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A Educação como instrumento de transformação social A oferta de educação pública no Brasil de fato nunca conseguiu alcançar plenamente o objetivo de democratizar o conhecimento, garantindo ao conjunto da população uma formação de qualidade. O problema que, nas primeiras décadas do século XX situava-se principalmente na exclusão de uma significativa parcela da população dos bancos escolares, após os anos 60, e principalmente a partir dos 90, com a “massificação” da escola pública, parece ter mudado de lugar: a falta de qualidade da educação pública passou a ocupar o centro das preocupações. A verdade é que, embora o problema da qualidade da educação em geral, e da pública em particular, venha cada vez mais ocupando o cenário dos debates e das reivindicações da população ao redor deste tema, a questão do acesso e da permanência na escola continuam latentes. Assim, um olhar sobre a educação que tente pensá-la sob uma perspectiva transformadora deve combinar estas duas preocupações: devemos pensar um projeto de educação integral, pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, ao alcance de todos e de todas. A hegemonia neoliberal das últimas décadas trouxe como conseqüências, no âmbito da educação pública, os precários investimentos, os baixos salários dos profissionais, a falta de condições de trabalho, a estrutura deficiente, dentre outros tantos problemas que assolam os distintos municípios brasileiros, nos quais os governantes demonstram claramente sua visão sobre a Escola Pública: “escola de pobres e para pobres”. Um conjunto de políticas públicas para a educação com este viés torna-se incapaz de cumprir as tarefas de uma educação libertadora: o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas dos educandos, em especial na sua relação com o conhecimento social historicamente acumulado, com as artes e com o trabalho não alienado. Não se deve entender, contudo, que a ampliação do acesso à escola pública experimentada nas últimas décadas seja negativa: mais de 90% das crianças em idade escolar estarem freqüentando a escola deve ser encarado como um avanço. O que deve ser questionado é o fato de este aumento quantitativo dos educandos na escola ser acompanhado por um processo de precarização e de perda de qualidade da mesma, num intuito de fazer a escola passar a funcionar como um mero espaço onde as crianças são deixadas para que seus responsáveis possam trabalhar. Assim, o potencial libertador da escola transforma-se em seu inverso: a Escola Pública tal como os neoliberais a concebem é reduzida a um espaço

Programa PSOL Educação 2012 - Niterói

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Programa para Educação do PSOL Niterói - Eleições 2012

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A Educao como instrumento de transformao social

A Educao como instrumento de transformao socialA oferta de educao pblica no Brasil de fato nunca conseguiu alcanar plenamente o objetivo de democratizar o conhecimento, garantindo ao conjunto da populao uma formao de qualidade. O problema que, nas primeiras dcadas do sculo XX situava-se principalmente na excluso de uma significativa parcela da populao dos bancos escolares, aps os anos 60, e principalmente a partir dos 90, com a massificao da escola pblica, parece ter mudado de lugar: a falta de qualidade da educao pblica passou a ocupar o centro das preocupaes.

A verdade que, embora o problema da qualidade da educao em geral, e da pblica em particular, venha cada vez mais ocupando o cenrio dos debates e das reivindicaes da populao ao redor deste tema, a questo do acesso e da permanncia na escola continuam latentes. Assim, um olhar sobre a educao que tente pens-la sob uma perspectiva transformadora deve combinar estas duas preocupaes: devemos pensar um projeto de educao integral, pblica, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, ao alcance de todos e de todas.

A hegemonia neoliberal das ltimas dcadas trouxe como conseqncias, no mbito da educao pblica, os precrios investimentos, os baixos salrios dos profissionais, a falta de condies de trabalho, a estrutura deficiente, dentre outros tantos problemas que assolam os distintos municpios brasileiros, nos quais os governantes demonstram claramente sua viso sobre a Escola Pblica: escola de pobres e para pobres. Um conjunto de polticas pblicas para a educao com este vis torna-se incapaz de cumprir as tarefas de uma educao libertadora: o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas dos educandos, em especial na sua relao com o conhecimento social historicamente acumulado, com as artes e com o trabalho no alienado.

No se deve entender, contudo, que a ampliao do acesso escola pblica experimentada nas ltimas dcadas seja negativa: mais de 90% das crianas em idade escolar estarem freqentando a escola deve ser encarado como um avano. O que deve ser questionado o fato de este aumento quantitativo dos educandos na escola ser acompanhado por um processo de precarizao e de perda de qualidade da mesma, num intuito de fazer a escola passar a funcionar como um mero espao onde as crianas so deixadas para que seus responsveis possam trabalhar. Assim, o potencial libertador da escola transforma-se em seu inverso: a Escola Pblica tal como os neoliberais a concebem reduzida a um espao de controle social.Um quadro da rede municipal de educao de NiteriA Rede Pblica de Educao de Niteri o reflexo de alguns fatores histricos que remetem ao perodo em que o municpio era capital do estado do Rio de Janeiro, assim como a outras caractersticas sociais como o nvel de renda do municpio e a ao dos sucessivos governos nas ltimas dcadas.

Por ser ex-capital do estado, Niteri conta com um nmero considervel de escolas estaduais nos diferentes nveis de ensino. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao, ao definir como competncia dos governos estaduais a atuao prioritria no Ensino Mdio e dos governos municipais no Ensino Fundamental, teve como conseqncia o processo de reduo da atuao dos governos estaduais neste ltimo nvel de ensino. No Estado do Rio de Janeiro, com a Lei do Sistema Educacional, foi estabelecido um cronograma, com uma meta a ser cumprida em 2008, para que as escolas estaduais passassem por um processo de municipalizao. A pressa do governo estadual em se desresponsabilizar por este nvel de ensino, combinada com a exigidade da rede municipal de Niteri, fez com que, no incio do ano letivo de 2008, em diversos bairros da cidade, centenas de crianas ficassem fora da escola. Com a reforma da Lei do Sistema Educacional, o ritmo na retirada da rede estadual do ensino fundamental diminuiu, mas permanece ocorrendo e pressionando o municpio por respostas. neste quadro que transparece como os sucessivos governos municipais apostaram na construo de uma Rede Pblica incapaz de atender s demandas da populao do municpio. Em uma cidade com nveis de renda, no geral, mais altos que o do restante do Estado e onde os empresrios da educao tm exercido influncia decisiva nos governos das ltimas dcadas, a opo por restringir a rede pblica permitindo uma maior expanso da rede privada evidente. Uma parcela da classe mdia empurrada , mesmo sem condies, buscar vagas na educao privada, motivada principalmente pela avaliao de que a rede pblica no possui uma educao de qualidade. O resultado disso tem sido uma sucesso de falncias e fechamentos destes estabelecimentos privados e o desrespeito aos direitos trabalhistas dos profissionais da educao.Matrculas no ensino Fundamental Ano 2011. Fonte INEP

Matrculas no ensino Fundamental Niteri - 2011

CrechePr-Escola1 a 4 srie eAnos Iniciais5 a 8 srie eAnos Finais

Total3658108223045629763

Rede federal2924126140

Rede estadual00336712922

Rede municipal7793653133294432

Rede Privada285071451363412269

Para melhor entendermos o significado destes nmeros, vale compar-los com os da cidade do Rio:Matrculas no ensino Fundamental Rio de Janeiro - 2011

CrechePr-Escola1 a 4 srie eAnos Iniciais5 a 8 srie eAnos Finais

Total84665132104441516370881

Rede federal3271002995846792

Rede estadual273334266219374

Rede municipal3790972627299584230375

Rede Privada4615659043135800114340

Somente 17761 crianas de um total de 60 219 freqentam o ensino fundamental na rede municipal de Niteri, o que corresponde a menos de 30%, enquanto isso, a rede privada, com 25903 de matrculas, corresponde a 42% do total.

Certamente, a cidade do Rio de Janeiro conta com fatores que auxiliam a explicao da sua grande proporo de escolas municipais: uma hiptese seria o fato de a cidade ser ex-Capital Federal e ex-Estado da Guanabara, tendo, ento, parte desta estrutura se transferido para o Municpio.

Levando em considerao que esses processos, tanto no Rio quanto em Niteri, ocorreram h dcadas, o fato relevante que podemos avaliar a partir destes nmeros que, de fato, em Niteri no houve por parte do poder pblico municipal uma ao continuada que visasse universalizao da educao pblica. possvel constatar com facilidade que a prefeitura de Niteri optou por uma rede pequena, voltada para aqueles que no conseguem pagar a rede particular, consagrando a idia da escola pblica como uma escola para pobres. Esta idia deve ser combatida, posto que, diferentemente do que defendem os governos neoliberais, a educao no pode ser uma mercadoria. Para que uma poltica de governo em Educao seja efetivamente pblica, deve partir do pressuposto de que o pblico deve ter o acesso educao, e que, para tal, o Estado deve garanti-la a todos, inclusive mediante assistncia estudantil queles e quelas que queiram estudar, mas no tm condies materiais para tal. Para que de fato atenda ao pblico, a Escola Pblica deve ser tolerante para com as diferenas (de cor, de orientao sexual, de gnero etc.) e intransigente para com as desigualdades. Logo, deve-se partir de um entendimento de pblico oposto ao entendimento neoliberal, que responsvel pela verdadeira segregao promovida pelas atuais polticas de governo, que, incentivam, inclusive financeiramente, iniciativa privada, em detrimento daquilo que deveria ser o dever do Estado: a garantia de uma Educao pblica, gratuita e de qualidade para todos, e com financiamento pblico atravs do Estado, que mantido com a riqueza social produzida por aqueles e aquelas que vivem do prprio trabalho.

Ao trabalharmos com a concepo de que a educao deve ser um instrumento de libertao humana, de construo de autonomia e de solidariedade entre iguais e diferentes, e de que o acesso universal ao conhecimento deve ser um fator preponderante para a democratizao da sociedade, ou seja, para a construo de uma sociedade socialista e libertadora, enfrentamento das desigualdades sociais, defendemos a universalizao da educao pblica, com qualidade e valorizao de seus profissionais.A Rede FsicaHoje a cidade conta com 73 unidades educacionais da rede municipal, da educao infantil ao segundo segmento do ensino fundamental. Se observamos a quantidade de vagas necessrias para atender a populao em idade escolar vemos que ainda h muito o que fazer. De acordo com o Censo de 2011, h 81 mil crianas com idade entre 0 a 14 anos, em Niteri. Se pegamos os dados do ultimo censo escolar de 2009, observamos que haviam 74 mil matriculas na educao infantil e no ensino fundamental, ficando cerca de 7000 crianas e jovens fora da rede. Considerando que nem um tero das vagas existentes so oferecidas pela prefeitura, fica evidente o descompromisso com a educao de dcadas.

Alm da falta de vagas, vemos ainda um problema que o da construo de escolas com estruturas verticais, como pequenos edifcios, sem uma rea de recreao e para a prtica de esportes, e em alguns casos com muitas escadas e mesmo com aulas no subsolo. A UMEI Marli Sarney um exemplo deste tipo de estrutura deficiente. A questo do FinanciamentoA Legislao brasileira prev a obrigatoriedade de investimento de 25% do oramento municipal em educao. Alm disso, atravs de programas federais outros recursos so repassados para o municpio. Em uma sociedade de classes, com imensas desigualdades como a brasileira, a escola para funcionar de maneira democrtica garantindo a permanncia dos alunos deve garantir uma infra-estrutura adequada.

Nos ltimos anos tem sido recorrente a denncia por parte dos profissionais da educao da pulverizao do oramento municipal da educao, com repasses para outros setores principalmente EMUSA e CLIN. Este deslocamento facilita que parcela desta verba no seja de fato investida na educao e dificulta a sua fiscalizao. Alm disso, a opo do governo municipal em desenvolver programas que no valorizam o espao da escola tem promovido o seu esvaziamento.

Em um governo comprometido com a educao pblica e com a transparncia nas contas municipais a aplicao das verbas deve ser transparente e possvel de ser acompanhada por qualquer cidado. Alm disso, sua aplicao deve ser completamente monitorada pela SME, combatendo qualquer desvio. O que tem acontecido que nos ltimos anos o oramento da rea de educao tem sido reduzido enquanto o da EMUSA e da CLIN tem subido chegando a ultrapass-lo. Para pensarmos na qualificao dos profissionais e melhor remunerao destes, temos de alterar esta situao, investindo na pasta e fundamentalmente na valorizao da escola e do profissional da educao.

Alm disso, temos visto em Niteri o surgimento constante de denncias de superfaturamento em compras de brinquedos e equipamentos. Na maior parte das vezes estas aquisies no correspondem a nenhuma demanda pedaggica, mas a necessidade dos gestores de estabelecer relaes comerciais com fornecedores empenhando recursos pblicos da educao municipal.As Creches ComunitriasDesde o Governo de Joo Sampaio, e aprofundando-se no ltimo governo de Jorge Roberto Silveira e nas duas gestes de Godofredo, a prefeitura tem adotado uma poltica de privilegiar os convnios com as chamadas Creches Comunitrias em detrimento da expanso da Rede Municipal de creches e de educao infantil. Boa parte das vezes estas creches j existiam h muitos anos, principalmente as ligadas a instituies religiosas. Mas nos ltimos anos, a prefeitura passou a estimular a criao de novas creches geridas pelas associaes de moradores, que se tornavam responsveis pelo projeto pedaggico, seleo e contratao de pessoal, administrao fsica e financeira das creches.

Dessa forma, a oferta de creches e a Educao Infantil saram do plano das polticas pblicas da rea educacional e passaram a funcionar como moeda de troca para as associaes de moradores fiis ao governo, em modelo semelhante ao do Mdico de Famlia. Desde 2007 que boa parte desses convnios vem sendo questionados pelo Ministrio Pblico. Buscando dar continuidade a estas polticas, o governo aprovou em 29 de dezembro de 2011, com a PM na Cmara de Vereadores e a portas fechadas, o projeto de Lei das Organizaes Sociais. A partir desta lei o governo pretende regularizar esta relao com as creches comunitrias institucionalizando a precarizao da educao, do direito e das relaes de trabalho.Como podemos perceber a partir dos nmeros oficiais encontrados no prprio stio eletrnico, o crescimento das creches comunitrias foi consideravelmente maior que o das unidades regulares do municpio:

CRECHES COMUNITRIAS

1.666 alunos (2002); 1.860 alunos (2003); 2.479 alunos (2004);

2.862 alunos (2005); 3.624 alunos (2006); 3.577 alunos (2007).

UNIDADES MUNICIPAIS DE EDUCAO INFANTIL UMEIS

3.145 alunos (2002); 3.270 alunos (2003); 3.752 alunos (2004);

3.871 alunos (2005); 3.564 alunos (2006); 4.001 (2007).

Atendimento da rede fsica escolar

22.09.2011 | 8:38 pm

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32 creches comunitrias

25 unidades municipais de Educao Infantil

46 escolas municipais

Total: 71 unidades escolares + 32 creches comunitrias = 103 unidades

N de alunos:

Creches comunitrias: 3.124 alunos

UMEIs: 3.250 alunos

Escolas municipais de ensino regular: 19.997 alunos (sendo 1.404 alunos de Ensino Infantil e 18.593 alunos de Ensino Fundamental)

Escolas municipais EJA: 1.513 alunos

Total: 27.884 alunos

Creches Comunitrias: 32

Alunos: 3.130

UMEIs (Educao Infantil): 23

Alunos: 3.281

UE (Educao Infantil): 46

Alunos: 1.334

Total: 7.745

UE (Ensino Fundamental- 1 e 2 ciclos): 14.052

UE (Ensino Fundamental- 3 e 4 ciclos): 4.604

Total: 18.656

UEs que possuem EJA (Educao para Jovens e Adultos): 14

Alunos EJA- 1 e 2 ciclos: 1.091

Alunos EJA- 3 e 4 ciclos: 563

Total: 1.654

Alunos NEE (Necessidades Educacionais Especiais): 904

Essas Creches Comunitrias, boa parte das vezes recebem crianas at a idade de 5 ou 6 anos, cumprindo o papel no somente de creche, mas tambm de Educao Infantil. Todo este perodo da infncia fundamental para que as crianas desenvolvam suas aptides fsicas e psquicas. Por isso, segundo o Regimento da Rede Municipal de Educao, estas crianas devem acompanhadas por professores, que tiveram formao voltada para o processo educacional. Nas creches comunitrias isto no uma realidade, embora haja um setor na Secretaria Municipal de Educao responsvel pelo acompanhamento pedaggico destas creches. Ou seja, a Prefeitura estabelece condies nas quais s possvel administrar a precarizao da Educao.

Desta maneira, as crianas que ficam nas creches podem ser recebidas por pessoas bem intencionadas e atenciosas, mas que no foram preparadas. A Prefeitura no constri polticas de formao e de qualificao desses profissionais para atender demanda permanente de educar as futuras geraes com o horizonte de ter uma vida dignaUma proposta pedaggica transformadora

fundamental nas propostas polticas de governo do PSOL a ideia de continuidade do processo educativo, que entende que o ser humano est em constante construo. Dentro desta perspectiva, as propostas educacionais para o Municpio de Niteri pretendem construir a integrao entre os diferentes nveis educacionais, desde a Educao Infantil at a Universidade. Propostas gerais As propostas a seguir referem-se a tanto Educao Infantil quanto ao Ensino Fundamental promovido pelo Municpio de Niteri.

Gesto democrtica e participativa

A gesto participativa imprescindvel na construo de uma educao transformadora e de qualidade. Pensar a Escola Pblica de forma integral significa reconhec-la no s como um espao de transmisso sistematizada de certos conhecimentos, mas tambm como um espao de socializao, fundamental para inculcar hbitos, comportamentos, valores e vises de mundo.

A nossa concepo de Escola Pblica considera como um princpio a democracia direta da populao atendida por ela, sendo essa democracia aqui entendida como um fundamento que d sentido prpria idia de escola, sendo como um mtodo de organizao do sistema escolar, construindo os processos de emancipao humana como um fim a ser almejado e perseguido constantemente. Centrada no trabalho coletivo, ela possibilita o envolvimento da comunidade escolar, do pblico, na figura dos responsveis, dos alunos e dos profissionais de Educao e de todos e todas que estejam comprometidas com a construo de uma educao pblica e libertadora.

Tambm propomos, a partir da gesto de democracia direta, a transparncia administrativa.

Para viabilizar esta forma de construo da Escola Pblica, propomos:

- Seminrios permanentes com a comunidade escolar;

- Seminrios semestrais de formao dos profissionais da educao.

O objetivo destes seminrios de construir com a comunidade escolar a poltica pblica de educao municipal, o direcionamento das verbas Pblicas, a partir de um processo do debate pblico.

Banco de ideias

O banco de ideias uma iniciativa que pode contribuir para socializar atividades, metodologias e propostas bem sucedidas com toda a rede do Municpio de Niteri. Entendemos que a troca entre os profissionais da educao cumpre um papel importante no processo no formal de educao continuada. A partir deste pressuposto, propomos a divulgao destes trabalhos via internet para que outros profissionais e outras instituies escolares possam tambm us-las em prol de uma educao de qualidade. So apenas idias que os professores podem usar ou no. No existe obrigatoriedade.

Valorizao dos profissionais da educao

Alm das propostas acima, que possuem como base a valorizao da experincia dos profissionais da educao, propomos tambm particular ateno formao continuada desses profissionais, em especial a dos professores. Para esta valorizao profissional reconhecemos que salrios dignos tambm so de suma importncia. A realidade salarial hoje leva muitos profissionais a jornadas duplas e at triplas de trabalho. Isso faz com que no tenham tempo para o planejamento efetivo e nem para seu prprio lazer. Propomos, portanto, um permanente aumento salarial gradativo e acima da inflao visando alcanar reivindicao da categoria de 5 salrios para professor e 3 para funcionrios.

Alm disso, temos de definir a carga horria semanal dos funcionrios em 30 horas semanais.

Concurso Pblico

Para manter a maior qualidade e o maior nvel de profissionalizao da rede, o ingresso dos profissionais deve se dar atravs do concurso pblico. Alm disso, com o preenchimento das vagas a partir de concursos que se garante o conjunto de direitos dos profissionais, fazendo com que a poltica de valorizao destes tenha continuidade e permanncia.

Educao Infantil

A Educao Infantil deve ser concebida com a compreenso de que as crianas de zero a seis anos possuem suas prprias especificidades, cuidados e demandas. Nesta fase as crianas esto formando sua sociabilidade, afetividade, motricidade e pensamento lgico. Caractersticas que podero acompanh-las pelo resto de suas vidas. Descuidar deste perodo seria desperdiar os potenciais de cada ser humano. A educao desta fase deve atender, portanto, essas especificidades, contando com profissionais com boa formao e com salrio digno.

Deve-se pensar a educao dessa faixa etria com a considerao das suas especificidades, tendo como conseqncia a necessidade social de o Estado assumir econmica e politicamente a responsabilidade frente aos pais trabalhadores e s mes trabalhadoras. A Escola Pblica deve ser ocupada pelo pblico, ou seja, por quem demanda a educao de qualidade e vive do prprio trabalho.

Propostas:

Manuteno do Regimento do Professor na Educao Infantil

No se pode desenvolver o potencial das crianas de zero a seis anos sem que todos os profissionais envolvidos tenham uma formao especfica para tal. preciso que os professores reconheam as demandas exigidas por essa fase da vida humana. Devem compreender como se orienta o desenvolvimento das capacidades sociais, emocionais, lgicas e intelectuais dos educandos, no sentido de construir uma prtica pedaggica que possibilite quele desenvolvimento dar-se de forma libertadora. de fundamental valor que os profissionais das Creches e das Unidades Municipais de Educao Infantil sejam formados naquela perspectiva.

Progressiva criao de creches e UMEIs na rede municipal

O Municpio de Niteri conta hoje penas com dezoito escolas de Educao Infantil e trinta e seis Creches Comunitrias. Esses nmeros no do conta de atender a demanda de tantos pais que precisam da escola para cuidar e educar seus filhos enquanto trabalham. Propomos ento, a construo de novas Unidades Municipais de Educao Infantil.

Propomos que a Educao Infantil e as Creches sejam de tempo integral, objetivando o oferecimento de atividades pedaggicas e artsticas que visem o desenvolvimento das potencialidades da criana, de modo integrado com as atividades de ensino e aprendizagem.

nfase na familiarizao dos alunos com mundo da leitura e da escrita

O processo de alfabetizao demanda, por parte dos alunos, uma familiarizao com os sentidos sociais e textuais da palavra escrita. A alfabetizao deve ser um processo de efetivao desta familiarizao. No entanto, para que a alfabetizao seja construda nestes marcos, torna-se imprescindvel o contato permanente dos alunos com o mundo da escrita.

A Educao Infantil deve dar conta, portanto, desse processo de familiarizao e de encantamento, atravs de atividades especficas que levem os alunos a explorarem tanto a leitura como a escrita de letras, palavras e textos. A informalidade deste processo pertinente a Educao Infantil, todavia, essa familiarizao fundamental para evitar que alunos no deixem de ser alfabetizados nos dois primeiros anos do ciclo.

Material e instalaes

As atividades da prtica educativa que pretendem desenvolver as habilidades sociais, emocionais, motoras, lgicas e intelectuais das crianas no acontecem no vazio. So necessrios materiais especficos, como livros, brinquedos imaginativos, jogos educativos, dentre uma enormidade de outros recursos, ferramentas de grande valia para o desenvolvimento das crianas nos primeiros anos de vida. Assim sendo,

- propomos que o Municpio equipe cada sala de aula com o material necessrio para tal.

- propomos reformas para que as instalaes sejam adequadas s crianas desta faixa etria, onde sejam desenvolvidas atividades fsicas, intelectuais e artsticas.

Contratao de professores especialistas

Msica, arte e educao fsica so essenciais ao desenvolvimento das potencialidades humanas das crianas. Assim, torna-se necessria a formao de um quadro variado de professores na Educao Infantil, tendo em vista a contratao de profissionais com formao especializada em artes em geral, msica e educao fsica, visando o atendimento s demandas que cada uma dessas reas apresenta. O ensino de artes e da criao artstica deve ser integrado a todas as atividades realizadas na sala de aula

Alfabetizao

O Brasil vivencia atualmente altos ndices de analfabetismo. Neste ponto a classe dominante brasileira foi particularmente negligente na histria deste pas. As taxas de analfabetismo no incio do sculo XX eram lamentveis, de 65,3% dos brasileiros acima de 15 anos, em 1900, e, apesar dos avanos, em pleno incio do sculo XXI, segue ainda muito insuficiente, de 13,6% em 2000, a partir da mesma facha etria, segundo dados do IBGE (Censo 1900 e Censo 2000). No Municpio de Niteri os ndices so mais baixo. Todavia, para ser considerado alfabetizado no Brasil basta o individuo ser capaz de ler e escrever um bilhete simples. Esta metodologia de aferio de dados esconde o nmero no declarado de pessoas no proficientes na leitura e na escrita.

Como nos ensinaram os movimentos sociais, em especial os educadores e alfabetizadores populares da dcada de 1960, nos quais se formou Paulo Freire, a leitura e a escrita so um meio fundamental de relao do ser humano com a realidade social, em todos os seus mbitos, especialmente o poltico e o cultural, vivenciada desde um ponto de vista crtico e consciente das conexes entre o ato de ler e escrever e as condies concretas de existncia. Assim, os atos de ler e de escrever devem ser concebidos como um processo interligado e alm da mera decodificao dos cdigos fonticos, no primeiro, e da codificao dos mesmos, no segundo, devendo unificar-se com uma compreenso crtica e na relao desse processo com as condies de existncia dos alfabetizandos.

Muitos pases abandonaram o ensino da fontica por ser tradicional e repetitivo e adotaram o letramento, como foi o caso da Frana, Inglaterra, Estados Unidos, Canad, dentre outros. Percebendo que os ndices de proficincia na leitura e na escrita baixaram, hoje reformulam suas propostas de moda a buscar um equilbrio entre o ensino da fontica dentro do contexto do letramento.

As propostas abaixo esto, portanto, baseadas no letramento, que leva os alunos a entenderem de forma crtica as funes sociais da escrita, mas sem deixar de lado a necessidade de se compreender a relao entre o grafema e o fonema, to constitutiva da escrita em si.

Propostas

Metodologia que se baseia na relao entre letramento e fontica

Para atingir o fim de alfabetizar os alunos no seu sentido mais amplo, propomos a criao de uma metodologia especfica para o Municpio de Niteri, bem como do material necessrio para usar essa metodologia na sala de aula, que d conta do letramento e do ensino da fontica. Esse material estar a disposio das escolas que se interessarem em usar, no havendo assim, obrigatoriedade.

Tambm propomos que o Municpio faa formao continuada onde os profissionais da educao possam aprender a usar esse material, bem como enriquec-lo com a troca de experincias que possuem. importante que tanto a criao da metodologia, como formao continuada conte com a participao de profissionais que lidam diretamente com a realidade da sala de aula, contribuindo de forma efetiva para a construo coletiva do processo de alfabetizao.

Ensino Fundamental

Em 1998, a Fundao Municipal de Educao de Niteri, atravs da portaria SME/003/98, adotou a concepo de Educao por ciclos. Essa opo tinha como intuito a correo da distoro conhecimento/srie gerada pela promoo automtica vigente at ento. Com isso, pretendeu-se a substituio da lgica de seriao. Nesses ltimos dez anos o Municpio de Niteri definiu e redefiniu como esses ciclos se dariam na prtica. No entanto uma reorganizao estrutural ainda se faz necessria.

Na proposta de ciclos original central no respeito aos tempos de aprendizado de cada um dos alunos. Torna-se, assim, fundamental uma educao diferenciada.

Propostas

Rediscusso e avaliao dos ciclos

O Municpio de Niteri j viveu alguns anos de experincia com os ciclos. O profissionais da educao, que lidam diretamente com sua implementao nas escolas, so os mais habilitados para apontar quais tem sido os ganhos e quais tem sido os impasses dessa implementao. Portanto, propomos a avaliao dos ciclos a partir de seminrios realizados com esses profissionais. Esses seminrios tm o objetivo de primeiramente fazer uma avaliao de como o processo tem transcorrido. A partir dessa avaliao, gerar propostas coletivas de como aperfeio-lo.

Ampliao do nmero de docentes e reduo da relao professor/aluno

Hoje tem sido recorrente tanto pela parte dos profissionais da rede quanto de familiares a constatao de crianas progredirem muitas vezes at o quarto ou quinto ano do ensino fundamental mal sabendo ler ou escrever seus prprios nomes. Um dos fatores que j percebemos como fundamentais a ser rediscutido nos ciclos a relao professor/aluno, uma vez que a estrutura dos ciclos, para que no seja na prtica uma aprovao automtica, requer ampliao dos profissionais para que os alunos possam receber maior ateno.

Quando faz a opo pelo ciclo, o educador/gestor deve ter clareza que esta metodologia requer maior investimento em pessoal e infra-estrutura. Espera-se que o ganho venha tanto com a melhoria da qualidade quanto com a diminuio na distoro idade/srie e da evaso escolar. Isto no ocorre de uma hora para outra, a menos que o que se espera seja a melhoria de estatstica, e no da qualidade da educao.

Programa de acelerao de aprendizagem

Para que a proposta de ciclos possa progredir de modo a trazer reais transformaes nos processos de aprendizado dos alunos, torna-se imperativo que o os alunos que esto encontrando dificuldades recebam auxlio individualizado. Esse auxlio visa permitir que o aluno consiga acompanhar as demandas educacionais, no precisando assim, ficar retido no final do ciclo. Desta maneira, ele poder continuar a estudar com outros alunos da mesma faixa etria com os quais compartinha os mesmos interesses.

O programa de acelerao deve contar com professores formados que tenham os conhecimentos pedaggicos necessrios para auxiliar esses alunos de forma efetiva.

A acelerao se dar de duas maneiras diferentes:

1. O professor de turma dever fazer a diferenciao das atividades de modo a atender as necessidades especficas de cada aluno. Para que os professores saibam como trabalhar de forma diferenciada, propomos ciclos de formao continuada. Alm do mais, o banco de idias tambm contar com muitas formas de realizar essa diferenciao de forma prtica e fcil.

2. Os alunos que necessitam de auxlio individualizado o recebero de acordo com o grau de necessidade. A quantidade de vezes que o aluno receber suporte extra, podendo variar desde duas horas semanais at um auxlio em tempo integral. Nessa categoria, sero includos no apenas os PNE que j so atendidos hoje, como tambm aqueles alunos com dificuldades em desenvolver as habilidades e conhecimentos bsicos de seu ciclo.

Progressiva implementao do horrio integral

O horrio escolar integral de fundamental importncia para uma educao de qualidade e para a formao dos educandos num sentido amplo. O aumento da carga horria possibilita aos alunos um atendimento mais trabalhado e pensado de acordo com o desenvolvimento de suas habilidades. Propomos, portanto, que todas as escolas de Ensino Fundamental, com a exceo das turmas da EJA (Educao de Jovens e Adultos), sejam gradativamente transformadas em perodo integral.

Incluso da Histria frica e Cultura Indgena no currculo do Ensino Fundamental

A historiografia oficial do Brasil, sempre valorizou a histria Europia que era apresentada como antecedente da Histria do Brasil. Esta viso muito reforada pela tese do descobrimento, que reifica a perspectiva eurocntrica desta interpretao, onde negro e indgenas so apresentados simplesmente como escravos e selvagens sem passado e sem histria. A incluso do estudo destes povos no currculo do ensino fundamental de grande importncia para que a nossa sociedade hoje no reproduza a mesma mentalidade racista que marcou nossa histria.

Esportes

A prtica esportiva fundamental para o desenvolvimento integral da criana e do adolescente, sendo de suma importncia para suas capacidades psicomotoras, de sua sociabilidade e de sua sade, alm de auxiliar no conjunto da formao intelectual. Como boa parte das escolas de Niteri possuem reas reduzidas, a prtica esportiva de boa parte das crianas fica reduzida e subaproveitada. Temos de adequar a estrutura das escolas existentes, alm de formar de centros de prtica esportiva que dem suporte a rede escolar e permitam que Niteri se torne uma referncia na rea esportiva.

A municipalizao do Caio Martins deve ser parte estrutural da poltica de apoio a prtica esportiva na cidade que deve ser considerada como poltica institucional, e no somente como programas passageiros ou eleitoreiros.

Material, instalaes

Assim como a Educao Infantil, o Ensino Fundamental tambm requer material especfico para que as atividades pedaggicas possibilitem um aprendizado e um desenvolvimento mais consistentes nos educandos. Propomos, ento, que cada sala de aula seja equipada com livros ficcionais e no ficcionais alm de jogos didticos e de estimulo da criatividade. As instalaes das escolas e das salas de aula tambm devero ser adequadas s necessidades dos alunos desta faixa etria.

Projetos com a Universidade

As propostas at agora expostas se baseiam na premissa da autonomia professoral. O professor autnomo um professor pesquisador, um professor se que utiliza dos princpios da investigao cientfica dentro da sua prtica educativa, visando relacionar o aprendizado terico com a prtica pedaggica, num processo reflexivo. Isto posto, o vnculo com a Universidade Pblica torna-se fundamental.

Propostas

Manuteno dos convnios

A Fundao Municipal de Educao de Niteri j estabeleceu convnios com uma srie de Universidades tanto para a formao inicial quanto para a formao continuada. Esses convnios sero avaliados, os que forem considerados relevantes sero mantidos. Os que, por alguma razo no forem considerados importantes no processo de formao dos profissionais de educao podero ser substitudos por outros de maior relevncia.

Estreitar o debate com a Universidade

Os seminrios semestrais realizados com os profissionais da educao devero contar com o auxlio dos professores universitrios, em especial com os da UFF. Deve-se buscar na Universidade Pblica um elo de ligao estreito, visando o encaminhamento de polticas coletivas para a Escola Pblica do Municpio de Niteri. Deve-se propiciar a ocupao do espao universitrio pelo educandos da Rede Pblica municipal, visando o seu processo de familiarizao com o ambiente de debate de idias e de produo cientfica que prprio da Universidade, construindo uma relao que se remeta ao trabalho com as formas e os contedos prprios da escola.