas setoriais econômicas, sociais, culturais ou ambientais,

para respalda-la, como também de uma sociedade para legitimá-la. Segundo

Rodrigues (1996 p. 25) o planejamento se apresenta “como instrumento político e,

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portanto, ideológico, que tem de conciliar vários interesses, e frequentemente,

conflitantes ações”. Balizar as questões conflituosas pertinentes ao território é um

desafio quando se pensa em projetar ações coletivas e que envolve variados

agentes sociais. Para efetivação, segue-se documentá-lo e posteriormente

transformá-lo em ações com destaque para o surgimento de políticas públicas que

venham a fortalecer a execução por meio de programas, planos e projetos.

Historicamente, as primeiras ações de planejamento no mundo foram

iniciadas pelo viés econômico e militar utilizando termos como: estratégia e tática. O

país precursor foi o Japão, ao pensar de forma organizada a economia, os Estado

projetou e seguiu parâmetros de desenvolvimento territorial ainda no século XIX; a

antiga União Soviética, após a revolução socialista - década de 1920-1930 -

implementou planos quinquenais; a França foi o primeiro país europeu a realizar

planejamentos em 1945 em planos quadrienais e hoje raro são os países que não

realizam plataformas em seus governos, tais como os plano decenais, planos

plurianuais por exemplo.

Em sequência, a nível de estratégias mediadas pela sociedade civil, os

empresários nos Estados Unidos no pós-guerra construíram planejamentos

econômicos que tiveram um papel fundamental naquele país (BARRETTO, 2005).

Segundo o autor, na metade do século XX, o mundo capitalista via o planejamento

para servir a economia em um Estado onipotente. Ao citar o sociólogo alemão

Mannheim, apresenta a defesa em institucionalizar mecanismos que regulem as

relações econômicas e sociais com conexão entre variados setores.

No Brasil, o planejamento no setor turístico, surge pioneiramente no Estado

do Rio Grande do Sul em 1950, com a criação da secretaria e conselho de turismo

daquele Estado, e a nível nacional em 1966, com a criação da Empresa Brasileira de

Turismo (Embratur), (FIGURA 3).

1950

Empresa Brasileira de Turismo (Embratur)

...

Rio Grande do Sul – pioneiro com a secretaria/conselho de turismo

1966 2008

Política Nacional de Turismo

FIGURA 3 – Cronograma de iniciativas pioneiras de planejamento para o turismo no Brasil. Rocha, 2017

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Nas décadas seguintes observa-se que o caráter meramente econômico nas

estratégias e planos de governo não se sustenta, e foi inserido paulatinamente as

pesquisas científicas aplicando modelos teóricos de turismo ao planejamento

territorial. O pioneiro na América Latina a realizar pesquisas sobre o planejamento

aliado ao turismo foi Roberto Boullon, considerando o planejamento territorial e

urbano em seus estudos no México; “introduziu o conceito de espaço turístico,

decompondo-o nas conhecidas divisões em zonas, complexos, núcleos, corredores

turísticos etc.” (BARRETTO, 2005 p. 18) e propôs a hierarquização de espaços

turísticos de acordo com a relevância dos recursos.

O modelo de classificação para Boullon se apoiou no estudo sistêmico da

distribuição territorial dos atrativos, dos equipamentos e serviços turísticos

(QUADRO 10) para identificar agrupamentos e concentrações turísticas

(CORIOLANO & SILVA, 2005, p. 111)

HIERARQUIA DOS ESPAÇOS TURÍSTICOS

ZONA TURÍSTICA

É considerada a maior unidade de análise e estruturação do universo espacial do turismo de um país, tendo sua superfície variável, compreendendo áreas sempre maiores que um município. Para que exista uma zona turística é necessário considerar pelo menos 10 atrativos relativamente próximos (lei da contiguidade), devem contar com equipamentos, serviços turísticos, estrutura de transporte e comunicação que possam se relacionar entre si; ter dois ou mais centros turísticos. Para que uma zona seja subdividida em áreas é necessário no mínimo 20 ou mais atrativos.

ÁREA TURÍSTICA

Partes que podem dividir a zona turística. Compostas por atrativos turísticos contíguos, que são menores que os da zona. Precisam de estrutura de transporte e comunicação que relacionam os elementos turísticos que a integram, como também a presença mínima de um centro turístico. As áreas devem conter no mínimo de 10 atrativos.

COMPLEXO TURÍSTICO Alcançam uma ordem superior por apresentar vários atrativos turísticos complementares e uma permanência maior do turista.

CENTRO TURÍSTICO

Todo conglomerado urbano que conta em seu próprio território ou dentro de seu raio de influencia (duas horas de distância) entre atrativos turísticos de tipo e hierarquia suficientes para motivar uma viagem turística. Podem ser classificados em Distribuição, Estada, Escala, Excursão:

Distribuição Aglomerado urbano, base para a emissão de excursões diurnas, aos quais o turista pode retornar para dormir.

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Estada Tem boa infra-estrutura e oferta de lazer. Os turistas permanecem por longas temporadas para usufruírem repetidamente dos atrativos.

Escala Geralmente coincidem com as conexões das redes de transporte e os percursos entre o mercado emissor e receptor. Sua função é servir como uma etapa intermediária da viagem.

Excursão São os que recebem visitantes por menos de 24 horas procedente de outros centros

CONJUNTO TURÍSTICO Núcleos integrados em um sistema maior, favorecido por uma planta turística integrada á natureza e com atrativos culturais hierarquizados

NÚCLEO TURISTICO

Agrupamento urbano de menor hierarquia com funcionamento rudimentar e poucos níveis de acesso e comunicação

UNIDADE TURÍSTICA Atrativos com nome e especificidade próprios que podem fazer parte de um conjunto

CORREDOR TURÍSTICO

Espaços longitudinais com vias de conexão entre as zonas, as áreas, os complexos, os conjuntos. São redes de estradas ou caminhos de uma região através dos quais se mobilizam os fluxos turísticos para chegar aos seus itinerários

QUADRO 3 – Classificação do espaço turístico de Bullon (2002). ROCHA, 2016

Os recursos turísticos tornam-se base para o desenvolvimento de projetos

locais. Dessa forma planejamento turístico seria a organização ou reorganização da

atividade para a elaboração do produto turístico, que é formada pelo conjunto de

diversos recursos que a localidade receptora possui com a finalidade de serem

utilizadas em atividades provenientes do Turismo.

A relevância do planejamento em áreas de visitação turística, se dá pela

necessidade de conservação, e proteção dos recursos, bem como maior

organização da atividade turística. De certo, quando se pensa nos territórios

turísticos, está se ressaltando as transformações e relações territoriais decorrentes

do turismo nos espaços geográficos. Os estudos de ANGELI (1996), CAMPANHOLA

& SILVA (2000) e RODRIGUES (1996) trazem o estágio de implantação do

planejamento turístico, sintetizados a seguir no QUADRO 11:

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ESTÁGIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO

ANGELI (1996) CAMPANHOLA & SILVA (2000) RODRIGUES (1996)

a) O primeiro estágio está o investimento das viagens, eventos e excursões;

b) No segundo estágio o enfoque está nas transformações de cidades em núcleos turísticos, ou sua reativação;

c) Em um terceiro estágio fazer articulação com as políticas públicas para incentivar a atividade turística.

a) Basear-se e adaptar-se aos problemas, necessidades e possibilidades das comunidades locais; b) Fortalecer a autonomia de seus atores; c) Coadunar-se com os princípios do desenvolvimento local; d) Avaliar criteriosamente o potencial turístico, tendo como referência a cultura local; e) Identificar os limites locais aos empreendimentos (como fonte alterativa ou complementar da renda.

a) O primeiro refere-se a condição inerente ao turismo satisfação das necessidades dos turistas – o consumidor; b) Em segundo lugar analisar os custos e benefícios que o turismo trás a população residente (seus impactos econômicos, políticos e culturais) c) Em terceiro lugar, há que cuidar-se do patrimônio cultural e ambiental existente

QUADRO 4 – Quadro síntese para implantação do Planejamento turístico. Rocha, 2017

Os autores citados definem a concepção do planejamento turístico, em que

tratam a maneira como este território deve ser pensado e organizado. Há de se

considerar, portanto, o contexto da sociedade e do território; bem como os impactos

que a atividade turística pode desencadear.

A princípio, como define Rodrigues (1996 p. 25) a interação entre turistas e

população é conflitante, “porque tem de conciliar os interesses de uma população

que busca o prazer num local onde outras pessoas vivem e trabalham. Satisfazer a

ambas não é tarefa fácil”. Ao sugerir alguns estágios para implantação do

planejamento turístico, Angeli (1996) apresenta um espaço que possivelmente sera

dinamizado, pois além de atender os empreendedores, também trará

transformações no espaço em núcleos turísticos; de maneira mais organizada e

qualidade a articulação com as políticas públicas trará maior envolvimento da

população com controle social e a gestão do espaço da cidade.

Para complementar tal síntese dos estágios para um planejamento turístico,

em Campanhola & Silva (2000) irá considerar o âmbito do territóriol, pois as

oportunidades são locais e muito particulares. Nesta abordagem, o turismo não deve

ser condicionado como “a solução” para o desenvolvimento local, visto que, a

autonomia dos sujeitos, o potencial turístico existente, e a complementação de renda

gerada pelo turismo não deve ser prioridade, em detrimento da qualidade de vida e

valorização da cultura e identidade local.

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Agnes (2003) apresenta em sua obra sobre planejamento turístico que o

fomento ao turismo aliado ao planejamento ordenado dos espaços, equipamentos e

das atividades turísticas, pode contribuir para a conservação dos recursos e sua

proteção. O conhecimento do espaço, a partir da análise e espacialização dos

recursos turísticos torna-se uma importante ferramenta para a compreensão das

transformações do espaço geográfico decorrentes da produção e (re) produção de

uma sociedade. Para um planejamento eficaz, Rodrigues (1996 p. 26) apresenta que

as condições inerentes ao turismo, tais como a satisfação das necessidades dos

turistas associado aos benefícios á população residente e o patrimônio cultural e

ambiental existente são imprescindíveis. A melhor forma de associar esses três

elementos é um planejamento e gestão do território, que “não pode ser entendido

fora do contexto de toda uma sociedade, que condiciona tanto os impactos positivos

quando os custos sociais e ambientais” de forma sustentável” (BARRETTO, 2005

p.115).

No planejamento os impactos positivos, quanto os custos sociais e

ambientais são importantes a se considerar; e afirma que “diferentes grupos sociais

dão respostas diversas, a um mesmo programa de ação de acordo com seus

condicionantes histórico-culturais e socioeconômicos”, seja a produção do território

turístico, releva o território ao qual a atividade está inserida. A diversidade dos

povoamentos e do meio físico levam a modelos diferentes de desenvolvimento do

turismo e direciona a atentarmos à relação direta entre o turismo e as características

sociais, econômicas e ecológicas de cada local (CAMPANHOLA & SILVA, 2000). A

atividade de planejamento no setor turístico deve levar em conta todos os

componentes, segmentação, complexidade e características tais como estabelecer

relação com o passado e futuro, adequando as estratégias, objetivos e metas do

plano; permitindo ações para os anos seguintes; e assim antecipar soluções para os

problemas previsíveis (FERNANDES, 2011). Planejar para melhor estruturar uma

atividade, com vias de articulação política, ambiental, cultural, social como também

econômica.

Diante das propostas elencadas de como estruturar o planejamento turístico,

a de se tratar agora da participação comunitária nesse processo. Para BARRETTO

(2005 p.21) “o planejamento do turismo deve ser ou participativo, ou transacional” e

que é preciso melhorar qualitativamente o nível de participação dos membros da

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sociedade. Um planejamento dessa natureza, conforme indica Molina e Rodrigues

(apud BARRETTO, 2005) daria como resultado um plano produzido não apenas

pelos planejadores, mas pela sociedade com maior participação comunitária.

Todas essas considerações permeiam no planejamento de um turismo

sustentável. Basicamente, o turismo deve ser planejado e implementado por agentes

(públicos e privados) na estruturação espacial e social da atividade, com

investimentos direcionados a implantação da infra-estrutura, em hotéis, restaurantes,

transportes (translado), agências de turismo, entre outros. Vale acrescentar que o

planejamento turístico deve abarcar também, diversos atores envolvidos no

processo – comunidade receptora, órgãos da administração pública, visitantes,

empresários do ramo e organizações do terceiro setor - com a finalidade de mitigar

os possíveis impactos sobre o ambiente.

Em Knafour (1996) fundamentalmente o turista possui uma liberdade que

incomoda, e dessa forma o autor aponta aspectos negativos desta atividade pelas

comunidades receptoras: a rejeição da novidade ou recusa de sua própria evolução;

o ar de saturação em que consiste no turismo de massa sinônimo de grande

concentração em espaços limitados, ou ainda o turismo devorador das paisagens

que consome. Justifica-se portanto, a necessidade do planejamento em ambientes

turísticos, principalmente em períodos de grande circulação e fluxo de pessoas,

levando em geral ao uso dos espaços de lazer, de maneira desordenada. Faz-se,

portanto salutar a predominância de uma atividade em que o planejamento territorial

tenha um foco na sustentabilidade socioambiental, e com o reconhecimento de um

turismo alternativo, envolvendo diversos atores sociais.

Pensando de outra maneira e corroborando com a perspectiva de um

turismo sustentável, que abrange não somente os aspectos econômicos, mas

também a “manutenção de um equilíbrio em suas três dimensões: o econômico, o

sociocultural e o ambiental” (DIAS, 2003 p.10). O turismo sustentável deve ser

percebido de forma integrada e contemplando os vários atores envolvidos em seu

processo. Ruschmann (1997) já aponta o planejamento como necessidade nos

lugares em que os fluxos de visitação são ampliados, e em ambientes sensíveis,

como em unidades de conservação. O planejamento turístico nesta condição,

demanda o ordenamento do território, ou seja, antecipar-se ao efeito predatório dos

recursos nas localidades turísticas, evitando o esgotamento prematuro dos recursos

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não-renováveis e pela exploração irracional dos recursos renováveis (BULLON,

2000). Tal análise, comunga com a ideia de exercício de uma atividade que possa

favorecer um turismo sustentável, como apresentado anteriormente. Assim,

O planejamento dos espaços, equipamentos, e das atividades turísticas se apresenta como fundamental para evitar os danos sobre os meios visitados e manter as atividades dos recursos para as gerações futuras. A finalidade do planejamento turístico consiste em ordenar as ações do homem sobre os territórios e ocupar-se em direcionar a construção de equipamentos e facilidades de forma adequada evitando, dessa forma, os efeitos negativos nos recursos que destroem ou reduzem sua atratividade. (RUSCHMANN, 1997 p.9)

Ao mesmo tempo outra vertente também demanda a construção do

planejamento turístico, como é o caso de comunidades ou núcleos turísticos, em que

o turismo é latente, mas falta organização comunitária, apoio do poder público para

seu desenvolvimento. Por isso o planejamento se faz necessário para promover

maior equilíbrio da atividade turística, dos ambientes, dos aspectos sociais e

culturais dos espaços receptores. Uma construção ou planejamento coletivo;

envolvendo variados atores, por parte dos empreendedores, dos turistas, da

população receptoras, favorecem um planejamento turístico com ações direcionadas

para o futuro, com o objetivo de transformar a realidade presente em rumos

predeterminados e implica na existência de agentes do planejamento, entre outras

(DIAS, 2003). Além desses elementos a serem ponderados, ao se planejar cabe

ainda pensar na continuidade administrativa, disponibilidade de dados estatísticos e

capacidade técnica apropriada.

Esta tendência ainda pode ser complementada como sendo o instrumento

fundamental na determinação e seleção das prioridades, para a evolução da

atividade, determinando suas dimensões ideais, para que, a partir daí, estimular,

regular ou restringir sua evolução (RUSCHMANN, 1997). O planejamento quando

legitimado pode possibilitar a promoção do turismo de forma a inserir a comunidade

local no desenvolvimento da atividade, este aspecto vem sendo um desafio na

promoção dos espaços turísticos.

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2.3.1. A locomotiva da história das lavras diamantinas no interior da Bahia

O Brasil foi um produtor de diamantes, cujos primeiros achados datam de

1729 em Minas Gerais; poucos anos depois, em meados do século XVIII quando

chegou a ter o monopólio mundial da pedra. No entanto, durante o século XVIII, a

mineração foi proibida no país, tornando-se um mistério sua ação (BARROZO,

2007).

A situação econômica de Portugal e a crise política levaram o

governo português a exigir cada vez mais do Brasil, gravando os

mineiros com taxas, impostos e um controle despótico nas regiões

produtoras de ouro e diamante. Quem era flagrado contrabandeando

diamante era punido severamente. Os diamantes eram apreendidos,

e o “criminoso” ou era punido com prisão perpetua ou era degradado

por dez anos para Angola (BARROZO, 2007 p. 31)

Conforme Theodoro Sampaio (apud CATHARINO, 1986 p. 130) “Apesar

de proibida a sua extração em 1734, a procura do diamante não diminuiu, tornando-

se tão somente um mister clandestino”. Nesse período, conforme o mesmo autor, a

atividade garimpeira era permitida pela coroa portuguesa apenas em Diamantina,

em Minas Gerais. Quando as jazidas deste Estado entraram em decadência no

século XVIII, são descobertos os primeiros diamantes na Chapada Diamantina, na

Bahia.

Como em todas as descobertas importantes de pedras preciosas, a notícia se espalhou rapidamente, atraindo mineradores de Minas Gerais, da Bahia e dos Estados vizinhos (...). Ate as primeiras décadas do século XX, a Chapada foi o maior centro de extração de diamantes da Bahia e do Brasil (BARROZO, 2000 p. 53)

A notícia das pedras preciosas das lavras diamantinas se espalhou e

conduziu um amplo processo migratório, e opulência das minas da Bahia com

representatividade no país desde o século passado.

As pedras preciosas continuavam a surgir em abundancia, e os garimpeiros deixavam engravatados os leitos dos rios e dos riachos, os brechós, as encostas e os cumes das serras. Em compensação criou-se o núcleo geográfico no melhor, mais afamado e afamado garimpo. Assim nasceu Andaraí, que foi crescendo com a vinda de indivíduos de outras classes. Melhores edificações foram estabelecidas, criou-se o comercio local, industrias de transformação foram introduzidas. (ENCICLOPEDIA DOS MUNICIPIOS BRASILEIROS. Disponível em ibge.gov.br)

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Tal fato impulsionou os primeiros povoamentos, para exploração das

riquezas ali instaladas. Toda uma conjuntura territorial, condições de vida e trabalho,

provenientes da extração e do comércio de pedras preciosas, configurou nas

“lavras” diamantinas. Sampaio (1903) vai tratar da denominação “lavras”, referente a

exploração e coleta de minerais, com a geomorfologia local de planaltos – chapada

do interior da Bahia:

Estávamos, senão no centro das lavras de diamantes da Bahia, ao

menos, no ponto que historicamente e sob o ponto de vista da

produção, mais concorrera para a grande fama (...) esta cordilheira a

própria Chapada Diamantina, no sentido restrito em que ora se

emprega essa denominação (p.212 – 215)

O termo sociedade lavrista, corresponde a população das Lavras

Diamantinas; termo comum utilizado nos tempos de auge do garimpo (século XIX e

primeiras décadas do século XX). Este termo “é usado por estudiosos para designar

o encontro de correntes migratórias e do processo de relações sociais envolvidos

com a economia do diamante, ou lavra” (GANAES, 2006 p. 41), caracterizado pelo

local de extração de pedras preciosas.

O impacto do ciclo diamantífero no povoamento foi marcado pela

proliferação de garimpos, chegando a números alarmantes,

provocando o deslocamento de trabalhadores responsáveis pela

formação de pequenas aglomerações que deram origem a distritos e

vilas e, mais tarde, a cidades. (BAHIA, 2000 p. 24)

Os garimpeiros de diamantes marcaram a história da Chapada Diamantina,

sendo este grupo social impulsionador das aglomerações e de territorialidades.

Explica Brito (2005), que a criação de diversos povoados das Lavras Diamantinas,

como exemplo povoados que originaram os municípios de Mucugê (1847), Lençóis

(1856), Andaraí (1884), e Palmeiras (1890) conformariam “o celeiro mineral das

Lavras Diamantinas”. Nesse sentido, a ocupação das lavras se tornou um dos

maiores escoadores de pedras preciosas do Estado da Bahia, e a mineração de

diamantes recebeu um papel fundamental para fixação de povos no interior do

Estado, rompendo a tradição dos colonos com a agricultura e pecuária do século

XVIII, e fazendo do garimpo de diamantes, o marco de uma época de grande

opulência e importância econômica na região (BANDEIRA, 2006). Assim segue,

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A ocupação na [...] Chapada Diamantina, iniciou-se com a expansão da pecuária no século XVIII, tomando impulso com a corrida dos bandeirantes em busca do ouro e pedras precisas, culminando em meados do século XIX com a descoberta de diamantes no alto Paraguaçu, principalmente, em Lençóis e Mucugê, dando início a este ciclo. (BAHIA, 2000 p. 24)

A partir do séc. XIX, segundo Bandeira (2006), migrantes vindos de Minas

Gerais foram atraídos pela esperança do enriquecimento com as minas descobertas

na região. A colonização se efetiva nessas terras fruto do processo ao qual

garimpeiros se enriqueceram nas cidades lavristas. Em 1860, acontece a primeira

crise em que muitos garimpeiros emigram com a queda no preço dos diamantes e o

descobrimento de novas jazidas de diamantes no sul da África.

Moraes (1963), na obra “Jagunços e heróis”, descreve que já no século XIX,

havia uma flagrante acentuação dos conflitos sociais na região das Lavras, fruto das

competições políticas regionais, acentuadas pela insegurança gerada com a

mudança do regime de trabalho no garimpo, associada aos grandes coronéis,

aliada a situação desfavorável do mercado internacional das pedras preciosas. O

garimpeiro era figura característica nas lavras e o interior da Bahia tinha com os

coronéis uma estrutura organizacional própria e independência político-

administrativa em relação ao restante das regiões do Estado.

A estratificação da sociedade das lavras, ressaltando os tempos áureos do

garimpo, até a mecanização deste, variando do século XIX aos tempos atuais.

Segundo Max Weber, apresentado nos estudos de Antunes (1978), a formação da

sociedade e sua configuração são importantes para compreender os conflitos

sociais.

O termo sociedade lavrista, corresponde a população de uma cidade lavrista

ou mais especificadamente neste estudo, as Lavras Diamantinas. Este termo “é

usado por estudiosos para designar o encontro de correntes migratórias e do

processo de relações sociais envolvidos com a economia do diamante, ou lavra”

(GANAES, 2006 p. 41). Assim, conforme Brito (2005), “é justamente em torno da

exploração e do comércio do diamante que se delineará a estruturação das classes

com a posição social ocupada por cada uma delas na sociedade das lavras

diamantinas” (p. 85). Os garimpeiros de diamantes marcaram a história dos povos

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CORONEL

DONO DE SERRA

CAPANGUEIRO

LAPIDÁRIO

PEDRISTA

FORNECEDOR

COMERCIANTE

LOCAL

COMERCIANTE

LOCAL

GARIMPEIRO

FIGURA 4 – Hierarquização da sociedade garimpeira tradicional

da Chapada Diamantina, sendo este grupo social impulsionador das aglomerações e

fundação de cidades.

Na sociedade lavrista, segundo Catharino (1986), das “Lavras Diamantinas

da Bahia”, não apenas composta dos que lavram, mas também dos que “gravitam”

em função das lavras de diamantes, esta baseada em três períodos: o primeiro seria

o predomínio da garimpagem por escravos; seguida do trabalho livre, quase que

exclusivamente manual e rudimentar; e o último período, iniciado com a introdução

de máquinas, com a exploração e extração empresariais.

O período de maior densidade demográfica nessa região compreende os

anos de 1818 (descoberta de diamantes no interior da Bahia) até seu declínio em

1871 (com a descoberta de jazidas na África do Sul). Nas cidades mantidas pela

exploração de pedras preciosas, o fluxo migratório chegava a números exorbitantes

desde o inicio desta atividade na região, no século XIX. (BRITO, 2005).

No século XIX e até meados do século XX, a estratificação da sociedade

lavrista era assim classificada (FIGURA 4):

Para Walfrido de Moraes (apud CATHARINO, 1986) a “sociedade lavrista”,

seus componentes humanos e sua estrutura hierárquica são denominados como “a

comunidade garimpeira” e aos seus integrantes.

Sociedade que, desde as primeiras descobertas até hoje sofreu e sofre mudanças estruturais. Apenas a tipologia dos seus integrantes nas suas escadas hierárquicas mudam [...] mas sem substancial enredo social (econômico, político e sociológico) (CATHARINO, 1986, p. 48).

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A classe dominante era composta em minoria pelos donos de serra1, este

grupo configurava a aristocracia das lavras, nesse período surge a figura do

coronel2.

Os coronéis constituíam uma confederação de fato [...] exerciam os três poderes. Legislavam, julgavam e governavam. Ademais tinha sua própria força militar, os jagunços, graças aos quais faziam cumprir suas ordens em quaisquer circunstâncias. [...] Seus familiares e apaniguados tinha domínio e posse, dos melhores terrenos diamantíferos (CATHARINO, 1986 p. 50).

O poder do coronel era grande e apesar do policiamento existente, a ordem

obedecida era a do coronel, que em muitos casos também era quem fornecia

alimentação - o fornecedor3, para o garimpeiro e era dono das serras garimpadas.

Os proprietários passaram a cobrar uma percentagem de 10% sobre o diamante extraído em suas terras, tendo direito a “primeira vista” e a preferências na compra das pedras. Muitos deles eram comerciantes e compradores de diamantes. No sistema de ½ praça, o proprietário fornecia a alimentação e as ferramentas e, em compensação, exigia o cumprimento do acordo, que consistia na divisão da produção de diamantes entre os dois (BARROZO, 2007 p. 101)

No romance literário O cascalho, de Herberto Sales (1955) já demonstrava tal

situação.

Em caso de prejuízo, o meia-praça4, não tem rigorosamente o que perder.

Durante a exploração do serviço, o fornecedor assegura-se subsistência, mediante o fornecimento. Auferido lucros, são estes divididos o mesmo não se dando com os prejuízos que correspondem justamente às despesas improdutivas feitas com o fornecimento do meia-praça [...] (SALES, 1955 p. 36)

Almejando a mobilidade e ascensão social encontravam-se os grandes

comerciantes de pedras - os capangueiros5, os lapidários, os funcionários

municipais, outros eram comerciantes locais. Os capangueiros constituíam como

meta o acúmulo de riquezas, através do comércio de diamantes. Este mais ou

menos capitalizado vai acumulando fortuna e viria paulatinamente acumular poder

1Donos de terrenos diamantíferos. Tinha direito a receber 20% pelas pedras extraídas em suas propriedades.

Conforme Código de Minas (1940), esta porcentagem cai em 1940 para 10%. 2 Aristocracria lavrista, era detentor do poder econômico e do poder político local, cabendo a indicação dos

cargos públicos na sua área de influência. 3 Aquele que fornece alimentação e ferramentas para o garimpeiro em troca da “meia-praça”, ou seja, metade do

que é extraido. 4 No sistema de “meia-praça”, o proprietário fornecia a alimentação e as ferramentas e, em ferramentas e, em

compensação, exigia o cumprimento do acordo, que consistia na divisão da produção de diamantes entre os dois. 5 Grande comprador de diamantes.

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na razão inversa do declínio coronelístico. Assim, passam a constituir estrutura do

governo local, indicando gente de sua confiança para cargos públicos (SENNA,

1993). Já os pedristas seriam responsáveis pela conquista da área ou região a ser

lavrada e para a grande massa de garimpeiros esse poderia garantir o trabalho

almejado na esperança e sorte que poderiam vir a qualquer momento com um belo

diamante.

A exploração de diamantes caracterizada por garimpos nas serras e

chapadas da região, ainda se mantêm forte até meados do século XX. A última

categoria, e de maior densidade populacional era formada por garimpeiros6 são eles

a grande maioria, os mais típicos da sociedade lavrista – os que lavram

(CATHARINO, 1986).

O garimpeiro individual, que trabalha sozinho, asceta e eremita profano, figura já quase legendária. Que muitíssimo labuta e sofre, esperando bamburrar para não mais labutar. Parecendo sonâmbulo, sujeito a reais pesadelos, mas sonhador incorrigível, conduzido pela esperança, que somente com ele morre (p. 50).

Os garimpeiros ocupavam muitas áreas nas serras da lavras. Como o

acesso era difícil, localizado geralmente em terrenos muito íngremes, costumavam

ficar durante uma semana na serra e ao domingo retornavam, ficando até a

segunda-feira na cidade, pois era dia da feira. Portanto, dia de negociar e receber o

fornecimento para alimentar sua família e sustentar o trabalho no garimpo. As

condições de vida e de trabalho eram muito difíceis, tanto pela falta de amparo

social e trabalhista, como pelas próprias condições de garimpo e de

comercialização.

A sociedade garimpeira, com estilo de vida própria, também tinham uma

característica comum, o bamburrio7 nas serras, em que costumava retornar a cidade

e gastar a fortuna obtida. Os cabarés8, os bares, as festas regadas a muita bebida

eram características em que o garimpeiro se deslumbrava como “aristocrata

lavrista”. Assim “era centrada na vida noturna dos bares, cassinos, restaurantes e

casas de prostituição” (GANAES, 2006 p. 63).O lazer era considerado aventura nos

6 Grupo de trabalhadores que extraem lavras de minérios, na Chapada Diamantina trabalham com diamantes.

7 Para Gonçalves (1984 apud BRITO, 2005) o bambúrrio não é somente o achado mas o ritual que o

acompanha: a comemoração do garimpeiro, que pegou uma pedra de bom tamanho e festeja com os amigos geralmente gastando o que apurou. 8 Casa noturna de meretrício.

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bares e com mulheres, típico em áreas de garimpo. O garimpeiro enquanto núcleo

caracterizador dessa sociedade lavrista.

Para (GANAES, 2006 p.63) “O serviço de garimpo é normalmente instável,

há dias de total ócio onde o trabalho resume-se em remover terra de um lugar a

outro, ocasião em que o resto do dia é consumido em conversas e fofocas”. Verifica-

se que o sentido de “poder” variava conforme a camada social pertencente. Essa

característica motiva o garimpeiro, em vários períodos da história de garimpagem

das Lavras Diamantinas da Bahia. A sociedade lavrista paulatinamente vai se

transformando e novas configurações sociais vão dinamizar os garimpos das Lavras

Diamantinas. Assim novas formas de trabalho comumente serão introduzidas nas

áreas de garimpo.

Dessa forma, o garimpeiro se fragiliza quando identifica a crise na atividade

produtiva, a qual faz parte da sua própria história de vida. Andrade (1984) aborda

esta questão, ao analisar o espaço organizado, dentro de uma orientação dialética,

em que o espaço não é um produto final, acabado, mas um elo de um processo que

reflete evolução, transformação do meio natural e cultural pelo homem como agente

social e conseqüentemente de uma sociedade - um caráter dialético entre o homem

e natureza.

Segundo o autor, as modificações na sociedade serão maiores ou menores

e ocorrerão em decorrência das disponibilidades do capital-dinheiro e do

conhecimento tecnológico que possui. Dispondo de tecnologia rudimentar e sem

capital, uma economia de coleta, por exemplo, fica dependente das condições

naturais, já a produção industrial com a utilização de máquinas irá dinamizar a

produção, ampliando a exploração dos recursos. Nesse contexto, as classes

dominantes sempre estiveram ligadas a acumulação de capitais, em quase todos os

períodos de nossa história capitalista.

Nas cidades mantidas pela exploração de pedras preciosas, o fluxo

migratório chegava a números exorbitantes desde o início desta atividade na região,

no século XIX. A exemplo temos a vila de Igatu em Andaraí (Ba), que hoje tem

cerca de 200 famílias e nos tempos de auge do garimpo de serra, possuía uma

população de 9 mil pessoas (BRITO, 2005). O período de maior densidade

demográfica nessa região compreende os anos de 1818 (descoberta de diamantes

no interior da Bahia) até seu declínio em 1871 (com a descoberta de jazidas na

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África do Sul). O ciclo diamantífero durou pouco tempo, entrando em declínio no

século XIX e dando lugar ao ciclo do café na Chapada Diamantina (BAHIA, 2000 p.

24).

A intensa exploração de minérios ocasionou com o tempo a decadência da

atividade mineradora, bem como a migração para outras áreas mais atrativas

economicamente. Ressalta-se que a migração acontece por fatores de atratividade

dos lugares, em que a atração é exercida onde os migrantes podem encontrar sua

realização econômico-social (BARROZO, 2007). As expressões sociais de uma

classe desprovida, desde sua essência, dos meios de produção perduram nas lavras

de diamantes e hoje vive-se a adaptação a novas formas organizativas. Citando

Marx (1969 apud SADER, 2005 p. 39):

Uma formação social não desaparece antes que se tenham desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais essa formação é suficiente e que novas e mais altas relações de produção tenham tomado o seu lugar; antes que as condições materiais de existência dessas últimas não tenham se formado no próprio seio da velha sociedade. Por isso, a humanidade só se coloca problema que possa resolver. Observando com mais cuidado, sempre se verifica que o próprio problema só surge onde existem as condições materiais para sua solução, ou onde essas condições estão em processo de desenvolvimento

A sociedade lavrista acaba se adaptando diante das novas dinâmicas e as

condições sociais que lhes são apresentadas, frente a relação capital e trabalho. Os

garimpos que utilizavam dragas foram desativados, deixando um rastro de

destruição de difícil recuperação, com trechos extensos de material acumulado

(BAHIA, 2000 p. 24). Do século XIX até os anos de 1980 (século XX) existia apenas

o garimpo artesanal, realizado nos grotões das serras; nas últimas décadas do

século XX o garimpo torna-se mecanizado nos leitos dos rios com uso de dragas

(maquinas), barragens e desvios de rios, altamente degradante para o meio

ambiente e sem o devido controle do Estado em relação ao que era extraído nos

garimpos.

Com isso, houve investimentos em máquinas induzindo ampliação de

retirada dos minérios e grande fluxo na exploração de diamantes. As máquinas que

se localizavam nos leitos dos rios, descaracterizaram o tipo de garimpo tradicional

da região, que passa a vivenciar novas formas de trabalho o garimpo.

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Com o modelo de extração por meio de máquinas de sucção, havia

destruição ambiental sendo os principais problemas: crateras provocadas pelas

máquinas de sucção (dragas) em quantidade; rios tornando-se mais raso com

assoreamento, além da extinção de grandes dunas, próximo aos leitos dos rios e

lagoas; em períodos de estiagem, as máquinas eram deslocadas para o meio do rio,

mudando assim seu curso e quando aconteciam enchentes, as máquinas podiam

ser levadas e algumas delas aterradas. Outra ação devastadora foi a diminuição da

quantidade de árvores das matas e de arvores frutíferas (mangabeiras, cajueiros,

mangueiras). As crateras deixadas nas margens dos rios mudaram drasticamente a

fisionomia local ao longo do século XX. Esse uso desordenado dos recursos

ambientais impactou negativamente as zonas de garimpagem e suas áreas

limítrofes.

Guanaes (2006 p. 16) ainda aponta que “houve então um movimento de

reconstrução da identidade dos garimpeiros de serra – auxiliado pelo movimento

ambientalista – contra os garimpeiros de draga ou novos garimpeiros”. Novas

territorialidades se configuram a partir dos anos de 1980 na Chapada Diamantina,

em que aos poucos a denominação “sociedade lavrista” foi se perdendo. Com a

transformação dos modos de produção a partir do aprimoramento da técnica da

garimpagem com uso de maquinas de sucção, o volume de garimpeiros diminui

surge agora o garimpeiro de draga, e não mais o de “serra” de outrora. Assim

esclarece Barrozo (2007, p. 78),

Depois, com o esgotamento das reservas de diamante, ele se viu [o garimpeiro] “forçado” a trabalhar para as dragas, executando tarefas parceladas, e, aos poucos, [deixando] o conhecimento tradicional herdado, [não mais] dominando todo o processo de trabalho

A mudança dos modos de produção no garimpo ocorreu em todo o Brasil,

principalmente no Alto Paraguai e Poxoréu no Mato Grosso (BARROZO, 2007). Os

imigrantes que instalaram tais instrumentos de trabalho nos leitos dos rios distantes

dos terrenos íngremes da serra priorizavam as porções mais planas, nas áreas de

aluvião, que são os leitos dos rios, geralmente em áreas rebaixadas de planícies,

principalmente devido a melhores condições para o acesso e instalação das grandes

máquinas, com produção menos intuitiva, e mais técnica.

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Quando a sociedade passou a transformar o espaço por meio do trabalho,

criou e aprimorou técnicas que gradativamente modificaram a paisagem e a própria

vida na sociedade garimpeira. Na aventura do garimpo que perdura até os tempos

atuais, proporcionou na sociedade lavrista, novas relações de trabalho na Chapada

Diamantina. Contextualizando essa dimensão da relação capital e trabalho, de

acordo com Brito (2005) os problemas ambientais deflagrados corroboraram e

justificaram a ação do Estado diante da atividade garimpeira. O turismo ecológico

passa a ser estimulado, diante das riquezas naturais presentes na Chapada

Diamantina, e assim inibir a atividade garimpeira.

O confronto social e econômico além do ambiental com o fechamento do

garimpo significaria que a população seria impedida de exercer a mais tradicional

das suas atividades – o garimpo. Uma preocupação de vários grupos sociais na

época, que acompanhou a sociedade lavrista, principalmente a favor dos

garimpeiros artesanais, ou garimpeiros de serra.

Nesse cenário o garimpo de draga, quando se instala encontra uma cidade

tombada, o turismo dando seus primeiros passos e assiste a criação do Parque

Nacional da Chapada Diamantina, que trará limitações significativas a atividade

econômica do garimpo. Algumas comunidades começam a desenvolver a atividade

turística conforme uma nova dinâmica socioespacial da Chapada Diamantina, no

entanto, sem que houvesse um preparo da sociedade para receber a nova atividade

que se instalaria na região.

2.3.2 A produção de territórios turísticos na Chapada Diamantina - BA

O setor de turismo torna-se uma atividade que vem crescendo de forma

significativa em todo o mundo, torna-se “uma atividade que, como as outras,

necessita de controle dos governos e, sobretudo, da própria sociedade”.

(CORIOLANO, 2004 p.155). No que tange o Estado enquanto agente produtor do

espaço, analisar as políticas setoriais dentro do campo da política pública, é analisar

sua repercussão na vida dos cidadãos.

Como já visto, o espaço turístico é consequência da presença e distribuição

territorial dos atrativos turísticos, que são a matéria-prima do turismo aliado aos

empreendimentos e a infraestrutura turística (criada por agentes produtores do

espaço, quer seja empreendedores, quer seja o Estado, ou ate mesmo o mercado).

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As funções do Estado demandam das necessidades da sociedade. “As políticas

públicas têm sido criadas como resposta do Estado às demandas que emergem na

sociedade e do seu próprio interior, sendo expressão do compromisso público e

atuação numa determinada área” (CRUZ, 2002 p. 139). É ainda

Uma linha de ação coletiva que concretiza direitos (...) declarados e garantidos em lei. É mediante as políticas públicas que são distribuídos ou redistribuídos bens e serviços sociais, em respostas as demandas da sociedade. Por isso, o direito que as fundamenta é um direito coletivo e não individual (PEREIRA, 1994 apud CRUZ, 2002, p. 139).

O estudo das políticas públicas se relaciona a compreensão das funções do

Estado diante das demandas da sociedade civil. Conforme Souza (2007 p. 69) a

teoria geral da política pública implica a busca por sintetizar teorias construídas no

campo da sociologia, da ciência política, da economia – uma inter-relação entre

Estado, economia e sociedade.

A política pública é uma área do conhecimento que nasce nos Estados

Unidos rompendo com o foco sobre o papel do Estado e suas instituições (presente

nos estudos acadêmicos na Europa) para análise da produção e ação dos governos;

nesse sentido há os que seguem a tendência do papel do Estado e suas ações.

Embora não exista uma única definição para o termo Política Pública, a mais

clássica atribuída ao termo é definida em SOUZA (2007): “é uma regra formulada

por alguma autoridade governamental que expressa uma intenção de influenciar,

alterar, regular, o comportamento individual ou coletivo através do uso de sanções

positivas ou negativas” SOUZA (2007 p. 69).

Muitas definições enfatizam o papel da política pública na solução de

problemas, sendo portanto, condicionantes para o exercício da cidadania, por

considerar que as leis e políticas dela decorrentes são um veículo para o acesso aos

direitos na sociedade. “As políticas públicas têm sido criadas como resposta do

Estado às demandas que emergem na sociedade e do seu próprio interior, sendo

expressão do compromisso público e atuação numa determinada área” (CRUZ, 2002

p. 139). É ainda

Uma linha de ação coletiva que concretiza direitos [...] declarados e garantidos em lei. É mediante as políticas públicas que são distribuídos ou redistribuídos bens e serviços sociais, em respostas as demandas da sociedade. Por isso, o direito que as fundamenta é um

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direito coletivo e não individual (PEREIRA, 1994 apud CRUZ, 2002, p. 139).

As políticas públicas são um conjunto de objetivos e propostas teóricas e

práticas formuladas pelas instituições do Estado e pela sociedade civil,

essencialmente ligada ao conceito de cidadania, de consciência de direitos, deveres

e exercício da democracia na prática, estabelecidos nas Leis que regem a sociedade

(CRUZ, 2002) nessa perspectiva, nas políticas públicas são estabelecidos direitos

legitimados, não sendo, portanto, assistencialista, ou paternalista, são ações que

objetivam a promoção da cidadania. Assim sendo, conforme as definições de Souza

(2007):

Pode-se, então, resumir política pública como o campo do conhecimento que busca, ao mesmo temo, colocar o “governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). [...] a área torna-se território de disciplinas, teorias e modelos analíticos. [...] Políticas Públicas depois de desenhadas e formuladas, se desdobram em planos programas e projetos, de dados ou sistema de informação. (p. 69-70)

Analisar política pública requer conhecimento e natureza da política setorial

analisada e seus processos. Um panorama da sociedade e o contexto social ao qual

se instalam ou se legitima determinadas ações governamentais. Não há neutralidade

nas intenções do Estado diante do exercício concreto de planos, programas e

projetos governamentais junto a sociedade. Considerando o Estado como mediador

e promotor do planejamento público, possui condições de estimular ações e

estratégicas por meio de políticas públicas fomentar o seu papel em prol do bem

comum e avanço da cidadania.

Assim sendo, “de forma espontânea ou planejada o turismo está

subordinado às políticas públicas, a iniciativa privada ou a parceria de ambas.

Considerado a variedade dentre as modalidades turísticas no Estado da Bahia,

houve um forte incentivo do governo Estadual para o desenvolvimento de políticas

públicas direcionadas ao turismo. Serão apresentadas , segundo Silva (1996) alguns

marcos históricos são relevantes para compreensão do avanço do turismo no

Estado, a saber:

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ANO AÇÃO AUTOR

1951-1962 Implantação do turismo na Bahia Construção do Hotel da Bahia, em Salvador

Silva (1996)

1953 Conselho Municipal de Turismo Queiroz (2005)

1959-1962 Inserção do turismo no Plano de Desenvolvimento do Estado da Bahia

Silva (1996)

1963-1972 Expansão do turismo baiano em escala nacional Silva (1996)

1968 Surge no cenário baiano a Bahiatursa Queiroz (2005)

1971 Plano de turismo no Recôncavo Queiroz (2005)

1971-1990 Conselho Estadual de Turismo, Ampliação do aeroporto de Salvador e Centro de Convenções Descentralização do turismo com polos em Porto Seguro e Ilhéus

Silva (1996)

1979 Planejamento mercadológico - Caminhos da Bahia Queiroz (2005)

1980-1981 Identificado os principais atrativos de Lençóis, construção de pousadas, melhoria do acesso a cidad; Inicio da promoção do destino – Chapada Diamantina, estudos e simpósio (SEPLANTEC)-Preservação do Patrimônio Natural da Chapada Diamantina

Bahia (2010) Aouad ( 1983)

1985 Criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina Brito (2005)

1987 EMBRATUR lança oficialmente, um novo produto - o turismo ecológico

Queiroz (2005)

1991 Recuperação de centros históricos; Promoção a interiorização do turismo no Estado - Prodetur-Ba (Programa de Desenvolvimento Turístico para a Bahia) Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia Zonas turísticas da Bahia

Silva (1996) Bahia (2005)

1993 Plano de Desenvolvimento Turístico da Chapada Brito (2005)

1991-2004 PRODETUR-BA, amplia o numero de turistas no Estado; Plano turístico para a Chapada Diamantina (2004)

Bahia (2005)

2003-2020 Plano: Século XXI: Consolidação do turismo – Estratégia turística da Bahia

Bahia, 2005

2009 Programa Destinos Indutores da Bahia Bahia, 2009

2014 Política Estadual de Turismo e o Sistema Estadual de Turismo Bahia, 2014

As estratégias governamentais para a área turística foram estimuladas

pioneiramente com a criação do Conselho Municipal do Turismo do município de

Salvador ainda em 1953. Em 1968, é criada no cenário baiano a Bahiatursa, órgão

oficial de turismo do Estado cuja atividade limitava-se à construção, ampliação e

administração de hotéis e pousadas. O primeiro planejamento estadual surgiu em

1971, com o Plano de Turismo no Recôncavo, e em 1979 é criado o planejamento

mercadológico - Caminhos da Bahia - a fim de promover o turismo para o interior e

demais regiões do Estado, (QUEIROZ, 2005).

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Com o advento dos ideais ambientalistas a partir da década de 1970,

intensificam inquietações e busca de possibilidades para preservação ambiental,

com uso de formas mais conscientes de garantia dos recursos para as presentes e

futuras gerações. O governo federal inicia um processo de articulação do turismo

com a questão ambiental nos anos de 1980. Assim, “a ponto de em 87 a

EMBRATUR, lançar oficialmente, um novo produto no mercado, que ele chamou de

turismo ecológico na época e depois passou a ter o nome de ecoturismo, na

tentativa de interação com a questão ambiental, (BECKER, 1999 p. 187). Esta

alternativa segundo Cruz (2000) valoriza atributos ecológicos e a biodiversidade

para atrair visitantes, também requer, em menor proporção infra-estrutura de

serviços.

Na Chapada Diamantina, o município de Lençóis é um exemplo bem

sucedido de indução do turismo proporcionada pelo Estado da Bahia.

A ação de planejamento e indução de turismo por parte do poder público, desencadeou todo o processo de desenvolvimento da cidade como destino turístico. O Governo do Estado identificou os principais atrativos locais, construiu uma pousada [...] articulou a melhoria do acesso a cidade e iniciou a ação e promoção do destino. Isso ocorreu entre o final dos anos 70 e começo dos anos 80” (BAHIA, 2010 p.4)

De acordo com Brito (2005), a atividade de garimpagem com extração de

minérios por uso de maquinas, diferentes do garimpo artesanal de outrora,

desencadeou prejuízos ambientais. Algumas estratégias que apontem para a

relação harmoniosa entre sociedade e natureza foi a criação de áreas protegidas

para ambientes considerados relevantes em termos de recursos naturais com

grande patrimônio de fauna, flora bem como os recursos hídricos e demais recursos

naturais. As áreas protegidas foram legitimadas nos territórios da Chapada

Diamantina para garantir a preservação dos recursos naturais, bem como possibilitar

melhores condições a vida para a sociedade, com a decadência do garimpo e

valorizando a preservação de recursos existentes.

Ainda no início dos anos de 1980, o Estado através da Secretaria do

Planejamento, Ciência e Tecnologia – SEPLANTEC, realiza o estudo – a

“Compatibilização dos usos dos solos e a qualidade ambiental na região Central da

Bahia” e no “Simpósio sobre a Preservação do Patrimônio Natural da Chapada

Diamantina” de 16 a 18 de novembro de 1981, na cidade de Lençóis-Ba, direcionam

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um prognóstico com alerta à necessidade de maior controle ambiental,

principalmente em relação a exploração de minérios em Lençois e demais cidades

do entorno deste município.

O estudo destaca a necessidade da elaboração de um plano de utilização muito cuidadoso, racional e conservacionista para a Serra do Sincorá no qual as vinculações com a atividade mineradora e herança histórica são contempladas. Demonstra também que o potencial variado da região oferece opções diversificadas que não se constitui superposição ou conflito de caso. Assim, a implantação das atividades de recreação aproveitando os cenários e panoramas do Sincorá, não oferece conflito com a atividade de mineração, a qual se constitui, ao contrário, num atrativo a mais para o turista. E o turismo por sua vez, abre alternativas de trabalho para a população local, inclusive faiscadores9 (AOUAD, 1983 p.647)

Os Parques Nacionais, Estaduais e municipais, já mantinham definições que

ressaltavam o cuidado com a preservação ambiental, como exposto na Lei nº 4.771,

de 15.09.65 e pelo Decreto nº 84.017 de 21.09.79, o são:

áreas extensas e delimitadas, dotadas de atributos excepcionais da natureza, ou seja, da flora, fauna, solo e paisagem natural ou de valor científico ou histórico, objeto e preservação permanente, postas a disposição da população. Sua utilização para fins científicos, educacionais e recreativos dependerá de prévia autorização do IBAMA.

Na época do auge do garimpo de dragas10 1982 se tem início dos debates

relacionados a criação de um “Parque Nacional na Serra do Sincorá”. O confronto

social e econômico além do ambiental com o fechamento do garimpo significaria que

a população seria impedida de exercer a mais tradicional das suas atividades – o

garimpo. Uma preocupação de vários grupos sociais na época, que acompanhou a

sociedade lavrista.

O que se pretendia pelo Estado era a punição de contraventores, e dos que

sonegavam impostos decorrentes da extração mineral que não tinha o controle

efetivo do Estado através das mineradoras, como também o cumprimento do que

está expresso na lei. Conforme o Plano de Desenvolvimento Turístico da Chapada

9 Faiscadores, são os garimpeiros tradicionais que trabalham nas serras e utilizam instrumentos rudimentares na

extração de pedras preciosas. 10

Garimpo mecanizado, que utiliza grandes maquinas de sucção nos leitos dos rios de grande impacto ambiental, pelo desmatamento e assoreamento dos rios.

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de 1993 (apud BRITO, 2005), a única atividade que pode ser conciliada com os

princípios da sustentabilidade na Chapada Diamantina é o turismo.

Com o garimpo de draga com equipamentos pesados na área do Parque

Nacional e diante da degradação ambiental, algumas medidas foram adotadas pelo

poder público aos responsáveis pelo garimpo mecanizado, a exemplo das medidas

apresentadas a seguir:

1 - Serão implantados pelos garimpeiros vias (5m) que garantam o acesso ao longo do Rio São José e aos limites de cada lavra; 2-Todos os novos limites das lavras serão cadastrados em planta, averbados no Registro de Imóveis e também cercados. 3-Para cada lavra será elaborado um Plano de Manejo com prazo de validade da concessão de sua exploração, além do Plano de Recuperação Ambiental do garimpo na situação atual contendo a estimativa de contribuição mensal do garimpo, para o Fundo de Recuperação Ambiental (FRA) administrado pela operadora do parque. (BAHIA, 1993)

MDe acordo com União Internacional para a Conservação da Natureza

(UICN), a Unidade de Conservação vem a ser uma “superfície de terra ou mar

consagrada à proteção e manutenção da diversidade (...) assim como dos recursos

naturais e dos recursos culturais associados, e manejados por meio de meios

jurídicos e outros eficazes” (apud COSTA, 2002, p. 12). Nessa perspectiva,

preservar ambientes com ampla diversidade de recursos naturais, tais como a flora,

fauna, relevo, sítios arqueológicos, recursos hídricos, dentre outros e seu manejo,

serviu de subsídio para o desenvolvimento do turismo nestas áreas protegidas.

O Decreto Federal nº 91.655 de 1796/85 cria o Parque Nacional da Chapada

Diamantina com 152.000 ha abrangendo a cidades de Andaraí, Mucugê, Palmeiras,

Ibicoara e Lençóis está situado entre as coordenadas 12º25’ e 13º20’ de lat.sul e

41º05’ e 41º35’ de long. Oeste. Porém as efetivações legais das propostas

relacionadas ao Parque só vieram em meados da década de 1990. Objetivando

proporcionar a manutenção da biodiversidade da Chapada Diamantina, e criar infra-

estrutura adequada para absorver o turismo em todos os municípios englobados na

área do Parque (MAPA 2).

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MAPA 2 - Unidades de conservação presentes no município de Andaraí. Elaboração Rocha, 2017

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As estratégias econômicas para o turismo foram implementadas pela

Bahiatursa ao incentivar investimentos vultosos ao setor com nova dinamicidade,

fazendo com que o Estado desenvolvesse paulatinamente novos incrementos para

impulsionar o turismo. Incentivou-se nesse período o surgimento de associações de

guias da Chapada Diamantina, e paralelo a essa organização, surgem também as

associações de condutores de visitantes dos municípios de Palmeiras, Lençóis,

Andaraí e Mucugê. O garimpo de draga permaneceu na região por uma década,

fechando definitivamente em maio de 1996, em uma operação conjunta com IBAMA,

e Policia Federal, proibindo cerca de 103 garimpos de dragas no circuito do

diamante (Mucugê, Andaraí, Palmeiras e Lençóis).

Depois de 12 anos de operação ininterrupta e tendo funcionado sem considerar a legislação que regulamenta este tipo de atividade (...) a desaprovação do movimento ambientalista, a oposição dos empreendedores ligados ao turismo e as denuncias realizadas pela imprensa (...) A mineração mecanizada ao dar sinais de exaustão, também deixa de contar com chancela do Estado tornando-se uma atividade inviável cuja continuidade não compensava os graves prejuízos causados ao meio ambiente (BRITO, 2005 p. 137).

Com as intervenções do governo federal em áreas pertencentes ao Parque

Nacional da Chapada Diamantina, levaria a fechamento do garimpo. O

desenvolvimento do produto turístico, o plano governamental seguiu critérios de

qualidade, diversidade, maturidade, autenticidade, capacidade comercial,

sustentabilidade de sua linha de produtos para dar continuidade ao crescimento,

atualização e desenvolvimento de novos produtos.

Para dar suporte a regionalização do turismo no Estado é criado em 1991 o

Programa de Desenvolvimento Turístico para a Bahia (PRODETUR-BA), cuja

finalidade é impulsionar o turismo através da construção de infra-estrutura,

implementação de equipamentos e serviços, qualificação de recursos humanos e a

promoção turística (BAHIA, 2005). Nesse contexto, foi criado pela Secretaria de

Turismo e Cultura da Bahia, o Programa Caminhos da Bahia, classificando o Estado

em Zonas Turísticas (MAPA 3), a fim de divulgar e implementar o turismo. A

proposta tem contribuído para a melhoria da infra-estrutura de apoio turístico nas

diversas regiões do Estado.

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QUADRO 12 - Zonas Turísticas da Chapada Diamantina. Fonte: http://www.setur.ba.gov.br.

Com apoio da Superintendência do Desenvolvimento do Turismo

(SUDETUR), vinculada à Secretaria de Cultura e Turismo (SCT) do Estado da

Bahia, estruturou-se no Estado a regionalização em Zonas Turísticas (ZT) –

QUADRO 12, cuja função é o fornecimento de informações sobre áreas,

equipamentos planejados, projetos implantados, parcerias com empresass, infra-

estrutura de serviços públicos, financiamentos e incentivos fiscais para

empreendimentos turísticos (BAHIA, 2005).

Estrategicamente as zonas turísticas foram criadas a fim de dinamizar os

roteiros turísticos do Estado, planejados estrategicamente para consolidar-se num

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prazo de 20 ano, o Plano Século XXI: Consolidação do turismo – Estratégia

turística da Bahia (2003-2020) 11. Tal plano distribui os produtos turísticos da Bahia

das zonas em 03 categorias:

Produtos de Imagem e Apelo – são os produtos representativos da Bahia capazes de ampliar a imagem do Estado, atraindo novos turistas, tais como os eventos, festivais e carnaval; Produtos de Segmentos Prioritários – valorizam as características histórico-cultural, socioeconômicas, fisiográficas e ambientais. Produtos de Segmentos Específicos – estão associadas a motivações temáticas, tais como o turismo religioso, o turismo étnico, o termalismo, agroturismo, e esportes. (BAHIA, 2005)

A partir dos incentivos e investimentos o turismo pôde atuar transformando

potencialidades em atrativos turísticos, permitindo que estes pudessem ser

conhecidos e valorizados de forma que possibilite um maior desenvolvimento

econômico-social. Após a criação do PARNA-CD, o primeiro diagnóstico ambiental é

realizado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Naturais (CPRM) e pelo

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)

que só ocorreu em 1994 (quase 10 anos após a criação do parque) e o

levantamento fundiário acontece anos depois em 1998, pela Fundação de Apoio ao

Ensino e Pesquisa (FAEPE), pois até então, desconhecia-se a presença de

comunidades tradicionais na área do parque, totalizando cerca de 09 comunidades,

como exemplo o Vale do Pati, a comunidade Fazenda Velha, a comunidade de

Garapa e a Vila de Igatu em Andaraí. Atualmente o PARNA-CD possui a gestão do

ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão

ambiental do governo brasileiro criado em 2007, e que em seu monitoramento já

agrega a inserção das comunidades tradicionais no parque e em seu entorno.

Os primeiros investidores estavam associados ao governo do Estado com os

programas para o desenvolvimento do turismo, incentivo a financiamento de

infraestrutura, impulsionaram novo dinamismo a região, como a inauguração do

hotel 5 estrelas - Portal de Lençóis12 - na cidade de mesmo nome. Inicialmente, o

turismo não agregou a população de garimpeiros excedente, alguns jovens

trabalham esporadicamente como guias turísticos e outros serviços de baixa

11

BAHIA, Século XXI – Consolidação do turismo: estratégia turística da Bahia 2003-2020. Salvador: Secretaria de Turismo e Cultura, 2005. 1212

Conforme relatos de moradores da cidade, este grande hotel pertence a família do então político baiano Dr. Antônio Calos Magalhaes. (BRITO, 2005)

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remuneração nas poucas pousadas. Em médio prazo criou-se estratégias para se

extinguir a mineração desenvolvida, mesmo com as resistências eminentes, mas

que fossem substituídas por atividades econômicas ambientalmente sustentáveis.

O governo do Estado da Bahia em 2002 criou estratégias para o

desenvolvimento turístico através das potencialidades diagnosticadas em todo o

Estado. Como exemplo de áreas que entraram em decadência no passado e se

tornaram potencial turismo: a zona turística Costa do Cacau (Ilhéus, Itacaré,

Uruçuca, Uma, Santa Luzia e Canavieiras) que no século passado foi grande

produtor de cacau no Estado e a Chapada Diamantina (Lençóis, Andaraí, Mucugê,

Palmeiras, Nova Redenção, Itaetê, Ibicoara, Iraquara e Seabra) cidades de

exploração diamantífera com referência no século XIX (BAHIA, 2005).

Assim, foram criadas algumas estratégias para o desenvolvimento da

atividade turística nestas zonas, tais como estimular excelências dos serviços e

produtos turísticos; contribuir e apoiar na sofisticação da oferta; propor alternativas

de redução a sazonalidade; gerar mídia espontânea, com produções

cinematográficas, seriados e documentários; facilitar o acesso às diversas zonas;

criando bens e serviços diferenciados, estimular a realização de pesquisas e

formação de especialistas na área; apoiar prospecção de novas áreas com potencial

turístico, com estudos de viabilidade, integrar a Bahia com o Programa de

Certificação de Qualidade no Setor de Turismo do Estado da Bahia - QUALITUR, a

outros programas em nível municipal, federal e internacional.

No ano de 2008, é sancionada a lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008

que dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, o qual visa implementar

mecanismos destinados ao planejamento, desenvolvimento, fiscalização e estímulo

ao setor turístico, bem como disciplinar a prestação de serviços turísticos no Brasil e

o Sistema Nacional de Turismo com destaque a informação da sociedade e do

cidadão sobre a importância econômica e social do turismo, através de órgãos/

entidades como a EMBRATUR, Conselho Nacional de Turismo, Ministério do

Turismo e Fórum de secretários estaduais do setor. E assim foi delineado o mais

recentemente o Plano Nacional de Turismo, em 2013, que indica a ampliação da

participação de estados e municípios na formulação de políticas de turismo. As

políticas públicas citadas demarcam a condução da política de turismo no país e

ação do Estado transformando por meio da legislação o espaço geográfico.

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Conforme o Plano Nacional de Turismo (PNT 2013–2016) vigente no país,

apresenta como diretriz a relação entre turismo e desenvolvimento econômico,

destacando como a participação e diálogo com a sociedade; a geração de

oportunidades de emprego e empreendedorismo; o incentivo à inovação e ao

conhecimento; e a regionalização como abordagem territorial e institucional para o

planejamento. (BRASIL, 2013). Ainda no Plano Nacional de Turismo, dentre as

ações esta previsto Estimular o desenvolvimento Sustentável da Atividade Turistica,

com viés ao fomento do turismo de base comunitária:

Fomento e apoio a projetos ou ações para o desenvolvimento local e sustentável do turismo, por meio da organização e qualificação da produção, melhoria da qualidade dos serviços, incentivo ao associativismo, cooperativismo, empreendedorismo, formação de redes, estabelecimento de padrões e normas de atendimento diferenciado e estratégias inovadoras, para inserção desses produtos na cadeia produtiva do turismo, particularmente com relação a produtos e serviços turísticos de base comunitária com representatividade da cultura local, valorização do modo de vida ou defesa do meio ambiente. Finalidade: promover a qualificação e a diversificação da oferta turística, com a geração de trabalho e renda, e a valorização da cultura e do modo de vida local. (BRASIL, 2013 p. 99)

Na Bahia a lei que rege o planejamento turístico é a lei 12.933/2014 que

institui a Política Estadual de Turismo e o Sistema Estadual de Turismo. Para o

desenvolvimento do produto turístico, o plano governamental segue critérios de

qualidade, diversidade, maturidade, autenticidade, capacidade comercial,

sustentabilidade de sua linha de produtos para dar continuidade ao crescimento,

atualização e desenvolvimento de novos produtos. A partir dos incentivos e

investimentos o turismo pode atuar transformando potencialidades em atrativos

turísticos, permitindo que estes possam ser conhecidos e valorizados de forma que

possibilite um maior desenvolvimento econômico-social.

Em se tratando de Plano turístico para a Chapada Diamantina, foi criado

em 2004 um estudo técnico em parceria do governo do Estado, a Secretária de

Cultura e Turismo, a Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos e a

Fundação Getúlio Vargas. O plano foi denominado Plano de Desenvolvimento

Integrado do Turismo Sustentável na Chapada Diamantina, para o polo turístico

Chapada Diamantina, envolvendo o circuito do ouro, o circuito do diamante e circuito

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Chapada Norte. (BAHIA, 2004). Neste plano procura analisar Prodetur/NE, cujas

ações não foram implementadas e é realizada nova proposta e estratégias de

intervenção na Chapada Diamantina, a partir de amplo diagnóstico do polo (os

indicadores populacionais, a evolução socioeconômica do polo) enfim, um panorama

geral e proposta ações para o desenvolvimento do turismo no polo e prospecção de

um cenário futuro. Assim, apresentam:

Com o processo de planejamento participativo, adotado em PDITS, buscou-se por meio da intervenção, consubstanciar o processo decisório, e assim, contribuir para a construção de um turismo sustentável e promissor para todos os atores sociais envolvidos direta ou indiretamente com a atividade (p.38)

(...)

Ademais a intervenção comunitária no processo de planejamento do Estado é um sinal de que há interesse e compromisso por parte da população em participar da construção do turismo sustentável e promissor para todos. Tal interesse e compromisso são grandes aliados ao planejamento estadual que ora está se implantando. (p. 488)

O desdobramento das ações interventivas foi a implementação pela

Secretaria de Turismo do Estado da Bahia, do programa Destinos Indutores da

Bahia (2009), a partir do Projeto Gestão dos 65 Destinos Indultores do

Desenvolvimento Turístico Regional do Brasil. Na Bahia são 05 destinos indutores:

Salvador, Marau, Lençóis, Porto Seguro e Mata de São João (www.setur.ba.gov.br).

Mantem-se o apoio aos grandes eventos do Estado e mais recentemente em 2014 a

implementação na Chapada Diamantina do Consórcio Chapada Diamantina que

agrega além do apoio a algumas atividades de investimento está o turismo,

conciliando as questões econômicas, sociais e ambientais em favor de uma melhor

qualidade de vida na Chapada Diamantina.

A partir de um planejamento responsável e participativo, pode-se identificar

como a ação do Estado pode de fato dinamizar um espaço geográfico, por meio das

políticas públicas. Pensar em um turismo sustentável de modo que os impactos

negativos causados por esta atividade sejam de fato minimizados, visando uma

ação equilibrada sobre o ambiente e participação social/ comunitária faz do

planejamento territorial uma nova proposta de sociabilidade baseada na participação

para responder as demandas coletivas da atualidade.

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3. PASSOS PARA A CAMINHADA NA ROTA DO PLANEJAMENTO

TURÍSTICO

"O narrador conta o que ele extrai da experiência - sua própria ou aquela contada por outros. E, de volta, ele a torna

experiência daqueles que ouvem a sua história"

Walter Benjamin

O território cada vez mais se torna objeto de análise nas pesquisas

acadêmicas. Nesta troca de saberes, compreender a sociedade capitalista e sua

relação com o território turístico se faz importante para o entendimento sobre a

valorização de identidades territoriais, ao qual as territorialidades estão alicerçadas.

O objetivo deste item é apresentar a metodologia de trabalho em uma

intervenção social, cuja a construção foi coletiva com os sujeitos sociais envolvidos

em todo processo para assim, validar as informações pelo próprio grupo. A escolha

do povoado Passagem se deu pela existência de um trabalho já iniciado pela

pesquisadora no território assumindo, portanto, um caráter de continuidade do

processo. Outro fato foi a demanda que a população local estabeleceu da

necessidade de organização e conhecimentos sobre a atividade turística já iniciada

para melhor desenvolver o turismo; como também pelo fato do território não sofrer

interferência do turismo de massa na atualidade, importante para o turismo de base

local. Assim, outro aspecto fundamental é que a comunidade está próxima aos

limites do Parque Nacional da Chapada Diamantina no município de Andaraí e

próximo também a empreendimentos hoteleiros do município; mas a comunidade

não esta inserida nas rotas turísticas dos guias locais e agências de turismo.

Neste trabalho a construção estratégias para um turismo de base territorial,

foi o norte almejado pelos moradores. Quando se pensa em um projeto pensa-se no

seu planejamento e execução, destacando a concepção de sustentabilidade e

organização social. A valorização do território, pode se tornar uma das

possibilidades de relacionamento com o espaço, pois os sujeitos sociais utilizam dos

seus convívio social, para o trabalho e para exercitar a convivência social.

Mais do que uma descrição formal, as etapas e a organização tornaram-se

melhor estruturados com métodos, essenciais para a construção dos procedimentos

para uma intervenção social. A base metodológica é de pesquisa qualitativa com

caráter descritivo, ou seja, fonte direta dos dados, ressaltando o significado que as

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pessoas dão as coisas e a sua vida; e a descrição do objeto por meio da observação

e do levantamento dos dados (BARROS, 2004) registrado em relatórios das

atividades executadas. Por ser um processo construído coletivamente constituiu em

pesquisa ação: “os dados são retransmitidos à coletividade, a fim de conhecer sua

percepção da realidade e de orientá-la de modo a permitir uma avaliação mais

apropriada dos problemas detectados e encontrar soluções” (BARBIER, 2002, p.55),

soluções estas fornecidas pelo grupo que torna-se colaborador em todo o processo.

A metodologia é a participativa, um processo continuo, caracterizado por

não ser estático, enfoque na participação e sujeito a adaptações ao longo do

processo. (KUMMER, 2007). Em síntese o estilo informal na coleta de dados

empíricos, na mediação entre o pesquisador e o grupo focal – objeto da intervenção,

e abordagem integrada das informações no diagnóstico, caracterização dos dados e

planejamento para construção do produto da intervenção, ou seja, o plano de

turismo comunitário e de base local.

Segundo Barbier (2002) na pesquisa ação o pesquisador não provoca, mas

constata determinado problema que nasce no contexto do grupo, não de uma

amostra suscetível de ser medida ou validada, sendo, portanto mais interativa

através de discussões de grupo, desempenho de papéis e conversas aprofundadas.

Portanto mas do que justo, deu-se continuidade a pesquisa, com destaque para a

visão do turismo enquanto atividade econômica e social, diante do potencial

existente, mas que necessitava de um plano para o desenvolvimento do turismo pelo

viés da base local.

A consolidação do projeto se efetivou em 1 (um) ano e a execução das

oficinas se deu mais intensamente entre os meses de março a junho de 2017. A

ação a partir de objetivos preestabelecidos nos encontros dialogados, reuniões e

rodas de conversa junto à comunidade foram utilizadas como método de trabalho

para a criação de diretrizes, metas, responsabilidades, parcerias e estratégias para

conduzir ao plano de desenvolvimento turístico.

3.1 METODOLOGIA DE TRABALHO

Tomando como referencia a prática do turismo na Chapada Diamantina

pensou-se em um projeto de trabalho cujos instrumentos operacionais tivessem o

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enfoque participativo para operacionalização do Plano de Desenvolvimento Turístico

do território Passagem, levando em consideração os fatores influenciam as

transformações do espaço geográfico e apropriação do território através do turismo.

A metodologia de trabalho é a participativa e teve como base norteadora as

estratégias desenvolvidas pelo Programa Nacional de Municipalização do Turismo

(BRASIL, 1997 e 1999), como também as orientações supracitadas de teóricos na

área de metodologias participativas e do planejamento turístico. A prioridade

consistiu em oficinas compostas por grupos de trabalho em que todos os

participantes, com base na vivência ou em documentos vão propondo a construção

do conhecimento, a partir da realidade individual e historia de vida, podendo surgir

no decorrer da construção ajustes, sugestões e novas interpretações da realidade.

Nessa perspectiva, apresentasse a concepção de Loureiro (2005), de participação

social:

Em síntese, uma práxis educativa que é sim cultural e informativa,

mas fundamentalmente política, formativa e emancipadora [...]. A

educação transformadora, socioambiental e popular se refere,

enquanto práxis social e processo de reflexão sobre a vida e a

natureza, contribuindo com a transformação do modo como nos

inserimos e existimos no mundo, a uma única categoria teórico-

prática estruturante: a educação (LOUREIRO, 2005 p.35)

O nível de satisfação, e aprendizado com a ação realizada, as críticas e

sugestões dos participantes, as ações priorizam o contexto social, a valorização da

formação cultural cotidiana e a sabedoria popular construídas no território. Assim,

não há planos prontos em uma intervenção, mas planos construídos previamente, e

com possibilidades de mudanças sempre que necessário, porém, construído pelo

pesquisador e demais sujeitos do processo.

Todos em comunhão seguem objetivos e planejam atividades sem

hierarquização, sendo comum destacar-se um líder que ajuda no processo. Para

Loureiro (2005) uma estratégia pela ação pedagógica crítica deve relacionar os

elementos sócio-históricos e políticos aos conceitos construídos entre o educador-

educando, de modo a evitar um trabalho educativo abstrato e pouco relacionado

com o cotidiano dos sujeitos sociais e com a prática cidadã.

O pesquisador ao participar de um processo de construção coletiva irá

conhecer a realidade que se deseja transformar; conhecer as regras desta realidade,

formais e informais; sentir-se parte e responsável por ela; na ação, desenvolver o

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sentimento e a compreensão de autonomia e de interdependência gera-se a

possibilidade de se construir espaços coletivos de decisão para a transformação

Loureiro (2003). Isso se dá com a participação social.

Conduzida para reflexão permanente, a valorização de potencialidades do

grupo não devem perder o foco no contexto sociohistórico. A mediação torna-se um

instrumento importante pela construção das ações com maior interação no grupo.

Nos momentos de convivência se amplia a socialização comunitária, bem como

maximizar as referências familiares (culturais) ao longo da história. Os espaços

coletivos devem ser um espaço de reconhecimento da cultura de seus habitantes

(...) e devem focalizar ações onde ha um interculturalismo emancipatório, que

reconheça o outro e suas diferenças, sem dilui-las numa geleia multicultural

homogênea, nem destacar hierarquicamente uns sobre outros. (GOHN, 2010 p.

125).

Espera-se que o trabalho com comunidades tradicionais através de

intervenção social devem considerar como princípios o conhecimento a cerca do

território, o fortalecimento do grupo no tocante as questões locais Avançou-se no

Brasil, ações direcionadas a gestão compartilhada dos bens públicos e incentivo a

gestão participativa nos territórios por universidades, ong’s e instituições. Sendo

assim, “A necessidade reside, então, na aproximação entre o processo político e o

processo pedagógico, na capacitação articulada as dinâmicas reais de interlocução

política” (Silveira, 2001)

Diante das referências apresentadas, uma estratégia fundamental é a visão

sistêmica do conhecimento, pela consolidação processual que envolve - os

problemas e soluções socializadas no território; momentos de reflexão e ação; de

identidade e pertencimento; valores e saberes contextualizados. Enfim, ressalta-se

a validação dos planos participativos sobre o território, como produtos eficazes e que

justificam na participação social, a troca de saberes!

3.1.1 Etapas da Intervenção Social

Ao se planejar o turismo em um dado território, há de se realizar

primeiramente o levantamento de todas as variáveis envolvidas. A pesquisa aqui

projetada foi realizada no povoado Passagem do Paraguassu, no município de

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Andaraí, localizado na Chapada Diamantina (Bahia). Houve uma motivação nesta

proposta técnica, que foi baseada principalmente no pertencimento da autora na

área de estudo; bem como no desafio por ações procedimentais definidas com

diversas fontes e as várias maneiras de expressão do saber popular e produção do

conhecimento no território de estudo. Para Bullon (2002) a primeira etapa ao

planejar o turismo é realizar um levantamento de todas as variáveis envolvidas,

denominado inventário turístico – um documento que aponta minuciosamente a

realidade turística local ou regional, identificando os equipamentos turísticos e de

apoio, atrativos e possíveis atrativos, bem como uma breve biografia da realidade.

Ao iniciar o levantamento, é importante na primeira fase realizar o

diagnostico ou levantamento dos objetos de estudo para que as demais etapas

sejam bem sucedidas. Portanto, o planejamento pode ser compreendido como

resultado de um processo lógico de pensamento em que se analisa a realidade e

estabelece meios que lhe permitirão transforma-la. Seguindo da premissa de que

para criação de um produto turístico a ser apresentado ao mercado, se faz

necessário definir os atrativos naturais e culturais, a estrutura turística, a formulação

e divulgação da oferta para comercialização. Para que o turismo aconteça de forma

sustentada, sugere-se que deva ser planejado e desenvolvido pela comunidade

receptora, órgãos da administração pública, visitantes, empresários do ramo.

Assim o primeiro passo é justamente conhecer a comunidade e

compreender se a mesma pretende agir coletivamente para o desenvolvimento da

atividade. O importante no conhecimento dos espaços de vivência, é a construção

do diagnóstico da realidade, o questionamento à população local acerca da

implementação da atividade turística e seu registro em planos de ação (AGNES,

2003). Em se tratando de turismo, cabe compreender o espaço territorial que se

deseja planejar, ou seja, conhecer e diagnosticar o território, bem como a atividade

turística ali exercida.

Como estratégia para um planejamento confiável, Angeli (1996) apresenta

no diagnóstico turístico os seguintes objetivos: avaliar a situação atual da área,

envolvendo atores sociais principalmente da localidade; determinar que tipo de

turismo se deseja com passos para sua concretização; e registrar esses dados para

posterior zoneamento ou plano de manejo de áreas, sendo inseridas no processo de

construção do planejamento turístico.

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Esta abordagem pode conduzir a instrumentos adequados à execução de

projetos apropriados à realidade a partir dos grupos sociais. O percurso

metodológico foi complementado com a pesquisa etnográfica, escolhida para

alcançar os primeiros objetivos deste trabalho. Nesta pesquisa, o pesquisador se

insere no cotidiano e assim ira situar-se, observar o contexto socioespacial e a partir

dai descrever a realidade. A coleta, a descrição de fatos e dados, deverá seguir de

maneira contextualizada e flexível os aspectos, elementos ou dimensões de análises

surgidas durante o processo e por mediação (LUDKE, 1986).

Destacar-se-á como instrumentos nesta pesquisa: roteiros de trabalho de

campo, técnicas de coleta de dados a partir da observação direta; utilização de

bibliografia específica, registro Fotográfico, bloco de anotações. A caracterização do

trabalho de campo (incluindo aspectos históricos, culturais, geográficos, ambientais,

e infraestrutura); a pesquisa documental e bibliográfica sobre a história (local);

formação de grupo (dados primários sobre a história da comunidade); a

sensibilização nortearam a metodologia para construção das oficinas temáticas do

projeto.

O caminho trilhado na pesquisa foi baseado em duas vertentes principais: a

primeira vertente um olhar a partir da pesquisa etnográfica (como instrumento de

diagnóstico, análise e registro de dados) que conduziram na caracterização da

comunidade; cartografia social comporão um mapa territorial e serão incluídos a

subjetividade dos moradores locais, com elementos referentes ao pertencimento,

afetividade, lugares preferidos dos moradores, detalhando assim o território. A

segunda vertente tem como base a pesquisa ação participante (para construção de

um plano de ação com estratégias viáveis com o intuito final de criar um plano em

um território que subsidiará uma proposta de articulação política, por meio do

planejamento turístico, apropriação do espaço e sua (re)produção com a atividade

turística. As três fases das atividades programadas foram assim planejadas:

I - Primeira fase: Diagnóstico Participativo e Sensibilização

Momento de sensibilização da comunidade referenciando os avanços após o

primeiro projeto na comunidade. Assim o levantamento das informações foram

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revalidadas e sistematizadas, priorizando os problemas que ainda impediam o

desenvolvimento local e potencializando os avanços.

Objetiva a conscientização e a sensibilização dos sujeitos participantes do

projeto, estimulando-os e motivando-os a desenvolver o projeto de intervenção no

território quanto à importância do turismo de base local. Os resultados das ações

são avaliados e ajustados na fase seguinte. Os encontros coletivos nesta etapa,

para construção da descrição socioespacial, conhecimento da história local e

caracterização populacional, análise da situação do território a partir de técnicas de

coleta de informações.

Na escolha dos participantes foram priorizadas como critérios as famílias

que possuíam mais de 30 anos no território – período de criação do Parque Nacional

da Chapada Diamantina e inicio do desenvolvimento do turismo no interior da Bahia,

principalmente pelo resgate histórico e fortalecimento dos vínculos sociais, hábitos e

costumes locais. Um conjunto de atividades podem ser realizadas, tais como:

reuniões, pesquisa documental, entrevistas qualitativas, oficinas de análise da

problemática; e de forma mais ampla mapeamento participativo (caminhadas

orientadas) montagem de diagramas ilustrativos, seminário etc (ARMNI, 2002).

No entanto, para a primeira fase da intervenção, o diagnostico terá como

instrumentos e recurso metodológico as seguintes orientações:

Sensibilização - Visita aos domicílios .......................................... 10 encontros

Roda de conversa – Exibição de filme............................................. 01 encontro

Cartografia Social – Oficina do imaginário .................................... 02 encontros

a) Oficina 1 - apresentação de fotografias e objetos que remetem a memoria

e historia local, bem como as transformações do espaço geográfico no

território;

b) Oficina 2 - construção de mapas a partir do resgate das lembranças sobre

o espaço geográfico;

As estratégias apresentadas objetivam fortalecer o conhecimento do

território pelas famílias inseridas no projeto de intervenção, para que posteriormente

pudessem explorar o território, com o produto das oficinas, legitimando propostas de

trabalho, a partir da consolidação de conhecimentos e troca de saberes coletivos. A

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perspectiva da pesquisa ação e das metodologias participativas perpassa pelo

entendimento de valorização dos sujeitos sociais em todo o processo de construção

e produção do conhecimento.

Nesse caminho os mapas participativos são dinâmicos, cooperativos, e

necessitam de revalidações pois até a própria sociedade e as relações sociais são

dinâmicas no território. Em situações que os documentos e registros são escassos

para revelar a historicidade de um território, a memória coletiva torna-se mais

imponente fonte, pois ocorrerá a valorização dos sujeitos da pesquisa, suas

lembranças e relatos principalmente dos mais “velhos” sobre a história remota do

lugar e o cotidiano. O mapa está no centro das abordagens territoriais participativas,

cujo levantamento têm por objetivo a localização dos objetos materiais e observáveis

considerados necessários pelas populações nas decisões sobre seu território

(JOLIVEAU, 2008).

II - Segunda fase: Inventário Turístico

O foco no turismo é evidenciado, indicações sobre as representações

territoriais, as relações e agentes produtores do território são identificadas, bem

como indícios da segmentação turística para o planejamento territorial. Como

estratégia de trabalho, foi utilizado a construção do inventário turístico a partir de

diagnóstico e utilização de um dos métodos mais conhecidos para diagnóstico

territorial é o Participatory Rural Appraisal (PRA) ou Diagnóstico Rápido Participativo

(DRP). O diagnóstico participativo faz parte do processo de planejamento, e uma

investigação coletiva e aprendizagem mutua; neste momento são identificados e

priorizados, de forma participativa, os problemas e potencialidades da comunidade

diagnosticada (KUMMER, 2007 p.84); ou ainda, os atores sociais são envolvidos no

processo de forma a provocar reflexão sobre sua situação, suas experiências e seus

interesses, estimulando sua capacidade de ação autônoma sendo sujeitos da ação

(ARMNI, 2002 p. 44).

Nesta fase, objetiva a capacitação das famílias para discutir questões

relacionadas a construção do inventário dos atrativos, da infra estrutura de apoio e

dos serviços disponíveis no território considerados potencialidades turística. Este

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instrumento se faz necessário para operacionalização do Plano de Desenvolvimento

do Turismo.

Observação direta com participação dos sujeitos da pesquisa

III - Terceira fase: Plano Turístico para o território Passagem

Construção de ações estratégicas para articulação do potencial turístico, das

histórias dos moradores e da cultura ainda presente, desencadeador do turismo de

base comunitária. Objetiva dar início ao processo de elaboração do Plano Turístico,

a partir do conhecimento das potencialidades, e construção de ações estratégicas

para melhor desenvolver o turismo local. Para esta etapa da intervenção as técnicas

a serem utilizadas serão: Diagrama de Venn (explora o ambiente interno e externo

da comunidade); Metaplan (levanta os problemas e soluções - sistematiza

prioridades) (KUMEER, 2007). Constitui num verdadeiro momento de sensibilização

e motivação da comunidade para inserir e participar de projetos comunitários

O enfoque é a participação coletiva desenvolvida em 04 oficinas:

Oficina 1 - apresentação da importância do planejamento turístico,

aspectos conceituais, detalhamento das estratégias locais;

Oficina 2 - construção de instrumentos para avaliação dos recursos

enquanto potencialidade turística;

Oficina 3 - delimitação do prognóstico identificado por representantes

dos segmentos de artesãos, guias, proprietários de bares,

restaurantes e visitantes.

Oficina 4 - fortalecimento de parcerias, elaboração do planejamento

com a divulgação das ações operacionalizadas e avaliação do projeto

de intervenção.

Os critérios para realização do planejamento tem como base os aspectos

descritos e diagnosticados durante o projeto para realização da projeção futura.

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Assim os aspectos avaliados são:

I – Qualidade dos recursos

a) Herança cultural

b) Caraterísticas Naturais

c) Áreas de recreação

d) Atividades Cotidianas

e) Eventos Especiais

f) Atrações Etnicas

g) Atrações Culturais

II – Infra-estrutura turística e Básica

a) Rede turística

b) Estrutura básica

VALORES QUALITATIVOS:

Bom (B) Médio (M) Fraco (F)

LEGENDA: A – Dimensão F – Impacto Social K – Adaptação Mercado B – Localização G – Impacto Econômico L – Nivel de Utilização C – Tipos de Instalação H – Nível de Desenvolvimento M – Adaptação Política D – Qualidade Profissional I – Potencial de Desenvolv. N – Capacidade de Carga E – Impacto Ambiental J – Adaptação Mercado O– Potencial de competitividade

Todos os instrumentos apresentados, validam o esquema metodológico que

foi adotado durante o percurso do projeto. (FIGURA 5). Em todo processo de

intervenção, em que haja construção coletiva há também a necessidade de validar

as informações e avaliação das ações executadas A validação das ações foram

dadas durante os encontros, por sensibilização e percebendo a aceitação por parte

das famílias na apresentação da proposta de trabalho no território. A metodologia

participativa e os relatos/debates foram registrados para a sistematização, e inclusão

efetiva do plano final. O monitoramento e a avaliação são ferramentas

indispensáveis a qualquer projeto, sendo reflexo do planejamento. Coube ainda

durante o processo de intervenção o (re)planejamento, análise do que foi possível

ser feito, e avaliação das etapas concluídas.

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INTERVENÇÃO

LEV

AN

TAM

ENTO

B

IBLI

OG

FIC

O

PESQUISA AÇÃO

AVALIAÇÃO BANCO DE DADOS

História de Vida

Diário/regiVisita

domiciliar Entrevista

BLOCOS TEMÁTICO

Família

POVOADO PASSAGEM ANDARAÍ

Observação participante

Encontros Coletivos

Comunidade

Poder Público

Turismo

LEV

AN

TAM

ENTO

DE

DA

DO

S -

TER

RIT

ÓR

IO

Plano de Desenvolvimento

Turístico

Produto

Objeto de pesquisa

Intervenção ação Tema norteador

Inventário

Plano de Ação

Diagnóstico

FIGURA 5 -Esquema metodológica da pesquisa. Elaboração Rocha, 2017

Esquema metodológico

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O QUADRO 13, expõe as ações planejadas para o desenvolvimento do

projeto:

TEMA DA OFICINA PROPOSTA AÇÃO PLANEJADA AÇÃO EFETIVADA

“Desenhando a realidade”

Diagnóstico Participativo

Conscientização e a sensibilização dos

sujeitos participantes do projeto,

estimulando-os e motivando-os a desenvolver a intervenção no

território quanto à importância do

turismo de base local; bem como analise

dos entraves para o desenvolvimento do

turismo

A - Visita aos domicílios sensibilizando para participação no projeto / reflexão sobre trechos do livro “Cascalho” abordagem sobre a história local B-Exibição do filme “Narradores de Javé” C - Encontros coletivos: oficina de cartografia social

“Na tela – um território turístico”

Inventário turístico, produção do território turístico

Registro das representações coletivas e as

potencialidades locais

D - Observação direta com participação dos sujeitos da pesquisa

“De mãos dadas com o futuro”

Planejamento participativo

Reunião ampliada e construção do plano de ação

E-Apresentação de propostas para montagem do plano de ação sobre o turismo de base territorial.

QUADRO 13 Execução das atividades planejadas –. ROCHA 2017

Ao iniciar a pesquisa houve o levantamento bibliográfico da literatura sobre

turismo e o turismo de base comunitária; bem como a importância do planejamento

turístico para sustentabilidade a partir da identidade territorial. Os conhecimentos

prévios – intervenção participativa e dialógica – foram associados à literatura sobre o

território. Uma relação que envolveu pesquisar junto ao acervo público municipal; e

com o uso de mapas de localização permitiu ampliar os horizontes dos participantes,

pois “sua” historia, e a “historia” presente nos casos, fez com que fortalecessem o

interesse de todos em “pensar” o território.

Em alguns encontros - o parentesco da pesquisadora vez com que os

moradores se sentissem mais seguros e confiantes de que a organização dos

encontros. Portanto, a validação e justificativa para uma intervenção é dada em

reunião com a comunidade e famílias para o desenvolvimento dos trabalhos. A

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aceitação por parte da comunidade na apresentação da proposta de trabalho

comunitário no território, só foi possível diante da confiança prestada pelas famílias

da Passagem para com a pesquisadora.

Diante do contexto vivenciado no projeto, evidenciou-se o quanto a

sensibilização e apoio coletivo precisam ser lapidados até que as construções se

tornem ações coletivas geminadas pelo grupo de trabalho. E possam ser levadas ao

poder publico, ou ate mesmo que possa trazer autonomia ao grupo na captação de

recursos, na promoção do território. A existência de desejo da população em gerar

mudanças e receptividade para a prática do turismo foi identificada no grupo

selecionado, bem como a sensibilização e aceitação da população envolvida.

O planejamento se adequou a realidade e contextos locais, diante das

necessidades dos sujeitos envolvidos no processo. As diversificadas faixas etárias

conduziram diálogos produtivos, intergeracionais e de gênero. Dessa forma,

valorizar a identidade do lugar que também se transforma, é pensar na relação

espaço-tempo, na relação identidade-memória, na relação educação e

sustentabilidade, no embate contraditório da nossa sociedade capitalista. Um

processo social em que se transformam reciprocamente os sujeitos agentes dos

trabalhos, bem como os agentes multiplicadores das ações coletivas.

Com a metodologia participativa torna-se uma possibilidade para se

consolidar no território, em que o grau de aprendizado, as críticas e sugestões dos

participantes são elementos importantes para se alcançar o resultado final.

Ressaltando que ações dessa natureza priorizam o contexto social, a valorização da

formação cultural cotidiana e a sabedoria popular em ações coletivas, construídas

no território. O direcionamento partiu de reflexões teóricas e metodológicas sobre

território e na consolidação de estratégias para o desenvolvimento do turismo de

base comunitária. Do diagnóstico da organização comunitária ao prognóstico

desencadeador de propostas, o planejamento de ações coletivas, envolveu os

agentes transformadores do espaço turístico. A efetivação do Plano Territorial de

Desenvolvimento do Turismo – Território Passagem é o produto que veio consolidar

os trabalhos de organização comunitária, base para se pensar futuramente a gestão

do território turístico.

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4 DIAGNÓSTICO TERRITORIAL

"O pensamento é sagrado, o único território livre de patrulha, livre de

julgamento, livre de investigação, livre, livre. Área de recreação da loucura. Espaço aberto para a imaginação. Paraíso inviolável ”

(Martha Medeiros)

A identidade territorial de uma comunidade abrange diversos aspectos, que

no âmbito geográfico vão desde a relação que o sujeito tem com demais membros

do território, como se amplia para compreensão do conhecimento e descrição do

espaço, ao conhecimento da realidade a partir da concepção de lugar na qual o

sujeito e sua relação de pertencimento tornam-se mais evidentes. No entanto, ao

tratar da conjuntura territorial, as relações sociais presentes vão conduzir à busca de

proposições para se pensar o território, os conflitos existentes, as perspectivas da

população e a sua organização.

Enquanto atividade social, o turismo tem o poder de promover troca de

saberes, gerando benefícios sociais. No tocante ao turismo enquanto atividade

econômica dinamiza diversos setores, tais como absorção de mão-de-obra, geração

de divisas; no entanto, é uma atividade geograficamente localizada, com demanda

flutuante (BAHIA, 2000 p. 50). Diante da conjuntura apresentada, o município de

Andaraí possui algumas localidades com atrativos e potencial. Para este projeto foi

pensado em um trabalho que norteasse ações de planejamento turístico no povoado

Passagem por fazer parte de roteiros turísticos consolidados, possuí atrativos, ser

um local de fácil acesso e onde se instalou os dois hotéis mais procurados pelos

trade turísticos do municipio, possuir uma organização social fortalecida, não ter

uma grande aglomeração populacional, e principalmente necessitar de um trabalho

técnico para construção de um plano que possibilite desenvolver o turismo no

território.

Baseando na pesquisa documental e nos primeiros contatos com moradores

foi construído um diagnóstico territorial a fim de compreender e caracterizar a

formação territorial do povoado Passagem e a conjuntura social do povoado

Passagem, essencial para o estabelecimento de horizontes de trabalho. O processo

de analise territorial apresenta duas etapas: a primeira referente a coleta de

informações e a segunda a analise dos dados apresentando a intervenção social.

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Ao preparar o estudo sobre o espaço geográfico ao qual se fortaleceu a

identidade territorial do povoado Passagem do Paraguaçu foram considerados na

construção do planejamento turístico, os aspectos limitantes para o desenvolvimento

da atividade e os favoráveis. O entrave perceptível foi a falta de ações

governamentais e da sociedade civil que pudessem impulsionar o turismo, tais

como, a inexistência de plano ou programa municipal que inclua o povoado. O

aspecto favorável é a união das famílias do povoado para consolidar um território

com características e potencial para receber o turista.

4.1 CONTEXTUALIZANDO A PASSAGEM DO PARAGUAÇU

O povoado Passagem do Paraguaçu esta localizada a 4 Km à sudeste da

cidade de Andaraí, na margem direita do rio Paraguaçu, e no entorno do Parque

Nacional da Chapada Diamantina. Limita-se a norte com o rio Paraguaçu, a leste ao

Parque Nacional da Chapada Diamantina, a oeste e sul ao rio Piabas. Os registros

históricos sobre o povoado Passagem surgem nas bibliografias de Acauã (1847),

Sampaio (1903), Pereira (1916) e Sales (1956). As poucas obras científicas ou

literárias justificam as condições propícias para a condução desta pesquisa e o

registro da história oral ainda pouco exploradas.

Comumente o povoado é conhecido apenas pela nomenclatura de

Passagem, justifica-se conforme a população relata pelo fato do povoado ter sido um

entroncamento de comerciantes vindos do sertão e do recôncavo baiano e

pousavam nas margens do rio Paraguaçu, para seguir posteriormente viagem. O

roteiro era Santa Isabel do Paraguassu (atual Mucugê), Igatu, Passagem do

Paraguaçu (margem esquerda do rio) e Fazenda Vitória (margem direita do rio)

espaço que atualmente é patrimônio público e ponto turístico – o balneário do

Paraguaçu.

O mapa de localização (MAPA 4) representa os limites do Parque Nacional

da Chapada Diamantina e a proximidade com o povoado Passagem, no qual parte

do seus limites se tornaram área de preservação. O povoado se destaca por

também ser entroncamento de acesso para os rios Piaba e Paraguacu (se

encontram nos seus limites territoriais. A BA 142 rodovia estadual de acesso da BR

242 aos municípios de Andarai, Mucuge e Itaetê, também passa pelo povoado.

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MAPA 4: Localização do povoado Passagem . Elaboração Rocha, 2017

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4.1.1 A história contada

“A sociedade lavrista se plasmou, caldeada, toda ela, pela febre da aventura e da ambição desmedida de fortuna fácil ”

(MORAES)

A história possui limitados registros bibliográficos, apenas dois livros

encontrados de Acauã (1847) e Pereira (1916) datados no século XIX e inicio do

século XX respectivamente e obra literária Cascalho de Herberto Sales, romance

que apresenta a saga garimpeira na busca por diamantes no município de Andaraí,

datado de 1956.

Conforme o acervo estudado, o povoado servia de entroncamento e o rio

Paraguaçu como porto de travessia entre os municípios de Mucugê e Andaraí,

trajeto realizado por meio de balsas e barcos.

A denominação Passagem será utilizada neste trabalho técnico, por ser a

forma mais comumente utilizada pelos moradores do lugar, simplificando o termo

“Passagem do Paraguassú” (PEREIRA, 1916 p. 1). A Passagem se constituiu como

o primeiro núcleo populacional de terras que futuramente se consolidou o município

de Andaraí, e em tempos de outrora ficou conhecida por suas jazidas de diamantes

descoberta no século XVIII. A obra de Pereira (1916), trata do cotidiano do povoado,

quando descreve:

Nos arredores, na Passagem do Paraguaçu, começou o nosso

desenvolvimento, passamos dias alegres de infância entre foguedos,

numa atmosphera doce e agradável, a par das grandezas que o seu

subsolo tanto proporcionou aos que nos foram queridos, e que ali

gozaram por longos annos a excellencia da prodigalidade da

natureza e também da sorte (p. 02)

O povoado constituído de cerca de 100 famílias nos tempos de auge do

garimpo (final do século XIX e primeiras décadas do século XX), com comércio bem

fortalecido (padarias, farmácia, mercearia, escola, igreja, filarmônica, dentre outros),

algumas ruas e praças), servia de ponto de apoio para os tropeiros da época. A

formação territorial se deu em decorrência dos acampamentos de garimpeiros, nas

proximidades das margens do rio, como afirma Acauã (1847 p. 211)

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atravessa uma cadea de serras, das quaes para fazer rebentar em

brotões depois de um curso subterrâneo de mais uma légua no logar

chamado – Passagem do Andrahy – onde se despede daquellas

serras para ir banhar matas agrícolas extensas e desertas, que toma

o nome de Paraguassu

O estudo detalhado de Acauã retrata os aspectos geograficos do século XIX,

em seu documentário descritivo. Pereira (1916 p.2) registra na obra Memória

histórica do município de Andarahy, as condições ambientais do povoado Passagem

- do início do século XX, quando descreve:

desejamos que todas essas tentativas de progresso que agora pensam levar áquellas desamparadas localidades se traduzissem em realidade, e só assim poderiam bem ser conhecidas e estudadas as riquezas naturaes da zona, suas condições especiaes tão propicias à vida e tão pouco exploradas até o momento

Nas descrições de Acuã (1847) e Pereira (1916) trazem a relação entre

sociedade e natureza, destacando esperança de desenvolvimento econômico e

modernidade. No entanto com a decadência da exploração de diamantes, também

entra em decadência a própria dinâmica populacional no povoado. Há registros que

retratam que se formou grande aglomeração, com muitas casas, ruas, duas

grandes praças, matriz de São José e pça Santo Antônio, bem como as variadas

casas comerciais e repartições publicas. Nos escritos de Pereira (1916 p. 05)

descreve o povoado.

Na povoação Passagem, em frente a importante fazenda “Victoria”,

que foi propriedade do Coronel Gonçalo de Amarante Costa

(falecido em 15 de setembro de 1875), e depois do seu irmão

Coronel Francisco Antônio de Athayde, e onde foram encontrados

imensos depósitos de diamantes. A povoação da Passagem não

deixa também de ter sua história interessante, pois, sendo um

centro de mineração, muito se desenvolveu comercialmente e

prosperou em certa epocha, quando a mineração tomou

incremento com as criações das companhias, tornando-se ali o

ponto de convergência de vultos do comercio, da mineração,

capitalistas e políticos em foco, na epocha

Conforme registros históricos, o povoado tinha destaque comercial no

município de Andaraí, principalmente pela Companhia Victoria dando grande

impulso ao comercio local. Pereira (1916 p. 18) ainda descreve “traços do

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desenvolvimento ali operado naquella epocha onde se constituiu um centro

comercial para os diamantes, e aberturas de grandes lojas e armazéns”. Instalaram-

se segundo o autor, nos anos de 1879, grandes comerciantes de diamantes e

coronéis das lavras, sendo o povoado um forte ponto comercial na região. Consta

conforme relatos que a usina hidrelétrica que fornecia eletricidade a sede municipal

se instalara na Cahoeira da D’Anna (FOTO 1).

FOTO 1 – Cachoeira da Don’ana, rio Paraguaçu – Passagem (Andaraí-BA). Fonte: acervo FOTOgráfico do IBGE. Disponível em www.ciddes.ibge.gov.br

Pereira (1916 p. 18) relata que no início do século passado a localização

geográfica da vila, as margens do rio Paraguaçu, e a intensa atividade garimpeira

no leito do rio, e o assoreamento intenso poderiam extinguir o povoado em

decorrência da forma das águas e relata:

Na povoação da Passagem, lugar outrora florescente (...) a população tem sofrido com graves prejuízos com as enchentes do Paraguaçu e do Piabas, e está fadada a desaparecer se continuarem os serviços diamantinos”.

E o intenso trabalho de extração de diamantes perdurou ainda durante

varias décadas posterior ao relato de Pereira (1916). Anos após esta declaração em

1991, acontece uma enchente que destroi a ponte construída em 1897 (FOTO 2),

arrastando também casas e devastando propriedades pela força das águas.

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FOTO 2 – Ponte sobre o rio Paraguaçu, trecho de acesso ao povoado Passagem Fonte: acervo FOTOgráfico do IBGE. Disponível em www.cidades.ibge.gov.br

A comunidade Passagem sofreu grandes impactos com a falta de

oportunidades de trabalho após o grande êxodo de seus moradores com a

decadência do garimpo. De maneira mais abrangente, pois trata da Chapada

Diamantina, Brito (2005 p. 139) relaciona os impactos propiciados pelo garimpo e o

surgimento de uma outra atividade – o ecoturismo:

(...) a morte anunciada de uma atividade tradicional e inscrita na

história da região que, assim passa a deixar o meio ambiente livre

para o ecoturismo – uma atividade majoritariamente externa,

identificada com o moderno e que tem nos atrativos naturais sua

principal matéria prima – ganha espaço para expandir os seus

negócios.

Diante desses registros bibliográficos sobre contexto histórico do povoado,

torna-se evidente que o universo do garimpeiro, permeia uma atividade

culturalmente exercida em determinados núcleos populacionais que historicamente

está repleta de significados, de identidades, de características próprias de regiões

que exploram metais preciosos. Nesses locais a tradição das lavras, como sendo

um conjunto de operações coordenadas objetivando a extração econômica das

substâncias minerais úteis de uma jazida até o seu beneficiamento primário como

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principal atividade econômica e impulsionadora da economia local e hoje sua

presença ainda se manifesta através da memória dos moradores mais antigos.

4.1.2 Descrição ambiental

No período das chuvas são comuns nos rios que percorrem a Serra do

Sincorá o regime torrencial ao desembocarem no rio Paraguaçu. O período

sazonal que acontece esse fenômeno é na estação climática do verão,

concentrando nos meses de dezembro e janeiro. Comumente ocorrem enchentes

ampliando o volume e vazante do rios que além da beleza, também proporciona

situação de risco para quem acampa nas proximidades da margem do rio (em

caso de trombas d’água).

O rio Piabas e Coisa Boa compõem os canais fluviais com menor volume

d’água que desaguam no rio Paraguaçu, sendo mais dois afluentes desse

importante rio e favorecendo na drenagem e proporção fluvial para os seus

meandros (nesta porção do rio). Complementa a drenagem os córregos que

desaguam nos cânions e poços da Serra do Sincorá, como o poço da Don’ana e o

poço do Bode. As águas apresentam uma típica cor escura, causada

principalmente pela presença de taninos e ácidos orgânicos, originários da

vegetação das rochas; os seixos (FOTO 3) são bem característicos das margens

do rio Paraguaçu, cujos fragmentos de rochas, apresentam em grande volume

nesta porção do rio Paraguaçu.

FOTO 3 : Seixos rolados, as margens do rio Paraguaçu. Rocha, 2016

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O povoado Passagem faz parte de em uma grande área de deposição de

sedimentos arenosos e seixos rolados. Um local bem frequentado pela população

e visitantes tem o nome de areão, são as praias extensas associadas a

conglomerados de rochas provenientes dos afloramentos de arenito

desagregados. O afloramento nas proximidades do povoado é formado por

arenito, quartzo e conglomerados diamantíferos da Formação Tombadores

(BORGES, 2008). Os cânions, blocos deslocados separados por falha formam

uma drenagem dendrítica, compondo a sua geomorfologia.

FOTO 4 – Rio Piabas, assoreamento decorrente da exploração de diamantes. ROCHA, 2017

A mata ciliar nas proximidades do rio Piabas (FOTO 4) vem sendo

recomposta naturalmente, após anos de exploração, retirada e deposição de

sedimentos derivados do garimpo. Existe ainda nas proximidades do Rio Coisa

Boa e Piabas floresta densa. A vegetação rasteira, típica de gramínea as margens

dos rios do território, também é outra característica ambiental.

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FOTO 5 – Arvores frutíferas das propriedades. FOTO 6 – Coleta de frutas . ROCHA, 2016 ROCHA, 2016

O uso e ocupação do solo está associada a fruticultura de subsistência

(FOTO 5 e 6) e a vegetação natural (BAHIA, 1999). No povoado os poucos sítios,

em geral possuem pomares de manga, caju, laranja, banana, coco, vendida na

feira livre da cidade; produção familiar de mandioca e cultivo de hortaliças, ambos

em pequena escala.

4.1.3 Caracterização socioespacial

A forma de ocupação territorial da Passagem se deu como nas demais vilas

e povoados da Chapada Diamantina, por meio garimpeiros que vinham extrair

diamantes, por tropeiros e pequenos comerciantes que vinham abastecer os núcleos

populacionais formados em decorrência dos garimpos. A atividade econômica

decorrentes da mineração dinamizou toda a Chapada Diamantina e historicamente

os primeiros registros sobre o povoamento local são do período de descoberta de

diamantes em Andaraí, sendo o vilarejo considerado o primeiro núcleo populacional

do município.

Ao longo das décadas de escassez do garimpo, e a falta de outras

possibilidades econômicas diferente do garimpo, forçou o processo de emigração

para a sede da cidade de Andaraí, a outras cidades circunvizinhas, ou ainda para

outros Estados, como Minas Gerais e São Paulo.

Outro uso do espaço geográfico, decorrentes da escassez do garimpo, é a

utilização das crateras, também conhecidas como catras pelos moradores, criadas

com a sucção da água e remoção de rejeitos decorrentes da garimpagem, aos quais

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formaram lagunas e são utilizadas para as atividades domesticas, tais como

lavagem de roupa, utensílios, abastecimento ou banhos (FOTO 7). No entanto,

atividades como lavagem de roupas e utensílios esta sendo cada vez mais escasso

no rio Paraguaçu, devido a intensificação do turismo e visitação ao rio, inibindo

assim, o uso do rio pela população local (FOTO 8).

FOTO 7– Uso da Catra nas atividades domésticas. FOTO 8 – Uso do rio para atividades domésticas ROCHA, 2016 ROCHA, 2016

Uma nova territorialização, ou seja, novo grupo se instala no povoado são os

visitantes que iniciam o processo de aluguel de imóveis habitados durante os finais

de semana e feriados (FOTO 9 e 10), em geral são pessoas vindas das cidades de

Salvador, Feira de Santana e Irecê, ainda restritas ao Estado da Bahia.

FOTO 9 – Casario da Praça Santo Antônio FOTO 10 – Praça Santo Antônio ROCHA, 2016 ROCHA, 2017

A partir da criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina favoreceu a

demanda por empreendimentos hoteleiros e a especulação imobiliária. A atividade

atraiu o crescimento imobiliário e alguns empreendimentos ligados ao setor.

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FOTO 11 – Rua dos antigos moradores FOTO 12 – Moradias apropriadas por turistas ROCHA, 2016 ROCHA, 2016

As casas mais antigas do povoado tem uma arquitetura diferenciada

apropriadas recentemente por turistas, e visitadores sazonais (FOTO11 e FOTO 12).

A Passagem vendo sendo um local estratégico do município de Andaraí (BA), para o

desenvolvimento do turismo, sendo um dos motivos de atração é a de que a única

comunidade ribeirinha (FOTO 13) localizada próxima dos maiores empreendimentos

hoteleiros do município e historicamente ser o primeiro núcleo populacional.

FOTO 13 – Passagem do Paraguaçu, vista panorâmica. ROCHA, 2017

Nota-se que o visitante e turista que ocupam as pousadas realizam visitação

ao vilarejo, mas ainda de forma esporádica. Apesar da riqueza quanto ao patrimônio

histórico e geográfico, alguns imóveis e patrimônio encontram-se em decadência: o

cemitério, casas, casa de farinha (comunitária). Não há centro cultural, ou de artes

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no lugar; existem duas igrejas (Santo Antônio e São José) em bom estado de

conservação. Os terrenos da comunidade, que antes eram ruas de casas, vêm

sendo loteados por herdeiros da Dona Luminata e posteriormente Sr Joao Socorro.

Há, portanto, oferta de propriedades (lotes) sendo adquiridos por turistas que visitam

a localidade.

A atividade econômica existente no povoado, esta direcionada a atividade

do turismo, no entanto, requer infra-estrutura suplementar para ser viabilizado tanto

pelo segmento público, quanto pela iniciativa privada. Os negócios estão em

expansão para os moradores locais (bares e restaurantes) e já consolidados para os

empresários do ramo de hospedagem. O turismo vem estimulando uma maior

diversidade no setor comercial, iniciando o ramo de atividades esportivas ligadas ao

turismo.

O abastecimento de água não fornecido pela rede publica, e cada morador

realiza o processo de abastecimento através de bombeamento tanto no leito do rio,

quanto da água na serra do Sincorá. O abastecimento de energia é regular realizado

pela empresa COELBA. A coleta resíduos sólidos é realizada (três vezes por

semana). Já a situação de saneamento no povoado é precária: há ausência de

esgotamento sanitário, ausência de sistema de abastecimento de água com

tratamento adequado. O transporte público é utilizado pelos estudantes (ônibus

escolar), devido a pouca população residente as crianças e adolescentes se

deslocam diariamente para estudarem nas escolas publicas da sede do município.

Quanto há necessidade do acesso a saúde, ou ao comércio em geral a população

se desloca para a cidade. As vias do povoado estão precárias, no entanto o acesso

na BA-142 está em boas condições; apenas a praça principal (Santo Antônio) é

calçada, as demais vielas e ruas não são calçadas e não possui residentes.

Inexiste base associativa, embora possuam vínculo comunitário, mas sem

organização formal. Há uma liderança local, a mesma que representa a localidade

nas questões religiosas, junto a paroquia de Nossa Senhora da Glória. Também não

há associações atuando na comunidade, nem potenciais parceiros que possam

atender as demandas da população.

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4.1.4 Caracterização dos sujeitos da pesquisa

Ao apresentar o perfil das famílias, tomou-se como fonte oral o grupo de

moradores, que vivenciaram o processo de territorialização derivada do garimpo

como também a inserção da atividade turística com a criação do Parque Nacional da

Chapada Diamantina. O grupo formado foi constituído por 10 famílias de um total de

17 famílias (residentes ou sazonais), quantidade exequível para um projeto piloto de

intervenção social.

As famílias do povoado não são numerosas, a maioria descende de

migrantes de outras cidades da região, fato comum em área historicamente,

fundadas por migrantes, como os garimpeiros, como retrata Brito (2005):

Esta atividade foi responsável pela imigração de várias pessoas que vieram trabalhar no garimpo acalentado sonhos de fortuna e sorte. Portanto, a história e a formação (...) desta região estão intimamente associada a exploração dilapidadora dos seus recursos naturais, e a ocorrência de significativos fluxos migratórios (BRITO 2005, p. 83).

As famílias do grupo correspondem a três gerações e contemplam 32

pessoas, envolvendo crianças e adultos. O estudo com o morador mais antigo das

famílias pesquisadas, derivou na sintetização do QUADRO 14:

N.

VARIÁVEIS

FAMÍLIA M

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01 Dourado Pati-Andarai

1963 2ª L

55

S 05 BF P NA

02 Dourado Pati-Andarai 1963

2ª D 53 S 05 BF P EF

03 Pereira Mucugê 1918 2ª A 74 S 03 2 SM P EM

04

Souza

Andaraí-Sede

1940 3ª

CO 59 C 03 SM/BF P EM

05 Pereira

Ibiquera 1955 1ª

P 80 V

01 SM

P NA

06 Guedes Irecê 1948 1ª P 85 V 01 SM P NA

07 Santos Passagem - 3ª CM 43 S 04 2 SM C EF

08 Santos Passagem - 3ª D 32 S 01 BF C EF

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QUADRO 1 4: Caracterização do membro mais antigo da família. Fonte entrevista e trabalho de campo. ROCHA, 2016.

Variáveis:

a) Geração: 1ª (primeira), 2ª (segunda), 3ª (terceira) b) Ocupação – profissão: (L) lavrador; (DL) Do lar; (PR) professor; (P)

pensionista; (CM) caminhoneiro; (C) caseiro; (A) aposentado; (D) desempregado (CO) comerciante

c) Estado Civil: (C) casado; (S) solteiro; (V) viúvo; d) Renda: (SM) salário mínimo; (BF) Bolsa Família; (P) comercio; e) Moradia: (P) própria, (C) cedida; f) Escolaridade: (NA) não alfabetizada; (EF) ensino fundamental; (EM) ensino

médio. Atualmente a Passagem tem apenas 12 famílias residentes fixos e 25

domicílios, em geral os moradores vivem da aposentadoria, ou prestam serviços nas

pousadas próximas (caseiros ou comerciantes no ramo de restaurante e bar). Das

10 famílias que participam do projeto 06 (seis) são chefiadas por mulheres, cuja

renda familiar são derivadas de aposentadoria e programas de renda mínima; as

famílias chefiadas por homens trabalham como o comercio local e um está

desempregado. A baixa escolaridade justifica o trabalho dos jovens a atividade de

caseiro, porteiro, vigilante, garçom, camareira e diarista na pousada próxima ao

vilarejo.

As famílias remanescentes do povoado configuram-se por ser um grupo

descendente de garimpeiros. A segunda e terceira geração de moradores não

vivenciou a atividade de exploração de diamantes na região e com o declínio dos

garimpos mais recentemente, houve a mudança de atividade econômica

implementada na Chapada Diamantina com o turismo.

Diante das primeiras informações coletadas, identificou-se que a figura do

garimpeiro, aos poucos foi se perdendo no Povoado da Passagem. Urge, portanto,

ações de intervenção com bases no estudo do território, nos critérios de

sustentabilidade, no fortalecimento da identidade territorial diante das novas

configurações socioespaciais. Com as informações levantadas identificou-se a

necessidade de um plano turístico que possa contribuir para o desenvolvimento local

e organização comunitária no povoado Passagem. A seguir serão apresentadas a

09 Bispo Redenção 1960 2ª P 79 V 06 SM/BF P NA

10 Bispo Passagem - 3ª DL 32 S 03 - P EM

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intervenção social, para levantamento de propostas e estratégias ao

desenvolvimento do turismo de base territorial.

4.2 CONJUNTURA DA INTERVENÇÃO SOCIAL

No território, as relações sociais se perpetuam, enquanto são estabelecidas

as diferenças, as relações de pertencimento, ou ainda quando perpassam as

decisões cotidianas. Remete, portanto, a valores, a identidade local, do grupo na

sociedade. Ao considerar a sociedade dinâmica constituída de sujeitos sociais que

se relacionam constantemente, se faz necessário conjecturar formas organizativas

que dinamizam o território, visto que esta como produto dos relacionamentos sociais

(FOTO 14 e 15).

Assim a participação e colaboração recíproca com possibilidade de

transformação de uma realidade social, validaram as ações propostas e construídas

na intervenção social, ora exposta neste trabalho.

FOTO 14 – Convivência social. ROCHA, 2016 FOTO 15 – Cotidiano comunitário. ROCHA, 2016

A contribuição do grupo suscitou a realização das narrativas, primeiro nas

entrevistas e depois durante os encontros coletivos da intervenção. Nesse ínterim,

os casos contados fluíam com a observação atenta dos jovens, com a realização de

dinâmicas de grupo, a sensibilização para o trabalho coletivo no fortalecimento da

participação.

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“ DESENHANDO A REALIDADE”

TEMA: Narrativas que constroem o conhecimento territorial

OBJETIVO: Sensibilizar as famílias para a necessidade de organização comunitária atendendo as demandas territoriais

AÇÃO REALIZADA

A – Primeiro momento: Visita aos domicílios sensibilizando para participação no projeto , estimulando-os a reflexão sobre trechos do livro “Cascalho” B- Segundo momento: Rodas de Conversa a partir dos encontros coletivos para assistirem ao filme “Narradores de Javé; reflexão sobre narrativas; uso de imagens e objetos de pesquisa; construção de mapas a partir da cartografia social

RECURSOS Filme: Maquina FOTOgráfica, convite, “Narradores de Javé”; cadeiras; computador; caixa de som; projetor; tela de projeção, Piloto, Papel Metro Branco, FOTOgrafias, objetos antigos, cartolinas, tesoura.

IMPACTO DA ATIVIDADE

Orientação e mediação no grupo para o fortalecimento das relações afetivas no território, registro da história local, relevantes na organização comunitária.

QUADRO 15: Estratégias para sensibilização para o desenvolvimento do projeto: “um desenho a varias mãos”. ROCHA, 2017 .

4.2.1 Primeiro momento: Sensibilização - Visita aos domicílios

A primeira estratégia utilizada na intervenção social para alcançar o objetivo

de sensibilizar os participantes para adesão ao projeto foi estimulado e motivado por

meio de visitação aos domicílios. A relação com o objeto é de que o planejamento só

poderá refletir a as aspirações de um território, se as pessoas são participativas em

todo o processo.

Durante os 10 encontros destinados a visitação em domicilio realizados nos

finais de semana nos meses de março e abril de 2017, os moradores ressaltaram no

fortalecimento e na união das famílias na condução do projeto. Uma estratégia foi

criada pra estimular o diálogo e as discussões futuras sobre o território. A

sensibilização a partir da entrega de convites em cada domicílio (FOTO 16 e 17)

salientou momento de reflexão sobre o território e melhoria da auto estima, na

perspectivas de desenvolvimento local.

Foram entregues aos moradores, trechos do livro “Cascalho” do jornalista e

escritor andaraiense Herberto Sales (1917-1999) que foi membro da academia

brasileira de letras. A escolha dessa obra justifica-se pelo fato dos primeiros

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capítulos tratar da caracterização social e ambiental e a formação territorial, no

contexto do garimpo de diamantes.

FOTO 16 e 17 – Entrega de trechos do livro Cascalho que retratam a vida na Passagem nas primeiras décadas do século passado. Rocha, 2017

No livro Cascalho (FOTO 18 e 19) os aspectos da cultura garimpeira, a saga

dos coronéis, a rotina das mulheres e homens que viviam em busca dos diamantes

encontrados nos grotões e aluviões das Lavras Diamantinas. Descreve bem a

ocupação populacional de migrantes, bem como a expansão da cidade com o

surgimento dos primeiros núcleos de periferia formados na cidade de Andaraí.

FOTO 18 e 19 : Primeira edição do livro Cascalho utilizado no projeto “Um desenho a várias

mãos”, como recurso metodológico. ROCHA, 2017.

Esta obra serviu de referencia para que as famílias pudessem conhecer um

pouco mais do que foi o auge e apogeu na extração de diamantes e o coronelismo

no interior da Bahia e em especial na Passagem. Retrata do drama Lavrista até a

revolução de 1930, que novos rumos veio imprimir à vida local.

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Alguns dias após observarem os trechos do livro “Cascalho” (SALLES, 1956)

foi solicitado aos moradores relatarem a relação com o povoado Passagem a partir

dos fragmentos do livro (QUADRO 16). Recurso metodológico de realização de

visitas (FOTO 20 e 21) previsto no planejamento do projeto contribuiu para reforças

a importância que o território teve na historia do município de Andaraí.

TRECHOS DO LIVRO CASCALHO DE HEBERTO SALES

“As águas vieram do fundo da noite com impetuosidade duma força ciclópica. Ninguém esperava que elas viessem agora, que elas viessem tão cedo. Do céu sem estrelas as águas caíram de súbito sobre os paióis de cascalho que o rio carregava na fúria da descida por dentro da noite” (SALES, 1956 p.11) “O pé d’água caiu duma vez! O rio tá chegando água de verdade! O serviço tá todo perdido! A água ta invadindo tudo! (SALES, 1956 p.11) “Viera para a Passagem, fazia dois meses, mais ou menos. Aquela garimpagem do rio Paraguaçu era serviço antigo e famoso. Desde muitos anos o Cel. Germano vinha fazendo durante a seca, grandes cateamentos13 no leito do rio, continuando assim as remotas

garimpagens do Cel Joca de Carvalho. Já se tornava tradicional aquele serviço.” (SALES, 1956 p.12) “Naquele ano, Cel Germano atacava o serviço com uma violência que bem refletia a sua ambição. Viera disposto a fazer muito mais do que nos anos anteriores. Chegara a Passagem em fins de março, e os primeiros garimpeiros já apareciam” (SALES, 1956 p.12) “E era a seca chegar os garimpeiros abandonavam todos os outros garimpos e afluíam em levas enormes no roteiro das águas escuras que baixavam para oferecer as pedrarias do seu leito rico. Desciam garimpeiros das mais distantes serras, dos mais longínquos serviços... Garimpeiros enriqueciam duma hora para outra, corria dinheiro como não sei o que diga. Valia a pena arriscar” (SALES, 1956 p.12) “E a chuva desabando, farta, terrível. Caíra duma vez, como um castigo. Ninguém esperava por ela. Surpreendera a garimpagem na sua fase mais importante. Era o drama de sempre; a mesma tragédia das chuvas imprevistas que eram a maldição da garimpagem mais rica das Lavras” (SALES, 1956 p. 13) “Na Passagem, porem, ficavam duzentos e tantos homens a quem as águas tinham lavado o suor de três meses de duro trabalho e de doces sonhos. Nas areias molhadas não havia rastros, não havia vestígios de novos roteiros... não sabiam qual caminho tomar. Não sabiam qual seguro e doce caminho que deveriam tomar” (SALES, 1956 p. 25) “Da quitanda cheia de bananas, garrafas de cachaça, bolos de arroz, brevidades, da quitanda de cheiro abafado de mofo, ele ouvia vozes alegres dos meninos que brincavam, que podiam brincar...liberdade, a liberdade vadia da meninada alegre...Aos sábados, porém, ele passava melhores momentos, divertia-se como se estivesse correndo picula, jogando

13

Cateamentos – perfurações no solo criadas no processo de garimpagem

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jiribita14, brincando de pedra-anel que era uma antecipação da grande aventura dos

garimpos, a vida mesma das Lavras” (SALES, 1956 p. 26) “Do areão ainda acenara com a mão enorme para o velho sentado na porta da capelinha (...) Ouvia-se, distante, ruído dos gongolos das tropas que vinham de Chique-Chique (...) Zé Peixoto perdeu-se em divagações sobre o que ia ser sua vida ali na cidade, na cidade que ele enxergava do outro lado do rio Baiano, a grande cidade que dava três povoados da Passagem, a cidade batida de lua na noite branca” (SALES, 1956 p. 31-33) “Antigamente a cidade acabava naquela casa grande da ladeira. Depois foram chegando homens de distantes terras, estranhos homens que chegavam em batalhões esfarrapados, homens magros e sujos que fugiam da seca do Nordeste, homens que evadiam das plantações de cacau e das plantações de fumo de Ilhéus e S. Felix para viver a grande aventura do maravilhoso pais dos garimpos”. (SALES, 1956 p.40) “Ouvia falar das Lavras, da sua riqueza fabulosa, dos seus diamantes que eram encontrados até na moela das galinhas (SALES, 1956 p. 40) (...) Todos os dias chegava gente. A fama das Lavras corria mundo (...) Era a terra onde se enriquecia da noite para o dia, no rodar da bateia15. Levas de flagelados, acossados pela seca, entravam na cidade

como horrendos batalhões de miséria e de andrajos. Especuladores, comerciantes ambulantes, joalheiros, circos, teatros ordinários, árabes bigodudos (...) todos buscavam o maravilhoso pais onde havia diamantes à flor da terra (...) (SALES, 1956 p. 129) “Andaraí era a Meca da grande ilusão dos garimpos (...) a feira de Andaraí era a melhor da praça, a praça onde o dinheiro corria frouxo. E, enfim o comercio, os lojistas, se enchendo dos ganhos fabulosos nos negócios com aquela gente rude (...). Entanto o grito, o grito das Lavras ecoava distante como sendo a nova Canaã. A terra atrai, chamava os homens pela boca dos mascates e dos pequenos negociantes que se enriqueciam (SALES, 1956 p. 130)

QUADRO 16: Leitura de trechos do livro cascalho. ROCHA, 2017

FOTO 20 – Visita domiciliar FOTO 21 - Apresentação do livro Cascalho. ROCHA, 2017 ROCHA, 2017

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Jiribita – jogo realizado com 05 cascalhos onde são realizadas manobras ate que se consiga

vencer as etapas pegando 05 cascalhos de uma só vez.

15 Bateia – reservatório de madeira em formato de um cone aberto no qual se fazia a captação de

cascalhos onde lavava-o ate encontrar diamantes.

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Os moradores ficaram ansiosos quando encontraram nos trechos do livro

Cascalho, o nome do povoado Passagem e que tratava da história local.

Impressionante foi a atenção e acolhida das famílias, para que a literatura fosse

apresentada a eles para se compartilhar os casos. Pelas falas realizadas no

encontro sentiram valorizados, reafirmando que “Andaraí, nasceu aqui na

Passagem”! Durante a reflexão foi interessante observar o quanto os moradores

presentes, lembraram dos contos que simbolizaram a história.

“Do outro lado do Paraguaçu, chamava Vitoria. Minha mãe m dizia que veio uma enchente muito forte e se ouvia uma banda de musica tocando e a casa sendo destruída e levada pela enchente da época. Assim contava os antigos, meu avo, minha mãe parteira “Maria Mendes das Virgens” (J.S, 59 anos)

Representação dos nomes dados aos locais de extração de diamantes, a

Companhia Vitoria, bem como no trecho remonta as enchentes comuns na Chapada

Diamantina, principalmente no Verão. Nos fragmentos a seguir aparece o relato dos

moradores que faz referencia ao poder do Coronelismo no povoado, e o ritual

representado pelo cântico de lamentação das almas, simbolizando os garimpeiros

mortos na busca por pedras preciosas. A cantiga das almas e apresentação que

ocorre sempre durante a semana santa, se tornou bem imaterial da cultura do

município de Andaraí.

“Lembro que uma dona que era enteada do Coronel, quando via alguma moça de roupa curta falava ... “Ah no tempo do meu padrinho Aurélio”, ele mandava dar uma chicotada nas pernas dessas aí”. (M.R, 60 anos)

“Cântico em lamentação as almas”

Reza. reza, irmão meu Peço pelo amor de Deus (seja) Pra rezar o Pai nosso e com a sua ave Maria (seja) Que é pra aquelas todas almas Que morreram afogadas (seja) Reza, reza, irmão meu Peço amor de Deus (seja) (R. B, 79 anos)

“Comigo é diferente, fazemos lamentação das almas... nos não fazia tem mais de 30 anos, quando dona Ana Branca, Zeca Preta e Tutinha era viva”... (J. P, 80 anos)

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Na busca das releituras ressurge a tradição dos ternos das almas,

memorizada pelos antigos moradores e organizada por um novo morador,

comprometido com o reforço dos traços que remetem a um território da garimpagem.

Conforme Andrade (2005), tal manifestação ocorria na quarentena a partir da quarta-

feira de cinzas até a Semana Santa, quando a população, geralmente as mulheres,

vestidas de branco e carregando velas, percorria as ruas da vila, parando em sete

estações previamente escolhidas, terminando a caminhada na porta da igreja

(ANDRADE, 2005 p. 54)

“Rodamos e fizemos a estação da Lamentação da Almas. Há tem mais de 30 anos, quando Ana Branca era viva. Vinha Dona Alice, Dona Ana Branca, Maria Mendes, Tutinha, Rosa, Crispim, Zeca Freitas. Todos aqueles já faleceram né (J.S, 59 anos)

“Olha! Se tivesse matraca aqui, nos rezava para as almas. Estava Pedro vendo, na porta e quando foi na outra semana já chegava com a matraca. Então vamos rezar hoje, chama as mulheres, os meninos, e vamos pra lamentação das almas. A excelência tirando e nós atrás repetindo. Começamos na igreja de São José e terminamos na Capela de Santo Antônio. E nos caminhamos na sexta feira santa” (J.P, 80 anos)

Os cânticos foram apresentados pelos moradores durante vários momentos

das visitas acontecendo de maneira voluntária. Na próxima representação aparecem

fragmentos que dão pistas ao transporte utilizado na época da mineração, os carros

alugados para transporte garimpeiros, chamados de “Marineta!”

Roda de viagem “Oh tindo lelê...o tindo lalá´ Arreda do caminho Marineta quer passar Marineta passa chama “Jovelina” Leva,vai com jeito leva o beijo da menina”

(Resgate da R.B 69 ANOS)

A relação entre o que está posto na bibliografia Cascalho, e o relato dos

moradores através da musica referem-se ao mesmo fato: a morte de garimpeiros

provocadas durante as enchentes do rio Paraguaçu, caracterizado como trombas

d’agua, e o cotidiano da sociedade lavrista. Outro aspecto salientado nos trechos

selecionados do livro Cascalho, dizem respeito ao processo migratório derivado do

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garimpo, abordado em forma de cântico também por moradores locais. A variação

de recursos e fontes para consolidação do diagnostico envolvendo o passado e

presente de um determinado território surge evidente nas metodologias participavas

e na pesquisa ação.

4.2.2 Segundo momento: Roda de conversa nos encontros coletivos

A etapa denominada de Roda de Conversa se deu a partir da continuidade

dos conhecimentos sobre o território, a partir dos relatos das famílias participantes

do projeto. Assim, o objetivo foi estimular através dos recursos audiovisuais, os

relatos sobre a vida cotidiana para registro da história do povoado. A escassez de

registros documentais sobre o povoado suscitou as rodas de conversa nos

encontros coletivos como técnica na intervenção social.

O primeiro encontro coletivo serviu para após assistirem o filme “Narradores

de Javé” se compreender o quanto é valioso, além do conhecimento da realidade,

poder registra-la como patrimônio coletivo e consolidado de um território (01

encontro) para fortalecer a segunda e terceira estratégia de pesquisa, que foi o uso

de imagens, objetos (01 encontro) e mapeamento de caráter etnográfico (01

encontro) para consolidação do diagnostico territorial.

a) Exibição do filme

Durante a exibição do filme “Narradores de Javé” (2003) direção de Eliane

Caffé, os moradores se mantiveram interessados em contribuir, principalmente pela

dinâmica de integração das atividades desenvolvidas. A narrativa do filme conta a

história dos moradores do vilarejo do Vale de Javé e o temor da população local

diante da iminência da localidade ser alagada com a construção de uma represa.

Na narrativa, a única alternativa para que o fato não acontecesse era provar

às autoridades que a vila possuía um valor histórico a devia ser preservada. No

entanto, conforme o filme, os próprios moradores não tinham registros da historia

local, dos casos contados e repassados culturalmente por gerações. Como desfecho

os acontecimentos “heroicos” foram narrados, e ao mesmo tempo não registrados

pelo relator escolhido pela comunidade. Assim os moradores da vila foram

enganados pelo personagem “Antonio Biá” que não registrou as historias dos

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moradores, e dos personagens grandiosos que habitaram as lembranças daquelas

famílias. Consequentemente os moradores foram realocados e a construção da

represa em vias de ser concretizada.

Durante a exibição do filme (FOTO 22), os moradores se mostraram

encantados com as características dos personagens, pois identificaram-se com os

personagens e as comparações foram inevitáveis. A importância valorada em

relação aos objetos e fatos que representam a memória dos moradores foi

igualmente destacada. A sensibilização se concretizo após o filme (FOTO 23), nos

comentários proferidos pelos moradores. E assim registravam:

“Parece que pegou as histórias da gente e colocaram no filme!” (R. B, 79 anos) “Nossa como é importante saber a historia de onde vivemos, porque outras pessoas da cidade podem valorizar mais a gente” (J.S 59 anos) “Uma história fictícia mais que mostra a importância do povo está unido. A união faz a força” (C.R 60 anos)

FOTO 22 – Exibição de filme. ROCHA, 2017 FOTO 23– Momento de mobilização da comunidade

ROCHA, 2017.

A ação coletiva que envolve o processo de mobilização social começou a ser

desenhado, pois os moradores identificaram a relevância da organização

comunitária. No momento de avaliação sobre a atividade desta oficina foi realizada

com as seguintes perguntas:

Quais os personagens mais interessantes do filme?

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Vocês sabem a história do vilarejo e seu surgimento?

Como poderíamos contar a historia da Passagem com base no que foi

visto no filme?

Por que os moradores do Vale de Javé se mobilizaram?

Qual a importância da historia do lugar?

O que mais revoltou os moradores ao final do filme?

Existe comparação entre a história do personagem Antônio Biá e a do

escritor Herberto Sales?

Em resposta as questões levantadas no grupo, identificou-se que além de

responderem adequadamente sobre as cenas do filme, aproveitaram e fizeram

relação com a realidade local. Ao analisar o território apresentado no filme e o

território atualmente constituído no vilarejo, percebe-se que tanto os moradores,

quanto adultos, quanto os jovens percebem a importância de se buscarem melhorias

à população, a partir do coletivo.

Após consolidar as características dos moradores que se refletem nas ações

coletivas na comunidade – firmando o território Passagem – colocou-se em questão

as narrativas do filme “Narradores de Javé”. Compreendeu-se que os registros

históricos em uma comunidade, bem como a motivação dos seus moradores para as

lutas coletivas fortalece a busca por direitos e maior qualidade de vida. Outro

aspecto relevante foi revelado pelos presentes a respeito da valorização da

identidade e como documentos são valiosos nesse processo. Com o filme

“Narradores de Javé” intencionou sensibilizar as famílias para participar do projeto,

apresentando a importância de um trabalho na vertente de registrar a historia local a

partir das memórias dos moradores locais e posteriormente a organização

comunitária.

Com a sensibilização realizada, em um segundo encontro programado para

o registro das memórias e das historias e transformações do espaço geográfico. a

relação de parentesco no grupo um exercício para fortalecessem os laços familiares

e comunitários. Os moradores lembraram as histórias de infância, as atividades

econômicas e o período escolar e do povoado que tinha várias ruas, casas. A

lembrança foi aguçada, qual puderam refletir sobre o passado da localidade, os

casos dos moradores mais antigos. E relataram:

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“Andaraí, pertencia a Santa Isabel, que é Mucugê hoje, né. Então pessoal quando descia a serra, primeiro passava em Igatu, depois passava na Passagem, aí atravessava a Vitória e ia pra Andaraí. E ficou Passagem porque era a passagem deles pra Andaraí (...) Vinha muita gente de fora trabalhar, de Barra da Estiva, das Minas Gerais então eles vieram a procura do diamante, naquela expectativa de conseguir riqueza das lavras diamantinas. Então na Passagem foi onde alojou o maior número dessas pessoas. Antigamente não tinha ponte tudo era navegável. (M. R, 60 anos)

Esta descrição apresenta o contexto histórico e geográfico, em que o

povoado atraia migrantes para a busca por pedras preciosas. A baixo o relato já traz

um recorte temporal de 50 anos, cuja saga garimpeira estava caracterizada pela

busca por riquezas, nos trabalhos de garimpagem nas margens dos rios e nos

grotões das serras. Outro aspecto ressaltado pelas narrativas é a estratificação

social, formada por garimpeiros, e os donos da produção, que acumulava também

as funções de capangueiro, ou seja os comerciantes das pedras preciosas.

Na Passagem tem um lugar que chama caldeirão, no rio Piabas. Tem mais de cinqüenta anos, no tempo, que meu pai procurava esse caldeirão e nunca encontrou. Era uma gruta, muito funda um labirinto que ele chama, que era um lugar de passar com a barriga arrastando, com o saco nas costas do cascalho. Na frente tinha mais um [garimpeiro] um passava pro outro e mais outro, até chegar em cima no alto. Esse labirinto que é uma gruna era muito estreita e era muito antiga. A procura desse caldeirão que era muito antigo, nunca foi encontrada a riqueza que diz ter lá dentro. O povo diz que é encantado né, que é encantado. Eles trabalhavam arriscando a vida, mas não conseguiram o caldeirão (I. C, 66 anos) O garimpo era o recurso principal daquela época, existiam os capangueiros (compradores de diamantes) e garimpeiros exploradores do minério ... Como se vê ate hoje o garimpeiro é aquele que menos tem ... Muitos moradores muitas ruas. E o Paraguaçu. Que hoje vive depredado era muito bonito com praias limpas e vários peixes ... E se for falar de Passagem... Naquela “época não tinha conforto nem desenvolvimento, mas o povo era muito unido” (V. P, 75 anos) Antigamente navegava tudo de canoa (...) atravessava onde hoje faz o réveillon. Atravessava pela Vitória pra ir a rua. Esse tempo não tinha esse tanto de carro, eram os tropeiros, era tropa de animal, era de jegue, cavalo (I. C, 66 anos)

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Os moradores relembram o garimpo, o comércio de diamantes, a fazenda

Vitória -fazenda que ficava na margem esquerda do rio Paraguaçu, diz-se que o

proprietário desta fazenda também era proprietário das terras que originaram

Passagem. E continuaram a relatar apresentando o quanto o exercício de resgate

das lembranças, em um encontro coletivo pode resultar em produções, legitimadas

pelos sujeitos do processo social no território. E seguem:

Segundo os antigos, Dona Luminata era dona do povoado de Passagem, a fazenda Vitória era dela. Dizendo os antigos que antes dela morrer passou as terras para o Sr. João Socorro (...) restou ainda uma casa (da fazenda) e morava dona Lora. Agente criança, as vezes o pessoal da Passagem ia passar a tarde na casa de dona Lora. (...) E dizendo os antigos, no outro lado da Vitória, quando vinha a procissão da Passagem, passava por aqui também. Teve um período que teve aqui uma enchente e carregou tudo, uma coisa assim inexplicável, as casas, muito gado foi embora nessa época. (J. S 59 anos) Quando eu pra aqui cheguei, Zé Roxo trabalhava garimpo aqui na Vitória. Então eu vinha muito aqui, mas alcancei Sá Lora, Joaninha, Joaquim morando ali né (hoje Hotel Paraguassu). Ai veio um pessoal pra ali, com isso Sá Lora foi embora daí e a Vitória terminou. (...) a Vitória não passou ser deles era de quem chegasse aí. (J.P 80 anos) E descia aí, não era assim nesse tempo. Subia, tinha a usina. A usina acabou, mas ainda tem o lugar. Tinha luz, até na ponte tinha luz. Hoje em dia não tem mais nada né, acabou tudo (R. B, 79 anos) Essa usina que (...) acabou de falar levava energia ate Andaraí amando de seu João Socorro e Andaraí tinha poste de madeira e a luz funcionava até dez horas, muito fraquinha, mais mesmo assim era uma benção. Todo mundo gostava, e vinha aqui do Paraguaçu (J. S, 59 anos)

Essas quatro falas, registram a transformação do espaço geográfico, desde

a apresentação da casa de um coronel e fazendeiro que foi transformada em um

grande hotel da cidade; até a produção de energia em usina própria, hoje

desativada, mas servia a população andaraiense ate os anos de 1970. A observação

do espaço e como este sofreu alterações esta perceptível na apresentação do

território pelos moradores. Sobre a construção de narrativas, FREIXO (2010)

descreve recordações sobre o passado são de fato arcabouços para a análise da

dinâmica das relações sociais que se desenvolveram ao longo do tempo em um

determinado ambiente. Observando outras narrativas puderam ser destacados

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relatos do cotidiano local revisitando com as lembranças individuais, compartilhadas

na coletividade:

A relação entre o cotidiano local descritas do passado eram comparados

com o cotidiano atual, possibilitando perceber as marcas do tempo e a dinâmica

socioespacial. O trabalho com memória retoma as mediações das relações sociais

de forma inseparável, que nas concepções de Lefebvre (2006 apud FREIXO, 2010)

torna-se um aspecto fundamental no fortalecimento dos vínculos sociais de um

grupo.

O saber popular é identificado pelos moradores, quando faziam reflexões em

torno dos elementos da natureza, as transformações que desencadeavam

desequilíbrios ambientais na comunidade, como nos relatos sobre o garimpo.

Relatam principalmente, o rio Paraguaçu e a relação deste ao cotidiano da

população ribeirinha. Assim as famílias foram compreendendo de forma

interpretativa as realidades vivida e as representações do território.

b) Apresentação de fotografias e objetos históricos

Outro recurso utilizado no encontro coletivo com as famílias foi a

apresentação de fotografias, com o objetivo de observar as transformações do

espaço, bem como identificar as relações de pertencimento dos moradores diante do

território (FOTO 24 e 25).

FOTO 24 – Registro das transformações sócio FOTO 25 – Montagem de painel. ROCHA, 2017 espaciais. ROCHA, 2017

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O resultado foi satisfatório pois a partir das imagens, bem como registros

identificaram a necessidade de maior conhecimento sobre o espaço e a relevância

para aplicação dos resultados da oficina na produção do planejamento territorial.

Nesse sentido Relph (apud FONSECA, 2001 p. 98) define que o território pressupõe

familiaridade, envolvimento e experiências diretas. E dessa forma os moradores

decodificaram imagens e relataram os elementos de transformação do espaço

geográfico. A seguir serão apresentadas algumas das imagens utilizadas na oficina.

FOTO 26 – Margens do rio Paraguaçu, pesca-1985 FOTO 27 – Margens do Paraguaçu, banho 2011 Arquivo pessoal. Família ROCHA. ROCHA, 2017

Durante a oficina, observaram varias fotografias (FOTO 26, 27, 28 e 29) e

que os moradores afirmam que o rio está muito diferente, e que o leito ficou

assoreado, depois da enchente do ano de 1991. Conseguiram se sensibilizar diante

da importância de preservação ambiental e valorização do território.

FOTO 28 – lavagem de pratos no rio Paraguaçu, 1985 FOTO 29– Lavagem de roupa no rio Arquivo pessoal. Família ROCHA. 1985 ROCHA, 2011

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As imagens (FOTO 24 e 25) despertaram no grupo recordações o uso

intenso do rio, e que o abastecimento de água em domicilio, vem reduzindo a

frequência de atividades domesticas nas margens do Paraguaçu. Identifica-se que

consequentemente, os turistas utilizam com maior frequência o rio, principalmente

nos finais de semana e feriados, cujo local vem sendo preparando pelo poder

publico com infraestrutura para receber os banhistas.

Outro aspecto do cotidiano lembrado pelos moradores foi a convivência com

a exploração de diamantes. A atividade garimpeira foi uma das principais atividades

econômicas da Chapada Diamantina. Este é fato que une a gênese de migração das

famílias estudadas, quando seus antepassados resolveram morar no povoado

Passagem, comum nas localidades garimpeiras:

Esta atividade foi responsável pela imigração de várias pessoas que vieram trabalhar no garimpo acalentado sonhos de fortuna e sorte. Portanto, a história e a formação econômica desta região está intimamente associada a exploração dilapidadora dos seus recursos naturais, e a ocorrência de significativos fluxos migratórios (BRITO, 2005, p. 83).

No auge do garimpo vinham muitos garimpeiros de outros Estados, gerando

uma intrínseca relação entre o garimpeiro e o comércio da cidade, que fornecia

alimentação em troca de porcentagem do que fosse extraído no trabalho de

garimpagem. “O garimpo representa atividade extrativista altamente atraente,

convergindo um grande número de pessoas para as zonas de garimpagem”

(GANAES, 2006 p. 75). Esta característica foi se perdendo com a decadência do

garimpo.

Durante muitos anos a modalidade de garimpo existente no povoado era o

garimpo artesanal, mais rudimentar; mas nos anos de 1980 duas modalidades

passaram a coexistir no povoado Passagem: a primeira é utilizada técnica

rudimentar, com peneiras e ferramentas manuais (FOTO 30) e a segunda utilizando

máquinas de sucção para produção em grande escala. (FOTO 31).

O garimpo tradicional, sem o uso de maquinas, conhecido na região das

lavras com a denominação de “garimpo de serra”, o qual se utiliza como

instrumentos de trabalho ferramentas rústicas como peneiras, enxadas, bateias

(bacia côncava de madeira) dentre outros. Um processo de garimpagem que se

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mantém como no século XIX, principalmente nas serras, separando cascalhos

manualmente até se encontrar diamantes.

FOTO 30 – Garimpo artesanal e rudimentar FOTO 31 – Garimpo de dragas e maquinário Arquivo pessoal. Familia ROCHA.1985 Arquivo pessoal. Familia ROCHA.1985

Outra modalidade de garimpo é registrada como o garimpo que surge nas

lavras diamantinas na década de 1980 é o garimpo mecanizado denominado de

“draga”, realizada com maior tecnologia, uso de máquinas movidas a motor nos

aluviões e em áreas de deposição de sedimentos, tais como cascalhos. Este

processo de garimpagem utiliza técnicas avançadas com o uso de motores, sucção

de água, abertura de crateras, em um processo que impacta mais intensamente o

solo, o rio (seu desvio) para a procura de diamantes.

Os imigrantes que instalaram tais instrumentos de trabalho nos leitos dos

rios distantes dos terrenos íngremes da serra das Lavras Diamantinas priorizavam

as porções mais planas, nas áreas de aluvião16, principalmente devido a melhores

condições para o acesso e instalação das grandes máquinas, com produção menos

intuitiva, e mais técnica e estudos capazes de localizar pontos de acumulo de

minérios. Mais uma vez a atividade garimpeira entra em conflito, no território.

Os anos de 1980 marcam o momento de transição ou tentativa de uso de

técnicas diferenciadas em um mesmo ambiente, ou seja, FOTOs de garimpo no

trecho de seixos na margem direita do rio Paraguaçu. Com o avanço da tecnologia

os mais jovens não estimularam a realizar o oficio de garimpagem tradicional e

16

Leito dos rios, geralmente em áreas rebaixadas de planícies.

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assim houve ampliação da atividade por meio da dragagem do rio. Pelo relato dos

moradores locais, os garimpeiros tradicionais não se adaptaram as novas técnicas e

instrumentos para o trabalho no garimpo mecanizado. Senna (1993) afirma que com

o tempo o grande capangueiro vai perdendo status para o empresário comercial, ou

ele próprio torna-se intermediário de grandes firmas ou companhias exportadoras.

Estas novas atividades econômicas que chegam a região irão promover algumas modificações na estratificação social destes municípios. Pode-se afirmar que, neste período, o setor dominante é formado por proprietários de terras, herdeiros dos coronéis (...) anteriormente ligados ao comércio de diamantes (BRITO, 2005 p. 95).

Em geral há um direcionamento para a nova atividade surgida e incentivada

a partir dos anos 1980 - turismo nas cidades da Chapada Diamantina. Segundo

Barrozo (2007), a decadência do diamante na Chapada Diamantina, trouxe o êxodo

na Chapada Diamantina e mais recentemente inserção do turismo. Então retrata.

Alguns velhos garimpeiros diziam que, se não acontecesse uma mudança [...] viraria uma cidade fantasma, como as antigas cidades de garimpo da Chapada Diamantina, na Bahia, de onde muitos deles haviam saído, nas décadas de vinte e trinta (BARROZO, 2007 p. 78).

Pelo exposto, a atenção dos moradores a necessidade de se pensar o

território, a partir das aspirações dos membros do grupo, foram reforçadas e de fato

importantes para construção de planos de ação. A intenção e o entendimento de

forma interpretativa da realidade vivida e as representações simbólicas no espaço,

fizeram com que a memória se tornasse relevante para o estudo do território, pois

alcança a construção de identidades, considera a sociedade as transformações nos

espaços de vivências.

Além da apresentação de fotografia, os objetos também serviram de fontes

de pesquisa para representação do território. Quando as visitas iam acontecendo, as

famílias foram apresentando objetos que remetiam a identidade territorial, e a

valorização da cultura local. As imagens remetem as lembranças e como a

comunidade conserva os registros do passado e os matem em domicilio, seja na

ornamentação da casa com os utensílios domésticos, em desuso ou com os quadros

que representam a forte religiosidade presente na comunidade.

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Foram destacadas 06 imagens simbólicas da historia local (FOTO 32 a 37),

para a oficina:

REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS NO TERRITORIO

FOTO 32 – Marcas de ferro, utilizadas para marcar o gado, com símbolo da familia. ROCHA, 2017

FOTO 33– Potes utilizados como reservatório de água, comum no povoado. ROCHA, 2017

FOTO 34 – Objetivos do sincretismo religioso ROCHA, 2017

FOTO 35 – Lampiões a óleo. ROCHA, 2017

FOTO 36 – Retrato de estudantes do povoado, década de 1950. ROCHA, 2017

FOTO 37 – Bebidas feitas com ervas medicinais, utilizadas como remédio. ROCHA, 2017

QUADRO 17 : Símbolos que representam a historia de construção territorial. Rocha, 2017

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Vivenciamos durante as primeiras ações na intervenção, a territorialidade ao

perceber como ela se configura ao relacionarmos as funções de membros na

coletividade, a apropriação e uso da terra, sua organização, e os significados

atribuídos à vida cotidiana. Portanto, justifica-se que a territorialidade construída,

emerge no grupo e perpassam por decisões cotidianas, como define Leda (1993)

c) Cartografia social

As representações territoriais foram desenvolvidas inicialmente com o uso

da cartografia social. Uma estratégia de levantamento de dados sobre a realidade

socioterritorial no qual busca-se identificar elementos que favoreceram a

participação coletiva, os valores formativos do espaço territorial, a identidade

cultural, e as necessidades especificas de seu cotidiano (CAVENAGHI, 2006).

A participação dos moradores se deu a partir dos registros simbólicos para

construção da cartografia local, em momentos distintos do povoado, delimitando

assim o território, a partir da técnica do mapa mental. Para Andrade (2005) o mapa

mental pode ser compreendido como a capacidade de armazenar informações na

mente e expressá-las através de representações cartográficas impregnadas de

lembranças, subsídio para as representações (MAPA 5 e 6)

FOTO 38 – Construção da mapa mental FOTO 38 – Montagem do mapa. Rocha, 2017. ROCHA, 2017

Legenda: (imóveis); (áreas públicas); (igreja)

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133

Foram entregues cartões com figuras geométricas para representar, casas,

terreno baldio, monumentos públicos etc. Nas figuras dos imóveis colocaram o nome

quem morava e assim durante a colagem das figuras, varias histórias iam sendo

contadas. Segundo os moradores o local tinha cerca de 350 pessoas e mais de 70

casas, na década de 1950, e relatam:

Mudou tudo, tinha muita casa (...) tinha a rua da igreja nesse beco, aqui era outra rua, tinha o beco da castanha, e lá de cima da igreja do Rosário (...) a praça toda vida era essa! Antes disso eu não alcancei não! Eu alcancei a balança de pesar (...) tinha escola, tinha farmácia, ali em cima adiante do escritório, era a casa de compadre Arlindão (...) tinha muita gente, muito morador. Não tinha casa derrubada não! Aliás as casas não caíram porque uns moradores ainda ficaram! O pessoal ia pra São Paulo, Minas, pegava tirava as telhas vendiam e as paredes caíam. Depois seu João (prefeito na década de 60) pediu para eles não fazer isso. Senão acabava e esse povoado aqui nosso, nem existiria mais! (F. G, 85 anos)

A memória reflete as lembranças do passado, muitas delas carregadas de

emoção e nostalgia.

As memórias são importantes registros vividos que partem das lembranças e eternizam lugares como referências e cenários para uma constante visita ao passado, trazendo em si, os mais diversos sentimentos documentados e aflorados em narrativas, sonhos e percepções (ANDRADE, 2005)

Contribuindo com as colocações de Andrade (2005), Freire (1980) reforça a

concepção de que a memória se elabora a partir da ausência, e com pé fincado no

presente, assim nesse terreno, há um valor demasiado nas lembranças e mesmo

que aparentemente insignificantes são artigos de valor, considerado como o nosso

mais valioso e invisível patrimônio.

Durante a intervenção alguns momentos e vivências foram registrados pelos

moradores, como o trabalho de planejamento e construção coletiva, após

compreensão dos objetivos da intervenção. A cada época se valoriza o caráter

intencional experiencial e afetivo, pelo qual o indivíduo ou grupo de indivíduos

estabelece laços de identidade com uma porção do espaço. (FONSECA, 2001 p.96).

Dessa forma a vivência cotidiana, com contribuíram para a construção socioespacial

do território.

C

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A sinalização turística não é padronizada tanto pelo poder publico quanto

pelos empreendedores. Foram apresentadas ao grupo de famílias, as placas

presentes no território e seu entono. O objetivo foi identificar a importância em

qualificar os serviços ofertados, iniciando pela divulgação. Esse exercício se deu a

partir da observação das placas de sinalização presentes no entorno da Passagem.

FOTO 39 – Placas de sinalização em inglês. FOTO 40 - Placas de sinalização de atrativos. ROCHA, 2016 ROCHA, 2016

Perceberam que as diferenças de produto, para as variadas demandas de

turistas tanto nacionais quanto internacionais. As placas indicam a preocupação em

divulgar os atrativos existentes, cujos empreendedores da Toca do Morcego

realizam satisfatoriamente a comunicação visual, seguindo padrão internacional

(letreiros em inglês) – (FOTO 39 e 40).

FOTO 41- Sinalização de camping FOTO 42 - Sinalização para serviços de guia Rocha, 2017 Rocha,2017

Observa-se a sinalização de dois serviços: o camping (FOTO 41) e o serviço

de guias e informações (FOTO 42). Ambos criados por empreendedores. A primeira

imagem identifica-se um serviço ainda precário, tanto no espaço, quando na

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divulgação por meio da placa. Já a agencia de guias, apresenta um uma placa de

identificação com maior qualidade. Esse aspecto também observado no diagnóstico.

Para concluir sinalizamos as placas colocadas pela prefeitura (FOTO 43 e 44), com

restrições a fim de se evitar tromba d’agua e na pista de eventos. Uma atenção a um

dos lugares mais visitados pela população - o balneário do Paraguaçu.

FOTO 43 – Placas informativos FOTO 44 – Restrição ao acesso a espaço de eventos . ROCHA, 2016 ROCHA, 2016

Ainda de forma precária, a relação entre o poder e público e

empreendedores poderia ser melhor aproveitada, principalmente com a necessidade

de fortalecer o Conselho de Meio Ambiente, como também de Turismo. O controle

Social, nesse sentido pela distribuição paritária, entre sociedade civil e o poder

publico municipal. Vale ressaltar que o município não tem aprovado a Política

Municipal de Turismo, nem Plano de turismo que possa nortear a gestão dos

territórios turísticos, a fim de impulsionar e difundir as potencialidades para atração

de novos mercados.

Nos encontros reflexão sobre o turismo, diagnosticou-se 03 (três) pontos

fundamentais, durante a segunda etapa do projeto:

a) a comunidade contempla pouco impacto e interferência do turismo de

massa. Em geral são os amigos e familiares dos moradores que

frequentam a comunidade nos finais de semana - período em que há

maior fluxo de pessoas.

b) necessidade de articulação e organização comunitária, que aos poucos

já se mobilizam em criar uma associação de moradores, para conquista

de demandas emergenciais – como o abastecimento de água e pensar

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as consequências da localidade torna-se perímetro urbano (proposta

evidenciada durante os encontros)

c) a ação do poder público nos últimos anos proporcionou a melhoria da

infra estrutura dos espaços públicos;

d) construção de novos imóveis e reforma de outros que estavam em

processo de abandono, inserção das famílias em programas de

habitação do município para financiamento e reforma de imóveis.

Portanto, o potencial investigado e apresentado pelo grupo a categoria que

mais se identifica é a natureza cultural pelos atrativos históricos e arquitetônicos; a

natureza etnológica pelos costumes da comunidade destacada pelas ladainhas e

cantigas locais que retratam a saga do garimpo; a natureza religiosa pelas igrejas e

eventos religiosos e a natureza geográfica pelas belezas naturais (já considerada

como potencial em evidencia). Uma nova perspectiva de valorização dos aspectos

culturais, hábitos e vivencias de uma comunidade.

A motivação para uma viagem turística que agregue o saber popular e

cultural da comunidade ainda precisa ser divulgada, enquanto motivação para um

turismo alternativo, comunitário e de base territorial, apresentado por Seabra (2007),

Rodrigues (1999) e Corioano (2009) cuja premissa é a melhoria da qualidade de

vida da população em áreas que sofreram degradação, e que precisam de

estratégias para mitigação dos impactos socioeconômicos e ambientais, ou ainda,

um turismo cuja própria comunidade organiza, e controlam os arranjos produtivos

com grande interação do turista ao cotidiano.

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5. INVENTÁRIO DA OFERTA TURÍSTICA

“a grandeza de um país não depende da extensão do seu território, mas do caráter de seu povo”

(Golbert)

Durante o período de desenvolvimento da intervenção foram registrados

momentos do cotidiano dos moradores que puderam ser socializados no grupo.

Esse aspecto relacionado ao cotidiano condiz com as características de recursos

presentes no território que podem se tornar atrativos, atualmente configurado como

potencial latente, como os recursos culturais; as belezas naturais já consolidadas, e

consideradas como potencial vivo. Confirma-se, portanto, a definição de Carvalho

(1997) ao caracterizar que o potencial turístico compreende variadas atrações de um

local, tais como a natureza, os valores culturais e a história, que agreguem interesse

para uma visitação, ou seja, um atrativo, importante na produção do espaço turístico

As oficinas para realizar o inventario turistico, seguiu o planejamento do

quadro 18.

NA TELA UM TERRITORIO TURISTICO

TEMA:

Organização comunitária, valorização da natureza e resgate do patrimônio cultural como atratividade turística.

OBJETIVO: Representar o território a partir das suas potencialidades em inventário

AÇÃO REALIZADA

Observação direta, e colaboração dos moradores para construção do inventario turístico.

RECURSOS Fichas de controle, registro fotográfico e diário de campo

IMPACTO DA ATIVIDADE

Destacar os recursos existentes no território, considerados como potencial pelos moradores locais para incremento da atividade turísica

QUADRO 18 – Quadro síntese do roteiro de identificação de potencialidades turísticas. ROCHA, 2017

O turismo é a atividade econômica em potencial na Chapada Diamantina,

pela atratividade dos seus recursos naturais e culturais. Quando os moradores do

povoado foram questionados sobre o turismo, informam não ser uma atividade

consolidada, mas latente e com possibilidade para realização com base territorial.

No diálogo o consenso em não alterar o cotidiano por conta turismo fica claro, mas

também compreendem que impactos positivos ou negativos sempre vão existir

quando se dinamiza ou potencializa uma atividade com viés econômico.

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Compreendem que para o turismo acontecer demanda qualificação desde a

recepção e um conhecimento maior dos atrativos e da sua cultura.

O impasse identificado no território é o conflito existente na concepção do

turismo de massa, em geral proporcionado por empreendedores hoteleiros e a

concepção do turismo de base local a ser organizado pela comunidade. Os

moradores acreditam que falta estruturar a apresentação dos atrativos culturais e

organização de roteiro incluindo os atrativos naturais. Evidente também para os

moradores é o fato da omissão de informações sobre a comunidade como um

atrativo aos turistas tanto pelas pousadas, quanto pelo poder publico. Indagam que a

integração dos aspectos da cultura local podem agregar valor a proposta de turismo

a ser consolidada.

Teoricamente Antunes (1978), segundo a teoria marxista, explica que as

forças materiais de produção da sociedade entram em conflito com as relações de

propriedade, entre as contradições da vida material, pela luta entre forças produtivas

da sociedade e pelas relações de produção.

(...) podemos resumir o conflito social, segundo as palavras de Marx: a produção econômica e a estrutura social que necessariamente decorre dela, constitui em cada época histórica a base histórica, política e intelectual dessa época (...) toda a história tem sido uma historia de lutas de classe, de luta entre classes exploradas e as classes exploradoras, entre as classes dominantes e as classes dominadas nos diferentes estágios de desenvolvimento social (ANTUNES, 1978 p. 17)

Os conflitos e contradições se dão além das relações de produção - esfera

socioeconômica - em torno dos bens e equipamentos de consumo coletivo que

estão circunscritos na esfera da reprodução social, mas também no espaço de forma

geral. O turismo de base territorial, já vem sendo desenvolvido timidamente, notado

o reconhecimento da forma como a comunidade age ao receber o visitante, este é

que se integra aos hábitos e cotidiano, a memória socioespacial e coletiva, nesse

sentido, começando a ser usada como atratividade local.

A cada época se valoriza o caráter intencional experiencial e afetivo, pelo

qual o indivíduo ou grupo de indivíduos estabelece laços de identidade com uma

porção do espaço. (FONSECA, 2001 p.96).

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A oferta de uso público (...) está constituída polo territorio protexido, cos seus atractivos naturais e culturais, máis todas aquelas actividades, servizos e equipamentos que permitan ó visitante coñecer e apreciar tales atractivos (...). Os atractivos naturais do espazoson todos aqueles elementos presentes no mesmo que teñan orixe natural: a xea (formacións xeolóxicas e de relevo), os seres vivos (flora e fauna), as augas (ríos e regatos, lagos e lagoas, o mar), mesmo as condicións climáticas. Os atractivos culturais son tanto manifestacións construídas pola man do ser humano (edificios ou conxuntos de edificios: núcleos de poboación, igrexas, mosteiros, ermidas; infraestruturas de todo tipo: viarias, agrarias, hidráulicas, e un longo etcétera) como manifestacións folclóricas ou etnográficas tanto intanxibles (tradicións, formas de traballo e oficios, costumes, vida cotiá), como tanxibles relacionadas coas anteriores como os apeiros de labranza ou instrumentos propios de certos oficios artesáns (...) A oferta (...) que verse complementada por unha serie de equipamentos, instalacións e servizos que poñan en contacto ó visitante cos recursos naturais e culturais .

Os processos que guiam a sociedade e o território são compreendidos a luz

de Santos (1994; 1996), como a capacidade de agir das pessoas e instituições, em

sua relação com o espaço, os modos de organização da sociedade em variados

momentos históricos.

5.1 ANÁLISE DO TURÍSTICO EM PASSAGEM

O potencial turístico configura-se enquanto atrativos de um espaço

geográfico que pode se utilizado para o lazer, e atrair visitantes. No estudo do

espaço turístico da Passagem observou-se duas segmentações. A primeira

considerada com potencial Vivo destaque para os recursos naturais; e a segunda

segmentação o potencial é latente, presente nos recursos culturais. Articular os dois

elementos em um planejamento para o turismo local, foi o grande desafio, a fim de

montar roteiro que efetivasse a valorização do território e suas características.

Como processo metodológico envolveu mobilização social, a promoção de

reflexões sobre o turismo local se deu informalmente, porém agendados

previamente, compondo a segunda fase do projeto, que objetiva analisar o turismo

realizado no território, apontando os recursos considerados atrativos. O

fortalecimento do grupo foi importante para ampliar os vínculos formadores de

territorialidade.

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FOTO 45 – Atividade por grupo - reflexão sobre o território turístico. Rocha, 2017

Para compreensão sobre a importância da apropriação dos espaços de uso

coletivo, nos reunimos para um encontro no rio Piabas (FOTO 45), outra importante

via de acesso da comunidade e local onde foi muito utilizado pelo garimpo nas

décadas anteriores a proibição da atividade (anos 1990). No momento houve debate

sobre o cuidado que devemos ter com nosso patrimônio, seja material ou imaterial.

Vivenciamos durante as primeiras ações na intervenção, a territorialidade ao

perceber como ela se configura ao relacionarmos as funções de membros na

coletividade, a apropriação e uso da terra, sua organização, e os significados

atribuídos à vida cotidiana (FOTO 46). Portanto, justifica-se que a territorialidade

construída, emerge no grupo e perpassam por decisões cotidianas, como define

Leda (1993).

FOTO 46 - Encontro com moradores para tratar das questões

sobre o turismo comunitário. Rocha, 2017

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A intervenção foi sendo conduzida para que os próprios moradores

apresentassem as atividades cotidianas, eventos e potencialidades do território de

maneira processual. Numa articulação dialógica, para que a proposta fosse

conduzida no sentido do pensamento para produção do espaço turístico e seu

planejamento.

Hoje o turismo é uma atividade incentivada na Chapada Diamantina e vem

se ampliando também no município de Andaraí. Com relação ao povoado

Passagem, os moradores definem a possibilidade de melhoria das condições

sociais, econômicas e ambientais, mas que dependem “dos de fora”. Assim, existe a

preocupação do turismo acontecer de forma massificada, sem compreensão das

especificidades locais, e perder o que têm de mais valioso: a identidade territorial.

Foi identificado que os moradores denominam os turistas como “visitantes”

os que chegam para conhecer o lugar, principalmente quando estes visitantes

participam do cotidiano e vivencias, conforme reatam:

A maioria dos visitantes fala logo que não sabia desse povoado. No São João mesmo sentaram todos aqui debaixo do pau (árvore) mais a agente, oh! Foi uma prosa e tanto, até mais tarde prosando com a gente. Gostei muito do modo delas, né! Quando é no réveillon, chega os ônibus, o pessoal desce, coloca as coisas na pousada, depois vem passear aqui na rua, conhecer o pessoal (...) Se quer falar com a gente, a gente conversa né, mostra a ‘praça’ da gente para eles porque se chegar no lugar e não achar amizade vão falar aquele povo ali não gostei, né! Teve um motorista de Salvador que chegou aqui e falou: moço eu não sabia que aqui era tão gostoso, quando a gente chega da pousada não avisam desse comercinho aqui! (J. P 80 anos) No final do ano tem muita gente, barraca do lado de lá, barraca do lado de cá. Sei que vem uns todo ano, pessoal de Seabra, de Itaberaba, outros de Lençóis. No São João mesmo juntou um grupinho para passar aqui com a gente, não ficaram na pousada não! E ficamos na fogueira comendo amendoim, milho assado, farreando aqui (M. S, 37 anos) As vezes tem turista aí, que chega na pousada quando desce aqui, falam: eu to aí já tem uma semana, e não sabia que tinha esse povoado aqui. O pessoal da pousada não fala. Muitos vem aí e não sabem que existe isso aqui não! Acham que da pousada para lá. Quando descobrem aqui, se encantam por aqui e falam “nossa que lugarzinho bom”! (M. B, 42 anos)

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Comparando as respostas das senhoras e dos mais jovens, percebe-se que

os sentimentos e a identidade esta mais aflorada com os mais velhos. E a opinião

dos jovens é mais restrita. Sobre a possibilidade de receberem turistas, , sentem

dificuldade de visualizar os recursos econômicos; já outros acham que com a

capacitação de guias e o conhecimento da história local, podem melhor estruturar a

atividade e ate mesmo retorno financeiro com o turismo.

Sempre é mainha que recebe o visitante quando chega aqui. Sempre é ela, porque ela fica sempre varrendo a rua aqui, aí o pessoal vem falar com ela (...) as vezes eles querem conhecer algum lugar ai os meninos vão lá e levam (...) quanto os guias da pousada, eles trabalham por lá, a gente não tem contato não, nem ninguém da prefeitura (M. B, 40 anos)

O que eu acho eu acho é o seguinte, tem que capacitar de conhecer vários lugares. No caso o movimento aqui é só no final de ano. Ao invés de chamar alguém de lá (associação de guias) para guiar eles, se tivesse alguém capacitado aqui já ganhava esse dinheiro. Para eles aprenderem e eles mesmos guiarem. Tem as Três Barras, tem a Donana, se eles conhecessem bem, já não precisava chamar outros! Tem tantas plantas e flores bonitas, se eles guiassem já iam mostrando. Tem muita trilha perigosa, então eles precisam ser treinados. (A. V, 35 anos)

Comparando as falas acima, identifica-se a existência mesmo mínima do

processo de turistificação do espaço. Efetiva-se o afastamento das atividades deste

empreendimento e os aspectos socioculturais da comunidade Passagem. Afirmam

também que para exercício profissionalizante na atividade turística precisa de

capacitação para um serviço de qualidade, mas reforçam apoio ainda não existe.

5.1.1 A infra-estrutura de apoio turístico

O Estado, nos últimos anos vem realizando intervenção na Passagem, cuja

ação do poder publico se fez presente por meio da Secretaria de Infraestrutura da

Prefeitura Municipal de Andaraí (FOTO 47 a 50). Foram construídos quiosque e

palco para eventos além do calçamento e construção de banheiros públicos no

povoado. O objetivo foi revitalizar a praça principal da comunidade, realizar coleta

frequente do lixo, e realizar trabalhos de capinação antes inexistente.

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ANTES DA REVITALIZAÇÃO DEPOIS DA REVITALIZAÇÃO

Praça Santo Antônio

FOTO 47 – Praça sem calçamento Arquivo particular. SOUZA- 2011

Praça Santo Antonio

FOTO 48 – Construção de Quiosque Arquivo particular. SOUZA- 2016

Acesso ao rio Paraguaçu, pelo povoado

FOTO 49– Acesso sem capinação. Arquivo particular. SOUZA- 2011

Acesso ao rio e banheiro público

FOTO 50– Construção de banheiro público e melhoria do acesso. Arquivo particular. SOUZA- 2016

Outra estratégia da prefeitura foi organizar o comércio de produtos, como

refeições, que ocorriam nos domicílios, estimulando os moradores a

comercializarem produtos no quiosque, e a receberem visitantes, e ao mesmo tempo

novos moradores se apropriaram do local.

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FOTO 51 – Ponto de apoio do turismo no território. ROCHA, 2016.

A moradores começaram a vender comida caseira, salgados, sucos naturais,

licores, doces e geleias naturais, xarope caseiro, dentre outros atrativos da

gastronomia local. (FOTO 51). Outros equipamentos ligados a infra estrutura é a

Pousada Ecológica (FOTO 52 ), e o restaurante do Malhado (FOTO 53 ), na

margem direita do rio Paraguaçu - o Hotel Paraguaçu e os Espaço de Evento no

Balneário do Paraguaçu (FOTO 54), o Artesanato e Mirante Toca do Morcego

(FOTO 55).

FOTO 52 - Pousada Ecológica. ROCHA, 2017

Possui 130 leitos

Auditório

Parque

Campo de futebol

Restaurante/ bar

Piscina

Loja de conveniência

Serviço de guia turístico

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FOTO 53- Restaurante Malhado Guia. ROCHA, 2017

FOTO 54 – Balneário do Paraguaçu. ROCHA, 2017

FOTO 55 – Toca do Morcego. ROCHA, 2017

Serve comida típica com

especialidade – o tucunaré

Comida caseira

Serviço de guia turístico

Espaço de Eventos

Local do Reivelon das Aguas

02 restaurantes, com especialidade

no churrasco e peixes

Área de lazer

Serviço de guia

Banheiro publico

Fabrica e loja de artesanatos com

destaque a esculturas em pedras e

cristais

Acesso ao Mirante do Poço da

Donana

Cabanas (albergues)

Lanchonete (especialidade açaí e

tapioca)

Estacionamento

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5.1.2 Os atrativos locais

a) Naturais

Na atualidade o povoado é caracterizado por suas belezas naturais,

principalmente por estar próximo a atrativos turísticos, como o rio e o cânion do

Paraguaçu (FOTO 56) e o rio Piabas (FOTO 57). A pratica de esportes (futebol de

areia, a natação, stand up paddle) e a pesca esportiva, vem ampliando as atividades

turísticas no território.

FOTO 56 – Balneário do Paraguaçu. ROCHA 2016

FOTO 57 – Trilha de acesso ao rio Piabas. ROCHA 2016

Rio bastante frequentado por

banhistas

Local propício a realização

piqueniques e acampamento

Possui equipamentos de apoio a

atividade esportiva e alimentação

tanto no Povoado (margem direita),

quanto no espaço de eventos

(margem esquerda), dando suporte

aos visitadores e turistas.

Local de fácil acesso a partir de

trilhas saindo do povoado

As praias extensas e não são

íngremes, utilizadas para pratica de

esportes de aventura e para

caminhadas, principalmente publico

de idosos

Próximo a matas pouco exploradas

Utilizado por banhistas para

piqueniques

As águas percorrem profundidades

rasas, favorável para publico infantil

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FOTO 58 – Cachoeira da D’onana. ROCHA 2016

O espaço de lazer para os moradores é o próprio ambiente (acesso ao rio

para banhos, e as trilhas a algumas cachoeiras (FOTO 58), os piqueniques e

acampamentos sob as arvores da mata e nas proximidades das margens do rio,

atraindo visitantes

b) Culturais

O marco cultural da localidade é a forte influência do Jare - Religião de

matriz africana, típica e exclusiva da Chapada Diamantina (circuito do diamante),

praticas em Lençóis e Andaraí - as rezas, as benzedeiras, uso de ervas para os

remédios caseiros e na culinária.

Os festejos são destaque no território, dentre eles são comemoradas a

Lamentação das Almas (o terno das almas na Semana Santa) a Festa de Santo

Antônio, o retiro da igreja católica no dia da festa de São José, Reza de São Cosme

e São Damião, e Festa de Santa Bárbara.

a) Festejos de São José – ocorre através de retiro na igreja de São José realizado

pela igreja católica no dia 19 de maio (dia de São José). (FOTO 59)

Local de difícil acesso a partir do

Mirante da Toca do Morcego.

As corredeiras da cachoeira da Donana,

atraem os turistas que costumam

escorregar pelas suas águas e

fisiografia imgreme.

Evita-se acesso em períodos de chuva

devido as trombas dagua e risco de

acidentes.

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FOTO 59– Retiro dos católicos. ROCHA, 2017 FOTO 60 – Momento de partilha. ROCHA, 2017

Ocorre uma caminhada da sede do município (cerca de 4 Km) até o

povoado. Durante o dia são realizadas leituras bíblicas, reflexões e partilha.

Momentos de oração e fortalecimento da fé católica.

b) Festa de Santo Antônio – Ocorre do dia 13 de junho, tradição perpetuada pelos

moradores.

FOTO 61-Tradição de montar altar FOTO 62-Tradição da familia de Antonio Pereira ROCHA, 2017 (in memoriam) ROCHA, 2017

Se fazia comum quando as pessoas recebessem o nome de um santo teria

que efetuar a reza do santo protetor. Como os primeiros moradores do povoado

receberam nomes de Antônio, no dia do referido santo, todos os “antonios” se

reuniam e faziam uma festa coletiva. Assim, se perpetuou a tradição de se

comemorar a festa de Santo Antônio da Passagem.

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FOTO 63- Missa campal. ROCHA, 2017 FOTO 64 - Aniversário do morador Antonio de Souza No dia de Santo Antonio. ROCHA, 2017

Após a missa de Santo Antônio na capela do povoado, as famílias que tem

ou já tiveram membros por nome de Antônio, realiza a reza (domicilio) com leitura de

oficio e distribuição de comidas, bebidas e lembrancinhas.

c) Espaço de visitação – símbolos do Jarê

FOTO 65 - Sincretismo no altar “Peji” FOTO 66 – Referencia ao “Jarê” . ROCHA, 2017 Acervo de familia. ROCHA, 2016

O jarê é um segmento da cultura afrodescente que acontece apenas na

Chapada Diamantina. O evento de culminância com danças, e referencia aos orixás.

Varias casas do povoado possuem altares – denominados peji; pois alguns dos

antepassados eram lideres religiosos, e após a morte desses lideres, as famílias

mantem a tradição de conservar o peji. Sendo utilizado como lugar de realização de

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pedidos e de agradecimentos aos santos representados pelo sincretismo religioso.

Dentre os patrimônios arquitetônicos e religiosos estão a igreja de São José e a

Capela de Santo Antônio (FOTO 67 a 68):

Igreja de São José

FOTO 67 – Igreja de São José. ROCHA, 2016

A igreja de São José foi construída na formação do núcleo populacional

decorrente do garimpo, datado aproximadamente do século XIX. Prédio histórico,

que estavam em ruinas e nos anos 2000 uma antiga moradora “Neme”, resolveu

aproveitar a fachada ainda existente e reconstruir o patrimônio. O marco do cruzeiro

faz parte do conjunto arquitetônico. A igreja é aberta para visitação nos festejos de

são Jose em maio.

Capela de Santo Antônio

FOTO 68 – Capela de Santo Antonio. ROCHA, 2016

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151

Por iniciativa popular a capela de Santo Antônio construída pela moradora

“Zizinha” in memoriam, que doou parte do terreno de sua propriedade para erguer a

capela. Segundo moradores achava que um povoado não poderia ficar sem uma

igreja, já que a igreja de São José estava em ruínas. A construção se deu no ano de

1986, em uma procissão de romeiros da sede do município em caminhada até o

povoado. A capela vem sendo cuidada pelos próprios moradores e nos finais de

semana esta aberta a visitação.

Dentre os patrimônios arquitetônicos e históricos do povoado, estão as

ruinas do cemitério, que encontra-se abandonado, e hoje o local encontra-se de

difícil acesso, sendo tomado pela vegetação arbustiva.

c) Síntese do calendário de eventos da localidade (QUADRO 19)

PERIODO EVENTO

Abril Terno das almas

Junho Reza e celebração de Santo Antônio

Agosto Senhor do Bonfim

Setembro São Cosme e São Damião

Dezembro Santa Bárbara e Reveilon

QUADRO 19 - Calendário de eventos. Elaboração. Rocha, 2017

Estas representam o sincretismo religioso presente na historia local. O

acolhimento dos moradores é considerado atrativo pelos que visitam o povoado,

fazendo com que se sintam a vontade.

“Tem uma coisa peculiar aqui, que o próprio povo – as figuras típicas do lugar” (A.S.- Visitante)

“ Gostamos mesmo do aconchego que os moradores tem quando venho aqui na Passagem... me sinto em casa” (F.G. – visitante)

O cuidado e atenção entre moradores, e o relacionamento afetivo entre as

famílias, na qual compartilham momentos bons e ruins da vida cotidiana são

perpetuados. Dessa forma a memória expressada pela vivência cotidiana relaciona-

se a cultura e às tradições, e o compartilhar da sentido ao território.

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152

Fazendo um paralelo as reflexões de SOUZA (1995) a identidade territorial

vai alicerçar a funcionalidade e os papeis definidos a partir das características dos

agentes que ocupam o território, com intencionalidades e interesses coletivos.

Assim, entendeu-se a partir daí, a importância da identidade territorial e dos papeis

que cada família exerce na comunidade, como um arranjo em sistema integrado, no

qual as funções de cada um são compreendidas pelo grupo.

d) Cultura étnica e saber popular

O saber popular é mais um recurso em potencial no território, destacados

pelas mulheres chefes de família:

FOTO 69 – Coleta de ervas medicinais FOTO 70 – Coleta do coco de dendê (azeite) ROCHA, 2017 ROCHA, 2017

As funções que cada uma dessas mulheres exercem no território, são

marcadas pelo respeito e pelo compartilhar solidário (FOTO 69 e 70). A figura

feminina se faz muito presente na comunidade e assim as expressões simbólicas

nas múltiplas relações sociais são preponderantes na afirmação das territorialidades

apresentadas. Revisitando Castells (2010) “as comunidades locais, construídas por

meio da ação coletiva e preservadas, constituem fontes específicas de identidades”.

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FOTO 71 - “Mae” parteira e rezadeira. FOTO 72- “conselheira” e raizeira. ROCHA, 2017

ROCHA, 2017

As imagens representam o respeito as tradições, o respeito das gerações mais

novas, em relação aos velhos (FOTO 71 e 72). Bem como o saber direcionado ao

cotidiano da vida no território, tanto na alimentação (FOTO 73 e 74) quando na

preservação das tradições.

FOTO 73 – Seleção de café, moído artesanalmente. FOTO 74 - Visitante coletando frutas ROCHA, 2017 ROCHA, 2017

As atividades cotidianas chamam atenção dos visitantes em quererem

compartilhar das ações realizadas pelos moradores. A metodologia etnográfica nos

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fez interagir com questões pertinentes ao cotidiano das famílias (FOTO 75 e 76), e a

relação com os visitantes que chegam a Passagem.

FOTO 75 – Registro do cotidiano do território. ROCHA, 2016 FOTO 76 – O cotidiano na lavoura. ROCHA, 2017

Os visitantes em geral costumam vivencias as tarefas domesticas e o

trabalho na coleta de frutas dos pomares do território. Assim fazer parte do dia a dia,

vem atraindo principalmente perfil de turistas da Terceira Idade.

Ao final das oficinas de sensibilização, foi criado o mapa de atratividade dos

equipamentos turísticos no território, concretizando a articulação comunitária. Com a

técnica da cartografia social, houve a sobreposição de imagens de satélite, para

localização dos recursos turísticos (FIGURA 6). Em seguida foi construído um croqui

detalhando através de mapeamento os atrativos, constando tanto os equipamentos

e serviços, a infraestrutura turística de apoio ao turismo e delimitação do patrimônio

natural e cultural. O mapa mental impacta no exercício sobre a memoria coletiva, em

uma atividade que ao se fazer o coletivo.

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155

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6.

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156

6. PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

“Em toda dimensão e territorialidade o Brasil nunca será um só, nunca será só um; será sempre Brasis, convergindo e divergindo do Oiapoque ao Chui do Leste ao Oeste do Norte ao Sul. Sendo sua identidade construída e reafirmada na diversidade e justamente no movimento democrático preestabelecido em decorrência desse embrolho social”

(J.W. Papa)

Nesta última etapa de projeto de intervenção, os esforços foram

direcionados à construção do plano turístico para potencialização do turismo de no

território Passagem - objeto deste projeto. Retomando a base metodológica da

pesquisa ação participante, destaca-se o seu caráter exploratório e a elaboração de

prognósticos diante da realidade interventiva.

A princípio, após estar sistematizado e caracterizado um território pelo

grupo, já ter o (re) conhecimento das potencialidades, dos atrativos e dos serviços

turísticos, foi possível compreender que a comunidade pode gerar atratividade para

turistas no município, porem há necessidade de consolidar as estratégias que

culminam no plano turístico para melhor conduzir as ações estratégicas.

É importante estar claro para o grupo que o plano é um documento

relacionado a um determinado espaço de tempo, que traz uma descrição mais

abrangente das decisões tomadas, abordando temas amplos e integrados ao

objetivo proposto pelo grupo (KUMMER, 2002 p.133). Após consolidar os momentos

de reflexão, se construir planejamento das atividades, identificação, caracterização,

análise e decisão, potencialidades e desejos detectados, tais elementos entraram no

plano de forma mais ampla, no qual poderá elencar em seu conteúdo projetos para

legitimar o proposito da comunidade, quando ambos convergem em um único

objetivo em prol do bem comum.

Antes da consolidação do plano turístico, foram adotados parâmetros

qualitativos para identificar as possibilidades de impacto decorrentes da inserção e

implementação do Plano de Desenvolvimento do Turismo. Assim analisou-se a partir

de indicadores diagnósticos durante o projeto, sinalizando impacto positivo ou

negativo no preenchimento do QUADRO 20:

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DESCRIÇÃO IMPACTO ATENUANTES

Qualidade da água Positivo

Rede de transporte Positivo

Ecossistema Positivo

Terras agrícolas Positivo

Sítios arqueológicos Positivo

Recurso histórico Positivo

Poluição sonora Negativo Proposição de regras para os visitantes com sinalização

Comunidade Etnica Positivo

Uso da energia Positivo

Base tributária Negativo Dialogo com o setor tributário

Visibilidade da comunidade Positivo

Mao de obra Positivo

Custo da terra Negativo Dialogo com especuladores imobiliários

Custo da moradia Negativo Dialogo com especuladores imobiliários

Problemas sociais Negativo Pratica do turismo com capacidade de carga controlada

Atividade econômica Positivo

QUADRO 20 - Impacto do Plano de Desenvolvimento do turismo. Adaptado de Programa Nacional de municipalização do turismo (BRASIL, 1997). ROCHA, 2017

a) Aspectos positivos: com a divulgação e visibilidade com o processo de

turistificação do espaço, existe a tendência de maiores investimentos do

poder publico e da sociedade civil, para que ocorra o abastecimento de água,

manutenção dos serviços públicos (limpeza e coleta), agenciamento do

produto turístico. Outra expectativa é de que patrimônios que estão

abandonados como o cemitério e trilhas dos antigos garimpeiros sejam

revitalizadas; bem como a consolidação da identidade enquanto atrativo. A

partir desses aspectos a atividade econômica do turismo, negociação de

produtos da agricultura familiar, como o escoamento de frutas advindas dos

pomares e hortaliças orgânicas podem gera impacto positivo para sua

produção.

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158

b) Aspectos negativos e atenuantes: ampliando o fluxo de visitantes de maneira

controlada, há de se implantar regras para se evitar o uso abusivo de carros

de som. A pratica do controle da capacidade de carga, pode inibir problemas

sociais . No entanto, ampliando o turismo local, consequentemente pode

aumentar a busca pela especulação imobiliária, aumento de impostos, e

comercialização (venda) de propriedades para visitantes e turistas que se

sentirem atraídos pela vida bucólica do povoado.

É pertinente lembrar a necessidade de um mínimo de organização e

mobilização comunitária para se resolver os problemas a serem elencados e

subsidiar o plano de ação. Os principais entraves à articulação do turismo local

levam a não inserção do território nas rotas turísticas consolidadas. Sem um produto

turístico, e subsídios para facilidades de acesso, serviços adequados e infra-

estrutura básica, torna-se difícil a produção do território turístico.

6.1 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TURISTICO

Para construção do projeto de intervenção houve o cuidado de propor

coletivamente através de reuniões e rodas de conversa a criação princípios e

estratégias que conduzirão a (re)produção do espaço a partir do turismo de base

comunitária.

PRINCIPIOS:

a) Conhecer a história local e sua cultura

b) Criar e/ou fortalecer um grupo que reflita sobre as questões locais

c) Potencializar as identidades territoriais

d) Promover a justiça social e econômica

PESPECTIVA:

a) Prognóstico territorial

b) Roteiro etnográfico (percepção sobre o turismo comunitário de base

territorial)

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“DE MAOS DADAS PARA O FUTURO”

TEMA: Planejar para melhor qualificar a atividade turista

OBJETIVO: Construir ações estratégicas para articulação do potencial turístico, desencadeador do turismo de base comunitária.

AÇÃO REALIZADA

Roda de conversa, execução de oficina temática, apresentação de propostas para montagem do plano de ação sobre o turismo de base territorial.

RECURSOS Maquina fotográfica, Piloto, Papel Metro Branco

IMPACTO DA ATIVIDADE

Montagem de prognóstico para o turismo local e plano turístico

QUADRO 21 – Roteiro para o planejamento do espaço turistico, ROCHA, 2017

Nesta etapa o foco foi iniciar a construção do planejamento estratégico e

operacional, através de cartazes apresentando das fortalezas, fraquezas,

potencialidades e ameaças para o desenvolvimento da atividade turística na

comunidade ao qual definiu o caminho a ser trilhado, para alcançar uma situação

melhor de desenvolvimento do turismo.

No processo de planejamento a estruturação e organização das ações

obedecerão a uma intencionalidade e corresponde ao diagnóstico participativo (DP);

que prevê portanto, a necessidade da comunidade se organizar para ações futuras

(KUMMER, 2007).

Preencheram um quadro em que foram sistematizados passos para o

exercício em grupo. Em geral o processo conduziu a reflexão dos objetivos

propostos. Como produto nesta etapa a construção da síntese do planejamento será

executável conforme a necessidade do grupo. Espera-se que as questões

envolvendo articulação comunitária, ações do Estado (políticas públicas) e questões

sociais sejam discutidas e refletidas no coletivo.

Oficina 1 - apresentação da importância do planejamento turístico,

aspectos conceituais, detalhamento das estratégias locais;

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FOTO 77 - Apresentação da proposta da oficina. ROCHA, 2017 FOTO 78 – Detalhando o objetivo da proposta. ROCHA, 2017 FOTO 79 – Exposição da proposta relacionando ao cotidiano, ROCHA, 2017

As atividades foram alicerçadas pela sensibilização das famílias, na

abordagem integrada das informações, na historicidade dos moradores e

abordagem sobre o cotidiano (FOTO 77 a 79) As atividades propostas direcionaram

a uma possível reflexão e sistematização de informações presentes em cada

encontro ocorrido. Assim, todas as operações mentais desencadeadas durante o

planejamento, estabelecem subsídios para construção do produto final que é o plano

operacional (KUMMER, 2000)

Oficina 2 - construção de instrumentos para avaliação dos recursos enquanto

potencialidade turística;

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FOTO 80, 81 e 82 - Registro das propostas por grupo de trabalho. ROCHA, 2017

Diante dessa atividade, vale ressaltar que desde o cumprimento das

primeiras oficinas, as devolutivas da comunidade e a discussão dos dados já se

configuraram como um processo participativo (FOTO 80 A 82). No entanto, o

planejamento é um momento sistemático de decisão e divisão de tarefas; deve ser

adaptado ao contexto do grupo, tornando um momento de aprendizagem e

autocritica (COELHO, 2005 p.102).

Oficina 3 - delimitação do prognóstico identificado por representantes dos

segmentos de artesãos, guias, proprietários de bares, restaurantes e visitantes

(FOT0 83)

FOTO 83 - Grupo de visitantes. Rocha, 2017

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Assim, após a roda de palestras, o grupo refletiu sobre os conhecimentos

socializados e em seguida completaram o quadro com as propostas em que serão

sistematizados passos para o exercício em grupo. A construção da síntese do

planejamento será executável conforme a necessidade do grupo. Espera-se que as

questões envolvendo articulação comunitária, ações do Estado (políticas públicas) e

questões sociais sejam discutidas e refletidas no coletivo, em um processo que não

se torna conclusivo com a intervenção supracitada.

O resultado das oficina sobre ao fortalezas e fragilidades enfrentadas pelos

moradores diante do turismo (QUADRO 22 ).

FRAQUEZA

Não valorização do povoado pela população do município

Infraestrutura precária (abastecimento, sinalização)

Divulgação inexistente Pouca organização dos comerciantes

locais

OPORTUNIDADES Acolhimento Hospitalidade Culinária Figuras típicas Bons casos Amizade Natureza

FORÇA Aconchego Sossego Tranquilidade Paz Interação dos visitantes com os

moradores

AMEAÇAS Falta de interesse e organização no local Comunicação e divulgação dos

empresários do ramo turístico Não articulação do poder público e

comunidade

QUADRO 22 - Síntese fortalezas e fragilidades do território . Rocha, 2017

6.1.1 Qualificação dos recursos

Apresentação das fichas de trabalho aplicadas aos participantes do projeto,

conforme inventário das potencialidades turísticas foi consolidado no QUADRO 23:

QUALIFICAÇÃO DOS RECURSOS

DESCRIÇÃO A B C D E F G H I J K L M N O

1.Herança cultural

1.1 Locais B B F F M M M F B M M B M B F

1.2 Construções B B F F F F F F B F B F M F F

1.3 Entorno B B B B F F B B B B B B B B B

1.4 Monumentos B B B - - - - B B - - F F - -

2 Caraterísticas Naturais

2.1 Clima B - - - - - - - - - - - - - -

2.2 Paisagem B - - - - F - - - - - - - - -

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163

2.3 Topografia B - - - - F - - - - - - - - -

2.4 Cachoeiras B - - - - F - - - - - - - - -

2.5 Rios B - - - - F - - - - - - - - -

2.6 Vegetação B - - - - F - - - - - - - - -

2.7 Lagos M - - - - M - - - - - - - - -

2.8 Vistas/ Mirantes B - - - - F - - - - - - - - -

3 Áreas de Recreação

3.1 Parque B B B B F F B B B B B B - B B

3.2 Clube B B B B F F B B B B B B - B B

3.3 Camping F B B B F F B B B B B B - B B

3.4 Área para piquenique B B B B F F B B B B B B - B B

3.5 Quadra B B B B F F B B B B B B - B B

3.6 Piscina B B B B F F B B B B B B - B B

3.7 Parque Temático - - - - - - - - - - - - - - -

4. Atividades Cotidianas

4.1 Comércio B B B M F M M M B F B M F F F

4.2 Recreação/ lazer F B M F F B F F B F B F F F F

4.3 Religiosidade B B B - B F F F B F B F F F F

4.4 Gastronomia B B M B - B M F B M M M F F M

5 Eventos Especiais

5.1 Festivais B B B B B B B B B M M B F B F

5.2 Festas religiosas B B B B - B B B B F B F F B B

5.3 Feriados B B M M M F M M B M B B F B F

5.4 Feiras - - - - - - - - - - - - - - -

5.5 Seminários, afins - - - - - - - - - - - - - - -

5. Atrações Étnicas

5.1 Atrações étnicas - - - - - - - - - - - - - - -

5.2 Artesanato - - - - - - - - - - - - - - -

5.3 Estilo de Vida B B - F - F F M B F B F F F F

5.4 Formas de Trabalho F B F - - F F F F F M F F F F

5.4 Manifestações Culturais

F - - - - F - F M F M F F F F

5.5 Gastronomia B B M B - B M F B M M M F F M

6 Atrações Culturais

6.1 Teatro - - - - - - - - - - - - - - -

6.2 Museus - - - - - - - - - - - - - - -

6.3 Centros Culturais - - - - - - - - - - - - - - -

6.4 Galeria de Arte - - - - - - - - - - - - - - -

QUADRO 23 - Qualificação dos recursos no território. ROCHA, 2017

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VALORES QUALITATIVOS: Bom (B) Médio (M) Fraco (F)

LEGENDA: A – Dimensão F – Impacto Social K – Adaptação Mercado B – Localização G – Impacto Econômico L – Nivel de Utilização C – Tipos de Instalação H – Nível de Desenvolvimento M – Adaptação Política D – Qualidade Profissional I – Potencial de Desenvolv. N – Capacidade de Carga E – Impacto Ambiental J – Adaptação Mercado O– Potencial de competitividade

Avaliação da qualificação dos recursos

Os recursos referem-se aos aspetos naturais, culturais, aspetos do cotidiano

presentes no território, com potencial de se tornar atrativo turístico se forem

utilizados para motivar visitação da população através do turismo. Por ser

considerado recurso potencial, alguns deles ainda não estão consolidados como

atrativo ligado ao setor do turismo. O reconhecimento só consolidará se for

incentivado, e compor uma rede com roteiro bem definidos. Assim foi analisado a

principio a realidade socioeconômica das famílias participantes no projeto.

A relação do turismo com a ocupação dos moradores no mercado de

trabalho, ainda é mínima, como aparece na caracterização do mercado de trabalho

(GRÁFICO 1):

GRÁFICO 1 – Ocupação dos moradores no mercado de trabalho. Pesquisa de Campo. ROCHA, 2017.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Ocupação no Mercado de Trabalho

Programa Social

Aposentadoria

Empreendedor turístico

Trabalhador formal

Trabalhador formal(turismo)

Desempregado

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165

Observou-se que dentre as 10 famílias pesquisadas, apenas 02 moradores

do povoado trabalham no ramo do turismo, 01 como empreendedor e outro como

trabalhador formal no ramo, na atividade de garçom em pousada. Destacando que o

turismo não é a única fonte de renda para a população residente. O turismo é uma

possibilidade de diversificar a economia e suplementar a renda dos moradores. Em

relação ao morador que está desempregado realiza trabalho informal relacionado ao

turismo, mas não possui mão de obra qualificada para o setor. Observou-se também

que os moradores não possuem formação profissional ligada ao turismo.

Os investimentos estão em expansão no território, surgindo serviços como

guias locais, restaurantes com características peculiares ao território, serviço de

aluguel de barcos, pranchas para prática de esportes náuticos, a nível de

investimento privado; quanto aos investimentos públicos, houve a inclusão do

povoado no calendário de eventos do município para 2018, denominado “Som de

Passagem” com o objetivo de realizar shows durante o ano; além dos investindos já

consolidados com o Reveillon das Águas, no balneário do rio Paraguaçu, que

indiretamente impacta com aumento de visitantes na Passagem.

Os eventos religiosos também conseguem atrair visitantes ao povoado. As

atividades culturais são expressivas e podem atrair a própria comunidade que

apoiara o desenvolvimento da área turística como forma de beneficiar-se com a

ampliação das expressões da cultura.

Durante maior parte do ano o fluxo da economia ligada ao turismo é baixa,

sendo que o movimento se intensifica durante o evento do Reveillon, toda a rede

turística do município é impactada com volume nos negócios. Os festejos religiosos

que ocorrem 04 vezes ao ano (lamentação das almas, são Jose, santo Antônio, são

Cosme e Damiao), associam a parceria com a igreja católica – festas sagradas!

As caraterísticas espaciais da Passagem é de um povoado composto por

duas praças e vielas. A vida social dos moradores e visitantes restringem a praça

principal - Santo Antônio, onde possui uma capela e um quiosque (bar e restaurante)

que atraem pessoas ao convívio social. O patrimônio arquitetônico se configura pela

existência de casas seculares, cuja falta de conservação dos imóveis, geram estado

de degradação. Portanto, o processo de revitalização possibilitaria maior condição

de receptividade e atratividade ao local.

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O acesso a alguns atrativos naturais precisam de limpeza, e os órgãos

municipais devem ser mobilizados para uma ação imediata, pois os resultados

possibilitara embelezamento das vias de acesso ao povoado, benefícios a

autoestima da comunidade, consequentemente estimulo ao turismo. A atividade

recreativa de uma única natureza, o visitante gosta de frequentar o povoado

pensando em um ambiente de convivência comunitária, de aconchego e

tranquilidade. No entanto por não possuir um inventario turístico ainda legitimado, há

pouca expressividade de visitas as trilhas do povoado.

Considerando as características naturais, a riqueza ambiental está bem

preservada pelos moradores e visitantes; ressalta-se no entanto, os lagos que

foram criados em decorrência da extração de diamantes onde ficaram enormes

crateras que ao longo do tempo formaram lagunas, e são utilizadas pela população,

como grandes reservatórios de deposição hídrica. A paisagem natural são bem

exploradas por guias turísticos e por hospedes dos hotéis do entorno.

As áreas de recreação avaliadas favorecem as atividades esportivas ligadas

ao ecoturismo, e uso dos recursos naturais, a exemplo das margens dos rios, e mata

ciliar são utilizadas para piqueniques e acampamentos. Empreendedores ofertam

nas pousadas e hotéis do entorno, espaços de lazer internos dos empreendimentos,

estando em boa conservação e oferecendo monitoramento dos profissionais da rede

hoteleira para uso de piscina, quadra, clube, espaço para evento.

Quanto aos recursos de herança cultural, merecem destaque a dimensão e

valores culturais historicamente comprovados no território, bem como o potencial de

desenvolvimento que existe e precisa ser divulgado como atrativo. Por enquanto, a

capacidade de carga esta controlada, pois ainda não é um destino turístico. Há

necessidade de investimento em pessoal, qualidade para expor a herança cultural

existente. Destinos já consolidados como o distrito de Igatu e o Vale do Patí, são

referencias na Chapada Diamantina, associando os atrativos naturais aos culturais

(historia local), dos tropeiros e garimpeiros.

No entanto as atividades cotidianas merecem um destaque maior na

avaliação da qualidade dos recursos, pois embora latente, ainda não foi identificada

a apropriação dos recursos étnicos e culturais existentes por parte das famílias

pesquisadas. A exemplo existem no território ainda em evidencia a presença das

idosas benzedeiras, da visitação a pomares e coleta de frutos pelos visitantes,

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exposição da historia do garimpo, acervo fotográfico (capela de Santo Antônio),

produção de farinha, remédios caseiros a partir de plantas medicinais ou feitura do

azeite de dendê são expressões da cultura local, evidenciada no território e com

grande potencial. Merecem incentivo e qualificação na exposição desses atrativos,

agregando valor ao produto turístico do território.

As atividades cotidianas desenvolvidas no comercio e nos negócios do

povoado, ainda são incipientes. Ampliou-se o ramo imobiliário e se serviços, porém

de maneira esporádica sem investimentos no setor, ou qualificação da mão de obra.

Os recursos gastronômicos, já vem se consolidando com a comida caseira a base

de galinha caipira e peixe (tucunaré) assados, bem procurados pelos visitantes. Uma

caraterística diferenciada é a possibilidade do visitante levar petiscos, ou

carnes/peixes para serem assados no quiosque localizado na praça Santo Antonio,

onde são ofertados churrasqueira pública.

Ainda sobre as atividades cotidianas a religiosidade é marcante, pois o

povoado já foi local de realização do Jarê, expressão cultural típica da Chapada

Diamantina, com forte influência da cultura dos escravos que vieram trabalhar

garimpo nos primórdios da historia da Chapada Diamantina, o sincretismo religioso

se fortaleceu nesse contexto. Existe espaços que são utilizados para visitação do

publico, onde símbolos do Jarê são ainda conservados, recurso este pouco

divulgado, cujas visitas são esporádicas nesse espaço sagrado. As manifestações

artísticas e culturais são incipientes, se consolidando o grupo chamado Terno de

lamentação das Almas (existente também na sede e no distrito de Igatu). O grupo se

apresenta no período da quaresma, mas os mesmos componentes realizam as

rezas de oficio uma vez por mês nas casas dos moradores, uma atividade cotidiana

no território.

Diante das questões observadas, os recursos naturais são favoráveis para a

pratica do turismo, pois exige baixo custo e necessidade de guias treinados para

acompanhar o turista nas trilhas e na visitação dos pontos em potencial. No entanto

os recursos culturais, étnicos e as atividades cotidianas, embora existam no

território, é um recurso ainda latente e em potencial no ramo do turismo no

município.

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6.1.2 Fatores de infraestrutura turística

Na identificação da infraestrutura básica e turística foram analisados

aspectos referentes aos serviços, equipamentos e apoio do poder publico a

implementação da atividade turística. O QUADRO 24 aparece em detalhes a

abordagem relacionada ao apoio para o desenvolvimento do turismo, a partir de

avaliação técnica.

FATORES DE INFRA ESTRUTURA TURISTICA

DESCRIÇÃO A B C D E F G H I J K L M N O

1.Rede turística

1.1 Hotel B B B B F F M B B B B M M B M

1.2 Pousada B B B B M M M B B B B B B B B

1.3 Restaurante A B B B B F F F M B B B B M B B

1.4 Restaurante B B B F M F F M M B M B M M B M

1.5 BAR A B B B M F B B B B M B B M B M

1.6 BAR B B B B M F B B B B B B B B B B

1.7 BAR C B B B M F B B B B B B B B B B

1.8 Área Camping B B F F B F F F M M B F F F F

1.9 Albergue B B F F B F F F M M B F F F F

2. Estrutura Básica

2.1 Fornecimento de agua M B F - M M F F F F M F F - F

2.2 Coleta de Lixo B B B B F M F B B B B B B B B

2.3 Transporte M M M - - M M M M M M M M M M

2.4 Sistema viário B B B - - - B B B B B B B B B

2.5 Agenciamento F F F M - - - F F F F F F F F

2.6 Estacionamento B B B F - - M F B B B F F B B

2.7 Limpeza urbana B B B B B B B B B B B B B B B

2.8 Tratamento do esgoto - - - - - - - - - - - - - - -

2.9 Telecomunicações B B B B - - - B B B B B B B B

2.10 Rede elétrica B B B B - - - B B B B B B B B

QUADRO 24 - Fatores da infraestrutura turística. ROCHA, 2017

a) Avaliação da infra estrutura turística

A rede de infraestrutura turística foi impulsionada pela ação do Estado através

do governo municipal com investimentos na construção e revitalização de

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equipamentos no povoado e entorno ocorridos no ano de 2014. Com a revitalização

do espaço de eventos no Balneário do Paraguaçu, construção de bares; bem como

a revitalização da praça e construção de um quiosque, e banheiros públicos na

Passagem, houve incentivo para o desenvolvimento do turismo quando estes

equipamentos foram instalados.

Dos 08 equipamentos existentes, apenas 02 existiam antes do processo de

revitalização promovido pela prefeitura. Destaque aos empreendimentos que foram

instalados após o processo de revitalização (GRÁFICO 2):

GRÁFICO 2 - Infraestrutura turística. ROCHA, 2017

A oferta de serviços que vem se consolidando esta no equipamento turístico:

quiosque (bar e restaurante) da praça principal, nos finais de semana e feriados, é

bem frequentado pela população da cidade, para apreciar a comida caseira e doces

artesanais. Um local tranquilo, com movimento controlado de visitantes, e ambiente

aconchegante. A qualificação dos moradores que vivem do comercio turístico,

precisa ser efetivada para promover maior qualidade no atendimento aos visitante,

na oferta de produtos, para competir no mercado turismo.

A infraestrutura para receber o turista, também precisa de maior qualificação.

A cessão de imóveis (alugados por temporada), ou quartos nas casas dos

moradores utilizados para pernoite de turísticas, devem ser planejados para esse

fim. A comercialização de espaço para camping, por exemplo, deve ser ofertada

com apoio de cozinha e banheiro coletivo, não apenas como local para montagem

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

Infra estrutura

hotel

pousada

bar

camping

alberg

loja

restaurante

agencia-guia

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170

de barracas, o que torna o serviço desqualificado quando não há investimentos e

visão empreendedora.

Os serviços públicos de abastecimento de água e tratamento de esgoto são

inexistentes; o abastecimento de energia, e coleta de lixo existe de maneira

satisfatória. O transporte ocorre com ônibus escolar para os alunos que deslocam

para estudar na cidade; outra forma de deslocamento é através de taxi e mototaxi.

O agenciamento e pontos de informação é precário, ficando a cargo dos

proprietários dos equipamentos de infra-estrutura (bar, hotéis etc) fornecerem

informações aos visitantes e contratação de guias locais. O estacionamento

existente nas pousadas, restaurantes e praças públicas são satisfatórios para a

capacidade de visitantes existentes. Alertamos o cuidado com o banheiro público, a

limpeza da praça e estacionamento do povoado é voluntária, realizada pelos

moradores. A rede de comunicação ocorre através do acesso a internet e linhas de

celular, acessíveis ao visitante.

6.2 PROGNÓSTICO TERRITORIAL

A perspectiva da formação de um grupo para refletir sobre o turismo,

proporcionou descobertas, entusiasmo coletivo em torno do bem comum,

valorização da cultura e ambiente. Não há receitas prontas para se trabalhar com a

pesquisa ação participante através de uma intervenção social, desde a condução do

planejamento das atividades ao desencadeamento das ações efetivadas e sua

continuidade.

Uma intervenção social no contexto da ação participante que resultou em

várias lições aprendidas. No contexto do povoado Passagem, pensar de forma mais

efetiva o turismo local pelos moradores iniciou quando o poder publico iniciou as

primeiras intervenções, a partir da melhoria da infra estrutura básica (em 2010). Das

10 famílias inicialmente integrantes do projeto, ao final já se consolidou cerca de 55

pessoas que influenciam diretamente nas relações sociais do território.

Portanto, cabe neste momento analisar o projeto com base nos indicadores

enquanto um instrumento de mediação usado para indicar mudanças na realidade

social que se interessa, ou seja, apresenta evidencias concretas do andamento das

atividades, o alcance dos resultados e a realização dos objetivos propostos

(ARMANI, 2002).

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O resultado da consolidação do projeto de intervenção pode ser

comprovado com o fortalecimento da organização comunitária objeto do primeiro

projeto de intervenção. A união do grupo e colaboração durante as atividades

elencadas na intervenção social, se perpetuou. A mobilização da sociedade como

princípio básico norteador das atividades, conduziu a maior participação, ao

incentivo e a demonstração dos resultados processualmente.

Avaliando o grupo de trabalho pode-se observar a valorização as

territorialidades construídas que também se transformam com o tempo, é pensar na

relação espaço-tempo, na relação identidade-território, na relação presente e futuro;

no embate contraditório da sociedade capitalista. A perspectiva é socialização de um

processo em que se transformam reciprocamente os sujeitos agentes do trabalho,

bem como os agentes multiplicadores das ações coletivas. O turismo de base local,

uma vez que, os moradores ainda detêm o controle da infra-estrutura e serviços

ofertados aos turistas, diante da demanda que surge na localidade.

Oficina 4 - fortalecimento de parcerias, elaboração do planejamento com a

divulgação das ações operacionalizadas e avaliação do projeto de intervenção.

De forma didática e contextualizada, mais importante que utilizar as

nomeclaturas ou conceitos, para o crescimento coletivo do grupo, o mais importante

foi compreender o significado do autoconhecimento no cotidiano dos moradores,

pensando nas crianças, nos adultos, nos idosos, nos visitantes que estavam juntos

na intervenção, ou seja, todo o contexto de mobilização social.

A cada encontro identificou-se o protagonismo das famílias, no

planejamento de ações. Assim o papel da mediação foi importante para conduzir as

estratégias de formação do coletivo e o fortalecimento da identidade territorial. No

final dos encontros a pauta do próximo encontro era discutida e as sugestões da

comunidade apresentadas.

A participação foi importante nas intervenções, com diálogo permanente, e

neste projeto em especial, no registro dos fatos da memória das pessoas, nos

produtos como os croquis, os cartazes, a base FOTOgráfica, o resgate das cantigas

de roda, ladainhas e brincadeiras da infância importantes no processo, para efetiva

compreensão do valor aos momentos passados permeado de subjetividade.

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O compartilhamento nas relações de poder, importante na divisão de tarefas

e responsabilidades foi assumido pelo grupo. Ficou claro que o planejamento se

adéqua a realidade e contextos sociais, diante das necessidades dos sujeitos

envolvidos no processo (QUADRO 25). As diversificadas faixas etárias conduziram

diálogos produtivos e geracionais de respeito e parceria.

CONCEITO PARÂMETRO INDICADORES

Identidade territorial

Relação de pertencimento socioespacial e valorização das características subjetivas e objetivas suas mais diversas manifestações no fortalecimento do grupo

Contextualização do conceito pelos moradores, execução dos festejos populares, brincadeiras, ladainhas e hábitos coletivos resgatados pelos moradores Troca de conhecimentos sobre o as tradições e a historia local. Possibilidade de dialogar sobre a história local e sua opulência no passado

Memória

Construção da história local, as lembranças do povoado, para reflexão do contexto atual.

Construção de novos conhecimentos sobre a comunidade ; Participação popular; Protagonismo do grupo; Mobilização dos moradores para participação intergeracional.

Turismo

Respeito a realidade socioespacial, a cultura e os diferenciados saberes sobre a comunidade, na perspectiva de ações coletivas, e ações proativas relacionadas a sustentabilidade do turismo.

Ser representativo dos interesses da comunidade; Permitir mediações periódicas em torno do território turístico ( oferta de serviços e produto) ; Exercício do diálogo, tomadas de decisões coletivamente; Protagonismo das famílias no planejamento de ações na intervenção

Planejamento Atividade que antecede uma ação concreta, em um processo dinâmico, passivo de revisão e sistematização para alcançar os objetivos propostos.

Planejamento territorial remete a organização do espaço, formação de parcerias e legitimação da sociedade, torna-se um instrumento político de articulação social e por esse motivo conflitante.

QUADRO 25 - Parâmetros e indicadores conceituais. ROCHA, 2017

Avaliando o desempenho do projeto, compreendeu-se que a proposta foi

reconduzida comunitária e a segunda mais propositiva sendo, portanto, necessário a

interação com variados agentes e interesses. Para Silveira (2010),

Pressupostos nos ajudam a apreender que, nesse novo momento histórico, possuir uma identidade não mais significa inserir-se primordialmente em um núcleo imutável e atemporal que liga o passado ao presente, e este ao futuro, em uma linha ininterrupta forjada pelo apego à tradição ou por uma suposta fidelidade às origens. É, antes, a consciência e a possibilidade de se abarcar, o

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mais amplamente possível, o jogo de semelhanças e diferenças presentes. (SILVEIRA, 2010, p. 87)

O fortalecimento da identidade territorial, e os vínculos comunitários

estabeleceram relação de confiança no projeto de intervenção, destacando que nos

projetos comunitários, nos estudos sobre desenvolvimento local sustentável,

(...) a forma de propiciar a participação e a intensidade com que esta ocorre dependem da cultura e do momento político de cada território. Assim, em relação à sociedade envolvida, não há receitas gerais para organizá-la, dimensioná-la, promovê-la. A participação real, efetiva, envolvendo um conjunto de atores sociais, é um processo complexo, demorado e que exige amadurecimento (...) um investimento político para formação de cidadania, capital social, de empoderamento dos atores sociais e da legitimidade das ações futuras (MIRANDA, 2002 p. 39)

Esboçando indicadores envolvendo metas e avaliação, o produto de uma

intervenção não é simplesmente relatar resultados, mas elaborar planos de

contingência através de indicadores. O projeto construído a partir de aspirações do

coletivo conduziu a se efetivar com maior autonomia e empoderamento do grupo no

território. A cada encontro identificou-se o protagonismo das famílias, a mediação de

conflitos ora existentes, sendo importantes para conduzir as estratégias para

consolidação do Plano para o turismo. Para Miranda (2002),

o certo é que não há receitas nem propostas prontas que assegurem

o protagonismo das comunidades nos processos de planejamento do desenvolvimento, uma vez que a realidade local será, sempre, o grande referencial que delineará limites e possibilidades de participação.

Após uma intervenção processual, ao longo de dois anos de trabalho, cabe o

seguinte recorte, que consolida o resultado efetivo e positivo da proposta efetivada

na comunidade, conforme a fala de uma das moradoras:

“Todo mundo que chega aqui em época de festa ficam admirados com a nossa união, porque a gente faz tudo é no meio da rua, junta todo mundo pra participar, não tem essa coisa de cada um no seu lugar não! Tem muito hotel, pousada que é muito chique, mas tem gente que não quer “chiquesa” não! E vem ficar aqui” (M.B 39 anos)

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Para elaboração dos indicadores e responsabilidades conforme metas

estabelecidas, após compreensão dos conceitos adquiridos sobre o tema, avaliou-se

ser relevante investir no turismo comunitário de base comunitária, principalmente por

aflorar nos moradores do povoado o sentido de pertença, auto estima e terem

iniciado o dialogo com demais agentes sociais na consolidação de um território

turístico. O projeto a partir da viabilidade junto aos entes relacionados como

parceiros: comunidade, empreendedores, o poder publico, foram assim avaliados

(QUADRO 26).

INDICADORES DE ACOMPANHAMENTO E DE DESEMPENHO

Construção de conhecimento sobre o turismo, diante da participação territorial e protagonismo do grupo;

Compreensão dos objetivos em conjunto;

Ser representativo dos interesses territoriais;

Mediações periódicas em torno do turismo;

Ampliação do nível de conhecimento sobre implicações e decisões tomadas coletivamente;

Grau de autonomia e participação do grupo

Número de participantes regulares

QUADRO 26 – Indicadores de viabilidade do projeto de intervenção. ROCHA, 2017

É importante destacar que nesse momento os indicadores dão evidencias

das mudanças processuais ocorridas no grupo, de forma coletiva, e assim foi capaz

de fornecer indicações para evolução do processo. Seguindo o critério e cenário da

identidade territorial, foi apresentado no Plano (prognostico e estratégias para o

turismo de base territorial) a necessidade de potencialização e a identificação dos

atrativos turísticos, com base nas premissas do turismo comunitário. Considerando o

desenvolvimento de um Plano de Turismo há de se pensar em alguns aspectos

pontuais mais relevantes para se propor estratégias de desenvolvimento turístico,

com base na sustentabilidade local, tais como;

a) Recursos naturais – por estar bem próximo a uma unidade de

conservação, os recursos vem sendo preservados, embora não haja influencia de

ações efetivas da população do povoado;

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b) População Sazonal – as pessoas do território não foram preparadas

para recepção de turistas os períodos de grande fluxo, ainda mantem uma vida

cotidiana, sem o foco na atividade turística;

c) A mão-de-obra – não há especialização da mão-de-obra, ou

treinamento especifico para produção de um roteiro, caso o visitante resolva

permanecer no povoado e realizar atividades de lazer;

d) Valores culturais – o cotidiano ainda permanece equilibrado, sem a

interferência de outras culturas ou sua massificação;

e) Qualidade de vida – como a população não vive exclusivamente dos

recursos provenientes do turismo, a renda que possuem de

aposentadorias e emprego pela iniciativa privada, proporcionam uma

qualidade de vida à população;

f) Geração de emprego – devido o processo de turistificação do espaço

ainda ser incipiente, ainda não existe o foco na geração de emprego em

decorrência do turismo.

6.3 CONSTRUÇÃO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS

O protagonismo das famílias conduziu a encontros que não tinha

obrigatoriamente a participação do pesquisador, como os registros dos festejos e

rezas, os aniversários comemorados, os batizados, a pintura da igreja.

Comprovando que tinham autonomia do propósito de juntos, a criação da

associação de moradores, a organização para obtenção do abastecimento de agua

nas residências, e de forma articulada realizarem ações que proporcionaram o bem

coletivo e desenvolvimento da comunidade.

Através do mapeamento da percepção dos moradores diante da questão do

turismo, elaborou-se o prognóstico pelo grupo, e as estratégias de sustentabilidade

da infra-estrutura básica e turística para o desenvolvimento do turismo de base local

no território (Quadro 27 ):

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PROBLEMAS PROPOSTA ESTRATÉGIAS/ PROPOSIÇÕES

RESPONSABILIDADE

Abastecimento de água precário

Sistema de abastecimento local

Implementação de caixa comunitária – perfuração de poço ou encanação via Mananciais

Parceria: Prefeitura municipal

Saneamento básico inexistente

Plano de gerenciamento dos resíduos sólidos

Processo de coleta seletiva

Aquisição pelos empreendimentos de cotenier com capacidade para 2,5 m³ a 3,0 m³. Este recipiente possui a vantagem de acondicionar volumes de lixo, ter maior resistência e de fácil estacionamento na fonte geradora (BRASIL, 2009) Coleta seletiva para posterior acondicionamento de resíduos, ex.: latas (cerveja/refrigerante) a serem selecionadas e vendidas pelos moradores (pratica já existente). Incentivo a educação ambiental

Parceria: Hotel e pousadas

Acúmulo de resíduos sólidos nos becos

Reutilização e reciclagem dos resíduos domésticos

Oficina de sabão com o descarte do óleo doméstico (prática já existente)

Continuidade da coleta de embalagens (café, salgadinho etc.) para artesanato

Curso de confecção de composteira comunitária (resíduos orgânicos)

Parceria:

Comunidade local

EMBASA (programa de educação ambiental)

Consórcio Chapada Forte

Associação de moradores

Falta de funcionário de limpeza publica

Melhoria dos serviços de limpeza pública, coleta dos resíduos e conservação dos imóveis.

Capina nas ruas e na praça a cada dois meses para manter livre de mato, acumulo de lixo e proliferação de vetores;

Sensibilização aos proprietários de imóveis para manutenção/reforma das casas abandonadas e

Parceria:

Prefeitura Municipal através da Defesa Civil, Secretaria de Meio Ambiente e Turismo

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melhor conservação dos terrenos baldios.

Parceria: Prefeitura Municipal através da secretaria de serviços públicos e defesa civil

Acúmulo de resíduos sólidos nas trilhas

Redução do lixo jogado nas “catras” e no rio

Informativo e placas de sinalização no balneário do Paraguaçu.

Parceria:

Prefeitura Municipal através da Defesa Civil, Secretaria de Meio Ambiente

Inexistência de guias locais moradores do próprio território

Formação de um grupo de guias locais

Treinamento para guias da comunidade, e inscrição na Associação de Condutores de Visitantes-Andaraí (ACVA)

Parceria:

Prefeitura Municipal através da Defesa Civil, Secretaria de Meio Ambiente e Turismo

Ausência de infra-estrutura de apoio ao empreendedor

Organização dos empreendedores e o atendimento aos visitantes

Planejamento comercial

Registro dos empreendedores informais;

Treinamento/curso de capacitação na recepção aos visitantes

Incentivo ao turismo comunitário (base local)

Parceria: Prefeitura Municipal através da secretaria de assistência social / SEBRAE

Imóveis e patrimônio arquitetônico depredados

Revitalização do povoado

Promoção de projetos e investimento financeiro para fomentar a infraestrutura do territorio

Parceria: Prefeitura Municipal através da Secretaria de Assistência social

Desperdício de frutas e verduras plantadas

Organização de Feira de produtos orgânicos (frutas e verduras) e produtos artesanais

Curso de aproveitamento de fibras (bananeira) na confecção de objetos de decoração

Parceria: secretaria de assistência social / SEBRAE; comunidade

Catras desativadas

Criação de alevinos/ pescado

Aproveitamento das “catas” deixadas pelo garimpo mecanizado, para criação de alevinos.

Parceria: Prefeitura Municipal; associação dos pescadores do município;

Restrita participação de visitantes aos eventos da comunidade

Calendário dos festejos culturais

Organização e divulgação dos festejos populares

Parceria: entidades privadas e poder publico

Aumento do fluxo turístico

Ampliação de visitantes nas ruinas e ao

Abertura da Igreja de São José para visitação / Preparação de

Parceria:

Igreja católica

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patrimônio religioso / cultural.

informativos sobre a comunidade e os festejos / eventos / limpeza do acesso ao cemitério

departamento de cultura vinculado a secretaria municipal de educação

Aumento do fluxo turístico

Criação de roteiro turístico

O roteiro turístico com demonstrativo da vivencias na comunidade (coleta de frutos silvestres, reza, momento de relatos sobre a historia local, consumo de comida típica, mostra de feitura da farinha mandioca, dos licores, do xarope caseiro, de chás medicinais, dentro outros aspectos),

Parceria

Comunidade

Empreendedores

Desconhecimento do patrimônio natural

Divulgação do patrimônio natural

Preparação de folder com a oferta dos produtos turísticos

Parceria:

Comunidade

Empreendedores

Secretaria de Meio Ambiente e Turismo

Não há sistematização da cultura local

Consolidação do grupo “Passarte de cultura popular”

Elaboração de plano para as atividades, ensaios e legitimação do grupo.

Promoção da arte

Parceria:

Departamento de Cultura

Comunidade

Associação de moradores

Inexistência da participação nas instâncias de controle social

Controle social no conselho de Meio Ambiente e no Conselho Municipal de Cultura

Inserção de um representante da comunidade, no Conselho Municipal de Meio Ambiente e de Conselho Cultura Municipal

Parceria:

Comunidade

Secretaria de Meio ambiente e de educação (coral)

Desarticulação entre o grupo de empreendedores internos e externos

Organização comunitária

Criação de conselho comunitário e instâncias deliberativas, que poderá se firmar futuramente enquanto associação.

Parceria:

Comunidade

Desconhecimento da oferta turística

Guia turístico Construção do inventário com as potencialidades do território

Parceria:

Comunidade

Empreendedores

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Desarticulação dos órgãos competentes

Organização do segmento

Criação de comitê gestor na comunidade e partição no Conselho de Turismo

Parceria:

Comunidade

Empreendedores

prefeitura QUADRO 27 – Prognostico do território. ROCHA, 2017

Os registros comprobatórios estão ao longo do relatório nas FOTOgrafias, nos

relatos nos encontros coletivos. A distribuição de benefícios do Plano de Ação,

foram apresentados aos moradores, e sintetizados no QUADRO 28:

INTERESSADOS/ RESPONSÁVEIS

BENEFÍCIOS RESPONSÁVEIS

POPULAÇÃO LOCAL

Preparação prévia da população enquanto a atividade ainda é incipiente, possibilitando empoderamento no território

Grupo organizado de moradores do território

ATIVIDADE TURÍSTICA LOCAL

Visibilidade do potencial existe no território – inserindo recursos culturais a agenda dos recursos naturais mais consolidados;

Grupo organizado de moradores do território

GOVERNO (LOCAL, ESTADUAL E NACIONAL)

Promoção de uma atividade consolidada pelo turismo de base local, conforme as normativas legais da politica ambiental e politica de turismo

Articulação entre o poder público e sociedade civil

INVESTIDORES

Divulgação de empresas que contribuem para a valorização ambiental e cultural no território

Articulação entre o poder público e sociedade civil

QUADRO 28 – Validação de benefícios do planejamento turístico por segmento. Adaptado de Guia para oficinas e treinamento de multiplicadores do planejamento para o desenvolvimento do turismo sustentável (BRASIL, 1997). ROCHA, 2017.

Compreendeu-se que na comunidade já se constituía enquanto território que

foi fortalecendo sua identidade, e assim os temas socializados nas oficinas soram

avaliados, conforme QUADRO 29.

Apresento a seguir os itens avaliados pelas 10 famílias participantes do

projeto:

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ITENS AVALIADOS Exc. Bom Reg. Ruim

Qualidade das informações 10

Recursos materiais 10

Cumprimentos dos objetivos 10

Adequação ao conteúdo desenvolvido 06 04

Aplicabilidade e relevância do tema 10

Apoio de parcerias 02 08

Motivação 10

Compromisso 05 03 02

Desempenho do grupo 07 03

Fortalecimento das redes de relacionamento 10

Acréscimo de novos conhecimentos 10

Aproveitamento conteúdo x tempo 04 06

Esclarecimento de dúvidas 08 02

Relacionamento interpessoal 07 03

QUADRO 29- Avaliação dos temas do projeto pelas família. ROCHA, 2017.

Demonstra-se que na organização comunitária cada família assume um

papel preponderante sendo a própria referência territorial. Todos se ajudam e

cooperam mutuamente.

“Orgulho muito de ser morador (...) gosto do lugar, com 15 anos vim ‘pra qui’ e desde os 07, trilho daqui pra Ibiquera”. (J. P, 79 anos) “Eu amo a Passagem, não troco aqui por lugar nenhum não! Aqui perto eu não troco não! É aqui mesmo a Passagem!” (M. B, 39 anos) “Eu não posso dizer porque eu to aqui de passagem, sou passageiro! Sou passageiro da Passagem” (M.S.34 anos)

Em Fuentes, (2008) a partir dos estudos sociológicos, a família representa a

primeira unidade social, e no contexto da sustentabilidade, cabe igualdade e

responsabilidade quanto a formação da identidade territorial. Já Boff (2000) aponta

que a construção coletiva da solidariedade universal é o recurso sistemático ao

diálogo em todas as frentes e todos os níveis e completa:

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precisamos oferecer uma fundamentação filosófica mínima para esse tipo de ética (...) O ser humano é um ser de relação e de comunicação, portanto um ser dialógico (...) Essa dimensão ganha concreção e feição na história e na cultura (p. 93)

Um padrão societário como diz Boff (2000) e civilizatório como afirma

Loureiro (2008) numa nova ética sociedade-natureza é o que se viu no território

Passagem. Nesse sentido ressalta-se o papel das lideranças e o protagonismo

social. Relatam que as mudanças aconteceram internamente pelos envolvidos do

povoado, seja nos hábitos, na valorização da identidade e no pertencimento. Afinal

em cada encontro se fez reflexões sobre as temáticas com os “fatos para reflexão”

como estratégia para trocar informações, impressões e sentimentos, sobre as

experiências adquiridas através das atividades, (re)planejando as ações futuras e

esboçando um território desejável.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A dinâmica do potencial local, geoambiental ou cultural passa, antes de tudo, por ações de apoio a população nas estratégias de descoberta de uma forma autônoma de produzir, crescer e seguir o próprio caminho”.

DOWBOR

Um território originado pela passagem de tropeiros, por agrupamento de

garimpeiros e passagem atualmente de turistas, é um misto de culturas

diferenciadas, que sintetizaram a identidade territorial da Passagem. No tocante a

mobilização da sociedade como princípio básico norteador da intervenção ora

executada, o trabalho foi conduzido com a participação membros do grupo social de

moradores locais.

As estratégias planejadas coletivamente neste projeto serviram como

estímulo para potencializar ações já existentes e planejar possibilidades de ações

futuras. O plano aqui esboçado não possui o propósito de se esgotar com a

intervenção. O acesso da comunidade as informações sobre a formação territorial foi

estimulada pela pesquisadora, mas muito do que foi consolidado e aprendido partiu

da historia oral dos moradores.

A socialização destas informações e aprendizagens de conceitos pertinentes

ao desenvolvimento do turismo, favoreceu positivamente a sugestão de novas ações

relacionadas a prática já existente mas ainda não potencializadas. A base teórica

sobre os eixos temáticos foi contextualizada, contemplando a baixa escolaridade do

grupo; outro ponto favorável foi o pertencimento da comunidade que se identifica

como remanescente de garimpeiros, envolvendo identidades coletivas similares – as

territorialidades.

As lições aprendidas no grupo são de que a união da comunidade para lutar

por objetivos comuns valorizaram o território que passa a ser respeitado enquanto

comunidade ribeirinha que viveu o garimpo e que traz em seu próprio nome a

historia em PASSAGEM. A identidade territorial, os aspectos sociais, naturais,

patrimoniais, culturais e econômicos sendo potencializado para contemplar ações

futuras, foi o cerne deste trabalho - um processo continuado de possibilidades.

Assim sendo, três temáticas nortearam as oficinas: a primeira tratou das “narrativas

que constroem o conhecimento territorial”, cuja abordagem foi potencializar o

conhecimento sobre a historia local e a territorialidade garimpeira; a segunda

“organização comunitária, valorização da natureza e resgate do patrimônio cultural

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como atratividade turística”, nesta perspectiva as atividades foram direcionadas ao

inserção do conhecimento adquirido e latente enquanto atratividade, e assim

começam a pensar no turismo na comunidade; e a terceira e ultima abordagem

temática foi “Planejar para melhor qualificar a atividade turista”, na perspectiva de

qualificação dos serviços prestados com base na atratividade existente no território.

A perspectiva da formação de um grupo que refletisse o território, partindo

das descobertas para os mais jovens e lembranças para os mais velhos, ou ainda

pelo entusiasmo coletivo em torno do bem comum, valorização da cultura e do

ambiente, mas coube a condução do planejamento das atividades ao

desencadeamento das ações para sua continuidade. As posições colocadas no

debate suscitaram contradições, acordos, confrontos válidos, legítimos de uma

planejamento que envolve perspectivas territoriais. Nesta intervenção a historicidade

dos sujeitos foi a base para compreensão e proposição que visou propor autonomia

política, e reflexões em torno da expressão “um desenho a várias mãos”, simbologia

para representar as mãos diferenciadas, mas que a junção delas fortalece um todo.

Desde o inicio compreendeu-se que a intervenção não foi imposta, mas construída

coletivamente, a transformação é coletiva, a aprendizagem é mútua! Nos colocamos

em processo de ebulição, através desse estudo sobre o turismo e suas nuances na

produção do território turístico.

A vivência remeteu também aos festejos populares, as cantigas remotas, que

durante a intervenção foram apresentados aos mais jovens e estimuladas a

tornarem efetivas e assim a cultura se perpetuar. A descoberta que a comunidade

possui uma história valiosa no contexto da Chapada Diamantina e do município de

Andaraí, trouxe motivação dos moradores em fazer parte dos registros; também

conseguimos registrar com a cartografia social, os territórios revisitados pela

memória dos moradores, seus locais de pertencimento; a subjetividade dos sujeitos,

a sensibilidade consolidada e demonstrada com a produção do prognóstico. Enfim,

novos significados foram dados ao patrimônio cultural e natural, considerando-os

como elementos indissociáveis do território.

Pensar em trajetória remete a caminho, a caminhar e repensar talvez os

passos já dados. A experiência de uma intervenção social se configurou como

desencadeadora de outros olhares sobre a territorialidade ali consolidada,

materializada nos diálogos sobre as lembranças, pela compreensão de que tal

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valorização implica em cuidado e afeto, as gerações posteriores a esta, já terão o

registro de que o grupo ousou pensar no fortalecimento e identidade territorial. Os

indicadores demonstram o alcance deste projeto que fortaleceu as famílias enquanto

membros de um coletivo. O produto deste trabalho deixou marcas que ficarão na

memória como registro para ações futuras.

Num desenho a varias mãos, um símbolo se consolidou: as mãos. Ela

enquanto elemento da união, da força, do fortalecimento. Um projeto cuja proposta

interventiva, foi caminhando para um futuro que se fará valorizar as histórias e as

memórias, registrado pelo caminho já trilhado, para que novas histórias cotidianas

sejam revisitadas através dos moradores - contadores de casos.

Descobrimos juntos que estar de mãos dadas fez parte de tudo que

fizemos, pois tratou-se da nossa gente, dos novos festejos, na nossa retomada

territorial, no mutirão comunitário para reformar a igreja, no capinar da praça diante

do abandono do poder público, descobrimos no caminhar enriquecedor que a luta

social, que reivindicar por melhorias também faz parte da boa convivência coletiva.

E só agora me coloco enquanto ser pesquisador e participante.

Um novo olhar diante de conceitos tratados no projeto que aos poucos

foram sendo incorporados nas oficinas mencionadas, e vivenciados nos encontros

da intervenção. Buscou-se identificar as relações sociais no território, o poder

sendo esboçado, e apresentadas a territorialidade. A sociedade dinamiza as

condições sociais que lhes são apresentadas, com novas maneiras e formas de

conduta humanas. Os garimpeiros do passado e seus descentes do presente ainda

clamam por justiça social, e vêem na organização política, estratégias de

resistência as adversidades em novos contextos socioeconômicos. Agora a

comunidade tenta retomar sua territorialidade.

Ao pensar o planejamento, sabe-se que avanços no cumprimento de ações

relacionadas ao plano de desenvolvimento territorial, tais como inicio do processo de

associativismo, estimulo a qualificação profissional, organização de elementos

(objetos) que representam a historia, não encerrarão nesta intervenção social. O

conjunto de atividades construídas coletivamente nos espaços de vivência, em

busca de novas possibilidades, já faz da intervenção um ato de projeção possível.

A relevância de se conhecer a potencialidade local para comunidades

latentes e com vocação para receber visitantes, é uma estratégia possível para se

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planejar o turismo com qualidade e sustentabilidade. Concluiu-se que o estudo do

potencial turístico de um território, torna-se uma ferramenta que propicia repensar a

produção do espaço relacionando os atrativos existentes a vocação turística em

suas múltiplas interações. Portanto, o turismo pode dinamizar os espaços

receptores, a partir da minimização dos impactos e valorização do território, ao qual

a atividade turística se apropria. Sendo necessário planejamento territorial para

produzir a atividade, ou potencializá-la.

A proposta que se aventurou a realizar ações que envolve gente ... gente

que instiga conflitos, dúvidas, questionamentos sobre a sociedade e o mundo

contemporâneo, mas com pés nas raízes territoriais de um grupo que clama por

políticas públicas e equidade social. Que novas mãos sejam consolidadas enquanto

marco dos caminhos a serem trilhados para realizações futuras na busca de

atividades que venham consolidar o desenvolvimento com base no território.

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“Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.

Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.

(...) É um rio. Corre-me nas mãos, agora molhadas.

Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de repente não sei se as águas nascem de mim, ou para

mim fluem. Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o

próprio corpo do rio. (...)Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre suas

águas como os apelos imprecisos da memória. Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga. Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e

firme pulsar do coração. (...)Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas

da memória e o vulto subitamente anunciado do futuro.

(...) Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra viva. Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se

juntarem às mãos. Depois saberei tudo.”

(José Saramago)

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APÊNDICE

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193

APÊNDICE 1 - Quadro norteador da caracterização territorial utilizada na pesquisa bibliográfica e campo

QUADRO RESUMO

ASPECTOS DESCRIÇÃO

CARACTERIZAÇÃO DA

ÁREA DE INTERVENÇÃO E

ENTORNO

LOCALIZAÇÃO; ÁREA

ASPECTOS GERAIS DA ÁREA

Socioeconômicos: Ambientais: Urbanísticos:

SITUAÇÃO DE SANEAMENTO

Abastecimento de Água: Esgotamento Sanitário: Coleta de Lixo:

ACESSO A INFRA-ESTRUTURA

Energia Elétrica: Transporte Público: Vias de Acesso: Pavimentação:

EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS E

SERVIÇOS PÚBLICOS

Escolas: Creches: Postos de Saúde: Hospitais: Delegacias: Quadras: Centros de Cultura e Arte: Igrejas:

FORMA DE OCUPAÇÃO (histórico)

HABITAÇÃO PREDOMINANTE

(tipo, material construtivo, estágio construtivo)

SITUAÇÕES DE RISCO

(enchentes, alagamentos, deslizamentos, desmoronamentos, erosões, lixões e insalubridade)

CARACTERIZAÇÃO DA

ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA

BASES ASSOCIATIVAS

(formais e não formais/ potencialidades)

LIDERANÇAS LOCAIS

ENTIDADES GOVERNAMENTAIS

(tipo e forma de atuação)

ENTIDADES NÃO GOVERNAMENTAIS

(tipo e forma de atuação)

LEVANTAMENTO DE POTENCIAIS

PARCEIROS

(instituições)

DEMANDAS PRIORITARIAS

(sociais e urbanísticas)

Adaptado de BRASIL. 2016.

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APENDICE 2 – Sistematização do planejamento

SISTEMATIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO

Problemas/causas O que fazer Como fazer Quem faz Quando Observações

Adaptado de Silva (apud COELHO, 2005 p. 103)

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195

APENDICE 3 - Banco de dados preliminar

Território

Com

unid

ade

:

Modalidade turística

Equipamentos e infra estrutura turística

Existe articulação comunitária para o turismo

Organização comunitária

Está inserido em rotas turísticas do polo Chapada Diamantina?

Existe plano de turismo?

( ) SIM ( ) NÃO

( ) SIM ( ) NÃO

( ) SIM ( ) NÃO

( ) SIM ( ) NÃO

( ) SIM ( ) NÃO

Equipamentos fomentados pelo poder público e/ou parceria:

Quais?

Quais?

Qual?

Quais?