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7991 PROTEÇÃO AO TRABALHADOR ECONOMICAMENTE DEPENDENTE: PROPOSTAS PARA UM NOVO CONTRATO DE TRABALHO NUOVA REGOLAZIONE STATALE AI AUTONOMI DIPENDENTI Rodrigo Fortunato Goulart Marco Antônio César Villatore RESUMO O presente estudo objetiva propor um novo marco regulatório para o Direito do Trabalho. Ao longo das últimas décadas, diversas novas formas de labor surgiram no mundo contemporâneo, dentre elas, um tipo em que é ausente a clássica subordinação jurídica, enquadrando-se na chamada “zona cinzenta” entre as noções tradicionais de “empregado” e de “trabalhador autônomo”. Trata-se dos chamados “trabalhadores economicamente dependentes” ou “trabalhadores parassubordinados”. O ensaio procura mostrar que parte do atual modelo produtivo estabeleceu outras relações de trabalho à margem do conceito de subordinação jurídica, fato que ensejou a crise deste critério. O artigo percorre os conceitos que delimitam o economicamente dependente, tais como a continuidade, a onerosidade, a pessoalidade e a coordenação, demonstrando a necessidade de ampliar o campo de abrangência do Direito do Trabalho, de modo a incluir (e não excluir) demais formas de relações obrigacionais cujo objeto é o trabalho, mas ausente a subordinação. É destacada, também, a importância de uma nova finalidade do Direito do Trabalho. Se o sistema foi colocado, de início, como mero regulador entre o capital e o operariado, atualmente, após a Constituição Federal de 1988, este precisa se investir de promoção e valorização da pessoa trabalhadora, fato que requer uma reflexão profunda do atual modelo de tutela (baseado quase que exclusivamente na subordinação jurídica). Em termos conclusivos, defende-se que a manutenção da defesa do empregado e a invenção de novas tutelas para os trabalhadores diferenciados representam um caminho de saída da crise do Direito do Trabalho. Ao final, é proposta uma nova regulação estatal aos autônomos dependentes, para que estes trabalhadores possam ter direitos mínimos de proteção social garantidos, tal como ocorre no Direito Alienígena. PALAVRAS-CHAVES: AUTÔNOMO DEPENDENTE; PA RASSUBORDINAÇÃO ABSTRACT Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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PROTEÇÃO AO TRABALHADOR ECONOMICAMENTE DEPENDENTE: PROPOSTAS PARA UM NOVO CONTRATO DE TRABALHO

NUOVA REGOLAZIONE STATALE AI AUTONOMI DIPENDENTI

Rodrigo Fortunato Goulart Marco Antônio César Villatore

RESUMO

O presente estudo objetiva propor um novo marco regulatório para o Direito do Trabalho. Ao longo das últimas décadas, diversas novas formas de labor surgiram no mundo contemporâneo, dentre elas, um tipo em que é ausente a clássica subordinação jurídica, enquadrando-se na chamada “zona cinzenta” entre as noções tradicionais de “empregado” e de “trabalhador autônomo”. Trata-se dos chamados “trabalhadores economicamente dependentes” ou “trabalhadores parassubordinados”. O ensaio procura mostrar que parte do atual modelo produtivo estabeleceu outras relações de trabalho à margem do conceito de subordinação jurídica, fato que ensejou a crise deste critério. O artigo percorre os conceitos que delimitam o economicamente dependente, tais como a continuidade, a onerosidade, a pessoalidade e a coordenação, demonstrando a necessidade de ampliar o campo de abrangência do Direito do Trabalho, de modo a incluir (e não excluir) demais formas de relações obrigacionais cujo objeto é o trabalho, mas ausente a subordinação. É destacada, também, a importância de uma nova finalidade do Direito do Trabalho. Se o sistema foi colocado, de início, como mero regulador entre o capital e o operariado, atualmente, após a Constituição Federal de 1988, este precisa se investir de promoção e valorização da pessoa trabalhadora, fato que requer uma reflexão profunda do atual modelo de tutela (baseado quase que exclusivamente na subordinação jurídica). Em termos conclusivos, defende-se que a manutenção da defesa do empregado e a invenção de novas tutelas para os trabalhadores diferenciados representam um caminho de saída da crise do Direito do Trabalho. Ao final, é proposta uma nova regulação estatal aos autônomos dependentes, para que estes trabalhadores possam ter direitos mínimos de proteção social garantidos, tal como ocorre no Direito Alienígena.

PALAVRAS-CHAVES: AUTÔNOMO DEPENDENTE; PA RASSUBORDINAÇÃO

ABSTRACT

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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Il presente lavoro obiettiva proporre un nuovo marco regolatorio per il Diritto del Lavoro. Al lungo dell’ultime decade, diverse nuove forme di lavoro sorgirano nel mondo contemporaneo, fra logo, un tipo in che assente la clássica subordinazione giuridica, enquadrandosi nella chiamata “zona grigia” fra le nozioni tradicionali de “dipendenti” e di “lavoratori autonomo”. Tratasi dei chiamati “lavoratori economicamente dipendenti” o “lavoratori parasubordinati”. L’ensaio cerca di dimostrare che parte dell’atuale modelo prodottivo ha stabilito altri relazioni di lavoro al margine del concetto di subordinazione giuridica, fato che ha ensejato la crise di questo criterio. L’articolo percorre i concetti che delimitano l’economicamente dipendenti, tale come la continuità, l’onerosità, la pessoalità e la coordinazione, dimostrando la necessità d’ampliare il campo d’abrangenza del Diritto del Lavoro, di modo a inclurre (e non escludere) l’altre forme di relazioni obrigazionali cui’oggetto è il lavoro, ma assente la subordinazione. È ditacata, anche, l’importanza di una nuova finalità del Diritto del Lavoro. Se il sistema fue putato, d’inizio, come mero regolatorio fra il capitale e l’operariato, attualmente, dopo la Costituizione Federale di 1988, questo necessita se investire di promozione e valorizazione della persona lavoratora, fato che rechiere una reflessione profonda dell’attuale modelo di tutela (baseato quasi che esclusivamente nella subordinazione giuridica). En termi conclusivi, difendesi che la manutenzione di difesa del dipendente e l’invenzione di nuove tutele per i lavoratori diversi rapresentano un camino di uscita della crise del Diritto del Lavoro. Al finale, è proposta una nuova regolazione statale ai autonomi dipendenti, per che questi lavoratori possano havere diritti minimi de protezione sociale garantiti, tal come ocorre nel Diritto Alienigena.

KEYWORDS: AUTONOMO DIPENDENTE; PARASSUBORDINAZIONE

INTRODUÇÃO

A modificação do modelo econômico-produtivo trouxe reflexos consideráveis nas relações de trabalho. O Direito do Trabalho, concebido em uma fase industrial, está assistindo ao surgimento de novas formas de trabalho não vinculadas ao emprego clássico.

O atual modelo econômico-produtivo, mais flexível e voltado exclusivamente para a demanda (produção just in time), atingiu em cheio a forma como o padrão de acumulação fordista dispunha o salário e a jornada dos trabalhadores. Os contratos a prazo indeterminado estão se tornando exceção, a jornada tornou-se contínua em apenas alguns momentos do ano e o salário está pouco a pouco sendo atrelado a parcelas variáveis[1].

A respeito das novas modalidades de contrato de trabalho[2], surgiram as possibilidades de contrato por prazo determinado, tais como os contratos a tempo parcial, o job sharing[3], os contratos de qualificação profissional, o trabalho cooperado, o contrato de trabalho do consorciado e o teletrabalho[4].

No presente estudo, apresentaremos uma das novas formas de relação de trabalho – a parassubordinação – e as razões que justificam a formação de políticas públicas,

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especialmente a proposição de projeto-de-lei para a tutela dos trabalhadores que se enquadram nessa relação obrigacional. Diante de uma concepção padrão e universal de “emprego”, o Direito do Trabalho precisa dar um novo passo na direção da tutela efetiva das demais formas de trabalho, não vinculadas apenas ao molde celetista.

1. CAMPO DE ABRANGÊNCIA DO DIREITO DO TRABALHO

Antes de ingressarmos no tema propriamente dito – autônomos dependentes – é necessário relembrar o campo de atuação do Direito do Trabalho.

É dentro da relação de trabalho profissional que se encontra a grande maioria das relações de trabalho, tais como a relação de emprego, o trabalho avulso e o trabalho autônomo[5]. Na relação de trabalho não-profissional, enquadram-se o trabalho voluntário, o trabalho religioso e o trabalho familiar[6].

O ramo especializado do Direito do Trabalho trata especificamente da relação de trabalho profissional e, mais especificamente, da relação de emprego, porque o trabalho profissional é dividido em três grandes grupos: o trabalho autônomo, o trabalho subordinado e o trabalho parassubordinado.

Essa distinção é fundamental para compreender que o Direito do Trabalho clássico foi investido de poderes apenas para regular as relações de trabalho subordinadas, desde que inseridas num contexto de relações de emprego. Importante destacar que nem todo trabalho profissional é protegido pelo Direito do Trabalho, citando-se, como exemplo, os trabalhadores eventuais, cujas regras estão inseridas no corpo do Direito Civil.

Domenico Antônio Landulfo[7] ressalta que o segundo grupo (trabalho subordinado) se divide em trabalhadores subordinados típicos[8] (relação de emprego) e subordinados atípicos (trabalho eventual, eventual avulso e o trabalho temporário). Observa o autor que nem todos os trabalhadores subordinados são protegidos pelo Direito do Trabalho, servindo, como exemplo, os eventuais, tais como diaristas, “chapas” e bóias-frias.

2. RELAÇÃO DE TRABALHO E RELAÇÃO DE EMPREGO

A distinção citada pela doutrina entre as figuras jurídicas da “relação de trabalho” e da “relação de emprego” é que a segunda é uma espécie da primeira, ou seja, a relação de trabalho é o gênero, envolvendo toda a prestação de uma atividade laborativa, aquelas

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relações nas quais se revelam um conteúdo obrigacional, sempre que o trabalho seja o seu objeto, pouco importando qual a sua forma, se subordinado ou autônomo.

A relação de trabalho, nas circunstâncias, abrange as formas de labor humano, não apenas a clássica relação de emprego, mas o trabalho avulso, temporário, eventual, voluntário, familiar, autônomo, etc. Já a relação de emprego é uma espécie da relação de trabalho, e dada a sua complexidade peculiar e ampla utilização no mundo capitalista, tornou-se a principal modalidade da relação de trabalho, tanto que mereceu tratamento jurídico diferenciado do Estado, como ramo autônomo próprio, o Direito do Trabalho[9].

3. O DIREITO DO TRABALHO CLÁSSICO

Certamente, o núcleo essencial do Direito do Trabalho, desde a sua concepção como ramo autônomo do Direito Civil, girou em torno da relação de emprego. É através da relação de emprego que as normas protetivas do trabalhador se manifestam com grande intensidade, diante da assimétrica relação existente entre empregados e empregadores. O Direito do Trabalho clássico excluiu do seu campo de abrangência os trabalhadores autônomos, eventuais e servidores públicos não contratados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Segundo Orlando Gomes e Elson Gottschalk, o Direito do Trabalho atua em torno da relação de emprego, e é “o conjunto de princípios e regras jurídicas aplicáveis às relações individuais e coletivas que nascem entre empregadores privados – ou equiparados – e os que trabalham sob sua direção e de ambos com o Estado, por ocasião do trabalho ou eventualmente fora dele”[10].

Pode-se afirmar que, essencialmente, o Direito do Trabalho atua nas atividades laborais que “são acobertadas por normas jurídicas que contenham dispositivos protetivos em relação aos trabalhadores que trabalham sob contrato, sob subordinação e mediante remuneração”[11]. Assim, estariam fora do âmbito de aplicação da disciplina as “relações laborais que não sejam reguladas por dispositivos protetivos em relação aos trabalhadores, bem como aquelas que contenham características de autonomia, de não profissionalidade e de não contratualidade” [12].

Landulfo[13], analisando de maneira geral a doutrina, verifica que as seguintes relações laborais fazem parte do campo de abrangência do Direito do Trabalho: relação de emprego (Decreto-lei 5452/1943); Trabalho Temporário (Lei 6.019/1974) e Trabalho Eventual Avulso (art. 7º., XXXIV).

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4. O ENFRAQUECIMENTO DA SUBORDINAÇÃO

O requisito que justificou a autonomia desse ramo do Direito com relação ao Direito Civil, é que o Direito do Trabalho foi criado em torno da figura jurídica da dependência, ou mais propriamente, da subordinação, ou seja, o fato de o empregado estar sujeito às ordens de seu empregador, em uma típica situação de trabalho por conta alheia.

A subordinação se revelou, durante séculos, na extrema dependência das ordens do empregador pelo empregado, demonstrando uma notória e ampla desigualdade entre as partes contratantes. Por isso, afirma-se que, no Direito Laboral, o requisito subordinação é o centro de gravidade da disciplina. É através dele que se verifica, na maior parte das vezes, a caracterização da relação de emprego[14].

Por muito tempo, nada obstante, a subordinação foi exteriorizada através de comandos por aquele que representa o capital ao empregado em tarefas superfragmentadas, voltadas quase que exclusivamente a uma execução repetitiva (modelo fordista).

No entanto, nos dias atuais, verifica-se um verdadeiro enfraquecimento desse requisito, pois muitos empregados detêm mais conhecimento técnico do que o seu próprio empregador. A formação profissional especializada e a tecnologia estão diluindo a subordinação. Como exemplo, cite-se o teletrabalho, no qual a atividade é desenvolvida fora do âmbito de fiscalização do empregador, não se verificando a subordinação hierárquica[15].

Tal fato obrigou a doutrina a encontrar uma saída jurídica nos casos em que a subordinação é diluída ou enfraquecida, como no caso dos teletrabalhadores. Assim, evoluiu a tese de que a subordinação não seria apenas “estar sob as ordens” e sim “estar autorizado a fazer”, ou seja, uma mera sujeição do trabalhador ao tomador dos serviços, contudo, o tomador, ao limitar a autonomia de vontade do sujeito de acordo com o seu interesse, autoriza-o (e não o manda) realizar algo. Aqui, observa-se uma espécie de “quase-independência funcional” do empregado.

Por isso, a crise do critério subordinativo no Direito do Trabalho, que é a “pedra de toque” da disciplina, traz a idéia de que é absolutamente necessário “deslocar o critério chave da regulação do Direito do Trabalho para algum outro pressuposto que o aproxime mais do real mundo do trabalho”[16].

O modelo clássico de relação de emprego, baseado na subordinação, gradativamente está se tornando incapaz de regular este novo mundo. Entre as mudanças, Kaufmann[17] acrescenta que o Direito Laboral clássico está sofrendo um profundo impacto diante: do surgimento de novas formas de remuneração (PPR, PLR[18], etc.); do aparecimento da flexibilidade funcional deteriorando a importância das profissões (empregados polivalentes); do abandono das restrições à limitação da jornada de trabalho; da importância crescente em formas de trabalho atípicas de período parcial, temporário, autônomos, terceirização; da reorganização da administração

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empresarial (liofilização) diante da necessidade de criação de técnicas inovadoras para treinamentos de pessoal, reciclagem e readequação profissional.

Por isso, o atual modelo de proteção social contempla o Direito do Trabalho baseado – ainda e apenas – na clássica relação de emprego e nos sistemas de Seguridade (Saúde, Assistência e Previdência Social). No entanto, esse modelo fecha os olhos ao atual estágio de desenvolvimento do capitalismo, pois ainda acredita única e exclusivamente em uma produção fordista, linear, homogênea e que se desenvolve ininterruptamente (independente da demanda), mediante ordens diretas do empregador aos empregados. É cediço que muitas empresas ainda permanecessem sob essa condição, mas o Direito não pode excluir as demais (ou novas) relações obrigacionais cujo objeto seja o trabalho, da tutela estatal. É preciso ampliar o campo de atuação desse ramo especializado.

Tarso Genro argumenta que o Direito do Trabalho está vivendo sua “crise terminal”. Segundo o autor:

... essa situação é previsível, não só porque a revolução na produção, em andamento, precisa conviver por um longo período com algo do sistema jurídico originário da 2ª. Revolução Industrial, mas também porque a defesa ‘conservadora’ dos seus princípios, ajuda a tencionar para que comece a emergir, gradativamente, um novo sistema protetivo, cujo alcance e conteúdo ainda não estão definidos [19].

É fato que o critério “subordinação” está perdendo fôlego ante as mudanças econômico-produtivas e a crescente especialização dos serviços. Por isso, o emprego não pode ser apenas a única forma de se tutelar o trabalho humano, mas também outras formas devem ser incluídas, principalmente aos autônomos economicamente dependentes.

Diante das transformações do mundo do trabalho, há uma tendência forte na doutrina juslaboralista[20] em direcionar a proteção não apenas àquele trabalhador dos moldes do art. 3º. da CLT, mas considerar digno de tutela também a parte economicamente mais fraca na relação contratual em que envolva o objeto “trabalho”. A legislação de alguns países já caminha nesse sentido, como Portugal e Espanha, nações que, em relação aos trabalhadores economicamente dependentes, já possuem normas mínimas de proteção[21].

No entanto, não vislumbramos ser tarefa fácil a de distinguir o trabalhador economicamente dependente ou parassubordinado de um trabalhador autônomo ou empregado. É o tema que enfrentaremos a seguir.

5. DIFERENÇAS ENTRE EMPREGADO E AUTÔNOMO

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Como ressaltado, o Direito do Trabalho alcança aqueles trabalhadores tipificados nos artigos 2º. e 3º. da CLT, ou seja, considera-se como empregado (e, portanto, aquele que merece a ampla tutela do Estado), toda pessoa física que presta serviços pessoalmente, de forma não eventual (leia-se intuito de continuidade e permanência), com onerosidade e mediante subordinação jurídica em relação ao empregador.

O conceito em si revela que empregado, perante a Lei, é toda pessoa que trabalha mediante subordinação jurídica, ou seja, não possui liberdade, dentro do contrato de trabalho, de dirigir a prestação pessoal do serviço. Ao assumir essa posição, o trabalhador consente que deverá seguir as ordens e comandos técnicos do seu empregador e este, por sua vez, em troca, pagar-lhe-á uma remuneração.

Por outro lado, não há no Direito do Trabalho brasileiro uma definição jurídica a respeito do que seria o “trabalho autônomo”. A Lei Previdenciária inclui entre os segurados obrigatórios, na condição de contribuinte individual, “a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não”[22].

Enquadram-se na figura de “autônomo”, pela Lei Previdenciária, inúmeros trabalhadores, cujas atividades são descritas de forma detalhada, tais como: o condutor de veículo rodoviário (assim considerado aquele que exerce atividade profissional sem vínculo empregatício, quando proprietário, co-proprietário); o trabalhador associado à cooperativa que, nessa qualidade, presta serviços a terceiros; ou, ainda, aquele que, na condição de pequeno feirante, compra para revenda produtos hortifrutigranjeiros ou assemelhados[23].

Segundo a etimologia, o vocábulo “autonomia” tem sentido de: “direito de reger-se segundo leis próprias”[24] (autos = próprio e nomos= leis)[25], e, como sabido, no Direito nacional, a “pedra de toque” na distinção entre as figuras do “empregado” e do “autônomo” é a subordinação jurídica. Destaca Mauricio Godinho Delgado ser a subordinação “o elemento principal de diferenciação entre a relação de emprego e o segundo grupo mais relevante de fórmulas de contratação da prestação de trabalho no mundo contemporâneo (as diversas modalidades de trabalho autônomo)”[26], porque, no trabalho autônomo, via de regra, há a incidência dos demais elementos fático-jurídicos da relação de emprego, tais como onerosidade e pessoalidade, mas, jamais, a subordinação jurídica.

Para Manuel Alonso García, o trabalho por conta própria implica a livre disposição dos produtos ou resultados do esforço do trabalhador, exercendo o autônomo, por sua decisão pessoal, e auferindo os rendimentos decorrentes do resultado do seu trabalho[27]. Vale dizer, o autônomo assume o risco da atividade econômica, cabendo a ele admitir todos os ônus e bônus que o trabalho lhe proporciona. Incluem-se, nisso, o controle de todo o meio produtivo, do início ao fim, sendo os equipamentos de trabalho, por exemplo, de sua exclusiva propriedade. Já o empregado não possui tal condição, à medida que os equipamentos de trabalho não lhe pertencem[28]. Com esse entendimento, Mauricio Godinho Delgado destaca:

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Autonomia é conceito antiético ao de subordinação. Enquanto esta traduz a circunstância juridicamente assentada de que o trabalhador acolhe a direção empresarial no tocante ao modo de concretização cotidiana de seus serviços, a autonomia traduz a noção de que o próprio prestador é que estabelece e concretiza, cotidianamente, a forma de realização dos serviços que pactuou prestar. Na subordinação, a direção central do modo cotidiano de prestação de serviços transfere-se ao tomador; na autonomia, a direção central do modo cotidiano de prestação de serviços preserva-se com o prestador de trabalho[29].

Portanto, segundo José Martins Catharino, “o trabalhador autônomo é aquele que dirige seu próprio trabalho, e, se o executa utilizando trabalho alheio por si remunerado e dirigido, é também empregador”[30]. Acrescentando a opinião de Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena, autônomo é o trabalhador que desenvolve sua atividade com organização própria, iniciativa e discricionariedade, podendo escolher o lugar, o modo, o tempo e a forma de execução, tendo ele liberdade para dispor de sua atividade para mais uma pessoa[31], segundo o princípio da oportunidade[32].

Apesar das figuras de autonomia e parassubordinação serem próximas, jamais se confundem. Enquanto o trabalho autônomo é caracterizado pela assunção de uma obrigação que se encerra quando atingida determinada satisfação, ou seja, tem uma data certa para encerrar-se, a parassubordinação exige resultados “consecutivos, coordenados entre si e relacionados a interesses mais amplos do contratante”[33]. Passemos agora à análise do instituto da parassubordinação propriamente dito.

6. O TRABALHO ECONOMICAMENTE DEPENDENTE OU PARASSUBORDINADO

Com a diversificação das atividades obrigacionais surgiram novas formas de prestação de trabalho, em moldes absolutamente diversos dos quais a CLT havia previsto. Partindo do pressuposto de uma forte ambigüidade entre patrão/empregado, a linha de “demarcação” entre os donos dos meios de produção (proprietários) e os assalariados (operários) era bastante distinta.

No entanto, a complexa sociedade capitalista atual acabou por criar formas contratuais de trabalho (com vínculo obrigacional e pessoal) diversas daquelas que inicialmente foram concebidas, e um desses novos modelos contratuais é a prestação de serviços de natureza continuativa e pessoal, na qual o trabalhador não assume os riscos do empreendimento, mas mantém sua autonomia: o trabalho coordenado, economicamente dependente ou parassubordinado. Nas palavras de Arion Sayão Romita:

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Com a crise da subordinação, emergem novas formas nas quais o trabalho associado reduz o protecionismo dispensado ao trabalhador, superando a dicotomia tradicional (trabalho subordinado/trabalho autônomo), em favor de um tertium genus, qual seja, o trabalho coordenado, sob a influência de uma realidade social cada vez mais complexa e problemática, como resposta a situações contratuais ambíguas, nas quais o traço decisivo se afigura como necessidade de propiciar uma ocupação ou oportunidade de obtenção de renda ou fonte de sustento. (...) As formas de trabalho integradas na empresa tendem a perder espaço e passam a ocupar cada vez mais o espaço situado na zona cinzenta entre a subordinação e a autonomia (trabalho coordenado)[34].

Essa nova forma de relação obrigacional, cujo objeto é o trabalho, situa-se na chamada zona “cinzenta” entre os conceitos de “empregado” e “autônomo”[35]. O surgimento da noção de parassubordinação tem origem no Direito Italiano, como instituto jurídico laboral criado pela Lei 533/1973. Sua categorização também é disciplinada no art. 409, n. 3, do Código de Processo Civil daquele país[36].

A rigor, conforme fundamenta a doutrina, a parassubordinação é uma relação de trabalho de natureza contínua, estipulada em contrato, na qual o contratado (trabalhador) exerce sua atividade inserido nas necessidades organizacionais do contratante (tomador de serviço). Otavio Pinto e Silva[37] enfatiza que a inserção dessas atividades deve ocorrer visando à colaboração mútua para os fins do empreendimento. Referido trabalhador, por estar nessa posição, padece de “debilidade econômico-social”[38].

Para Giuseppe Pera[39], o trabalho parassubordinado “é a relação jurídica que, a prescindir da sua formal e incontestável autonomia, define-se, a par da continuidade, pelo caráter estritamente pessoal da prestação, integrada na empresa e por ela coordenada”.

Assenta Arion Sayão Romita, citando Santoro Passarelli[40], a existência de uma figura intermediária entre o emprego e o trabalho livre, chamada de parassubordinação, que se caracteriza pela continuidade, coordenação do trabalho e a predominância da prestação pessoal dos serviços[41].

O trabalhador não é subordinado, mas presta uma colaboração contínua e coordenada ao tomador, e, por sua debilidade econômico-social, contrata seus serviços com a empresa-cliente em condições de inferioridade, sem efetiva possibilidade de negociação do contrato ou suas cláusulas.

7. ELEMENTOS DO TRABALHO ECONOMICAMENTE DEPENDENTE OU PARASSUBORDINADO

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Para a compreensão de como o trabalho parassubordinado se desenvolve, e como o Direito do Trabalho precisa abranger essa modalidade de relação, é necessário, inicialmente, estudar os elementos que compõem o conceito de trabalho parassubordinado: continuidade, pessoalidade, colaboração e coordenação [42]. Vejamos cada um deles.

O primeiro elemento, a continuidade, segundo Otavio Pinto e Silva[43], “deve se destinar a atender uma necessidade do tomador que tenha um determinado prolongamento no tempo, tendo em vista os interesses de ambas as partes”. Vale dizer que o contrato de obra de execução instantânea, ainda que prolongada no tempo, não se enquadra no conceito de “trabalho economicamente dependente” ou parassubordinação.

É certo que a duração da prestação deve estar voltada a um programa comum, em que “a organização da produção é conseqüência da reunião dos interesses do trabalhador e do tomador de serviços”[44]. Com isso, exclui-se as prestações com prazo final para entrega/execução. A noção de continuidade está atrelada ao aspecto de permanência, durabilidade, ou melhor, à idéia de “persistir no tempo”.

Elemento comum do trabalhador com vínculo empregatício, a pessoalidade se revela no trabalho parassubordinado também como elemento essencial para a sua caracterização. Nela, o prestador de serviço não pode subcontratar sua atividade a terceiros, mas, apenas se utilizar do auxílio de outras pessoas, para que a tarefa principal seja desempenhada exclusivamente pelo profissional contratado. Todas as atividades devem girar em torno prestador de serviços.

O elemento “coordenação” adquire grande peso na distinção entre a figura jurídica do empregado e o parassubordinado. Mattia Persiani[45] cita-no como o principal elemento caracterizador.

Na coordenação, o trabalho consensualmente definido não é toda e qualquer tarefa, muito menos aquela realizada por meio de uma obra certa e definida, mas significa um sentido de “ordenar juntos”[46]. Vale afirmar, enquanto no contrato de emprego o trabalhador se sujeita às ordens e comandos técnicos do seu empregador, e, no trabalho autônomo, o mais importante é a entrega do resultado, ou seja, o prestador de serviços decide a forma e a maneira de executar o trabalho, no trabalho parassubordinado, a decisão do modus faciendi da prestação de serviços é compartilhada entre tomador e prestador de acordo com os acontecimentos ou resultados[47].

A coordenação não está nas mãos de apenas uma das partes, mas de ambas, pois as várias exigências de uma obra ou serviço podem ser revistas consensualmente de acordo com as necessidades do negócio. Por isso não é possível afirmar que o prestador é livre para determinar os destinos da sua atividade, uma vez que o tomador, normalmente, fixa o local e algumas exigências mínimas para contratar.

Otavio Pinto e Silva[48] cita, ainda, a colaboração como elemento indissociável à noção de trabalho parassubordinado. Segundo o autor, essa idéia “pressupõe uma ligação funcional entre a atividade do prestador dos serviços e aquela do destinatário da prestação profissional”.

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A colaboração nada mais revela o caráter sinalagmático do contrato de prestação de serviços. Acrescente-se, apenas, que a atividade do parassubordinado é essencial para os fins econômicos do empreendimento do tomador, ou seja, “os resultados produtivos da atividade do colaborador devem se unir aos da atividade do próprio tomador dos serviços, observando para tanto os critérios qualitativos, quantitativos e funcionais”[49].

Como exemplo, Passarelli[50] enumera os seguintes trabalhadores parassubordinados: a) prestadores de trabalho associativo (sociedade em conta de participação; membros de cooperativa de trabalho, sócio de indústria, membros de empresa familiar); b) representantes comerciais; propagandistas; agentes teatrais, cinematográficos e esportivos, corretores de imóveis e de todas as espécies de negócios; concessionários de vendas, demonstradores; c) pequenos empresários que dependam economicamente da indústria a que prestam colaboração contínua; d) profissionais liberais (como o advogado que trata de modo contínuo dos interesses de uma pessoa física, o médico da família, etc.). Como exemplos mais evidentes, citamos, no Direito Nacional, os corretores de seguros e o representante comercial.

Assim, o autônomo economicamente dependente atua na prestação de serviços de natureza continuada e coordenada, de caráter exclusivamente pessoal, para o atendimento de necessidades ligadas à atividade-fim do tomador. Neste contrato, a subordinação é substituída pela coordenação, fato que preserva a liberdade e autonomia da atividade desse trabalhador.

8. A DEPENDÊNCIA ECONÔMICA NO DIREITO ESTRANGEIRO

Analisaremos, em breve síntese, as noções de aplicação do instituto da parassubordinação, no Direito estrangeiro, sobretudo, nos Direitos alemão, francês, italiano, espanhol e português. A análise da legislação terá por base o artigo de Pinho Pedreira[51].

Segundo o autor, após a tipificação legal da parassubordinação no Direito italiano, vários autores europeus passaram a debater esse tema em seus países, in verbis:

Na Alemanha foi progressivamente individuada, sobretudo após a reforma de 1974 em matéria de contratação coletiva, uma subcategoria de colaboradores parassubordinados, na qual vêm compreendidos, além do trabalhador em domicílio e do agente de comércio monomandatário com rendimento anual inferior a um piso predeterminado, também outros colaboradores autônomos que desenvolvam uma prestação de caráter pessoal e quantitativamente prevalente em relação à capacidade de trabalho complessiva do indivíduo[52].

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Segundo Pinho Pedreira, na França, a parassubodinação é admitida por Gérard Lyon-Caen. Referindo-se aos “estatutos marginais” de certas profissões, como trabalhadores em domicílio, representantes comerciais, gerentes de sucursais etc., assim se manifesta o autor francês:

Mas se não há subordinação jurídica, também não há empresa autônoma. A atividade é economicamente vinculada a uma outra atividade dominante e como absorvida pela de uma outra empresa mais poderosa. Esta circunstância, inoperante a título de regra geral para constituir o trabalho assalariado, é aqui tomada em conta a título excepcional. Donde a idéia de parassubordinação, ou melhor: de estatuto intermediário misto[53].

Na península Ibérica, recentemente, a parassubordinação foi incorporada ao ordenamento jurídico. Na Espanha, em julho/2007, foi aprovado o Estatuto do Trabalhador Autônomo que estabelece garantias sociais mínimas aos economicamente dependentes. Em Portugal, o artigo 13 do Código do Trabalho (Lei nº. 99/2003) garante os princípios definidos da Lei, nomeadamente quanto a direitos de personalidade, igualdade e não discriminação e segurança, higiene e saúde no trabalho, sem prejuízo de regulamentação em legislação especial, “os contratos que tenham por objeto a prestação de trabalho, sem subordinação jurídica, sempre que o trabalhador deva considerar-se na dependência econômica do beneficiário da atividade”.

Inclusive, a Lei nº. 99/2003 estendeu direitos trabalhistas indisponíveis, estabelecendo a aplicação dos artigos 281 a 312 do Código do Trabalho (acidentes do trabalho e doenças profissionais) aos trabalhadores que, mesmo sem serem subordinados, juridicamente, são considerados dependentes economicamente do tomador dos serviços.

Portanto, a saída pela via legislativa pode colocar as relações de trabalho no Brasil em melhor equilíbrio. A exemplo das relações de trabalho atípicas que já existiam (trabalho temporário, a tempo parcial, a prazo determinado, etc.), é preciso regulamentar a nova modalidades de trabalho parassubordinado[54].

9. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA LIDES DECORRENTES DA RELAÇÃO PARASSUBORDINADA

Durante muito tempo se discutiu, na Justiça Trabalhista, se determinados procedimentos poderiam ser apreciados por aquela especializada. Passaram-se os anos e a Emenda Constitucional nº. 45/2004 (reforma do Judiciário) sepultou as discussões sobre a competência da Justiça obreira para apreciar lides de correntes da relações de trabalho (e não apenas emprego).

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Conforme assevera Francisco Meton Marques de Lima[55], “do ponto de vista hermenêutico, nenhuma dificuldade, pois a hermenêutica consiste em superar as contradições (...)”. Para o autor, “se as modalidades contratuais do trabalho se diversificaram, a Justiça do Trabalho se atualiza e amplia seu objeto, lógico que o manto protetor do trabalho continua cada vez mais necessário (...)”.

Portanto, atualmente, com a emenda, a Justiça do Trabalho está preparada para receber e apreciar questões que envolvam não apenas as relações entre empregado e empregador, mas as relações autônomas e parassubordinadas.

10. A TUTELA ESTATAL PARA AS RELAÇÕES DE TRABALHO NÃO SUBORDINADAS

As conquistas sociais dos trabalhadores com vínculo empregatício, ao longo dos últimos duzentos anos, tais como limitação da jornada de trabalho, horas extras e férias anuais, criaram uma classe de indivíduos com ampla proteção legal, enquanto os demais (autônomos e parassubordinados) é renegada pelo Estado quaisquer garantias. A respeito do tema, Anna Maria Grieco discorre:

Já não há dúvida que o direito do trabalho surgido e historicamente afirmado como droit ouvriet ou, de qualquer modo, direito das classes economicamente mais fracas, tenha perdido, no curso de sua evolução, parte da ligação com sua própria função originária: os seus contornos que deveriam delimitar, no plano finalístico, um sistema de proteção a favor somente das classes subalternas, vieram, aos poucos, se alterando, até incluir sujeitos pertencentes a categorias sociais já privilegiadas e excluindo, ao mesmo tempo, sujeitos que merecem ampla proteção[56].

Para ocorrer uma regulamentação do trabalho parassubordinado, afirma Alice Monteiro de Barros[57], sem dúvida, será necessário um “redimensionamento do Direito do Trabalho. Primeiro, porque se esses trabalhadores estão fugindo da esfera tutelar do Direito do Trabalho, o correto será estender-lhes o seu âmbito de aplicação”. Comenta a autora ser “necessário definir, para as situações de trabalho humano parassubordinado, a extensão da disciplina, analisando quais os institutos seriam devidos ao trabalhador”.

A existência de um ordenamento jurídico é fundamental para regular esse novo contrato, pois o Direito tem a missão de criar o equilíbrio entre uma relação que se processa sob forte disparidade e dependência econômica. Tal situação é sensível porque estamos a tratar da possibilidade de sobrevivência e inserção social do autônomo parassubordinado.

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Para que isso possa ser viável, uma questão precisa ser enfrentada: é possível a aplicação (ou não) dos princípios de Direito do Trabalho na relação parassubordinada? A nosso ver, é necessário ter um pouco de cautela quando se afirma que todos os princípios do Direito do Trabalho podem ser aproveitados na relação de trabalho não subordinada, porque o trabalhador parassubordinado não possui o mesmo nível de dependência econômico-social em relação ao seu tomador de serviços do que o empregado em relação ao seu empregador.

Como estamos a falar de parassubordinação, ou seja, o “quase-empregado”, não há como tratar igualmente pessoas com graus de dependência distantes. Enquanto o parassubordinado não possui uma extensa fiscalização e controle da sua atividade, vale dizer, exerce com certa autonomia seu trabalho, mas com continuidade e coordenação, o empregado “clássico” se sujeita a ordens e ao comandos alheios nas suas atividades.

Em posição contrária, Panazzolo sustenta estar em jogo o trabalho na sua expressão maior. Segundo ele:

Parece-nos de suma importância que as alterações que venham a ser produzidas na legislação trabalhista elejam como paradigma o trabalho, tendo-o como valor fundamental da pessoa humana, sem perder de vista sua condição de pilar do sistema, de tal modo que seu agente, o trabalhador, possa ser inserido na sociedade que vivemos, no sentido pleno e moderno da palavra, constituindo-se em sujeito apto a proporcionar a si e seus familiares os meios suficientes para uma vida digna e realizadora[58].

Também nessa tangente, Francisco Meton Marques de Lima[59] afirma que os princípios justrabalhistas devem se aplicar às relações de trabalho lato sensu, porque a Constituição Federal/88 utiliza a palavra trabalhador e não empregado. O bem protegido, segundo ele, seria o trabalho na sua expressão maior, sob todas as formas de relação contratual. Tanto é assim – argumenta –, que a organização sindical pode ser de empregados (e desempregados, aposentados) e de autônomos.

11. A DEPENDÊNCIA ECONÔMICA PODE APRESENTAR-SE COMO NOVO CRITÉRIO-CHAVE DO DIREITO DO TRABALHO?

Thereza C. Nahas[60] relata que a jurisprudência e a doutrina mais atuais, na União Européia[61], tendem a caracterizar o contrato de trabalho subordinado não pela subordinação, mas pelo critério da dependência econômica. Afirma a autora que esse fundamento se encontra nas raízes do próprio Direito do Trabalho, e serve para diferenciar e dar o correto enquadramento jurídico ao trabalhador semidependente[62],

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nomeado pelos alemães de “quase assalariados” e pelos italianos de “para subordinados”[63], como já relatado.

Por isso, prega-se a expansão do Direito do Trabalho para além do clássico vínculo de emprego. Segundo Kaufmann, deve o Direito do Trabalho se preocupar, isso sim, antes de mais nada, com as relações de trabalho. Segundo o autor, “e, para tanto, é preciso que abandone a filosofia que vangloriava a subordinação jurídica como ponto central na identificação das relações de trabalho para passar a se preocupar com o critério que, atualmente, identifica uma relação de trabalho”[64]. Segundo o autor:

O cerne de toda a questão está na passagem do Direito do Trabalho a partir de uma filosofia centrada na subordinação jurídica a uma filosofia em prol da dependência econômica, que seria, mesmo, uma faceta da característica da subordinação nas relações de emprego, a subordinação econômica, elevada a vários graus a ponto de fazer sucumbir o conceito-gênero da “subordinação”[65].

Por isso, é necessário que o Direito do Trabalho possa atuar em novos campos, não apenas no trabalho subordinado, mas defender aqueles que não são, perante a CLT, definidos como empregados subordinados, mas também os dependentes economicamente, ou “parassubordinados”, pois, diante da amarração econômica que estes possuem em relação ao tomador dos serviços, “merecem a proteção e tutela jurídica laboral, universo esse muito mais abrangente e, até aqui, ignorado pela maior parte dos operadores do Direito do Trabalho em todos os seus níveis”[66].

Giuseppe Ferraro[67], citado por Otavio Pinto e Silva, afirma que o elemento de conexão entre as várias relações de trabalho parassubordinado pode ser genericamente descrito como “um vínculo de dependência substancial e de disparidade contratual que se estabelece entre o prestador dos serviços e o sujeito que ususfrui dessa prestação”. Segundo o autor, esse vínculo de dependência é semelhante ao que une empregado e empregador, “a ponto de justificar a existência de garantias compensatórias equivalentes”. Tal dependência, aqui, deve ser entendida como econômica.

Para Pinho Pedreira[68], a parassubordinação seria admissível no Direito brasileiro, a princípio, porque tem como essência a debilidade contratual do trabalhador derivada da sua inferioridade econômica. A sua inserção no ordenamento jurídico, juntamente com o critério da subordinação, representaria a admissão do critério da dependência social[69], e que se traduz num critério segundo o qual a aplicação do Direito do Trabalho, mas que tanto poderia resultar da subordinação como da dependência econômica. Acrescenta, ainda, não excluir a parassubordinação o critério da subordinação como determinante da aplicação do Direito do Trabalho, mas a ele se acopla. Conclui o autor que, se pudessem subordinação e dependência econômica, alternativamente, fundamentar a aplicação daquela disciplina, a parassubordinação se confundiria com a dependência econômica, sendo recepcionada pelo Direito brasileiro, pois o art. 3º. da CLT adota como critério de caracterização do empregado, e, do contrato de trabalho, a dependência, que pode ser jurídica ou econômica, embora a jurisprudência brasileira tenha se fixado unicamente no primeiro significado[70].

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É certo que a legislação procura dar uma tutela especial ao empregado celetista, pois o considera a parte mais frágil da relação capital-trabalho, contudo, nem sempre o trabalhador opta por ser empregado. Muitas vezes, prefere ser prestador de serviços, ganhar mais e ter muitos clientes, a trabalhar na dependência alheia. Por isso, o contrato de trabalho do trabalhador parassubordinado vem de encontro com os anseios da nossa sociedade hodierna.

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS: PROPOSTA LEGISLATIVA PARA OS AUTÔNOMOS DEPENDENTES

Diante da fragmentação do processo produtivo e da flexibilidade na utilização de mão-de-obra, muitas empresas, hoje, diferentemente da Revolução Industrial, são fortemente caracterizadas por um primeiro núcleo de empregados contratados diretamente e, num segundo núcleo, de colaboradores e terceirizados que a orbitam com contratos de trabalhos precários, atípicos ou, mesmo, simples contrato de prestação de serviços, regulados pelo Direito Civil.

Nesse novo mecanismo de relação laboral, a sociedade, através das mudanças econômicas e produtivas, evoluiu para novas formas de relações, nas quais a heterogeneidade é a sua marca registrada. A homogeneidade da relação de emprego da era Fordista, baseada no binômio patrão/empregado, cedeu espaço para novos contratos.

Por isso, grande parte dos institutos de Direito do Trabalho clássicos não se amoldam às estruturas complexas da nossa sociedade atual. As transformações têm colocado em dúvida os tradicionais conceitos de subordinação e autonomia. Essa dicotomia não pode mais ser delineada em contornos precisos e traços bem definidos. No estágio atual do desenvolvimento da sociedade, surgiram relações obrigacionais, nas quais uniram as características de um e de outro, na chamada parassubordinação.

Diante do quadro da crescente fragmentação do emprego e do aumento vertiginoso dos contratos atípicos, o Direito do Trabalho precisa disciplinar a nova realidade que está a sua frente, ou seja, muitas outras formas de trabalho com necessidade de proteção, tanto quanto a clássica relação de emprego, esta cada vez menos dominante. Por isso, é necessária uma proposta legislativa para ampliar o campo de abrangência desse ramo do Direito, de modo a incluir (e não excluir) demais formas de relações obrigacionais, como o trabalhador parassubordinado.

Os prejuízos gerados por trabalhadores parassubordinados, mas que não estão enquadrados no padrão celetista, são enormes. Quando o recolhimento é efetuado, dá-se por um percentual de autônomo ou empresário, estimulando fraudes contratuais[71]. Diante do exposto, para evitar esse tipo de situações, propomos a adoção, pelo ordenamento jurídico, de normas que visem à tutela do trabalhador autônomo economicamente dependente.

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Em um primeiro conjunto, estariam regras que tutelam todos os trabalhadores, inspiradas na Declaração sobre os Direitos Fundamentais do Trabalho da OIT, nas quais indicamos as seguintes: a) dignidade, liberdade e igualdade; b) não-discriminação; c) saúde, higiene e segurança no local de trabalho; d) liberdade e atividade sindical; e) greve; f) proibição do trabalho infantil.

Além desses direitos, aos autônomos economicamente dependentes propõe-se: a) direito à suspensão da prestação de serviços (suspensão contratual) com a forma adequada de manutenção da sobrevivência nos casos de acidente, doença, gravidez, maternidade e paternidade; b) combinação do tempo de vida com o tempo de trabalho para proporcionar convívio familiar, social e lazer; c) retribuição pelo trabalho de forma justa, de acordo com a complexidade do serviço; d) estímulo à continuidade dos contratos; e) aviso prévio aos contratos por prazo indeterminado.

Esse novo contrato de trabalho pode dar uma nova faceta ao conceito de “tempo à disposição”. Se o trabalhador pactuar 04 (quatro) horas semanais de trabalho à disposição da empresa, e, esta, por sua vez, dele exigir 06 horas (seis), terá que remunerar como extra esse excedente.

Por sua vez, as empresas ficarão obrigadas a registrar, em carteira de trabalho, que a modalidade de contratação é parassubordinada, a quantidade de horas pactuadas e o valor da hora de trabalho. A modalidade de contratação deverá, via de regra, ser por tempo indeterminado, entretanto, apesar das vantagens, não podemos acreditar que o novo modelo seja perfeito. É certo que poderão ocorrer fraudes, significando que tais situações podem ocorrer, mas em uma pequena minoria de contratos[72]. Como exemplo, é cediço que o contrato de emprego atual é muitas vezes fraudado por empregadores, que, de uma forma ou de outra, acabam tendo que pagar eventuais diferenças suprimidas, na Justiça do Trabalho.

A intensidade da tutela ao autônomo economicamente dependente será mais branda, em virtude da dependência parcial com relação ao tomador do serviço. Não vislumbramos nenhum prejuízo à existência de normas mais protetivas ao trabalho subordinado e menos protetivas ao trabalho autônomo dependente. É preciso refletir que, se o Direito do Trabalho continuar a querer regular apenas as relações de emprego baseadas no critério subordinação, é cediço que o campo de atuação desse ramo específico será reduzido, pois, a cada dia, surgem novas relações de trabalho, com uma morfologia completamente diversa daquela realidade vivida na Revolução Industrial. Assim, pactuamos a mesma resposta de Merçon[73], para a adoção desse novo contrato de trabalho: “vislumbramos um Direito do Trabalho dos novos tempos: um direito do trabalho essencialmente – emprego – mas não exclusivamente – emprego”.

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[1] A acumulação flexível, segundo Harvey, pode se enquadrar como uma recombinação simples das duas estratégias de procura de lucro (mais-valia) definidas por Marx: a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa. A mais-valia absoluta apóia-se na extensão da jornada de trabalho com relação ao salário e está associada à redução geral do padrão de vida, pois a erosão do salário real ou a transferência do capital corporativo para regiões de baixos salários, representam uma faceta da acumulação flexível do capital. Na mais-valia relativa, a mudança tecnológica e organizacional é posta em ação para gerar lucros temporários para firmas inovadoras e lucros mais generalizados com redução dos custos dos bens que definem o padrão de vida do trabalho. Essa estratégia enfatiza a importância das forças de trabalho altamente preparadas, capazes de administrar padrões novos, muito mais flexíveis, ao contrário do sistema fordista, que não exigia mão-de-obra qualificada. In: HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 9. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000. p. 174-175.

[2] Sobre as “modernas” formas de trabalho, vide SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter. Trad. Marcos Santarrita. 2ª. Tiragem. Rio de Janeiro: Record, 1999. p. 75 e ss.

[3] Termo em inglês que significa a divisão de um mesmo posto de trabalho. Nesse sistema, não apenas o emprego é dividido por um ou mais trabalhadores, mas também a remuneração, as tarefas, as responsabilidades e, ainda, os benefícios sociais (que são calculados proporcionalmente). Sua origem remonta as companhias aéreas norte-

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americanas United Airlines e Pan Am. Em 1980, para evitar demissões, as duas empresas iniciaram um programa de partilha de emprego, tendo anunciado, no final do primeiro ano, a salvaguarda de 365 e 58 postos de trabalho, respectivamente. O êxito aparente viria a ser abalado em 1982, quando a United encerrou o projeto por considerá-lo demasiado oneroso, e a Pan Am decidiu suspender essa modalidade de contratação. Cfr B. Olmed, apud REDINHA, Maria Regina Gomes. Relação Laboral Fragmentada. Coimbra: Coimbra Editora, 1995. p. 67.

[4] NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 17ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. pp. 408-409.

[5] LANDULDO, Domenico Antonio. Dimensões do Direito do Trabalho. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo (USP), 2003. p. 15.

[6] Id.

[7] Id., p. 16.

[8] O emprego típico pode ser definido como aquele em que o trabalho é desenvolvido por conta alheia, para um único empregador, com vínculo jurídico estável, possibilidades de carreira profissional (ou não), correspondente a um único posto de trabalho e que o pagamento por esta função é aquela que, via de regra, assegura a sobrevivência do empregado e de sua família.

[9] Desde quando o Direito do Trabalho passou a ser um ramo autônomo do Direito Civil, a doutrina já alertava para a impropriedade do nome da nova disciplina jurídica, que deveria se chamar, “Direito do Empregado” ou “Direito do Operário”.

[10] GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990. p.10.

[11] LANDULDO, Domenico Antonio. Ob. Cit. p. 22.

[12] Id.

[13] Id., p. 26.

[14] Não custa relembrar que nem todos os trabalhadores subordinados são protegidos pelo Direito do Trabalho, porque não possuem o requisito legal da não-eventualidade, tais como, diaristas, “chapas” e bóias-frias.

[15] Segundo Kaufmann, “o problema do Direito do Trabalho é que se pensa, somente, no velho Direito do Trabalho. Paralelamente a esse sistema clássico, deverá surgir um novo, decorrente da expansão dos velhos dogmas e que na tentativa de, no mínimo, equilibrar, novamente, as forças dos atores sociais, precisa alargar o seu manto protetivo para o mercado informal, cobrindo, por exemplo, as formas atípicas (...) de contratação, a fim de que tais trabalhadores possam usufruir, principalmente, dos direitos sociais e de vários outros de natureza previdenciária, hoje não extensíveis àqueles que não contribuíram para o sistema, diante do caráter retributivo do custeio da seguridade social, no que se refere ao âmbito da previdência social”. In: KAUFMANN, Marcus de

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Oliveira. Por Uma Nova Dogmática do Direito do Trabalho: Implosão e Perspectivas. Revista LTr, vol. 70, nº. 02, fev. 2006. pp. 226-249.

[16] LANDULDO, Domenico Antonio. Ob. Cit. p. 31.

[17] KAUFMANN, Marcus de Oliveira. Ob. Cit. pp. 226-249.

[18] Programa de Participação nos Resultados e Programa de Participação nos Lucros, respectivamente.

[19] GENRO, Tarso. Mudanças no Direito do Trabalho: Transição e Futuro. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Presente e Futuro nas Relações de Trabalho: Estudos em Homenagem a Roberto Araújo de Oliveira Santos. São Paulo: LTr, 2000. p. 63.

[20] ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O Moderno Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1994. p. 50.

[21] Em julho/2007 foi aprovado na Espanha o Estatuto do Trabalhador Autônomo. No Código de Trabalho de Portugal (art. 13) já há a previsão de normas mínimas de tutela para autônomos economicamente dependentes.

[22] Lei 8.212/1991, artigo 12, inciso V, alínea h.

[23] Vide relação completa das atividades indicadas pela Lei previdenciária no Decreto 3.048/99, art. 9º. § 15.

[24] HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 351.

[25] FERNANDES, Anníbal. O Trabalhador Autônomo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1984. p. 47.

[26] DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p. 295.

[27] GARCÍA, Manuel Alonso. Curso de Derecho del Trabajo. Madrid: Bosch, 1964. p. 36 apud SILVA, Otavio Pinto e. Subordinação, autonomia e parassubordinação nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2004. p. 89.

[28] Ressalvando algumas exceções como o motorista de caminhão empregado de transportadora que utiliza veículo próprio no trabalho ou, ainda, o jardineiro que possui suas próprias ferramentas, ou o técnico de informática que se utiliza de lap top próprio para solucionar problemas em microcomputadores, dentre outros.

[29] DELGADO, Mauricio Godinho. Ob. Cit. p. 328.

[30] CATHARINO, José Martins. Compêndio de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 1982, v. 1. p. 155.

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[31] No Direito Italiano, Giuseppe D´Eufemia conceitua o trabalhador autônomo como aquele que se obriga a prestar um dado resultado de trabalho, organizado segundo seus próprios critérios e assumindo os riscos inerentes apud D´EUFEMIA, Giuseppe. Diritto del Lavoro. Napoli: Morano, 1969. p. 39. No Direito Alemão, o Código do Comércio (Handelsgesetzbuch), em seu artigo 84, define o trabalhador autônomo como aquele que organiza sua própria atividade de modo essencialmente livre, determinando o próprio tempo laborativo. In: FRANTZIOCH, Petra. Nuova Autonomia e concetto di lavoratore subordinato. apud CARINCI, F., TAMAJO, R. De Luca, TOSI, P., TREU, T. Subordinazione e autonomia: vecchi e nuovi modelli. Torino: UTET, p. 236.

[32] VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de Emprego: estrutura legal e supostos. São Paulo: LTr, 1999. p. 483.

[33] SILVA, Otavio Pinto e. Ob. Cit. p. 103.

[34] ROMITA, Arion Sayão. O Princípio da Proteção em Xeque. São Paulo: LTr, 2003. pp. 219-220.

[35] A questão do trabalho parassubordinado está na ordem do dia mundialmente, como revela o estudo realizado pelo Professor Adalberto Perulli, apresentado à Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais do Parlamento Europeu: “Ao longo dos últimos anos, assistimos ao aparecimento de um grupo de trabalhadores que se enquadram na zona cinzenta situada entre as noções tradicionais de ‘empregados’, por um lado, e ‘trabalhadores independentes’, por outro. Foram criadas diversas designações para descrever e categorizar este grupo, sendo as mais freqüentemente utilizadas as seguintes: ‘trabalhadores financeiramente dependentes’, ‘trabalhadores economicamente dependentes’, ‘trabalhadores parassubordinados’ ou ‘pessoas equiparadas aos assalariados’. O trabalho economicamente dependente possui características tanto do trabalho pro conta própria, como do trabalho por conta de outrem: os trabalhadores economicamente dependentes trabalham por sua própria conta e risco e não estão subordinados ao empregador. Por outro lado, são economicamente dependentes na medida em que dependem, em maior ou menor grau, de uma só empresa cliente”. Disponível em: http://www.europarl.eu.int/hearings/20030619/e,pl/study_pt.pdf. Acesso em 03 jul. 2008.

[36] Art. 409. Controvérsias individuais de trabalho. [1] Observem-se as disposições do presente capítulo nas controvérsias relativas a: (...) 3) relações de agência, de representação comercial e outras relações de colaboração que se concretizam em uma prestação de obra contínua e coordenada, prevalentemente pessoal, ainda que não de caráter subordinado.

[37] SILVA, Otavio Pinto e. Ob. Cit. p. 103. Ainda, Giuseppe Tarzia, citado por Silva, defende que embora, na parassubordinação, se desenvolvam os serviços com independência e sem a direção do destinatário dos serviços, estes devem estar inseridos na organização deste. Cfr. TARZIA, Giuseppe. Manuale del Processo del Lavoro. Milano: Giufrè, 1987, p. 09 apud SILVA, Otavio Pinto e. Ob. Cit. p. 103.

[38] RANGEL, Mauricio Crespo. Relações de Trabalho: Novos Paradigmas. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, vol. 73, nº. 03, jul/set. 2007. pp. 133-151.

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[39] PERA, Giuseppe. Diritto del Lavoro. Padova: Cedam, 1998, p. 311 apud BARROS, Alice Monteiro. Trabalhadores Intelectuais – Subordinação Jurídica – Redimensionamento. Revista Síntese Trabalhista. Porto Alegre: Síntese, v. 16, nº. 183, set. 2004. p. 145.

[40] PASSARELLI, Giuseppe Santoro apud ROMITA, Arion Sayão. A Crise do Critério da Subordinação Jurídica – necessidade de proteção a trabalhadores autônomos e parassubordinados. Revista LTr, vol. 68, nº 11, novembro 2004. pp. 1287-1298.

[41] Diante das novas formas de relações jurídicas que tinham como objeto o trabalho, pode-se afirmar que o início do debate sobre a parassubordinação nasceu na Itália, quando a Lei nº. 533 de 11 de agosto de 1973, inovando as disposições do art. 409, nº. 3, do Código de Processo Civil italiano, investiu o juiz do trabalho de competência para julgar as relações de agência, de representação comercial e outras relações de colaboração pessoais, continuadas e coordenadas, sem o elemento subordinação. In: SILVA, Luiz de Pinho Pedreira. Um Novo Critério de Aplicação do Direito do Trabalho: A Parassubordinação. Revista de Direito do Trabalho. São Paulo: RT, ano 27, nº. 103, jul-dez. 2001. p. 175.

[42]Na soma desses três elementos observamos, ao fundo, as razões de uma tutela estatal nessa relação: a dependência econômico-social do prestador com relação ao tomador de serviços.

[43] SILVA, Otavio Pinto e. Ob. Cit. p. 104.

[44] Acrescenta, ainda, o autor, que a jurisprudência italiana entende não estar caracteriza a continuidade quando a reiteração das prestações for meramente ocasional, ou quando for resultado de contingências fáticas não previstas (e não passíveis de previsão contratual). Também não afeta a continuidade a hipótese de o trabalho prestado, por sua natureza, permita interrupções periódicas. In: SILVA, Otavio Pinto e. Ob. Cit. pp. 104-105.

[45] PERSIANI, Mattia. Autonomia, subordinazione e coordinamento Nei recenti modelli di collaborazione lavorativa. Il Diritto del Lavoro, Roma, v. 72, n. 4/5, p. 209, lugl./out. 1998 apud SILVA, Otavio Pinto e. Subordinação, autonomia e parassubordinação nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2004. p. 105.

[46] Expressão utilizada por SILVA, Otavio Pinto e. Ob. Cit. p. 106.

[47] Uma das principais características do empregado é o fato de estar obrigado contratualmente em permanecer à disposição do seu empregador, com relação ao modo e à forma de execução dos serviços, devendo atuar sempre que ordenado tecnicamente. O autônomo, por sua vez, além de não estar obrigado contratualmente em permanecer à disposição recebendo ordens, ao contrário, decide sozinho a forma da execução do trabalho, se obrigando, apenas, em entregar o pactuado em contrato (obra ou serviço pré-determinado).

[48] SILVA, Otavio Pinto e. Ob. Cit. p. 105.

[49] Id.

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[50] PASSARELLI, Giuseppe Santoro apud ROMITA, Arion Sayão. A Crise do Critério da Subordinação Jurídica – necessidade de proteção a trabalhadores autônomos e parassubordinados. Revista LTr, vol. 68, nº. 11, novembro 2004. pp. 1287-1298.

[51] SILVA, Luiz de Pinho Pedreira. Um Novo Critério de Aplicação do Direito do Trabalho: a parassubordinação. Revista de Direito do Trabalho. n. 103. São Paulo: RT, 2001. pp. 173-181.

[52] Id.

[53] Id.

[54] Para Kaufmann, considerando a vocação expansionista do Direito do Trabalho, ainda permanece sujeita à tutela estatal a relação de emprego típica. A parassubordinação “... não pretende e nem pode substituir a subordinação jurídica – até porque os critérios de substituição econômica e de proteção do contratante débil são complementares e não simplesmente substitutivos da subordinação ou dependência jurídica clássica –, mas a ela se acopla, destinando, aos trabalhadores sujeitos a variadas formas de trabalho, algum tipo de proteção, que precisaria estar disposto na legislação, eventualmente naquela que, a exemplo da que trata, no Brasil, do trabalho prestado a tempo parcial, do trabalho por prazo determinado, retipifica os contratos individuais de trabalho para tutelar todas as formas de ocupação que revelem, o que é importante, dependência econômica. Tal técnica solucionaria as precarizações de relações mantidas sob o eixo da produção toyotista atual”. In: KAUFMANN, Marcus de Oliveira. Por Uma Nova Dogmática do Direito do Trabalho: Implosão e Perspectivas. Revista LTr, vol. 70, nº. 02, fev. 2006. pp. 226-249.

[55] LIMA, Francisco Meton Marques de. Porque se aplicam os Princípios Trabalhistas nas Relações de Trabalho Não Subordinado. Revista LTr, vol. 69, nº. 04, abr. 2005. pp. 395-401.

[56] GRIECO, Anna Maria. Lavoro Parasubordinato e Diritto del Lavoro. Napoli: Eugenio Jovene, 1983. p. 14.

[57] BARROS, Alice Monteiro. Trabalhadores Intelectuais – Subordinação Jurídica – Redimensionamento. Revista Síntese Trabalhista. Porto Alegre: Síntese, v. 16, nº. 183, set. 2004. pp.139-155.

[58] PANAZZOLO, Euclides Eudes. O Trabalho como Valor Fundamental. Reforma Trabalhista e Sindical: o Direito do Trabalho em Perspectivas. Sidnei Machado e Luiz Eduardo Gunther (orgs.). São Paulo: LTr, 2005. p. 211.

[59] LIMA, Francisco Meton Marques de. Ob. Cit. pp. 395-401.

[60] NAHAS, Thereza C. Considerações a respeito da relação de trabalho – a questão do trabalho semidependente. Revista LTr, vol. 71, nº. 09, set. 2007. pp. 1090-1093.

[61] A autora cita: MARTINEZ, Pedro Romano. Direito do Trabalho. Coimbra: Almedina, 2. ed. out. 2005; PERA, Giuseppe & PAPALEONI, Marco. Direito del Lavoro. Padova: CEDAM, 2003. RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Direito do

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Trabalho. Coimbra: Almedina, jul. 2006 & Da Autonomia Dogmática do Direito do Trabalho. Lisboa: Gráfica de Coimbra Ltda., 2000. SUPIOT, Alain et al. Transformações do Trabalho e Futuro do Direito do Trabalho na Europa. Coimbra Editora, Coimbra: 2003. XAVIER, Bernardo da Gama Lobo. Curso de Direito do Trabalho. 3a. ed. Lisboa, 2004.

[62] Expressão utilizada pela autora.

[63] Alguns autores italianos como Mattia Persiani optam pelo uso da expressão “trabalhado coordenado” ao invés de “trabalho parassubordinado”, pois seria mais apropriado à noção da forma como essa relação é desenvolvida. Cfr. PERSIANI, Mattia. Autonomia, subordinazione e coordinamento Nei recenti modelli di collaborazione laborativa. Il Diritto del Lavoro, Roma, v. 72, nº. 4/5, p. 204, lugl./outt. 1998. apud SILVA, Otavio Pinto e. Subordinação, autonomia e parassubordinação nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2004. p. 103.

[64] KAUFMANN, Marcus de Oliveira. Por Uma Nova Dogmática do Direito do Trabalho: Implosão e Perspectivas. Revista LTr, vol. 70, nº. 02, fev. 2006. pp. 226-249.

[65] Id.

[66] NAHAS, Thereza C. Ob. Cit. pp. 1090-1093.

[67] FERRARO, Giuseppe. I Contratti d Lavoro. Padova: CEDAM, 1991, p. 226 apud SILVA, Otavio Pinto e. Subordinação, autonomia e parassubordinação nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2004. p. 103.

[68] SILVA, Luiz de Pinho Pedreira. Ob. Cit. pp. 173-181.

[69] Expressão utilizada por René Savatier apud RANGEL, Mauricio Crespo. Relações de Trabalho: Novos Paradigmas. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, vol. 73, nº. 03, jul/set. 2007. pp. 133-151.

[70] SILVA, Luiz de Pinho Pedreira. Ob. Cit. pp. 173-181.

[71] NAHAS, Thereza C. Ob. Cit. pp. 1090-1093.

[72] A Representação Comercial é para muitos uma exemplo típico de trabalho parassubordinado. Profissão regulamentada pela Lei 4.886/65, exercida por pessoa física ou jurídica, sem vínculo empregatício, o Representante exerce em caráter não eventual, por conta própria ou com o auxílio de mais pessoas, mediação de negócios mercantis, atuando em nome da empresa para fechar pedidos de compra e encaminhando-os à Representada.

[73] MERÇON, Paulo Gustavo de Amarante. Além dos Portões da Fábrica – O Direito do Trabalho em Reconstrução. Revista LTr, vol. 71, nº. 10, out. 2007. pp. 1172-1186.