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A variação lingüística e o curso de formação de docentes

Autor: Nilbia de Oliveira Pereira

Orientador: Neiva Jung

RESUMO

Este artigo apresenta resultados da implementação pedagógica sobre o tema variação linguística. Para a implementação, foram escolhidas alunas do curso de Formação de Docentes, pois elas serão futuras professoras e, mais do que os outros alunos, precisam compreender os usos da língua de modo mais adequado. Para a fundamentação teórica, optou-se pela sociolinguística, que é uma ciência desenvolvida por William Labov, nos Estados Unidos, na década de 1960 com o objetivo de estudar a língua levando-se em conta a sociedade onde ela era falada. Para implementar este trabalho, foram escolhidas letras de músicas, textos jornalísticos e outro tipos de textos que mostrassem como é a variação linguística e com que objetivos é usada por determinados autores, e também para que as alunas percebessem que não podemos falar e escrever do mesmo modo. Após todo o período da implementação,percebeu-se que as alunas haviam entendido o que é variação linguística e como ela funciona na Língua Portuguesa.

Palavras-chave: Variação linguística. Letras de músicas. Ensino Básico.

INTRODUÇÃO

Como todo fato humano e a despeito da abordagem imanente, a língua só existe na história. Cada uso da língua, cada uma de suas variações e até mesmo cada ato individual de fala é, nesse sentido, um acontecimento, exatamente como aqueles outros que, por sua importância cultural, viram notícia ou se tornam marcos históricos

Observando que muitos professores, especialmente os de Língua Portuguesa, se queixavam de que os alunos não sabiam falar e escrever adequadamente e percebendo também as variações linguísticas nas falas de alunas de Formação de Docentes, em minhas salas de aula, procurou-se investigar e trabalhar quais seriam as causas das diferenças entre fala e escrita.

Alguns colegas diziam que a culpa era da internet, pois os alunos escreviam de qualquer jeito, sem se preocupar com nenhum tipo de regra gramatical; outros falavam que era porque eles não tinham o hábito de ler e nem sabiam interpretar aquilo que eles liam.

È claro que as duas opiniões estavam corretas, mas havia ainda outros fatores

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que mostravam a diferença entre fala e escrita, como o local onde moravam, a faixa etária dos alunos, a condição social e outros.

O que se percebe é que quando os alunos chegam à escola, eles já trazem uma linguagem oral, aprendida em casa com seus familiares, e esta será modificada à medida que eles começarem a aprender a escrever. Então como possibilitar aos alunos o acesso a uma cultura letrada que possibilite a chance de lutar por seus direitos? Como fazer para que os alunos não sejam rotulados de analfabetos por sua maneira de falar e escrever? É isto que justifica um estudo da variação linguística em sala de aula e sobre o uso da língua nas mais diversas situações em que se faz uso da língua portuguesa.

Analisando alguns livros didáticos de Língua Portuguesa próprios para o Ensino Médio, percebeu-se que trabalhavam a variação linguística de forma resumida e em apenas um capíttulo. Assim pesquiseou-se mais profundamente outros materiais para trabalhar com outras séries o mesmo assunto e mostrar aos meus alunos que existe, realmente, uma diferença entre falar e escrever e que um não pode ser visto sem o outro.

Aos poucos foi-sei elaborando as aulas tendo em vista que os alunos participassem de discussões/ debates sobre o assunto e que mostrassem suas opiniões sobre como eles mesmos usavam a língua portuguesa tanto na escola, quanto em outros lugares.

Então definiu-se o mesmo assunto para as alunas do curso de Formação de Docentes, uma vez que elas seriam futuras professoras e, mais do que ninguém, deveriam saber falar e escrever de modo mais adequado, principalmente no trabalho com seus alunos.

Foram estabelecidos alguns objetivos para a elaboração do projeto como proporcionar às alunas do curso de Formação de Docentes elementos para que elas compreendam melhor o fincionamento da língua que falam; observar a reação de minhas alunas quanto da implementação do projeto e fazer com que elas se interessassem mais por um estudo sistematizado da Língua Portuguesa.

Este artigo constará das seguintes seções: Introdução; Seção I – Discussão Teórica; Seção II – Metodologia; Seção III – Análise e resultados; Conclusão e Referências Bibliográficas.

SEÇÃO I – DISCUSSÃO TEÓRICA

Em 1997, o MEC publicou uma coleção de documentos intitulados Parâmetros Curriculares Nacionais que reuniam propostas para a renovação do ensino nas escolas brasileiras. Na verdade, esse documento revela o impacto produzido na política educacional por uma ampla discussão que já vinha sendo empreendida nas universidades brasileiras desde pelo menos vinte anos antes da publicação dos PCNs.

Os PCNs introduziram alguns conceitos na prática docente, conceitos provenientes de uma disciplina relativamente nova dentro dos estudos da linguagem, que vem a ser a Sociolinguística. Esta nova ciência surgiu nos Estados Unidos em meados da década de 1960, quando muitos cientistas decidiram que não era mais possível estudar a língua sem levar em conta também a sociedade em que ela era falada.

O estudo da variação e da mudança na perspectiva sociolinguística foi

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impulsionado por Willian Labov, que se tornou o nome mais conhecido na área.Na prática docente, atualmente, a variação linguística ou fica em segundo plano

ou é abordada de maneira insuficiente, superficial, quando não distorcida.A respeito da variação linguística e ensino, Bortoni-Ricardo afirma que essa

diferença linguística é chamada de ”erro de português”, expressão considerada inadequada e preconceituosa. Ela diz que “erros de português são simplesmente diferenças entre variedades da língua” (Bortoni-Ricardo, 2004, p. 37).

A autora nos mostra um exemplo de oralidade em que a regra não-padrão usada pelo aluno passa despercebida pelo professor. Essa seria uma ocasião que o professor poderia aproveitar para conscientizar os alunos quanto às diferenças sociolinguísticas e fornecer a eles a variante adequada aos estilos monitorados orais e à língua escrita. Vejamos primeiro como o episódio ocorreu e, em seguida, imaginemos o professor valendo-se da oportunidade para ensinar de forma explícita o estilo monitorado da língua.

(1)P- Reinaldo+ por quê você num vei ontem?(2)A- Num deu tempo.(3)P- Num deu tempo por quê?(4)A- Tava trabaianu.

(1)P- Reinaldo+ por que você num vei ontem?(2)A- Num deu tempo.(3)P- Num deu tempo por quê?(4)A- Tava trabaianu.(5)P- O Reinaldo estava trabalhando ontem e por isso não veio à aula.

Vejam a palavra “trabaianu”. Ela é uma daquelas palavrinhas que podemos usar de dois jeitos. Quando falamos com nossos amigos, podemos dizer “trabaianu”, quando falamos com pessoas que não conhecemos bem, empregamos a palavrinha como a escrevemos, assim: “trabalhando”.

Marcos Bagno (2008, p. 47) apresenta que a variação linguística ocorre em todos os níveis da língua:

• Variação fonético-fonológica: pense em quantas pronúncias você conhece para o R da palavra “porta” no português brasileiro;

• Variação morfológica: as formas “pegajoso” e “peguento” exibem sufixos diferentes para expressar a mesma ideia;

• Variação sintática: nas frases “uma história que ninguém prevê o final/uma história que ninguém prevê o final dela/uma história cujo final ninguém prevê”, o sentido geral é o mesmo, mas os elementos estão organizados de maneiras diferentes;

• Variação semântica: a palavra “vexame” pode significar “vergonha” ou “pressa”, dependendo da origem regional do falante;

• Variação lexical: as palavras “mijo” “xixi” e “urina” se referem a mesma coisa;

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• Variação linguístico-pragmática: os enunciados “queiram se sentar, por favor” e “vamo sentano aí, galera” correspondem a situações diferentes de interação social, marcadas pelo grau maior ou menor de formalidade entre os interlocutores e podem inclusive ser pronunciados pelo mesmo indivíduo em situações de interação diferentes.

Para os sociolinguistas, há um conjunto de fatores sociais que podem auxiliar na identificação dos fenômenos de variação linguística. Os mais interessantes são:

a) Origem geográfica: a língua varia de um lugar para outro; pode-se investigar a fala característica das diferentes regiões brasileiras, dos diferentes estados, de diferentes áreas geográficas dentro de um mesmo estado. Outro fator importante também é a origem rural ou urbana da pessoa;

b) Status socioeconômico: as pessoas que têm um nível de renda muito baixo não falam do mesmo modo das que têm um nível de renda muito alto e vice-versa. Estas diferenças representam desigualdades na distribuição de bens materiais e de bens culturais. Entre os bens culturais ressalte-se a inclusão digital. O acesso ao computador e à internet está claramente associado ao status socioeconômico. Este fator é muito relevante, considerando que, em nosso país, a distribuição de renda é muito desigual;

c) Grau de escolarização: o acesso maior ou menor à educação formal e, com ele à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita, é um fator muito importante na configuração dos usos linguísticos dos diferentes indivíduos. Esses fatores estão intimamente ligados ao status socioeconômico na sociedade brasileira;

d) Idade: os adolescentes não falam do mesmo modo que seus pais, nem estes pais falam do mesmo modo como as pessoas das gerações anteriores. No vocabulário de campos semânticos relacionados a sexo e exceção, que geralmente contém muitas palavras-tabu, encontramos palavras que variam ao longo de gerações. Por exemplo, uma mulher grávida era chamada de “senhora em estado interessante“; de uma mulher menstruada se dizia que estava “incomodada” ou “com regras”, ”tá de bode”, ou ”tá de chico”;

e) Sexo: homens e mulheres falam de maneiras distintas. As mulheres costumam usar mais diminutivos:”Trouxe esta lembrancinha para você; é uma coisinha de nada”. Usam também mais partículas como “né?”, “tá?”, “tá bom?”, que são chamadas de marcadores conversacionais e que cumprem várias funções na conversa. No caso dos marcadores que são mais usados pelas mulheres, eles têm principalmente a função de obter aquiescência e concordância do interlocutor.A linguagem dos homens, por outro lado, é mais marcada pelos chamados palavrões e gírias mais chulas. Essas variações entre os repertórios feminino e masculino são relacionados aos papéis sociais que são culturalmente condicionados;

f) Mercado de trabalho: o vínculo da pessoa com determinadas profissões e ofícios incide na sua atividade linguística; uma advogada não usa os mesmos recursos linguísticos de um encanador, nem este os mesmos de um cortador de cana;

g) Redes sociais: cada pessoa adota comportamentos semelhantes aos das pessoas com quem convive em sua rede social; entre esses comportamentos está também o

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comportamento linguístico.Porém a variação linguística não ocorre somente no modo de falar das diferentes

comunidades, dos grupos sociais, quando a gente compara uns com os outros. Ela também se mostra no comportamento linguístico de cada indivíduo, de cada falante, de maneira mais consciente ou menos consciente, conforme a situação de interação em que nos encontramos.Isto pode ser percebido no Brasil, pois a situação linguística de nosso país é ainda mais dramática. Marcos Bagno (2003, p.75/76) afirma que:

Os brasileiros urbanos letrados não só discriminam o modo de falar de seus compatriotas analfabetos, semi analfabetos, pobres e excluídos, como também discriminam o seu próprio modo de falar, as suas próprias variedades linguísticas.

Para os sociolinguistas, não existe falante de estilo único: todo e qualquer indivíduo varia a sua maneira de falar, monitora mais ou menos o seu comportamento verbal, independentemente de seu grau de instrução, classe social, faixa etárias, etc. Trata-se de um comportamento que é adquirido muito rapidamente no convívio social. O monitoramento da fala faz parte do aprendizado das normas sociais que prevalecem em cada cultura, normas que são apreendidas por observação e imitação, mas também ensinadas explicitamente pelos pais e outros adultos.

A televisão também é um importante veículo de mudança na maneira de falar das pessoas, pois os programas se distribuem de maneira uniforme, levando em conta o público-alvo a que se destinam, usando variedades estilísticas e de socioletos determinados. A influência da televisão se exerce em todos os aspectos da vida diária dos brasileiros, inclusive no que diz respeito aos fatos da língua. Assim percebe-se que as novelas contribuem para a divulgação das gírias mais recentes surgidas nos grandes centros urbanos e para a propagação de palavras e construções sintáticas marcadamente regionais, que passam a ser empregadas por brasileiros de todos os cantos do país.

Isto acontece na linguagem, pois no caso da escrita, ele vai depender do grau de letramento do indivíduo, do grau de sua inserção na cultura da leitura e da escrita. Uma pessoa que foi alfabetizada, mas não ultrapassou os primeiros anos da escola formal nem criou o hábito de ler e escrever com frequência, certamente não vai dispor dos mesmos recursos de monitoramento estilístico de alguém que cursou a universidade, tem bom desempenho no domínio da escrita, conhece as convenções dos diferentes gêneros textuais, maneja um vocabulário mais amplo e diversificado, etc. O grau de letramento elevado também favorece a produção de textos falados mais monitorados, em que a pessoa tenta reproduzir na oralidade mais formal traços característicos dos gêneros textuais escritos mais monitorados.

SEÇÃO II – METODOLOGIA

Para implementar o projeto em sala de aula, com alunas do curso de Formação de Docentes, o assunto foi dividido em partes a saber: Produção inicial; Módulo I; Módulo II; Módulo III e Produção final.

Na Produção inicial, o objetivo era perceber o que minhas alunas conheciam a

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respeito da variação linguística.Para isso, elaborou - se o seguinte questionário:

1) O que é variação linguística?2) Como ela ocorre na língua portuguesa?3) Por que é tão difícil os alunos falarem e escreverem corretamente?4) Você acha que há diferença na maneira de falar entre as pessoas que moram na zona urbana e na zona rural? Explique.5) Por que morando em um mesmo país existem tantas diferenças na maneira de falar de nosso povo?6) Como vocês trabalhariam a variação linguística em sala de aula?7)Escreva um pequeno texto sobre a polêmica causada pelo lançamento do livro didático lançado pelo MEC.

No Módulo I, propôs-se trabalhar com duas letras de música que tratassem da variação linguística. A primeira foi “Inútil”, de Roger Moreira, e a segunda foi “Samba do Arnesto”, de Adoniran Barbosa.

Os objetivos eram perceber o conhecimento que as alunas possuíam sobre o assunto e analisar a variação linguística presente nas letras das músicas.

A música “Inútil” serviu para um trabalho sobre concordância verbal e nominal e também para reconhecer a linguagem oral presente nesta letra de música. A concordância é hoje um dos maiores problemas enfrentados pelos alunos, pois eles passam para a escrita a regra da fala, na qual o sujeito não concorda o verbo em número e em pessoa. Aqui a questão de derivação é o pronome “a gente”.

Já a música do Adoniran Barbosa mostrou às alunas que ela é característica de um grupo social tipicamente paulistano e que o autor conhece bem quem são os moradores do Brás, Bexiga e da Barra Funda, que usam este falar tão peculiar dessa região de São Paulo.

O objetivo era que as alunas precebessem que ainda hoje muitas pessoas falam do mesmo jeito que Adoniran Barbosa escrevia nas letras de suas músicas, pois é comum ouvirmos pessoas falando “nós fumo”, “vortemo”, independente da região em que moram.

Alguns autores usam a linguagem oral como forma de expressar a maneira de falar das grandes camadas da população que fazem uso desse tipo de linguagem. Não que esses autores não conheçam a língua culta, muito pelo contrário, é por conhecer muito bem que eles escrevem do jeito que escrevem.

Trecho das letras das músicas:

InútilUltraje a RigorComposição : Roger Moreira

(vô cantar tudo de novo, ô?!)A gente não sabemosEscolher presidenteTomar conta da gente[ …]

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Samba do ArnestoAdoniran Barbosa

O Arnesto nos convidouPra um samba no BrásNós fumos e não encontremos ninguémNós vortemos com uma baita de uma reivaDa outra vez não num vai maisNós não semos tatu[ …]

No módulo II, foram analisados dois textos jornalísticos com o objetivo de debater a questão do preconceito linguístico presente em nossa sociedade.

Os textos escolhidos foram “Meros funcionários”, de Ruy Castro e “Fale errado, está certo”, de José Sarney, ambos publicados no jornal Folha de São Paulo, no dia 20 de maio de 2011.

Esses textos referem-se à polêmica causada pela publicação de um livro de Língua Porguesa, editado pelo MEC, que apresentou a variação linguística como meio de levar o aluno a aquisição da língua culta.

O primeiro texto apresenta uma análise não só do livro didático como também de escritores que fazem uso da variação linguística em seus textos.

Meros funcionários - Ruy Castro

Rio de Janeiro - Certo livro didático está na berlinda por propor que as pessoas possam fugir da norma culta da língua portuguesa e dizer “Os livro” e “nós pega os peixe”. De fato, as normas existem para ser transgredidas – mas por quem de direito. Eis alguns que fizeram isto no romance, na música e na poesia. E o fizeram muito bem.[ …]

O segundo texto apresenta uma análise sobre a língua portuguesa enquanto instrumento de comunicação e unidade política do país; porém o autor, além de criticar o chamado “falar errado”, também é preconceituoso com algumas colocações que faz no texto, como por exemplo, quando ele fala sobre o falar crioulo e o dialeto como se esses falares não tivessem regras de uma língua.

O autor nos mostra ainda que ensinar errado pode oficializar a burrice, como se todo o povo brasileiro fosse burro por falar como fala.

Fale errado, está certo - José Sarney

Nada mais representativo da burrice do que essa teoria do falar errado. Foi quando fui presidente da República que universalizei o programa do livro gratuito nas escolas, e o grande problema que era a qualidade do livro.

Após a leitura dos dois textos, foi proposto um questionamento a respeito da variação linguística existente no referido livrodidático quando a autora afirma: “Os livro

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ilustrado mais interessante estão emprestado”. Então ela mesma pergunta: “pode-se falar os livro”? E ela mesma responde que sim, mas alerta que, dependendo da situação, a pessoa que falar desse jeito pode ser vítima de preconceito linguístico.

Ainda analisando o mesmo livro, a autora afirma que não há um único jeito de falar e escrever, pois existem variantes regionais, próprias de cada região do país, que são perceptíveis na pronúncia, no vocabulário e na contrução de frases. Como exemplo, ela cita a palavra “pernilongo” usada no sul, enquanto no nordeste usa-se “muriçoca”.

Ela também diz que a norma culta existe tanto na linguagem escrita quanto na linguagem oral, pois ao escrever um bilhete a um amigo, pode-se usar a norma coloquial, porém em um requerimento por exemplo, a forma a ser utilizada é a norma culta.

No Módulo III, desenvolveram-se as atividades para perceber o que minhas alunas haviam aprendido sobre variação linguística.

A primeira atividade foi elaborada com a poesia “Seu dotô me conhece?”, de Patativa do Assaré. A turma leu a poesia, depois realizamos um debate a respeito da linguagem usada pelo autor, pois o tema central do poema é a vida do homem do campo e os problemas que ele enfrenta, e a linguagem usada corresponde bem ao assunto tratado pelo autor.

Depois de nossa discussão a respeito da poesia, foram elaboradas algumas perguntas que seriam respondidas no caderno e depois corrigidas oralmente.As perguntas foram:

1) A quem o homem do campo se dirige?2) Por que usa o tratamento “dotô” para o homem da cidade?3) Quais são as riquezas que o homem do campo conseguiu em sua vida?4) O título da poesia está estruturado em forma de pergunta. Quais são os versos que respondem a esta pergunta?

Depois deste texto, foi escolhido outro que se intitula “A escola em minha vida”, de Alzira Aparecida da Silva, para que as alunas observassem as marcas de oralidade que a autora usou em seu texto como “né”, “daí”, “istudá”, etc.Foi realizada oralmente a reestruturação do texto para a linguagem culta.

A escola em minha vida - Alzira Aparecida da Silva

Bom...eu nasci em Sarandi né... e aos quatro anos fui pra Castelo Branco né...i...i depois de três anos, quando completei sete anos qui... qui... era a coisa que eu queria mais fazê é istudá... daí... chegamo na escola eu gostei muito né... só que eu percebia que era muito difícil pru professor, que era um único professor pra... pra... dá aula pras quatro série né... quatro ano ao mesmo tempo ( espanto e comentário dos colegas)... e daí ele tinha que dividi o quadro em quatro parte que era... assim né... uma parte pru primeiro ano, pru segundo, pru terceiro ano, pru quarto ano... e daí vendo tudo aquilo,cresceu minha admiração pelo professor (manifestação de concordância dos colegas). Mais tinha um grande problema que... quando eu terminasse a quarto ano ia tê que pará de istudá (alguém pergunta por quê?)...

Por último, propôs se que elas lessem um outro texto que fazia referência a uma linguagem específica, que era a dos surfistas. Depois desta leitura, discutimos se elas

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tinham conseguido entender o que o surfista quis dizer na entrevista. Também procurei mostrar a elas que existem outros grupos sociais que apresentam linguagens específicas.

Entrevista com vencedor de surf:

Repórter: Qual foi a bateria que você mais surfou até hoje?Surfista: Foi no Cristal Grafite. A onda veio abrindo inteira, dropei no crítico, fiz o botton de backside, subi e dei um rasgadão. Aí deixei cair lá embaixo, subi novamente, dei outra rasgada, e quando ela engordou, adiantei, dei um cutback bem enganchado e bati na espuma. Veio a junção e mandei uma esbagaçada, depois foi aquela marolagem, enganação.[...] (Revista Hard Core, setembro, 1991)

RESULTADO DA IMPLEMENTAÇÃO

Quando optou-se por trabalhar com variação linguística no projeto, tinha como objetivo fazer com que as alunas do curso de Formação de Docentes tivessem elementos que permitissem a elas perceber e conceber a variação linguística de forma mais abrangente, sem preconceitos. Também eram objetivos observer a reação que elas teriam quando fossem fazer a implementação do projeto e levá-las a se interessassem mais por um estudo sistematizado da língua portuguesa falada.

Assim elaborou-se um questionário sobre variação linguística para que elas respondessem sem nenhum conhecimento prévio e o resultado foi bem interessante pois elas entenderam que há maneiras diferentes de falar a língua portuguesa levando-se em conta a diversidade cultural de nosso país.

Este questionário foi respondido primeiro por escrito e depois fizemos um debate a respeito das respostas que elas deram.

Depois de ler o que elas haviam respondido, percebi que as respostas não apresentavam respostas muito diferentes umas das outras. Seguem as respostas da aluna 1.

1) Pessoas que falam a mesma língua de formas diferentes.2) Ocorre de acordo com a região em que moram.3) Porque os alunos de hoje não gostam de ler, por isso eles fala errado e escrevem como falam.4) Sim, porque as pessoas que moram na zona urbana têm mais oportunidades para estudar, e as pessoas da zona rural, às vezes, por terem que trabalhar, não estudam, porisso falam com sotaque diferente.5) Nosso país tem diversidade cultural.6) Apresentando a cultura histórica de cada região e ensinando o modo de falar de cada uma para falarem corretamente.7) A autora relata que quando conversamos com amigos e parentes, podemos falar de modo “errado”, algumas palavras. Mas temos que escrever de maneira correta. O livro foi criticado pois achavam que ela estava ensinando errado.

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Elas perceberam, conforme mostram as respostas dessa aluna, que não é só na roça ou no sítio que as pessoas falam de modo diferente; também na cidade, existem modos diferentes de falar pois nem todas as pessoas possuem o mesmo tipo de escolaridade, assim como nem todos os alunos gostam de ler e se preocupam com isso pois sem a leitura fica mais difícil de se escrever adequadamente. Essa aluna,conforme as questões 3 e 4, reconhece que as pessoas da cidade falam corretamente e que o não falar corretamente está associado à falta de leitura.

Porém, percebi que não era fácil fazê-las entender que entre a fala e a escrita havia uma grande diferença e que elas teriam que se adequar a essas mudanças linguísticas se elas quisessem realizar um bom trabalho com seus alunos na hora em que fossem fazer o estágio.

Logo após o questionário, solicitei que elas elaborassem um texto usando os conhecimentos aprendidos sobre variação linguística.

Após a leitura dos textos, percebi que elas não apresentavam erros tão grandes no que se refere à concordância verbal e nominal, regência, etc. Porém elas apresentavam algumas marcas de oralidade em relação à escrita, como “aí”, “daí”, “vó”; a repetição de alguns termos usados nos textos; a grafia de algumas palavras como “talves” ai invés de “talvez”, “traçei” ao invés de “tracei”; alguns substantivos próprio escritos com letras minúsculas como o próprio nome do curso: Formação de Docentes, psicologia e não Psicologia.

[...]A variação linguística mostra o preconceito contra as pessoas que falam errado, daí elas são chamadas de burras.[…]

[…] Minha vó estudou até a 2ª série e fala tudo errado, então os netos ficam rindo e ela não gosta, nè.[…]

[…] Os alunos não gostam de ler, talves, por isso, eles falam e escrevem de modo tão errado.[...]

Podemos perceber pelas respostas que essas alunas deram que elas também apresentam ainda um certo preconceito linguístico em relação às pessoas que falam de modo diferente da maioria e que é preciso que a escola dê mais atenção a essas questões para que, principalmente, os jovens compreendam a diferença entre a fala e a escrita..

Apesar de perceber que na escrita elas não tinham grandes “erros” de português, o mesmo não acontecia quando elas usavam a linguagem oral, pois na hora de falar, elas ainda usavam muito as expressões “aí”, “daí”, ”né”, “tá”, algumas concordâncias verbais eram inadequadas.

Uma das alunas tinha o hábito de usar a expressão “ponhá”, mesmo sabendo que é inadequada para uma fala escolar. Ela dizia que seus pais falavam desse jeito e que ela cresceu ouvindo-os falar dessa maneira. Aos poucos, todas as colegas iam corrigindo-na cada vez que ela usava esta expressão pois achavam que ela não poderia falar desse jeito na hora em que fosse fazer o estágio com seus alunos, pois a professora poderia não entender e aceitar a sua maneira de falar.

O segundo passo da implementação foi trabalhar com um texto jornalístico escrito por José Sarney e publicado no jornal Folha de São Paulo, no dia 20 de maio de

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2011. O título do texto era ”Fale errado, está certo”, no qual o autor analisava a polêmica causada pela publicação do livro de Língua Portuguesa, publicado pelo MEC, que sugeria, segundo Sarney, que as pessoas poderiam falar errado e que isto não seria considerado um erro.

Após a leitura do texto, discutiu-se o capítulo do referido livro para que elas comparassem os dois textos e pudessem emitir uma opinião sobre a variação linguística, agora com uma visão mais ampla sobre o assunto.

Para elas, a crítica que o ex-presidente fez aos livros didáticos não é adequada, pois ele fala como se esses livros não tivessem valor para a escola e, muito menos, para os alunos. Elas também acharam que José Sarney foi preconceituoso ao criticar as pessoas que falam “errado” como se elas fossem ignorantes.

Elas compreenderam que o livro didático é um instrumento importante para auxiliar o professor em sala de aula, porém ele não é o único a ser usado. É preciso que o professor disponibilize outros materiais para que o ensino aconteça de fato em sala de aula.

Com a leitura desses textos, as alunas perceberam que a variação linguística não é nenhum “bicho de sete cabeças” e que falar e escrever corretamente não é privilégio de nenhum grupo social, mas qualquer pessoa que queira ou possa ter acesso à educação pode se apropriar de formas mais cultas da língua que garanta mobilidade social. Para que isso aconteça, no entanto, a escola precisa legitimar a fala dos seus alunos, conforme no que propunha o referido livro didático.Depois dessa discussão em sala de aula sobre o texto, elas produziram um texto onde emitiram suas opiniões a respeito do que tinham lido.

[…] José Sarney, ao escrever o texto “Fale errado, está certo”, afirmou que os livros didáticos gratuitos oferecidos nas escolas não são de boa qualidade, para chegar a tal ponto de alguns presidentes afirmarem isso, quer dizer que os livros são ruins mesmo. ( aluna Carmem)

[…] E a crítica do livro didático que contém erro não devemos só falar e sim agirmos, tomarmos alguma atitude para que isso melhore: investimentos na educação e melhoramento na formação das pessoas. ( aluna Maria)

[…] José Sarney fez uma observação através de um livro didático de sua neta, qual continha muitos erros. Espantado com a situação que se encontra nosso país, começa a criticar a maneira da sociedade falar e, principalmente, escrever. ( aluna Cláudia)1

Pela observação que fizeram da leitura do texto do ex-presidente José Sarney, as alunas ainda continuavam com certo preconceito pois na hora de fazerem a avaliação oral de seus trabalhos, elas diziam que era difícil aceitar que um aluno, principalmente aquele que estava se preparando para o vestibular, falasse tão “errado” e que desse jeito quando chegassem na faculdade, muitos teriam dificuldades de acompanhar o curso.

A última etapa de minha implementação foi solicitar às alunas que, em grupos de três alunas, elaborassem uma aula sobre variação linguística para alunos do Ensino

1 Utilizou-se nomes fictícios para preservar o sigilo dos nomes das alunas.

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Básico (1º ao 5º ano).No plano de aula deveria constar de Objetivo Geral e Objetivos Específicos,

Metodologia, Fundamentação Teórica, Avaliação e Bibliografia do mesmo modo como elas aprendem no Estágio.

Elas teriam que escolher a série com a qual iriam desenvolver a aula, os textos que seriam trabalhados por elas em sala de aula, como seria a aplicação dessa para os alunos, e como seriam feitas as avaliações.

Esse trabalho constou de uma parte escrita e outra oral, onde elas deram aula paras as colegas como se fossem seus alunos. Ao final das apresentações, a turma fez uma avaliação do que tinha sido apresentado por todas as alunas.

O planejamento das alunas 1, 2 e 3 para mostrar como elas organizaram o trabalhopara alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental.

Planejamento de aulaTema: Variação Linguística1.1. Conteúdo:

• O que é variação linguístaca?• Qual a sua importância?• Quais os tipos de variações linguísticas?

Trabalharemos este conteúdo dentro do tema “Maringá”, falando desde a colonização e a chegada dos pioneiros.

1.2. Objetivo Geral:

Conhecer e vivenciar a variação linguística através de realização das atividades práticas, partindo de uma visão crítica da realidade sócio-educacional, buscando a formação teórica junto com o desafio da prática.

1.3. Objetivo Específico:

Transmitir para o aluno o conhecimento do tema abordado “variação linguística” por meio de atividades teóricas e práticas, buscando entender a importância das formas geométricas2, quais são as formas geométricas, como utilizá-las e identificá-las em desenhos.

2. Instrumentalização:2.1. Ações docentes e discentes:

Iniciaremos a aula explicando o que é variação linguística; de acordo com o tema “Maringá,” iremos trabalhar a música de Joubert de Carvalho, na qual os alunos irão contar e grifar as palavras escritas informalmente; após o trabalho com a música, os alunos farão um trabalho com o vocabulário, trocando as palavras informais por palavras escritas na linguagem culta.

3. Os alunos deverão evidenciar os novos conhecimentos abordados.

2 As alunas relacionaram a letra da música com formas geométricas, procurando levar os alunos a reconhecer a presença das figuras geométricas nos objetivos mencionados na letra da música.

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3.1. Os mesmos deverão saber:

• O que é variação linguística;• Qual a sua importância;• Quais os tipos de variações linguísticas.

Maringá Maringá Joubert de Carvalho

Foi numa leva que a cabloca MaringáFicou sendo a retiranteQue mais dava o que falá.

E junto delaVeio alguém que suplicouPra que nunca se esquecesseDe um cabloco que ficou[...]

Atividades desenvolvidas com os alunos:

Grife na música palavras escritas informalmente.

Faça um vocabulário com as palavras grifadas, passando-as para a língua culta.

Para discutir:

• O que é variação linguística? • Qual a importância de estudar variação linguística?• Devemos respeitar o modo dos outros falarem?• Compreender que em cada região, as pessoas têm diversas maneiras de se

comunicar.

Objetivos das atividades:

Apresentar situações de usos da língua que envolvam as múltiplas diversidades das regiões.

Compreender o que é variação linguística e porque existem várias maneiras de se falar dependendo da região em que se mora.

Instrumentalização:

Ações docentes e discentes:

Começaremos a aula fazendo uma roda com as crianças e comentaremos sobre o conteúdo ( variação linguística), primeiramente perguntaremos se eles sabem o que variação linguística, porque eles acham que eles falam uns diferentes dos outros. Depois de apresentarmos o conteúdo, passaremos um vídeo “Chico Bento

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na roça é diferente”, ao final do vídeo iremos perguntar qual a diferença que eles perceberam na fala do Chico e do seu primo.Logo depois daremos algumas atividades relacionadas ao vídeo.

Recursos:

Quadro, giz, papel sulfite, lápis, borracha, televisão, DVD.

Avaliação

A avaliação dar-se-á de forma contínua e permanente, através da observação durante as atividades propostas e a participação nas mesmas.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Eu dicubri pru que o gato mia pra ela i ela num responde.

Acima podemos ver a fala de uma pessoa que nasceu e mora na região rural ( roça). Vamos passá-la para a fala de uma pessoa que nasceu e mora na cidade?

Reescreva as frases abaixo de outra forma:

Um tisouro?Não! É mior qui isso!Intão? Ocê num vai falá?Ara! Ocê disse pra num lhi dizê!

Quando as alunas terminaram as apresentações orais, realizou-se uma avaliação de todos os trabalhos apresentados, tanto a parte oral quanto a parte escrita. Analisou-se principalmente, o trabalh aqui apresentado, que não seria adequado pedir que os alunos transformassem a linguagem escrita pelo autor da música em linguagem padrão pois isso descaracterizaria toda a poesia e a beleza da música de Joubert de Carvalho, pois a linguagem usada por ele é característica de um determinado lugar e para aquelas pessoas não é errado falar assim.

Depois de todas as nossas atividades, foi realizada uma avaliação geral do que foi trabalhar com a variação linguística em sala de aula. A turma pôde então refletir sobre o que é falar e escrever “errado” e que ninguém, em lugar nenhum, por não falar da maneira considerada “correta”, têm o direito de julgar as pessoas de se expressarem como achar melhor, e que elas não devem ser discriminadas por causa disso, pois quando elas tiverem necessidade de usar a língua de maneira adequada, elas irão fazê-lo, desde que tenham condições básicas para isso.

CONCLUSÃO

Após a implementação do projeto com as alunas do curso de Formação de Docentes, percebi que elas conseguiram entender o que é a variação linguística e como

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ela ocorre tanto na fala quanto na escrita..No começo foi difícil fazê-las entender que não se deve falar e escrever do

mesmo modo e que há vários fatores que levam os alunos a agir dessa forma, dentre eles estão a origem geográfica, o status socioeconômico, o grau de escolarização, a idade, o sexo, o mercado de trabalho e as redes sociais e a falta de leitura.

Porém, aos poucos, elas foram se dando conta de que não é tão difícil usar adequadamente a língua portuguesa e que para isso é preciso alguns cuidados na hora de escrever, pois existem algumas normas gramaticais que são essenciais na escrita.

As alunas se formaram no ano de 2011 no curso de Formação de Docentes e algumas irão trabalhar com crianças do Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano. Assim, elas precisavam, mais do que os outros alunos, estudarem a variação linguística para poderem ensinar a seus alunos e eles também terem uma noção de que existem diferenças entre o que se fala e o que se escreve.

Por isso, neste ano de 2012, quando as aulas começaram, resolvi trabalhar a variação linguística com todos os meus alunos, principalmente, aqueles do curso de Formação de Docentes para que eles percebessem a diferença entre fala e escrita, pois eles também serão futuros professores e precisam entender que essa diferença é primordial no ensino de Língua Portuguesa nas crianças de Ensino Fundamental.

Espero que, um dia, os jovens possam ter consciência de que escrever não é mistério para ninguém, mas que esse ato não pode ser realizado de qualquer maneira e que existem regras gramaticais específicas para a norma culta escrita, outras para a norma falada e que em algumas situações essas normas se cruzam na construção de alguns gêneros da oralidade e da escrita que devem ser observadas para que se produzam bons textos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

_ BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística, São Paulo, Parábola Editorial, 2007.

____ A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo, Parábola Editorial, 2003.

____ Não é errado falar assim! Em defesa do Português Brasileiro, São Paulo, Parábola Editorial, 2009.

BORTONI-RICARDO.Stella Maris. Educação em língua materna: a sócio-linguística na sala de aula, São Paulo, Parábola Editorial,2004.

_____Nós cheguemu na escola, e agora?: Sociolinguística e educação, São Paulo, Parábola Editorial, 2005.

FARACO, Carlos Alberto, Norma culta brasileira: desatando alguns nós, São Paulo, Parábola Editorial, 2008.