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1 PROJETOS DE LEITURA FOCO NO VESTIBULAR SENHORA Editora: Ática Autor: José de Alencar Aula 1: Biografia. Contexto Histórico Objetivos Apresentar ao aluno o contexto histórico em que a narrativa fora produzida e ambientada, o Brasil do Segundo Reinado. Situar o romantismo na Europa liberal em que o sistema capitalista já estava consolidado. Falar das influências e das inspirações do romance francês, sobretudo, de Balzac, para um Brasil ainda arcaico, dividido entre o escravismo e o capitalismo. Estratégia Para alcançar os objetivos pretendidos, é importante introduzir, inicialmente, a biografia do autor em questão, no caso, José de Alencar. Em seguida, as características principais do romantismo podem ser ilustradas por algumas passagens do próprio livro, como é o caso da primeira parte do romance, em que o autor descreve a personagem principal, Aurélia, com um arcabouço romântico. Para apontar o contraponto do que foi apresentado acima, é interessante que o professor selecione um trecho em que a descrição, no próprio romance, assuma um cunho realista, o que pode ser facilmente exemplificado com os títulos de cada capítulo: a descrição da burguesia fluminense do Segundo Reinado, frequentadora dos salões, contrastando com o tema romântico da obra. • Para sala: 5, 6 e 12 Aula 2: Principais características da escola literária do autor. Análise da obra Objetivos Identificar os principais elementos do romantismo como escola literária. Compreender os elementos realistas que a obra Senhora apresenta. Diferenciar as duas escolas literárias em questão. Entender que o livro é uma obra romântica, com algumas passagens de análise social realista. Estratégia Nesta aula, o professor deve caracterizar, histórica e literariamente, o Rio de Janeiro do Segundo Reinado através das próprias descrições de Alencar e, em seguida, contextualizar o Brasil dessa época, indicando a vida urbana da burguesia carioca em ascensão e as relações de favor e escravistas arraigadas no ambiente nacional arcaico. Adiante, o professor pode traçar um paralelo entre esse Brasil de relações ambíguas e a sociedade capitalista europeia. Para sala: 1, 7 e 10 • Tarefa mínima: 2 Tarefa opcional: 3, 4 e 8 AULA 3: CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS Objetivo Analisar a personalidade das personagens, relacionando-as com as características do estilo literário da obra.

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

SENHORA

Editora: Ática

Autor: José de Alencar

Aula 1: Biografia. Contexto Histórico

Objetivos

• Apresentar ao aluno o contexto histórico em que

a narrativa fora produzida e ambientada, o Brasil do

Segundo Reinado.

• Situar o romantismo na Europa liberal em que o

sistema capitalista já estava consolidado.

• Falar das influências e das inspirações do romance

francês, sobretudo, de Balzac, para um Brasil ainda

arcaico, dividido entre o escravismo e o capitalismo.

Estratégia

Para alcançar os objetivos pretendidos, é importante

introduzir, inicialmente, a biografia do autor em questão,

no caso, José de Alencar. Em seguida, as características

principais do romantismo podem ser ilustradas por

algumas passagens do próprio livro, como é o caso da

primeira parte do romance, em que o autor descreve a

personagem principal, Aurélia, com um arcabouço

romântico.

Para apontar o contraponto do que foi apresentado

acima, é interessante que o professor selecione um trecho

em que a descrição, no próprio romance, assuma um

cunho realista, o que pode ser facilmente exemplificado

com os títulos de cada capítulo: a descrição da burguesia

fluminense do Segundo Reinado, frequentadora dos

salões, contrastando com o tema romântico da obra. • Para sala: 5, 6 e 12

Aula 2: Principais características da escola literária

do autor. Análise da obra

Objetivos

• Identificar os principais elementos do romantismo como

escola literária.

• Compreender os elementos realistas que a obra Senhora

apresenta.

• Diferenciar as duas escolas literárias em questão.

• Entender que o livro é uma obra romântica, com

algumas passagens de análise social realista.

Estratégia

Nesta aula, o professor deve caracterizar, histórica e

literariamente, o Rio de Janeiro do Segundo Reinado

através das próprias descrições de Alencar e, em seguida,

contextualizar o Brasil dessa época, indicando a vida

urbana da burguesia carioca em ascensão e as relações de

favor e escravistas arraigadas no ambiente nacional

arcaico. Adiante, o professor pode traçar um paralelo

entre esse Brasil de relações ambíguas e a sociedade

capitalista europeia. • Para sala: 1, 7 e 10 • Tarefa mínima: 2 • Tarefa opcional: 3, 4 e 8

AULA 3: CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS

Objetivo

• Analisar a personalidade das personagens,

relacionando-as com as características do estilo literário

da obra.

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Estratégia

O professor deve fazer a leitura da advertência intitulada

“Ao leitor”, que José de Alencar faz logo no início do livro.

É necessário que o professor explique algumas diferenças

que se estabelecem nos romances de Alencar a partir de

Senhora, em relação a seus outros dois livros

predecedentes, Lucíola e Diva, nos quais o autor usava o

pseudônimo G.M. e mantinha sempre uma relação direta

com os protagonistas da ação de modo a conferir

veracidade ao que narrava. Em Senhora, Alencar assume

sua autoria e confessa não saber a procedência do relato,

que foi contado a um terceiro, mas ele reitera sua

veracidade. O narrador utiliza esse recurso que é

emblemático do romantismo e tenta criar a impressão da

existência real da história que será contada, colocando-se

meramente na postura de editor. Em seguida, é

importante ler trechos da obra para identificar a

onisciência e narração em terceira pessoa. • Para sala: 14 e 15

Aula 4: A narrativa. Enredo

Objetivos

• Ajudar o aluno para a entender os jogos narrativos

em questão.

• Compreender a relação entre autor, narrador e

foco narrativo em terceira pessoa.

Esta última aula tem como intuito fazer com que o aluno

consiga apreender os aspectos fundamentais da obra,

assim como muni-lo de informações que o habilitem a

analisar a obra criticamente.

Estratégia

A partir do conflito central da obra entre amor e dinheiro,

o professor deve selecionar alguns trechos do livro em

que essa contradição esteja explicitada e lê-los com os

alunos, realizando uma análise crítica da obra literária.

Para tanto, será importante ressaltar de que forma é

tratado o amor (idealizado) e como o dinheiro aparece

mediando todas as relações ocorridas na história.

Interessante também estabelecer a relação ambígua

entre os títulos dos capítulos que dividem o livro e o tema

do amor como salvação que a história narra. • Para sala: 9,

11 e 13

BIOGRAFIA

José de Alencar é um dos maiores escritores do

romantismo brasileiro. O autor empenhou-se num

projeto literário nacional em que se constituiria a

literatura brasileira, não só em sua temática nacionalista,

mas também nas inovações no uso da língua portuguesa.

Nesse sentido, e para satisfazer critérios meramente

didáticos, seus romances foram esquematicamente

divididos em quatro temáticas principais:

• romances indianistas: apropriam-se da tradição

indígena na ficção, como é o caso de O guarani, Iracema

e Ubirajara.

• romances históricos: contam episódios marcantes

da história brasileira de forma literária, como foi o caso de

As minas de prata, A guerra dos mascates e Alfarrábios,

os quais se compõem de três narrativas menores: O

garatuja, O ermitão da glória e Alma de Lázaro.

• romances regionalistas: mostram as

peculiaridades culturais da sociedade rural brasileira, que

se comportava de modo diverso da Corte. Os exemplos

são: O gaúcho, que representa os pampas do Rio Grande

do Sul; O sertanejo, que fala sobre o Nordeste; Til, sobre

a zona rural do interior paulista; e O tronco do ipê, que se

desenvolve na zona da mata fluminense.

• romances urbanos: descrevem a sociedade

urbana da época, como é o caso de A viuvinha e Pata da

gazela, além daqueles que constituem os chamados

“perfis de mulher”, como Diva, Lucíola e Senhora. Há

ainda Encarnação, publicação póstuma, e Sonhos d’ouro.

José de Alencar era um grande estudioso de teoria

literária e possuía uma concepção do que deveria ser a

literatura brasileira. Nesse contexto, ficou muito

conhecida a polêmica das Cartas da Confederação de

Tamoios, em 1856, em que criticava com veemência o

poema épico de Domingos Gonçalves de Magalhães,

escritor considerado ícone da literatura nacional e o

preferido do imperador Dom Pedro II. O problema para

Alencar estava no gênero épico. Segundo o escritor

cearense, esse gênero não condizia com a expressão dos

sentimentos e a forma de uma literatura nascente. Assim,

sua opção é pela narrativa de ficção, o romance,

sobretudo, que é um gênero moderno e livre.

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Em 1856, estreia na ficção com o romance Cinco minutos,

seu primeiro livro conhecido, e um ano depois, publica O

guarani em folhetim, depois em livro, o que lhe conferiu

grande notoriedade. Iracema é elogiado calorosamente

num artigo de jornal, em 1866, por Machado de Assis, o

que leva o autor a escrever uma autobiografia crítica,

Como e por que sou romancista, confessando a alegria

com a crítica machadiana.

Nesse texto, Alencar relembra os anos de sua formação e

fala dos serões da infância, em que lia em voz alta para a

mãe e para as parentas, até ficar a sala toda em prantos.

Os livros eram Amanda e Oscar, Saint-Clair das ilhas,

Celestina e outros. Menciona também os gabinetes de

leitura, a biblioteca romântica de seus colegas nas

repúblicas estudantis em São Paulo – Balzac, Dumas,

Vigny, Chateaubriand, Hugo, Byron, Lamartine, Sue, mais

tarde Scott e Cooper – e a impressão que então lhe

causara o sucesso de A moreninha, o primeiro romance de

Joaquim Manuel de Macedo.

Dessa forma, é possível vislumbrar que Alencar tinha

inclinações modernas e o desejo de nutrir o país com uma

literatura também moderna e que contribuísse para a

formação da nação brasileira. Assim, a obra alencariana

representa um grande significado para as letras

brasileiras, não só pela abundância de descrições,

versatilidade e limpidez nos discursos idealizadores das

relações humanas, tanto no campo/selva como na cidade,

mas também por ter facilitado a tarefa de nacionalização

da literatura brasileira e por ter consolidado o gênero

romance no Brasil, sendo, na verdade, seu grande criador.

Adentrando ainda mais na sua vida pessoal, é importante

complementar que José Martiniano de Alencar nasceu em

Messejana, hoje bairro da cidade de Fortaleza, Ceará, em

1829, final do Primeiro Reinado, sendo filho de um

senador do período regencial que exerceu influência no

jogo político que levou D. Pedro II à maioridade. Ainda

menino, com apenas 10 anos, mudara-se para o Rio de

Janeiro, onde estreiou como escritor em 1854,

escrevendo crônicas no Correio Mercantil.

Essa sua produção será mais tarde agrupada no volume

chamado Ao correr da pena. Ao concluir os estudos

secundários na Corte, transferiu-se para São Paulo, em

1845, para cursar a Faculdade de Direito. Essa

permanência na cidade paulistana forneceu ao autor o

contato com a moda da poesia byroniana, liderada por

Álvares de Azevedo. Alencar dedicou-se muito à

advocacia e à vida política, tendo sido eleito diversas

vezes deputado. Durante a Guerra do Paraguai, foi

ministro da Justiça, apesar dos desentendimentos,

estéticos e políticos, com D. Pedro II. Porém, por não

conseguir se eleger senador, retirou-se da vida política.

No entanto, pôde contribuir de maneira fundamental

para a literatura brasileira.

José de Alencar morreu de tuberculose aos 48 anos, em

1877, ano em que escrevera seu último romance,

Encarnação, que só foi publicado postumamente.

CONTEXTO HISTÓRICO

Para compreender o contexto histórico do romantismo de

um modo geral, é essencial levarmos em conta dois

acontecimentos que determinam sua origem: o

surgimento do capitalismo como sistema, que modifica as

relações econômicas e cria na Europa uma nova

organização política e social, e a dos ideais liberais,

levados a cabo na Revolução Francesa, de liberdade (que

se traduzirá em liberdade para trabalhar), igualdade (que

equi-valerá apenas a uma igualdade formal) perante a lei

e a fraternidade (que promulga a Declaração dos Direitos

do Ho-mem como universais). No entanto, nesse

documento universal, estava defendida a propriedade

privada como direito sagrado e inviolável, o que acarreta

uma divisão de classes.

Os ideais de revolução, representados no quadro A Liberdade guiando o povo, de Eugene Delacroix, concorreram para o crescimento e a consolidação do romantismo na Europa, principalmente na França e na Inglaterra.

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Nesses termos, é importante lembrar que a Revolução

Francesa é uma revolução burguesa, em que a burguesia

ascende como classe dominante. O sistema capitalista,

por sua vez, prevê uma sociedade de classes, já que

pressupõe os exploradores, ou seja, aqueles que detêm os

meios de produção, e os explorados, aqueles que detêm

unicamente a sua força de trabalho.

Nessa sociedade de burgueses e proletariados, a

exploração do trabalho alienado e as relações mediadas

pelo dinheiro são as normas. Essas profundas

transformações na estrutura da sociedade como um todo

são o terreno fértil em que o romantismo europeu irá

florescer. No Brasil, no entanto, o romantismo cresce em

outro cenário. O país era agrário e recém-tornado

independente, dividido em latifúndios, cuja produção

dependia, por um lado, do trabalho escravo e, por outro,

do mercado externo, já que nossa economia sempre

esteve voltada para a exportação de matérias-primas.

Para ir ainda mais fundo nas contradições, vale lembrar

que os latifúndios escravistas haviam sido, em sua origem,

um empreendimento do capital comercial e, portanto, o

lucro fora sempre o seu pivô. Aliás, é importante destacar

que o lucro sempre fora a prioridade comum tanto nas

formas mais antiquadas do capital como nas mais

modernas.

A urbanização da cidade do Rio de Janeiro, por conta da

transferência da Corte, criava uma sociedade

consumidora representada pela aristocracia rural, pelos

profissionais liberais e por jovens estudantes, todos em

busca de “entretenimento”; o espírito nacionalista a exigir

uma “cor local” para os romances, e não a mera

importação ou tradução de obras estrangeiras; o

jornalismo vivendo seu primeiro grande impulso e a

divulgação em massa de folhetins; o avanço do teatro

nacional – esses são alguns dos fatos que explicam o

aparecimento e o desenvolvimento do romantismo no

Brasil.

Senhora, enquanto romance urbano, anterior ao advento

do realismo em nossa literatura, é fundamentalmente

uma crônica de costumes, um retrato da Corte ou da

sociedade fluminense na segunda metade do século XIX,

ou seja, o texto focaliza a época em que o próprio escritor

viveu.

Alencar critica a sociedade que lhe é contemporânea, não

a partir da perspectiva de uma transformação futura, mas

da nostalgia de um passado que só na ficção pode reviver

plenamente. De qualquer modo, é em Senhora e Lucíola

que atinge o ponto alto em termos de crítica social e

procura se aprofundar na psicologia das personagens

femininas, traçando o que se convencionou chamar de

seus “perfis de mulher”.

No entanto, Alencar não aprofunda sua crítica social e por

isso seu romance não poderia ser realista, pois a solução

que oferece às ambiguidades locais, e mesmo às de todo

o romance, é uma saída moralista, romântica e idealizada.

A idealização do amor como salvação para as relações

mercantis que a sociedade impõe, além da pompa e dos

ornamentos românticos para se descrever as personagens

e seus caracteres, remetem Senhora para aquilo que se

convencionou chamar de romance urbano de Alencar,

obviamente que dentro da escola literária do

romantismo, já que sua temática, apesar dos elementos

de crítica realista, é fundamentalmente romântica.

Por conseguinte, as implicações que a importação do

romantismo, que já existira na Europa antes de nascer no

Brasil, traz para essas terras são expressas na obra de

Alencar ao adotar o modelo balzaquiano de composição

romanesca e observação social, conservando um certo

ranço moralista inexistente na visão de mundo de Balzac. • Para sala: 2 • Tarefa mínima: 3 e 4 • Tarefa opcional: 5

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

DA ESCOLA LITERÁRIA DO AUTOR

O romantismo surge no fim do século XVIII. A publicação

na Alemanha de Werther, por Goethe, lança as bases

definitivas do sentimentalismo romântico e do escapismo

pelo suicídio. Em 1781, Schiller lança Os salteadores,

inaugurando a volta ao passado histórico; mais tarde,

escreve o drama Guilherme Tell, em que transforma o

personagem em herói da luta pela independência

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nacional. Na Inglaterra, o romantismo se manifesta nos

primeiros anos do século XIX com lorde Byron e sua poesia

ultrarromântica, além do romance histórico Ivanhoé, de

Walter Scott. De qualquer forma, coube à França o papel

de divulgar o romantismo, principalmente no Brasil (DE

NICOLA, 1998).

A escola romântica precisa ser entendida como um estilo

de época delimitado no tempo, um período que se inicia

nos últimos anos do século XVIII e se estende até meados

do século XIX. Nos seus primórdios, romântico era tudo

aquilo que se opunha ao clássico. Os modelos da

Antiguidade Clássica eram substituídos pelos últimos anos

da Idade Média, em que surgia a burguesia. Por isso, o

surgimento dessa escola está comple-tamente atrelado

ao nascimento da burguesia como classe social

dominante.

As raízes históricas desse movimento podem ser

encontradas já na metade do século XVIII, quando o

processo de industrialização havia modificado as antigas

relações econômicas, criando na Europa uma nova forma

de organização política e social que muito influenciaria os

tempos modernos, o sistema capitalista. Outro grande

marco dessas mudanças é a Revolução Francesa. Assim,

na Europa, em consequência do processo de industria-

lização e da ascensão da burguesia ao poder político, o

plano social delineia-se em duas classes distintas e

antagônicas, embora atuassem juntas durante a

Revolução: a classe domi-nante, representada pela

burguesia capitalista industrial, e a classe dominada,

representada pelo proletariado.

Nesse sentido, não se pode analisar características como

o nacionalismo, o sentimentalismo, o subjetivismo, o

irracionalismo, tão marcantes do romantismo inicial, sem

se mencionar seu caráter ideológico, ou seja, suas

relações com a burguesia e seu contexto histórico.

A Revolução Francesa e o movimento romântico marcam

o fim de uma época cultural em que o artista se dirigia a

uma sociedade, a um grupo mais ou menos homogêneo,

a um público cuja autoridade reconhecia absolutamente.

No romantismo, a arte deixa de ser uma atividade social

orientada por critérios objetivos e convencionais e

transforma-se numa forma de autoexpressão que cria os

seus próprios padrões; numa palavra: torna-se o meio

empregado pelo indivíduo singular para se comunicar

com indivíduos singulares.

Georg Lukács, em A teoria do romance, descreve

inicialmente como eram as chamadas culturas fechadas, a

cultura antiga, e analisa as formas da grande época. Numa

passagem, o filósofo fala que o significado de ser homem

no Novo Mundo é ser solitário, e complementa:

E quem poderá saber se a adequação do ato à

essência do sujeito, o único ponto de referência que

restou, atinge real-mente a substância, uma vez que

o sujeito se tornou uma aparência, um objeto para si

mesmo; uma vez que sua essencialidade mais própria

e intrínseca lhe é contraposta apenas como exigência

infinita num céu imaginário do dever-ser; uma vez

que ela tem de emergir de um abismo inescrutável

que reside no próprio sujeito, uma vez que a essência

é somente aquilo que se eleva desse fundo mais

profundo e ninguém jamais foi capaz de pisar-lhe ou

visualizar-se a base.

No Brasil, o momento histórico em que o romantismo

surge se relaciona com a chegada da Corte, no Rio de

Janeiro, em 1808. Nesse período, a cidade passa por um

processo intenso de urbanização e, com a vida urbana da

nova burguesia, a divulgação das influências europeias

encontrava um campo propício.

Após 1822, cresce no Brasil independente o sentimento

de nacionalismo, a busca pelo passado histórico, a

exaltação da natureza pátria; na realidade, eram

tendências já cultivadas na Europa que se encaixavam

perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar

profundas crises sociais, financeiras e econômicas e,

principalmente, fundar-se como nação.

Houve uma nítida evolução no comportamento dos

autores românticos: há semelhanças entre os autores de

uma mesma fase, mas a comparação entre os primeiros e

os últimos representantes do período revela profundas

diferenças. No caso brasileiro, por exemplo, há uma

distância considerável entre a poesia de Gonçalves Dias e

a de Castro Alves. Daí surge uma necessidade didática de

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se dividir a poesia do romantismo em fases ou gerações.

Primeira geração: nacionalista ou indianista

Marcada pela exaltação da natureza, volta-se ao passado

histórico, ao medievalismo e à criação do herói nacional,

figura do índio. Outras características são o

sentimentalismo e a religiosidade. Podemos destacar

como principais autores dessa fase: Gonçalves Dias e

Gonçalves de Magalhães.

Segunda geração: mal do século

Fortemente influenciada pela poesia de lorde Byron e de

Musset, é também chamada de geração byroniana.

Impregnada de egocentrismo, negativismo, pessimismo,

dúvida, desilusão adolescente e tédio constante –

características do ultrarromantismo – o verdadeiro mal do

século –, seu tema preferido é a fuga da realidade, que se

manifesta na idealização da infância, nas virgens

sonhadas e na exaltação da morte. Os principais poetas

dessa geração foram Álvares de Azevedo e Casimiro de

Abreu.

Terceira geração: condoreira

Caracterizada pela poesia social e libertária, reflete as

lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro

II. Essa geração sofreu intensamente a influência de Victor

Hugo e de sua poesia político-social, daí ser também

conhecida como geração hugoana. O termo

condoreirismo é consequência do símbolo de liberdade

adotado pelos jovens românticos: o condor, ave que

habita o alto da cordilheira dos Andes. Seu principal

representante foi Castro Alves, seguido por Tobias

Barreto e Sousândrade.

Na prosa, José de Alencar não destoa do romantismo em

voga. A sua visão de mundo é baseada na emoção, e o

mundo urbano, com seus problemas políticos e

econômicos, o aborrece. Por isso foge para o passado;

escapa para os lugares selvagens. Suas obras procuram

retratar um Brasil com personagens mais ideais do que

reais, mais como ele gostaria que moralmente fossem

(românticos e moralistas) do que objetivamente eram

(realistas). Senhora é um romance de características

definidas de forma romântica, mas que já traduz uma

temática realista: a crítica ao casamento burguês.

Senhora, publicado em 1875, traz características inequivo-

camente românticas, como podemos ver pelo núcleo de

seu enredo: simples e atrelado aos esquematismos dos

dramas de amor do romantismo.

ANÁLISE DA OBRA

Para se ter a noção de uma obra literária – seu impacto,

sua contribuição e suas características fundamentais –, é

preciso situá-la em sua época, em seu contexto histórico.

Qualquer análise que não leve em conta o processo

histórico em questão resume-se a abstrações estéticas

sem vínculos com os fatos reais. Sendo assim, a análise a

que procederemos a seguir intenta estabelecer as

relações entre o autor, a linhagem estética a que se afilia,

o contexto histórico em que vive e a peculiaridade e

sagacidade da narrativa que compõe, de modo a lançar

um olhar sobre a totalidade da obra em questão.

Primeiro, convém lembrar que José de Alencar, grande

expressão de nosso romantismo, tinha tomado como

missão a fundação de uma literatura tipicamente

nacional. Obviamente que, inspirando-se em tudo que

havia de mais moderno na literatura mundial, seu projeto

passava pela própria fundação da nação brasileira. Nesse

sentido, escolheu a ficção como gênero moderno e livre

por excelência e, em seguida, foi-se apropriando da

tradição indígena para elaborar em suas histórias aquilo

que podemos apontar como mito de fundação.

Desdobrando-se no tempo (passado e presente) e no

espaço (cidade, campo, litoral e interior), Alencar procura

em sua obra, de certa forma, descobrir o Brasil.

Engrandece o passado e menospreza a vida em sociedade,

o progresso que corrompe as relações humanas dos

cidadãos da Corte, mediadas pelo dinheiro. No romance

urbano, coloca as “razões do coração” como base do

enredo, não deixando de mostrar detalhadamente todo o

brilho da alta sociedade. Relata de forma indireta a

situação da burguesia no Segundo Reinado, apontando

principalmente para o valor do dinheiro.

O projeto literário nacionalista de Alencar não pode ser

deixado de lado ao examinar qualquer uma de suas obras

e será de importância essencial para se pensar a

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importação do romance europeu e as contradições que

produzia nessas terras.

Sendo assim, a influência, sobretudo balzaquiana, nos

romances urbanos de Alencar, como é o caso da obra

Senhora, aqui em questão, é chave para entender um

pouco das contradições não apenas de sua produção

literária, mas principalmente do próprio Brasil.

Roberto Schwarz nos conta, em seu mais do que

conhecido artigo As ideias fora do lugar, como a ideologia

do liberalismo europeu, com seus princípios do trabalho

livre, da igualdade perante a lei e do universalismo, era

reproduzida de forma vazia por uma burguesia local em

ascensão, contrastando com o sistema escravocrata

arraigado em nossa sociedade. Ou seja, o princípio da

economia capitalista era que o trabalho fosse livre, mas

no Brasil ainda existia a escravidão.

A situação de D. Pedro II, por exemplo, representava a

própria contradição em questão; o imperador se via

pressionado pela burguesia e o mercado inglês, com que

tinha relações capitalistas já estabelecidas, e pela

pequena elite escravocrata brasileira que o levou ao

poder. Assim, escravismo e capitalismo conviviam juntos

na mesma terra.

O romance de Alencar expõe essa ambiguidade da vida na

sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito a

nosso objeto de análise aqui, a obra Senhora, quando

critica o casamento por conveniência praticado na época

com os valores europeus importados pela burguesia local

ainda em formação, mas que já expressava, nas relações

de aparência e mediadas pelo dinheiro, as grandes

características de um capitalismo que outrora triunfara.

O romantismo alencariano é evidenciado, sobretudo, em

seus personagens idealizados, românticos e moralistas. O

escritor acreditava na vitória do homem na reforma de si

mesmo e da sociedade, por isso a crença nos valores

humanitários é tão explícita, como no caso de Senhora,

em que as relações ambíguas entre ódio e perdão,

necessidade financeira e apelos do coração, dinheiro e

amor marcam seus personagens, prevalecendo sempre os

segundos sentimentos.

Debrucemos, por ora, mais atentamente sobre a obra em

si.

Vejamos o enredo que pode ser resumido em poucas

linhas. Eis os fatos em perspectiva linear:

Senhora conta a história de Aurélia Camargo, uma moça

pobre, bela e ressentida que se apaixona por um rapaz

também pobre, mas aspirante à riqueza. Belíssima, porém

sem recursos, não consegue segurar o noivo Fernando

Seixas, que é dividido entre seu amor e a vida badalada da

alta sociedade carioca. Quando menos espera, Aurélia

recebe uma enorme herança de um avô desconhecido.

Sua primeira preocupação, após se estabelecer como

moça rica, foi casar-se com o antigo namorado, que a

trocara por um dote de 30 contos. Recorre, então, a uma

estratégia estranha. Ela compra o ex-namorado como

uma simples mercadoria. Mediante a quantia vultosa de

100 contos, a compra e o casamento se realizam com

sucesso. Consumada a parte mercantil da transação

matrimonial, resta consumar o casamento. Entretanto,

Aurélia escancara ao rapaz sua condição de marido-

mercadoria e se nega à consumação desse casamento,

vivendo separados debaixo do mesmo teto. O impasse só

será resolvido quando o rapaz repuser o dinheiro tomado,

recomprando sua dignidade e recuperando a

possibilidade de consumar, de fato, seu casamento.

Trata-se de uma situação em que as leis do amor são

confrontadas com as do mercado, mas em que no final o

amor prevalece. A moça vive a dolorosa experiência de

amar alguém que não possui a mesma visão de mundo

que a sua, aquela que entende o amor como sentimento

sagrado. Ao contrário, Fernando Seixas respira o ar dos

bailes da Corte, e o amor para ele não passa de galanteria,

verniz feito para revestir com fineza o que

verdadeiramente conta: o interesse econômico. O choque

das visões se expressa naquilo que Seixas enxerga como

“casamento de conveniência” e Aurélia interpreta, com

aguda crítica, como “mercado matrimonial”. A posse do

marido também simboliza para ela a possibilidade de

ensinar Seixas a ler o mundo de uma forma que ele até

então desconhece. Nesse sentido, o desenvolvimento da

narrativa reflete o processo de educação do marido,

objetivando desviá-lo do caminho frequentemente

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

trilhado pelos caçadotes que povoavam a Corte. Assim,

Aurélia conjugará suas armas: a beleza, que nada lhe valia

enquanto pobre, e o dinheiro. Desse modo, a beleza é

entendida como aquela que brilha ao refletir a luz do ouro

quando a ele se alia. A alegoria de seu próprio nome,

Aurélia – aurus, pedra preciosa, ouro –, indica que a

personagem é o próprio fetiche do ouro, do dinheiro

como equivalente universal.

Vamos à descrição que Alencar faz de Aurélia:

Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.

Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe

disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões.

Tornou-se deusa dos bailes; a musa dos poetas e o

ídolo dos noivos em disponibilidade.

Era rica e formosa.

Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso

de alabastro; dois esplendores que se refletem, como

o raio de sol no prisma de diamante.

O arquétipo que anuncia o acontecimento excepcional, a

aparição da personagem, inicia o relato: o astro novo

brilha no céu, estamos avisados de algo muito

importante. É Aurélia, a quem o romancista, em poucas

linhas, atribui todos os emblemas da majestade divina. É

estrela e rainha; deusa, musa e ídolo; rica e formosa. A

linguagem metafórica aqui empregada parece desdenhar

e desconhecer os limites da descrição realista, insistindo

em criar um mundo de sonho, em que a beleza e a fortuna

triunfam sobre tudo, deslumbrando pelo fulgor (LAFETÁ,

2009, 9). Já aqui são anunciados os dois símbolos que

perpassam toda a história e que Aurélia concentra em si:

a beleza e a riqueza.

A personagem, por dentro uma fina flor, e envolvendo

toda a sua beleza está seu invólucro de “alabastro”, que

se realça e se reflete no seu ouro. A beleza e o dinheiro

concorrem para afirmar seu poder.

Para se completar todo o encantamento, ainda há o

mistério que envolve as origens da heroína de apenas 18

anos, mas já dona dela mesma – senhora de si. Pois

Aurélia nos aparece no primeiro capítulo já rica e na Corte

fluminense. Ninguém sabe sobre seu passado, e o autor,

prometendo contar a verdade “a seu tempo”, adianta-nos

que ela era órfã e vivia apenas na companhia de uma

velha parenta.

“Temos assim, no pórtico do romance, um conjunto de

imagens que imprime a direção da leitura. Podemos ler

Senhora como uma narrativa apegada à fidelidade

descritiva do real?” O melhor é ponderar e ir com cautela.

Analisemos o narrador dessa história.

O romance é narrado em terceira pessoa, ou seja, quem

conta a história não participa dos acontecimentos. Esse

narrador ou emissor é onisciente, sabe tudo sobre o que

narra. Conhece inteiramente o interno e o externo dos

personagens, cujas vidas nos apresenta como algo

pretérito em relação ao tempo no qual está narrando ou

escrevendo. O livro é precedido de uma nota intitulada

“Ao Leitor”, na qual José de Alencar explica que a história

fora contada a um terceiro pelos protagonistas do drama.

Segundo a nota, Alencar seria apenas o “editor” do

romance. Nesse trabalho de edição, corrigiu “a forma” e

deu “um lavor literário”:

Este livro, como os dois que o precederam, não são da

própria lavra do escritor, a quem geralmente os

atribuem.

A história é verdadeira; e a narração vem de pessoa

que recebeu diretamente, em circunstâncias que

ignoro, a confidência dos principais atores deste

drama curioso.

O suposto autor não passa rigorosamente de editor. É

certo que, tomando a si o encargo de corrigir a forma

e dar-lhe um lavor literário, de algum modo apropria-

se não a obra, mas o livro.

Em Senhora, a transformação da fábula em relato

denuncia a presença de um narrador como intérprete

privilegiado. Sua onisciência é revelada sempre que o

andamento dos fatos a exige. Deste modo, podemos

confirmá-la quando, no capítulo VI da primeira parte, por

exemplo, conta com detalhes a vida passada e presente

de Seixas e sua família, informando-nos das motivações

que poderiam justificar os procedimentos levianos do

rapaz. Da mesma forma também é narrada a vida de

Aurélia e sua família na parte que antecede o

conhecimento de Seixas e a chegada da herança do avô.

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

Ou seja, voltando às evidências da nota, Alencar adverte

ao leitor que, mesmo ele não podendo assegurar a

procedência das circunstâncias em que o relato fora

contado e nem a quem fora, a obra é verdadeira, o drama

já estava pronto, ele apenas edita de maneira que fique

ainda mais literário, por isso seu trabalho é em relação ao

livro e, portanto, se coloca como mero editor. [ver A

narrativa: foco narrativo]

Ora, sabemos que o recurso de afirmar a veracidade da

história é muito usado pelo romantismo. No entanto, o

que nos chama atenção nesse fato é que, agora, diferente

dos seus outros dois romances que também fazem parte

do chamado “Perfis de mulher”, Diva e Lucíola (reparem

bem, Diva-deus, Lucíola-lúcifer, Aurélia-aurus/ouro), o

autor não usa mais o pseudônimo G. M., deixando claro

que havia recebido o relato diretamente dos envolvidos

nas histórias.

Em Senhora, a relação não é mais direta. Daí já se anuncia

a mediação entre o original e a cópia, ou entre a própria

história e a sua reprodução. Estamos em outros tempos.

As relações aqui são mediadas. O narrador será a

mediação entre o leitor e a história. O olhar e a opinião da

alta sociedade, da Corte que Aurélia e Seixas frequentam,

serão a mediação entre a relação dos dois; e o dinheiro, o

ouro de nosso tempo, o que equivale tudo a seu valor,

envolto em todo o seu fetiche, será a mediação de todas

as relações.

Começamos a entrever melhor a relação ambígua dos

títulos dos capítulos “Preço”, “Quitação”, “Posse” e

“Resgate” com o relato de amor contado. Essa forma de

apresentação da narrativa aponta para um narrador que

assume o controle sobre o narrado, mostrando ao leitor o

modo devidamente compartimentado e nomeado de

acordo com a sua leitura prévia dos acontecimentos,

apontando para onde o leitor deve seguir. Escusado

lembrar que as quatro fases em que se divide a história

indicam, antes de qualquer coisa, etapas sucessivas de um

circuito de natureza econômica.

Regina Pontieri, em seu essencial estudo sobre Senhora,

procede a um exame da obra apoiando-se na análise de

Marx sobre a mercadoria. Para tanto, utiliza-se de

conceitos marxistas como valor de uso, valor, trabalho

concreto, trabalho abstrato, alienação, entre outros. O

método escolhido por Pontieri parece ser o que melhor

esclarece a obra em questão, por isso suas ideias são

levadas em conta a seguir.

Os primeiros capítulos, “Preço” e “Quitação”, referem-se

à dupla face da mercadoria, seu “valor de uso” e seu

“valor”, indicando o percurso que ela realiza, enquanto

valor, na esfera do mercado. A mercadoria em questão no

romance é Fernando Seixas, na sua condição de homem e

marido em potencial. A sociedade carioca é um mercado

de noivos disponíveis, que, como valores de uso, colocam-

se no mercado (e, neste caso, os bailes da Corte podem

ser entendidos como as vitrines em que se expõem esses

possíveis maridos) para realizar seu valor de troca, ou

somente seu valor ao atrair o equivalente universal, uma

dada quantia em ouro.

É assim que Aurélia considera seus pretendentes no

primeiro capítulo, como meras mercadorias, não

ocultando o preço de sua cotação. Já é logo nessa primeira

parte do romance que Aurélia ofe-recerá uma quantia

irrecusável para que Seixas se case com ela.

A protagonista entra igualmente na relação de mercado,

porém não como possuidora de uma mercadoria

qualquer. Não é o seu potencial de esposa que está à

venda. Ela possui a mercadoria equivalente universal: o

ouro, metal que encarna a forma dinheiro da mercadoria.

No entanto, ao adentrar as relações mercantis, ela deverá

se comportar de acordo com as suas leis, pois será

avaliada por toda a sociedade não como pessoa, mas

como símbolo do metal cobiçado. Novamente, seu nome

reforça essa imagem, ouro/aurus - Aurélia.

Seixas é a mercadoria comum, e Aurélia é a mercadoria

especial. A coisificação, ou melhor, petrificação da

mercadoria-marido assume a forma de pedra vulgar:

seixo-Seixas. Já Aurélia, ao entrar no mercado como figura

do dinheiro, reveste a condição enigmática daquele. A

ambiguidade de homem e coisa que Seixas expressa é

fundamental para a compreensão de todo o romance. Ela

está vinculada à ideia de alienação, de cisão, ou mesmo a

todos os processos de reduplicação da narrativa. No nível

dos temas, poderíamos apontar a teatralidade como

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

fingimento, a máscara como simulacro do rosto, a cópia

como a criação original refeita.

Na sociedade em que estão inseridos, reprodutora das

relações capitalistas, a singularidade do ser humano se

restringe a uma de suas facetas: no caso de Seixas, o papel

social de “noivo”. Só assim se equiparam pessoas diversas

pelo mesmo estalão de preços. Nesse sentido, os dois

primeiros capítulos, “Preço” e “Quitação”, apresentam o

homem-coisa circulando pelo mercado a fim de realizar

seu valor como valor de troca, mas para isso evidenciam

seu valor de uso enquanto noivo. É por isso que na Corte

Seixas ostenta elegância, fineza e educação,

acompanhadas de objetos pessoais de adorno de alto

preço e das melhores procedências. Mesmo que isso

implique sacrifícios para sua mãe e irmã, que viviam em

situação econômica humilde, não condizente com a

aparência que demonstrava em público. Sua justificativa

está em que primeiro deveria atrair um dote para depois

poder melhorar a situação financeira da família.

O consumo da mercadoria-noivo será efetuado após o

pagamento, representando assim a parte da “Quitação”.

Nesse momento, o noivo deixa a esfera pública do

mercado (abandona a vida de solteiro na Corte) para

adentrar a esfera privada onde – como valor de uso

“marido” – deverá ser consumido, o que representa o

momento da “Posse”.

O “Resgate”, em princípio, relaciona-se à recuperação de

seu valor de uso. Seixas recompra de Aurélia a

mercadoria-marido, abrindo nova possibilidade de

recomeçar o ciclo de troca já que, trabalhando durante 11

meses, conseguira juntar a quantia que necessitava para

devolver a Aurélia o dinheiro que a esposa havia pagado

por ele, solicitando, enfim, a separação.

Entretanto, a compra e venda do homem-coisa, ao serem

desnudadas, refletem-se em sua consciência,

transformando-o. Nesse sentido, quando Aurélia

escancara a Seixas – que fora transformado em seu

escravo, já que ela era a senhora que o havia comprado –

a mesquinhez das relações de interesses em que estava

envolvido, cujo amor é negado e só o dinheiro interessa,

a heroína contribui para que Seixas aprenda durante esse

tempo e se esforce para recuperar sua dignidade

enquanto homem, transformando-se agora em Senhor

dela. Assim, o amor de Aurélia por ele continuava intacto

e ela estava pronta para desfrutar do amor do marido,

que só aumentara. Dessa forma, a relação de amor entre

os dois, de fato, consuma-se. • Para sala: 1, 7 e 10 • Tarefa mínima: 2 • Tarefa opcional: 3, 4 e 8

CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS

Aurélia Camargo

Personagem principal da história. Uma moça cuja beleza

impressiona. Era uma pobre órfã de pai e mãe e foi

deixada por seu noivo, Fernando Seixas, por não possuir

dote. Porém, herda toda a fortuna de um avô e passa a

frequentar as festas da alta sociedade carioca, onde

impressiona a todos com sua beleza, sua riqueza e seu

passado obscuro.

A protagonista entra igualmente na relação de mercado,

porém não como possuidora de uma mercadoria

qualquer, não é o seu potencial de esposa que está à

venda. Ela possui a mercadoria equivalente universal: o

ouro, metal que encarna a forma dinheiro da mercadoria.

No entanto, ao adentrar as relações mercantis, ela deverá

se comportar de acordo com as suas leis, pois será

avaliada por toda a sociedade não como pessoa, mas

como símbolo do metal cobiçado. Dessa forma, seu nome

reforça essa imagem, ouro/aurus - Aurélia. Aurélia, ao

entrar no mercado como figura do dinheiro, reveste a

condição enigmática deste. Com o seu dinheiro pôde

comprar Seixas e se transformar em sua senhora. No

entanto, o objetivo de Aurélia é ensinar o marido a se

desvencilhar das relações de interesse, deixando que o

amor prevaleça na relação dos dois.

A densidade humana de Aurélia Camargo avoluma-se aos

olhos, e percebe-se uma mistura de anjo e demônio, de

bondade e de maldade, distanciando-a do maniqueísmo –

a rígida separação entre o bem e o mal – dos romances

puramente românticos. A característica principal que se

pode ressaltar é que tanto o marido comprado quanto a

mulher traída, os protagonistas de Senhora, movem-se

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

vertiginosamente entre o sublime e o sórdido,

constituindo verdadeiros tipos humanos representativos

das ambiguidades do romantismo e das contradições do

mundo capitalista.

Fernando Seixas

Seixas é homem-mercadoria, na sua condição de homem

e marido em potencial. Ele é a mercadoria comum. A

coisificação, ou melhor, a petrificação da mercadoria-

marido assumindo a forma de pedra vulgar: seixo-Seixas.

A ambiguidade de homem e coisa que Seixas expressa é

fundamental para a compreensão de todo o romance. Ela

está vinculada à ideia de alienação, de cisão, ou mesmo a

todos os processos de reduplicação da narrativa.

Coadjuvantes Verificamos a existência de um descompasso entre a

“seriedade” dos assuntos tratados pelos protagonistas –

o amor, o dinheiro, o interesse – e a desenvoltura com

que se movimentam os personagens secundários que

transitam entre o vício e a virtude.

Senhor Lemos: tio de Aurélia e seu tutor. “Velho de

pequena estatura, não muito gordo, mas rolho e bojudo

como um vaso chinês. Apesar de seu corpo rechonchudo,

tinha certa vivacidade buliçosa e saltitante que lhe dava

petulância de rapaz, e casava perfeitamente com seus

olhinhos de azougue.” Foi escolhido por Aurélia como

tutor porque a moça podia dominá-lo facilmente.

Dona Firmina: velha parenta, mãe de encomenda de

Aurélia que lhe irá fazer companhia quando a moça fica

rica. É uma espécie de guardiã formal das virtudes da

heroína.

Dona Emília: viúva, mãe de Aurélia. Mulher honesta e

séria, que amargou imenso sofrimento por causa de seu

amor por Pedro Camargo. A história da mãe de Aurélia é

trágica e exemplarmente romântica: quando moça,

apaixonara-se por um estudante, Pedro de Souza

Camargo, filho ilegítimo de um rico fazendeiro, que por

não ter sido oficialmente reconhecido pelo pai é recusado

como pretendente de Emília. Ela, então, abandona a

família e secretamente casa-se com Pedro. Passa a ser

considerada morta por seus parentes, que ignoravam a

união.

Pedro Camargo: pai de Aurélia, filho natural de um rico

fazendeiro do interior de São Paulo, por quem nutria

grande medo. Pedro era fraco e não foi capaz de relatar

ao pai que se casara. Vivem, então, os esposos, separados

e marginalizados por doze anos, recebendo Emília

eventualmente visita de Pedro, a quem tudo perdoava

pelo amor e com quem teve dois filhos.

Emílio Camargo: irmão de Aurélia. Frágil e pouco

desenvolto para o trabalho, de espírito “curto e tardio” e

irresoluto como o pai, consegue a profissão de caixeiro de

um corretor de fundos. No entanto, é Aurélia, viva e

inteligente, quem trabalha por ele.

Lourenço Camargo: avô de Aurélia. Pai de Pedro. Homem

duro e rústico, mas que procura ser justo depois que

descobre a existência do casamento do filho.

Parece haver algo que destoa entre a construção dos

personagens principais e as secundárias. Os primeiros

parecem ter um cunho universalista, cosmopolita; já os

segundos, seguindo uma lógica local, revelam-se

diferentes, expressando sua degradação transformada

em “coisas da vida”.

O estudo a respeito de Senhora culmina com a reflexão

sobre uma cultura como a brasileira, que não só copia as

novas feições da arte europeia como também as copia

segundo a maneira europeia, o que produz as

dissonâncias que verificamos entre o “modelo europeu” e

a “cor local”. Tais dissonâncias vão construindo elementos

que nos permitem compreender a dialética do

cosmopolitismo e do localismo – de que Senhora, de José

de Alencar, constitui precioso documento histórico e

artístico. • Para sala: 14 e 15

A NARRATIVA

Foco narrativo O romance é narrado em terceira pessoa por um

narrador-onisciente, ou seja, que tudo sabe sobre as

personagens, penetrando em seus pensamentos e em sua

alma. Esse narrador é também intruso, já que interfere

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

em vários momentos, apresentando-se ao leitor. A

técnica narrativa empregada por Alencar em Senhora é

sem dúvida bem moderna, se tomarmos como base suas

obras anteriores, já que o autor utiliza digressões.

Com esse recurso, podemos perceber a preocupação com

a psicologia dos personagens e também a mistura do

romanesco e da realidade, que fazem desta obra um

exemplo de literatura romântica na qual se procura

imprimir certos traços realistas.

Esses traços, assim como o estilo mais denso de alguns

romances urbanos de José de Alencar, especialmente

Lucíola e Senhora, revelam a influência de Balzac, o

mestre do realismo francês.

O narrador conhece inteiramente o interno e o externo

dos personagens, cujas vidas nos apresenta como algo

pretérito em relação ao tempo no qual está narrando ou

escrevendo. O livro é precedido de uma nota intitulada

“Ao Leitor”, na qual José de Alencar explica que a história

fora contada a um terceiro pelos protagonistas do drama.

Segundo a nota, Alencar seria apenas o “editor” do

romance. Nesse trabalho de edição, corrigiu “a forma” e

deu “um lavor literário”:

Este livro, como os dois que o precederam, não são da

própria lavra do escritor, a quem geralmente os

atribuem.

A história é verdadeira; e a narração vem de pessoa

que recebeu diretamente, em circunstâncias que

ignoro, a confidência dos principais atores deste

drama curioso.

O suposto autor não passa rigorosamente de editor. É

certo que tomando a si o encargo de corrigir a forma e

dar-lhe um lavor literário, de algum modo apropria-se

não a obra, mas o livro.

Em Senhora, a transformação da fábula em relato

denuncia a presença de um narrador como intérprete

privilegiado. Sua onisciência é revelada sempre que o

andamento dos fatos a exige. Deste modo, podemos

confirmá-la quando, no capítulo VI da primeira parte, por

exemplo, conta com detalhes a vida passada e presente

de Seixas e sua família, informando-nos das motivações

que poderiam justificar os procedimentos levianos do

rapaz. Da mesma forma também é narrada a vida de

Aurélia e sua família na parte que antecede o

conhecimento de Seixas e a chegada da herança do avô.

Ou seja, voltando às evidências da nota, Alencar adverte

ao leitor que, mesmo ele não podendo assegurar a

procedência das circunstâncias em que o relato fora

contado e nem a quem fora, a obra é verdadeira, o drama

já estava pronto, ele apenas edita de maneira que fique

ainda mais literário, por isso seu trabalho é em relação ao

livro e, portanto, coloca-se como mero editor. O narrador,

José de Alencar, será a mediação entre o leitor e a história.

Observe que Aurélia Camargo, a protagonista do

romance, é idealizada como uma rainha, como uma

heroína romântica, pelo narrador, “de régia fronte,

coroada do diadema de cabelos castanhos, de formosas

espáduas”. A personagem, no entanto, é ao mesmo

tempo fada encantada e ninfa das chamas, lasciva

salamandra. Ao estereótipo da “mulher-anjo” romântica,

o narrador acrescenta, assim, um elemento demoníaco

que, em vez de explicitar, deixa sugerido. A contradição

entre o anjo e o demônio constitui um elemento de

grande importância neste romance. Numa cena o

narrador descreve o comodismo, a indolência, a postura

aristocrática de Fernando Seixas. Também através de

detalhes, de elementos exteriores, vai se configurando o

perfil deste personagem, modesto na condição, mas fino

no trato, nos gostos e nos hábitos.

Ainda sobre o narrador, cabe acrescentar, à sua posição

de observador, o fato de recair sobre Aurélia Camargo – a

heroína do romance – o seu ponto de vista. A protagonista

centraliza, assim, a temática e a construção do romance,

no qual tanto os conflitos vividos pelos personagens

quanto a preocupação de desnudar-lhes o caráter

constituem, como dissemos, elementos realistas que

serão combinados com elementos românticos.

Tempo e espaço da narrativa

O tempo da narrativa é cronológico, tomando como base

o século XIX, durante o Segundo Império. Entretanto, não

há linearidade. Nesse sentido, podemos indicar a forma

como a narrativa é contada, já que o passado corresponde

à segunda parte, “Quitação”, e o presente é bem marcado

já logo no primeiro capítulo, “Preço”.

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

O passado se associa com a “cor local”, na medida em que

nele predomina a pobreza de Aurélia, o aspecto

provincial, o acanhamento e a “brutalidade” singela.

Quanto ao presente, podemos relacioná-lo com o lado

cosmopolita, refinado e europeu do romance, cujo

cenário (espaço) é a Corte e as festas da burguesia

fluminense em formação, que o autor descreve

criticamente, por sua submissão aos costumes

estrangeiros e às relações de interesse que envolvem esse

ambiente.

ENREDO

Os títulos das quatro partes em que se divide o romance

– “O preço”, “Quitação”, “Posse” e “O Resgate” –

anunciam a problemática da contradição entre o dinheiro

e o amor desenvolvida no enredo, na medida em que

constituem palavras relacionadas às fases de uma

transação comercial.

Aurélia surge na história como um astro, rica e formosa.

Mora num palacete em Laranjeiras em companhia de uma

parenta afastada, D. Firmina Mascarenhas, e tem como

tutor o tio, Senhor Lemos. No entanto, é Aurélia quem

decide a sua vida: apesar de ter entre 18 anos, a moça é

senhora de si.

No desenrolar da história, ficamos sabendo que a riqueza

de Aurélia provém de uma herança milionária deixada por

seu avô fazendeiro. Movida por motivos revelados

somente em outro momento, a protagonista manda

propor a Fernando Seixas que ele se case com ela

mediante o dote de cem contos, quantia muito

significativa na época.

Ao descobrirmos o passado dos protagonistas,

compreendemos que Aurélia Camargo era uma moça

pobre e órfã de pai, que havia ficado noiva de Fernando

Seixas, rapaz de boa índole, mas desfibrado pelo desejo

de carreira fácil e brilhante. Fernando, em parte pelo fato

de ser pobre, em parte pela esperança de conseguir um

bom partido, abandona a noiva, que passa a crer que

todos os homens só se interessam por dinheiro.

A proposta de casamento mediante o dote de cem contos

é aceita por Seixas, que se encontrara envolvido em

dificuldades financeiras. Porém, na noite do casamento,

Aurélia, manifestando-lhe desprezo profundo, comunica-

lhe que deverão viver lado a lado, como estranhos,

embora unidos ante a opinião pública. Fernando

compreende o sentido da “compra” a que se sujeitara e

toma consciência de sua leviandade.

Numa espécie de longo duelo, marido e mulher se põem

à prova, até que Fernando consegue a soma necessária

para devolver o que recebera e propõe a separação.

Nesse meio tempo, seu caráter se forjara, enquanto a

dureza de Aurélia era abrandada. O desenlace é a

reconciliação de ambos, cujo amor havia crescido com a

experiência. • Para sala: 9, 11 e 13

ATIVIDADES

1. O livro Senhora, de José de Alencar, é uma

expressão do romantismo brasileiro, chamado também

de romance urbano. Aponte quais os elementos

fundamentais da obra que a fazem se enquadrar na escola

literária romântica.

2. Apesar de ser uma obra do romantismo, Senhora

já anunciava uma crítica típica do realismo. Descreva-a de

forma sucinta.

3. Sobre o romance Senhora, de José de Alencar,

aponte apenas as alternativas corretas:

I. Em Senhora, um homem vende-se a uma mulher,

com todas as formalidades comerciais – dinheiro,

documentação, assinatura e posse da mercadoria.

II. Representa a geração romântica indianista, tendo

como características principais a volta ao passado

histórico, o medievalismo, a criação do herói nacional e a

religiosidade.

III. Alguns ingredientes do romantismo que podem

ser apontados no romance Senhora são: personagens

idealizados e marcados por grande carga moral,

concepção do amor como a salvação da sociedade

corrompida pelo dinheiro e pelas relações de aparência.

IV. O livro Senhora origina-se das propostas

nacionalistas do movimento romântico, porque

apresenta uma tendência à representação da cultura

popular e propõe a volta às origens da nação brasileira.

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

V. Nesse romance, os protagonistas mantêm um

conflito ao longo da narrativa, revelando uma oposição

entre o mundo do amor e o do dinheiro. Com isso, a obra

traz marcas da sociedade burguesa brasileira em

formação.

a) I e III.

b) II e IV.

c) III e V.

d) I, III e V.

e) I, II e V.

4. Sobre a obra de José de Alencar, é CORRETO afirmar:

a) É romântica em seu início, como obras indianistas

como O guarani e Iracema, e realistas no final, como

Senhora e Sonhos d’oro.

b) Constitui um projeto nacionalista para a literatura

brasileira, passando por várias fases, como as lendas e

mitos da terra selvagem, períodos históricos marcantes,

as regiões do país e seus nativos, até chegar aos romances

urbanos.

c) É puramente romântica, nacionalista, e sua força

está na apropriação da tradição indígena e em

transformá-la em ficção.

d) É inspirada no romance balzaquiano, porém

critica com mais veemência a burguesia carioca em

ascensão.

e) A obra alencariana, poesia e prosa, funda o

romantismo no Brasil.

5. Alencar fora acusado por alguns críticos de

justapor o romance europeu às circunstâncias locais,

causando assim contradições internas à sua obra. Qual

era o contexto histórico em que estava inserido o

romance europeu, cujo realismo de Balzac é o principal

expoente?

6. Qual era o contexto histórico do Brasil e como é

descrita por Alencar a sociedade carioca da época?

7.

Quando a riqueza veio surpreendê-la, a ela que não

tinha mais com quem a partilhar, seu primeiro

pensamento foi que era uma arma. Deus lha enviava

para dar combate a essa sociedade corrompida, e

vingar os sentimentos nobres escarnecidos pela turba

dos agiotas.

Preparou-se pois para a luta, à qual talvez a impelisse

principalmente a ideia do casamento que veio a

realizar mais tarde. Quem sabe, se não era o

aviltamento de Fernando Seixas que ela punia com o

escárnio e a humilhação de todos os seus adoradores?

A partir da leitura do romance e de acordo com o

fragmento transcrito, indique apenas a alternativa

INCORRETA:

a) Existe um contraste entre a visão que Aurélia tem

da sociedade carioca e os princípios morais que ela

defende.

b) Aurélia, desiludida com a crueldade do mundo,

decide afastar-se do convívio social.

c) O dinheiro, para Aurélia, funciona como

instrumento de combate à torpeza de um meio social sem

valores éticos.

d) O texto prenuncia a mudança de atitude da

personagem, que se submete ao poder da fortuna.

e) O narrador, falando de Aurélia, antecipa fatos que

se concretizarão no futuro.

8. José de Alencar inicia seu livro com uma advertência

“Ao leitor”:

Este livro, como os dois que o precederam, não são da

própria lavra do escritor, a quem geralmente os

atribuem.

A história é verdadeira; e a narração vem de pessoa

que recebeu diretamente, e em circunstâncias que

ignoro, a confidência dos primeiros atores deste

drama curioso.

O suposto autor não passa rigorosamente de editor. É

certo que tomando a si o encargo de corrigir a forma

e dar-lhe um lavor literário, de algum modo apropria-

se não a obra, mas o livro.

Com base no trecho, responda as seguintes questões:

a) Quem era o escritor (pseudônimo) e quais eram

os livros que precederam o romance Senhora?

b) O que quer dizer o autor ao afirmar que “O

suposto autor não passa rigorosamente de editor”?

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

9. Sobre o autor e o foco narrativo do romance Senhora,

podemos afirmar que:

I. O autor é José de Alencar, que narra a história em

terceira pessoa.

II. Diz-se que a história foi contada por um terceiro,

que o autor desconhece, apenas afirmando sua

veracidade. O autor narra os acontecimentos de forma

onisciente. III. O narrador da história é desconhecido e

José de Alencar não passa de editor. Quais afirmativas

estão corretas?

a) I e II.

b) II e III.

c) Apenas I.

d) Apenas II.

e) Apenas III.

10. Qual é a relação entre a história de amor contada

por Alencar em Senhora e os títulos de cada capítulo de

seu livro: “Preço”, “Quitação”, “Posse” e “Resgate”.

11. Qual é o objetivo de Aurélia ao comprar Seixas

como marido?

12. Estabelecendo um paralelo com a sociedade de

hoje, em que valores como o dinheiro e a aparência são

tão importantes, quais analogias podemos fazer com o

romance de Alencar do século XIX?

13. Leia atentamente o trecho a seguir do livro

Senhora e responda qual alternativa está CORRETA: A

notícia do próximo casamento de Aurélia produziu na alta

sociedade fluminense grande assombro. Ninguém podia

capacitar-se de que essa moça, pretendida pela nata dos

noivos fluminenses, podendo escolher à vontade, entre os

seus inúmeros adoradores, maridos de toda a espécie,

tivesse o mau gosto de enxovalhar-se com um

escrivinhador de folhetins. O Alfredo Moreira, quando a

encontrou depois da novidade, não pôde esconder o

despeito:

– Então, casa-se?

– É verdade.

– Afinal achou; cotação muito alta sem dúvida?

replicou o elegante com ironia.

– Não, tornou-lhe a moça no mesmo tom. Ficou-me por

uma ninharia.

– Ah! Estimo muito. Que preço?

– Quer saber o preço?

– Estou curioso.– Foi o seu.

a) Aurélia costumava fazer a cotação de todos os

seus pretendentes sem que esses soubessem.

b) Aurélia pagou pelo escrevinhador 20 contos, o

mesmo que oferecera para Moreira.

c) Aurélia compra Seixas, que no passado a havia

desprezado por interesses pessoais.

d) Aurélia casa-se com Seixas para se vingar, mas

depois se arrepende e procura Moreira.

e) Aurélia amava Seixas, por isso não se importava

em ter que pagar por ele.

14. Que relação há entre o título do romance Senhora

e sua protagonista, Aurélia Camargo?

15. Que aspecto do romance Senhora é revelado pelo

personagem Lemos, cuja grande ciência da vida se

resumia em esperar a ocasião e aproveitá-la?

GABARITO

1. José de Alencar, autor de Senhora, é uma das maiores

expressões do romantismo brasileiro. O próprio estilo

da obra pode se enquadrar numa espécie de linguagem

romântica, representando um estilo vigoroso, elegante

e pomposo. Um ingrediente romântico evidenciado no

livro é, sem dúvida, o tema do amor, o amor idealizado,

capaz de renúncias, sacrifícios e heroísmo. O amor

como salvação. No romance de amor alencariano, o

amor é a salvação para as relações corrompidas pelo

dinheiro e mediadas pelas aparências. A idealização,

tipicamente romântica, ocorre também nas

personagens, sendo o maior exemplo disso a descrição

que o autor faz da protagonista Aurélia, em que sua

aparição se compara a um astro.

2. Os romances urbanos de Alencar, neste caso, Senhora,

têm como cenário a Corte, as grandes festas dos salões

fluminenses, ou seja, o Rio de Janeiro do Segundo

Reinado. O autor traça um perfil da burguesia carioca

em ascensão, seus costumes, suas vestimentas e,

principalmente, suas relações de interesse mediadas

pelo dinheiro e o mundo de aparência em que se

constrói. Essas características de seu romance

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

aproximam-se muito da crítica que será feita, com

ainda mais veemência, no realismo. Contrário à

sociedade mercantilizada que se instaurava, Alencar

não se enquadra na escola realista porque resolve de

forma idealizada e moralista as contradições entre

amor e dinheiro que são tematizadas em seu livro,

como pode ser evidenciado no confronto entre a trama

romântica da história e a divisão de seus capítulos, com

títulos completamente racionais, expressões das

relações capitalistas.

3. d

A afirmação I é correta porque o que de fato acontece no

romance é o tema da venda de um homem, Fernando

Seixas, a uma mulher, Aurélia, com as formalidades de

compra de uma mercadoria. O preço pago, o documento

com a assinatura dele comprovando sua aceitação do

contrato e a posse de Seixas como marido de Aurélia. A

afirmação III também está correta, pois apresenta as

características principais do romantismo que a obra traz.

E a afirmação V resume o conflito fundamental da obra, a

contradição entre amor e dinheiro e o perfil que se traça

da burguesia em ascensão.

4. b

Todas as alternativas contêm meias verdades, porém, só

a alternativa b consegue abarcar as características e os

tipos de romances alencarianos de forma mais geral. A

questão toca tanto em seu projeto nacionalista literário

como também dá conta dos tipos de romance que o

autor escreveu: indígena, histórico, regionalista e urbano.

5. As contradições apontadas, sobretudo por Schwarz, de

se importar o romance para o Brasil estão na

incongruência que podem causar as inspirações

balzaquianas de uma sociedade liberal, em que o

capitalismo já estava consolidado, em uma sociedade

como a brasileira, escravista, latifundiária, porém

dependente do mercado externo. Nesse sentido, o

contexto histórico europeu em que se inseriam os

romances de Balzac é marcado pela consolidação do

capitalismo e de uma sociedade liberal.

6. O Brasil do Segundo Reinado é agrário e recentemente

independente, era dividido em latifúndios, cuja

produção dependia, por um lado, do trabalho escravo

e, por outro, do mercado externo. O mercado externo

era o mundo capitalista, em que o raciocínio vigente era

o da burguesia que perseguia o lucro. Esse era um

princípio que fazia parte de nossa identidade. No

entanto, os ideais liberais defendidos nos países

europeus em que a burguesia nacional em ascensão

buscava inspiração defrontavam-se com as práticas do

escravismo.

De um modo geral, Alencar faz uma descrição minuciosa

das práticas de uma sociedade mercantilizada que se

instaurava no país. É possível identificar, através de

personagens como Lemos e toda a alta sociedade que

frequentava, as festas da Corte fluminense, os interesses

que guiavam suas ações. Mesmo Fernando Seixas é

movido pelos interesses do mundo burguês, apesar de ser

de origem humilde. Em seu romance, Alencar denuncia o

casamento por conveniência, prática comum naquela

época.

7. b

A alternativa b está incorreta porque Aurélia, mesmo que

desiludida com as relações mercantilizadas da sociedade,

não se afasta do convívio social. Ao contrário, surge na

alta sociedade com toda sua beleza e fortuna, exercendo

facilmente seu poder num mundo de aparência e em que

o dinheiro é rei.

8. a) O pseudônimo utilizado por José de Alencar em seus

dois livros predecedentes era G.M. e os títulos de suas

obras são Lucíola e Diva, constituindo o seu chamado

“perfis de mulher”.

b) O recurso de apontar que o autor não passa de mero

editor serve para reforçar o compromisso do autor com a

veracidade dos fatos narrados por outrem, estratégia

tipicamente romântica.

9. a

A alternativa a está correta porque corresponde à

primeira afirmação, que esclarece quem é o autor da obra

e seu foco narrativo. A segunda afirmação complementa

a interpretação do trecho em que clarifica que o autor não

conhece quem contou a história e aponta que quem é o

narrador é o próprio autor, que narra a história de modo

onisciente, ou seja, sabe de tudo que acontece na vida de

todos os personagens.

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

10. A relação que podemos estabelecer entre os títulos

dos capítulos do livro e a história de amor contada é a

de ambiguidade. Os títulos “Preço”, “Quitação”,

“Resgate” e “Posse” se referem a transações

mercantis de compra e venda de uma mercadoria.

Essa referência destoa completamente do amor

idealizado, de um romance de amor em que

esperaríamos, certamente, títulos relacionados aos

sentimentos e aconteci-mentos amorosos. Portanto,

essa seria a principal ambiguidade. No entanto, se

analisarmos o conjunto da obra, entenderemos essa

ambiguidade de forma ainda mais enraizada, já que

perpassa toda a história. Primeiro, sabemos que se

trata de uma história de amor. Porém, Aurélia compra

o marido com quem irá se casar. A venda de Fernando

a Aurélia contradiz o amor que sente por ela, e aqui

reside um confronto entre o amor e o dinheiro de que

precisa, seja para sobreviver, seja para manter as

aparências. É possível identificar a mesma relação

ambígua em Aurélia, que persegue seu ideal de amor

verdadeiro até o final, conseguindo reverter o caráter

de Fernando, porém utilizando-se do dinheiro para

exercer seu poder, vivendo ela mesma submetida a

ele, seja nas relações de aparência da alta sociedade,

seja para conseguir comprar seu marido.

11. Aurélia pretende demonstrar a Seixas as relações de

interesse e conveniência em que está envolvido,

tentando provar a ele, de maneira peculiar, que o

amor pode e deve ser mais forte que o dinheiro.

Existe, portanto, uma espécie de objetivo de

ensinamento/aprendizado, em que a personagem

parece se empenhar para conseguir reverter o caráter

do marido. O fato de Fernando ter-se vendido a

Aurélia escancara para ele mesmo o ridículo da

situação a que chegara por mera conve-niência.

Portanto, Aurélia, utilizando-se dos mecanismos da

própria sociedade que ela despreza, intenta criticar as

relações mercantis e salvar Fernando, com seu amor,

desse mundo vil.

12. Uma possível resposta seria da relação da sociedade

do espetáculo em que vivemos, em que a imagem e a

aparência de todas as coisas são tão importantes,

assim como todas as relações serem mediadas pelo

dinheiro. Nesse sentido, poderíamos dizer que a

crítica da sociedade mercantil que Alencar faz no

século XIX parece ter se exacerbado no século XXI. No

entanto, os ideais de amor cada vez mais são deixados

de lado, estabelecendo-se, assim, não mais um

casamento arranjado pelo tamanho do dote, mas um

cálculo bastante racional na hora de se viver junto a

alguém.

13. c

Todas as demais alternativas tentam confundir o aluno

com a referência a Alfredo Moreira, que aparece no

trecho transcrito. De qualquer forma, o aluno que leu o

livro sabe que Aurélia compra Fernando Seixas e que seu

interesse era apenas nele, por motivo particular do

passado dos dois e da esperança de que o amor dela

pudesse mudá-lo.

14. A relação é extremamente irônica. Embora fosse

pobre e desamparada até os 18 anos, Aurélia Camargo

repentinamente enriquece, herdando a fortuna de

seu avô. Torna-se, assim, uma senhora, cercada de

adoradores a quem despreza, como despreza o

dinheiro que possui. Em relação a Fernando Seixas, o

marido que compra com um dote de cem contos de

réis, Aurélia Camargo é senhora primeiro por exercer

o seu domínio sobre ele, por humilhá-lo, e, em um

sentido mais profundo, por conseguir transformar-lhe

o caráter, depurar-lhe a personalidade, até ele se

tornar digno de seu amor.

15. Lemos é um velho capitalista, interesseiro e obcecado

pelo dinheiro. Tutor e tio de Aurélia Camargo, ele

revela um aspecto fundamental do romance: a

contradição entre a “moralidade” de sua conduta,

extensiva à de outros personagens secundários, e a

“moralidade” da conduta das personagens principais.

Tal contradição pode ser interpretada como uma

consequência do “ajuste” entre a “a cor local”,

manifestada nos personagens secundários, e o

“modelo europeu”, percebido nos personagens

principais. Enquanto os primeiros vivem num universo

doméstico, sem julgamentos, nem condenações, os

segundos vivem a degradação humana causada pelo

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

dinheiro, que transforma as pessoas e seus

sentimentos em mercadorias.

GUIA DO PROFESSOR

Sabemos que existem diversos métodos de ensino-apren-

dizagem disponíveis em literatura especializada e que

esses métodos só trazem resultado positivo quando

combinam com o estilo, com o contexto e com as

necessidades do professor. Ao observar a prática do

professor em sala de aula, no entanto, é fácil perceber

que um método bem antigo e tradicional resistiu ao

tempo e ainda hoje se mostra bastante eficiente: o

método da aula expositiva. Segundo Regina Célia Haydt,

em seu livro Curso de Didática Geral (Ática, 2010), a aula

expositiva pode ser usada nas seguintes situações:

• quando há necessidade de transmitir informações

e conhecimentos seguindo uma estrutura lógica e com

economia de tempo;

• para introduzir um novo conteúdo, apresentando

e esclarecendo os conceitos básicos da unidade e dando

uma visão global do assunto;

• para fazer uma síntese do conteúdo abordado

numa unidade, dando uma visão globalizada e sintética do

assunto. A aula expositiva é um procedimento de ensino-

aprendizagem que está presente indistintamente em

todos os níveis de ensino e é um dos mais empregados

pelo professor em seu dia a dia nas salas de aula. Pela sua

manifesta presença no ambiente escolar, decidimos

apresentar a você, professor, uma pequena lista de

sugestões que pode ser útil em sua prática docente em

geral, e em particular, no trabalho com o conteúdo

apresentado aqui. Toda a lista foi retirada do livro citado

acima, de Regina Haydt.

Para que a aula expositiva atinja os objetivos para os quais

foi planejada e se desenrole de forma eficiente, sugere-se

que o professor:

a) Apresente inicialmente aos alunos o assunto que

vai ser abordado no decorrer da exposição e mostre suas

ligações com os temas já estudados e conhecidos.

b) Introduza o novo conteúdo partindo dos

conhecimentos e experiências anteriores, isto é, do que o

aluno já conhece e experienciou.

c) Estabeleça um clima adequado entre os

participantes e mantenha a atenção dos alunos,

relacionando o conteúdo apresentado aos objetivos,

interesses e motivos dos estudantes.

d) Seja objetivo e preciso na exposição e dê ao tema

um tratamento ordenado e lógico. Há várias formas de se

organizar o conteúdo de uma exposição:

• apresentar primeiro as ideias amplas e

abrangentes que servem de ponto de apoio ou de ponto

de ancoragem para as ideias mais específicas; em

seguida, expor as informações particulares, mostrando

sua relação com as ideias mais genéricas e com os

princípios gerais; • usar uma abordagem indutiva,

expondo primeiramente os fatos particulares e as

situações concretas, para depois apresentar os conceitos

e os princípios mais gerais e abrangentes a eles

relacionados;

• propor questões ou problemas, para depois

apresentar fatos, informações e argumentos para as

possíveis soluções.

e) Destaque e fixe as ideias mais importantes,

registrando-as no quadro de giz.

f) Dê exemplos esclarecedores relacionados à

vivência dos alunos.

g) Estimule a participação dos alunos e mantenha-os

em atitude reflexiva:

• fazendo perguntas para que eles respondam;

• dialogando com eles;

• propondo questões para debate;

• deixando que eles exponham suas dúvidas;

• esclarecendo as dúvidas;

• solicitando exemplos;

• pedindo para que os alunos apresentem conjecturas

sobre a continuação da explicação;

• ou pedindo para que façam oralmente uma breve

síntese do que foi até então exposto.

h) Use uma linguagem simples e coloquial e vá direto

ao assunto, de forma clara e objetiva, sem rodeios e

floreios.

Quando empregar uma palavra que você presuma que

seja desconhecida dos alunos, ou um termo científico,

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PROJETOS DE LEITURA

FOCO NO VESTIBULAR

explique o seu significado, para facilitar a compreensão do

assunto exposto.

i) Fale com desembaraço e entusiasmo,

pronunciando as palavras com clareza e variando o tom

de voz, os gestos e os movimentos. O professor Nérici, em

seu livro Didática Geral dinâmica, sugere, inclusive, que o

expositor dê “um certo colorido emocional à exposição,

mas sem exagero”.

j) Use humor quando achar oportuno, pois ajuda a

relaxar, prende a atenção e cria um clima descontraído.

k) Use, sempre que possível, para ilustrar a

explanação, recursos audiovisuais auxiliares, como o

quadro de giz, cartazes, gravuras, álbum seriado, quadros

murais, gráficos, mapas, retroprojetor, etc.

l) “Sinta” a classe, percebendo o grau de atenção

dos alunos através de suas reações, e verificando o seu

nível de compreensão por meio de perguntas sobre o

assunto exposto.

m) Intercale a exposição com exercícios de aplicação

do conteúdo apresentado, quando achar oportuno.

n) Ao concluir a explicação, enfatize as ideias básicas

e essenciais, sintetizando-as e sistematizando-as num

quadro sinótico, ou pedindo aos alunos para resumirem o

conteúdo transmitido.

Essas normas práticas poderão ajudar o professor a tornar

sua aula expositiva mais compreensível e interessante

para os alunos.

Dentre essas normas, duas em especial devem ser

destacadas:

1. uma é a necessidade de se relacionar as ideias

mais gerais e abrangentes do conteúdo, com as

informações particulares;

2. a outra é a necessidade de se estabelecer uma

ponte entre o que o estudante já sabe e aquilo que ele

precisa conhecer. Por isso, é importante mostrar as

semelhanças e as diferenças entre as novas ideias

contidas no conteúdo introduzido e os conceitos e

princípios previamente aprendidos e disponíveis na

estrutura cognitiva do aluno.