Upload
tranxuyen
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES PÚBLICAS, PROPAGANDA E TURISMO
PROJETO DE PESQUISA
“SUBSIDIOS PARA UMA ATUALIZAÇÃO DA HABILITAÇÃO
PUBLICIDADE E PROPAGANDA – A NECESSIDADE DE SINERGIA
ENTRE AS DEMANDAS DA CARREIRA E A POTENCIALIDADE
ACADÊMICA”
2010
2
SUMÁRIO
p.
1- Apresentação 03 2- Introdução 05 3- Tema 13 4- Objetivos 22 4- Metodologia 24 5- Cronograma 29
3
1 - APRESENTAÇÃO
Em agosto de 1984 fui contratado para assumir as disciplinas
Planejamento Publicitário e Veiculação Publicitária na habilitação em
Publicidade e Propaganda na ECA. O caráter precário da função foi
acompanhado da precariedade de informações sobre a missão educacional:
as 12h semanais do contrato deviam ser dedicadas à transferência de
conhecimentos e habilidades necessárias para proporcionar condições de boa
empregabilidade e desenvolvimento profissional aos alunos. Numa tradução
livre, deveria trazer para as salas de aula, o “state of the art” do mercado
publicitário.
Sem muita reflexão, foi desde o surgimento da primeira escola de
propaganda no Brasil que os cursos se propuseram a fornecer formação
profissional para os “entry level jobs” do mercado publicitário; para o ingresso
nas agências de propaganda, nas áreas de comunicação mercadológica das
empresas e órgãos anunciantes, nos departamentos comerciais dos veículos
e em toda a cadeia de fornecedores de serviços de publicidade.
Ao contrário de muitas carreiras, onde a academia pesquisa, cria e
desenvolve alternativas que, posteriormente são adotadas pelas empresas, na
propaganda sempre aconteceu o contrário: as empresas pesquisam, detectam
tendências, introduzem novas técnicas, adotam novas tecnologias e só depois
disso as escolas de propaganda replicam aos seus alunos o que os vários
players do mercado já praticam, com maior ou menor defasagem temporal.
Este cenário hoje comporta uma análise sob duas perspectivas: a
primeira, que pelo avanço das tecnologias, o ensino da propaganda nunca
esteve tão defasado das práticas do mercado; a segunda, que pela velocidade
frenética das evoluções da comunicação mercadológica, ensinar a prática do
momento é assumir a defasagem operacional dos futuros formandos: mais
que ensinar a trabalhar com hardware e softwares, reconhece-se hoje na área
da propaganda, a necessidade de se habilitar e desenvolver “mindwares”.
Adicionalmente, não é difícil se constatar que a velocidade e a intensidade das
mudanças tecnológicas e as mudanças sócio-comportamentais dos públicos
receptores – e hoje também emissores – têm levado o mercado publicitário a
4
se ver com freqüência, sem parâmetros: uma tarefa que a academia, por sua
própria natureza poderia assumir, em parceria com agências e anunciantes.
Paralelamente são percebidas tentativas de mudança e atualização por
parte do MEC, que iniciou em 2009, a construção dos Referenciais Nacionais
de vários cursos de graduação, inclusive Publicidade e Propaganda, cuja
alteração principal estaria na conversão da carreira em Curso (hoje é uma
Habilitação, dentro do Curso de Comunicação Social). Independentemente
dos movimentos oficiais, é o momento propício a se pesquisar qual é o papel
que Publicidade e Propaganda tem a desempenhar em nosso contexto social;
deve-se prosseguir pura e simplesmente na preparação e formação de mão
de obra ou introduzir novas variáveis, tanto nos Projetos Políticos
Pedagógicos como no currículo, de modo a redimensionar a importância da
formação universitária, a requalificar a função social e consequentemente
valorizar acadêmica e economicamente os egressos da carreira?
Hoje, coordenador da CoC das habilitações de Propaganda e Relações
Públicas e presidente da Comissão de Graduação da ECA, sentindo que parte
da potencialidade do ensino em propaganda é perdida, sinto-me
agradavelmente obrigado a recolher subsídios, provocar reflexões e responder
a algumas destas perguntas. É justamente esta a proposta deste trabalho.
5
2 - INTRODUÇÃO
Seja qual for a definição corrente da atividade publicitária, não há como
desvinculá-la da comunicação midiática. A partir daí, podemos vincular seu
aparecimento no Brasil à liberação da tipografia, que ocorreu com a vinda da
família real e a ascensão da Colônia a Vice-Reino, em 1808: foi exatamente
neste ano que “surgiu o nosso primeiro jornal, e nele, a Gazeta do Rio de
Janeiro, o nosso primeiro anúncio” (RAMOS, Ricardo in GRACIOSO &
PENTEADO, p. 19).
Os textos diretos e objetivos dos primeiros anúncios das “gazetas” do
império, evoluíram no século XIX, e passaram a tentar persuadir os leitores
com vinhetas gráficas e quadrinhas poéticas, desenvolvidas por artistas
“emprestados” da pintura e da poesia, como Olavo Bilac, K. Lixto e Casemiro
de Abreu, entre outros.
De qualquer forma, ainda não havia nesta época a estruturação da
Publicidade enquanto negócio, o que só iria começar a ocorrer no início do
século XX, quando os agenciadores de anúncios, antes umbilicalmente
ligados aos veículos, começaram a agir de forma mais independente,
constituindo suas agências de propaganda. Castaldi & Bennaton (1913), A
Eclética , Pettinati, Edaneé foram as primeiras agências brasileiras, focadas
principalmente no trabalho de mídia, ou seja, no agenciamento dos espaços
publicitários. Usando os já tradicionais jornais, bem como as revistas que
proliferavam na época (Revista da Semana, O Malho, Fon-Fon, A Careta, etc)
e também desenvolvendo a mídia exterior, com o uso de cartazes e a criação
de tabuletas e estruturas para a pintura de painéis.
Apesar da atividade ter evoluído muito, tanto técnica, como
financeiramente, no início do século passado e desde o final daqueles anos 20
já fazer jus a um aprofundamento e a uma especialização acadêmica,
somente em 1951 iria surgir o primeiro curso regular de propaganda, ainda
sem a caracterização de uma formação superior. O mercado já demandava
há muito uma formalização da carreira, tanto pelo nível dos anunciantes e
veículos existentes, como pela importância econômica da atividade. Com
efeito, em 1950 os investimentos em Propaganda no Brasil somaram US$ 110
6
milhões, num PIB nacional total de US$ 16,5 bilhões (0,67%) (GRACIOSO &
PENTEADO, p.102).
Somente em 1951 é que, por pressão do mercado publicitário, foi criada
a primeira “escola de propaganda” no Brasil, abrigada no Museu de Arte de
São Paulo. E esta escola, continuaria sozinha no ensino da propaganda até o
final da década de 60, quando finalmente recebeu a companhia de outros
cursos de propaganda, inclusive o da ECA/USP, que iniciou suas atividades
em 1970.
Em função das diferentes realidades, o ensino formal da Propaganda
no Brasil pode ser dividido em duas épocas distintas: a primeira, de 1951 a
1970, período em que funcionou solitária a Escola de Propaganda de São
Paulo, depois Escola Superior de Propaganda e, a segunda, desta data, até
hoje, em que houve uma proliferação de instituições de ensino superior que
abrigaram esta carreira em suas graduações. (FIGUEIRA NETO, p. 14/15)
Na primeira fase o ensino foi umbilicalmente ligado ao mercado,
“Era uma via de mão dupla, a escola formava o que o mercado queria e precisava, pelas mãos do próprio mercado, que definia o currículo e fornecia os professores. O reconhecimento disso viria já em 1957, no 1
o Congresso Brasileiro de Propaganda, onde
recebeu o título de Instituto Padrão do ensino da publicidade para todo o Brasil, tendo sido nesta ocasião recomendado seu reconhecimento como entidade de utilidade pública pelo governo federal. Apesar disso, como se disse, não havia o reconhecimento do MEC para o curso, ele continuava sendo ministrado em um ano, sem vínculos com a estrutura acadêmica governamental. (FIGUEIRA NETO, p.15)
E, mesmo a partir de 1961, quando o curso da EPSP – Escola de
Propaganda de São Paulo – foi reestruturado, dobrando sua duração (de 1
ano para 2 anos), essa modificação foi integralmente orientada pelo mercado
e suas necessidades: a adoção das duplas de criação nas principais agências
de publicidade brasileiras, o aumento da produção audiovisual em rádio e TV,
além do desenvolvimento das técnicas de pesquisa de mídia, exigiram do
ensino da propaganda na época uma maior especialização do egresso (deve-
se registrar que muitos dos “egressos”, eram funcionários de agências com o
desejo de aprender conhecimentos publicitários mais avançados para o
progresso na profissão).
Ainda dentro desta primeira fase do ensino da propaganda, houve a
mudança do nome da EPSP para Escola Superior de Propaganda - ESP. No
dizer de Matersen (2001, p.80), as perspectivas de implantação dos Cursos de
7
Comunicação Social com a habilitação em Publicidade e Propaganda,
(iminentes após a instituição do Currículo Mínimo do Curso de Jornalismo -
parecer 323/62 do CFE) motivaram esta alteração; até porque, a mudança foi
apenas nominal: o currículo do curso continuou o mesmo, inclusive em sua
duração de apenas dois anos. De fato, desde meados da década de 60 havia
manifestações no sentido da abertura de outros cursos de ensino superior em
propaganda, da FAAP e da Anhembi-Morumbi. Matersen (1990, p.35) fala
inclusive de tratativas entre a USP e a ESP-SP para a criação de um curso
comum. A eclosão da Comunicação como área de estudo e o
desenvolvimento da indústria da propaganda no final da década de 60
evidenciavam que o ensino da propaganda deixaria em breve de ser uma
atividade solitária, como de fato ocorreu.
E, efetivamente, em 1970 foi criada a habilitação em Publicidade e
Propaganda da então ECC – Escola de Comunicações Culturais – da USP,
que logo depois iria incorporar os cursos de Artes e se transformar na ECA –
Escola de Comunicações e Artes. 1972 foi o ano de instalação de duas
habilitações em Publicidade e Propaganda, a da Anhembi-Morumbi e a do
Instituto Metodista de Ensino. Logo depois, 1973, as Faculdades Objetivo
(embrião da UNIP) realizavam seu primeiro vestibular para a carreira de
propaganda.
Desta data em diante, aconteceu uma verdadeira “explosão” de escolas
e cursos de propaganda no Brasil. Em 1976 eram 56 faculdades de
comunicação e em 2003, nada menos de 212 escolas com a habilitação em
publicidade e propaganda (FIGUEIRA NETO: 2006, p. 17/18). Em função da
grande procura pelos vestibulandos, este número só faz aumentar, o que não
necessariamente ocorreu com a qualidade dos cursos oferecidos em todo o
país.
Lembrando que a finalidade do curso de propaganda da EPSP/ ESP
era a formação e o desenvolvimento de profissionais para o mercado
publicitário, seu currículo foi definido visando a formação prática que o
mercado exigia, dentro de uma perspectiva generalista. Como notou Figueira
Neto (2006, p.18), “as disciplinas que compunham este primeiro currículo,
Elementos da Propaganda, Técnica de Esboço (layout), Arte-final, Produção e
Artes Gráficas, Redação, Rádio-Cine-TV, Mídia, Pesquisa e Estatística e
8
Promoção de Vendas estavam diretamente ligadas a todas as áreas da
Propaganda: Atendimento e Planejamento (Elementos, Pesquisa e Estatística,
Promoção de Vendas), Criação (Técnica de Esboço e Redação), Produção
(Arte-final, Produção e Artes Gráficas, Rádio-Cine-TV) e Mídia (Mídia,
Pesquisa e Estatística). A única disciplina que poderia ser vista como mais
teórica e não ligada diretamente ao dia-a-dia publicitário seria Psicologia”.
A regulamentação do ensino da propaganda iniciou-se com a
Resolução 11/69, fundamentada no Parecer 631/69 que esboçou um currículo
para um curso de Comunicação Social e suas habilitações, entre elas,
Publicidade e Propaganda. Fundamentalmente introduziu um pouco de teoria
da Comunicação, Ciências Humanas e Ética e Legislação, além de diminuir
muito o peso prático na formação publicitária. Simplificadamente, a grade de
disciplinas ficou constituída de:
-Disciplinas básicas:
-Sociologia
-Ciências da Comunicação (ou Fundamentos Científicos da
Comunicação)
-História da Comunicação e Jornalismo Comparado
-Ética e Legislação dos Meios de Comunicação
-Pesquisa de Opinião e Mercadologia
-Disciplinas Profissionais
-Teoria e Prática da Publicidade e Propaganda (desmembrava-se
em cinco disciplinas teórico/ práticas)
-de Cultura Geral:
-História da Cultura ou do Conhecimento Humano
-Problemas Políticos, Sociais e Econômicos
-Cultura Brasileira
O Currículo era complementado por quinze disciplinas optativas, sendo as
indicadas pela Resolução:
9
-Antropologia, Biblioteconomia e Bibliografia, Cibernética, Introdução à
Documentação, Ecologia, Economia, Estatística, Física Moderna,
Folclore, História das Artes, Higiene, Lógica, Matemática, Política,
Psicologia Social. (José Marques de Melo, apud MOURA, p.87)
Como se percebeu claramente na época – e é facilmente perceptível
também hoje, o esboço feito foi demasiadamente genérico, permitindo tanto o
distanciamento prático como o teórico das necessidades de formação do
publicitário e desagradou a praticamente todos os públicos, tanto aos alunos
como às instituições de ensino.
Para tentar corrigir e aperfeiçoar o ensino da propaganda, foram instituídos
mais 2 currículos mínimos, o primeiro pela Resolução 03/78 (baseada nos
pareceres 1203/77 e 02/78) e o segundo pela Resolução 02/84 (baseada no
Parecer 480/83). Enquanto o primeiro falava em “uma guinada de inclinação
humanística” (MOURA, p.101), não a promovia de fato e foi sistematicamente
ignorado em suas diretrizes essenciais (ressalvando a adoção dos Projetos
Experimentais, adotados na grande maioria das instituições até hoje), o
segundo desceu a detalhes que sugeriam um engessamento do ensino da
propaganda. Ainda que mantendo a possibilidade de contemplar as
especificidades regionais e o interesse dos alunos - que haviam sido
introduzidas pela resolução anterior - esta resolução aprofundou bastante o
detalhamento do curso e suas habilitações procurando, como já dito,
estabelecer patamares mais concretos para o ensino da Comunicação Social.
Na Resolução 02/84, foram relacionadas as matérias ou disciplinas:
-Obrigatórias para o Tronco Comum: Filosofia, Sociologia (Geral e da
Comunicação), Língua Portuguesa (Redação e Expressão Oral), Realidade
Socioeconômica e Política Brasileira, Teoria da Comunicação e Comunicação
Comparada;
-Eletivas para o Tronco Comum: três matérias ou disciplinas, eleitas
dentro da relação: Lógica, Psicologia, Língua Estrangeira, Economia,
Geografia Econômica, Realidade Socioeconômica e Política Regional, Teoria
Geral de Sistemas, Teoria Política, Teoria e Método de Pesquisa em
10
Comunicação, Comunicação Comunitária, Planejamento em Comunicação,
Política de Comunicação, Sistemas Internacionais de Comunicação,
Comunicação em Tecnologia Educacional, Realidade Regional em
Comunicação, História da Comunicação, Cultura Brasileira, História da Arte,
Antropologia Cultural, História do Brasil e Estética e Cultura de Massa.
-Obrigatórias Específicas para Publicidade e Propaganda: Língua
Portuguesa (Redação Publicitária) Planejamento de Campanha, Produção
Publicitária em Rádio, Televisão e Cinema, Produção Gráfica, Administração
em Publicidade e Propaganda, Estatística, Mercadologia, Mídia e Ética e
Legislação Publicitária.
-Além disso, cada curso poderia elencar disciplinas eletivas específicas,
bem como ficou estabelecido um mínimo de 270 horas-aula para os Projetos
Experimentais, no último semestre letivo. Na normatização do curso,
independentemente da habilitação, ficou estabelecida uma carga horária
mínima de 2700 horas-aula, divididas igualmente entre o Tronco Comum e as
Partes Específicas.
O Currículo Mínimo instituído pela Resolução 02/84 foi extinto pelas Novas
Diretrizes Curriculares da Área de Comunicação, em 1999. Calcada na LDB –
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as diretrizes se caracterizam
pela flexibilização dos currículos e, após muita discussão envolvendo os vários
atores no cenário do ensino da Comunicação Social, como ABECOM
(Associação Brasileira de Escolas de Comunicação Social), ENECOS
(Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social), COMPÓS
(Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação),
INTERCOM (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação), entre outras, foi enfim editado o Parecer 492 do Conselho
Nacional de Educação – CNE / MEC que as homologou. As Diretrizes são
bastante genéricas em termos de conteúdos para os cursos e suas
habilitações: restringem-se a quatro linhas de conhecimentos para os
conteúdos básicos e também só se referem de forma bastante vaga aos
conteúdos específicos para cada habilitação, que devem inclusive ser
definidos pelos próprios colegiados dos cursos. Assim, reproduzindo o
Parecer, quanto aos conteúdos, tem-se:
11
-Conteúdos básicos:
-Conhecimentos teóricos-conceituais
-Conhecimentos analíticos e informativos sobre a atualidade
-Conhecimentos de linguagens técnicas e tecnologias midiáticas
-Conhecimentos ético-políticos
-Conteúdos específicos:
-Reflexões e práticas no campo geral da Comunicação
-Reflexões e práticas da Publicidade e Propaganda
Frente a tanta liberdade (ou indefinição) o que parecia improvável
ocorreu: entre os cursos instituidos, poucas mudanças foram promovidas a
partir da flexibilização curricular e os novos cursos criados, foram desenhados
com base no currículo mínimo anterior. E, o panorama geral do ensino de
propaganda em nosso país segue, salvo raras exceções, aquilo que se
considerou correto implementar a partir da Resolução 02/84, há longínquos 25
anos. Claro que inúmeras atualizações são constantes, tanto nas grades das
disciplinas, quanto nos seus conteúdos, mas fica evidente que a carreira teve
um salto quali e quantitativo incomensuravelmente maior.
Assim, se é verdade que o ensino da propaganda no Brasil tem como
ponto de partida o atendimento das demandas de agências, veículos e
anunciantes, sendo predominantemente formador de mão de obra para o
ingresso no mercado, hoje mesmo este aspecto não é tão claro como antes:
as atividades publicitárias sofreram e continuam vivenciando mudanças
radicais, o mercado se contorce assumindo novas formas de atuação, ora em
disputa, ora em sinergia com outras ferramentas de comunicação e, de modo
extremamente acelerado, as novas tecnologias, principalmente as digitais,
modificam drasticamente as formas de comunicação dos indivíduos e
consequentemente seus comportamentos e atitudes. Se não há como fazer
propaganda da mesma forma que se fazia há pouco tempo atrás, é mais
verdade ainda que se deva ensinar e pesquisar a propaganda de forma mais
sincrônica.
12
Paralelamente é flagrante que toda a transformação por que passa a
atividade comunicacional gera uma grande necessidade de parametrização,
seja pela revisão de conceitos, pela definição de métodos e métricas seguros
de avaliação de eficácia, pelo estabelecimento de processos persuasivos
diferenciados a serem compartilhados com os stakeholders organizacionais,
ou ainda pelo aperfeiçoamento e validação de princípios e comportamentos
éticos no cenário das comunicações. Estas funções devem ser assumidas
pela academia e replicadas de forma integral à formação no nível da
graduação.
É evidente portanto, a necessidade de se mudar radicalmente o ensino
da propaganda. Mas, como fazê-lo?
13
3 - TEMA
As Diretrizes Curriculares da Área de Comunicação editada em 1999,
com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional libertaram o
ensino da Propaganda do Currículo Mínimo e permitem a flexibilização dos
cursos de acordo com as características e necessidades, educacionais e dos
mercados, regionais e locais. Restringem-se, no tocante aos conteúdos das
habilitações em Publicidade e Propaganda, a elencar genericamente, como já
visto na introdução:
-Conteúdos básicos:
-Conhecimentos teóricos-conceituais
-Conhecimentos analíticos e informativos sobre a atualidade
-Conhecimentos de linguagens técnicas e tecnologias midiáticas
-Conhecimentos ético-políticos
-Conteúdos específicos:
-Reflexões e práticas no campo geral da Comunicação
-Reflexões e práticas da Publicidade e Propaganda
Este direcionamento sugere que a delimitação do tema do estudo
circunscreva-se ao âmbito da habilitação em Publicidade e Propaganda da
Escola de Comunicações e Artes da USP, já que apesar de compartilhar o
palco do maior mercado publicitário do Brasil com algumas dezenas de
instituições de ensino, diferencia-se delas por ser a única habilitação oferecida
por instituição pública de ensino no Estado de São Paulo, e em conseqüência,
não estar diretamente ligada aos humores do mercado, não ter um
atrelamento automático às suas demandas e necessidades, como ocorre com
a grande maioria das instituições particulares.
Esta delimitação, entretanto, não pode ser pensada como um
descompromisso absoluto com as realidades de outras instituições e do
mercado da Comunicação Mercadológica. Há que se lembrar que ao longo
dos quase 40 anos da habilitação Publicidade e Propaganda da ECA ela
firmou um papel de liderança pedagógica, protagonizando as mais importantes
discussões relativas à atuação acadêmica na área, às configurações e
alterações curriculares e imprimindo sua filosofia educacional a muitas outras
14
escolas de Comunicação no Brasil e no Exterior, através principalmente da
formação de Mestres e Doutores em seus cursos de Pós-graduação. É de se
esperar que quaisquer reflexões produzidas e que levem a alterações na
forma e/ou conteúdo do ensino da propaganda, sejam replicadas em outras
instituições de ensino, tanto particulares, como públicas, neste caso,
universidades federais de outros Estados.
Feita esta observação que demanda uma maior responsabilidade no
estudo do tema proposto, pode-se delimitá-lo como pensado inicialmente, em
uma ampla e profunda investigação sobre a habilitação em Publicidade e
Propaganda da ECA/USP, isolando-se as variáveis intrínsecas e extrínsecas
da habilitação em questão e as analisando à luz das perspectivas
educacionais contemporâneas, dos objetivos político-pedagógicos, das
competências e aspirações dos públicos docentes e discentes. Tudo, dentro
de uma contextualização, tanto acadêmica quanto do mercado, que promova
uma ampla reflexão, com inevitáveis conseqüências no próprio Projeto
Político-Pedagógico, e prováveis alterações em seus elementos básicos,
como o perfil do egresso, os objetivos do curso, a grade curricular, as ementas
das disciplinas, entre outras resultantes, como por exemplo, o
redimensionamento físico dos espaços e a reformatação de laboratórios.
É importante ressaltar que, sob nenhuma perspectiva se está
considerando a possibilidade de um “reinício” ou de um “começar tudo do
zero”. Tem–se a perfeita consciência da importância, relativa e absoluta, de
nossa habilitação. Sabe-se que os aspectos positivos superam em larga
margem os negativos e que, na comparação com outras instituições, tanto
brasileiras como além-fronteiras, o posicionamento da ECA/USP, na área da
Publicidade e Propaganda situa-se entre é dos melhores. Mas, como já se
disse, num momento em que é discutido o próprio sentido da graduação na
formação educacional do profissional atual, nada mais adequado que
investigar e tentar potencializar a eficácia, numa área de tantas, tão profundas
e contínuas transformações.
O atual PPP – projeto político pedagógico, encaminhado recentemente
para o recredenciamento da habilitação pelo CEE, é uma evolução possível do
anterior, já que foi desenvolvido a partir das constatações empíricas dos
docentes que se dedicam à graduação em Publicidade e Propaganda.
15
Assim, tem atualmente como Objetivos:
“Em sintonia com a descrição do profissional, o curso de Comunicação
Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da ECA/USP propõe-se
atender a dois objetivos básicos: habilitar os estudantes para a inserção no
mercado de trabalho (agências de propaganda; departamentos de
comunicação ou de marketing de empresas anunciantes; agências de
promoção e de merchandising, produtoras, fornecedores...) e para a iniciação
científica (pesquisa e administração da informação).
Em relação ao primeiro objetivo (inserção no mercado profissional),
espera-se que os alunos desenvolvam habilidades e competências relativas
às três fases do processo comunicativo (gestão, produção e difusão da
comunicação), a saber :
a) Gestão da comunicação
- Levantar informações; organizá-las e fazer um diagnóstico de
problemas e oportunidades de comunicação para o anunciante;
- estabelecer e/ou implementar políticas e estratégias de
comunicação mercadológica, mediante a utilização de planejamento
estratégico e táticas de operação;
- avaliar necessidade e recomendar a realização de pesquisas que
subsidiem as decisões estratégicas;
- conceber meios de avaliar e corrigir resultados de programas
estabelecidos.
b) Produção da Comunicação
- Criar e/ou avaliar a criação de campanhas e de peças de
comunicação, entendendo-se por “criação”, os aspectos relativos à redação, à
direção de arte e à produção gráfica, eletrônica e digital das mesmas;
- distinguir as diferenças de linguagem próprias de cada meio (TV,
internet, rádio, mídia exterior, revista, jornal...) e de cada ferramenta de
comunicação promocional (publicidade, promoção de vendas, merchandising,
marketing direto, venda pessoal);
- saber contratar e acompanhar serviços de fornecedores e de
produtores especializados.
16
c) Difusão da comunicação
- Definir estratégias de mídia segundo pesquisas e tecnologias
próprias da atividade;
- Executar e/ou orientar o planejamento de mídia, incluindo análise
de pesquisas, seleção de veículos, programação e controle de veiculação;
- Identificar e avaliar o comportamento consumidor em relação às
mensagens veiculadas pela mídia.
- identificar a responsabilidade social da profissão,
compreendendo e assegurando o aperfeiçoamento da ética dentro do
exercício da profissão.
Em relação ao segundo objetivo (Iniciação Científica), pretende-se que
os estudantes adquiram e pratiquem, ao longo do curso, a metodologia do
trabalho científico, para a investigação de novos problemas ou para a
sistematização de conhecimentos assimilados. Para tanto, deve-se destacar
as seguintes competências:
- assimilação critica dos conceitos que permitam a apreensão de
teorias;
- aplicação dos conceitos e teorias em análises críticas da
realidade;
- posicionamento fundamentado em pontos de vista ético -
políticos;
- reflexão sobre as práticas profissionais no campo da
Comunicação;
- desenvolvimento de habilidades no uso da língua portuguesa
para expressão e interpretação de textos gerais e especializados na área de
atuação profissional.” (PPP-PP 2009 – p.11 a 13)
Como se pode notar, é uma relação equilibrada de objetivos, que à
primeira vista não deixa a desejar para uma formação de excelência na área
de propaganda. Entretanto, uma leitura mais acurada evidencia que mesmo a
generalidade das descrições deixa a descoberto objetivos de formação em
uma significativa área da Comunicação Mercadológica atual, a chamada
comunicação on line, ou o uso da Internet e dos novos dispositivos digitais que
17
possibilitam a interatividade emissor / receptor e a utilização das mídias
sociais como plataformas de contato com os públicos de interesse. É claro que
estes assuntos são apresentados e discutidos durante o curso, sendo até
objeto de disciplinas específicas, como se pode ver na grade curricular. São
normalmente introduzidos nas disciplinas, mas não constam formalmente dos
objetivos da habilitação, nem foram introduzidos após terem sido feitas todas
as considerações e realizadas as formatações necessárias.
Do mesmo modo, ao observarmos a descrição do Perfil do Egresso
constante do Projeto Político Pedagógico de Publicidade e Propaganda,
temos:
“Antecedendo a descrição do perfil do egresso desejada, cabem
algumas reflexões conceituais.
No Brasil, os termos “Publicidade” e “Propaganda” são usados
indistintamente para designar a carreira e a atividade profissional.
“Publicidade”, tal qual o termo inglês advertising, é utilizado
generalizadamente para designar ações de comunicação de caráter comercial
e de utilidade pública. “Propaganda”, tem um sentido mais abrangente e é
utilizado também para nomear ações de caráter político, religioso ou
ideológico.
De uma forma ou outra, a função principal dessas atividades é a
comunicação persuasiva paga por um anunciante, transmitida por um veículo
de comunicação e geralmente desenvolvida por um agente intermediário - a
agência de propaganda - para a promoção de alguma idéia, serviço ou
produto de consumo.
A agência de propaganda, representando o protótipo do mercado de
trabalho, é composta por diferentes profissionais especializados em técnicas e
atividades variadas como: atendimento, planejamento, criação, redação, arte,
produção e mídia. Essa estrutura, bastante funcionalista, tem se alterado
buscando uma organização mais dinâmica e flexível. As estruturas integram
organização por projetos, por clientes, por processos entre outras.
Independente da estrutura organizacional, as atividades do publicitário
requerem competências e habilidades cada vez mais complexas e integradas.
18
Por isso, fazer propaganda ou publicidade significa realizar uma tarefa multi,
inter, transdisciplinar e, certamente, em equipe.
Assim sendo, podemos afirmar que não existe um perfil profissional
único que caracterize adequadamente a figura polivalente e complexa do
publicitário.
O egresso do curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade
e Propaganda deve ter, segundo nossa concepção de ensino, o perfil genérico
de um gestor da comunicação persuasiva das organizações. Deve, portanto,
ser capaz de propor, estratégica e tecnicamente, soluções de comunicação
para os diferentes problemas apresentados. E ainda mais, deve atuar como
um agente transformador da interação comunicacional entre organização,
marcas e produtos e seus diferentes públicos.
O planejamento da comunicação requer do aluno capacidade de
apreensão e de análise de ambientes e de projeção e modelagem de cenários
mercadológicos futuros, bem como desenvolvimento criativo de raciocínios
estratégicos diferenciados para viabilizar o atingimento dos objetivos
mercadológicos das marcas, produtos e serviços; as demais fases de
execução ( criação, produção e veiculação da comunicação) requerem a
aplicação de conhecimentos técnicos e operativos específicos.
Em síntese, o perfil do egresso do curso de Comunicação Social,
habilitação em Publicidade e Propaganda é caracterizado pelo:
-Conhecimento e domínio de técnicas e instrumentos necessários para a
proposição e execução de soluções de comunicação eficazes para os
objetivos de mercado, de negócios de anunciantes e institucionais;
-Tradução em objetivos e procedimentos de comunicação apropriados dos
objetivos institucionais, empresariais e mercadológicos;
-Planejamento, criação, produção, difusão e gestão da comunicação
publicitária, de ações promocionais e de incentivo, eventos e patrocínio,
atividades de marketing, venda pessoal, design de embalagens e de
identidade corporativa, e de assessoria publicitária de informação.
Assim sendo, espera-se que o egresso do curso de Publicidade e Propaganda
seja não apenas um técnico especializado em sua área de atuação, mas um
19
agente criativo e crítico, capaz de solucionar problemas por meio de uma
visão mais abrangente dos métodos e dos processos comunicativos, comuns
à comunicação, seja ela de natureza institucional, mercadológica,
administrativa, política ou ideológica.” PPP-PP 2009, p. 13-15)
Pode-se notar que já no início do Perfil do Egresso é necessária uma
rediscussão dos conceitos e um reenquadramento do profissional que se
deseja formar. O que se conceitua hoje como propaganda não abarca todo o
espectro de atuação do profissional que se encaminha para o mercado
publicitário, já que sua atuação deve se estender por outras ferramentas de
comunicação mercadológica, como marketing direto, promoção de vendas,
merchandising, entre outras. Para que se forme um egresso com essas
competências, como dito no perfil, “polivalente e multisciplinar”, haveria de se
reestruturar a habilitação; ou ao contrário, focar de modo mais restrito na
amplitude da formação, reduzindo as competências do egresso, dando-lhe
maior especialização. É claro que as decisões só poderiam ser tomadas após
consultas aos públicos, tanto alunos como potenciais empregadores,
considerada obviamente as disponibilidades de recursos, sejam materiais e/ou
docentes, da instituição.
Outro aspecto obrigatório a ser analisado é a grade curricular, que
necessariamente deve ter sua reavaliação por parte dos docentes, discentes e
representantes do mercado. Num exame bastante rápido pode-se verificar
que, entre as disciplinas obrigatórias, que representam mais de ¾ dos
créditos da habilitação, são privilegiadas as que representam a formação
criativa das peças publicitárias, o que já respondeu efetivamente pela maior
demanda dos ingressantes, mas que hoje tem sua preponderância
questionada em várias instâncias. Deve-se pesquisar a conveniência de sua
manutenção ou as alternativas viáveis de modificação.
A forma pela qual as disciplinas são dispostas na grade também deve
ser analisada. Apesar de apresentarem características pedagógicas diversas,
normalmente são oferecidas em uma única disposição, fixas nos dias da
20
semana, durante todo o semestre. As ementas e os conteúdos talvez
permitam combinações mais interessantes para as dinâmicas em classe e
mais eficazes para o aprendizado e formação discente.
Hoje, a grade de disciplinas obrigatórias é a apresentada abaixo:
1º Semestre
CRP-292 Estudo da Defesa do Consumidor
CRP-349 Teoria e Técnica da Publicidade I
CRP-350 Princípios da Economia Aplicados a Comunicação
CRP-421 Estética em Publicidade
CCA-218 Língua Portuguesa - Redação e Expressão Oral I
CCA-258 Fundamentos de Sociologia Geral e da Comunicação
2º Semestre
CRP-322 Ética e Legislação Publicitária
CRP-426 Teoria e Técnica da Publicidade II
CRP-435 Mercadologia e Publicidade
CCA-219 Língua Portuguesa - Redação e Expressão Oral II
CCA-255 Teoria da Comunicação
3º Semestre
CRP-168 Promoção de Vendas
CRP-171 Propaganda Ideológica
CRP-297 Análise e Planejamento Mercadológico
CCA-220 Língua Portuguesa - Redação e Expressão Oral III
CCA-277 Teoria e Método de Pesquisa em Comunicação
4º Semestre
CRP-285 Pesquisa em Publicidade
CRP-314 Língua Portuguesa IV (Linguagem Publicitária)
CRP-422 A Imagem da Fotografia e do Cinema em Publicidade
21
CCA-278 Psicologia da Comunicação
5º Semestre
CRP-323 Programação Visual
CRP-325 Redação Publicitária I
CRP-357 Produção Gráfica
CRP-425 Mídia
6º Semestre
CRP-326 Redação Publicitária II
CRP-335 Arte Publicitária
CRP-354 Administração em Publicidade
CRP-359 Estudo do Comportamento do Consumidor I
CRP-423 Produção Audiovisual em Publicidade I
7º Semestre
CRP-327 Redação Publicitária III
CRP-353 Planejamento Publicitário
CRP-360 Estudo do Comportamento do Consumidor II
CRP-424 Produção Audiovisual em Publicidade II
8º Semestre
CRP-317 Projetos Experimentais em Propaganda e Publicidade
CRP-440 Trabalho de Conclusão de Curso
Cabe ao aluno elencar as disciplinas optativas da forma que julgar mais
conveniente, dentro dos critérios disponibilizados pela USP. Ainda que
existam muitas reclamações discentes quanto às reais possibilidades de se
escolher (e conseguir) as optativas desejadas, por não se tratar de um
assunto passível de alterações sem o envolvimento de outras instâncias, não
deverá ser focado pelo estudo que ora é proposto.
22
4 - OBJETIVOS
Há muito tempo que o Ministério da Educação e Cultura tenta reunir
carreiras bastante diferenciadas sob o manto único da Comunicação Social,
uma perspectiva que já no início se mostrou inviável. O “Curso de
Comunicação Social” sempre teve as habilitações em Publicidade e
Propaganda, em Relações Públicas, em Jornalismo e em Editoração bastante
estanques, com muito mais realidades de Cursos diferenciados que de
Habilitações de um único tronco. Atualmente, quando o MEC faz uma
consulta pública para verificar a conveniência da renomenclatura, assumindo
em princípio, o desmembramento das habilitações em cursos específicos, é
essencial que se rediscutam as especificidades de Publicidade e Propaganda
para que seja configurado e implementado um modelo mais eficaz de
graduação na carreira.
Como objetivo primeiro deste estudo, deve estar a própria nomenclatura
- Publicidade e Propaganda: por conveniência, indisposição para um
aprofundamento taxionômico ou simplesmente pela tradição, adotou-se em
todo o país, a justaposição das palavras, cuja etimologia difere mas,
controversamente, tem coincidência de significados para a designação da
carreira.
Como já se abordou na temática do estudo, a análise do Projeto Político
Pedagógico em seus vários aspectos é o objetivo central da pesquisa.
Investigar junto aos públicos interessados – docentes, discentes e
empregadores – os objetivos, o perfil desejado para o egresso e suas
competências e habilidades, bem como analisar junto com os dois primeiros
públicos (docentes e alunos) a grade curricular, e as várias possibilidades de
apresentação de conteúdos, práticas laboratoriais e outras alternativas de
aprendizado teórico e prático devem se constituir nos objetivos mais
detalhadamente buscados na pesquisa.
Neste contexto de busca, não se pode deixar de atribuir a máxima
importância ao que se pode chamar de Tridimensionalidade da Comunicação
Mercadológica: ao mesmo tempo em que, como já citado, cada vez mais se
23
busca promover a integração das ferramentas de comunicação, procurando a
unidade formal e temática às manifestações de Propaganda, Relações
Públicas Mercadológicas, Promoção de Vendas, Comunicação no PDV,
Merchandising, Product Placements, Marketing Direto, etc, as áreas de
atuação, como Planejamento, Criação, Mídia, Pesquisa, também devem estar
cada vez mais integradas e interativas, numa movimentação que extrapola a
bidimensionalidade até pouco tempo vista como a “última fronteira”. Verificar
como esta necessidade de tridimensionalidade poderá se refletir na Missão e
Visão do curso e no seu escopo, consubstanciado no Projeto Político
Pedagógico é um objetivo fundamental para garantir a validade da carreira. E,
paralelamente, verificar também como este cenário evolutivo pode direcionar,
num primeiro nível, a integração entre disciplinas e, num segundo patamar e
paradoxalmente, no momento em que se está prestes a celebrar a
individualização do curso, checar se não haverá a conveniência de uma
sinergia transdisciplinar, uma fusão parcial ou mais intensa entre as várias
ferramentas de comunicação. Suspeita-se que haja atualmente muito mais
convergências teóricas e operacionais entre a Propaganda e as Relações
Públicas que as divergências políticas e as disputas hierárquicas nas
organizações.
24
5 - METODOLOGIA
O referencial teórico básico do projeto deve ser buscado através de
pesquisa de gabinete (desk research) com vertente dupla: na primeira uma
pesquisa histórico /bibliográfica, já realizada parcialmente, procurando os
primórdios do ensino publicitário e de comunicação no Brasil e a evolução
deste ensino no tempo, consultando e analisando as diretrizes e os
parâmetros utilizados para seu desenvolvimento, até que se chegue a um
diagnóstico, tanto qualitativo, como quantitativo da situação atual dos “cursos”.
A segunda vertente será um trabalho de benchmarking junto às principais
instituições estrangeiras que oferecem cursos de graduação em publicidade e
correlatos. As duas combinadas deverão fornecer material de análise e
reflexão do que existe, por que se adotou tais formas e, dos possíveis
caminhos de evolução.
Como dito, algumas fontes bibliográficas já foram consultadas e fazem
parte de uma bibliografia inicial, que será completada no período inicial do
projeto. São elas:
ALMEIDA, Marcelo Campos de. A gestão universitária e o marketing institucional. In, Revista universidade no 5, p. 282-228. 1994. BARROS, Adriana Azevedo Paes de; GONÇALVES, Elizabeth Moraes. O ensino-aprendizagem dos novos tempos: experiência em Publicidade e Propaganda da UMESP. Anais da Intercom, Campo Grande, 2001. BRAGA, Ryon. Anacronismo no ensino superior no Brasil. In, revista aprender on line no 4, p. 32-38, 2002. BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Padrões de Qualidade para cursos de Comunicação Social: publicidade e propaganda. Brasília: 2002. CALDAS, Graça. Ensino de comunicação no Brasil: panorama e perspectivas. In, PERUZZO, Cicilia Maria Krohling e SILVA, Robson Bastos (org). Retrato do ensino em comunicação no Brasil. São Paulo: Intercom, Taubaté: UNITAU, 2003, p 15-28. CORRÊA, Tupã Gomes. Panorama de uma organização curricular. In: Revista de Comunicações & Artes no. 30. São Paulo: ECA/USP, 1997.
CAMPOS, Ernesto de Souza. Educação superior no Brasil. Rio de Janeiro: MEC, 1940.
25
CASTELO BRANCO, Renato (org.). História da Propaganda no Brasil. São Paulo: T.A. Queiroz, 1990. CATANI, Afrânio Mendes. O ensino superior no Brasil: perspectivas. In: KUPSTAS, Márcia (org). Educação em Debate. São Paulo: Editora Moderna, p. 121-141. 1998. CUNHA. Luiz Antônio. Ensino superior e universidade no Brasil. In, 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. DIAS, Samia Cruañes de Souza. As estratégias comunicacionais das escolas de propaganda. São Bernardo do Campo: UMESP, 2003, dissertação de mestrado. EGAN, Kieran. A mente educada. Os males da educação e a ineficiência educacional das escolas. Trad. Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. FÁVARO, Maria de Lourdes de Albuquerque. A universidade brasileira em busca de uma identidade. Petrópolis: editora Vozes, 1977. FIGUEIREDO, Luiz Celso de Piratininga. O ensino de propaganda em busca de definições. In, Revista Propaganda no 224, p. 112 – 123. São Paulo: Editora Referência, 1975. GALINDO, Daniel. A info-formação do publicitário. In: Publicidade: análise da produção publicitária. Tarsitano, Paulo Roberto (org). Mauá: P. R. Tarsitano, 1998. GIACOMINI FILHO, Gino. Paradigmas do marketing educacional no Brasil. In: Corrêa, Tupã Gomes (org). Comunicação para o mercado; instituições, mercado, publicidade. São Paulo: EDICON, 1995. GOMES JÚNIOR, José. O profissional completo: domínio da técnica e formação humanística (uma reflexão sobre o ensino da publicidade). Anais da Intercom, Rio de Janeiro, 1999. GOTTLIEB, Liana. O estatuto que a imprensa edita para a universidade brasileira. In, revista Líbero, no 2, p. 4 – 11. 1998.
GRACIOSO, Francisco e PENTEADO, J. Roberto Whitaker. Cinqüenta anos de vida e propaganda brasileiras. São Paulo: Mauro Ivan Marketing Editorial Ltda, 2001.
HILSENBECK, Barbara. Manual do estagiário (feito por uma ex-estagiária). São Paulo: CRP - ECA/USP, 2004, Trabalho de Conclusão de Curso, habilitação em Publicidade e Propaganda.
KOTLER, Philip; KAREN, F. A. Marketing estratégico para instituições educacionais. São Paulo: Atlas, 1994.
26
KREUTZ, Elizete de Azevedo et al. Curso de Publicidade e Propaganda da Univates: uma visão mercadológica e segmentada.Anais da Intercom, Campo Grande, 2001.
KUNSCH, Margarida M. Kröhling. Universidade e comunicação na sociedade. São Paulo: Loyola, 1992.
________. Relações Públicas e modernidade: novos paradigmas da comunicação organizacional. São Paulo: Summus, 1997.
KUNSCH, Margarida Maria Kröhling (org). Comunicação e educação: caminhos cruzados. São Paulo: Loyola, 1986. MARTINS, Gilberto de Andrade. O Marketing e o ensino superior. In, Revista do Instituto Municipal de São Caetano do Sul. IMES, 1986. MARTINS, Maria Helena Pires. A Escola de Comunicações e Artes e sua história. In, Revista Comunicações e Artes. São Paulo: ano 14, no. 22, novembro de 1989, p. 29-52.
MATERSEN, Rodolfo Lima. O ensino da propaganda no Brasil. In, CASTELO BRANCO, Renato (org). História da propaganda no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz, 1990.
__________. Uma escola de devoção. In, GRACIOSO, Francisco e PENTEADO, J. Roberto Whitaker. Cinqüenta anos de vida e propaganda brasileiras. São Paulo: Mauro Ivan Marketing Editorial Ltda, 2001.
MELO, José Marques de; FADUL, Anamaria; SILVA, Carlos Eduardo Lins da (orgs). Ideologia e poder no ensino da comunicação. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979. MOURA, Cláudia Peixoto de. O curso de Comunicação Social no Brasil: do currículo mínimo às novas diretrizes curriculares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. PERUZZO, Cicilia Maria Krohling e SILVA, Robson Bastos (org). Retrato do ensino em comunicação no Brasil. São Paulo: Intercom, Taubaté: UNITAU, 2003. Revista da ESPM. Mesa-redonda: ensino superior no Brasil. São Paulo: no 5, 2001.
Revista Meio & Mensagem. 100 anos de Propaganda no Brasil. São Paulo: julho 1998.
27
SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de. Estrutura e funcionamento do ensino superior brasileiro. São Paulo: Pioneira SOUZA, Sandra Maria Ribeiro de. A publicidade: fantasias e realidades. In, Revista Propaganda no 491, p. 69 – 70. São Paulo: Editora Referência, 1993., 1991. VITALI, Tereza Cristina. A relação mercado e ensino de publicidade e propaganda: faculdade Casper Líbero, um estudo de caso. São Paulo: ECA/USP, 2004. tese de doutorado. ZAGALLO, Ricardo Camargo. Ensino de Propaganda e Publicidade : discutindo novas perspectivas. Anais da Intercom, Salvador, 2002.
Além da coleta de dados secundários, dados primários deverão ser
colhidos através de metodologias qualitativas junto a profissionais de
comunicação, junto aos docentes de propaganda, tanto da ECA como de
outras escolas, selecionados por materiais de referência, publicados em
papers de congressos e simpósios e/ou artigos na mídia, geral, especializada
ou científica e ainda junto ao corpo discente da carreira, na ECA.
Estes dados deverão ser recolhidos na forma de uma pesquisa
exploratória, e parte destas informações poderá advir de eventos, como
palestras e mesas-redondas a serem realizadas na ECA, em 2010. Como já
se mencionou anteriormente, a implantação da habilitação Publicidade e
Propaganda do Curso de Comunicação Social da ECA aconteceu em 1970.
Comemoram-se pois em 2010, os primeiros 40 anos de vida “do curso” e,
como não poderia deixar de ser, estão sendo programados vários eventos
comemorativos, nos quais certamente a formação acadêmica do publicitário
será abordada, já que é de vital importância para a continuidade de nossa
excelência. As informações que não forem coletadas no desenrolar dos
eventos poderão ser complementadas a posteriori.
A base qualitativa junto ao corpo discente deverá ser completada por
focus groups presenciais com alunos dos últimos semestres da graduação,
cuja participação deverá dar uma contribuição maior que a dos iniciantes,
ainda movidos mais por expectativas que por experiências vivenciadas.
E, completando os trabalhos de pesquisa, questionários enviados a
amostras de profissionais por e-mail, aplicados pessoalmente junto ao corpo
28
discente deverão dar um panorama quantitativo ao trabalho. Eventualmente,
dependendo de uma análise posterior e, da disponibilização de listas de
endereços confiáveis, poder-se-á decidir pela inclusão de ex-alunos ativos no
mercado para complementação das informações.
Pretende-se que as informações pré-analisadas sejam apresentadas à
totalidade dos professores de Propaganda da ECA, para que suas opiniões e
sugestões sejam consideradas na análise final e no relatório da pesquisa.
29
6 - CRONOGRAMA
Este projeto tem uma previsão de duração de 28 meses, iniciando-se
em novembro de 2009, com término em março de 2012.
O desenvolvimento dos trabalhos dar-se-á dentro da seguinte
disposição:
2009
novembro/ dezembro programação de eventos acadêmicos
2010
janeiro/ fevereiro preparação dos eventos
complementação de leituras
março/ junho realização de eventos
final da pesquisa bibliográfica
julho início benchmarking
agosto/ dezembro continuação benchmarking
continuação/ análise dos eventos
focus groups com alunos
2011
janeiro/ fevereiro final da análise dos eventos
análise dos focus groups
desenvolvimento de questionários
março/junho envio/ aplicação de questionário
julho tabulação de questionários
agosto/ setembro pré-análise das informações