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ANELITA SALETE SANCHES
PROPAGANDAS COMERCIAIS IMPRESSAS COMO
TEXTOS ALTERNATIVOS PARA 0 ENSINO
DA LiNGUA PORTUGUESA
Monografia apresentada como avaliaqaoparcial do curso de P6s-Graduaqao emLingua Portuguesa da UniversidadeTuiuti do Parana, para a obtenqao dotitulo de Especialista.
Orientadora: Vera Ferronato.
CURITIBA
2000
SUMARIO
DEDICATORIA
INTRODU<;;AO .
ii
. 05
CAPiTULO I
1. 0 QUE E PROPAGANDA? .............................................••
1.1 Origem do Tcrmo e alguns conceitos .
09
09
.... 101.2 Algumas considera~6es sobre Publicidade e Propaganda ...
CAPiTULO II
2. A LINGUAGEM PERSUASNA VERBAL E NAO-VERBAL DAS
PROPAGANDAS COMERCIAI. 15
2.1 Textos Pu blicitarios e a Ret6rica 15
2.2 Recursos Persuasivos utilizados nos textos publicitarios Verbais e
Nao-Verbais
2.3 Mensagens Verbais e Nao-Verbais
17
.... 24
CAPiTULO III
3. A LEITURA CRiTICA DAS MENSAGENS PUBLICITARIAS. 29
3.1 Sugest6es de Leitura critica e pradu.;aa a partir de textas
publicitarios . . 31
CONCLUSAO .
REFERENCIAS BIBLIOoRAFICAS
. .... 42
44
INTRODUC;Ao
o usa de textos em aulas de Lingua Portuguesa e indispensavel. No
entanto, praticamente nao ha orientac;6es de como ensinar a lingua materna
atraves de textos e, muita menos, sugestoes de quais materiais didaticos
utilizar.
Para lef alga com interesse precisamos relacionar 0 texto a nossa
realidade, nao somente [azendo uma leitura superficial, mas sim uma leitura
critica que contribua para nossa forma~ao linguistica.
Hoje, podemos considerar ultrapassados 0 USD exclusivo do texto
literario em aulas de Lingua Portuguesa e 0 texte como pretexto para 0
ensino de gramatica. Em n0550 dia-a-dia, nos deparamos com variDs tipos de
textos, em sua maioria argumentativos e persuasivos. con tendo mensagens
que necessitam de uma interpreta<;ao adequada para serem entendidas.
Tanto professores como alunos sentem difieuldade para ler eriticamente urn
texto publicitario, por exemplo, 0 qual eomunica, innuencia. eonquista,
persuade.
Sem duvida, os textos publicitarios impressos representam urn
material acessivel e alternativo para os professores deixarem urn poueo de
lado os limitados livros didaticos. 0 ensino da Lingua Portuguesa somente
atraves de textos literarios pode ter side eficaz ha algum~s decadas. NflO e
mais, pOis houve varias mudan~as na area da comunica~ao que voltou-se
com toda sua tecnica para 0 incentivo ao consumismo. Em especial, na
decada em que vivemos, as mensagens publicitarias impressas procuram
chamar a aten~ao dos consumidores para 0 produto anunciado, utilizando-se
de tecnkas extraordinarias para falar de coisas banais.
Portanto, eonvivemos com uma diversidade muito grande de
mensagens verbais e nao-verbais que nem sequer entram nas escolas. No
entanto, essa diversidade e necessaria para dar preparo linguistico e
discemimento aos alunos leitores que encontranlo, fora da escola, varios
tipos de textos, principalmente os publicitarios, os quais procuram
conquistar, persuadir a qualquer custo. 0 receptor despreparado aceita 0
que lhe e dito sem, ao menos, questionar ou verificar se a propaganda e
veridica ou enganosa.
A respeito da for~a dos meios de comunica~ao exercida sobre a mente
das pessoas, MARTINS (1997, p.36) arirma: "Ninguem pode contestar, nos
lempos atuais, a forc;a dos meios de comunicac;ao sobre a mente do grande
publico, forc;a esta que 0 leva a aeeitar ate mesmo erros, ° que aeontece por
lhe faltar discernimento e tambem prepar~ lingGistico suficiente."
Professores e alunos podem enriqueeer 0 seu preparo linguistico lendo
criticamente mensagens publicita.rias e percebendo que elas persuadem,
mudam atitudes, valores sem, ao menos, serem questionadas.
Alem disso, 0 professor de Lingua Portuguesa, diante das novidades
que despencam par todos os ladas, precisa de sugestoes para ensinar
a lingua materna de maneira mais pnitica e eficiente, partindo da realidade
dos alunos e de suas reais necessidades de forma<;;ao.
Diante dessa realidade, por que nao trabalhar com textos
publicitarios em aulas de Lingua Portuguesa? Entretanto, para que isso
aconte<;;a precisamos, primeiramente, conhecer e dominar as linguagens
verbais e nao-verbais dos textos publicitarios. Textos como outdoors,
propagandas comerciais impressas, charges, cartuns, exploram tanto a
linguagem verbal como a nao-verbal. Alem do mais, sao textos com
mensagens condensadas que realmente chamrun a aten<;;ao, conquistam e
encantam.
Em suma, 0 professor nao precisa deixar totalmente de lado os textos
literarios, mas certamente precisa trabalhar com os textos que fazem parte
do dia-a-dia dos alunos, como as publicitarios.
Este trabalho pretende reconhecer a Iinguagem persuasiva utilizada
pelos textos publicitarios modernos, apresentar a pesquisa de conceitos
referentes a propaganda, bern como a origem do termo. Alem disso, pretende
identificar os recursos persuasivos utilizados pelas mensagens publicitarias
impressas e apontar sugestoes para leitura critica.
No primeiro capitulo, apresentam-se conceitos sobre propaganda de
alguns autores, bern como a origem do termo. Fata-se da diferen<;;a entre
propaganda palitica e comercial e de mais algumas conceitua<;;6es e objetivos
da propaganda comercial tecidos pelos autores pesquisados. No segundo
capitulo dei.xa-se claro que a retorica tern como seu principal campo de
aplicac;ao, os textos publicitarios. Ainda, sao citados os varios recursos
persuasivos utilizados pela linguagem da propaganda modern a, bern
como algumas consideraC;;6essobre as mensagens verbais e nao-verbais.
Pinalmente, no terceiro capitulo, apresentam-se observac;6es sobre
leitura critica das mensagens publicitarias tecidas por autores, assim como
sugestoes de leitura e produc;ao a partir de textos publicitarios retirados da
revista Veja, de maio a outubro de 1999, para serem aplicadas na 8n serie do
ensino rundamental.
CAPiTULO
1. 0 QUE Ii: PROPAGANDA?
1.1 Origem do termo e alguns conceitos
o livro"A linguagem da propaganda", SANDMANN(1999), explica que
o lerma propaganda, conforme testemunham as dicionarios Wah rig, alemao,
e Webster's, ingles, foi extraido do nome CONGREGATIO DE PROPAGANDA
FIDE, congregac;ao criada em 1622, em Rama, e que tinha como tarefa cuidar
da propaganda da fe. Em traduc;;ao literal teriamos "Congregar;ao da fe que
deve ser propagada".
Ainda, de acordo com SANDMANN (1999), hoje, em portugues, 0
lerma propaganda e usado tanto para a propagar;ao de ideias como no
sentido de publicidade. Propaganda e, pOl'tanto, 0 lerma mais abrangente e,
no Brasil, pode ser usado em todos as sentidos.
Ramos (1987, p.1O) afirma que hoje nao mais se discute: a
propaganda e uma tecnica. Uma lccnica de comunicac;ao que visa a difusao
de produtos, servi<;:os ou ideias. Refor<;:ando esse conceito VESTERGAARD
(1996, p.2) cita esta defini<;:ao de HARRIS e SELDON (1962, p.40): "a
10
propaganda e noticia publica destinada a divulgar informa<;6es com vistas a
promo<;ao de vendas de bens e servi<;os negociaveis".
Ja SOARES (1988, p.17-18) diz que:
Alguns autores costurnam distinguir a propaganda da publicidade,atribuindo ao primeiro termo toda veicula~ao de ideias de naturezapolitica, centralizada nas maos dos particlos e dos governos. Tambemrecebeu 0 nome de propaganda, a difusao do ideano l"eligioso atravesdos missionarios, e 0 proprio Vaticano criou em departamentodenominado De Propaganda Fidei. Quanto a publicidade, 0 terma ereservado para a veiculac;ao de mensagens que levam ao consumo debens materiais.
Por fim, CARVALHO (1996, p.36) expoe 0 parecer de Roberto Duailibi
(diretor da DPZ). Este conceitua a propaganda como um servi<;o, sobretudo,
de esclarecimento e divulga~ao que, ao final, resulta em melhora de vida para
as pessoas.
1.2 Algumas considera~oes sabre publicidade e propaganda
A partir do que roi expos to anteriormente, pode-se perceber que a
simples men~ao da palavra propaganda nos lembra uma inrorma~ao ou ideia
que esta sendo divulgada em publico. E e claro que esta inrorma~ao au ideia
esta a servi~o do sistema capitalista, ou seja, a maioria das propagandas
modernas incentivam a consumo de cel'to pl'oduto ou servi~o.
Procurando esclarecel' melhor, publicidade pode sel' definida como a
veicula~ao de mensagens que levam ao consumo de bens materiais. 0 texto
publicitario impresso pl'esente em jornais) revistas, outdoors, se presta,
11
principalmente, a venda de produtos ou servic;;os. Ja a terma propaganda
pade ser utilizado tanto como sin6nimo de propagac;;ao de ideias, quanta no
sentido de publicidade.
Partanto, aD se falar de texto publicitario e propaganda, indica-se
duas eaisas equivalentes, que possuem linguagem propria, utilizada para
convencer, para persuadir 0 consumidor. VESTERGAARD (1996, p.6) deixa
claro que quando uma sociedade atinge urn estagio urn estagio em que boa
parte da popula<;ao vive adma do nivel da subsistencia, a propaganda e
inevitavelmente persuasiva. Explica, tambem, que isso 56 e vcrdade sob uma
importan te condic;ao: que se trate de urn sistema capitalista.
Ainda, em se tratanda de propaganda, pade-se distinguir dais tipos: a
politica e a comerciaL A propaganda politica, muito bern conhecida de todos,
que e veiculada exaustivamente na televisao, nao nos causa uma boa
impressao por ter adquirido urn sentido pejorativo, e por representar, na
maioria das vezes, urn engodo.
Entretanto, a comercial, veiculada tanto na televisao, quanto nos
veiculos de comunicaGao impressos, procura, atraves da criatividade, da
linguagcm pcrsuasiva e da linguagcm poetica, con veneer, persuadir,
encantar. RAMOS ([987, p.12) cita que "propaganda e uma tecnica de
comunicaG8.o a divulgar os beneficios de urn produto, de urn serviGo ou de
uma ideia, e que para is so se vale das artes e de algumas ciencias".
Com certeza, a mensagem publicitaria e interdisciplinar, podencto
reunir conhecimentos de psicologia individual e pessoal, de sociologia,
ectucaGao, etica, filosofia, teo ria da comunicaGao e retarica, sem excluir
12
economia, marketing e estatistica.
Assim, as mensagens publicitarias favorecem as estudos
interdisciplinares de maneira muito rica e interessante, constituindo-se
tcxtos alternativos a serem utilizados na educa~ao para a comunicaf;8.0 nas
escolas.
Outra considera.;ao a ser [eita sabre a propaganda comercial e que cIa
representa urn meio utilizado pelas empresas para anunciar urn nome Oll
imagem, a fim de criar uma receptividade duradoura junto ao publico. De
acordo com VESTERGAARD(1996, p.I), a propaganda comercial abrange,
em primeiro lugar, a chamada pubUcidade de prestigio ou institucional, em
que as emprcsas nao anunciam mercadorias ou scrvi<;os, mas antes um
nome ou imagem.
Seja para divulgar as bcneficios de urn produto, de urn servi<;o ou de
uma ideia, seja para anunciar um nome ou imagem, a propaganda comercial
se utiliza de estrategias lingiiisticas que servem para persuadir e reduzir 0
publico consumidor.
As estrategias lingo.isticas mais utilizadas, segundo CARVALHO
(1996, p.34), sao a metafora, a metonimia e 0 trocadilho. Como exemplo de
metonimia citamos 0 titulo da propaganda do guarana Antarctica: "Agora, 0
mundo vai pedir 0 sabor do Brasil" (revista Veja, out. 1999). A associa<;ao
metonimica se da entre 0 guarana e 0 seu sab~r.
Ja no texto "Aqui voce nao navega, voa" (revista Veja, out. 1999),
propaganda do provedor "Onda", percebemos a metafora, pois ha uma
rela<;aode semelhan<;a entre 0 provedor "Onda" e a velocidade de urn aviao.
13
Ai<!m das estrategias iinguisticas, as mensagens publicitarias
contemporaneas abordam temas especificos como 0 desejo de ser feliz. A
felicidade e urn dos valores universais presente na vida do homem moderno
que habita urn mundo conturbado e extremamente tecnologizado.
Outros valores universais aproveitados com freqiiencia pelas
propagandas sao: liberdade, arnor, justic;a, status, conforto e seguranca
econ6mica.
Na propaganda dos sapatos COMFORT (revista Veja, out. 1999), por
exemplo, tanto 0 titulo "A TERAPIADOS PES" quanta a marca, abordam 0
valor conforto.
Aincta, tecendo considerac;6es sabre a propaganda comercial,
justamente por habitarmos urn mundo ande a tecnoiogia tern forc;a e
importancia monumentais, eia utiliza mensagens que apresentam todo a
aparato tecnoJ6gico a venda como promessa de renovac;;ao, juventude e
fe1icidade. CARVALHO (1996, p.ll) diz que a mensagem publicitaria e 0
brac;;o direito da tecnologia moderna, e a mensagem de renovac;;ao,
abundancia, lazer e juventude que cerca as inovaC;6es propiciadas pelo
aparato tecno16gico.
Entretanto, sabe-se que a maior parte das promessas feitas por uma
mensagem publicitaria e ilusao. 0 consumidor que comprou urn cigarro, par
exemplo, seduzido pelas promessas de sucesso, felicidade e liberdade,
transmitidas peJa propaganda, logo cai em si, ficando somente com a
sentimento de frustrac;ao e com 0 risco de contrair doenc;as pulmonares
graves.
14
Par outro lado, ClTELLI (1991, p.6) explica: "persuadir nao e
apenas sinonimo de enganar, mas tambem 0 resultado de certa organizac;8.o
do discurso que 0 constitui como verdadeiro para 0 receptor". Mais uma vez a
forc;a de urn discurso bem organizado, a fon;a incontestavel das palavras.
Logo, ao entrar em cantato com a linguagem publicitaria, a pessaa
descobre os desejos e aspirac;oes de urn atu" novo que e prometido pela
propaganda. Na verctade, por mais que disfarce, a linguagem da propaganda
sera sempre uma imposic;ao, uma manipulac;ao.
CAPiTULO II
2. A LINGUAGEM PERSUASIVA VERBAL E NAO·VERBAL DAS
PROPAGANDAS COMERCIAIS
2.1 Textos Publicitarios e a Retorica
Os textos de propaganda representam. hoje, 0 principal campo de
aplica<;;aoda rctarica. Entendendo-se a retorica como a arte de persuadir, de
can veneer e de levar a ac;ao por meio da palavra, e facil ver que e esse,
tam born, 0 papel da linguagem da propaganda. De acordo com SANDMANN
(1999, p.12) a propaganda se selve da linguagem coloquial, da criatividade,
dos recursos expressivos para chamar a atenc;ao do leit~r e persuadi-lo.
A ret6rica e utilizada para persuadir, mas cia nao e a persuasao. Isso
acontece porque, segundo CITELLI (1991, p.ll), a retorica 0 analitica, ou
seja, cabe a cia descobrir os mecanismos utilizados para se fazer alga ganhar
a dimensao da verdade, descobrir 0 que e proprio para persuadir.
Logo, a conhecimento da ret6rica pelos publicitarios modernos e
fundamental, pois eia vai Ihes indicar as regras gerais a serem aplicadas nos
discursos persuasivos. It bern possivel que as publicitarios nao trabalhem
16
com a verdacte, mas somente com alga que se aproxime de uma certa
verossimilhanc;a. Persuadir, entaD, representa a resultado de uma certa
organizac;8.odo discurso que 0 constitui como verdadeiro para a receptor.
Em uma propaganda do "Jeep Cherokee" (revista Veja, out. 1999), por
exemplo. quatro paginas da revista mostram animais selvagens como
macaco, cOfuja, tucano, anta e uma on<;a, boquiabertos, estupefatos,
provavelmente por terem vista 0 novo carro. Este aparece na selva como uma
grande novidade, uma maravilha da natureza, a "'tinieo" de sua espccie. It
claro que ningucm pensa, ao ver essa propaganda, que as animais teriam
realmente essa atitude de enorme espanto. 0 que ocorre ao olharmos a
propaganda e fiearmos convencidos, pela propria imagem, ace rca da grande
novidade e grandeza que 0 carro representa. Ou seja, 0 que vemos nao e
verdadeiro, mas e verossimil enos convence porque possui uma logica
interna.
Procurando esclarecer melhor como se da a organizac;ao do discurso
publicitario moderno, citaremos a seguir os raciocinios discursivos
apontados por CITELLI (1991, p.1S-19). 0 primeiro raciocinio e a apoditico
que possuia no mundo classico, ° tom da verdade inquestionavei. Fazendo-se
relac;ao desse raciocinio com urn texto publicitario atual, percebemos esse
exemplo. "Existe um ano, urn lugar, uma celebrac;ao que voce nunca vai
esquecer" (revista Veja out. 1999). Aqui, a presen<;:a do verbo existe nao
deixa, ao receptor, dllvida quanto a verdade do emissor.
o segundo raciocinio e 0 dialetico em que se aponta para mais de
uma conclusao possivel atraves de Urnjogo de sutilezas. Como exemplo: "Nao
17
basta pensar no futuro do seu filho. E preciso tamar algumas decisoes"
(revista Veja, out. 1999). Nessa propaganda do colegio Decisivo as pais tern
varias opc;oes de coh~gios para seus filhos, porem 0 Decisivo e apresentado
como send a a decisao mais acertada, a conclusao mais aceitaveL
Finaimente, a terceira grande categoria de raciocinio apontada par
CITELLI e 0 retorico. Ah~m de buscar a convencimento racional, esse
raciocinio busca tambem 0 emotivo. Conforme CLTELLl (1991, p.19): "0
raciocinio retorico e capaz de atuar junto a mentes e corac;6es, num eficiente
mecanisme de envolvimen to do receptor". Como exemplo de sse raciocinio
podemos citar a propaganda do provedor UOL (revista Veja, out. 1999):
"Transforrna marinheiros de primeira viagem em capitaes". Nessa
mensagem ° convencimento racional se da atraves da ideia de que 0 proved or
e eficiente, sendo aquele que mais apresenta vantagens e nao enjoa. Ja 0
convencimento emotivo se da quando 0 receptor e incentivado a usa-Io e
passar de urn simples "marinheiro" para "capitao", ou seja, atingir uma
posi~ao mais elevada, melhorando seu crescimento pessoal, seu "status".
2.2 Alguns recursos persuasivos utilizados nos tex.tos publicitarios
verbais e nao-verbais
Alem dos raciocinios explicitados anteriormente, podemos perceber
uma serie de recursos persuasivos presentes nos textos pUblicitarios
modernos. Tanto a imagem quanta 0 texto verbal estao voltados para a
sedu~ao do receptor, utilizando, para isso, todos os recursos possiveis.
18
Urn recurso fortissimo e que a linguagem publicitaria utiliza muito
bern sao, sirnplesmente, as palavras. De acordo com CARVALHO(1996, p.1S)
a palavra tern 0 poder de cfiar e destruir, de prometer e negar, e a
publicidade se vale desse recurso como seu principal instrumento.
Vale ressaltar que a forc;,:ado texto publicitario naD est8. em seu
conteudo denotativD, mas nas conotac;6es que ele e capaz de sugerir atraves
de recursos ret6ricos como a metlliora, a metonimia e a personifica<;ao.
Logo, a linguagem publicitaria e essencialmente conotativa. Algumas
vezes pode-se encontrar mensagens que se apoiam no denotativD, mas
geralmente as palavras sao utilizadas de modo inovador com 0 objetivo de
emocionar, de tacar 0 eu interior do receptor. Isso e a que torna 0 texto
publicitario tinieo, especial, diferente de outros tipos de mensagens. E 0 que
afirma LADEIRA (sid, p.1l4): "A linguagern publicitaria possui tra~os
caracteristieos que a tornam um genero especifieo, reunindo rormas de dizer,
as quais servem de veieulo a comuniea~ao de pensamentos, emo~oes e
comandos determinados, definindo a~oes dirigidas a objetivos claros".
Na verdade, a preocupa~ao de urn born publicitario nao esimpiesmente vender urn certo produto, mas vender uma imagem, vender
emo\=oes. Sendo assim, a linguagem conotativa e as imagens sao de grande
valia. Eo que nos [ala MARTINS(1992, p.2S): "Os bons publicitarios afirmarn
que nao estao preocupados em vender proctutos, mas em vender imagens e
emo\=oes".
A sedu~ao dos discursos publicitarios acontece tam bern atraves dos
argumentos apresentados nas mensagens que vern, quase sempre, aD
19
encontro das expectativas dos consumidores, deixando-os felizes e
acreditando nas possibilidades de satisfazer seus desejos mais intimas. Todo
consumidor procura, me sma que inconscientemente, a satisfac;;ao de seus
desejos c/all aspirac;6es atraves do que urn certo proctuto the ofcreee. E a que
confirma CARVALHO (1996, p.22): "No caso da publicidade, a palavra nao
leva a descoberta do eu interior, mas a descoberta dos desejos e aspira<;6es
de urn "tu" novo, que ela sedutoramente se propoe a realizar".
Geralmente, a desejo que e bastante explorado pelas mensagens
publicitarias e 0 de ser feliz. Na propaganda da "Quatro Rodas" a imagem do
carro dos son has que vai ser sorteado nos remete a aspirac;ao de ser feliz
atraves da aquisic;ao de urn bern material. Alem disso, a imagem nos
transmite tam bern 0 "status", 0 "prestigio" que possui a dono de urn carro
como esse, perante nossa sociedade. E esse prestigio, esse status que vai
fazer com que varios leitores da revista comprem seus exemplares. 0 carro
representa, entao, a satisfac;ao dos desejos e aspirac;oes de quem Ie a revista.
(ver imagem abaixo)
Outro rneio eficiente para emocionar e chamar a atenc;ao do publico,
utilizado nas propagandas, e a arte. A preocupaC;ao estetica faz parte do
trabalho de todo born publicitario. CARVALHOexplica:
Todo enuneiado tende a intervir persuasivamente no destinatario, eomo proposito de modifiear suas cren~s, suas atitudes e ate suaidentidade. Os enunciados que comp6em a rnensagem publicitciriapotencializam essa tend encia, e para isso eon tam com os recursoseotidianos da lingua, acrescidos daqueles que decorrem dapreocupa«;ao estetica. Desse modo. 0 casamento arte/persuasao torna-se duradouro e convincente.
20
Portanto, a arte nada mais e do que urn disfarce da linguagem
sedutora utilizada pela propaganda.
Desse modo, a propaganda nunca consegue negar a sua importante
funIYao. Confonne RIBEIRO. essa fun~ao importante e especifica e a
persuasao do consumidor que deve funcionar ao nivel da psicologia
individual, ajudando a produzir 0 esperado comportamento de compra. Ah~m
disso RIBEIRO(1991, p.64) afirma: "Pcrsuadir 0 consumidor e urn objetivo
moos ambicioso do que simplesmente vender 0 produto: e criar condic;6es
21
para sus ten tar continuamente a sua posiy8.o de mercado".
Outra estrategia utilizada pelos publicitarios seduzir atraves da
crianc;a. Tuda a que diz respeito a crianc;a emociona e eles sabem disso. Por
isso, imagens infan tis sao frequentemente utilizadas nas mensagens
publicitarias, geralmente para causar impactos. E 0 que confirma
GIACOMINIFILHO (1991, p.57): "A utiliza~ao da crian~a em anuncios para
adultos e comum, pais para as publicitarios trata-se de urn dos apelos mais
eficientes e emocionantes para causar impactos".
No Brasil, a crian<;a e considerada soberana do lar. As empresas.
obcecadas pelo luera, Janc;am campanhas, freqOentemente, incentivando a
crian<;a a coiecionar, a ganhar viagens a Disney etc. 0 fato c que a crian<;a
pede aos pais para comprarem e sente-se ansiosa por aquilo que ainda nao
possui. 0 resultado disso e, muitas vezes, 0 consumismo exagerado e
estrondosos lucros para as empresas.
Urn exemplo da utilizac;;:aode crianc;;:ascomo forte e eficiente apelo em
anuncios para adultos e a propaganda do banco !tau, na sequencia.
Nela a imagem nos mostra tres crianc;;:as brincando, felizes e
saudaveis. A mensagem verbal promete a mae ou ao pai tecnologia
necessaria para fazer com que 0 dia-a-dia fique mais agil. Todas as
facilidades prometidas pelo banco permitiriam, entao, que oS pais tivessem
tempo livre para ficar com seus filhos. 0 apelo emocional e bern visivel nessa
propaganda, pois tanto a imagem quanto 0 texto verbal lembram 0
emocionante papel dos pais: acompanhar 0 desenvolvimento e garantir a
felicidade das suas crianc;;as.
22
Alcm da utilizac;:aoda crianc;:ae da arte como forrnas de persuadir. os
publicitarios ocidentais utilizam tambem simbolos de "status" e
personalidades que representam sucesso. CARVALHO(1996, p.107) fala:
"Sao cinco as temas preferidos dos ocidentais: crianc;:a, familia, sexualidade,
mulher e simbolos de status".
Na propaganda da NOKIA,a seguir, vemos 0 atleta do seculo, Pele.
Uma personalidade de sucesso internacional e, com certeza, urn simbolo de
"status". Ele faz embaixadas com 0 celular nos lembrando que possuir urn,
da marca citada, e privilegio somente para alguns brasileiros muito especiais.
o celular representa as desejos mais intimas de um brasileiro: ser uma
personalidade de sucesso, ganhar muito dinheiro, ser famosa.
23
(revista Veja, set. 1999, p. 18)
Em outra propaganda da revista Veja, notamas 0 tema familia, por
ocasiao do dia dos pais, no texto pUblicitario da HERING.Geralmente. a
imagem e de uma familia feliz, saudavel e bonita. Nao e diferente na
propaganda das malhas HERINGque direciona-se a classe media.
No texto verbal percebe-se 0 jogo de sentidos com a palavra basico,
procurando deixar claro que, se pai e basiea, indispensavel, 0 presente
HERING tambem 0 e.
Na imagem principal temo5 0 pai e a filho vestindo roupas coloridas,
alegres, esportivas. E, sem duvida, uma familia de classe media. Nas outras
imagens aparecem as camisas e 0 prec;:o que, com certeza, se lorna irris6rio
para 0 filho que quer deixar seu pai contente, esportivQ e jovial. Finalmente,
24
no canto superior esquerdo, a imagem de dais charutos cruzados em urn
cinzeiro lembra a figura do pai e, ao mesmo tempo, 0 logotipo da HERING.
(Revista Veja, ago. 1999, p. 60-61)
2.3 Mensagens verbais e nao-verbais
Nas propagandas impressas, ao lado das mensagens verbais, sempre
aparecem as imagens. A rela<;ao entre a mensagem verbal e a visual e
estreita, uma depende da outra. Essa rela<;ao e chamada, por alguns autores,
de ancoragem, ou seja, 0 texto proporciona 0 ela entre a imagem e a situa<;ao
espacial e temporal que as meios puramente visuais de expressao nao
permitem estabelecer.
25
A imagem e bem mais ambigua do que a mensagem verbal, por isso
esta seleciona uma entre varias interpretac;6es possiveis daquela.
A combinac;ao do texto verbal e ilustrac;ao se torna cada vez mais
frequente e importante em nossa cultura. Pode-se afirmar que todos as meiDs
de comunicac;ao de massa utilizam, ao lade da mensagem verbal, a
mensagem visual. E passivel tambem encontrar textos que sao puramente
visuais, em "outdoors", por exemplo. MARTINS (1997. p.137) afirma que uma
boa ilustrac;ao pode substituir, as vezes, urn textc, pais tern a possibilidade
de expressar 0 que as palavras nao conseguem.
Reaimente, na agitac;ao da vida modern a, e bern mais suave ler uma
imagem do que uma mensagem escrita. MARCONDES F'ILHO (1994, p.8)
esclarece brilhantemente 0 papel das imagens na sociedade modern a:
As imagens, quando constrw;6es mentais fazem uma especie decontraponto a pratica de vida. Sao urn tipo de porta para outradimensao, ados sonhos, dos desejos, das fantasias. E uma dimensaoque nao esta diretamente presente na vida das pessoas, mas tern a vcrcom suas ideias e aspira<;6es. E tao ou mais importante que adimensao do dia-a-dia, ja que enquanto essa vivencia concrcta dotrabalho, do contato com outras pessoas, do lazer, das fenas, da escolaesta marcada pelo agir regular. repetitivo, continuado, portanto,mecanico de vida, a dimensao das imagens esta ligada ao sentido dofuturo, da cna<;ao, das buscas, daquilo que da 0 elan it vida, aquilo queda impulso para as pessoas irem a [rente, batalharem, avan<;arem.
Por isso, a imagem utilizada em propagandas nao
meramente ilustrativa e inocente. Ela estabelece uma ligac;ao com os sonhos,
com 0 emocionaJdas pessoas.A respeito disso, MARCONDESF'ILHO (1994,
p.8) explica: "As imagens, portanto, nunca sao gratuitas nem estao sozinhas.
Quando aparecem para que 0 homem as veja, servemde meio de ligaGao
26
com outro mundo, que e 0 imaginario da sociedade."
,(revista Veja, maio 1999, p.24)
Logo, fica evidente a fon;a que as imagens representam quando
'empregadas em mensagens publicitarias. Prova disso e a propaganda acima
da Technos. Ela apresenta a imagem de urn Telogia como urn sonho, uma
revela~ao. presente ideal para 0 dia das meles. LADEIRA (sid, p.147) explica,
no entanto, que essa fort;a da imagem, em geral, e acrescida peto
estimulo da escrita (que sugere e analisa) transformando-se numa pressao
maior.
27
Uma imagem e bern mais ambigua do que a mensagem escrita.
Geralmente, temos, entao, a escrita como urn meio de selecionar a mensagem
que 0 publicitario deseja transmitir. Na propaganda do HSBC, por exemplo,
retirada da revista Veja (1999), podemos notar a presen~a dos simbolos das
opera90es fundamentais: simbolo da adic;ao, da divisao e da subtra9ao. Ja 0
quarto simbolo e do HSBC. A mensagem escrita multiplicar e fundamental
para 0 leitor cornpreender 0 que a propaganda pretencte transmitir.
+Somar Diminuir
•-•Dividir Multiplicar
I-ISBCID
(revista Veja, set. 1999, p.20)
Nessa propaganda, 0 logotipo do banco e relacionado ao simbolo da
operac;a.ode multiplicar (X).Logo, a mensagem implicita e: a HSBCmUltiplica
28
seu dinheiro.
Ja. na propaganda da FORUM,encontramos essencialmente imagem
como recurso de persuasao. Aqui 0 tema e juventude, beleza e sensualidade.
Tudo nessa imagem reveia sensualidade: 0 rosto, a boca da modelo, 0
seu corpo que esta numa posi~ao proYQcante, 0 decote do vestido. A cor
escura do vestido permite 0 destaque ao corpo de cor clara, produzincto urn
contraste sensual. Com certeza, essa imagem lembra as mulheres as seus
desejos mais intimos: Ocar bela e sensual, e claro que com a FORUM.
CAPiTULO m
3. A LEITURA CRiTICA DAS MENSAGENS PUBLICITARIAS
A leitura critica de mensagens publicitarias nao e tentativa recente.
Segundo SOARES (1988, p.lO) teve inicio em 1979, em Sao Paulo, 0 Projeto
de Leitura Critica da Comunicac;ao, da UnHio Crista Brasileira de
Comunicac;ao Social. De acordo com esse au tar, 0 importante do projeto e a
abertura que traz para 0 usa alternativo da Comunica<;ao Social, uma vez
que demonstra a potencial dos recursos de seus veiculos para fins
comunitarios e pastoris. A meta buscada pelo projeto e a utopia da
comunicar;ao democnitica e participativa a servi<;o das classes majoritarias e
marginalizadas.
SOARES (1988, p.ll) sugere que e possivel a introdu~ao do estudo e
do debate da COlTIunicar;ao Social no sistema formal de educa<;ao (nos
colegios), desde que se trabalhe com criatividade.
o estudo da Comunica~ao Social pode implicar a aceita~ao de cada
urn do lugar social que ocupa, facilitando assim, a descoberta das tramas e
dos projetos de manipula<;ao inseridos nas mensagens.
30
o resultado esperado da educa.;ao do sensa critico frente aos meios
de comunica~ao seria, con forme SOARES (1988, p.17):
A educa~ao para a comunicac;ao deve oferecer condic;6es para que acomunidade descubra a natureza dos processos de comunicac;ao emque esta inserida, ajudando seus membros a desvendar os mecanismospelos quais a sociedade, ao utilizar os recursos da Cornunicac;ao Social,exerce sobre 0 pOVO 0 pader de manipulac;ao. Dcve, mnda, favorecer 0
excrcicio de pniticas comunicacionais democniticas e libertadoras.
Assim, quando soubermos lef criticamente as mensagens
publicitarias modernas, identificando as recursos persuasivos utilizados por
elas, teremos condic;6es de reagir a manipulac;;ao. Uma das rea.;6es possiveis
seria a de exigir que as propagandas de produtos como remedios ou
suplementos alimentares informem sobre sua cornposi<;ao, ao inves de
somente conquistar e persuadir com promessas ilus6rias.
Recentemente, houve rea<;ao cia sociedade em rela<;ao as bebidas
energeticas que prometem energia, saude e vitalidade atraves das
propagandas, mas nao informam que suas composi<;;:oesquimicas podem
causar problemas de saucte em diabeticos, por exemplo.
Esse foi urn exemplo de que a sociedade e capaz de reagir a
manipula<;ao, exigindo melhor qualidade dos produtos oferecidos e maior
seriedade nas propagandas de produtos que prometem melhorar a saude,
como as bebidas energeticas e fortificantes.
Parece-nos que nesse ambito da leitura critica das mensagens
publicitarias e reac;ao a rnanipulac;ao exercida por elas, a escola tern urn
importante papei: desvelar as icieologias presentes nas mensagens,
31
oportunizando aos alunos uma reat;ao a esta explicac;ao falsa da realidade,
elaborada peJos grupos que detem 0 pader, e ace ita com naturalidade peta
Ainda falando sabre a leitura critica das mensagens publicitarias,
citamos uma importante observa~ao de MARTINS (1997. p.43):
A ptimeira leitura da mensagem de urn anuncio publicitario consideraapenas dais aspectos: a substzmcia lingiiistica ou suporte verba!(legenda, titulo, slogan, texto, identifica<;ao da empresa) e a substanciaobjetiva e inteligivel da imagem (como volumes, rafmas e cores). Ja asegunda ieitura, simb6lica, cultural ou conotada. capta e interpretasentidos isolados da linguagcm. A terceira leitura passivel e aquela quebusea captar a ideia da essencia e da identidade do produto atraves desuas caracteristicas. Uma quarta leitura, denominada de deslocada,separaria 0 significante do significado da mensagem e atena-setexcJusivamente, aos valores decorrentes de impressoes auditivas,fOnicas, visuais ou semanticas que acontecem na mente do receptor etern qualqucr rela<;;8.ocom qualidades ou fun~oes do produto.
Essas leituras sao perfeitamente aplicaveis em uma aula de Lingua
Portuguesa como 0 inicio do trabalho com propagandas comerciais. Ap6s a
leitura, aconteceria a produc;;aoe analise linguistica.
3.1 Sugestoes de leitura critica e produt;ao a partir de textos
publicitarios
As leituras sugeridas par MARTINS, assim como a descoberta das
ideologias presen tes nas mensagens podem e devem ser realizadas nas
escolas. E na escola que 0 cidadao deve ter a oportunidade de entender
como acontece a publicidade moderna e qual sua influencia na vida de
32
cada um.
Nesse trabalho estamos sugerindo um encaminhamento de leitura e
proctw;ao a partir de textos publicitarios que pode ser aplicado na oitava
serie do ensino fundamen taL
Primeiramente, sera realizada a leitura de dais textos sabre
pubJicidade, encontrados no livro de TUFANO, para, em seguida, organizar
debates sabre 0 assunto:
TEXTO 1
Investir em imagens e emo.;6es
A publicidade precisa do publico. Existe em fun<;;aodele. Nasceu, no
Brasil, quando a sociedade capitalista pas sou de lima ecanomia
essencialmente rural para uma economia agroindustrial urbana, na virada
do seculo XIX para 0 seculo XX, intensificando-se, posteriormente, com a
consolidac;ao do modelo industrial de produc;ao. Os brasileiros residentes
principalmente nas cidades servidas peios jornais e, mais tarde, peio nidio (a
partir da decada de 20) e televisao (dcpois dos meados da decada de 50)
passaram a ser identificados sob as denomina.;6es gerais de "opiniao
publica"(quando 0 que se quer designar e a media do pensamento do
povo sobre determinados assuntos, principaimente politicos)
"'consumidores"{compradores em potencial). (... )
A pubJicidade moderna originou-se do processo de aprofundamento
33
da divisao do trabalho no interior das empresas, do que resultou uma
segmenta~aodos departamentos de prodw;;ao e vendas. A verdade e essa:
naD importa apenas produzir, tem-se que anunciar 0 que se produz.
E quanta mais aperfei~oado for 0 modo de prodll(;ao dentro do
sistema de livre mercado, tanto mais se necessita investir na publicidade. E
56 imaginal' uma linha de montagem para a confeq:ao de camisas. As
maquinas naD podem parar nunca de fabricar novas pec;;as, pais 0 patrao
empatou capital em edificios, equipamento, energia, materia-prima,
funcionarios etc. Mas para dar saida aos produtos e preciso convencer as
pessoas a aptar pela marca da fabrica. Contrata-se, entaD, uma agencia de
publicidade, destina-se uma grande importfmcia do on;amento da empresa
para a divulgac;,::aodo produto, aprova-se uma das propostas de campanha
publicitaria apresentadas pela agenda, escolhem-se a dedo as meios de
comunicac;;ao para veicular, pOl' determinado tempo, as pec;as que fazem
parte da campanha. Daqui a urn tempo, algum concorrente ja tera lanc;;ado
algo parecido com 0 produto da fabrica. Sera necessario investir novamente
na publicidade, pois os "consumidores"poderao abandonar a marca e [azer
outras opc;6es de compra. Contrata-se de novo uma agenda, destina-se uma
verba, aprova-se uma campanha.. Quanto maior for uma empresa, tanto
maior sera D perigo de falenda, caso naD souber comunicar-se com 0 "seu"
publico consumidor.
o grande investimento de capital e a alto risco representado peto
ingresso no mundo das campanhas publicitarias fazem, contudo, com que
poucas empresas possam jogar duro, lanc;ando-se na concorrencia. 0
34
processo acaba, finaimente, por favorecer as organiza~6es mais fortes,
criando condic;6es para a forma<;ao de verdadeiros monopolios. Reafirma~se.
assim, a tendenda pela manutenc;ao, no mercado competitivQ, de empresas
operando com alto nivel de produtividade, com capacidade de diversificar
constantemente as seus produtos, conservando os prec;os em urn patamar
igualmente alto.
Nestes termos, quanta mais se aprofunda a estrutura de prodw;ao
concentrada nas maDS de poucos, maior importancia ganhani a puhlicidade
e mais sofisticadas se tornam as rarmas de envolvimento do consumidor. Urn
dos resultados desse envolvimento e a introduc;ao da falsa ideia de que a
posse dos produtos anunciados e a principal garantia de felicidade.
Entramos, portanto, no mundo das ilus6es. Na verdade, os bons
publicitarios afirmam que nao estao preocupados em vender produtos, mas
em vender "imagens" e "emoc;oes". Estao preocupados, principaimente, em
garantir a identificac;,:ao da marca do produto que anunciam com imagens e
ilusoes sedutoras. E e porque cada um de nos e um rico espac:o para 0
desenvolvimento de ideias e desejos, Que as publicitarios tern excelentes
chances de acertar.
lsmar de Oliveira Soares. Para uma
Jeitura critica da publicidade. p.27-29.
35
TEXTO 2
o produto mais anunciado na teve brasileira
Voce sabe qual
brasileira?
Qual e 0 produto que tern a maior verba publicitaria jamais gasta em
o produto que mais se anuncia oa televisao
televisao no Brasil? Sabonete? Detergente? Cigarro? Autom6vel? Nao, nada
disso. Se e que voce ainda nao se deu conta, 0 produto mais anunciado na
televisao brasileira chama-se politica. E issa mesmo. Senao, vejamos: cada
partido politico tern direito a duas horas por ana, em rcde nacional, para
divulgar seu progrruna. Vinte e nove partidos, 58 horas. Em ana de eleic;ao,
como este que estamos vivendo, as partidos politicos tern direito a uma hora
por dia, durante 60 dias, aproximadamente.Somando-setudo, sao 118
horas, inteiramente gratis. E como se urn anunciante pudesse calocar
aproximadamente 38 comerciais de 30 segundos, todos os dias, durante 0
ana todo, em todas as emissoras de televisao do pais. Issa sem falar no radio,
que tcm exatamente a mesma carga horaria.
Claro que nenhum anunciante no Brasil tem uma verba capaz de
cumprir nem mesmo urn quinto des sa programac;ao. Mas voce deve estar
perguntando onde eu quero chegar com todos esses numeros. Eu explico.
Recentemente, um conceituado instituto de pesquisas elaborou uma
pesquisa sabre a credibilidade de varias instituic;6es e profiss6es junto a
opiniao publica. Adivinhe quem aparece em ultimo lugar, com apenas um por
36
eento? Os politicos, por incrivel que parec;a.
EntaD, alguma caisa esta errada, pais, com tada essa carga
publicitaria, os politicos deveriam estar no tapo da !ista, au quase lao E, a
essa altura, vale perguntar ande est8. 0 erro. No produto au na mensagem
publicitaria? Aqui entre nos, aliSO dizer que, salvo raras excec;6es, 0 efra
csta no produto. Porque a propaganda sozinha nao faz milagres.
Ao contrario do que algumas pessoas ainda pensam, a propaganda
naD manipula a opiniao publica. A maior verba publicitaria do mundo naD ecapaz de salvar urn mau produto. Para dar certo, a propaganda precisa
trabalhar com produtos honestos, que tragam algum beneficia aos seus
consumidores. E quando urn produto nao corresponde a expectativa, vern
Dutro e ocupa 0 sell espac;o.
Alexandre Periscinoto. Folha de S. Paulo,
11 dejun. 1989.
Apos a leitura desses textos, pod em ser discutidas as seguintes
questoes com os alunos:
- Que necessidades gerou a cria.;;:aoda pubJicidade moderna?
- 0 que faz aumentar cada vez mais a necessidade de investimento na
publicidade?
- Segundo a autor, Ismar de Oliveira Soares, a publicidade nao esta
preocupada apenas em falar do produto, mas tambem em envolver 0
consumidor. De que forma, segundo ele, tern
esse envolvimento?
ocorrido
37
- Por que 0 resultado da pesquisa constitui apoio a ideia do autor
Periscinoto de que "a propaganda nao manipula a opiniao publica"?
- Como voce entende esta afirma<;ao do autor: "Para dar certo, a
propaganda precisa trabalhar com produtos honestos, que tragam
algum beneficia aDs seliS consumidores? 0 que e "dar certa"? 0 que e"beneficia aos sellS consumidores"? Ha propagandas que "dao certo"
e nao trazem beneficios?
As quest6es sugeridas acima podem ser respondidas com a turma
tada ou em grupos. Logo em seguida, com os alunos dispostos em urn
circulo, 0 professor pode dirigir urn debate a partir das seguintes perguntas:
- A puhlicidade e necessaria a sociedade moderna? Por que?
- Como seria a sua vida sem a publicidade?
- Que influencias da publicidade voce reconhece em seu
comportamento?
Acreditamos que, depois da leitura e debate dos textos sugeridos, os
alunos terao uma boa ideia de como acontece a publicidade brasileira e de
sua influencia no vida de cada urn.
Sugerimos, entao, a realizav8.o da leitura critica de duas propagandas,
atraves do metodo indutivo, indicado pOl'SOARES(1988, p.93):
- Primeiramente, distribui-se propagandas aD grupo com que se vai
trabalhar. A escolha das propagandas sera feita peto professor. Aqui
indicamos as propagandas do suco Parmaiat, como exemplo.
(revista Veja, out. 1999, p.156-200)
38
o exercicio de leitura consistini em responder as perguntas:
mensagem?);
- Quem diz? (quem e 0 principal responsavel peto que se afinna na
- A quem e dito? (qual e 0 publico para 0 qual roi produzido 0
antincio?);
- Que diz? (qual e a mensagem explicita?);
- Com que inten~ao? (qual 0 objetivo imediato do anuncio? Quais as
objetivos ocultos? 0 que esta por tnis da mensagem?);
- Que efeitos produz? (em voce e nas pessoas que voce conhece?).
Cada grupo pade indicar urn coordenador de debates e urn relator das
reunioes grupais.
conclusoes que senic apresentadas em plenario, ap6s terminadas as
Depois da apresenta~ao das conclusoes de cada grupo, 0 professor
39
pode sugerir a cria~ao de uma propaganda. Essa criayao devera ser
pJanejada antes de ser executada, au seja, e importante que se pense no que
eriar, a qual publico a anuncio sera destinado, qual sera a mensagem
explicita, qual sera a objetivo imediato do anuncio e quais scrao as objetivos
ocu1t05, que efeitos devera produzir nos consumidores.
Com certeza, 0 planejamento favorece a criac;ao de propagandas mais
interessantes e criativas. Ap6s 0 terminG da eiaborac;ao, as propagandas
podenlo ser expostas a turma e ate mesmo a escola.
Outro trabalho importante que 0 professor pode fazer, em sala de
aula, e a analise Iingilistica das mensagens publicitarias elaboradas pelos
alunos.
A propaganda da Bombril, por exemplo, pennite 0 estudo da
linguagem denotativa e conotativa. Pade-se comentar com as alunos 0 que
ambiguidade. dando como exemplo a mensagem escrita "Pegamos uma
bacteria que nao e sopa!". Essa mensagem e conotativa e traduz 0
pensamento dos pratos: "contraimos uma bacteria que nao e facil. que causa
sofrimento" .
Portanto, 0 trabalho com a linguagem denotativa e conotativa eperfeitamente possivel de ser realizado atraves das propagandas impressas.
o aluno deve saber identificar a diferen<;a entre as duas e entender que a
conotativa e que torna a mensagem, especialmente a publicitaria,
interessante, diferente.
Alem disso, essa propaganda permite trabalhar com a
intertextualidade, uma vez que os alunos podem pesquisar sobre bacterias,
40
descobrindo 0 que sao, quais as principais tipos que ameac;:am a saude do
homem.
Quanto a imagem, pade-se discutir 0 objetivo de cada cor na
propaganda. 0 vennelho, por exemplo, esta destacando os atributos do
produto de limpeza LimpolGel. Alem disso, essa cor faz parte do logotipo da
Bombril. Ainda, ha as pratos que lembram personagens de urn desenho
animado, saidos de urn mundo de fantasia. Ou seja, a imagem representa a
imaginario e a mensagem escrita faz uma liga9c3.0com 0 mundo real.
{revista
Assim. esperamos que essas sugest6es ajudem 0 professor de
Lingua Portuguesa no trabalho com as propagandas. Milito roais ainda se
41
pade realizar em sala de aula au fora dela, para oportunizar 0 desvelamento
das ideologias e entendimento da linguagem utilizada peJos publicitarios,
realizando-se a produc;ao ap6s uma boa leitura das informac;6es necessarias
e utilizando-se muita criatividade.
CONCLusAo
A linguagem persuasiva e a emprego da rctarka sao necessarios para
que uma propaganda comercial impressa atinja seus objetivos. Chamar a
atenGaodo cOl1sumidor esta cada vez mas dificil, vista que os estimulos
visuais e as informac;6es escritas estao em todo lugar.
A propaganda moderna, scm duvida, exige do publicitario urn dominic
lingOistico muito born, conhecimento e utilizac;;:ao da retorica e muita
criatividade. Ele precisa ser urn t<:!cnicoem comunicac;;:ao e tef conhecimentos
sabre psicologia, sociologia, educac;;ao. etica, filasafia, teo ria da comunicac;ao,
economia, marketing e estatistica.
A utilizac;;ao criativa das palavras que tern 0 poder de criar au
destruir, e 0 principal instrumento da linguagem publicitaria, a qual
representa. hoje. urn genero muito especial.
Ao entrar em contato com essa Iinguagem, a pessoa descobre desejos,
emoc;6es e aspirac;6es de urn "tu novo", sofrendo uma manipulac;ao
disfar~ada.
Para que haja leitura critica feita pelo consumidor, este precisa ter
urn born dominio linguistico e reconhecer que a propaganda e,
43
essenciaimentc, discurso persuasivD. Tambem precisa identificar as
mensagens publicitarias como expressao da ideologia da cJasse dominante.
o estudo e a debate das tecnicas de comunica~ao social, como as
propagandas comerciais, podem ser realizados nas escolas, desde que as
professores estejam devidamente preparados e saibam trabaihar com
criatividade. Eles devem ajudar seus alunos a desvendar os recursos
persuasivos utilizados nas mensagens publicitarias, reconhecendo a
manipulac;ao exercida pela elite dominante atraves delas.
Alem das possiveis tecnicas de leitura das propagandas comerciais
impressas sugeridas neste trabalho, pade-se chegar a muitas Qutras que
contribuam para a fonnac;ao do senSD critico e preparo linguistico dos
alunos.
o importante e que os professores oportunizem aos doscentes a
pratica de tecnicas de comunicac;ao social, atraves de urn modo dernocratico
e libertador. Podem ser criados, nas escolas, jomais impressos. jornais
televisivos, revistas, propagandas que incentivem a democracia e a liberdade
de expressao.
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