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CENBIO Centro Nacional de Referência em Biomassa Centro Nacional de Referência em Biomassa – CENBIO Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo – IEE/USP Avenida Prof. Luciano Gualberto, 1.289 - Cidade Universitária - São Paulo – SP. CEP: 05508-010. Tel.: (55_11) 3091-2654 / 2655 / 2654 / 2591 / 2652 Fax: (55_11) 3091-2649. E-mail: [email protected] Homepage: http://cenbio.iee.usp.br 1 FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO - FAPESP PROGRAMA DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS – PPPP PROJETO DIRETRIZES DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO ESTADO DE SÃO PAULO Workshop Aspectos Ambientais da Cadeia do Etanol de Cana-de-açúcar Realização Centro Nacional de Referência em Biomassa – Cenbio Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo – IEE/USP Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo – SMA/SP Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB Organização e Coordenação Suani Teixeira Coelho Relatoria Suani Teixeira Coelho Carlos Eduardo Vaz Rossell Oswaldo Lucon José Roberto Moreira Beatriz Acquaro Lora

PROJETO DIRETRIZES DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO ESTADO DE SP

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FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO - FAPESP

PROGRAMA DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS – PPPP

PROJETO DIRETRIZES DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGR OINDÚSTRIA

CANAVIEIRA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Workshop Aspectos Ambientais da Cadeia do Etanol de Cana-de-açúcar

Realização

Centro Nacional de Referência em Biomassa – Cenbio

Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo – IEE/USP

Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo – SMA/SP

Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB

Organização e Coordenação

Suani Teixeira Coelho

Relatoria

Suani Teixeira Coelho

Carlos Eduardo Vaz Rossell

Oswaldo Lucon

José Roberto Moreira

Beatriz Acquaro Lora

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Relatório Final

Workshop “Aspectos ambientais da cadeia do etanol de cana-de-açúcar”

Suani Teixeira Coelho1, Carlos Eduardo Vaz Rossell2, Oswaldo Lucon3, José Roberto Moreira4 e

Beatriz Acquaro Lora5.

Resumo Executivo

Esse relatório final tem por objetivo documentar o workshop sobre “Aspectos Ambientais da

Cadeia do Etanol de Cana-de-açúcar”, realizado em 16 de Abril de 2008 na Secretaria de Meio

Ambiente do Estado de São Paulo, como parte das atividades do projeto “Diretrizes de Políticas

Públicas para a Agroindústria Canavieira no Estado de São Paulo” do Programa de Pesquisa em

Políticas Públicas (PPPP) da FAPESP.

O evento foi organizado pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), com a

colaboração da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA/SP) e da Companhia de

Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), visando discutir os diferentes aspectos do tema em

questão.

O Centro Nacional de Referência em Biomassa foi criado em 1996 através de um termo de

cooperação entre o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), a Secretaria de Energia do Estado de

São Paulo (SEE/SP), a Universidade de São Paulo por meio do Instituto de Eletrotécnica e Energia

(IEE/USP) e o Biomass Users Network do Brasil (BUN-Brasil), com a missão principal de

implementar a geração de energia a partir da biomassa utilizando processos eficientes, onde se inserem

os biocombustíveis.

Dentro da área de bioenergia o setor sucroalcooleiro de São Paulo ocupa papel de destaque,

com produção de 62% do etanol no Brasil e 26% do mundo. Na verdade, seus aspectos ambientais

1 Secretária Executiva do Cenbio, relatora do painel IV; 2 Pesquisador Associado do NIPE, relator do painel I; 3 Assessor de Gabinete, SMA, relator painel II; 4 Diretor do Biomass Users Network do Brasil – BUN, Presidente do Conselho Gerenciador do Cenbio e relator do painel III. 5 Pesquisadora do Cenbio colaborou na organização do workshop e na preparação deste documento final.

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vêm sendo exaustivamente discutidos em todos os setores da sociedade, em particular com críticas

cada vez maiores à produção e uso do etanol.

Em particular são propostas sistemas internacionais de certificação de biocombustíveis para

incorporação dos mesmos pelos países desenvolvidos.

Tais exigências, em sua maior parte, são motivadas por interesses comerciais daqueles países e

são muito maiores do que aquelas existentes para combustíveis fósseis, principalmente petróleo.

Neste contexto, o workshop em questão parte do Termo de Referência “Aspectos ambientais da

cadeia do etanol de cana-de-açúcar”, organizado por Oswaldo Lucon (SMA/SP) e conta com quatro

painéis, a saber:

� Painel I – Água na Indústria da Cana-de-açúcar

� Painel II – Uso do Solo e Biodiversidade

� Painel III – Emissões de Poluentes Atmosféricos no Setor Sucroalcooleiro

� Painel IV – Geração de Resíduos da Indústria da Cana-de-açúcar

Estes painéis abordam os aspectos mais importantes referentes ao etanol de cana-de-açúcar.

Este documento apresenta os textos técnicos de cada palestrante e os relatórios de cada painel,

organizados pelos relatores de cada mesa.

Com este documento esperamos contribuir para a discussão da sustentabilidade ambiental da

produção de cana-de-açúcar e de etanol no Estado de São Paulo.

Em anexo são encontrados os Position Papers apresentados pelos palestrantes.

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Sumário

1. Programa do evento

2. Termo de Referência

3. Abertura

4. Painel I – Água no Setor Sucroalcooleiro

- Relatoria: Carlos Eduardo Vaz Rossell, NIPE/UNICAMP

- Palestrante: André Elia Neto, CTC

- Debatedor: Dorothy Carmem P. Cesarini, CETESB

- Debatedor: Eunice Reis Batista, EMBRAPA Meio Ambiente

5. Painel II – Uso do Solo e Biodiversidade

- Relatoria: Oswaldo Lucon, SMA

- Palestrante: Helena Carrascosa, SMA

- Debatedor: Osvaldo Stella Martins, Iniciativa Verde (ONG)

- Debatedor: Suani Teixeira Coelho, Cenbio

6. Painel III – Emissões de Poluentes Atmosféricos no Setor Sucroalcooleiro

- Relatoria: José Roberto Moreira, BUN-Brasil

- Palestrante: Ana Cristina Pasini da Costa, DAIA-SMA

- Debatedor: Cláudio Alonso, SMA

- Debatedor: Carlos Eduardo Komatsu, CETESB

7. Painel IV – Geração de Resíduos na Indústria da Cana-de-açúcar

- Relatoria: Suani Teixeira Coelho, Cenbio

- Palestrante: Edna Bertoncini, Pólo APTA Centro Sul

- Debatedor: Marco Antônio Sanches Artuzo, CETESB

- Debatedor: Raffaella Rossetto, Pólo APTA Centro Sul

8. Conclusões

9. Anexos

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1. Programa do Evento

09:30 – 10:30h

� Abertura

� Francisco Graziano Neto, Secretário de Meio Ambiente (ou representante);

� Fernando Rei, Presidente da CETESB (ou representante);

� José Goldemberg, CENBIO / IEE.

� O Projeto PPPP - Luis Augusto Barbosa Cortez, UNICAMP.

� Termo de Referência “Aspectos ambientais da cadeia do etanol de cana-de-açúcar” – Oswaldo Lucon, SMA.

10:30 – 12:00h

Painel I – Água na Indústria da Cana-de-açúcar

� Relator: Carlos Eduardo Vaz Rossell, UNICAMP.

� Palestrante: André Elia Neto – CTC;

� Debatedor: Dorothy Carmen P. Casarini, CETESB;

� Debatedor: Eunice Reis Batista, (EMBRAPA Meio Ambiente);

14:00 – 15:30h

Painel II – Uso do Solo e Biodiversidade

� Relator: Oswaldo Lucon, SMA.

� Palestrante: Helena Carrascosa, SMA;

� Debatedor: Osvaldo Stella Martins, (Iniciativa Verde);

� Debatedor: Suani Teixeira Coelho, CENBIO / IEE.

15:30 – 16:30h

Painel III – Emissões de Poluentes Atmosféricos no Setor Sucroalcooleiro

� Relator: José Roberto Moreira, Biomass Users Network – BUN.

� Palestrante: Ana Cristina Pasini da Costa (DAIA - SMA);

� Debatedor: Cláudio Alonso, (SMA);

� Debatedor: Carlos Eduardo Komatsu (CETESB);

16:30 – 18:00h

Painel IV – Uso de Agroquímicos e Geração de Resíduos da Indústria da Cana-de-açúcar

� Relator: Suani Teixeira Coelho, CENBIO / IEE.

� Palestrante: Edna Bertoncini (Pólo APTA Centro Sul);

� Debatedor: Marco Antonio Sanches Artuzo, CETESB;

� Debatedor: Raffaella Rossetto (Pólo APTA Centro Sul).

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2. Termo de Referência6

Sumário executivo

O setor de bioenergia encontra-se diante de um desafio extraordinário: o de comprovar e garantir sua

sustentabilidade. Por ser referência mundial em biocombustíveis, cabe a São Paulo capitanear esse processo,

tanto para assegurar as condições do agronegócio como para difundir boas práticas em escalas nacional e global.

Graças ao Proálcool e à maturidade comercial dos veículos flexíveis, o Estado de São Paulo foi

responsável em 2006 por quase 10 bilhões de litros de etanol de cana, cerca de 62% do total nacional e 26% do

total mundial. Altamente eficiente e com baixo custo de produção, o etanol de cana é hoje uma das melhores

opções para mitigar as emissões de gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis. A cogeração de

energia a partir do bagaço é uma alternativa para as termelétricas fósseis poluentes, aos riscos da energia nuclear

e até as hidrelétricas mais complexas.

As emissões veiculares de poluentes regulamentados pelo uso de etanol são comparáveis e até inferiores

às de gasolina e diesel. Os impactos ambientais também foram consideravelmente reduzidos ao longo das

cadeias produtivas agrícola e industrial. Destaca-se nesse ponto a fertirrigação com a vinhaça, o reuso de água e

o gerenciamento de embalagens de agroquímicos.

Contudo, não se podem ignorar as pressões causadas pela vigorosa expansão da cultura da cana de

açúcar no Estado, praticamente dobrando a área cultivada entre 2005 e 2010. Ainda que isso ocorra

predominantemente sobre pastagens pouco aproveitadas, preocupa a preservação e recuperação de

remanescentes florestais, vitais para a manutenção da biodiversidade. Também são foco de atenção os recursos

hídricos, principalmente nascentes e áreas de recarga de aqüíferos. Para isso são necessários critérios e ações

adicionais às atuais. Foco de legislação e de iniciativas voluntárias, também avança rapidamente a redução

progressiva da queima da palha da cana, trazendo consigo uma nova dinâmica produtiva e conservacionista.

Devem ser consideradas as exigências aos processos industriais e à cadeia logística, tanto no licenciamento

quanto na fiscalização. Novos desafios são (i) a prevenção da compactação do solo; (ii) novas emissões de

poluentes atmosféricos em caldeiras de cogeração; (iii) o uso de agroquímicos; (iv) a proteção de áreas de

recarga de aqüíferos.

A competição por alimentos e a indução ao desmatamento pela expansão insustentável da fronteira

6 Documento para discussão, extratos do Relatório da Comissão Estadual de Bioenergia, Termo de Referência n.4, “Aspectos ambientais na cadeia de biocombustíveis, com ênfase ao etanol e biodiesel (TR 4)”, preparado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo – SMA, 15 de agosto de 2007.

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agrícola é um assunto recorrente no exterior, que induz a criação de barreiras técnicas comerciais aos produtos

paulistas. Isso afeta toda a bioenergia plantada. Outro tipo de barreira são as exigências quanto a emissões

veiculares e desempenho de motores a etanol.

Dentre as recomendações desse documento destacam-se: (i) aprimorar os sistemas e métodos de

licenciamento ambiental e de comando-e-controle; (ii) melhorar e dar efetiva transparência às informações

ambientais, com regras claras ao setor produtivo; (iii) avançar em temas complexos como o zoneamento

econômico-ambiental; (iv) proteger remanescentes florestais estaduais, principalmente os cerrados em áreas

particulares; (v) desenvolver mecanismos compensatórios e de financiamento a projetos; (vi) pesquisar temas na

fronteira do conhecimento.

Estado da arte

Sob a perspectiva da análise de ciclo de vida7, a bioenergia colabora significativamente para o

desenvolvimento sustentado, à medida que, regra geral, possui menores impactos ambientais que as energias de

origem fóssil. Além disso, propicia segurança no fornecimento local de energia no longo prazo, induz novas

tecnologias, gera empregos e renda.

A inserção da bioenergia na matriz global deve ser encarada como uma prioridade, por ser uma solução

disponível para o problema do aquecimento global. Segundo o Painel Intergovernamental da ONU sobre

Mudanças Climáticas, as emissões mundiais de gases de efeito estufa pelo setor de energia cresceram 145%

entre 1990 e 2004. O setor de transporte cresceu 120% no período8.

Produtos da cana

O etanol de cana é um produto estratégico para o Estado de São Paulo. Em 2006, produziram-se quase

10 bilhões de litros desse combustível, cerca de 62% do total nacional e 26% do total mundial9. Os produtos da

cana de açúcar – etanol e bagaço – são responsáveis por mais de um quarto da energia primária total no Estado.

O sucesso do Proálcool10 e a consolidação comercial dos veículos flex permitiram essa expansão, que passa do

7 Os impactos serão relatados pela perspectiva de análise de ciclo de vida (ACV), que é uma das principais ferramentas técnicas para avaliar os impactos da cadeia de biocombustíveis, do chamado “berço ao túmulo”. Seus parâmetros são as fronteiras do sistema (condições de contorno) e a unidade funcional (o serviço final propiciado pelo bem avaliado). No caso, as fronteiras do sistema vão desde a conversão do terreno para a cultura do insumo bioenergético até o efeito dos impactos nos corpos receptores. A unidade funcional é o serviço energético propiciado pelo bioetanol, pela eletricidade e calor de processo a partir do bagaço da cana. Os impactos ambientais não ocorrem de maneira uniforme pelas camadas da população, nem geograficamente, nem ao longo do tempo. O tratamento da questão deve considerar as desigualdades e os mais atingidos, tanto em termos de pessoas quanto de ecossistemas. 8 IPCC (2007) 4th Assessment Report, Mitigation, www.ipcc.int. 9 UNICA. Disponível em http://www.portalunica.com.br/portalunica/?Secao=referência e USRFA, http://www.ethanolrfa.org/industry/statistics/#E. 10 O etanol é misturado a toda a gasolina em São Paulo, variando entre 20% e 25% em volume. O álcool também é usado

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mercado interno ao externo com as preocupações mundiais sobre a segurança no fornecimento de energia e com

as emissões de gases de efeito estufa. As baixas emissões de carbono (CO2 principalmente) no ciclo de vida de

um determinado biocombustível são um requisito recorrente em normas estrangeiras, preocupadas com o

fenômeno das mudanças climáticas. O etanol de milho ou de trigo produzido em outros países não consegue

atingir a grande eficiência fotossintética do bioetanol de cana de açúcar, considerado um importante instrumento

de mitigação de emissões.

Por ser altamente eficiente e com baixo custo de produção, o etanol de cana é hoje uma das melhores

opções para mitigar as emissões de gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis. O balanço

energético compreende a relação entre unidades de energia fóssil consumida para cada unidade de bioenergia

produzida. No caso do etanol, os valores de referência são bastante positivos. Em 2005, o balanço (unidade de

energia renovável extraída para unidade de energia fóssil inserida) foi de 8,9:1 e as emissões evitadas foram de

2,86 e 2,16 t CO2 eq. / m³, para o etanol anidro e hidratado respectivamente11.

A tecnologia veicular à base de etanol evoluiu bastante e os automóveis flex possuem emissões totais

comparáveis ou até menores que os dedicados a gasohol (gasolina com até 25% de etanol anidro). O etanol

eliminou aditivos à base de chumbo, reduziu emissões de enxofre e de particulados. Os acetaldeídos emitidos

pelo uso de etanol são menos tóxicos que os formaldeídos decorrentes do uso da gasolina. A Tabela 1 apresenta

as emissões médias dos veículos novos.

Tabela 1 - Emissões médias dos veículos homologados pelo PROCONVE12.

Combustível

utilizado

CO

(g/km)

HC

(g/km)

NOx

(g/km)

RCHO

(g/km)

CO2

(g/km)

Evaporativas

(g/teste)

Autonomia

(km/L)

Gasolina C (22% de

etanol anidro) 0,33 0,08 0,08 0,002 192 0,46 11,3

Etanol hidratado * 0,67 0,12 0,05 0,014 200 nd 6,9

Flex com gasolina C 0,48 0,10 0,05 0,003 185 0,62 11,7

Flex com álcool 0,47 0,11 0,07 0,014 177 1,27 7,8

em frotas dedicadas e em veículos flexíveis, substituindo 40% de todas as necessidades paulistas de gasolina. Na bomba, o etanol custa 70% ou menos em relação à gasolina, tornando o combustível renovável atrativo ao usuário final. 11 Joaquim Eugênio Abel Seabra, Manoel Regis Lima Verde Leal, Isaias de Carvalho Macedo (2007). The energy balance and GHG avoided emissions in the production / use of ethanol from sugar cane in Brazil: the situation today and the expected evolution in the next decade. NIPE, UNICAMP, em publicação. 12 CETESB (2007) Relatório de Qualidade do Ar 2006, www.cetesb.sp.gov.br.

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9

* Nota: as vendas de veículos dedicados a etanol foram praticamente substituídas pelas da linha flex.

Os impactos ambientais do ciclo da cana de açúcar e do álcool foram bastante reduzidos nos últimos 30

anos. A EMBRAPA classifica os impactos sobre o meio físico conforme a Tabela 2 e os sobre a fauna segundo

a Tabela 313.

Tabela 2. Impactos da cultura da cana sobre o meio físico, conforme a EMBRAPA.

Impacto sobre Tipo Classificação

Odores Baixo

Fumaça Baixo

Poeira Médio

AR

Alergênicos Médio

Conservação Altíssimo

Recobrimento Altíssimo

Adensamento Alto

Perda Médio

Sais Baixo

Biológicos Nenhum

SOLO

Agrotóxicos Nenhum

Sais Nenhum

Biológicos Nenhum

ÁGUA

Agrotóxicos Nenhum

13 Para ilustrar, a EMBRAPA apresenta alguns indicativos para os insumos utilizados pela cana-de-açúcar em São Paulo: adubação 408 kg K/ha/ano, 275 kgN/ha/ano e 146 kg P205/ha/ano (ii) corretivo, 3 t/ha/ano; (iii) herbicida, 2 l/ha/ano. Fonte: EMBRAPA (s.d.) Agroecologia da Cana-de-açúcar. Evaristo Eduardo de Miranda (coord.), http://www.cana.cnpm.embrapa.br/canin.html. Vide também, para queimadas, http://www.queimadas.cnpm.embrapa.br/ .

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Tabela 3. Impactos da cultura da cana sobre a fauna, segundo a EMBRAPA.

Classificação do impacto sobre

Alimento Abrigo Reprodução

Mamíferos Médio Baixo Baixo

Aves Nenhum Baixo Baixo

Répteis Médio Médio Médio

Anfíbios Nenhum Nenhum Nenhum

Invertebrados Baixo Baixo Baixo

Justificam-se as preocupações com a expansão da cultura da cana de açúcar no Estado. O aumento da

área cultivada foi 4,8% em média nos últimos 6 anos. Entretanto, só em 2006 o crescimento foi de 9,4%. Em

2005 a cana cobria cerca de 3 milhões de hectares no Estado; em 2006 já eram mais de 4 milhões e estimam-se

para 2010, algo próximo a 6 milhões de hectares. A expansão da cultura da cana ocorre principalmente sobre as

áreas de pastagens, onde há ainda bom potencial para a intensificação de manejo (Tabela 4).

Tabela 4. Uso do solo em São Paulo, 2006.

Milhões de hectares

Cana de açúcar 4,3

Outras culturas 3,6

Áreas cultivadas 7,9

Florestas e cerrados naturais 3,2

Reflorestamento 1,1

Pastagens 9,8

Áreas de naturais e de agropecuária 22

Áreas urbanizadas 2,85

ÁREA TOTAL, SAO PAULO. 24,9

Ainda que os números macros sejam favoráveis à ampliação da cultura da cana, não se pode perder a

perspectiva dos remanescentes florestais, vitais para a manutenção da biodiversidade e da conectividade entre

ecossistemas. Os de cerrado em áreas particulares são especialmente vulneráveis (Tabela 5).

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Tabela 5. Cobertura florestal por bioma em São Paulo.

Mil hectares

Cobertura

Mata

Atlântica Cerrado Total

Florestas e cerrados naturais, 2007 2996 212 3208

Protegidas por unidades de conservação (UC) 867 25 892

Em áreas particulares 2129 187 2316

Florestas e cerrados originais 20057 4824 24880

A queima da palha da cana submete-se a processos de autorização pela SMA, suspensos quando as

condições atmosféricas estiverem desfavoráveis14. Em São Paulo há uma lei em vigor15 para a redução

progressiva da queima da palha da cana. Os prazos são considerados longos demais e uma iniciativa

governamental (Protocolo Agro-ambiental, citado mais adiante) procura chamar os principais produtores para

antecipar tais datas, respectivamente para 2014 e 201716. Atualmente, cerca de 76% das lavouras de cana ficam

em áreas mecanizáveis, com declividades inferiores a 12%..Para limitar a prática da queima da cana no Estado,

uma resolução da SMA17 determina um teto de 2,21 milhões de hectares, reduzindo em 4% as licenças para

queima concedidas ao setor em relação a 2006 e atingindo 130 mil hectares de canaviais. A resolução também

determina que toda usina licenciada a partir de agora só possa moer cana crua. Quem respeitar os novos limites

de queima poderá ter o prazo da licença ampliado em até 50%. Também merecem menção as iniciativas de

âmbito municipal. Pela Lei no 3.963/05, a cidade de Limeira proibiu a queima da palha da cana-de-açúcar.

Justificada por proteger o meio ambiente e preservar a saúde da população, a lei municipal foi considerada

constitucional Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo18. Um projeto de lei semelhante aguarda votação em

Piracicaba.

14 SIGAM (2007) Eliminação Gradativa da Queima da Palha da Cana-de-açúcar. Sistema Integrado de Gestão Ambiental - SMA/CPRN, http://sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam2/default.aspx?idPagina=123. Vide também Lei 11.241/02, Decretos 47.700/03, 49.391/05, 49.446/05, Resoluções SMA 12/05, 33/07 e 34/07. 15 Lei 11.241/02. 16 O Estado de São Paulo tem hoje cerca de 4,2 milhões de hectares de cana plantada. Em 2006 foram colhidos 3,4 milhões de hectares de cana no Estado, dos quais 900 mil hectares sem queima. Os restantes 2,5 milhões de hectares foram queimados. Para se ter uma idéia, 2,5 milhões de hectares correspondem à área de 16 cidades de São Paulo. Cada hectare de cana queimado emite 300 kg de material particulado, que causam problemas respiratórios e sobrecarregam o sistema de saúde pública. No ano de 2006, os 2,5 milhões de hectares de cana queimados emitiram 750 mil toneladas de particulados. 17 Resolução SMA n. 33, 21/06/2007. 18 http://conjur.estadao.com.br/static/text/53687.

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Os protocolos voluntários atraem via certificação aqueles que têm condições de se adequar e norteando

posteriores ações aos que não aderirem. Tais protocolos vêm sendo realizados no Estado em termos setoriais ou

municipais. O caso setorial é o Protocolo Agro-ambiental do Programa “Etanol Verde” (SMA), que premia as

boas práticas do setor sucroalcooleiro através de um certificado de conformidade e outros benefícios em fase de

estudo, como a extensão no prazo de renovação de licenças ambientais. Uma das principais diretrizes do

Protocolo é a antecipação dos prazos de eliminação da queima da palha da cana. Outras importantes são: a

proteção de nascentes e dos remanescentes florestais, o controle das erosões e o adequado gerenciamento das

embalagens de agrotóxicos. As perspectivas de adesão são bastante favoráveis para o protocolo, que determina

um padrão positivo a ser seguido. Resultados positivos permitirão estender a abordagem do protocolo a outros

setores.

O estabelecimento de limites físicos baseia-se em critérios ambientais objetivos, e ampara-se em marcos

regulatórios. É o caso dos já citados “tetos” para as áreas que receberão autorizações (pela SMA) para a

queimada da palha da cana, limites que serão gradativamente reduzidos ao longo do tempo. Também é o caso do

chamado “Decreto de Bacias Aéreas”19, que estabelece sistemas de compensação com créditos de emissão de

poluentes locais para zonas saturadas. Tal sistema ainda é bastante incipiente na prática, principalmente pela

desinformação dos agentes.

Os processos industriais são licenciados pela CETESB. O licenciamento renovável faz exigências para a

adequação de usinas. As usinas de etanol e de cogeração, as refinarias, os dutos e polidutos, os portos e

terminais são empreendimentos sujeitos ao Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), analisados

conjuntamente pela SMA e CETESB. As emissões das usinas são sujeitas ao processo de licenciamento (com

EIA-RIMA) e fiscalização pela CETESB. As desconformidades devem ser observadas e adequadas. As novas

caldeiras a bagaço de cana são sujeitas a controle de óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono e material

particulado, além de fumaça composta de partículas pequenas de poeira, fuligem e outros materiais20. O

licenciamento ambiental renovável faz exigências de melhorias às caldeiras antigas, principalmente para a

otimização das condições de queima e redução de emissões com sistemas de controle (Tabela 6).

19 D. E. 50.753/2006 20 CONAMA (2006) Resolução 382. Conselho Nacional do Meio Ambiente, http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res06/res38206.pdf.

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Tabela 6. Fatores de emissão da Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana, indicativos para

caldeiras, em quilos de material particulado por tonelada de bagaço utilizado21.

Controle final kg MP/t

bagaço

Sem controle 6,96

Controle mecânico com ciclones 3,75

Controle com lavador de gases 0,62

O uso de água, principalmente o consuntivo (sem retorno à origem) é um aspecto que dá grande

vantagem estratégica à cana de açúcar paulista, que dispensa irrigação. A fertirrigação é uma prática

consolidada no setor, que com isso reduziu sensivelmente a necessidade de fertilizantes e o lançamento de

efluentes orgânicos nos corpos d água superficiais22. As usinas paulistas reduziram o consumo de água

consideravelmente ao longo do tempo, mas ainda são grandes usuárias nas regiões dos rios Mogi, Pardo, São

José dos Dourados, Aguapeí e Médio Paranapanema23. Legislação estadual já implementou a cobrança pela

captação de água nas bacias hidrográficas e pelo lançamento de efluentes24.

Espera-se uma melhor proteção de nascentes com a eliminação da queima da palha da cana crua e com

os planos de proteção de nascentes, o que preservará melhor a cobertura natural. A lei de Áreas de Proteção e

Restauração de Nascentes (APRM)25 prevê a participação dos municípios e da sociedade no desenvolvimento de

21 US EPA (2007) Air pollution emission factors, AP-42, www.epa.gov/ttn/chief/ap42/ch01/index.html. 22 Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em 1990 o consumo médio de água uma usina no Centro-Sul do Brasil era de 5,6 m3 de água por tonelada de cana processada. Os dados de 2005 indicam que, em média, as usinas captavam 1,8 m3 por tonelada, representando uma redução de quase 70% no consumo de água. Em 2007 há unidades que trabalham com aproximadamente 1 m3 por tonelada, graças a um gerenciamento e reuso eficientes, disponível em http://www.ideaonline.com.br/. 23 SIGRH (2000) Relatório de situação dos recursos hídricos do Estado de São Paulo – síntese. Junho, 2000. Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, http://www.sigrh.sp.gov.br/sigrh/basecon/r0estadual/sintese/capitulo02.htm. Em 1990, as usinas consumiam 47 m3/s de água, ou 13% da demanda total urbana, industrial e de irrigação. A disponibilidade hídrica atual é de 893 m3/s(Q7,10), para uma vazão de referência de 2020 m3/s. Pelo balanço hídrico do Estado de São Paulo, o escoamento total de 3.120 m3/s representa 29% da precipitação pluviométrica, sendo o máximo potencial teoricamente possível de ser explorado. Por razões econômicas esse potencial se reduz na prática a cerca de 70% desta vazão. O volume das chuvas de 1.376 mm/ano à primeira vista é satisfatório para garantir a produção agrícola; todavia, sua distribuição ao longo do ano não é uniforme. O escoamento básico, que alimenta os cursos d água na época de estiagem, é de 1.285 m3/s, cerca de 41% do escoamento total, sendo os outros 59% relativos ao escoamento superficial direto de 1835 m3/s. A disponibilidade de água subterrânea no aqüífero relaciona-se diretamente com o escoamento básico da bacia de drenagem instalada sobre a área de ocorrência. 24 Lei Estadual 12.183/05. 25 Lei Estadual 9866/97.

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planos específicos de proteção, com sistemas de gestão ambiental, de gestão urbana e dos recursos hídricos. A

administração destas áreas vincula-se ao Sistema Integrado de Recursos Hídricos, em coordenação com os

Sistemas de Desenvolvimento Regional e Ambiental.

Barreiras existentes

São infindáveis os critérios ambientais aplicados à bioenergia, principalmente os europeus. Dentre os

mais freqüentes questionamentos aos biocombustíveis em todo o mundo estão a competição por alimentos, a

segurança hídrica, a indução ao desmatamento pela expansão insustentável da fronteira agrícola26 e a

vulnerabilidade da agricultura às mudanças climáticas27.

Há ainda argumentos ambientais contrários ao uso de biocombustíveis, sobretudo ao etanol em veículos. O

principal é a limitação do teor de oxigenados nas misturas do etanol à gasolina na Europa e EUA, justificada por

estudos técnicos sobre emissões evaporativas e a formação de precursores de ozônio troposférico (O3). Tais

estudos são bastante questionáveis e requerem defesa técnica proporcional, adequada e consistente.

O setor sucroalcooleiro vem apresentando uma vigorosa expansão e, como conseqüência pressões de

ordem ambiental sob uma ampla gama de aspectos. Em São Paulo, uma das prioridades é a proteção dos

remanescentes florestais. Não há ainda um critério objetivo para definir suas dimensões mínimas, nem um

zoneamento agro-ambiental que defina seu posicionamento. As necessidades variam caso a caso. O tamanho

dessas áreas deve ser suficiente para garantir sua função de manutenção das espécies, sua preservação face às

intempéries e outros ataques (gado, por exemplo). A conectividade entre uma mancha e outra é assegurada por

uma distância máxima entre áreas isoladas. Grupos menores de árvores, por sua vez, permitem a migração de

espécies entre os remanescentes florestais. Árvores isoladas têm dificuldade de sobreviver à força dos ventos e

outros efeitos naturais. A reserva legal de 20%, prevista no Código Florestal de 1965 é freqüentemente

descumprida por fornecedores e arrendatários de terras de cultivo de cana. O controle por parte dos órgãos

ambientais é muito difícil28.

Apesar dos esforços de redução, um ponto negativo ainda a considerar é a emissão de poluentes

26 Alguns exemplos: (i) FAO (2007) Food Outlook Report, http://www.fao.org/giews/english/fo/ e http://www.fao.org/docrep/010/ah864e/ah864e01.htm. O relatório se refere aos cereais e às oleaginosas; (ii) UM-Energy (2007) Sustainable bioenergy: A framework for decision makers, http://esa.un.org/un-energy/pdf/susdev.Biofuels.FAO.pdf; (iii) Mikhail Gorbachev e Jean-Michel Severino (2007) Climate Change and water security, http://www.afd.fr/jahia/webdav/site/myjahiasite/users/administrateur/public/communiques/Climate_change_&_water_security_GorbachevSeverino.pdf . 27 Sobre o tema, a UNICAMP, junto com a EMBRAPA, mantém o CEPAGRI - Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (http://www.cpa.unicamp.br/). 28 O Decreto Estadual 50.889/06 procura regulamentar a matéria, mas é objeto de ação direta de inconstitucionalidade pela FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, http://www.fiesp.com.br/ambiente/downloads/esclarec_reservalegal_final.pdf).

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(principalmente particulados) pela queima da palha da cana antes da colheita. Infelizmente é economicamente

atrativo – ainda que irregular - queimar a área plantada que possui determinação de ser colhida crua com

mecanização. A colheita da cana crua manual na prática não existe. Nas áreas de alta declividade (maior que

12%), onde as máquinas não entram, incêndios “acidentais” são freqüentemente reportados. A fiscalização

difusa em campo é muito complexa e muitos defendem o monitoramento por meio de imagens de satélites, com

penalidades aos infratores detectados.

O aumento da mecanização da colheita traz novos desafios ao setor sucroalcooleiro paulista. Novas

tecnologias de colheita estão sendo propostas e a rotação de culturas é uma estratégia importante de regeneração

de solos. A mecanização da colheita da cana permite uma maior produtividade, mas exige uma mínima

uniformidade no terreno. Atualmente as máquinas não cobrem áreas com declividades acima de 12%, o que leva

ao abandono da cultura da cana nessas áreas ou induz a queima da palha da cana, autorizada ou

clandestinamente. Isso deve ser equacionado por autorizações prévias e fiscalização. A redução progressiva da

queima da palha da cana pré-colheita permitirá reduzir a incidência de incêndios não controláveis. Espera-se que

novas tecnologias de mecanização da colheita atinjam áreas de mais alta declividade, mas ainda assim haverá

áreas não cobertas, que poderiam ser submetidas a novos e diferenciados critérios ambientais. Há riscos de

compactação do solo pela mecanização.

O transporte da cana colhida também apresenta impacto, aumentando o risco de acidentes e

deteriorando a infra-estrutura viária.

As tecnologias de cultivo de cana-de-açúcar baseadas no uso de defensivos agrícolas em longo prazo

podem acarretar problemas de difícil previsão29. Por um lado, a decomposição natural da palha funciona como

29 Segundo Prado (2007) e Ometto (2005), os principais agrotóxicos aplicados na lavoura da cana-de-açúcar são: Ametrina (herbicida com nomes comerciais de Gesapax, Herbipax e Metrimex), Atrazina (herbicida para controlar gramíneas anuais e latifoliadas), Clorpirifuos (inseticida considerado tóxico), Diflubenzuron (inseticida de baixa toxicidade), Diuron (herbicida do grupo da uréia, de baixa toxicidade), 2,4 D (herbicida do grupo químico dos fenoxis), Finitrotin (inseticida de baixa toxicidade), Hexazinone (herbicida conhecido como Velar K), Glifosato (conhecido como Roundup), e Paration metil (componente ativo de alguns pesticidas organo-fosforados, com projeto de lei para banimento no país), Simazina (herbicida com nomes comerciais de Topeze e Simetrex SC), Tebuthiuron, (herbicida de nome comercial Perflan e Combine), Telrithiuron e Velpark. Há ainda, de forma clandestina, o uso de Aldrin (um organoclorado de utilização proibida pelo seu poder residual e acumulativo na cadeia alimentar). Fontes: (1) Thiago Guilherme Ferreira Prado (2007) Externalidades do ciclo produtivo da cana-de-açúcar com ênfase na produção de energia elétrica. Dissertação apresentada ao Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo (Escola Politécnica / Faculdade de Economia e Administração / Instituto de Eletrotécnica e Energia / Instituto de Física) para obtenção do título de Mestre em Energia. Orientação: Prof. Dr. José Roberto Moreira São Paulo. Disponível em http://www.iee.usp.br/biblioteca/producao/2007/Teses/Dissertacao-ThiagoPrado.pdf. (2) Ometto, A. R. Avaliação do ciclo de vida do álcool etílico hidratado combustível pelos métodos EDIP, Exergia e Emergia. São Carlos. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2005; (3) PL 1518/1999 - Proibição do uso do Paration Metil em defensivos agrícolas.

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um herbicida. Por outro, é preciso definir uma política de ocupação territorial nas áreas de alta vulnerabilidade30,

como aqüíferos e regiões de abrangência das plumas de emissões das chaminés das usinas, que podem conter

traços dos defensivos. Outro problema é causado pela pulverização aérea de maturadores de cana em outras

culturas e em remanescentes naturais31. A tríplice lavagem das embalagens usadas e o seu envio a locais

adequados de disposição (ou retorno ao fabricante ou comercializador) é prática usual, mas é difícil fiscalizar

disposições inadequadas, que causam passivos ambientais e requerem remediação.

O controle da exploração da água subterrânea não acompanha seu desenvolvimento. Alguns fatores que

agravam a situação são a tímida aplicação dos regulamentos que disciplinam a pesquisa e a exploração de

aqüíferos, o estágio incipiente de produção de normas e diretrizes técnicas de projetos e de construção de poços,

a insuficiência de pessoal técnico habilitado e a falta de aplicação do conhecimento hidrogeológico disponível.

São necessárias ações corretivas e de controle em municípios com grande consumo de água subterrânea como,

por exemplo, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São José do Rio Preto e Bauru, onde já se conhecem os

efeitos de uma explotação intensiva com rebaixamentos excessivos dos lençóis freáticos. A crescente utilização

dos recursos hídricos subterrâneos em todo o território paulista apresenta inúmeras vantagens em relação aos

mananciais de superfície: (i) o abastecimento é facilmente atendido por poços ou outras obras de captação, mais

baratas e de rápida execução, tornando mais flexível o escalonamento dos investimentos especialmente nas

cidades pequenas e médias; (ii) a água captada nos mananciais subterrâneos quase sempre dispensa tratamento.

O destino da vinhaça e efluentes não está definitivamente equacionado com a prática da fertirrigação.

30 Fonte: SIGRH, 2000. As velocidades de fluxo nos aqüíferos variam muito, podendo levar alguns anos para que os efeitos da contaminação sejam produzidos. Nas áreas de maior vulnerabilidade, deve-se ter um cadastro de atividades detalhado e uma política de proteção das águas subterrâneas, dirigida ao manancial (aqüífero) e ao poço Nos últimos anos a poluição dos aqüíferos vem sendo objeto de uma linha específica de trabalho cuja metodologia foi aplicada num projeto abrangente para todo o Estado – com participação de técnicos do DAEE, da CETESB e do Instituto Geológico e permitiu caracterizar os diferentes sistemas aqüíferos quanto à vulnerabilidade natural à poluição, cadastrar a carga contaminante e mapear e classificar as áreas de riscos de poluição. No mapeamento da vulnerabilidade as áreas críticas foram estudadas e classificadas em três grupos comparando-se vulnerabilidade e carga poluidora. As áreas de maior preocupação ambiental concentram-se na região noroeste paulista, área de recarga do aqüífero Bauru. Outras áreas são a zona de recarga do aqüífero Guarani, a região de Ribeirão Preto/Franca e arredores; Bauru e arredores; vale do Paraíba, abrangendo São José dos Campos, Taubaté e Pindamonhangaba; região de Campinas e arredores. 31 Os maturadores são definidos como agentes reguladores do crescimento vegetal que podem causar diminuição do crescimento sem alterar eventos fisiológicos que operam no processo de sintetização e armazenamento de açúcares, resultando em acumulação de mais açúcar (sacarose) nos colmos. A aplicação de maturadores vegetais na cultura da cana-de-açúcar tem se tornado uma prática comum, com o objetivo de antecipar a maturação natural e assim disponibilizar matéria-prima de boa qualidade para industrialização antecipada, e também auxiliar os produtores no manejo das variedades. Os principais produtos utilizados como maturadores no mercado são: Ethrel (Ethefon, regulador de crescimento e inibidor do florescimento), Roudup (Glyfosate, inibidor de crescimento) e Moddus (Etil-trinexapac, inibidor do florescimento). Fonte: Rogério do Nascimento e Antônio Carlos Arabicano Gheller (1999). Resultados da aplicação de maturadores vegetais em cana-de-açúcar, variedades RB72454 e RB835486 na região de Araras, SP. Universidade Federal de São Carlos, http://www.propg.ufscar.br/publica/4jc/ixcic/UFSCar/Agrarias/879-nascimento.htm.

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Por questões econômicas, o lançamento se concentra num raio de 15 a 30 quilômetros da usina, potencialmente

trazendo riscos de contaminação por nitratos em regiões de recarga de lençol freático. Tanques não-

impermeabilizados são potenciais hotspots de contaminação. Não há ainda indícios de salinização pela

fertirrigação e saturação do solo.

Existem cadastros permanentes dos usos doméstico e industrial de água que não são atualizados com a

freqüência desejada32. Não se dispõe de um cadastro de irrigantes, que em geral não solicitam as outorgas para o

desenvolvimento das atividades hidroagrícolas. Isso é fundamental para o sistema de planejamento dos recursos

hídricos.

Muitas usinas antigas ainda emitem quantidades consideráveis de poluentes atmosféricos sem controle

final. Falta estabelecer um instrumento de gerenciamento, que conecte a emissão da fonte e a qualidade do ar e,

ainda, dados de saúde pública. A rede de monitoramento da qualidade do ar da CETESB ainda não cobre a

região das usinas de forma sistemática. Também não há uma base de dados consolidada contendo todos os

equipamentos das usinas, sua idade, capacidade e sistemas de controle final de poluentes. Se localizadas em

áreas consideradas saturadas, as emissões das usinas novas ou a ampliação das antigas acima de linhas de corte

pré-estabelecidas33 estão sujeitas às exigências de compensação de poluentes locais. Isso deve ocorrer com

emissões de óxidos de nitrogênio (NOx), quando a cobertura da rede de monitoramento da CETESB atingir

essas regiões. No caso, os processos deverão reduzir ou procurar compensar as emissões, sendo no segundo caso

a colheita da cana crua uma opção. O “Decreto de Bacias Aéreas” pode ser um importante vetor de

modernização das usinas existentes, mas precisam ser vencidas as barreiras de desinformação de: (i)

compradores de créditos, condição para licenciar seu empreendimento de grande porte em área saturada; (ii)

ofertantes de créditos de redução, caso dos que reduziram emissões e não sabem (como os NOx pela

mecanização da colheita da cana); (iii) intermediadores, consultores, potenciais corretores desses créditos. (iv)

dos próprios agentes ambientais, que pouco conhecem a lei.

Recomendações de políticas e outras ações de Estado

O setor de bioenergia encontra-se diante de um desafio: o de comprovar e defender sua

sustentabilidade34 a todos aqueles que a questionam, por diversas motivações. Muitos estudos já foram

32 A CETESB realiza o controle da poluição das águas, dispõe também de informações sobre o uso industrial; porém, seus dados estão mais voltados ao aspecto qualitativo dos efluentes e não às demandas requeridas pelas indústrias. 33 D. E. 50.753/2006. 34 A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável, a da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU: “aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”. Esse conceito, que foi incorporado na nossa Constituição, considera o tripé social, econômico e ambiental e contém importantes princípios: (i) o de não esgotar os recursos para o futuro, tanto os de

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realizados e tantos outros estão em andamento, impulsionados pelo recente avanço dos biocombustíveis em

escala global e por um movimento para a sua certificação sócio-ambiental35.

É recomendável divulgar mais extensivamente os benefícios do etanol de cana paulista, que muitas

vezes não consegue se destacar das dúvidas genéricas que surgem sobre o balanço energético e as emissões de

carbono por biocombustíveis intensivos em energia fóssil (etanol de milho nos EUA) ou em desmatamento.

Há diversos mecanismos para garantir a qualidade ambiental, partindo-se do cumprimento da legislação,

do monitoramento da qualidade ambiental, do licenciamento de atividades produtivas e de adequada

fiscalização. Quanto ao licenciamento ambiental e a legislação de comando-e-controle, mecanismos

tradicionalmente utilizados, permanecem válidos os diagnósticos e recomendações usuais, como a efetiva

fiscalização e sanção pela não-conformidade. Como a fiscalização difusa é complexa e custosa, mecanismos

auxiliares podem ser de grande valia. É o caso das imagens de satélite, do geoprocessamento e informações on-

line, de telefones para denúncias, de placas de identificação e sinais visuais que orientem a comunidade local. É

também o caso também de convênios com autoridades policiais e de saúde pública, além de procedimentos

padronizados de inspeção de itens constantes do licenciamento de empreendimentos.

Os licenciamentos precisam de procedimentos suficientemente ágeis e não-cartoriais. A celeridade do

licenciamento ambiental depende de quadros técnicos capacitados, em número suficiente e amparados por suas

instituições. Além do embasamento técnico, destaque-se aqui o apoio jurídico, uma vez que por lei o agente

público responde pessoalmente pelo dano causado e, para se resguardar, se ampara em uma interpretação

exagerada do princípio da precaução e em procedimentos administrativos extensos. É fundamental uma relação

construtiva com os Ministérios Públicos (Estadual e Federal), com as universidades e com as organizações não-

governamentais (ONGs), orientando, capacitando e apontando inclusive as deficiências (em termos de

informação, fiscalização e operacionalização das leis ambientais) de forma clara e transparente.

As exigências da CETESB quando da renovação das licenças das usinas de açúcar e álcool, assim como

dos demais processos industriais, são feitas caso a caso. Estas poderiam ser melhor integradas tendo-se um

banco de informações sobre o perfil tecnológico do setor. Não há uma base de dados consolidada com todos os

extração quanto os de depósito de rejeitos; (ii) o de harmonizar o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, o que não ocorre sem conflitos, que devem ser gerenciados pelo Estado; e (iii) o direito universal de consumir na medida das necessidades, que embute a noção de eqüidade. 35 Dentre os quais, mencionem-se: (1) UNICA (2005) A energia da cana-de-açúcar: doze estudos sobre a agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil e sua sustentabilidade. Isaías de Carvalho Macedo (org.). União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo. CDD-338.173610981; (2) Edward Smeets, Martin Junginger, André Faaij, Arnaldo Walter e Paulo Dolzan (2007) Sustainability of Brazilian bio-ethanol. Universidade de Utrecht e Universidade Estadual de Campinas. Report NWS-E-2006-110. ISBN 90-8672-012-9. Disponível em http://www.bioenergytrade.org/downloads/sustainabilityofbrazilianbioethanol.pdf.

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equipamentos das usinas de açúcar e álcool, sua idade, capacidade e sistemas de controle final de poluentes

atmosféricos. Esse banco de dados seria interessante para se avaliar o perfil tecnológico do setor e direcionar

políticas de controle de poluição e de desenvolvimento.

São Paulo já avançou bastante no gerenciamento de recursos hídricos. Nos usos consuntivos da água é

necessário manter um cadastro dos usuários, permanente e com atualização periódica. É também recomendável

a expansão das análises de águas subterrâneas junto aos pontos críticos de concentração de vinhaça, em função

das informações de licenciamento de lançamento e de um inventário de consumo, de geração de vinhaça pelas

usinas e de lançamento por fertirrigação36.

O zoneamento econômico-ambiental é bastante incipiente no que tange à cadeia de biocombustíveis e

ainda não há diretrizes claras para seu estabelecimento. Sem dúvida é necessário um mapeamento completo das

terras adequadas para o cultivo e a formulação de regras que atraiam investimentos e respeitem parâmetros

sócio-ambientais (como pequenos agricultores, núcleos urbanos e infra-estrutura viária, dentre outros). A

eliminação da queima da palha da cana não necessariamente define um zoneamento no Estado, uma vez que

melhorias tecnológicas permitirão que as colheitadeiras atinjam declividades de até 30%.

De uma forma ou de outra, é premente proteger da expansão da fronteira agrícola os remanescentes

florestais e ripários, principalmente os de cerrado em áreas particulares. Para isso, um instrumento importante é

a criação e manutenção de APP´s (áreas de preservação permanente) e RPPN´s (reservas particulares do

patrimônio natural37). O uso de imagens aéreas no gerenciamento de culturas agrícolas, em particular da cana-

de-açúcar, pode auxiliar na proteção desses remanescentes38.

36 Como proposta de longo prazo, o Relatório CETESB sobre Águas Subterrâneas traz uma proposta de gestão integrada de recursos hídricos, baseada no monitoramento da qualidade dos aqüíferos e em inventário. O ordenamento e o uso racional da água na irrigação como no uso urbano e industrial são considerados indispensáveis para evitar graves conflitos entre usos. Os objetivos do gerenciamento dos recursos hídricos são: (i) a distribuição eqüitativa das disponibilidades hídricas entre usos e usuários competitivos36; (ii) assegurar padrões de qualidade compatíveis com as necessidades dos usuários. A derivação quase sempre implica maior possibilidade de conflitos entre usos. Resulta, regra geral, no retorno das águas derivadas em menor vazão, isto é, com perdas consuntivas cujo porcentual varia em cada uso e caso, com alterações de qualidade mais ou menos intensas. De modo geral no Estado de São Paulo é cada vez maior a importância das demandas de água para a irrigação, atividade que mais utiliza e, de longe, a que mais consome água. Águas subterrâneas atendem a uma população aproximada de 5,5 milhões de habitantes; 308 municípios são totalmente abastecidos por esse recurso estratégico, cuja degradação e exaustão podem acarretar conseqüências irreversíveis. No Oeste Paulista, cerca de 80% dos municípios são abastecidos exclusivamente por água subterrânea. 37 Mais em http://www.ibama.gov.br/siucweb/rppn/. 38 Onofre Trindade Jr., Luis F. C. Chavier (2007). Uso de imagens aéreas no gerenciamento da cana-de-açúcar. IDEA http://www.ideaonline.com.br/ideanews/ideanews.asp?cod=46&sec=4. Um sistema automático para a coleta de imagens tem baixo custo se comparado à utilização de aeronaves convencionais, permitindo a operação em vôos de baixa altitude sem risco para o piloto, trabalhadores em solo e instalações. O equipamento permite a obtenção de imagens de altíssima resolução em condições de tempo encoberto, de impossível obtenção por satélites. As imagens desse sistema podem ser obtidas no instante necessário, o que é impossível quando se utiliza imagens de satélite. Imagens de alta resolução obtidas

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Remanescentes florestais e árvores isoladas podem ser consideradas obstáculos em determinados casos

de monocultura extensiva, mas devem ser protegidos. Em terras de fornecedores e arrendatários o controle da

não-ocupação de áreas remanescentes deve se dar também via comprador (usina), cuja atividade interfere em

todo o entorno. A abordagem de compensação de áreas pode eventualmente ser aplicada também para resolver o

problema da Reserva Legal. Trata-se uma questão complexa e com muita interface com o agronegócio

energético. Propostas de recuperação ou compensação entre áreas estão em discussão para equacionar essa

questão crítica. O Código Florestal prevê a compensação ambiental de reserva legal, por outra área equivalente

em importância ecológica e extensão, preferencialmente pertencente ao mesmo ecossistema e localizada na

mesma bacia39. As compensações ambientais são mecanismos não voltados à atividade produtiva, mas de

natureza indenizatória, para danos irreparáveis ou infungíveis, quando da implantação de empreendimentos

causadores de significativo impacto ambiental. Esses recursos são destinados às Unidades de Conservação,

visando manter ecossistemas livres de alterações causadas pela interferência humana40.

O setor produtivo e a sociedade civil em geral necessitam de informação constante e articulada. A

discussão “meio ambiente versus desenvolvimento” deve evoluir apontando os limites físicos à apropriação

privada de bens comuns (atmosfera, recursos hídricos, saúde pública) por meio de regras claras, objetivas,

harmonizadas e suficientemente estáveis. Os diversos sub-setores da bioenergia precisam de manuais

orientativos, de boas práticas ambientais. Também é vital a participação da sociedade civil. Políticas ambientais

também necessitam de um adequado nível de informação, cujos requisitos básicos são: (i) métrica e

abrangência; (ii) imparcialidade e impessoalidade; (iii) transparência e facilidade de compreensão; (iv)

continuidade e periodicidade (v) rastreabilidade e controle de qualidade; (vi) devida publicidade. As

informações ambientais devem ser técnicas e disponíveis, aliviando boa parte da pressão sobre os agentes

ambientais em termos de atendimentos, palestras, esclarecimentos, capacitação e até fiscalização.

Também fazem parte da informação as necessidades de pesquisa e desenvolvimento. É o caso, por

exemplo: (i) de informações biológicas de conteúdo referentes à cana crua sob novos ambientes de produção;

(ii) do incremento na quantidade de produtos agroquímicos, que pode ocorrer com a eliminação da queima da

palha e expansão da monocultura.

A questão dos organismos geneticamente modificados (ou transgênicos) é bastante controversa pelos

seus benefícios em produtividade versus impactos observados ou potenciais. Tais variedades devem ser

são processadas automaticamente para a obtenção dos mapas temáticos de interesse do agricultor, como infestações, regularidade de plantio, distribuição de palha, produtividade e erosões. 39 Art. 44, III, Código Florestal. 40 Art. 36 da Lei 9.985/00, arts. do Decreto 4.340/02 e Resolução Conama 371/06.

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pesquisadas, rotuladas e identificadas. Os estudos devem ser isentos e, nesse tópico em especial, levar em conta

o princípio da precaução. Por outro lado, não se pode proibir a priori possibilidades futuras.

Todas essas recomendações envolvem recursos. Pelo lado governamental, os mecanismos de

financiamento existentes na área ambiental ainda são restritos e não concertados tendo em vista a escala de

produção41 e a complexidade das questões envolvidas. Dos poucos dedicados ao sistema de meio ambiente

estadual, citem-se o PROCOP42 e o FECOP43. A participação privada pode aportar meios adicionais e deve ser

incentivada, resguardadas as áreas de competência governamental, como o exercício do poder de polícia. Um

caso particularmente importante é a pesquisa e desenvolvimento, tratada em outro capítulo desse relatório.

Questões

Pontos principais

- Gestão ambiental integrada dos recursos;

- Ação integrada;

- Mecanismos de incentivo à proteção, recuperação dos biomas e áreas críticas.

Biodiversidade

1. Como garantir a manutenção da Reserva Legal e Áreas de Proteção Permanente (APPs)?

2. Quais são as ferramentas necessárias para garantir a proteção do Bioma Cerrado?

41 Para se ter uma idéia, uma frente de colheita mecânica de 3,2 mil t de cana/dia requer R$ 8,5 milhões, versus R$ 5,2 milhões em uma frente de colheita manual. Para o Estado de São Paulo, serão necessárias 3,65 mil máquinas, além das atuais 1,15 mil em operação. Com a renovação de 15% ao ano, os fabricantes terão de oferecer 3,74 mil máquinas em sete anos, o que corresponde a 535 máquinas por ano só para São Paulo. Fonte: Diana Nascimento (2007) antecipar o fim da queimada: problema ou solução? IDEA, http://www.ideaonline.com.br/ideanews/ideanews.asp?cod=46&sec=. 42 Programa de Controle de Poluição, http://www.cetesb.sp.gov.br/Servicos/financiamentos/procop.asp. 43 Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição, Lei nº 11.160 (18.06.2002) e Decreto nº 46.842 (16.06.2002).

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Águas Subterrâneas

1. Qual é a forma de proteger águas subterrâneas nas zonas agrícolas?

2. Como controlar a aplicação de agrotóxicos nas zonas agrícolas críticas?

3. Como garantir a manutenção e proteção das áreas de recarga dos Aqüíferos Bauru e Guarani?

4. Quais são as ferramentas necessárias para reduzir a vulnerabilidade dos aqüíferos?

Disponibilidade de Água

1. Quais as ferramentas para incentivar o uso racional do recurso?

2. Quais as políticas públicas para ordenamento das outorgas em função da efetiva capacidade de suporte

do meio?

Agroquímicos

1. Como viabilizar o controle de utilização de agroquímicos?

2. Quais são as ferramentas para garantir análises de ciclo de vida detalhadas dos agrotóxicos utilizados?

3. Quais as formas de incentivar a reciclagem e o reúso do recurso água?

Emissões Atmosféricas

1. Como efetivar o controle de emissão de particulados?

2. Como garantir o monitoramento constante das emissões?

3. Como viabilizar o cumprimento do Decreto Estadual 50.753/06 - Compensação de Emissão de

Poluentes Atmosféricos em Zonas Saturadas?

4. Como monitorar caldeiras antigas? Renovação de licença, mapeamento das tipologias, inventário de

fontes e exigência da melhor tecnologia disponível?

Zoneamento Ecológico Econômico

1. Como e quando realizá-lo? O quanto antes. A dúvida é como. Com certeza não agradará a todos. Acho

que deve haver limites físicos, “tetos” de áreas ocupadas, como na queima da palha da cana

3. Abertura

Indicativo da relevância do tema em questão, a abertura do workshop contou com a presença do Dr.

Fernando Rei, Presidente da CETESB, também representando o Secretário de Meio Ambiente Francisco

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Graziano Neto, que ressaltou a importância do tema na Secretaria de Meio Ambiente – SP e CETESB, em

particular com o Programa Etanol Verde (SMA/CETESB), visando à sustentabilidade do setor.

4. Painel I – Água na Indústria da Cana-de-açúcar

- Palestrante: André Elia Neto, CTC

- Debatedor: Dorothy Carmen P. Cesarini, CETESB

- Debatedor: Eunice Reis Batista, EMBRAPA Meio Ambiente

Relatoria: Carlos Eduardo Vaz Rossell (aguardando)

Principais pontos levantados pelo palestrante:

Principais pontos levantados pelo debatedor Dorothy Carmem Cesarini:

Principais pontos levantados pelo debatedor Eunice reis Batista

5. Painel II – Uso do Solo e Biodiversidade

- Palestrante: Helena Carrascosa, SMA

- Debatedor: Osvaldo Stella Martins, Iniciativa Verde

- Debatedor: Suani Teixeira Coelho, Cenbio

Relatoria: Oswaldo Lucon

Principais pontos levantados pelo palestrante:

a) a expansão da cana em SP não se dá sobre vegetação nativa;

b) um desafio é o conflito entre a expansão da cana e as áreas prioritárias de biodiversidade;

c) o Projeto BIOTA (SMA-FAPESP) prevê um mapa de conectividade;

d) a Resolução SMA 15/2008 autoriza intervenções nos locais onde há conectividade;

e) é necessária uma discussão sobre a mudança no uso do solo, baseada na ecologia da paisagem, considerando

a (baixa) permeabilidade da matriz cana (que é inóspita, não favorece o fluxo gênico);

f) a solução passa por (i) proteger tudo o que existe; (ii) formar corredores; (iii) substituir a cana por outra

matriz mais permeável, ex. manejo integrado, nada de queima, agroquímicos adequados, etc.;

g) o Protocolo Agroambiental é uma ferramenta interessante de gestão, com diferentes ações que permitem

melhores exigências no licenciamento;

h) contudo são necessárias distintas abordagens para as áreas próprias das usinas, áreas arrendadas por estas e

áreas de fornecedores de cana;

i) corredores de biodiversidade mais efetivos devem ser mais largos que os das APPs;

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j) é preciso reflorestar áreas sem aptidão agrícola;

k) finalmente, é preciso proteger as árvores isoladas (trampolins ecológicos ou “stone steps”). Recentemente, o

corte foi disciplinado por Resolução (SMA 18/2007).

Principais pontos levantados pelo debatedor Osvaldo Stella Martins:

a) há a incompatibilidade intrínseca entre os conceitos de monocultura e biodiversidade;

b) a monocultura restringe o desenvolvimento de toda cadeia trófica;

c) por outro lado, é impossível imaginar desenvolvimento sem impacto;

d) as matas ciliares não devem se restringir somente aos 30 metros regulamentares; conforme o caso é preciso

prever área maior.

Principais pontos levantados pelo debatedor Suani Teixeira Coelho:

a) a primeira questão a levantar é a pressão indireta sobre a Amazônia, algo que precisa ser bem esclarecido;

b) corredores biológicos são questão fundamental e matas ciliares podem fazer este trabalho;

c) é preciso resolver a questão (complexa) de Reserva Legal;

d) o licenciamento deve contemplar o uso do solo, havendo ou não uma usina no local; deve haver uma atuação

mais assertiva nesse sentido;

e) é preciso conhecer melhor o uso do solo, através de mapas mais precisos;

f) finalmente, urge expandir ao resto do Estado o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE).

Comentários Finais do palestrante:

a) matas ciliares são um dos projetos estratégicos da SMA;

b) a SMA exige informação compulsória pelos proprietários;

c) a Resolução CONAMA 237 fala sobre o licenciamento em áreas com mais de 1.000 hectares. O Estado de

São Paulo pretende regulamentar a questão;

d) o ZEE é de fato uma tarefa hercúlea; podem ser priorizadas algumas regiões.

6. Painel III – Emissões de Poluentes Atmosféricos no Setor Sucroalcooleiro

- Palestrante: Ana Cristina Pasini da Costa, DAIA/SMA

- Debatedor: Cláudio Alonso, SMA

- Debatedor: Carlos Eduardo Komatsu, CETESB

Relatoria: José Roberto Moreira (aguardando)

Principais pontos levantados pelo palestrante:

Inserção da palestrante via mail:

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Tarefas aos empreendedores:

1. Providenciar o estudo dos impactos cumulativos da expansão da atividade canavieira do estado

2. Implementar melhorias tecnológicas para reduzir emissões de MP e NOX sob pena do licenciamento de mais

usinas ficar inviabilizado.

Principais pontos levantados pelo debatedor Cláudio Alonso:

Principais pontos levantados pelo debatedor Carlos Eduardo Komatsu

Comentários Finais do palestrante:

7. Painel IV – Geração de Resíduos na Indústria da cana-de-açúcar

- Palestrante: Edna Ivani Bertoncini, Pólo APTA Regional Centro Sul

- Debatedor: Marco Antônio Sanches Artuzo, CETESB

- Debatedor: Raffaella Rossetto, Pólo APTA Centro Sul

Relatoria: Suani Teixeira Coelho

Principais pontos levantados pelo palestrante:

a) Colheita da cana crua tem benefícios ambientais – palha deixada no solo:

- melhoria de fertilidade do solo (reciclagem de nutrientes via mineralização), controle de erosão,

retenção de água e aumento da biodiversidade do solo;

Mas:

- acarreta em maior tráfego de máquinas levando à compactação do solo;

- problemas agronômicos: necessidade de maiores doses de adubo e herbicidas;

b) Usinas são grandes consumidores de água: escassez de água potável, conflitos de usos múltiplos, cobrança do

uso da água (aumento do custo no consumo) – incentivo ao tratamento, reúso, e estímulo à aplicação da vinhaça

no solo.

c) Vinhaça: praticamente toda a vinhaça produzida é utilizada para fertirrigação – redução do uso de fertilizantes

com potássio, irrigação e aumento de produtividade;

Mas:

- dúvidas quanto ao deslocamento dos contaminantes em solos com histórico de aplicação de vinhaça;

- expansão canavieira: solos de baixo poder tampão; áreas já saturadas de potássio pela aplicação de

vinhaça; colheita mecanizada e palha no solo; uso de gesso agrícola – lixiviação de sais;

- preocupações com os impactos na água subterrânea a longo prazo: áreas de cana em regiões de recarga

de aqüíferos (estudos em andamento);

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- concentração e secagem da vinhaça: custo energético alto, necessidade de estudo de viabilidade

econômica.

d) Resíduos urbanos e agroindustriais:

- gesso agrícola: uso ampliado, benefícios (aumento de valores de pH e concentração de bases na

subsuperfície), necessidade de estudos quanto à lixiviação;

- escórias de siderurgia: corretivos de acidez e fornecedores de silício, necessitando de cuidados quanto

aos metais pesados (normas MAPA 23 e 27 de regulamentação do uso);

- lodo de esgoto: entraves impedem aplicação direta no solo (contaminação de patógenos, metais

pesados entre outros). Resolução CONAMA 375 (alteração em 2006) regulamenta a aplicação.

f) resíduos sólidos (torta de filtro, cinzas, bagacilho): compostagem promove benefícios tais como redução do

teor de água, balanceamento de nutrientes favorável, humidificação do material orgânico, entre outros.

Principais pontos levantados pelo debatedor Marco Antônio Sanches Artuzo:

a) Norma Vinhaça – avanço: resultado de esforços com o setor sucroalcooleiro:

Pergunta: evolução dos trabalhos Aqüífero Guarani / outras áreas?

b) Resíduos – renovação de licenças 2005/2006 – propostas técnicas para resíduos safra 2008:

Pergunta: além da compostagem há outras propostas?

c) Gesso – preocupação, necessidade de pesquisas.

d) siderurgia – preocupação, necessidade de pesquisas.

Principais pontos levantados pelo debatedor Raffaella Rossetto

a) Uso dos resíduos de vários setores; grandes avanços no uso de resíduos – uso de palha/bagaço para

cogeração; álcool de 2ª geração em breve;

b) Vinhaça – grandes avanços com a norma ambiental; avanços agronômicos;

Pergunta: qual o limite do Estado de São Paulo para absorver os resíduos?

Comentários Finais do palestrante

a) Avanços nos estudos do Aqüífero Guarani nas regiões de Jaú e Piracicaba;

b) Setor sucroalcooleiro é “mocinho” quando comparado com as ETEs.

8. Conclusões

O primeiro painel trouxe as questões do uso da água no setor sucroalcooleiro (aguardando envio de

relatoria).

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Durante o segundo painel foram discutidas as implicações quanto ao uso do solo e conservação da

biodiversidade no setor sucroalcooleiro. A conclusão mais importante do debate é relativa à expansão dos

canaviais no estado de São Paulo: a cultura da cana-de-açúcar a não avança sobre áreas de vegetação nativa

atualmente. Entretanto, a pressão indireta da cultura da cana sobre a Amazônia deve ser esclarecida, e divulgada

de forma a não criar obstáculos à expansão do setor.

Ressaltou-se o grande desafio entre a expansão dos canaviais e as áreas prioritárias de biodiversidade.

Levantou-se a questão da necessidade de manutenção dos corredores ecológicos e, segundo a Drª

Helena Carrascosa (palestrante), o Projeto Biota (SMA-FAPESP) prevê um mapa de conectividade dessas

localidades e a Resolução da SMA 15/2008 autoriza intervenções nos locais onde há conectividade. Concluiu-se

também, que corredores de biodiversidade mais efetivos devem ser mais largos do que as APPs e, que a mata

ciliar não deve ser restrita aos 30 metros regulamentares, deve-se analisar caso a caso e, de acordo com a

necessidade, haver previsão de área maior.

A Drª Helena também ressaltou que as matas ciliares são um projeto estratégico da SMA e a mesma

exige informações compulsórias por parte dos proprietários.

Quanto ao uso do solo, conclui-se a necessidade de discussões aprofundadas sobre a mudança no uso do

solo, que considerem a ecologia da paisagem e a baixa permeabilidade da matriz canavieira. A solução deve

integrar proteção, formação de corredores de biodiversidade e manejo sustentável da cultura da cana-de-açúcar.

Além disso, o licenciamento ambiental deve contemplar o uso do solo, e abordagens distintas para áreas

de arrendamento e fornecedores de cana. Drª Helena salientou que a Resolução CONAMA 237 aborda o

licenciamento para áreas de mias de 1000 hectares e o estado de São pretende regulamentar a questão.

E por fim, tratou-se da expansão do Zoneamento Ecológico-Econômico para o estado de São Paulo, que

é de fundamental importância e deve priorizar algumas áreas, tais como as áreas de cultura de cana-de-açúcar.

No terceiro painel foram discutidas as implicações da emissão de poluentes atmosféricos na cultura da

cana-de-açúcar (aguardando envio de relatoria).

Finalmente, no quarto painel, foram discutidos os aspectos da geração de resíduos na indústria da cana-

de-açúcar.

Inicialmente, em contraponto aos benefícios da colheita mecanizada em termos de emissões de GEE na

eliminação das tradicionais queimadas, foram discutidos seus impactos negativos. Foi levantada a questão da

compactação do solo devido ao tráfego das máquinas e os problemas agronômicos da palha deixada no campo

(caso não seja usada para cogeração), que melhora a fertilidade do solo, mas requer maiores cuidados quanto ao

volume maior de adubo necessário e retenção de pesticidas, exigindo doses maiores de herbicidas.

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Quanto ao intenso uso de água na indústria canavieira, a Drª Edna Bertoncini ressaltou que este cenário

deve ser alterado em função da colheita mecanizada e ao menor consumo de água de lavagem, bem como aos

processos de reúso dentro das unidades produtivas.

Nesse contexto, a utilização da vinhaça para fertirrigação tem sido considerada uma solução “nutritiva”

para destinação deste resíduo, quando aplicada dentro dos limites estabelecidos. Destacou-se que a utilização da

vinhaça na fertirrigação é um doas maiores exemplos de reúso de água no Brasil e no mundo.

Contudo devem ser aprofundados os estudos sobre o deslocamento de contaminantes em solos com

histórico de aplicação de vinhaça bem como quanto à saturação do solo de alguns elementos químicos presentes

na vinhaça, como o potássio.

Segundo a Drª Edna, com relação aos impactos na água subterrânea, em especial às regiões de cana

localizadas sobre áreas de recarga de aqüíferos, estudos estão sendo realizados pela Agência Paulista de

Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Pólo Centro-Sul Piracicaba e a União da Agroindústria Canavieira

(UNICA), sob supervisão da CETESB, para monitoramento dos elementos contaminantes no solo. Seus

resultados poderão subsidiar a revisão da Norma P4. 231 – CETESB.

Quanto à utilização dos resíduos sólidos tais como a torta de filtro, cinzas e bagacilho, ressaltou-se a

utilização para compostagem como uma opção bastante interessante, pois promove melhorias nas características

físico-químicas dos resíduos.

A prática da compostagem, já realizada em algumas unidades produtivas, deve servir de exemplo para

destinação destes resíduos, de modo que a aplicação dos resíduos no solo in natura deve ser desestimulada.

Destacou-se também a necessidade de estudos também na área de uso de resíduos urbanos e industriais

que são absorvidos na cultura da cana, tais como o gesso agrícola, os subprodutos da produção de aço e ferro e o

lodo de esgoto.

Drª Edna destacou que em função das características destes resíduos e seu grau poluidor, as normas para

sua aplicação são bastante restritivas. Ainda assim, normas mais claras sobre a aplicação e uso de resíduos de

esgoto são necessárias, que considerem tratamento e desinfecção do efluente, para garantir a segurança de

aplicação e não-contaminação.

9. Anexos (Position Papers)