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PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO NA REFORMA AGRÁRIA: POLÍTICA PÚBLICA SOCIOEDUCATIVA PARA A QUALIDADE DE VIDA DO CAMPO Adriana de Almeida Colvero [email protected] José Gentil Medeiros Fernandes [email protected] Incra/PB INTRODUÇÃO O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) é uma política pública socioeducativa implementada no Brasil em 1998 pelo Ministério Extraordinário de Política Fundiária. Em 2001, o Programa foi incorporado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e hoje integra a Política Nacional de Educação do Campo. O Pronera foi elaborado a partir das experiências e demandas de movimentos sociais e sindicais por implantação de uma política pública para a Educação do Campo e especialmente voltada para os agricultores familiares, inicialmente aos beneficiários do Plano Nacional de Reforma Agrária, posteriormente inclui os beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário e recentemente os grupos remanescentes de Quilombos. A Educação na Reforma Agrária é uma parte da Educação do Campo e o Pronera, como política pública socioeducativa, compreende a educação para a reforma agrária como um instrumento para a construção do conhecimento de agentes e sujeitos sociais que poderão contribuir com a elaboração de planos, projetos e ações voltados para o desenvolvimento do território da agricultura familiar com qualidade de vida. O Pronera tem possibilitado aos agricultores familiares acesso à educação nos níveis de alfabetização e escolarização fundamental, médio, técnico, graduação e pós-graduação. Desde 1998 o Programa atendeu aproximadamente 186.000 estudantes. No estado da Paraíba, local de estudo desta pesquisa, já foram realizados 28 formatos de cursos

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO NA REFORMA AGRÁRIA…20DISCIPLINAS... · Educação do Campo e sobre o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) é um instrumento

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PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO NA REFORMA AGRÁRIA:

POLÍTICA PÚBLICA SOCIOEDUCATIVA PARA A QUALIDADE DE VIDA DO

CAMPO

Adriana de Almeida Colvero

[email protected]

José Gentil Medeiros Fernandes

[email protected]

Incra/PB

INTRODUÇÃO

O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) é uma política pública

socioeducativa implementada no Brasil em 1998 pelo Ministério Extraordinário de

Política Fundiária. Em 2001, o Programa foi incorporado pelo Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária (Incra) e hoje integra a Política Nacional de Educação

do Campo.

O Pronera foi elaborado a partir das experiências e demandas de movimentos sociais e

sindicais por implantação de uma política pública para a Educação do Campo e

especialmente voltada para os agricultores familiares, inicialmente aos beneficiários do

Plano Nacional de Reforma Agrária, posteriormente inclui os beneficiários do Programa

Nacional de Crédito Fundiário e recentemente os grupos remanescentes de Quilombos.

A Educação na Reforma Agrária é uma parte da Educação do Campo e o Pronera, como

política pública socioeducativa, compreende a educação para a reforma agrária como

um instrumento para a construção do conhecimento de agentes e sujeitos sociais que

poderão contribuir com a elaboração de planos, projetos e ações voltados para o

desenvolvimento do território da agricultura familiar com qualidade de vida.

O Pronera tem possibilitado aos agricultores familiares acesso à educação nos níveis de

alfabetização e escolarização fundamental, médio, técnico, graduação e pós-graduação.

Desde 1998 o Programa atendeu aproximadamente 186.000 estudantes. No estado da

Paraíba, local de estudo desta pesquisa, já foram realizados 28 formatos de cursos

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dentro das diferentes modalidades de ensino e em diversos municípios do estado, os

quais formaram mais de 3.500 estudantes.

A abordagem teórico-metodológica dos cursos oferecidos pelo Pronera, por meio das

instituições de ensino parceiras no Programa, está contextualizada à realidade do campo

e os conteúdos programáticos envolvem o tempo escola e o tempo campo/comunidade.

Essa política pública social e educacional contribui com a formação teórica e prática

do(a) cidadão(ã) e trabalhador(a) da agricultura familiar e camponesa e propõe

estimular os estudantes à solução dos problemas sociais, econômicos e territoriais do

campo, considerando-os na sua totalidade e na inter-relação setorial das políticas

públicas a serem aplicadas no território.

Neste sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar a importância do Pronera como

política pública socioeducativa para a população do campo na perspectiva da opinião

dos estudantes que concluíram os cursos técnicos nível médio em Magistério e

Enfermagem do Pronera no estado da Paraíba. A metodologia da pesquisa constitui-se

da análise das opiniões e experiências dos estudantes que concluíram os cursos. Para

isso foi utilizado os formulários de avaliação respondidos pelos estudantes.

As reflexões sobre os resultados deste trabalho sugerem possibilidades para se pensar a

importância desta política pública socioeducativa, a qual contribui com a formação de

um(a) trabalhador(a) e cidadão(ã) para pensar o espaço rural e agrário dos projetos de

reforma agrária e agricultura familiar em todas as suas dimensões: econômicas, sociais,

ambientais, políticas e culturais, considerando a integração das políticas públicas com

ações voltadas para o desenvolvimento do território da agricultura familiar e camponesa

com qualidade de vida.

1. PRONERA: POLÍTICA PÚBLICA SOCIOEDUCATIVA PARA O

DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO DA AGRICULTURA FAMILIAR E

CAMPONESA COM QUALIDADE DE VIDA.

Estudos realizados pela Coordenação Nacional de Educação do Campo e Cidadania do

Incra apontam que foi o primeiro Censo da Reforma Agrária no Brasil de 1996 que

evidenciou os altos índices de analfabetismo e os poucos anos de escolaridade das

populações que vivem nas áreas dos assentamentos da Reforma Agrária e da agricultura

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familiar, o que demonstra a dificuldade desta parte da população brasileira quanto ao

acesso à educação escolar em seus diferentes níveis.

Foi a partir de 1920 que as experiências educacionais por meio de escolas, programas,

currículos especiais e campanhas nacionais têm sido voltadas para a população rural,

mas, mesmo com a expansão quantitativa da escola rural, a educação continuou precária,

não conseguindo garantir escolaridade mínima fundamental para o meio rural, pois, não

conseguiu ultrapassar os anos iniciais do ensino fundamental e, ainda, muitas destas

escolas foram sendo fechadas nas últimas décadas (VENDRAMINI, 2007).

Diante desta realidade, os movimentos sociais e sindicais, os quais já eram

protagonistas na organização e desenvolvimento de trabalhos e atividades de formação

educacional básica para o campo brasileiro, desencadearam um processo nacional de

luta pela garantia dos direitos dos muitos pequenos trabalhadores rurais, articulando as

exigências do direito a terra com as lutas pelo direito a educação do campo (MOLINA;

FREITAS, 2011).

No I Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agrária (ENERA) em 1997, o qual

contou com apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais e Sem Terras (MST),

Universidade de Brasília (UNB), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF),

Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), marcou o que viria a se tornar uma

das primeiras políticas públicas de Educação do Campo, o Programa Nacional de

Educação na Reforma Agrária (Pronera), dentro do processo de construção da Educação

do Campo para o desenvolvimento do território camponês e da agricultura familiar. O

Pronera se estabeleceu como referência para outras políticas públicas constituindo

diversas pedagogias, a exemplo da Pedagogia da Alternância (FERNANDES, 2012).

A Pedagogia da Alternância, com as fases denominadas tempo escola e tempo

comunidade, passa a ser incorporada como uma metodologia que favorece o acesso e a

permanência dos jovens e adultos do campo nos processos escolares, antes dificultada

por sua característica seriada e estanque, sem articulação com a realidade e os modos de

vida rural. Atualmente a Pedagogia da Alternância insere-se nos vários programas e

projetos educacionais e passa a ser adotada e refletida nas políticas setoriais, por meio

do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (CORDEIRO et al, 2011).

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O Decreto n° 7.352, de 4 de novembro de 2010, que dispõe sobre a Política Nacional de

Educação do Campo e sobre o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

(Pronera) é um instrumento que representa a conquista dos movimentos sociais para a

implantação de uma política de educação do campo no âmbito da estrutura estatal.

Antonio Munarim (2011) aponta que este Decreto eleva esse programa governamental e

valoriza a ação das organizações e movimentos sociais do campo concernentes à

educação escolar no âmbito da reforma agrária. Nesse sentido, para além da referência à

reforma agrária, este dispositivo legal significa também um reforço oficial ao projeto de

agricultura familiar e camponesa.

Para debater a construção e implantação dos projetos e planos do Programa em nível

nacional e estadual foi instituída a Comissão Pedagógica Nacional do Pronera que é

composta por professores das instituições de ensino superior, representantes de

movimentos sociais e sindicais e representantes do poder público. Essa comissão

pedagógica coordena atividades didático-pedagógicas; define os indicadores de

desempenho e instrumentos de avaliação; desenvolve, discute e avalia as metodologias e

instrumentos pedagógicos, bem como acompanha as ações do programa nos estados e

municípios, articulando - o aos ministérios e poderes públicos; apoia e orienta os

colegiados executivos estaduais e emite parecer técnico sobre planos de trabalho dos

cursos.

Esse espaço organizado para discutir o Pronera assegura a importância e permanência

desta política pública, a qual deve ser implementada por meio do planejamento

participativo e da gestão compartilhada, quando vários agentes e sujeitos sociais

assumem responsabilidades na construção, acompanhamento e avaliação coletiva da

política e dos projetos socioeducativos.

Neste sentido, o Pronera como política pública para a educação do campo torna-se

fundamental para o desenvolvimento do território do campesinato que é parte do espaço

rural e agrário brasileiro, na perspectiva de desenvolvimento deste território com

qualidade de vida e inclusão social e territorial.

2. O PRONERA NO ESTADO DA PARAÍBA

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No estado da Paraíba o Incra coordena, atualmente, 274 projetos de assentamentos da

reforma agrária, sendo 13.349 famílias assentadas. Desde 1999 o Pronera proporcionou

no estado a formação de 3.582 estudantes, ofertando 28 formatos de cursos dentro das

diferentes modalidades de ensino (Quadro I).

As instituições de ensino, tais como: Universidade Federal da Paraíba (UFPB),

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Instituto Federal da Paraíba (IFPB)

e Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) se efetivam como parceiras do Pronera no

estado, as quais têm contribuído com a formação educacional de muitos agricultores

familiares e técnicos da assistência técnica e extensão rural e que irão desenvolver a

assistência técnica e social nos territórios da agricultura familiar e camponesa. Essas

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instituições criam, por meio de planos e projetos de trabalho, a oportunidade de

exercitar e realizar ações com a participação dos movimentos sociais e sindicais de

trabalhadores e trabalhadoras rurais. Enquanto política pública, o Pronera fundamenta-

se na gestão participativa e na descentralização das ações das instituições públicas

envolvidas com a educação do campo.

Nos primeiros anos de existência o Pronera atuou principalmente na Educação de

Jovens e Adultos (EJA), com a oferta de cursos específicos de alfabetização e

escolarização fundamental e, posteriormente, ampliaram as modalidades de cursos em

nível médio, técnico, superior e pós-graduação.

Os cursos na modalidade de alfabetização e escolarização de jovens e adultos (EJA)

foram realizados no período de 1999 a 2007 e trabalhados no formato de cinco

diferentes cursos e aplicados aos beneficiários da reforma agrária em diversos

assentamentos, com 2.719 alunos concluintes.

Os cursos técnicos profissionalizantes em nível médio atenderam 426 estudantes no

período de 1999 a 2010. Os cursos oferecidos abrangeram a área de agropecuária e

agroindústria, voltados para a formação dos estudantes que levariam para suas

comunidades conhecimentos técnicos aos agricultores e, os cursos de enfermagem e

magistério, propiciariam aos agricultores a assistência de profissionais na área de saúde

e educação.

Em nível de graduação foram realizados 6 diferentes cursos com 191 alunos concluintes,

até o momento. Os cursos de licenciatura em História, Pedagogia e Ciências Agrárias,

prepararam educadores para poder atender aos beneficiários da agricultura familiar e

reforma agrária nas ações técnicas e socioeducativas.

No nível de pós-graduação foram 4 cursos realizados com 186 alunos concluintes. As

especializações oferecidas criaram a oportunidade para os trabalhadores(as) do campo,

bem como para profissionais que atuam no setor agrário, de estarem aptos para

exercerem no espaço de vivência ou em outros assentamentos e comunidades rurais, a

formação obtida em assistência técnica e social.

Os cursos de extensão pós-médio (Residência Jovem) são oferecidos para complementar

a formação dos estudantes que tiveram concluído o ensino médio, fortalecendo a

participação e integração destes nas suas comunidades de origem e entorno como

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sujeitos produtivos e dinamizadores da realidade local. Foram executados 2 cursos até o

momento com 60 estudantes formados.

Os cursos do Pronera abrangem a concepção de educação do campo que se realiza por

diferentes territórios e práticas sociais que devem incorporar a diversidade do campo. É,

ainda, uma garantia para ampliar as possibilidades de criação e recriação de condições

de existência da agricultura familiar e camponesa. Esta ação educativa tem permitido o

acesso à educação de jovens e adultos que trabalham como agricultores, técnicos de

campo e educadores para as escolas de assentamentos.

3. OPINIÕES DOS ESTUDANTES EGRESSOS DOS CURSOS DO PRONERA

NO ESTADO DA PARAÍBA.

A abordagem metodológica da pesquisa constitui-se da análise qualitativa das respostas

dos formulários de avaliação realizadas pelos estudantes que concluíram os cursos

técnicos profissionalizantes nível médio em Magistério e Enfermagem. Estes dados

foram tabulados pela coordenação do Pronera da Superintendência Regional do Incra no

estado da Paraíba. A questão selecionada para este trabalho diz respeito a opinião

emitida pelos estudantes sobre como pretendem contribuir com os conhecimentos

adquiridos e a serem aplicados junto as suas comunidades rurais, os quais foram

desenvolvidos por meio da abordagem pedagógica do tempo escola e tempo

comunidade.

A seguir são apresentados os quadros que identificam a faixa etária e local de vivência

dos estudantes do curso técnico nível médio em Enfermagem, promovido pela UFPB

(Campus I – João Pessoa). Realizado no período de 2004 a 2007, com 63 educandos

concluintes. Responderam ao questionário 37 estudantes.

Faixa Etária Quantidade %

Entre 18 e 21 anos 17 27,02

Entre 22 e 25 anos 11 29,72

Entre 26 e 30 anos 07 18,91

Acima dos 31 anos 02 5,4

TOTAL 37 100

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Local de Moradia Quantidade %

Assentamento Novo Taipu em São Miguel de Taipu 01 2,7

Assentamento Socorro em Areia 01 2,7

Assentamento Maria da Penha I em Alagoa Grande 04 10,81

Assentamento Caiana dos Crioulos em Alagoa Grande 02 5,4

Assentamento Sapé em Alagoa Grande 03 8,1

Acampamento Senhor do Bonfim em Alagoinha 01 2,7

Assentamento Boa Vista em Sapé 02 5,4

Assentamento Nova Vivência em Sobrado 01 2,7

Assentamento Novo Salvador em Jacaraú 03 8,1

Assentamento Santa Lúcia em Araçagi 01 2,7

Assentamento Nova Vida em Pitimbu 01 2,7

Assentamento Sede Velha do Abiaí em Pitimbu 01 2,7

Assentamento Apasa em Pitimbu 02 5,4

Assentamento Valdeci Santiago em Cajazeiras 01 2,7

Assentamento Severino Cassimiro em Alagoa Grande 01 2,7

Assentamento Paissandu em Sousa 01 2,7

Assentamento Amarela I em São Miguel de Taipu 01 2,7

Assentamento Acauã em Aparecida 04 10,81

Assentamento Manoel Brito em Capim 01 2,7

Assentamento Boa Esperança em Jacaraú 01 2,7

Assentamento Santo Antonio em Cajazeiras 01 2,7

Assentamento Fortuna em Jericó 01 2,7

Assentamento Santa Helena II em Sapé 01 2,7

Assentamento Campart II em Rio Tinto 01 2,7

TOTAL 37 100

As respostas emitidas pelos estudantes sobre como pretendem contribuir com os

conhecimentos adquiridos e a serem aplicados junto as suas comunidades rurais foram

agrupadas segundo três enfoques:

I) Mediante conhecimento técnico e desenvolvimento de habilidades para a intervenção

em saúde realizando procedimentos de enfermagem nos serviços de atenção a saúde

existentes;

II) Mediante o conhecimento teórico-prático para o desenvolvimento de ações de

promoção e prevenção da saúde junto a população e grupos vulneráveis do campo;

III) Mediante a formação de recursos humanos em enfermagem visando a implantação

da Estratégia de Saúde da Família para os assentamentos.

OPINIÃO DO ALUNO SOBRE COMO PODE CONTRIBUIR

PARA A MELHORIA DA SAÚDE DOS ASSENTADOS EM SUA

COMUNIDADE

Quantidade %

Colocando em prática as técnicas que aprendi, dando assistência as pessoas de

comunidade (fazendo verificação de pressão e temperatura, aplicação de

injeção, curativos, acompanhamento do peso das crianças e dos diabéticos e

hipertensos etc.).

20 54,05

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Fazendo palestras de conscientização com informações e orientações sobre

saúde, perigos da automedicação, alimentação saudável, higiene e na

organização do assentamento em relação ao meio-ambiente.

16 43,24

Tendo um PSF (Programa de Saúde da Família) no assentamento 01 2,7

TOTAL 37 100

Com relação a este curso técnico em enfermagem os alunos egressos demonstram uma

satisfação por terem alcançado conhecimento nos saberes teóricos e técnicos em

Enfermagem, a despeito de todas as dificuldades que já foram relatadas (SILVA et al,

2011).

Nesta avaliação os alunos puderam exprimir a potencialidade do curso dentro do

modelo pedagógico e a possibilidade de avançarem da dimensão curativa da

enfermagem para a dimensão promotora de saúde e de qualidade de vida nos

assentamentos.

Pode-se inferir que o curso propiciou para os estudantes a possibilidade de superarem a

dicotomia entre as dimensões curativas e de promoção e prevenção da saúde nos

assentamentos e, devido a distância das comunidades rurais dos centros urbanos,

necessitam de acesso a esse tipo de cuidado no âmbito de suas comunidades.

A formação específica dentro do modelo pedagógico do Pronera transforma em

protagonistas esses alunos, inclusive para reivindicarem o acesso e implantação da

Estratégia de Saúde da Família a qual se inter-relaciona com a política do Pronera, para

que a comunidade consiga ser incluída no beneficio das políticas e também, como

profissionais formados pelo Pronera, consigam se fixar no campo para desenvolver os

conhecimentos adquiridos diretamente nas comunidades rurais.

Quanto ao curso nível médio em Magistério, promovido pela UFPB (Campus I – João

Pessoa) e realizado no período de 2004 a 2007, com 29 educandos concluintes, seguem

os quadros que identificam a faixa etária e o local de moradia dos estudantes.

Responderam ao questionário 24 estudantes:

Faixa Etária Quantidade %

Entre 18 e 25 anos 14 58,33

Entre 26 e 31 anos 09 37,5

Não respondeu 01 4,16

TOTAL 24 100

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Local de Moradia Quantidade %

Assent. Jaracatea em Jacaraú 01 4,16

Assent. Novo Salvador em Jacaraú 02 8,33

Assent. Apasa em Pitimbu 02 8,33

Assent. Bom Jesus em Poço Dantas 01 4,16

Assent. Nova Vivência em Sobrado 02 8,33

Assent. Almir Muniz em Itabaiana 02 8,33

Assent. Boa Esperança em Jacaraú 01 4,16

Assent. Acauã em Aparecida 01 4,16

Assent. Benta Hora em Mogeiro 02 8,33

Acampamento Antas 01 4,16

Assent. Limão em Araruna 02 8,33

Assent. Árvore Alta em Alhandra 01 4,16

Assent. União em Areia 01 4,16

Assent. Caiana em Alagoa Grande 01 4,16

Assent. Santa Lúcia em Araçagi 01 4,16

Assent. Antonio Chaves em Jacaraú 01 4,16

Assent. Dona Helena em Cruz do Espírito Santo 01 4,16

Acampamento Ponta de Gramame 01 4,16

TOTAL 24 100

No próximo quadro foram agrupadas as respostas dos estudantes segundo quatro

enfoques:

I) Contribuir com o conhecimento adquirido e resgatar a história e cultura local para a

construção da escola do campo;

II) Repassar o conhecimento para promover junto aos jovens do assentamento a

prevenção em saúde e conservação do meio ambiente;

III) Contribuir na alfabetização dos adultos;

IV) Localizar os problemas existentes junto a comunidade e auxiliando nas soluções e

organização dos assentamentos.

OPINIÃO DO ALUNO SOBRE COMO PODE CONTRIBUIR PARA A

MELHORIA DA EDUCAÇÃO DOS ASSENTADOS EM SUA

COMUNIDADE

Quantidade %

Contribuir com os meus conhecimentos, ajudando a resgatar a história de luta e

a nossa cultura na construção da escola do campo que queremos.

09 37,5

Repassando os conhecimentos adquiridos em assembléias, salas de aula,

encontros e reuniões, incentivando os jovens dos assentamentos, orientando a

comunidade nas questões de saúde, meio ambiente etc.

10 41,6

6

Contribuindo na alfabetização dos adultos 01 4,16

Sendo um multiplicador de conhecimentos, localizando os problemas do

assentamento juntamente com a comunidade e auxiliando no encaminhamento

das soluções, ajudando-os na organização do assentamento.

02 8,33

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Já contribuo como educador da escolarização de jovens e adultos do Pronera,

na organização da associação dos assentados e na escolarização de crianças.

02 8,33

TOTAL 24 100

Quanto ao curso de Magistério, o conjunto de respostas enfocam pontos que apresentam

a disposição dos estudantes egressos de alinharem o conhecimento teórico e prático do

tempo escola e tempo comunidade adquirido com a realidade histórica e sociocultural

das comunidades rurais em que vivem, pois, a experiência vivida com esta realidade

exige uma orientação para um projeto engajado na construção de um modelo de ensino

e a necessidade de implantação da escola do campo que se embasa em princípios

filosóficos e pedagógicos apreendidos durante o curso.

O diálogo com a comunidade rural pode ser construído nas salas de aula, assembleias e

reuniões e os estudantes se identificam como agentes multiplicadores do conhecimento

junto a comunidade e os problemas dos assentamentos serão discutidos em grupo e

poderão auxiliar no encaminhamento das soluções para o ordenamento dos

assentamentos, ao partilhar decisões sobre situações que interferem na vida da

população do campo.

Diante do exposto na análise apresenta-se o relato de um estudante egresso do curso de

Magistério, João Muniz da Cruz Filho, assentado da reforma agrária no assentamento

Almir Muniz, no município de Itabaiana (PB). João Muniz é de origem de família

camponesa e aprendeu o oficio de camponês e a importância de valorizar a agricultura

familiar. A partir do curso de Magistério ele deu continuidade aos estudos nos cursos

oferecidos pelo Pronera na Paraíba e concluiu o curso de graduação em Pedagogia e a

Especialização em Processos Históricos e Inovações Tecnológicas no Semiárido

Brasileiro:

(...) costumava dizer que foi necessário sair do assentamento para conhecer

essa realidade, e de uma forma surpreendente e transformadora por meio da

Pedagogia Freiriana, sobretudo a “Pedagogia do Oprimido” partindo da

realidade e necessidade local para o mundo, um universo maravilhoso que era

um grupo de jovens camponeses tendo acesso a Universidade as diversas

teorias e vivenciando na prática a realidade camponesa (...).

João Muniz da Cruz Filho também é poeta e escreveu um poema dedicado ao Pronera:

“O Pronera em minha vida”:

O PRONERA em minha vida É um sonho que se inicia

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É um destino, uma história,

É a real fantasia

Formação, conhecimento,

Segue nesta poesia.

O PRONERA vem da luta

E resistência neste chão

De terra pra trabalhar

E dela tirar o pão

Muitos morreram na luta

Pra termos educação.

Eu na minha juventude

Pensando em viajar

E trabalhar em Brasília

Minha vida melhorar

Entrei na luta da terra

Então resolvi ficar.

No ano 2004

O magistério surgia

Embarquei nessa aventura

Vi raiar um novo dia

Foram momentos difíceis

Também de muita alegria.

Duração de quatro anos

Foi um curso especial

Despertou meu senso critico

De intelectual

A consciência política

E o dever social.

Mim tornei educador

Fiz da luta educação

Dentro da comunidade

Tenho minha atuação

Sempre em defesa da vida

Da terra que gera o pão.

Também foi no Magistério

Que declamei meu poema

Cantei a vida na arte

Sonho, desejo, dilema,

Sou um José de Alencar

Nos braços de Iracema.

Termina o Magistério

Começa Pedagogia

Novamente eu no PRONERA

Para minha alegria

Curso que tem me ajudado

No resgate a poesia.

Muito mudou minha vida

É um jogo de vitória

Tornei-me um militante

Escrevi a minha história

Tudo aquilo que vivi

Eternizei na memória.

Não mudou só minha vida

Mas a vida de meu povo

O PRONERA deu subsídios

De buscar um mundo novo

Tem sido muito importante

Faria tudo de novo.

Marineide obrigado

És mulher de valentia

Sei que o PRONERA também

Algo bom te propicia

Ótimo artigo, um forte abraço,

Adeus até outro dia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A promoção dos cursos oferecidos pelo Pronera no estado da Paraíba tem contribuído

com a diminuição dos índices de analfabetismo e com a elevação dos níveis de

escolaridade da população que vive e trabalha nos territórios da agricultura familiar e

camponesa.

O modelo de educação do campo oferecido por esta política educacional, por meio de

uma abordagem pedagógica que organiza o currículo em tempo escola e tempo

comunidade, respeita a realidade das populações do campo ao valorizar as diversidades

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e potencialidades socioculturais inerentes aos territórios camponeses e eleva o

conhecimento teórico e prático dos estudantes.

Neste sentido, a escolarização alcançada por esta população do campo, por meio do

Pronera, permite proporcionar a inclusão do conhecimento desta população dos

territórios da agricultura familiar e camponesa nos planos e projetos de

desenvolvimento socioeconômico destes territórios no espaço rural e agrário brasileiro.

A necessidade de efetivar os direitos dos(as) trabalhadores(as) da agricultura familiar,

por meio de uma educação de qualidade e acessível para a população do campo, afirma

a função do Estado brasileiro dentro dos princípios e diretrizes democráticas com a

institucionalização de políticas públicas inclusivas e que proporcionam o

estabelecimento da população, com a qualidade de vida desejada, nos territórios

camponeses e da reforma agrária.

BIBLIOGRAFIA

CORDEIRO, Georgina N.K.; REIS, Neila da Silva; HAGE, Salomão Mufarrej.

Pedagogia da Alternância e seus desafios para assegurar a formação humana dos

sujeitos e a sustentabilidade do campo. Em Aberto, Brasília, v. 24, n. 85, p. 115-125,

abr. 2011. Disponível em:

http://emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/2489/2446. Acesso em:

11 de maio de 2016.

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