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Proposta para a aquisição de Mobiliário Escolar adequado ao 1.º Ciclo do Ensino Básico, que tem com objetivo o apetrechamento do novo Centro Escolar de Penafiel,
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PROPOSTA PARA AQUISIÇÃO DE MOBILIÁRIO ESCOLAR ADEQUADO AO 1.º CICLO DO ENSINO BÁSICO
Penafiel, 11 de Março de 2013
Emília Alves, Doutora
Duarte Carneiro, Mestre
e-mail: [email protected] blogue: posturacorporal.penafielsul.com Emília Alves / Duarte Carneiro
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PROPOSTA PARA AQUISIÇÃO DE MOBILIÁRIO ESCOLAR
ADEQUADO AO 1.º CICLO DO ENSINO BÁSICO
1. ENQUADRAMENTO
Hoje em dia as crianças passam grande parte do seu dia em ambiente
escolar, sentadas em sala de aula, o que corresponde aproximadamente a
30% do seu tempo de vigília, durante 5 dias por semana (Al-Harkan et al.,
2002).
Nesta perspetiva, a importância da postura sentada no desenvolvimento
motor da criança adquire um peso considerável (Evans et al., 1992). Da mesma
forma, o mobiliário escolar é intensamente usado durante esse período de
desenvolvimento do aluno. Se considerarmos a existência de mobiliário
inadequado nas escolas, utilizado nas condições descritas pelas crianças,
certamente vai potenciar o aparecimento de posturas incorretas, que podem,
pela repetição, dar origem ao aparecimento de patologias, no futuro (Lane &
Richardson, 1993). Segundo os mesmos autores, o mobiliário inadequado às
características dos alunos pode afetar o desempenho escolar, a concentração
do aluno e o aparecimento de fadiga com grande facilidade, assim como,
contribuírem para uma alta incidência de distúrbios músculo-esqueléticos nos
alunos. (Olsen et al., 1992).
Por exemplo, Diep (2003) verificou, no seu estudo, que alunos de 8 e 9
anos de idade, em média, por cada 90 minutos de permanência na escola,
estão sentados o equivalente a 60 minutos, pelo que um mobiliário escolar
adequado é fundamental para permitir que o aluno tenha um bom
desempenho, contribuindo para um bom processo de ensino aprendizagem,
garantindo ao mesmo tempo que não ocorram alterações posturais (Grimes &
Legg, 2004).
Wingrat & Exner (2005), referem que a principal função do mobiliário
escolar é apoiar a criança no acompanhamento da aula lecionada pelo
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professor, apoiar na tarefa de escrever ou desenhar. Ainda, outra função
menos reconhecida do mobiliário escolar, é a de garantir que as crianças
consigam permanecer no seu lugar, mantendo um bom comportamento e
desempenho, minimizando a necessidade de interações perturbadoras da aula,
fruto da falta de conforto (Knight & Noyes, 1999).
Joanne & Wong (2007) consideram que o mobiliário escolar deve ser um
factor facilitador da aprendizagem, proporcionando uma confortável área de
trabalho, com o mínimo de stress. E, quando adequado permite o movimento
livre, sendo que o contrário pode provocar dor e fadiga muscular resultante da
postura imóvel (Legg & Trevelyan, 2003).
Perante o anteriormente exposto, e na sequência do projeto que se tem
vindo a desenvolver na Escola Básica Penafiel Sul, com a realização de
trabalhos no âmbito da postura corporal, numa perspetiva de saúde, faz todo o
sentido que estando a Câmara Municipal prestes a apetrechar um novo Centro
Escolar, os responsáveis pelo projeto procurem dar o seu contributo na
tentativa de que as crianças de hoje, no futuro, se tornem adultos mais
saudáveis.
2. ESTUDOS EFETUADOS
No seguimento dos contactos anteriormente efetuados com o Ex.mo
Senhor Vereador da Educação, Dr. Antonino Sousa, relativamente ao novo
Centro Escolar de Penafiel (CE), vimos agora apresentar um relatório que
sustenta a proposta, já discutida oralmente, para a aquisição de mobiliário
escolar adequado às características físicas dos alunos do 1.º ciclo do Ensino
Básico.
Para a elaboração deste documento, efetuaram-se alguns estudos, ao
nível do 1.º Ciclo do Ensino Básico, que serviram de orientação para as
sugestões que se irão apresentar adiante, tendo por base dados concretos e
atualizados sobre a população escolar do concelho, nas idades
correspondentes aos níveis de ensino que irão ser ministrados no novo CE.
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Assim, os referidos estudos contemplaram os seguintes objetivos:
1. Conhecer as caraterísticas antropométricas dos alunos do concelho nas
faixas etárias correspondentes ao 1.º Ciclo do ensino básico;
2. Conhecer as caraterísticas do mobiliário escolar, mesas e cadeiras,
utilizado em sala de aula no 1.º Ciclo;
3. Conhecer a adaptação do mobiliário escolar às características dos
alunos.
Para a recolha de dados antropométricos contou-se com a colaboração dos
Professores das Atividades Extra Curriculares de Atividade Física e Desportiva,
da Câmara Municipal de Penafiel.
A amostra utilizada nesse estudo está representada no quadro 1.
Quadro 1- Constituição da amostra, por ano de escolaridade e por sexo.
N.º alunos femininos
N.º alunos masculinos
N.º total alunos
1.º ano 231 215 446
2.º ano 215 199 414
3.º ano 231 248 479
4.º ano 264 242 506
N.º total alunos 941 904 1849
De salientar que o número de participantes no estudo, corresponde a
cerca de 90 % do universo dos alunos.
Na figura 1 (infográfico), pode-se observar os dados referentes às
alturas médias e valores mínimos e máximos, dos sujeitos da amostra, por ano
de escolaridade e por idade.
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Figura 1- Alturas médias e valores mínimos e máximos, dos sujeitos da amostra, por ano de escolaridade e por idade.
Interpretando os dados antropométricos descritos na figura 1, verifica-se
que a média das alturas dos alunos do 1.º ao 4.º ano, apresentam variações
cuja diferença se encontra entre 5 a 6 cm.
ü 1.º ano – 120 cm
ü 2.º ano – 126 cm
ü 3.º ano – 132 cm
ü 4.º ano – 137 cm
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Também, existe uma grande diferença entre os valores mínimos e
máximo em cada ano de escolaridade, chegando, em algumas das situações,
a ultrapassar os 35 cm (ex: 1.º ano - 1,01 a 1,41 cm).
Partindo desta informação e porque se tinha como propósito efetuar uma
relação da altura dos alunos do 1.º ciclo, com as características do mobiliário
utilizado na sala de aula das escolas desse nível de ensino, fomos a um Centro
Escolar do Conselho para avaliar:
A. As características das mesas e cadeiras utilizadas pelos alunos
referentes aos anos de escolaridade em estudo;
B. A adequação do mobiliário escolar às características físicas dos alunos.
A. Características das mesas e cadeiras Através da medição das mesas e cadeiras, constatámos que, relativamente
ao mobiliário escolar de sala de aula, existem, genericamente, duas medidas
de mesas e duas de cadeiras, que designámos por “mesa pequena” e “mesa
grande”, “cadeira pequena” e “cadeira grande”. As medidas correspondentes às
respetivas mesas e cadeiras são as seguintes:
a. Mesa pequena - 62 cm altura x 60 cm largura x 120 cm
comprimento
b. Mesa grande - 68 cm altura x 60 cm largura x 120 cm
comprimento
c. Cadeira pequena i. Altura do assento ao chão (na zona média) 35 cm;
ii. Profundidade do assento (na zona média) 36 cm;
iii. Altura do encosto 12 cm;
iv. Largura do encosto 16 cm
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d. Cadeira grande i. Altura do assento ao chão (na zona média) 40 cm;
ii. Profundidade do assento (na zona média) 40 cm;
iii. Altura do encosto 13 cm;
iv. Largura do encosto 17 cm
B. Adequação do mobiliário escolar às características físicas dos alunos
Relativamente ao estudo de adequação do mobiliário escolar às
características físicas dos alunos, utilizámos um grupo de alunos com as
alturas médias correspondentes a cada ano de escolaridade (conforme valores
apresentados na figura 1) e efetuámos uma relação com o mobiliário de sala de
aula, que está a ser utilizado no Centro Escolar que visitámos.
Considerámos, no caso da cadeira, os ângulos anatómicos a 90º,
formados pelos segmentos anatómicos perna/coxa/tronco (Mandal, 1987).
Perante essas referências, avaliámos como adequado, sempre que o
aluno conseguia (Parcells, 1999):
a) Garantir os ângulos referidos a 90º sem esforço aparente;
b) Apoiar totalmente os pés no chão;
c) Apoiar a zona lombar totalmente no encosto da cadeira;
d) Ligeiro afastamento da cavidade poplítea do assento da cadeira.
Em relação à mesa, teve-se em conta a altura do tampo da mesa em
relação ao tronco e o apoio dos braços na mesma (Chaffin et al., 1991).
Neste caso avaliámos como adequado, sempre que o aluno conseguia
(Chaffin et al., 1991):
a) Ter a altura do tampo da mesa aproximadamente no ponto médio
entre os pontos anatómicos umbigo e apêndice xifoide do aluno
sentado;
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b) Apoiar os antebraços na mesa, garantido a manutenção relaxada
dos ombros quando sentado.
3. RESULTADOS A partir da observação efetuada e das comparações realizada foi-nos
possível construir uma tabela de relação adequada entre a altura média dos
alunos, por ano de escolaridade, a altura da mesa e a altura da cadeira (ver
quadro 2).
Quadro 2- Tabela de relação adequada entre a altura média dos alunos relativamente ao ano
de escolaridade, altura da mesa e altura e profundidade da cadeira.
Altura média do aluno
(cm) Ano
escolaridade Altura da mesa (cm)
Cadeira Altura
cadeira (cm) Profundidade
assento (cm)
140 4 62 36 34 135 3 60 34 32 130 2 58 32 30 125 1 56 30 28
É de salientar que a altura média dos alunos apresentada no quadro 2,
não corresponde exatamente aos valores registados no estudo antropométrico.
A alteração efetuada foi baseada na necessidade de se estabelecer uma
escala de valores standard que relaciona a altura do aluno com as
características do mobiliário escolar, garantindo a adoção de posturas
adequadas.
A relação encontrada (descrita no quadro 2) parece-nos ser a mais adequada e menos agressiva para o sistema músculo-esquelético e articular,
em postura sentada para os alunos em geral, sem considerarmos situações
específicas.
É de referir que o mobiliário de tamanho maior, cadeira com altura de 40
cm e mesa de 68 cm, observadas em algumas salas daquele Centro Escolar,
encontra-se totalmente inadequado às alturas dos alunos, incluindo os alunos
de maior estatura.
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O estudo permitiu-nos verificar, ainda, que o mobiliário de dimensões
mais pequenas adequa-se somente aos alunos de maior estatura, ficando os
restantes sujeitos à utilização de um mobiliário inadequado.
Nas cadeiras observadas, a profundidade do assento revelou-se
excessiva, sendo um fator negativo a ser considerado, uma vez que não
permite que os alunos apoiem corretamente a zona lombar no encosto da
cadeira, mesmo quando o aluno consegue apoiar totalmente os pés no chão,
pelo facto de o assento ser demasiado profundo em relação à distância
anatómica superfície posterior das nádegas x cavidade poplítea.
A existência de apenas dois tamanhos de mobiliário, com a agravante do
mobiliário maior, segundo a nossa análise, não servir nenhuma estatura de
alunos, implica que um grande número de crianças é obrigada a adoptar
permanentemente posturas incorretas, durante todo o tempo que permanece
na sala de aula, a realizar tarefas de escrita e/ou leitura.
Também, e embora não fizesse parte da nossa intenção de estudo, por
curiosidade visitámos as salas do Jardim-de-infância (JI) e constatámos que o
mobiliário existente no JI se adequava aos alunos do 1.º ciclo com estaturas
mais baixa, 120 e 125 cm. Desse modo, facilmente concluímos que o mobiliário
do JI está desadequado para as crianças com as idades que o frequentam.
4. PROPOSTAS A nossa intervenção, enquanto responsáveis pelo projeto “...Melhor
Postura Corporal”, vai no sentido de que os alunos do novo Centro Escolar
tenham a possibilidade de crescer e aprender em condições favoráveis, que
garantam o seu desenvolvimento saudável.
Assim, conhecendo-se os constrangimentos económico financeiros
atuais, propomos que:
1. Na impossibilidade de aquisição de mobiliário ergonómico, que seria o
ideal, para todas as salas do novo Centro Escolar de Penafiel, pelo menos,
uma das salas fosse equipada com esse material regulável, com o objetivo de
se poder efetuar estudos, para futura intervenção;
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2. Se adopte quatro tamanhos de mobiliário escolar, de acordo com o
sugerido no quadro 2, de modo a servir adequadamente o maior número de
alunos possível, uma vez que neste nível de ensino as crianças permanecem
na posição de sentado um período de tempo considerável.
3. Sejam ministradas, pelos responsáveis do projeto, ações de
informação e sensibilização aos docentes que irão lecionar no novo CE, sobre
estratégias de utilização do mobiliário escolar de acordo com as caraterísticas
dos alunos.
5. CONSIDERAÇÃO FINAL Perante o exposto, e numa perspectiva de responsabilização de todos
os agentes intervenientes, no desempenho de um papel de valor social
adjacente na promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida da
população jovem do concelho, sugere-se que seja feita uma reflexão sobre o
conteúdo deste documento e que as propostas nele apresentadas sejam
consideradas com elevada importância, numa ação preventiva precoce.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Al-Harkan I.M., Ramadan M.Z., Sharaf M.A., Helmy H.A. (2002), Design, Development, and Implementation of School Furniture for Saudi School Students, Second Technical report, KACST project NO: AT-20-49.
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