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1 Síndrome de Alienação Parental: a criança, a família e a lei 1 Marlina Cunha Tosta 2 RESUMO: Esta monografia apresenta um estudo acerca da problemática psicológica e jurídica que a Síndrome de Alienação Parental traz à criança e ao adolescente. Sendo um tema de grande relevância, é de extrema importância a realização desta pesquisa que consiste em identificar e analisar os elementos essenciais à configuração de práticas alienantes e quais suas consequências com relação às questões jurídicas e psicológicas. Num segundo momento, procura-se ressaltar a importância da mediação dos profissionais da área da saúde mental e jurídica, assim como as medidas de intervenção que possam impedir o avanço do problema, e formas de evitar o sofrimento de crianças e adolescentes a fim de que se tornem adultos saudáveis. O tema será abordado em partes, sendo que primeiramente apresentando os aspectos gerais sobre a família, casamento e separações conjugais ou divórcio, e, em seguida, tratando dos aspectos jurídicos da Síndrome de Alienação Parental. Palavras-Chave: Síndrome da Alienação Parental. Separação conjugal. Direito de Família. INTRODUÇÃO Pretende-se com este trabalho, oferecer uma abordagem crítica de um assunto bastante polêmico tanto na esfera jurídica quanto médica (da área de saúde mental): a Síndrome de Alienação Parental (SAP). Vale mencionar que é um o assunto bastante relevante atualmente e que está tendo grande repercussão na mídia. E para abordar esta questão é necessário recorrer ao suporte teórico. 1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, aprovado, com grau máximo, pela banca examinadora, composta pelo Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer (orientador), Profa. Dra. Irani Iracema de Lima Argimon e Prof. Dr. Álvaro Filipe Oxley da Rocha, em 17 de junho de 2013. 2 Acadêmica de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected].

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    Sndrome de Alienao Parental: a criana, a famlia e a lei1

    Marlina Cunha Tosta2

    RESUMO: Esta monografia apresenta um estudo acerca da problemtica

    psicolgica e jurdica que a Sndrome de Alienao Parental traz criana e ao

    adolescente. Sendo um tema de grande relevncia, de extrema importncia a realizao

    desta pesquisa que consiste em identificar e analisar os elementos essenciais

    configurao de prticas alienantes e quais suas consequncias com relao s questes

    jurdicas e psicolgicas. Num segundo momento, procura-se ressaltar a importncia da

    mediao dos profissionais da rea da sade mental e jurdica, assim como as medidas

    de interveno que possam impedir o avano do problema, e formas de evitar o

    sofrimento de crianas e adolescentes a fim de que se tornem adultos saudveis. O tema

    ser abordado em partes, sendo que primeiramente apresentando os aspectos gerais

    sobre a famlia, casamento e separaes conjugais ou divrcio, e, em seguida, tratando

    dos aspectos jurdicos da Sndrome de Alienao Parental.

    Palavras-Chave: Sndrome da Alienao Parental. Separao conjugal. Direito de

    Famlia.

    INTRODUO

    Pretende-se com este trabalho, oferecer uma abordagem crtica de um assunto

    bastante polmico tanto na esfera jurdica quanto mdica (da rea de sade mental): a

    Sndrome de Alienao Parental (SAP).

    Vale mencionar que um o assunto bastante relevante atualmente e que est

    tendo grande repercusso na mdia. E para abordar esta questo necessrio recorrer ao

    suporte terico.

    1 Artigo extrado do Trabalho de Concluso de Curso apresentado como requisito parcial para obteno do grau de Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais pela

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, aprovado, com grau mximo, pela banca examinadora, composta pelo Prof. Dr. Gabriel Jos Chitt Gauer

    (orientador), Profa. Dra. Irani Iracema de Lima Argimon e Prof. Dr. lvaro Filipe Oxley da Rocha, em 17 de junho de 2013.

    2 Acadmica de Cincias Jurdicas e Sociais da Faculdade de Direito da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected].

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    A Sndrome de Alienao Parental (SAP), tambm conhecida pela sigla em ingls

    PAS, foi proposto em 1985 pelo mdico psiquiatra americano Richard Gardner.

    caracterizada quando, a qualquer preo, o genitor guardio que quer se vingar do ex

    cnjuge, atravs da condio de superioridade que detm, tenta fazer com que o outro

    progenitor ou se submeta s suas vontades, ou ento se afaste dos filhos.

    No atual momento social brasileiro, ressalta-se a importncia da anlise do termo

    SAP conforme o art. 2 da Lei n 12.318/2010, que dispe sobre os atos de alienao

    parental:

    Art. 2 Considera-se ato de alienao parental a interferncia na formao psicolgica da criana ou adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avs ou pelos que tenham a criana ou adolescente sob a autoridade, guarda ou vigilncia, para que repudie genitor ou que cause prejuzo ao estabelecimento ou manuteno de vnculos com este.

    3

    A referida lei passou a ser uma das mais recentes conquista no sistema brasileiro.

    Ela vem para, assim como a Constituio Federal, Estatuto da Criana e do Adolescente

    e Cdigo Civil, proteger a criana e seus Direitos fundamentais, preservando dentre vrios

    direitos o seu convvio com a famlia e a preservao moral desta criana diante de um

    fato que por si s os atinge, a separao.

    Assim sendo, a Lei n 12.318/2010 oferece a garantia da convivncia familiar e direitos da criana e do adolescente, onde visa coibir todos os atos de alienao parental, com o objetivo de que estes atos no se transformem em sndrome. E quem interferir na formao psicolgica da criana com a finalidade de alimentar sentimento de rejeio e obstruir o relacionamento dela com os seus genitores poder ser multado ou at perder a guarda da criana.

    4

    Neste trabalho abordar-se-, portanto, a Sndrome de Alienao Parental, em

    especial os casos que envolvam o Direito Civil Brasileiro.

    Trata-se de uma pesquisa bibliogrfica5 onde foram utilizados livros, artigos e

    publicaes relacionadas dinmica familiar que levassem sndrome, identificao e

    vises nas reas de Psicologia e Direito.

    3 BRASIL. Novo Cdigo Civil Brasileiro. Legislao Federal. Disponvel em: Acesso em:

    09 maio 2013.

    4 BRASIL. Novo Cdigo Civil Brasileiro. Legislao Federal. Disponvel em: Acesso em:

    09 maio 2013.

    5 A pesquisa bibliogrfica tem por objetivo conhecer as diferentes contribuies cientficas disponveis sobre determinado tema. Ela d suporte a todas as fases de

    qualquer tipo de pesquisa, uma vez que auxilia na definio do problema, na determinao dos objetivos, na construo de hipteses, na fundamentao da

    justificativa da escolha do tema e na elaborao do relatrio final. (WIKIPDIA. Pesquisa Bibliogrfica. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pesquisa> Acesso

    em: 25 maio 2013.

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    Atravs da anlise da bibliografia consultada espera-se que, este trabalho possa

    auxiliar na constituio de um recurso til equipe de profissionais da rea de sade

    (mdicos, enfermeiros, assistentes sociais, psiclogos), bem como da rea jurdica a

    desembargadores, advogados e peritos, e outras reas bem como a pais e crianas.

    1 REVISO DA LITERATURA

    Colocada a problemtica, passamos ento reviso da literatura sobre o tema, a

    qual dividiremos em duas partes. A primeira apresentar os aspectos gerais sobre a

    famlia, casamento/separao conjugal, desenvolvimento emocional da criana e do

    adolescente. A segunda tratar dos aspectos legais e psicolgicos da Sndrome de

    Alienao Parental.

    1.1 CONSIDERAES GERAIS SOBRE FAMLIA, CASAMENTO,

    SEPARAO CONJUGAL/DIVRCIO

    de fundamental importncia para a compreenso deste estudo a abordagem do

    conceito de entidade familiar. Conceituar famlia uma tarefa rdua e complexa, uma vez

    que este instituto tem importncia e significado social diferentes para vrios povos, sendo

    cabvel destacar ainda que os parmetros sociais sofrem alteraes conforme o momento

    histrico vivenciado.

    Analisando a origem da famlia, constata que nos primrdios da civilizao romana

    e grega a famlia era uma instituio que tinha base poltica e, principalmente, religiosa.

    De acordo Minuchi,6 a famlia :

    Uma unidade social que enfrenta uma srie de tarefas de desenvolvimento. Estas diferem junto com parmetros de diferenas culturais, mas possuem razes universais. [...] A famlia como unidade social, enfrenta uma srie de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nvel dos parmetros culturais, mas possuindo as mesmas razes universais.

    No entendimento de Dias,7 a famlia um agrupamento informal, de formao

    espontnea no meio social, cuja estruturao se d atravs do direito.

    6 MINUCHIN, Salvador Famlias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1990. p. 25-69.

    7 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famlias. 8. ed. Rev.atual. So Paulo: Livraria do Advogado, 2011. p. 27.

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    A autora,8 ainda afirma que:

    A famlia uma construo cultural. Dispe de estruturao psquica na qual todos ocupam um lugar, possuem uma funo lugar do pai, lugar da me, lugar dos filhos -, sem, entretanto, estarem necessariamente ligados biologicamente. essa estrutura familiar que interessa investigar para o direito. a preservao do LAR no seu aspecto mais significativo: Lugar de Afeto e Respeito. (Grifo nosso).

    A Declarao Universal dos Direitos do Homem9, em seu art. XVI, 3, preconizou: A

    famlia o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito proteo desta e

    do Estado.

    Com o passar dos tempos esta sociedade familiar sentiu necessidade de criar leis

    para se organizar e com isso surgiu o Direito de Famlia, regulando as relaes familiares

    e tentando solucionar os conflitos oriundos dela. Atravs dos tempos, o Direito vem

    regulando e legislando sempre com intuito de ajudar a manter a famlia para que o

    indivduo possa, inclusive, existir como cidado (sem esta estruturao familiar, onde h

    um lugar definido para cada membro) e trabalhar na constituio de si mesmo

    (estruturao do sujeito) e das relaes interpessoais e sociais.

    1.1.1. Evoluo Histrica da Famlia

    Ao se estudar a histria da humanidade, percebe-se que a entidade familiar a

    primeira expresso humana no que se refere organizao social, pois, desde o

    surgimento do homem, a famlia existe, ainda que de forma involuntria e natural, tendo

    como funes bsicas a reproduo e a defesa de seus integrantes. A famlia j existia

    muito antes da existncia do Estado.

    Diversas mudanas ocorreram com o modelo de famlia tradicional no Brasil,

    sobretudo a partir da dcada de 1980. O cdigo Civil anterior, que datava de 1916,

    regulava a famlia do incio do sculo passado, constituda unicamente pelo matrimnio.10

    Com o passar dos tempos esta sociedade familiar sentiu necessidade de criar leis

    para se organizar e com isso surgiu o Direito de Famlia, regulando as relaes familiares

    e tentando solucionar os conflitos oriundos dela.

    8 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famlias. 8. ed. Rev.atual. So Paulo: Livraria do Advogado, 2011. p. 27.

    9 DECLARAO Universal dos Direitos dos Homens. Disponvel em: Acesso

    em: 25 maio 2013.

    10 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famlias. 8. ed. Rev.atual. So Paulo: Livraria do Advogado, 2011. p. 30.

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    Para Azambuja,11 A famlia de hoje, pode-se afirmar, no apresenta a mesma

    configurao da famlia de sculos anteriores. A mudana de cultura, de hbitos e as

    exigncias da vida contempornea provocaram alteraes, no s no dia-a-dia das

    famlias, como tambm na sua prpria concepo legal, enfatiza Corra.12

    Hoje em dia no se pode mais falar da famlia brasileira de um modo geral, pois

    existem vrias tipos de formao familiar coexistindo em nossa sociedade, tendo cada

    uma delas suas caractersticas e no mais seguindo padres antigos. Agora existem

    famlias de pais separados, chefiadas por mulheres, chefiadas por homens sem a

    companheira, a extensa, a homossexual, e ainda a nuclear que seria a formao familiar

    do incio dos tempos formada de pai, me e filhos, mas no seguindo os padres

    antiquados de antigamente.

    Pode-se afirmar afinal que, apesar de todas as mudanas que aconteceram ao

    longo de todos esses anos na instituio famlia, o fato de ela no se basear mais no

    casamento tpico e religioso a mais marcante de todas, pois hoje em dia at o Cdigo

    Civil j fez mudanas em relao a unio dos casais.

    Para compreendermos a famlia brasileira atual, sua estruturao e suas

    caractersticas, teremos de iniciar refletindo sobre qual modelo de anlise apropriado

    para essa compreenso.

    O modelo da famlia atual encontra sua origem na famlia romana que, por sua vez,

    se estruturou e sofreu influncia do modelo grego, bem como tambm o resultado da

    adaptao da famlia portuguesa ao ambiente colonial do Brasil. Sendo assim, isto gerou

    um modelo com caractersticas nitidamente patriarcais e tendncias conservadoras, o que

    no se pode generalizar como nico modelo de famlia, afirma Lessa.13

    Com a promulgao da Constituio Federal de 1988, surge um novo marco no

    direito de famlia no Brasil, o qual foi consolidado nos contedos dos seus artigos 226 a

    230, seus princpios decorrentes e na legislao complementar infraconstitucional, bem

    como em inmeros artigos na lei 10406/2002 do Cdigo Civil Brasileiro.14 As

    transformaes ainda esto se processando, no sendo possvel precisar todas as suas

    consequncias nem prever quais sero os desdobramentos futuros.

    11 AZAMBUJA, Maria Regina Fay. A criana no novo Direito de famlia. In WELTER, Belmiro Pedro; Madaleno, ROLF Hanssen. Direitos Fundamentais do Direito

    da Famlia. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora. p. 280.

    12 CORRA, Darcsio. A construo da cidadania. Porto Alegre: UNIJU, 2002 citado por NOGUEIRA, Mariana Brasil. A Famlia: Conceito e Evoluo Histrica e

    sua Importncia. Disponvel em: . Acesso em: 12 maio 2013.

    13 LESSA, Samanta. A ausncia paterna e materna: um estudo sobre as repercusses em crianas que freqentam creches e pr-escolas.1998. Monografia

    (Graduao em pedagogia habilitao em Magistrio do pr-escolar)-Faculdade de Educao, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1998.

    14 BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF: Senado Federal, 1988. Disponvel em:

    Acesso em: 18 maio 2013.

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    Entre os Cdigos Civis de 1916 e 2002, alm da natural evoluo dos costumes que

    determinaram o fim da indissolubilidade do casamento e a extenso do poder familiar

    mulher, existe um marco histrico temporal que a carta Magna de 1988 quando se

    estuda o Direito de Famlia Brasileiro/ptrio no Brasil.15

    Vale pontuar que, na rea do direito de famlia, os dispositivos constitucionais

    apresentam uma verdadeira ruptura com o modelo de famlia presente at ento no direito

    brasileiro. No Brasil de 1916, a famlia hierarquizada e patrimonializada se constitua

    legitimamente pelo casamento que assegurava a sua proteo e continuidade, incluisive

    no que dizia respeito transmisso dos bens.

    Nos dias atuais, o direito de famlia no Brasil atravessa um perodo de

    efervescncia. Deixa a famlia de ser percebida como mera instituio jurdica para

    assumir feio de instrumento para a promoo da personalidade humana, mais

    contempornea e afinada com o tom constitucional da dignidade da pessoa humana.16

    No enfoque da transformao do instituto famlia, Koerner17 enfatiza:

    Podemos analisar as transformaes na famlia no s como um desinvestimento da ordem poltica, pela regulao jurdica e disciplina das relaes familiares, mas tambm como um revestimento, isto , uma outra maneira pela qual a famlia articula-se na ordem poltica e social.

    1.1.2 A importncia da convivncia familiar como direito fundamental

    A convivncia familiar encontra-se garantida como dever da famlia, da sociedade e

    do Estado e est prevista no artigo 227 da Constituio Federal,18 e pelo Estatuto da

    Criana e do Adolescente em seu artigo 19, ratificando o compromisso do Brasil com a

    Doutrina da Proteo Integral, assegurando infncia brasileira a condio de sujeitos de

    direitos e de prioridade absoluta.19

    O 8 do artigo 226 da CF tambm determina que o Estado deve dar assistncia

    aos membros da famlia e impedir a violncia dentro dela. O artigo 229 diz que os pais

    15 DE CASTRO. Carlos Alberto Digenes. A evoluo da famlia e seus direitos: Disponvel em: Acesso em: 13 maio 2013.

    16 DE CASTRO, Carlos Alberto Digenes. A evoluo da famlia e seus direitos: Disponvel em: Acesso em: 13 maio. 2013.

    17 KOERNER, Andrei. Posies doutrinrias sobre o direito de famlia no Brasil ps-1988. Uma anlise poltica. In: Segredo de famlia. Organizado por Lia Fukui. So

    Paulo: Annablumi Nemge/USP Fapesp, 2002. p. 82.

    18 BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF: Senado Federal, 1988. Disponvel em:

    . Acesso: 18 maio 2013.

    19 BRASIL. Estatuto da criana e do adolescente: Lei federal n 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002. Disponvel em:

    Acesso em: 18 maio 2013.

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    tm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores tm o dever

    de ajudar e amparar os pais na velhice, carncia ou enfermidade.20

    No entendimento de Mousinho21, a famlia tem duas grandes funes: a de

    assegurar a continuidade da espcie e a de articular a individuao e a socializao. Quer

    isto dizer que a famlia tem de ser capaz de equilibrar cada pessoa do seu ncleo de

    maneira a estar bem consigo prpria e com os outros.

    Nas famlias disfuncionais, as relaes familiares e a comunicao interpessoal vo

    se tornando cada vez mais complicadas. Os papis no so bem definidos, no se

    discutem os problemas, a comunicao se faz mais confusa e indireta, de modo que

    mais fcil encobrir e justificar a conduta do dependente do que discuti-la. Esta dificuldade

    (disfuno) vai se convertendo em estilo de vida familiar e produzindo, em muitos casos, o

    isolamento da famlia dos contatos sociais cotidianos.22

    Uma famlia disfuncional aquela que responde s exigncias internas e externas

    de mudana, padronizando seu funcionamento. Portanto, sempre que se fala em famlia

    disfuncional est se falando de doenas na famlia.

    A disfuno familiar e suas repercusses na formao de sintomas em crianas e

    adolescentes um assunto muito amplo e complexo. Quando se fala em disfunes

    familiares, refere-se a inmeros fatores atuantes no contexto familiar e ambiental.

    Com relao ao descrito acima, Soifer23, aponta algumas configuraes familiares

    que podem desencadear o surgimento de sintomas em todos os membros da famlia, tais

    como: uma separao conjugal; morte de um dos cnjuges e de algum familiar mais

    prximos s crianas e jovens; enfermidades na famlia; gestao e adoo indesejada;

    muitas mudanas de residncias; migraes no prprio pas; pais alcoolistas; usurios de

    droga; mes com depresso ps-parto, entre outras.

    1.1.3 A importncia da famlia no desenvolvimento emocional da criana e do adolescente

    A famlia corresponde a uma instituio que exerce uma influncia significativa

    durante todo o processo de desenvolvimento do indivduo.

    20 BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF: Senado Federal, 1988. Disponvel em:

    . Acesso: 18 maio 2013.

    21 MOUSINHO, Joo Csar de Queiroz. Disfuno Familiar. Disponvel em: Acesso em: 13 maio 2013.

    22 DISFUNO FAMILIAR. Disponvel em: Acesso em: 13 maio 2013.

    23 SOIFER, Raquel. Psicodinamismos da criana com a famlia: terapia familiar com tcnica de jogo. Petrpolis: Vozes, 1989.

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    Crianas que so atendidas na clnica apresentam conflitos e problemas de

    desenvolvimento escolar em funo do funcionamento psquico e emocional dos pais. "As

    ansiedades e as expectativas dos adultos interferem na vida das crianas.24

    Para Bandeira et al.25

    [...] uma criana considerada em situao de risco quando seu desenvolvimento no ocorre de acordo com o esperado para sua faixa etria de acordo com os parmetros de sua cultura. Podendo este ser de aspecto fsico (doenas genticas ou adquiridas, prematuridade, problemas de nutrio, entre outros), social (exposio ambiente violento, drogas) ou psicolgico (efeitos de abuso, negligncia ou explorao).

    O mbito familiar o primeiro ambiente socializador de todo indivduo. nele que o

    indivduo passa a exercer papel fundamental no decorrer de sua trajetria26. no contexto

    familiar que experincias vivenciadas quando criana contribuem diretamente para a sua

    formao enquanto adulto.

    Vale enfatizar que no ambiente familiar o indivduo vai passar por uma srie de

    experincias genunas em termos de afeto, dor, medo, raiva e inmeras outras emoes,

    que possibilitaro um aprendizado essencial para a sua atuao futura.27

    Desde o primeiro ano de vida da criana o desenvolvimento emocional tem lugar

    para a evoluo da personalidade e do carter. E h algo na me de um beb que a torna

    qualificada para proteger seu filho nesta fase de vulnerabilidade, e que a faz capaz de

    contribuir positivamente com as claras necessidades da criana. Mas a me s capaz

    de desempenhar este papel sentindo-se segura e amada, em sua relao com o pai da

    criana e com a prpria famlia, e ao sentir-se aceita.28

    Assim, a famlia considerada um ciclo vital do qual trar algumas conseqncias

    e interferncias no aspecto emocional, assim como na construo da identidade da

    criana.

    So inmeras as investigaes sobre as questes do desenvolvimento infantil.

    Verifica-se que h um consenso entre os tericos e tcnicos da psicanlise como

    Winnicott, Spitz, Bowlby, e Melanie Klein, quanto ao fato da funo materna e paterna

    24 DIFICULDADES de comunicao a famlia disfuncional. Disponvel em: . Acesso em: 13 maio 2013.

    25 BANDEIRA, D., KOLLER, S. H., HUTZ, C.; FORSTER, L. Desenvolvimento psico-social e profissionalizao: uma experincia com adolescentes de risco.

    Psicologia: Reflexo e Crtica. Porto Alegre, v. 9, jan., p. 185-187, 1996.

    26 PASSERINI, Jssica; SOZO Magali Helene. A influncia da famlia no desenvolvimento emocional de crianas sob situao de risco: um olhar da terapia

    ocupacional. Gois, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 12 jul. 2012.

    27 PRATTA, E.M.M; SANTOS, M.A. Famlia e adolescncia: a influncia do contexto familiar no desenvolvimento psicolgico de seus membros Psicol. Estud. v.12,

    n.2, Maring, maio/ago. 2007.

    28 WINNICOTT, Donald W. A famlia e o desenvolvimento individual. Traduo Marcelo Brando Cipolla. 2 ed. So Paulo: Martins Fontes, 1993.

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    terem um papel central no desenvolvimento e estruturao do psiquismo da criana e na

    formao da personalidade do adulto.

    Spitz29 e Bowlby30 salientam a importncia dos cuidados maternos para o

    desenvolvimento psicolgico pleno dos filhos.

    Ainda dentro deste contexto, Klein31 aborda a questo do planejamento para a

    estabilidade emocional da criana, enfatizando os cuidados necessrios da me e da

    famlia no desenvolvimento da criana. A me atua como receptculo das angstias e do

    desamparo inicial da criana.32

    Dando seguimento, Bion33 enfatiza a importncia da me com sua capacidade de

    continncia das angstias e das vivncias de desamparo das crianas, cujo aparelho

    psquico em formao no tem capacidade de controlar.

    As funes maternas e paternas so funes em atribuies concretas, as quais

    tm concomitantes funes simblicas importantes na personalidade dos indivduos.

    Para Winnicott,34 especialmente no incio da vida que as mes so

    imprescindveis, pois carregam consigo a tarefa de proteger a continuidade de ser do

    beb.

    O ambiente familiar o responsvel por formar um ser humano que sinta que a

    vida vale a pena ser vivida. Os problemas psquicos seriam, portanto, resultados de falhas

    graves nas etapas iniciais do desenvolvimento.

    Torna-se importante a harmonia do casal no desenvolvimento da criana. A unio

    dos pais e/ou seus cuidadores mantm para a criana um contexto atravs do qual ela

    possa encontrar a si mesmo (seu eu) no mundo, e uma relao entre ela e o mundo.

    Para Baltazar 35, a criana necessita de seu grupo familiar para sobreviver,

    desenvolver todas as etapas de crescimento e adquirir diversas habilidades.

    29 SPITZ, R. O primeiro ano de vida. So Paulo: Martins Fontes, 1970.

    30BOWLBY, John. Cuidados Maternos e sade mental. So Paulo: Martins Fontes, 1981 citado por BALTAZAR, Jos Antnio. Estrutura e dinmica das relaes

    familiares e sua influncia no desenvolvimento infanto juvenil: o que a escola sabe disso?/ 2004. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade do Oeste

    Paulista, So Paulo, 2004. Disponvel em: . Acesso em: 12 jul 2012.

    31 KLEIN, Melanie. A educao de crianas. Rio de Janeiro: Mago, 1973.

    32 KLEIN, Melanie. A educao de crianas. Rio de Janeiro: Mago, 1973.

    33 BION, W. R. A theory of thinking. In: Second Thoughts: selected papers on psycho-analysis. London: Jason Aronson, 1993. Cap. 9. P. 110-119. In: BORGES,

    Maria Soares Ferreira. Funo Materna e funo paterna, suas vivncias na atualidade. Dissertao de mestrado em Psicologia - Universidade Federal de

    UIberlndia: Uberlndia, 2005. Disponvel em: http://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/1595/1/FuncaoMaternaPaterna.pdf>. Acesso em: 18 maio 2013.

    34 WINNICOTT, Donald W. Natureza Humana. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1990 citado por ROCHA, Marlene Pereira da. Elementos da Teoria Winnicotiana na

    Constituio da Realidade. 2006. Dissertao (Mestrado em Psicologia Clnica) Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2006. Disponvel em:

    Acesso em:18 maio 2013.

    35 BALTAZAR, Jos Antnio. Estrutura e dinmica das relaes familiares e sua influncia no desenvolvimento infanto juvenil: o que a escola sabe disso?/

    2004. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade do Oeste Paulista UNOESTE, Presidente Prudente Prudente: UNOESTE, So Paulo. Disponvel em:

    . Acesso em: 12 jul 2012.

  • 10

    1.1.4 Situaes de Conflitos em Famlia: Separao, Divrcio, Dissoluo da Famlia

    Embora bastante freqente em nossa jurisprudncia, a questo de separao

    judicial e divrcio ainda gera muitas dvidas, uma vez que so duas coisas distintas.

    Lessa36 pontua:

    Quando pensamos em situaes de conflito na famlia, logo nos vem na mente discusses e brigas entre casais, que inevitavelmente acontecem e que dependendo da natureza dos motivos e uma srie de outras razes, esses desentendimentos podem conduzir o casal ao caminho da separao e

    posteriormente, do divrcio.

    Silva37 chama ateno que os profissionais que operam com o Direito de Famlia

    vem-se muitas vezes diante de situaes difceis e complexas, referentes a situaes

    que envolvem aspectos psicoemocionais em mbito familiar. Uma delas a separao

    conjugal.

    As pesquisam demonstram um crescimento de casais que se separam. Em 2007,

    informa o IBGE,38 para cada quatro casamentos foi registrada uma separao.

    O art. 1.571 do Cdigo Civil39 contempla a separao judicial como causa de

    dissoluo da sociedade conjugal.

    Das consideraes previstas no Cdigo Civil, desprende-se que a separao

    judicial consiste na dissoluo da sociedade conjugal em vida dos cnjuges, decretada e

    homologada pelo juiz, sem extino do vnculo matrimonial.40

    No que tange ao conceito de separao o IBGE41 contempla:

    a dissoluo legal da sociedade conjugal, ou seja, a separao legal do marido e da mulher, desobrigando as partes de certos compromissos, como o dever de vida em comum ou coabitao, mas no permitindo direito de novo casamento civil, religioso e/ou outras clusulas de acordo com a legislao de cada pas. Esta definio vlida tanto para as separaes judiciais como para aquelas ocorridas nos tabelionatos.

    36 LESSA, Samanta. A ausncia paterna e/materna: um estudo sobre as repercusses em crianas que freqentam creches e pr-escolas.1998. Monografia

    (Graduao em pedagogia habilitao em Magistrio do pr-escolar)-Faculdade de Educao, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1998.

    37 SILVA, Denise Maria Perissini. Psicologia jurdica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com direitos nas questes de famlia e infncia. So

    Paulo: Casa do Psiclogo, 2003.

    38 INSTITUTO BRASLEIRO DE ESTATSTICA. Em 2007, para cada quatro casamentos foi registrada uma separao. Disponvel em:

    Acesso em: 14 maio. 2013.

    39 BRASIL. Cdigo Civil (2002). Disponvel em: Acesso em; 18 maio 2013.

    40 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de famlia: Lei n 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

    41 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Conceitos e definies. Disponvel em:

    . Acesso em: 18 MAIO 2013.

  • 11

    Em se tratando de divrcio, quando este ocorre, ou quando sua possibilidade se

    torna real na vida dos casados, uma das mais importantes crises da vida do adulto.

    Dentre os fatores que tm contribudo para a transformao da famlia destaca-se o

    divrcio originando a denominada famlia monoparental.

    Para Lessa,42 o divrcio um recurso social que pe fim a casamentos que no

    deram certo, um ponto crtico para homens e mulheres e, muitas vezes, a ltima

    esperana dos cnjuges para acabar com conflitos entre os dois e dentro da famlia.

    Conforme Carter e McGoldrick:43

    Filhos de pais divorciados fazem parte de uma populao que est se ampliando rapidamente. Alguns psiclogos, assistentes sociais e juzes sustentam a idia de que o divrcio separa marido e mulher e no anula os laos que unem pais e filhos. No entanto, o divrcio provoca mudanas na estrutura familiar bsica e na maneira pela qual cada progenitor se relaciona com os filhos.

    O divrcio a dissoluo do casamento, ou seja, a separao do marido e da

    mulher conferindo s partes o direito de novo casamento civil, religioso e/ou outras

    clusulas de acordo com a legislao de cada pas. A emenda Constitucional nmero 9,

    de 28 de junho de 1977, permitiu a instaurao do divrcio no Brasil e a lei n 6.515/77 o

    regulamentou.44

    Portanto, no Brasil, a Constituio Brasileira45 garante o casamento ao mesmo

    tempo que garante os direitos para sua dissoluo. O divrcio s acontece quando houve

    o casamento de fato, ou seja, no civil. a forma legal de anular o casamento, segundo

    Art. 226 da CF.

    No Brasil ocorre tanto a separao como o divrcio. A separao no acontece

    legalmente, e sim quando as pessoas deixam de se relacionar maritalmente.

    A separao no precisa ser feita de acordo com as leis. Basta que o casal no

    compartilhe o mesmo lar e exista a separao de corpos.

    42 LESSA, Samanta. A ausncia paterna e

    materna: um estudo sobre as repercusses em crianas que freqentam creches e pr-escolas.1998. Monografia

    (Graduao em pedagogia)-Faculdade de Educao, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1998.

    43CARTER, B; McGOLDRICK, M. As mudanas no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre : Artmed, 2008. 510 p. Porto

    Alegre: Artes Mdicas, 2001.

    44 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Registro Civil 2010: Nmero de divrcios o maior desde 1984. Disponvel em:

    Acesso em; 14 maio 2013.

    45 BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF: Senado Federal, 1988. Disponvel em:

    . Acesso: 18 maio 2013.

  • 12

    1.1.4.1 Os Efeitos da Separao/Divrcio sobre os Filhos

    Deve-se considerar que o bem-estar dos filhos depende do bem-estar dos pais e

    que a participao destes no desenvolvimento emocional daqueles inevitvel.

    Circunstncias levianas decorrentes da ruptura conjugal que deflagram prejuzos

    emocionais aos filhos devem ser consideradas sob o ponto de vista jurdico e psicolgico,

    bem como a presena do Estado.

    Nesse contexto, Winnicott 46 demonstra a relevncia que o convvio familiar possui

    sob o prisma psicolgico de cada indivduo, em especial para seu desenvolvimento

    emocional, com a seguinte percepo:

    A famlia algo que pede por um estudo mais detalhado. Como psicanalista, estudando detalhadamente o desenvolvimento emocional, aprendi que cabe ao indivduo empreender a longa jornada que leva do estado de indistino com a me ao estado de ser um indivduo separado, relacionado me, e ao pai e me enquanto conjunto. Da o caminho segue pelo territrio conhecido como famlia, que tem no pai e na me suas principais caractersticas estruturais. A famlia tem seu prprio crescimento, e a pequena criana experimenta mudanas que advm da gradual expanso e das tribulaes familiares.

    Tanto no mbito clnico quanto no forense, estudos demonstram que os conflitos

    vividos pelos pais antes e durante o processo de separao causam problemas de

    ajustamento nos filhos, sendo que o relacionamento dos pais no perodo ps-divrcio

    constitui o fator mais crtico no funcionamento da famlia.47

    A separao de um casal constitui um momento de crise importante na vida da

    pessoa, tornado-se muito difcil e doloroso at mesmo para a prpria pessoa que toma a

    deciso. Em geral, ocorre uma reao de luto pelo fim da unio, por pior que esta

    estivesse antes da separao.48 Mas pode tornar-se pior para aqueles que tm filhos.

    Embora a separao seja um processo de relao a dois, bem certo que, numa

    grande maioria de casos, a deciso pertena apenas a um.

    Granato49 e Lessa50 chamam a ateno para o fato que a separao de um casal,

    quando mal-conduzida, pode acarretar para a vida da criana vria mudanas

    46 WINNICOTT, D. W. A famlia e o desenvolvimento individual. Traduo de Marcelo Brando Cipolla. So Paulo: Martins Fontes, 1993. p 59-60.

    47 SCHABBEL, Corinna. Relaes familiares na separao conjugal: contribuies da mediao. Psicol. teor. prat., So Paulo, v. 7, n. 1, jun. 2005 . Disponvel em

    acessos em: 19 maio 2013.

    48 DIVRCIO e separaes conjugais. Disponvel em: Acesso em: 13 jul. 2013.

    49 GRANATO, Rita Maria B. Separao dos pais e as possveis conseqncias nas crianas. Disponvel em:

    Acesso em: 15 maio. 2013.

  • 13

    significativas que, com certeza, exigem tempo para a criana se adaptar e aprender a

    conviver com as novas situaes em sua vida, bem como pode desagregar toda a famlia

    e extinguir relacionamentos futuros.

    A maioria das pessoas relata sentimentos de depresso e angstia intensa,

    relacionada a dvidas e mudanas constantes no humor na poca da separao (s

    vezes alegre, eufrico, s vezes triste, outras irritado).

    O enfoque dado pelos terapeutas que atendiam casais em processo de separao

    era o de levar em conta a problemtica dos cnjuges em questo. Mas atualmente muitos

    estudos e pesquisas tm tido a preocupao de demonstrar os efeitos da separao

    desses casais nos filhos.51

    de conhecimento que quando os pais se separam a criana ou adolescente

    enfrenta o medo e as conseqncias negativas de um lar desfeito. Percebe-se que esses

    efeitos so prejudiciais e duradouros em ambos. Podem ser expressos atravs da

    mudana de comportamento que vai desde o isolamento ou choro, aparentemente sem

    motivo, at a rebeldia e agressividade.52

    H crianas que podem ainda no demonstrar seus sentimentos levando os pais a

    crer que esto bem, subestimando a situao.

    As pessoas podem atribuir incontestveis razes objetivas e prticas para a

    separao. Mas seja ela qual for, a criana tem total direito de estar ciente do que est

    acontecendo na relao de seus pais, uma vez que elas fazem parte deste contexto e

    sero diretamente atingidas com qualquer deciso que venha a ser tomada, afirma

    Facchetti.53

    A famlia experimentou mudanas significativas, envolvendo as formas de

    constituio, dissoluo e reconstituio.

    Bronfenbrenner54 comenta que quando os pais se divorciam pode haver prejuzo na

    relao entre pais e filhos inibindo a capacidade dos mesmos para desempenhar com

    competncia suas funes de cuidado. O autor sugere que o divrcio provoca um

    50 LESSA, Samanta. A ausncia paterna e

    materna: um estudo sobre as repercusses em crianas que freqentam creches e pr-escolas. Campinas, SP: (s.n.)

    1998. Monografia (graduao em pedagogia habilitao em Magistrio do pr-escolar ) da Faculdade de Educao da Universidade Estadual de Campinas.

    51 GRANATO, Rita Maria B. Separao dos pais e as possveis conseqncias nas crianas. Disponvel em:

    Acesso em: 15 maio. 2013.

    52 GRANATO, Rita Maria B. Separao dos pais e as possveis conseqncias nas crianas. Disponvel em:

    Acesso em: 15 maio.. 2013.

    53 FACHETTI, Fernanda Forzza; GUIMARES, Wania Arajo. Stress em Crianas no Processo de Separao dos Pais Sob o Enfoque da Gestalt Terapia.

    Belm. 2002.68 f Monografia (Curso de Psicologia) - Curso de Psicologia do Centro de Cincias Biolgicas e da Sade, Universidade da Amaznia, Belm, 2002.

    54 BRONFENBRENNER, Urie. Ecology of the family as a context for human development: Research perspectives. IDevelopmental Psychology, Vol 22(6), nov

    1986, 723-742. Disponvel em: Acesso em: 15 maio 2013.

  • 14

    aumento da intensidade dos sentimentos negativos afetando a relao afetiva. Tambm

    comenta que a reciprocidade da relao diminui e o equilbrio de poder torna-se difcil

    porque os filhos no obedecem aos pais.55

    Kaslow56 aponta esses acontecimentos como um fenmeno social dramtico que

    afeta milhes de pessoas em todo o mundo.

    Schabbel,57 ressalta que a vulnerabilidade psicolgica de crianas e adolescentes,

    ao conviver com o processo de separao conjugal, foi muito pesquisada em 1978 por

    Bloom et al, em 1991 por Wallerstein, em 1993, por Gilligan, e por Emery em 1994.

    Nunes-Costa e al., 58 baseados na literatura, mencionam os principais efeitos

    produzidos nas crianas separao dos pais:

    menor motivao e rendimento escolar em relao a crianas de famlias intactas

    ;

    maior reatividade psicofisiolgica, comportamental, cognitiva e emocional;

    efeitos da cronicidade das respostas de estresse na sade e, sendo a experincia de separao potencialmente fonte de estressores agudos e crnicos, importa compreender as implicaes desse acontecimento na sade e o seu papel no aumento dos sintomas psicopatolgicos em crianas filhas de pais separados, quer a curto ou a longo prazo;

    sistema imunolgico exibe sinais de diminuio de competncia atravs da relao entre Sistema Nervoso Central e sistema imune, seja via neuroendcrina, seja via projees nervosas simpticas e parassimpticas, decorrente da enervao dos tecidos linfticos.[...]

    .

    Contudo, como escreveu Wallerstein,59 em "Filhos do Divrcio."

    Quando os pais decidem pela separao aps pensar bem e considerar cuidadosamente as alternativas, quando previram as conseqncias psicolgicas, sociais e econmicas para todos os envolvidos, quando acertaram manter um bom relacionamento entre pais e filhos, ento provvel que as crianas no venham a sofrer interferncia no desenvolvimento ou desgaste psicolgico duradouro. Por outro lado, se o divrcio for realizado de modo a humilhar ou enraivecer um dos parceiros, se o ressentimento e a infelicidade dominarem o relacionamento ps-divrcio, ou se as crianas forem mal amparadas ou informadas, se foram usadas como aliadas, alvo de disputa ou vistas como extenses dos adultos, se o relacionamento da criana com um ou ambos os pais for empobrecido e perturbado e se a criana se sentir rejeitada, o desfecho mais

    55 ALEXANDRE, Diuvani Tomazoni; VIEIRA, Mauro Lus. A influncia da guarda exclusiva e compartilhada no relacionamento entre pais e filhos. Psicol. pesq., Juiz

    de Fora, v. 3, n. 2, 2009 . Disponvel em .Acesso em: 15 maio. 2013.

    56 KASLOW, Florence W. As Dinmicas do Divrcio: uma Perspectiva de Ciclo Vital. Ed Livro Pleno, 1995.

    57 SCHABBEL, Corinna. Relaes familiares na separao conjugal: contribuies da mediao. Psicol. teor. prat., So Paulo, v. 7, n. 1, jun. 2005 . Disponvel em

    . Acesso em: 15 maio. 2013

    58 NUNES-COSTA, Rui A.; LAMELA, Diogo J. P. V.; FIGUEIREDO, Brbara F. C.. Adaptao psicossocial e sade fsica em crianas de pais separados. J. Pediatr.,

    Porto Alegre, v. 85, n. 5, out. 2009 . Disponvel em: . Acesso

    em: 16 maio. 2013.

    59 WALLERESTEIN, Judith. Os filhos do divrcio . Disponvel em: . Acesso em: 15 maio.

    2013.

  • 15

    provvel para as crianas ser a interferncia no desenvolvimento, a depresso ou ambos.

    1.1.4.2 A Guarda dos Filhos

    Uma preocupao freqente aps a separao como ficam as crianas?

    O que se presencia nas varas da Famlia das Sucesses so os casos que

    envolvem separao com disputa de guarda de filhos.60 Este assunto seguramente um

    dos aspectos mais importantes em relao aos efeitos da separao litigiosa.

    Considerando que uma separao conjugal no , para muitos, apenas um fato

    simples de ser solucionado pelo judicirio, h de se fomentar que uma famlia, nessa

    situao, necessite de todo auxlio possvel do Estado, quais sejam no aspecto social e

    psicolgico, alm do jurdico.

    Vemos que a Justia tem tratado a questo dos filhos na separao de casais

    baseando-se, em geral, em preconceitos e teorias ultrapassadas de uma psicologia

    antiga, no levando em conta as novas descobertas das cincias psi e no

    considerando a evoluo da mulher e do homem nos ltimos anos.61

    Parente62 chama ateno dizendo:

    Os advogados e juzes quase sempre tratam a questo unicamente como uma deciso sobre os direitos da me e do pai sobre o filho. Esquecem de que esto tratando de um direito certamente ainda mais importante, o direito essencial dos filhos de terem seus pais na medida dos seus desejos e das suas necessidades emocionais e afetivas.

    Do ponto de vista da criana, preciso levar em conta que a separao um

    projeto dos pais. Muitas crianas conseguem ser razoavelmente felizes e sentirem-se

    bem cuidadas em famlias em que um ou ambos os cnjuges sentem-se infelizes.

    Poucas crianas demonstram sentirem-se aliviadas com a deciso do divrcio.

    Processos de divrcio, nos casos em que h menores envolvidos, podem levar a

    questes que vo alm de separao como: modificao da guarda de menores,

    regulamentao de visitas, busca e apreenso cautelar, casos de tutela, e guarda de

    avs.

    60 SILVA, Denise Maria Perissini. Psicologia jurdica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com direitos nas questes de famlia e infncia. So

    Paulo: Casa do Psiclogo, 2003.

    61 CUNHA. Liliane Teresinha. Possibilidade de Perda do Poder Familiar em Decorrncia da Alienao Parental. Tubaro, 2010. Monografia (Graduao)-

    Universidade do Sul de Santa Catarina. Tubaro, 2010.

    62 PARENTE, Jos Inacio (Psico-Social) . Os Filhos na Separao dos Pais. Disponvel em: . Acesso em: 15 maio 2013.

  • 16

    Nas questes para se definir qual dos ex-cnjuges deter a guarda dos filhos pode-

    se ter, em casos mais graves, disputas judiciais pela guarda em que aquele genitor que

    no detm a guarda pode requer-la para si denegrindo a imagem do outro.63

    Muitas vezes, a separao traz obstculos constituio da criana que passa a

    existir como um objeto de disputa dos pais. A criana na maioria das situaes se

    encontra dividida sem saber de que lado fica, e esta quase nunca ouvida pelos

    interessados na guarda.

    Alguns psicanalistas entendem que o interesse maior da criana envolvida no

    processo de separao dos pais que a mesma se torne sujeito desejante, deixando de

    assumir o desejo do outro para assumir o seu prprio desejo.64

    Numa separao traumtica, onde os pais usam as crianas um contra o outro,

    pode haver distrbios emocionais que influenciaro no desenvolvimento da mesma. O

    primeiro sintoma de que ela no est bem emocionalmente se percebe na escola.

    Algumas crianas choram, outras se tornam mais agressivas e brigam com os outros

    coleguinhas.

    Verifica-se que poucos casais conseguem lidar com a separao de forma

    saudvel e, quando isso no acontece, os filhos se tornam as principais vtimas da falta

    de maturidade dos pais.

    Wagner65 enfatiza que quando os pais so capazes de preservar a relao com

    seus filhos, mesmo depois da separao, a famlia tem grandes chances de reorganizar-

    se de forma mais exitosa.

    Ao longo das dcadas, tanto a sociedade como os institutos da guarda vm

    passando por inmeras modificaes.

    A matria que trata da guarda e proteo pessoa dos filhos era regulada pela Lei

    do Divrcio, deixando-o de ser pelo cdigo Civil de 1916.

    A Lei do Divrcio (Lei n 6.515/77) 66 revogou aqueles artigos do Cdigo Civil e

    editou regras sobre a proteo pessoa dos filhos (arts. 9 e 10).

    A lei cuida da guarda dos filhos em oportunidades distintas. Quando do

    reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento (CC 1.611 e 1.612), no d a

    63 SILVA, Denise Maria Perissini. Psicologia jurdica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com direitos nas questes de famlia e infncia. So

    Paulo: Casa do Psiclogo, 2003.

    64 VIEIRA, Emanuelle. Psicanlise e Direito - Separao Judicial e Guarda de Filhos Acesso em: 19 maio 2013.

    65 WAGNER. Adriana. Possibilidade e potencialidades da famlia: A construo de novos arranjos a partir do recasamento. In: Famlia em cena: tramas, dramas e

    transformaes. Adriana Wagner (coord.) Petrpolis: Vozes, 2002. p.35.

    66 BRASIL. Cdigo Civil. (2002) Disponvel em: Acesso em: 18 maio 2013.

  • 17

    mnima ateno para a doutrina da proteo integral consagrada pela Constituio, nem

    para tudo que o ECA dita a respeito da tutela do melhor interesse de criana e

    adolescente.67

    Por certo, a separao dissolve a sociedade conjugal, porm no a parental entre

    pais e filhos, cujos laos de afeto, direitos e deveres recprocos subsistem, apenas

    modificados quando necessrio para atender-se separao dos cnjuges.68

    Guimares e Guimares69 tratam da guarda dizendo que ao decidir questes de

    guarda, faz-se necessrio reconhecer essas novas configuraes vinculares, porm sem

    perder de vista uma questo tica que se impe sempre: privilegiar o maior interesse da

    criana.

    Ainda as autoras70:

    No entanto, a lei no define o que seja superior interesse da criana, deixando ao arbtrio do magistrado investigar se esto sendo observados tais interesses, que esto acima dos interesses dos adultos, por mais legtimos que sejam. Na maioria das vezes, os genitores esquecem esse superior interesse quando acontece a dissoluo do casamento ou da unio estvel e se estabelecem disputas judiciais de guarda.

    Vale ressaltar que, mesmo que a definio da guarda e da visitao esteja a cargo

    dos pais, o que for acordado depende da chancela judicial, o que s ocorre aps ouvida

    do Ministrio Pblico.

    Gomes71 pontua que aquele dos genitores a quem atribudo a guarda, tem-na

    no apenas a material, mas tambm a jurdica. A primeira consiste em ter o filho em

    companhia, vivendo com ele sob o mesmo teto, em exerccio de posse e vigilncia. A

    segunda implica o direito de reger a pessoa dos filhos, dirigindo-lhe a educao e

    decidindo todas as questes do interesse superior dele, cabendo ao outro o direito de

    fiscalizar as deliberaes tomadas pelo genitor a quem a guarda foi atribuda.

    Assim, a guarda jurdica exercida distncia pelo genitor no-guardio. A guarda

    material, ou fsica, prevista no artigo 33, 1, do Estatuto da Criana e do Adolescente

    realiza-se pela proximidade diria do genitor que conviva com o filho, monoparentalmente,

    67 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famlias. 8 ed. Ver. E atual. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p.442.

    68 COSTA LEVY, Laura Affonso da. O estudo sobre a guarda compartilhada. Disponvel em: . Acesso em: 19 maio 2013.

    69 GUIMARAES, Ana Cristina Silveira e GUIMARAES. Marilene Silveira. Guarda - um olhar interdisciplinar sobre casos judiciais complexos. Disponvel em:

    Acesso em: 16 maio 2013.

    70 GUIMARAES, Ana Cristina Silveira e GUIMARAES. Marilene Silveira. Guarda - um olhar interdisciplinar sobre casos judiciais complexos. Disponvel em:

    Acesso em: 16 maio 2013.

    71 GOMES, Orlando. Direito de famlia. 14. ed. Rev. atual. Rio de Janeiro:Forense, 2002.

  • 18

    encerrando a idia de posse ou cargo. Em verdade, o que obtenha a guarda material

    exercer o poder familiar em toda a sua extenso.72

    1.2 CONSIDERAES GERAIS E JURDICAS SOBRE A SNDROME DE

    ALIENAO PARENTAL

    De acordo com Pinheiro 73,

    Desde o advento da lei do divrcio e as posteriores alteraes, as famlias chegaram s portas dos tribunais com maior frequncia, quer para legalizar as situaes de convivncia, que de fato existiam na clandestinidade, quer para assegurar direitos que eram postergados ou definitivamente negados. A partir de ento, os tribunais se tornaram arena, palco, onde se digladiam casais que antes se amavam e agora se detestam. Nesse entrechoque de sentimentos e interesses esto os filhos, com seus direitos claramente preteridos. Nem sempre a separao um processo fcil, e em famlias muito desestruturadas pode ocorrer dos filhos serem usados para vingar-se do(a) ex no processo de separao, o que constitui a Sndrome de Alienao Parental. (grifo nosso).

    1.2.1 Nomeclatura

    A Sndrome de Alienao Parental tem outros designativos como "Sndrome dos

    rfos de Pais Vivos", "Implantao de Falsas Memrias", "Sndrome de Medea" e

    "Sndrome da Me Maldosa Associada ao Divrcio".74

    1.2 1Conceito de Sndrome de Alienao Parental (SAP)

    A Sndrome de Alienao Parental (SAP), tambm chamada de falsas memrias ou

    abuso do poder parental, reconhecida como forma de abuso emocional que pode

    causar criana ou ao adolescente distrbios emocionais.

    De acordo com Rosa 75 a sndrome tem acometido crianas e adolescentes cujos

    pais tenham se envolvido em forte litgio decorrente da necessidade de interveno

    72 COSTA LEVY, Laura Affonso da. O estudo sobre a guarda compartilhada. Disponvel em: Acesso em: 19 maio 2013.

    73 PINHEIRO, Vera Lcia Andersen. (Editorial). In: Ministrio Pblico do Estado do Par - Procuradoria Geral de Justia. Revista do Cao Cvel, Belm, ano 11, n.5, p.

    1-195. jan-/dez. 2009. Disponvel em: Acesso em: 21 maio 2013.

    74 PELEJA JNIOR, Antnio Veloso. Sndrome da alienao parental. Aspectos materiais e processuais. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 27-30, 22 dez. 2010 .

    Disponvel em: . Acesso em: 19 out. 2012

    75 ROSA, Felipe Niemezewski. A sndrome de alienao parental nos casos de separaes judiciais no direito civil brasileiro. Monografia. Curso de Direito.

    PUCRS, Porto Alegre, 2008. Disponvel em . Acesso em: 16 maio 2013.

  • 19

    judicial para estabelecer o sistema de atribuio de sua guarda, com os correlatos direitos

    e deveres da decorrentes.

    A situao bastante comum no cotidiano dos casais que se separam: um deles,

    magoado com o fim de casamento e com a conduta do ex-cnjuge, procura afast-lo da

    vida do filho denegrindo a sua imagem perante este e prejudicando o direito de visitas.76

    A Sndrome de Alienao Parental um tema bastante complexo e polmico que

    vem despertando ateno de vrios profissionais tanto da rea jurdica como da rea da

    sade, pois uma prtica que vem sendo denunciada de forma recorrente. um tema

    tambm de interesse pblico e que se encontra atualmente em evidncia na mdia.

    No entendimento de Dias,77

    A origem da sndrome est ligada intensificao das estruturas de convivncia familiar, o que fez surgir, em consequncia, maior aproximao dos pais com os filhos, quando da separao dos genitores passou a haver entre eles uma disputa pela guarda dos filhos, algo impensvel at algum tempo atrs.

    preciso lembrar que todo cuidado e proteo com o direito vida do ser humano

    esto presentes desde a concepo e deve ser respeitado.

    Previsto em nossa Constituio Brasileira (artigo 5, caput) o feto protegido, criando direitos e garantias, que vo passando pela criminalizao do aborto (salvo o artigo 128, I e II do Cdigo Penal) e chegando ao direito sucessrio (artigo 1.829 Cdigo Civil), o qual, ainda no ventre materno, confere a

    possibilidade de a criana ser herdeira de um patrimnio. 78

    No sentido da expresso de proteo, o autor Xax79 pontua:

    No seria por outra razo que o artigo 227 caput tambm da nossa Constituio dispe sobre o tema, deixando claro ser obrigao da famlia proporcionar criana, com absoluta prioridade, o direito convivncia familiar e proteg-la de

    toda e qualquer forma de violncia, seja ela fsica ou no.

    Consagrada no texto constitucional, sobressai ao do Estado propiciando as

    polticas pblicas necessrias para que o seu desenvolvimento se faa de forma plena.

    76 GONALVES, Roberto Carlos. Direito de Famlia. 15 ed. So Paulo: Saraiva, 2011. Coleo Sinopses Jurdicas v. 2. p. 88.

    77 DIAS, Maria Berenice. Sndrome da Alienao Parental, o que isso? Ministrio Pblico do Estado do Par - Procuradoria Geral de Justia. Revista do Cao

    Cvel, Belm, ano 11, n.5, jan-/dez. 2009. Disponvel em: Acesso em: 21 maio 2013.

    78 A Conveno Americana sobre Direitos do Homem, (Pacto de So Jos da Costa Rica). Promulgada no Brasil pelo Decreto n 678/92, , pois, igualmente, lei no

    Brasil. Dispe o art. 1.2: "Para los efectos de esta Convencin, persona es todo ser humano ". Dispe no art. 4.1: "Toda persona tiene derecho a que se respete su

    vida. Este derecho estar protegido por la ley y, en general, a partir del momento de la concepcin. Nadie puede ser privado de la vida arbitrariamente. Disponvel

    em: http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc26298> Acesso em: 22 maio 2013.

    79 XAX, Igor Nazarovicz. A Sndrome de Alienao Parental e o Poder Judicirio. Monografia.Curso de Direito. Instituto de Cincias Jurdicas, Universidade

    Paulista. So Paulo, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 16 maio 2013.

  • 20

    Registra-se que a ao estatal tem de ser permanente com recursos garantidos no

    oramento pblico para a sua realizao. Sem essa ao contnua e crescente no h

    como garantir os direitos inscritos constitucionalmente e, em decorrncia, a proteo

    integral prevista, com a prioridade requerida, afirma Santos.80

    Ainda a autora 81 refere que:

    A afirmao dos direitos da criana e do adolescente pela comunidade internacional se consolida com a adoo pela ONU, em Assemblia Geral realizada em 20 de novembro de 1989, da Conveno dos Direitos da Criana, ratificada pelo Brasil e pela quase totalidade dos pases hoje existentes no mundo. Surge como conseqncia natural da compreenso pelas Naes Unidas de que devem criana o melhor dos seus esforos.

    Como do nosso conhecimento, o Estado brasileiro reconhece a criana e o

    adolescente como pessoas humanas especiais, colocando-se, assim, ao lado das naes

    que integram a comunidade internacional que afirmam a necessidade de se garantir a

    toda criana proteo integral para o seu pleno desenvolvimento.

    Apesar da criana e adolescente serem assegurados pela legislao brasileira82

    ainda presencia-se a forma de que as crianas e adolescentes so maltratados.

    Pesquisas ainda apontam um grande nmero de violncias sofridas por crianas e

    adolescentes. Em 2011, foram registrados 14.625 casos de violncia domstica, sexual,

    fsica e outras agresses83 contra menores de 10 anos, o que corresponde a 35% das

    ocorrncias nesta rea, enquanto a negligncia e o abandono responderam por 36% dos

    registros.84 E dentre as diversas formas de violncias sofridas pelas crianas e jovens no

    Brasil, nesta ltima forma os pais costumam ser os responsveis. Como podemos

    constatar, a exemplo, a Sndrome de Alienao Parental.

    Conforme o entendimento de Camargo85, "a sndrome da alienao parental deve

    ser considerada como um ato de violncia praticado contra a criana, e que se no for

    estancado a tempo, trar conseqncias irremediveis. (grifo nosso)

    80 SANTOS, Eliane Araque dos. Criana e adolescente sujeitos de direitos. Disponvel em:

    . Acesso em: 16 maio. 2013.

    81 SANTOS, Eliane Araque dos. Criana e adolescente sujeitos de direitos. Disponvel em:

    . Acesso em: 20 maio 2013.

    82 Preconizado no o Estatuto da Criana e do Adolescente atribui em seus artigos protees criana, podendo ser demonstrado nos seguintes artigos 16, 17 e 18.

    83 Segundo, Gauer a agresso [...] esto relacionadas violncia em nossa sociedade.(GAUER, C. Gabriel. Fatores Biolgicos Associados conduta Agressiva,

    Curitiba: Juru, 2001. p. 12.

    84 LABOISSIRE, Paula. Abuso sexual o segundo maior tipo de violncia sofrida por crianas, indica pesquisa. Disponvel em:

    . Acesso

    em: 20 maio 2013.

    85 CAMARGO, Joeci. Quando a alienao parental comea antes da separao. Disponvel em: .Acesso em: 19 out. 2013.

  • 21

    Quando se trata de violncia infantil, Theophilo86 menciona que era comum na

    sociedade o abandono, a negligncia, o sacrifcio e a violncia contra crianas, chegando

    ao filicdio, declarado ou velado, que levava as taxas de mortalidade infantil na Frana do

    sculo XVIII a nveis absurdos e inacreditveis.

    Na Frana naquela poca, o mito do amor materno no existia. Raramente uma

    criana era amamentada ao seio da me e ento com grande frequncia faleciam.

    Mohamed87 refere que h at poucos anos, as crianas eram consideradas seres

    de menor importncia. No sculo XIX era comum a roda dos expostos nos asilos - no

    excelente Abrigo Romo Duarte, no Rio, ainda existe uma pea dessas em exposio -, o

    abandono dos filhos era uma rotina aceita. Mas foi a partir do final desse sculo que a

    criana, at ento estorvo intil - porque nada produzia -, passou a ser valorizada, sob a

    tica de que deveria sobreviver para ser tornar adulto produtivo.

    Atualmente, os pesquisadores esto comeando a estudar as implicaes da

    Sndrome de Alienao Parental sobre as crianas que so acometidas pelos sintomas.

    Baker88 em seu livro: Adult children of parental alienation syndrome: breaking the ties that

    bind, descreve o impacto a longo prazo do SAP que pode incluir depresso, divrcio,

    abuso de substncias, problemas de confiana e alienao de seus prprios filhos.

    Em 2010, o Senador Paulo Paim faz uma alerta para o caso e ressalta: 10 milhes

    de criana so atingidas pela alienao parental!

    Ainda sobre o assunto, Paim acrescenta:89

    Para alguns o tema pode ser at mesmo desconhecido, mas ele de grande importncia. Principalmente se pensarmos que as vtimas da alienao parental tero problemas no futuro. Ou seja, um ciclo vicioso que precisamos quebrar e com urgncia. E isso cabe a ns, j que as crianas e adolescentes, enquanto vtimas ficam desamparadas. (grifo nosso)

    Na avaliao de Paim90 o tema precisa ser divulgado. E ainda, o parlamentar

    pontua:

    Nossa idia no passar para a Justia a responsabilidade de educar. O que costumo dizer que a lei um dos meios que podemos utilizar para chamar

    86THEOPHILO, Roque. Violncia psico fsica na criana e no adolescente. Disponvel em: http://www.psicologia.org.br/internacional/ap26.htm. Acesso em; 22 jul

    2012.

    87 MOHAMED, Sria Maria. Por que os pais maltratam os filhos?. Disponvel em: . Acesso em:22/07/2012.

    88 BAKER, Amy J. L. Adult Children of Parental Alienation Syndrome. Disponvel em: Acesso em: 25 jul 2013.

    89 PAIM alerta para problemas da alienao parental. Disponvel em: .Acesso em: 25 jul 2012.

    90 PAIM alerta para problemas da alienao parental. Disponvel em: . Acesso em: 25 jul 2012.

  • 22

    ateno para determinado ponto. A Lei faz com que as pessoas pensem melhor no que esto fazendo. Prova disso so, por exemplo, o Estatuto do Idoso, a Lei Maria da Penha, o Estatuto da Criana e do Adolescente. Hoje estamos pensando diferente sobre esses temas porque l atrs algum detectou o problema e brigou para que ele fosse reconhecido pelo Estado. Ou seja, o Estado tem de ser parceiro das pessoas na soluo desse mal.

    1.2.2 Diferena entre Sndrome de Alienao Parental e Alienao Parental

    A Sndrome de Alienao Parental no se confunde com a mera alienao

    parental, assim destaca Fonseca: 91

    A alienao parental o afastamento do filho de uns dos genitores, provocado pelo outro, via de regra, o titular da custodia. E a sndrome da alienao parental, diz respeito s seqelas emocionais e comportamentais de que vem a padecer a criana vtima daquele alijamento.

    Podemos presenciar na redao do art. 2 da Lei n 12.318/2010, que impe;92

    Considera-se ato de alienao parental a interferncia na formao psicolgica da criana ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avs ou pelos que tenham a criana ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilncia para que repudie genitor ou que cause prejuzo ao estabelecimento ou manuteno de vnculos com este.

    Descrita pela primeira vez em 1976 como alinhamento patolgico, a dinmica

    refere-se a uma situao em que uma criana excessivamente rejeita um pai no privativo

    de liberdade.93

    A Sndrome de Alienao Parental (SAP) uma disfuno que surge primeiro no

    contexto das disputas de guarda. Iniciada a disputa pela guarda da criana, esta

    induzida a afastar-se de quem ama e que tambm a ama. Os ex-companheiros esquecem

    que os interesses da criana que devem ser preservados, mas infelizmente, em muitos

    casos, no isso que acontece, comenta Diniz.94

    Com a inteno de afastar a criana do convvio com o outro genitor, o guardio

    fomenta a Alienao Parental que o incio, propriamente dito, do processo de

    afastamento entre genitor no guardio e o filho.9596

    91 FONSECA, Priscila Maria Pereira Corra da. Sndrome de alienao parental, 2006. Disponvel em:

    Acesso em: 16 maio 2013.

    92 BRASIL. Cdigo Civil. (2002) Disponvel em: Acesso em: 18 maio 2013.

    93 ALIENAO Parental. Disponvel em: .Acesso em: 16 maio 2013.

    94 DINIZ, Maria Helena. Falsas Memrias. Disponvel em: . Acesso em: 16 maio 2013.

    95 DINIZ, Maria Helena. Falsas Memrias. Disponvel em: . Acesso em: 16 maio 2013..

  • 23

    uma situao muito sria na qual os especialistas neste assunto precisam ficar

    em alerta, pois h casos em que os alienantes agravam em demasiado o problema, por

    exemplo, fazendo falsas denncias para prejudicar o outro a quem chamamos de

    alienado.

    Numa pesquisa realizada pela Associao Brasileira Criana Feliz em 2012,97 foi

    apontado que 80% das denncias prestadas nas 13 Varas de Famlia na capital do Rio de

    Janeiro so falsas.

    Para a psicloga do TJ Glcia Barbosa de Mattos Brazil, Na maioria dos casos, a

    me est recm-separada e denuncia o pai para restringir as visitas [...].

    A especialista chama a ateno para:

    A inveno muitas vezes discreta. O adulto denunciante vai convencendo a criana aos poucos de que a agresso realmente aconteceu. Mas, com as tcnicas adequadas, a mentira descoberta. O processo de entrevistas dura cerca de dois meses e envolve de cinco a oito entrevistas.

    Na Vara da Infncia e Adolescncia de So Gonalo, a realidade parecida: cerca

    de 50% dos registros de abuso sexual so forjados, conta o psiclogo Lindomar Dars.98

    Quando a criana muito pequena, tem dificuldade para diferenciar a fantasia da

    realidade. Se repetem que sofreu o abuso, aquilo acaba virando uma verdade para ela

    explica Dars.99

    Essa "verdade" provoca tantos danos psicolgicos vtima quanto um abuso

    sexual verdadeiro, afirmam os especialistas. A criana pode crescer com baixa

    autoestima, ter dificuldades na escola e problemas de relacionamento.

    De acordo com Assumpo:100

    As disputas familiares atravs das falsas acusaes de abuso sexual no devem mais ser admitidas na justia, pois esta vem dando a devida ateno e amparo legal para esse problema, que recente no meio jurdico, mas de grande importncia para a sociedade.

    96 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famlias. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 409.

    97 ASSOCIAO Brasileira Criana Feliz. Disponvel em: . Acesso em: 22 maio

    2013.

    98 ASSOCIAO Brasileira Criana Feliz Disponvel em: . Acesso em: 22 maio

    2013

    99 ASSOCIAO Brasileira Criana Feliz Disponvel em: . Acesso em: 22 maio

    2013

    100 ASSUMPO, Vanessa Christo de. Alienao Parental e as Disputas Familiares Atravs de Falsas Acusaes de Abuso Sexual. Disponvel em:

    Acesso em: 23 maio 2013.

  • 24

    No entendimento de Diniz101 isso gera contradio de sentimentos e destruio do

    vnculo entre ambos. Restando rfo do genitor alienado, acaba identificando-se com o

    genitor doente, passando a aceitar como verdadeiro tudo que lhe informado.

    Com a intensificao desse quadro, surge uma Sndrome, que resulta das tcnicas

    e procedimentos (involuntrios ou no) utilizados pelo guardio para atingir o resultado

    final, qual seja, o afastamento completo entre ambos. Identificando-se com seu guardio e

    acreditando em tudo o que lhe contado, a criana alienada passa ento a rejeitar e

    repelir todo e qualquer tipo de contato com o outro genitor, sem qualquer justificativa.102

    A expresso Sndrome de Alienao Parental foi cunhada por Richard A. Gardner,

    Professor do Departamento de Psiquiatria Infantil da Faculdade de Medicina da

    Universidade de Columbia, em 1985. Descreve a situao em que casais separados, ou

    em processo de separao por desavenas menores ou disputando a guarda dos filhos,

    manipulam e condicionam a criana ou adolescente para romper os laos afetivos com o

    outro genitor, criando sentimentos de ansiedade e temor em relao ao ex-companheiro.

    Define Gardner:103

    A Sndrome de Alienao Parental (SAP) um distrbio da infncia que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custdia de crianas. Sua manifestao preliminar a campanha denegritria contra um dos genitores, uma campanha feita pela prpria criana e que no tenha nenhuma justificao. Resulta da combinao das instrues de um genitor (o que faz a lavagem cerebral, programao, doutrinao) e contribuies da prpria criana para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligncia parentais verdadeiros esto presentes, a animosidade da criana pode ser justificada, e assim a explicao de Sndrome de Alienao Parental para a hostilidade da criana no aplicvel.

    Como esclarece o autor, do ponto de vista psicolgico, esta sndrome uma forma

    de abuso emocional cometida por um dos pais contra a criana.

    E ainda Gardner104 chama a ateno para:

    Os profissionais de sade mental, os advogados do direito de famlia e os juizes geralmente concordam em que temos visto, nos ltimos anos, um transtorno no qual um genitor aliena a criana contra o outro genitor. Esse problema especialmente comum no contexto de disputas de custdia de crianas, onde tal programao permite ao genitor alienante ganhar fora no tribunal para alavancar

    101 DINIZ, Maria Helena. Falsas Memrias. Disponvel em: . Acesso em: 16 maio 2013.

    102 XAX, Igor Nazarovicz. A sndrome de alienao parental e o poder judicirio. Monografia (Graduao em Bacharel em Direito)- Faculdade de Direito da

    Universidade Paulista UNIP, Braslia 2008.

    103 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnstico de Sndrome de Alienao Parental (SAP)? Traduo de Rita Rafaeli. Disponvel em:

    . Acesso em:16 maio 2013.

    104 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnstico de Sndrome de Alienao Parental (SAP)? Traduo de Rita Rafaeli. Disponvel em:

    . Acesso em: 17 mai 2013.

  • 25

    seu pleito. H uma controvrsia significativa, entretanto, a respeito do termo a ser utilizado para esse fenmeno. Em 1985 introduzi o termo Sndrome de Alienao Parental para descrever esse fenmeno.

    Segundo o entendimento de Gardner:105106

    A SAP uma das mais puras sndromes em psiquiatria, em especial de moderada a grave, caso em que a maior parte, se no de todos os sintomas se manifestam. Embora a SAP pode ser uma sndrome, muito cedo para aplicar o rtulo, que s deve ser utilizado aps a aceitao generalizada. Tais crticos no esto familiarizados com a seqncia utilizada em psiquiatria (e medicina em geral) sobre o termo sndrome.

    A Sndrome de Alienao Parental considerada a sndrome como uma condio

    mental em que uma criana, cujos pais esto envolvidos em um conflito de divrcio, torna-

    se fortemente aliada a um dos pais, e rejeita uma relao com o outro progenitor, sem

    justificativa legtima.107 Em seu livro editado em 2010 ele embasa a recomendao para

    a incluso da Sndrome de Alienao Parental no DSM-V e CID 11, manual e cdigo de

    classificao de doenas mentais.108

    Bernet109 e outros que defendem a adio de SAP para a Sears, Roebuck catlogo

    de sade mental quer v-lo reconhecido como um distrbio de sade mental, legtimo, a

    fim de "estimular a cobertura de seguro, estimular mais pesquisas sistemticas, dar

    credibilidade para o responsvel alienao parental no tribunal, e aumentar as chances de

    que as crianas recebam tratamento oportuno. "

    1.2.3 As Conseqncias da Alienao Parental para os Filhos

    105 GARDNER, Richard A. Parental Alienation Syndrome (PAS): Sixteen Years Later. Disponvel em: Acesso em: 17

    maio 2013..

    106 GARDNER, Richard A. Sndrome de Alienao Parental (PAS): Sixteen Years Later. Disponvel em:

    Acesso em: 17 maio 2013.

    107 LITHWICK, Dahlia. Mommy hates daddy, an yuu should too. Disponvel em:

    Acesso em: 22 maio 2013.

    108 LITHWICK, Dahlia. Mommy hates daddy, an yuu should too. Disponvel em:

    Acesso em:17 maio 2013.

    109 BERNET, Wiliam. Parental Alienation DSM 5, and ICD-11. Springfield, lllinois. USA. Charles C. Thomas Publisher, ltd (2010). Disponvel em:

    . Acesso em: 17 maio 2013.

  • 26

    Consumadas a alienao e a desistncia do alienado de estar com os filhos, tem

    lugar a sndrome da alienao parental, sendo certo que as seqelas de tal processo

    patolgico comprometero, definitivamente, o normal desenvolvimento da criana.110

    Como a criana levada a odiar o outro genitor, acaba perdendo um vinculo muito

    forte com uma pessoa na qual importante para a sua vida, com conseqncias para si e

    tambm para o pai/me vitima.111

    De acordo com Podevyn112:

    O vnculo entre a criana e o genitor alienado ser irremediavelmente destrudo. Com efeito, no se pode reconstruir o vnculo entre a criana e o genitor alienado, se houver um hiato de alguns anos A criana levada a odiar e a rejeitar um genitor que a ama e do qual necessita.

    Ainda a autora refere que induzir uma Sndrome de Alienao Parental em uma

    criana uma forma de abuso. Em casos de abusos sexuais ou fsicos, as vtimas

    chegam um dia a superar os traumas e as humilhaes que sofreram. Ao contrrio, um

    abuso emocional ir rapidamente repercutir em conseqncias psicolgicas e pode

    provocar problemas psiquitricos para o resto da vida.

    Os efeitos nas crianas vtimas da Sndrome de Alienao Parental podem ser uma

    depresso crnica, incapacidade de adaptao em ambiente psico-social normal,

    transtornos de identidade e de imagem, desespero, sentimento incontrolvel de culpa,

    sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta de organizao, dupla

    personalidade e s vezes suicdio. Estudos tm mostrado que, quando adultas, as vtimas

    da Alienao tem inclinao ao lcool e s drogas e apresentam outros sintomas de

    profundo mal estar.113

    O sentimento incontrolvel de culpa se deve ao fato de que a criana, quando

    adulta, constata que foi cmplice inconsciente de uma grande injustia ao genitor

    alienado.114 O filho alienado tende a reproduzir a mesma patologia psicolgica que o

    genitor alienador.

    110 DARNALL. Douglas. Symtoms of parental alienation. PsyCare: Parental Alienation Page; 1997. Disponvel em:

  • 27

    1.2.5 A Identificao da Sndrome de Alienao Parental

    O fenmeno que consiste na caracterizao em que um genitor usa seu filho contra

    o outro genitor, em grande parte dos casos refere-se me detentora da guarda do filho

    menor. Trata-se de uma verdadeira tortura psicolgica para a criana, uma vez que se v

    impedida de manter o relacionamento com quem tanto ama e, agravando a situao, com

    o tempo, atravs da programao lenta e reiterada do alienante, tende a se afastar e

    repudiar o alienado sem qualquer motivo plausvel.115116

    Fonseca117 enfatiza:

    Essa alienao pode perdurar anos seguidos, com gravssimas conseqncias de ordem comportamental e psquica, e geralmente s superada quando o filho consegue alcanar certa independncia do genitor guardio, o que lhe permite entrever a irrazoabilidade do distanciamento a que foi induzido.

    A autora entende que tendo em vista o casusmo das situaes que levam

    identificao da sndrome de alienao parental, a melhor forma de reconhec-las

    encontra-se no padro de conduta do genitor alienante, o qual se mostra caracterizado

    quando este, dentre outras atitudes:118

    denigre a imagem da pessoa do outro genitor;

    organiza diversas atividades para o dia de visitas, de modo a torn-las desinteressantes ou mesmo inibi-las;

    no comunica ao outro genitor fatos importantes relacionados vida dos filhos (rendimento escolar, agendamento de consultas mdicas, ocorrncia de doenas, etc.)

    toma decises importantes sobre a vida dos filhos, sem prvia consulta ao outro cnjuge (por exemplo: escolha ou mudana de escola, de pediatra, etc.);

    viaja e deixa os filhos com terceiros sem comunicar o outro genitor;

    apresenta o novo companheiro criana como sendo seu novo pai ou me;

    faz comentrios desairosos sobre presentes ou roupas compradas pelo outro genitor ou mesmo sobre o gnero do lazer que ele oferece ao filho;

    critica a competncia profissional e a situao financeira do ex-cnjuge;

    obriga a criana a optar entre a me ou o pai, ameaando-a das conseqncias, caso a escolha recaia sobre o outro genitor;

    transmite seu desagrado diante da manifestao de contentamento externada pela criana em estar com o outro genitor;

    transforma a criana em espi da vida do ex-cnjuge;

    115 PODEVYN, Franois. Sndrome de alienao parental. Trad. para Portugus: APASE Brasil (08/08/01) Disponvel em: http://www.apase.com.br. Acesso em:

    16 maio 2013.

    116 TOSO, Katarine Vanderlei. Elementos bsicos para a compreenso do conceito de alienao parental. Disponvel em:

    . Acesso em: 16 maio 2013.

    117 FONSECA. Priscila Maria Pereira Corra da. Sndrome de alienao parental. Pediatria (So Paulo) 2006;28(3):162-8.

    118 FONSECA. Priscila Maria Pereira Corra da. Sndrome de alienao parental. Pediatria (So Paulo) 2006;28(3):162-8.

  • 28

    sugere criana que o outro genitor pessoa perigosa;

    emite falsas imputaes de abuso sexual, uso de drogas e lcool;

    d em dobro ou triplo o nmero de presentes que a criana recebe do outro genitor;

    quebra, esconde ou cuida mal dos presentes que o genitor alienado d ao filho;

    ignora em encontros casuais, quando junto com o filho, a presena do outro progenitor, levando a criana a tambm desconhec-la;

    no permite que a criana esteja com o progenitor alienado em ocasies outras que no aquelas prvia e expressamente estipuladas.

    1.2.6 A Lei da Alienao Parental (Lei 12.318/10)

    A lei 12.318/10119, promulgada em 26 de agosto de 2010, dispe sobre a alienao

    parental, fenmeno que hodiernamente tem interferido sobremaneira nas relaes de

    filiao. caracterizada como interferncia na formao psicolgica da criana ou do

    adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avs ou pelos que

    tenham a criana ou o adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilncia para que

    repudie genitor ou para que cause prejuzo ao estabelecimento ou manuteno de

    vnculos com este.

    Ela vem para, assim como a Constituio Federal, o Estatuto da Criana e do

    Adolescente e o Cdigo Civil, proteger a criana e seus Direitos fundamentais,

    preservando dentre vrios direitos o seu convvio com a famlia, e a preservao moral

    desta criana diante de um fato que por si s os atinge, a separao.

    A alienao parental, infelizmente, encontra-se latente na realidade de inmeros

    ncleos familiares brasileiros.120

    A referida lei fortaleceu o direito fundamental convivncia familiar, regulamentado no

    Captulo III do Estatuto da Criana e do Adolescente e que diz respeito ao direito da

    criana ou adolescente ao convvio com ambos os pais.121

    Lpore e Rossato122 chamam a ateno de que a lei teve a cautela de no restringir a

    autoria apenas aos genitores, mas a qualquer pessoa que tenha a criana ou adolescente

    sob sua autoridade, guarda ou vigilncia.

    A Lei 12.318 veio para reafirmar o princpio da proteo integral criana. Ela

    estabelece mecanismos para punir quem dificulta o acesso fsico ou emocional ao filho,

    119 BRASIL, LEI n 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm> Acesso em: 23 maio

    2013.

    120 LPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves Comentrios lei de alienao parental: Lei n 12.318/10. Disponvel em:

    . Acesso em: 16 maio 2013.

    121 GONALVES, Roberto Carlos. Direito de Famlia. 15 ed. So Paulo: Saraiva, 2011. ( Coleo Sinopses Jurdicas v. 2). p. 89.

    122 LPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Comentrios lei de alienao parental: Lei n 12.318/10.Disponvel em:

    http://jus.com.br/revista/texto/17871/comentarios-a-lei-de-alienacao-parental-lei-no-12-318-10#ixzz28Z0t4dAC. Acesso em: 16 maio.2013.

  • 29

    prevendo sanes que vo desde a advertncia at a reviso da guarda, afirma

    Magalhes.123

    Por fim, diante da Sndrome de Alienao Parental Dias124 esclarece:

    Flagrada a presena da Sndrome da Alienao Parental, indispensvel a responsabilizao do genitor que age desta forma por ser sabedor da dificuldade de aferir a veracidade dos fatos e usa o filho com finalidade vingativa. Mister que sinta que h o risco, por exemplo, de perda da guarda, caso reste evidenciada a falsidade da denncia levada a efeito. Sem haver punio a posturas que comprometem o sadio desenvolvimento do filho e colocam em risco seu equilbrio emocional, certamente continuar aumentando esta onda de denncias levadas a efeito de forma irresponsvel.

    1.2.7 O Papel dos Profissionais diante da Sndrome de Alienao Parental

    O assunto relevante e se d entre os profissionais de diversas reas, como da

    rea jurdica e da sade mental. A Sndrome de Alienao Parental um novo

    enfrentamento para todos os profissionais, portanto preciso que a sndrome seja

    identificada e compreendida para que se possa evitar que afete crianas e adolescentes,

    uma vez que a forma mais correta de trabalho a preveno. Para isso precisamos

    buscar novas abordagens e novas formas de enfrentamento.

    1.2.8 Reconhecimento da Sndrome de Alienao Parental nos Tribunais

    Gardner125. menciona que alguns tribunais no reconhecem o diagnstico da

    Sndrome de Alienao Parental porque alegam que tal sndrome no consta no DSM-IV.

    Outros diagnsticos no podem ser usados como substitutos para a SAP, mas s vezes

    partilham alguns dos sintomas. Conseqentemente, podem ser usados como diagnsticos

    adicionais.

    123 MAGALHES, Carolina da Cunha P. F., Sociedade tambm deve coibir alienao parental. Disponvel em: Acesso em: 16 maio 2013.

    124 DIAS, Maria Berenice. Sndrome da alienao parental, o que isso? Disponvel em: Acesso em: 16 maio

    2013.

    125 GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnstico de Sndrome de Alienao Parental (SAP)?.(2002) Traduo de Rita Rafaeli.

    Disponvel em: . Acesso em: 25 maio 2013.

  • 30

    muito cedo para esperar um largo reconhecimento, pois no era exeqvel que a

    SAP fosse includa na edio de 1994 do DSM, j que eram poucas as publicaes sobre

    esses transtornos quando os comits preparatrios estavam se reunindo.

    CONCLUSO

    Atravs deste trabalho foi possvel perceber que o tema abordado no fenmeno

    social raro. Serve tambm para compreender a teoria de Gardner que, no contexto

    nacional, estar servindo como modelo para a identificao, classificao e tratamento da

    problemtica que envolve toda a famlia. Muitos casais que tiveram filhos durante o

    relacionamento e se separam esto propensos a sofrer esse tipo de problema, o qual

    deve ser identificado o quanto antes, para haver a possibilidade de reverter a situao.

    Inclusive, o abuso emocional pode ser considerado o mais destrutivo dos abusos sofrido

    por crianas e o mais difcil de diagnosticar e prevenir. Suas cicatrizes no so fsicas,

    mas invisveis, com profundas conseqncias e de longo alcance.

    Todos sofrem com essa sndrome: o genitor alienador, o genitor alienante e a(s)

    criana(s). E esta ltima que deve ser tratada com mais cuidado nessa situao, pois as

    sequelas que a sndrome deixa na criana podem segui-la durante toda a vida,

    influenciando em seu desenvolvimento. Para que a criana seja uma boa me/pai de

    famlia necessrio que ela tenha tido uma boa estrutura familiar.

    A Alienao Parental carece de uma definio nica, pois sua existncia, etiologia

    e caractersticas, em particular como uma sndrome, tem sido objeto de debate ainda no

    encerrado.

    Entende-se que as intervenes que deveriam ser feitas teriam carter de

    resoluo da problemtica fundamentada nas aes dos profissionais envolvidos nas

    disputas de guarda, tais como advogados, juzes e profissionais da sade mental. Seria

    ainda importante levantar algumas consideraes relativas Sndrome de Alienao

    Parental relativas prtica profissional no sistema judicirio brasileiro. Alm disso,

    mostra-se imperioso criar servios e polticas pblicas voltadas para famlias que

    vivenciam o divrcio, visando proteo de um bem maior: a dignidade e proteo do

    menor.

  • 31

    Por fim, vale pontuar que o Estado no deve se omitir perante uma situao to

    grave que destri lares, afasta crianas de seus pais e as afeta direta e intensamente por

    toda a vida.

    REFERNCIAS ALEXANDRE, Diuvani Tomazoni; VIEIRA, Mauro Lus. A influncia da guarda exclusiva e compartilhada no relacionamento entre pais e filhos. Psicol. pesq., Juiz de Fora, v. 3, n. 2, 2009 . Disponvel em .Acesso em: 15 mai.. 2013. ALIENAO Parental. Disponvel em:

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