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PROJETO NOVO NORTE CAPIXABA: ALINHAMENTO ESTRATÉGICO DOS PROJETOS ESTRUTURANTES EM DESENVOLVIMENTO NO NORTE CAPIXABA Aminthas Loureiro Júnior Ana Ivone Salomon Marques Nádia Dorian Machado

PROJETO NOVO NORTE CAPIXABA: ALINHAMENTO … CONSAD/paineis... · Trata-se de Projeto de alinhamento das iniciativas de desenvolvimento sustentável ... da “cabeça norte” do

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PROJETO NOVO NORTE CAPIXABA:

ALINHAMENTO ESTRATÉGICO DOS PROJETOS

ESTRUTURANTES EM DESENVOLVIMENTO NO

NORTE CAPIXABA

Aminthas Loureiro Júnior Ana Ivone Salomon Marques

Nádia Dorian Machado

II Congresso Consad de Gestão Pública – Painel 4: Desenvolvimento equilibrado: um desafio regional

PROJETO NOVO NORTE CAPIXABA: ALINHAMENTO ESTRATÉGICO DOS PROJETOS

ESTRUTURANTES EM DESENVOLVIMENTO NO NORTE CAPIXABA

Aminthas Loureiro Júnior Ana Ivone Salomon Marques

Nádia Dorian Machado

RESUMO Trata-se de Projeto de alinhamento das iniciativas de desenvolvimento sustentável realizadas numa mesma região geo-econômica, evitando lacunas ou sobreposições nas propostas e nos resultados das intervenções, tanto nos Municípios, quanto nas regiões envolvidas. O grande desafio foi elaborar metodologia que permitisse a compatibilização das iniciativas existentes promovendo a racionalização dos esforços dos diversos Atores envolvidos, tendo como direcionador o Plano Estratégico de Desenvolvimento de longo prazo do Estado do Espírito Santo, o ES 2025. A opção foi pelo trabalho participativo com os Atores que apresentaram Projetos para a Região. A metodologia envolveu: o levantamento dos Projetos; seu alinhamento com o ES2025; a priorização dos Projetos; e a elaboração de Matriz de Convergência. Tal metodologia buscou preservar a coerência e a consistência, contemplando, em seu escopo: atendimento aos aspectos ambientais, sociais e econômicos; efetividade; facilidades; e abrangência dos Projetos.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 03

2 APROXIMAÇÃO TEÓRICA.................................................................................... 05

3 METODOLOGIA..................................................................................................... 11

4 A MATRIZ DE CONVERGÊNCIA........................................................................... 14

5 DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS............................................................. 16

6 CONCLUSÕES....................................................................................................... 19

7 REFERÊNCIAS E INDICAÇÕES DE LEITURA...................................................... 21

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1 INTRODUÇÃO

O Norte do Estado do Espírito Santo, muito especialmente, os municípios

localizados acima do Rio Doce, apresenta aspectos de desenvolvimento que

requerem uma análise profunda e estratégica sobre investimentos e áreas

prioritárias. Isto se deve as enormes desigualdades entre Municípios mais

desenvolvidos, sobretudo os que se encontram localizados na região litorânea norte

– altamente favorecidos pelo ótimo momento da atividade de exploração de petróleo

e gás como Linhares e São Mateus e no interior, cuja economia encontra-se

baseada no agronegócio, sobretudo o café, a pecuária e a fruticultura, na confecção

(comércio e indústria) e no setor de rochas ornamentais (extração) como os

Municípios de Colatina, São Gabriel da Palha e Nova Venécia, por exemplo. Por

outro lado, a maioria dos Municípios localizados no Extremo Norte e Noroeste do

Estado passa por um período de estagnação de investimentos, acarretando

migração de mão de obra ativa para outros centros mais atrativos, empobrecimento

das zonas rurais, potencializado pela seca – a região é susceptível a processos de

desertificação – estabelecendo-se, por conseguinte, na maior parte dessa região,

um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo e preocupante.

Quando uma determinada região apresenta demandas acentuadas e com

características inter-setoriais, as buscas pela solução de seus problemas podem

provocar inclusão em várias iniciativas de planejamento ou mesmo de ações

isoladas por parte de instituições públicas ou não. Assim sendo, torna-se mister o

esforço para compatibilizar, alinhar e buscar a convergência entre as propostas

existentes. Caso contrário, podem ocorrer duas situações que não são desejáveis

para os proponentes de intervenções e menos ainda para os Municípios que

compõem a região, quais sejam: a sobreposição das iniciativas ou a lacuna em

áreas de sombreamento de atuação. Ou mesmo, o conflito com o planejamento em

nível macro para a região ou para o Estado como um todo, como é o caso do Plano

de Desenvolvimento ES 2025.

Os Programas estruturantes a serem analisados neste trabalho

encontram-se listados abaixo:

� Novo PEDEAG – Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura

Capixaba, desenvolvido pela SEAG (Secretaria Estadual de

Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca).

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� TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, desenvolvido pelo Governo Federal.

� PRODNORTE – Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável

do Extremo Norte Capixaba, desenvolvido pelo Instituto ECOS.

� PDLS - Plano de Desenvolvimento Local Sustentável, desenvolvido

pelo SEBRAE/ES (45% dos recursos), Governo do Estado/SEP (45%

dos recursos; e Prefeituras Municipais (10% dos recursos).

� PAN BRASIL - Programa de Ação Nacional de Combate à

Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, desenvolvido pelo

IEMA (Instituto Estadual de Meio Ambiente).

Para evitar as situações anteriormente mencionadas é importante que

sejam considerados os diversos Atores proponentes de Programas e/ou Projetos. A

metodologia a ser utilizada deve possibilitar o esclarecimento sobre as intervenções,

em sua intencionalidade, abrangência, prioridades, resultados, consistência,

coerência com o planejamento em nível macro existente no Estado. Para tanto, a

abordagem participativa, aliada à definição e sistematização de parâmetros

pertinentes, mostrou-se como a mais adequada para se alcançar a convergência

das propostas.

Deste modo, o trabalho teve por objetivo alinhar as propostas de ação de

cinco Programas estruturantes atualmente em desenvolvimento na região Norte do

Espírito Santo, gerando uma Matriz de Convergência e Priorização dos Programas

e/ou Projetos, consonante com o Plano de Desenvolvimento 2025 do Governo do

Estado, a qual será utilizada como base para o Plano de Ação da Secretaria de

Economia e Planejamento do Espírito Santo.

Por fim, deve ser lembrado o ineditismo da iniciativa, visto ser raro, no

planejamento regional, como de resto nos processos de planejamento em geral, a

preocupação com a busca de convergência das iniciativas e/ ou empreendimentos

para uma mesma Região. Quando muito, se observa somente a imediata priorização

para a definição da alocação dos recursos disponíveis.

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2 APROXIMAÇÃO TEÓRICA

A visualização mais ampla do planejamento em uma região (ou mesmo

Município) permite observar que “não existe uma associação biunívoca entre Estado

e planejamento. Na realidade o Estado é apenas o locus a partir do qual se planeja,

mas não é o único” (MATUS, 1993, p.563). Portanto, torna-se improdutivo, do ponto

de vista do planejamento, não considerar os demais Atores (estatais e não-estatais)

que exercem vetores de pressão sobre o planejamento estatal ou, ainda, aqueles

que planejam e executam Programas, Projetos e/ou Ações sem a coordenação

direta do ente maior de intervenção em nível de macro-planejamento local, regional

ou estadual.

O setor público, também deve ser o principal responsável por uma

abordagem equilibrada dos problemas da gestão dos diversos interesses e, para

isto, deverá “... diagnosticar as deficiências existentes, encontrar modos e meios de

corrigi-las, efetuar as desejadas melhorias e criar mecanismo que funcione no futuro

para manter a organização e os processos da administração pública de acordo com

as modificações que ocorrerem.” (WALINSKY, 1974, p.137) A integração das

iniciativas de Projetos para (e em) uma determinada Região mostra-se fundamental

para que as ações de planejamento sejam transformadas em processos que tenham

o máximo de aproveitamento. Assim, apresentarão mais perenidade em sua

execução e em seus resultados.

A Região não pode ser pensada fora de sua complexidade sistêmica,

composta por variáveis: econômica, social, ambiental, política e cultural. Estas

variáveis conformam o cenário de atuação dos Projetos propostos e deve

condicionar a conformação da Região contemplada. Vale dizer, as características

tem que ser consideradas quando das iniciativas de propostas de política regional.

As semelhanças e dessemelhanças presentes nas variáveis citadas devem ser

utilizadas na definição do espaço geo-econômico da Região para permitir maior

economia de escala e, também, economia de escopo nos resultados propostos. A

economia de escala está evidenciada nas possibilidades de utilização dos mesmos

recursos (humanos e materiais) pelos entes federados, de forma a otimizar tudo que

está disponível aos Municípios. Por sua vez, a economia de escopo deve ser

buscada ampliando o papel da regionalização da atratividade de investimentos para

a Região, a ser exercida de forma complementar entre os componentes do Novo

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Norte Capixaba. Assim, se um Município apresenta produção reconhecida de

artesanato, tal produção pode (e deve) ser “explorada” juntamente com a atividade

turística de um Município vizinho. Contudo, esta situação somente será efetivada se

houver conhecimento mútuo e sistematizado de ambas as partes. Mais ainda, será

facilitada se houver a participação de um agente catalisador que tenha o

conhecimento e a percepção dos diversos Atores e vetores de pressão sobre os

Programas e/ou Projetos.

Este agente catalisador deve apresentar, também, a sensibilidade política

e poder de intervenção. Tais características encontram-se presentes em agentes

governamentais de finalidade executiva e composição técnica. Nestes, são

encontrados os elementos de governabilidade necessários à uma intervenção

adequada de convergência e priorização de iniciativas. Caso contrário, será maior o

risco da incompatibilização e do descrédito para com este planejamento mais amplo.

No caso do Novo Norte Capixaba, as semelhanças na variável social são

marcantes e podem ser percebidas através dos índices de desenvolvimento humano

(IDH) e social (IDS – Índice de Desenvolvimento Social – calculado pelo Instituto

Jones dos Santos Neves) para os Municípios componentes das Regiões

Administrativas da “cabeça norte” do Espírito Santo. Também os indicadores

econômicos apresentam significativas semelhanças, em especial, os relativos ao

volume e ao tipo de produção, bem como, os de infra-estrutura. A estes somaram-se

os indicadores ambientais, devendo se destacado o déficit hídrico, fortemente

presente na maior parte dos Municípios componentes da Região

Portanto, em se tratando de planejamento regional, “a atuação do

Governo, que tenta conjugar uma política de desenvolvimento capitalista com a do

Planejamento, dentro de seus objetivos de conciliação de interesses dos diversos

grupos sociais, repercute igualmente sobre a localização das atividades” (BARAT,

1976, p. 128). No caso do Novo Norte Capixaba a aglomeração possível deve ser

localizada no espaço geo-econômico ao qual se direcionam os resultados das

intervenções conjuntas e individuais, em especial no campo econômico. Os esforços

devem considerar o reforçamento do espaço local como fator de atração de

investimentos em infra-estrutura e dos investimentos produtivos. Até porque “... os

seres humanos, para a execução de suas atividades, necessitam de espaço e,

portanto, têm uma localização certa [ ] As relações resultantes dessas atividades

terão, necessariamente, uma dimensão espacial...” (HILHORST, 1973, p. 23). Daí a

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necessidade de limitação geográfica do objeto deste trabalho. Obviamente, esta

delimitação não está prisioneira de objetos geográficos, mas não pode prescindir

dos mesmos para evitar a dispersão de esforços e de recursos, até na atividade de

planejamento conjunto ou regionalizado.

Para fazer frente às estas e outras exigências, o planejador “... constrói

modelos que se abstraem da realidade, mas representam as relações cruciais [...]

Mais importante do que isso: pode não haver critério único para definir resultados

entre objetivos conflitivos. E, mais, importante, os objetivos, se existem, podem não

fazer sentido.” (WILDAVSKY, 1982, p. 176) Assim, desde a definição da

abrangência geo-econômica e política da região a ser planejada até a “leitura” dos

objetivos e de seus conflitos internos e externos, o planejador deve buscar critérios

que permitam o bom andamento dos trabalhos.

Em um processo de planejamento, os níveis mais abrangentes são

desdobrados em níveis menos abrangentes, garantindo a segurança na execução e

no atingimento dos resultados propostos. A segurança é resultante do maior foco e

do menor prazo de execução dos Programas e Projetos. Assim, como no desenho

abaixo, o planejamento de longo prazo terá menor segurança que o de médio prazo

e, este, menor que o de curto prazo. Entre as variáveis, que interferem para a menor

segurança no longo prazo, está a possibilidade de o relacionamento entre as várias

propostas para uma mesma região não conseguir eliminar as possíveis

sobreposições e nem preencher algumas lacunas que se apresentem. Desta forma,

o planejamento de longo prazo deve buscar a maior segurança, eliminando esta

situação.

Além do exposto acima, é essencial que seja verificada a coerência entre

os seus diferentes níveis. A coerência deverá garantir a comunicação entre os níveis

de planejamento, evitando divergências e até conflitos entre os objetivos, a

destinação dos recursos e os resultados dos Programas e dos Projetos. Mais que

isto, é a grande responsável pela efetividade nos resultados das Ações à medida

que pode otimizar os esforços e os recursos disponíveis. Pois se existem Programas

(de maior abrangência e maior espaço temporal), estes devem ser desdobrados em

LONGO PRAZO (menos segurança)

CURTO PRAZO (mais segurança)

MÉDIO PRAZO (mais segurança)

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tantos Projetos quanto o necessário para sua execução, que, por sua vez, são

desdobrados em suas Ações. Nesta linha de desdobramentos tem que ser

observada, não somente a hierarquização, mas a conjugação de esforços e a

colimação de objetivos para que seja mantido um fio condutor maior. Os diferentes

Programas e/ou Projetos considerados para uma Região têm que ser “enquadrados”

nesta lógica, sob pena de se constituírem em “corpos estranhos” ao processo de

planejamento em questão.

Por sua vez, é importante observar a consistência do Programa e/ou

Projeto. Ela reflete sua exeqüibilidade através da consideração da disponibilidade de

recursos no prazo estipulado. Leva à racionalização dos recursos, pois evita que

sejam propostas atividades cujas chances de obterem êxito são pequenas, em

função da indisponibilidade de recursos para sua execução, e do conseqüente maior

esforço para finalizar tais atividades. É importante enfatizar que deve ser

considerada toda a gama de recursos envolvidos na execução dos Programas e/ou

Projetos a serem desenvolvidos, qual seja, humanos, materiais, financeiros,

tecnologia disponível, infra-estrutura, dentre outros que se mostrarem necessários

conforme as especificidades de cada Ação.

Como se sabe, numa aproximação mais generalizada do setor público, os

recursos são finitos e as demandas infinitas. Embora isto ocorra também no setor

privado, no caso do setor público fica mais patente. Porém, não são somente os

recursos no sentido de disponibilidades financeiras e materiais que devem ser

considerados. Os recursos humanos apresentam-se como essenciais para a

consecução dos Projetos, gerando dificuldades quando não são disponibilizados em

número e especificações adequadas aos objetivos propostos. Esta situação destaca-

se, em especial, em regiões mais distantes dos Centros Metropolitanos, onde é

escassa a mão-de-obra especializada, ou mesmo a mão-de-obra básica. Sem a

devida disponibilização dos recursos humanos não é possível sequer iniciar a

elaboração dos Projetos

Numa Região, Estado ou País deve ser buscado, não só o crescimento

econômico, mas o desenvolvimento econômico. Para isto, não basta o desempenho

quantitativo, mas o avanço das relações econômicas, políticas, sociais e culturais

acompanhadas da sustentabilidade ambiental. Somente assim serão alcançadas, de

forma equilibrada, as variáveis macroeconômicas que contribuem para a qualidade

de vida da população, que podem ser enfeixadas como: crescimento, repartição,

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emprego e renda. Também as variáveis que representem avanço nas relações

sociais e políticas da Sociedade civil organizada e do cidadão em sua

individualidade, farão parte da definição de qualidade de vida compondo o mosaico

do bem-estar coletivo da Região.

Nesta busca constante do bem estar da Sociedade, devem ser

consideradas todas as possibilidades de trabalho em conjunto, sob as diversas

formas de associação, pois somente desta forma serão superadas as enormes

deficiências, detectadas em todos os Programas e/ou Projetos, de recursos, sejam

humanos ou materiais. Também, para acompanhar as características da região

devem ser buscadas a diversificação das atividades produtivas e a participação das

unidades de produção de menor dimensão, garantindo o espaço a geração de

emprego e da renda para as famílias. Vale dizer, o trabalho em conjunto permeia

tanto o processo de planejamento, quanto a execução de seus desdobramentos ao

longo do tempo.

Diversas são as propostas para a Região. Portanto, deve ser evitada a

sobreposição para que não haja desperdício de recursos ou “áreas de sombra” nas

quais ninguém atua julgando que os demais estão atendendo. Assim, é desejável

que um processo de alinhamento das propostas, como parte da atividade de

planejamento, busque a participação dos Atores (mentores e/ou gestores) dos

Programas e/ou Projetos envolvidos.

O alinhamento proposto deve contemplar a possibilidade de perenidade

dos Projetos (em especial de seus resultados diretos e indiretos), a heterogeneidade

na composição e no grau de desenvolvimento dos Municípios componentes da

mesma, levando-se em conta parâmetros como PIB e IDH. Baseado nisto, o

alinhamento deve contemplar o espírito de regionalidade dos investimentos, de

forma a amplificar as intervenções atendendo demandas que estabeleçam uma

abrangência geo-econômica que represente o número de municípios e a

qualificação da intervenção nos mesmos. Tal qualificação está ligada à maior

necessidade de intervenções estatais para superar a barreira da desigualdade e

suplantar a pobreza nos Municípios e na Região como um todo, evitando a

sobrecarga na demanda por serviços públicos nos Municípios maiores.

Tal estado da arte denuncia a carência de planejamento em nível regional

que permita a indução ao desenvolvimento sustentável. Assim sendo, cabe ao Poder

Público, entendido como o Ator com maior governabilidade e capacidade de

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catalisar o processo de discussão, capitanear as ações para a convergência das

intervenções na Região considerada. Trata-se da otimização dos recursos públicos e

privados investidos nas ações de política pública na Região do Novo Norte

Capixaba.

Neste processo é fundamental a implementação de metodologia capaz de

permitir a expressão dos Atores envolvidos de forma participativa e direta, mas com

objetividade e garantindo resultados exeqüíveis nos diferentes prazos requeridos,

bem como, atendendo efetivamente a demanda dos Municípios em questão.

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3 METODOLOGIA

Como resultado da abordagem metodológica acima, foram propostas três

grandes etapas para o alinhamento e a convergência dos Programas e Projetos para

o Novo Norte Capixaba, que são:

� Primeira: alinhamento com o ES 2025.

� Segunda: a priorização interna dos Programas e/ou Projetos.

� Terceira: composição da Matriz de Convergência com a indicação dos

Projetos Macro para o Novo Norte Capixaba.

Primeira etapa: o alinhamento

A coerência pode ser demonstrada pela verificação de afinidade e

coerência com planejamento em nível macro do Estado do Espírito Santo: o

Plano de Desenvolvimento ES 2025. Este Plano converge em Ações Estratégicas

simbolizadas no “diamante” que concentra, em seu “núcleo central”, as quatro

primeiras ações (Figura 2). Este “núcleo central” sintetiza as Ações Estratégicas

de maior densidade, e é complementado por outras sete Estratégias que

garantem a relação sinérgica entre o “núcleo central” e as Estratégias

Complementares, representando, assim, a Estratégia de Desenvolvimento do

Espírito Santo. Portanto, o “diamante” representa, de forma incontestável, a

matriz inicial dos desdobramentos subseqüentes, atingindo-se os 93 Projetos

Estruturantes do ES 2025.

Desta forma, foi utilizada uma Matriz de Alinhamento com o Plano de

Desenvolvimento ES 2025, na qual os Projetos foram posicionados, pelos

representantes dos Programas, em relação às 11 Ações Estratégicas

componentes do “diamante” (Figura 1). Isto foi realizado pela indicação das

Ações Estratégicas para as quais os Projetos poderiam contribuir de forma direta

na consecução dos resultados.

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Segunda etapa: a priorização

A consistência pode ser verificada no enquadramento dos Projetos de

cada Programa em uma Matriz de pontuação que considere variáveis relativas à

sustentabilidade dos Projetos. Para tanto, foram analisados os escopos de cada

Projeto e sua operacionalização. No tocante ao escopo, foi buscada a

sustentabilidade do Projeto. Para considerar a sustentabilidade foram considerados

três componentes do escopo do Projeto: social, econômico e ambiental. Para

considerar as maiores oportunidades de operacionalização foram consideradas três

variáveis: efetividade, abrangência e facilidade. Esta etapa foi concretizada em

planilha própria.

Figura 1 – Diamante da Estratégia de Desenvolvimento do Espírito Santo no horizonte 2006-2025.

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Terceira etapa: A Convergência

Baseado nas discussões e sistematizações derivadas das Matrizes

anteriores foi possível compor a Matriz de Convergência, propondo os Projetos

Macro. Os Projetos Macro foram definidos pelos Atores, em processo participativo,

considerando os Projetos de maior prioridade segundo a Matriz de Priorização, e,

conforme seu alinhamento com o Plano de Desenvolvimento ES 2025. A Matriz de

Convergência foi composta de cinco Projetos Macro que contemplam até dois

Projetos de cada Programa.

De forma participativa, foi entendido pelos representantes dos Programas

em análise, que o Novo PEDEAG (SEAG) e o Programa “Territórios da Cidadania”

(Governo Federal), em virtude de sua abrangência e capacidade de aporte de

recursos, seriam melhor enquadrados na Matriz de Convergência como possíveis

parceiros alavancadores de recursos para os cinco Projetos Macro escolhidos pelos

representantes dos Programas. Deve ser lembrado que, além das instituições

citadas, cada Programa apresenta sua própria rede de parcerias, nas quais o

SEBRAE tem se mostrado parceiro potencial de todos os Projetos relacionados.

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4 A MATRIZ DE CONVERGÊNCIA

A finalidade da Matriz de Convergência foi de proporcionar um ambiente

metodológico que permitisse conferir, ao processo de discussão, maior objetividade

e precisão na definição dos Programas ou Projetos a serem priorizados na alocação

de recursos para sua execução. A Matriz é composta de variáveis de escopo e

variáveis de operacionalização. As variáveis de escopo dizem respeito à essência do

Programa e/ou Projeto. Ou seja, busca verificar se no fio condutor estão presentes

algumas das variáveis e com qual intensidade se apresentam.

Portanto, para o preenchimento da Matriz de Convergência foram consideradas as

orientações abaixo como definidoras dos componentes do escopo do Projeto.

Social: representa as possibilidades de implementação de Programas ou

Projetos com ações voltadas direta ou indiretamente para a melhoria da qualidade

de vida da população, expressa em áreas como: mortalidade infantil, esperança de

vida, cultura, escolaridade, analfabetismo, anos de estudo, renda per capita, grau de

pobreza, mortalidade por causas violentas, ação social e políticas afirmativas

(diminuição das diferenças sociais).

� Grande possibilidade de melhoria de qualidade de vida para parcela

significativa da população = 5

� Nenhuma possibilidade de melhoria de qualidade de vida para parcela

significativa da população = 0

Econômico: diz respeito às iniciativas de crescimento e desenvolvimento

econômico. Deve considerar a possibilidade de o Programa e/ou Projeto resultar em:

aumento da produção e do PIB do Município, geração de emprego, efeito

multiplicador dos empreendimentos, contribuição para a melhoria da infra-estrutura

local e regional, capacitação da mão-de-obra local, geração de renda e demais

efeitos positivos. Pode ocorrer em diversas atividades como: turismo, infra-estrutura,

logística, empreendimentos industriais, incremento do comércio, agro-negócio,

artesanato, tecnologia, prestação de serviços e outras.

� Maior desempenho/resultado = 5 (grande contribuição para a economia

local e/ou regionall).

� Nenhum desempenho/resultado = 0 (nenhuma contribuição para a

economia local e/ou regional).

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Ambiental: relacionado com políticas públicas e iniciativas para a

preservação de recursos hídricos, conservação e uso do solo, preservação de

ecossistemas, educação ambiental e outros elementos do meio ambiente. Deve

considerar os ecossistemas impactados direta e indiretamente, de forma positiva ou

negativa pelas ações previstas ou executadas pelo Programa ou Projeto ou por seus

desdobramentos.

� Grande impacto positivo = 5.

� Nenhum impacto positivo = 0 (zero).

Para o preenchimento das variáveis referentes à operacionalização foram

seguidas as indicações abaixo.

Efetividade: considera os resultados esperados pela execução do

Programa e/ou Projeto no todo ou em parte. Observar o atendimento às variáveis de

escopo: social, econômico e ambiental.

� Maior número ou volume de resultados = 5.

� Menor número ou volume de resultados = 0.

Facilidades: considera as facilidades para a execução do Programa e/ou

Projeto no futuro próximo (neste caso em 2009), tais como, a existência e/ou

garantia de: recursos humanos, recursos financeiros e possibilidades de

financiamento, estágio atual do Programa ou Projeto, recursos materiais e outros.

� Maior disponibilidade de recursos e situação positiva = 5.

� Menor disponibilidade de recursos e situação negativa = 0.

Abrangência: considera quantos Municípios serão contemplados pelo

Programa e/ou Projeto e o quanto os mesmos atingirão o Município, seja em

população, atração de recursos, área geográfica, área econômica, área ambiental e

outras.

� Maior abrangência = 5.

� Menor abrangência = 0.

A utilização da Matriz foi realizada com ampla participação e através de

processo de discussão que permitiu a todos os Atores conhecerem os demais

Projetos com maior detalhamento. Isto possibilitou o posicionamento mais efetivo e

fundamentado dos Atores quanto ao enquadramento de todos os Programas e/ou

Projetos na Matriz de Convergência.

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5 DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS

É importante registrar a forma como surgiram, durante o

desenvolvimento dos trabalhos, alguns elementos que afetaram e contribuíram

para a boa realização dos trabalhos. Obviamente não se tratam de elementos

especificamente científicos, mas surgem como resultados empíricos da

implementação da metodologia proposta. Portanto, alguns conceitos e/ou

expressões estão entre aspas, pois não podem ser considerados em sua plenitude

conceitual ou não representam totalmente a situação observada quando das

discussões ou outro componente dos procedimentos do trabalho.

Embora o processo tenha se iniciado com a ampla participação dos

Atores envolvidos, havia a possibilidade do surgimento de “resistências”, visto que

estava implícito um processo de priorização dos Programas e/ou Projetos propostos

para a Região. Para fazer frente a esta possibilidade e para proporcionar o

enriquecimento derivado das várias visões sobre os diferentes temas dos Projetos,

foi buscada a discussão participativa, tanto internamente, quanto a metodologia,

quanto já no processo de busca da convergência e priorização. O resultado foi

expressivo, pois ocorreu a disseminação das informações e a sinergia entre os

Atores presentes, com a conseqüente possibilidade de encontrar os pontos de

convergência entre os Programas e/ou Projetos para o Novo Norte Capixaba.

Abaixo seguem alguns pontos de benefícios e de desafios constatados

durante o desenvolvimento dos trabalhos de alinhamento, convergência e

priorização dos Programas e/ou Projetos para a Região. Vários outros

desdobramentos podem ser lembrados, mas com menor intensidade e de forma

localizada entre os Atores.

� Delimitação geográfica: um primeiro desafio foi a delimitação

geográfica da Região a ser considerada, visto que os

Empreendimentos, fossem Programas ou Projetos, não apresentavam

coincidência na definição dos Municípios contemplados em suas

propostas de abrangência. Neste caso foi buscada uma delimitação

que considerasse fatores geo-econômicos derivados dos indicadores

específicos, com ênfase para os de cunho ambiental e social visto

tratar-se de região com grande passivo nestas duas áreas.

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� “Individualismo”: outro sentimento presente foi que alguns Atores

“consideravam” seus Programas e/ou Projetos (embora não

expressassem explicitamente) capazes de solucionar a maior parte das

mazelas e/ou de proporcionar individualmente o desenvolvimento

sustentável para o Município / Região. Esta situação não foi expressa de

forma direta, mas no “calor” das discussões. Contudo, ao final do

processo, prevaleceu a visão das oportunidades de complementaridade,

não somente nos resultados, mas, na visualização das possibilidades de

captação de recursos e da otimização dos mesmos quando da execução

das Ações. Cabe lembrar que, somente com a estreita cooperação e

articulação entre os entes federativos – União, Estados e Municípios –,

bem como com a cooperação do setor privado, estarão garantidas a

governança, a eficácia, a eficiência e a efetividade das políticas públicas

que visam o desenvolvimento da Região.

� Trabalho em grupo: foi um grande benefício e um grande desafio, visto

que se tratava de Atores com grande conhecimento e de grande

experiência profissional. Trata-se aqui, não somente, do conhecimento

científico sobre os seus Programas e/ou Projetos, mas, também, sobre

a Região considerada. Este último era fruto de um trabalho participativo

dos Atores e que estava presente na metodologia de todos os

empreendimentos considerados. A experiência profissional e pessoal

dos Participantes foi fator de enriquecimento das discussões, mas,

também, foi um grande desafio na condução das mesmas, visto que as

opiniões ou posicionamentos mostraram-se bem mais fundamentadas.

� Conhecimento mútuo: foi um grande benefício resultante do processo

de discussão que, embora voltado para a “defesa” dos Programas e/ou

Projetos, permitiu aos participantes um momento único de sinergia e de

troca de informações. Esta troca de informações ocorreu não somente

sobre os resultados esperados das iniciativas, mas, também de seu

processo constitutivo e sobre a própria Região contemplada no Novo

Norte Capixaba.

� Oportunidades de integração: como resultante do conhecimento mútuo,

ficaram mais nítidas as possibilidades de integração em várias frentes,

tais como: captação de recursos, execução dos Projetos, recursos

humanos, dentre outros.

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O desenvolvimento do Projeto Novo Norte Capixaba resultou na

elaboração da Matriz de Convergência para os Programas e Projetos apresentados,

o que pode ser considerado seu grande, mas não único, resultado. Mais que isto, a

sinergia gerada e a otimização dos esforços possibilitarão ganhos, também, no

processo de planejamento, racionalizando esta atividade.

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6 CONCLUSÕES

Em toda ação política que envolva alinhamento estratégico de Projetos

que beneficiem, de forma mais equilibrada possível, o todo Regional, ou grande

parte dele, torna-se absolutamente imprescindível, não somente a organização

perfeita do planejamento estratégico a ser implementado, mas também, e,

sobretudo, a vontade política de sua execução.

Esta vontade política devera ser demonstrada não somente na liberação e

controle dos recursos financeiros necessários à execução das atividades planejadas,

mas, sobretudo, na condição do gerenciamento dos possíveis conflitos de interesse

que se originarão ao longo das ações, de forma que se canalizem, equilibrada e

proporcionalmente, os ganhos sociais, educacionais, ambientais e econômicos

decorrentes das ações integradas.

Há que se refletir que esta proporcionalidade desejada, não poderá

significar, obrigatoriamente, uma linearidade de resultados para cada município,

sendo os ganhos, reflexos, muito mais da situação real de cada município, do que

da aplicação balanceada dos recursos disponibilizados.

Caberá a cada gestor municipal, analisar, de forma racional e

desapaixonada, os macro benefícios advindos para a Região como um todo,

apoiando as iniciativas globais previstas, sem, contudo, descurar das ações

diretamente relacionadas a sua seara.

Em assim procedendo, certamente, os objetivos colimados serão mais

facilmente atingidos e os reflexos positivos, esperados como resultado das ações,

far-se-ão presentes, traduzindo-se em melhoria no Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) da Região, e em aspectos socio-econômico-culturais mais

equilibrados, possibilitando uma inserção mais positiva e harmônica da Região no

cenário estadual e de cada município no âmbito regional.

Para operacionalizar este novo “estado da arte” do planejamento regional

daquele território, é necessário ação de governança que consiga agregar as

diferentes vontades e necessidades dos Atores presentes ao processo. A

confirmação do interesse coletivo deve ser concretizada nos Projetos e nas ações

resultantes do “Novo Norte Capixaba”. Algumas alternativas apresentam-se para

garantir a governabilidade do processo.

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A composição de Consórcio específico para a região do “Novo Norte

Capixaba” apresenta-se como alternativa de primeira ordem. Esta experiência tem

se mostrado exitosa no Espírito Santo e em outros Estados, de forma que pode ser

considerada com um caminho para viabilizar a captação de recursos e a execução

de Projetos numa realidade regional ou intermunicipal.

Outra alternativa é a agregação específica dos Municípios em torno de

um tema comum, mas que não atinja a todos da região da mesma forma. Como nem

todos têm interesse, pode ser buscada a solução de forma sub-regional,

contemplando somente alguns dos Municípios para resolver determinado problema

ou implementar Projeto de abrangência mais restrita.

Portanto, para operacionalizar, tornando viáveis os Projetos do “Novo

Norte Capixaba”, devem ser implementadas, em simultâneo, ações gerenciais que

permitam a gestão eficiente dos esforços conjuntos, superando as demandas

individuais em favor do bem comum.

Por fim, mas não menos importante, deve ser destacado um efeito que

pode ser creditado ao “Novo Norte Capixaba”, qual seja, a contribuição para

desenvolver a cultura de planejamento, não somente entre os Atores participantes,

como também, entre os Municípios da Região considerada. Assim, como os

resultados da aplicação da convergência serão efetivados no longo prazo, também,

a cultura apresentar-se-á de forma mais perene no futuro mais distante. Portanto,

servirá de esteio para o desenvolvimento sustentável das futuras gerações.

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REFERÊNCIAS & INDICAÇÕES DE LEITURA

BARAT, J. (ed.) Política de desenvolvimento urbano: aspectos metropolitanos e locais. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1976. BUSTELO, E. S. Política x técnica no planejamento: perspectivas críticas. São Paulo: Brasiliense / UNICEF, 1982. cap. 6. CARLOS, A. F. A.; OLIVEIRA, A. U. de (Org.) Geografias das metrópoles. São Paulo: Contexto, 2006. Cap. 1. CASTELLS, M. Sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000. Cap. 6. COCCO, G. (Org.) A cidade estratégica: novas e velhas práticas no planejamento do Rio de Janeiro: a impostura do Porto de Sepetiba. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. Cap. 2. HILHORST, J. G. M. Planejamento regional: enfoque sobre sistemas. Rio de Janeiro: Zahar, 1973 KOTLER, P. Marketing público: como atrair investimentos, empresas e turismo para cidades, regiões, estados e países. São Paulo: Makron Books, 1994. Cap. 8 a 12. MATUS, C. Política, planejamento & governo. 3.ed. Brasília: IPEA, 1993. 2v. tomo II. ESPÍRITO SANTO (Estado). Espírito Santo 2025: Plano de Desenvolvimento. Vitória: Secretaria de Estado de Economia e Planejamento, 2006. OSBORNE, D.; GAEBLER, T. Reinventando o governo: como o espírito empreendedor está transformando o setor público. 5. ed. Brasília: MHComunicação, 1995. RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. São Paulo: Atlas, 1986.

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WALINSKY, L. J. Planejamento e execução do desenvolvimento econômico: guia não-técnico para planificadores e administradores. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. WILDAVSKY, Aaron. A economia política de eficiência análise de custo-benefício, análise de sistemas e orçamento-programa. In: BROMLEY, Ray. ___________________________________________________________________

AUTORIA

Aminthas Loureiro Júnior – MsC em Economia – UFES/ES, Consultor/SEP-ES. Ana Ivone Salomon Marques – Especialista em Planejamento e Gestão de Políticas Públicas – ESESP/Fundap; Gerente de Estudos Socioeconômicos da Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado do Espírito Santo. Nádia Dorian Machado – MsC em Administração e Recursos Humanos – PUC/SP; Assessora Especial da Secretaria de Governo do Estado do Espírito Santo.