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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS EDITAL SUPERINTENDÊNCIA DE GESTÃO AMBIENTAL DA USP 2013 Projeto de Pesquisa DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO DE MANEJO DE CONTROLE REPRODUTIVO DE CAPIVARAS NO CAMPUS “LUIZ DE QUEIROZ” RESPONSÁVEL Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz COLABORADORES Alexandre Reis Percequillo, LCB/ESALQ/USP João Carlos Zecchini Gebin, graduando, LCF/ESALQ/USP Leanes Cruz da Silva, DVT/UFV Luana Santos Amorim, LCF/ESALQ/USP Luciano Martins Verdade, LEI/CENA/USP Luis Fernando Sanglade Marchiori, SVEE/FAR/ESALQ/USP Marcelo Magioli, mestrando, LCF/ESALQ/USP Marcelo Moreira, LEI/CENA/USP Patrícia Monticelli-Almada, FFCLRP/USP/Ribeirão Preto Silvio Marchini, Escola da Amazônia Tarcízio Antonio Rêgo de Paula, UFV Piracicaba, SP Junho de 2013

Projeto de Pesquisa - Edital SGA v2 Marcelo · influenciado pela dominância do macho alfa, assim, ações anticoncepcionais como a orquiectomia, que promove a supressão da capacidade

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ”

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS

EDITAL SUPERINTENDÊNCIA DE GESTÃO AMBIENTAL DA USP 2013

Projeto de Pesquisa

DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO DE MANEJO DE CONTROLE

REPRODUTIVO DE CAPIVARAS NO CAMPUS “LUIZ DE QUEIROZ”

RESPONSÁVEL

Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz

COLABORADORES

Alexandre Reis Percequillo, LCB/ESALQ/USP

João Carlos Zecchini Gebin, graduando, LCF/ESALQ/USP

Leanes Cruz da Silva, DVT/UFV

Luana Santos Amorim, LCF/ESALQ/USP

Luciano Martins Verdade, LEI/CENA/USP

Luis Fernando Sanglade Marchiori, SVEE/FAR/ESALQ/USP

Marcelo Magioli, mestrando, LCF/ESALQ/USP

Marcelo Moreira, LEI/CENA/USP

Patrícia Monticelli-Almada, FFCLRP/USP/Ribeirão Preto

Silvio Marchini, Escola da Amazônia

Tarcízio Antonio Rêgo de Paula, UFV

Piracicaba, SP

Junho de 2013

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RESUMO

Frente à problemática do aumento populacional da capivara e da expansão da Febre Maculosa

Brasileira (FMB) no estado de São Paulo, este estudo objetiva desenvolver e implementar um

modelo de manejo de controle reprodutivo de capivaras no campus “Luiz de Queiroz”

(Piracicaba, SP), estabilizando o crescimento populacional e reduzindo a sua densidade a médio-

longo prazo. Os grupos residentes no campus e entorno serão monitorados semanalmente a fim

de determinar sua flutuação e dinâmica populacional. Os indivíduos serão capturados em bretes e

manejados. Serão coletadas amostras biológicas para análises isotópicas e genéticas. Serão

realizados procedimentos cirúrgicos de deferentectomia nos machos e ligadura de tubas uterinas

em fêmeas. Métodos qualitativos e quantitativos em pesquisa social serão usados para avaliar os

grupos de interesse – docentes, discentes, funcionários e visitantes do campus – em termos dos

seus comportamentos que afetam o conflito homem-capivara, com ênfase no risco de

transmissão da FMB. Uma melhor compreensão das dimensões humanas do conflito homem-

capivara, em particular dos fatores que determinam a aceitação do manejo das populações de

capivara e os comportamentos humanos que afetam a transmissão da FBM, servirá de base para

a elaboração de estratégias efetivas de comunicação visando o aumentar o apoio ao manejo de

controle reprodutivo e prevenção de comportamentos de risco. Espera-se com esta iniciativa

construir um modelo de ação que possa ser replicado em outras áreas com situações-problema

similares, incluindo outros campi da Universidade de São Paulo. Além disso, espera-se gerar

conhecimento científico a partir da gestão de uma situação-problema, buscando através da

implementação de ações concretas, minimizar os danos ocasionados por populações

superabundantes desta espécie.

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1. INTRODUÇÃO

A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), amplamente distribuída pela América do Sul

(Ojasti 1973), é uma espécie herbívora generalista que ocupa diversos tipos de ambientes (matas

ciliares, capões de mapa, áreas agrícolas, parques públicos e áreas residenciais), apresentando

baixa sensibilidade à presença humana (Ojasti 1973, Moreira e Macdonald 1996, 1997, Verdade

e Ferraz 2006, Ferraz et al. 2007). Sua capacidade intrínseca de se adaptar a habitats antrópicos,

o seu grande potencial reprodutivo e a ausência de predadores viabilizam a ocupação de grupos

sociais nestes ambientes, com aumento considerável da densidade populacional, fazendo com

que a capivara seja caracterizada como espécie-problema em várias regiões do Brasil (Aguirre e

Tabor 2008, Ferraz et al. 2009, Ferraz et al. 2010).

O crescimento populacional da capivara e a colonização de novas áreas tem ocasionado uma

série de conflitos com o homem, decorrentes principalmente de danos econômicos às culturas

agrícolas (Ferraz et al. 2003), atropelamentos em rodovias (Cáceres et al. 2010, Bager e

Fontoura 2013) e amplificação do carrapato-estrela (Amblyomma cayennensis), vetor da bactéria

Rickettsia rickettsii, transmissora da febre maculosa brasileira (FMB) (Vieira et al. 2002,

Labruna 2009). A alta concentração de capivaras em áreas com intensa movimentação humana

tem desencadeado uma grande preocupação aos órgãos de saúde (Ribeiro et al. 2010), já que

dentre as zoonoses transmitidas por vetores, a FMB é a que mais mata pessoas no estado de São

Paulo (São Paulo 2013).

O desequilíbrio populacional de capivaras em determinadas áreas é apontado como sendo a

principal causa de infestação excessiva de carrapatos, causando um grande impacto ecológico,

com grande risco à saúde pública (Campos-Krauer e Wisely 2011). Capivaras que nunca foram

infectadas por Rickettsia rickettsii, quando parasitadas por carrapatos contaminados

desenvolvem a doença assintomaticamente e são responsabilizadas pela sua amplificação, uma

vez que durante o período de bacteremia, transmitem a bactéria a novos carrapatos. Por outro

lado, após a sua recuperação, as capivaras apresentam alta titulação de anticorpos, sendo

refratárias à doença, reduzindo assim a disseminação ambiental da Rickettsia rickettsii (Souza et

al. 2008).

O controle da fauna silvestre é uma forma eficaz de minimizar problemas decorrentes da

presença de animais sinantrópicos (Ferraz et al. 2010). Aparentemente, a ação mais eficaz para o

controle da população de capivaras em áreas antropizadas seria a remoção, seja por eutanásia,

pela caça regulamentada ou pela transferência para áreas distantes. Porém, preceitos

epidemiológicos, legais e éticos são fortes empecilhos para o abate e a translocação de

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indivíduos ou grupos. Populações remanescentes em áreas manejadas vivenciarão aumento da

taxa de natalidade, dada a maior disponibilidade de recursos e consequente redução na

competição entre indivíduos. Ainda neste sentido, técnicas de remoção são de baixa eficiência

uma vez que a conectividade por coleções hídricas entre os diversos fragmentos de habitat abre

precedentes para migração de novos indivíduos (Moreira e Piovezan 2005). Por outro lado, a

simples retirada de capivaras em área endêmica de FMB, pode inclusive agravar o risco de

transmissão, devido ao aumento de animais susceptíveis e consequente amplificação da

Rickettsia rickettsii nos carrapatos (Souza et al. 2009).

As capivaras são naturalmente gregárias e territorialistas, formando grupos familiares os

quais apresentam uma forte hierarquia social. As atividades sociais giram em torno da presença

de um macho dominante (macho alfa) com comportamento poligínico e desta forma, responsável

pelo cruzamento da grande maioria das fêmeas e afastamento de outros machos secundários

(Ojasti 1973, Alho 1987). O comportamento social do grupo é desta forma fortemente

influenciado pela dominância do macho alfa, assim, ações anticoncepcionais como a

orquiectomia, que promove a supressão da capacidade androgênica, promovem também a

alteração comportamental com a consequente substituição deste por um macho secundário,

portanto, sem efeito em longo prazo no controle populacional. Neste sentido a deferentectomia

pode ser uma opção interessante, uma vez que mantém a capacidade androgênica suprimindo a

capacidade reprodutiva. Da mesma forma, o comportamento de fêmeas dominantes pode ter

forte influência sobre a reprodução de fêmeas submissas (Nogueira e Nogueira-Filho 2012).

Assim, a retirada ou a supressão reprodutiva por castração em fêmeas dominantes, pode resultar

em mudança comportamental, com sua substituição por fêmeas submissas, também com efeito

reduzido no controle populacional, nesse sentido a ligadura de tubas uterinas pode ser o método

de eleição uma vez que tem pouca influência no padrão hormonal feminino.

Portanto, objetiva-se com este estudo desenvolver e implementar um modelo de manejo de

controle reprodutivo de capivaras no campus “Luiz de Queiroz” (Piracicaba, SP), estabilizando o

crescimento populacional a curto prazo e reduzindo a sua densidade a médio-longo prazo.

Espera-se desta forma, atuar diretamente no controle do vetor da bactéria causadora da FMB,

reduzindo os riscos à saúde pública, além de minimizar os conflitos com o homem, resultantes

das elevadas densidades populacionais no campus e entorno.

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2. JUSTIFICATIVA

A ocorrência de danos agrícolas, a elevada infestação de carrapatos em ambientes urbanos

e periurbanos, e a ocorrência de óbitos por febre maculosa evidenciam a premente necessidade

de ações emergenciais de controle populacional desta espécie. Desta forma, acredita-se que a

proposta de manejo de controle reprodutivo da capivara, a exemplo do que vem sendo conduzido

no campus da Universidade Federal de Viçosa – UFV (Rodrigues 2013) possa contribuir

efetivamente para o controle populacional da capivara, resultando, na redução da sua densidade

populacional, redução da densidade populacional do carrapato e redução do número de animais

susceptíveis à Rickettsia rickettsii. Em última instância acredita-se que o controle reprodutivo da

capivara contribua para a redução dos casos de FMB em humanos.

Por ser área de transmissão da FMB com vários casos de óbitos confirmados, apresentar

elevada densidade de capivaras e de carrapatos, o campus “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba/SP,

emerge neste cenário como uma área prioritária para a implementação do modelo de manejo aqui

proposto.

Além do modelo de manejo proposto, ações ligadas ao estudo das dimensões humanas do

conflito homem-capivara serão estudadas, fornecendo subsídios não só para entender o

comportamento humano, mas também influenciá-lo e modifica-lo. Desta forma, acreditamos ser

possível melhorar nossa capacidade de comunicação e relação com o público interno e externo

ao campus “Luiz de Queiroz”, contribuindo para uma relação saudável e de equilíbrio entre o

homem e a fauna. Por fim, os resultados possibilitarão melhorar a efetiva gestão ambiental da

USP no que tange ao recurso natural de vida silvestre, sua relação com o ser humano (conflitos)

e saúde pública.

Em vista do exposto, este projeto adequa-se às seguintes diretrizes do presente Edital:

- conscientizar o público interno sobre a importância e as alternativas para a conservação

dos recursos naturais na Universidade, tais como: vegetação, a fauna remanescente, os corpos

d’água, o solo e o subsolo;

- incentivar o desenvolvimento de pesquisas voltadas à solução de questões de Gestão

Ambiental identificadas, e para as quais ainda não existem soluções adequadas, visando à

geração de conhecimento necessário à efetiva adequação dos campi;

- estabelecer mecanismos de controle de populações de espécies invasoras dentro dos campi;

- divulgar amplamente as iniciativas adotadas para promover a sustentabilidade ambiental

nos campi da USP;

- implementar programas de educação ambiental em todos os campi da Universidade.

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O projeto conta com uma equipe multidisciplinar, incluindo cinco docentes de diferentes

Instituições (USP, UFV), Unidades da USP (ESALQ, CENA), Departamentos e laboratórios

(LCF, LCB), alunos de pós-graduação e graduação, além de um funcionário e um especialista

externo.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área de estudo

O estudo será realizado no campus “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo

(22°43’14’’ a 22º42’01’’ S e 47°38’46’’ a 47º36’49’’ O), localizado no oeste do Estado de São

Paulo, no município de Piracicaba. A região de estudo apresenta um histórico de mudanças no

uso da terra, originalmente formada por Floresta Estacional Semidecidual. Atualmente, o campus

perfaz uma área total de 874,33 ha distribuídos em um mosaico formado por áreas de culturas

agrícolas, pastagens, antigas áreas de cultivo que foram abandonadas, edificações e

remanescentes florestais representados pela Área de Preservação Permanente (APP) e pela

Reserva Legal (RL). O Rio Piracicaba e seus afluentes – ribeirão Piracicamirim e córrego do

Monte Olimpo – estão inseridos dentro do Campus, originando áreas de alagamento, lagos e

lagoas artificiais (Sparovek 1993).

3.2 Diagnóstico dos grupos de capivara no campus

O diagnóstico dos grupos de capivara no campus vem sendo constantemente realizado em

nosso campus e entorno, indicando a presença de vários grupos de capivara com tamanhos

variados (Figura 1). As capivaras utilizam intensivamente as áreas próximas aos principais

açudes do campus e entorno, forrageando em áreas de pastagem e consumindo itens agrícolas

(milho, cana-de-açúcar, arroz, etc.). Além disso, danos visíveis têm sido observados em plantios

em APPs.

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Figura 1. Mapa Geral da ESALQ/USP: visão panorâmica das ocorrências e trechos de capivaras

por visualização e vestígios. ( ) Ponto de visualização; ( ) Trechos contínuos de

vestígios de capivaras; ( ) Grupos a serem manejados.

3.3 Monitoramento dos grupos de capivara

O monitoramento dos grupos de capivara residentes no campus “Luiz de Queiroz” e entorno

será realizado semanalmente através da contagem direta dos indivíduos nas áreas de ocorrência

dos grupos (principalmente próximo aos açudes). Será estabelecida uma rota de percurso,

iniciando-se sempre pelo mesmo local, a qual deve ser mantida como forma de padronização. As

contagens entre locais distintos serão realizadas na mesma sequência, em um pequeno intervalo

de tempo, e sempre pelo mesmo observador. Esse procedimento é importante a fim de minimizar

eventuais erros de contagem e evitar a superestimativa da população. Os dados serão anotados

em uma planilha de campo. Serão compiladas informações sobre presença e uso da área pelas

capivaras, composição genérica e etária.

O programa de monitoramento será realizado ao longo de todo o período de manejo, e

posteriormente a ele a fim de avaliar os efeitos do manejo na flutuação populacional da capivara

no campus.

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3.4 Manejo de controle reprodutivo das capivaras

A partir do diagnóstico e monitoramento serão definidas prioridades de manejo dos grupos,

já que o esforço e a logística envolvidos são demasiadamente grandes. Grupos próximos a áreas

intensamente utilizadas por pessoas, assim como, áreas de tolerância zero (p. ex., lago central do

campus, áreas experimentais, etc.) poderão ser escolhidas prioritariamente.

3.4.1 Construção dos bretes de captura

Os melhores locais para construção dos bretes de captura serão escolhidos com base na

frequência de uso dos animais na área. Nestes locais, serão oferecidos alimentos palatáveis

(cana-de-açúcar, sal, milho e folha de bambu) para o condicionamento, e posterior captura dos

grupos de capivaras.

Cada brete de captura será uma estrutura de cercamento de tela construído em uma formação

circular com mourões de eucalipto tratado a cada 2 metros com um diâmetro de 15 metros

(Figura 2), dotados de cercamentos parciais, tipo corredor para proteção e condução dos animais

e de portões de captura remota.

Os portões de captura remota são túneis de tela com porta pendular no interior para permitir

a livre passagem dos animais em ambas ou apenas uma direção, dependendo da intenção e

captura (Figura 3).

Figura 2. Brete de captura.

Mourões de eucalipto 220 x 10 cm Ø

Portões em duas partes 150 x 80 cm

Cercamento de alambrado 150 cm altura (tela com malha 6x6)

15 m

10 m

60 cm

80 cm

60 cm

80 cm

10 m

2 m

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Figura 3. Portão de captura remota.

3.5 Captura e manejo dos indivíduos

Uma vez capturados os animais serão manejados e, por meio de gaiolas de contenção

individual (Figura 4), serão pesados e receberão injeções intramusculares da solução cloridrato

de Cetamina (10 mg/kg) e cloritrato de xilazina (0,5 mg/kg), para a imobilização. Os animais

anestesiados serão monitorados quanto à frequência cardíaca e respiratória, e temperatura retal a

cada 15 minutos.

Será procedida coleta de dados biométricos, bem como de amostras biológicas diversas

como: pelos, fezes, urina, sangue, biópsias de pele, de testículo, e de ovário, as quais serão

devidamente e especificamente acondicionadas e armazenadas para encaminhamento a centros

de estudos parceiros nas diferentes áreas, em resposta a demandas específicas do interesse na

pesquisa científica. Amostras para análises isotópicas e genéticas também serão coletadas.

Figura 4. Gaiola de contenção.

Serão realizadas deferentectomia nos machos e ligadura de tubas uterinas em fêmeas (Figura

5). As cirurgias de deferentectomia serão precedidas de tricotomia e antissepsia do campo

operatório. Na região inguinal, a cada antímero a pele será incisada e, em seguida, o funículo

espermático individualizado, a túnica fibrosa será incisionada para a identificação do ducto

deferente, o qual será ligado em dois pontos com fio de nylon 4-0 sendo seccionado entre eles. A

70 cm

100cm

70 cm

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síntese da túnica fibrosa será feita com pontos festonados usando fio não absorvível de nylon 3-0

e na pele serão feitos pontos intradérmicos com fio de nylon 3-0.

As cirurgias de ligadura de tubas uterinas serão também precedidas de tricotomia e

antissepsia da região do flanco esquerdo. Será feita uma incisão de pele e posterior divulsão a

cada camada muscular no sentido das fibras. Após a identificação do corno uterino esquerdo,

como estrutura referencial, será encontrada a tuba uterina, sendo esta ligada com lacre cirúrgico

de nylon e seccionada. Seguindo o corno uterino esquerdo ate o corpo do útero e depois o corno

uterino direito, será possível o acesso à tuba uterina direita que será igualmente ligada e

seccionada. As sínteses das musculaturas serão feitas com pontos festonados usando nylon 3-0 e

a pele com pontos intradérmicos com nylon 3-0. Todos os animais receberam antibiótico de

longa duração (oxitetraciclina a 20%), implante de microchips, marcação externa (coleiras) e

carrapaticida (cipermetrina). Para este último procedimento, serão utilizados coletes peitorais

fixados em pequeno recipiente com dispositivo de liberação lenta e contínua de carrapaticida do

tipo spot on. Os animais receberão criterioso acompanhamento médico até que se mantenham em

estação, com uma recuperação pós-anestésica segura para a soltura.

Todas as atividades de manejo serão devidamente autorizadas pelos órgãos competentes

(Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, Secretaria de Meio

Ambiente do Estado de São Paulo, Comissão de Ética Ambiental na Pesquisa e Comissão de Uso

de Animais, ambas da ESALQ/USP).

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Figura 5. Procedimentos cirúrgicos no macho e na fêmea (Fotos: Tarcízio Antonio Rêgo de

Paula).

3.6 Avaliação das dimensões humanas (homem-capivara)

A efetividade de qualquer modelo de manejo para a redução do risco de ocorrência de febre

maculosa em humanos depende, em parte, do comportamento das pessoas em relação às

capivaras e seu habitat, assim como do apoio da sociedade ao modelo de manejo proposto.

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Portanto, a abordagem de dimensões humanas, isto é, a aplicação de teorias e métodos das

ciências sociais para descrever, entender, prever e mudar pensamentos e comportamentos

humanos em relação à vida silvestre (Manfredo et al. 1996), pode contribuir de forma

significativa também para o sucesso do manejo de controle reprodutivo de capivaras no campus

“Luiz de Queiroz”.

Métodos qualitativos e quantitativos em pesquisa social serão usados para avaliar os grupos

de interesse – docentes, discentes, funcionários e visitantes do campus – em termos dos seus

comportamentos que afetam o conflito homem-capivara, com ênfase no risco de transmissão da

FMB. Exemplos de tais comportamentos são o uso de áreas com alta densidade de carrapatos e

qualquer ação que afete o tamanho/distribuição das populações de capivaras, ou a taxa de

encontro entre humanos e esses roedores. Serão avaliadas também as expectativas em relação ao

tamanho da população de capivaras (Capacidade de Suporte Cultural) (Decker e Purdy 1988) e a

aceitação ao manejo de controle reprodutivo e demais ações de manejo, com atenção especial às

eventuais divergências entre os grupos de interesse. Os fatores cognitivos (p.ex. conhecimentos,

crenças, atitudes, percepções de norma social, de controle e de risco) e afetivos (p.ex. prazer e

medo) que determinam os comportamentos e expectativas em questão serão examinados dentro

dos marcos teóricos apropriados.

A pesquisa sobre as dimensões humanas será dividida em três etapas: i. exploratória, com

entrevistas predominantemente qualitativas e amostragem por conveniência e em “bola de neve”,

ii. pré-teste do instrumento, em que os questionários específicos para cada grupo de interesse

serão testados, e iii. explanatória, com questionários quantitativos e amostragem aleatória,

visando demonstrar relações de causalidade e generalizar os resultados para toda a população de

estudo.

4. RESULTADOS ESPERADOS

As ações de manejo de controle reprodutivo resultarão diretamente na estabilização do

crescimento populacional (i.e. sem nascimento de filhotes) e, portanto, na redução direta de

animais susceptíveis à Rickettsia rickettsii. Isto poderá levar em última instância a redução dos

riscos de ocorrência da FMB em humanos. A redução da população de capivaras poderá também

levar à redução da população de carrapatos no meio.

Uma melhor compreensão das dimensões humanas do conflito homem-capivara, em

particular dos fatores que determinam a aceitação do manejo das populações de capivara e os

comportamentos humanos que afetam a transmissão da FBM, servirá de base para a elaboração

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de estratégias efetivas de comunicação visando o aumentar o apoio ao manejo de controle

reprodutivo e prevenção de comportamentos de risco.

A avaliação das dimensões humanas permitirá melhorar nossa capacidade de perceber,

influenciar e modificar o comportamento humano, viabilizando uma convivência saudável entre

o homem e a capivara, hoje tão presente e abundante em áreas densamente ocupadas pela

população humana. Esta abordagem permitirá melhorar e amplificar o poder de atuação da

Instituição, principalmente através da comunicação e educação frente a esta tão importante

questão relacionada, em última instância, à saúde pública. A partir da identificação dos fatores

cognitivos e afetivos que determinam os comportamentos e expectativas em questão serão

definidas estratégias de atuação e mensuração dos conflitos existentes.

Espera-se com esta iniciativa construir um modelo de ação que possa ser replicado em

outras áreas com situações-problema similares, incluindo outros campi da Universidade de São

Paulo. Além disso, espera-se gerar conhecimento científico a partir da gestão de uma situação-

problema, buscando através da implementação de ações concretas, minimizar os danos

ocasionados por populações superabundantes desta espécie.

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5. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

ATIVIDADES

MESES

1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12°

Compilação de dados referentes à presença, ao uso de área e à composição genérica e etária de diferentes grupos em regiões de ocorrência de capivaras

X X X

Aquisição de autorizações (ICMBio e Comissão de Ética) X X

Definição das ações e grupos preferenciais para implantação do controle populacional

X

Construção de bretes de captura X X X

Condicionamento dos animais para captura X X X

Captura dos grupos e procedimentos cirúrgicos X X X X X X X X

Monitoramento populacional X X X X X X X X X X

Compilação e análise dos dados obtidos X X

Dimensões humanas: pesquisa exploratória X X X

Dimensões humanas: pré-teste do instrumento X X X X

Dimensões humanas; pesquisa explanatória X X

Avaliação das dimensões humanas ligadas ao conflito homem/capivara

X X X X X X X X X X X X

Produção de cartilhas informativas à comunidade X X

Apresentação do programa de vigilância à comunidade e às autoridades locais

X X

Divulgação dos resultados obtidos através de meios de comunicação

X

Preparo de artigos para submissão X X

6. ORÇAMENTO

As bolsas de graduação serão oferecidas aos alunos participantes do projeto, os quais

coletarão semanalmente os dados em campo. Os radio-colares serão utilizados para monitorar o

deslocamento do grupo e facilitar a captura destes quando necessário. As armadilhas fotográficas

serão utilizadas em campo para auxiliar os esforços de captura, identificando locais de passagem,

quantidade de indivíduos, bem como, frequência de uso das cevas. Os microchips serão

utilizados para marcação individual dos animais capturados e esterilizados. As bolsas de

graduação (valor estimado em R$ 420,50/mês) serão destinadas aos alunos envolvidos no

projeto, os quais serão os responsáveis pelas coletas de dados em campo. A contratação de

serviços será destinada às atividades de construção de bretes de captura e manejo dos animais.

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Abaixo estão descritos os itens, quantidade, valor unitário e total, necessários para este

estudo.

Itens Financiáveis Quantidade Valor (R$) Total (R$) Radio Colares VHF 7 1.100,00 7.700,00 Radio Colares GPS 7 2.300,00 16.100,00 Receptor do Radio 1 2.000,00 2.000,00 Câmera Trap Bushnell 5 1.050,00 5.250,00 Pilha recarregável Sony (2 pilhas/pacote) 10 22,50 225,00 Cartão de Memória 10 20,50 205,00 Microchips Antimigratótios (agulha descartável)

150 14,00 2.100,00

Aplicadores de agulhas de Microchips 3 8,90 26,70 Leitor Universal de Microchip 1 700,00 700,00 Bolsas de estágio para a Graduação 2 5.046,00 10.092,00 Contratação de Serviços de Terceiros (construção de bretes de captura e manejo)

80 70,00 5.600,00

Total 49.988,70

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