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São Leopoldo, 26 de novembro de 2007. Projeto PDA 192-MA Estudo para Criação de Unidade de Conservação na Área Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica dos Contrafortes do Ferrabraz — Bacias do Sinos e Caí Técnico responsável: Martin Molz Trabalhos a campo: Martin Molz, Eduardo Luís Hettwer Giehl, Geovani Oliveira, Luís Fernando Stumpf, Marcos Walter Molz e Rodney Schmidt Relatório técnico: Martin Molz

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São Leopoldo, 26 de novembro de 2007.

Projeto PDA 192-MA

Estudo para Criação de Unidade de Conservação na Área

Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica dos

Contrafortes do Ferrabraz — Bacias do Sinos e Caí

Técnico responsável: Martin Molz

Trabalhos a campo: Martin Molz, Eduardo Luís Hettwer Giehl, Geovani Oliveira,

Luís Fernando Stumpf, Marcos Walter Molz e Rodney Schmidt

Relatório técnico: Martin Molz

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RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO DA VEGETAÇÃOComposição, estrutura, caracterização das florestas e

levantamento de áreas prioritárias à conservação

SUMÁRIO

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1. Introdução 4

2. Material e métodos 4

2.1.Caracterização geral da área de estudo 4

2.2.Clima 9

2.3.Geologia 10

2.4.Geomorfologia 11

2.5.Solos 11

2.6.Hidrografia 13

2.7.Vegetação 16

2.8.Métodos 20

2.8.1. Composição do componente arbóreo 20

2.8.2. Estrutura do componente arbóreo 22

2.8.3. Caracterização da fitofisionomia e formações 23

2.8.4. Levantamento dos fragmentos prioritários à conservação 23

3. Resultados e discussão 24

3.1.Composição do componente arbóreo 24

3.2.Estrutura do componente arbóreo 47

3.3. Classificação das florestas na Área Núcleo e região 56

3.4.Espécies ameaçadas e de especial interesse para a conservação 59

3.5.Conservação das florestas e áreas prioritárias à conservação 62

3.6.Desmatamentos 63

3.7.Introdução de espécies exóticas 65

3.8.Loteamentos 69

4. Considerações finais e prognóstico 69

5. Referências bibliográficas 71

1. Introdução

Desde o início de sua ocupação, o Rio Grande do Sul desempenhou um papel

estratégico cuja manutenção era vital para garantir a presença portuguesa junto às áreas de

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colonização espanhola. Para esse fim, o governo central atraiu diversas levas de imigrantes para

o Estado.

Dessa forma, a partir do século XVIII, o Estado foi primeiramente povoado por

imigrantes açorianos e descendentes de portugueses. Essa primeira leva não teve grande

impacto sobre as florestas sul-rio-grandenses.

Seguiu-se então, em 1824, a chegada dos primeiros colonos alemães, que se

estabeleceram na região da bacia do rio dos Sinos, à época coberta por florestas. Foi nesse

período que teve início a remoção sistemática da vegetação, seja para agricultura, utilização das

madeiras na construção civil ou ainda a venda das espécies de maior valor comercial na capital

(Reitz et al. 1983).

O resultado disso foi de que já na primeira metade do século passado a porção inferior

da bacia do Sinos era uma das áreas mais severamente desmatadas no Estado (Rambo 1947).

Com a industrialização ocasionada pelo surgimento do setor coureiro-calçadista na década de

70, deu-se uma crescente expansão urbana nas cidades localizadas no Vale do Sinos. O

crescimento econômico trouxe a produção de riquezas e, juntamente, levas de migrantes,

causando um crescimento populacional cada vez maior que fez com as cidades começassem a

crescer em direção às encostas da Serra Geral. Atualmente, o loteamento e o desmembramento

de lotes de terra parecem ser a maior ameaça à integridade das florestas remanescentes nas da

região.

Apesar do baixo número de remanescentes florestais existentes, o desconhecimento do

componente arbóreo é quase total na região, resumindo-se às abordagens quantitativas de Daniel

(1991) e Diesel (1991), ambos em matas ripárias, e de Molz (2004), o único em uma floresta de

encosta.

O conhecimento das espécies e a compreensão do comportamento da complexa

dinâmica que envolve as florestas começam pelo levantamento da composição (Marangon et al.

2003), sendo esta atividade essencial para a percepção preliminar das formações vegetais, visto

que fornecem informações básicas para conduzir estudos mais detalhados, como os estruturais

e, ou, a análise das correlações existentes entre os gradientes de vegetação e ambientais (Van

Den Berg 1995). O intuito de gerar essas informações é de que possam ser manejadas,

conservadas e, ou, restauradas de forma correta (Laurance 1997).

Estudos sobre a composição e estrutura contribuem para caracterizar a vegetação como

um todo; através dessas análises, obtêm-se como principais resultados o conhecimento da

composição em espécies, organização, ecologia e classificação das comunidades (Hora &

Soares 2002).

O consenso em relação a estudos de fitossociologia entre vários autores diz respeito à

essência desse conceito, sendo o seu conhecimento uma ferramenta indispensável no

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ordenamento e planejamento do território, na análise paisagística e sua eventual reconstrução,

bem como na conservação da diversidade e da qualidade do ambiente (Brito & Soares 2006).

A partir de dados sistematizados de estudos florísticos e fitossociológicos de um

determinado ambiente, podem-se inferir programas de gestão ambiental, planos de manejo,

recuperação de áreas degradadas, ou mesmo subsidiar políticas públicas com vistas à criação de

unidades de conservação ou adequação da legislação (Brito & Soares 2006).

O presente estudo teve por finalidade a descrição da vegetação através de um

levantamento de dados florísticos, fitossociológicos e do atual estado de conservação das

florestas na Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz, bacias do Sinos

e Caí, Rio Grande do Sul, tendo em vista o fornecimento de subsídios ao estabelecimento de

uma possível unidade de conservação na área, bem como de seus limites e categorias.

2. Material e métodos

2.1. Caracterização geral da área de estudo

A Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz e áreas

circunvizinhas, local do presente estudo, situam-se ao longo dos municípios de Araricá,

Igrejinha, Nova Hartz e Sapiranga, em sua maior parte, e Santa Maria do Herval, apenas em um

curto trecho, entre as coordenadas 29º31’28’’ a 29º37’32’’ S e 50º48’55’’ a 51º00’20’’ W

(figura 2.1.1).

A Área Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (figura 2.1.2) foi tombada no

Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Sul de 21 de julho de 1992, e regularizada através do

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Decreto Federal N°. 4.340, de 22 de agosto de 2002 (Lei Federal N°. 9.985, de 18 de julho de

2000).

Figura 2.1.1: Localização dos Municípios de Araricá, Igrejinha, Nova Hartz, Santa Maria do Herval e

Sapiranga, RS, com a área de estudo em vermelho.

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Figura 2.1.2: Zoneamento da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, com destaque para a Área Núcleo

da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz.

A paisagem local é representada por um contínuo de áreas florestadas que se intercalam

com propriedades agrícolas e sítios de lazer (figuras 2.1.3 e 2.1.4). Pequenas lavouras, roças

abandonadas, reflorestamentos, potreiros artificiais e árvores isoladas, assim como fragmentos

florestais de tamanhos diversos, compõem a fisionomia geral. Com 3.200 ha. de área e 62 km de

perímetro, apresenta cotas altimétricas que vão de 73 a 793 m.

Figura 2.1.3: Imagem de satélite – trechos de Sapiranga e Nova Hartz com altitudes entre 79 e 760 m –

mostrando o mosaico de fragmentos florestais em diferentes estádios sucessionais e propriedades

particulares que caracteriza a área de estudo.

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Figura 2.1.4: Mosaico formado por trechos de mata nativa, plantações de acácia-negra (Acacia mearnsii)

e eucalipto (Eucalyptus spp.), áreas de pastagem e agricultura, tendo a cidade de Sapiranga ao fundo.

A região na qual se insere a Área Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica dos

Contrafortes do Ferrabraz e arredores – daqui por diante denominada apenas como Área Núcleo

– abrange parte das bacias dos rios do Sinos e Caí, e caracteriza-se por acentuada

heterogeneidade ambiental, a qual se deve principalmente à diversidade de solos, mas também

ao relevo – com áreas de proeminente aclive ou declive, afloramentos e paredões – e à grande

quantidade de cursos d’água que ali se originam ou que por ela cruzam.

A Área Núcleo encontra-se intensamente alterada por ações antrópicas, que vão desde a

supressão de áreas inteiras de floresta para reflorestamentos com espécies exóticas, cultivo,

pastejo, retirada de lenha e criação de áreas de lazer, passando pela utilização de pesticidas e

fertilizantes químicos, até o desvio de arroios e abertura de novas estradas para urbanização e

turismo.

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2.2. Clima

O clima na região é do tipo Cfa, subtropical úmido sem estiagem, segundo a

classificação de Köppen (Moreno 1961). Os índices pluviométricos, assim como as

temperaturas, apresentam considerável amplitude, apesar da área em questão abranger uma

faixa de extensão relativamente estreita. A variação observada se deve principalmente às

diferenças de altitude, mas também ao relevo e à latitude. A precipitação média anual varia de

1.750 mm, em Sapiranga, a mais de 2.000 mm, em Igrejinha. A concentração máxima da

precipitação em três meses consecutivos ocorre em julho, agosto e setembro, ao passo que os

meses menos chuvosos, em ordem decrescente, costumam ser dezembro, novembro e janeiro

(Nimer 1990).

As temperaturas médias anuais variam de 14 a 18ºC, a mínima absoluta anual varia de 0

a - 4ºC e a máxima absoluta anual de 34 a 38ºC (Nimer 1990). A média de geadas anuais é de

16, sujeita a variações que vão de seis a 30 ocorrências (dados da Estação Climatológica de

Campo Bom – 12 km de distância em linha reta até o Morro Ferrabraz – coletados entre 1985 e

2003), número que provavelmente aumenta com a elevação da altitude.

2.3. Geologia

Geologicamente a região está inserida na Bacia do Paraná, na Área Núcleo representada

pelas Formações Botucatu e Serra Geral (figura 2.3.1). A Formação Botucatu é constituída por

arenitos de granulação fina a média, de coloração vermelha, rósea ou amarelo-clara, bem

selecionados. O conjunto de litologias da Formação Serra Geral é composto por espessos e

extensos derrames de lavas, bem como diques e soleiras, com pequenos e eventuais corpos de

rochas sedimentares associados (Kaul 1990).

O trecho amostrado se encontra em um dos pontos no qual a planície aluvial do rio dos

Sinos limita-se com a Serra Geral, onde os derrames basálticos, de idade Juracretácica,

recobrem os arenitos de origem eólica da Formação Botucatu, de idade Triássica (Kaul 1990).

As rochas vulcânicas da Formação Serra Geral, com pequenas variações locais de poucas

dezenas de metros, afloram em cotas altimétricas superiores a 200 m.

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Figura 2.3.1: A e B = Formação Serra Geral; C e D = Formação Botucatu. A = Derrames basálticos no

arroio da Bica (230 m de altitude). B = Grandes fragmentos de basalto no interior da floresta (485 m de

altitude). C = Arenito escavado pelas águas (73 m de altitude). D = Paredão de arenito da “Pedra Branca”

(128 m de altitude).

2.4. Geomorfologia

A região se enquadra no Domínio Morfoestrutural das Bacias e Coberturas

Sedimentares, representado por um único subdomínio de mesmo nome. Na região da área de

estudo a presença de litologias com diferentes resistências gerou uma escarpa no contato da fase

sedimentar da bacia com as rochas efusivas, conhecida, regionalmente, como Serra Geral. A

fase sedimentar, constituída por uma formação gonduânica e modelada por processos erosivos,

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situa-se no ponto de contato onde a depressão periférica é interrompida pelo avanço da escarpa

da Serra Geral (Herrmann & Rosa 1990).

A Área Núcleo insere-se nas regiões fisiográficas da Depressão Central Gaúcha, sem

grandes variações altimétricas, e da Encosta Inferior do Nordeste (Fortes 1956) (figura 2.4.1),

esta representada por terminais escarpados, festonados e profundamente dissecados pela erosão

pluvial. Esses terminais, dos quais o Morro Ferrabraz e o Morro da Cruz são exemplos

clássicos, representam testemunhos do recuo da linha de escarpa e apresentam-se como

esporões interfluviais alongados e irregulares que se interdigitam com a porção leste da

Depressão Central (Herrmann & Rosa 1990) (figura 2.4.2).

2.5. Solos

Nas altitudes inferiores a 200 m o solo em geral é do tipo Argissolo Vermelho distrófico

arênico (Embrapa 1999), bem drenado e caracterizado por uma seqüência de horizontes A, B

textural e C (Streck et al. 2002). Caracteriza-se como profundo, com horizonte B argiloso e

classe textural franco-arenosa. Nas altitudes superiores a 200 m são em geral encontrados Solos

Litólicos (Embrapa 1999).

Cabe destacar ainda que o contato entre as formações Serra Geral e Botucatu cria

mosaicos com grande número de classes de solo, as quais suportam, em geral, elevada

biodiversidade.

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0 100 150 km

1- Litora l2 - Depressão Centra l3 - Missões4 - Ca mpanha5 - Serra do Sudeste6 - Encosta do Sudeste7 - Alto Urugua i8 - Ca mpos de Cima da Serra9 - Pla na lto Médio10 - Encosta Inferior do Nordeste11 - Encosta Superior do Nordeste

4

5

93

7

11

1

6

8

102

Figura 2.4.1: Regiões Fisiográficas do Rio Grande do Sul, com destaque àquelas nas quais se insere a

Área Núcleo (Adaptado de Fortes 1956).

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Figura 2.4.2: À direita, morros alongados e irregulares que se interdigitam com a porção leste da

Depressão Central, testemunhos do recuo da linha de escarpa. Ao fundo o Vale do rio dos Sinos, porção

mais ao leste da Depressão Central.

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2.6. Hidrografia

A Área Núcleo constitui, em seus pontos culminantes, parte do divisor de águas entre as

bacias dos rios do Sinos e Caí, ambas inseridas na Região Hidrográfica do Guaíba (SEMA

2002) (figura 2.6.1).

Ao todo 21 nascentes se originam no interior da área de estudo, número este que sobre

para 36 se contadas aquelas próximas, mas fora do seu perímetro. Sete arroios que constituem

importantes tributários do rio dos Sinos nascem no interior ou nos arredores da Área Núcleo,

enquanto que voltados para o lado oposto nascem o rio Cadeia e o arroio Hospital, dois

importantes tributários do rio Caí (figuras 2.6.2 e 2.6.3).

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Figura 2.6.1: Regiões Hidrográficas do Rio Grande do Sul, com destaque para as bacias dos rios Caí e

dos Sinos.

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Figura 2.6.2: Sub-bacias hidrográficas dos rios do Sinos e Caí.

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Figura 2.6.3: A = Arroio São Jacó, próximo às nascentes. B = Vista parcial da represa do arroio da Bica.

C e D = Arroio Grande; C = Cachoeiras, próximo às nascentes; D = Proximidades do perímetro urbano

de Nova Hartz.

2.7. Vegetação

O Brasil é subdividido em seis biomas, dos quais somente dois ocorrem no Rio Grande

do Sul, Mata Atlântica e Pampa (figura 2.7.1).

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Figura 2.7.1: Biomas ocorrentes no Rio Grande do Sul (IBGE 2004) e área de distribuição original da

Floresta Estacional Semidecidual, segundo projeto RADAMBRASIL (Teixeira et al. 1986, Fepam 2004)

– não inclusa no mapa original.

O Bioma Mata Atlântica, segundo Decreto Nº. 750, de 10 de fevereiro de 1993, recebe a

denominação legal de Domínio da Mata Atlântica (figura 2.7.2). A área de estudo se encontra

inserida neste domínio, que compreende todas as formações florestais e ecossistemas associados

e suas respectivas delimitações, segundo estabelecidas pelo Mapa de Vegetação do Brasil

(IBGE 1988): Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Aberta,

Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Decidual, Manguezais, Restingas,

Campos de Altitude, Brejos Interioranos e Encraves Florestais no Nordeste.

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Figura 2.7.2: Extensão original e atual do Domínio da Mata Atlântica. Dados de cobertura florestal

segundo a Fundação SOS Mata Atlântica – Paraná e Rio de Janeiro 2000; outros estados 1995 (Fonte:

Câmara 2003).

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De acordo com a classificação do Projeto RADAMBRASIL (Teixeira et al. 1986), o

local de estudo pertence à região fitogeográfica da Floresta Estacional Semidecidual (FES)

(figura 2.7.3). Com 9.862 km2 de extensão, distribui-se, em parte, na vertente leste do Planalto

Sul-Rio-Grandense e, na outra porção, a leste da Depressão Central Gaúcha e seus patamares,

aproximadamente coincidente com a bacia do rio dos Sinos.

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Figura 2.7.3: Formações vegetacionais ocorrentes no Rio Grande do Sul, segundo Projeto

RADAMBRASIL (adaptado de Teixeira et al. 1986, IBGE 2002, Fepam 2004).

De acordo com os mesmos autores, as diferenças entre a região fitogeográfica da FES e

da Floresta Estacional Decidual (FED) seriam o percentual de deciduidade foliar na época

desfavorável, superior a 50% na FED e entre 20 e 50% na FES, além da ausência de Apuleia

leiocarpa (grápia) nesta última, a qual seria a grande responsável pela fitofisionomia da FED.

Subdividida em quatro formações, na porção setentrional da FES ocorreriam a Floresta

de Terras Baixas, em altitudes de até 30 m, a Floresta Submontana, de 30 a 680 m, e a Floresta

Montana, que se localizaria sobre uma longa, estreita e sinuosa faixa de, no máximo, cinco

quilômetros de largura, até a cota de 800 m de altitude, dando então lugar à Floresta Ombrófila

Mista (floresta com araucária). Na área de estudo estariam presentes somente as formações

Submontana e Montana.

Outras terminologias foram ainda sugeridas para as diferentes zonas de vegetação ou

regiões fitogeográficas no Rio Grande do Sul. Dentre estas, por exemplo, a área do presente

estudo se enquadra na “Zona das Matas costeiras” de Sampaio (1934), que inclui todas as

formações florestais sul-rio-grandenses, à exceção das florestas com Araucária (“Zona dos

Pinhais”); na “Floresta da Encosta Atlântica” de Santos (1943), do RN até a parte setentrional

do RS, de onde avança, “no rumo de oeste, pela encosta meridional do grande planalto”; e na

“Bacia do Rio Jacuí ou Depressão Central” de Reitz et al. (1983), incluindo-se aí os terrenos

suavemente ondulados e os contrafortes da Serra Geral.

As florestas que originalmente recobriam a totalidade das encostas na área de estudo

foram praticamente todas derrubadas, dando lugar atualmente a capoeiras e capoeirões, matas

secundárias e matas em estádio sucessional mais ou menos avançado (figura 2.7.4), além de uns

poucos locais, em geral muito íngrimes e de difícil acesso, onde são encontrados remanescentes

daquilo que um dia foram provavelmente as matas na região.

As variações observadas na vegetação remanescente da região são devidas à latitude e

longitude, e às diferenças de altitude, relevo, solo e condições climáticas.

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Figura 2.7.4: No primeiro plano, área onde a mata foi derrubada em 1991 e logo depois abandonada,

dando lugar primeiramente a diversas espécies campestres, dominadas por Eryngium horridum Malme

(Apiaceae) e Baccharis spp. (Asteraceae), seguidas logo pelas espécies arbóreas pioneiras. Logo após, vê-

se um fragmento florestal em estádio avançado e subindo o morro áreas florestadas (a mancha ao centro

são eucaliptos) em diferentes estádios sucessionais.

2.8. Métodos

2.8.1.Composição do componente arbóreo

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O levantamento florístico foi realizado entre fevereiro e agosto de 2007 através de

caminhadas por toda a área. Nas saídas – ao todo 23 dias de campo – procurou-se contemplar,

tanto quanto possível, a variação ambiental presente na área de abrangência do estudo. Para

isso, percorreram-se transectos no sentido longitudinal de diferentes faixas de altitude e também

ao longo do gradiente altitudinal, sempre que transitável.

É importante ressaltar que o acesso às propriedades foi sobremaneira dificultado (1)

pelo tempo empregue em explicações sobre o projeto e (2) em argumentações para dirimir

dúvidas e desconfianças por parte dos proprietários. Devido a isso, o morro à esquerda da sede

campestre da Sociedade Ginástica, por exemplo, foi o único integralmente trilhado da base ao

topo. A dificuldade de acesso aos fragmentos em melhor estado de conservação foi outro

aspecto desafiante na consecução das atividades.

Os seguintes ambientes foram investigados: 1) matas de encosta úmidas; 2) matas

expostas a ventos intensos (encostas do Morro Ferrabraz); 3) matas com solos rasos e

pedregosos; 4) matas de platô e; 5) matas paludosas. Do mesmo modo, procurou-se averiguar

encostas com diferentes exposições solares para detectar possíveis variações na composição.

Todos os indivíduos arbóreos – aqueles com altura ≥ 2 m e diâmetro à altura do peito

(DAP) ≥ 5 cm – tiveram anotada a sua determinação taxonômica e, sempre que possível, as

espécies indeterminadas foram coletadas para posterior identificação.

Na elaboração da lista de espécies foi adotada a classificação proposta por APG II

(2003), enquanto que os nomes dos autores das espécies seguiram Brummit & Powell (1992).

Com base na listagem florística, foi elaborada a lista das espécies da flora ameaçadas de

extinção registradas neste estudo, segundo o Decreto Estadual Nº. 42.099, de 1º de janeiro de

2003. As espécies foram enquadradas segundo as respectivas categorias de ameaça a que se

encontram sujeitas, incluindo-se na lista também as espécies cujo corte é vedado (Lei Estadual

Nº. 9.519, de 21 de janeiro de 1992).

Ao longo das observações a campo anotaram-se também as espécies e a ocorrência das

mesmas em faixas altitudinais, que foram divididas em seis classes: ≤100, ≥100, ≥200, ≥300,

≥400, ≥500 e ≥ 600. Conforme mencionado anteriormente, nem sempre foi possível percorrer o

gradiente altitudinal ou faixas de mesma altitude em transectos. Portanto, é provável que muitas

espécies tenham distribuição mais ampla do que a observada ao longo do gradiente. Contudo,

algumas espécies parecem muito bem caracterizadas com relação à sua distribuição altitudinal.

2.8.2.Estrutura do componente arbóreo

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No levantamento estrutural realizaram-se 30 parcelas de 10 × 10 m (figura 8.2.1), onde

o critério foi, da forma mais abrangente possível, selecionar os fragmentos em melhor estado de

conservação e contemplar ao máximo as variações ambientais observadas na área. A suficiência

amostral foi determinada por uma curva de espécies × área (curva de coletor), calculando-se

para a mesma uma curva de regressão logarítmica.

Figura 2.8.1: A. Coletando material para herborização. B. Saída a campo para coleta com especialista na

Tribo Bambusae (Poaceae). C. Utilização de barco para áreas de difícil acesso na represa do arroio da

Bica. D. Avaliação do diâmetro de um indivíduo arbóreo no levantamento estrutural.

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Todos os indivíduos arbóreos com DAP ≥ 5 cm tiveram o diâmetro e a altura total

registrados. As espécies não identificadas a campo foram coletadas e posteriormente

determinadas com auxílio de literatura especializada, consulta a especialistas e comparações ao

acervo dos Herbários ICN e PACA, sempre que possível.

Os parâmetros estruturais estimados para cada espécie foram densidade, freqüência e

dominância (esta a partir da área basal), bem como o valor de importância (Mueller-Dombois &

Ellenberg 1974), que foi dividido por três (Holdridge et al. 1971). Foram ainda calculados o

índice de diversidade de Shannon (H’) e o índice de equabilidade de Pielou (J’) (Zar 2006).

2.8.3.Classificação das florestas na Área Núcleo e região

A caracterização da fitofisionomia foi realizada com base nos resultados da análise da

composição e estrutura dos fragmentos estudados, através de imagens e mapas da Área Núcleo,

além das seguintes fontes bibliográficas: Rambo 1951, 1954, 1961, Klein 1961, 1972, 1979,

1980, 1983, 1984a, Reitz et al. 1983, Brack et al. 1985, Teixeira et al. 1986, Jarenkow 1994,

Brack et al. 1998, Jarenkow & Waechter 2001, Brack 2002, Jurinitz & Jarenkow 2003, Sobral

2003, Molz 2004, Sobral et al. 2006, Budke et al. 2007.

2.8.4.Levantamento das áreas prioritárias à conservação

O levantamento das áreas prioritárias à conservação foi baseada nos resultados dos

levantamentos florístico e fitossociológico e de caracterização da vegetação, em imagens e

mapas da Área Núcleo e nas informações bióticas e abióticas relativas à conservação e

utilização sustentável dos fragmentos.

Os critérios adotados para a identificação foram a distribuição e riqueza de elementos da

biodiversidade, o grau de conservação dos fragmentos e a presença de fenômenos biológicos

especiais, como zonas de contato entre diferentes regiões fitogeográficas (ecótones). Os critérios

abióticos adotados na avaliação foram a presença de áreas de importância para a proteção e a

manutenção de mananciais e aqüíferos e áreas de risco.

Após a seleção das áreas prioritárias à conservação estas foram classificadas segundo a

sua importância biológica: extremamente alta, muito alta, alta ou relevante.

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3. Resultados e discussão

3.1. Composição do componente arbóreo

Um total de 192 espécies, pertencentes a 132 gêneros e 57 famílias foi registrado no

levantamento florístico (tabela 3.1.1), incluindo uma espécie de Myrtaceae que não foi possível

de ser coletada e outra indeterminada por falta de material fértil. Para esta última, nem ao nível

de família foi possível chegar. O acompanhamento do indivíduo será necessário a fim de que no

futuro, com a obtenção de material fértil, a espécie possa ser determinada. O total de espécies

amostrado representa 37% da diversidade arbórea descrita para o Estado – 519 espécies,

segundo Sobral et al. (2006).

Myrtaceae, com 23 espécies, apresentou a maior riqueza dentre as famílias amostradas,

seguida de Fabaceae, com 18, Lauraceae, com 13, Euphorbiaceae, com 10, outras três que

apresentaram sete espécies, e ainda três que tiveram seis cada. Apesar de representarem apenas

18% das famílias listadas, juntas, as famílias com seis ou mais espécies perfizeram 54% da

riqueza encontrada (figura 3.1.1). Ao todo 17 famílias estiveram presentes apenas no

levantamento florístico, incluindo algumas com muitas espécies como Solanaceae (7),

Asteraceae (5), Melastomataceae (4) e Bignoniaceae (3).

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Figura 3.1.1: Riqueza específica por família encontrada no levantamento florístico do componente

arbóreo na Área Núcleo dos Contrafortes do Ferrabraz, RS.

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TABELA 3.1.1: Famílias, espécies e nomes populares das espécies amostradas no levantamento florístico realizado na Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz — bacias do Sinos e Caí, RS.Nº. Família Espécie Nomes populares1 Anacardiaceae Schinus lentiscifolius Marchand aroeira2 Schinus terebinthifolius Raddi aroeira-vermelha3 Annonaceae Annona cacans Warm. ariticum-cagão4 Rollinia rugulosa Schltdl. ariticum5 Rollinia silvatica (A. St.-Hil.) Mart. ariticum-do-mato6 Apocynaceae Aspidosperma australe Müll.Arg. peroba7 Aquifoliaceae Ilex brevicuspis Reissek congonha8 Ilex paraguariensis A. St.-Hil. erva-mate9 Araliaceae Aralia warmingiana (Marshal) J. Wen carobão, cinamomo-do-mato10 Dendropanax cuneatus (DC.) Dechne. & Planch. pau-de-tamanco11 Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin caixeta12 Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze pinheiro, araucária13 Arecaceae Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman gerivá, coqueiro14 Asteraceae Baccharis semiserrata DC. vassoura15 Dasyphyllum spinescens (Less.) Cabrera sucará16 Dasyphyllum tomentosum (Spreng.) Cabrera sucará17 Eupatorium rufescens Lund ex DC. mata-campo18 Piptocarpha tomentosa Baker canela-podre, pau-toicinho19 Vernonia discolor (Spreng.) Less. vassourão-branco20 Bignoniaceae Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. ipê-verde21 Jacaranda micrantha Cham. caroba22 Handroanthus umbellata (Sond. ex Sandwith) Mattos ipê-da-várzea23 Boraginaceae Cordia americana (L.) Gottschling & J.S. Mill. guajuvira24 Cordia ecalyculata Vell. louro-salgueiro25 Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. louro26 Cannabaceae Celtis brasiliensis (Gardner) Planch. taleira27 Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. taleiraTABELA 3.1.1: Continuação.Nº. Família Espécie Nomes populares

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28 Cannabaceae Trema micrantha (L.) Blume crindiúva29 Cardiopteridaceae Citronella paniculata (Mart.) R.A. Howard congonha, pau-de-corvo30 Caricaceae Jacaratia spinosa (Aubl.) DC. jacaratiá, mamoeiro-do-mato31 Vasconcella quercifolia A. St.-Hil. jacaratiá, mamoeiro-do-mato32 Celastraceae Maytenus cassineformis Reissek coração-de-negro33 Chrysobalanaceae Hirtella hebeclada Moric. ex DC. cinzeiro, uvá-de-facho, ubá34 Clusiaceae Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi bacopari35 Cunoniaceae Lamanonia ternata Vell. guaperê, guaraperê36 Weinmannia humilis Engl. gramimunha37 Cyatheaceae Alsophila setosa Kaulf. samambaiaçu38 Dicksoniaceae Dicksonia sellowiana Hook. xaxim39 Ebenaceae Diospyros inconstans Jacq. maria-preta40 Elaeocarpaceae Sloanea monosperma Vell. carrapicheira, sapopema41 Erythroxylaceae Erythroxylum argentinum O.E. Schultz cocão42 Escalloniaceae Escallonia bifida Link et Otto canudo-de-pito43 Euphorbiceae Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg tanheiro, tapiá44 Gymnanthes concolor Spreng. laranjeira-do-mato45 Manihot grahamii Hook. mandioca-braba46 Pachystroma longifolium (Nees) I.M. Johnst. mata-olho47 Sapium glandulosum (L.) Morong. leiteiro, pau-leiteiro48 Sebastiania argutidens Pax & K. Hoffm. branquilho49 Sebastiania brasiliensis Spreng. leiterinho, leiteiro50 Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs branquilho51 Sebastiania serrata (Klotzsch) Müll.Arg branquilho52 Tetrorchidium rubrivenium Poepp. & Endl. canemoçu, embirão53 Fabaceae Albizia edwallii (Hoehne) Barneby & J.W. Grimes angico-pururuca54 Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. grápia55 Bauhinia forficata Link pata-de-vacaTABELA 3.1.1: Continuação.Nº. Família Espécie Nomes populares56 Fabaceae Dalbergia frutescens (Vell.) Britton rabo-de-bugio57 Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong orelha-de-macaco, timbáuva

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58 Erythrina falcata Benth. corticeira-da-serra59 Inga lentiscifolia Benth. ingá60 Inga marginata Willd. ingá-feijão61 Inga sessilis (Vell.) Mart. ingá-ferradura62 Inga virescens Benth. ingá63 Lonchocarpus campestris Mart. ex Benth. rabo-de-bugio64 Lonchocarpus nitidus (Vogel) Benth. rabo-de-bugio65 Machaerium paraguariense Hassl. farinha-seca, pau-de-malho66 Machaerium stipitatum (DC.) Vogel farinha-seca, pau-de-malho67 Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze maricá68 Myrocarpus frondosus M. Allemão cabreúva, cabriúva69 Ormosia arborea (Vell.) Harms castanha, olho-de-cabra70 Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan angico-vermelho71 Lamiaceae Aegiphila sellowiana Cham. gaioleira, tamanqueira72 Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke tarumã, tarumã-preto73 Lauraceae Aiouea saligna Meisn. canela-vermelha74 Cryptocarya aschersoniana Mez canela-fogo75 Cryptocarya cf. moschata Nez & Mart. ex Nees canela-fogo76 Cinnamomum glaziovii (Mez) Kosterm. canela-frade77 Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F. Macbr. canela-crespa78 Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez canela-merda79 Nectandra oppositifolia Nees canela-ferrugem80 Ocotea indecora (Schott) Mez canela-preta81 Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer canela-sassafrás82 Ocotea puberula (Rich.) Nees canela-guaicá83 Ocotea pulchella (Nees) Mez canela-lajeanaTABELA 3.1.1: Continuação.Nº. Família Espécie Nomes populares84 Lauraceae Ocotea silvestris Vattimo-Gil canela85 Ocotea urbaniana Mez canela86 Malvaceae Abutilon amoenum K. Schum.87 Luehea divaricata Mart. & Zucc. açoita-cavalo

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88 Pseudobombax grandiflorus (Cav.) A. Robyns embiruçu, pau-de-lã89 Melastomataceae Leandra barbinervis (Cham. ex Triana) Cogn. pixirica90 Miconia cinerascens Miq. pixirica91 Miconia hiemalis A. St.-Hil. et Naudin ex Naudin pixirica92 Miconia sellowiana Naudin pixirica93 Meliaceae Cabralea canjerana (Vell.) Mart. canjerana94 Cedrela fissilis Vell. cecro, cedro-vermelho95 Guarea macrophylla Vahl pau-d’arco96 Trichilia catigua A. Juss. catiguá97 Trichilia claussenii C.DC. catiguá-vermelho98 Trichilia elegans A. Juss. pau-de-ervilha99 Trichilia pallens C.DC. arco-de-peneira100 Monimiaceae Hennecartia omphalandra J. Poiss. canema, gema-de-ovo101 Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins pimenteira, capixim102 Moraceae Brosimum glaziovii Taub. leiteiro103 Ficus adhatodifolia Schott figueira-purgante104 Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. figueira, figueirão105 Ficus cestrifolia Schott figueira-branca106 Maclura tinctoria (L.) Don ex Steud. tajuva107 Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger, Lanjouw et Boer cincho108 Myrsinaceae Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. ex Roem & Schult. capororoquinha109 Myrsine guianensis capororocão110 Myrsine loefgrenii (Mez) Otegui capororoca111 Myrsine lorentziana (Mez) Arechav. capororocaTABELA 3.1.1: Continuação.Nº. Família Espécie Nomes populares112 Myrsinaceae Myrsine umbellata Mart. capororocão113 Myrtaceae Acca sellowiana (O.Berg) Burret goiba-serrana114 Blepharocalix salicifolius (Kunth) O.Berg murta115 Calyptranthes grandifolia O. Berg facho, guamirim116 Campomanesia xanthocarpa O. Berg guabiroba117 Eugenia bacopari D. Legrand guamirim-pimentão

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118 Eugenia multicostata D. Legrand araçá-piranga119 Eugenia ramboi D. Legrand batinga-branca120 Eugenia rostrifolia D. Legrand batinga121 Eugenia schuechiana O. Berg guamirim-uvá122 Eugenia uniflora L. pitangueira123 Eugenia uruguayensis Cambess. guamirim124 Marlierea eugeniopsoides (D. Legrand & Kausel) D. Legrand guaporanga125 Myrcia brasiliensis Kiaersk. guamirim-araçá126 Myrcia glabra (O. Berg) D. Legrand guamirim127 Myrcia hebepetala DC. guamirim128 Myrcia multiflora (Lam.) DC. camboim129 Myrcia palustris DC. guamirim130 Myrcianthes gigantea (D. Legrand) D. Legrand araçá-do-mato131 Myrcianthes pungens (O. Berg) D. Legrand guabiju132 Myrciaria plinioides D. Legrand guamirim-peludo133 Myrrhinium atropurpureum Schott carrapato, pau-ferro134 Neomitranthes gemballae (D. Legrand) D. Legrand pau-ferro135 Psidium cattleianum Sabine araçazeiro136 Nyctaginaceae Guapira opposita (Vell.) Reitz maria-mole137 Pisonia zapallo Griseb. maria-mole138 Ochnaceae Ouratea parviflora (DC.) Baill. garaparim-miúdo139 Phyllanthaceae Margaritaria nobilis L. figueirinhaTABELA 3.1.1: Continuação.Nº. Família Espécie Nomes populares140 Phytolaccaceae Phytolacca dioica L. umbu141 Seguieria aculeata Jacq. limoeiro-do-mato142 Picramniaceae Picramnia parvifolia Engl. pau-amargo, quassiá143 Poaceae Guadua tagoara (Nees) Kunth tagoara, taquaruçú144 Guadua trinii (Nees) Nees ex Rupr. taquaruçú145 Podocarpaceae Podocarpus lambertii Klotzsch ex Endl. pinheiro-bravo146 Proteaceae Roupala brasiliensis Klotzsch carvalho-brasileiro147 Quillajaceae Quillaja brasiliensis (A. St.-Hil. & Tul.) Mart. pau-de-sabão

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148 Rosaceae Prunus myrtifolia (L.) Urb. pessegueiro-do-mato149 Rubiaceae Couratea hexandra (Jacq.) K.Schum. quina150 Faramea montevidensis (Cham. & Schltdl.) DC. café-do-mato151 Psychotria suterella Müll.Arg cafeeiro-do-mato152 Rudgea parquioides (Cham.) Müll.Arg. jasmim-do-mato153 Randia ferox (Cham. & Schltdl.) DC. limoeiro-do-mato154 Rutaceae Esenbeckia grandiflora Mart. cutia, pau-de-cutia155 Pilocarpus pennatifolius Lem. jaborandi, cutia-branca156 Zanthoxylum caribaeum Lam. mamica-de-cadela157 Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. coentrilho158 Zanthoxylum petiolare A. St.-Hil. & Tul. mamica-de-cadela159 Zanthoxylum rhoifolium Lam. mamica-de-cadela160 Sabiaceae Meliosma sellowii Urb. pau-fernandes161 Salicaceae Banara parviflora (A. Gray) Benth. farinha-seca162 Banara tomentosa Clos guaçatunga163 Casearia decandra Jacq. guaçatunga164 Casearia obliqua Spreng. cambroé, carvalhinho165 Casearia silvestris Sw. chá-de-bugre166 Xylosma pseudosalzmannii Sleumer sucará167 Xylosma tweediana (Clos) Eichler sucaráTABELA 3.1.1: Continuação.Nº. Família Espécie Nomes populares168 Sapindaceae Allophylus edulis (A. St.-Hil. et al.) Radlk. chal-chal169 Cupania vernalis Cambess. camboatá-vermelho170 Dodonea viscosa Jacq. vassoura-vermelha171 Matayba elaeagnoides Radlk. camboatá-branco172 Sapotaceae Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler) Engl. aguaí-guaçu173 Chrysophyllum marginatum (Hook & Arn.) Radlk. aguaí-mirim174 Simaroubaceae Picrasma crenata (Vell.) Engl. pau-amargo, quassiá175 Solanaceae Cestrum amictum Schldtl. coerana176 Cestrum intermedium Sendtn. coerana177 Solanum compressum L.B. Sm. & Downs canema-mirim, coerana

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178 Solanum mauritianum Scop. fumo-bravo179 Solanum pseudoquina A.St.-Hil. coerana, quina180 Solanum sanctaecatharinae Dunal joá-manso181 Vassobia breviflora (Sendtn.) Hunz. esporão-de-galo182 Styracaceae Styrax acuminatus Pohl Pau-de-remo183 Styrax leprosus Hook & Arn. carne-de-vaca, canelinha184 Symplocaceae Symplocos tetrandra (Mart.) Miq. sete-sangrias185 Theaceae Laplacea acutifolia (Wawra) Kobuski santa-rita186 Urticaceae Boehmeria caudata Sw. urtiga-mansa187 Cecropia glaziovii Snethl. embaúba188 Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini figueira-mata-pau189 Urera baccifera (L.) Gaudich. urtigão190 Verbenaceae Citharexylum myrianthum Cham. tarumã-branco, tucaneira

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Molz (2004) observou que Myrtaceae e Fabaceae são as famílias de maior riqueza

específica em muitos levantamentos florísticos realizados no Estado, onde a primeira predomina

nos levantamentos mais ao leste, caso deste estudo, e a segunda naqueles mais ao centro e ao

oeste. Vários estudos realizados na floresta pluvial atlântica (e.g., Silva & Leitão Filho 1982,

Mori et al. 1983, Silva 1994, Jarenkow 1994, Negrelle 2002) apontam Myrtaceae como a

família mais diversa em espécies lenhosas, fato este confirmado por uma análise com mais de

100 áreas de cinco formações florestais no Domínio da Mata Atlântica (Oliveira-Filho & Fontes

2000).

Myrtaceae é a família com o maior número de representantes arbóreos no Rio Grande

do Sul (Reitz et al. 1983, Klein 1984b, Sobral 2003). Foram encontradas, por exemplo, espécies

características da floresta do Alto Uruguai, como a batinga-branca (Eugenia ramboi) e a

batinga-vermelha (Eugenia rostrifolia), da floresta pluvial atlântica, como o pau-alazão

(Eugenia multicostata), o guamirim-araçá (Myrcia brasiliensis) e o guamirim-peludo

(Myrciaria plinioides), e da floresta com araucária, como a goiaba-serrana (Acca sellowiana) e

o guamirim (Myrcia hebepetala).

Dentre as Fabaceae a maioria das espécies é oriunda da floresta do Alto Uruguai, com

destaque para a grápia (Apuleia leiocarpa), a cabreúva (Myrocarpus frondosus) e o angico

(Parapiptadenia rigida). Da floresta pluvial atlântica o ingá-feijão (Inga marginata) e o ingá-

macaco (I. sessilis) são os mais comuns na área, e o olho-de-cabra (Ormosia arborea), nunca

antes amostrada na bacia do Sinos, foi encontrada num único fragmento próximo à divisa entre

Igrejinha, Nova Hartz e Santa Maria do Herval. É interessante destacar que, apesar de

amostrada somente neste fragmento, há tanto indivíduos jovens como adultos, o que evidencia

que a espécie está se regenerando no local. Dois outros ingás que merecem referência são I.

lentiscifolia e I. virescens, ambos exclusivos da floresta com araucária.

Quanto aos gêneros, Eugenia teve o maior número de espécies, sete, seguido de Ocotea,

com seis. Outros dois gêneros tiveram cinco espécies, Myrcia e Myrsine, enquanto que Inga,

Sebastiania, Solanum, Trichilia e Zanthoxylum tiveram quatro espécies cada. Das espécies de

Sebastiania, a única não amostrada foi S. schottiana, característica de matas ciliares.

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TABELA 3.1.2: Famílias, espécies e distribuição por classes de altitudes das espécies amostradas no levantamento florístico realizado na Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz — bacias do Sinos e Caí, RS. SAP = Sapiranga; ARA = Araricá; NHZ = Nova Hartz; IGR = Igrejinha.Família Espécie ≤100 ≥100 ≥200 ≥300 ≥400 ≥500 ≥600 SAP ARA NHZ IGRAnacardiaceae Schinus lentiscifolius Marchand × ×

Schinus terebinthifolius Raddi × × × × × × × × × × ×Annonaceae Annona cacans Warm. × × × × × × × × × ×

Rollinia rugulosa Schltdl. × × × × × × × × × ×Rollinia silvatica (A. St.-Hil.) Mart. × × × × × × × × × ×

Apocynaceae Aspidosperma australe Müll.Arg. × × × × × × ×Aquifoliaceae Ilex brevicuspis Reissek × × × × × × × × × × ×

Ilex paraguariensis A. St.-Hil. × × × ×Araliaceae Aralia warmingiana (Marshal) J. Wen × × × ×

Dendropanax cuneatus (DC.) Dechne. & Planch. × × × × ×Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin × × × × × × × × × ×

Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze × × ×Arecaceae Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman × × × × × × × × × ×Asteraceae Baccharis semiserrata DC. × × × ×

Dasyphyllum spinescens (Less.) Cabrera × × × × × ×Dasyphyllum tomentosum (Spreng.) Cabrera × ×Eupatorium rufescens Lund ex DC. × × × × × × × × ×Piptocarpha tomentosa Baker × × × × × × × × × × ×Vernonia discolor (Spreng.) Less. × × × × × × ×

Bignoniaceae Handroanthus umbellata (Sond.) Sandwith × × × × × × × × × ×Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. × × × × × × × × × ×Jacaranda micrantha Cham. × × ×

Boraginaceae Cordia americana (L.) Gottschling & J.S. Mill. × × ×Cordia ecalyculata Vell. × × × × × × × × × ×Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. × × × × × × × × × ×

Cannabaceae Celtis brasiliensis (Gardner) Planch. × ×Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. × × × × × × ×

TABELA 3.1.1: Continuação.Família Espécie ≤100 ≥100 ≥200 ≥300 ≥400 ≥500 ≥600 SAP ARA NHZ IGR

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Cannabaceae Trema micrantha (L.) Blume × × × × × × × × × × ×Cardiopteridaceae Citronella paniculata (Mart.) R.A. Howard × × × × × × × × ×Caricaceae Jacaratia spinosa (Aubl.) DC. × × × ×

Vasconcella quercifolia A. St.-Hil. × × × × ×Celastraceae Maytenus cassineformis Reissek × × × × ×Chrysobalanaceae Hirtella hebeclada Moric. ex DC. × × × × × × × × × ×Clusiaceae Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi × × × × × × × × × ×Cunoniaceae Lamanonia ternata Vell. × × × × × × × ×

Weinmannia humilis Engl. × × ×Cyatheaceae Alsophila setosa Kaulf. × × × × × × × × × ×Dicksoniaceae Dicksonia sellowiana Hook. × × ×Ebenaceae Diospyros inconstans Jacq. × × × × × × × × × ×Elaeocarpaceae Sloanea monosperma Vell. × × × × × × × × × ×Erythroxylaceae Erythroxylum argentinum O.E. Schultz × × × × × × × × × ×Escalloniaceae Escallonia bifida Link et Otto × × × × × × × × × × ×Euphorbiceae Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg × × × × × × × × × × ×

Gymnanthes concolor Spreng. × × × × × × × × × × ×Manihot grahamii Hook. × ×Pachystroma longifolium (Nees) I.M. Johnst. × × × × × × × × × × ×Sapium glandulosum (L.) Morong. × × × × × × × × × × ×Sebastiania argutidens Pax & K. Hoffm. × × × × × × × × × × ×Sebastiania brasiliensis Spreng. × × × × × × ×Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs × ×Sebastiania serrata (Klotzsch) Müll.Arg × × × ×Tetrorchidium rubrivenium Poepp. & Endl. × × × × × × × × × × ×

Fabaceae Albizia edwallii (Hoehne) Barneby & J.W. Grimes × × × × × × × × × × ×Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. × × × × × × ×Bauhinia forficata Link × × × × × × × × × × ×

TABELA 3.1.1: Continuação.Família Espécie ≤100 ≥100 ≥200 ≥300 ≥400 ≥500 ≥600 SAP ARA NHZ IGRFabaceae Dalbergia frutescens (Vell.) Britton × × × × × × × × × × ×

Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong × × × × × × × × × ×

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Erythrina falcata Benth. × × × × × × × × ×Inga lentiscifolia Benth. × ×Inga marginata Willd. × × × × × × × × × × ×Inga sessilis (Vell.) Mart. × × × × × × × × × × ×Inga virescens Benth. × × × × ×Lonchocarpus campestris Mart. ex Benth. × × × × ×Lonchocarpus nitidus (Vogel) Benth. × × ×Machaerium paraguariense Hassl. × × × × × × × × × × ×Machaerium stipitatum (DC.) Vogel × × × × × × × × × × ×Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze × × × × × ×Myrocarpus frondosus M. Allemão × × × × × × ×Ormosia arborea (Vell.) Harms × ×Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan × × × × × × × × × ×

Lamiaceae Aegiphila sellowiana Cham. × × × × × × × × × × ×Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke × × × × × × ×

Lauraceae Aiouea saligna Meisn. × × × × × × × × × ×Cryptocarya aschersoniana Mez × × × × × ×Cryptocarya cf. moschata Nez & Mart. ex Nees × × ×Cinnamomum glaziovii (Mez) Kosterm. × × × × × × × × ×Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F. Macbr. × × × × × × × × × × ×Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez × × × × × × × × × × ×Nectandra oppositifolia Nees × × × × × × × × ×Ocotea indecora (Schott) Mez × × × × × × × × × ×Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer × ×Ocotea puberula (Rich.) Nees × × × × × × × × × × ×Ocotea pulchella (Nees) Mez × × ×

TABELA 3.1.1: Continuação.Família Espécie ≤100 ≥100 ≥200 ≥300 ≥400 ≥500 ≥600 SAP ARA NHZ IGRLauraceae Ocotea silvestris Vattimo-Gil × × × × × × × × × ×

Ocotea urbaniana Mez × × ×Malvaceae Abutilon amoenum K. Schum. × × ×

Luehea divaricata Mart. & Zucc. × × × × × × × × ×

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Pseudobombax grandiflorus (Cav.) A. Robyns × × × ×Melastomataceae Leandra barbinervis (Cham. ex Triana) Cogn. × × ×

Miconia cinerascens Miq. × ×Miconia hiemalis A. St.-Hil. et Naudin ex Naudin × × × × × × × ×Miconia sellowiana Naudin × × × × × × × × ×

Meliaceae Cabralea canjerana (Vell.) Mart. × × × × × × × × × × ×Cedrela fissilis Vell. × × × × × × × × × × ×Guarea macrophylla Vahl × × × × × × × × × ×Trichilia catigua A. Juss. × ×Trichilia claussenii C.DC. × × × × × × × × × × ×Trichilia elegans A. Juss. × × × × × × × × × × ×Trichilia pallens C.DC. × × × × × × × × × ×

Monimiaceae Hennecartia omphalandra J. Poiss. × × × × × × × × × × ×Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins × × × × × × × × × × ×

Moraceae Brosimum glaziovii Taub. × × × × × × × × × ×Ficus adhatodifolia Schott × × × × × × × × × × ×Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. × × × × × × × × × × ×Ficus cestrifolia Schott × × × × × × × × × ×Maclura tinctoria (L.) Don ex Steud. × ×Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger, Lanjouw et Boer × × × × × × × × × × ×

Myrsinaceae Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. ex Roem & Schult. × × × × × × × × × × ×Myrsine guianensis × × × × × × ×Myrsine loefgrenii (Mez) Otegui × × × × × × × × × ×Myrsine lorentziana (Mez) Arechav. × × × × × × × × × × ×

TABELA 3.1.1: Continuação.Família Espécie ≤100 ≥100 ≥200 ≥300 ≥400 ≥500 ≥600 SAP ARA NHZ IGRMyrsinaceae Myrsine umbellata Mart. × × × × × × × × × × ×

Acca sellowiana (O.Berg) Burret × × × × × ×Blepharocalix salicifolius (Kunth) O.Berg × × × ×

Myrtaceae Calyptranthes grandifolia O. Berg × × × × × × × × × × ×Campomanesia xanthocarpa O. Berg × × × × × × × × × × ×Eugenia bacopari D. Legrand × × × × × × × × ×

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Eugenia multicostata D. Legrand × × × × × × × × × ×Eugenia ramboi D. Legrand × × × × × × × × × ×Eugenia rostrifolia D. Legrand × × × × × × × × × × ×Eugenia schuechiana O. Berg × × × × × × × × × × ×Eugenia uniflora L. × × × × × × ×Eugenia uruguayensis Cambess. × × ×Marlierea eugeniopsoides (D. Legrand & Kausel) D. Legrand × × × × × × × × ×Myrcia brasiliensis Kiaersk. × × ×Myrcia glabra (O. Berg) D. Legrand × × × × × × ×Myrcia hebepetala DC. × × ×Myrcia multiflora (Lam.) DC. × × × × ×Myrcia palustris DC. × ×Myrcianthes gigantea (D. Legrand) D. Legrand × × ×Myrcianthes pungens (O. Berg) D. Legrand × × × × × × × × ×Myrciaria plinioides D. Legrand × × × × × × × × × × ×Myrrhinium atropurpureum Schott × × × × ×Neomitranthes gemballae (D. Legrand) D. Legrand × × × ×Psidium cattleianum Sabine × × × × × × × ×

Nyctaginaceae Guapira opposita (Vell.) Reitz × × × × × × × × × ×Pisonia zapallo Griseb. × × ×

Ochnaceae Ouratea parviflora (DC.) Baill. × × × × × × ×Phyllantaceae Margaritaria nobilis L. × × × × × ×TABELA 3.1.1: Continuação.Família Espécie ≤100 ≥100 ≥200 ≥300 ≥400 ≥500 ≥600 SAP ARA NHZ IGRPhytolaccaceae Phytolacca dioica L. × × × × × × × × × ×

Seguieria aculeata Jacq. × × ×Picramniaceae Picramnia parvifolia Engl. × × × × ×Poaceae Guadua tagoara (Nees) Kunth × × ×

Guadua trinii (Nees) Nees ex Rupr. × ×Podocarpaceae Podocarpus lambertii Klotzsch ex Endl. × × ×Proteaceae Roupala brasiliensis Klotzsch × × × × × × × × × ×Quillajaceae Quillaja brasiliensis (A. St.-Hil. & Tul.) Mart. × × × ×

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Rosaceae Prunus myrtifolia (L.) Urb. × × × × × × × × × × ×Rubiaceae Couratea hexandra (Jacq.) K.Schum. × × × × × ×

Faramea montevidensis (Cham. & Schltdl.) DC. × × × × × × × × × ×Psychotria suterella Müll.Arg × × × × × × × × × × ×Rudgea parquioides (Cham.) Müll.Arg. × × × × × × × × ×Randia ferox (Cham. & Schltdl.) DC. × × × × × × × × × ×

Rutaceae Esenbeckia grandiflora Mart. × × × × × × × × × ×Pilocarpus pennatifolius Lem. × × × × × × × × ×Zanthoxylum caribaeum Lam. × × × × × × × × × ×Zanthoxylum fagara (L.) Sarg. × ×Zanthoxylum petiolare A. St.-Hil. & Tul. × × × × × × × ×Zanthoxylum rhoifolium Lam. × × × × × × × × × × ×

Sabiaceae Meliosma sellowii Urb. × ×Salicaceae Banara parviflora (A. Gray) Benth. × × × × × × × × × ×Salicaceae Banara tomentosa Clos × × × ×

Casearia decandra Jacq. × × × × × × × × × ×Casearia obliqua Spreng. × × × × × × ×Casearia silvestris Sw. × × × × × × × × × × ×Xylosma pseudosalzmannii Sleumer × × × × × ×Xylosma tweediana (Clos) Eichler × × × × × ×

TABELA 3.1.1: Continuação.Família Espécie ≤100 ≥100 ≥200 ≥300 ≥400 ≥500 ≥600 SAP ARA NHZ IGRSapindaceae Allophylus edulis (A. St.-Hil. et al.) Radlk. × × × × × × × × × ×

Cupania vernalis Cambess. × × × × × × × × × × ×Dodonea viscosa Jacq. × × × × × × × × × ×Matayba elaeagnoides Radlk. × × × × × × × × × × ×

Sapotaceae Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler) Engl. × × × × × × × × × ×Chrysophyllum marginatum (Hook & Arn.) Radlk. × × × × × × × × × × ×

Simaroubaceae Picrasma crenata (Vell.) Engl. × × × × × × × ×Solanaceae Cestrum amictum Schldtl. × × ×

Cestrum intermedium Sendtn. × × × × × × × × ×Solanum compressum L.B. Sm. & Downs × × ×

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Solanum mauritianum Scop. × × × × × × × × × × ×Solanum pseudoquina A.St.-Hil. × × × × × × × × × × ×Solanum sanctaecatharinae Dunal × × × × ×Vassobia breviflora (Sendtn.) Hunz. × × × × × × × × × × ×

Styracaceae Styrax acuminatus Pohl × × × × × × ×Styrax leprosus Hook & Arn. × ×

Symplocaceae Symplocos tetrandra (Mart.) Miq. × ×Theaceae Laplacea acutifolia (Wawra) Kobuski × ×Urticaceae Boehmeria caudata Sw. × × × × × × × × × × ×

Cecropia glaziovii Snethl. × × × × × × × × × ×Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini × × × × × × × × ×Urera baccifera (L.) Gaudich. × × × × × × × × × ×

Verbenaceae Citharexylum myrianthum Cham. × × × × × × × × × ×

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Com relação às espécies, foram observados diferentes padrões de distribuição, os quais

parecem preferencialmente relacionados à altitude e aos diferentes tipos de solos presentes na Área

Núcleo. Como não foram realizadas amostras de solo, verificou-se apenas a distribuição das espécies

ao longo do gradiente altitudinal, segundo pode ser observado na tabela 3.1.2.

De um modo geral, podem-se considerar certas espécies como indicadoras de classes de

altitude, ao passo que outras ocorreram ao longo de todo o gradiente. A cota altitudinal delimitante na

distribuição de muitas espécies parece ser a de 400 m, pois quase um quinto das espécies (18,8 %) só

ocorreu abaixo desta, enquanto que aproximadamente o mesmo número (18,2 %) só foi encontrado

acima desta cota. Em torno de 29 % das espécies amostradas ocorreu em todas as classes de altitude e

nos mais variados ambientes (figura 3.1.2), e o restante parece associado a outros fatores ambientais

não passíveis de serem determinados neste estudo.

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Figura 3.1.2: Exemplos de ambientes na Área Núcleo. A = mata de baixada e encosta suave (Araricá); B = mata

de encosta com sub-bosque dominado por samambaiaçus (Alsophila setosa); C = mata de encosta úmida (Alto

Ferrabraz); D = mata paludosa (Morro Ferrabraz).

Entre aquelas espécies que ocorreram apenas em áreas acima de 400 m, ou que foram

freqüentes só a partir desta faixa altitudinal, podem ser citadas as seguintes: a canela-fogo

(Cryptocarya aschersoniana), o guaperê (Lamanonia ternata), a pixirica (Leandra barbinervis), o

pau-de-sabão (Quillaja brasiliensis), a canema-mirim (Solanum compressum), o vassourão-branco

(Vernonia discolor) e o sucará (Xylosma pseudosalzmannii). Outras espécies, como Abutilon

amoenum, a goiba-serrana (Acca sellowiana), o ingá (Inga lentiscifolia), o guamirim (Myrcia

hebepetala) e a canela-sassafrás (Ocotea odorifera), só ocorreram acima de 550 m, mas parecem raras

na área de estudo. Segundo relatos de moradores locais, a canela-sassafrás era muito comum no Alto

Ferrabraz, mas foi retirada em grande quantidade para servirem de dormentes na construção de

estradas ferroviárias.

O xaxim (Dicksonia sellowiana) só ocorre no alto de Canudos (Nova Hartz,) em direção a

Santa Maria do Herval, enquanto que a araucária (Araucaria angustifolia), a erva-mate (Ilex

paraguariensis) e o pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii) são muito raros na área de estudo. As três

últimas espécies só passaram a ocorrer com freqüência em cotas superiores a 800 m nos municípios de

Igrejinha, Santa Maria do Herval e Três Coroas, já fora dos limites da Área Núcleo.

É interessante que algumas espécies comuns nas matas mais a oeste no Estado, especialmente

na Serra do Sudeste, como a murta (Blepharocalyx salicifolius), a aroeira-cinzenta (Schinus

lentiscifolius), a carne-de-vaca (Styrax leprosus) e o coentrilho (Zanthoxylum fagara), só ocorreram no

Morro Ferrabraz, em Sapiranga, e no Morro da Cruz, em Igrejinha, em áreas acima de 500 m de

altitude. Isso parece evidenciar a adaptação destas espécies a ambientes mais frios e secos, presentes

na área de estudo nestes morros expostos a ventos freqüentes e intensos.

Nas matas acima de 550 m de altitude no Alto Ferrabraz (figura 3.1.3) são comuns a canjerana

(Cabralea canjerana), a carrapicheira (Sloanea monosperma), a batinga-vermelha (Eugenia

rostrifolia), a canela-fogo (C. aschersoniana) e a guabiroba (Campomanesia xanthocarpa).

As espécies acima citadas são especialmente freqüentes no Alto Ferrabraz, onde também são

facilmente encontradas caxetas (Schefflera morototoni), catiguás (Trichilia claussenii) e guamirins

(Calyptranthes grandifolia). Ainda neste local, em áreas de encosta com árvores de grande porte,

formam-se densos agrupamentos de samambaiaçus (Alsophila setosa), por vezes, de modo contínuo e

quase homogêneo ao longo de dezenas de metros de extensão. Em áreas de floresta secundária a

espécie dominante é o guaperê (Lamanonia ternata), juntamente com o cafeeiro-do-mato (Psychotria

suterella), a canela-crespa (Cinnamomum glaziovii), a canela-frade (Endlicheria paniculata), a

capororoca (Myrsine lorentziana) e o canemoçu (Tetrorchidium rubrivenium). Há também muitos

araçazeiros (Psidium cattleianum) próximos à estrada no Alto Ferrabraz. Na descida de São Jacó para

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Sapiranga ocorrem muitas timbaúvas (Enterolobium contortisiliquum), raras nas partes altas e comuns

na beira de estradas abaixo de 400 m de altitude.

Figura 3.1.3: Aspecto das matas de encosta úmida e muitas vezes rochosa no Alto Ferrabraz, Sapiranga.

Abaixo de 400 m podem ser referidas as seguintes espécies como as mais representativas e

indicadoras de altitudes inferiores a esta cota altimétrica: a grápia (Apuleia leiocarpa), o sucará

(Dasyphyllum tomentosum), a figueirinha (Margaritaria nobilis), o guamirim (Myrcia glabra), a

cabreúva (Myrocarpus frondosus) e o guaraparim-miúdo (Ouratea parviflora). Outras são igualmente

encontradas, mas com distribuição pontual ou mesmo rara na Área Núcleo, como a guaçatunga

(Banara tomentosa), o cambroé (Casearia obliqua), o guamirim-araçá (Myrcia brasiliensis), o pau-

ferro (Neomitranthes gemballae), a canela (Ocotea urbaniana), o olho-de-cabra (Ormosia arborea) e

o embiruçu (Pseudobombax grandiflorus).

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A embaúba (Cecropia glaziovii) e a figueira-purgante (F. adhatodifolia) são duas espécies

características da floresta pluvial atlântica, muito comuns nas matas na Área Núcleo, mas que não

ultrapassam os 600 m de altitude. A embaúba e o embiruçu (Pseudobombax grandiflorus) têm seu

limite de distribuição leste entre as bacias dos rios Caí e Sinos, onde penetram até os municípios de

Ivoti e Dois Irmãos, mas não seguem adiante.

Entre as espécies mais representativas que ocorreram em todo o gradiente altitudinal, podem

ser referidas as seguintes: o tanheiro (Alchornea triplinervia), a canjerana (C. canjerana), o cedro

(Cedrela fissilis), a canela-frade (E. paniculata), a batinga-vermelha (E. rostrifolia), a laranjeira-do-

mato (Gymnanthes concolor), a pimenteira (Mollinedia schottiana), o guamirim (Myrciaria

plinioides), a canela-merda (Nectandra megapotamica), o cafeeiro-do-mato (P. suterella), o

branquilho (Sebastiania argutidens), o cincho (Sorocea bonplandii), o catiguá-vermelho (T.

claussenii) e o pau-de-ervilha (Trichilia elegans).

De um modo geral, nas matas de encosta úmidas predominam a canela-merda (N.

megapotamica), a laranjeira-do-mato (G. concolor), o cincho (S. bonplandii), o cafeeiro-do-mato (P.

suterella), o catiguá-vermelho (T. claussenii), o ingá-feijão (Inga marginata), o camboatá-vermelho

(Cupania vernalis) e muitos tanheiros (A. triplinervia).

Nas encostas com exposição solar sul, muito úmidas e sombreadas, são espécies características

do dossel a canjerana (C. canjerana), a canela-merda (N. megapotamica) e a batinga-vermelha (E.

rostrifolia), entre outras. No sub-bosque predominam a laranjeira-do-mato (G. concolor), o ingá-feijão

(I. marginata), o ingá-macaco (I. sessilis), a pimenteira (M. schottiana), o cafeeiro-do-mato (P.

suterella) e o ariticum-do-mato (Rollinia silvatica). A beira destas matas é dominada por espécies

como a urtiga-mansa (Boehmeria caudata), a coerana (Cestrum intermedium), o mata-campo

(Eupatorium rufescens), diversas pixiricas (Miconia spp.) e também umbus (Phytolacca dioica).

No dossel das matas com solos rasos e pedregosos dominam o mata-olho (Pachystroma

longifolium), a canela-vermelha (Aiouea saligna), o pau-alazão (Eugenia multicostata), a batinga-

branca (Eugenia ramboi), a batinga-vermelha (E. rostrifolia), o uvá-de-facho (Hirtella hebeclada), a

canela-merda (Nectandra megapotamica), a canela-preta (Ocotea indecora) e a canela-guaicá (Ocotea

puberula). Entre as espécies presentes no sub-bosque podem ser citadas o samambaiaçu (A. setosa), o

café-do-mato (Faramea montevidensis), a laranjeira-do-mato (G. concolor), o branquilho (S.

argutidens) e o cincho (S. bonplandii).

Nas áreas úmidas a encharcadas, como no Morro Ferrabraz e em áreas próximas, predominam

os gerivás (Syagrus romanzoffiana) e muitas mirtáceas, além de muito indivíduos de maria-mole

(Guapira opposita), laranjeira-do-mato (G. concolor), camboatá-branco (Matayba elaeagnoides),

mata-olho (P. longifolium), cafeeiro-do-mato (P. suterella), cincho (S. bonplandii) e pau-de-ervilha

(T. elegans).

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No Morro Ferrabraz, a oeste e sudoeste, as encostas são muito castigadas pelo vento e pelo

sol. Ali são encontradas verdadeiras matinhas de mirtáceas (figuras 3.1.4 e 3.1.5), com predominância

de espécies como a batinga-vermelha (E. rostrifolia), a batinga-branca (E. ramboi), o araçazeiro-do-

mato (Myrcianthes gigantea) e guamirins (C. grandifolia, Eugenia uruguayensis e Myrciaria

plinioides). No sub-bosque são também encontrados muitos jaborandis (Pilocarpus pennatifolius),

laranjeiras-do-mato (G. concolor), paus-de-ervilha (T. elegans), arcos-de-peneira (Trichilia pallens) e

leiteirinhos (Sebastiania brasiliensis), além de perobas (Aspidosperma australe) e mata-olhos (P.

longifolium) no dossel.

Figura 3.1.4: Matinha de mirtáceas na encosta oeste do Morro Ferrabraz, Sapiranga.

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Figura 3.1.5: Troncos de algumas Myrtaceae que ocorrem na Área Núcleo. A = guabiroba (C. xanthocarpa); B

= batinga-vermelha (E. rostrifolia); C = camboim (Myrcia multiflora); D = guamirim-peludo (M. plinioides); E

= pau-alazão (E. multicostata); F = araçá-do-mato (M. gigantea).

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Em locais desmatados, áreas alteradas e beira de matas secundárias, são comuns a gaioleira

(Aegiphila sellowiana), o tanheiro (A. triplinervia), a embaúba (C. glaziovii), a taleira (Celtis

brasiliensis), o cocão (Erythroxylum argentinum), o canudo-de-pito (Escallonia bifida), a aroeira-

mansa (S. terebinthifolius), o pau-leiteiro (Sapium glandulosum), a crindiúva (Trema micrantha) e a

mamica-de-cadela (Zanthoxylum rhoifolium) (figura 3.1.6), além de diversas outras espécies pioneiras

e secundárias iniciais, que variam muito com o a altitude e o tipo de solo.

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Figura 3.1.6: Algumas espécies pioneiras e secundárias que ocorrem na Área Núcleo. A = ramo de tanheiro (A.

triplinervia); B = copa de embaúba (C. glaziovii); C = ramo de aroeira-mansa (S. terebinthifolius); D = frutos de

gaioleira (A. sellowiana).

Por fim, nas matas de baixada planas ou de encostas com baixa declividade, as principais

espécies no dossel são a canela-vermelha (A. saligna), a grápia (A. leiocarpa) – que pode ser

totalmente emergente, a batinga-branca (E. ramboi), o uvá-de-facho (H. hebeclada) e o mata-olho (P.

longifolium). No sub-bosque predominam o bacopari (Garcinia gardneriana), o pau-d’arco (Guarea

macrophylla), a laranjeira-do-mato (G. concolor), a pimenteira (M. schottiana), o guamirim-peludo

(M. plinioides), o branquilho (S. argutidens) e o cincho (S. bonplandii). Algumas destas espécies vão

sendo substituídas de acordo com a elevação da altitude, especialmente as espécies do dossel.

3.2. Estrutura do componente arbóreo

Ao todo foram encontradas 93 espécies, pertencentes a 71 gêneros e 37 famílias no

levantamento estrutural (tabela 3.2.1). Destas espécies, uma não foi determinada – nem ao nível de

família, uma pertencente à família Myrtaceae não foi coletada e duas são exóticas. Devido às

diferenças no tamanho da área amostral, afora de que no presente estudo a amostragem não foi

contínua, torna-se difícil realizar uma comparação com outros levantamentos já realizados.

A densidade total amostrada foi de 646 indivíduos, mais cinco mortos em pé, o que numa área

de 1 ha. reverteria numa densidade total absoluta de 2.153 indivíduos. Este valor é próximo ao de

2.191 ind./ha. encontrado por Citadini-Zanette (1995) para uma área de floresta pluvial atlântica de

encosta no sul de Santa Catarina, e ao de 2.236 ind./ha. amostrado por Jurinitz & Jarenkow (2003)

para uma área de floresta de encosta no município de Camaquã, RS, ambos utilizando os mesmos

critérios amostrais. Molz (2004), pesquisando um trecho de floresta de encosta em Araricá, na área do

presente estudo, registrou 1.769 ind./ha., valor mais próximo ao encontrado em uma floresta de

encosta por Jarenkow & Waechter (2001) em Vale do Sul, próximo ao centro do Estado.

Com relação à suficiência amostral, 30 parcelas de 10 × 10 foram suficientes, pois é possível

observar uma estabilização da curva a partir da 28ª unidade amostral (figura 3.2.1). É importante frisar

que aspectos estruturais como riqueza, diversidade e a relação espécie-abundância podem variar muito

de acordo com a intensidade amostral (Rolim & Nascimento 1997), especialmente em ambientes onde

a diversidade é muito elevada ou os ambientes são muito heterogêneos. Apesar da estabilização da

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curva, muitas espécies importantes e relativamente comuns nas matas na área de estudo não caíram

nas parcelas avaliadas, o que pode ser observado na enorme diferença entre os valores de riqueza

encontrados na composição e na estrutura.

TABELA 3.2.1: Parâmetros fitossociológicos calculados para as espécies arbóreas amostradas na Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz — bacias do Sinos e Caí, RS, em ordem decrescente de valor de importância (VI). DA = densidade absoluta; DR = densidade relativa; FA = freqüência absoluta; FR = freqüência relativa; DoA = dominância absoluta; DoA = dominância absoluta; DoR = dominância relativa; * = espécie exótica.

Nº. EspécieDA DR FA FR DoA DoR VI

(ind.) (%) (parc.) (%) (m2) (%) (%)1 Cabralea canjerana 25 3,870 14 3,723 3,306 10,575 6,0562 Gymnanthes concolor 67 10,372 24 6,383 0,335 1,073 5,9423 Sorocea bonplandii 50 7,740 21 5,585 0,225 0,719 4,6814 Ficus cestrifolia 3 0,464 3 0,798 3,424 10,954 4,0725 Pachystroma longifolium 22 3,406 11 2,926 1,702 5,446 3,9266 Faramea montevidensis 41 6,347 14 3,723 0,211 0,674 3,5817 Guapira opposita 29 4,489 13 3,457 0,689 2,205 3,3848 Trichilia claussenii 29 4,489 13 3,457 0,675 2,160 3,3699 Sebastiania argutidens 40 6,192 12 3,191 0,142 0,453 3,27910 Nectandra megapotamica 13 2,012 9 2,394 1,557 4,983 3,13011 Sloanea monosperma 4 0,619 4 1,064 1,580 5,055 2,24612 Alchornea triplinervia 5 0,774 5 1,330 1,387 4,437 2,18013 Hirtella hebeclada 15 2,322 8 2,128 0,301 0,964 1,80514 Aiouea saligna 12 1,858 7 1,862 0,474 1,515 1,74515 Myrciaria plinioides 15 2,322 10 2,660 0,074 0,237 1,74016 Psychotria suterella 16 2,477 9 2,394 0,072 0,229 1,70017 Eugenia rostrifolia 6 0,929 6 1,596 0,754 2,411 1,64518 Garcinia gardneriana 14 2,167 9 2,394 0,115 0,369 1,64319 Ocotea indecora 9 1,393 6 1,596 0,582 1,863 1,61720 Alsophila setosa 19 2,941 4 1,064 0,124 0,395 1,46721 Ocotea silvestris 8 1,238 6 1,596 0,366 1,170 1,33522 Myrocarpus frondosus 4 0,619 3 0,798 0,801 2,563 1,32723 Myrsine umbellata 9 1,393 7 1,862 0,201 0,644 1,30024 Phytolacca dioica 1 0,155 1 0,266 1,084 3,466 1,29625 Nectandra oppositifolia 4 0,619 4 1,064 0,639 2,044 1,24226 Brosimum glaziovii 5 0,774 5 1,330 0,455 1,456 1,18727 Eugenia multicostata 5 0,774 4 1,064 0,479 1,533 1,12428 Erythrina falcata 2 0,310 2 0,532 0,775 2,479 1,10729 Chrysophyllum gonocarpum 6 0,929 6 1,596 0,214 0,686 1,07030 Calyptranthes grandifolia 5 0,774 5 1,330 0,341 1,090 1,06531 Casearia silvestris 7 1,084 6 1,596 0,132 0,423 1,03432 Machaerium stipitatum 8 1,238 5 1,330 0,164 0,525 1,03133 Roupala brasiliensis 2 0,310 2 0,532 0,693 2,218 1,020

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34 Cupania vernalis 6 0,929 4 1,064 0,319 1,019 1,00435 Eugenia ramboi 6 0,929 5 1,330 0,199 0,638 0,96536 Apuleia leiocarpa 5 0,774 3 0,798 0,388 1,241 0,93837 Lamanonia ternata 3 0,464 2 0,532 0,542 1,735 0,91038 Schefflera morototoni 3 0,464 3 0,798 0,458 1,464 0,90939 Pseudobombax grandiflorus 3 0,464 1 0,266 0,595 1,902 0,87840 Hennecartia omphalandra 5 0,774 4 1,064 0,184 0,588 0,80941 Mollinedia schottiana 8 1,238 4 1,064 0,023 0,075 0,79242 Trichilia elegans 7 1,084 4 1,064 0,022 0,069 0,73943 Allophylus edulis 6 0,929 2 0,532 0,231 0,738 0,73344 Coussapoa microcarpa 3 0,464 3 0,798 0,270 0,862 0,70845 Ficus luschnathiana 2 0,310 2 0,532 0,348 1,114 0,652TABELA 3.2.1: Continuação.

Nº. EspécieDA DR FA FR DoA DoR VI

(ind.) (%) (parc.) (%) (m2) (%) (%)46 Eugenia schuechiana 5 0,774 4 1,064 0,024 0,077 0,63847 Ocotea puberula 3 0,464 3 0,798 0,176 0,565 0,60948 Ficus adhatodifolia 1 0,155 1 0,266 0,439 1,406 0,60949 Cinnamomum glaziovii 3 0,464 3 0,798 0,176 0,563 0,60950 Guarea macrophylla 4 0,619 4 1,064 0,018 0,059 0,58151 Campomanesia xanthocarpa 4 0,619 3 0,798 0,092 0,296 0,57152 Citharexylum myrianthum 2 0,310 2 0,532 0,225 0,721 0,52153 Blepharocalyx salicifolius 1 0,155 1 0,266 0,344 1,101 0,50754 Inga marginata 4 0,619 3 0,798 0,025 0,079 0,49955 Citronella paniculata 3 0,464 3 0,798 0,047 0,151 0,47156 Rollinia silvatica 3 0,464 3 0,798 0,038 0,121 0,46157 Ocotea urbaniana 2 0,310 2 0,532 0,169 0,541 0,46158 Trichilia pallens 3 0,464 3 0,798 0,022 0,070 0,44459 Tetrorchidium rubrivenium 1 0,155 1 0,266 0,281 0,900 0,44060 Jacaratia spinosa 2 0,310 2 0,532 0,129 0,414 0,41861 Matayba elaeagnoides 4 0,619 2 0,532 0,030 0,095 0,41662 Cryptocarya aschersoniana 2 0,310 2 0,532 0,110 0,352 0,39863 Syagrus romanzoffiana 2 0,310 2 0,532 0,093 0,298 0,38064 Morfo espécie 1 1 0,155 1 0,266 0,211 0,676 0,36665 Prunus myrtifolia 2 0,310 2 0,532 0,073 0,235 0,35966 Pilocarpus pennatifolius 3 0,464 2 0,532 0,021 0,066 0,35467 Cordia ecalyculata 2 0,310 2 0,532 0,052 0,167 0,33668 Trema micrantha 2 0,310 2 0,532 0,045 0,144 0,32869 Banara parviflora 2 0,310 2 0,532 0,044 0,140 0,32770 Pisonia zapallo 1 0,155 1 0,266 0,161 0,516 0,31271 Chrysophyllum marginatum 2 0,310 2 0,532 0,022 0,070 0,30472 Urera baccifera 2 0,310 2 0,532 0,015 0,049 0,29773 Erythroxylum argentinum 3 0,464 1 0,266 0,046 0,147 0,29274 Myrtaceae 1 0,155 1 0,266 0,096 0,308 0,24375 Meliosma sellowii 1 0,155 1 0,266 0,072 0,230 0,21776 Myrsine lorentziana 1 0,155 1 0,266 0,069 0,220 0,21477 Cryptocarya cf. moschata 1 0,155 1 0,266 0,045 0,143 0,18878 Cordia trichotoma 1 0,155 1 0,266 0,044 0,139 0,18779 Ilex brevicuspis 1 0,155 1 0,266 0,025 0,080 0,16780 Casearia decandra 1 0,155 1 0,266 0,023 0,074 0,16581 Eriobotrya japonica * 1 0,155 1 0,266 0,019 0,061 0,16182 Myrcia multiflora 1 0,155 1 0,266 0,017 0,055 0,15983 Myrcia glabra 1 0,155 1 0,266 0,015 0,049 0,157

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84 Luehea divaricata 1 0,155 1 0,266 0,014 0,044 0,15585 Margaritaria nobilis 1 0,155 1 0,266 0,008 0,026 0,14986 Casearia obliqua 1 0,155 1 0,266 0,007 0,021 0,14787 Myrcia palustris 1 0,155 1 0,266 0,004 0,013 0,14588 Zanthoxylum caribaeum 1 0,155 1 0,266 0,004 0,013 0,14589 Inga sessilis 1 0,155 1 0,266 0,004 0,011 0,14490 Ormosia arborea 1 0,155 1 0,266 0,003 0,009 0,14391 Eugenia bacopari 1 0,155 1 0,266 0,002 0,007 0,14392 Hovenia dulcis * 1 0,155 1 0,266 0,002 0,007 0,14393 Ouratea parviflora 1 0,155 1 0,266 0,002 0,007 0,142

Figura 3.2.1: Suficiência amostral para estimativa da riqueza do componente arbóreo na Área Núcleo

da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz — bacias do Sinos e Caí, RS.

Myrtaceae teve o maior número de espécies (13), seguida de Lauraceae (10), Fabaceae (7),

Euphorbiaceae e Meliaceae (5 cada). Muitas das espécies de Myrtaceae e Fabaceae são características

de beiras de mata ou são mais freqüentes em áreas de mata secundária, o que explica a diminuição da

riqueza destas famílias no levantamento fitossociológico quando comparado ao florístico, onde foram

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bem mais diversas. As mirtáceas mais importantes no estudo foram M. plinioides, tanto pela densidade

como pela freqüência, E. rostrifolia e E. multicostata, estas mais pelo porte de seus indivíduos.

Entre as Fabaceae, as espécies com os maiores valores de importância foram M. frondosus e

Erythrina falcata, pelo valor de dominância que apresentaram. Com relação ao baixo número de

espécies de Fabaceae no levantamento estrutural, é importante destacar que a grápia, a cabreúva e o

angico são espécies emergentes e de interesse madeireiro (Reitz et al. 1983), além de que praticamente

toda a Área Núcleo já sofreu pressões de corte seletivo – onde as primeiras a serem derrubadas são as

árvores com madeiras valiosas – ou mesmo corte indiscriminado.

A elevada diversidade de espécies de Lauraceae mostra a importância estrutural da família nas

matas presentes na Área Núcleo, tanto pela freqüência como pela elevada riqueza específica

apresentadas. Dentre as espécies desta família, a mais importante foi N. megapotamica, seguida de A.

saligna e Ocotea indecora, todas com valores médios nos parâmetros estimados, mas presentes na

maioria dos ambientes amostrados ao longo do gradiente altitudinal (figura 3.2.2). A canela-ferrugem

(Nectandra oppositifolia) e a canela-fogo (C. aschersoniana) são espécies estruturalmente importantes

na áreas abaixo e acima de 400 m de altitude, respectivamente.

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Figura 3.2.2: Algumas espécies de lauráceas encontradas na Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos

Contrafortes do Ferrabraz — bacias do Sinos e Caí, RS. A = ramo frutificado de canela-vermelha (A. saligna); B

= ramo florido de canela-ferrugem (N. oppositifolia); C = frutos de canela-fogo (C. aschersoniana); D = ramo

florido de canela-merda (N. megapotamica).

Quando à densidade absoluta, as espécies mais proeminência foram G. concolor, S.

bonplandii, F. montevidensis e S. argutidens, todas com mais de 40 ou mais indivíduos, o que era

esperado pela sua própria estratégia ecológica. Enquanto que G. concolor e S. bonplandii ocorrem em

todas as formações florestais e estão entre as espécies de maior densidade e freqüência em muitos

estudos já realizados no Estado (e.g., Vasconcellos et al.1992, Jarenkow & Waechter 2001, Jurinitz &

Jarenkow 2003, Molz 2004, Budke et al. 2004), F. montevidensis e S. argutidens são espécies

características da floresta pluvial atlântica e também estiveram entre as mais freqüentes, juntamente

com C. canjerana, T. claussenii e G. opposita.

Com relação aos valores de dominância, as seis espécies que se destacaram neste parâmetro

são características do dossel ou emergentes. Um primeiro conjunto é o daquelas espécies formadas por

F. cestrifolia, S. monosperma e A. triplinervia, que tiveram poucos indivíduos, mas todos de grande

porte. Um segundo conjunto é o composto por C. canjerana, P. longifolium e N. megapotamica,

espécies que podem atingir dimensões muito grandes, porém que tiveram valores elevados pelo

número de indivíduos amostrados.

C. canjerana (figura 3.2.3) teve o maior valor de importância. Trata-se de uma espécie

secundária tardia e de grande porte. Apesar de terem sido vistos muitos troncos cortados de indivíduos

de grande porte desta espécie, a densidade, freqüência e dominância com que ocorreu na área apontam

que os fragmentos amostrados se encontram em bom estado de conservação ou em estádio sucessional

avançado.

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Figura 3.2.3: C. canjerana, espécie que teve o maior valor de importância no estudo fitossociológico na Área

Núcleo. A = indivíduo no Alto Ferrabraz; B = frutos maduros.

Quanto às classes de altura (figura 3.2.4), de um modo geral é possível separar três grupos de

classes de altura segundo, as estratégias ecológicas de cada um deles. O primeiro grupo é o das

arvoretas baixas, com alturas entre 2 e 4 m, que se encontra próximo ao solo e em ambientes

geralmente bastante sombreados e representou 5,7 % do total de indivíduos. O segundo grupo é o das

árvores presentes no sub-bosque – 57,3 % do total – e ocupa alturas entre 5 e 8 m. Com alturas entre

10 e 20 m, o terceiro grupo é o das árvores constituem o dossel – ao todo 36,5 % dos indivíduos. As

árvores emergentes, em geral com alturas acima de 25 m, foram apenas três: uma batinga-branca (E.

ramboi) e uma corticeira-da-serra (E. falcata), ambas com 22 m, e uma murta (B. salicifolius), com 23

m.

As alturas das árvores do sub-bosque, do dossel e das emergentes variam muito de acordo com

fatores como solo, relevo, clima e estado de conservação das florestas. Em muitos dos fragmentos

estudados, por exemplo, encontraram-se troncos de grande diâmetro cortados (figura 3.2.5), o que

evidencia a retirada das espécies de maior interesse, especialmente as madeireiras. Contudo,

indivíduos de grápia (A. leiocarpa), figueira-purgante (F. adhatodifolia), figueira-branca (F.

cestrifolia), carrapicheira (S. monosperma) e canjerana (C. canjerana) com alturas superiores a 25 m

também foram encontrados, mas não no estudo estrutural.

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Figura 3.2.4: Distribuição por classes de altura dos indivíduos amostrados no levantamento

fitossociológico na Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz — bacias do

Sinos e Caí, RS.

Figura 3.2.5: Tronco de canjerana cortado em um fragmento no Alto Ferrabraz.

Quanto às classes de diâmetro, como é esperado, as árvores e arvoretas menores no sub-

bosque, com diâmetro entre 5 e 10 cm, concentraram quase 55 % dos indivíduos amostrados (figura

3.2.6). Outro grupo de indivíduos é o daqueles que podem ser reunidos nas classes com DAP ≥ 10 e ≤

50 cm. Estão ali presentes as árvores maiores do sub-bosque e também muitos indivíduos fazem parte

do dossel – aproximadamente 40 % do total. A partir das classes com DAP ≥ 50 cm observa-se uma

evidente diminuição no número de indivíduos, onde as classes com DAP ≥ 50 e ≤ 115 cm

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representaram 4,8 % do total amostrado. A começar de 95 cm em diante há vários hiatos que vão de

quatro a seis classes sem indivíduos, o que é esperado em florestas em estádio avançado, mas também

pode representar a supressão dos indivíduos maiores. As espécies com os maiores valores de diâmetro

foram de indivíduos de F. cestrifolia (163,29 cm), S. monosperma (127,01 cm) (figura 3.2.7), C.

canjerana (123,51 cm) e P. dioica (117,46 cm).

Figura 3.2.6 Distribuição por classes de altura dos indivíduos arbóreos amostrados no levantamento

estrutural na Área Núcleo.

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Figura 3.2.7 Indivíduo de carrapicheira (S. monosperma) no Alto Ferrabraz.

3.3. Classificação das florestas na Área Núcleo e região

Diversas são as propostas de classificação para a vegetação brasileira e igualmente para a

vegetação sul-rio-grandense. Como foi dito anteriormente, as florestas aproximadamente coincidentes

com a bacia do rio dos Sinos são classificadas pelo Projeto RADAMBRASIL como pertencentes à

Floresta Estacional Semidecidual (Teixeira et al. 1986).

Esta classificação abriga uma série de impropriedades terminológicas, descritas por Marchiori

(2002). Um aspecto é que não há de fato um clima seco no Rio Grande do Sul, portanto, todas as

florestas são naturalmente ombrófilas. Os critérios nos quais os autores se baseiam para determinar o

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caráter semidecidual são (1) os índices de deciduidade foliar e (2) a ausência da grápia (Apuleia

leiocarpa), espécie que seria a “grande responsável pela fitofisionomia decidual” da Floresta

Estacional Decidual (FED) (Klein 1983, Reitz et al. 1983, Teixeira et al. 1986). Torna-se importante

salientar que, a despeito de toda a experiência dos autores e do reconhecido mérito do seu trabalho, os

percentuais de deciduidade foliar são empíricos, visto que jamais foram quantificados. O caráter

“semidecidual” justificaria a necessária transição entre a FED e a Floresta Ómbrofila Densa (FOD),

mas não pode ser defina com base em percentuais de deciduidade foliar. Em segundo lugar, a maior

densidade de indivíduos de grápia já amostrada num estudo quantitativo para o Estado foi registrada

precisamente em Araricá, na bacia do rio dos Sinos (Molz 2004), o que evidencia a inadequação da

presente classificação ou ao menos dos seus critérios (figura 3.3.1).

Outro aspecto importante é que a continuidade entre a FOD e a FED era originalmente

completa, ao menos nas encostas meridionais do Planalto Sul-brasileiro. Os resultados encontrados

por Molz (2004), e também no presente estudo, apontam que a riqueza específica para esta região foi

subestimada, especialmente com relação às espécies características da floresta pluvial atlântica. Há

uma clara preponderância, tanto qualitativa como quantitativa, de espécies oriundas da floresta pluvial

atlântica em detrimento daquelas provenientes da floresta estacional. Segundo Molz (2004), há uma

clara preponderância, tanto qualitativa como quantitativa, de espécies oriundas da floresta pluvial

atlântica (FOD) em detrimento daquelas provenientes da floresta do Alto Uruguai (FED).

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Figura 3.3.1: A–E = Grápia (Apuleia leiocarpa). A. Copa peculiar da espécie. B. Base do tronco de um

indivíduo com quase 90 cm de diâmetro e 28 m de altura, em Araricá. C. Córtex descamante com placas

circulares características que tornam fácil a identificação da espécie a campo. D. Indivíduos jovens numa clareira

florestal. E. Espécimes na beira de uma estrada vicinal em Nova Hartz.

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Da mesma forma há uma enorme diversidade de epífitos na Área Núcleo, característica

própria e única da floresta pluvial atlântica no Rio Grande do Sul. Wilberger & Vieira (2007)

identificaram 57 espécies, reunidas em oito famílias (Bromeliaceae, Cactaceae, Dryopteridaceae,

Gesneriaceae, Orchidaceae, Piperaceae, Polypodiaceae e Vittariaceae).

As diferenças quanto a composição e estrutura das florestas do Alto Uruguai e pluvial atlântica

no Rio Grande do Sul são evidentes, assim também o são as florestais costeiras e interioranas nas

regiões mais ao norte no país. Mas apesar das diferenças notáveis entre estas fitofisionomias, sua

origem e evolução são comuns (Bigarella 1973). Devido as florestas pluviais atlânticas serem a

formação florestal mais antiga no Brasil (Leitão Filho 1987) e as florestas estacionais imigradas em

direção ao sul do Brasil, pelas bacias dos rios Paraná e Uruguai, serem transitórias entre estas e os

cerrados, ou ainda um subconjunto da flora das primeiras (Oliveira Filho & Fontes 2000), é natural

que existam muitos ecótones entre estas fitofisionomias.

O que se observa não só na Área Núcleo, mas na bacia do rio dos Sinos como um todo, é que

existem muitos encraves e também ecótones mais ou menos acentuados em diferentes partes da bacia.

Espécies estruturalmente importantes, tanto da floresta do Alto Uruguai como da floresta pluvial

atlântica, estão presentes nas florestas estudadas. Com base nos resultados por ora obtidos, poder-se-ia

afirmar que as florestas da região são qualitativa e quantitativamente mais próximas da floresta pluvial

atlântica do que da floresta do Alto Uruguai. Contudo, a presença de muitas espécies características de

ambas as fitofisionomias torna difícil a assunção de que as florestas na Área Núcleo possam ser

chamadas estritamente de pluviais atlânticas.

O conceito de Mata Atlântica tem sido objeto de muitas controvérsias, especialmente no tocante à sua

definição e delimitação. Muitos autores (e.g., Ab’Saber 1977, Rizzini 1979, Eiten 1983, Joly et al.

1999, Oliveira Filho & Fontes 2000) defendem um conceito mais amplo para as diferentes

fitofisionomias compreendidas no Domínio da Mata Atlântica, visto que o conceito de Mata Atlântica

sensu strictu ignora que as florestais pluviais atlânticas são mais antigas e contribuíram de modo

significativo para a composição e estrutura das florestas interioranas.

Tendo em visto todos os aspectos acima mencionados e levando em conta o estabelecido pelo

Decreto 750/93, assume-se que a Área Núcleo pertence ao Domínio da Mata Atlântica e que se

constitui num ecótono entre a floresta pluvial atlântica e a floresta do Alto Uruguai ocorrentes no Rio

Grande do Sul. Ou ainda, segundo os autores do Projeto RADAMBRASIL, pode-se dizer que a bacia

do rio dos Sinos representa uma grande Área de Tensão Ecológica.

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3.4. Espécies ameaçadas e de especial interesse para a conservação

Dentre a lista de espécies da flora ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul foram

encontradas 17 arbóreas e uma arbustiva, além de outras quatro arbóreas vedadas ao corte (tabela

3.4.1).

TABELA 3.4.1: Lista de espécies da flora ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul (Decreto Estadual 42.099, de 1º de janeiro de 2003) e vedadas ao corte (Lei Estadual Nº. 9.519, de 21 de janeiro de 1992) amostradas na Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz — bacias do Sinos e Caí, RS. CR = criticamente em perigo; EN = em perigo; VU = vulnerável; * = vedada ao corte.Família Espécie Hábito Nome popular CategoriaAnnonaceae Annona cacans arbóreo ariticum-cagão ENAraliaceae Aralia warmingiana arbóreo carobão ENArecaceae Geonoma gamiova arbustivo rabo-de-peixe CRCaricaceae Jacaratia spinosa arbóreo jacaratiá VUDicksoniaceae Dicksonia sellowiana arbóreo xaxim VUFabaceae Apuleia leiocarpa arbóreo grápia VUFabaceae Erythrina falcata arbóreo corticeira-da-serra *Fabaceae Inga lentiscifolia arbóreo ingá ENFabaceae Myrocarpus frondosus arbóreo cabriúva VULauraceae Ocotea odorifera arbóreo canela-sassafrás ENLauraceae Ocotea silvestris arbóreo canela VUMalvaceae Pseudobombax grandiflorus arbóreo embiruçu, pau-de-lã VUMeliaceae Trichilia pallens arbóreo arco-de-peneira VUMoraceae Brosimum glaziovii arbóreo leiteiro ENMoraceae Ficus adhatodifolia arbóreo figueira-purgante *Moraceae Ficus luschnathiana arbóreo figueira *Moraceae Ficus cestrifolia arbóreo figueira-branca *Phyllanthaceae Margaritaria nobilis arbóreo figueirinha ENPicramniaceae Picramnia parvifolia arbóreo quassiá, pau-amargo VUSimaroubaceae Picrasma crenata arbóreo arbóreo VUStyracaceae Styrax acuminatus arbóreo pau-de-remo EN

Muitas espécies de epífitos também estão na lista de ameaçadas. Entre as bromeliáceas, por

exemplo, nove espécies estão na lista oficial da flora ameaçada de extinção no Estado, sendo

Nidularium innocentii (Lem.) Antoine e Tillandsia mallemontii Glaz. ex Mez., as mais ameaçadas e

consideradas em perigo de extinção (Wilberger & Vieira 2007). Provavelmente também seriam

encontradas espécies herbáceas e lianas ameaçadas, mas em função do tempo, dos recursos e dos

objetivos do presente estudo, não se realizou o levantamento destes componentes.

Entre as espécies arbóreas ameaçadas devem ser inclusas não só aquelas presentes na lista

oficial, mas também as que são raras na Área Núcleo ou no Estado, e que não estão presentes na lista

oficial das ameaçadas de extinção, além daquelas muito importantes para a fauna ou na estrutura das

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florestas. Padrões de raridade são muito relativos e dependem, em grande parte, do tamanho da área

amostral e das condições ambientais (Hubbel & Foster 1986).

Existem diferentes formas de raridade, que podem resultar de raridade antropogênica –

resultado direto de modificação humana de ambientes naturais, atividade que agrava distribuições já

restritas, reduz densidades populacionais já baixas ou dizima e isola populações de espécies outrora

comuns ou amplamente distribuídas através da destruição do hábitat – ou de raridade natural – produto

de diversidade elevada em um outro de seus componentes (Rabinowitz et al. 1986).

O carobão (Aralia warmingiana) (figura 3.4.1) e o jacaratiá (Jacaratia spinosa), por exemplo,

são considerados espécies exclusivas das florestas do Alto Uruguai e, mesmo lá, são bastante raros

(Molz, dados não publicados). Só foram encontrados dois indivíduos de cada uma destas espécies na

Área Núcleo. Tanto o carobão como o jacaratiá tem, provavelmente, a bacia do rio dos Sinos como o

seu limite de distribuição a leste no Estado. Ambos parecem ter uma distribuição pontual e com baixos

índices de regeneração. São espécies raras e de especial interesse para a conservação.

Outras espécies de especial interesse para a conservação são o olho-de-cabra (Ormosia

arborea), a pixirica (Leandra barbinervis) e a tagoara (Guadua tagoara), todas encontradas em um

único fragmento dentro da Área Núcleo. O olho-de-cabra só foi encontrado num fragmento próximo

ao limite municipal entre Igrejinha, Nova Hartz e Santa Maria do Herval. A pixirica aparentemente só

ocorre no morro da Sociedade Ginástica em altitudes superiores a 500 m, pois é característica de matas

nebulares (Sobral el al. 2006). Já a tagoara teve seu primeiro registro para o Estado em Araricá, onde

foram encontrados dois indivíduos no interior de um fragmento florestal (Molz 2004).

Dentre as espécies muito visadas pela madeira, cada qual para fins diversos, são de interesse

para a conservação a grápia (Apuleia leiocarpa), a cabreúva (Myrocarpus frondosus), a canela-

sassafrás (Ocotea odorifera), a canjerana (Cabralea canjerana), o cedro (Cedrela fissilis) e o

carvalho-brasileiro (Roupala brasiliensis). Muitas vezes foram encontrados indivíduos destas espécies,

em meio a muitas outras, com marcas profundas de facão. Provavelmente as marcas são para que os

indivíduos marcados sejam posteriormente derrubados.

Outras espécies de interesse são o pau-alazão (Eugenia multicostata), pelo crescimento muito

lento que apresenta e grande quantidade de frutos que produz; a figueirinha (Margaritaria nobilis), por

ser uma espécie de distribuição pontual e pouco freqüente; duas espécies de pau-amargo (Picramnia

parvifolia e Picrasma crenata), raras na Área Núcleo; e o embiruçu (Pseudobombax grandiflorus),

extremamente ornamental quando em flor e com elevado potencial paisagístico.

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Figura 3.4.1: A = cedro (Cedrela fissilis), à direita. B = indivíduo jovem de olho-de-cabra (Ormosia arborea);

C = indivíduo jovem de carobão (Aralia warmingiana); D = tronco com raízes tabulares de um indivíduo de

grande porte de embiruçu (Pseudobombax grandiflorus).

3.5. Conservação das florestas e áreas prioritárias à conservação

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A situação das florestas na Área Núcleo é bem mais favorável do que já foi há não muitas

décadas atrás. Relatos de moradores dão conta de que, com exceção de umas poucas encostas muito

íngrimes, o restante da área era completamente tomada por atividades agropastoris no passado.

Na década de 70, com o advento da industrialização no Vale do Sinos, muitas pessoas

deixaram suas terras em busca de melhores oportunidades nas cidades. Com isso, áreas sem cobertura

florestal foram abandonadas e voltaram a ser cobertas por florestas. Apesar disso, com a pobreza nas

cidades e o crescimento populacional, muitas pessoas têm comprado pequenas propriedades para

subsistência e para funcionarem como sítios de lazer. Em ambos os casos as propriedades são

geralmente pequenas e a pressão para a retirada das áreas de floresta é grande.

Um dos principais efeitos negativos causados pela perda das florestas é a proporcional

diminuição da diversidade. A perda da diversidade pode incluir a perda de ecossistemas, populações,

variabilidade genética, espécies e processos ecológicos e evolutivos que mantêm essa diversidade.

Portanto, é importante tentar manter da melhor forma possível a conectividade dos fragmentos, onde

ela existe, e procurar estabelecer uma conexão entre áreas próximas.

Os fragmentos em melhor estado de conservação, ou seja, aqueles que mais se aproximam

daquilo que outrora possivelmente foram as matas na região, estão situados nos seguintes locais na

Área Núcleo:

1. Morro em torno da Sede Campestre da Sociedade Ginástica – desde a base até o topo dos

morros, e fragmento da Mata das Ormósias.

2. Alto Ferrabraz – todas as matas a partir da propriedade do Sr. Renato Fleck, até a Estrada do

Amazonas, incluindo o morro a oeste da estrada.

3. Morro Ferrabraz – todo o entorno e encostas.

4. Fragmento da Pedra Redonda e áreas próximas.

A conservação destes fragmentos é de fundamental importância para a Área Núcleo e toda a

região, visto que abrigam uma diversidade arbórea e também de outros componentes muito

significativa para a região.

3.6. Desmatamentos

Os desmatamentos (figuras 3.6.1, 3.6.2 e 3.6.3), conforme anteriormente mencionados, têm

causas diversas. As principais são a abertura de novas roças e o aumento de áreas para o plantio de

acácia-negra, e as madeiras raramente são aproveitadas. À medida com que novas áreas vão sendo

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desmatadas, aumentam a fragmentação das florestas e os efeitos negativos causados pela diminuição

da área dos fragmentos, aumentando as áreas de borda e seus efeitos negativos.

É necessária na região uma maior fiscalização, especialmente para coibir o corte

indiscriminado nas áreas não visíveis de estradas. Casos de corte indiscriminado de vários hectares em

beira de estradas na Área Núcleo ainda representam uma realidade. Os órgãos de fiscalização

responsáveis nem sempre atendem às denúncias, aumentando desta forma o clima de impunidade.

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Figura 3.6.1. Desmatamentos. A = para plantio de batatas; B = abertura de roça; C = “limpeza” do sub-bosque;

D = para plantio de acácia-negra e retirada da madeira.

Figura 3.6.2. Desmatamentos. A = carvalho-brasileiro (Roupala brasiliensis); B = pessegueiro-do-mato (Prunus

myrtifolia); C = desbarrancamento de estrada devido à supressão da vegetação; D = abertura de roça e abandono

da madeira; E = corte raso.

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Figura 3.6.3. Desmatamento visto da estrada de Araricá para Nova Hartz.

3.7. Introdução de espécies exóticas

As espécies exóticas invasoras produzem mudanças e alterações nas propriedades ecológicas

do solo, na ciclagem de nutrientes, nas cadeias tróficas, na estrutura, dominância, distribuição e

funções de um dado ecossistema, na distribuição da biomassa, na taxa de decomposição, nos processos

evolutivos e nas relações entre polinizadores. As espécies exóticas invasoras podem produzir híbridos

ao cruzar com espécies nativas e eliminar genótipos originais, ocupar o espaço de espécies nativas

levando-as a diminuir em abundância e extensão geográfica, aumentando os riscos de extinção de

populações locais.

De acordo com Art. 2º da Portaria nº. 95 do Instituto Ambiental do Paraná – IAP, de 22 de

maio de 2007, entende-se por:

I) espécies exóticas: as espécies, subespécies ou táxons inferiores introduzidos fora da sua área

natural de distribuição presente ou passada, incluindo qualquer parte, gametas, sementes, ovos

ou propágulos dessas espécies que possam sobreviver e posteriormente reproduzir-se;

II) espécies exóticas invasoras: as espécies exóticas cuja introdução ou dispersão ameaça

ecossistemas, hábitats ou espécies e causam impactos ambientais, econômicos, sociais ou

culturais;

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A legislação sobre o assunto é ampla, ainda que as ações não acompanhem as medidas legais

cabíveis. Eis os principais aspectos legais relacionados às espécies exóticas invasoras:

Artigo 8º da Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica, da qual o Brasil é

signatário, determina aos países participantes a adoção de medidas preventivas, e medidas de

erradicação e controle de espécies exóticas invasoras;

A Lei Federal nº. 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e proteção

da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, em seu Artigo 3º inciso VIII alínea a, considera

de interesse social as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação

nativa, entre essas a erradicação de espécies exóticas invasoras;

A Lei Federal nº. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 – Lei de Crimes Ambientais – em seu

Artigo 61º prevê punição para quem “disseminar doença ou praga ou espécies que possam

causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas”;

O Decreto Federal nº. 3.179, de 21 de setembro de 1999, em seu Artigo 45º prevê multa de

cinco mil reais a dois milhões de reais para os crimes descritos no Artigo 61 da Lei nº.

9.605/98;

A alínea b do Artigo 4º da Lei Federal 4771/65 – Código Florestal – considera de interesse

público as medidas com o fim de prevenir ou erradicar pragas e doenças que afetam a

vegetação florestal.

De acordo com os resultados do levantamento nacional sobre espécies exóticas invasoras,

realizado pelo Instituto Hórus e pela The Nature Conservancy para o Ministério do Meio

Ambiente/Probio, 75,5% das espécies exóticas invasoras em ambientes terrestres foram introduzidas

de forma intencional. Deste total, 21,8% têm causa no uso ornamental, configurando o maior grupo de

espécies introduzidas. Outros grupos considerados foram as plantas forrageiras, de uso florestal para

estabilização de solos, entre outros.

Ao todo foram encontradas 18 espécies arbóreas exóticas nas matas nativas na Área Núcleo

(tabela 3.7.1). Destas espécies, algumas constituem sério problema por competirem diretamente ou

indiretamente com as nativas. As duas espécies mais agressivas como invasoras são a ameixa-amarela

(Eriobotrya japonica), que tem seus frutos muito apreciados por diversas espécies da avifauna e é

facilmente encontrada no interior e em beira de matas na região, e a caroba-amarela (Tecoma stans),

que representa uma ameaça em áreas alteradas, especialmente em barrancos e beiras de estrada entre

300 e 600 m de altitude.

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A uva-do-japão (Hovenia dulcis), espécie que até o momento não representava uma ameaça na

Área Núcleo, começa a se tornar no Alto Ferrabraz. Nas matas secundárias já compete diretamente

com as espécies nativas e começa a tomar contar das áreas mais ensolaradas. O procedimento

preventivo deveria ser a remoção dos indivíduos, pois assim como as espécie de pinus, pode se

propagar com muita facilidade e tornar-se a espécie dominante nas matas da região. Isto pode ser

observado, por exemplo, nas matas da Reserva Biológica da Serra Geral, onde a espécie constitui um

sério problema (Sema & Fundação Zoobotânica 2006).

TABELA 3.7.1: Famílias, espécies e nomes populares das espécies arbóreas exóticas encontradas no levantamento florístico realizado na Área Núcleo.

Família Espécie Nomes popularesBignoniaceae Tecoma stans (L.) Juss. ex Kunth caroba-amarelaFabaceae Acacia mearnsii De Wild. acácia-negraLauraceae Persea gratissima abacateiroMeliaceae Melia azedarach L. cinamomo, cinamãoMoraceae Morus nigra L. amoreiraMyrtaceae Eucalyptus spp. eucalipto

Psidium guajava L. goiabeiraSyzygium cumini (L.) Skeels jambolãoSyzygium jambos (L.) Alston jambo-amarelo

Pinaceae Pinus elliottii Engelm. pinusPinus taeda L. pinus

Rhamnaceae Hovenia dulcis Thunb. uva-do-japãoRosaceae Eriobotrya japonica Lindl. ameixa, ameixa-amarelaRubiaceae Coffea arabica L. cafeeiro, caféRutaceae Citrus aurantium L. laranjeira

Citrus bergamia Risso limão-bergamotaCitrus reticulata Blanco bergamoteiraCitrus sinensis (L.) Osbeck laranjeira

No entanto, as espécies exóticas invasoras mais agressivas não são arbóreas, mas herbáceas (figura

3.7.1). Nas beiras de mata, matas secundárias iniciais e barrancos são muito comuns a tritônia

(Crocosmia x crocosmiiflora (W. A. Nicholson) N.E.Br.), ou estrela-de-fogo, e o beijinho (Impatiens

walleriana Hook. f.), ou maria-sem-vergonha. Constituem verdadeira praga nas beiras de todos os

arroios e também da represa do arroio da Bica os lírios-do-brejo (Hedychium coronarium e H.

coccineum).

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Figura 3.7.1. Espécies exóticas invasoras. A = tritônia (C. x crocosmiiflora) crescendo com beijinho (I.

walleriana) e lírio-do-brejo (H. coronarium) em área próxima a um arroio na represa do arroio da Bica; B = flor

de lírio-do-brejo; C = flor de tritônia; D = lírio-do-brejo competindo diretamente por espaço com caeté

(Heliconia velloziana L. Emygd.) – planta cespitosa mais à direita.

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3.8. Loteamentos

Um dos maiores desafios à viabilidade econômica das famílias que de fato vivem do uso de

suas propriedades tem sido o loteamento, o desmembramento e o desdobro de lotes de terras, numa

verdadeira ação desordenada de parcelamento do solo, contudo sem regulamentação.

O desmembramento de glebas em lotes destinados à edificação ou funcionamento de sítios de

lazer tem implicado até mesmo na abertura de novas vias e logradouros públicos, ou no

prolongamento, modificação e ampliação dos já existentes. Esse desmembramento não tem sido

precedido de diretrizes para fixação das áreas de proteção por lei e faixas não edificáveis por

apresentarem riscos.

O loteamento ou desdobro de terras e abertura de estradas levam quase sempre ao

desmatamento e à conseqüente fragmentação florestal. Portanto, podem ser bastante danosos à

conservação ambiental. Nesse sentido é de interesse fundamental o apoio a todos os proprietários

rurais cujas terras estão inseridas na Área Núcleo, de modo que possam subsistir através do seu uso

sustentável e tornarem-se aliados na conservação das florestas na região.

4. Considerações finais e prognóstico

Da imensa área outrora ocupada pelo Domínio da Mata Atlântica, restam apenas 8% das matas

originais. Especialistas têm frisado a necessidade de implantação e consolidação de um sistema de

unidades de conservação da Mata Atlântica que proteja efetivamente suas diferentes fisionomias

vegetais.

A Área Núcleo da Reserva da Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz – bacias do Sinos e Caí,

RS, foi definida na Reunião Técnica da Secretaria de Biodiversidade e Florestas (MMA) para Revisão

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de Áreas Prioritária para Conservação, como de Muito Alta Biodiversidade e Extremamente Alta com

relação a Ações para a Conservação.

As encostas dos morros na região são muito importantes para a manutenção da biodiversidade

e também dos mananciais hídricos de toda a bacia hidrográfica. É importante destacar que inexistem

unidades de conservação nas bacias do Sinos e Caí, o que torna os fragmentos ainda mais importantes

para a região, que além disso ainda apresentam áreas de interesse turístico.

As florestas da região apresentam da mesma forma um grande potencial para a pesquisa

científica, visto que há duas grandes universidades próximas na região e também faculdades. A

localização da bacia do Rio dos Sinos, contígua à estreita faixa entre o litoral e o planalto e limítrofe

para a distribuição de várias espécies (Rambo 1961, Teixeira et al. 1986), torna os remanescentes

presentes na Área Núcleo em áreas de especial interesse para o detalhamento de padrões e processos

ecológicos e fitogeográficos (Molz 2004). A ampliação da pesquisa científica, em especial em

unidades de conservação já existentes ou que venham a ser constituídas, através de programas

específicos envolvendo instituições acadêmicas, setor privado e organizações não-governamentais, é

de fundamental interesse para toda a região.

A Área Núcleo, pela sua proximidade aos grandes centros urbanos, pode ser um local de

interesse para a implantação de um amplo programa de divulgação visando a conscientização da

sociedade quanto à importância da conservação dos fragmentos florestais ali existentes. Nesse sentido

também é de suma importância a criação de novos mecanismos para propiciar incentivos fiscais ao

setor privado com vistas à conservação e recuperação de remanescentes florestais e também à

utilização sustentável dos recursos naturais.

Por fim, como resultado do presente estudo, sugere-se que a Área Núcleo da Reserva da

Biosfera dos Contrafortes do Ferrabraz é, em todos os sentidos, uma área própria e madura ao

estabelecimento de uma nova unidade de conservação (UC) no Rio Grande do Sul. Para isso faz-se

necessária a ampla participação de todas as partes envolvidas na discussão de propostas para limites e

categorias para esta área, que pode vir a constituir uma UC.

5. Referências bibliográficas

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