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Wilson Claudio de Souza Barros COMO CRIAR UMA NOVA PERSPECTIVA DE MUNDO “Justiça é uma constante universal ou um conceito humano?” Wilson Claudio Sorocaba

Projeto Final Laboratório

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Balanço final de 2014 sobre o período de formação no ensino superior (2009-2014) e a evolução do projeto Laboratório de Idéias.

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Wilson Claudio de Souza Barros

COMO CRIAR UMA NOVA PERSPECTIVA DE MUNDO

“Justiça é uma constante universal

ou um conceito humano?” Wilson Claudio

Sorocaba

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Novembro/2014

Wilson Claudio de Souza Barros

Laboratório de Ideias

Trabalho tem por objetivo fazer um apanhado geral das reflexões surgidas no período letivo e a consequente desenvolvimento do projeto laboratório de ideias no contexto.

Sorocaba Novembro/2014

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... PG 4

CLASSES SOCIAIS. ............................................................................................. PG 4

DIÁLOGO .............................................................................................................. PG 6

PROJETO LABORATÓRIO DE IDEIAS .............................................................. PG 11

INAUGURAÇÃO .................................................................................................. PG 12

PROCESSO. ....................................................................................................... PG 14

A UNIÃO E COMPREENSÃO DE DIFERENTES PERSPECTIVAS. ............. PG 15

R ARTESANATOS – Nova etapa. .................................................................. PG 17

OBSTÁCULOS. ................................................................................................... PG 19

ANÁLISE GERAL. ............................................................................................... PG 19

REFÊNCIAS. ....................................................................................................... PG 21

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Infraestrutura ......................................................................................... PG 8

Figura 2: Arte conceitual C.E.PC.E.L. ................................................................ PG 10

Figura 3: Arte conceitual R Artesanatos ............................................................. PG 10

Figura 4: Convite de Inauguração ...................................................................... PG 11

Figura 5: Preparo para inauguração ................................................................... PG 12

Figura 6: Dia da inauguração. ............................................................................ PG 13

Figura 7: Revigoração do espaço ....................................................................... PG 14

Figura 8: Confraternização - R artesanatos........................................................ PG 15

Figura 9: Projeto Leitura na rua .......................................................................... PG 16

Figura 10: Fig. 10 - Barraca na feira - R artesanatos ......................................... PG 16

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“Start Up Familiar onde desenvolvemos ideias e projetos a fim de

fazer do mundo um lugar melhor!

Aqui desenvolvemos ideias e sonhos a que muito foram adormecidos em detrimento

das obrigações do dia a dia.

Se o trabalho mais do que suprir os anseios materiais deve iluminar o espírito, então

nossa missão é pelo menos dar condições à centelha de luz!”

Com essa definição de valores menos ortodoxa apresento a história de uma ideia!

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INTRODUÇÃO

Me lembro claramente da primeira vez que entrei em uma escola particular.

Talvez para você esse momento não deveria ser tão digno de nota, afinal

uma escola é uma escola, não diferem muito umas das outras, com salas, carteiras,

professoras etc. Passamos pelo sentimento de incerteza e descoberta ao se

ingressar em um ambiente novo inúmeras vezes na vida, mas devo alertar que essa

visita tem um sentido especial.

Curiosamente fora bem aqui no Colégio Objetivo no Centro de Sorocaba,

devo confessar que não sei mais em que ano foi isso, mas já naquele dia eu sabia

que estava entrando em uma nova etapa de minha vida.

Era um dia de prova para vestibular, Fatec se não me engano, o tempo

estava um pouco abafado e húmido. Mesmo tendo estudado o que eu achava o

suficiente não seria a partir daquele dia que eu estaria ingressando no curso

superior e não foi a prova que mais me interessou, mas sim as instalações. A pintura

das paredes me parecia estranha, as carteiras eram diferentes e havia um

laboratório de ciências como em filmes americanos com animais vivos e até

computadores! Era um outro tipo de organização, não realmente muito sobrenatural,

mas que me incomodava mais do que fascinava.

Como assim eles tinham laboratórios americanos??! Porque que em todas

as escolas em que eu havia estudado nunca tinha visto nada semelhante? (Uma

indignação um pouco injusta da minha parte pois havia estudado em escolas com

excelentes laboratórios), mas algo não encaixava.

Hoje posso ponderar que a estranheza que eu sentia não era em relação ao

bendito laboratório e sim ao ambiente com o qual eu não estava acostumado. Pela

primeira vez eu pisava meus pés em uma escola particular, um reduto da classe

média e um novo mundo a se explorar.

CLASSES SOCIAIS Essa introdução pode parecer um pouco dramática demais, porém no

decorrer dos últimos cinco anos venho convivendo nesse ambiente intensamente e

devo assegurar que da minha perspectiva a disparidade de mundos dentro de nossa

sociedade é gritante embora seja percebida apenas sutilmente.

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Não pretendo fazer um julgamento de caráter ou ético, apenas algumas

anotações de curiosidade antropológicas que podem apontar o quão distante

vivemos uns dos outros, embora gostemos de pensar que não.

Para que eu possa pôr em perspectiva o meu ponto de vista farei uma

comparação que fiz imediatamente quando tive meus primeiros contatos. É um

ambiente é insanamente semelhante, aos meus olhos, ao modo de vida apresentado

na novela semanal “Malhação” da Rede Globo que eu julgava caricaturesco e

afetado demais para ser real.

Com seus jovens idealizados e com discursos unilaterais essa série global

nunca representou algum toque de realidade para mim, era uma espécie de alegoria

fantasiosa de arquétipos, assim como as mansões com escadas duplas que

enfestam as novelas da emissora mas que para minha realidade inexistem.

O convívio me deixou curioso e ao mesmo tempo insatisfeito com o que via,

de certa forma em reconhecia uma certa ingenuidade em alguns discursos sobre o

ideal da classe média misturados com uma ignorância abissal do mundo que os

rodeia mas ao mesmo tempo invisível.

Vou exemplificar com uma situação que presenciei mais de uma vez o grau

de estranheza que jovem de classe média me passou.

A ESAMC fica na região central da cidade, a uma pequena distância a pé do

centro popular da cidade e sua principal via de acesso é a rua da Penha onde a

partir do Hotel Ipanema vê-se uma clara desassociarão com o centro e uma

distinção em sua arquitetura e comércio a um público mais seleto.

Essa fronteira não é apenas física subliminar, pois ouvi e presenciei

comentários temerosos de alunos sobre o seu destino ao descerem as calçadas ao

“centro” como se pudessem ser assaltados ou acuados (inclusive de homens e

grandalhões!). E isso a luz do dia!

Percebi que o contato desses jovens com certas adversidades e outros

padrões sociais é limitado e limitante para uma compreensão mais complexa do

mundo.

Esse comportamento em geral é guiado por padrões que a classe média

brasileira se impôs nos últimos anos. Viver em condomínios fechados com

decoração de bairros de americanizados (novamente, parece filme!), alheios aos

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vizinhos de fora. Quando saem (apenas de carro), vão a ambientes selecionados e

seguros, onde interagem com seus iguais, sempre protegidos do mundo de fora

como em uma bolha social com seus símbolos de riqueza status.

Contudo do outro lado da moeda a alienação não é muito diferente...

Um fenômeno duvidoso que ganhou força entre os jovens das classes

emergentes é a desenfreada cultura do consumismo. Na necessidade de ganhar um

status social mais representativo os jovens recorrem a produtos e serviços que estão

claramente fora do seu poder aquisitivo com um agravante, não têm a consciência

de se “equilibrar as contas” na balança econômica entre o PRODUZIR para

CONSUMIR. Vejo uma importância exagerada onde os fins nem se quer justificam

os meios pois eles, os meios, se quer são questionados. O que interessa é ter

“aquilo” para ser “algo”.

Há uma falta de compreensão de si mesmo, e o seu papel na sociedade

com seus direitos e obrigações onde os apetrechos físicos e sociais tem significado

fora da realidade.

Historicamente as elites sempre se mantiveram distante do povo, e as vezes

em maior grau do que hoje em dia. Mas do ponto de vista ético e prático essa

separação também nunca foi louvável em qualquer sociedade.

Tenho uma impressão cada vez mais clara que estamos vivendo um

momento de polarização de pensamentos, que é perigoso para uma sociedade que

sempre viveu distinção de classes e ao se aproximarem como veem fazendo nos

últimos anos não criem um diálogo verdadeiro e construtivo.

DIÁLOGO Apesar dos pesares, creio ser um privilegiado por viver em tempos de

intensas atividades de nossa sociedade e nascido no momento certo.

Lembro que quando criança fui matriculado em um curso de informática,

(nos idos anos 80) e estava extremamente entusiasmado com a possibilidade de

mexer com aquelas maquinas futuristas de nave espacial. Tamanha foi minha

frustração quando descobri que era apena aquela tela preta com letras verdes e uns

tais programas como MS DOS, LOTUS 123 e WORDSTAR. Eu já esperava algo

com desenhos e imagens ou cores pelo menos!

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Felizmente algum tempo depois chegou o Windows e todo o resto da

informática colorida para alegrar os nossos dias.

Esse tipo de sensação e frustrações de que algo está faltando e que logo

poderá ser alcançado sempre permeou minha vida.

Em inúmeras ocasiões eu me percebi em uma vanguarda de pensamento

fora dos padrões estabelecidos que me fizeram sérios prejuízos. Entretanto nunca

perdi essa identidade.

A um bom tempo essa insatisfação surgiu novamente quando adentrei ao

mercado de trabalho, o sistema, a lógica e os esquemas da vida adulta não me

parecem fazer sentido até hoje.

Temos obrigações para com sistemas (políticos, sociais, naturais etc.),

ideologias (religiosas, morais etc.) e cronogramas que nos impelem a manutenção

de uma ordem que não necessariamente nos traz a felicidade, mas que nos pede

que façamos isso pela felicidade.

Na questão do trabalho por exemplo:

Como empregado você é ferramenta para o lucro do patrão, onde a maior

parte da energia gasta em seu trabalho são para o benefício de outrem (mais valia,

valor agregado, expertise etc.), e a princípio não parece que há uma recíproca na

mesma intensidade.

Como empregador a conta também não parece se equilibrar, pois a

organização invariavelmente sobrepuja o indivíduo de tal forma que ele se torna

também só mais uma peça do sistema.

Afinal, estamos aqui para servir ao sistema ou é ele que deve nos

servir?

O fim dos anos 90 e início dos anos 2000, viram nascer um questionamento

maior sobre o que estamos fazendo aqui além da acumulação de poder crescimento

econômico e alimentação de ideais utópicos.

Começou a ser mais aceitável pôr em prática ideias menos calcadas em

acúmulo e sim em compartilhamento. Em sustentabilidade ao invés da exploração,

em pensar no bem do próximo além de si. Tudo isso, talvez graças ao advento da

internet e da geração Y.

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Agora um novo tipo de trabalho está em ebulição, a produção colaborativa e

os fins comunitários convivem com a necessidade do lucro e o acúmulo de poder

gerando uma dinâmica interessante nos indivíduos onde se pensa em ganhar muito

dinheiro e contribuir com o mundo...Mas como conciliar tudo isso de maneira

equilibrada?

Tenho uma teoria de que dentro de um conjunto, quando os valores radicais

se exaltam é porque a maior parte da massa está pronta para ou assimilando

conjuntos de valores que irão transforma-la substancialmente.

O que me leva a pensar que os fatores sociais referidos no capítulo “classes

sociais” são sintomas de uma transformação que podem ser orientados para o bem

ou para o mal. O grande perigo é que historicamente a radicalização tende a se

sobrepor a tolerância, por isso vejo esse momento como tempos de cautela.

Se há alguma radicalização na ignorância (do ato de ignorar o próximo) creio

que é nosso dever como humanidade, nos entendermos como tal. Não tenho uma

equação correta para isso, mas suponho ser vital a compreensão do outro a para a

sobrevivência da civilização.

PROJETO LABORATÓRIO DE IDÉIAS O que é o Laboratório de ideias? É a fusão dessa minha insatisfação com o

trabalhar e o desejo infantil de ter aquele lugar próprio onde os sonhos fluem.

Basicamente pequei os recursos que tinha e investi na infraestrutura do

salão em casa que estava “paralisado” por falta de recursos e dei um fim a ele.

Fig. 1 - Infraestrutura

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Portanto não passa de um espaço físico branco com uma série de mesas,

uma modesta biblioteca e infindáveis possibilidades.

Porém quando me perguntavam o que ou ia fazer ali, constrangedoramente

eu não tinha uma resposta correta. É o investimento em um sonho nebuloso, mais

em um sentimento do que uma razão em si.

Embora eu ainda tenha dúvidas do retorno financeiro que esse

empreendimento possa me trazer, nada irá apagar a sensação de finalmente criar

algo que você realmente quer, não por razão A ou B ou se tem algum sentido ou não

para os outros, mas sim por que você quer ver esse seu anseio realizado.

Depois de pronto, por muitas vezes eu me peguei olhando ao redor desse

salão cheio de coisas que não estavam trazendo lucro nenhum e mesmo assim me

sentir feliz e completo nessa missão.

Ainda assim eu deveria dar um destino no mundo a esse lugar, e nada mais

certo do que dar o nome prático como “Laboratório de Ideias”, aliado a um conceito

bem “modernos” de fácil assimilação hoje em dia, a tal da Start Up. Onde eu poderia

finalmente incluir as pessoas que foram mais importantes para a que eu chegasse

nesse ponto, Meus Pais.

A verdade é que a aspiração veio deles, de alguma forma eu compreendi

que esse espaço estava sendo feito para que eles pudessem, finalmente depois de

tanto esforço e tempo, finalmente pudessem se dedicar às suas próprias coisas.

Ali vi a possibilidade deles poderem dar asas as suas aspirações e

habilidades livres de cobrança imposta pelo mercado, eles finalmente poderiam

trabalhar em suas inspirações livremente.

Meu pai tem formação como técnico em eletrônica, é um grande entusiasta

de ciências e pedagogia porém sempre se furtou de realizar suas ideias as custas

de seu espírito altruísta e de uma experiência mais teórica da vida. Desde criança

ouço ele falar se seu hipotético laboratório de eletrônica, a C.E.P.C.E.L. (Centro de

Pesquisas do Elétron Livre), então nada mais justo que dar lhe essa centelha.

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Fig. 2 - Arte conceitual C.E.PC.E.L.

Já minha mãe é dona de casa com uma história mais dura em sua infância,

porém com um entusiasmo explosivo e prático tinha em suas habilidades com

artesanatos em fios (lã e crochê) uma certa frustração por não ter um

reconhecimento e continuidade de seu legado. Portanto nada mais justo que

também dar lhe esta centelha.

Fig. 3 - Arte conceitual R Artesanatos

Assim temos então habilidades, entusiasmos adormecidos e um lugar para

começar, sem necessariamente termos um foco de até aonde chegar, mas até aqui

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o importante já é positivo saber que tem uma estrada e que se pode andar por ela,

faltava ainda saber onde ela pode nos levar.

INAUGURAÇÃO A seguir transcrevo um texto que publiquei logo após a inauguração do

espaço para demonstrar o sentimento que me ocorreu aqueles dias

Fig. 4 - Convite de Inauguração

“No último dia 22 de dezembro de 2013 foi realizado um experimento.

Após muitos esforços financeiros estruturais e físicos, finalmente pude ver

pronto um espaço que a algumas gerações de minha família vem se desenhando no

mundo das ideias.

Um laboratório, uma oficina, que seja, um lugar próprio feito para "o criar"

preferencialmente sem um compromisso com o mundo dos deveres e

responsabilidades.

Desde os brinquedos de madeira feitos por meu avô, passando pelo fascínio

com as histórias do laboratório do Franjinha na turma da Mônica, as experiências

eletrônicas de meu pai e o artesanato em lã de minha mãe eu imaginava um que

esse lugar deveria existir.

E agora existe!

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Contudo eu ponderei que ele deveria abranger algo mais, com alguma

ligação com o mundo real, onde pudéssemos expandir as ideias e conectá-las com

outras pessoas e interesses.

Então foi organizado esse evento, um "Brainstorm" disfarçado de festa, onde

eu convidaria pessoas dos mais diferentes ramos, pensamentos e formação que

tiveram participação em minha vida num só lugar pela primeira vez. Essa

"inauguração" onde elas finalmente se conheceriam e conheceriam outras

possibilidades e quem sabe brotariam outra ideias e possibilidades...O plano parecia

perfeito!

O resultado. A princípio, um visível desastre!

Praticamente ninguém apareceu, e os pardos participantes saíram frustrados

ou magoados. Parecia o triste fim de um sonho, mesmo que alguma pequena

semente tenha sido plantada naquele dia estou a espera para vê-la germinar...

Contudo se a "Tempestade Cerebral" era a intenção ela foi devidamente

castigante e trouxa algumas reflexões sobre o projeto, que serão bem úteis.

Esse lugar será base para o trabalho final de conclusão da Faculdade, outro

fator que devo considerar ao planejar o seu futuro. Não sei exatamente que rumos

ele irá tomar de agora em diante, mas estou feliz que ele tenha ficado em pé!

2014 será um ano de muitas novidades e surpresas para todos nós!”

Fig. 5 - Preparo para inauguração

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Fig. 6 - Dia da inauguração

As reflexões foram muito esclarecedoras, naquele dia principalmente em

relação aos outros. Obviamente não se pode contar com a participação deles em

algo que você julgue importante enquanto eles não percebam se aquilo tem vínculo

com partes vitais de sua existência. Invariavelmente ligadas a sobrevivência ou a

reprodução...leis de Darwin!

(Portanto saiba que essa leitura é muito relevante para sua vida profissional

e pessoal e pode lhe custar a adaptação no teste da evolução!)

Por mais que eu tenha oferecido comida e bebida de graça e tenha

convocado pessoas que foram importantes no decorrer de minha vida era evidente

que essa importância ou estava no passado ou não se fazia recíproca.

Eu deveria dar um norte, um significado mais contundente a minha iniciativa,

de forma a que eles entendessem o quanto ela poderia ser benéfica a eles. Mas

como eu faria isso se o propósito da inauguração em verdade era pesquisar as

possibilidades de onde e como poderíamos trabalhar juntos?

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PROCESSO Enfim, apesar da desventura da inauguração aqui estávamos prontos para

trabalhar.

Porém logo no início de 2014 fui surpreendido com uma nova iniciativa de

meus pais que resolveram ajudar meu irmão a montar uma loja de materiais de

construção deixando todo aquele processo de lado.

Talvez embalados por esse espírito empreendedor ninguém refletiu sobre o

fato que nenhum dos envolvidos tinha uma experiência sólida com o comércio, mas

sim com “conflitos familiares”. As consequências foram até que previsíveis, em

alguns meses o fim do negócio com prejuízos financeiros e afetivos.

Neste período utilizei espaço como um laboratório no rigor da palavra,

tentando estudar novas possibilidades, caminhos profissionais e assuntos de

interesse enquanto atendia um ou dois clientes próximos. Apesar dos poucos

contatos tive na inauguração, minha parceria com a “Bonecos Infláveis” fortalecida

nesse encontro, onde tivemos um proveitoso período nas eleições de 2014.

Após a ressaca empreendedora meus pais voltaram a ver as possibilidades

desse espaço e finalmente fiz mais uma leva de investimento em sonhos.

Fig. 7 - Revigoração do espaço

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A UNIÃO E COMPREENSÃO DE DIFERENTES PERSPECTIVAS

A partir desse momento ficou mais interessante a observação de várias

dinâmicas e áreas diferentes convivendo no mesmo espaço.

Por exemplo eu não precisava ter portas abertas para dedicar as minhas

tarefas, contudo minha mãe utilizando se de sua vocação comercial abril seu ateliê

ao público de forma que começou a ter uma intensa movimentação e interação com

a vizinhança, de onde ela conseguia novos clientes e o que achei mais contundente,

o interesse de outras pessoas pela atividade.

O pequeno estímulo de ter ela empreendendo sua arte fez com que vizinhas

compartilhassem dessa atividade, querendo aprender e trabalhando, mesmo de

maneira sutil uma interação produtiva seus trabalhos em lã e crochê.

Houve um fortalecimento no convívio social na autoestima e na valorização

social dessa atividade que não pode ser mensurada monetariamente.

Fig. 8 - Confraternização - R artesanatos

Essa confraternização e o interesse estimulado na comunidade me fez

questionar o grau de alienação e pensamentos intolerantes figuram em nossa

sociedade. O quão pode ser forte um pensamento unilateral, uma ideia fixa, um

dogma social mediante a experiência? Eu mesmo tinha um certo preconceito quanto

ao interesse das pessoas da vizinhança pela busca do conhecimento. Acreditava

que ao meu redor não tinham maiores aspirações do que o churrasco de domingo e

o carro novo (mesmo sem tirar a carta de motorista!).

Resolvi que era hora de ampliar esse experimento.

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Desde a juventude fui um colecionador de revistas em quadrinhos de modo

que já tive uma considerável coleção de “gibis” e ainda ostento um respeitável

número de títulos. De fato eu fui muito apegado a esses bens materiais entretanto

parados em minhas caixas de papelão eles não agregavam mais nenhum valor,

além do nutricional as traças e fungos.

Resolvi realizar mais um capricho de minha infância nerd, ter uma estante de

revistas igual as de banca, com os títulos dispostos de frente para o observador.

Mas esse lux o tinha um propósito, pois eu resolvi que serviria como um projeto

social onde eu disponibilizaria uma parte dos meus títulos (ainda tenho um grande

apego com boa parte desse material!) a quem quisesse ler. Como os vários projetos

que empresta livro espalhados pelo Brasil.

Outra vez foi um inesperado sucesso para mim, onde o público alvo, as

crianças da rua ficaram particularmente interessadas em ler, levavam as revistas em

tinham a consciência de devolve-los sem qualquer repreensão necessária.

Levando em consideração o julgamento que se tem dessa geração como

imediatista, preocupada apenas com celulares e redes sociais, é sensato reavaliar o

pensamento simplista que fazemos das novas gerações.

Fig. 9 - Projeto Leitura na rua

Outro fator que chamou a atenção foi a disposição de outros moradores da

vizinhança doarem seus livros e revistas para o projeto aumentando o acervo em

quantidade mas principalmente na diversificação de temas e formatos.

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Essa atitude evidencia a valorização dada pelas pessoas que convivem no

entorno a propagação do conhecimento e no benefício que seu semelhante

poderiam obter sem a necessidade de um retorno imediato.

Observe que pequenas atitudes de aproximação, de facilitação criaram

ambientes favoráveis a mudanças determinantes em comportamentos e

posicionamentos, inclusive o meu, no contato com o outro transformando realidades.

R ARTESANATOS – Nova Etapa

O espaço estava bom, com horários flexíveis, companhias agradáveis,

inclusive com uma renda razoável, porém minha mãe resolveu que estava na hora

de ampliar seus horizontes.

Em um acordo com uma das vizinhas entusiastas que está aprendendo

crochê com ela resolveram ter uma barraca na feira itinerante de artesanato de

Sorocaba, um deseja antigo dela de propagar seus trabalhos, acabou se tornando

também uma realidade.

Fig. 10 - Barraca na feira - R artesanatos

Mais uma vez podemos ver observar uma mudança de paradigma, a busca

por novos desafios em um ambiente desafiador onde o confronto com uma realidade

desconhecida. Não há garantia de sucesso na empreitada, porém o conhecimento a

experiência vivida por elas será bem mais proveitosa do que se tivessem ainda

resignadas em seus mundos de dona de casa simplesmente.

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Com esse exemplo volto aos pensamentos exprimidos no início desse

documento, há uma certa resistência na sociedade em compreender o ponto de

vista do outro. Muitas vezes na história o homem fala sobre a empatia, a habilidade

de se colocar no lugar do outro, porém confunde essa habilidade com a vontade de

colocar o outro no devido lugar.

Queremos que o outro se adapte a nós, que siga os nossos paradigmas ou

que pelo menos não indefira neles.

Sei que é difícil estabelecer essa empatia social, diferente da emocional,

onde a dor ou a alegria podem facilmente ser contagiada os signos que nos

formatam como seres sociais tem um filtro mais espeço.

Durante cinco anos eu tento policiar meus pensamentos mais pejorativos

quanto aos colegas mais privilegiados e realmente é difícil me colocar numa posição

onde dificilmente a falta de dinheiro ira me afetar. Da mesma forma creio que seja

estranho a ele imaginar uma situação em que no mês que vem pode não ter dinheiro

para suas necessidades básicas ou perder o “paitrocínio” para a faculdade.

Contudo acho imprescindível a aproximação social, não uma supressão

cultural como sempre ocorreu em toda a história da humanidade, mas acredito que a

troca só faz enriquecer o conhecimento humano. Estamos passando por um período

chave na humanidade onde os mais pobres estão tendo alguma chance um pouco

melhor do que seus antepassados. Hoje países pobres têm alguma voz, camadas

mais pobres tem mais possibilidade de mobilidades social. Embora as riquezas do

mundo ainda estão extremamente concentradas existe uma mentalidade de que a

prosperidade é um direito de todos. É um grande avanço se compararmos com o

mundo de 500, 200, 100 anos atrás.

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OBSTÁCULOS Bom! Então a vida vai de vento em popa!

Finalmente estou a um passo de terminar a tão perseguida faculdade,

consegui empreender minha família em seus sonhos, ganhei mais dinheiro com

meus trabalhos do que se estivesse empregado, fato este que corroborava com

minhas “teorias trabalhistas”, estava criando minhas marcas, projetos de longo

prazo, investindo em alternativas financeiras arrojadas, inclusive na construção da

casa, a um passo de cobrir a laje até namorada nova arranjei!

Mas a vida está sempre atenta e basta apenas dois segundos de

desatenção e ela lhe passará a rasteira.

Na última semana de outubro de 2014 sofri um acidente de carro no qual

felizmente não ouve vítimas graves (além os dois carros, meu rosto e o meu bolso!)

onde tive toda essa cadeia de eventos interrompida.

É extremamente frustrante você estar a um passo de fechar um ciclo com

chave de ouro e ver toda essa expectativa desmoronar na sua frente. Embora desse

trabalho eu tenha documentado coisa construídas no último ano esse acaso

conseguir destruir um planejamento de muitos anos.

Hoje me vejo numa situação de reunir os cacos concluir o que puder ser

concluído e tentar entender o que virá daqui por diante.

ANÁLISE GERAL Para concluir essa série de devaneios quero deixar alguns pontos que

espero poder ajudar na reflexão do corpo docente dessa escola.

Vocês estão formando os tais “líderes” que podem direcionar o futuro

próximo do mundo, analiso que essa função possa ser melhor exercida quando esse

líder experimenta a realidade de seus liderados, é preciso que se misturem e se

“miscigenem” mais com o mundo que os cerca. De alguma forma a academia

deveria ter mais contato com as faces mais distantes da sociedade e apresentar as

distintas realidades a seus alunos, além do sonho de serem servos das “incríveis

multinacionais e seus fantásticos salários”.

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Percebo um ar de superioridade e distanciamento disfarçado pelos bons

modos como uma espécie de escudo contra a realidade. (Isso serve para vocês

também!)

Muitos colegas não compreendem o tamanho das regalias que eles têm nas

mãos e despedaçam seus anos de estudo sem a compreensão do seu papel na

sociedade.

Se uma pessoa já vem ao mundo com uma boa dose de recursos garantidos

imagino que essa vantagem competitiva não deveria ser encarada como sorte ou

privilégio e sim como uma RESPONSABILIDADE perante a sociedade.

A conscientização desse “status” passa pela educação.

OBS: Essa observação não deve ser generalizada a todos colegas

extremamente competentes e carismáticos que vejo se formando nessa instituição

mais sim a uma boa parcela que me parece desconexa de com o funcionamento do

mundo.

O processo de aproximação deve se dar em todos os âmbitos sociais,

principalmente os que tem uma ligação natural como Empresa/Comunidade,

Tecnologia/Pessoas, Informação/Comunicação, Conhecimento/Desconhecimento e

para trabalhar isso tenho disponível o nosso laboratório... Para novas ideias!

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REFERÊNCIAS overdosebr.com, Site Pessoal. Disponível em: http://www.overdosebr.com/home Acesso em: 12/11/2014. Laboratório de ideias, Página facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/labideia Acesso em: 12/11/2014. Esamcologia, blog. Disponível em: http://esamcologia.blogspot.com.br/ Acesso em: 12/11/2014. Dosebr, Página facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/dosebr Acesso em: 12/11/2014.