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DURBENS MARTINS NASCIMENTO PROJETO CALHA NORTE: Política de Defesa Nacional e Segurança Hemisférica na Governança Contemporânea Tese apresentada ao curso de Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido. Orientador: Prof. Dr. David Ferreira Carvalho BELÉM 2005

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  • DURBENS MARTINS NASCIMENTO

    PROJETO CALHA NORTE:

    Poltica de Defesa Nacional e Segurana Hemisfrica na Governana Contempornea

    Tese apresentada ao curso de Doutorado em

    Desenvolvimento Sustentvel do Trpico mido,

    Ncleo de Altos Estudos Amaznicos,

    Universidade Federal do Par, como requisito

    parcial obteno do ttulo de Doutor em

    Desenvolvimento Sustentvel do Trpico mido.

    Orientador: Prof. Dr. David Ferreira Carvalho

    BELM

    2005

  • 2

    Nascimento, Durbens Martins

    Projeto Calha Norte: Poltica de defesa nacional e

    segurana hemisfrica na governana

    contempornea/Durbens Martins Nascimento.

    Belm, 2005.

    355 f. : il. ; 30 cm.

    Tese (Doutorado) Curso de Doutorado, Ncleo de

    Altos Estudos Amaznicos, Universidade

    Federal do Par.

    1. Projeto Calha Norte. 2. Poltica de Defesa Nacional.

    3. Segurana Nacional. 4. Sivam. 5. Fronteira

    Poltica. 6.Territrio.

    CDD 21 355.03300981

  • 3

    DURBENS MARTINS NASCIMENTO

    PROJETO CALHA NORTE:

    Poltica de Defesa Nacional e Segurana Hemisfrica na Governana Contempornea

    BELM

    2005

  • 4

    TERMO DE APROVAO

    DURBENS MARTINS NASCIMENTO

    PROJETO CALHA NORTE: Poltica de Defesa Nacional e Segurana Hemisfrica na

    Governana Contempornea

    Tese aprovada como requisito parcial para a

    obteno do grau de Doutor no Curso de

    Doutorado em Desenvolvimento Sustentvel do

    Trpico mido, Ncleo de Altos Estudos

    Amaznicos, Universidade Federal do Par, pela

    seguinte banca examinadora:

    ________________________

    Professor Dr. David Ferreira Carvalho - Orientador

    _________________________

    Professor Dr. Gilberto Miranda Rocha - Examinador UFPA

    __________________________

    Professor Dr. Thomas Peter Hurthienne - Examinador NAEA

    ____________________________

    Professor Dra. Edna Maria Ramos Castro - Examinadora NAEA

    _____________________________

    Professor Dr. Celso Corra Pinto de Castro - Examinador Externo FGV/PUC-Rio

    _____________________________

    Professor Dra. Rosa Acevedo Marn - Examinadora NAEA - Suplente

    Belm, 18 de maro de 2005

  • 5

    Dedico este trabalho aos meus pais Joo da

    Costa Nascimento e Filomena Martins

    Nascimento, pela indicao do caminho do

    saber.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    No decorrer da pesquisa, uma rede de amigos e colaboradores contribuiu sua

    maneira para a concretizao desta Tese, aos quais gostaria de citar como testemunho do meu

    mais profundo agradecimento.

    Aos meus pais Filomena Martins Nascimento e Joo da Costa Nascimento, cuja

    generosidade com o saber, embora aos seus teores, me fizeram reconhecer o valor da

    disciplina no processo de ensino-aprendizagem.

    minha companheira Andrea Lcia de Oliveira Nascimento, cuja lucidez fez com que

    os momentos difceis se transformassem em estmulo para enfrentar, com altivez, os percalos

    da vida.

    Ao orientador Prof. David Ferreira Carvalho, pelo aceite, pacincia na reviso e

    interesse demonstrado nas sucessivas reunies para moldar a Tese, assim como pela

    competncia com que se dedicou tarefa da orientao e por ter transformado uma idia tosca

    numa proposta estimulante.

    Ao Prof. Gilberto Miranda Rocha, que me ensinou a importncia da Geografia para

    compreender uma das interfaces do objeto de estudo e, ao mesmo tempo, pelo interesse com

    que tambm se dedicou pesquisa, recomendando bibliografia, indicando os meios para

    acessar dados imprescindveis. Alm disso, Gilberto foi, em todo o momento, um entusiasta

    da temtica e isso deu um estmulo para continuar a caminhada.

    Um agradecimento especial ao Prof. Celso Castro, da FGV (Fundao Getlio

    Vargas), que acompanhou e supervisionou o meu Estgio de Doutorado Sanduche nesta

    Instituio e forneceu o apoio necessrio para a realizao das atividades de pesquisa. Seu

    olhar crtico sobre a Tese contribuiu para superar algumas lacunas e dificuldades ainda

    presentes na ltima verso.

    direo do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentao em Histria

    Contempornea) e da FGV pelo aceite que viabilizou o estgio no Rio de Janeiro.

    Ao CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) que forneceu uma Bolsa de Estudo na

    FGV, para complementar a coleta de dados.

    Profa. Edna Castro pela valiosa contribuio na Banca que examinou o Projeto e

    pelas sugestes durante a defesa.

  • 7

    Aos professores Catharine Prost, poca, professora do NAEA (Ncleo de Altos

    Estudos Amaznicos) e Shiguenoli Miyamoto (UNICAMP - Universidade Estadual de

    Campinas), atravs dos quais tive acesso a relevantes trabalhos que constam na Bibliografia.

    Aos professores do Curso de Doutorado, pela transmisso de seus conhecimentos

    cientficos e trocas de experincias. Meno ao Prof. David McGrath cuja agudeza terica

    ajudou-me a confirmar pontos de vistas realistas ainda vulnerveis ao romantismo de uma

    concepo de cincias sociais, que persistiam no trato dos problemas sociais e ambientais,

    incondizentes com as atuais exigncias para compreender os processos sociais.

    A toda turma do doutorado 2002, especialmente, Lcia Maryse, Marilena e Ivana, pela

    amizade. Ao Milton Farias Filho e Carlos Alexandre Bordalo no s pela generosidade, mas

    porque ajudaram em vrias oportunidades.

    Aos professores do Departamento de Cincia Poltica da UFPA (Universidade Federal

    do Par) que consensuaram uma arrojada poltica de incentivo formao acadmica

    viabilizando o afastamento de seus pares para a ps-graduao.

    Ao amigo Jos Bittencourt da Silva que teve a gentileza de me ceder todo o material

    de pesquisa que possua sobre o Calha Norte e ao Edinaldo, meu professor de ingls.

    Aurilene dos Santos Ferreira que profissionalmente realizou a pesquisa de um dos

    Relatrios do ISA (Instituto Scio-Ambiental) sobre a questo indgena e confeccionou

    alguns quadros contidos na presente Tese.

    Aos funcionrios da Biblioteca Jos Marcelino do NAEA, pelo apoio dispensado

    durante minha permanncia no NAEA, agradecimento especial Waldenira.

    Aos meus irmos Jucileide, Ronaldo, Romilson, Denilson e a Jucila. Ao Antnio Jos

    de Oliveira (Seu Toninho) e Maria dos Anjos. De alguma forma, presentes na romaria do

    Doutorado.

    Ao casal de amigos Raimunda Ftima (Faf) e Manoel do Carmo (Manu), e Raquel

    de Sousa, pelo companheirismo e por compartilharem momentos de alegria.

    turma do Rio de Janeiro, Elaine Jussara de Oliveira, Marcelo Ribeiro Rodrigues e os

    pequenos Jlia e Marcos Paulo (o Marquito), pelo acolhimento e apoio logstico. E

    importante tambm foi a singela ajuda fraterna dos marinheiros Isa Castro e Sidney Fonseca.

    Agradeo Daisy da Assessoria de Comunicao (ASCOM), da Comisso de

    Coordenao do SIVAM (Sistema de Vigilncia da Amaznia), que gentilmente me enviou o

    material sobre o SIVAM.

  • 8

    Agradeo ao Ncleo de Altos Estudos Amaznicos e ao seu Programa de Doutorado

    em Desenvolvimento Sustentvel do Trpico mido que me permitiu um avano intelectual

    nesses trs anos.

    No poderia esquecer de agradecer Juliana, sempre lembrando do amigo.

    Obrigado a todos aqueles que, neste instante, trado pela memria, no recordo, mas

    que somaram para tornar possvel a pesquisa.

  • 9

    Os motivos para no se basear numa formao fixa so ao

    mesmo tempo defensivos e ofensivos. Em termos de defesa,

    previsibilidade significa vulnerabilidade, j que um adversrio

    que saiba como voc ir reagir a uma determinada situao

    poder aproveitar-se desse conhecimento para tramar contra

    voc. Se voc no for to previsvel, por outro lado, no apenas

    os adversrios no conseguiro fixar seus alvos, mas a ateno

    deles ficar enfraquecida pela disperso.

    Sun Tzu II, A Arte da Guerra, 1997, p. 27.

    rdua a misso de desenvolver e defender a Amaznia.

    Muito mais difcil, porm, foi a de nossos antepassados em

    conquist-la e mant-la.

    General de Exrcito Rodrigo Octvio

    Tunu Cachoeira Junho de 2001

  • 10

    SUMRIO

    TERMO DE APROVAO

    DEDICATRIA

    AGRADECIMENTOS

    EPGRAFE

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE QUADROS

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE SIGLAS

    RESUMO

    ABSTRACT

    INTRODUO, f. 27

    CAPTULO 1 - INSTITUIO E FRONTEIRA POLTICA: Notas Tericas, f. 38

    Introduo, f. 38

    1.1. A PROBLEMTICA NO MARXISMO, f. 39

    1.1.1. Filosofia da prxis, f. 42

    1.1.2. O estruturalismo: Althusser e Poulantzas, f. 43

    1.1.3. A escola derivacionista Alem, f. 46

    1.2. A PERSPECTIVA INSTITUCIONAL DE WEBER, f. 47

    1.3. INSTITUCIONALISMO E NEOINSTITUCIONALISMO NA CINCIA POLTICA,

    f. 51

    1.4. A PARTICULARIDADE DO ESTADO NO BRASIL, f. 56

    Consideraes Finais, f. 61

    CAPTULO 2 FRONTEIRA, NETS, CARTOGRAFIA E ESTADO DA ARTE, f. 63

    Introduo, f. 63

    2.1. FRONTEIRA: uma pluralidade de verses, f. 63

    2.2. ESTADO E FRONTEIRA POLTICA, f. 71

    2.3. O ESTADO NA CARTOGRAFIA DE GUILHERMO ODONNELL, f. 77

    2.4. AS NETS NA CINCIA CONTEMPORNEA E OS DESAFIOS AO ESTADO, f.

    81

  • 11

    2.5. LEGITIMIDADE PARA O CONTROLE DA FRONTEIRA POLTICA ATRAVS

    DO USO DA FORA: Uma Abordagem Poltica, f. 90

    2.6. ESTADO, INDIGENISMO E TERRITORIALIDADE, f. 95

    Consideraes Finais, f. 103

    CAPTULO 3 - ESTADO E PENSAMENTO ESTRATGICO SOBRE A AMAZNIA,

    f. 106

    Introduo, f. 106

    3.1. A AMAZNIA NO HORIZONTE HISTRICO DA OCUPAO POLTICO-

    MILITAR, f. 108

    3.2. O ESTADO AUTORITRIO E OS GRANDES PROJETOS, f. 122

    3.3. A AMAZNIA NO PROJETO BRASIL GRANDE POTNCIA, f. 124

    3.3.1. Geopoltica e poder, f. 126

    3.4. O CONFLITO LESTE-OESTE, f. 129

    3.5. O ESQUEMA GEOESTRATGICO DE GOLBERY DO COUTO E SILVA, f. 132

    3.6. CARLOS MEIRA MATTOS E A PAN-AMAZNIA, f. 133

    3.7. AS IDIAS TRANSFORMADAS EM AO POLTICA, f. 135

    Consideraes Finais, f. 140

    CAPTULO 4 - GOVERNABILIDADE, ESTRUTURA SOCIAL E OS

    ANTECEDENTES POLTICOS E ESTRATGICOS SEGUNDO O DOCUMENTO

    SEGURANA E DESENVOLVIMENTO, f. 142

    Introduo, f. 142

    4.1. CRISE DE GOVERNABILIDADE E CAPACIDADE GOVERNATIVA, f. 144

    4.2. O GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL (GTI) E O DOCUMENTO

    SEGURANA E DESENVOLVIMENTO S MARGENS DA CALHA DOS RIOS

    AMAZONAS E SOLIMES PROJETO CALHA NORTE, f. 149

    4.3. AS RAZES JURDICAS E POLTICAS DO PCN, f. 155

    4.4. SITUAO SOCIAL DA FRONTEIRA POLTICA ATINGIDA PELO PCN, f. 161

    4.5. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO PCN, f. 174

    Consideraes Finais, f. 180

    CAPTULO 5 - O MUNDO PS GUERRA FRIA E O ENQUADRAMENTO DA

    AMAZNIA: Os determinantes Globais, f. 183

    Introduo, f. 183

    5.1. GOVERNANA E ESTADO-NAO, f. 184

    5.1.1. O sculo breve, f. 186

  • 12

    5.2. A IMPORTNCIA DE MIKHAIL GORBACHEV, f. 187

    5.3. AS AMEAAS CONTEMPORNEAS: Agressividade Norte-Americana, f. 191

    5.4. ALCA e MERCOSUL: a questo da segurana na fronteira poltica, f. 195

    5.5. O MERCOSUL e a segurana hemisfrica, f. 199

    Consideraes Finais, f. 201

    CAPTULO 6 - POLTICA DE DEFESA NACIONAL NO BRASIL

    CONTEMPORNEO, f. 204

    Introduo, f. 204

    6.1. POLTICA DE DEFESA: Uma definio, f. 205

    6.2. GOVERNANA E CONDIES INSTITUCIONAIS, f. 207

    6.3. A CRIAO DO MINISTRIO DA DEFESA, f. 212

    6.4. O AVANA BRASIL E A POLTICA DE DEFESA NACIONAL, f. 213

    6.5. AMAZNIA: PRIORIDADE DE DEFESA, f. 220

    6.5.1. Uma geopoltica da biodiversidade, f. 222

    6.6. SUSTENTABILIDADE NO PCN: ESTRATGIA DISCURSIVA OU MUDANA

    NA PERCEPO DA PROBLEMTICA AMBIENTAL?, f. 228

    6.6.1. A Amaznia e a crise ambiental, f. 230

    6.6.2. Sustentabilidade e ao coletiva: o problema poltico, f. 233

    Consideraes Finais, f. 237

    CAPTULO 7 - GOVERNANA E ESTRATGIA DE FINANCIAMENTO, f. 239

    Introduo, f. 239

    7.1. GOVERNO FHC: PPA, Avana Brasil e Brasil em Ao, f. 240

    7.2. GOVERNANA E FINANCIAMENTO DO PCN, f. 243

    7.3. FINANCIAMENTO DURANTE GOVERNO DE JOS SARNEY (1986-1990), f.

    244

    7.4. FINANCIAMENTO DURANTE O GOVERNO DE FERNANDO H. CARDOSO

    (1995-2002), f. 248

    7.5. POLTICA DE DEFESA NACIONAL VERSUS FINANCIAMENTO DO PCN, f.

    259

    7.6. IMPASSES E PERSPECTIVAS DE INVESTIMENTOS, f. 266

    Consideraes Finais, f. 271

    CAPTULO 8 - MILITARES, NDIOS, TRAFICANTES E MINERADORAS NO

    CIRCUITO DA ILEGALIDADE DE UMA REA MARROM, f. 273

    Introduo, f. 273

  • 13

    8.1. ASPECTOS TERICOS DA PRESENA DO PCN EM TERRAS INDGENAS, f.

    274

    8.2. A ETNIA YANOMAMI NO CENTRO DO DEBATE, f. 276

    8.3. A POLTICA INDIGENISTA EM PERSPECTIVA HISTRICA, f. 278

    8.4. A MILITARIZAO DA QUESTO INDGENA, f. 282

    8.5. AS ROTAS DA ILEGALIDADE NA REA DO PCN, f. 293

    8.6. A LEI DO ABATE NAS ROTAS DA ILEGALIDADE, f. 297

    Consideraes Finais, f. 300

    CAPTULO 9 - ESTADO E FRONTEIRA POLTICA: Possibilidades e Limites de

    Controle da Fronteira (1994-2002), f. 302

    Introduo, f. 302

    9.1. AS REDES E O ESTADO NA AMAZNIA, f. 303

    9.2. SIVAM E PCN: CONTROLE DA FRONTEIRA POLTICA?, f. 307

    Consideraes Finais, f. 316

    CONCLUSO, f. 318

    APNDICE, f. 324

    APNDICE METODOLGICO, f. 324

    Mtodo de abordagem, f. 324

    Mtodo de procedimento, f. 326

    Tcnica de coleta de dados, f. 327

    Fontes e Comentrios, f. 328

    Tratamento e anlise dos dados, f. 329

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS, f. 332

    INSTRUMENTOS LEGAIS, f. 350

    FONTES, f. 352

    ANEXOS, f. 354

    FIGURA 17: Organograma Institucional do Ministrio da Defesa e seus Comandos Militares,

    f. 354

    FIGURA 18: Organograma do Comando do Exrcito, f. 355

  • 14

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Populao e Territrio por Regio do Brasil, f. 162

    Tabela 2: Populao dos Municpios do Estado do Amazonas na rea do PCN, para o Ano de

    2000, f. 164

    Tabela 3: Populao dos Municpios do Estado do Amap na rea do PCN, para o Ano de

    2000, f. 165

    Tabela 4: Populao dos Municpios do Estado do Par na rea do PCN, para o Ano de 2000,

    f. 165

    Tabela 5: Populao dos Municpios do Estado de Roraima na rea do PCN, para o Ano de

    2000, f. 166

    Tabela 6: Taxa de Concentrao Urbana das Capitais, f. 167

    Tabela 7: rea e Populao Residente Total e em Situao Urbana (Valores Absolutos e

    Relativos) para o Ano de 2000 (PCN), f. 168

    Tabela 8: Perfil da Populao dos Territrios Federais em Formao, f. 173

    Tabela 9: Comrcio Intra MERCOSUL: Importao e Exportao, f. 196

    Tabela 10: Dependncia de Recursos Minerais dos Pases Ricos, f. 223

    Tabela 11: Percentagem Anual de Crescimento Real de Madeira, por Produto, f. 227

    Tabela 12: Recursos Aplicados pelos Ministrios (1986-1990) - Milhes/Cz$, f. 245

    Tabela 13: Recursos Destinados aos Projetos Especiais de Incremento das Relaes Bilaterais,

    f. 245

    Tabela 14: Aumento da Presena Militar na rea/MB - Milhes/Cz$, f. 246

    Tabela 15: Aumento da Presena Militar na rea /EB -Milhes/Cz$, f. 246

    Tabela 16: Estruturao Regional da FUNAI na Faixa de Fronteira/MINTER Milhes/Cz$,

    f. 248

    Tabela 17: Populao Residente e PIB/Brasil 1992-2000, f. 250

    Tabela 18: Demonstrativo Comparativo do PIB, da Dvida Externa e Investimentos no PCN,

    f. 251

    Tabela 19: Despesas Militares e PIB dos Maiores Pases em Populao, Territrio e Recursos

    2002, f. 254

    Tabela 20: Gastos em Defesa em Percentagem do PIB para o Ano de 2002, f. 255

    Tabela 21: Gastos no Setor Militar dos Pases da Amrica do Sul para o Ano de 2002, f. 256

  • 15

    Tabela 22: Despesas com Pessoal e Encargos Sociais R$ Mil, f. 257

    Tabela 23: Oramento de Despesas dos Principais Ministrios do Governo, f. 258

    Tabela 24: Recursos Aplicados Mediante Parcerias com Prefeituras, f. 258

    Tabela 25: Recursos Previstos e Liberados no Oramento do PPA 2000-2003 Em R$, f. 262

    Tabela 26: Finanas Pblicas dos Municpios do Estado do Amazonas, f. 268

    Tabela 27: Finanas Pblicas dos Municpios do Estado do Amap, f. 268

    Tabela 28: Finanas Pblicas dos Municpios do Estado do Par, f. 269

    Tabela 29: Finanas Pblicas dos Municpios do Estado de Roraima, f. 269

    Tabela 30: Finanas Pblicas dos Estados, f. 270

    Tabela 31: Mineradoras em Terras Indgenas na Fronteira, f. 288

    Tabela 32: Sobreposies Entre TIs e reas de Uso Exclusivo das FFAA, f. 291

    Tabela 33: Sobreposies Entre Unidade de Conservao Federal e TIs, f. 292

    Tabela 34: Sobreposies Entre Unidades de Conservao Estadual e TIs, f. 292

    Tabela 35: Montante Financiado para Compra de Equipamentos e Pagamentos de Servios, f.

    309

  • 16

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Vertentes Tericas-Interpretativas para o Estudo das Instituies Polticas, f. 39

    Quadro 2: Cidades Situadas Sobre a Linha de Fronteira e as Correspondentes Cidades

    Estrangeiras, f. 74

    Quadro 3: Fronteira Distribuda por Unidade Administrativa e Populao Sul-Americana, f.

    74

    Quadro 4: Extenso da Fronteira Terrestre e Martima Sul Americana/Km 2000, f. 75

    Quadro 5: Relao dos Fortes, Fortalezas, Fortins e Baterias Localizadas na Fronteira Norte

    Construdos nos Sculos XVII, XVIII e XIX., f. 119

    Quadro 6: Relao dos Municpios Inicialmente Definidos como rea de Atuao do PCN

    (1985), f. 151

    Quadro 7: Nmero de Municpios Brasileiros na Faixa de Fronteira Diviso Territorial de

    Maro de 1990 Regio Norte, f. 162

    Quadro 8: Resumo Quantitativo dos Municpios Pertencentes rea de Atuao do PCN

    (2000), f. 166

    Quadro 9: Relao das Entidades com Representao no PCN, f. 178

    Quadro 10: Diretoria do PCN, f. 180

    Quadro 11: Demonstrativo do Ecossistema Florestal Amaznico - 1/3 do Estoque Global, f.

    224

    Quadro 12: Importao de Madeira Tropical para os EUA e Unio Europia, 1999, f. 227

    Quadro 13: Recuperao de Marcos Limtrofes/MRE Milhares/Cz$, f. 247

    Quadro 14: Etapas de Encaminhamento do PPA 2000-2003, f. 261

    Quadro 15: Atividades Realizadas At o Ano de 1999, f. 264

    Quadro 16: Principais Realizaes no Perodo de 2000-2003, f. 265

    Quadro 17: rea e Grupos Indgenas Localizados na Faixa de Fronteira do PCN, f. 284

    Quadro 18: Municpios e Grupos Indgenas do Estado do Amazonas Situados na rea do

    PCN, f. 285

    Quadro 19: Municpios e Grupos Indgenas do Estado do Amap Situados na rea do PCN, f.

    285

    Quadro 20: Municpios e Grupos Indgenas do Estado do Par Situados na rea do PCN, f.

    285

    Quadro 21: Municpios e Grupos Indgenas do Estado de Roraima Situados na rea do PCN,

    f. 286

  • 17

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Mapa da Zona de Fronteira com Territrios Especiais, segundo o Grupo RETIS, f.

    70

    Figura 2: Figura com os Limites Fronteirios ao Norte do Brasil, f. 76

    Figura 3: Mapa da Densidade Demogrfica Distribuda Espacialmente, f. 82

    Figura 4: Mapa de Demarcao do Tratado de Tordesilhas de 1494, f. 110

    Figura 5: Mapa do Brasil na Viso do Morgado de Matheus, f. 114

    Figura 6: Quociente de Maritimidade na Viso de Carlos Meira Mattos, f. 135

    Figura 7: Croqu do Mdio Rio Negro, f. 153

    Figura 8: Mapa com reas de Conservao Federal, f. 170

    Figura 9: Organograma Institucional do PCN, f. 175

    Figura 10: Mapa das Bases Militares do Exrcito Distribudas Espacialmente pela Faixa de

    Fronteira, f. 179

    Figura 11: Nova Configurao da Presena Norte-Americana, f. 194

    Figura 12: Mapa da Amrica do Sul, f. 200

    Figura 13: Mapa com a Posio Estratgica do Rio Madeira para o Corredor Noroeste, f. 214

    Figura 14: Mapa das Terras Indgenas, Terras de Uso das Foras Armadas e Localizao das

    Unidades Militares, f. 287

    Figura 15: Mapa da Rede Logstica do Trfico Internacional no Cone Sul, f. 295

    Figura 16: Mapa da Rota das Cidades e Lavagem de Dinheiro, f. 296

    Figura 17: Organograma Institucional do Ministrio da Defesa e seus Comandos Militares, f.

    354

    Figura 18: Organograma do Comando do Exrcito, f. 355

    Grfico 1: Extenso Territorial por Regio, f. 163

    Grfico 2: Populao por Regio, f. 163

    Grfico 3: Taxa de Concentrao Urbana, f. 167

    Grfico 4: Fluxo Imigratrio entre 1970 e 1990, f. 171

    Grfico 5: Comrcio Intra MERCOSUL: Importao e Exportao, f. 196

    Grfico 6: Recursos Previstos para o Incremento das Relaes Bilaterais, f. 245

    Grfico 7: Aumento da Presena Militar na rea/EB Milhes/Cz$, f. 247

  • 18

    Grfico 8: Evoluo Comparativa do PIB, da Dvida Externa e dos Recursos Destinados ao

    PCN, f. 251

    Grfico 9: Comportamento das Despesas Militares e PIB dos Maiores Pases em Populao,

    Territrio e Recursos 2002, f. 254

    Grfico 10: Gastos no Setor Militar dos Pases da Amrica do Sul para o Ano de 2002, f. 257

  • 19

    LISTA DE SIGLAS

    ABIN - Agncia Brasileira de Inteligncia

    ADA - Agncia de Desenvolvimento da Amaznia

    AEB - Agncia Espacial Brasileira

    AI - Ato Institucional

    AIEA - Agncia Internacional de Energia Atmica

    ALBRS - Alumnio do Brasil S/A

    ALCA - rea de Livre Comrcio das Amricas

    ALN - Ao Libertadora Nacional

    AM - Estado do Amazonas

    AMAN - Academia Militar das Agulhas Negras

    AMEAP - Associao dos Municpios do Estado do Amap

    AMER - Associao dos Municpios do Estado de Roraima

    AMM - Associao Amazonense dos Municpios

    AMUCAN - Associao dos Municpios da Calha Norte

    ANA - Agncia Nacional das guas

    ANATEL - Agncia Nacional de Telecomunicaes

    ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica

    AP - Estado do Amap

    APEC - Associao de Cooperao Econmica da sia e do Pacfico

    ASCOM - Assessoria de Comunicao

    BA - Base Area

    BABV - Base Area de Boa Vista

    BACEN - Banco Central do Brasil

    BASA - Banco da Amaznia S/A

    BCA - Banco de Crdito da Amaznia

    BIRD - Banco Interamericano de Reconstruo e Desenvolvimento

    BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    CAEPE Curso de Altos Estudos de Poltica e Estratgia

    CAer - Comando da Aeronutica

    CAN - Comunidade Andina

    CAMDE - Campanha da Mulher pela Democracia

    CCG - Centro de Coordenao Geral

    CCSIVAM - Comisso Coordenadora do Sistema de Vigilncia da Amaznia

    CDB - Conveno sobre Diversidade Biolgica

    CDN - Conselho de Defesa Nacional

    CEE - Centro de Estudos Estratgicos

    CEI - Comunidade dos Estados Independentes

    CEPESC - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurana e Comunicaes

    CGT - Confederao Geral dos Trabalhadores

    CIE - Centro Internacional de Economia.

    CIMI - Conselho Indigenista Missionrio

    CINDACTA - Centro Integrado de Defesa Area e Controle do Trfego Areo

    CM - Comando Militar

    CMA - Comando Militar da Amaznia

  • 20

    CMD - Conselho Militar de Defesa

    CMPOF - Comisso Mista de Planos, Oramentos Pblicos e Fiscalizao

    CNBB - Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil

    CNC - Comit de Negociaes Comerciais

    CNEN - Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    COMDABRA - Comando de Defesa Aeroespacial Brasileira

    COMECOM - Mercado Comum Europeu

    CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CONAMAZ - Conselho Nacional da Amaznia Legal

    CONSIPAM - Conselho Deliberativo do Sistema de Proteo da Amaznia

    CPI - Comisso Parlamentar de Inqurito

    CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentao em Histria Contempornea

    CPRM - Comisso de Pesquisa e Recursos Minerais

    CRV - Centro Regional de Vigilncia

    CSN - Conselho de Segurana Nacional

    DEL - Dvida Externa Lquida

    DF - Distrito Federal

    DI - Divises de Informao

    DIEESE - Departamento Intersindical de Estatsticas e Estudos Scio-Econmicos

    DNPM - Departamento Nacional de Produo Mineral

    DPF - Departamento de Polcia Federal

    DSN - Doutrina de Segurana Nacional

    EB - Exrcito Brasileiro

    ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito

    ELN - Exrcito de Libertao Nacional

    EM - Exposio de Motivos

    EMBRAER - Empresa Brasileira de Aeronutica

    EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuria

    EME - Estado-Maior do Exrcito

    EMFA - Estado-Maior das Foras Armadas

    ESG - Escola Superior de Guerra

    ETNs - Empresas Transnacionais

    EUA - Estados Unidos da Amrica

    FAB - Fora Area Brasileira

    FARC - Foras Armadas Revolucionrias da Colmbia

    FAUR - Fraterna Amizade Urbana e Rural

    FFAA - Foras Armadas

    FFT - Fundao Floresta Tropical

    FGV - Fundao Getlio Vargas

    FHC - Fernando Henrique Cardoso

    FMI - Fundo Monetrio Internacional

    FPM - Fundo de Participao dos Municpios

    FUNAI - Fundao Nacional do ndio

    GEBAM - Grupo Executivo do Baixo Amazonas

    GEP - Grupo de Estudos e Planejamento

    GETAT - Grupo Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins

    GTI - Grupo de Trabalho Interministerial

    IBAMA - Instituto Brasileiro de Recursos Renovveis e Meio Ambiente

  • 21

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IMAZON - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia

    INB - Indstrias Nucleares do Brasil

    INCRA - Instituto Nacional de Colonizao Reforma Agrria

    INMET - Instituto Nacional de Meteorologia

    INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia

    INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    IOF - Imposto sobre Operaes Financeiras

    ISA - Instituto Scio-Ambiental

    ISAE - Instituto Superior de Administrao e Economia da Amaznia

    ITR - Imposto Territorial Rural

    LDO - Lei de Diretrizes Oramentrias

    LOA - Lei Oramentria Anual

    MB - Marinha do Brasil

    MEPE - Ministrio Extraordinrio de Projetos Especiais

    MERCOSUL - Mercado Comum da Amrica do Sul

    MFS - Manejo Florestal Sustentvel

    MG - Estado de Minas Gerais

    MINTER - Ministrio do Interior

    MMA - Ministrio do Meio Ambiente, Recursos Hdricos e da Amaznia Legal

    MP - Medida Provisria

    MRE - Ministrio das Relaes Exteriores

    MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

    NAEA - Ncleo de Altos Estudos Amaznicos

    NAFTA - Acordo de Livre Comrcio da Amrica do Norte

    NOSSA NATUREZA - Programa de Defesa do Complexo da Amaznia Legal

    NUCLEP - Nuclebrs Equipamentos Pesados S/A

    OEA - Organizao dos Estados Americanos

    OIGs - Organizaes Internacionais Intergovernamentais

    OM - Organizaes Militares

    OMC - Organizao Mundial do Comrcio

    ONG - Organizao No Governamental

    OP - Operacional

    OTAN - Organizao do Tratado do Atlntico Norte

    ONU - Organizao das Naes Unidas

    OTCA - Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica

    PA - Estado do Par

    PABV - Prefeitura de Aeronutica de Boa Vista

    PC - Partido Comunista

    PC do B - Partido Comunista do Brasil

    PCN - Projeto Calha Norte

    PCUS - Partido Comunista da Unio Sovitica

    PDA - Plano de Desenvolvimento da Amaznia

    PDN - Poltica de Defesa Nacional

    PEI - Poltica Externa Independente

    PEM - Plano de Estabilizao Monetria

    PFL - Partido da Frente Liberal

    PGC - Programa Grande Carajs

    PIB - Produto Interno Bruto

    PIN - Plano de Integrao Nacional

  • 22

    PLO - Projeto de Lei Oramentria

    PLOA - Projeto de Lei Oramentria Anual

    PMCI - Programa de Proteo de Meio Ambiente e s Comunidades Indgenas

    PNMA - Poltica Nacional do Meio Ambiente

    POLAMAZNIA - Programa de Plos Agropecurios e Agrominerais da Amaznia

    PPA - Plano Plurianual

    PPG-7 - Programa Piloto para a Conservao das Florestas Tropicais do Brasil

    PR - Presidncia da Repblica

    PROFFAO - Projeto de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira da Amaznia Ocidental

    PROTERRA - Programa de Redistribuio e Estmulo Agroindstria do Norte e Nordeste

    PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira

    PT - Partido dos Trabalhadores

    PTB - Partido Trabalhista Brasileiro

    RADAM - Radar da Amaznia

    RETIS - Redes e Territrios

    RESEXs - Reservas Extrativistas

    RM - Regio Militar

    RNA - Redes Neurais Artificiais

    RO - Estado de Rondnia

    RR - Estado de Roraima

    SAA - Subsecretaria de Anlise e Avaliao

    SADEN - Secretaria de Assessoramento de Defesa Nacional

    SAE - Secretaria de Assuntos Estratgicos

    SAR - Radar de Abertura Sinttica

    SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia

    SCA - Secretaria de Coordenao da Amaznia

    SEBRAE - Servio de Apoio Pequena e Micro Empresa

    SEPLAN - Secretaria de Planejamento

    SG - Secretaria Geral

    SIPAM - Sistema de Proteo da Amaznia

    SIVAM - Sistema de Vigilncia da Amaznia

    SNI - Servio Nacional de Informao

    SP - Estado de So Paulo

    SPI - Servio de Proteo ao ndio

    SPP - Subsecretaria de Programas e Projetos

    SPLTN - Servio de Proteo aos ndios e Localizao de Trabalhadores Nacionais

    SPVEA - Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia

    STM - Superior Tribunal Militar

    SUDAM - Superintendncia de Desenvolvimento da Amaznia

    SUFRAMA - Superintendncia da Zona Franca de Manaus

    TIs - Terras Indgenas

    TCA - Tratado de Cooperao Amaznica

    TCC - Trabalho de Concluso de Curso

    TO - Estado de Tocantins

    UCE Unidade de Conservao Estadual

    UE - Unio Europia

    UFAM - Universidade Federal do Amazonas

    UFAP - Universidade Federal do Amap

    UFPA - Universidade Federal do Par

    UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

  • 23

    UFRR - Universidade Federal de Roraima

    UM - Unidades Militares

    UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

    URSS - Unio das Repblicas Socialistas Soviticas

    UV - Unidade de Vigilncia

    ZEE - Zoneamento Econmico-Ecolgico

    ZFM - Zona Franca de Manaus

  • 24

    RESUMO

    A Tese pe em evidncia a anlise do percurso institucional e geoestratgico do

    Projeto Calha Norte (PCN) como processo de territorializao da fronteira poltica. O PCN foi

    pensado nos moldes convencionais da defesa e influenciado pela Doutrina de Segurana

    Nacional (DSN) dos anos sessenta e setenta, que objetivava e objetiva garantir o aumento da

    presena do Estado na Faixa de Fronteira Norte (Arco Norte), contribuindo para a Defesa

    Nacional e para a assistncia s populaes locais. Busca-se entender, ento, as implicaes

    histricas, estratgicas, geopolticas, financeiras e ambientais, desde a sua origem at os anos

    noventa com nfase no governo de Fernando H. Cardoso FHC (1994-2002).

    Apresenta a idia de que a poltica de defesa implementada por este obedeceu s

    inflexes das mudanas internas na governana brasileira, bem como almejou adequ-la s

    transformaes em curso regional e mundialmente, caracterizadas pela substituio da ordem

    bipolar para multipolar/unipolar, pela alterao no perfil das instituies polticas e,

    sobretudo, pela integrao hemisfrica do pas num quadro de incertezas e apelo ao

    fortalecimento da segurana coletiva. Essas mudanas ocorreram no contexto da

    modernizao capitalista, na qual o PCN concebido como uma modalidade particular de

    interveno e expanso do Estado, que tem o uso exclusivo do monoplio da fora,

    cumprindo suas prerrogativas constitucionais numa rea marrom - ausncia do Estado

    enquanto um conjunto de burocracias funcionando efetivamente numa rea de baixa

    densidade demogrfica.

    A ineficcia dessas dimenses do Estado define a peculiaridade do circuito da

    ilegalidade, isto , o locus das atividades ilcitas tais como o narcotrfico e o contrabando.

    Assim, a racionalidade presente na ao do Estado consiste em articular os elementos capazes

    de estimular a materializao de um processo de homogeneizao do espao social na

    fronteira poltica em contexto de integrao e cooperao com os pases da Pan-Amaznia.

    Baseando-se em indicadores demogrficos, econmico-financeiros e ambientais, e

    numa ampla base de dados sobre a Faixa de Fronteira Norte, a pesquisa concluiu pela

    necessidade da interveno na fronteira poltica, onde o Estado busca cumprir, relativamente,

    sua funo para ordenar e disciplinar as relaes e os processos sociais a partir de referncias

    constitucionais; afirmou que o esvaziamento financeiro deveu-se menos ao programa

    governamental para ajustar as contas pblicas e o pagamento da dvida externa do que a

  • 25

    deciso poltica de reorientar os investimentos para o Projeto; provou-se que h um

    movimento para a incluso efetiva da sustentabilidade na nova PDN (Poltica de Defesa

    Nacional) e; finalmente, argumentou-se a favor da necessidade de integrar o PCN ao sistema

    de produo de informaes do SIVAM entendido como um novo enfoque sobre a defesa

    nacional na Era da Informao, e que necessrio para a vigilncia da regio.

    PALAVRAS-CHAVE

    Projeto Calha Norte, Poltica de Defesa Nacional, Segurana Nacional, Sivam,

    Fronteira Poltica, Territrio.

  • 26

    ABSTRACT

    This thesis highlights the analysis of the institutional and geo-strategic path of the

    Projeto Calha Norte (Northern Border Project - NBP) influenced by the traditional models

    of the National Security Doctrine (NSD) of the sixties and seventies. The goal of the National

    Security Doctrine (a strategy widely applied in Brazil during the military regime) was to

    guarantee the State presence in the Northern Border Line (North Arc) to support the National

    Defense as well as to assist the local population. This study aims at understanding the

    historical, strategic, geopolitical, financial, and environmental implications of this doctrine,

    since its origin until the nineties, emphasizing the Fernando H. Cardoso government FHC -

    (1994-2002).

    Presenting the idea that the defense policy implemented by that Brazilian President

    was in accordance with the lines of the internal changes in the Brazilian governance, and that

    he wanted to adequate it to the regional and global changes, characterized by the replacement

    of the bipolar order by the multipolar/unipolar one, a change in the national political

    institutions profile and, most important, in the hemispherical integration of the country in a

    uncertainty period and the appeal to the strengthening of collective security. Such changes

    took place within the capitalist modernization framework, where PCN (northern border

    project) was conceived as a particular form of state intervention and expansion, condoning the

    legitimate use of physical force in order to fulfill its constitutional prerogatives within the

    limits of a brown area meaning the absence of state bureaucracy and laws effectively in use

    in an area of low demographic density.

    The inefficiency of these state dimensions defines the peculiarities of the illegality

    circuits, i.e., the locus of illegal activities such as narcotics traffic and smuggling. Therefore,

    the rationale present in the state action consists in the articulation of elements capable of

    stimulating the materialization of a homogenization process of the social space in the political

    frontier in a context of integration and cooperation with the Pan-Amazon countries.

    Based on demographic, economic, financial, and environmental indicators, as well as

    strongly based on data about the Northern Border Line, this research concludes that state

    intervention on the border is necessary, where the state tries to fulfill its obligations to

    ordinate and discipline relations and social processes based on constitutional references; it

    affirms that the financial emptiness was less due to the governmental program to adjust public

  • 27

    accounts and foreign debt payment than to the political decision to re-direct investments to the

    project. It also proves that there is an effective movement towards the effective inclusion of

    sustainability of the new NDP (National Defense Policy), and finally favors the need to

    integrate the PCN to the SIVAM information system, which sheds new lights on national

    defense issues in the Information Era and is necessary for the surveillance of the region.

    Key words: Calha Norte Project, National Defense Policy, Security, Sivam, Policy

    Border, territory.

  • 28

    INTRODUO

    A literatura latino-americana farta em reflexes sobre os militares. Mesmo no Brasil

    essa produo bastante diversificada. Engloba os vrios campos temticos das cincias

    sociais. Contudo, ela se volta quase sempre s questes relacionadas origem social dos

    militares (FERNANDES, 1978), autonomia, tutela, militarismo, funo constitucional e

    soberania nacional (OLIVEIRA, 1987),1 socializao, conflito e identidade na AMAN

    (CASTRO, 1990),2 ideologia militar, profissionalizao dos militares, poltica militar

    (FLORES, 1992), intervenes militares e organizao institucional dos militares.

    (COELHO, 2000)

    Sobre a poltica de defesa enfocando a particularidade amaznica so relativamente

    poucos os trabalhos significativos realizados, sobretudo os que se dedicaram a estudar o PCN,

    que a partir de 1997, revitaliza-se, e transforma-se em Programa em 2000.

    Concebido nos moldes da DSN,3 o PCN atualmente vem paulatinamente se

    redefinindo para adequar-se aos novos padres de segurana globais consubstanciado na Era

    da Informao a exemplo do SIVAM, com o qual se complementa em trs dimenses: o PCN

    visa oferecer a segurana terrestre e martima e o SIVAM com escopo da vigilncia area.

    1 O tema da soberania na Amaznia foi objeto de investigao de CASTRO (1992). Na dissertao de mestrado

    O Brasil e a sua soberania sobre a Amaznia, o autor prope a indispensabilidade da teoria da dependncia

    para pensar os problemas da Amaznia sob o enfoque das relaes internacionais. Desse modo, o

    debilitamento da soberania brasileira sobre a regio reportada, antes de tudo, ao enfraquecimento do poder

    decisrio em funo da crise social que abate o pas ao longo do ltimo sculo. A dvida externa e a

    dependncia consentida imbricadas, prendem a Nao aos centros de poder global limitando nossa

    capacidade de decidir sobre as questes ambientais, direitos humanos e proteo s comunidades indgenas.

    Em princpio a varivel dvida externa pode explicar as dificuldades polticas estruturais do pas para

    solucionar seus problemas na Amaznia assim como alhures; entretanto, uma discordncia com o autor

    expressa-se na forma de pressuposto metodolgico, uma vez que a afirmao soberana pode estar ligada a

    fatores exclusivamente polticos que isentam a prioridade de defesa e reorientam seus gastos financeiros para

    outros setores, alm do fato de que, ao mesmo tempo, a causa pode estar circunscrita determinantes de ordem

    gestora no que diz respeito eficincia e competncia com que os governantes lidam com a aplicao dos

    recursos. Ver CASTRO, Flvio M. de Oliveira. O Brasil e sua soberania sobre a Amaznia. 1992. 131 f.

    Dissertao (Mestrado em Relaes Internacionais) Departamento de Cincia Poltica e Relaes

    Internacionais, Universidade de Braslia, Braslia. 1992. Mimeografado.

    2 AMAN Academia Militar das Agulhas Negras.

  • 29

    No conjunto das poucas e marginais reflexes, ainda que tenham examinado aspectos

    institucionais e polticos da origem (COSTA, 1994), no h uma explicao do processo

    institucional, organizacional e oramentrio, bem como suas implicaes contemporneas; e

    quanto ao curso da territorializao4 a partir do Estado encontra-se indito um trabalho que

    focalize o controle do territrio conceituado como espao apropriado em perspectiva

    histrica pelo povo na sua marcha para a constituio do poder soberano (SANTOS, 1980,

    p.189), tampouco com centralidade emprica no mandato de FHC (1994-2002) h algum

    trabalho.

    A razo da limitada produo acadmica referida acima tem sido apontada como

    relutncia de pesquisadores para qualquer incluso do assunto nos seus respectivos roteiros de

    pesquisa. Em princpio, essa recusa se deve, geralmente, atribuio quase exclusivamente

    aos militares, a responsabilidade pela interveno na poltica. (CARVALHO, 1989, p.137)

    Dentre esse caleidoscpio de temas e questes estudadas pelos autores acima e por

    aqueles especficos contidos na literatura sobre a Amaznia, urge pensar a problemtica da

    atuao estatal em relao poltica de segurana nesta parte do pas para onde uma romaria

    de militares se dirigem para proteg-la.

    A Amaznia est no centro do debate sobre a defesa de suas fronteiras consideradas

    largamente vulnerveis da espao de controle. Com efeito, a parte da fronteira Norte, na

    Faixa de 150 Km de largura, definida constitucionalmente, ao longo de 7.413 Km que

    corresponde a 17% do territrio nacional e 47,1% da poro terrestre do pas, que de 15.719

    Km, e abrange 38 municpios, atualmente incorpora mais 36 localizados fora da Faixa,

    totalizando at o presente 74 e situada ao norte das Calhas dos rios Amazonas, Negro e

    Solimes e seus afluentes: I, Japur, Branco, Uatum, Jatapu, Nhamund, Trombetas,

    Maicuru, Paru e Jari.

    Essa rea geogrfica de abrangncia do PCN limitada internacionalmente com as

    fronteiras polticas, no sentido de limite territorial, da Guiana Francesa, do Suriname, da

    Guiana, da Venezuela e da Colmbia.

    Nesse espao social, no lado nacional, residem 2.700.000 pessoas, pertencentes aos

    Estados do Amazonas (AM), Par (PA), Roraima (RR) e Amap (AP). Aqui, o governo

    3 A DSN oferece um programa completo para a ao. uma sntese poltica, econmica, social e de estratgia

    militar. Ela cobre todas as reas de ao, desde o desenvolvimento econmico at a educao ou a religio e

    nelas determina os critrios fundamentais que devem ser levados em conta. (URN, 1987, p.180)

    4 Territorializao de acordo com HAESBAERT (2004: p. 16) o processo de domnio (poltico-econmico)

    e/ou de apropriao (simblico-cultural) do espao pelos grupos humanos.

  • 30

    brasileiro, em 1985, concebeu e implementou o PCN com o objetivo de garantir a presena do

    Estado e contribuir para a Defesa Nacional e a assistncia s populaes locais.5

    Esse objetivo do PCN se altera no PPA (Plano Plurianual) 2000-2003,6 quando se

    acrescenta a frase e fixando o homem na regio, isto , garantir o desenvolvimento regional

    com a manuteno da soberania, entendida como espao limitado e definida

    institucionalmente e administrado pelo Estado.

    E, para toda a Amaznia Legal, o governo implementa o Projeto SIVAM, um sistema

    operacional formado a partir de uma rede de satlites e radares com vistas a vigiar o espao

    areo da Amaznia Legal7, para produzir informaes de diferentes naturezas para otimizar e

    agilizar a atuao dos rgos estatais na regio.8 Ambos, PCN e SIVAM, no geral, com a

    finalidade de defender, proteger e garantir a integridade do territrio nacional e combater os

    ilcitos e alavancar o desenvolvimento. Registre-se tambm que o discurso contido, tanto nos

    principais documentos oficiais, quanto das autoridades governamentais salientam,

    exaustivamente, que o modelo da PDN expresso no PCN e no Projeto SIVAM, singular

    5 No governo de Lus Incio Lula da Silva, atravs da EM (Exposio de Motivos) n. 616, de 19/12/2003, o PCN

    sofreu mudanas significativas na sua rea de cobertura. Seu raio de ao foi estendido para os Estados do

    Acre e Rondnia, o que provocou evidentemente uma alterao na rea, populao e no nmero de municpios

    atingidos. Passou para 151, destes, 95 na fronteira poltica, cobrindo uma rea de 10.938 km. Abrange, agora,

    25% do territrio nacional com 2.186.252 km2.

    6 Cf. BRASIL. Governo Federal. PPA 2000-2003. Avana Brasil. Relatrio de Avaliao, exerccio 2000, Anexo

    I, Oramento Fiscal e Seguridade. Braslia, 2000.

    7 A Amaznia concebida como um espao no-homogneo, complexo e extremamente diversificado.

    (GONALVES, 2001, p.9) Nela tem a Serra do Carajs, as plancies litorneas, as florestas, sobretudo as

    frentes de expanso das relaes sociais capitalistas e o espao vazio civilizatrio e ainda, das riquezas

    naturais a serem controladas geopolicamente pelo poder central, principalmente a parte dela concernente

    Faixa de Fronteira. Mais do que isso: a Amaznia de que se fala aquela que possui um vasto ecossistema de 6

    milhes de km2, de base geomorfolgica, pedolgica, geolgica, fabulosas reservas de gua doce e de

    ocupao humana ao longo de sua histria. Por outro lado, denomina-se Amaznia Legal a poro do territrio

    instituda pela Lei n 1.806/1953, com 4,9 milhes de km2, o que representa 60% do territrio nacional e que

    compreende os Estados do Amazonas, Par, Rondnia, Roraima, Amap, Acre, partes do Maranho (238.961

    km2), Tocantins e tambm parte de Mato Grosso (875.720 km2).

    8 Regio, para usar uma expresso de BOURDIEU (1989, p. 115), delimitada em funo dos diferentes critrios

    concebveis (lngua, habitat, tamanho da terra, etc.) nunca coincidem. Esse sentido tomado por diferentes

    autores: AMADO (1990, p.8) define regio como uma categoria espacial que expressa uma especificidade,

    uma singularidade, dentro de uma totalidade. Assim, (...) a regio configura um espao particular dentro de

    uma determinada organizao social mais ampla, com a qual se articula, isto , a formao social concreta

    cujo aspecto dinmico e relevante , para SILVEIRA (1990, p.35), (...) o nvel de articulao das atividades

    produtivas da regio com o modelo de acumulao dominante; na relao com os demais cortes espaciais,

    cujas fronteiras esto em contnuo reajustamento, o aspecto bsico a forma especfica de reproduo do

    capital, portanto, a diferenciao e articulao entre os cortes; e, finalmente, no mbito interno a prpria regio,

    o aspecto bsico o nvel de suas foras produtivas e suas relaes de produo. Mas esses aspectos so

    tambm constitudos por relaes polticas, ou seja, relaes de poder que permeiam as relaes sociais na

    regio, que na perspectiva da geografia, tem um fundamento poltico, de controle e gesto de um territrio.

    (GOMES, 1995, p. 73).

  • 31

    porque no causa degradao ambiental, no prejudica as naes indgenas e controla o

    processo de apropriao territorial atravs do manejo da questo agrria na Faixa de Fronteira.

    Tanto um quanto outro, integram o SIPAM (Sistema de Proteo da Amaznia) com

    sede em Manaus (AM), ao qual esto subordinados. E se situam em dois momentos da recente

    histria republicana do pas, a Transio (1985-1988) e a reforma de Estado (1992-2002),

    respectivamente.

    O SIPAM um sistema multidisciplinar com o objetivo de coordenar as aes de

    vigilncia na Amaznia, buscando integrar as diversas instituies pblicas e privadas, a fim

    de gerenciar informaes obtidas com os projetos para fins de segurana nacional e

    desenvolvimento social regional, bem como reduzir custos infra-estruturais necessrios ao

    desenvolvimento sustentvel da regio e alavancar a integrao nacional; aproveitar e garantir

    a biodiversidade e gerar bem-estar para os habitantes mediante polticas pblicas.

    A colossal perda de sua biodiversidade e o malbarato tratamento com os recursos

    financeiros em mega projetos impostos regio nas dcadas de setenta e oitenta, no deve

    favorecer o discurso anti-Estado to comum em estudos sobre seus problemas e candentes

    questes, especialmente os influenciados pela literatura regional que examinou os impactos

    sociais e ambientais dos grandes projetos, assim como uma determinada vertente da

    Antropologia brasileira e internacional que estuda as sociedades tradicionais.9

    De outro lado, alguns trabalhos acadmicos da rea de cincias sociais trataram do

    problema da ocupao da Amaznia desde o fim dos anos 60. De certa maneira, eles

    constituram um discurso alternativo ao propagandstico do governo; sua

    contrapartida estava no fato de estabelecerem um tipo de estudo que se aproximava

    de populaes margem do chamado processo desenvolvimentista. Isto se v mais

    claramente na antropologia, disciplina tradicionalmente vinculada s populaes

    nativas da Amaznia (...) O resultado, no texto, geralmente produz uma viso anti-

    establishment que, at certo ponto, pretende dar conhecimento de vises

    diferenciadas, que no eram pblicas, mas cuja contrapartida deslocamento dos

    atores politicamente hegemnico ao segundo plano. (LEIRNER, 1995, p. 2)

    Resgatar o ator Estado para o primeiro plano, no faculta esta instituio da crtica

    acerca de seus efeitos perversos produzidos pela ao poltica em diversos setores da

    9 Os contornos fundamentais da crtica so vistos claramente no debate sobre os autores que estudaram o PCN

    contidos no II Captulo.

  • 32

    sociedade, ainda que sob o imprio da boa inteno de resolver seus angustiantes problemas

    sociais.

    No que tange ao PCN, no se pretende examinar a organizao do principal ator

    responsvel pela coordenao e comando dessa poltica, ou seja, as FFAA: seu modo de

    funcionamento, seu papel constitucional, sua relao com a sociedade, entre outras questes;

    nem tampouco proveitoso investigar as razes pelas quais fracassou o modelo anterior de

    controle efetivo sobre a Amaznia e, apenas levemente, discute-se o Projeto SIVAM, uma vez

    que no constitui objeto de investigao; e, sobretudo, tecnicamente falando so restritas as

    intenes avaliativas do PCN, porque se buscam as implicaes mais amplas do seu

    envolvimento com o ambiente sociopoltico. Menoscabar, entretanto, uma avaliao da

    poltica pblica como a que representa o PCN, no significa, de modo algum, o abandono da

    possibilidade de mensurar os seus resultados at o presente, apesar de no se constituir em

    objetivo da presente Tese.

    No obstante a relevncia da questo indgena contida na problemtica do Projeto

    opta-se por no abord-la em profundidade, haja vista que, a rigor, foi bastante explorada por

    pesquisas anteriores que sero citadas em momento oportuno e porque o limite emprico

    recortado demandaria uma outra pesquisa, quem sabe futuramente. Apesar dos condicionantes

    internacionais do objeto no um trabalho de relaes internacionais, mesmo que questes

    afins estejam integradas na referncia terica e emprica. No conjunto do trabalho conceitos e

    categorias subtradas dessas disciplinas sero integradas anlise.

    Estud-lo do ponto de vista da ao estatal, torna-se tarefa inadivel, proporo que

    pretende resolver problemas antigos e novos relacionados segurana mediante a ocupao

    demogrfica e a presena militar. Colocado dessa forma, o problema central implica a

    aceitabilidade do privilegiamento das formas polticas, estratgicas e geogrficas de insero

    da regio amaznica no trad off entre o cenrio nacional, regional, hemisfrico e mundial no

    contexto da modernizao capitalista na qual se insere o PCN.10

    Este o objeto de

    10

    Modernizao, objetivamente, trata-se da maneira pela qual se configuram as mudanas motivadas

    economicamente pela diviso internacional do trabalho que emerge da Revoluo Industrial, e que,

    simultaneamente, determinada e determina uma nova estrutura de poder representada pelo Estado-Nao na

    busca do uso e apropriao do territrio. Atualmente, na Revoluo Tcnico-Cientfica em curso, o processo de

    modernizao conforma uma ordem reformista social que atinge suas funes (do Estado) e o seu papel em

    relao aos cidados, sociedade civil e ao mercado. Aplicado Amaznia o conceito de modernizao se

    insere no contexto obedecendo a decises polticas e levando em conta a complexidade de processos sociais e

    polticos e suas particularidades geogrficas. Esse conceito difere de modernidade. GIDDENS (1991, p. 12)

    assevera que modernidade (...) estilo, costume de vida ou organizao social que emergiram na Europa a

    partir do sculo XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influncia. Isto associa

  • 33

    investigao que ser potencializado, enquanto unidade bsica de investigao, pelos

    indicadores socioambientais e econmico-financeiros, abdicando das reas especficas para

    efeito de estudo de caso to comum nas pesquisas acerca da Amaznia contempornea, salvo,

    obviamente, excees.11

    O motivo de tal recusa a possibilidade de oferecer uma viso integrada da poltica na

    atuao estatal remodelando o seu territrio no campo da defesa nacional, inerentemente geral

    e particular. Primeiro, no geral, porque a preocupao mundial e regional devido ao cenrio

    de incertezas que paira sobre os Estados nacionais, e, segundo, particularmente porquanto

    dotado de caractersticas inerentes s condies determinantes do terreno nacional e

    amaznico.

    O estudo se concentra na anlise do processo de formao, concepo, financiamento

    e territorializao do PCN, de 1985 a 2002, com nfase na fase da reforma do Estado para o

    mercado, isto , de 1994 a 2002, pelo ngulo da governabilidade, da governana, da fronteira

    poltica12

    e da insero hemisfrica e global da segurana da Amaznia.

    Quais as implicaes institucionais, territoriais, oramentrias, polticas, estratgicas e

    ambientais do PCN?

    Qual o significado da Nova PDN para os contornos atuais da segurana nacional na

    Amaznia, principalmente na fronteira poltica, tipicamente uma rea marrom

    (ODONNELL, 1993) onde prevalece o contrabando e o narcotrfico na peculiaridade do

    circuito da ilegalidade (MACHADO, 2000), nomeadamente durante o processo reformista do

    Estado comandado por FHC?

    Que desafios se apresentam ao Estado, atravs do PCN, quanto ao enquadramento da

    Amaznia no modus operandi hemisfrico e global de poder na esfera da segurana

    coletiva?13

    a modernidade a um perodo de tempo e a uma localizao geogrfica inicial, mas por enquanto deixa suas

    caractersticas principais guardadas em segurana numa caixa preta.

    11

    As teses de BRITO (2001) e SILVA (2003), por exemplo, abdicaram dessa postura metodolgica de escolhas

    de reas investigativas especficas para fins de anlise dos problemas amaznicos, respectivamente, as

    instituies polticas de planejamento na Amaznia e a governana global a partir do PPG-7.

    12

    Toda referncia ao termo social se no vier acompanhada de devidas especificaes, reporta-se

    dimensionalidade totalizante das interaes estabelecidas entre os indivduos e destes com o ambiente, ou seja,

    a dimenso econmica, poltica, espacial, cultural etc. vistas integradamente.

    13

    Define-se segurana coletiva, com extenso para o conjunto do trabalho, na base de um novo paradigma que

    incorpora elementos do velho paradigma e acopla elementos do novo - (o velho definia a segurana

    coletiva enquanto manifestao coibitiva de atos de agresso internacional e combate a violncia interestatal) -

  • 34

    Parte-se de trs pressupostos fundamentais. Primeiro, o Estado dinamicamente tem

    buscado controlar e proteger a Amaznia ao longo da histria, e desempenhado o seu papel

    constitucional e poltico, com iniciativas e medidas preventivas no sentido de dissuadir

    quaisquer tentativas que expressem perigo manuteno da integridade territorial. O PCN

    como uma dessas medidas apresenta um conjunto de problemas, para os quais sugere-se as

    seguintes hipteses:

    1. Financiamento: o esvaziamento financeiro do PCN ocorreu menos ao programa

    governamental para ajustar as contas pblicas e o pagamento da dvida externa do

    que a deciso poltica de reorientar os investimentos para o Projeto;

    2. Desenvolvimento sustentvel: h um esforo para a incluso efetiva da

    sustentabilidade na Nova PDN;

    3. Estado em rede: h um movimento tambm para integrar o PCN ao sistema de

    produo de informaes do SIVAM, entendido como um novo enfoque sobre a

    defesa nacional na Era da Informao, e que necessrio para a vigilncia da

    Amaznia;

    Segundo, a PDN implementada pela administrao de FHC impulsionou o

    revigoramento dos projetos de segurana e vigilncia e fortaleceu a presena do Estado na

    fronteira poltica, bem como almejou adequ-la s transformaes em curso regional e

    internacionalmente, condicionada pela substituio da ordem bipolar para multipolar/unipolar,

    num quadro de incertezas na ordem internacional.

    E terceiro, a revitalizao do PCN e a implantao do SIVAM mantm a condio do

    Brasil de potncia mdia e de destaque no hemisfrio sul, revela ainda a permanncia de uma

    estratgia do poder central para consolidar a soberania brasileira sobre a regio, mas que

    ganha novos significados com a mudana nas relaes internacionais e seus impactos na

    governana, com a entrada na agenda do desenvolvimento sustentvel dos direitos humanos,

    do narcotrfico e do contrabando.

    O Estado mediado pelo PCN, as Foras Armadas (FFAA) e o governo de FHC so

    definidos como atores polticos centrais em escalas e nveis de responsabilidades

    diferenciadas. Se as responsabilidades polticas e funes so desiguais, no menos

    importantes so as diferenas assimtricas no entrelaamento das escalas regional, nacional,

    continental e mundial. As relaes sociais entre esses atores, que operam em rede (o que no

    a ateno dispensada manifestao de instabilidade no interior dos Estados, sejam eles o produto de

    conflitos armados ou no. (PATRIOTA, 1998, p.8)

  • 35

    exime sua verticalidade e sobreposies funcionais e de classe) constituem o eixo temtico

    sobre o qual o objeto, o PCN, adquire significado e relevncia analtica.

    Aborda-se a temtica pelo ngulo da cincia poltica, da geografia poltica, das

    relaes internacionais, da histria e da geopoltica, numa cooperao multidisciplinar. Para

    tanto, escolhe-se um enfoque centrado no Estado que d conta dos mecanismos institucionais

    centrais responsveis pela tomada de deciso relativa produo e aprovao de uma poltica

    pblica que desgua no reordenamento do espao14

    em rea de fronteira, na poca das

    reformas comandadas por FHC e de conturbado cenrio internacional.

    Trata-se de uma rea com caractersticas particulares em virtude da reduzida densidade

    demogrfica e da importncia mundial que adquiriu sua biodiversidade15

    e, sobretudo, porque

    a Pan-Amaznia, especialmente a parte colombiana, palco de operaes militares

    envolvendo o governo desse pas e foras guerrilheiras, o que tem provocado especulaes

    (verdadeiras ou no) em torno de uma interveno norte-americana ou de uma coalizo

    comandada por este governo.16

    14

    Categoria central da cincia e da geografia em particular. Apesar do sentido percebido por DAK (1986) apud

    MORI (1988, p. 94), do espao como territrio de um mercado unificado no qual a forma-mercadoria tenha se

    generalizado na vida social, intrinsecamente prenhe da ao de homens e mulheres no processo histrico de

    constituio do Estado-Nao, com uma carga de historicidade inerente ao conjunto das relaes sociais que

    definem o real estruturado no modo de produo capitalista, que unifica e homogeniza o mercado capitalista.

    (Sobre este ltimo conceito, consultar a vasta literatura marxiana, j bastante explorada e conhecida do pblico

    acadmico, cuja reviso escapa aos objetivos deste trabalho). Embora o espao seja entendido como totalidade,

    SANTOS (1980, p.145) faculta uma outra definio dessa categoria ocorrendo somente em relaes onde o

    mercado foi unificado pelo capitalismo. Diz que o espao no pode ser apenas um reflexo do modo de

    produo, nem uma condio natural, e enriquece-o afirmando que o espao, como as outras instncias

    sociais, tende a reproduzir-se, uma reproduo ampliada, que acentua os seus traos j dominantes. A estrutura

    espacial, isto , o espao organizado pelo homem como as demais estruturas sociais, uma estrutura

    subordinada-subordinante. E como as outras instncias, o espao embora submetido lei da totalidade, dispe

    de uma certa autonomia que se manifesta por meio de leis prprias, especficas de sua prpria evoluo.

    Finalmente, conceitua o espao da seguinte forma: ...o conjunto de relaes realizadas atravs de funes e de

    formas que se apresentam como testemunho de uma histria escrita por processos do passado e do presente.

    Isto , o espao se define como um conjunto de formas representativas de relaes sociais do passado e do

    presente e por uma estrutura representada por relaes sociais que esto acontecendo diante dos nossos olhos e

    que se manifestam atravs de processos e funes. O espao , ento, um verdadeiro campo de foras cuja

    acelerao desigual. Da porque a evoluo espacial no se faz de forma idntica em todos os lugares.

    (SANTOS, 1980, p.122)

    15

    Compreende-se a biodiversidade como a variabilidade de organismos vivos de todos os tipos, abrangendo a

    diversidade de espcies e a diversidade entre indivduos de uma mesma espcie. Compreende tambm a

    diversidade de ecossistemas terrestres e aquticos e os complexos ecolgicos de que fazem parte. (IBGE.

    Estudos e Pesquisas: Informao Geogrfica, n. 2, Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel, Brasil 2002.

    Rio de Janeiro, 2003, p. 130).

    16

    Pan-Amaznia uma regio com ecologia semelhante e formada pela Bacia do Rio Amazonas, limitando-se

    pela Cordilheira dos Andes, a oeste, ao norte pelas Serras das Guianas e ao sul Planalto Central, ou seja, entre

    o Peru e o Estado do Maranho, no Brasil; do Orinoco, na Venezuela, at o Norte do Estado de Mato Grosso.

    E abrange nove pases: Brasil, Bolvia, Venezuela, Peru, Equador, Colmbia, Suriname, Guiana e Guiana

    Francesa. Possui uma superfcie de 7,7 milhes de km2, 2/5 da Amrica do Sul.

  • 36

    Apoiando-se em indicadores demogrficos, econmico-financeiros e ambientais, e

    numa ampla base de dados sobre a Faixa de Fronteira Norte, a tese que pretende-se testar no

    decorrer da evoluo e desenvolvimento consiste no seguinte: appeessaarr ddoo ddiissccuurrssoo qquuee eennffaattiizzaa

    ooss lliimmiitteess ddaa ppoossssiibbiilliiddaaddee ddaa ppoollttiiccaa nnaa ccoonntteemmppoorraanneeiiddaaddee,, ee ddaa ccrrttiiccaa ddee uummaa lliitteerraattuurraa nnaass

    CCiinncciiaass SSoocciiaaiiss qquuee ccoommbbaattee aa iinntteerrvveennoo ffeeddeerraall nnaa rreeaa ddaa sseegguurraannaa nnaa ffrroonntteeiirraa NNoorrttee,, oo

    ppooddeerr cceennttrraall aattrraavvss ddoo EEssttaaddoo tteemm bbuussccaaddoo,, hhiissttoorriiccaammeennttee,, pprrootteeggeerr ee pprreesseerrvvaarr oo tteerrrriittrriioo

    aammaazznniiccoo,, iinncclluussiivvee ccoomm mmeeddiiddaass pprreevveennttiivvaass ((aa eexxeemmpplloo ddoo PPCCNN,, ddoo SSIIVVAAMM ee ddaa LLeeii ddoo

    AAbbaattee)) aa ffiimm ddee ddiissssuuaaddiirr qquuaaiissqquueerr tteennttaattiivvaass qquuee ssiiggnniiffiiqquueemm aa ffrraaggmmeennttaaoo ddaa rreeggiioo,,

    ccuummpprriinnddoo,, aassssiimm,, sseeuuss pprreecceeiittooss ccoonnssttiittuucciioonnaaiiss qquuee rreeaaffiirrmmaa aa ddeeffeessaa ddaa iinntteeggrriiddaaddee ddaa

    nnaaoo eemm tteemmppooss ddee iinncceerrtteezzaass nnaass rreellaaeess iinntteerrnnaacciioonnaaiiss,, aaiinnddaa qquuee ccoomm uummaa ppoollttiiccaa

    eexxtteerrnnaa qquuee pprriioorriizzaa aa ccooooppeerraaoo ee sseegguurraannaa hheemmiissffrriiccaass.. DDoo ppoonnttoo ddee vviissttaa ddeemmooccrrttiiccoo,, aa

    ggoovveerrnnaannaa ccoonntteemmppoorrnneeaa tteemm ssiinnaalliizzaaddoo ppaarraa oo ffoorrttaalleecciimmeennttoo ddaa aauuttoorriiddaaddee eessttaattaall nnoo

    eessttrriittoo ccuummpprriimmeennttoo ddee ssuuaass aattrriibbuuiieess ccoonncceerrnneenntteess pprroodduuoo,, eexxeeccuuoo,, ffiinnaanncciiaammeennttoo,,

    ccoonnttrroollee ee aavvaalliiaaoo ddaass ppoollttiiccaass eessttaattaaiiss vvoollttaaddaass ppaarraa aa ooffeerrttaa ddee sseerrvviiooss ccoolleettiivvooss ppeellaa

    aaddmmiinniissttrraaoo ppbblliiccaa nnaa eessffeerraa ddaa ddeeffeessaa nnaacciioonnaall..

    A organizao terico-metodolgico da Tese fixou-se num Apndice Metodolgico.

    Entretanto, objetivando facilitar a compreenso do encaminhamento das questes formuladas,

    mostra-se que a pesquisa histrica foi acionada como recurso explicativo, uma vez que se

    procura salientar o carter histrico relativo tanto peregrinao militar para proteger a

    Amaznia quanto da temporalidade do prprio PCN. Alm disso, a estratgia de pesquisa

    implica, tambm, a descrio dos processos e relaes sociais ao caracterizar a realidade

    concreta na qual movimenta-se o PCN. Assim, almeja-se, para tanto, um relato das atividades

    que configuram a estrutura fsica do Projeto, bem como dos conjuntos dos outros aspectos

    (geopolticos, polticos, oramentrios, estratgicos e hemisfricos), sobretudo das aes

    realizadas no perodo recortado, isto , de 1994 a 2002.

    Por ltimo, o mtodo explicativo ser utilizado para fins de anlise aprofundada para

    todos esses aspectos, apoiado no modelo terico adotado que permitir extrair concluses de

    carter terico e conseqncias polticas para as autoridades governamentais ligadas rea da

    segurana e defesa nacionais, se relevante, adot-las nos procedimentos estratgicos e sociais

    na fronteira poltica ou em qualquer outro lugar.

    A Tese est organizada em captulos, alm desta Introduo e da Concluso, dos

    Anexos e do Apndice Metodolgico. O primeiro captulo expe o debate terico que visa

    projetar a problemtica e suas implicaes terico-metodolgicas cuja transversalidade d

    importncia ao Estado enquanto ente institucional dotado de poderes organizacionais,

  • 37

    jurdicos e estratgico-militares. Assim, ele alado como problemtica terica em torno das

    principais vertentes que ainda circulam nas cincias sociais, e assim, ressalta-se em suas

    primeiras seces a contribuio do marxismo e de suas diversas escolas tericas; a

    importncia de Max Weber para o institucionalismo; o neo-institucionalismo na cincia

    poltica; e na ltima seco, uma construo interpretativa sobre o Estado no Brasil pelo

    olhar das cincias sociais. O segundo captulo, tambm terico, j na primeira seco

    prossegue na exposio do debate sobre o Estado, enfatizando a multiplicidade de verses

    sobre a fronteira; a segunda seco apresenta a construo de um conceito integrado de

    Estado e fronteira poltica; na terceira seco, destaca-se a tipologia cartogrfica na

    convergncia de Guilhermo ODonnell; a quarta seco aborda, sucintamente, o referencial

    terico-metodolgico baseado na sociedade em rede como proposta por Castells (1999) e

    Haesbaert (2004) e os desafios fulcrais ao Estado nesta perspectiva e, conclui, nas duas

    ltimas seces, com uma avaliao do estado-da-arte sobre o PCN, remetendo a uma

    avaliao dos autores, cientistas polticos, gegrafos e antroplogos, que compreenderam a

    necessidade de entend-lo.

    O terceiro analisa o pensamento geoestratgico construdo em torno da Amaznia para

    mostrar, inclusive em perspectiva histrica, a permanente preocupao do poder central com a

    Amaznia em geral, e com a Faixa de Fronteira, em particular. Examina a interveno estatal

    na regio desde os primeiros sculos, sobretudo aps a Segunda Grande Guerra para

    identificar a concepo que norteou a elaborao do PCN. O quarto captulo objetiva analisar

    o surgimento do PCN, dando nfase Transio democrtica17

    a fim de identificar os

    fundamentos polticos e geopolticos, bem como busca apresentar um exame da situao

    social da fronteira poltica. O quinto captulo tem a ambio de explicitar os traos

    constituintes da conjuntura internacional determinantes da nova PDN; por isso, a dinmica

    institucional e a poltica esto entrelaadas com as transformaes sociais em curso no mundo

    e como essas mudanas que redefinem as relaes internacionais orientadas pela governana,

    rebatem nos processos polticos desencadeados pelo governo de FHC e que resultaram na

    Nova PDN. O sexto descreve a Nova PDN, lanada na administrao de FHC, em 1996, e

    prope o conceito de governana para verificar em que medida essa poltica assimila as

    mudanas ocorridas no mundo ps-Guerra Fria e que implicaes teve e tm para os rumos do

    Projeto na Amaznia.

    17

    Veja-se: KINZO, Maria D Alva G. A democratizao brasileira: um balano do processo poltico desde a

    transio. Perspectiva, v. 15, n. 4, p. 3-12, out./dez., 2001.

  • 38

    O stimo investiga as fontes de financiamento e os mecanismos oramentrios com o

    objetivo de captar a dimenso da crise, assim como os custos, em perspectiva comparada, em

    relao ao Oramento da Unio. Pretende responder aos questionamentos feitos sobre se a

    onda reformista do Estado na gesto de FHC incidiu sobre sua continuidade e expanso. O

    oitavo identifica no espao social da Faixa de Fronteira, nos limites da rea que circunscreve

    o Projeto, os atores sociais que transitam na Faixa, mapeia as rotas de contrabando e trfico de

    drogas e identifica as empresas mineradoras em Terras Indgenas (TIs), para problematizar a

    conflitualidade da ao estatal na fronteira poltica e analisa a Lei do Abate enquanto medida

    repressiva tomada com o objetivo de coibir as rotas areas do trfico e do contrabando.

    Logo em seguida, o ltimo captulo, pe em relevo os limites e as possibilidades do

    Estado, nas escalas local, regional continental e mundial, de controlar efetivamente o

    territrio. O aspecto a registrar, neste captulo, a modalidade militar permanentemente atenta

    aos problemas oriundos da defesa do territrio-rede que se aperfeioa com a implantao do

    Projeto SIVAM.

  • 39

    CAPTULO 1 - INSTITUIO E FRONTEIRA POLTICA: Notas Tericas

    Introduo

    Este primeiro captulo oferece um quadro analtico sobre o Estado, de acordo com as

    mais conhecidas vertentes tericas, conforme quadro 1, e uma anlise das mltiplas relaes

    tericas, polticas e normativas no conceito de Estado. Traa um painel sobre as diversas

    correntes que legaram uma reflexo acerca dessa instituio poltica. Estabelece interface

    entre elas, mostrando suas virtudes e fraquezas. Comea com um resumo sobre a perspectiva

    marxista e seus desdobramentos posteriores no neomarxismo, a reflexo gramsciana; a escola

    derivacionista alem, o estruturalismo francs e, por fim, o modelo burocrtico baseado em

    Weber que instituiu as bases para as discusses do institucionalismo e o neo-institucionalismo

    na cincia poltica. Ensaia-se um exame das influncias do pensamento europeu sobre os

    intelectuais brasileiros que, na primeira metade do sculo passado, buscaram entender a

    particularidade de nosso Estado e sociedade.

    A anlise est calcada no fato de que, para o entendimento dos problemas de

    segurana na extremidade da Amaznia, implica significativamente a necessidade de explicar,

    simultaneamente, numa nica moldura terica tanto uma discusso sobre o Estado quanto da

    fronteira poltica, interligando seus elementos socioespaciais e resgantando seu sentido macro.

    Esse ser o resultado da pesquisa terica dos dois primeiros captulos. Em conseqncia, o

    Estado visto como ator que, simultaneamente, organiza e disciplina o conflito social no e

    pelo territrio inerentemente imbricado rede de relaes sociais, e funda-se tambm numa

    gama de instituies e agncias menores na produo e implementao de polticas pblicas

    para a fronteira.

  • 40

    Quadro 1

    Vertentes Tericas-Interpretativas para o Estudo das Instituies Polticas

    Fonte: D.M.N.

    1.1. A PROBLEMTICA NO MARXISMO

    Tradicionalmente polticas pblicas so examinadas exteriormente, atravs das

    abordagens conhecidas como macro-sociolgicas, metateorias e teorias de longo alcance.

    Realizar uma avaliao sobre a reflexo marxiana, apesar de apressadamente soar como

    antiquado, a anlise responde necessidade de salientar que a discusso contempornea sobre

    a crise do Estado e das cincias sociais, que estende seu diagnstico incapacidade das

    teorias de longo alcance, em particular o marxismo de responder aos arrostos tericos para

    compreender as alteraes institucionais ocorridas no ltimo sculo, enfatiza os aspectos

    coercitivos das instituies estatais tradicionais e contemporneas. Finalmente, porque ele (o

    marxismo) exerce at esse tempo prestgio nos estudos acerca da definio e execuo de

    polticas pblicas, em suas bases sociolgicas e econmicas.

    Far-se- uma breve reviso de suas mais relevantes preocupaes quanto ao papel

    desempenhado pelo Estado especialmente quanto questo da autonomia, um dos principais

    Corrente terico-interpretativa Perspectiva

    Institucional Referncias tericas

    Campo de

    aplicao

    disciplinar

    Marxismo

    (Marx,

    Engel e

    Lnin)

    Filosofia da

    prxis

    Macro

    Antonio Gramsci

    Cincias

    Sociais

    Estruturalismo Macro

    Louis Althusser e Nicos

    Poulantzas

    Escola

    derivacionista

    alem

    Macro Joachim Hirsch, Elmar

    Atvater e Claus Off

    Perspectiva compreensiva macro e micro Max Weber Cincias

    Sociais

    Neoinstitucionalismo Micro

    Anthony Downs, Mancur

    Olson, Jon Elster, Douglas

    Nort, Ellen Immergut e

    George Tsebelis

    Cincia

    poltica

    Estado Cartogrfico Macro Guilhermo ODonnell

    Cincia

    poltica e

    geografia

    Sociedade em Rede Macro Manuel Castells Cincias

    sociais

  • 41

    temas de anlise da quarta gerao de marxistas conhecidos como neomarxismo, para

    mostrar que os mais recentes trabalhos nessa rea provm, de certa forma, do debate da

    tradio conformada no ltimo sculo.

    Neste sentido, importa inicialmente destacar que o Estado no marxismo uma

    organizao poltica que surgiu a partir de determinadas condies histrico-sociais

    especficas, caracterizadas pelo surgimento da propriedade privada que marca o aparecimento

    das sociedades de classes. O Estado meio disposio da classe dominante a fim de dar

    soluo aos conflitos advindos da impossibilidade de todas as classes coexistirem

    pacificamente em sociedade. Por conseguinte, essa classe se apropria do poder poltico

    visando cobrir seus interesses particularistas. Este poder, nascido da sociedade, mas posto

    acima dela e distanciando-se cada vez mais, o Estado. (ENGELS, 1985, p.227)

    O bordo marxiano o de que o Estado tem carter de classe e a natureza dessa

    relao de classe (a correspondncia e a ruptura) determinada, em ltima instncia, pelas

    relaes sociais de produo em cada formao econmico-social. A dinmica da histria

    determinada pelo conflito entre as classes sociais. O Estado s existe para reproduzir essas

    relaes e representar os interesses dessas classes hegemnicas, inclusive atravs do uso da

    fora. No caso da sociedade capitalista - a burguesa -, e suas diversas fraes, detm o

    monoplio exclusivo sobre a dinmica poltica do Estado, condicionando o contedo das

    polticas governamentais. Isso explica o fato de que ele age em funo do capital, que

    determina o contedo das polticas pblicas. Enfim, essa concepo define o Estado como o

    lugar-coisa a ser conquistado pelas classes e/ou fraes de classe que disputariam os recursos

    atravs de suas estratgias, no conflito competitivo pelo ncleo de poder do aparelho de

    Estado.

    Ora, como o capital no uma coisa, mas uma relao social, os capitalistas surgem

    ento como agentes, cujos interesses dominam o contedo daquelas, como demonstra

    claramente a clebre frase de Marx e Engels: O poder estatal moderno apenas uma

    comisso que administra os negcios comuns do conjunto da burguesia. (1998, p.9) Em

    outras palavras, isto quer dizer que o Estado filtra as polticas danosas ao capital diretamente

    atravs da articulao dos capitalistas e organiza de modo particular a dominao da classe

    burguesa, ao estabelecer todos os agentes da produo, produtores diretos ou proprietrios,

    como iguais. (SAES, 1994, p.33)

    Por causa do ciclo da revoluo burguesa na Frana, Marx e Engels modificariam sua

    concepo do Estado, inserindo a discusso da autonomia da dimenso superestrutural nos

    processos poltico e histrico. (MARX & ENGELS, 1998; MARX, 1974)

  • 42

    A continuidade, entretanto, das pesquisas no pensamento poltico marxiano se daria

    somente mais de meio sculo depois, com a obra de V. I. Lnin, em 1917. As reflexes

    tericas do revolucionrio russo foram expostas nas conferncias que proferiu na

    Universidade Sverdlov e, posteriormente, em O Estado e a Revoluo, obra elaborada para

    solucionar os impasses tericos e polticos acerca do andamento da revoluo e,

    simultaneamente, sobre o papel do Estado no projeto de reforma da sociedade, pois alguns

    tericos eram, entre eles Karl Kautsky, contrrios, por princpio, demolio da mquina

    estatal numa Rssia supostamente ps-revolucionria.

    Lnin (1979), seguindo o caminho deixado por Marx e Engels, deu continuidade ao

    exame do Estado destacando os pressupostos deixados por estes. No entanto, inova ao

    acrescentar que o Estado continuaria um instrumento de explorao de uma classe sobre a

    outra mesmo com a derrubada da burguesia do poder. A extino do Estado era, para Lnin,

    influenciado por Engels, um longo processo histrico no qual as funes deste estariam sendo

    restituda aos indivduos organizados em instituies de auto-gesto para resolver os assuntos

    pblicos. Esse conceito diferente do de supresso do Estado. Neste claro o pressuposto

    transitrio de mudana dos fundamentos burocrticos de um tipo de Estado que serve, to-

    somente, aos interesses de uma determinada classe dominante: a burguesia. Por fim, a

    democracia universal, que Lnin considerava um conceito de significado burgus (portanto de

    classe) e de estratgia da burguesia para a preservao do poder poltico, no precisaria ser

    ampliada, dizia ele, mas demolida, porque seria edificada pela classe dominante e viciada por

    esta em suas entranhas institucionais-burocrticas.

    Durante um bom tempo no houve progressos na reflexo acerca do Estado na teoria

    marxista. Tal reflexo foi congelada pela transformao do marxismo em ideologia oficial do

    Estado-burocrtico Sovitico. Depreende-se disso o fato de que somente na dcada de

    sessenta, com o rompimento pelo partidos comunistas europeus da influncia da ex-Unio

    Sovitica, as condies foram criadas para que, intelectuais marxistas, especialmente os

    europeus, firmassem uma independncia adquirida em meio a protestos dos soviticos, como

    desdobramento dos debates ideolgicos e polticos do XX Congresso do PCUS (Partido

    Comunista da Unio Sovitica), em 1956, no qual rompe-se com o monoplio ideolgico dos

    partidrios de J. Stalin. Conseqentemente, essa independncia revela-se profcua para o

    prosseguimento das pesquisas pertinentes natureza e perfil do Estado capitalista, na era do

    capitalismo avanado e tardio.

  • 43

    1.1.1. Filosofia da prxis

    Essa inflexo foi causada pela descoberta e publicao, no final dos anos cinqenta,

    dos Cadernos Del Carcere, de Antonio Gramsci (1978 e 1984). A publicao desses

    manuscritos, na verdade, deu incio a uma verdadeira revoluo no paradigma marxiano

    acerca do Estado.

    Gramsci estabeleceu uma abordagem nova para esse tema. Para ele, no Estado reside

    um novo espao e tempo histricos, isto , o deslocamento analtico para o entendimento do

    Estado na Europa ocidental e, concomitante, o sculo XX, como marca temporal de uma nova

    realidade histrico-social. Ou seja, existiria uma particularidade das sociedades capitalistas

    avanadas no Ocidente e que, tal fato, corresponderia a um novo momento histrico no

    vivido por Lnin e pelos fundadores da filosofia da prxis (MARX & ENGELS).

    Neste sentido, o intelectual Sardenho, atribui como causa da onda revolucionria

    malograda na Itlia e na Alemanha, ponto de partida para o debate terico e poltico, no

    comeo do sculo XX, uma incompreenso dos marxistas em relao atuao dos partidos

    operrios e comunistas na nova conjuntura nacional e internacional e, conseqentemente, da

    incapacidade de formular uma estratgia de guerra de posio em vez da superada guerra de

    movimento, a primeira mais adequada para o novo contexto histrico-social do capitalismo

    tardio.

    Segundo Gramsci era preciso examinar esse objeto (o Estado) luz da hegemonia

    poltica e cultural exercida pelas classes dirigentes, cujos mecanismos de difuso

    extrapolavam as estreitas fronteiras polticas do Estado-Nao, em sentido estrito. A relao

    passa agora pela correspondncia entre dirigidos e dirigentes e no mais exclusivamente entre

    dominante e dominados.

    H, perceptivelmente, uma nfase no papel desempenhado pela sociedade civil

    entendida como conjunto dos organismos ditos privados e fazendo parte do Estado Ampliado,

    cujo objetivo garantir o consentimento ativo e passivo dos grupos subalternos. Mas no s

    isso, o Estado seria a somatria (relao de correspondncia contraditria e de unidade) da

    sociedade civil (lugar do consenso) com a sociedade poltica (lugar da coero) - o Estado

    propriamente dito de Marx, Engels e Lnin. Esta sociedade poltica destina-se dominao de

    classe e o lugar por excelncia da fora: tribunais, leis, aparelho policial-militar e FFAA.

  • 44

    1.1.2. O Estruturalismo: Althusser e Poulantzas

    Um movimento estruturalista originrio da antropologia e da lingstica penetrou no

    marxismo com a obra de Althusser (1985) e Poulantzas (1984), ambos, herdeiros da reflexo

    gramsciana do Estado. Estas obras esto inseridas no horizonte cultural e poltico da crtica ao

    socialismo real.

    Essa abordagem estruturalista do Estado ganha fora e universalidade com o livro

    seminal de Loius Althusser. O filsofo francs publicaria, em 1969, um texto que se torna um

    verdadeiro manual na militncia de esquerda no final da dcada de sessenta e em toda a

    seguinte, chamado de Aparelhos ideolgicos do Estado, de enorme repercusso nas cincias

    sociais no mundo inteiro, especialmente nas academias onde prevalecia as teses de Lnin de O

    Estado e a revoluo (1917).

    Na perspectiva do corte epistemolgico entre a filosofia e a cincia, entre o mtodo

    descritivo (filosofia) e o mtodo explicativo (cincia), Althusser, se prope a realizar a tarefa

    de avanar o que Marx e Engels haviam deixado sobre a construo de uma Teoria do Estado,

    fornecendo uma outra leitura do O Capital, diferentemente das obras (Crtica do Estado

    Hegeliano de 1843, A Questo Judaica, Introduo Crtica da Filosofia do Direito de

    Hegel de 1843-1844) do jovem Marx (hegeliano/mtodo descritivo/filosofia), a obra mais

    importante do chamado velho Marx, ou Marx da maturidade.

    Althusser evoca que o Estado sempre foi pensado como Aparelho repressivo, ou seja,

    o conjunto de mecanismos disposio de uma determinada classe ou fraes de classe para

    reprimir e ordenar violentamente a sociedade, mantendo os grupos subalternos sujeitos

    estrutura de dominao social, econmica, poltica e cultural. Ao assimilar as idias de

    Gramsci no tocante ao fato de que o Estado no se restringia ao Aparelho repressor, ele

    incorpora o conceito de aparelho ideolgico do Estado.

    Althusser (1985) introduz pela primeira vez a idia de que a ideologia enquanto

    dimenso do Estado no existe separadamente das relaes materiais de uma dada sociedade,

    isto , ela tem uma existncia material e se reflete no comportamento dos agentes sociais e

    polticos. Mais do que isso, a prtica da ideologia permite a reproduo de um dado modo de

    produo atravs da naturalizao da diviso do trabalho.

    Com efeito, os mecanismos ideolgicos sujeitam os indivduos no lugar da produo

    mantendo-os nos limites impostos pela necessidade da reproduo da produo. A tese central

    aquela que prev o Estado como compondo uma dimenso poltica, ideolgica e econmica

  • 45

    cuja reproduo imprescindvel para a reproduo das condies econmicas. So os efeitos

    das relaes ideolgicas e polticas sobre a produo que cimenta e dar o condimento s

    relaes entre a estrutura e superestrutura, afastadas na discusso clssica de Marx e Engels.

    E enunciamos duas teses simultneas: 1. s h prtica atravs de e sob uma ideologia 2.

    s h ideologia pelo sujeito e para o sujeito. (ALTHUSSER, 1985, p.93)

    Nas instituies concretas prova-se o carter reprodutor dessas prticas ideolgicas

    medida que tem o efeito de sujeio do conjunto dos agentes sociais. Essa atitude de

    Althusser pressupe uma virada na discusso da Teoria Geral do Estado no marxismo quando

    o desloca como ente abstrato e deslocado de sua base material para o mago das relaes

    sociais concretas levadas a efeitos por indivduos inseridos em relaes tambm concretas.

    Isso permite colocar o Estado no conjunto d