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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL PROPRIEDADES CITOTÓXICAS DAβ LAPACHONA EM CÉLULAS DE OSTEOSSARCOMA CANINOIN VITRO Vanessa de Sousa Cruz Pimenta Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo GOIÂNIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

PROPRIEDADES CITOTÓXICAS DAβ LAPACHONA EM CÉLULAS

DE OSTEOSSARCOMA CANINOIN VITRO

Vanessa de Sousa Cruz Pimenta

Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo

GOIÂNIA

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2015

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VANESSA DE SOUSA CRUZ PIMENTA

PROPRIEDADES CITOTÓXICAS DA β LAPACHONA EM CÉLULAS

DE OSTEOSSARCOMA CANINO IN VITRO

Tese apresentada para obtenção do título

de Doutor em Ciência Animal junto à

Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Orientador:

Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo – EVZ/UFG

Comitê de Orientação:

Profª. Drª.Maria Clorinda Soares Fioravanti - EVZ/UFG

Profª. Drª.Yandra Cássia Lobato do Prado - EVZ/UFG

GOIÂNIA

2015

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AGRADECIMENTOS

Ao Arthur Cruz de Barros Pimenta, Luiz Gonzaga da Cruz, Maria Teodora de

Sousa Cruz, Marcelo de Barros Pimenta e Viviane de Sousa Cruz e Silva. Obrigada família,

pelos momentos de incentivo, compreensão e apoio.

Ao Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo, pelasabedoria, dedicação, paciência,

confiança e amizade. Pelo empenho e determinação em montar e gerenciar o Laboratório

Multiusuário de Cultivo Celular do Programa de Pós Graduação em Ciência Animal, sem o

qual, a fase experimental desse projeto não teria acontecido.

Ao Prof. Cesário Bianchi Filho, pelos ensinamentos,atenção e disponibilidade

constante.

À Drª.Yandra Cassia Lobato do Prado, pela coorientação, parceria e

companheirismo.

Aos professores Drª. Maria Clorinda Soares Fioravanti, Drª. Luciana Batalha de

Miranda Araújo, Drª. Liliana Borges de Menezes, Dr. Kleber Fernando Pereira e Drª.Marina

Pacheco Miguel e Dr. Adilson Donizeti Damasceno,pela disponibilidade, contribuição e

engrandecimento da banca examinadora.

Aos professores e funcionários do Setor de Patologia Animal e Setor de

Parasitologia Animal.

Às amigas e colegas de equipe do Laboratório Multiusuário de Cultivo Celular do

PPGCA,Fernanda Almeida Rodrigues, Fernanda Figueiredo Mendes, Karla Márcia da Silva

Braga,Patrícia de Almeida Machado e Thais Poltroniere dos Santos, pelo carinho,

convivência, troca de experiência, bons momentos e pela grandiosa colaboração durante as

fases deste trabalho.

À Wanessa Carvalho Pires e Francyelli Mariana dos Santos Mello, pelo auxílio no

Laboratório de Genética Molecular e Citogenética do Instituto de Ciências Biológicas/UFG.

Às queridas Sony e Velma, por me amarem de forma incondicional.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior,pela bolsa de

estudo e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,pelo

financiamento deste projeto.Sem eles seria inviável a realização deste estudo.

A Deus e a Nossa Senhora por terem permitido que tudo isso acontecesse e todas

essas pessoas fizessem parte da minha vida.

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“Ao longo dos séculos, quem sofre dessa doença foi

submetido a quase todas as formas concebíveis de

experiência. Os campos e florestas, a farmácia e o

templo foram saqueados em busca de algum tipo de

alívio para essa doença intratável. Quase nenhum

animal escapou de dar a sua contribuição, fosse com

pele ou pelo, dente ou unha, timo ou tireoide, fígado

ou baço, na vã busca de alívio.”

William Bainbridge

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................ 1

1. Ciclo celular, câncer e morte celular ........................................................................................ 2

2. Osteossarcoma ............................................................................................................................. 6

3. β Lapachona ............................................................................................................................... 18

4. Cultivo Celular .......................................................................................................................... 23

5. Objetivos .................................................................................................................................... 25

6. Referências ................................................................................................................................. 25

CAPÍTULO 2 – β LAPACHONA REDUZ A PROLIFERAÇÃO DE CÉLULAS DE

OSTEOSSARCOMA CANINO EM CULTURA ..................................................................... 35

Resumo ........................................................................................................................................... 35

Abstract ........................................................................................................................................... 36

Introdução ....................................................................................................................................... 37

Material e métodos ........................................................................................................................ 38

Resultados e discussão .................................................................................................................. 41

Conclusão ....................................................................................................................................... 45

Referências ..................................................................................................................................... 45

CAPÍTULO 3 – β LAPACHONA BLOQUEIA O CICLO CELULAR E INDUZ

APOPTOSE EM CÉLULAS DE OSTEOSSARCOMA CANINO ........................................ 50

Resumo ........................................................................................................................................... 50

Abstract ........................................................................................................................................... 51

Introdução ....................................................................................................................................... 52

Material e métodos ........................................................................................................................ 53

Resultados e discussão .................................................................................................................. 55

Conclusão ....................................................................................................................................... 64

Referências ..................................................................................................................................... 64

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 68

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

FIGURA 1 - Agentes antineoplásicos e a fase onde promovem o bloqueio do ciclo celular. ... 4

FIGURA 2 - Fotomicrografias de osteossarcoma canino forma central. A) Osteoblástico:

células blásticas, com núcleo de formato oval a alongado. 100x e 200x. B)

Condroblástico: condrócitos neoplásicos com citoplasma basofílico, núcleo

excêntrico com halo claro perinuclear. 100x. C) Fibroblástico: células

fusiformes em forma de feixes, com núcleo alongado, cromatina densa e

moderada produção de estroma conjuntivo. 100x e 200x. HE. ........................... 11

FIGURA 3- Imagem de uma espécie de ipê-amarelo, Tabebuia ochracea, localizada à

margem da Alameda Marginal Botafogo, Goiânia-GO. ..................................... 19

FIGURA 4- Estrutura química do lapachol. ............................................................................. 21

FIGURA 5 - Estrutura química da β lapachona. ...................................................................... 22

CAPÍTULO 2 - β LAPACHONA REDUZ A PROLIFERAÇÃO DE CÉLULAS DE

OSTEOSSARCOMA CANINO EM CULTURA

FIGURA 1 - Ensaio da VC pelo método de exclusão do Azul de Tripan. A) Média da VC

de cada grupo por concentração e tempo de exposição à βLP. B) Cálculo da

CT de cada grupo por concentração e tempo de exposição à βLP. Análise por

contador celular automatizado LunaTM

. .............................................................. 42

FIGURA 2 - Fração de sobrevivência de cada grupo por concentração e tempo de

exposição à βLP. Nos grupos de 48 e 72 horas, o padrão observado de

redução foi similar. .............................................................................................. 44

CAPÍTULO 3 - β LAPACHONA BLOQUEIA O CICLO CELULAR E INDUZ

APOPTOSE EM CÉLULAS DE OSTEOSSARCOMA CANINO

FIGURA 1 – Imagens representativas de amostras da análise do mecanismo de morte

celular promovido pela β lapachona nas células de osteossarcoma canino,

por meio do ensaio de dupla marcação com anexina V (eixo X) e iodeto de

propídio (eixo Y). A) 0,1 μM/24h. B) 0,3 μM/24h. C) 1,0 μM/24h. D) 0,1

μM/48h. E) 0,3 μM/48h. F) 1,0 μM/48h. G) 0,1 μM/72h. H) 0,3 μM/72h. I)

1,0 μM/72h. Onde N = morte celular por necrose, AT = apoptose tardia, CV

= células viáveis e AI = apoptose inicial. Citômetro de fluxo (FACSCalibur,

BD Biosciences). ................................................................................................. 56

FIGURA 2 - Gráfico com os valores encontrados para viabilidade celular, apoptose

inicial, apoptose tardia e necrose, nas células de osteossarcoma canino, após

tratamento com a β lapachona, nas diferentes concentrações e tempos de

exposição.. ........................................................................................................... 58

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FIGURA 3- Análise do efeito de diferentes concentrações da β lapachona em 24 horas

sobre o potencial de membrana mitocondrial nas células de osteossarcoma

canino, por meio da utilização do corante lipofílico JC-1. Nota-se acentuado

aumento da apoptose (A) e decréscimo de viabilidade celular (VC) na

concentração de 1,0 μM. FL-1 = fluorescence channel 1; FL-2 =

fluorescence channel 2. Citômetro de fluxo (FACSCalibur, BD

Biosciences). ....................................................................................................... 59

FIGURA 4 - Gráfico sobre o potencial de membrana mitocondrial ao utilizar o corante

lipofílico JC-1. Valores da viabilidade celular e apoptose nas células de

osteossarcoma canino, após tratamento com a β lapachona, nas diferentes

concentrações, em 24 h. Observa-se o caráter inversamente proporcional . ....... 61

FIGURA 5 - Representação gráfica do resultado da Cinética do ciclo celular, para os

grupos com 24h (A), 48h (B) e 72h (C) de permanência das células de

osteossarcoma canino em tratamento com a β lapachona. Nota-se que a

inibição do crescimento ocorreu pelo bloqueio do ciclo na fase G0/G1 e

aumentou com o tempo de exposição. Eixo X = fases do ciclo celular; eixo Y

= número de células............................................................................................. 63

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2 – β LAPACHONA REDUZ A PROLIFERAÇÃO DE CÉLULAS DE

OSTEOSSARCOMA CANINO EM CULTURA

TABELA 1 - Viabilidade celular (VC) e citotoxicidade (CT) de cada grupo por

concentração e tempo de exposição à βLP, pelo método de exclusão do

corante azul de tripan. ........................................................................................ 41

TABELA 2 - Medidas de variação entre os grupos de tratamento com diferentes

concentrações e tempo de exposição à β lapachona. .......................................... 44

CAPÍTULO 3 – β LAPACHONA BLOQUEIA O CICLO CELULAR E INDUZ

APOPTOSE EM CÉLULAS DE OSTEOSSARCOMA CANINO

TABELA 1 - Média dos dados fornecidos pelo citômetro de fluxo sobre o mecanismo de

morte celular promovido pela β lapachona em células de osteossarcoma

canino. ................................................................................................................ 57

TABELA 2 - Média dos dados fornecidos pelo citômetro de fluxo sobre o potencial de

membrana mitocondrial, ao utilizar o corante lipofílico JC-1. ........................... 60

TABELA 3 - Média dos dados fornecidos pelo citômetro de fluxo sobre a análise do

bloqueio do ciclo celular da linhagem D-17, após o tratamento com a β

lapachona. ........................................................................................................... 61

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABS Absorbância

βLP β lapachona

CCAT Número de células contadas após o tratamento

CCGC Número de células contadas no grupo controle após o tratamento

CO2 Dióxido de carbono

CT Citotoxicidade

DMEM Meio dubelco modificado de Eagle

DMSO Dimetilsulfóxido

FS Frações de sobrevivência

G24 Grupo tratado por 24 horas

G48 Grupo tratado por 48 horas

G72 Grupo tratado por 72 horas

GC Grupo controle

GH Growth hormone(Hormômio de crescimento)

HCl Ácido clorídrico

IC50 Inhibitory concentration(Concentração de inibição)

JC-1 Iodeto de 5,5’,6,6’-tetracloral 1,1’,3,3’–tetraetilbenzimidazolocarbocianina

LP Lapachol

MTT Tetrazólio (3-(4,5-dimetil-2-tiazolil)-2,5-diphnyl-2H-tetrazólio

N Normal, Equivalente grama

OS Osteossarcoma

OSC Osteossarcoma canino

OSH Osteossarcoma humano

PBS Phosphate buffered saline(Salina fosfato tamponada)

rcf(g) Relative centrifugal force(Força centrífuga relativa)

SDS Sodium dodecyl sulfhate (sulfato de sódio dodecyl)

SFB Soro fetal bovino

VC Viabilidade celular

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RESUMO

O osteossarcoma é o tumor maligno das células ósseas primitivas mais diagnosticado em cães

e humanos. A necessidade de medicamentos mais efetivos, com menor consequência adversa,

tem gerado esforços para o desenvolvimento de agentes quimioterápicos compostos por

plantas e outras fontes naturais. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos intracelulares

da β lapachona sobre células do osteossarcoma canino de cultura estabelecida, bem como

identificar mecanismos de ação que possam explicar suas propriedades citotóxicas. Células de

osteossarcoma canino foram obtidas do banco de linhagens celulares, subcultivadas e

submetidas ao tratamento com a β lapachona, de acordo com as diferentes concentrações. Os

resultados foram obtidos por meio do método de exclusão do corante azul de tripan, pelo

método deredução do tetrazólio, pelo ensaio de sobrevivência clonogênica, pelo ensaio de

dupla marcação com Anexina V-FITC e Iodeto de Propídio, pelo ensaio de marcação com o

corante JC-1 e pela análise da cinética do ciclo celular. O grupo tratado com 0,3 μM de β

lapachona apresentou melhor regressão da viabilidade celular (80,27% / 24h; 47,41% / 48h e

35,19% / 72h) e maior progressão da citotoxicidade (19,73% / 24h; 52,59% / 48h e 64,81% /

72h). O menor IC50 (0,180 μM) ocorreu no grupo tratado por 72 horas. O crescimento celular

após o tratamento foi menor de acordo com o aumento da concentração e tempo de exposição,

apresentando 0,50% de fração de sobrevivência na concentração de 1,0 µM. Não houve

diferença estatística entre as concentrações, para a proliferação celular após o tempo de

exposição à β lapachona.A apoptoseinicial foi o tipo de morte celular mais frequente em todos

os grupos. Foi menor no grupo de 24 horas tratado com 0,1 μM (4,26 %) e maior no grupo de

72 horas tratado com 1,0 μM (85,89 %). A despolarização mitocondrial ocorreu de maneira

dose dependente, caracterizando a apoptose intrínseca. A inibição do crescimento das células

ocorreu pelo bloqueio do ciclo na fase G0/G1 conforme o tempo de exposição. Nas células de

osteossarcoma canino, a β lapachona possui efeitos citotóxicos, induz apoptose intrínsecae

promove o bloqueio do ciclo celular na fase G0/G1.

Palavras-chave: Cães, cultivo celular, métodos moleculares, neoplasia óssea, quinonas.

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ABSTRACT

Osteosarcoma is the most diagnosed primary bone cell tumor in dogs and humans. The need

for more effective drugs with less intense collateral effect has triggered the development of

plant-derived, natural-source chemotherapeutics. This study aimed to verify β lapachone

intracellular effects on canine osteosarcoma cultured cells, as well as identify action

mechanisms related to its antiproliferative properties. Cells were obtained from a cell line

bank, sub cultivated and subjected to treatment with different β lapachone concentrations,

followed by tetrazolium reduction, Tripan Blue dye exclusion assay, clongenic survival assay,

Annexin V-FITC and propidium iodine double-labeling, JC-1 dye labeling and cell cycle

kinetics analysis. The group treated with β lapachone for 72 hours showed the lowest cell

viability, 27,74%, and the most conspicuous citotoxic effect, 64,81%, at 0,3 μM

concentration; lower IC50, 0,180 μM and also the lowest cell growth - 0,50%- following

treatment with 1,0 µM concentration. No statistical difference for cell proliferation was

verified between concentrations after β lapachone exposure.Early apoptosis was the most

frequent type of cell death considering all groups. It was less frequent in the 24-hour group

treated with 0,1 μM (4,26 %) and more frequent in the 72-hour group treated with 1,0 μM

(85,89 %). Mitochondrial depolarization was dose-dependent. Cell growth inhibition was

carried out through cycle block at G0/G1 phase, according to exposure time. β lapachone was

shown to have antiproliferative and cytotoxic effects, to induce apoptosis and to block cell

cycle at G0/G1 phase on canine osteosarcoma cells.

Keywords:bone tumors, cell culture, dogs, molecular methods, quinones.

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O tecido ósseo é um conjunto de células especializadas, classificadas como

estáveis sob o ponto de vista da longevidade, ou seja, se diferenciam durante o

desenvolvimento embrionário e mantêm um ritmo constante de multiplicação depois do

nascimento. Forma-se a partir da cartilagem, recebendo depósitos de uma substância mineral,

constituída principalmente por fosfato e cálcio1,2

.

A cartilagem possui uma substância intercelular de consistência dura e flexível,

formada por células cartilaginosas jovens, os condroblastos, que se transformam em células

cartilaginosas adultas, os condrócitos. Quando um animal nasce, o modelo de cartilagem já foi

quase totalmente substituído por tecido ósseo, porém, próximo às extremidades dos ossos

longos, persiste uma região cartilaginosa que permite que esses ossos cresçam em

comprimento. Até uma determinada idade, que varia entre as espécies, esta cartilagem é

inteiramente substituída por tecido ósseo, encerrando a fase de crescimento1,2

.

A formação dos mecanismos envolvidos na base do processo neoplásico ocorre

quando, por uma série de fatores, algumas células passam a crescerde forma autônoma e se

diferenciam dos aspectos estruturais do seu tecido2,3

.As neoplasias ósseas primárias malignas

são relativamente comuns em cães e os osteossarcomas representam as mais prevalentes4,5

.

Por ser, também, o tumor ósseo primário mais comum em humanos e apresentar

características similares às dos cães, o estudo nesta espécie proporciona melhor entendimento

da neoplasia no ser humano6.

Atualmente, a droga de escolha para o tratamento quimioterápico do

osteossarcoma é a cisplatina, podendo ser associada com a carboplatina ou a doxorrubicina7,8

.

O tempo médio de sobrevida de cães tratados com amputação e quimioterapia é de,

aproximadamente, um ano3,4

.A importância da procura de uma melhor abordagem terapêutica

para o osteossarcoma vem ao encontro da necessidade de minimizar os efeitos adversos,

diminuir a incidência das metástases, aumentar o tempo de sobrevida e proporcionar melhor

qualidade de vida aos pacientes10

.

A quimioterapia baseada num planejamento racional de fármacos tem sido

modelo para diversos estudos. A citotoxicidade das quinonas, dentre as quais a β

lapachonaestá incluída, associada a fatores estruturais que levam à intensidade das suas ações

antitumorais, pode contribuir na busca de agentes antineoplásicos mais eficientes9.

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2

1. Ciclo celular, câncer e morte celular

O ciclo celular consiste nos processos pelos quais a célula passa durante as

divisões celulares. É composto por duas etapas, a interfase e a divisão. Na interfase há

produção de diversas substâncias necessárias para o desempenho de suas funções.

Compreende as fases G0, G1, S e G2. Na fase G0 a célula não está se replicando e apresenta

atividade nuclear baixa. Na fase G1 as células crescem, diferenciam-se e produzem

substâncias como as proteínas, enzimas e RNA. Os cromossomos preparam para replicação e

ocorre a produção de constituintes celulares essenciais para a nova célula. Na fase S acontece

a síntese do DNA e os cromossomos apresentam dois cromatídeos ligados pelo centrômero. A

fase G2 representa a diferença entre a síntese do DNA e a mitose, com a produção de

substâncias necessárias para a formação de novas células11

.

A fase M está relacionada com a etapa da divisão. Ocorre a produção do fuso

mitótico, a divisão nuclear e citoplasmática, originando duas novas células. Em seguida, há a

citocinese, quando as novas células se separam com suas organelas e demais constituintes.

Após o período de replicação celular, o ciclo retorna à fase G011,12

.

Quando um grupo de células se liberta dos mecanismos de controle do

crescimento e passa a crescer, independente dos aspectos estruturais e funcionais normais do

seu tecido, tornando-se um estado rebelde autônomo, inicia-se a formação dos mecanismos

envolvidos na base do processo neoplásico. Este crescimento pode ocorrer de maneira

incoordenada, sem relação à arquitetura normal e infiltrar extensamente o tecido, ou expandir-

se como uma massa solitária de maneira a comprometer uma função vital importante. A

velocidade de crescimento varia bastante entre diferentes tipos de tumores e mesmo entre

tumores do mesmo tipo2,3

.

A primeira fase da carcinogênese é o estágio de iniciação, em que as células estão

geneticamente alteradas sob o efeito de um agente carcinogênico. Em seguida, as células

transformam-se em malignas no estágio de promoção. Já no estágio de progressão, ocorre a

multiplicação celular descontrolada e o surgimento dos primeiros sintomas da doença11,12

.

O câncer é uma doença genética cuja evolução conduz a inúmeras alterações no

DNA. Os proto-oncogenes são genes responsáveis pela regulação positiva da proliferação

celular, enquanto os genes supressores de tumor se encarregam de inibir a multiplicação das

células. Durante o desenvolvimento das neoplasias ocorre a ativação de proto-oncogenes

simultaneamenteà inativação de genes supressores de tumor. A mutação de um oncogene

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3

promove divisões celulares sem restrição e a mutação de um gene supressor de tumor leva a

produção de proteínas defeituosas13,14,15

.

Os genes de reparo ao DNA controlam a integridade do genoma frente a danos

celulares, como alterações cromossômicas, depleção de metabólitos, choque térmico, hipóxia,

oncoproteínas virais e ativação de oncogenes celulares13,14,15

. Fatores como o estresse e

cofatores de transcrição podem influenciar a interação direta entre esses genes e o reparo ao

DNA16

.

Os tipos de estresse que promovem a ativação de genes reguladores incluem as

condições associadas com a iniciação e progressão das neoplasias. Tais atividades ocorrem

durante o desenvolvimento do câncer e resultam em mudanças biológicas, como o equilíbrio

entre a apoptose e a sobrevivência celular13,17

. As alterações genéticas que tenham impacto

sobre a competência das proteínas associadas à apoptose, o controle do ciclo celular e o

reparo de danos ao DNA, são capazes de modular a probabilidade da ação dos genes

reguladores, bem como o resultado da ativação biológica e suas múltiplas interações para

controlar o crescimento das células neoplásicas18

.

O controle do ciclo celular e o bloqueio em pontos de checagem são feitos por

uma rede de vias de sinalização dependentes da ação do gene supressor de tumor TP53 (tumor

protein 53) que codifica a proteína p53 (phosphoprotein 53). A sequência específica do fator

de transcrição da p53 coordena a expressão de um grande número de genes alvo e proteínas,

como p21 e Bcl-2, que participam em diferentes respostas celulares a condições de

estresse13,14,15

.

Vários genes podem ser recrutados simultaneamente dentro da mesma célula. A

escolha dos genes específicos parece ter envolvimento com a interação de uma variedade de

outras proteínas, favorecendo a transativação de genes pró-apoptóticos. Qualquer alteração

genética que tenha impacto sobre a competência de outras proteínas envolvidas com a

apoptose, o controle do ciclo celular ou o reparo aos danos do DNA, também são capazes de

modular a resposta da p53 ao estresse18

.

Existe uma ligação entre o envelhecimento e o câncer e as intervenções que

prolongam a vida podem diminuir a incidência de tumores19

. Da mesma forma, os genes que

estendem a vida, como o grupo FoxO (Forkhead Box - FoxO1, FoxO3, FoxO4 e FoxO6),

fazem parte de uma rede molecular que suprime a tumorigênese20

. Assim, tanto a senescência,

quanto a apoptose contribuem para a ação do quimioterápico e a perda de qualquer processo

promove a falha do tratamento. Diversos agentes anticancerígenos podem induzir a apoptose

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4

por meio de vias comuns e, as mutações que desativam estas vias, podem promover

resistência a estes quimioterápicos21,22

.

A quimioterapia é o principal tratamento para doenças malignas sistêmicas. No

entanto, alguns tumores são insensíveis a agentes quimioterápicos e outros adquirem

resistência sobre a recidiva21

.Os fármacos ciclo-celular específicos, como os agentes

antimetabólitos, agentes hormonais, alcaloides vegetais e enzimas, exercem sua ação sobre as

células que se encontram no ciclo celular. Já os que não são específicos, como os antibióticos

naturais, alcaloides pirrolizidínicos, complexos de coordenação de platina e agentes

alquilantes, eliminam as células tumorais mesmo na fase de repouso11

.A Figura 1 mostra

alguns agentes antineoplásicos e a fase onde bloqueiam o ciclo celular.

FIGURA 1 - Agentes antineoplásicos e a fase onde promovem o bloqueio do ciclo celular.

Fonte: Almeida et al.11

Em 1960 ocorreu a primeira descrição da morte celular programada e, desde

então, inúmeras classificações têm sido feitas por meio das características morfológicas. Em

2009, a terminologia relacionada com a morte celular compreendia apoptose, necrose e

catástrofe mitótica. Desde 2012, para a morte celular, in vitro e in vivo, incluiu-se os termos

apoptose extrínseca, apoptose intrínseca, necrose regulamentada, morte celular autofágica e

catástrofe mitótica. Existe, também, os termos Anoikis, Entosis, Parthanatos, Pyroptosis,

Netosis e Cornificação (Quadro 1)23

.

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5

QUADRO 1 – Classificação dos tipos de morte celular

TIPO DESCRIÇÃO D C

Apoptose

extrínseca

Morte celular induzida por sinais de estresse extracelular,

detectados e propagados por receptores transmembranares. Ocorre

por morte ou dependência dos receptores.

+ +

Apoptose

intrínseca

Inicia na membrana mitocondrial externa ou pode resultar da

transição da permeabilidade mitocondrial. A inibição da caspase

pode atrasar a execução da morte celular e apresentar

características morfológicas de necrose.

+ + / - -

Necrose

regulamentada

Ocorre de forma programada, por manipulações genéticas ou

bloqueio por agentes farmacológicos. Necroptose é um tipo de

necrose programada, onde ocorre a segmentação de agentes

patogênicos pelo sistema imunitário.

- -

Morte celular

autofágica

Acontece acompanhada pela vacuolização citoplasmática da

autofagia, com base em alterações bioquímicas e funcionais.

Ocorre em algumas células cancerígenas in vitro, pela indução da

autofagia por alguns agentes químicos.

- -

Catástrofe

mitótica

É a morte celular ou senescência executada durante a mitose ou na

interfase subsequente. Os marcadores morfológicos para esse caso

são as células com micro e multinucleação.

- -

Anoikis Termo de derivação grega utilizado para descrever a resposta

apoptótica à ausência de interações com a célula matriz.

+ +

Entosis Acontece pelo bloqueio por inibidores lisossomais, envolvendo

células homotípicas, insensível às intervenções químicas e

genéticas inibidoras da caspase.

- -

Parthanatos Significa a personificação da morte na mitologia grega. Sobrevém

em situações de acidente vascular cerebral, diabetes, inflamação e

neurodegeneração, independente da caspase.

- -

Pyroptosis Descreve a morte peculiar de macrófagos como resultado da

infecção bacteriana, seguida pela ativação das caspases.

+ +

Netosis Exibe vacuolização maciça do citoplasma, rápida descondensação

da cromatina e desagregação das membranas nucleares e

granulares. É restrita às células granulocíticas, insensível à

inibição das caspases, dependente da enzima NAPDH oxidase e

dependente de componentes autofágicos.

- -

Cornificação Morte de queratinócitos, associada com a síntese de enzimas e

substratos necessários para a geração do estrato córneo da

epiderme, alterada por meio da inibição da enzima

transglutaminase.

+

DC: Dependência da caspase. Fonte: Adaptado de GALLUZZI et al.23

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A utilização de termos adicionais, definidos por uma série de propriedades

bioquímicas, demonstra que a presença de características morfológicas específicas não é

suficiente paraestabelecer todo o processo de morte celular. A ativação da caspase, in vitro,

deixa de ser uma exigência para a apoptose. A geração de espécies reativas de oxigênio e

espécies reativas de nitrogênio, que eram associadas à apoptose, são reconhecidas, também,

em alguns casos de necrose. Da mesma forma, a presença de fosfatidilserina, um componente

fosfolipídico, deixa de ser uma prerrogativa da apoptose e passa a constituir uma

característica precoce de parthanatos e netosis23

.

2. Osteossarcoma

2.1. Introdução

Neoplasias ósseas primárias malignas são relativamente comuns em cães e o

osteossarcoma (OS) representa a mais prevalente. Correspondem a 80% de todos os tumores

ósseos, 6% de todos os tumores caninos e estão associados a um prognóstico reservado24,25

.

Em humanos é o principal tumor ósseo maligno e a maior incidência ocorre em crianças e

adultos jovens, com frequência de 60% nas primeiras duas décadas de vida26,27

.

O OS é um tumor heterogêneo, com padrões histológicos distintos, constituído

por vários tipos celulares que são originados de uma única célula mesenquimal pluripotente

ou de osteoblastos imaturos. Pertence ao grupo de tumores primitivos que produz tecido

ósseo, sendo conhecido também como sarcoma osteogênico ou sarcoma osteoblástico28,29

.

2.2. Etiologia

A etiologia ainda é desconhecida e várias hipóteses têm sido consideradas. Sabe-

se que a transformação maligna de células mesenquimais leva ao desenvolvimento do OS,

mas as bases genéticas desses eventos ainda não são compreendidas30

. Apesar de não ter sido

isolado nenhum vírus responsável pelo surgimento dessa neoplasia, não se descarta a origem

viral.Em indução experimental de osteossarcoma por injeção de células neoplásicas em fetos

caninos, acredita-se quea transmissão teria ocorrido pela presença do vírus no genoma da

célula31

.

É possível o desenvolvimento de uma linhagem mutante pela indução de sinais

mitogênicos, por meio da sensibilização de células das regiões metafisárias dos ossos que

sustentam grandes pesos, pois tais regiões são predispostas a pequenos e múltiplos traumas

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durante o fechamento tardio da placa epifisária31

. Existem relatos de casos após fraturas não

tratadas, processos de atraso na consolidação óssea, osteomielite crônica e sítios prévios de

fraturas associadas a implantes metálicos ou enxerto cortical. O uso da radiação, empregada

como tratamento para sarcoma de tecidos moles, tem sido apontado como uma possível causa

de osteossarcoma canino(OSC)32

.

Modificações genéticas e hormonais são listadas como possíveis causas de OSC.

Alterações em genes supressores de tumores, como o retinoblastoma e o p53, têm sido

relacionadas ao surgimento de muitos casos de OS, sendo que a mutação de p53 tem sido

expressa no OSC. O hormônio de crescimento (GH: growth hormone) possui um efeito

estimulante para o crescimento de linhagens de células de OS e OSC, porque a produção local

de RNA mensageiro do GH pode gerar um ambiente altamente favorável para o crescimento

das células tumorais33

.

2.3. Aspectos Clínicos

OOS acomete o esqueleto apendicular ou axial24,34

. A maioria dos tumores se

origina nos ossos longos, distantes do cotovelo (metáfises proximal do úmero e distal do

rádio) e ao redor do joelho (metáfises distal do fêmur e proximal da tíbia), sendo que

aproximadamente 75% dos tumores crescem na metáfise30,32,35

. O envolvimento do esqueleto

axial está presente em aproximadamente 25% dos cães portadores de OS, ou seja, o esqueleto

apendicular pode ser até quatro vezes mais afetado que o axial36,37

. Os membros torácicos são

mais acometidos que os pélvicos, na proporção de 2:132,38

. Osteossarcomas primários também

são relatados em local extraósseo como o retroperitônio, pênis e músculos da coxa,

representando apenas 1% dos sarcomas de tecido mole39

.

Em95% dos casos esta neoplasia acomete cães com peso superior a 15 kg,

sendoos mais afetados com peso superior a 36,5 kg. Cães de pequeno porte são raramente

acometidos porque as placas de crescimento se fecham precocemente. A idade média de

ocorrência é de oito anos, porém existem relatos em cães jovens com menos de dois anos de

idade25,32,33

. A maioria dos casos ocorre em cães grandes e gigantes, do gênero masculino, a

partir da meia idade, principalmente das raças Greyhound, cão dos Pirineus, São Bernardo,

Dogue Alemão, Setter Irlandês, Doberman, Pastor Alemão, Rottweiler, Golden Retriever,

Irish Setter, Boxer, Labrador e Mastiff31,32,38

. Apesar de cães machos serem uma vez e meia

mais acometidos que as fêmeas, OS do esqueleto axial apresenta incidência maior em

fêmeas36

. Animais castrados, na fase pré-pubere, têm menor incidência dessa neoplasia que os

animais não castrados33

.

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Em humanos, o OS ocorre com maior frequência em homens do que em mulheres.

Pode surgir em qualquer idade, no entanto, tem maior incidência na segunda década de vida,

durante a fase de crescimento do adolescente. Portanto, é mais comum em áreas de

crescimento ósseo rápido, o que sugere uma relação entre a formação do tumor e o

crescimento acelerado30

.

O OS é um tumor mesenquimal maligno das células ósseas primitivas, que se

caracteriza por produzir a matriz óssea. Esta matriz extracelular de osteóide é a base

histológica para sua diferenciação. O OS pode ser classificado de acordo com o tipo e

quantidade de matriz e pelas características celulares36

. Histologicamente, predomina o

padrão morfológico puro sobre o padrão combinado29

. O sistema de classificação mais

utilizado é o proposto pela Organização Mundial de Saúde em Forma Central e Forma

Periférica28,40

.

A Forma Central é a forma clássica mais comum, com aspectos clínicos,

radiográficos e anatomopatológicos bem definidos. Cresce no interior do osso, rompe a

barreira cortical e periostal, comprimindo as partes moles adjacentes, o que permite classifica-

lo como tumor extracompartimental. Possui uma variabilidade de aspectos histológicos e,

levando em consideração o aspecto predominante, é classificada nos subtipos osteoblástico,

condroblástico, fibroblástico, telangectásico, indiferenciado ou anaplásico, do tipo células

gigantes e padrão misto ou com variantes celulares28,37,40

. Já a Forma Periférica é a menos

frequente, com caracteres clínicos, evolutivos e anatomopatológicos distintos da forma

central. Acomete a superfície óssea e também é classificada em subtipos. O subtipo periosteal

ou periostal surge na cortical óssea sob o periósteo e não invade o canal medular. Já o

parosteal ou parostal cresce na superfície óssea sobre a cortical, estando delimitado por uma

linha transparente com largura variável de 1 a 3mm28,40

.

Os sinais clínicos incluem claudicação e, ocasionalmente, febre e anorexia35

. No

exame físico é detectado tumefação dolorosa, com ou sem envolvimento dos tecidos moles11

.

Aumento de volume, edema e fraturas espontâneas também são relatados. A dor ocorre como

resultado do rompimento do periósteo induzida pela lise óssea proveniente do

desenvolvimento neoplásico. Sinais como tremores e atrofia muscular por desuso, dificuldade

em se levantar, incontinência urinária e fecal, letargia e anorexia também têm sido observados

em pacientes com OS no esqueleto axial31

. Nos casos de OSC, pode ser observado

sangramento, edema e dor, devido à destruição óssea e de tecidos adjacentes36

.

Na Forma Central, o principal sintoma é a dor intermitente e crescente, sendo o

aumento de volume da região com tempo variável entre semanas a três meses. Por outro lado,

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na forma periférica, a observação mais importante é o aumento de volume progressivo, tendo

a dor apenas caráter leve28

. O edema, em todos os casos, é justificado pela constricção

tecidual que impede a drenagem linfática normal e promove uma obstrução linfática, podendo

ser percebido pelo sinal de Godet positivo41

. Existem sintomas característicos conforme a

região acometida. No sítio oral relatou-se disfagia. No sítio orbital ou mandíbula caudal houve

exoftalmia e dor ao abrir a boca. Nos ossos da face observa-se deformidade facial. No sítio da

cavidade e seios nasais, descargas nasais e espirros. Já no sítio da medula espinhal,

hiperestesia com ou sem sinais neurológicos. Tosse, dispnéia, perda de peso, apatia e anorexia

podem estar presentes quando há metástase pulmonar31,32

.

2.4. Diagnóstico

O diagnóstico do OS pode ser baseado na história clínica, exame físico e achados

radiográficos. Quando possível, a cintilografia óssea e a tomografia computadorizada

complementam o diagnóstico. A confirmação é feita por meio do exame histopatológico, no

entanto, a avaliação citológica por biópsia aspirativa é uma técnica menos invasiva, com

diagnóstico em curto intervalo de tempo31,36,42

.

Os parâmetros sorológicos minerais de cães com OS tendem a se distanciar da

normalidade. Geralmente as concentrações de cromo e ferro, assim como a capacidade de

ligação do ferro, apresentam-se extremamente reduzidas, quando comparadas com as de cães

sadios, o mesmo ocorre em relação ao zinco, embora com menor diferença entre as

concentrações41

.

A atividade da fosfatase alcalina atinge elevadas concentraçõesplasmáticas,

relacionada à maior ou menor atividade dos osteoblastos no tumor. Determinações repetidas

são indicadas para avaliar o índice da velocidade de crescimento da neoplasia ou de recidiva

após a ressecção do tumor primário28

.

Para confirmação do diagnóstico radiográfico, é prudente realizar um aspirado

com agulha fina, se houver lise cortical considerável, ou um aspirado da área acometida com

agulha de aspiração de medula óssea. Os aspirados revelam células mesenquimais imaturas

com osteóide intracitoplasmático ou extracelular, osteoblastos malignos, osteoblastos

benignos, osteoclastos e células inflamatórias32

. Apesar do diagnóstico por aspiração com

agulha fina encontrar limitações em virtude da natureza dos tecidos, rígidos e calcificados,

apresenta baixo custo, é pouco invasivo e, na maioria das vezes, possibilita estabelecer

diagnósticos precisos43

.

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10

A biópsia incisional permite a obtenção da quantidade ideal de tecido e maior

precisão do resultado. No entanto, essa técnica apresenta como desvantagem a necessidade de

procedimento cirúrgico, o que acarreta risco de complicações pós-cirúrgicas como formação

de hematoma, infecção, disseminação do tumor e fratura patológica. Múltiplos fragmentos,

obtidos do centro da lesão, aumentam as chances de precisão do diagnóstico. A biópsia

poderá ser aberta ou fechada, sendo a principal vantagem da aberta a quantidade de material

colhido para exame. Entretanto, poderá trazer riscos de infecção e produção de hematomas,

que podem retardar a utilização da quimioterapia ou radioterapia. Já a biópsia fechada, que

utiliza a agulha de Jamshidi calibre 11 ou 13 (monoject), é feita para obter um mínimo de dois

ou preferencialmente três núcleos de tecido, tanto do centro da lesão como da área entre

lesões acometidas e não acometidas do osso. Esse tipo de biópsia fornece precisão de 91,9%

para diferenciação entre o tumor e outras desordens, e 82,3% para diagnóstico específico do

tumor31

.

Após o procedimento cirúrgico, o membro amputado ou amostras representativas

devem ser encaminhados para histopatologia34

. O diagnóstico histopatológico é definitivo e

considera o tipo celular e a natureza da matriz produzida pelas células neoplásicas. As

características histológicas dos diversos subtipos (Figura 2) estão descritas isoladamente no

Quadro 231,33,40

.

A técnica da imunohistoquímica proporciona uma melhor investigação das

características histogenéticas das células tumorais do osteossarcoma. É possível encontrar

células mesenquimais indiferenciadas e células semelhantes a histiócitos. Esta técnica é

empregada na caracterização do imunofenótipo do OS e no diagnóstico diferencial com outros

sarcomas ósseos29

.

As proteínas argirófilas (AgNORs) estão localizadas no centro fibrilar e

componentes denso fibrilar dos nucléolos. Podem se configurar apresentando-se de forma

agrupada no nucléolo das células de osteossarcoma em proliferação e distribuídas por todo o

núcleo nas células altamente malignas33

.

A survivina é uma proteína com funções de regular a divisão celular e inibir a

apoptose nas células neoplásicas. A expressão de survivina pode ser útil para determinação do

prognóstico e do grau de malignidade em muitos tipos de câncer. No OSC, marcações de

survivina se correlacionam com o grau histológico e índice mitótico44

.

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11

FIGURA 2 - Fotomicrografias de osteossarcoma canino forma central. Osteoblástico: A) Aspecto

geral, 100x; B) Células blásticas, com núcleo de formato oval a alongado, 200x.

Condroblástico: C) Aspecto geral, 100x; D) Condrócitos neoplásicos com citoplasma

basofílico, núcleo excêntrico com halo claro perinuclear, 100x. Fibroblástico: E)

Aspecto geral, 100x; F) Células fusiformes em forma de feixes, com núcleo alongado,

cromatina densa e moderada produção de estroma conjuntivo.HE.

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QUADRO2: Características histológicas observadas nos subtipos do osteossarcoma da forma central

SUBTIPOS CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS

Osteoblástico Constituído por osteoblastos anaplásicos, volumosos e células fusiformes com

citoplasma basofílico, núcleos hipercromáticos e excêntricos. De acordo com

as variações na quantidade de osteoide são subclassificados em: produtivos,

com células tumorais com quantidade abundante de matriz osteoide tumoral

dispostas em trabéculas conferindo um padrão entrelaçado com células

neoplásicas; pouco produtivos, com lesões ósseas líticas e discreta quantidade

de osteoide tumoral em permeio às células osteoblásticas atípicas com o padrão

acima descrito.

Condroblástico Possui células tumorais condroblásticas e produz matriz condroide em

abundância, além de osteóide tumoral, dispostas lado-a-lado ou entremeando-

se.

Fibroblástico Apresenta predomínio de células tumorais fusiformes e, à medida que a lesão

evolui, extensas áreas de matriz osteoide envolvendo aglomerados de células

tumorais.

Do tipo células

gigantes

Exibe escassa produção de matriz óssea e predomínio de grandes áreas

contendo inúmeras células gigantes multinucleadas tumorais e presença de

osteoide.

Telangectásico Caracterizado pela presença de canais vasculares de diâmetros variados,

revestidos por células e reduzida quantidade de osteoide.

Indiferenciado ou

anaplásico

Apresenta quantidade mínima de osteoide típico, ausência de espículas ou

trabéculas de osso tumoral, células neoplásicas volumosas e pleomórficas ou

pequenas, semelhantes às células reticulares do estroma da medula óssea.

Misto Produção de matriz óssea maligna com ausência de predomínio celular.

Periostal Exibe formação de nódulos de cartilagem circundados por células fusiformes

com atipias e formação de pouca matriz osteoide e osso tumoral, predominando

padrão cartilaginoso.

Parostal É bem diferenciado, com tecido maligno ósseo, cartilaginoso ou fibroso, ou

ainda, os três padrões no mesmo tumor.

Fonte: Adaptado de MEUTEN40

; BERSANO33

; DALECK et al.31

A osteocalcina é uma proteína de baixo peso molecular, que liga cálcio e localiza-

se no tecido ósseo. Anticorpos monoclonais ou policlonais anti-osteocalcina podem se

depositar nos osteoblastos, possibilitando a utilização desta proteína como marcador de

diferenciação celular no OSC45

.

EMMPRIN/CD147 é uma proteína transmembranar glicosilada que pertence à

família das imunoglobulinas. Promove a aderência, invasão e metástase de células

neoplásicas. Em humanos, é expresso por linhagens de células de OS e a intensidade de

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13

marcação está correlacionada com o grau de patogenicidade da neoplasia. Sua expressão

também pode ser usada como um fator prognóstico para estimar a sobrevida dos pacientes46

.

O c-Flip é um homólogo da caspase-protease, com função reguladora da ativação

da caspase-8 e apoptose mediada por CD95. Sua expressão correlaciona-se com a progressão

tumoral e prognóstico desfavorável, especialmente na metástase pulmonar do OS47

.

2.5. Metástase

O desenvolvimento do ponto de metástase inicia-se com a invasão de células do

tumor primário para os tecidos circundantes e penetração na corrente linfática ou sanguínea.

Em seguida, ocorre a liberação dos êmbolos tumorais para a circulação, que podem se alojar

nos capilares ou vasos linfáticos de órgãos distantes. Os clones celulares atípicos iniciam

então a penetração da parede do vaso onde o êmbolo estacionou, infiltram-se no tecido

conjuntivo ao redor e se proliferam no novo ambiente, promovendo a vascularização do novo

sítio do tumor35,43

. O OS caracteriza-se por infiltração local agressiva dos tecidos subjacentes

e disseminação hematógena rápida34

.

A cascata metastática é um processo de múltiplos estágios e cada etapa está sujeita

a uma grande variedade de influências. O não preenchimento de qualquer passo resulta na

falha da colonização de um local distante. As células neoplásicas precisam evitar a detecção e

destruição pelo sistema imunitário e conseguir desenvolver um suprimento vascular para

sobreviver e proliferar. A escolha do local específico para metástases àdistância envolve

interações entre as células tumorais e o microambiente local do sítio secundário30

.

As metástases ocorrem nos pulmões em 80% dos casos e podem ser detectadas

em 11% a 17% de cães acometidos com OS no momento do diagnóstico43,48

. Em humanos, o

local mais comum de metástase também é o pulmão e é possível que 90% dos pacientes já

tenham disseminação microscópica neste órgão no momento do diagnóstico47

. O

desenvolvimento de metástases para pulmões representa a causa mais comum de morte em

pacientes com OS30

.

Focos de metástases podem ser observados, também, no fígado, rim, tecido ósseo,

baço, miocárdio, linfonodos, diafragma, mediastino, medula e intestinos. No entanto, a

ocorrência de metástases cutâneas de OS é um fato considerado de ocorrência

extraordinariamente rara e de patogênese ainda incerta33,49,50

.

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2.6. Tratamento

Com relação à terapêutica, o tratamento cirúrgico de escolha é a amputação do

membro envolvido35,43

. Para as neoplasias com localização na pelve, a hemipelvectomia

parcial ou total, embora seja um procedimento cirúrgico agressivo, também pode ser realizada

com sucesso. Porém a margem de segurança pode ficar comprometida se o estágio do

comprometimento ósseo estiver avançado. Muitos proprietários se mostram relutantes em

aceitar a indicação da amputação e devem ser informados da habilidade do cão em se adaptar

à nova realidade31

. A amputação irá aliviar a dor, embora não prolongue necessariamente a

vida dos cães, a menos que seja conjugada a um programa agressivo de quimioterapia simples

ou combinada, imunoterapia e radioterapia35,43,45

. O tratamento da lesão primária somente por

amputação ou ressecção do osso doente raramente é curativo, evoluindo para metástase24

.

Pacientes com OS ainda respondem fracamente à quimioterapia intensiva e têm

risco de recidiva local ou metástases à distância27

. Além disso, tratar a metástase continua a

ser um desafio para os oncologistas. Os regimes terapêuticos que visam os tumores primários

podem não ser bem sucedidos no tratamento da metástase7. A análise e compreensão da via

molecular envolvida no processo de formação da metástase, por meio da caracterização

genômica e proteômica, pode auxiliar no desenvolvimento de biomarcadores para detectar a

progressão do osteossarcoma e permitir que as células neoplásicas parem de crescer no

microambiente pulmonar. Ao investigar o procedimento de desenvolvimento da metástase é

possível descobrir os mecanismos de resistência às drogas e desenvolver novas estratégias

terapêuticas para os pacientes47,51

.

A terapia para induzir a remissão do tumor em cães e humanos inclui a

quimioterapia. O principal objetivo é induzir a morte das células neoplásicas, de preferência,

sem atingir as células normais11

. Para o osteossarcoma, os agentes antineoplásicos utilizados

são a cisplatina, a carboplastina ea doxorubicina30,52

.

Em cães, a droga de escolha é a cisplatina que possui o efeito de prolongar

significativamente os intervalos livres da doença e a sobrevida do animal31,32

. Este

antineoplásico pertence ao complexo de coordenação de platina, o qualinibe a síntese do DNA

e possui efeito sinérgico com outros agentes antitumorais. Como efeitos colaterais, são citados

a nefrotoxicidade, ototoxicidade, distúrbios gastrointestinais e mielossupressão10,11

. A dose

recomendada de cisplatina é de 60 a 70 mg/m² de superfície corporal, sendo recomendado

protocolo de diurese salina para minimizar a nefrotoxicidade7,31,32

.

Outra forma de quimioterapia alterna a cisplatina e a doxorrubicina e proporciona

resultados satisfatórios, aumentando a taxa de sobrevida31

. A doxorubicina é um antibiótico

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15

da família das antraciclinas, que induz o bloqueio da síntese do DNA e diminui a atividade da

topoisomerase II. A dose utilizada é de 30 mg/m², via intravenosa, a cada duas semanas,

totalizando quatro a seis sessões7,10,11

.

A carboplatina é um análogo da cisplatina e, também, pode ser associada às

drogas acima. É menos nefrotóxica que a cisplatina, com efeitos antimetastáticos

aparentemente semelhantes, porém com toxidez mielossupressora.Pode ser administrada por

via intravenosa, não sendo necessário induzir diurese salina. A dose utilizada é de 30 mg/m²

no dia da amputação, repetida em intervalos de 21 dias, por quatro sessões, desde que não

ocorra nenhum sinal grave de supressão de medula óssea7,11,8

.

Um paciente que for tratado com quimioterapia após a amputação, e que for

vítima de metástases pulmonares, deverá ser submetido metastasectomia seguida de protocolo

de quimioterapia adicional4.

Uma forma de auxiliar na escolha do protocolo de quimioterapia a ser adotado é o

sistema de classificação Huvos. Trata-se de uma estimativa quantitativa da percentagem de

necrose das células tumorais, observadas no tumor após a cirurgia. Os pacientes que

apresentam necrose tumoral, em pelo menos 90% da amostra do tumor ressecado, são

classificados como bons respondedores e têm prognóstico melhor. Pacientes com escores

baixos de necrose são encaminhados a receber protocolos quimioterápicos alternativos e mais

agressivos30

.

A utilização da quimioterapia antes do procedimento cirúrgico tem a vantagem de

proporcionar oportunidade de maior sucesso para ressecção do tumor primário, preservando o

membro afetado30

. O paciente que for tratado com quimioterapia após a amputação, e que for

vítima de metástase pulmonar, deverá ser submetido a metastasectomia seguida de protocolo

de quimioterapia adicional34

.

A resistência à quimioterapia pode estar associada à mutação da proteína p5345

.

Além disso, os resultados da quimioterapia para OS, na presença de metástase, continuam a

ser pouco satisfatórios53

. O atual manejo terapêutico é pouco eficaz e existe a necessidade da

descoberta de novos agentes54

.

A radioterapia pode ocasionar a remissão da dor por longos períodos e o retardo

no crescimento neoplásico, sendo um procedimento indicado em casos em que há

impossibilidade de excisão cirúrgica tumoral. Apesar de existirem casos de OS induzido por

radiação em animais, a combinação entre a radioterapia e a cirurgia pode prolongar a

sobrevida dos pacientes33,34

. A radioterapia local associada à quimioterapia, sem amputação,

pode trazer algum benefício, porém com a diminuição do limiar de dor à neoplasia, o cão

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16

recobra o uso normal do membro e fraturas patológicas podem ocorrer na área, além de

osteomielite e evolução para metástases34

. O OS é um tumor ósseo relativamente

radiorresistente39

.

2.7. A busca por novos agentes antineoplásicos

Nos últimos anos, a comunidade científica tem se esforçado para desenvolver

agentes antineoplásicos mais eficazes por meio da descoberta de novos quimioterápicos, a

partir de plantas e outras fontes naturais53

.

O Própolis de abelhas, apresenta atividades antimicrobianas, antioxidante e anti-

inflamatória. Além disso, exerce efeito citotóxico em células de OSC, possuindo, então, um

grande potencial para gerar um novo agente terapêutico52

.

Os bifosfonatos são uma classe de substâncias não hormonais que evitam a perda

da massa óssea. Esta categoria terapêutica tem demonstrado atividades antineoplásicas no OS,

em modelos de camundongos, por meio da inibição da reabsorção mediada pelos osteoclastos

no local do tumor primário. Desta forma, é possível reduzir a lise e a dor óssea37

.

A baicaleína é um flavonoide utilizado na China para o tratamento de diversas

doenças. Pode inibir a proliferação celular, promover a apoptose das células do OS, dificultar

o processo de metástase, aumentar a eficácia e reduzir os efeitos colaterais de outros

quimioterápicos53

.

A survivina é uma proteína com funções de regular a divisão celular e inibir a

apoptose nas células neoplásicas. A inibição da survivina em linhagens de OSCin vitro,

mostrou diminuição do número de células malignas viáveis, aumento da apoptose,

impossibilidade mitótica e maior sensibilidade à ação da terapia utilizando carboplatina e

doxorrubicina44

.

A vitamina D tem um papel importante no desenvolvimento e manutenção dos

ossos. Possui, também, atividade antineoplásica em cultivos celulares de alguns carcinomas

humanos, como diminuição do índice de proliferação e de apoptose. Para o OS, estudos in

vitro sugerem que esta vitamina pode vir a ser um agente terapêutico adicional, melhorando a

resposta à quimioterapia e diminuindo os índices de efeitos adversos55

.

O extrato de mangostão, uma fruta tropical encontrada no sudeste da Ásia, possui

ação antiproliferativa em células de OSC. Ao induzir a apoptose, esse composto promove a

condensação e fragmentação nuclear. O mangostão apresenta, in vitro, características que

favorecem sua utilização terapêutica para o tratamento dessa neoplasia25

.

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2.8. Prognóstico

Para avaliação do prognóstico, alguns indicadores são muito importantes: raça,

peso corporal, localização da lesão, subtipo histológico do tumor, presença de metástases,

níveis séricos de fosfatase alcalina, graduação do tumor, diâmetro e volume do tumor,

densidade vascular do tumor e grau de necrose tumoral após a quimioterapia45

. A maioria dos

animais com OS do esqueleto axial morrem ou são submetidos à eutanásia por problemas

associados ao tumor primário36

.

O tempo médio de sobrevivência de cães tratados apenas com amputação é de

aproximadamente quatro meses, sendo que para cães tratados com amputação e quimioterapia

a sobrevivência é de aproximadamente um ano. OS localizado na escápula têm prognóstico

desfavorável, havendo relatos de maior sobrevida quando acometem as articulações cárpicas e

társicas34,43

. Tumores primários localizados nas extremidades, principalmente fêmur, têm

maior atividade proliferativa quando comparados aos tumores originários em outros sítios39

.

A ocorrência de metástases cutâneas de OS em animais da espécie canina é um

fator agravante para o prognóstico desta enfermidade56

. Outro fator que torna o prognóstico

desfavorável é a atividade sérica elevada de fosfatase alcalina, funcionando como um possível

indicador de metástase e advertindo um tempo de sobrevida mais curto32

.

A combinação de agentes na quimioterapia e o avanço nas técnicas cirúrgicas

ortopédicas vêm aumentando a taxa de sobrevida em humanos. Pacientes com OS primário,

sem focos de metástase da doença na apresentação clínica, têm chance de 60% a 70% de

cinco anos de sobrevida livre de recidiva27,30,38

. A principal razão para a baixa taxa de

sobrevivência é o fato da evolução para metástase. Pacientes com metástases têm prognóstico

desfavorável, com taxa de sobrevivência entre 10% e 30% em longo prazo30,51

.

2.9.Utilização de modelos animais para o estudo do osteossarcoma

A utilização de modelos animais para o câncer humano tem evoluído na tentativa

de captar a complexidade das doenças. Enquanto os roedores se destacam como o grupo de

animais mais utilizado, há um crescente emprego do uso de cães, pois têm apresentado êxito

nas pesquisas comparativas de determinados tipos de câncer humano, tais como o OS e o

câncer de próstata57,58

.

O sistema experimental para o osteossarcoma humano inclui ratos, camundongos

e cães. Cada exemplar oferece vantagens únicas. Modelos que utilizam ratos possuem papel

importante na avaliação cirúrgica e nos métodos moleculares de tratamento para OS

apendicular. São usados para estudar a biologia do tumor e desenvolver novas abordagens

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para o tratamento. A gestação dos ratos é de curta duração, o que faz com que o estudo em

diversas gerações seja relativamente rápido e barato, em comparação com outros mamíferos.

Exemplares de camundongos são utilizados para o estudo de tumores primários, progressão de

metástase e desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. Estes animais replicam muitas

características do OSH, no entanto, o comportamento biológico observado difere dos aspectos

da doença no homem. Uma das características que proporciona limitações é a ocorrência

espontânea dos tumores em seres humanos e a necessidade de indução na maioria dos

modelos de ratos e camundongos30,57

.

Dos animais de companhia, o cão é o que possui apresentação clínica, biológica,

complicações e resultados com maior semelhança ao OSH. Além da histologia do tumor

primário e o padrão de propagação de metástases, existe analogia na capacidade de resposta a

drogas, tais como a cisplatina e as antraciclinas. Isto faz do cão um modelo para o

desenvolvimento de novos agentes para o tratamento do OS. Por este motivo, os ensaios

clínicos realizados por instituições individuais e estudos multicêntricos são preferencialmente

conduzidos em cães com OS. As pesquisas possuem a intenção de integrar planos de

desenvolvimento de tratamentos comuns à espécie humana, com empresas

farmacêuticas30,37,58,59

.

Outra semelhança diz respeito à β catenina, que é expressa no citoplasma das

células neoplásicas no OSC e OSH59

. As anomalias citogenéticas do OS são parecidas entre

estas espécies, o que reforça o papel do cão como um modelo comparativo válido para o

osteossarcoma humano. Existe, também, um interesse crescente na disciplina oncologia

comparativa, que integra o estudo da ocorrência natural, biologia e terapia de neoplasias em

animais e humanos. Além disso, o estudo das neoplasias em diferentes raças de cães fornece

um contexto de diversidade genética, ausente em estudos com animais delaboratório. Os cães

têm a maior diversidade fenotípica e o maior número de doenças conhecidas, de ocorrência

espontânea, de todos os mamíferos terrestres38,57,58

.

3. β Lapachona

O Brasil possui uma flora rica em diversidade biológica. O bioma cerrado contém

plantas tropicais medicinais com potencial para o desenvolvimento de quimioterápicos com

propriedades analgésicas, tranquilizantes, diuréticas, laxativas, antimicrobianas e

antineoplásicas60

.

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Nas plantas da família Bignoniacea, Tabebuia avellanedae; T. serratifolia; T.

heptaphyla; Zeyhera digitalis; Z. tuberculosa, são encontrados lignanas, flavonoides,

monoterpenos, triterpenos, ácidos cinâmicos, benzoicos e naftoquinonas61,62

. Localizadas na

Mata Atlântica, a Tabebuia. alba, T. chrysotricha e T. vellosoi são espécies de ipê-amarelo. A

T. ochracea é encontrada no cerrado e também é uma espécie de ipê amarelo (Figura 3). O

ipê-branco é a T. roseoalba e o ipê-roxo compreende as espécies T. heptaphylla, T.

avellanedae e T. impetiginosa63,64

. Com a designação de ipê, existem aproximadamente 46

tipos de madeiras no Brasil. Em tupi-guarani, ipê significa "árvore de casca grossa" e tabebuia

denota "madeira que flutua"9,65

.

Desde o Império Inca no século XIII, por meio do conhecimento popular, o chá da

casca do ipê é utilizado na Argentina, México, Estados Unidos e no Brasil para tratamento de

diarreia, infecções respiratórias, infecções do trato urinário, anemia, febre, alergias, artrite,

infecções bacterianas, cândida, gripe, infecções fúngicas, leucemia, doenças hepáticas,

parasitas, ulcerações cutâneas, asma, colite, cistite, gastrite e gengivite65,66

. No século XIX,

iniciou-se o interesse da comunidade científica para plantas da espécie ipê. Até a década de

1970, a substância também se destacava pela ação antineoplásica. Nessa época, o Instituto

Nacional do Câncer Norte-Americano (NCI: Nacional Cancer Institute) entendeu que a dose

imprescindível para sua utilização no paciente oncológico gerava efeitos adversos

indesejáveis e as pesquisas foram suspensas67

.

FIGURA 3- Imagem de uma espécie de ipê-amarelo, Tabebuia

ochracea, localizada à margem da Alameda Marginal

Botafogo, Goiânia-GO.

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Após apresentar bom índice terapêutico quando comparado a outros agentes

neoplásicos, uma série de trabalhos científicos e inúmeros estudos farmacológicos passaram a

serrelatados65,68,69

. A bioquímica das suas atividades enzimáticas fez com que a mesma se

enquadrasse nas pesquisas sobre antineoplásicos com maior seletividade70

. Atualmente, as

quinonas são compostos orgânicos presentes em muitas classes de medicamentos. Muitas

quinonas estão aprovadas para consumo e outras estão em processo de avaliação em ensaios

clínicos71

. O mecanismo de citotoxicidade desses compostos está relacionado com a

estimulação do estresse e alquilação das proteínas e ácidos nucleicos72

.

Os compostos derivados das quinonas, de acordo com o sítio de redução e

conjugação, são benzoquinonas, naftoquinonas e antraquinonas. As naftoquinonas estão

presentes em várias famílias de plantas, reagem com o oxigênio molecular, geram espécies

reativas como peróxidos e superóxidos e podem reagir diretamente com DNA, lipídios e

proteínas72,73,74

. Apresentam função antitumoral68

, bactericida75

, antimalárica76

, inibidora do

HIV-177

, moluscicida78

, contra o fungo Fusarium oxysporum79

, contra a leishmaniose72

e

contra larvas do Aedes aegypti80

. Os derivados das naftoquinonas apresentam potencial

citotóxico e genotóxico, devido ao fato de interagir com as biomoléculas e interferir na ação

das enzimas celulares envolvidas no processo de proliferação celular81

.

O lapachol (LP), (2-hidroxi-3-(3-metil-butenil)-nafto-1,4-diona),é uma

naftoquinona (Figura 4) com diversas propriedades biológicas e sem efeitos secundários

graves82,83

. É isolado da serragem da madeira das Tabebuia sp. por meio de extração simples,

com bom rendimento. Ele também pode ser encontrado nas famílias Verbenaceae,

Proteaceae, Leguminosae, Sapotaceae, Scrophulariaceae e Malvaceae72

. O lapachol é

abundante na natureza e, por isso, existe o interesse no desenvolvimento de substâncias

biologicamente ativas por meio da manipulação eficiente dessa substância84

.

Sua extração baseia-se na natureza química da substância. Por ser um ácido fraco,

ao reagir com carbonato de sódio, forma um sal solúvel em água. Após uma filtração simples,

para separar os resíduos sólidos, o lapachol é regenerado ao reagir com o ácido clorídrico. Um

dos meios utilizados para a identificação do lapachol extraído é a faixa de fusão entre 141ºC e

143ºC, indicando a sua presença no pó obtido85

.

O LP possui amplo espectro de atividades biológicas antibacterianas,

antiplasmódica, antioxidante, tripanocida e antineoplásica. Seus derivados também promovem

ação no tratamento de Pneumocystis, toxoplasmose, malária e HIV84

. Apresenta a capacidade

de induzir o estresse oxidativo na via da enzima P450 redutase, promovendo a cisão do

DNA86

. Assim, por meio da formação de peróxido de hidrogênio, de superóxido e de radical

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hidroxila, danifica componentes celulares, interferindo na divisão celular, alterando pontos

específicos da evolução morfogênica natural, inviabilizando a célula e induzindo a apoptose87

.

FIGURA 4- Estrutura química do lapachol.

Fonte: Adaptado de Castro et al.72

O LPé capaz de inibir o complexo das topoisomerases, que permite que as funções

de transcrição, reparação, replicação e estruturação do cromossomo ocorram normalmente. A

célula cancerígena não possui o mecanismo de autoavaliação dos cromossomos, responsável

pela escolha de preservar ou interromper o ciclo vital celular, evitando sua própria apoptose.

Ao inibir o complexo topoisomerase-DNA, não deixando as topoisomerases se reconectarem

ao DNA e desfazendo o complexo, ocorre a formação de pontos de checagem no processo da

divisão celular, induzindo a morte das células malignas. Por se multiplicarem com rapidez, as

células neoplásicas se tornam um alvo mais sensível aos inibidores da topoisomerase9.

A utilização do LP promoveu a diminuição da dor em pacientes com tumores no

rim, fígado, próstata, colo uterino e mama62

. No entanto, in vivo, doses elevadas de lapachol

induziram um estado de hipercoagulabilidade indesejável em pacientes com câncer e

promoveram metástase de células de melanoma B16-BL6 no pulmão. Por outro lado, a

administração oral de doses baixas de lapachol suprimiu a metástase do pulmão, sugerindo a

utilização do lapachol como agente antimetastático. No tratamento in vitro, o aumento do

número de nódulos metastáticos no pulmão foi menor que no experimento in vivo, o que pode

indicar que a promoção da metástase ocorre por fatores do hospedeiro e não por efeitos

diretos sobre as células tumorais88

.

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No final do século XIX foi descrita a conversão de LP em α lapachona e β

lapachona (βLP)89

. As modificações no anel C da βLP são utilizadas como estratégia para

conseguir compostos mais ativos, com índice seletivo apropriado e melhor atividade72

.

A βLP (3,4-dihidro-2, 2-dimetil-2H-nafthol [1,2-b] piran-5,6-diona) foi isolada

em 1882 por meio da extração da serragem do ipê. Sua estrutura química (Figura 5) foi

desvendada em 1896, porém só passou a ser facilmente preparada em 1971. Possui peso

molecular de 243,3 KDa (Dalton-A unidade peso molecular) e ponto de fusão entre 158ºC e

159ºC. É lipofílica e não solúvel em água90

.

FIGURA 5- Estrutura química da β lapachona.

Fonte: Aires et al.98

A βLP possui atividade antibacteriana, antifúngica e antirretroviral. Por meio de

pesquisas, verificou-se que produziu bons resultados no prolongamentoda sobrevivência de

modelos com leucemia, para bloquear a multiplicação do vírus da imunodeficiência humana

(HIV-1), como terapia adjuvante na retinopatia proliferativa e como agente anti-psoriático90

.

Também são descritos resultados sobre a atividade esquistomicida da βLP91

.

O mecanismo de ação da ßLP inclui alquilação de grupos sulfidrila de enzimas,

apoptose e formação de espécies reativas de oxigênio90

. Possui ação inibidora não competitiva

da enzima indoleamine 2,3-dioxygenase (IDO1), que tem como uma das suas funções a

supressão das células do sistema imune. Também é possível obter sinergismo entre sua ação

citotóxica e os efeitos imunológicos83,92

. Além disso, contribuiu com a perda de peso e

estimulou a oxidação de ácidos graxos em modelos de ratos com esteatose, após indução de

doença hepática alcoólica. A substância promoveu ação no metabolismo lipídico mediada

pela regulação positiva de lipoproteínas e mobilização de lipídios no fígado93

. Do mesmo

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modo, a administração oral de βLP para camundongos reduziu o depósito de lipídeos no

coração e diminuiu os sintomas de insuficiência cardíaca94

.

O fato de ser inibidora da DNA topoisomerase I, enzima que desempenha

importante papel nos processos de replicação e empacotamento do DNA, desencadeou

estudos sobre sua ação antineoplásica no câncer de próstata, ovário, mama, mieloma, pulmão

e hepatoma90,95

. Nas células cancerígenas, a βLP aciona os mecanismos de apoptose,

autofagia e morte celular por necrose96

. A forma exata pela qual desencadeia a morte celular

permanece desconhecida. No entanto, sabe-se que pode induzir seletivamente a morte de

células neoplásicas em humanos, sem interferir nas células normais97

. Existe ainda a

necessidade de mais estudos para elucidar seu mecanismo de ação, efeitos terapêuticos e

atividades biológicas para o seu desenvolvimento como medicamento para diversas doenças,

inclusive as neoplasias72,98

.

4. Cultivo Celular

O cultivo de células animais teve início no século XIX e evoluiu com os

princípios científicos para uma tecnologia moderna99

. No princípio, houve a cultura primária

de células de rim de macaco e de fibroblastos de embrião de galinha, com a finalidade de

produção de vacina100

.

Em 1960, as células diplódes humanas, cujos cromossomos se organizam em

pares de cromossomos homólogos, passaram a ser utilizadas em cultura de células primárias,

a partir de pulmão fetal humano. As linhas celulares contínuas passaram a ser usadas em

1970. A partir de 1980, o DNA recombinante e os anticorpos monoclonais foram

desenvolvidos 101

. Em fevereiro de 2001, a Comissão Europeia definiu estratégias sobre a

promoção de testes sem a utilização de animais. O emprego da cultura in vitro auxilia nesse

aspecto, já que é possível cultivar células cardíacas, de músculos lisos, endócrinas, epiteliais,

tumorais e do sistema nervoso99

.

Nas últimas décadas, houve um avanço nas tecnologias da biologia celular e

molecular. O meio utilizado para expansão das células passou de soluções salinas para um

conjunto completo de nutrientes. O cultivo passou a ser uma fonte de estudo para os

mecanismos de ação dos genes reguladores do ciclo celular. Isso proporcionou uma evolução

para as áreas que envolvem a virologia, a genética de células somáticas, a endocrinologia, a

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toxicologia, a farmacologia e a imunologia102

. As técnicas de cultivo de células têm

contribuído para os estudos da genética do câncer103

, sem indução de tumores em animais 99

.

As culturas isoladas de tecidos são primárias. Após a primeira, a cultura passa a

ser em série. As linhagens celulares são culturas em série para obtenção de um único tipo

celular. Após diversos subcultivos, a linhagem celular se torna mais homogênea e com maior

velocidade de crescimento. Os bancos celulares expandem e conservam linhagens celulares,

por meio da criopreservação99

.

As células dependem de uma superfície de cultura para a sua proliferação, no

entanto, a tendência é para a utilização de células em suspensão, por necessitarem de

procedimentos menos complexos. A produção de vacinas utiliza células de superfície

aderente, já o processo de cultura para a geração de células-tronco é feito por meio de

suspensão. É necessário um ambiente estável para que as células mantenham sua expansão e

capacidade de diferenciação celular100

. Para a sobrevivência das células é essencial o

fornecimento de condições como pH entre 7,0 a 7,4; temperatura entre 35ºC a 37ºC;

osmolalidade de 260 mOsm Kg-1

a 320 mOsm Kg-1

; concentrações de oxigênio entre 30 % a

60 % da saturação do ar; e gás carbônico entre 5 % a 10 %99

.

A forma mais simples para expansão das células é a utilização de dispositivos

moldados em poliestireno transparente, como garrafas e placas. A escolha pelo frasco ideal é

feita de acordo com a técnica a ser utilizada, da confluência e densidade celular desejada. Para

a suspensão das células aderentes, métodos mecânicos e enzimas proteolíticas, como a

tripsina, são eficientes. No entanto, as enzimas podem promover degradação das proteínas da

matriz extracelular e, por isso, a exposição à tripsina deve ter o menor tempo possível,

seguida de sua inativação com meio de cultura100

.

O cultivo celular propicia a avaliação de fármacos e agentes antineoplásicos,

pesticidas, cosméticos e aditivos alimentícios. Os testes realizados podem avaliar o efeito

tóxico, a citotoxicidade efetiva, a concentração ideal e o tempo de exposição essencial.

Estoques de células podem ser mantidos congelados com auxílio de agentes crioprotetores,

para manutenção das características da linhagem original. Dessa forma, as células são

mantidas em cultura somente enquanto for necessário99

.

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5. Objetivos

Com este estudo objetivou-severificar os efeitos intracelulares da β lapachona

sobre células do osteossarcoma canino de cultura estabelecida, bem como identificar os

mecanismos de ação que possam explicar suas propriedades antiproliferativas.

6. Referências

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“A divisão da célula permite nosso crescimento, nossa

adaptação, nossa recuperação e nossa correção como

organismos – numa palavra, permite que vivamos. Quando

distorcida e descontrolada, ela permite que a célula cresça,

desenvolva-se, adapte-se, recupere-se e corrija-se – que

viva à custa da nossa vida. As células cancerosas podem

crescer mais rapidamente, adaptar-se melhor. São versões

mais perfeitas de nós mesmos.”

Siddhartha Mukherjee

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CAPÍTULO 2 – β LAPACHONA REDUZ A PROLIFERAÇÃO DE

CÉLULAS DE OSTEOSSARCOMA CANINO EM CULTURA

RESUMO

O osteossarcoma é o tumor maligno das células ósseas primitivas com alta incidência em cães

e humanos, principalmente crianças. Um número significativo de pacientes ainda tem pouca

resposta à quimioterapia intensiva e apresenta risco de recidiva local. A necessidade de

medicamentos mais efetivos, com menor consequência adversa, tem gerado esforços para o

desenvolvimento de agentes quimioterápicos compostos por plantas e outras fontes naturais.

O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos citotóxicos da β lapachona, um composto

presente na serragem da madeira do ipê, sobre células de osteossarcoma canino em cultura. A

viabilidade celular e a citotoxicidade foram medidas pela exclusão do azul de tripano. A

concentração que inibe 50% da viabilidade celular(IC50) foi calculada pelo ensaio de redução

do MTT. A capacidade de proliferação celular, após o período de tratamento, foi avaliada pelo

ensaio de sobrevivência clonogênica. O grupo tratado com 0,3μM de β lapachona

apresentoumelhor regressão da viabilidade celular (80,27% / 24h; 47,41% / 48h e 35,19% /

72h) e maior progressão da citotoxicidade (19,73% / 24h; 52,59% / 48h e 64,81% / 72h). O

menor IC50(0,180 μM) ocorreu no grupo tratado por 72 horas. O crescimento celular após o

tratamento foi menor de acordo com o aumento da concentração e tempo de exposição,

apresentando 0,50% de fração de sobrevivência na concentração de 1,0 µM. Não houve

diferença estatística entre as concentrações, para a proliferação celular após o tempo de

exposição à β lapachona. Em conclusão, as células de osteossarcoma canino, após tratamento

com a β lapachona, apresentam baixa viabilidade celular, efeito citotóxico expressivo e uma

reincidência celular pouco significativa, sendo a dosagem de 0,3 μM a mais promissora.

Palavras-chave:lapachol,linhagem D-17, naftoquinona, tabebuia.

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β LAPACHONE REDUCES CANINE OSTEOSARCOMA CELLS IN VITRO

PROLIFERATION

ABSTRACT

Osteosarcoma is the most diagnosed primary bone cell tumor in dogs and humans. A plethora

of patients still show faint response to intensive chemotherapy and risk local relapse. The

need for more effective drugs with less intense adverse effect has triggered the development

of plant-derived, natural-source chemotherapeutics. This study aimed to verify anti-

proliferative effects of β lapachone, a compound found in the ipe tree woodchucks, on canine

osteosarcoma cells in vitro. Cell viability was measured through MTT reduction and Tripan

Blue assays. Cell proliferation capacity was assessed after treatment period by clonogenic cell

survival assay. The group treated with β lapachone for 72 hours showed the slightest cell

viability, 27,74%, and the most conspicuous citotoxic effect, 64,81%, at 0,3 μM

concentration; littlest IC50, 0,180 μM and also the faintest cell growth - 0,50%- following

treatment with 1,0 µM concentration. No statistical difference for cell proliferation was

verified between concentrations after β lapachone exposure. In conclusion, canine

osteosarcoma cells treated with β lapachone present low cellular viability, marked citotoxic

effect and unremarkable cellular re-incidence. The 0,3 μM concentration is the most

promising for future patient use.

Keywords: D-17 cells, lapachol, naphthoquinone, tabebuia.

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1. Introdução

Neoplasias ósseas primárias malignas são relativamente comuns em cães, sendo a

mais prevalente o osteossarcoma (OS). Este corresponde a 6% das neoplasias incidentes em

cães, a 80% dos tumores ósseos e está associado a prognóstico reservado1,2,3,4

. Em humanos, é

o principal tumor ósseo maligno, apresentando maior incidência em crianças e adultos jovens,

com frequência de 60% de todas as neoplasias que incidem nas primeiras duas décadas de

vida5,6

.

A terapia para induzir a remissão da neoplasia em cães e humanos inclui o

emprego de cisplatina, carboplastina, doxorubicina e metotrexato7,8

. Os efeitos adversos

refletem em cardiotoxicidade, nefrotoxicidade, ototoxicidade e hepatotoxicidade9,10

. Número

significativo de pacientes com OS ainda respondem pouco à quimioterapia intensiva e têm

risco de recidiva local ou metástases à distância6. Além disso, tratar as metástases continua a

ser um desafio para os oncologistas. Os regimes terapêuticos que visam os tumores primários

podem não ser bem sucedidos no tratamento da metástase8. O atual manejo terapêutico é

pouco eficaz enovos agentes precisam ser descobertos11

.

Nos últimos anos, a comunidade científica tem se esforçado para desenvolver

novos agentes antineoplásicos por meio da descoberta de novos quimioterápicos, da utilização

de plantas e outras fontes naturais10

. O Brasil possui uma flora rica em diversidade biológica,

e particularmente bioma cerrado contém plantas tropicais medicinais com potencial para o

desenvolvimento de quimioterápicos com propriedades analgésicas, tranquilizantes,

diuréticas, laxativas, antibióticas e antineoplásicas12

.

Nas plantas da família bignoniácea - Tabebuia avellanedae; T. serratifolia; T.

heptaphyla; Zeyhera digitalis e Z. tuberculosa - são encontrados flavonoides, lignanas,

monoterpenos, triterpenos, ácidos cinâmicos, benzóicos e naftoquinonas13,14

.Com a

designação de ipê, existem aproximadamente 46 tipos de madeiras no Brasil. Em tupi-guarani,

ipê significa "árvore de casca grossa" e tabebuia denota "madeira que flutua"15,16

.

Os derivados das naftoquinonas apresentam potencial citotóxico e genotóxico por

interagirem com as biomoléculas e interferir na ação das enzimas celulares envolvidas no

processo de proliferação celular17

. O lapachol (LP) é uma naftoquinona com diversas

propriedades biológicas e sem efeitos secundários graves18,19

. No final do século XIX, foi

descrita a conversão do lapachol em α lapachona e β lapachona (βLP)20

. A βLP (3,4-dihidro-

2, 2-dimetil-2H-nafthol [1,2-b] piran-5,6-diona) possui atividade antibacteriana, antifúngica e

antirretroviral. Sabe-se que este composto possui bons resultados no prolongamentoda

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38

sobrevivência de modelos com leucemia, no bloqueio a multiplicação do vírus da

imunodeficiência humana (HIV-1), como terapia adjuvante na retinopatia proliferativa e como

agente anti-psoriático e apresenta atividade esquistomicida21,22

.

O fato de ser inibidora da DNA topoisomerase I, enzima que desempenha

importante papel nos processos de replicação e empacotamento do DNA, desencadeou

estudos sobre sua ação antineoplásica da βLP nos cânceres de próstata, ovário, mama, medula

óssea, pulmão e fígado21,23

.

Dos animais de companhia, o cão é o que possui apresentação clínica, biológica,

complicações e resultados com maior semelhança ao osteossarcoma humano. Além das

características histológicas do tumor primário e o padrão de propagação de metástases, existe

analogia na capacidade de resposta a drogas, tais como a cisplatina e as antraciclinas. Isto faz

do cão um modelo experimental para o desenvolvimento de novos agentes para o tratamento

do osteossarcoma. Por este motivo, os ensaios clínicos realizados por instituições individuais

e estudos multicêntricos são preferencialmente conduzidos em cães com OS. As pesquisas

possuem a intenção de integrar planos de desenvolvimento de tratamentos comuns à espécie

humana, com empresas farmacêuticas8,24,25,26

.

O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos citotóxicos da βLP em células de

OSC, uma vez que esta substância possui atividade antitumoral em diversos tipos de

neoplasias. A confirmação de sua ação sobre o OS pode permitir o desenvolvimento de uma

estratégia terapêutica mais eficiente e com menor efeito adverso para o paciente.

2. Material e métodos

2.1. Células e cultura

As células de OSC osteogênico metastático (D-17, BCRJ 0276, Lote 000573,

Passagem 239) foram adquiridas do Banco de Células do Rio de Janeiro (UFRJ – Rio de

Janeiro, Brasil) originárias da ATCC (American Type Culture Collection- Manassas, VA,

USA). As células foram mantidas em incubadora umidificada a 37ºC com uma atmosfera de

5% de CO2. Foram cultivadas em meio Dulbecco modificado de Eagle (DMEM) acrescido de

10% de soro fetal bovino, penicilina e estreptomicina (10.000 U.I./ml - 10 mg/ml),

anfotericina B e L glutamina (todos os reagentes da Cultilab, Campinas, Brasil), de acordo

com adaptação de YU et al.27

.

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39

A βLP foi adquirida da Santa Cruz Biotechnology (Dallas, Texas, EUA). Os

compostos de teste foram dissolvidos em DMSO (Dimetilsulfóxido, Cultilab, Campinas,

Brasil) estocados na concentração de1 mM e armazenadas a -200C.

2.2. Avaliação da viabilidade celular pelo método de exclusão do azul de tripan

A avaliação foi feita por meio de adaptação da técnica usada por Mosman28

e

Peres& Curi29

. Placas de 96 poços foram utilizadas para cultivar as células na concentração de

1x104células/poço por 24 horas em incubadora umidificada a 37

ºC com atmosfera de 5% de

CO2. Os tratamentos com βLP foram feitos com as dosagens de 1 μM, 0,3 μM, 0,1 μM e

grupo controle (GC) negativo por três diferentes períodos para cada concentração, por 24 h

(G24), 48 h (G48) e 72 h (G72). Em seguida, o meio de cada poço foi descartado e as células

foram suspensas com 50 μl de tripsina (Cultilab, Campinas, Brasil), após lavagem com

Phosphate buffered saline (PBS, Cultilab, Campinas, Brasil). A tripsina foi inativada com o

acréscimo de 100 μl de meio DMEM com 10% de soro fetal bovino. O material foi

centrifugado a 130 rcf(g) por 10 minutos, o meio foi novamente descartado e as células

ressuspensas em 100 μl de meio de cultura fresco. Em seguida, 40 μl por poço do volume com

células foram transferidos para eppendorfs contendo 10 μl de azul de tripan (Trypan Blue -

Sigma-Aldrich, St Louis, EUA). Foram instilados 10 μl desse preparado em lâmina para

leitura Luna. A avaliação da viabilidade celular foi feita por meio do leitor Luna automated

cell counter. A citotoxicidade (CT) foi determinada pela seguinte equação:

% CT = 100 - [(abs do tratamento/abs do controle negativo) x 100](equação 1)

na qual, CT é a citotoxicidade; e abs é a absorbância.

Os valores calculados para cada grupo, pelo Teste F, foram comparados ao F

tabelado em 5% (2,2). Para o ensaio foram realizados três experimentos independentes em

triplicata.

2.3.Ensaio da viabilidade celular pelo método de redução do tetrazólio

A técnica realizada foi adaptada de Yuet al.27

. As células foram cultivadas por 24

horas em placas de 96 poços, com concentração de 1x104células/poço, em incubadora

umidificada a 37ºC e atmosfera de 5% de CO2. Os tratamentos com βLP foram feitos com as

dosagens de 1 μM, 0,3 μM, 0,1 μM e grupo controle negativo, por 24 h (G24), 48 h (G48) e 72

h (G72). Ao final do período de tratamento, o meio foi descartado e foi adicionado 10 μl de

tetrazólio (MTT (3-(4,5-dimetil-2-tiazolil) -2,5-diphnyl-2H-tetrazólio) em cada poço. As

placas foram incubadas por três horas. Com a finalidade de parar a reação, acrescentou-se 50

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40

μl de sodium dodecyl sulfato (SDS – Vivantis Biochemical) a 10% diluído em HCl (0,01N)

por poço e as placas permaneceram incubadas por 24 horas em temperatura ambiente. A

densidade óptica foi quantificada em espectofotômetro (Awareness Technology Ine/ Stat Fax

2100, 425nm). O valor da concentração que inibe 50% da viabilidade celular (Inhibitory

concentration - IC50, em μM) foi determinado utilizando o programa estatístico GraphPad

Prism (GraphPad Software, San Diego, CA, EUA). Para o ensaio foram realizados três

experimentos independentes em triplicata.

2.4.Ensaio de sobrevivência clonogênica

O procedimento foi adaptado de Parket al.30

e Cao et al.31

. As células foram

cultivadas por 24 horas em placas de seis poços, com a concentração de 1x106células/poço,

em incubadora umidificada a 37ºC e atmosfera de 5% de CO2. Os tratamentos com βLP foram

feitos com as dosagens de 1 μM, 0,3 μM, 0,1 μM e GC negativo por três diferentes períodos

para cada concentração, G24, G48 e G72. Ao final do tratamento, o meio de cada poço foi

descartado e as células suspensas com 500 μl de tripsina. Decorreu o processo de

centrifugação a 130 rcf(g) por 10 minutos, o meio foi novamente descartado, as células

ressuspensas em 1ml de DMEM e cultivadas em placas de seis poços, em incubadora

umidificada a 37ºC com atmosfera de 5% de CO2.

Após 10 dias, o meio foi descartado, os poços foram lavados com PBS e as

células fixadas com solução contendo álcool metílico (Impex/Labinpex), ácido acético

(Synth/Labsynth, Diadema, São Paulo, Brasil) e água destilada, na proporção 1:1:8, por 30

minutos. As células foram coradas com 500 μl de Giemsa (Giemsa stain, Sigma-Aldrich, St

Louis, EUA) por poço durante 15 minutos e lavadas com água destilada. Cada poço foi

dividido em nove campos para a quantificação das células em microscópio de luz, tendo sido

efetuada a média dos campos por poço.O cálculo das frações de sobrevivência foi

determinado pela seguinte equação:

% FS = (número de CCAT/número de CCGC) x 100 (equação 2)

na qual FS é a fração de sobrevivência; CCAT é o número de células contadas

após tratamento e CCGC é o número de células contadas no grupo controle.

Os dados foram representados por meio de gráficos e a análise estatística foi

efetivada utilizando o Teste F. Para o ensaio, foram realizados três experimentos

independentes em triplicata.

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41

3. Resultados e discussão

A citotoxicidade foi medida utilizando o ensaio de viabilidade celular pelo

método de exclusão do corante azul de tripan, no qual as células viáveis não permitiram a

passagem do corante pelas suas membranas íntegras. O mesmo não ocorreu com as células

mortas, onde as membranas danificadas permitiram que o tripano penetrasse no meio

intracelular, corando-o de azul.Após análise dos relatórios da contagem celular por poço

tratado, foi estabelecida (Tabela 1) a média da VC e o cálculo da CT de cada grupo por

concentração e tempo de exposição à βLP (Figura 1).

TABELA 1 - Viabilidade celular (VC) e citotoxicidade (CT) de cada grupo por concentração

e tempo de exposição à βLP, pelo método de exclusão do corante azul de

tripan.

TEMPO DE EXPOSIÇÃO

TRATAMENTO

24 HORAS 48 HORAS 72 HORAS

% VC % CT % VC % CT % VC %CT

0,1 μM 68,03 31,97 62,58 37,42 58,97 41,03

0,3 μM 80,27A

19,73B

47,41A

52,59B

35,19A

64,81B

1,0 µM 68,79 31,21 60,13 39,87 51,84 48,16

CONTROLE 92,99 - 90,03 - 96,78 -

A = melhor regressão da viabilidade celular.

B = melhor progressão da citotoxicidade.

O G72 com tratamento de 0,3 µM apresentou menor viabilidade celular. Já o G24

com tratamento de 0,3 µM apresentou maior viabilidade celular. Todos os grupos

apresentaram CT, o que demonstra que a βLP é citotóxica para as células de OS. Os valores

calculados para cada grupo, pelo Teste F, foram comparados ao F tabelado 5% (2,2). Na

dosagem de 0,1 µM não houve diferença estatística entre os tempos de exposição à βLP. A

diferença estatística ocorreu nos grupos que foram tratados com 0,3 µM, concentração que

apresentou a melhor regressão da viabilidade celular e melhor progressão da citotoxicidade,

por tempo de exposição. A VC diminuiu de 80,27% no G24 para 47,41% no G48 e, em

sequência, para 35,19% no G72. Da mesma forma, a citotoxicidade subiu de 19,73% no G24

para 52,59% no G48 e chegou a 64,81% no G72. Corroborando os resultados de Aireset al.22

,

segundo o qual a βLP possui atividade citotóxica em diversas células de tumores humanos.

De modo diferente ao encontrado na presente pesquisa, a viabilidade de células de

OS apresentou diminuição dose-dependente quando tratadas com α mangostin, substância

extraída do mangostão, fruta tropical encontrada no sudeste da Ásia4. Similarmente,

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42

Cinegagliaet al.7 descreveram que as células de OS foram sensíveis ao efeito citotóxico dose-

dependente em concentrações entre 50 µg a 100 µg da própolis, um produto coletado

deexsudatos de plantas misturado com cera e enzimas da saliva das abelhas. Por outro lado, a

carboplatina não apresentou atividade citotóxica em células de OSC nos ensaios feitos por

Steimet al.24

e em células de OS no estudo de Robson et al.32

.

A concentração 0,3 µM é expressivamente menor que as concentrações letais

utilizadas nas primeiras pesquisas sobre a βLP para diferentes células em cultivo, que

variavam entre 1,0 μM e 30,0 μM33

. Diferiu tambémdo relato de Pardeeet al.21

, no qual a βLP,

em dose de 2,0 μM a 10 μM, apresentou letalidade contra várias células tumorais em cultivo

e retardou o crescimento de células de tumor de próstata, mama e ovário in vivo.

FIGURA 1 - Ensaio da Viabilidade celular pelo método de

exclusão do Azul de Tripan. A) Média da

Viabilidade celular de cada grupo por

concentração e tempo de exposição à βeta

Lapachona. B) Cálculo da Citotoxicidade de cada

grupo por concentração e tempo de exposição à

βeta Lapachona. Análise por contador celular

automatizado LunaTM

.

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A medida da eficácia da βLP foi fornecida por meio do cálculo do IC50, feito pelo

programa estatístico GraphPad Prism. Os resultados indicaram que a concentração necessária

para 50% de inibição in vitro em G24foi 0,959 μM, em G48foi 1,657 μM e em G72foi 0,180

μM.

A variação nos valores de IC50 pode ser atribuída à sensibilidade aos efeitos da

substância nos diferentes tempos de exposição e ao metabolismo da droga. As baixas

concentrações encontradas pelo IC50 no presente estudo podem ser sugestivas de menores

efeitos adversos ao paciente que o de células de OS tratadas com concentrações entre 50 μM e

100 μM de baicaleína, substância utilizada em tratamentos populares na China10

.

A média do número de células de OSC, verificada após o período de incubação do

ensaio de sobrevivência clonogênica, revelou diminuiçãodose dependente nos grupos G24(5

células/0,1μM; 3 células/0,3μM e 0,55 célula/1μM), G48 (1,33 células/campo/0,1μM; 0,88

células/campo/0,3μM e 0,33 célula/campo/1,0 μM) e G72(1,22 células/campo/0,1μM; 0,22

célula/campo/0,3 μM e 0,11 célula/campo/1,0 μM). Quanto maior foi a concentração e o

tempo de exposição, menor foi a sobrevivência clonogênica. Foi possível perceber que no GC

(56 células/campo/24 horas; 24,66células/campo/48 horas e 41,22células/campo/72 horas)

houve crescimento celular compatível com a ausência do tratamento pela βLP. A diminuição

do número de células com o período de tratamento neste grupo, provavelmente se deve ao

fato da restrição com relação ao tempo de exposição e o espaço para o crescimento.

O cálculo das frações de sobrevivência (Figura 2) foi feito para comparar o

número de células encontradas nos grupos tratados com o número de células observadas no

GC. Observou-se que o crescimento celular após o tratamento foi menor (0,50%) no G72 com

a concentração de 1,0 µM e maior (13,93%) no G24 com a concentração de 0,3 µM. Os dados

sugerem que, após o tratamento com a βLP, houve retomada pouco significativa do

crescimento celular. O ensaio de sobrevivência clonogênica é importante para analisar a

capacidade proliferativa das células após a exposição a um determinado agente

antiproliferativo34

.

Os resultados obtidos em relação à proliferação celular sugerem possível efeito da

βLP no combate à recidivas, como o já observado em modelos de xenoenxerto de câncer de

mama em camundongos tratados com β lapachona; os animais mantiveram-se sadios por 200

dias após o final do tratamento e foram considerados curados31

. Por outro lado, é importante

analisar esse efeito por prazos mais longos em futuras pesquisas, pois a utilização de agentes

citotóxicos e inibidores de transdução de sinal pode promover eliminação das células

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44

cancerosas em curto prazo, porém a reincidência das células residuais pode ocorrer com

resistência ao medicamento35

. Nesse sentido, um problema relatado no caso do OSé a

possibilidade de recidiva local com a utilização dos tratamentos convencionais, como

analgésicos, terapia de radiação, cirurgia e quimioterapia4.

FIGURA 2 - Fração de sobrevivência de cada grupo por concentração e tempo

de exposição à βeta Lapachona. Nos grupos de 48 e 72 horas, o

padrão observado de redução foi similar.

Para testar a probabilidade das variâncias serem significativamente diferentes, os

resultados das FS foram analisados pelo Teste F (Tabela 2).

TABELA 2 - Medidas de variação entre os grupos de tratamento com diferentes concentrações e

tempo de exposição à β lapachona. TRATAMENTO

PARÂMETROS

24 h

0,1µM 0,3µM1,0µM

48 h

0,1µM0,3µM 1,0µM

72 h

0,1µM0,3µM 1,0µM

X 5,70 13,93 4,66 5,17 2,82 1,69 4,74 0,64 0,50

S2

8,37 41,74 12,38 0,63 1,84 0,03 3,15 0,10 0,09

S 2,89 6,46 3,51 0,79 1,35 0,16 1,77 0,32 0,31

Onde X = média; S2 = variância; S = desvio padrão; h = hora

Os valores calculados para cada grupo por meio do Teste F foram comparados ao

F tabelado5% (2,2)=19. Conclui-se que não houve diferença estatística para o crescimento

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celular entre as diferentes concentrações e tempos de exposição à βLP. Isto pode indicar que,

mesmo com baixa concentração e curto intervalo de tempo de exposição, o crescimento

celular após o tratamento foi mínimo. De forma semelhante, Kunget al.23

relataram um

pequeno percentual de sobrevivência das células de câncer de pulmão, ao utilizarem

concentrações entre 1,0 µM e 5,0 µM de βLP.

Este estudo é o primeiro a avaliar os efeitos antiproliferativos da βLP como

tratamento para células de OSCin vitro, demonstrando que o composto efetivamente

apresentou atividade antiproliferativa e efeito citotóxico sobre o tipo celular testado. A

dosagem de 0,3 μM mostrou ser a mais promissora, sugerindo que, em baixa concentração, é

possível obter a ação terapêutica desejada, associada à possibilidade de menores efeitos

adversos. Os resultados desta pesquisa apontam para novos caminhos, como a observação

deste tratamento em xenoenxertos em camundongos por períodos mais longos.

4. Conclusão

A β lapachona possui efeitos citotóxicos em células de osteossarcoma canino.

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48

33. Docampo R, Cruz FS, Boveris A, Muniz RP, Esquivel DM. ß-Lapachone

enhancement of lipid peroxidation and superoxide anion and hydrogen peroxide

formation by sarcoma 180 ascites tumor cells. Biochem. Pharmacol. 1979;28:723-28.

34. Plumb JA. Cell Sensitivity Assays: Clonogenic Assay. In: Langdon SP, editor. Cancer

cell culturemethods and protocols. Totowa: Humana Press Inc., 2004.p.165-179.

35. Flick HE, Lalonde JM, Malachowski WP, Muller AJ. The tumor-selective cytotoxic

agent β-lapachone is a potent inhibitor of IDO1. International Journal of Tryptophan

Research. 2013;6:35–45.

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49

“Crescimento maligno e crescimento normal são tão

entrelaçados geneticamente que separá-los pode ser o

desafio científico mais importante que nossa espécie tem

diante de si. O câncer está incrustado no nosso genoma: os

genes que desencadeiam a divisão normal das células não

são estranhos ao nosso corpo, mas versões mutantes e

distorcidas dos mesmos genes que desempenham funções

celulares vitais.”

Siddartha Mukherjee

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50

CAPÍTULO 3 – β LAPACHONA BLOQUEIA O CICLO CELULAR E

INDUZ APOPTOSE EM CÉLULAS DE OSTEOSSARCOMA CANINO

RESUMO

O osteossarcoma é uma das mais frequentes neoplasias ósseas malignas. Caracteriza-se por

infiltração local agressiva dos tecidos subjacentes e disseminação hematógena rápida. A β

lapachona é derivada das naftoquinonas e apresenta potencial citotóxico e genotóxico, devido

ao fato de interagir com as biomoléculas e interferir na ação das enzimas celulares envolvidas

no processo de proliferação celular. Para determinar a ação da β lapachona no processo da

morte celular em linhagem de osteossarcoma canino, foi realizada a avaliação de apoptose e

necrose, o ensaio potencial de membrana mitocondrial e a cinética do ciclo celular. A

apoptose inicial foi o tipo de morte celular mais frequente em todos os grupos, tendo sido

menor no grupo de 24 horas tratado com 0,1 μM (4,26 %) e maior no grupo de 72 horas

tratado com 1,0 μM (85,89 %). A despolarização mitocondrial ocorreu de maneira dose

dependente, indicando a ocorrência de apoptose intrínseca. A inibição do crescimento das

células ocorreu pelo bloqueio do ciclo na fase G0/G1 conforme o tempo de exposição.

Palavras-chave: lapachol,linhagem D-17, ipê, tabebuia.

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51

β LAPACHONE BLOCKS THE CELL CYCLE AND

INDUCESAPOPTOSIS IN CANINE OSTEOSARCOMA CELLS

ABSTRACT

Osteosarcoma is one of the most frequent malignant bone tumors. It is characterized by

aggressive local infiltration of the subjacent tissue and fast hematogenous dissemination. β

lapachone derives from naphthoquinones and bears cytotoxic and genotoxic potential, due to

interacting with biomolecules and interfering in enzymes involved in cell proliferation. In

order to determine β lapachone role in canine osteosarcoma cells death, apoptosis and

necrosis evaluation, mitochondrial membrane potential assay and cell cycle kinetics were

performed. Early apoptosis was the most frequent type of cell death considering all groups. It

was less frequent in the 24-hour group treated with 0,1 μM (4,26 %) and more frequent in the

72-hour group treated with 1,0 μM (85,89 %). Mitochondrial depolarization was dose-

dependent. Cell growth inhibition was carried out through cycle block at G0/G1 phase,

according to exposure time.

Keywords: D-17 cells, lapachol, naphthoquinone, tabebuia.

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52

1. Introdução

O osteossarcoma é um tumor heterogêneo, com padrões histológicos distintos,

constituído por vários tipos celulares que são originados de uma única célula mesenquimal

pluripotente ou de osteoblastos imaturos. É uma das mais frequentes neoplasias ósseas

malignas. Pertence ao grupo de tumores primitivos que produz tecido ósseo, sendo conhecido

também como sarcoma osteogênico ou sarcoma osteoblástico1,2

.

Esta neoplasia caracteriza-se por infiltração local agressiva dos tecidos

subjacentes e disseminação hematógena rápida3. A principal razão para a baixa taxa de

sobrevivência dos pacientes com osteossarcoma é a evolução para metástase. Pacientes com

metástases têm prognóstico desfavorável, com taxa de sobrevivência em longo prazo entre

10% e 30%. A combinação de agentes na quimioterapia e o avanço nas técnicas cirúrgicas

ortopédicas vêm aumentando a taxa de sobrevida4,5,6,7

.

A β lapachona (3,4-dihidro-2, 2-dimetil-2H-nafthol [1,2-b] piran-5,6-diona) foi

isolada em 1882 por meio da extração da serragem do ipê (Tabebuia sp) e possui diversas

propriedades biológicas8,9

. É derivada das naftoquinonas e apresenta potencial citotóxico e

genotóxico, devido ao fato de interagir com as biomoléculas e interferir na ação das enzimas

celulares envolvidas no processo de proliferação celular10

. Possui também a capacidade de

induzir o estresse oxidativo na via da enzima P450 redutase, promovendo a cisão do DNA11

.

Dessa forma, por meio da formação de peróxido de hidrogênio, de superóxido e de radical

hidroxila, danifica componentes celulares, interferindo na divisão celular, alterando pontos

específicos da evolução morfogênica natural, inviabilizando a célula e induzindo a morte

celular12

.

Trata-se de substância com a capacidade de inibir o complexo das topoisomerases,

que permite que as funções de transcrição, reparação, replicação e estruturação do

cromossomo ocorram normalmente. Ao inibir o complexo, não deixando as topoisomerases se

reconectarem ao DNA, ocorre ativação de pontos de checagem no processo da divisão celular,

induzindo a morte das células malignas. Por se multiplicarem com rapidez, as células

neoplásicas se tornam um alvo mais sensível aos inibidores da topoisomerase13

. Nas células

cancerígenas, a β lapachona pode acionar os mecanismos de apoptose, autofagia e morte

celular por necrose14

. A forma exata pela qual desencadeia a morte celular permanece

desconhecida. No entanto, sabe-se que pode induzir seletivamente a morte de células

neoplásicas em humanos, sem interferir nas células normais15

.

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53

Neste estudo, buscou-se determinar os efeitos da β lapachona na progressão do

ciclo celular e processo da morte celular em linhagem de osteossarcoma canino, com vistas à

sua possível utilização terapêutica em pacientes caninos e humanos.

2. Material e métodos

2.1.Células e cultura

As células de OSC (D-17, BCRJ 0276, Lote 000573, Passagem 239) foram

adquiridas do Banco de Células do Rio de Janeiro (UFRJ – Rio de Janeiro, Brasil) originárias

da ATCC (American Type Culture Collection- Manassas, VA, USA). As células foram

mantidas em incubadora umidificada a 37ºC com uma atmosfera de 5% de CO2. Foram

cultivadas em meio Dulbecco modificado de Eagle (DMEM) acrescido de 10% de soro fetal

bovino, penicilina e estreptomicina (10.000 U.I./ml - 10 mg/ml), anfotericina B e L glutamina

(todos os reagentes da Cultilab, Campinas, Brasil), de acordo com adaptação de YU et al.16

A βLP foi adquirida da Santa Cruz Biotechnology (Dallas, Texas, EUA). Os

compostos de teste foram dissolvidos em DMSO (Dimetilsulfóxido, Cultilab) e as soluções de

estoque foram preparadas com 1 mM e armazenadas a -20ºC.

2.2.Ensaio de dupla marcação com anexina v-fitc e iodeto de propídio

O procedimento foi adaptado de Yuet al.16

e Park et al.14

. As células foram

cultivadas em placas de 12 poços, na concentração de 5x105células/poço, em incubadora

umidificada a 370C, com uma atmosfera de 5% de CO2. Os tratamentos com β lapachona

foram feitos com as dosagens de 1 μM, 0,3 μM, 0,1 μM e grupo controle negativo por 24 h

(G24), 48 h (G48) e 72 h (G72). Para o grupo controle positivo, foram utilizados 7 μl de

peróxido de hidrogênio (Proquímios, Rio de Janeiro, Brasil) a 1 %. Em seguida, o meio de

cada poço foi descartado e as células foram suspensas com 300 μl de tripsina (Cultilab,

Campinas, Brasil), após lavagem com PBS (Cultilab). A tripsina foi inativada com o

acréscimo de 700 μl de meio fresco. O material foi centrifugado a 130 rcf(g) por 10 minutos e

o meio foi novamente descartado. Adicionaram-se 400 μl de tampão de ligação, 5,0 μl de

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anexina V-FITC e 1,0 μl de iodeto de propídio (Annexin V Apoptosis Detection Kit I - BD

Biosciences, San Diego, USA). O material permaneceu incubado, em temperatura ambiente

por 15 minutos e foi analisado em citômetro de fluxo (FACSCalibur, BD Biosciences). As

células marcadas somente pela anexina V foram classificadas como em apoptose inicial. As

células marcadas pela anexina V e iodeto de propídio foram classificadas como em apoptose

tardia. As células marcadas somente pelo iodeto de propídio foram classificadas em necrose.

As células que não apresentaram nenhuma marcação foram consideradas como viáveis. Os

dados foram transferidos para o programa de gráficos estatísticos GraphPad Prism. A análise

dos dados, segundo a classificação do fator coluna, estimou os valores individuais das células

viáveis, apoptose inicial, apoptose tardia e necrose. A análise dos dados, segundo a

classificação do fator linha, comparou os valores encontrados em cada concentração.

Para o ensaio foram realizados três experimentos independentes em triplicata.

2.3.Ensaio potencial de membrana mitocondrial jc-1

O procedimento ocorreu adaptado de Yuet al.16

. As células foram cultivadas por

24 horas em placas de doze poços, com a concentração de 5x105 células/poço, em incubadora

umidificada a 37oC, com atmosfera de 5% de CO2. Os tratamentos com β lapachona foram

feitos com as dosagens de 1 μM, 0,3 μM, 0,1 μM e grupo controle negativo por 24 h. Ao final

do período de tratamento, o meio de cada poço foi descartado e as células foram suspensas

com 300 μl de tripsina (Cultilab). Após centrifugação a 130 rcf(g) por 10 minutos, o meio foi

novamente descartado e as células ressuspensas em 700 μl de meio fresco. As células foram

incubadas com o corante JC-1 por 15 minutos a 37ºC. Em seguida, foram centrifugadas,

ressuspensas em 1000 μl de solução tampão, centrifugadas, ressuspensas em 500 μl de

solução tampão, centrifugadas e ressuspensas em PBS. Ao final desse período, as células

foram lavadas com PBS eressuspensas em tampão de ensaio. Os resultados foram obtidos por

meio do citômetro de fluxo (FACSCalibur, BD Biosciences) e analisados pelo programa de

gráficos estatísticos GraphPad Prism. A análise dos dados, segundo a classificação do fator

coluna, estimou os valores individuais das células viáveis e apoptose. A análise dos dados,

segundo a classificação do fator linha, comparou os valores encontrados em cada

concentração.

Para o ensaio foram realizados três experimentos independentes em triplicata.

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55

2.4.Análise da cinética do ciclo celular

A avaliação foi feita utilizando placas de 12 poços com células na concentração de

5x105 células/poço, em incubadora umidificada, a 37ºC e atmosfera de 5% de CO2. Os

tratamentos com βLP foram feitos com as dosagens de 1 μM, 0,3 μM, 0,1 μM e grupo

controle negativo por 24 h, 48 h e 72 h. Para o grupo controle positivo, foram utilizados 7 μl

de peróxido de hidrogênio (Proquímios, Rio de Janeiro, Brasil) a 1 %. Em seguida, o meio de

cada poço foi descartado e as células foram suspensas com 300 μl de tripsina (Cultilab,

Campinas, Brasil), após lavagem com PBS (Cultilab). A tripsina foi inativada com o

acréscimo de 700 μl de meio fresco. O material foi centrifugado a 130 rcf(g) por 5 minutos, o

meio foi novamente descartado e as células incubadas por 24 horas a -20ºC em 1 ml de álcool

etílico a 70 % armazenado previamente à temperatura de 4ºC. Após esse período, o material

foi novamente centrifugado e o álcool descartado. O material foi incubado em uma solução

contendo ribonuclease A (Ribonuclease A from Bovine Pancreas, Sigma Aldrich, St Louis,

USA) 0,05 %, em banho maria a 37ºC por 30 minutos. Houve nova centrifugação, a

ribonuclease foi descartada, as células foram ressuspensas em 290 μl de PBS e foi acrescido

50 μg.ml-1

de iodeto de propídio. A porcentagem de células em G1, S, G2 e sub-G1 foi

analisada em citômetro de fluxo (FACSCalibur, BD Biosciences) e analisados pelo programa

de gráficos estatísticos GraphPad Prism. A análise dos dados, segundo a classificação do fator

coluna, estimou os valores individuais das células encontradas em cada fase do ciclo celular.

A análise dos dados, segundo a classificação do fator linha, comparou os valores encontrados

em cada concentração.

Para o ensaio foram realizados três experimentos independentes em triplicata.

3. Resultados e discussão

Para distinguir o mecanismo de morte celular promovido pela β lapachona nas

células de osteossarcoma canino, realizou-se o ensaio de dupla marcação com anexina V e

iodeto de propídio. As células em apoptose inicial foram marcadas somente pela anexina V.

As células em apoptose tardia foram marcadas pela anexina V e iodeto de propídio. As células

em necrose foram marcadas somente pelo iodeto de propídio. As células viáveis não

apresentaram nenhuma marcação (Figura 1).

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56

FIGURA 1 – Imagens representativas de amostras da análise do mecanismo de morte celular

promovido pela β lapachona nas células de osteossarcoma canino, por meio do

ensaio de dupla marcação com anexina V (eixo X) e iodeto de propídio (eixo Y).

A) 0,1 μM/24h. B) 0,3 μM/24h. C) 1,0 μM/24h. D) 0,1 μM/48h. E) 0,3 μM/48h.

F) 1,0 μM/48h. G) 0,1 μM/72h. H) 0,3 μM/72h. I) 1,0 μM/72h. Onde N = morte

celular por necrose, AT = apoptose tardia, CV = células viáveis e AI = apoptose

inicial. Citômetro de fluxo (FACSCalibur, BD Biosciences).

Houve prevalência da apoptose inicial em todas as concentrações do G48 e G72. A

apoptose tardia foi maior na concentração de 1,0 μM do G24. A concentração de 1,0μM

apresentou maior índice de apoptose nos três tempos de exposição. Os dados fornecidos pelo

citômetro de fluxo, sobre o mecanismo de morte celular, encontram-se na Tabela 1.

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TABELA 1 - Média dos dados fornecidos pelo citômetro de fluxo sobre o mecanismo de morte

celular promovido pela β lapachona em células de osteossarcoma canino. TT C CV AI AT N

24h CN 87,49 4,26 2,43 5,81

0,1μM 75,35 19,02 2,02 3,42

0,3 μM 79,79 9,99 4,40 5,82

1,0 μM

3,27 29,49 49,97 14,54

48h CN 83,66 6,36 3,73 6,58

0,1μM 27,30 5,22 3,39 2,87

0,3μM 56,56 25,26 9,29 8,88

1,0μM

6,58 80,06 12,58 0,77

72h CN 75,33 14,57 4,56 5,55

0,1μM 86,44 5,12 4,76 3,68

0,3μM 27,96 54,81 9,99 7,23

1,0μM

5,08 85,89 8,93 0,09

TT: tempo de tratamento; C: concentração; CV: células viáveis; AI: apoptose inicial; AT:

apoptose tardia; N: necrose; h: horas; CN: controle negativo.

Os valores encontrados foram avaliados pelo programa de gráficos estatísticos

GraphPad Prism, por meio do método ANOVA bidirecional.Não houve diferença estatística

significativa entre os valores das repetições e triplicatas em cada concentração (p=1,000). A

apoptose inicial foi o tipo de morte celular mais frequente em todos os grupos. No entanto,

houve diferença estatísticasignificativa entre os resultados encontrados nas concentrações

utilizadas em cada grupo de tratamento (p<0,0001). A apoptose inicial ocorreu de forma dose

dependente (Figura 2). Foi menor no grupo de 48 horas tratado com 0,1 μM de β lapachona

(5,22%) e maior no grupo de 72 horas tratado com 1,0 μM de β lapachona (85,89%).

Estes resultados indicam que a redução da viabilidade das células de

osteossarcoma canino, após tratamento com a β lapachona, está relacionada com a apoptose.

O mesmo mecanismo de morte celular pela β lapachona foi relatado por Pardee et al.17

em

células de glioma e de câncer de cólon humano. Kung et al.18

observaram que a apoptose foi

induzida em células de câncer de pulmão, por essa droga, pela diminuição da ativação dos

fatores de proliferação. No entanto, houve discordância com o estudo feito por Park et al.14,

onde ocorreu a indução de necrose programada, pela β lapachona, nas células de carcinoma

hepatocelular humano. Para Flick et al.19

, a morte celular por necrose pode ocorrer com a

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utilização do tratamento com a β lapachona, devido ao fato deste composto potencializar o

sistema imunológico, por meio de fatores associados com a inflamação.

FIGURA 2 - Gráfico com os valores encontrados para

viabilidade celular, apoptose inicial, apoptose

tardia e necrose, nas células de

osteossarcoma canino, após tratamento com a

β lapachona, nas diferentes concentrações e

tempos de exposição.

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59

Outros compostos utilizados para o tratamento do osteossarcoma, como a

loperamida20

, a survivina21

, a baicaleína22

e o mangostin23

, também induzem a apoptose. Já a

doxorrubicina induz autofagia em células de osteossarcoma24

.

O efeito da β lapachona sobre o potencial de membrana mitocondrial foi medido

durante 24 horas, por meio do corante lipofílico JC-1. O produto penetrou nas células,

acumulou-se no interior das organelas e emitiu fluorescência vermelha em mitocôndrias

funcionais, indicando viabilidade celular. As mitocôndrias com menor potencial de atividade

de membrana permaneceram na forma monomérica, indicando apoptose (Figura 3).

FIGURA 3- Análise do efeito de diferentes concentrações da β

lapachona em 24 horas sobre o potencial de membrana

mitocondrial nas células de osteossarcoma canino, por

meio da utilização do corante lipofílico JC-1. Nota-se

acentuado aumento da apoptose (A) e decréscimo de

viabilidade celular (VC) na concentração de 1,0 μM.

FL-1 = fluorescence channel 1; FL-2 = fluorescence

channel 2. Citômetro de fluxo (FACSCalibur, BD

Biosciences).

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A despolarização mitocondrial ocorreu de maneira dose dependente. A apoptose

foi menor na concentração de 0,1 μM (14,86%) e maior na concentração de 1,0 μM (88,13%).

Os dados indicaram que a apoptose desencadeada pela β lapachona pode estar relacionada

com a ruptura da integridade do potencial de membrana mitocondrial. Em conformidade com

esse resultado, Pardeeet al.17

relataram que a β lapachona causa liberação de citocromo c,

proteína associada à membrana interna da mitocôndria, que inibe o ciclo celular. Dessa forma,

a β lapachona desempenha uma ação antineoplásica seletiva nas mutações mitocondriais,

frequentes em células tumorais. Galluziet al.25

descrevem como apoptose intrínseca a morte

celular que inicia na membrana mitocondrial externa ou pode resultar da transição da

permeabilidade mitocondrial.

Os valores encontrados foram avaliados pelo programa de gráficos estatísticos

GraphPad Prism, por meio do método ANOVA bidirecional (Tabela 2).

TABELA 2 - Média dos dados fornecidos pelo citômetro de

fluxo sobre o potencial de membrana

mitocondrial, ao utilizar o corante lipofílico JC-

1. TT C VC A

24h CN 95,15 3,47

0,1μM 83,45 16,22

0,3μM 54,91 38,80

1,0μM 12,77 83,45

TT: tempo de tratamento; C: concentração; VC: células viáveis; A: apoptose; h: horas; CN: controle negativo.

Não houve diferença estatística significativa entre os valores das repetições e

triplicatas em cada concentração (p=0,9583). No entanto, houve diferença estatística

significativa entre os resultados encontrados (Figura 4) nas concentrações utilizadas

(p<0,0001). A despolarização mitocondrial foi menor no grupo tratado com 0,1 μM de β

lapachona (3,47%) e maior no grupo tratado com 1,0 μM de β lapachona (83,45%). A

indução da perda da integridade do potencial de membrana mitocondrial também ocorreu em

células de osteossarcoma canino tratadas por 3 horas, com 30 μg/ml de α mangostin,

substância extraída do mangostão, fruta tropical encontrada no sudeste da Ásia23

.

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FIGURA 4 - Gráfico sobre o potencial de membrana

mitocondrial ao utilizar o corante

lipofílico JC-1. Valores da viabilidade

celular e apoptose nas células de

osteossarcoma canino, após tratamento

com a β lapachona, nas diferentes

concentrações, em 24 h. Observa-se o

caráter inversamente proporcional.

As fases do ciclo celular foram caracterizadas por meio da porcentagem de células

de osteossarcoma canino, após o tratamento com a β lapachona, em sub-G1, G0/G1, S, e

G2/M (Tabela 3). Houve diferença estatística significativa (p<0,0001) entre os tempos de

exposição. No G24 houve semelhança entre o número de células na fase G0/G1 e S. Com esse

tempo de exposição, as células podem sintetizar as proteínas necessárias para que cada

cromossomo possa se replicar. Porém, esse acontecimento depende da origem e do tipo

celular17

.

TABELA 3 - Média dos dados fornecidos pelo citômetro de fluxo sobre a análise do bloqueio

do ciclo celular da linhagem D-17, após o tratamento com a β lapachona. TT C SUB-G1 G0/G1 S G2/M

24h 0,1μM 0,75 46,42 49,13 8,67

0,3 μM 7,35 43,46 52,11 4,43

1,0 μM

2,69 58,44 41,56 0,00

48h 0,1μM 0,00 72,74 27,20 0,05

0,3μM 0,81 65,74 33,80 0,45

1,0μM

4,67 71,08 18,10 12,96

72h 0,1μM 0,02 69,03 29,12 1,84

0,3μM 1,45 64,99 32,01 2,98

1,0μM

11,92 66,48 12,02 21,52

TT: tempo de tratamento; C: concentração; h: horas.

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62

A diferença entre as fases aumentou significativamente no G48 e G72,

predominando nas fases G0/G1 (Figura 5), que corresponde ao intervalo entre a mitose e a

duplicação do DNA. Conforme o ciclo progride para a transição G0/G1, ocorre o estímulo à

transcrição dos genes envolvidos na progressão do ciclo celular, que codificam as proteínas c-

Myc, p53, pRb, Ras, PKA, PKC, Bcl-2, NF-κB, CDK, ciclinas e CKI. O bloqueio no ponto

de checagem, na fase G1/S, gera mecanismos para impedir a formação de células anômalas,

efetuar o reparo ou induzir a apoptose26,27,28,29

.Além disso, a β lapachona possui como

propriedade a capacidade de inibir o complexo das topoisomerases, não deixando que elas se

reconectem ao DNA e desfazendo o complexo. Dessa forma, ocorre a ativação de pontos de

checagem no processo da divisão celular, induzindo a morte das células malignas13

.

Não houve diferença estatística entre as concentrações utilizadas durante o

tratamento deste experimento e o bloqueio do ciclo celular. Resultado distinto ocorreu nas

linhagens HBL-100, HeLa, SW1573 e WiDr de tumores sólidos humanos, em que as

alterações no ciclo celular foram dependentes da concentração da β lapachona15

. O presente

resultado difere também do reportado em células de osteossarcoma tratadas com baicaleína,

em que a distribuição das células na fase G0/G1 aumentou de forma dose dependente22

.

Neste estudo, foi possível perceber que, na dosagem de 1,0 μM em G48h e G72h,

houve células bloqueadas na fase G2/M, induzindo a catástrofe mitótica. Para Pardeeet al.17

,

aberrações cromossômicas podem ser criadas indiretamente pela longa exposição da β

lapachona a altas concentrações e estas células são bloqueadas na fase G2/M.Galluzzi et al.25

,

relatam que o bloqueio do ciclo celular quando há tentativa de divisão de células com DNA

danificado caracteriza a catástrofe mitótica.

Em síntese, a inibição do crescimento das células de osteossarcoma canino, após o

tratamento com a β lapachona, ocorreu pelo bloqueio do ciclo na fase G0/G1 e aumentou

significativamente com o tempo de exposição. O mesmo ocorreu com células de

osteossarcoma canino tratadas com o α-mangostin23

. O que difere dos agentes antineoplásicos

utilizados na rotina para o tratamentodo osteossarcoma, como a cisplatina, a carboplastina, a

doxorubicina e o metotrexato. Esses agentes inibem a síntese do DNA na fase S do ciclo

celular30

. Da mesma forma, as células humanas de câncer do cólon e hepatoma, tratadas pela

β lapachona, também são inibidas na fase S17

.

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FIGURA 5 - Representação gráfica do resultado da Cinética do

ciclo celular, para os grupos com 24h (A), 48h

(B) e 72h (C) de permanência das células de

osteossarcoma canino em tratamento com a β

lapachona. Nota-se que a inibição do crescimento

ocorreu pelo bloqueio do ciclo na fase G0/G1 e

aumentou com o tempo de exposição. Eixo X =

fases do ciclo celular; eixo Y = número de

células.

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Este estudo é o primeiro a avaliar os efeitos da β lapachona na progressão do

ciclo celular e processo da morte celular em linhagem de osteossarcoma canino. A apoptose

inicial foi o tipo de morte celular mais frequente em todos os grupos, relacionada com a

ruptura da integridade do potencial de membrana mitocondrial, indicando a ocorrência de

apoptose intrínseca. A inibição do crescimento das células ocorreu pelo bloqueio do ciclo na

fase G0/G1. Dessa forma, é possível que tenha ocorrido a formação de pontos de checagem

no processo da divisão celular, induzindo a morte das células de osteossarcoma canino em

baixa concentração. Os resultados desta pesquisa apontam para novas perspectivas, como a

observação deste tratamento em xenoenxertos de células tumorais de osteossarcoma em

camundongos por períodos mais longos.

4. Conclusão

A β lapachona induz apoptosenas células de osteossarcoma canino e promove o

bloqueio do ciclo celular na fase G0/G1.

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“Quem não tem formação em química ou medicina

talvez não perceba quão difícil é a questão do

tratamento de câncer. É quase – não tanto, mas quase

– tão difícil como descobrir um agente capaz de

dissolver a orelha esquerda, por exemplo, e deixar a

orelha direita intacta. Tão pequena é a diferença entre

a célula cancerosa e seu ancestral normal.”

William Woglom

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CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento de novos agentes antineoplásicos está relacionado com uma

sequência de atividades experimentais, que decorrem de tempo e relação custo e benefício. A

necessidade de medicamentos mais efetivos, com menor consequência adversa, tem feito com

que a quimioterapia baseada num planejamento racional de fármacos seja o modelo para

diversos estudos.

O emprego de novas técnicas em uma unidade pode gerar riscos e dificuldades,

necessitando muito estudo e dedicação para minimizá-los.Durante a manipulação das células

de cultivo, a contaminação externa pode ocorrer e, portanto, existe a necessidade da

manutenção de técnicas assépticas e o emprego de normas para procedimento na sala de

cultura, para reduzir a probabilidade de infecção, perda de reagentes e de material biológico.

Alguns fatores externos, como oscilação de temperatura e energia, também podem alterar o

bom andamento da rotina previamente planejada.

Neste contexto, foi investigado o efeito citotóxico da β lapachona em linhagem D-

17 de osteossarcoma canino, uma vez que essa substância tem mostrado potencial

significativo para a abordagem terapêutica de diversas neoplasias. Como não existem estudos

sobre a propriedade antiproliferativa daβ lapachona no osteossarcoma canino, tratou-se de um

projeto original. Nesse sentido, foi preciso realizar reajustes na dosagem pré-estabelecida para

os tratamentos dos grupos do delineamento experimental. Vale ressaltar que asconcentrações

de β lapachona utilizadas para todo o experimento foram baixas, o que torna a substância

econômica para pesquisas. Além disso, diminui a possibilidade de efeitos adversos ao

paciente, diante da utilização de baixas concentrações terapêuticas.

Diversas repetições de algumas das técnicas realizadasforam necessárias. Isso

deve-se ao fato de ser indispensável trabalhar com a utilização de adaptações de

procedimentos já constituídos, até ser possível instituiruma metodologia imprescindível.

Além disso, cada linhagem celular necessita do estabelecimento de procedimentos próprios,

como tempo e substâncias necessárias para a realização dos processos de congelamento,

descongelamento e cultivo.

Dessa forma, duas técnicas para análise da viabilidade celular foram usadas, para

que se pudesse calcular o valor do IC50 e a citotoxicidade. Ao perceber a capacidade

citotóxica da β lapachona no osteossarcoma canino, mesmo conhecendo o IC50, existiu a

curiosidade de estabelecer grupos com outras concentrações que pudessem expressar ação

citotóxica ainda maior. O que pode sugerir a possibilidade de projetos futuros.

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Num segundo passo, a nossa abordagem envolveu a avaliação da ação da β

lapachona no tipo de morte celular e no bloqueio do ciclo das células de osteossarcoma

canino. Frente aos resultados, percebeu-se que existe ainda um vasto campo de descobertas

para a utilização da β lapachona no osteossarcoma, como a avaliação dos genes envolvidos na

progressão do ciclo celular, bem como das proteínas relacionadas com a formação dos pontos

de checagem no processo da divisão celular.

Acredita-se que os dadosobtidos possam contribuir como uma alternativa, viável e

sustentável, para a utilização do composto β lapachona na quimioterapia do osteossarcoma,

vislumbrando uma possível aplicação no tratamento pré-operatório e/ou coadjuvante desta

neoplasia em cães e humanos. Além disso, espera-se que os impactos da pesquisa contribuam

para o despertar crescente da comunidade científica, especialmente no concernente à

exploração extrativista vegetal bem conduzida dos recursos naturais do Bioma Cerrado.