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DOCUMENTO DE APRESENTAÇÃO PROJETO DE CARBONO RECA: VALORIZANDO PRODUTORES LOCAIS DA AMAZÔNIA POR MEIO DE UM PROJETO DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS Nova Califórnia - RO

PROJETO DE CARBONO RECA: VALORIZANDO … · Na data de início do projeto (Jan/2013), 125 lotes rurais decidiram participar do projeto de carbono, o que representa uma área total

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DOCUMENTO DE APRESENTAÇÃO PROJETO DE CARBONO RECA: VALORIZANDO

PRODUTORES LOCAIS DA AMAZÔNIA POR MEIO DE UM

PROJETO DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

Nova Califórnia - RO

Nova Califórnia - RO

DOCUMENTO DE APRESENTAÇÃO PROJETO DE CARBONO RECA: VALORIZANDO

PRODUTORES LOCAIS DA AMAZÔNIA POR MEIO DE UM

PROJETO DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

Ficha TécnicaREALIZAÇÃO:Natura Cosméticos S/ARECA

PARCEIRO:Idesam

COORDENAÇÃO GERAL:Talía Manceira Bonfante

COORDENAÇÃO TÉCNICA:Pedro Gandolfo Soares

AUTORES:

IdesamPedro Gandolfo Soares

Isabele Goulart

Mariano Colini Cenamo

Cristiano Alves

Natura Cosméticos S/ATalía Manceira Bonfante

EDITORAÇÃO:Ana Medeiros

Ficha CatalográficaYcaro Verçosa dos Santos

Bibliotecário CRB-11 287

S196d Soares, Pedro Gandolfo.

Documento de Apresentação: Projeto de Carbono Reca: Valorizando produtores locais da Amazônia por meio de um Projeto de Pagamento por Serviços Ambientais / Pedro Gan-dolfo Soares; Isabele Goulart; Mariano Colini Cenamo; Cristiano Alves; Talía Bonfante. – Nova Califórnia: IDESAM/Natura, 2017.

50 p.

1. Manejo florestal 2. Produção madeireira – Amazônia 3. Extrativismo – Amazônia I. Goulart, Isabele II. Cenamo, Mariano Colini III. Alves, Cristiano IV. Bonfante, Talía V. Título

CDD 333.759811

22. ed.

CDU 630(811)

Glossário

CAR – Cadastro Ambiental Rural

CCB – Climate, Community & Biodiversity Stantards (Padrões Clima, Comunidade e Biodiversidade)

CLPI – Consentimento Livre, Prévio e Informado

DAP – Diâmetro à Altura do Peito (1,30 m)

FE – Fator de Emissão

GEE – Gases do Efeito Estufa

GPS – Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global)

IDESAM – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

PRODES – Projeto de Estimativa do Desflorestamento da Amazônia/INPE

PSA – Pagamento por Serviços Ambientais

RECA – Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado

REDD+ – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal

RR – Região de Referência

SAF – Sistemas Agroflorestais

SIG – Sistema de Informações Geográficas

VCS – Verified Carbon Standard (Padrão de Carbono Verificado)

1. Período de duração do projeto: 25 anos

2. Número de lotes participantes: 125

3. Área de florestas nos lotes (2013): 5.011,95 hectares

4. Áreas de talhões sobrepostas com as áreas de florestas (2013): 87,39 hectares

5. Área total do projeto ou área de creditação (florestas nativas nos lotes em 2013): 4.924,56 hectares

6. Área elegível para recebimento dos benefícios (área de creditação + áreas de SAFs com mais de 10 anos (2013): 5.148,91 hectares

7. Desmatamento esperado no cenário de linha de base (2013-2020): 723,68 hectares

8. Emissões esperadas no cenário de linha de base (2013-2020): 401.338,53 tCO

2

9. Desmatamento esperado no cenário do projeto (2013-2020): 296,29 hectares

10. Emissões esperadas no cenário do projeto (emissões do projeto) (2013 – 2020): 164.317,86 tCO

2

11. Reduções de emissões esperadas com o projeto (2013-2020): 237.020,67 tCO

2

12. Redução verificada do desmatamento (2013-2015): 166,53 hectares

13. Reduções de emissões verificadas (2013 – 2015): 92.354,28 tCO

2

Quadro Resumo do Projeto de PSA Carbono RECA

Capítulo 1: Apresentação do Projeto de Carbono Florestal e pagamento por serviços ambientais do RECA1 - Escopo e tipo do projeto

2 - Localização do projeto e contexto da região

3 - Identificação dos agentes provedores dos serviços ambientais

4 - Objetivos do projeto

5 - Definição do modelo de governança do projeto

6 - Tempo de duração do projeto (“período de creditação”)

7 - Descrição dos agentes e vetores do desmatamento na região do projeto

8 - Plano de atividades

9 - Análise de atividades

111112131316161818

202224272829303232

343839

Capítulo 2: Componentes Metodológicos e de contabilidade de benefícios ao clima (tCO2 evitadas)Passo 1. Estruturação do cenário de linha de base (ou cenário de referência) do projeto

Passo 2. Cálculo das taxas históricas de desmatamento na região de referência

Passo 3. Definição dos reservatórios e estoque de carbono

Passo 4. Abordagem para vazamentos

Passo 5. Definição de reserva técnica do projeto

Passo 6. Quantificação das reduções de emissões de GEE

Passo 7. Estratégias e procedimentos para monitoramento do projeto

Passo 8. Avaliações por terceira parte

Passo 9. Registro e gestão da informação

Contextualização do Projeto

AnexosAnexo I – Notícias e evidências dos riscos e ameças na região do projeto

Anexo II – Metologia das análises de geoprocessamento

Anexo III – Metodologia e resultados do inventário de biomassa para desenvolvimento do Projeto de Carbono RECA

Sumário8

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33

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Contextualização do Projeto

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O Projeto de Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado – RECA foi criado no ano de 1989 e atualmente se configura como uma organização social (cooperativa e associação), que tem como proposta representar e apoiar produtores rurais do Distrito de Nova Califórnia, localizado em Porto Velho/RO, e de regiões de entorno (Lábrea/AM e Acrelândia/AC), em atividades relacionadas à produção e comercialização de produtos oriundos de plantios de Sistemas Agroflorestais – SAFs e extrativismo de produtos florestais não madeireiros.

O Projeto RECA vem se mostrando bem-sucedido nos últimos anos e apresenta crescimento no número de associados e cooperados, no volume de produção beneficiada e comercializada e na construção de um modelo de produção sustentável que contribui para a redução do desmatamento na Amazônia. Os lotes e propriedades rurais que fazem parte do Projeto RECA geraram significativa contribuição com a con-servação florestal, ajudando a consolidar uma economia local de base florestal e evitando a abertura de áreas de floresta nativa para a ex-pansão de pastagens e produção pecuária.

No ano 2000, com o lançamento da linha Ekos, a Natura Cosméticos inicia um trabalho de estruturação e fortalecimento de cadeias pro-dutivas da sociobiodiversidade, incluindo agroextrativistas e agricul-tores familiares com o objetivo de estimular a economia regenerativa e a conservação das florestas. Foi nesse cenário que em 2001 iniciou-se o relacionamento entre Reca e Natura para o fornecimento de insu-mos. Em 2007, a Natura lança o Programa Carbono Neutro, assumindo

um compromisso público de redução contínua das emissões de gases de Efeito estufa (GEE) e neutralização de 100% das emissões. O Proje-to de Carbono Reca é resultado da integração dessas iniciativas. Adi-cionalmente é um projeto piloto, que busca criar um modelo replicável para outras regiões da Amazônia Brasileira que visam recompensar esforços voltados a conservação florestal e produção sustentável.

Para garantir que os agricultores tivessem espaços adequados e suficientes para compreender as propostas do projeto e avançar na construção de um acordo comercial entre empresa e associados, durante o ano de 2014 foram realizadas três rodadas de oficinas com os agricultores associados/cooperados ao RECA para o atingimento de um Consentimento Livre, Prévio e Informado dos produtores potencialmente interessados.

Durante as oficinas, que contaram com a facilitação e coordenação da Natura, do Idesam e da Ecoporé, foram apresentados e discutidos os conceitos envolvidos, papéis e responsabilidades, potenciais benefícios, regras do projeto, etc., provendo assim o embasamento necessário para que os produtores possam optar por fazer parte, ou não, do pro-jeto de carbono de forma esclarecida e consciente . Na data de início do projeto (Jan/2013), 125 lotes rurais decidiram participar do projeto de carbono, o que representa uma área total de 9.699,18 hectares, dos quais 4.924,56 hectares são áreas de florestas e 733 hectares de área produtiva.

Contextualização do Projeto

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Apresentação do Projeto de Carbono Florestal e Pagamento por Serviços Ambientais do RECA

Capítulo 1

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Apresentação do Projeto de Carbono Florestal e Pagamento por Serviços Ambientais do RECA

1. Escopo e tipo do projetoO projeto envolve a valorização dos serviços ambientais advindos da conservação florestal e práticas produtivas agroflorestais realizadas pelos produtores associados ao RECA (provedores de serviços ambientais). As reduções de emissões geradas decorrente do desmatamento evitado são transacionadas com a empresa Natura, que condiciona o pagamento a entrega anual de reduções de emissões auditadas por uma terceira parte.

As atividades do projeto consistem no apoio ao fortalecimento da economia local, fomento à produção agroflorestal, beneficiamento da produção através de investimentos na agroindústria e comercialização de produtos não-madeireiros e extrativistas produzidos e coletados pelos produtores cooperados e associados ao RECA.

2. Localização do projeto e contexto da regiãoA sede do projeto RECA está localizada no Distrito de Nova Califórnia, município de Porto Velho/RO. As propriedades rurais cooperadas estão concentradas em maior parte no Distrito, mas com alguns lotes localizados em Lábrea/AM e Acrelândia/AC. A área do projeto é constituída pelas áreas de florestas dentro dos lotes dos produtores cooperados do RECA, que voluntariamente se dispuseram a conservá-las como parte do projeto de carbono.

O distrito de Nova Califórnia fica localizado no extremo oeste do mu-nicípio de Porto Velho, na fronteira com o Estado do Acre, em uma região conhecida por Ponta do Abunã. Devido a proximidade geográ-fica, cerca de 150 km, Nova Califórnia acaba por ter mais contato com Rio Branco (capital do Acre) do que com Porto Velho (a sede do mu-nicípio fica a mais de 400 km de distância).

A região da ponta do Abunã foi colonizada na época áurea da ex-ploração de borracha na Amazônia. A estrada de ferro “Madeira-Ma-moré”, chegava até o encontro dos Rios Madeira e Abunã, permitindo o escoamento da produção do látex. Posteriormente, com o asfaltamen-to da BR-364, foram surgindo polos urbanos, como o distrito de Nova Califórnia.

A partir da Figura 1 abaixo, é possível verificar que as áreas que fazem parte do projeto são fragmentadas, representadas por lotes rurais in-dependentes, empossados pelo INCRA através de projetos de assen-tamentos rurais nas décadas de 70 e 80.

Na época, as famílias assentadas eram obrigadas a derrubar a floresta para demonstrar que estavam utilizando a terra de forma produtiva e, desta forma, garantir o direito ao lote. No lote “limpo” ou eram planta-dos produtos da agricultura tradicional ou era implantado pasto. Essa dinâmica de uso da terra gerou uma enorme derrubada de florestas na região. Atualmente, a região da ponta do Abunã tem como atividades econômicas predominantes a pecuária, a exploração madeireira e atividades agrícolas.

1Para mais informações, checar o Resumo Executivo – Apresentação e Construção Participativa do Projeto de REDD+ junto ao RECA

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Figura 1. Localização dos lotes e Projeto de Carbono RECA.

Outra atividade econômica que influenciou a mudança da paisagem na região foi a intensa exploração madeireira. Tal atividade, predominantemente ilegal e de alto impacto na vegetação, foi significantemente motivada pela instalação das rodovias federais (BR-317, BR-364, BR-319 e BR-230) que facilitam o deslocamento e a infiltração das pessoas que desenvolvem essas atividades.

Mais recentemente, com o aumento do fluxo migratório para a região, tem ocorrido também a comercialização de terras e lotes diretamente entre produtores particulares.

3. Identificação dos agentes provedores dos serviços ambientaisUm ponto fundamental em uma iniciativa de PSA é identificar quem são os legítimos atores que estão promovendo a conservação ambi-ental e garantindo a provisão dos serviços ambientais na região. No caso do Projeto PSA RECA, os produtores cooperados e associados são os reais atores que vêm promovendo o uso sustentável e benefi-ciamento da terra, através de uma economia local de base florestal. São estes produtores que estão de fato evitando o desmatamento dentro dos lotes, por meio de práticas produtivas sustentáveis e im-plantação de Sistemas Agroflorestais.

Em termos de regularidade ambiental, todas as propriedades rurais participantes do Projeto de Carbono já estão inscritas no sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Governo Federal. O projeto de PSA proposto deverá, desta forma, fortalecer o engajamento dos produtores em ações de regularização fundiária, e fomentar a participação em ações governamentais, como os mutirões promovidos pelo Programa Terra Legal, do Governo Federal.

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4. Objetivos do projetoO principal objetivo do Projeto de Carbono RECA é reconhecer o papel desses agricultores familiares para a manutenção das florestas dentro de seus lotes, evitando o desmatamento, e consequentes emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE, como também sua importância para a promoção da economia regenerativa, por meio do restauro de áreas degradadas com sistemas produtivos sustentáveis. Complementarmente, o projeto visa gerar uma nova fonte de investimento para as atividades produtivas locais e melhorias na estrutura de beneficiamento e comercialização do Projeto RECA.

Analisando a região onde está localizado o projeto, fica clara a con-tribuição das propriedades rurais que fazem parte do Projeto RECA para a contenção do desmatamento verificado na região de entorno, quase inteiramente tomada por fazendas para produção pecuária.

A lógica econômica criada e estabelecida pelo RECA, com base na floresta em pé e estabelecimento de Sistemas Agroflorestais, permitiu a fixação do homem no campo e a valorização de produtos florestais não-madeireiros, como as polpas de açaí e cupuaçu, palmito, manteiga de cupuaçu, óleos de copaíba e andiroba, entre outros.

A pressão por desmatamento e abertura de novas áreas por agentes externos (fazendeiros e madeireiros, principalmente) vêm aumentando nos últimos anos. Novas estratégias de valorização e investimento na produção local se fazem extremamente necessárias para fortalecimen-to da cooperativa, ampliação da produção e técnicas de beneficiamen-to, acesso a novos mercados, etc.

5. Definição do modelo de governança do projetoO Projeto de PSA RECA surgiu a partir de uma parceria e histórico de relacionamento entre RECA e empresa Natura. A Cooperativa e Asso-ciação RECA - enquanto organização local que representa, apoia e or-ganiza os produtores locais - desenvolve o papel de representante dos produtores (provedores e beneficiários do projeto). A empresa Natura realiza o papel de apoio ao desenvolvimento do projeto, viabilizando a realização de estudos prévios, consultas locais e monitoramento do uso da terra na região do projeto, além de ser a compradora das reduções de emissões geradas pelo projeto.

A Associação RECA será a instituição legal responsável por firmar os acordos com a Natura, no que tange a transação das reduções de emissões geradas, assim como pelo processo de distribuição de benefícios do projeto para os produtores participantes.

Nesta primeira fase, o universo do projeto é composto por 125 lotes rurais que possuem, conjuntamente, 4.924,56 hectares de florestas, elegíveis para geração de reduções de emissões através da lógica de desmatamento evitado.

Para o desenho deste novo modelo de projeto de PSA, envolvendo pequenas propriedades rurais na Amazônia que vêm desempenhando importante papel de conservação florestal e provisão de serviços ambientais, o RECA contou com apoio da Natura Cosméticos e do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – IDESAM. O projeto foi construído de forma coletiva e participativa com os produtores locais, de forma a conciliar as diretrizes e metodologias do projeto com a realidade dos beneficiários.

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2Para mais informações, checar o Resumo Executivo – Apresentação e Construção Participativa do Projeto de REDD+ junto ao RECA.

Proposta de modelo de distribuição de benefícios

Durante a fase de Consentimento Livre, Prévio e Informado, realizada no ano de 2014 , foram discutidas diversas propostas de repartição dos benefícios oriundos da transação das reduções de emissões geradas pelo projeto.

O valor de cada tonelada de carbono evitada (emissões evitadas) será de

R$ 20,00 (vinte reais). Este valor é fixo e será reajustado a partir do paga-mento efetivado no ano 2019. O reajuste será realizado seguindo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Ao final das discussões, foi acordada uma proposta em que do total de reduções de emissões geras e verificadas, 20% seria alocada em uma reserva técnica para possíveis imprevistos e não permanência das re-duções de emissões geradas.

Destes 20%, metade (10%) será utilizado pela Associação no caso de im-previstos do projeto de curto prazo. Caso não ocorra nenhum imprevisto, essa parte deverá ser incorporada a contabilidade do projeto e transa-cionada com a Natura nos anos de 2020, 2022, 2027, 2032 e 2039.

A outra metade (10%), será para cobrir riscos de médio a longo prazo, decorrentes do abandono do projeto antes da data prevista para encer-ramento. Se o projeto for executado até o fim (2038), a Natura pagará por essa reserva no fim do projeto.

O restante (80%) será dividido igualmente (40%/40%) entre benefícios co-letivos e individuais, conforme explicado a seguir:

- Benefícios Coletivos: Benefícios que serão destinados ao RECA enquanto cooperativa e associação representante dos produtores locais para fortalecimento das atividades produtivas sustentáveis (agroindústria, aumento na capacidade de beneficiamento dos produtos, etc.).

Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI)

Modelo aplicado ao Projeto RECA

Eixo central do processo: Garantir a participação e envolvimento dos produtores locais em todas as etapas de apresentação, desenho e definição das regras do projeto.

Premissa do projeto: A adesão ao projeto de PSA é voluntária e aberta a todos os cooperados e associados ao RECA.

Organização das Oficinas: Os agricultores do Projeto RECA se organizam por “linhas produtivas”, formadas pelo agrupamento de lotes rurais por proximidade geográfica.

As oficinas do CLPI foram então organizadas seguindo a estrutura de grupos (5 no total), formados por uma ou mais linhas produtivas - de forma a garantir a participação e envolvimento dos produtores no processo de construção do projeto.

Foram organizadas 3 “rodadas” de oficinas, com duração de 5 dias cada – uma reunião por dia em cada grupo.

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Figura 2. Áreas elegíveis para recebimento dos benefícios do Projeto de PSA (áreas de florestas nativas mais áreas de SAFs com mais de 10 anos)

O RECA será o responsável pela gestão do recurso coletivo. Dado que nem todos os cooperados/associados do RECA fazem parte do projeto de PSA, a decisão sobre o uso desses recursos coletivos será dos participantes do projeto, em conjunto com a coordenação do RECA.

- Benefícios Individuais: Benefícios que serão repartidos através de uma estratégia de Pagamento por Serviços Ambientais, entre os produtores participantes do projeto de Carbono. O critério de divisão deverá considerar:

- Área de floresta nativa no(s) lote(s) de cada produtor (em hectares)

- Área de SAFs com mais de 10 anos (em hectares)

$

A repartição de benefícios será feita anualmente após finalizar os processos internos e as transações das reduções de emissões geradas pelo projeto, entre RECA e Natura.

Figura 3. Modelo de distribuição de benefícios pelo Projeto de Carbono RECA.

Exemplos:- Sistema de Água (captação e reuso)

- Câmara fria

- Usina de resíduos e compostagem

- Caminhão, trator e esteira Pagamento direto a Cooperados e Associados

1ª E

tap

a2ª

eta

pa

20%Reserva Técnica

40%Coletivo

40%Individual

10% para imprevistos (ex.: desmatamentos)

10% para mitigar riscos de aban-dono do projeto

+

Redução de Emissões geradas pelo Projeto RECA(desmatamento evitado nas propriedades)

$$$$$

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6. Tempo de duração do projeto (período de creditação)Data de início do projeto de PSA carbono: Janeiro/2013.

Justificativa: Data na qual foram iniciadas as discussões junto a RECA para a construção de um projeto de PSA e realização dos estudos de viabilidade técnica.

Data final do projeto de PSA Carbono: Dezembro/2037

Último monitoramento das reduções de emissões do projeto: Julho/2038 (referente ao desempenho do projeto em 2037).

Ano em que ocorrerá o último pagamento referente aos resultados atingidos pelo projeto: 2039.

Anos de “balanço” do projeto, nos quais serão avaliados novas entradas e desistências do projeto: 2020, 2022, 2027, 2032.

Tempo de duração do projeto: 25 anos.

O Projeto de PSA RECA adotou um modelo de períodos de revisão e balanços do projeto, permitindo maior flexibilização na participação dos produtores - que se comprometem a seguir as regras do projeto por períodos menores ao invés do compromisso ser para o período

total de implementação do projeto (25 anos).

7. Descrição dos agentes e vetores do desmatamento na região do projeto Conforme mencionado anteriormente, o principal vetor de desmata-mento na região está relacionado a expansão da atividade pecuária, que implica na abertura de novas áreas para a expansão de pastagens, sendo considerada a principal atividade de uso da terra na região de entorno das propriedades do RECA. Tal atividade é fomentada pela proximidade de rodovias federais (como a BR-364) que facilita o acesso a áreas de florestas primárias e para o escoamento da produção para centros consumidores.

Seguindo o padrão de desmatamento em regiões de fronteira na Amazônia, em grande parte dos casos, a atividade de desmatamento para implantação de pastos é antecedida pela exploração madeireira de espécies comerciais.

Os processos de degradação e desmatamento local seguem uma lógica socioeconômica, visto que a atividade pecuária apresenta maior rentabilidade do que a conservação florestal. Esta dinâmica e pressão exercida por atividades ligadas a mudanças no uso da terra acabou por gerar mais 8.850 hectares desmatados no município de Porto Velho (onde está localizado o Distrito de Nova Califórnia), o que representa uma perda de cerca de 25% da área original de florestas do município (PRODES, 2016). Porto Velho se configura ainda como um dos municípios prioritários da Amazônia para contenção do desmatamento (MMA)3, com uma taxa média de desmatamento de 297 km2 a.a nos últimos 10 anos, ou 1,2% ao ano (PRODES).

3http://www.mma.gov.br/florestas/controle-e-prevenção-do-desmatamento/plano-de-ação-para-amazônia-ppcdam/lista-de-munic%C3%ADpios-prioritários-da-amazônia

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Tabela 1. Comparativo das taxas e incremento médio de desmatamen-to nas áreas de entorno e Região de Referência do Projeto de Carbono RECA.

• Limites da Região de Referência apresentada na figura 5 (página 23).

O Anexo I, apresenta notícias recentes sobre Porto Velho e região, que demonstram a pressão sofrida nestas localidades para retirada de ma-deira e abertura de novas áreas para usos produtivos.

Conforme apresentado em maiores detalhes a seguir, o cenário de linha de base do Projeto de Carbono RECA considera a dinâmica de uso da terra mais provável na ausência das atividades agroflorestais e extrativistas promovidas pelos produtores associados e/ou coopera-dos do RECA, que seria o desmatamento das áreas de florestas dentro dos lotes do RECA, a uma taxa semelhante a observada na Região de Referência (entorno dos lotes), para dar lugar para expansão de pasta-gens e atividades produtivas não sustentáveis (de baixa eficiência e alto impacto ambiental).

Média desmatamento anual (hectares)

2005-2014

Taxa média de desmatamento

(% ao ano) 2005-2014

Rondônia 122.110,00 0,98%

Porto Velho/RO 29.720,00 1,2%

Acrelândia/AC 2.150,00 2,7%

Região de Referência - Projeto RECA*

2.722,26 1,90%

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8. Plano de AtividadesAs principais atividades que serão fomentadas dentro deste Projeto de Carbono estão diretamente relacionadas às ações já desenvolvidas pelos produtores cooperados do RECA. Ou seja, o Projeto de Carbono proposto irá reconhecer e fortalecer o papel dos Sistemas Agroflorestais e da economia local de base florestal como estratégias para recuperação de áreas degradadas (pastagens, capoeiras) e contenção do desmatamento dentro dos lotes cooperados ao RECA.

O orçamento anual a ser disponibilizado para o Projeto de PSA RECA está diretamente relacionado ao volume de redução de emissões geradas e verificadas, seguindo a lógica de desmatamento evitado pelas proprie-dades rurais participantes do projeto. Para o primeiro período de moni-toramento, referente aos anos de 2013 a 2015, foi verificada uma redução total de emissões de 92.354,28 tCO2.

9. Análise de adicionalidadeA dinâmica de uso da terra empreendida pelos produtores cooperados e associados ao RECA, claramente não representa o padrão verificado e consolidado no entorno e região de referência.

Os produtores do RECA conseguiram estabelecer um mosaico de áreas de conservação florestal (nos lotes rurais) em meio à expansão de áreas de produção pecuária, fazendas e pastagens. A pressão exercida pela proximidade da BR-364 também é visível, com a proliferação de pequenos centros urbanos e ramais de acesso a áreas de floresta nativa, que, pos-teriormente, levam à degradação e extração de madeira e abertura de áreas para criação animal.

A conservação das florestas nativas nos lotes do RECA só foi possível devido à estruturação de uma economia local com base no estabeleci-mento de Sistemas Agroflorestais e atividades ligadas ao extrativismo de produtos não madeireiros. A criação e estruturação do RECA, enquanto cooperativa e associação que agrega os produtores rurais, beneficia e comercializa a produção agroflorestal, foi fundamental para fixação do homem no campo e para viabilizar uma nova economia local com base na floresta em pé, contrapondo o uso da terra padrão da região de referência do projeto.

O Projeto PSA RECA surge então com o objetivo de reconhecer o produtor rural como agente de conservação local, através da promoção de práticas produtivas sustentáveis e a cooperativa/associação do RECA como estru-tura social que viabiliza a economia local de base agroflorestal.

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Componentes metodológicos e de Contabilidade de benefícios ao Clima (tCO2 evitadas)

Capítulo 2

Componentes metodológicos e de Contabilidade de benefícios ao Clima (tCO2 evitadas)

Passo 1: Estruturação do cenário de linha de base (ou cenário de referência) do projeto:

A estruturação do cenário de linha de base visa determinar qual seria a expectativa de uso da terra para as áreas do projeto, na ausência da implementação das atividades produtivas do Projeto RECA.

Para isso, o primeiro passo foi compreender a dinâmica de uso da terra no entorno dos lotes que fazem parte do Projeto de Carbono RECA e que representam o uso da terra mais provável caso não existissem as ações produtivas, de beneficiamento e comercialização de produtos agroflorestais realizadas pelos produtores associados ao RECA. No cenário de linha de base, as áreas de florestas nativas dentro dos lotes participantes do Projeto de PSA seriam desmatadas e substituídas por pastagens para criação animal extensiva, conforme o uso da terra padrão do entorno dos lotes do RECA.

Etapa 1: Definição da Área do Projeto

Conforme mencionado anteriormente, a Área do Projeto se configura como as áreas de florestas nativas remanescentes nos lotes participantes do Projeto de Carbono RECA no ano de 2013. Neste primeiro período de desenvolvimento do projeto, 125 lotes decidiram voluntariamente aderir ao Projeto de Carbono, o que corresponde a uma área total de florestas de 4.924,56 hectares (ou área do projeto). Esta área será monitorada para realização dos cálculos de geração de créditos de carbono, considerando as taxas de desmatamento previstas no cenário de linha de base, em comparação com as taxas anuais verificadas durante os períodos de monitoramento.

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Figura 4. Área do Projeto, composta pelos remanescentes florestais nos lotes participantes do projeto de PSA.

Passo 2. Cálculo das taxas históricas de desmata-mento na Região de Referência

Etapa 1: Cálculo anual de mudanças de uso da terra para os 10 anos anteriores a data de início do período de contabilização das emissões de tCO2e- evitadas pelo projeto.

Para realização dos cálculos das taxas de desmatamento históricas na região de referência, para os 10 anos anteriores a data de início do projeto, foram utilizados dados oficiais do governo brasileiro, apresentados pelo Projeto PRODES/INPE. Os dados foram obtidos em formato shapefile para a Região de Referência (RR) do projeto. Primeiramente, foi calculada a área de floresta remanescente no ano 1 do período de referência (2003). Logo em seguida, foi calculado o remanescente florestal em intervalos de 3 anos, em 2006, 2009 e 2012 (último ano do período de referência do projeto). Por fim, foi aplicada a fórmula que gerou a taxa média de desmatamento na região de referência, e que foi aplicada para o cenário de linha de base do projeto.

(((163.173,62 – 132.216,89)/163.173,62)/10)*100)

Etapa 2: Definição da Região de Referência

A Região de Referência (RR) foi determinada para avaliar a dinâmica e as taxas médias de desmatamento no entorno das áreas do projeto, que serão utilizadas para compor o cenário de linha de base do projeto. Para tanto, foi definido um “cinturão” de 3 km em relação aos limites dos lotes participantes do projeto e das principais vias de acesso para estas áreas (Figura 5).

A Região de Referência é composta por uma área total de 261.770,49 hectares, e não inclui as áreas do projeto (área de florestas nativas remanescentes nos lotes participantes do projeto).

A RR é considerada, portanto, como região de influência direta sobre as áreas do projeto e que se caracterizariam como o uso da terra mais provável na ausência das atividades do Projeto RECA. A proximidade geográfica permite avaliar que, em um cenário de linha de base, a Área do Projeto seria convertida para outros usos em taxas e composições semelhantes às observadas no entorno.

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Figura 5. Região de Referência do Projeto de Carbono RECA.

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Os valores utilizados e média obtida estão apresentados na tabela a seguir:

Tabela 2. Análises da Região de Referência do Projeto de Carbono RECA.

O relatório completo contendo a metodologia de análises de geoprocessamento está disponível no Anexo II.

Etapa 2: Análise sobre as pressões futuras esperadas para a região.

Não aplicável. O Projeto PSA RECA considera apenas as taxas históricas de desmatamento verificadas na Região de Referência do Projeto e não inclui possíveis pressões futuras por novas aberturas de áreas.

Passo 3. Definição dos reservatórios e estoque de carbono

Para o desenvolvimento do Projeto de Carbono RECA, foi realizada ampla atividade de campo envolvendo levantamentos socioprodutivos e inventários de biomassa das áreas de floresta nativa nos lotes do RECA. O Anexo III deste relatório apresenta a metodologia detalhada de realização dos inventários de biomassa e análises estatísticas.

Todas as ações de levantamento de campo, incluindo a coleta de dados socioprodutivos e os inventários de biomassa, foram realizadas por técnicos locais, formados na primeira turma da Escola Familiar Agrícola de Nova Califórnia. Os técnicos são jovens, filhos de agricultores locais, que formaram uma cooperativa (Cooper-Agrus) voltada à prestação de serviços de assistência técnica na região. Todas as etapas contaram com uma capacitação prévia dos jovens técnicos para realização das atividades.

No total, foram implementadas 22 parcelas de medição de biomassa em propriedades participantes do Projeto de Carbono, cada uma com dimensões de 10 x 250 m. No total, foram inventariados 5,5 hectares (0,11% do total de florestas do projeto) no período de Maio a Julho de 2016. A forma de coleta dos dados contou com a tecnologia ODK (Open-Source Data Kit) que permite a coleta e armazenamento de dados em celulares android.

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Análises de perda de florestas na Região de Referência (RR) do Projeto de Carbono RECA

Ano Remanescente florestal (ha)

2003 163.173,62

2006 140.904,54

2009 137.667,65

2012 132.216,89

Taxa média de desmatamento 1,90%

Tamanho da Região de Referência

261.770,49 hectares

Figura 6. Mapa com a localização das parcelas permanentes e temporárias instaladas e inventariadas nos lotes de produtores do Projeto RECA.

25

ReservatórioÁrea

(ha)n

Média (MgC.ha-1)

Desvio padrão

(MgC.ha-1)

Erro Padrão (MgC.ha-1)

Erro Amostral

Relativo (%)

Intervalo de Confiança (MgC.ha-1)

Acima do solo

4.923,86 22 128,72 28,65 6,11 9,86 12,69

Abaixo do solo

4.923,86 22 27,03 6,02 1,28 9,86 2,67

Total 4.923,86 22 155,75 34,66 7,40 9,86 15,36

Tabela 3. Resultados do inventário florestal para estoque de carbono.

Ao final das análises estatísticas, considerando os estoques de carbono acima e abaixo do solo, foi obtida a estimativa de 155,75 tC/ha (ou 571,08 tCO2/ha), conforme tabela 3 abaixo:

4Fearnside, 1989 (A ocupação humana em Rondônia) e Fearnside, 1996 (Pasture burning in Amazonia: Dynamics of residual biomass and storage and release of aboveground carbon).

Cálculo do Fator de Emissão do projeto (FE)

Para calcular o Fator de Emissão do projeto, deve-se considerar o estoque médio de carbono da classe de vegetação “pós-desmatamento”, que no cenário de linha de base seria caracterizada por pastagens extensivas. Seguindo trabalhos publicados para a região4, a metodologia proposta determinou um estoque médio de carbono em pastagens na Amazônia de 10,67 ton biomassa seca/ha * 42,2% de teor de carbono (4,5 tC/ha ou 16,51 tCO

2/ha).

Desta forma, o Fator de Emissão estimado para cálculo da geração de créditos de carbono pelo projeto é de 571,08 tCO

2/ha – 16,5 tCO

2/ha = 554,58

tCO2/ha

26

Passo 4. Abordagem para vazamentos

A análise de vazamento refere-se a estimativa de potenciais emissões que venham a ocorrer fora das áreas do projeto e que sejam diretamente atribuídas as ações de conservação e controle do desmatamento realizadas pelo Projeto de PSA. Após explorar as probabilidades de vazamentos, apresentadas abaixo, os proponentes decidiram por considerar o risco de vazamento insignificante e não considerá-lo no desenho e implementação do projeto:

- O projeto é composto por um mosaico de pequenas propriedades rurais que possuem fragmentos florestais dentro dos seus limites geográficos. O tamanho e a escala das áreas do projeto não justificam um risco de mobilidade ou de mudança de comportamento dos agentes de desmatamento (fazendeiros e produtores de entorno), que passariam a buscar novas áreas para desmatar devido às ações de conservação do Projeto de PSA.

- O entorno das áreas do projeto é majoritariamente configurado por áreas desmatadas que deram lugar a pastagens e pecuária extensiva com baixa lotação e relação unidade animal/hectare. Existe desta forma um grande potencial de intensificação da produção animal em áreas já abertas, sem a necessidade de abertura de novas áreas de floresta.

- A invasão e abertura de novas áreas de floresta pelos agentes do desmatamento, fora das áreas do projeto, se configurariam como uma atividade de risco para os fazendeiros, que estariam desrespeitando a legislação vigente (Código Florestal, Sistema de Áreas Protegidas, etc).

- Em relação aos participantes do projeto de PSA, o projeto firmou um compromisso com os mesmos, onde estes se comprometem a respeitar a legislação vigente e não investir o recurso do projeto de PSA em ações ilegais (como em desmatamentos fora das áreas do projeto).

- O descumprimento destes acordos pelos participantes levaria a outra situação de risco desnecessário para os produtores, que passariam a descumprir a legislação ambiental vigente. Esta prática ilegal seria extremamente antagônica com as estratégias de geração de renda e desenvolvimento local implementadas nos últimos 20 anos pelo Projeto RECA, baseado em práticas produtivas sustentáveis com base em sistemas agroflorestais - somadas agora ao novo incentivo econômico oriundo do projeto de PSA e das transações das reduções de emissões com a Natura.

Desta forma, após avaliar as diversas possibilidades de vazamentos pelo Projeto de Carbono Reca, os desenvolvedores optaram por não considerar essa variável dentro do desenho e implementação do projeto.

27

Passo 5. Definição de reserva técnica do projeto

A proposta de se estruturar uma reserva técnica para projetos de PSA está relacionada a uma boa prática, comumente utilizada em projetos desta natureza. A reserva técnica representa uma certa quantidade de reduções de emissões geradas pelo projeto que deverão permanecer retidos como um seguro para possíveis imprevistos na implementação do projeto.

A determinação do tamanho da reserva técnica a ser retida ocorreu através de uma análise de riscos do projeto, como riscos de gestão e implementação de um projeto de longo prazo (25 anos) em categorias de “mosaico” (com 125 lotes rurais participantes), com um sistema de gestão participativo e que contou com investimentos prévios para o seu desenvolvimento (desde os estudos iniciais de viabilidade, todo o processo de consulta e consentimento livre, prévio e informado, mapeamento dos lotes e desenho do projeto). Sendo assim, o projeto optou por adotar pesos para cada um destes componentes, para gerar a reserva que será retida por um tempo pré-determinado, conforme demonstrado:

a) Risco de gerenciamento de um projeto de longo prazo (25 anos): 7% de reserva técnica;

b) Risco de gerenciamento de um projeto em mosaico, com 125 lotes rurais: 8% de reserva técnica;

c) Riscos do projeto não gerar as reduções de emissões esperadas e não justificar/retornar os investimentos prévios realizados: 5%.

A aplicação dos fatores apresentados gerou uma taxa a ser retida como “Reserva Técnica” de 20%.

A reserva técnica do projeto pode, entretanto, retornar para a conta do projeto e ser transacionada caso não ocorram imprevistos que levem a não permanência dos créditos. O projeto adotou um arranjo onde no ano de 2020 (quando ocorrerá o primeiro balanço e revisões do projeto), caso não ocorram imprevistos que levem a não permanência dos créditos, metade dos créditos retidos na Reserva Técnica do projeto (os 10% retidos para imprevistos - ver seção de “proposta de modelo de distribuição de benefícios”) retornem para a contabilidade geral do projeto e possam ser transacionados com a Natura.

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Ano do projeto

Linha de BaseMonitoramento projeto

(ex post) Reduções de emissões brutas (ex post)

Ex post Ex post

Mudança nos estoques de carbono

Mudança nos estoques de carbono

Buffer* (imprevistos)

Buffer (contratual)Reduções de emissões

líquidas

anual anual acum. anual anual acum. anual acum. anual acum. anual acum. anual acum.

ha tCO2-e tCO

2-e ha tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e tCO

2-e

1º. Período de monitoramento

2013 93,43 51.812,61 51.812,61 8,07 5.567,01 15.567,01 36.245,59 36.245,59 3.624,56 3.624,56 3.624,56 3.624,56 8.996,48 28.996,48

2014 92,89 51.517,28 03.329,89 65,71 36.441,34 52.008,36 15.075,93 51.321,53 1.507,59 5.132,15 1.507,59 5.132,15 12.060,75 41.057,22

2015 91,32 50.643,59 153.973,48 17,33 9.610,84 61.619,20 41.032,75 92.354,28 4.103,27 9.235,43 4.103,27 9.235,43 32.826,20 73.883,42

Projetado

2016 91,32 50.643,59 204.617,07 37,04 20.539,73 82.158,93 30.103,86 122.458,14 3.010,39 12.245,81 3.010,39 12.245,81 24.083,09 97.966,51

2017 91,24 50.602,25 255.219,32 37,04 20.539,73 102.698,66 30.062,52 152.520,65 3.006,25 15.252,07 3.006,25 15.252,07 24.050,02 122.016,52

2018 89,51 49.642,24 304.861,56 37,04 20.539,73 123.238,40 29.102,51 181.623,17 2.910,25 18.162,32 2.910,25 18.162,32 23.282,01 145.298,53

2019 87,82 48.700,45 353.562,01 37,04 20.539,73 143.778,13 28.160,72 209.783,88 2.816,07 20.978,39 2.816,07 20.978,39 22.528,57 167.827,10

2020 86,15 47.776,52 01.338,53 37,04 20.539,73 164.317,86 27.236,79 37.020,67 2.723,68 - 2.723,68 23.702,07 5.491,50 213.318,60

Passo 6. Quantificação das reduções de emissões de GEE

As reduções de emissões esperadas pelo projeto, brutas e líquidas, assim como quantidade de créditos que ficarão retidos como buffer estão apresentados na tabela abaixo:

Tabela 4. Cálculo de redução de emissões e buffer esperados pelo projeto até 2020.

*Retornam para contabilidade do projeto, em 2020, caso não ocorram imprevistos (desmatamentos, queimadas, etc).

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Passo 7. Estratégias e procedimentos para monitoramento do Projeto

Parte fundamental do desenho de um projeto de PSA é a definição das estratégias e procedimentos que serão adotadas para monitoramento das reduções de emissões geradas, assim como das atividades que serão implementadas “in loco” e que deverão evitar o desmatamento nas áreas do projeto. Para isso, algumas etapas são necessárias:

Etapa 1: Parâmetros a serem monitorados

Os parâmetros monitorados pelo Projeto de Carbono RECA, responsáveis e a frequência de monitoramento estão apresentados na tabela abaixo:

O Projeto de PSA RECA aplicou os parâmetros de monitoramento para os anos de 2013, 2014 e 2015 (primeiro período de monitoramento do projeto) e realizou as análises adicionais das taxas anuais verificadas de desmatamento e das reduções verificadas de desmatamento e emissões do projeto, conforme demonstrado a seguir:

a) Taxa de desmatamento nas áreas do projeto (%/ano):

Parâmetro Objetivo Periodicidade Responsável (is) Método Fonte

a) Área de floresta remanescente nas

áreas do projeto

Cálculo do remanescente flo-restal, em hectares, nas áreas

do projetoAnual

RECA e parceiros técnicos (IDESAM,

TerrasMap e Natura)

Análise das áreas de florestas através do sistema PRODES ou plataforma alternativa de

monitoramento de uso da terra

PRODESGlobal Forest Watch

MapBiomas

b) Incremento do desmatamento nas

áreas do projeto

Análise das áreas de florestas através do sistema PRODES ou plataforma alternativa de

monitoramento de uso da terra

AnualRECA e parceiros técnicos (IDESAM,

TerrasMap e Natura)

Análise do desmatamento nas áreas do projeto através

do sistema PRODES ou plata-forma alternativa de monito-

ramento de uso da terra

PRODES (fonte oficial)Global Forest Watch

MapBioma

Ano Desmatamento verificado na área do projeto (ha)

Taxa desmatamento (%)

Floresta remanescente (ha)

Área de SAFs sobrepostos com

floresta (ha)

Área de floresta final (ha)

2013 28,07 0,57% 5.011,25 87,39 4.924,56

2014 65,71 1,34% 4.983,88 87,39 4.896,49

2015 17,33 0,36% 4.900,84 87,39 4.813,45

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Parâmetro Parâmetro Objetivo Periodicidade Responsável Método Fonte

Limites geográficos da região de referência

Área de florestas remanescentes nos anos

t1 e t 10 na região de referência do projeto

Em 2020RECA, Natura

e parceiros técnicos

Utilização dos procedimentos

estabelecidos na Etapa 2 (acima):

Definição da região de referência

PRODES (fonte oficial)Global Forest Watch

MapBiomasOpenForis

PRODES (fonte oficial)

b) Incremento do desmatamento nas

áreas do projeto

Área de florestas remanescentes nos anos

t1 e t 10 na região de referência do projeto t1

= ano 1 do período de

referência atualizado (2010)

t10 = último ano do período de referência

(2019)

Cálculo do remanescente

florestal, em hectares, na

região de referência

atualizada do projeto, nos anos

t1 e t10

Em 2020RECA, Natura e

parceiros técnicos

Análise das áreas de florestas rema-

nescentes através do sistema PRODES ou

plataforma alternativa de monitoramento de

uso da terra

PRODES (fonte oficial)

Global Forest Watch

MapBiomasOpenForis

b) Redução do desmatamento e das emissões de GEE nas áreas do projeto:

Ano do projeto

Linha de base Desmatamento verificadoRedução do

desmatamentoRedução de emissões

anual anual anual anual

hectares hectares hectares hectares

1º. Período de monitoramento

2013 93,43 28,07 65,36 36.245,59

2014 92,89 65,71 27,18 15.075,93

2015 91,32 17,33 73,99 41.032,75

Total 277,64 111,11 166,53 92.354,28

Atualizações do Cenário de Linha de Base

O projeto de PSA RECA pretende revalidar a linha de base do projeto em 2020, ano em que ocorrerá também o primeiro “balanço” de entradas e saídas do projeto. Nesta data serão atualizados os seguintes parâmetros:

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Passo 8. Avaliações por terceira parte

O projeto de PSA RECA contou com avaliações independentes de terceira parte realizadas pela empresa Way Carbon. Os avaliadores possuem experiência comprovada com os temas relacionadas a mudanças climáticas e projetos locais de conservação e reduções de emissões, e proveram valiosas contribuições para o aprimoramento das abordagens e desenho do projeto. O relatório final dos avaliadores sobre o projeto de PSA RECA está disponível para consultas mediante solicitação a empresa Natura.

Passo 9. Registro e gestão da informação

O Projeto de PSA RECA conta com um espaço de armazenamento e backup das informações do projeto (controle de produtores, informações dos lotes, relatórios e planilhas de cálculos) no Google Drive. O acesso a este espaço é restrito aos desenvolvedores do projeto (RECA, Natura e IDESAM). Edições nos documentos são permitidas apenas com a permissão do “administrador” da “nuvem”, no caso o IDESAM.

Os documentos salvos na nuvem estão identificados com a versão final e com a respectiva data de atualização.

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Anexos

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Polícia Ambiental apreende seis caminhões com madeira ilegal em RO (Porto Velho - RO)

14/09/2016 – G1 - http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2016/09/policia-ambiental-apreende-seis-caminhoes-com-madeira-ilegal-em-ro.html

Saldo de empresas autuadas em operação passa de R$ 879 mil. Motoristas abandonaram caminhões e fugiram pela mata.

A Polícia Ambiental de Rondônia realizou entre os dias 5 a 14 de setembro uma operação para combater a exploração irregular de madeira e combate a outros ilícitos ambientais na Ponta do Abunã (RO). Ao todo, foram apreendidos o equivalente de 2.188 metros cúbicos em seis caminhões carregados com toras e madeira serrada, além de madeiras que estavam no pátio de empresas. Dois motoristas fugiram do local ao ver a polícia.

Anexo 1 Notícias e evidência dos riscos e ameaças na região do projeto

Caminhão com 28 metros cúbicos de madeira é apreendido em operação (Porto Velho - RO)

09/07/2016 – G1 - http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2016/07/caminhao-com-28-metros-cubicos-de-madeira-e-apreendido-em-operacao.html

Dono do caminhão teria confessado extração ilegal de madeira. Homem deve responder por extração de madeira ilegal.

Uma operação conjunta do Batalhão Ambiental e do Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC) resultou na apreensão de um caminhão com 28 metros cúbicos (m³) de madeira, que teria sido extraída de forma irregular. (...)

Ainda de acordo com Negreiros, o Batalhão tem feito diversos registros de caminhões que saem do distrito de Nova Califórnia, em Rondônia, com destino ao Acre e que possuem o mesmo tipo de irregularidade.

Dupla é presa desmatando área de 30 mil metros quadrados em Triunfo, (Porto Velho - RO)

02/09/2016 – G1 - http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2016/09/dupla-e-presa-por-desmatar-area-de-30-mil-metros-quadrados-em-triunfo-ro.html

Homens utilizavam motosserras para derrubar árvores de fazenda. Suspeitos disseram que foram contratados por dono da propriedade.

Dois homens foram presos por desmatamento ilegal na noite da última quinta-feira (1º) no distrito de Triunfo em Candeias do Jamari, a 25 quilômetros de Porto Velho. De acordo com a Polícia Militar Ambiental, os dois suspeitos estavam utilizando motosserras para derrubar árvores.

34

Exploração de latifundiários transforma vilarejo em campo de conflito aberto (Porto Velho - RO)

24/06/2016 – Brasil de Fato - https://www.brasildefato.com.br/2016/06/24/exploracao-de-latifundiarios-transforma-vilarejo-em-campo-de-conflito-aberto/

O distrito União Bandeirantes tem 25 mil moradores e sequer deveria existir, pelo menos não do ponto de vista ambiental

Não é fácil chegar a União Bandeirantes. A noroeste de Rondônia, a cerca de 80 quilômetros (km) do distrito de Jaci Paraná e a 160 km do centro da capital Porto Velho, a localidade possui poucas vias de acesso. As que existem são de terra, estreitas e esburacadas, fazendo com que o trajeto entre a BR-364 e a comunidade seja penoso e demorado. A longa estrada de chão tem como paisagem cercas, pastos e gados com o início do asfalto no chão anunciando o fim da zona rural e começo da zona urbana duas horas depois de sair da rodovia.

Governo realiza monitoramento aéreo de desmatamento ilegal e queimadas (Acrelância - AC)

25/07/2016 – Agência AC - http://www.agencia.ac.gov.br/governo-realiza-monitoramento-aereo-de-desmatamento-ilegal-e-queimadas/

A prevenção, o combate e o controle do desmatamento ilegal e queimadas em todo o Acre têm sido realizados por meio de operações integradas entre os órgãos ambientais do governo do Estado – Instituo de Meio Ambiente do Acre, Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e Defesa Civil.

Ibama aplica mais de R$ 3 milhões em multas por crimes ambientais no Acre (Acrelândia - AC)

30/06/2016 – G1 - http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2016/06/ibama-aplica-mais-de-r-3-milhoes-em-multas-por-crimes-ambientais-no-acre.html

Ação faz parte da ‘Operação Onda Verde’ realizada pela primeira vez no Acre. Homens do Ibama e batalhão ambiental atuam no interior do estado.

Em sua primeira edição no Acre, a ‘Operação Onda Verde’, realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) já aplicou R$ 3,4 milhões em multas por crimes ambientais.

Batalhão Ambiental desarticula galpão de madeira ilegal em Rio Branco (Acrelândia - AC)

21/07/2016 – ORB - http://www.oriobranco.net/noticia/policial/21-07-2016-batalhao-ambiental-desarticula-galpao-de-madeira-ilegal-em-rio-branco

O Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) desarticulou um galpão de madeira ilegal em Rio Branco na manhã desta quarta-feira, 20. O armazém continha 8,8 metros cúbicos de castanheira, espécie protegida por causa da importância socioeconômica de seus frutos para as comunidades tradicionais da Amazônia e por seu papel na manutenção da floresta em pé.

35

Sul do Amazonas sofre com constantes queimadas e crimes ambientais (Lábrea e Canutama - AM)

02/09/2016 - A Crítica - http://www.acritica.com/channels/governo/news/sexta-feira-sul-do-amazonas-e-rmm-fragilizadas

As duas regiões lideram em número de autuações e aplicações de multas por conta de crimes ambientais flagrados pelas equipes de fiscalização do Ipaam até o fim de agosto

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) aplicou, até agosto, 50 autos de infração que somaram R$ 789,5 mil em multas relacionadas a queimadas e desmatamentos em todo o Estado. As regiões mais críticas, conforme a Gerência de Fiscalização do órgão, são sempre a Região Metropolitana de Manaus e o Sul do Amazonas pelo fácil acesso via estradas e por envolver atividades ilícitas como madeireiras, agropecuárias, carvoarias, sem a devida licença ambiental para explorar a atividade econômica.

Ibama aplica R$ 99 mi em multas por desmatamento ilegal na Amazônia (Acrelândia - AC)

18/08/2016 - A Crítica - http://www.acritica.com/channels/governo/news/ibama-aplica-r-99-mi-em-multas-por-desmatamento-ilegal-na-amazonia

Durante as ações ‘Onda Verde’ e ‘Wazaká II’, 13,7 mil hectares áreas foram embargadas por desmatamento ilegal.

Até agora o balanço das operações “Onda Verde” e a “Wazaká II”, esta última em andamento, totalizam quase R$ 99,4 milhões em multas aplicadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em áreas na região do Sudoeste do Amazonas, fronteira com os Estados do Acre e Rondônia.

Lábrea está entre os municípios que mais desmataram no mês de junho (Lábrea e Canutama - AM)

21/07/2015 - D24am - http://new.d24am.com/amazonia/meio-ambiente/labrea-esta-entre-municipios-mais-desmataram-junho/137321

Foram desmatados 66,4 quilômetros quadrados, de acordo com levantamento do Imazon.

Manaus - Lábrea (a 702 quilômetros a sudoeste de Manaus) está entre os municípios que mais desmataram no mês de junho, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Foram 66,4 quilômetros quadrados (km²), de acordo com a entidade.

Ipaam aplica mais de um milhão em multas por queimadas e desmatamento (Lábrea e Canutama - AM)

24/08/2016 - A Crítica - http://www.acritica.com/channels/governo/news/ipaam-aplica-mais-um-milhao-em-multas-por-queimadas-e-desmatamento

A fiscalização ambiental focou no Sul e Sudeste do Amazonas, tendo como alvo fazendas e madeireiras em atuação nas áreas de abrangência das rodovias BR-319, BR-230 e AM-174.

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o Corpo de Bombeiros Militar e a Polícia Militar do Amazonas realizaram a Operação Jumapari, entre os dias 8 e 19 de agosto, nos municípios de Apuí, Humaitá, Novo Aripuanã, Manicoré, Careiro, Borba, Tapauá, Canutama, Lábrea e Boca do Acre, onde puniram com multas que somaram mais de um milhão infratores do meio ambiente por prática de queimadas e desmatamento.

36

Boletim Imazon (Agosto de 2016)A área do Projeto encontra-se entre as regiões onde foram identificados os focos de desmatamento em Agosto 2016.

Link: http://site1378233601.provisorio.ws/wp/wp-content/uploads/2016/09/Infografico_SAD-agosto-2016.jpg

37

Anexo 2Metodologia das Análises de Geoprocessamento

Materiais:

• Arquivos vetoriais no formato shapefile (.shp) da cobertura florestal, dos anos de 2003, 2006, 2009 e 2012, das cenas 001-66 e 001-67, disponibi-lizados na plataforma online do PRODES – ONT/INPE (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);

• Arquivo vetorial no formato shapefile (.shp) da malha fundiária de lotes do RECA, consolidado com base nos dados do CAR (Cadastro Ambiental Ru-ral);

• Arquivo vetorial no formato shapefile (.shp) da fronteira brasileira, disponibi-lizado no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

• Arquivo vetorial no formato shapefile (.shp) das estradas e ramais da região, disponilizado pelo ImazonGeo;

• Pacote ArcGis 10.4;

• Microsoft Office Excel 2010.

Métodos:

Primeiramente foi realizado o download de todos os dados no formato shape-file nas plataformas e sites mencionados anteriormente. Após o download, to-dos os dados foram projetados no software ArcMap 10.4 com a projeção Uni-versal Transversa de Mercator – UTM, Zona 19 Sul, Datum WGS 1984, dados correspondentes à região onde estão localizados os lotes do RECA na divisa dos estados de Rondônia, Acre e Amazonas.

Após a projeção cartográfica dos dados para a região, foi realizado o procedimento de delimitação da Região de Referência. Foi utilizado o arquivo de estradas e dos lotes do RECA. Inicialmente delimitou-se a menor área limite entre todos os lotes, ou Minimum Bounding Geometry, implementada no ArcToolBox do ArcMap 10.4. A partir dessa ferramenta é criada uma feição poligonal retangular que delimita a área de abrangência de todos os lotes considerando os lotes mais distantes em todos os eixos em relação ao centro do agrupamento. Em seguida, foi realizado o clip do polígono de área mínima gerado, com o arquivo de estradas, para delimitar as estradas que representam a dinâmica de uso da área do RECA. Logo após, foi criado um arquivo buffer com entorno de 3km a partir do arquivo de estradas delimitadas, que representa a Região de Referência do RECA. Por fim, com a ferramenta erase, entre os lotes e o buffer de 3km, as áreas dos lotes sobrepostas à Região de Referência foram desconsideradas. O arquivo final foi salvo para os cálculos posteriores.

O cálculo das áreas de floresta nos anos mencionados anteriormente foi realizado com o arquivo da Região de Referência de 3km criado anteriormente e os shapefiles do PRODES. No Definition Query implementado nas propriedades de cada arquivo shapefile, foi utilizada a formula (“sprclasse” = ‘floresta’) para filtrar apenas a classe floresta em cada ano, sendo sprclasse a coluna que representa as classes agrupadas usadas pelo PRODES. Em seguida foi realizado o clip entre o buffer de 3km (região de referência) e cada um dos 4 arquivos do PRODES (2003, 2006, 2009 e 2012). Em seguida, para cada arquivo gerado foi realizado o cálculo de área, criando-se uma coluna de hectares do tipo Double na tabela de atributos, com a área calculada na ferramenta Calculate Geometry utilizando-se o sistema de coordenadas correspondente à zona do RECA. Por fim, os dados tabulares dos 4 intervalos de anos calculados foram exportados e trabalhados no Microsoft Office Excel 2010.

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250m50mFigura 1. Esquema das parcelas instaladas no RECA.

Anexo 3Metodologia e resultados do inventário de biomassa para desenvolvimento do Projeto de Carbono RECA

1. Metodologia

1.1. Área de estudo

O inventário florestal para estimativa do estoque de carbono das proprie-dades que compõe o RECA foi realizado considerando 4.923,86 ha de Floresta Ombrófila existentes nas 125 propriedades do RECA que aderiram ao projeto. O inventário contemplou os seguintes ramais: Baixa Verde, BR, Cascalho, Eletrôni-ca, Linha 12, Linha 3, Linha 5, Linha 6, Mendes Júnior, Pioneiros I, Pioneiros II, Pioneiros III, Chacareiros.

1.2. Delineamento experimental

O método de amostragem empregado foi o aleatório simples. Foram sorteadas 22 propriedades participantes do projeto. Em cada propriedade sorteada foi instalada uma unidade amostral, também denominada parcela, com dimensões de 10 x 250 m na área de floresta da propriedade. Dessa forma, foram inventariados 5,5 ha ou 0,11% da área de floresta em 17% das propriedades do projeto.

Para o inventário florestal foram utilizados dois tipos de parcelas para a amostragem, sendo seus objetivos distintos, como segue:

Parcelas Temporárias: mensurar o diâmetro das árvores, palmeiras e lianas para estimar o estoque de carbono da biomassa aérea. Essas parcelas são medidas somente uma vez.

Parcelas Permanentes: mensurar o diâmetro e identificar com plaquetas nu-meradas as árvores, palmeiras e lianas. Essas parcelas serão utilizadas para, além de estimar o estoque de carbono da biomassa aérea, acompanhar a mu-dança no estoque de biomassa com remedições sucessivas.

As parcelas foram instaladas com uso de bússola e GPS a no mínimo 100m da entrada da área de floresta de cada propriedade. Uma picada central de 250m foi aberta em cada parcela, assim com duas picadas de 10m no inicio e outra no fim de cada parcela, conforme Figura 1. As coordenadas geográficas dos vértices de cada parcela foram registradas por GPS.

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Em cada parcela foram inventariados todos os indivíduos de plantas – arbóre-os, palmeiras e lianas com Diâmetro à Altura do Peito (DAP) ≥ 10 cm (ou com Circunferência à Altura do Peito - CAP ≥ 31,4 cm). Nas parcelas permanentes, todo indivíduo mensurado recebeu uma placa com o número de identificação e foi pintada uma faixa com tinta vermelha no local exato da mensuração. Cada indivíduo mensurado posteriormente foi identificado por seu nome popular e categorizado em árvore, palmeira ou liana. Durante o inventário, o registro das informações foi realizado via aparelho de celular e aplicativo ODK Collect como forma de reduzir o tempo de processamento e de erros de coleta dos dados.

1.3. Coleta e Armazenamento dos Dados

O inventário foi realizado nos meses de Junho e Julho de 2016. A equipe responsável pela coleta de dados foi composta por três técnicos da cooperativa que presta serviços ao RECA, a CooperAgrus, e um identificador para-botânico, que identificou os indivíduos mensurados pelo nome popular. No período de 2 a 7 de maio foi realizado treinamento com a equipe responsável pelas ações de campo ministrado por dois engenheiros florestais do Idesam. A capacitação contou com parte teórica sobre métodos de amostragem de inventário florestal, assim como, parte prática instalando e mensurando as três primeiras parcelas. Ainda, foi estabelecido e alinhado com a equipe de campo o protocolo para salvar e enviar as informações obtidas.

Foram instaladas e mensuradas 22 parcelas, sendo cinco permanentes e 17 temporárias. Os códigos dos produtores, tipo de parcela e ramal onde foi instalada pode ser verificado na Tabela 1.

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Tabela 1. Distribuição das unidades amostrais em permanentes e temporárias nos ramais do RECA.

Número de parcelas Código produtor Tipo parcela Linha/Ramal

1 72JP Temporária Baixa Verde

2 32DB Permanente Baixa Verde

3 124TB Temporária Baixa Verde

4 131ZB Temporária Baixa Verde

5 47FV Temporária Mendes Júnior

6 68JA Temporária BR

7 116RC Permanente Linha 5

8 87MS Temporária Linha 5

9 103OB Temporária Linha 5

10 19 AP Permanente BR

11 84 MO Permanente Pioneiros I

12 24 BM Temporária Pioneiros II

15 33 DD Temporária Pioneiros I

16 94MZ Temporária Pioneiros III

17 112 RN Temporária Linha 12

18 117 RP Temporária Mendes Júnior

19 107 PC Temporária Cascalho

20 21 AR Temporária Linha 6

21 6 AS Temporária Cascalho

22 44 EB Permanente Baixa Verde

23 65 JS Temporária Eletrônica

24 103 OB 2 Temporária Linha 5

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As parcelas número 13 e 14, temporária e permanente respectivamente, foram instaladas e mensuradas. No entanto, em função de resultar em estoque de carbono com variação de 70% inferior e 185% superior a média, estas parcelas inventariadas foram consideradas como outliers e excluídas das análises.

Figura 2. Localização das parcelas permanentes e temporárias inventariadas.

1.4. Análise dos dados

Estoque de Carbono

Para as árvores, a unidade de entrada dos dados foi o Diâmetro à Altura do Peito (DAP) ou Circunferência à Altura do Peito (CAP), utilizado para determinar a biomassa e o estoque de carbono. Para as palmeiras foi utilizada uma equação de dupla entrada, dependente da altura e DAP. Em ambas as equações, os valores de saída é o Peso Seco de cada indivíduo amostrado.

Com relação ao número de variáveis independentes, Higuchi et al. (1998) citam que modelos de equações alométricas, com apenas uma variável independente (DAP), possuem resultados tão consistentes quanto os modelos que utilizavam também a altura (h), com a vantagem da se evitar erros de mensuração de alturas em campo.

Desde a publicação do Inventário Brasileiro em 2006, a comunidade científica realizou avanços significativos para melhorar as estimativas de estoque biomassa na floresta amazônica. Entre esses trabalhos, vale mencionar Nogueira et al. (2005, 2006, 2007, 2008a, b, c), que catalogou 602 árvores adicionais na Amazônia Central (Nogueira et al., 2005) e Amazônia meridional (Nogueira et al., 2007), nos quais os detalhes das áreas estudadas e os procedimentos de correção estão descritos.

Neste estudo foi utilizada a equação alométrica descrita em Nogueira et al. (2008) mais apropriada à região do estudo, além de equações especificas para palmeiras e lianas, conforme Tabela 2.

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Tabela 3. Estimativa do estoque de carbono para a área total.

ReservatórioIntervalo de Confiança para a área total (Mg C)

Limite Inferior Média Limite Superior

Acima do solo 585.251,60 633.800,55 682.349,49

Abaixo do solo 133.098,12 133.098,12 133.098,12

Total 718.349,72 766.898,66 815.447,61

Tabela 2. Equações alométricas utilizadas na estimativa do peso seco dos indivíduos amostrados.

Biomassa Seca Acima do Solo Autor

Árvores PSabg = EXP-1,716+2,413*LN(DAP) Nogueira et al. 2008

PalmeirasPSabg = EXP-6.3789-0.877*LN(1/

(DAP^2)+2,151*LN(H)Saldarriaga, 1988

Lianas PSabg=EXP -7,114 + 2,276 *ln(DAS) Gehring et al., 2004

DAP = Diamêtro na Altura do Peito (cm), H = Altura (m), PS = Peso Seco (Kg)

A estimativa do estoque de carbono foi obtido através do teor de carbono determinado por Silva (2007), cujo estudo demonstrou que o teor de carbono representa 48,5% do peso fresco encontrado para cada indivíduo. Logo, foi utilizado a seguinte equação:

Teor de Carbono

C_ AS

= PS_ abg

×0,485

onde:

CAS

= Carbono Acima do Solo;

PSabg

= Peso Seco acima do solo estimado para cada indivíduo.

O somatório do teor de carbono foi utilizado para determinar o total do estoque de carbono acima do solo em cada parcela. Para a estimativa de biomassa abaixo do solo foi utilizado o valor conservador de 21% do total de carbono acima do solo para florestas tropicais conforme Cairns et al (1997).

Estimativa de erro

O número de unidades amostrais utilizados foi estabelecido para se obter um grau de incerteza menor que 10% utilizando um nível de significância de 95%.

2. Resultados

2.1. Inventário de Biomassa e Carbono

O erro amostral relativo é utilizado para analisar a variabilidade das médias caracterizando a precisão com que a média populacional foi estimada. Neste estudo, o valor obtido foi de 9,86%, valor dentro do intervalo de aceitação proposto pela literatura, o qual deve ser inferior a 10%, sendo neste estudo com 95% de probabilidade.

Considerando os estoques de carbono acima e abaixo do solo, foi obtida a estimativa de 155,75 MgC. ha-1 com variação de foi de ±15,37 MgC.ha-1. A tabela 3 demonstra os resultados por reservatório, acima e abaixo do solo, assim como o resultado total.

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Tabela 4. População amostrada.

CategoriaNúmero de

indivíduos.ha-1Indivíduos Estoque C (%)

Árvore 393 90% 99,999%

Palmeira 40 9% 0,00001%

Lianas 5 1% 0,00065%

Total 437 100% 100,000%

1.358

412

17598 37 23 12 10 8 26

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

10 a20

20 a30

30 a40 40 60

40 a 50 a 60 a70

70 a80

80 a90

90 a100

> 100

CLASSES DIAMÉTRICAS

MER

O D

E IN

DIV

ÍDU

OS

2.1.1. População Amostrada

No total foram mensurados 2.405 indivíduos, sendo 2.159 árvores, 219 palmeiras e 27 lianas. Estes indivíduos mensurados resultaram em 1.770,31 Mg de C acima e baixo do solo, sendo 99,9% proveniente de indivíduos arbóreos.

A Tabela 4 resume os resultados de números de indivíduos por hectare e relação entre as categorias: arbóreo, palmeiras e lianas.

Os valores obtidos para palmeiras e lianas são extremamente baixos ao se comparar a outros estudos. Cummings (2002), em estudo no Amazonas e Rondônia obteve as participações de 14% para palmeiras e 0,2% para lianas no estoque de biomassa florestal.

2.1.2. Distribuição Diamétrica

A distribuição diamétrica é apresentada em 10 classes, separadas em intervalos de 10 cm de DAP até 100cm e um intervalo com indivíduos arbóreos om DAP superior a 100cm. A figura 3 demonstra o resultado desta distribuição para a população amostrada. Na figura 3 pode ser observada a estrutura de tamanho do tipo “J-invertido”, ou seja, muitos indivíduos concentrados nas menores

classes de tamanho e poucos indivíduos nas maiores classes. De acordo com Martini (1996) esta estrutura é interpretada como indicador de estabilidade da população, portanto não há indicação de presença de distúrbio na estrutura da floresta.

Figura 3. Distribuição diamétrica da população amostrada

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2.1.3. Área Basal

A Área Basal (Gi) é uma medida de avaliação da estrutura horizontal da floresta, onde pode ser observada a área ocupada pelos indivíduos amostrados em um hectare de floresta (m².ha-1). Esta é uma medida importante, pois mostra o grau de ocupação da população amostrada.

Para a área estuda foi encontrado o valor de 24,34 m².ha-1. Este valor é similar a valores obtidos em áreas com intervenção humana na floresta por meio de explorações seletivas. De acordo com estudo de Lima (2010), em sítios no sul da Amazônia com exploração seletiva foram obtidos valores de área basal de 24,91 m².ha-1 na RDS do Rio Juma, na RESEX Lago do Capanã Grande foi obtido valor de 24,85 m².ha-1. Por outro lado, o valor obtido no RECA é superior ao valor obtido em áreas exploradas seletivamente por empresas, como em Lábrea (18,07 m².ha-1) e Itacoatiara (22,13 m².ha-1). Contudo, o sítio tomado como testemunha pelo autor apresentou uma área basal de 30,50 m².ha-1, sugerindo, portanto, um indicativo de grau de perturbação da estrutura da floresta.

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Foi possível obter o estoque de carbono da floresta estudada de acordo com o nível de significância e erro amostral desejado, sendo que o resultado obtido é similar a outros estudos realizados na região.

Apesar do valor obtido para área basal demonstrar a existência de intervenção humana nas áreas avaliadas, não foi constatado alteração na estrutura de ta-manho da floresta, de acordo com o resultado da distribuição diamétrica.

O uso do ODK e envio das informações para análise enquanto a equipe ainda estava realizando o inventário possibilitou redução no esforço de campo, visto que o número de parcelas mensuradas foi o suficiente para o atingimento do erro necessário.

Mesmo com o treinamento realizado e preparação prévia dos equipamentos, ocorreram problemas na coleta e envio de dados. Dessa forma, é fundamental atenção na etapa de processamento de dados para se evitar erros nas aná-lises realizadas.

Considerações Finais e Recomendações

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CAIRNS, M. A. (1997). Root biomass allocation in the world’s upland forests. Oecologia (1997) 111:1-11.

GEHRING, C.; Park, S.; Denich, M. 2004. Liana allometric biomass equations for Amazonian primary and secondary forest. Forest Ecology and Management, 195: 69-83.

HIGUCHI, N. et al. (2007). Noções Básicas de Manejo Florestal. Apostila.Laboratório de Manejo Florestal. INPA. Manaus-AM. 250 p.

INTERGOVERNMENTAL PANNEL ON CLIMATE CHANGE – IPCC. 2003. IPCC Good Practice Guidance for Land Use, Land-Use Change and Forestry. IPCC National Greenhouse Gas Inventories Programme Technical Support Unit, Kanagawa, Japan.

LIMA, A. J. M. (2010) Avaliação da um sistema de inventário florestal contínuo em área manejadas e não manejadas do estado do Amazonas (AM). Tese de Doutorado. Curso de Ciências de Florestas Tropicais. Manaus : [s.n.], 2010. 183 f. : il. color.

MALHEIROS, A.F, HIGUCHI, N., SANTOS, J. Análise estrutural da floresta tropical úmida do município de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil. Manaus. Acta Amazonia vol. 39(3) 2009: 539 - 548,

MARTINI, A.M.Z. 1996. Estrutura e dinâmica populacional de três espécies arbóreas tropicais. Dissertação de mestrado. UNICAMP, Campinas.

NOGUEIRA, E. M. (2008). Densidade da Madeira e Alometria de Árvores em Florestas do “Arco do Desmatamento”: Implicações para Biomassa e Emissão de Carbono a Partir de Mudanças no Uso da Terra na Amazônia Brasileira. Tese. 151 p, INPA, Manaus.

ODK - OPEN DATA KIT. Disponível em: http://www.code.google/p/opendatakit/

Saldarriaga, J.G.; West, D.C.; Tharp, M.L.; Uhl, C. 1988. Long-term chronosequence of forest succession in the upper Rio Negro of Colombia and Venezuela. Journal of Ecology, 76: 938-958.

Silva, R.P. 2007. Alometria, estoque e dinâmica da biomassa de florestas primárias e secundárias na região de Manaus (AM). Tese de Doutorado, Curso de Ciências de Florestas Tropicais do INPA. 135p.

Revisão Bibliográfica

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