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PROGRAMA JOAQUIM NABUCO – SERVIDORES 2º/2012 –
1. SUPERVISORA Cyntia Maria Martins Santos Assessoria de Assuntos Internacionais E-mail: [email protected] Tel: (+55 61) 3217-4012
2. COORDENADORA Simone de Souza Tavares Assessoria de Assuntos Internacionais E-mail: [email protected] Tel: (+55 61) 3217- 6505
3. SERVIDORA Kassia Zinato Santos Machado Cargo: Técnico Judiciário, Área Administrativa Lotação: Gabinete do Ministro Gilmar Mendes Corte Anfitriã: Suprema Corte de Justicia de Uruguay Período: 1/10/2012 a 12/10/2012 E-mail: [email protected]
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ÍNDICE
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................................................................... 6
CHEGADA A MONTEVIDÉU .................................................................................................................... 7
1º dia: segunda-feira ............................................................................................................................. 8
I - REUNIÃO COM O SECRETÁRIO LETRADO DA SCJ: FERNANDO TOVAGLIARE ....................................... 8
II - VISITA AO PALÁCIO PÍRIA: SEDE DA SCJ ............................................................................................ 8
2º DIA: terça-feira ............................................................................................................................... 16
I - VISITA AO PALÁCIO JUDICIAL – AUDIÊNCIA NA ORDA ..................................................................... 16
II - REUNIÃO COM O DIRETOR DA DIVISÃO DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL DA SCJ ...................... 16
3º dia: quarta-feira .............................................................................................................................. 20
I - REUNIÃO COM DRA. IVONNE CARRIÓN SOBRE O PROFOJU – PROGRAMA DE FORTALECIMENTO DO
JUDICIÁRIO..................................................................................................................................................... 20
II - VISITA AO DEPARTAMENTO TÉCNICO ADMINISTRATIVO DO SGT – SISTEMA DE GESTÃO DOS
TRIBUNAIS ..................................................................................................................................................... 20
4º dia: quinta-feira .............................................................................................................................. 24
I - VISITA AO “JUZGADO LETRADO DE 20º TURNO CÍVEL” .................................................................... 24
II - ACOMPANHAMENTO DE AUDIÊNCIAS REALIZADAS PELA JUÍZA LETRADA ANA MARIA BELLO ....... 24
5º dia: sexta-feira ................................................................................................................................ 27
I - VISITA À DIVISÃO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ..................................................................... 27
II - VISITA AO CEJU – CENTRO DE ESTUDIOS JUDICIALES DEL URUGUAY .............................................. 27
6º dia: segunda-feira ........................................................................................................................... 30
I - VISITA AO EDIFÍCIO MERCOSUR ....................................................................................................... 30
II - VISITA AO GABINETE DA DRA. VERÓNICA ROSANA MEDEROS GANDOLFO: ASSISTENTE TÉCNICA DE
MINISTRO DA SCJ ........................................................................................................................................... 30
III - REUNIÃO COM DR. TOVAGLIARE ................................................................................................... 30
5
7º dia: terça-feira ................................................................................................................................ 35
I - REUNIÃO COM DR. TOVAGLIARE ..................................................................................................... 35
II - VISITA AO DEPARTAMENTO DE JURISPRUDÊNCIA DA SCJ ............................................................... 35
III - VISITA AO “JUZGADO DE CONCILIAÇÃO” ....................................................................................... 35
8º dia: quarta-feira .............................................................................................................................. 40
I - VISITA AO “JUZGADO LETRADO DE FAMÍLIA ESPECIALIZADO DE 6º TURNO” ................................... 40
II - ACOMPANHAMENTO DE AUDIÊNCIA SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA REALIZADA PELA DRA. MARIA
ELENA EMMENENGGER .................................................................................................................................. 40
9º dia: quinta-feira .............................................................................................................................. 44
I - AUDIÊNCIA NO JUZGADO LETRADO CIVIL ........................................................................................ 44
II - VISITA GUIADA AO PALACIO LEGISLATIVO ...................................................................................... 44
10º dia: sexta-feira .............................................................................................................................. 47
DESPEDIDAS E PREPARAÇÃO PARA O RETORNO AO BRASIL ................................................................ 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................... 48
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................................. 50
ANEXOS ............................................................................................................................................... 51
6
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Com o objetivo de apresentar uma avaliação subjetiva das atividades realizadas na
Suprema Corte de Justicia no Uruguai, bem como, em determinadas situações, proceder ao
cotejo analítico e comparativo com serviços e estruturas assemelhadas no STF, esse relatório
contém relato panorâmico do órgão visitado entre os dias 1º e 12.10.2012, na cidade de
Montevidéu, capital do Uruguai.
No intuito de aproximar a compreensão da narrativa, são juntadas, ao longo do
relatório, fotos que ilustram situações, fatos e pessoas relacionados.
Salienta-se que, logo no 2º dia do intercâmbio nos foi entregue um impresso com
todo o cronograma de atividades do programa. Fomos consultados acerca do interesse em
sugerir outras atividades, sendo-nos facultada a inclusão ou substituição das já existentes de
modo que tivéssemos o máximo de aproveitamento possível.
As atividades do programa iniciavam-se, diariamente, às 14h, e sempre nos
encontrávamos em frente à Suprema Corte, com a Sra. Ethel Mercadal, funcionária do
Departamento de Relaciones Públicas y Protocolo, que nos levava ao local da realização das
atividades agendadas para o dia, nos apresentando ao responsável pelo respectivo setor em
que seria realizada a atividade.
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CHEGADA A MONTEVIDÉU
Uruguai, 30 de setembro de 2012 Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
Partida de Brasília às 11h50 da manhã
e chegada às 23h30 ao arrojado, moderno e
bem cuidado Aeroporto Carrasco, em
Montevidéu. Cabem quase todos os bons
adjetivos para descrever o novo Aeroporto
Internacional de Carrasco, desenhado pelo
arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, e
inaugurado em 29 de dezembro de 2009, curiosamente, com um voo vindo do Brasil!*
Ele tem um teto curvo de quase 400 metros* que vai de chão a chão e cria, de longe,
a imagem similar de um olho e gigantescos relógios numa das suas paredes, com horários
das principais metrópoles do mundo (entre elas estão: Paris, Londres, Tóquio, Madrid, Zurich
e São Paulo).
Fui recepcionada pela simpática e sorridente Sra. Ethel Mercadal. Apesar do
avançado da hora, ela foi muito atenciosa e solícita, pois no caminho até o hotel,
acompanhada do motorista, Sra. Ethel apresentava-me a cidade, sob as sombras daquela
noite fria, conforme avançávamos no trajeto rumo ao Hotel Mediterrâneo**, no Centro,
onde fiz reserva do Brasil e fiquei hospedada nos primeiros dias.
*Informações técnicas: http://www.aeropuertodecarrasco.com.uy/informacion-general.php
**Mudei para o Hotel Balfer no 4º dia de estada, pois a reforma e
falta de infraestrutura adequada do Hotel Mediterrâneo não permitiam
o conforto mínimo necessário, além do quê, era maior a proximidade do
Hotel Balfer com a Suprema Corte de Justicia.
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1º dia: segunda-feira
I - REUNIÃO COM O SECRETÁRIO LETRADO DA SCJ: FERNANDO TOVAGLIARE
II - VISITA AO PALÁCIO PÍRIA: SEDE DA SCJ
Uruguai, 1º de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
Sobre a reunião com o Secretário Letrado da SCJ: Dr. Fernando Tovagliare
Conforme o ajustado na chegada, nos encontramos com Sra. Ethel na porta do
Palácio de Píria, edifício que abriga a Suprema Corte de Justicia del Uruguay (doravante
denominada SCJ) desde 1954. Fomos calorosamente recepcionados por ela e levados ao
gabinete do Secretário Letrado da Corte, Dr. Fernando Raul Tovagliare.
Nesta reunião, o Dr. Tovagliare fez uma explanação sobre a organização e
competência da SCJ, bem como nos presenteou com um exemplar do livro comemorativo de
seu centenário, organizado pelo Centro de Estudios Judiciales (CEJU). Nesta ocasião, foi
abordado pelo Secretário Letrado da Corte o quantitativo de julgamentos e menção aos
dados estatísticos gerais do Judiciário uruguaio e, de modo particular, os processos que
tramitam na SCJ. Apontou-nos, na página oficial do Poder Judiciário uruguaio
(www.poderjudicial.gub.uy), o local onde se pode encontrar a estatística completa e maiores
detalhes dos dados ora mencionados: http://www.poderjudicial.gub.uy/estadisticas.html
Em rápida apresentação, foi possível conhecer sobre a estrutura e competências da
SCJ assim como sobre o SGT – Sistema Gestión Tribunales, uma ferramenta do PROFOJU na
busca pela melhoria da gestão judicial, elaborado a partir das informações e diretrizes
contidas nos regulamentos, nas leis e demais normas vigentes em todo o país. Nele foram
estabelecidos os principais aspectos da definição do modelo de gestão processual desde
2004, que contou com a implantação da IUE – Identificação Única de Expediente (número
único de tramitação do processo).
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CURIOSIDADE 1: Desde janeiro de 2004 todos os processos possuem um
número único de tramitação. No final de 2003 foi determinado que no
próximo ano todos os processos deveriam ter essa numeração única e foi
publicada uma “acordada” que dispôs sobre o trâmite. E em apenas um único
período de férias, em janeiro de 2004, todo o Poder Judiciário uruguaio teve
seus “expedientes” renumerados (cerca de 600mil). Isso só foi possível devido
ao empenho de todos os funcionários que em 1º.2.2004 entregaram aos
jurisdicionados todos os processo renumerados!!
CURIOSIDADE 2: No interior do país toda a renumeração foi feita
manualmente, pois o SGT ainda não tinha sido lá implantado.
Em 2007 foi implementada pelo Poder Judiciário a unidade certificadora. Por meio da
Ley 18.237, que dispõe sobre o uso de expedientes eletrônicos em todos os processos
promovidos perante o Poder Judiciário do Uruguai, foi possível permitir a assinatura de
documentos eletrônicos tanto em processos judiciais quanto administrativos. Essa lei
também facultou à SCJ a regulamentação do uso e a disposição gradual de sua implantação
em todo o país. Contudo, esse processo de certificação para assinaturas eletrônicas e
notificações foi concluído apenas em 2011.
CURIOSIDADE 3: A Ley 18.237 possuía apenas um único artigo. Vide
ANEXO I.
Logo após a reunião, o Dr. Tovagliare nos convidou a assistir ao juramento de
bacharéis em Direito, aprovados naquele que no Brasil chamamos “exame de ordem”. A
solenidade ocorreu ali mesmo, no Palácio de Píria, na sala de julgamentos, onde
tradicionalmente se realizam as audiências da Corte. Segundo explicou-nos a funcionária do
Cerimonial do Palácio, trata-se de um ato solene que autoriza o exercício da advocacia no
país. Observei atentamente e notei que apesar de toda a formalidade, e ocorrerem 3
solenidades todas as segundas-feiras, todos os 5 ministros, que compõem a SCJ, inclusive o
presidente, participam de todas elas!!! Em razão de o espaço ser pequeno, eles entram e
saem a cada solenidade. E ainda, ao final do juramento pessoal de cada um dos “novos
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advogados”, eles desciam da Tribuna, um a um, em fila, a fim de cumprimentar cada novo
advogado.
Achei interessante e bastante “próximo” o gesto dos Ministros da SCJ de irem até aos
bacharéis cumprimentá-los, e não o inverso, conforme se costuma ver no Brasil em ocasiões
similares (outorga do grau de bacharel nas solenidades de formatura universitária, por
exemplo). Experiência muito interessante e enriquecedora do ponto de vista cultural,
pessoal e profissional.
Solenidade de juramento de bacharéis em Direito na SCJ: requisito para exercício da advocacia no Uruguai.
Sobre a Visita ao Edifício Sede da Suprema Corte de Justicia:
Ainda neste mesmo dia, logo após assistirmos à cerimônia, fomos convidados a
seguir em visita guiada por todo o Palácio de Píria. Este palácio foi construído em 1917 por
Francisco Píria para ser sua residência e ali morar com sua família.
Píria foi um empresário muito conhecido no Uruguai que, nascido em família
humilde, construiu um grande patrimônio com a atividade de “rematador”, ao que
chamaríamos no Brasil de leiloeiro. Adquiria terras e as loteava e vendia. Depois passou a
construir imóveis e diversificar seus bens, bem como multiplicá-los em grande escala por
todo o país. Desde hotéis e cassinos, Píria ergueu importantes edifícios que até hoje estão
fincados em solo uruguaio de norte a sul do país, especialmente na capital e na região de
Maldonado.
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Dentre eles o Palácio que leva seu nome, Píria, onde está instalada, atualmente, a
SCJ, desde 1954, quando comprado pelo Governo uruguaio. Esse edifício foi projetado por
um arquiteto francês e possui construção no estilo romano, em que se pode observar vários
detalhes destes dois estilos. Dentre eles, cito: o entalhe de madeiras, a marchetaria de
cerâmica em quase todo o piso, os pilares grandes e grossos de mármore, além das pinturas
e desenhos florais dos gessos das paredes e rodatetos, e do vitral central do edifício que
pode ser visto desde o térreo em virtude da estrutura de mezanino ao centro que possui
esta bela construção. Impossível não chamar a atenção para a suntuosa escadaria da
entrada e para os grandes vasos esculpidos em mármore rosado que permanecem em
mesmo local desde quando o edifício era a residência deste personagem ilustre da história
do povo uruguaio.
Hall de entrada do Palácio de Píria Um dos vasos em mármore no hall de entrada
A construção original de todo o edifício foi mantida, apesar da sua utilização como
sede da Suprema Corte, criada em 1907 foi transferida para lá apenas em 1954. Por
exemplo, a sala de audiências era a sala de jantar da família; assim como o atual salão de
festas que hoje recebe apenas os convidados ilustres, era a sala de estar de Píria, onde ele
recebia suas visitas. Este ambiente possui elegante mobília e objetos de decoração
requintados, desde os papéis de parede, entalhe em ouro nas portas, paredes e demais
objetos e adornos de decoração.
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Detalhes do salão de festas do Palácio de Píria
Desde aquela época já havia a estrutura de calafetação e o elevador, mantido no
original em formato e funcionamento até presente data. As grandes escadarias centrais de
mármore, que ao fundo conduzem até o último andar do palácio, são cobertas por tapete
vermelho e arandelas douradas. É de fato primorosa e requintada a arquitetura e a
conservação deste edifício, motivo que mereceu meu destaque especial no relatório deste
primeiro dia.
Elevador pantográfico original Preparação para calefetação mantida conforme projeto original
CURIOSIDADE 4: O Cerimonial nos explicou que o formato ovalado do
teto ao centro do Palácio de Píria, e repetido no vitral central e em mesa
posicionada em mesma direção no piso térreo, tem explicação em princípios
da alquimia. Diz-se que Francisco Píria praticava a alquimia, e que era afeto à
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maçonaria. Diz-se ainda, que havia, no subsolo do palácio, um porão com um
laboratório para a prática da alquimia, e que lá havia 2 saídas subterrâneas
secretas. Uma das saídas ligava o Palácio de Píria ao porto da cidade, donde
se poderia sair do país em segurança. E como contam as histórias, ele
costumava se trancar no laboratório por semanas e até meses e, por isso,
acredita-se que ele se valia destas saídas para “dar umas voltinhas”, isso
sim!!!
CURIOSIDADE 5: Explicou-nos a funcionária do Cerimonial que o
arquiteto do Palácio de Píria escolheu o formato ovalado para o teto tendo em
vista este formato simbolizar a fertilidade, segundo a alquimia. Assim, o vitral
fora posicionado no centro do Palácio de Píria e utilizado como uma
“claraboia”, e segundo o arquiteto, a construção simbolizava, desde o último
ao primeiro, dos seus 3 andares: o céu (por ser o mais claro ), o inferno (por
ser o mais escuro, por estar longe da claridade) e o purgatório (por estar entre
o céu e o inferno).
Vitral central ovalado do Palácio de Píria
CURIOSIDADE 6: Observamos curiosos, ao final da visita, na saída do
Palácio, uma escultura com pedras brutas e grandes, com formados
diferentes, presas ao chão entre o Palácio de Píria e o Palácio de los
Tribunales. Assim como, próxima a ela, uma placa no chão, na mesma calçada,
com os seguintes dizeres:
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“La idea de Justicia supone un trato igual para los iguales
y trato desigual para los desiguales, con arreglo a la misma
pauta, pero sin que pueda decirnos a quien debe considerar-se
igual y a quien desigual ni como han de ser tratados los iguales
y los desiguales” Gustav Hadbruch
“La igualdad es un valor esencial y paralelo a la libertad.
Sin aquella no hay libertad, ni ésta sin la primera”
Assim, lembrei-me da explicação do Dr. Tovagliare sobre a escultura de pedras, que
talvez simbolizasse a capacidade de mudança... e os homens seriam como aquelas pedras
brutas prontas a serem lapidadas, transformadas. E assim, tentei alcançar a mensagem
subliminar, quase que filosófica, desta “calçada” localizada, não menos que numa travessa
de nome “Pasaje de los Derechos Humanos”.
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Talvez seja um simbolismo relacionado aos escritos nas placas metálicas... de que os
homens, assim como as pedras, podem ser vistos de vários modos desiguais ou mesmo
iguais... dentro de um conjunto, uma sociedade. E assim como aquelas pedras, que estão
juntas, estariam separados pela desigualdade de seus direitos, assim como elas, por seus
formatos. As pedras seriam, portanto, iguais em essência material, pois que em estado bruto
e presas umas às outras, contudo, desiguais em seus formatos... mas livres para, a qualquer
momento, tornarem-se iguais, uma vez que podem ser talhadas e adquirirem novos
formatos... quiçá!!! Contudo, sem essa liberdade que ousa moldar e lapidar, quedar-se-iam
da mesma forma pra sempre: presas e desiguais. Assim também seriam os seres
humanos...os direitos humanos... e o ideal de justiça, que passa, em essência, pela igualdade
e pela liberdade.
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2º dia: terça-feira
I - VISITA AO PALÁCIO JUDICIAL – AUDIÊNCIA NA ORDA
II - REUNIÃO COM O DIRETOR DA DIVISÃO DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL
DA SCJ
Uruguai, 2 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
SOBRE A VISITA AO PALÁCIO JUDICIAL – ORDA:
Iniciamos as atividades deste chuvoso dia com uma visita ao Palácio Judicial, que se
localiza em edifício defronte ao Palácio de Píria, na Plaza de Cagancha, no centro de
Montevidéu. Mas tão somente após uma parada necessariamente estratégica em uma loja
para a compra de um “paráguas” (guarda-chuva), pois que surpreendidos desde cedo por
uma chuvinha fina, porém insistente.
Após sermos novamente recebidos gentilmente pela Sra. Ethel, na entrada do
Palácio, fomos apresentados à Sra. Adriana Zunino, Coordenadora da ORDA – Oficina de
Recepção e Distribuição de Assuntos, algo que assimilei ser equivalente ao que seria, no STF,
a nossa Secretaria Judiciária. Este setor recebe os “expedientes” (petições iniciais), promove
a juntada de documentos e fornece informações às partes. Nesta ocasião nos foi
apresentado um panorama geral sobre o funcionamento técnico dessa parte em todo o
Poder Judiciário uruguaio, ou seja, no que se refere ao protocolo e encaminhamento inicial
de tudo que se ingressa judicialmente, bem como o acompanhamento e atendimento às
partes acerca de dúvidas de processos em trâmite. Assim, esta visita teve especial enfoque
sobre questões formais acerca do recebimento das petições iniciais, protocolo, atendimento,
formulários, requisitos, etc... Bem como a apresentação do SGT, uma parte importante e
necessária ao desenvolvimento do PROFOJU (que será visitado no 3º dia).
CURIOSIDADE 1: No Uruguai, para o advogado apresentar uma petição
inicial, ele deve, previamente, fazer o “pré ingresso”, similar a uma
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“autuação”. Assim, ele deve cadastrar num sistema todos os dados de seu
“expediente”, tais como: nome completo da parte, seus dados pessoais, nome
do advogado, seus dados, tipo de ação, natureza do processo e assunto!!!
Em seguida, nos apresentou um formulário de atendimento para pessoas que se
dirigiam a este setor em busca de informações sobre seus processos. Vide ANEXO II.
CURIOSIDADE 2: No Uruguai já se utiliza a numeração única para a
identificação dos processos, o denominado IUE – Identificação Única de
Expediente, que é gerado automaticamente tendo em conta o ramo do direito,
o local de interposição e o assunto. E o mais admirável desta conquista é que
ela foi prevista numa resolução de novembro/dezembro de um ano e se
organizou uma grande “força tarefa” em todo o país e nas “férias maiores”
(recesso de janeiro). Todos trabalharam para uniformizar a numeração dos
processos, segundo orientações da referida resolução. Em 1º de fevereiro do
ano seguinte TODOS os processos já haviam sido “renumerados” e já
possuíam um IUE.
Há também na capa dos expedientes, códigos numéricos que identificam o tribunal e
a matéria. Ainda não há uma rede informatizada única, mas estão caminhando para isso. O
processo de informatização iniciou-se em 2011, após a Lei de Acesso à Informação de 2009.
Apenas este ano, foram recebidos desde fevereiro mais de 100mil expedientes até data de
hoje.
CURIOSIDADE 3: No Uruguai também há “Lei da Transparência”, que
publica, inclusive, dados acerca da remuneração dos servidores públicos.
SOBRE A REUNIÃO COM O DIRETOR DA DIVISÃO DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL
DA SUPREMA CORTE DE JUSTICIA
Em seguida, em edifício ao lado, nos aguardava o Sr. Raul Y. Oxandabarat, atual
Diretor da Divisão de Comunicação Institucional, que atua como porta-voz da Suprema Corte
de Justiça uruguaia e é responsável por facilitar a intermediação das situações processuais
entre a SCJ e a sociedade uruguaia.
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O Sr. Oxandabarat nos fez breve explanação sobre as principais atividades realizadas
por este departamento, enfatizando a sua importância institucional como assessoria para
assuntos de interesse da imprensa, da população, tendo em vista a frequente publicação de
resultados dos julgamentos e o interesse social nos assuntos julgados pela SCJ.
Deste modo, para que pudéssemos prosseguir aprofundando a conversa, nos
entregou um impresso do Manual de Organização e Funções do Poder Judiciário do Uruguai
(Vide ANEXO III). Com o auxílio da visualização dos dados lá informados e com a atenta e
polida explanação do Sr. Oxandabarat, foi possível absorver muito das competências e
atuação deste setor dentro da estrutura e funcionamento do Poder Judiciário daquele país,
assim como compreender a importância dada ao trato da informação a ser divulgada.
A División Comunicación Institucional está diretamente subordinada à SCJ e
supervisiona o Departamento de Relaciones Públicas y Protocolo e a Sección Información al
Público, que são “oficinas administrativas”.
Contou-nos especialmente sobre as atividades dessa segunda seção e abordou sobre
a necessidade da criação de um atendimento direto ao cidadão uruguaio. Assim, foi
disponibilizado um canal telefônico para o contato direto com a SCJ, o número 1907. Ligando
para este número a pessoa é atendida nesta divisão administrativa da Corte e pode expor
sua dúvida, requerer alguma informação de orientação sobre como proceder, etc... Ele
informou-nos que só não falam sobre os processos nem oferecem consultoria jurídica.
CURIOSIDADE 4: Defensor público no Uruguai, para assistência em
processos de natureza penal/criminal, não possui exigência de limite máximo
de renda mínima; é, portanto, uma assistência disponibilizada,
indistintamente, à toda a comunidade, naqueles casos.
Depois nos falou que uma das maiores atribuições recentes tem sido orientar e
manter informada a sociedade sobre a Lei de Violência Doméstica, Ley nº 17.514/2002,
equivalente à nossa “Lei Maria da Penha”. Enfatizou o impacto social e o interesse dos
cidadãos e dos veículos de imprensa pelas decisões judiciais proferidas com base nesta lei.
Assim, nos enfatizou a importância que têm no cuidado da imagem pública da Corte nos
processo penais. E assim, prestam assessoria aos juízes com a depuração dos dados contidos
19
nas decisões judiciais a serem divulgados em entrevistas e de como selecionar quais
informações podem ou não ser divulgadas.
CURIOSIDADE 5: Os juízes não têm por hábito receber advogados nem
partes em audiências privadas em seus gabinetes, segundo informou Dr.
Oxandabarat. Não é prática usual no Judiciário uruguaio de um modo geral.
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3º dia: quarta-feira
I - REUNIÃO COM DRA. IVONNE CARRIÓN SOBRE O PROFOJU – PROGRAMA
DE FORTALECIMENTO DO JUDICIÁRIO
II - VISITA AO DEPARTAMENTO TÉCNICO ADMINISTRATIVO DO SGT – SISTEMA
DE GESTÃO DOS TRIBUNAIS
Uruguai, 3 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
SOBRE A REUNIÃO COM A DRA. IVONNE CARRIÓN SOBRE O PROFOJU
Este dia foi excepcionalmente especial: a surpresa com o avanço tecnológico quanto
à organização, implementação e gestão de dados jurídicos aplicáveis diretamente no fluxo
processual em um país com tantas limitações financeiras e estruturais e o mais curioso:
majoritariamente composto de equipes femininas!!!
A começar pela Coordenadora de todo esse projeto, sem dúvida, inusitado, curioso,
inteligente e ágil: Dra. Ivonne Carrión Ramos. Ela, além de uma simpatia de pessoa,
demonstrou muito empenho e habilidade profissional. Durante toda a visita, mostrou-se
muito orgulhosa de todo esse trabalho realizado por uma equipe multifuncional, composta
por profissionais de várias categorias que acompanham o desenvolvimento e o
aperfeiçoamento do PROFOJU – Programa de Fortalecimento do Sistema Judiciário. Dentre
esses profissionais da equipe multifuncional da Dra. Carrión, destaque se dê aos
profissionais do Direito (juízes, promotores e assistentes técnicos), da tecnologia da
informação, da Administração e da Comunicação Social.
Resumidamente, trata-se de um grande sistema, que contém um grande banco de
dados com informações sobre fluxo de trabalho para cada tipo de “expediente”, para cada
tipo de ação judicial prevista no CGP (Código Geral de Processo). Esses fluxos são
organizados a partir do rito previsto, suas formalidades (inclusive prazos processuais), com
alertas para a necessidade de envio de notificações, citações e ofícios. Todos estes com
21
modelos já previamente elaborados pelos profissionais competentes, especialmente os
juízes. Há juízes que participam desta equipe multidisciplinar que se dedicam a esta parte
mais específica e técnica da implantação dos dados.
O sistema segue o fluxo “em automático”, remetendo ao competente da próxima
ação um aviso do que ele tem que fazer para seguir o rito. Isso é de uma celeridade que só
vendo pra acreditar que existe. Tudo é “praticamente” automático!! A média de duração de
um processo hoje, após implantação deste sistema e com a organização judicial do país, está
em torno de 11 meses, desde a primeira instância à última. Salvo casos especiais em que há
incidentes e o processo “sobe e desce” algumas várias vezes.
CURIOSIDADE 1: No Uruguai para se requerer a “gratuidade da justiça”,
e firmar declaração de pobreza a fim de não serem cobradas as custas
judiciais, o cidadão tem que primeiro, abrir um processo para a análise de
documentos, provas, etc... É um processo prévio! Não é como no Brasil, em
que se firma tal situação, sob as penas legais, em uma declaração que segue
assinada pela parte e anexada à petição inicial, e o pedido é inserido no bojo
da petição inicial, juntamente com os demais para ser analisado pelo juiz.
Foi feita uma apresentação para que pudéssemos visualizar e ter alcance da
dimensão deste fluxo. Assim, foi criada uma situação real, em que na mesma meia hora se
fechou uma sentença, se elaborou um ofício, que seguiu assinado e liberado para ser
enviado (detalhe: se o destinatário tiver cadastro eletrônico, nesta hora, após autorização do
servidor “revisor” que recebe automaticamente em sua “caixa de entrada” o ofício já
pronto, basta colocar um “tóken” – espécie de pen drive -, assinar e ele já é enviado para a
caixa de e-mail do destinatário!!), e em seguida já foi também assinada e liberada a sentença
para publicação. Meia hora!!! Tudo feito com segurança, agilidade e registro. Há uma
espécie de “andamento processual interno”, como temos no “e-Gab” ou “MAP”, informando
todo o “percurso” feito com registro de data, hora, responsável e anexos dos “documentos”
produzidos, assinados e integrados ao processo.
CURIOSIDADE 2: Aos litigantes processuais é fornecido um endereço de
e-mail para estabelecer a comunicação eletrônica com o Poder Judiciário
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durante o trâmite da ação judicial (citação, notificação, intimação, etc...).
Acesso em: HTTP://comunicaciones.poderjudicial.gub.uy/ Iniciativa interessante
e curiosa, pois o provedor é o próprio Poder Judiciário, que é responsável pela
sua segurança, idoneidade e gerenciamento das caixas; e o usuário, por usa
vez, é responsável por acessar sua caixa e verificar suas correspondências.
Afinal, é considerada notificada a pessoa quando do envio da notificação para
sua caixa e não quando de sua leitura pela pessoa!
Esse sistema já informa na própria tela se o prazo tem que ser contado em dobro ou
não, por exemplo, se há algum rito específico, encaminhamento... Contudo, algo precisa ser
aqui mencionado: o texto das sentenças é praticamente padrão. Não há muita
discricionariedade para os magistrados “criarem seu próprio estilo”. Há um texto em estilo
mais “completo, objetivo e técnico” previamente elaborado pelos próprios magistrados
dessa “comissão” que averiguam os pontos que devem ser abordados, as frases básicas, o
texto dos dispositivos, os dizeres no jargão jurídico, etc... Ainda não está implantado na SCJ.
Há certificação digital conferida a todos que “assinam” documentos no PROFOJU,
incluindo juízes, seus assistentes técnicos, gerentes de recursos humanos, áreas
administrativa e financeira.
CURIOSIDADE 3:Todas as pessoas que gerenciam equipes ou fases deste
programa SÃO MULHERES. Todas!! Foi uma curiosidade muito positiva e uma
surpresa bastante agradável!! Todas animadas, dispostas, simples e super
dedicadas! Contagiante!!
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CURIOSIDADE 4: Sabem onde é feito todo o “backup” dos dados de
certificação e a habilitação do “tokén” para as assinaturas eletrônicas? Em um
único computador, que fica numa sala de no máximo uns 6m2, super simples,
sobre uma mesinha de madeira. A simplicidade do lugar contrasta-se com a
grandiosidade de uma ferramenta como o PROFOJU, sendo um contraste que
merecia ser destacado.
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4º dia: quinta-feira
I - VISITA AO “JUZGADO LETRADO DE 20º TURNO CÍVEL”
II - ACOMPANHAMENTO DE AUDIÊNCIAS REALIZADAS PELA JUÍZA LETRADA
ANA MARIA BELLO
Uruguai, 4 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
SOBRE A VISITA AO “JUZGADO LETRADO DE 20º TURNO CÍVEL”:
Depois de um dia tão esfuziante, que leva qualquer um a refletir sobre “como fazer
tanto com tão pouco”, como o que nos foi proporcionado ontem, não se esperava que o dia
de hoje ainda nos fosse brindar com experiências tão agradáveis e lições tão importantes,
que certamente serão levadas para sempre na memória.
Iniciemos por narrar a hospitalidade dos colegas do Poder Judiciário uruguaio em nos
receber, nos explicar seus ofícios, nos mostrarem seus trabalhos, seus desafios e
confessarem suas dificuldades. Sem contar o orgulho dos juízes em nos apresentar às partes,
em suas audiências, como autoridades estrangeiras, vindas da “Suprema Corte do Brasil”.
Sentiam-se orgulhosos de nossa presença em suas audiências. Muito bacana!!!
Assim, neste clima amistoso, a Dra. Ana Maria Bello nos proporcionou na tarde deste
4º dia de intercâmbio de inesquecíveis lições de simplicidade, sabedoria, vocação, respeito e
integridade. Ao iniciar a 2ª audiência do dia, explicou-nos tratar, o autor, de um Ministro da
Corte Superior (última instância antes de chegarem à Corte Suprema), e, portanto, tratar-se
de um superior hierárquico seu.
CURIOSIDADE 1: No Uruguai, os magistrados e serventuários da Justiça
podem exercer a advocacia, não são impedidos como no Brasil, por regra do
Estatuto do Advogado. Lá a legislação lhes faculta a defesa em juízo, na
25
qualidade de advogados, de interesses seus, de seus ascendentes ou de seus
descendentes.
Assim, lá estava o referido Ministro, acompanhado de sua filha, advogada e seu filho,
sentados em frente e do lado direito da mesa da juíza e, do outro lado, os representantes de
um plano de saúde, sentados à esquerda. Lá o juiz não fica em mesa com piso superior ao
das partes, todos estão em mesmo nível de altura.
CURIOSIDADE 2: O Conselho de Advogados do Uruguai (equivalente ao
que seria a nossa OAB, CFOAB) instalou um monitor em cada sala de
audiência de modo que as partes acompanhem, simultaneamente, o texto
escrito pelo escrivão de modo a facilitar a correção, os ajustes e a assegurar a
fidelidade das informações reduzidas a termo.
No presente caso, tratava-se de uma audiência preliminar de uma ação de
responsabilidade civil por perdas e danos em razão do descumprimento de obrigação
contratual e extracontratual. Seguiram-se vários episódios de acaloradas discussões de
ambos os lados. Em vários momentos as partes, conhecedoras que são do Direito, e em
especial o Ministro, tentaram forçar entendimentos diversos sobre mesmos dispositivos, o
que exigiu, não raras vezes, a tranquilidade, serenidade e conhecimento técnicos da
magistrada, todos em perfeito equilíbrio de postura e respeito.
Ela advertia com elegância o exagero das partes, inclusive do Ministro, resolvendo
várias questões incidentais e inclusive apelação oral, apresentada na hora, por negativa de
recebimento de documento. Ela foi de uma destreza, habilidade e demonstração de
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segurança quanto ao domínio do conhecimento técnico, que em nenhum momento se
intimidou com as pressões de ambos os lados. Sempre com intervenções inteligentes,
pertinentes e bem colocadas, soube conduzir com maestria e ao mesmo tempo com uma
simplicidade, aquela que prometia ser uma audiência das mais “barulhentas”.
CURIOSIDADE 3: Houve um momento muito interessante: a datilógrafa
que reduzia tudo a termo teve que ir ao banheiro, tendo em vista a
prolongada duração da audiência que se estendeu, ao todo por mais de 3
horas diretas, sem qualquer intervalo. Ela não titubeou em sair de sua cadeira,
dar a volta à mesa e sentar-se no lugar da escrivã para continuar a redução a
termo do que diziam as partes, a fim de não postergar ainda mais a audiência.
No nosso país eu nunca presenciei isso. Achei a atitude dela tão humilde
quanto nobre, não colocando seu trabalho nem acima nem abaixo do de
ninguém ali! E viva a dedicação à “celeridade processual” e à efetividade da
prestação jurisdicional!
Durante as intervenções, eu observei que o magistrado uruguaio tem uma postura de
maior proximidade com as partes, durante a audiência, que no Brasil. Um modo de colocar-
se mais acessível, como um conciliador, um aconselhador, uma postura mais
“humanizada”... sem comprometer em momento algum sua posição de imparcialidade e
equidistância das partes.
Atualmente no Uruguai o princípio da oralidade é a máxima nas audiências, mas, se
as partes quiserem, até podem juntar escritos, petições.
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5º dia: sexta-feira
I - VISITA À DIVISÃO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
II - VISITA AO CEJU – CENTRO DE ESTUDIOS JUDICIALES DEL URUGUAY
Uruguai, 5 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
SOBRE A VISITA À DIVISÃO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO:
Pouca informação absorvida, tendo em vista a tecnicidade dos termos e assuntos
enfocados. Além de situar-se fora do foco de interesse ou proveito direto pela servidora.
Nada de novidade ou de relevante interesse fora acrescido, além daquilo que já
adquirido nas apresentações do PROFOJU e SGT, exceto as informações técnicas, de maior
interesse do outro colega do intercâmbio.
Sob o meu ponto de vista, em razão dos objetivos do Intercâmbio e da participação
nos dias anteriores em 2 visitas a setores que já abordaram assuntos relativos à Tecnologia
da Informação, em medida suficiente, essa visita seria totalmente dispensável no meu caso.
SOBRE A VISITA AO CEJU:
Um presente no Uruguai, para comemorar os 24 da nossa Constituição Federal no
Brasil, foi conhecer justo neste dia 5.10.2012 o CEJU – Centro de Estudios Judiciales del
Uruguay, que funciona no Palácio dos Tribunais, centro de Montevidéu, em frente ao Palácio
de Píria. Uma escola principalmente voltada à formação e capacitação de magistrados.
Fomos recebidos pelo Dr. Sérgio Migliorata, Diretor Acadêmico do CEJU, que nos
levou à sala de reuniões da escola e nos brindou com uma bela e apaixonada explicação
sobre o CEJU. Iniciou por explicar seu nascedouro, a partir da necessidade de uma formação
multidisciplinar ao magistrado, para que pudesse exercer a judicatura não apenas por
méritos técnicos, mas por capacidades e habilidades que o completassem como um
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profissional probo, íntegro, humano e próximo dos anseios da sociedade. Assim, o CEJU visa
uma preparação profissional voltada à inserção do juiz no contexto democrático como
instrumento do desenvolvimento social.
Para tanto, conta-nos o Dr. Sérgio Migliorata, que o CEJU foi criado por um Comitê de
membros do Judiciário, Ministério Público e Governo. Esse Comitê não é permanente e até
hoje se reveza com membros que têm mandatos temporários e podem ser reconduzidos
uma única vez ao cargo. Dentre as tarefas deste Comitê está preparar a grade curricular do
Curso de Formação dos Magistrados, que hoje conta com 18 disciplinas; desenvolver a
elaboração de pesquisas e estudos jurídicos para a Suprema Corte; avaliar e preparar os
advogados para o exercício da magistratura, sua função precípua. Mas também elabora
“workshops” com temas atuais e de interesse dos magistrados para sua atualização e
aperfeiçoamento.
CURIOSIDADE 1: Durante todo o período de 2 anos do curso no CEJU
(formação para magistrados), não é paga nenhuma ajuda de custo nem
qualquer espécie remuneratória aos alunos.
No Uruguai, após formado, o bacharel em Direito ao fazer o juramento perante a
Suprema Corte está habilitado a exercer a advocacia. Com todos é assim, não há “exame da
OAB”. Se desejar seguir carreira como magistrado, deve ingressar no CEJU, fazer o curso de
aproximadamente 2 anos, ser aprovado e figurar na lista de egressos.
O ingresso no CEJU se dá com uma seleção de candidatos às vagas disponibilizadas
anualmente. É feita uma análise do histórico escolar e do currículo técnico-acadêmico
(publicações temáticas na área do Direito, magistério superior, etc...) dos candidatos. Após é
realizado um teste psicotécnico, uma avaliação cognitiva e apreciação das razões que
motivam o aspirante ao ingresso na carreira jurídica. Os candidatos aprovados nesta seleção
deverão frequentar a escola durante 2 anos, cumprir a carga horária prevista e obter
aprovação nas 18 disciplinas da grade curricular. Após a obtenção das notas (critério
objetivo) os finalistas recebem uma ponderação dessas notas (critério subjetivo).
Assim, ao final do curso, os alunos são “listados” por ordem dessa nota “ponderada”.
Essa ponderação, que é feita pelo Comitê do CEJU sobre as notas obtidas nas avaliações
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técnicas, leva em consideração a participação do aluno durante todo o curso, sua dedicação,
a qualidade dos trabalhos técnicos e orais apresentados no decorrer do curso, sua
pontualidade, assiduidade, postura, responsabilidade, compromisso e também seu
desempenho na atividade de “estágio”, feita ao final do curso, como matéria obrigatória.
O aluno somente ingressará, efetivamente, na carreira de juiz após ter o nome na
lista de “egressos do CEJU”, feita após classificação de notas ponderadas. Conforme houver
vacância nos “tribunais de acesso” (1ª instância) serão convocados os alunos listados na
ordem de classificação. Serão nomeados para assumir “turnos” (varas) na “zona rural” do
país (interior), onde deverão ficar por 10 anos. Depois poderão ser reconduzidos para a
capital e figurarem em lista de promoção para “juiz letrado”. Quando promovidos a juízes
letrados, deverão, novamente, voltar ao interior. Somente quando pertencerem ao Tribunal
de Apelação é que serão denominados “ministros”.
Para se habilitar ao ingresso na magistratura deve o “advogado” ter no mínimo 25 e
no máximo 45 anos. O cargo de ministro da SCJ, que é o último, não é vitalício, dura no
máximo 10 anos e, em regra, o acesso é pela antiguidade (do ministro do Tribunal de
Apelação mais antigo) ou indicação do Poder Legislativo. Se o magistrado completar 70 anos
antes de completar 10 anos na SCJ, ele deve sair, compulsoriamente, do cargo. Ainda que
tenha menos de 70 anos, se completar 10 anos no cargo, ele deve encerrar sua carreira de
magistrado ali, da mesma forma. E não pode mais voltar a ocupar vaga de magistrado em
outro tribunal.
Observação que se faz neste ponto é que o CEJU é considerado uma das melhores
pós-graduações do país. Motivo que leva muitos profissionais liberais e autônomos a se
valerem de seu ingresso no CEJU para atualizarem-se e terem no currículo esta pós-
graduação. Contudo, como é um curso gratuito, financiado pelo Governo de Montevideo,
quando finalizado o curso e nomeado um finalista a ocupar vaga de juiz e este não a aceitar,
terá até 1 ano para aceitar tomar posse em qualquer outro cargo de juiz que desocupar, sob
pena de ter que ressarcir o valor do curso ao governo uruguaio. E segundo nos disseram,
essa prática não é algo raro, ao contrário.
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6º dia: segunda-feira
I - VISITA AO EDIFÍCIO MERCOSUR
II - VISITA AO GABINETE DA DRA. VERÓNICA ROSANA MEDEROS GANDOLFO:
ASSISTENTE TÉCNICA DE MINISTRO DA SCJ
III - REUNIÃO COM DR. TOVAGLIARE
Uruguai, 8 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
SOBRE A VISITA AO EDIFÍCIO MERCOSUR
Mais uma vez gentilmente acompanhados pela
atenciosa Sra. Ethel Mercadal, funcionária do Departamento
de Relaciones Públicas y Protocolo da SCJ, fomos conhecer o
Edifício Mercosur.
Situado em zona privilegiada da cidade, à beira da rambla, com vista para o Rio da
Prata, o imponente edifício, que abriga, além da Sede Administrativa do Mercosul, outros
organismos internacionais tais como a OEA e a UNESCO, já fora em tempos anteriores um
luxuoso e requintado hotel.
O edifício funcionava desde 1909 como hotel (Hotel – Teatro – Casino del Parque
Urbano) e foi inaugurado como sede do Mercosul em março de 2002, época em que o Brasil
tinha Fernando Henrique Cardoso como Presidente da República.
As salas de conferência da Secretaria do Mercosul estão todas situadas no piso térreo
do edifício. Há 2 salas com capacidade para 80 pessoas, guarnecidas de uma mesa de
reuniões grande, confortáveis cadeiras, retroprojetor, mesas de apoio e ao fundo pode-se
observar as bandeiras de 4 países: Uruguai, Argentina, Brasil e Venezuela.
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Atravessando ao lado da frente do mesmo piso, tem-se 2 grandes salões, bem
maiores que as salas de reuniões. São destinados a grandes eventos e têm capacidade para
até 500 pessoas. Um deles é muito glamouroso, com lustres lindíssimos ao longo do centro,
pilares suntuosos, com camarotes em mezanino superior ladeando todo o salão, com palco
ao fundo e cortinas vermelhas por todo ele. Ressalte-se que o acabamento é refinado e
possui entalhes de madeira nas paredes e teto e marchetaria em todo o piso.
O outro salão de eventos, muito mais simples, era o antigo restaurante do hotel e
funciona para situações menos suntuosas, mas que ainda assim se necessite reunir pessoas
para um almoço, talvez. Ambiente de estilo mais rupestre, sem lustres, apenas com
iluminação em bocais grandes com arandelas laterais e de teto, possui pinturas brancas nas
paredes e detalhes em verde, não possui cortinas, nem mezanino.
SOBRE A VISITA AO GABINETE DA DRA. VERÓNICA ROSANA MEDEROS GANDOLFO -
ASSISTENTE TÉCNICA DE MINISTRO DA SCJ:
Ao saber da ida ao Brasil de uma assistente de ministro da SCJ do Uruguai, solicitei ao
cerimonial a possibilidade de encaixar na minha programação uma ida ao seu local de
trabalho para saber um pouco mais da rotina de atividades. Afinal, eu nutria grande
interesse no conhecimento do fluxo de trabalho de um gabinete de ministro no Uruguai, a
absorver tanto em metodologia, técnicas e procedimentos.
Assim foi feito e felizmente foi possível visitar Dra. Verónica Rosana Mederos
Gandolfo, Assistente Técnica do Ministro Ricardo C. Pérez Manrique da SCJ, que
coincidentemente, tinha chegado havia poucos dias do Brasil, onde estivera por ocasião da
realização do mesmo intercâmbio. Foi muito salutar e produtivo este encontro.
Em sua sala de trabalho, fui muito bem recebida e acomodada entre duas pequenas
mesinhas sobre as quais se encontravam alguns processos. Iniciou-me por me apresentar a
sua colega de sala e dizer que cada juiz tem apenas 2 assistentes. E disse-me que elas são as
responsáveis por realizar os estudos dos processos conforme orientações de seus ministros.
Inicialmente, elas recebem o expediente e o ordenam, pois que têm apenas 20 dias
para fazê-lo “girar” entre os demais ministros, devendo encaminhar ao próximo ministro da
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lista contida na contracapa do processo para que, igualmente, se abra o prazo de 20 dias
para o estudo, e assim até o quinto e último ministro. No Uruguai o ministro presidente
sempre participa deste rodízio, igualmente aos demais. Não há relator de processo, todos
devem juntar seus estudos para que o último redija a sentença que apenas será o
aglutinamento do entendimento de cada um. No caso de ocorrerem entendimentos
divergentes, estes serão registrados devidamente acompanhados dos motivos e
fundamentos da divergência.
Após receberem e colocarem em ordem de chegada, em virtude do prazo que expira
em 20 dias, elas verificam os aspectos formais quanto à admissibilidade do “expediente” e,
somente depois, passam à verificação da jurisprudência juntada e da elaboração em si dos
estudos.
Tive a oportunidade de estar com um “expediente” em mãos e observar os detalhes
dos encaminhamentos, dos prazos, do fluxo de “giro” dos estudos já realizados pelos
ministros anteriores, ler a jurisprudência da pasta plástica juntada ao final pelo
Departamento de Jurisprudência da SCJ.
CURIOSIDADE: Notei que apesar de fazerem atividades técnicas e
redigirem a sentença, os assessores não finalizam a sua elaboração. Há um
setor que cuida de “formatar”, padronizar texto, etc... e após digitarem tudo
pronto e formatado, enviam aos assistentes para revisão e assim que dão o
seu “ok” é que este setor encaminha ao ministro para assinatura. Não é o
assistente quem faz tudo em conjunto com o ministro e apenas ao final já
entrega a decisão pronta e assinada por ele para publicação.
Na distribuição dos processos não há separação por assunto, nem ramo do Direito,
nem tão pouco por natureza jurídica, se recurso ou se originário na própria SCJ. Os
assistentes devem elaborar o estudo de todos os assuntos que vierem nos expedientes,
qualquer que seja o ramo do Direito.
Dra. Verónica contou que a Constituição uruguaia vigente desde 1967 e que para
haver alguma emenda é necessário plebiscito prévio. Houve apenas 3 alterações até hoje.
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Falou que o CGP (Código Geral de Processo) do Uruguai em muito também as auxilia
constantemente em suas tarefas. É ferramenta de trabalho utilizada com muita frequência
por elas.
Em observação pessoal, ela comentou que também havia notado as diferenças em
relação à formalidade que se tem no Brasil em comparação com a proximidade que se tem
no Uruguai. Ressaltou, inclusive, ter registrado essa impressão pessoal em seu relatório de
intercâmbio. Ao que eu mencionei, inclusive, ter feito o mesmo!! Ela compartilhou as
situações que experimentou e vivenciou no Brasil e pudemos trocar experiências e pontos
de vista em comum.
Ao final desta frutífera visita, fomos ao encontro do Dr. Tovagliare, que nos
aguardava em sua sala, no mesmo edifício, para mais uma reunião.
SOBRE A REUNIÃO COM DR. TOVAGLIARE:
Tivemos então, neste dia, mais um dos instrutivos encontros com Dr. Tovagliare. Na
tarde de hoje conversamos a respeito de assuntos mais relacionados à área penal.
Falou-nos Dr. Tovagliare sobre as condições precárias das carceragens uruguaias e os
problemas encontrados pelo Estado para melhor prover e solucionar questões afetas a essa
situação. Falou-nos haver um centro de internação para menores infratores também, o INAU
(Instituto del Niño y Adolescente del Uruguay). Disse-nos que há no país não mais do que 500
jovens internados nestes centros de reabilitação para menores infratores, uma vez que
conforme no Brasil, no Uruguai os menores de 18 anos não podem ser punidos
criminalmente e cumprirem penas em carceragens.
Fiquei surpresa com a informação acerca da necessidade de advogado para se
impetrar “habeas corpus” no Uruguai.
Encerrada a “parte penal” da conversa de hoje, eu o indaguei sobre o contingente de
processos relativos aos servidores públicos, uma vez que no STF tem-se um percentual
bastante considerável de demandas acerca dos direitos e garantias dos servidores públicos
federais, estaduais ou municipais, sejam eles civis ou militares.
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Em explicação, Dr. Tovagliare disse que no Uruguai, no que diz respeito aos
servidores públicos, somente compete ao Poder Judiciário o conhecimento e julgamento de
causas em que há danos e prejuízos, que demandem alguma espécie de ressarcimento ou
devolução pelo Estado. As demais discussões acerca de pontos e entendimentos
controvertidos sobre os direitos os servidores públicos, relativos a atos administrativos, ao
poder discricionário da Administração Pública de rever e anular seus próprios atos, etc... são
todos tratados no Tribunal Contencioso Administrativo, ligado ao Poder Executivo, seguindo
o modelo francês.
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7º dia: terça-feira
I - REUNIÃO COM DR. TOVAGLIARE
II - VISITA AO DEPARTAMENTO DE JURISPRUDÊNCIA DA SCJ
III - VISITA AO “JUZGADO DE CONCILIAÇÃO”
Uruguai, 9 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
Sobre a reunião com Dr. Tovagliare:
Na ocasião de hoje foi possível acompanhá-lo fazer uma tarefa muito interessante:
preparar os “expedientes” para julgamento da Corte. Eles chamam a esta reunião de
ministros, que ocorre apenas quando não há consenso dos estudos feitos sobre o processo,
de “EL Acuerdo”. Ela é secreta (não é aberta ao público em geral) e somente acontece
quando houver discordâncias entre os “estudios” realizados pelos ministros. Caso seja
unânime o entendimento, apenas é redigida a “sentença” pelo último ministro, o redator.
Por isso que a sessão plenária possui esse nome, em razão de refletir um acordo firmado
pelos ministros acerca de um determinado assunto. Dessa forma, não existem “votos
individuais”, há estudos individuais, mas apenas uma “sentença”. Quando houver algum
entendimento que prevaleça divergente este deverá ser registrado na “sentença”,
devidamente acompanhado de seus fundamentos.
Assim, na SCJ do Uruguai não há relator de processo. Todos os ministros leem e
colocam na “pastinha plástica” o seu estudo. Ao final, o último a fazê-lo, na ordem indicada
numa etiqueta que segue colada na contracapa do processo, ao perceber consenso de
opinião dos estudos juntados, redige a “sentença”. Caso veja que há estudos divergentes
sobre o assunto do processo e a decisão que deve ser tomada, encaminha-o ao Dr.
Tovagliare para que então prepare o “El Acuerdo”.
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É uma tarefa parecida com o que seria a realizada pela Secretaria de Sessões no STF,
que conta inclusive com uma organização de ordem a ser apresentada, tal como ocorre com
o calendário divulgado e a ordem dos processos que constam na reunião de ministros. Há
ainda uma organização quanto ao assunto dos processos, que são agrupados quando iguais,
referentes ao mesmo assunto, mesma legislação. Inclusive, isso é feito no início, quando da
distribuição aos ministros para “estudios”.
Quanto aos “estudios” é interessante ressaltar o trabalho da equipe de
jurisprudência da SCJ. Em todo processo é anexado um envelope plástico transparente, e
antes de seguir para os gabinetes dos assistentes dos ministros (lá o encaminhamento é
mesmo feito aos assessores, pois quando feitos ao próprio ministro, é na mesa do próprio
mesmo que fica, e atual pessoalmente na tarefa que lá estiver posta a ser feita), passa por
este Departamento de Jurisprudência. Lá mesmo já é feita toda a pesquisa de jurisprudência
existente sobre o assunto, a partir da análise das decisões das instâncias inferiores e do
pedido do requerente. Anexam ao expediente, colocando os papéis na pasta plástica e
encaminham aos assistentes do ministro assinalado na contracapa como sendo o 1º a
realizar estudos.
Esse estudo de ministros é controlado pelos assistentes em termos de prazos. Há um
prazo máximo de 20 dias para repassar ao próximo ministro para estudo. Até que os 5
ministros o façam. Esse controle é rigorosamente observado pelos assistentes e
acompanhado pelo Secretário Letrado. Conforme já havia nos comentado, em aspecto geral,
Dra. Verónica.
Nesse momento, após a explanação do Secretário, fizemos uma breve explanação
sobre o funcionamento dos mecanismos das pautas de julgamentos, metodologia de
trabalho e composição/estrutura das decisões do STF, tanto monocráticas, quanto
colegiadas.
SOBRE A VISITA AO DEPARTAMENTO DE JURISPRUDÊNCIA DA SCJ:
No subsolo do Palácio de Píria está o Departamento de Jurisprudência da Suprema
Corte. Um espaço muito simples, reservado e com poucos funcionários. Mais uma vez, uma
mulher à frente da coordenação dos trabalhos de todo o setor, a Sra. Maria Luisa Tosi Zas,
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levou-nos até sua “oficina” e nos abriu o sistema de dados de jurisprudência em computador
de sua mesa e passou a nos mostrar como são inseridos os dados jurisprudenciais na base do
Poder Judicial.
Anteriormente a 2011, o acervo estava disponível para consultas internas, apenas
pelos funcionários da Corte. Contudo, desde aquele ano passou a ser de acesso universal,
tendo um endereço web na rede para todo o mundo consultar a base de dados da
jurisprudência da Suprema Corte uruguaia.
Explicou-nos a Sra. Maria Luisa Tosi Zas, que suas tarefas consistem praticamente em
duas frentes: instruir os expedientes e alimentar a base de dados a fim de mantê-la
atualizada com todas as sentenças proferidas pela Corte.
SOBRE A VISITA AO “JUZGADO DE CONCILIAÇÃO”:
Fomos gentilmente recebidos pela
Dra. Martinez, juíza titular do “Juzgado de
Conciliação de 4º Turno do Poder Judicial del
Uruguay”. Assim que chegamos pudemos
acompanhar uma audiência que acabara de
iniciar. Houve interessante debate, em cuja
matéria de fundo, perdas e danos por uso e
cobrança de propriedade repassada em
testamento, as partes dissentiam quanto aos fatos postos.
CURIOSIDADE: Por se tratar de um Julgado de Conciliação, as partes não
são obrigadas a produzir provas documentais, nem testemunhais nem nada.
Basta que se lhe apontem fatos e opiniões. Pois ficou muito evidente que,
independentemente das informações contidas nos papéis, trazidas por
pessoas ou levadas a conhecimento por qualquer outro meio de prova idôneo,
o que pesa e vale ali é o interesse na composição, é a finalização do que pede
o proponente e do que lhe oferece o demandado em acordo. O objetivo é
conciliar.
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Assim, como o fato alegado pelo proponente, a fração ideal de um bem deixado em
herança, com base num testamento apresentado, se chocava em relação ao alegado pelo
demandante, que aduzia ter outro documento com fração ideal muito diferente, contudo
não o levara. Dessa forma, diante do impasse em não aceitar a proposta com base nesta
divergência, lhes foi oferecido prazo para apresentar tal documento a fim de serem elididas
as dúvidas fáticas e caminharem para um acordo de direitos.
Em seguida, após finalizar a audiência conciliatória, reagendada para data posterior,
fomos conhecer as instalações do “juzgado”. Acompanhados pela mesma juíza, conhecemos
a “varanda” (cartório) do foro de conciliação, totalmente gerido por mulheres, novamente
minha observação sobre essa peculiaridade.
O “Juzgado de Conciliação” existe no Uruguai desde 2002. Essa juíza, Dra. Martinez, é
uma das “pioneiras” nessa atividade no Uruguai. Ela contou que de 120 juízes de paz
(iniciantes na carreira da magistratura uruguaia) inscritos para as vagas oferecidas pelo
Poder Judiciário neste julgado, apenas 8 lograram aprovação nas condições definidas no
edital de remanejamento. Destes 8 apenas 4, naquele momento, ocuparam as vagas então
disponibilizadas. Ela estava entre eles e é a única deles que ainda hoje está lá.
Contou-nos com grande entusiasmo sobre essa sua tarefa de conciliação que realiza
no Poder Judiciário há tantos anos. Disse ser muito cansativo, e de fato requer muito da
perspicácia do magistrado em estar atento às partes todo o tempo: ao que dizem, como se
comportam, como reagem... Pois disse que, a depender da situação, é necessário “mudar a
técnica utilizada para que resulte melhor a conciliação”.
Antes de atuar neste “juzgado de conciliação”, ela atuou como juíza de paz em
julgados do interior do país. Disse preferir a atividade que faz hoje, pois pode ver resultados
mais rápidos, mais efetivos e por isso se sente mais “recompensada”. Ela disse que é muito
gratificante ver de pronto o resultado de um esforço, e por isso, a gana de se empenhar
sempre e cada vez mais.
No “Juzgado de Conciliação” do Uruguai as partes devem comparecer às audiências
acompanhadas de advogado, exceto casos de direitos do consumidor, em virtude de nova lei
no país que permite ao cidadão pleitear sem advogado causas relativas ao direito do
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consumidor. Assim, paga-se custas e tudo mais, tendo em vista a intervenção do profissional
do Direito que acompanha as partes. As decisões ali tomadas têm força de sentença judicial
e podem ser executadas como qualquer outra obtida diretamente no Poder Judiciário
uruguaio.
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8º dia: quarta-feira
I - VISITA AO “JUZGADO LETRADO DE FAMÍLIA ESPECIALIZADO DE 6º TURNO”
II - ACOMPANHAMENTO DE AUDIÊNCIA SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
REALIZADA PELA DRA. MARIA ELENA EMMENENGGER
Uruguai, 10 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
SOBRE A VISITA AO “JUZGADO LETRADO DE FAMÍLIA ESPECIALIZADO DE 6º TURNO”
Com a cordialidade que é habitual aos
funcionários da SCJ, fomos, mais uma vez,
muito bem recebidos pelos colegas do
“Juzgado Letrado de Família Especializado em
Violência Doméstica”.
Este Julgado é especializado apenas
em assuntos relacionados à violência
doméstica, e funciona em regime de
atendimentos urgentes. No Uruguai, a Ley nº
17.514/2002, que trata da violência
doméstica e da sua aplicabilidade pelo Poder Judiciário, inclui proteção a adultos, crianças,
adolescentes e idosos, de ambos os sexos, que estejam sob sofrimento, de qualquer
natureza, oriundo de violência doméstica.
A estrutura bastante rudimentar das instalações físicas não deixa a desejar em
qualidade e eficiência o serviço que lá é prestado. A organização de tudo ainda é muito
manual, inclusive o agendamento das audiências e laudos técnicos pela equipe de
especialistas.
CURIOSIDADE 1: Há entradas no edifício e salas de espera separadas
para demandantes (em geral, mulheres) e demandados (em geral, homens).
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Eles aguardam até que o assistente do juiz lhes chame na porta da sala de
audiência, onde entra primeiro um e quando sai, é então chamado o outro,
que passa à sala.
Em geral o funcionamento origina-se com o atendimento feito pela polícia, nas
delegacias, para onde se dirigem a maioria das pessoas para dar queixa da violência sofrida.
O agente de polícia, ou mesmo o delegado, entra em contato pelo celular, com um juiz que
esteja no plantão da semana (isso mesmo, além do turno normal de atividades no “juzgado”,
durante o dia, os 6 juízes se revezam num plantão de 12 dias ininterruptos para atender
chamados das 20h às 8h – durante a madrugada, inclusive -, e aos finais de semana). O juiz
toma nota da queixa, registra dados pessoais das partes e pelo telefone mesmo já impõe
uma medida protetiva para amparar, de modo acautelatório, o(a) demandante.
Nesta mesma ocasião, ela já informa ao policial o horário da audiência, que, em
geral, ocorre no máximo em 24h após o chamado, na sede deste Julgado Especializado. Há
audiências das 8h às 18h, todos os dias úteis da semana. E ainda, aos sábados e domingos,
das 10h às 12h.
CURIOSIDADE 2: Esse rodízio na escala do plantão entre os juízes (6)
lotados no Juizado de Família Especializado em Violência Doméstica é
atividade complementar e específica. Além de cumprirem o horário normal do
expediente, o juiz plantonista fica de posse do “celular do plantão” por 12 dias
consecutivos para atender com eficiência e presteza dos chamados da polícia,
inclusive sábados, domingos e feriados. Eles não recebem adicional extra pelo
exercício desta atividade, que é inerente à rotina de trabalho neste juizado.
Há, nas instalações do “Juzgado Civil Especializado”, uma ala destinada à ocupação
da equipe técnica formada, atualmente, por 11 profissionais: 2 médicos forenses, 3
psicólogos, 2 psiquiatras e 4 assistentes sociais. A eles são solicitados perícias, pelos juízes,
ou a requerimento das partes em audiência, onde se podem averiguar várias situações de
fundo relacionadas aos fatos contidos nos casos de violência doméstica, assim como
também, quanto à aplicabilidade do “Código de la Niñez y Adolescencia”, o que seria
equivalente ao nosso Estatuto da Criança e do Adolescente.
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Essa equipe multidisciplinar, que atua na produção destes laudos auxilia os juízes na
elucidação técnica dos fatos postos pelos demandantes e demandados na busca da
verdadeira versão, no sentido de proteger especialmente, os mais fracos: o demandado, as
crianças, os adolescentes e os idosos. Por mês são agendados cerca de 884 laudos técnicos,
e destes, apenas cerca de 60% se realizam, pois há grande percentual ainda, de não
comparecimento das partes nos dias agendados para a atividade. Desta forma, acredita-se
que, tendo em conta as “férias menores e as férias maiores”, são produzidos mais de 7mil
laudos de avaliação técnica por ano (vide ANEXO IV). Saliente-se que pode haver mais de um
laudo ou atividade (acompanhamento psicológico, visitas domiciliares, etc...) realizadas em
um mesmo processo.
As demandas também podem ser instauradas a partir de denúncias de hospitais
públicos, clínicas e policlínicas quando médicos, enfermeiros ou funcionários verificarem
atendimentos em decorrência de maus tratos. Assim, a legislação confere legitimidade a
esses estabelecimentos para denunciarem aos Julgados Especializados quando suspeitarem
que o paciente atendido possa ter sofrido violência doméstica. E por fim, a demanda pode
ser instaurada também de forma pessoal, com a ida do demandante à “varanda” (cartório)
do “Juzgado Civil Especializado”.
Lá as audiências devem sempre ser realizadas com a presença do advogado. Se a
parte não tiver advogado particular pode se valer de advogado dativo, oferecido pela
Defensoria Pública, que possui sala em atuação, dentro das instalações deste “juzgado”.
Há também ao fundo, uma pequena carceragem para manter detidas as pessoas
pegas pela polícia em situações de flagrante cometimento de violência doméstica ou aquelas
que, em audiência, venham a desacatar o juiz, ou agredir qualquer das pessoas presentes.
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SOBRE O ACOMPANHAMENTO DE AUDIÊNCIA SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
REALIZADA PELA DRA. MARIA ELENA EMMENENGGER
O rito da audiência cível sobre violência doméstica não se difere muito das que
acontecem no Brasil. Contudo, há peculiaridades. A juíza solicita chamar o autor da
demanda (no caso assistido, tratava-se de um homem). Ficam presentes na sala apenas os
advogados das partes e, primeiro, o demandante. A magistrada indaga sobre os fatos
apontados na ocorrência informada pela polícia e pergunta sobre a permanência do
interesse na manutenção das medidas protetivas adotadas. Em seguida dá a palavra ao
autor para falar e logo após, pergunta ao advogado da parte adversa se tem alguma
pergunta.
Em seguida, pede que o autor se retire e solicita então, a entrada do réu (neste caso,
da ré, uma mulher). Lê a ocorrência, lhe dá conhecimento dos fatos narrados pelo autor, e
de seu interesse e em seguida, lhe dá a palavra para fazer manifestações a respeito.
Igualmente, cede a vez ao advogado do autor (uma advogada) para que indague aquilo que
for de seu interesse.
Após ouvir a parte demandada, solicita que se retire e, apenas na presença dos
advogados das partes, concede a palavra ao representante do Ministério Público para que se
manifeste. É a promotora de justiça (“Sra. Fiscal”, como eles denominam comumente) quem
solicita a manutenção das medidas protetivas por mais 120 dias e elaboração de laudo
psicossocial.
Então, após imprimir a ata da audiência, que vai assinada pelos advogados e pelas
partes, a juíza finaliza a audiência.
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9º dia: quinta-feira
I - AUDIÊNCIA NO JUZGADO LETRADO CIVIL
II - VISITA GUIADA AO PALACIO LEGISLATIVO
Uruguai, 11 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
SOBRE A AUDIÊNCIA NO JUZGADO LETRADO CIVIL:
Antes da visita guiada ao Palácio Legislativo, nos foi agendada uma nova ida ao
“Juzgado Letrado Civil” para assistir a mais uma audiência, às 13h.
Neste “juzgado” fomos calorosamente recebidos pela Juíza Letrada, Dra. Claudia
Kelland, que além de juíza, é também professora na Faculdade de Direito do Uruguai e no
CEJU. Estavam presentes 4 estudantes de Direito do 2º período do curso, igualmente
interessadas em acompanhar a audiência, e 1 estudante do CEJU, já em fase final do curso,
realizando estágio obrigatório, sentada ao lado da juíza, que a tudo acompanhava
atentamente.
Foi uma audiência de “testigos”, testemunhas, para reconhecimento de uma
assinatura num documento importante para o processo, que fora apresentada por uma das
partes. Lá no Uruguai, o Código de Processo Civil deles prevê que a prova produzida por uma
parte é dela, não é do processo. Assim, não pode a outra parte se aprofundar em
questionamentos a respeito de seus vários aspectos. Contudo, se a prova for produzida pelo
juizado (perícias, inspeções judiciais, etc...) pode sim ser questionada a fundo por qualquer
das partes.
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SOBRE A VISITA GUIADA AO PALÁCIO LEGISLATIVO:
Estupendo!!
Simplesmente uma das
construções mais belas que
tive oportunidade de
conhecer de perto. Majestoso
palácio do Século XIX, que
levou 17 anos para ser
construído. As obras
iniciaram-se em 1808 e foram
concluídas apenas em 1825.
Em sua construção foram utilizados 52 tipos de mármore diferentes, todos do Uruguai.
Neste momento, em razão da reforma do Edifício do Poder Executivo na Praça
Independência, as cinzas do herói uruguaio, José Gervásio Artigas, guardadas naquele
edifício, estão, temporariamente, sob guarda no centro do salão principal do Palácio
Legislativo.
CURIOSIDADE 1: A caixa com as cinzas foi pra lá
transportada por determinação regulamentar, prevista
na legislação uruguaia. E apesar de estar dentro da sede
do Poder Legislativo, ao Centro do Salão dos Passos
Perdidos, está ladeada pela guarda da Presidência da
República, que é diferente. Lá a segurança, de cada um
dos Poderes, é feita por sua guarda própria. Inclusive os
uniformes são diferentes.
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Há uma pintura muito especial nas paredes
internas do Palácio, de trato refinado, feita por pintores
italianos, na época da construção e até hoje, sem
condições de terem sido restauradas pelo fato de não
terem encontrado, no Uruguai, profissionais “experts”
na técnica utilizada. Assim, foi feita a contratação de
uma empresa que levará uma equipe de profissionais
italianos para capacitar uruguaios de modo que possa
ser feita a restauração para manutenção dessa parte do
Palácio e que seja mantida, com integridade, a beleza,
leveza e refinamento desta pintura.
Nesta oportunidade foi possível, em visita guiada, conhecer um pouco mais da
história do Uruguai e da estrutura do Poder Legislativo, que possui sistema bicameral,
composto por Deputados (99), eleitos pelo voto direto e Senadores (30), escolhidos pela
Casa Legislativa, com mandato de no máximo 1 ano. O Presidente do Senado é
obrigatoriamente o Vice-presidente da República Oriental do Uruguai.
O brasão da “Republica Oriental del Uruguay” possui formato arredondado, dividido
em 4 partes com os seguintes desenhos dentro de cada uma: um cavalo, que simboliza a
liberdade; um boi, que simboliza a fartura
das terras; uma colina, que simbolizando a
força; e uma balança equilibrada, que
simboliza a justiça. E aqui mais uma vez
somos remetidos aos ideais de igualdade e
liberdade.
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10º dia: sexta-feira
DESPEDIDAS E PREPARAÇÃO PARA O RETORNO AO BRASIL
Uruguai, 12 de outubro de 2012
Kassia Zinato Santos Machado
Supremo Tribunal Federal
Neste dia aproveitamos que não havia atividades previstas, propositalmente para
que tivéssemos um espaço na agenda para organizar as malas e preparar o nosso retorno,
para agradecer pessoalmente algumas pessoas.
Primeiramente, no gabinete da Sra. Ethel, despedi-me de sua equipe e deixei
lembrança ao Dr. Oxandabarat que muito gentilmente nos recebeu.
Acompanhados de Ethel, segui ao encontro do colega Aloysio que nos aguardava no
Palácio de Píria, onde nos despedimos do atencioso Dr. Tovagliare, que em vários momentos
nos brindou com sua gentileza, inteligência, disponibilidade e preciosos ensinamentos sobre
a SCJ.
Em seguida, fomos ao encontro da Dra. Carrión, coordenadora do PROFOJU, para lhe
agradecer pessoalmente toda a acolhida calorosa e dedicação na apresentação deste
programa fabuloso; ocasião em que lhe entregamos também uma lembrança de nossa visita.
Neste dia o expediente deles foi pela manhã e terminaria por volta das 16h, horário
que finalizamos as despedidas pessoais aos funcionários da SCJ e retornamos ao hotel para
organizar as malas e preparar o retorno para o Brasil.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Experiência muito válida, enriquecedora e preciosa: um verdadeiro aprendizado!
Em nenhum momento o idioma foi obstáculo a ser enfrentado na execução das
atividades do intercâmbio, nem de circulação pela cidade para realização de atividades
cotidianas, pois falavam devagar e nos davam atenção neste sentido.
As variações da cotação do dólar eram frequentes e isso causou, em certos
momentos, certa apreensão com relação ao câmbio. Contudo, a cidade conta com grande
quantidade de casas de câmbio onde a “concorrência” era grande e éramos então, não raras
vezes, beneficiados com isso.
Percebia-se que os anfitriões haviam se preparado para nos receber e organizado
com lisura o cronograma de atividades e separação de materiais entregues. Foram todos
muito solícitos e atenciosos aos questionamentos, intervenções e pedidos.
Observei, contudo, que num contexto geral, não foi preparada uma atividade
específica e direcionada à área de formação e atuação no STF, de modo a considerar as
expectativas pessoais e profissionais de cada um dos intercambistas, em virtude da
formação acadêmica e atuação profissional conforme informado pela Assessoria de
Assuntos Internacionais. Eram atividades conjuntas o tempo todo, todos os dias.
Notei que as pessoas na SCJ sabiam que éramos servidores do Poder Judiciário, mas
achavam que ambos éramos bacharéis em Direito com lotações distintas no STF (um em
gabinete de ministro e outro em setor de informática). Tive a sensação de que nos
departamentos visitados, mesmo no âmbito Judiciário, as pessoas que nos recebiam não
conheciam, de fato, nossos currículos ou haviam lido nossas expectativas com relação ao
intercâmbio, tendo em vista recorrentes apresentações como “magistrados”.
Pondero importante considerar essas observações quando do envio futuro de
informações sobre cada um dos intercambistas, visando maior transparência e clareza na
transmissão dos dados informativos de modo a propiciar um melhor aproveitamento de
tempo, conhecimento técnico e aprofundamento da troca de experiências. Os setores
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visitados são próximos, alguns até em mesmo edifício, trata-se apenas de uma questão de
logística e mapeamento de objetivos a serem direcionados de modo específico.
Mas mesmo assim, considerei muito válida a experiência e muito enriquecedora do
ponto de vista cultural e histórico, e que muito proporcionou em termos de aprendizado em
vários sentidos.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer ao STF pela oportunidade dada aos servidores,
por intermédio do Programa Joaquim Nabuco, de ampliarem seus horizontes, conhecendo
outra cultura, outro país, outra cidade e outra estrutura judiciária. Assim como pela
oportunidade de enriquecimento e crescimento pessoal e profissional adquiridos com esta
experiência.
Em especial, cumprimento o impecável acompanhamento da Assessoria de Assuntos
Internacionais durante todo o processo seletivo, desde a preparação até a finalização do
intercâmbio, com o envio de esclarecimentos via e-mails, fornecimento de material
informativo, assim como orientações e dicas.
Agradeço também aos colegas de trabalho que durante a minha ausência realizaram
as atividades da equipe com grande zelo de modo que eu pudesse participar deste
intercâmbio sem prejuízos aos nossos resultados e sem sobrecarga em demasia de trabalho.
Na pessoa do Dr. Tovagliare, gostaria de agradecer a todos que nos receberam na SCJ
do Uruguai, pela alegria, disponibilidade, paciência e atenção com que nos brindaram todos
esses dias. Em especial, a Sra. Ethel, que sempre muito solícita, empenhou-se
dedicadamente em nos assessorar em todo tipo de assunto e necessidades, nos
acompanhando praticamente em todas as atividades.
Não me poderia furtar em agradecer à minha família, que desde o início me
incentivou a participar desse Programa, e não mediram esforços para contribuir com o êxito
dele da melhor forma possível, ainda que suportando a saudade e a distância nestes 13 dias
de ausência.
Obrigada!
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ANEXOS
I – Ley nº 18.237 – Dispõe sobre o uso de expedientes eletrônicos no âmbito do Poder
Judiciário no Uruguai
II – Formulário para atendimento na “varanda” (cartório) da ORDA
III – Manual de Organização e Funções do Poder Judiciário do Uruguai
IV – Estatísticas da produção de laudos técnicos pelo serviço especializado do “Juzgado
Letrado de Família Especializado em Violência Doméstica” do Uruguai
V – “Acordadas” sobre a certificação digital e procedimentos eletrônicos