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il lsf edl uerJ :;: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitor NIVAL NUNES DE ALMEIDA I Vice-reitor RONALDO MARTINS LAURIA EDITORA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CONSELHO EDITORIAL Augusto Jose Mauricio Wanderley Cesar Benjamin Donaldo Bello de Souza Evanildo Bechara Francisco Manes Albanesi Filho Lucia Bastos (Presidente) PROJETOS DE PESQUISA E Maria Lucia Seidl de Moura Maria Cristina Ferreira edl uerJ Rio de Janeiro, 2005 .,:

Projetos de Pesquisa Elaboração, redação e apresentação - Maria Lucia Seidl de Moura-

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    edl uerJ

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    UNIVERSIDADE DO ESTADO

    DO RIO DE JANEIRO

    Reitor NIVAL NUNES DE ALMEIDA IVice-reitor RONALDO MARTINS LAURIA

    EDITORA DA UNIVERSIDADE DO

    ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    CONSELHO EDITORIAL

    Augusto Jose Mauricio Wanderley Cesar Benjamin Donaldo Bello de Souza Evanildo Bechara Francisco Manes Albanesi Filho Lucia Bastos (Presidente)

    PROJETOS DE PESQUISA

    ELABORA~AO, REDA~AO E APRESENTA~AO

    Maria Lucia Seidl de Moura

    Maria Cristina Ferreira

    edl uerJ Rio de Janeiro, 2005

    .,:

  • 1:

    Copyright 2005, Maria Lucia Seidl de Moura e Maria Cristina Ferreira

    Todos os direitos desta edic;ao reservados aEditora da Universidade do Estado do Rio

    de Janeiro. Eproibida a duplicac;ao ou reproduc;ao deste volume, ou de parte do mesmo,

    sob quaisquer meios, sem autorizac;ao expressa da editora.

    EduERJ

    Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Ao Flavio, amor de vida inteira..

    Rua Sao Francisco Xavier, 524, Maracana

    CEP 20550 01,3 I Rio de Janeiro I RJ

    Tel. I Fax: (21) 2587 7788 I 25877789 MARIA LUCIA SEIDL DE MOURA www2.uerj.br/eduerj I [email protected]

    Editora Executiva LIJcIA BASTOS Assessoria de Comunicac;ao SANDRA GALVAO AFernanda e ao Rafael, minhas Coordenador de Publicac;oes RENATO CASIMIRO mais importantes realizafoes. Coordenador de Revisao FABIO FLORA Revisao PRISCILA BEZERRA DE MENEZES

    SABRINA PRIMO NUNES MARIA CRISTINA FERREIRA Coordenadora de Produc;ao ROSANIA ROLINS Assessoria de Produc;ao LUCIA MAlA Projeto GraJico ANDERSON LEAL Capa HELOISA FORTES Apoio Administrativo MARIA FATIMA DE MATTOS

    ROSANE LIMA

    CATALOGA~AO NA FONTE

    UERJ I RED!! SIRIUS I NPROTEC

    M929 Moura, Maria Lucia Seidl de. Projetos de pesquisa: elaborac;ao, redac;ao e apresentac;ao I Maria Lucia

    Seidl de Moura, Maria Cristina Ferreira. - Rio de Janeiro: EduERJ, 2005. 144 p.

    ISBN 85-7511-088-8

    1. Pesquisa - Metodologia. 2. Projetos de pesquisa. I. Ferreira, Maria " Cristina. II. Titulo.

    CDU 001.891

    III

  • III

    AGRADECIMENTOS

    Aprofessora Eva Nick, pelo exemplo e por tudo 0 que me ensinou sobre pesquisa e aml.lise de dados.

    A Daniel Seidl, filho querido e revisor competente, com quem venho aprendendo a escrever melhor, por seu trabalho dedicado neste livro.

    Aos professores Aroldo Rodrigues e Celso Pereira de Sa, por me acolherem em momenta dificil de minha vida profissional, abrindo novas portas quando algumas se fechavam.

    MARIA LUCIA SEIDL DE MOURA

    Ao professor Franco Lo Presti Semim!rio, grande e estimado mestre, pelos ensinamentos que alicer.;aram minha trajet6ria profissional.

    Ao professor Aroldo Rodrigues, exemplo de competencia e profissionalismo que tern norte ado toda a minha vida academica.

    MARIA CRISTINA FERREIRA

  • SUM ARlO

    PREFACIO 11

    APRESENTAC;XO 13

    PARTE I ELABORAC;XO DE PROJETOS DE PESQUISA 17

    CAPfTULO 1 DECISOES PRELIMINARES 19

    Escolha do tema 19

    Preparac;ao: consulta aliteratura 23 :: Revisao da literatura 34

    Definic;ao do problema, identificac;ao das questoes

    Definic;ao de conc:eitos, constructos,

    de pesquisa e formulac;ao de hipoteses 37

    variaveis e indicadores 44

    CAPfTULO 2 DEFINH;XO DA METODOLOGIA 49

    Definic;ao dos participantes 49

    Escolha da hknica de coleta de dados 54

    Definic;ao da h~cnica de analise de dados 79

  • :

    PARTE II

    CAPITULO 3

    PARTE III

    CAPITULO 4

    ANEXO 1

    ANEXO 2

    AN.EXO 3

    ANEXO 4

    ANEXO ;;

    '\

    REDA~AO DE PROJETOS 89

    REDA~AO DE PRO]ETOS 91 A reda~ao doprojeto 91 Reda~ao dos itens de projetos

    Observa~oes finais 102 93

    APRESENTA~AO DE PROJETOS 103

    APRESENTA~AO DE PRO]ETOS 105 Normas gerais de apresenta~ao de projetos escritos 105 Prepara~ao de apresenta~oes orais de projetos Preparac;ao de projetos para submeter a comites de etica 111

    108

    CONSIDERA~OES FINAlS 113 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 115

    PORTAL DE PERIODICOS DA CAPES 119 EXEMPLOS DE FOLHAS INICIAIS DE PRO]ETOS RESOLU

  • discussao sistematicas de todos eles. E isto, de forma seqiiencialmente hierarquizada, sem "idas e vindas" - nas quais 0 pesquisador iniciante pudesse trope~ar - e sem lacunas. Quando algum aspecto tE~cnico foge ao escopo do livro, nao e omitido ou escamoteado, 0 que configuraria uma lacuna; e devidamente identificado, sendo 0 l~itor remetido a outros textos cuja competencia na questao as autoras avalizam.

    Finalmente, 0 livro nao e uma receita que graduandos, mestrandos e doutorandos possam seguir, sem pensar muito, para terem seus projetos enquadrados nas "exigencias da academia". 0 texto mostra que a todo momenta 0 pesquisador, seja ele iniciante ou senior, tern de tomar decis5es. Tambem mostra que do adequado embasamento destas depende a qualidade do produto final. A defini~ao dos objetivos da pesquisa, a escolha da fundamenta~ao te6rica e 0 recorte metodol6gico - cujo conjunto interdependente e articulado chamei, em outra parte, de "constru~ao do objeto de pesquisa" - resultam necessariamente de processos decis6rios conscientes por parte do estudante e, como bern ressaltam as autoras, de seu orientador.

    Falando em nome dos orientadores em psicologia - e tambem arriscando faze-Io pelos de areas afins -, ratifico que este livro representa, no que se refere a sua simplicidade e despretensao, uma contribui~ao das mais importantes ao desenvolvimento da pesquisa e da p6s-gradua~ao brasileiras, pois efetivamente se dirige aqueles que em breve serao por isso responsaveis.

    Entretanto, sei bern que, ainda estudantes, eles nao costumam ler prefacios. No presentecaso, fazem muito bern. Exorto, desse modo, que vaG logo ao que lhes deve interessar, e muito, nas pr6ximas paginas. Aproveitem a leitura. Etudo 0 que seus orientadores esperam.

    CELSO PEREIRA DE SA

    APRESENTA

  • III

    que nao epossivel dar nenhuma instrUl;ao formal de como fazer pesquisa. Reconhecidamente, 0 treinamento ern pesquisa deve ser basicamente autotreinamento, de preferencia corn a orienta~ao de urn cientista experiente ern lidarcom a investiga

  • 'r"P":-:'

    algo mais. Lembro-me, a prop6sito, das dramatis personae na hist6ria dos que desvendaram a estrutura do DNA. Seria efetivamente dificil imaginar um grupo de pessoas Hio diferentes umas das outras, no que se refere aorigem e educa~ao, conduta, voca~ao, aparencia, estilo e prop6sitos, quanta James Watson, Francis Crick, Lawrence Bragg, Rosalind Franklin e Linus Pauling.

    Como podem verI voces poderao ser cientistas de varios tip os, mas uma das primeiras compeh~ncias que deverao ter e a de planejar uma pesquisa, elaborar e redigir urn projeto, que sera avaliado em alguma institui~ao academica ou de fomento. Ajudar 0 desenrolar desse processo e urn dos objetivos desta obra.

    Este livro est a organizado em tres partes. A primeira trata da elabora~ao de projetos, em dois capitulos: "Decis5es preliminares", em que sao apresentados temas como buscas bibliograficas, revisao da literatura, defini~ao do problema, formula~ao de hip6teses e defini~ao de conceitos, constructos, indicadores e variaveis; e "Defini~ao da metodologia", em que sao abordadas a defini~ao da amostra ou grupo de participantes, a escolha das tecnicas de coleta de dados e a defini~ao do Upo de analise dos mesmos. A segunda parte do livro ededicada a reda~o de projetos, tematizando a atividade em si e seus diversos itens. A terceira, por sua vez, discute a apresenta~ao de projetos - tanto oral quanto escrita - a comites de etica. as varios capitulos trazem inumeros exemplos. Quando esses exemplos sao retirados deprojetos, a fonte e indicada. Finalmente, sao incluidas breves considera~5es finais, as referencias bibliograficas e os anexos.

    "

    PARTE I .11.

    ELABORA~AO DE ~'~i ]] I.'

    PROJETOS DE PESQUISA

    :;

    16

  • CAPITULO 1

    DECISOES PRELIMINARES

    ESCOLHA DO TEMA

    Um pesquisador eum estudante por toda a vida, e sua prepara~ao para realizar pesquisas eum trabalho que nunca termina. Pode iniciar-se na

    '\, gradua~ao ou mesmo antes, como foi 0 caso de J. Piaget, que publicou seu primeiro trabalho cientifico aos onze anos de idade.

    Alguns tem a oportunidade de participar de grupos de pesquisa na gradua~ao. Nessa experiencia, podem come~ar a descobrir os temas pelos quais se interessam. Da mesma forma, alguns cursos de gradua~ao exigem a apresenta~ao de um trabalho final a monografia. Na realiza~ao dessa monografia, pode estar (ou nao) sendo inaugurada uma carreira de pesquisador. Isto pode, por vezes, dar-se mais tarde, na realiza~ao de um curso de mestrado, ou somente no doutorado, quando oficialmente se considera que efetivamente ocorre. 56 com 0 titulo de doutor, por exemplo, come~a-se a ter acesso a bolsas espedficas de pesquisador do CNPq.

    De qualquer maneira, 0 processo se inicia com a escolha de um tema e a formula~ao de perguntas. 0 que me interessa? 0 que me instiga? De tudo 0 que venho lendo e estudando, em que tenho vontade de me aprofundar e pesquisar? Estas sao as primeiras questoes, que s6 podem surgir por meio de leituras e estudos. Nao hci possibilidade de destacar temas para estudo se nao ha estudo de temas. Isto parece bastante 6bvio, mas muitas vezes os estudantes apresentam dificuldades nesse ponto, pois lhes faltou interesse ou aprofundamento em quaisquer dos temas com os quais tiveram contato na gradua~ao. Para a elabora~ao de urn bom projeto de monografia num semestre, enecessario ter tido tempo antes para se interessar e refletir sobre temas e questoes. Da mesma forma, a rea1iza~ao de um projeto de mestrado em doze meses, ou de doutorado em dois anos, exige que algumas escolhas tenham sido feitas antes do

  • ingresso numa pos-gradua~ao. Essas escolhas devem ser produto de estudos ja realizados.

    Para come~ar, no caso da monografia, e possivel fazer uma analise em termos de subareas da psicologia. Preferendas se delineiam por psicologia do desenvolvimento, social ou clinica, as vezes influenciadas por urn ou mais professores com os quais se estabeleceu urn born vinculo e que despertaram urn interesse mais acentuado por uma dessas subareas. Uma oportunidade especialmente propicia para ~avorecer a escolha e, como foi dito, a participa~ao em projetos de pesquisa como bolsista de

    inicia~ao cientifica. Tal participa~ao tern como objetivo ir alem da mera escolha de temas de interesse, propiciando uma verdadeira capacita~ao para a atividade de pesquisa.

    Imaginando urn aluno que nao teve essa oportunidade e dividindo a analise de preferencia por subareas, da-se urn primeiro nivel de escolha. Escolhida a psicologia social, por exemplo, 0 que parece particularmente interessante? A questao de diferen~as de genero? De preconceitos e estereotipos? As representa~oes sociais? A influencia social? A partir das primeiras leituras que despertaram 0 interesse, erecomendavel procurar livros basicos e manuais e ler sobre as principais questoes relacionadas aos temas, para tomar contato com teorias e autores.

    A escolha de temas esta ligada diretamente a teorias. Os temas so existem orientados teoricamente. Muitas vezes, destacar urn tema para pesquisar e selecionar as teorias com as quais se vai trabalhar, como no caso do estudo derepresenta~oes sociais ou sistemas de cren~as. Em outros, como 0 desenvolvimento cognitivo, existe mais de uma teoria, e 0 vies te6rico a ser adotado e tambem produto de uma escolha. Nem sempre, no entanto, 0 caminho e linear. Escolhe-se urn tema especifico sem conhecer as teorias que tent am explica-Io. Por exemplo, a rela~ao entre 0 aumento de agressividade em crian~as e a televisao. As teorias de agressividade sao multiplas, e a forma de abordar 0 assunto vai de pender de algum conhecimento sobre essas teorias e da op~ao por uma delas.

    Uma maneira de buscar temas que possam motivar a investiga~ao e examinar numeros recentes de peri6dicos das areas de interesse. Apesar do desenvolvimento de ferramentas de busca, a serem discutidas posteriormente, a visita a bibliotecas ainda e muito importante. Folhear peri6dicos cientfficos ou seus sumarios pode dar uma no~ao do que (e

    por quem) esta sendo publicado e trazer ideias sobre temas diversos. Esse tipo de atividade nao deve ser iniciado somente quando se necessita desenvolver urn projeto. Faz parte da rotina de urn pesquisador e e fundamental para que ele possa manter-se atualizado.

    Na rea1iza~ao de projetos de disserta~oes e teses, muitas vezes ja existe uma preferencia por determinados temas, em geral desenvolvida des de a gradua~ao. Freqiientemente, ha uma inc1ina~o para est a ou aquela abordagem teorica, a fim de orientar a investiga~ao. Os cursos variam em suas exigencias. Alguns demandam urn anteprojeto para a sele

  • III

    \omo tal; ele tern 0 sentido'de exerdcio e de ritual de iniciac;ao; nao constitui uma contribuic;ao significativa aoconhecimento da area, por mais que isto seja dificil de aceitar. No caso do doutorado, embora 0 grau de complexidade esperado seja maior, ainda assim trata-se de urn trabalho que inaugura formalmente a carreira de pesquisador, e nao e possivel, nesse momento, a nao ser em casos raros da historia da ciencia (por exemplo, a tese de N. Chomsky), ter algum tipo de impacto.

    Nessa etapa, assim como nas demais, 0 papel do(a) orientador(a)l e de extrema importancia. A partir de sua experiencia, ele e capaz de sugerir temas pelos quais 0 aluno pode se interessar e1indicar leituras para urn contato inicial. Alem dis so, adverte para os problemas de escolhas que podem levar a dificuldades por vezes intransponiveis e a becos sem saida, ou arealizac;ao de trabalhos de grande pretensao, mas que pouco contribuem para 0 desenvolvimento de quem os executa.

    Cabe aqui urn pequeno desvio no tema para falar de urn aspecto fundamental para 0 sucesso do planejamento de urn born projeto nessa etapa da carreira: a escolha do orientador. Os estilos de orientar trabalhos cientificos de alunos de graduac;ao ou pos sao muito variados, dos mais diretivos aos que deixam 0 aluno fazer sozinho suas escolhas. Todos podem ser adequados conforme as caracteristicas do aluno e do professor. 0 que e indispensavel, no entanto, e a experiencia do orientador no estudo e na pesquisa do tema ou da subarea escolhida. 0 estudante deve procurar conhecer as publicac;5es do professor, consultando seu curriculo LattesZ, se ele 0 tiver (do contrario, ja e urn sinal de que nao esta engajado como deveria na vida academica). Uma boa estrategia e escolher urn orientador ativo e produtivo, alguem que publica regularmente na area que investiga. 0 orientador, alem de seu papel obvio de acompanhar 0 trabalho academico, deve ser urn mentor de entrada na vida academica nacional e, algumas vezes, internacional. Alem da experiencia e produtividade, e preciso conversar, a fim de verificar a compatibilidade de

    Para nao cansar 0 leitor, a partir desse ponto sera usado 0 termo orientadOl; entendendo~se tanto os profess ores quanta as professoras que orientam a realiza~ao de projetos, e aluno, indicando ambos os generos.

    2 0 curriculo Lattes euma ferramenta do CNPq para apresenta~ao dos curriculos de pesquisadores brasileiros em todas as areas da ciencia. Estao disponiveis on-line e

    ser acessados por qualquer interessado.

    22.

    estilos e perspectivas. Duas pequenas historias ilustram a importancia dessa escolha, que e redproca.

    Uma aluna de mestrado no exterior tinha urn orientador com urn estilo nao diretivo. Para ele, orientar era quase uma atividade terapeutica (havia sido orientando de C. Rogers). As sess5es de orientac;ao dependiam da iniciativa da aluna. Ele se sentava em silencio, fumando seu cachimbo. Numa ocasiao, a aluna escolheu urn instrumento para usar no estudo e passou urn mes pesquisando a respeito. Ao final desse tempo, conduiu que nao era apropriado. Ao levar essa conclusao ao orientador, ele disse que ja sabia. Perplexa, a aluna perguntou por que a deixara estudar urn mes 0 instrumento; ele respondeu que ela precisava descobrir sozinha. Esta pode ser uma estrategia interessante, mas, com os prazos atuais de cursos de pos-graduac;ao no Brasil, talvez nao seja a mais eficiente. Alem disso, causou muito estresse aaluna.

    Outra hist6ria. Uma doutoranda escolheu urn tema para pesquisar, sem qualquer experiencia previa (nem teo rica nem empirica). Seu orientador recomendou que pas sasse urn mes no campo, observandoa atividade que pretendia investigar. Isto ainda nao era coleta de dados, mas urn estudo preliminar, uma especie de sensibilizac;ao, para que a aluna pudesse formular questoes mais pertinentes sobre 0 tema. Ao cabo de urn mes, a doutoranda voltou e oprofessor perguntou-Ihe como havia sido a experiencia. Ela, muito of end ida, respondeu que nao havia gostado e que "nao era atividade de uma doutoranda" ficar observando daquela maneira. A continuac;ao da conversa - na qual a aluna demonstrou 0 pouco valor que atribufa ao dadoempirico na ciencia -levou 0 professor a recomendar-Ihe a procura de urn novo orientador.

    Esses dois exemplos pretendem dizer 0 seguinte: as escolhas podem ser boas para a dupla, mas podem tambem nao ser. Caso isto ocorra, devem ser mudadas a tempo, nao quando resta apen(,\s urn mes para a defesa.

    PR.EPAR.A~AO: CONSULTA A LITER.ATUR.A

    o contato com a literatura, ou seja, com os trabalhos que vern sendo desenvolvidos numa area, subarea ou tern a, e de extrema importancia

    :

    23

  • em todas as eta pas de realizac;ao de urn projeto e, mesmo, na preparac;ao que 0 antecede. J a foi dito que a escolha do tema exige certa familiaridade com a literatura. Depois dessa escolha, a consult a aliteratura sera novamente fundamental.

    Para se preparar; urn pesquisador predsa acompanhar 0 desenvolvimento do conhecimento. Isto e 0 que pensaBeveridge (1957). Para tanto, diz ele, deve-se estar habituado a ler periodicos cientificos, da mesma forma que se leem diariamente os jornais. 0 autor aponta que a edic;ao de 1952 do World List ofScientific Periodicals listava mais de 50 mil periodicos. Por seus calculos, isso envolvia 0 equivalente a mais de 2 milhoes de artigos por ano, ou 40 mil por semana! Embora esses calculos inc1uam todas as areas do conhecimento, pode-se imaginar que, quarenta anos depois, mesmo considerando apenas a psicologia, so e possivel acompanhar uma pequena frac;ao do que se publica nas lfnguas em que se sabe ler. " Adair e Vohra (2003) confirmam essa suposic;ao apresentando numeros impressionantes. Segundo os autores, 0 numero de resumos publicados por algumas entidades de psicologia, como a American Psychological Association (APA), aumentou de 555 mil em 1957 para 3,7 milhoes em 1997. Os autores ainda citam Thorngate (1990), que estimou ha quase quinze anos que "0S psic610gos estavam publicando artigos num ritmo de cern por dia, mais ou menDs urn a cada quinze minutos" (p. 262).

    Como fazer para superar esse impasse? Epreciso saber analisar e selecionar. Mais uma vez, e fundamental a familiaridade com a area e a subarea nas quais se esta interessado. Urn pesquisador com experiencia, freqiientemente 0 proprio orientador, podera indicar as publicac;oes importantes e indispensaveis, alem de guiar a busca inicial. Esta e uma das razoes pela qual, como ja mencionado, e extremamente importante o processo de orientac;ao na realizac;ao de monografias, dissertac;oes ou teses. 0 orientador deve ser alguem que estuda ou pesquisa 0 tema escolhido pelo aluno. 56 assim pode efetuar algum tipo de indicac;ao com seguranc;a.

    Para a realizac;ao da busca, e recomendavel dirigir-se a bibliotecas. Epreciso identificar as melhores da cidade ou regiao. No Rio de Janeiro, infelizmente, as condic;oes das bibliotecas de psicologia, especialmente no que se refere adisponibilidade de periodicos especializados internacionais, nao sao ideais. Atualmente, as melhores sao a do Centro de

    Filosofia e Ciencias Humanas da UFRJ, no campus da Praia Vermelha, e a da puc. Encontram-se tambem ped6dicos e livros de areas Telacionadas nas bibliotecas do Instituto de Medicina Social da UERJ, do IUPERJ e do Instituto Fernandes Figueira. Fora do Rio, deve-se descobrir e explorar . as boas bibliotecas, como a do Instituto de Psicologia da usP.

    Localizadas as principais bibliotecas, a visita deve ser pIanejada. A meta pode ser uma explorac;ao inicial ou uma busca orientada por urn tern a pelo qual ja se comec;a a fazer uma opc;ao. Conforme 0 objetivo, a consulta aos catalogos e 0 pr6ximo passo. Eles podem ser organizados por assuntos ou autores. Geralmente, para os menos experientes, a consulta por assuntos e mais util nesse ponto do processo. Nem sempre 0 caminho e linear e direto. De acordo com 0 tema, epreciso explorar subtemas ou assuntos correlatos para se encontrar a literatura relevante.

    Na etapa de consulta aliteratura, sao uteis as dissertac;6es e teses, que muitas vezes fazem boas revisoes, assim como os artigos que tern como objetivo a revisao dos estudos sobre urn tema ou problema. Urn peri6dico em que esses artigos sao publicados e 0 Annual Review of Psychology. A revista American Psychologist tambem apresenta artigos que analisam criticamente temas relevantes e por vezes polemicos na psicologia contemporanea. Uma de suas sec;oes se dedica especificamente aanalise dessa natureza: a "Science Watch".

    Alem da busca por temas,e util consultar nas bibliotecas as listas de peri6dicos e localizar os que tratam do assunto ou os que foram i~dicados por pesquisadores consultados. 0 pr6ximopasso e a consulta a seus ultimos numeros, ou aos numeros de urn certo periodo, con forme 0 tipo de trabalho que se tern 'em mente realizar (por exemplo, os ultimos cinco ou dez anos). Finalmente, 0 exame do conteudo desses peri6dicos pode levar aselec;ao de trabalhos sobre 0 tema.

    Depois de localizados livros e artigos, e interessante proceder a uma selec;ao do que se vai retirar por emprestimo, ou do que se vai reproduzir em xerox, lembrando sempre as leis de direitos autorais e os limites para esse tipo de c6pia. Muitas vezes ja e adequado organizar o material em fichas, uma para sua referencia bibliografica, outra para o resumo tal como apresentado na revista, enriquecido de comentarios pessoais. Uma sugestao ecriar urn banco de dados no programa Access ou similar. 0 trabalho e 0 tempo despendidos na criac;ao de urn sistema

    25 24

    III

  • III

    conectivos "e", "ou", "nao". Em poucos segundos, aparece uma serieproprio de organiza~ao de material cOl1sultado serao compensados corn de sites em que foi encontrado 0 solicit ado, ern ordem de prioridade. menos dificuldade no momenta de reda~ao do projeto. As buscas podem ser feitas tanto na rede como em newsgroups, numParalelamente apesquisa manual nas bibliotecas por meio da condeterminado idioma ou em varios. Nem sempre os result~dos sao bons sulta de seus cah\logos, pode ser realizada uma busca eletronica em bases na primeira pesquisa, e refinamentos sao necessarios. Por exemplo: computadorizadas dedados. Algumas bibliotecas dispoem de assinaturas deseja-se pesquisar referencias sobre 0 usa de drogas por crian~as. Pordesses sistemas que armazenam enorme quantidade de informa~oes e intermedio do browser (Netscape ou Explorer), e feita a conexao corn que permitem ao uswirio ter acesso a arquivos de dados, fazendo buscas o Altavista (http://www.altavista.com) e sao procuradas as palavras por assunto, uma ou mais palavras-chave, autores ou publica

  • Plataforma Lattes - Base de dados criada pelocNPq para indexar toda a produc;ao de pesquisadores brasileiros que pos~uem curriculo no sistema Lattes. Nela, referendas de artigos, livros, dissertac;5es, teses e resumos de congresso, produzidos por pesquisadores em todas as areas da dencia, podem ser localizadas. 0 acesso se da em http://lattes.cnpq.br. Buscase por palavtaschave, eo resultado e uma lista de pesquisadores em cujos currfculos ha referendas a trabalhos sobre 0 tema, com links para os mesmos e para resumos do grupo de pesquisa a que pertencem, se for 0 caso; .

    SciE L 0 Brasil - Base de dados que oferece ferramenta de busca e acesso a artigos cientificos de alguns peri6dicos, como, por exemplo, Psicologia: Reflexao e Crftica (UFRGS), Estudos de Psicologia (UFRN) e Revista Brasileira de Psiquiatria. Pode ser acessada pela pagina ;P do CFP e pela Biblioteca Virtual de Psicologia. Seu enderec;o e http://www.scielo.br;

    Conselho Federal de Psicologia (CFP) - Per mite acesso aBiblioteca Virtual de Saude, aBiblioteca Virtual de Psicologia e, por meio desta, ao Sdelo e ao Index-Psi Peri6dicos e Livros, alem de outras bases de dados. Tambem da acesso a textos completos do peri6dico Psicologia: Ciencia e Profissiio. 0 enderec;o e http://www.po1.org.br;

    Biblioteca Virtual em Saude (BVS) - Resulta da parceria entre a Rede Nacional de Bibliotecas da Area de PSicologia, coordenada pelo Servic;o de Biblioteca e Documentac;ao (SBD) do Instituto de Psicologia da usp (IPUSP), 0 CFP e a Organizac;ao Pan-Americana da Saude - representada no Brasil pelo Centro Latino-Americano de Informac;ao em Ciencias da Saude (BIREME); Euma ampla base de literatura na area de saude, com acesso a outnls, tais como: MedLine, Lilacs e Adolec. Oenderec;o e http://www.bireme.br; Associa~iio Nacional de Pesquisa e P6s-Graduafiio em Psicologia (ANPEPP)

    - Contem informac;oes sobre grupos de trabalho, bancos de teses e dissertac;oes, f6runs de discussao, avaliac;ao de peri6dicos brasileiros de psicologia e links interessantes. 0 enderec;o e http://www.anpepp.org.br.

    Em relac;ao aliteratura internacional, os recursos abertos tambem existem:

    Education Resources Information Center (ERIC) - Emantido pelo Instituto de Ciencias da Educac;ao (IES), do Departamento de Educac;ao dos Estados Unidos. A base de dados e sobre educac;ao e inclui bibliografia desde 1966. 0 enderec;o ehttp://www.eric.ed.gov;

    MedLinelPubMed - PubMed e uma ferramenta de busca de artigos dentificos na area da saude e indexa, entre outros, mais de trezentos peri6dicos de psicologia e psiquiatria. Oferece Clcesso a informac;oes

    ~.' bibliograficas, inclusive da base MedLine. Edisponibilizada pelo sistema de recuperac;ao.Entre!z (Entrez retrieval system). Poi desenvolvida pelo Centro Nadonal para a Informac;ao de Biotecnologia (NCBI) na Livraria Nacional de Medicina (NML), localizada no Instituto N acional de Saude dos Estados Unidos. Entrez e urn sistema de busca e recuperac;ao usado para 0 PubMed e outros servic;os. Jii o LinkOut permite acesso a textos completos de artigos nos sites de peri6dicos. Vale a pena explorar com calma todos os recursos oferecidos em http://www.ncbLnlm.nih.gov/entrez;

    Findarticles - Euma base em que se pode encontrar literatura internacional com texto completo em diversas areas, inclusive em psicologia. 0 acesso gratuito elimitado, mas pode-se adquirir livros e capitulos de interesse. 0 enderec;o eh1tp:/Iwww.findartic1es.com.

    Sabendo-se que informac;ao vale muito, pode-se imaginar que as ferramehtas mais poderosas de busca e as bases de informac;ao rna is abrangentes sao de acesso restrito, ou seja, apenas para os que pagam. Felizmente, os estudantes e profess ores de muitas instituic;oes brasileiras de ensino superior tern acesso a elas pelo portal de peri6dicos da CAPES, importante iniciativa do Ministerio da Educac;ao. A pagina pode ser acessada nas instituic;oes autorizadas por meio do endereC;o http://www.capes.gov.br. ou diretamente na pagina http://www.periodlicos:capes.gov.br.

    o anexo 1 oferece mais informac;5es sobre 0 portal da CAPES e seu uso. Entre algumas das bases de dados disponiveis, estao:

    Assia Plus Contem resumos de trabalhos publicados sobre ciencia~ sociais a partir de 1987;

    Dissertation Abstracts - Traz mais de 1 milhao de referencias, com resumos

    29 28

    III

  • de teses defendidas desde 1980 e disserta
  • se 0 projeto se situa na area de representat;5es sociais, e a leitura de urn pesquisador iniciante focaliza apenas estudos orientados pela teoria de S. Moscovici, nao se tomara conhecimento de debates importantes na area de representa.;5es sociais ena de psicologia social como urn todo. Pode-se mesmo ficar com a falsa ideia de consenso, 0 que nao existe.

    A consulta aliteratura deve incluir estudos te6ricos e investiga.;5es empiricas. Muitas vezes, no exame das investiga.;5es, identifica-se mais de uma abordagem te6rica e vai-seaos autores citados para maior aprofundamento. Oaf, volta-se ao exame das investiga.;5es feitas, contrastando os estudos com as explica.;5es te6ricas. Urn exemplo pode ser observado no trabalho de A. Ribas em seu projeto de tese e, posteriormente, na propria tese. Interessada em estudar responsividade materna, a autora realizou urn levantamento inicial sobre 0 tema:

    Uma investiga~ao realizada por Ribas, Seidl de Moura e Ribas (no prel03) forneceu um panorama das pesquisas que focalizam a responsividade materna. Tratou-se de um levantamento bibliognHico realizado atraves de buscas sistematicas em importantes bases de dados bibliograficos nacionais (Prossiga; cNPq/sBPc/Academia Brasileira de Ciencias, Index-Psi, Conselho Federal de Psicologia/puc-Campinas) e uma base internacional em psicologia (PsycInfo, da American Psychological Association) sobre 0 tema entre 1967 e 2001. Foram identificados registros de 231 artigos nas bases de dados internacionais e muito poucos registros (apenas quatro)nas bases nacionais.

    Tendo como base a pesquisa de Ribas, Seidl de Moura e Ribas (no prelo) e outras fontes, como Bornstein (1989) e outros, pode-se apresentar inicialmente um panorama tanto do conceito de responsividade como de algumas das muitas questoes relacionadas apesquisa sobre este tema (Ribas, 2002, pp. 14-S).

    o panorama mencionado indicou que muitos estudos nao apresentavam fundamenta.;ao teorica clara e que a principal teoria usada para tratar da responsividade era a do apego. Essa informa.;ao possibilitou a autora tomar decis5es e fazer escolhas teoricas e metodol6gicas.

    3 Este trabalho ja foi publicado: Ribas, Seidl de Moura e Ribas Jr. (2003).

    32

    Nesse ponto, se isto ainda nao foi feito, e importante come.;ar a pensar em desenvolver urn sistema para organizar 0 que esta sendo lido. Ha os que ainda resistem ao computador. Recomenda-se superar 0 problema, easo haja a inten.;ao de seguir a carreira docente e de pes&uisador. Enquanto isso, sistemas de organiza.;ao em fiehas podem funcionar. .EQ.ssibilidade eusar ficbas de tamanhos diferentes: uma para 0 resumo. do que esta senda lido, cpm comenblrios devidamente diferenciados do

    qu~esintese do textoj uma para dtakOes jnteressantes,-que, se nao forem ~adas 'luando lidas, nao serao facilmente recuperadas; e ~tra pa!!, ._.~s r~ferendag "PfbliogrMjcas

    Uma regra de aura: nao ler nada sem anotar a referencia bibliografica completa, ja no formato apropriado. Colocando as referencias em fieh~;~-' pade-se. selecionar com facilidade as que hverern sido e:fi!t1varnenLelISa:'"" " das n~--te~to:-na. r.e4a~~~ do prOjeto. AMm disSO, como esfao em-fithas separadas, elas podem s~r"4i~postas-em'oraemarfabeHca;" ~ ,","

    Para quem ja se apropri~~"do computadorcoriio ter"ramenta, as possibilidades se ampliam. t possivel organizar 0 :n;terial crianq-2 arquivos emWord ar ' " . sere arar os resumos dos textos lidos, or aniz U: ~~tiva mais sofisticada e eriar bancos de dados usando 0 utilitario Access. Cada urn pode experimentar e perceber a forma com a qual se sente mais confortavel.

    o metodo de organiza.;ao epessoal, porem, seja qual for, e fundamental para urn acesso eficiente aomaterial consultado e para sua utiliza.;ao em textos de natureza diversa. Se 0 metoda for eficaz, pode . aeompanhar 0 pesquisador em sua trajet6ria academica, permitindo a constru.;ao de urn acervo vaUoso. Uma das autoras deste livro criou urn sistema de fichas quando realizou seu mestrado. Tal sistema continuou a ser usado durante dezessete clTIOS, inclusive em seu doutorado. Ao se preparar para e,screver uma tese para concurso de professor titular, o acervo construido foi de inestimavel valor. Muitos livros e artigos classicos, lidos mais de uma decada antes, nao tiveram de ser relidos; estavam fichados, e a informa.;ao sobre eles pode ser facilmente recuperada e cHada.

    Outro aspecto importante no processo de consulta (e, posteriormente] de revisao) da literatura e 0 conhecimento de outras Hnguas.

    33

  • A necessidade varia de uma subarea da psicologia para outra. Em algumas, a literatura mais importante e a anglo-saxa, e e preciso desenvolver a capacidade de ler em ingles. Em outras, os trabalhos mais importantes sao em frances, e a proficienc~em leitura nessa lingua e fundamentql. o ideal seria dominar amb~asHnguas mais a alema, unico idiom a em que estao disponiveis iIIlPortantes trabalhos em psicologia, como a ob):'a Psicologia dos povos, d~ 'W. Wundt.

    Ebom levar emconta que ler constantemente e essencial para fazer pesquisa. No entanto, como afirma Medawar,

    d:)flh~imento livresco em demasia pode causar dana e confinamento it. imagina~ao. Mesmo porque a medita~ao incessante sobre a pesquisa alheia e, com freqiiencia, urn substituto psicol6gico da do mesmo modo que a leitura de ficc;ao cientifica pode estar no lugar do romance na vida real (1982, p. /\

    REVISAO DA LITERATURA

    A escolha de um tema exige que se tenha familiaridade com 0 que ja foi pesquisado a respeito. Frequentemente se observa que a escolha feita pelos alunos revela falta de conhecimento sobre 0 que ja foi estudado. As conseqiiencias sao graves. Podem levar tanto aincapacidade de delimitac;ao de urn problema que nao seja amplo demais ou vago quanta adificuldade de justificar a necessidade da pesquisa proposta, a selec;ao de hip6teses ja corroboradas ou rejeitadas e o-uso de tecnicas que a experiencia anterior revelou nao apropriadas. Em todos esses casos, a revisao da literatura realizada de forma adequada teria evitado tais problemas.

    Essa etapa da elaborac;ao de projetos e, em geral, a mais mal interpretada. Muitos estudantes a consideram uma exigencia arbitraria e burocratica, uma especie de obstaculo a ser superado para fazer 0 que e mais interessante: 0 pr6prio estudo, no qual vao dar sua contribuic;ao original e significativa. Como pensam assim, cumprem essa tarefa sem muito entusiasmo e sem a dedicac;ao que exige. Com isso, nao obtem resultados satisfat6rios.

    Nas monografias, nao se espera que a revisao seja exaustiva - atualmente, isto e imposslvel, dado 0 volume de publicac;oes. Nos projetos de dissertac;oes e, especialmente, de teses, ja e fundamental uma ampla revisao, 0 que, todavia, costuma ser feito de maneira automatica e burocratica, sem a compreensao de seus prop6sitos.

    Um efeito disso e a falta de visao mais ampla e crftica ou do panorama da area espedfica que se pretende investigar. Desse modo,. como sera discutido, observa-se a redac;ao de capitulos de revisao da literatura que consistem numa colagem nao articulada de resumos des conexos de artigos diversos, que foram identificados na revisao feita. Nao sao discutidos os textos levantados, nao e realizada uma analise dos mesmos e das implicac;oes de seus resultados para a teoria em que se ap6iam, nem sao discutidas as lacunas do conhecimento na area que justificam 0 estudo proposto. Ou seja, a revisao da literatura nao atinge seus objetivos. Outr~ equivoco comum e identificar alguns estudos na busca inicial realizada, selecionar os que ap6iam as hip6teses ou pressupostos do trabalho e usa-los como uma especie de argumento de autoridade para justificar 0 trabalho rea liz ado e/ou suas conclusoes.

    Quando urn tema e escolhido e a literatura, consultada, quando se comec;a a tomar contato com pesquisadores experientes na area e as primeiras ideias para um projeto de pesquisa sao esboc;adas, a primeira etapa do processo esta concluida. A partir desse momento, a revisao sistematica da literatura vai levar aselec;ao de um problema espedfico, ajudar em sua delimitac;ao, mostrar sua relac;ao com pesquisas realizadas anteriormente e colaborar na selec;ao de tecnicas para sua investigac;ao.

    Segundo Hitchcock e Hughes, a revisao de literatura

    amplia e refina 0 conhecimento existentei ajuda a definir e~"clarificar as quest6es da pesquisa; permite a identifica~ao de lacunas e de areas pouco exploradas; ajuda a esclarecer aspectos te6ricos, metodol6gicos e analiticos; permite a identifica~ao de debates atuais e controversias (1995, pp. 90 -1).

    Quando a revisao da literatura e feita de forma pouco adequada, urn ou mais desses objetivos podem nao ser atingidos. Observam-se todos os tipos de problemas: questoes vagas e nao definidas, repetic;ao

    34 35

  • nao justificada do que ja foi amplamente estudado, inconsistencia te6rica, inadequa
  • ..

    Enfim, num determinado instanter chega~se adefini~ao de urn problema de pesquisa a ser tratado no projeto. A consulta e a revisao sistematica da literatura, se bern orientadas, levam natural mente aidentifica~ao de urn problema especffico. Na tese, espera-se originalidade. Isto significa que 0 problema deve corresponder a uma lacuna no conhecimento da ~~~in~d1!D.Na ?is.s..~rtao processo de identifica~ao de problemas, como quase todas as etapas da pesquisa, na~ e linear e envolve urn questionamento constante, urn dicHogo interno do aluno-pesquisador e conversas com seus cole gas e 0 orientador. Dessa maneira, pode-se restringir urn foco por, demais amplo, esclarecer ideias vagas e confllsas, transformar impressoes em metas sistematizadas e abrir mao de alguns objetivos, mesmo que provisoriamente, para a realizac;ao de urn born trabalho.

    Algumas subetapas do processo de descoberta de questoes de pesquisa consistem em: escolher urn tema geral; discutir com 0 orientador e outros colegas; buscar a literatura e delinear 0 contexte geral do estudo desse tema e sua importancia na area; discutir com 0 orientador e outros professores que se dediquem ao estudo do tema; procurar outros pesquisadores, identificando-os na literatura (em buscas na base Lattes), assistindo a congressos ou examinando seus livros de anaisi identificar abordagens teoricas relevantes e seus pressupostos, estuda-Ias e optar por umafundamentac;ao para orientar 0 trabalho; realizar uma revisao mais sistematica da literatura, identificando tendencias, debates contemporaneos e controversias, influencias e preferencias metodologicas; refletir e discutir; identificar questoes de estudo, analisar sua complexidade e a viabilidade de estuda-Ias no tempo previsto; submete-Ias a pessoas mais experientes no estudo da area; refina-las e definir 0 problema a ser estudado e os objetivos ou hip6teses da pesquisa, segundo sua natureza.

    Pode-se dizer que a capacidade de identificar problemas de pesquisa ja e uma pista do provavel sucesso do pesquisador. Beveridge observa:

    o estudante com algum talento real para pesquisa geralmente nao tern dificuldade para encontrar urn problema adequado. Se no curso de seus estudos ele nao percebeu lacunas no conhecimento ou inconsistencias, ou nao desenvolveu algumas ideias proprias, nao promete muito como pesquisador (1957, p. 13).

    Percebe-se essa habilidade em alguns alunos desde a graduaC;ao. Em outros, ela parece nao estar presente mesmo durante 0 cursode doutorado, que e feito apenas para se conseguir urn titulo indispensavel na carreira academica.

    Medawar, em Conselho a urn jovern cientista (1982), parodiando os que consideraram politica a "arte do possivel", diz que a pesquisa e "a arte do soluvel'~ no sentido daquilo que e possivel estudar, do que e exeqiiivei. Assim, e importante avaliar a complexidade do problema identificado e a viabilidade de investiga-Io no tempo disponivel para realizar a monografia, a disserta~ao ou a tese. Nos tres casos, mesmo com as diferen~as esperadas, convem ter em mente a questao da viabilidade. Eborn come~ar com urn problema que tenha chance de sucesso e nao esteja aMm das capacidades tecnicas do pesquisador. Por exemplo, numa monografia, em que 0 tempo e reduzido, em geral com urn semestre para a elabora~ao do projeto e outr~ para a realizac;ao do estudo, talvez nao seja aconselhavel escolher urn problema que necessite ser investigado por urn complicado sistema de analise de observac;oes, com 0 qual 0 aluno pode ainda nao estar familiarizado.

    Hitchcock e Hughes (1995), comentando 0 trabalho de Light, Singer e Willett - By design: planning research on higher education - (1990, p. 82),

    \> apontam que 0 pesquisador deve ser capaz de fazer tres coisas importantes: "explicitar de forma clara uma questao de pesquisa qu,e sirva de base para 0 planejamento, entender sua liga~ao com a metodologia a ser empregada e aprender a partir do trabalho ja realizado por outros". Fazendo isto, sera capaz de realmente definir urn problema, especificar os aspectos envolvidos e formular as hipotesescomque vai trabalhar.

    Pessoa (2003, pp. 45-6), em seu projeto de mestrado, identificou uma lacuna na literatura e nela focalizou seu estudo, como pode ser visto no quadro 1:

    38 39

  • J A revisao da literatura Indicou que os diversos aspectos aqul discutidos t~m sldo investi gados, mas nao sao considerados de forma articulada. 0 esquema a seguir da uma Ideja dessas artlcula~oes.

    A linguagem pode ser estudada em tres dimensoes: sintaxe, pragmatlca e semantica. No ambito da pragmatica, 0 foco recal sobre a maneira como 0 falante utiliza os slgnos e faz uso dos enunclados. Considera-se 0 contexto no qual os signos s110 proferidos. vlsando a finalidades especificas e ao suJeito para quem 0 dlscurso foi dirigldo. No uso da pragmatlca, podem ser Identificados os aspectos culturais e socials internalizados pelas pessoas em intera(:ao social.

    Com Isso, 0 presente estudo ateve-se aos aspectos pragmaticos das sentenf;as emitidas pelas maes em contextos espedficos, pressupondo sua influEmcia no desenvolvimento /lngOistlco infanti!.

    A defini~ao do problema, ou a identifica~ao das questoes do trabalho, e 0 ponto de partida nas pesquisas de natureza qualitativa. Nesse caso, nao sao formuladas hipoteses a serem testadas, mas os objetivos e as questoes a que se tentara responder com a investiga~ao. Nos demais, apos determinar 0 que deve ser respondido pela pesquisa, enecessario elaborar uma predi

  • investigac;ao cientifica. Segundo Beveridge, a incapacidade de abandonar ideias estereis e caracteristica das mentes menos criativas. Vma segunda recomendac;ao e ter disciplina intelectual ao subordinar ideias a fatos; para isso, e necessario nao esquecer que as hipoteses nao sao fatosl mas meras suposic;oes. 0 autor sugere como estrategia a formulac;ao de hipoteses multiplas ou de uma sucessao de hipoteses. A terceira dica e nao acolher automaticamente qualquer conjectura que venha amente. Deve-se submete-la, mesmo sendo uma hipotese provisoria, a uma analise cuidadosa antes de aceita-Ia. Ainda conforme Beveridge, concepc;oes que se mostram erroneas devem ser abandonadas. Em sintese, adverte:

    Precisamos resistir atenta

  • DEFINIt;AO DE CONCEITOS,

    CONSTRUCTOS, VARIAVEIS E INDICADORES

    CONCEITOS, CONSTRUCTOS E INDICADORES

    a papel desempenhado pela teoria na elabora

  • Constructo: frustra~io Defini~ao operacional: fenomeno provocado pela situar;:ao de impedir um grupo de crianr;:as de ir ao patio na hora do recreio ap6s terem sido avisadas de que 0 recreio seria no patio.

    Constructo: esquiva de obstaculos Defini~ao operaclonal: fenomeno provocado pela situar;:ao de solicitar a pessoas cegas que andem numa sala com biombos colocados para servir de obstaculos.

    Constructo: agressio Definir;:ao operacional: numero de socas e pontapes que uma crianr;:a da em outra, da

    equipe adversaria, durante um jogo entre dois times.

    Indicadores: socos e pontapes.

    Constructo: inteligencia ,. Definir;:ao operacional: numero de respostas corretas obtidas no teste de Raven.

    Indicador: respostas dadas ao teste.

    Assim, 0 genero, por exemplo, e uma varhlvel qualitativa que apresenta dois atributos (masculino e feminino), enquanto 0 estado civil abarca as categorias solteiro, casado, divorciado e viuvo. Ja a renda familiar consiste numa variavel quantitativa cujos valores oscilam entre zero e milh5es de reais, ao passo que os resultados num teste de inteligencia apresentam valores de zero ao numero maximo de pontos possivel de ser obtido no teste (escore 50 num teste de cinquenta quest5es). Outros exemplos de variaveis sao apresentados a seguir:

    Variaveis Afiliar;:ao religiosa Cor dos olhos Metodo de ensino Altura Atitude InteligenCia

    (:Iassifica~o quanto a natureza Qualitativa Qualitativa Qualitativa Quantitativa Quantitativa Quantitativa

    Nas pesquisas voltadas ainvestiga~ao de rela~5es de causa e efeito entre variaveis (pesquisas experimentais), e feita a distinc;ao entre tres variaveis (independentes, dependentes e extrinsecas), em fun~ao do

    46

    papel que desempenham na investigac;ao, isto e, de sua localizac;ao na relac;ao causal. A variavel independente e a que ocorre primeiro no tempo, e a causa, aquela que 0 pesquisador manipula, expondo os participantes da pesquisa a determinados atributos dessa variavel. Ja a variavel de pendente associa-se ao efeito dessa manipulac;ao, ou seja, e 0 resultado que se observa no individuo ap6s ele ser exposto avariavel independente, ocorrendo depois desta. A variavel extrinseca, por fim, refere-se aos efeitos indesejaveis, constituindo, portanto, qualquer outra variavel, aIem da independente, que possa afetar a dependente. Os efeitos potenciais dessas variaveis devem ser controlados para que nao cheguem a afetar os resultados da relac;ao causal de interesse do pesquisador.

    Numa pesquisa sobre os efeitos do tipo de problema na memorizac;ao, por exemplo, 0 tipo de problema seria a variavel independente, com os problemas numericos e verbais constituindo seus dois atributos. A memorizac;ao seria a variavel dependente, e a experiencia anterior com o tipo de problema, uma das variaveis extrinsecas a serem controladas. Os leitores interessados em se aprofundar nas tecnicas disponiveis para o controle das variaveis extrfnsecas em pesquisas experimentais poderao consultar 0 livro de Cozby (2003), que apresenta uma analise detalhada sobre tais quest5es.

    Nas pesquisas destinadas a investigar relac;5es nao causais entre variaveis (pesquisas correlacionais e ex post facto), os autores costumam denominar 0 fenomeno a ser explicado como "variavel dependente" e as raz5es trazidas para defini-Io como "variavel independente". Tal denominac;ao nao implica, entretanto, 0 fato de que as variaveis independentes consideradas possam ser tratadas como causas das variaveis dependentes, ja que ness as situac;5es nao ha a manipulac;ao da variavel independente, tampouco a possibilidade de verificar sua ocorrencia anterior avariavel dependente em termos temporais.

    No projeto de investigac;ao, e recomendavef que todas as variaveis envolvidas sejam identificadas. Quando se relacionarem a conceitos mais simples e diretamente observaveis, nao e necessario que sejam constitutiva e operacionalmente definidas, como e 0 caso, por exemplo, das variaveis sexo, idade, estado civil etc. No entanto, todas as variaveis associadas a constructos devem ter sua definic;ao constitutiva e opera

    47

  • cional explicitada. 0 processo de especifica~ao das variaveis e defini~oes de urn projeto, conduzido apos a formula~ao das hipoteses da pesquisa, e exemplificado abaixo:

    Exemplo 1: It Problema: a exposh;:ao aviolencia interfere na agressividade de crlanc;:as? Hlp6tese comparativa: crianc;:as expostas a um fUme violento apresentarao maior

    agressivldade que crianc;:as nao expostas a esse filme. ,.. Varlavel independente: exposic;:ao avlolencia.

    oeftnfc;:ao constitutiva: experiencia vivenciada mediante 0 contato com modelos que utilizam a forc;:a ffsica e 0 poder para subjugar os mais fracos. Deftnic;:ao operacional: fenomeno provocado pela situac;:ao de colocar as crianc;:as para verem 0 fUme X.

    ,.. Variavel dependente: agresslvidade. Deftnlc;:ao constltutiva: atos destlnados a causar Intenclonalmente danos fisicos ou pslcol6glcos a outra pessoa. Deflnic;:ao operaclonal: numero deataques verbals dirlgldos a um colega durante uma brincadeira realizada lmediatamente apes a exibic;:ao do fUme.

    Exemplo 2: It Problema: a motivac;:ao para 0 trabalho se associa aprodutividade? It Hipotese correlacional: quanto maior 0 grau de motivac;:ao para 0 trabalho. maior 0

    grau de produtivldade. ,.. Varlavel independente: motivac;:ao para 0 trabalho.

    Definic;:ao constitutiva: estado interno caracterizado por uma forc;:a que impulsiona 0 individuo a agir de modo a alcanc;:ar as metas de trabalho que Ihe sao colocadas. Oefinlc;:ao operacional: resultado obtido numa escala destinada a avaliar a motlvac;:ao para 0 trabalho.

    ,.. Varlavel dependente: produtividade. Definic;:ao constitutiva: desempenho apresentado em situac;:oes de trabalho ao Ion go de um determinado perfodo. Deftnic;:ao operacional: numero de pec;:as fabricadas sob a responsabilidade do individuo durante uma semana.

    CAPITULO 2

    DEFINI-;AO DA MI~TODOLOGIA

    Apos explicitar a que pretende fazer, ou seja, os objetivos, problemas, questoes e hipoteses da pesquisa, 0 pesquisador deve proceder ao detalhamento de como pretendE~ fazer, isto e, do metodo que utilizara para atingir seus objetivos. Segundo Cone e Foster (1993), a regra fundamental a ser adotada e a replicabilidade: a metodologia do projeto deve ser exposta de modo suficientemente claro e detalhado, para que " qualquer pessoa que a leia seja capaz de reproduzir os aspectos essencia is do estudo.

    Nessa etapa, portanto, devem ser especificados todos os procedimentos necessarios para se chegar aos participantes da pesquisa, obter deles as informa~oes de interesse e analisa-las. Em outras palavras, o pesquisador deve definir a amostra, ou 0 grupo de participantes, e as tecnicas de coleta e analise de dados a serem empregadas no estudo.

    DEFINI

  • descric;ao acurada de determinadas variaveis, constructos e relac;oes presentes na amostra, com a finalida.de de generalizar essas conclusoes para a populac;ao. Conseqiientemente, procedimentos de selec;ao de amostras devem ser adotados, de modo a prevenir a ocorrencia de vieses sistematicos que ameacem a representatividade (Shaughnessy & Zechmeister, 1994).

    Em outros tipos de estudos, como os de natureza qualitativa, em que a preocupac;ao maior nao e a generalizac;ao dos resultados obtidos numa amostra, mas a caracterizac;ao, compreensao e interpretac;ao dos fenomenos observados num grupo espedfic?, nao existe a necessidade de serem adotados procedimentos sistematicos de selec;ao de amostras. Em sintese, a etapa de definic;ao da metodologia requer a descric;ao minuciosa dos participantes do estudo - suas principais caracteristicas, locais onde podem ser encontrados e numero de pessoas a serem abordadas - e dos procedimentos a serem adotados em sua selec;ao, quando se fizerem necessarios. Os do is procedimentos basicos de amostragem referem-se aselec;ao de amostras probabilisticas ou nao-probabiHsticas, em suas diferentes modalidades, conforme resumido abaixo:

    Amostras probabllisticas I Amostras nao-probabilisticas

    1) Utiliza~ao mats freqOente: 1) Utillza~ao mals frequente: Estudos descritlvo-quantitativos (Ie- II Estudos quantitativos sobre a rela~ao

    vantamentos e censos). entre varlaveis (experimentais e correlacionals);

    II Estudos descritivo-qualitativos (estudos de caso e estudos de campo).

    2) Tipos: 2) Tipos: Amostra aleatoria simples; Amostra aleat6ria estratiftcada; Amostra aleat6ria por conglomera

    dos.

    3) Conclusoes: Generalizaveis apopula~ao.

    11 Amostras acidentais; II Am()stras intencionais; II Amostras por cotas.

    3) Conclusoes: u Nao-generalizaveis it popula~ao.

    AMOSTRAS PROBABILlSTICAS

    Na amostragem probabiHstica, todos os elementos que constituem a populac;ao tern chances conhecidas de serem incluidos na amostra (Shaughnessy & Zechmeister, 1994). Tal procedimento pressupoe, assim, o uso de uma listagem que inclua todos os membros da populac;ao (base da amostra), ja que e a partir dai que se processa a selec;ao dos elementos que iraQ compor a amostra. Assim, por exemplo, se urn pesquisador pretende investigar as atitudes dos estudantes de uma universidade sobre 0 aborto, mediante urn procedimento de amostragem probabilfstical devera preyer a adoc;ao de uma listagem dos alunos regularmente matriculados naquela universidade, 0 que dara origem aamostra dos estudantes selecionados para participar da pesquisa.

    As amostras probabilisticas mais usadas sao as aleat6rias simples, estratificadas e por conglomerados. A amostragem aleat6ria simples constitui a tecnica basica de amostragem probabiHstica. Sua caracteristica essencial e a de que cada elemento da populac;ao tern chances iguais de ser incluido na amostra. lsto pode ser obtido por meio do sorteio dos elementos constantes da listagem da populac;ao que iraQ compor a amostra ou da utilizac;ao de uma tabela de numeros aleat6rios.

    Na amostragem aleat6ria estratificada, a listagem da populac;ao inicial e subdividida em subconjuntos (estratos), retirando-se de cada urn amostras aleat6rias simples. Num levantamento de atitudes realizado numa universidade, por exemplo, pode-se dividir a populac;ao de estudantes em estratos relacionados aos diferentes centros ou departamentos aos quais os alunos estao filiados, para, em seguida, retirarem-se amos

    \> tras aleat6rias de cada urn desses segmentos. Tal procedimento assegura uma representatividade maior que a amostragem aleat6ria simples, quando a populac;ao e formada por segmentos homogeneos. Entao, no referido levantamento, ao se utilizar uma amostra estratificada tem-se a garantia de que todos os centr~s ou departamentos estarao igualmente representados, ao passo que na adoc;ao de uma amostra aleat6ria simples pode ocorrer 0 caso de alguns centr~s ou departamentos ficarem mais representados do que outros.

    A amostra por conglomerados diferencia-se dos metodos anteriores devido ao fato de que a unidade de amostragem nao consiste num

    50 y 51

  • elemento individual, mas num conjunto de elementos (conglomerado), como bairros, escolas, residencias, fabricas etc. Desse modo, a listagem da popula~ao econstituida por conglomerados selecionados mediante procedimentos semelhantes aos utilizados na amostragem aleatoria simples. Tal procedimento pode ser util nas situa~oes em que nao epossivel obter uma listagem dos elementos individuais da popula~ao, mas apenas de conglomerados. Assim, num levantamento sobre a opiniao de donas de casa a respeito de determinado produto, por exemplo, pode-se obter uma listagem de residencias, selecionar aleatoriamente as casas a serem visitadas e, por fim, entrevistar a pessoa que mora em cada uma das residencias selecionadas para compor a amostra.

    As amostras probabilisticas sao as unicas que permitem a previsao do tamanho do erro de estimativa em que 0 pesquisador incorre ao re \ alizar generaliza~oes acerca dos resultados obtidos na amostra para a

    popula~ao da qual ela se originou,. Por isso, apenas essa modalidade de amostra oferece a capacidade potencial de assegurar a representatividade da popula~ao (Shaughnessy & Zechmeister, 1994). No entanto, para que tal objetivo seja atingido, eimprescindivel a utiliza~ao de tabelas e formulas de ca1culo que indiquem 0 tamanho de amostra apropriado para popula~oes de tamanhos variados, levando em considera~ao a magnitude do erro de estimativa em que 0 pesquisador deseja incorrer. Mais detalhes sobre 0 assunto podem ser encontrados em Bunchaft e Kellner (1997).

    AMOSTRAS NAO-PROBABJLfSTJCAS

    Na amostragem nao-probabilistica, a chance de cada elemento da popula~ao ser incluido na amostra edesconhecida. Conseqiientemente, tais amostras nao permitem a avalia~ao do grau de representatividade que possuem em rela

  • Iii

    do pesquisador e a investiga~ao de rela~6es entre varhiveis, nao a descri~ao acurada de determinadas caracteristicas de uma popula~ao mediante a investiga~ao e generaliza~ao do modo pelo qual tais caracteristicas ocorrem numa amostra representativa daquele conjunto de individuos.

    Desse modo, na etapa de defini~ao do tamanho e do tipo de amostra, o pesquisador deve se perguntar se a representatividade da amostra e ou nao crucial para a realiza~ao de seus objetivos. Caso a resposta seja afirmativa, ele devera ado tar pr~cedi.mentos que garantam tal representatividade. Por outro lado, se a resposta for negativa, podera usar uma amostra de conveniencia de tamanho compatfyel com 0 metoda de coleta de dados que esteja usando. Nessas ocasioes, a consulta aos tamanhos de amostras costumeiramente adotados em estudos correlatos pode auxiliar a decisao a ser tomada.

    ESCOLHA DA TECNICA DE COLETA DE DADOS

    A escolha da tecnica de coleta de dados esta intima mente associada a natureza dos constructos envolvidos na pesquisa, na medida em que tal escolha deve se nortear pelo objetivo de obter instrumentos capazes de fornecer informa~oes l.lteis a respeito dos indicadores explicitados na

    defini~ao previa desses constructos. Alem disso, a ado~ao de qualquer instrumento de pesquisa deve levar em conta suas qualidades, no que diz respeito avalidade e fidedignidade.

    A fidedignidade refere-se ao grau de exatidao dos dados fornecidos, isto e, do quanto constituem uma reprodu~ao fiel das caracteristicas dos participantes da pesquisa que se deseja estudar. Ja a validade ?iz respeito ao fato de 0 instrumento estar realmente avaliando aquilo ql:1e se pretende avaliar.

    A investigac;ao da validade e da fidedignidade de urn instrumento se da por diferentes metodos, cuja escolha esta condicionada anatureza da tecnica de coleta de dados e aos objetivos associados a seu emprego. Tais metod os nao serao apresentados aqui, mas podem ser encontrados em Pasquali (1996a).

    Entre as tecnicas de coleta de dados rna is utilizadas estao a observa~ao, a entrevista, os questionarios, as escalas e os testes psicologicos.

    54

    o conhecimento das principais caracteristicas, vantagens e limita~oes de cada uma delas e de fundamental importancia para a decisao sobre a que se mostra mais apropriada amensura~ao dos constructos contemplados nas questoes e/ou hipoteses da pesquisa.

    OBSERVA

  • como base 0 pressuposto de que vivenciar a perspectiva de membro do grupo e fundamental para a compreensao de seus aspectos intrinsecos, o observador assume urn determinado papel no grupo e participa das atividades que 0 caracterizam (Adler & Adler, 1994). A observat;iio niioparticipante, ao contrario, caracteriza-se pelo nao-envolvimento do observador com 0 contexte a ser observado, isto e, ele realiza suas observa;oes a distancia, sem participar como membro da situa~ao.

    Como na observa;ao participante existe urn estreito contato entre os indivfduos pesquisados e 0 observador, este deve utilizar estrategias para fazer com que os outros se sintam avontade em sua presen;a. Essas envolvem 0 estabelecimento de urn born rapport com a comunidade ou grupo a ser observado e levam as pessoas a agir com naturalidade, de modo que 0 pesquisador possa observar e registrar adequadamente as informa~oes necessarias (Bernard, 1995).0 grau de participa~ao, contudo, pode variar desde 0 desempenho de-urn papel mais periferico dentro do grupo, em que 0 observador interage com os demais membros sem se envolver nas atividades centrais adefini~ao de uma perten;a grupal, ate 0 desenvolvimento de uma identidade grupal, em que 0 observador passa a adotar os valores e metas que definem a perten~a ao grupo (Adler & Adler, 1994).

    De acordo com Shaughnessy e Zechmeister (1994), 0 fato de 0 observador participante ter as mesmas experiencias dos individuos em estudo permite-lhe realizar importantes reflexoes a respeito desses indivfduos e dos grupos aos quais eles estao afiliados. Entretanto, 0 observador deve estar atento para nao se identificar demasiadamente com as pessoas ou

    situa~5es observadas, pois, caso isso aconte;a, corre 0 risco de perder a objetividade e 0 distanciamento necessarios aelabora;ao de observa

    ~oes validas e acuradas. Nesse sentido, Bernard (1995) recomenda que todos os dias 0 observador se abstraia da imersao cultural em que esteve inserido, de modo a intelectualizar e refletir sobre 0 que aprendeu com suas observa;oes naquele dia.

    Outr~ problema relacionado a~bserva;ao participante diz respeito ainfluencia que ela exerce no comportamento dos sujeitos observados. Como nesse tipo de procedimento 0 observador interage com as outras pessoas, toma decisoes e participa deatividades, agindo como se fosse urn membro do grupo, tal participa~ao pode fazer com que os demais

    membros passem a ter comportamentos que nao teriam caso 0 observador nao estivesse lao Esse efeito, entretanto, e dificil de ser avaliado, embora tenha maior probabilidade de ocorrer nas situa~oes em que 0 grupo em

    observa~ao seja pequeno ou as atividades do observador sejam muito proeminentes dentro do grupo (Goodwin, 1995).

    o uso da observa~ao participante remete, ainda, a questoes eticas associadas ainvasao da privacidade dos participantes. Desse modo, 0

    I pesquisador devera tomar os cuidados necessarios para que suas obserf va~oes nao causem danos as pessoas observadas. Assim, a observa;ao realizada sem 0 consentimento dos participantes, mas em locais publicos, e considerada eticamente mais c~rreta do que a efetuada em espa;os privados (Goodwin, 1995).

    'C) Observafiio sistematica e assistematica As tecnicas observacionais, no que diz respeito asua forma de registro, diferenciam-se em sistematicas e assistematicas. A observa9iio sistematica, tambem chamada de padronizada ou estruturada, implica a ado~ao de uma serie de decisoes previas sobre os elementos e situa;oes a serem observados e a forma de registro desses dados, que se articulam em roteiros, fichas ou catalogos de observa~ao prefixados. A organiza~ao dos dados permite que todos os individuos sejam submetidos a urn mesmo processo de observa~ao e que os registros das observa~oes realizadas com diferentes sujeitos e grupos sejam comparados (Fernandez-Ballesteros, 1996). 0 observador dirige sua aten~ao, portanto, tao-somente aos aspectos pre-especificados, deixando de lade todos aqueles considerados irrelevantes a seus objetivos.

    Por outro lado, a observa9iio assistematica, tambem denominada naoestruturada ou livre, nao envolve 0 estabelecimento de criterios previos para orientar 0 registro do fenomeno a ser observado. Utiliza-se, assim, de narrativas de fdrmato flexivel, que descrevem minuciosamente, e do modo mais fiel possivel, as diferentes facetas e modalidades que caracterizam os sujeitos, grupos ou situa~5es observados (Fernandez-Ballesteros,

    . " 1996).0 observador tern, portanto, liberdade total para decidir 0 tipo de informa~ao a ser registrada e a forma de faze-Io, 0 que implicara o exercicio de sua capacidade de sintese, abstra~ao e organiza~ao dos dados coletados.

    57 56

  • /. i

    A ado~ao de urn registro sistematico de certos comportamentos/ \ eventos ou de uma descri\ao compreensiva de todas as situa~oes nas 1 quais eles ocorrem dependera dos objetivos do pesquisador e das questoes de pesquisa ou hipoteses que se pretende testar. Na primeira situa~ao, os ganhos quanta a validade e fidedignidade sao maiores, enquanto na segunda ganha-se em profundidade e abrangencia.

    .Nas duas modalidades, 0 observador podera ainda adotar a postura de revelar aos participantes da pesquisa que elesserao observados ou de realizar suas anota~oes sem que eles saibam que estao sendo acompanhados. No entanto, 0 fato de as pessoas saberem que estao sendo observadas pode leva-las a alterar seu comportamJnto (reatividade), cabendo ao observador decidir 0 quanta isso podera interferir nos objetivos da pesquisa e optar, se for 0 caso, pelo uso de hknicas nao-reativas (Goodwin, 1995) que resguardem os pIindpios eticos.

    Embora, para fins didaticos, seja comum a distin~ao dos metodos observacionais em tennos de seu grau de estrutura~ao (sistematica versus assistematica) e em fun~ao da intera~ao entre observador e observado (participante versus nao-participante), 0 que costuma ocorrer, na pratica, e a jun~ao dessas variantes num tipo de observa~ao assistematica e participante ou sistematica e nao-participante. Em outras palavras, 0 observador participante prefere adotar abordagens menos estruturadas, isto e, costllma converter-se no proprio instrumento de observa~ao, ao passo que oobservador nao-participante tende a privilegiar as estrategias mais estruturadas, optando, assim, por utilizar instrumentos padronizados na coleta de dados.

    d) Pracessa de abserva9aa livre au assistemdtica De acordo com Adler e Adler (1994), 0 processo de observa~ao livre inicia-se com a escolha do local a ser observado, que pode ser orientada pelo interesse teo rico num dado fenomeno ou pela facilidade de acesso a urn determinado lugar. Em seguida, se necessario, 0 pesquisador deve obter uma autoriza~ao formal para 0 acesso e realizar 0 treinamento dos observadores. So depoi,s disso ele podera proceder as observa~oes propriamente ditas, registrando 0 resultado nas anota~oes ou diarios de campo.

    As anota~oes de campo, segundo Trivifios,

    58 ...

    consistem fundamentalmente na descri~ao por escrito de todas'as manifesta~oes (verbais, a~oes, atitudes etc.) que 0 pesquisador observa no sujeito, as circunstancias fisicas que se considerem necessarias e que rodeiam a este etc. Tambem as anotac;oes de campo devem registrar 'as reflexoes' do investigador que surjam em face da observac;ao dos fenomenos. Elas representam ou podem representar as primeiras bus cas espontaneas de significados, as primeiras expressoes de explica~oes (1995, pp. 154-5)

    Para Adler e Adler (1994), toda observa~ao assistematica deve fazer referencia explicita a participantes, intera~oes, rotinas, rituais, elementos temporais, interpreta~oes e organiza~ao social presentes na situa~ao observada. as referidos autores, citando Spradley (1980), afirmam que as observa~oes iniciais devem ser nao-focalizadas e rna is superficiais, a fim de dotar 0 observador de uma compreensao geral a respeito da

    situa~ao e de orientar acerca da dire~ao futura a ser tomada no processo observacional.

    Apos 0 observador estar mais familiarizado com a situa~ao e ja ter capt ado os grupos sociais e os processos-chave que nela operam, ele e capaz de distinguir os fenomenos que mais Ihe interessam. Assim, pode pro ceder a observa~oes focalizadas, nas quais sua aten~ao sera dirigida, de modo mais aproundado, para determinados comportamentos, pessoas, sentimentos, estruturas e processos. Durante a realiza~ao dessas

    observa~oes, podem surgir questoes de pesquisa que iraQ moldar as observa~oes futuras, as quais sao ainda mais seletivas, no sentido de permitirem 0 refinamento de conceitos e 0 estabelecimento de rela~oes entre os enomenos previamente selecionados como objeto de estudo. Desse modo, as diferentes lases do processo vao progressivamente dirigindo 0 foco do pesquisador para os fenomenos que emergem como os mais significativos do ponto de vista teorico ou empirico, devendo as

    observa~oes sucederem-se ate que as caracteristicas das novas descobertas come cern a replicar as anterior mente obtidas (Adler & Adler, 1994).

    Terminada a lase de coleta das anota~oes de campo, 0 pesquisador esta em condi~oes de organizar e classificar seus registros; pode examinar se vao ao encontro de suas expectativas ou hipoteses a respeito dos fenomenos observados e interpreta-Ios a luz dos undamentos teoricos

    59

  • que orientaram a coleta. Efundamental que os registros de campo reunam informac;oes que atendam aos objetivos da pesquisa. Em sintese, a observac;ao assistematica ocorre em tempo real e de forma continua, sem que haja previa especificac;ao dos elementos a serem observados, e fornece, como resultado, descric;oes acerca dosaspectos verbais, naoverbaise espadais da conduta, bem como impressoes do observador a respeito dos fenomenos observados (Fernandez-Ballesteros, 1996). Segue um exemplo:

    1) Situa~io a ser observada:

    Intera(:ao entre os membros de uma familia durante uma reunllio dominical.

    2) Dimensoes a serem observadas: Espa(:o: layout do local em que a sltua(:ao observada ocorre (por exemplo: a cor das

    paredes, as dimensoes do local etc.); Objetos: elementos tlsicos do local (por exemplo: as cadeiras, as mesas etc.); Eventos: ocasiao ou ocasioes particulares em que a observa(:ao ocorre (por exemplo:

    o almo(:o, 0 lanche etc.); Tempo: sequencia em que os eventos ocorrem (por exemplo: 0 banho de piscina

    acontece prlmelro; em segulda, 0 almo(:o etc.); Atores: nomes (podem ser fi'titlos) e caracteristicas relevantes dos atores envolvidos

    no evento (por exemplo: Francisco. 0 pai, tem 50 anos e ealto;joana, uma das filhas, tem 6 anos e emagra etc.);

    Ativldades: atos praticados individual mente por cada um dos atores (por exemplo: Francisco brlnca na plsclna com joana, colocando-a em cima da b6ia e empurrando-a ao longo da pisclna; Francisco toma um drinque com sua esposa a beira da piscina etc.); Metas: 0 objetlvo de cad a ator (por exemplo: Francisco quer divertir joana; Francisco quer relaxar na companhia de sua esposa etc.);

    Sentimentos: as emo(:oes demenstradas em cada atividade (per exemplo: Francisco esta alegre por brincar com sua filha etc.).

    e) Processo de observa9iio sistematica ou estruturada Na observac;ao sistematica, ao contrario da observac;ao livre, a classificac;ao ou codificac;ao dos comportamentos ocorre amedida que a observac;ao se realiza, 0 que implica a Clefinic;ao previa dos aspectos a serem observados. Isto dependera dos objetivos do trabalho e das evidencias

    empiricas disponiveis a respeito de sistemas observacionais adotados em estudos anteriores similares. ::;

    Desse modo, 0 processo de observac;ao sistematica inicia-se com a escolha da unidade de observac;ao, isto e, do que observar. Segundo Fernandez-Ballesteros (1996), isso pode constituir comportamentos individuais e relac;oes ou interac;oes entre duas ou mais pessoas, ou entre o individuo e seu meio. A definic;ao de tais unidades deve se apoiar nos pressupostos te6ricos que servem de referencial apesquisa, bem como em estudos-piloto previamente realizados com 0 objetivo de testar as categorias de observac;ao a serem utilizadas no trabalho definitivo.

    Em seguida, 0 pesquisador deve escolher a unidade de medida, definindo se as unidades de observac;ao serao registradas em termos de sua ocorrencia, freqiiencia ou durac;ao. Depois, 0 pesquisador deve proceder aelaborac;ao de um roteiro ou catalogo do qual fac;am parte todos os comportamentos ou padroes de interac;ao que sejam relevantes, acompanhados de uma descric;ao clara e precisa dos mesmos. Quando o pesquisador nao dispoe de informac;oes suficientes sobre 0 fenomeno em estudo, pode realizar observac;oes assistematicas previas que lhe permitam estabelecer descric;oes mais precis as acerca dos diferentes aspectos que 0 caracterizam (Fernandez-Ballesteros, 1996).

    Os roteiros de observac;ao sao compostos, portanto, de uma serie de comportamentos ou padroes de inter-relac;5es comportamentais, classificados em categorias mais amp las e acompanhados de uma descric;ao precisa, selecionados de forma racional e apriorlstica por serem categorias teoricamente relevantes aos objetivos do estudo. Noquadro 10, na pagina seguinte, ha um exemplo de definic;ao de categoria.

    Na maioria das ocasioes, 0 pesquisador nao tem condic;oes de observar os comportamentos de interesse em todos os momentos elocais em que eles se apresentam, bern como em todas as pessoas nas quais se manifestam. Nesse sentido, a decisao a ser tom ada consiste na definic;ao das amostras de tempo, situac;oes e indivfduos a serem observados.

    _Ao definir a amostragem de tempo, 0 pesquisador deve decidir a durac;ao de cada observac;ao, 0 numero de vezes em que ela deve se realizar e 0 intervalo de tempo entre cada uma. No que diz respeito aamostragem de situac;oes, 0 investigador pode optar entre observar apenas os comportamentos emitidos numa dada situac;ao ou observa-Ios

    61 60

  • III

    Intera

  • particularmente apropriadas a apreensao dos fenomenos em seu habitat natural, isto e, na forma em que se manifestam no mundo real. Isto nao quer dizer, entret~nto, que elas nao apresentem problemas origin ados no proprio observador.

    Vma das criticas freqiientemente dirigidas as tecnicas observacionais e a de que elas estao mais sujeitas a erros provenientes de interpreta~oes subjetivas das situac;oes, na medida em que ao fazer uso das mesmas 0 observador se apoia exclusivamente em suas proprias percepc;oes (Adler & Adler, 1994). Por outr~ lado, 0 fato de 0 observador ter ideias preconcebidas a respeito do que sera observado pode fazer com que tais ideias interfiram na decisao do que observar (Goodwin, 1995). Alem disso, a adoc;ao desse metodo costuma implicar grande consumo de tempo, ainda quando 0 pesquisador utiliza urn sistema de categorias ja pronto, pois mesmo nessas situac;oes ha necessidade de ele se familiarizar com o material.

    Considerando-se que a utilidade das observac;oes como instrumento de pesquisa depende da acuracia de seu conteudo, e fundamental que 0 pesquisador adote certos procedimentos para garantir tal precisao. Ele deve proceder a uma descric;ao clara dos objetivos da pesquisa e, quando pertinente, das categorias quecompoem 0 sistema de observac;ao, bern como a urn treina.mento adequado dos observadores na realizac;ao de registros narrativos e/ou na utilizac;ao do sistema de categorizac;ao. Como parte do treinamento, poderao ser feitas observa~oes previas, que proporcionem maior seguranc;a no uso dos procedimentos durante a conduc;ao do estudo propriamente dito.

    Outr~ recurso para garantir a precisao dos dados coletados consiste na utilizac;ao de dois ou mais observadores independentes para cada situac;ao. Isto permite que 0 pesquisador verifique 0 grau de concordancia entre os observadores (precisao entre observadores), checando, assim, suas descobertas e eliminando as interpretac;oes imprecisas.

    ENTREVISTA

    A entrevista consiste numa tecnica de coleta de dados que supoe 0 contato face a face entre a pessoa que recolhe e a que fornece informac;oes, em

    geral sobre si propria, muito embora tais informa~oes possam se referir a outras pessoas e eventos relevantes. Apesar de diferirem quanto ao grau de estruturac;ao, as diversas moda.lidades dessa tecnica tern em comum o fato de apresentarem, usualmente, urn formato flexivel e aberto, que implica grande participac;ao do entrevistador. Este a conduz de acordo com as caracterlsticas e desdobramentos da situa~ao na realizac;ao da entrevista (Fernandez-Ballesteros, 1996). Alem disso, desempenha papel essencial na utilizac;ao desse metoda de coleta de dados, na medida em que Ihe cabe obter a cooperac;ao dos participantes, motiva-Ios a responder adequadamente, dirimir suas duvidas e avaliar a qualidade das respostas, de modo que a entrevista fornec;a de fato informac;oes uteis aos propositos da pesquisa (Trochi~ 2002). :

    a) Tipos de entrevista As entrevistas podem ser classificadas em estruturadas, inestruturadas e semi-estruturadas. As primeiras caracterizam-se por apresentar urn formulario previamente elaborado de perguntas, redigidas em consonancla com os objetivos do estudo, contendo urn numero limitado de opc;oes de respostas (Fontana & Frey, 1994). Equivalem aos questionarios (que serao abordados na sec;ao seguinte) no que diz respeito asua confecc;ao, deles diferindo em func;ao de as respostas serem fornecidas oralmente pelo entrevistado e anotadas pelo entrevistador (naqueles, as respostas sao dadas por escrito). Essa modalidade de entrevista e a que menos consome tempo e menos exige do entrevistador, ja que sua tarefa consiste apenas em percorrer 0 roteiro, do qual nao ha possibilidade de se afastar para aprofundar as respostas fomecidas pelo entrevistado. No quadro 12, a seguir, estao as prindpais recomendac;oes para a realizac;ao de uma entrevista estruturada.

    As entrevistas inestruturadas ou livres, em contrapartida, nao requerem urn roteiro preyio de perguntas, sendo compostas apenas de estimu

    los iniciais, ditados pelos objetivos da pesquisa. a entrevistado e livre para

    conduzir 0 processo, enquanto 0 entrevistador limita-se "ao recolhimento

    da informa~ao, a estimulac;ao da comunicac;ao e a manter 0 fluxo de in

    . formac;oes sobre as variaveis estudadas" (ContandriopouIos, Champagne,

    Potvin, Denis & Boyle, 1997, p. 78). Na pesquisa, sua utilizac;ao ocorre,

    em geraI, quando nao se tern urn conhecimento teorico ou empirico sufi

    65 64

  • Aparencia: vista-se de forma discreta, a fim de nao haver contraste com seus entrevistados. Evite roupas luxuosas. caras demais ou excessivamente informals (bermudas, sandalias havaianas etc.);

    2 Estabelecimento de rapport: antes de Inlciar a entrevista. delxe 0 entrevlstado ii. vontade. Dirija sempre 0 olhar a seu rosto, escute com aten~ao e nao 0 interrompa. Ligue 0 gravador. se for usa-Io, e obtenha permissao para tal;

    3 Rotelro: familiarlze-se com 0 rotelro e use-o para conduzir a entrevista. Fa~a as perguntas na sequencia prevlsta, sem altera-Ias. Perguntas

  • Na condw;ao da entrevista propria mente dita, sao importantes a especifica~ao e a darifica~ao dos diferentes topicos a serem abordados, o que pode ocorrer por meio de perguntas mais abertas ou de forma mais diretiva. Tais posturas condicionam-seao desenrolar da entrevista, especialmente no que concerne anecessidade de confrontar hipoteses emergentes durante 0 processo. Os dados obtidos nessa etapa podem ser gravados e transcritos se 0 entrevistado concordar com 0 procedimento. Outra forma de registro consiste em tomar notas imediatamente ap6s 0 termino da entrevista, visto que 0 registro simultaneo nao e aconselhavel, "por prejudicar 0 curso natural e esponblneo da entrevista" (FernandezBallesteros, 1996, p. 276).

    Antes de terminar a entrevista, e recomendavel que 0 entrevistador fa~a urn resume das informa~oes obtidas, de modo a eselarecer algum ponto porventura obscuro. Em seguida, deve encerra-Ia de forma nao abrupta, agradecendo a colabora~ao e informando quando os resultados da pesquisa serao disponibilizados.

    c) Grupos focais Os grupos focais, isto e, as entrevistas em profundidade realizadas com urn pequeno grupo de pessoas cuidadosamente seledonadas para discutir determinados t6picos, tornaram-se, nos ultimos anos, uma tecnica bastante popular para a coleta de dados acerca de opinioes e atitudes. A composi~ao desses grupos costuma ser feita de modo a reunir pessoas com interesses, experiendas ou caracteristicas demogrMicas similares (individuos que desempenham uma mesma fun~ao, alunos de uma mesma serie, jovens de uma mesma faixa etaria etc.), 0 que tende a resultar em discussoes mais produtivas. Dessa forma, uma mesma pesquisa deveria preyer a realiza~ao de varios grupos focais, com todos eles orientados para urn mesmo t6pico de discus sao (por exemplo, as opiniOes sobre a pesquisa com celulas-tronco), mas diferenciados em fun~ao das caracteristicas de seus responcientes (grupos de ecologistas, bi6logose medicos, por exemplo).

    Cabe aomoderador desse tipo de grupo manter os individuos focados nos t6picos pertinentes aos prop6sitos da pesquisa e assegurar-Ihes uma discussao rica e ptoveitosa. Para tanto, e conveniente lan~ar ao grupo cada urn dos t6picos a serem abordados e deixar os participantes

    conversarem livremente, questionando-se uns aos outros e expondo suas pr6prias opinioes, sentimentos e rea~oes. De acordo com a ASA (1997), o numero ideal de participantes nesse tipo de grupo e de seis a doze, pois grupos muito pequenos sao facilmente dominados por urn ou dois membros, enquanto os muito grandes correm 0 risco de perder em coesao, com os membros se dispersando em conversas paralelas ou podendo sentir-se frustrados por ter de esperar muito tempo para participar.

    Os grupos focais of ere cern a vantagem de reunir grande quantidade de informa~ao num curto espa~o de tempo, aMm de permitirem que 0 moderador explore assuntos riao contemplados previamente no roteiro, mas ainda assim reladonados aos objetivos da pesquisa, quando emergem durante a discussao. Entretanto, a qualidade dos dados fornecidos depende das habilidades do moderador, que, se nao tiver experiencia e treinamento suficientes, pode acabar deixando que umas poucas pessoas dominem a discussao ou que os rumos do grupo afastem-se dos objetivos estabelecidos.

    d) Vantagens e limita~i5es da entrevista A entrevista apresenta a vantagem de fornecer informa~oes bastante detalhadas sobre os t6picos de interesse para a investiga~ao, pois 0 entrevistador, por estar face a face com 0 entrevistado, pode deter-se em aspectos que nao se mostrem sufidentemente elaros nas respostas inidais dos sujeitos (Goodwin, 1995). Ela e particularmente utH quando i amostra e composta por pessoas que nao tern condi~oes de dar respostas por escrito, como no caso dos analfabetos, ou quando as perguntas exigem respostas de natureza mais complexa, que podem ser adequadamente esela.reddas no decorrer da entrevista. Alem disso, e relativamente facil de responder, sobretudo quando se refere a opinioes, uma vez que as pessoas nao tern de escrever, mas apenasemitir suas impressoes oralmente, 0 que aumenta a taxa de resposta.

    Todavia, a entrevista constitui uma tecnica que consome muito tempo, alem de apreseritar altos custos, porque sua utiliza~ao exige o envolvimento de pessoas que devem ser previamente treinadas. A presen~a do entrevistador pode inibir os sujeitos, principalmente quando as perguntas se referirem a aspectos de natureza mais intima ou polemica, levando-os a se recusar a responder ou a fornecer respostas distorddas,

    68 69

  • III

    I

    IIi II mas socialmente desejaveis (Goodwin, 1995). Por essa razao, tal metodo de coleta de dados requer urn maior grau de sensibilidade do entrevistador, que deve ser capaz de obter as informa\oes pertinentes aos objetivos da pesquisa e, ao mesmo tempo, nao se d.istanciar do roteiro da entrevista.

    QUESTIONARIOS

    as questionarios sao instrumentos compostos de urn conjunto de perguntas elaboradas, em geral, com 0 intuito de reunir informa\oes sobre as percep\oes, cren\as e opinioes dos individuos a respeito de si mesmos e dos objetos, pessoas e eventos presentes em seu meio (Goddard I I I & Villanova, 1996). Podem ser administrados por meio de entrevista pessoal ou telefOnica, em grupos de pessoas in loco e mediante 0 uso de correia postal ou de recurs os eletronicos.

    a) Administrafiio par meio de entrevista pessoal A aplica\ao em situa\oes de entrevista pessoal caracteriza-se pelo fato de 0 pesquisador, em contato dire to com os respondentes, formular as perguntas do questionario e anotar as respostas por eles fornecidas. Esse procedimento permite maior flexibilidade na obten\ao das respostas, pois 0 entrevistador tern condi\oes de clarificar as perguntas que por acaso nao tenham side compreendidas pelo entrevistado, assim como d\ obter respostas mais completas. Contudo, na tentativa de esc1arecer as respostas dadas, 0 entrevistador pode incorrer no erro de introduzir ideias que acabam por ser incorporadas as respostas subseqiientes dos entrevistados (Shaughnessy & Zechmeister, 1994). a fato de 0 entrevistador estar em contato direto com 0 entrevistado pode inibi-Io, impedindo-o de fornecer respostas fidedignas, sobretudo quando se referirem a aspectos mais intimos de sua vida pessoal.

    b) Administrafiio par meio de entrevista tele!onica . Nessa modalidade, 0 entrevistador entra em contato por telefone com 0 respondente em potencial; caso este concorde em participar da pesquisa, aquele faz as perguntas e registra as respostas. Esse tipo de questionario e muito utilizado nas pesquisas norte~americanas; no Brasil, ainda nao se

    It 70

    tornou muito popular. Permite que urn grande numero de respondentes seja atingido num curto espa\o de tempo, com uma taxa rna is baixa de nao-resposta do que a obtida nos questionarios enviados pelo correia (Neuman, 2003). No entanto, tern urn custo mais alto que 0 dos demais tipos, alem de sofrer limita\oes quanto a sua extensao, ja que se torna dificil aplicar questionarios mais longos por telefone. Essa forma de aplica\ao nao se mostra adequada as perguntas abertas, face a maior dificuldade de formular e anotar as respostas a esse tipo de pergunta por telefone.

    c) Auto-administrafao em grupos as questionarios podem ser tambem administrados diretamente a grupos de individuos em situa\oes nas quais 0 aplicador informa os objetivos da pesquisa, fornece instrw;oes, esclarece as duvidas sobre a forma de preenchimento do instrumento e, em seguida, solicit a que todos 0 completem, assegurando-se de que 0 fazem da melhor forma possIve!. Essa modalidade de aplica\ao e impropria para pessoas analfabetas ou que apresentem d~ficuldades de leitura. Contudo, e urn tipo de questionario de baixo custo e de alta taxa de resposta, em virtude de garantir 0 anonimato e a presen\a dos entrevistados no local de aplica\ao, 0 que faz com que 0 preencham ate 0 final e 0 devolvam, caso tenham concord ado em participar da pesquisa.

    d) Auto-adrninistrafao via correia postal Nessa modalidade de administra\ao, 0 envio e 0 retorno dos questionarios sao feitos pelo correio. Isto permite que grande quantidade de respondentes seja obtida de forma mais rapida do que nos cas os em que sao aplicados de maneira coletiva. a anonimato, freqiientemente utilizado nessa forma de aplica\ao, e uma garantia de que as perguntas mais embara\osas serao respondidas a contento. Entretanto, a utiliza\ao de questiomirios pelo correia tern a desvantagem de apresentar uma taxa relativamente baixa de retorno (geralmente 30%, segundo Shaughnessy & Zechmeister, 1994), em compara\ao ao numero de questionarios enviados.

    e) Auto-administrafiio par meios eletronicos a advento da internet fez com que os questiomirios administrados por correia eletronico (enviados por e-mail para serem preenchidos no

    71

  • computador pessoal do respondente e devolvido&..tambem por e-mail), bern como os questiomlrios disponiveis em determinadas paginas da rede (a serem preenchidos na propria rede e enviados automaticamente), angariem cada vez mais popularidade entre os pesquisadores nacionais e estrangeiros. Esses questionarios of ere cern maior garantia de anonimato e sao capazes de atingir urn grande numero de pessoas de diferentes regi5es geograficas num curto espa~o de tempo e a urn custo bastante baixo. No entanto, a amostra obtida dessa forma apresenta determinados vieses, oriundos do fato de que atualmente nem todas as pessoas tern acesso a computadores e internet. 0 pesquisador precisa cercar-se de cuidados (como 0 uso de softwares que controlem 0 recebimento de apenas uma resposta proveniente de cada e-mail ou de cada maquina) destinados a impedir que uma mesma pessoa respond a mais de uma vez ao questionario.

    j) Tipos de perguntas As perguntas utilizadas num questionario dassificam-se em abertas, fechadas e de multipla escolha.

    f.1) Perguntas abertas Sao aquelas que permitem ao respondente expressar livremente sua opiniao sobre 0 que esta sendo perguntado. Ex.: "Em sua opinHio, quais sao os motivos que levam um homem a agredir sua esposa ou companheira?".

    Essas perguntas fornecem respostas mais profundas a respeito dos topkos aos quais se relacionam, mas provocam uma taxa maior de naorespostas, aIem de suscitarem analises mais complexas (Slavin, 1.984). Sao particularmente uteis nos estagios iniciais da pesquisa, quando 0 pesquisador nao tern ainda uma compreensao dara do fenomeno em estudo, havendo, assim, necessidade de obter informa~5es mais descritivas que possam ser adotadas posteriormente na elabora~ao de perguntas de natureza rna is objetiva (Goddard III & Villanova, 1.996).

    f.2) Perguntas jechadas Apresentam urn numero l