Projecto de Lei 4/XII/1.ª (BE) - "Cria o tipo de crime de enriquecimento ilícito"

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    Grupo Parlamentar

    PROJECTO DE LEI N. 4/XII/1.

    CRIA O TIPO DE CRIME DE ENRIQUECIMENTO ILCITO

    Exposio de motivos

    A sociedade portuguesa tem a percepo, hoje mais aguda que nunca, que a corrupo

    mina o regime democrtico. Preservar a soberania popular e a representao poltica

    obriga transparncia e rigor dos eleitos e dirigentes do Estado. Decerto que se

    reconhece que recentemente se registaram avanos na legislao que visa prevenir,

    combater e punir a corrupo. Mais modestos so, porm, os resultados da iniciativa

    judiciria at agora.

    Contudo, embora se sublinhe que a primazia de auto-defesa do regime constitucional se

    situa na intensidade da busca penal e na cultura tica de cidadania, alguma coisa vem

    faltando. E a mensagem em falta, temo-lo reafirmado consecutivamente, corresponde introduo no ordenamento jurdico portugus do crime de enriquecimento ilcito. Toda

    a gente percebe: ningum enriquece em funes de Estado sem uma razo. A posse de

    rendimentos e patrimnio por agente pblico ou funcionrio em manifesta discrepncia

    com os proventos declarados cria e consuma, sem justificao de origem lcita desse

    significativo diferencial, um crime de enriquecimento sem causa, ilcito.

    Muito se discutiu, a propsito da criao deste tipo de crime, sobre a eventual coliso

    com a presuno de inocncia dos cidados, e da eventual inverso do nus da prova.

    Muito tambm foi alegado acerca de um presente envenenado ao Ministrio Pblico

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    por lhe ser praticamente impossvel obter meios de prova nestas circunstncias. Apesar

    da fragilidade desse argumentrio, o Bloco de Esquerda no foi insensvel pretensa

    acusao de inconstitucionalidade.

    Assim, o Bloco de Esquerda, por iniciativa do seu Grupo Parlamentar, reformula, neste

    contexto, esta sua previso penal. Sublinhando, cabea, a importncia de contributos

    de vrios especialistas como aqueles que foram trazidos Assembleia da Repblica

    pelos Drs. Jlio Pereira e Magalhes e Silva, pretende-se que a declarao de

    rendimentos e patrimnio, de actualizao peridica, vincule titulares de cargos

    polticos e altos cargos pblicos durante todo o tempo de funes e at cinco anos depois

    de estas cessarem. A posse de bens em desconformidade acentuada com essas

    declaraes , por si s, a prova exigvel a este tipo de crime. A concepo penal que aqui

    se aperfeioa, pela sua carga de responsabilidade poltica, da confiana da comunidade,

    est muito para alm da mera comprovao de falsas declaraes

    Assim, nos termos constitucionais e regimentais aplicveis, as Deputadas e os Deputados

    do Bloco de Esquerda, apresentam o seguinte Projecto de Lei:

    Artigo 1.

    Aditamento ao Cdigo Penal

    aditado ao Cdigo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n. 400/82, de 23 de Setembro,

    alterado pela Lei n. 6/84, de 11 de Abril, pelos Decretos-Leis n.s 101-A/88, de 26 de

    Maro, 132/93, de 23 de Abril, e 48/95, de 15 de Maro, pelas Leis n.s 90/97, de 30 de

    Julho, 65/98, de 2 de Setembro, 7/2000, de 27 de Maio, 77/2001, de 13 de Julho,

    97/2001, 98/2001, 99/2001 e 100/2001, de 25 de Agosto, e 108/2001, de 28 de

    Novembro, pelos Decretos-Lei n.s 323/2001, de 17 de Dezembro, e 38/2003, de 8 de

    Maro, pelas Leis n.s 52/2003, de 22 de Agosto, e 100/2003, de 15 de Novembro, pelo

    Decreto-Lei n. 53/2004, de 18 de Maro, e pelas Leis n.s 11/2004, de 27 de Maro,

    31/2004, de 22 de Julho, 5/2006, de 23 de Fevereiro, 16/2007, de 17 de Abril, 59/2007,

    de 4 de Setembro, 61/2008, de 31 de Outubro, e pelas Leis n.s 32/2010, de 2 de

    Setembro e 40/2010, de 3 de Setembro, um novo artigo na Seco I (Da corrupo) do

    Capitulo IV (Dos crimes cometidos no exerccio de funes pblicas), o artigo n 371. -

    A com a seguinte redaco:

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    Artigo 371.-A

    Enriquecimento ilcito

    1 - O titular de cargo poltico, de alto cargo pblico, funcionrio ou equiparado que esteja

    abrangido pela obrigao de declarao de rendimentos e patrimnio, prevista na Lei

    n.4/83, de 2 de Abril, com as alteraes que lhe foram subsequentemente introduzidas

    at Lei n. 38/2010, de 2 de Setembro, que por si ou interposta pessoa, estejam na

    posse ou ttulo de patrimnio e rendimentos manifestamente superiores aos

    apresentados nas respectivas e prvias declaraes, so punidos com pena de priso de

    um a cinco anos.

    2 - A justificao da origem lcita do patrimnio ou rendimentos detidos, exclui ailicitude do facto do respectivo titular.

    3 - O patrimnio ou rendimentos cuja posse ou origem no haja sido justificada nos

    termos dos nmeros anteriores, so apreendidos e declarados perdidos a favor do

    Estado.

    4 - Nos termos do n. 1, a obrigao de apresentar a declarao de rendimentos e

    patrimnio extingue-se cinco anos aps a data de cessao da funo que lhe deu origem

    mediante a apresentao de uma declarao final.

    Artigo 2.

    Entrada em vigor

    A presente Lei entra em vigor 30 dias aps a sua publicao.

    Assembleia da Repblica, 1 de Julho de 2011.

    As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda,