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1 PROTESTOS NO NORTE DA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO A crise política que atinge diversos países muçulmanos no Norte da África e no Oriente Médio causa protestos generalizados em algumas regiões. Protestos contra o regime de Muamar Khadafi deixaram um número não confirmado de mortos e feridos desde o dia 16 de fevereiro. O grupo de defesa de direitos humanos Human Rights Watch afirmou que 233 pessoas morreram no país desde o início dos protestos, mas o governo afirma que os relatos são "exagerados. Benghazi, segunda maior cidade do país, foi o principal foco de revoltas e de violência. Testemunhas afirmaram que forças de segurança usaram metralhadoras e artilharia pesada contra multidões. Os protestos se espalharam para a capital, Trípoli, no dia 20 de fevereiro. O filho de Khadafi, Saif al-Islam, advertiu em pronunciamento pela TV para o risco de uma guerra civil poderia atingir o país. O governo bloqueou a internet e vem dificultando o trabalho da mídia estrangeira, o que torna difícil ter uma ideia da proporção real dos distúrbios no país. Protestos são proibidos na Líbia, mas a revolta foi detonada pela prisão de um advogado conhecido por ser um crítico aberto do governo. Khadafi é o líder há mais tempo no poder na África e no Oriente Médio - desde 1969 - e um dos mais autocráticos. Bahrein A monarquia sunita que governa o país ofereceu diálogo com representantes da maioria xiita do Bahrein, após dias de protestos na principal praça da capital, Manama. Após usar tropas para dispersar manifestantes da Praça Pérola no dia 17 de fevereiro - em uma operação que deixou quatro mortos ao menos - o governo parece ter recuado, permitindo que os manifestantes reocupassem a praça. O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu calma ao Bahrein, que é um país estrategicamente importante para os EUA. O rei Hamad pediu a seu filho mais velho, o príncipe regente Salman, que dê início a um "diálogo nacional" para pôr fim à revolta. Representantes de alto escalão do principal grupo político xiita do país, Wefaq, pediram a renúncia do governo. Entre outras demandas está a libertação dos presos políticos e conversas sobre uma nova Constituição. Manifestantes xiitas reclamam de problemas econômicos, falta de liberdade política e discriminação no mercado de trabalho a favor de sunitas. Marrocos O principal grupo de oposição do Marrocos afirmou que a "autocracia" será varrida do país, se reformas econômicas profundas não forem implementadas. O país enfrenta vários problemas econômicos. O governo anunciou um aumento nos subsídios do Estado para tentar conter o aumento no preço das commodities. No começo do ano, a reputação do Marrocos foi atingida quando o site Wikileaks revelou documentos com acusações de corrupção na família real e entre pessoas próximas ao rei Mohammed 6º. O rei diz que a luta contra a pobreza no país é uma prioridade, o que lhe valeu o epíteto de "guardião dos pobres". A liberalização da economia atraiu investimentos estrangeiros, e as autoridades afirmam que estão realizando melhorias em favelas e áreas rurais do país. Mas organizações não-governamentais dizem que pouco mudou, que a pobreza e o desemprego ainda são grandes no país. O Marrocos vem sendo atingido por greves, nos setores público e privado.

PROTESTOS NO NORTE DA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO · 2 O Marrocos, como Egito e Argélia, dá pouco espaço para a liberdade de expressão e até agora tem sido capaz de conter protestos

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PROTESTOS NO NORTE DA ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO A crise política que atinge diversos países muçulmanos no Norte da África e no Oriente Médio causa protestos generalizados em algumas regiões.

Protestos contra o regime de Muamar Khadafi deixaram um número não confirmado de mortos e feridos

desde o dia 16 de fevereiro. O grupo de defesa de direitos humanos Human Rights Watch afirmou que 233 pessoas morreram no país desde o início dos protestos, mas o governo afirma que os relatos são "exagerados.

Benghazi, segunda maior cidade do país, foi o principal foco de revoltas e de violência. Testemunhas afirmaram que forças de segurança usaram metralhadoras e artilharia pesada contra multidões.

Os protestos se espalharam para a capital, Trípoli, no dia 20 de fevereiro. O filho de Khadafi, Saif al-Islam, advertiu em pronunciamento pela TV para o risco de uma guerra civil poderia atingir o país.

O governo bloqueou a internet e vem dificultando o trabalho da mídia estrangeira, o que torna difícil ter uma ideia da proporção real dos distúrbios no país.

Protestos são proibidos na Líbia, mas a revolta foi detonada pela prisão de um advogado conhecido por ser um crítico aberto do governo.

Khadafi é o líder há mais tempo no poder na África e no Oriente Médio - desde 1969 - e um dos mais autocráticos. Bahrein

A monarquia sunita que governa o país ofereceu diálogo com representantes da maioria xiita do Bahrein, após dias de protestos na principal praça da capital, Manama.

Após usar tropas para dispersar manifestantes da Praça Pérola no dia 17 de fevereiro - em uma operação que deixou quatro mortos ao menos - o governo parece ter recuado, permitindo que os manifestantes reocupassem a praça.

O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu calma ao Bahrein, que é um país estrategicamente importante para os EUA.

O rei Hamad pediu a seu filho mais velho, o príncipe regente Salman, que dê início a um "diálogo nacional" para pôr fim à revolta.

Representantes de alto escalão do principal grupo político xiita do país, Wefaq, pediram a renúncia do governo. Entre outras demandas está a libertação dos presos políticos e conversas sobre uma nova Constituição. Manifestantes xiitas reclamam de problemas econômicos, falta de liberdade política e discriminação no mercado de trabalho a favor de sunitas. Marrocos

O principal grupo de oposição do Marrocos afirmou que a "autocracia" será varrida do país, se reformas econômicas profundas não forem implementadas.

O país enfrenta vários problemas econômicos. O governo anunciou um aumento nos subsídios do Estado para tentar conter o aumento no preço das commodities.

No começo do ano, a reputação do Marrocos foi atingida quando o site Wikileaks revelou documentos com acusações de corrupção na família real e entre pessoas próximas ao rei Mohammed 6º.

O rei diz que a luta contra a pobreza no país é uma prioridade, o que lhe valeu o epíteto de "guardião dos pobres". A liberalização da economia atraiu investimentos estrangeiros, e as autoridades afirmam que estão realizando melhorias em favelas e áreas rurais do país.

Mas organizações não-governamentais dizem que pouco mudou, que a pobreza e o desemprego ainda são grandes no país. O Marrocos vem sendo atingido por greves, nos setores público e privado.

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O Marrocos, como Egito e Argélia, dá pouco espaço para a liberdade de expressão e até agora tem sido capaz de conter protestos maiores. Assim como a Jordânia, o país é uma monarquia, que tem apoio de grandes setores da população. Argélia

Protestos esporádicos vêm acontecendo no país desde o começo de janeiro, com manifestantes pedindo a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika.

Grupos de manifestantes se uniram em seu movimento contra o governo, incluindo pequenos sindicatos e partidos políticos menores.

O gatilho para os protestos parece ter sido principalmente econômico - em particular o aumento acentuado no preço dos alimentos.

No começo de fevereiro o presidente Bouteflika prometeu suspender o estado de emergência - em vigor no país desde 1992 - em um "futuro próximo", mas ainda não o fez.

O governo da Argélia conta com riqueza considerável vinda de suas exportações de petróleo e gás, e tenta responder a reclamações econômicas e sociais com um grande programa de gastos públicos.

Mapa mostra os países do norte da África e do Oriente Médio, região que vive uma onda de protestos populares

Tunísia

Protestos continuam na Tunísia apesar da decisão do presidente Zine al-Abidine Ben Ali de renunciar em janeiro.

Ele deixou o país após semanas de manifestações e choques entre manifestantes e a polícia. O gatilho foi o ato desesperado de um jovem desempregado, no dia 17 de dezembro. Mohamed Bouazizi

ateou fogo ao próprio corpo, quando autoridades de sua cidade impediram-no de vender legumes nas ruas de Sidi Bouzid sem permissão.

O gesto detonou protestos que se espalharam pelo país. A resposta violenta das autoridades - com a polícia abrindo fogo contra manifestantes - parece ter exacerbado a ira da população e fomentado novos protestos, que terminaram levando à derrocada do presidente.

O presidente do Parlamento, Foued Mebazaa, foi empossado como presidente interino, e pediu ao premiê Mohammed Ghannouchi, chefe do governo desde 1999, para formar uma coalizão nacional. O premiê também prometeu abandonar o poder após eleições, que deverão ser realizadas dentro de seis meses.

O presidente da Tunísia, Zine Al-Abidine Ben Ali, deixou o poder após semanas de manifestações populares contra o governo.

Até recentemente o país, famoso como destino turístico, era visto como um exemplo de estabilidade e relativa prosperidade no mundo árabe, embora governado com mão de ferro por Ben Ali desde 1987.

Ainda não está claro que efeitos que os desdobramentos no país – que fica numa região em que vários países são governados pelos mesmos líderes há anos em regimes considerados pouco democráticos - poderão ter sobre outras nações árabes. Entenda as mudanças na Tunísia. O que gerou os protestos?

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O gesto desesperado de um jovem, no dia 17 de dezembro, deflagrou uma onda de protestos e choques

entre manifestantes e a polícia. Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo na cidade de Sidi Bouzid (centro do país) quando policiais

impediram que ele vendesse vegetais em uma banca de rua sem permissão. O ocorrido gerou uma onda de protestos contra o desemprego na região, que baseia sua economia na

agricultura e é uma das mais pobres do país. Os protestos se espalharam então para outras partes da Tunísia. O governo acusou a oposição de explorar

o incidente. Mas a resposta violenta das autoridades, com a polícia disparando munição verdadeira contra os

manifestantes, parece ter dado mais força aos manifestantes. O protesto também é considerado um reflexo da frustração da população com a elite dominante e a

ausência de liberdades políticas. O governo diz que 23 pessoas morreram desde o início dos protestos, mas a oposição diz que o número

de mortos supera 60. Os protestos eram esperados?

Não, eles parecem ter surpreendido a todos, inclusive o governo. Parece ter ocorrido uma ruptura do acordo velado existente desde que Ben Ali tomou o poder em 1987. Em troca de um progresso econômico lento, porém contínuo, a maioria dos tunisianos teria aceito a

restrição das liberdades políticas, um Estado policial e uma elite frequentemente acusada de corrupta. Para investidores estrangeiros, o país seria um local seguro para investimentos e fonte de mão de obra

barata. Mas o modelo parece ter fracassado ou se provado insustentável a longo prazo. Uma grande quantidade de formados em universidades que não conseguem emprego há frustração com

a falta de liberdades políticas, os excessos da classe dominante e a violência policial. Tudo isso parece ter intensificado a revolta popular. Como foram os últimos dias do governo de Ben Ali?

O presidente Ben Ali inicialmente negou que a polícia tenha reagido com força exagerada, afirmando que

ela protegia interesses públicos contra um pequeno número de “terroristas”. Todas as universidades e escolas foram fechadas em uma tentativa de manter os jovens em casa, esvaziando os protestos.

Mas o presidente pareceu ter mudado de estratégia e, gradualmente, seu regime sucumbiu frente aos olhos do mundo.

Em 12 de janeiro ele demitiu seu ministro do Interior e ordenou a liberação de todos os detidos durante os protestes. Ele também criou um comitê especial para investigar a corrupção.

Foi feita anda a promessa de atacar a raiz do problema do desemprego, com a criação de 300 mil empregos.

Mas os protestos continuaram e chegaram ao centro da capital em 13 de janeiro, apesar de um toque de recolher.

Ben Ali prometeu então combater a alta de preço dos alimentos, permitir a liberdade de imprensa e internet e “aprofundar a democracia e revitalizar o pluralismo”.

Ele também disse que não mudaria a constituição para permitir a própria reeleição em 2014. No dia seguinte, Ben Ali anunciou a dissolução do governo e convocou eleições parlamentares dentro de

seis meses, antes de declarar um estado de emergência. O toque de recolher entre 18h e 06h foi ampliado a todo o país, proibidas aglomerações de mais de três

pessoas e as Forças de Segurança receberam permissão para atirar em qualquer um que desobedecesse a suas ordens.

Finalmente, ele anunciou que sairia “temporariamente” do cargo de presidente e depois teria deixado o país.

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O Conselho Constitucional declarou no dia 15/01/2011 que o chefe do Parlamento Foued Mebazaa seria o novo presidente interino do país até as novas eleições, que devem acontecer em 60 dias. O que acontece agora?

O premiê Mohammed Ghannouchi disse que respeitaria a constituição, mas não está claro se a medida será o bastante para satisfazer os manifestantes.

Também não está claro que efeito que as mudanças na Tunísia terão sobre o mundo árabe como um todo.

Muitos dos países árabes são governados há anos pelos mesmos líderes em regimes que muitos não consideram verdadeiramente democráticos. É o caso do Egito e da Líbia, dois países do norte africano, como a Tunísia. A Tunísia está perigosa para turistas?

O espaço aéreo tunisiano foi fechado, mas não se sabe quanto tempo a medida vai ficar em vigor. Não há relatos de ataques contra turistas e a maior parte da violência ocorreu longe dos balneários

frequentados por estrangeiros. Mas empresas turísticas cancelaram algumas de suas operações no país.

Jordânia Milhares de jordanianos saíram às ruas ao longo das últimas cinco semanas, pedindo melhores

perspectivas de emprego e redução nos preços de alimentos e combustível. Em resposta, o rei Abdullah 2º demitiu o primeiro-ministro Samir Rifai, acusando-o de promover reformas lentas. Marouf al-Bakhit, ex-general do Exército e embaixador do país em Israel, foi nomeado em seu lugar.

Um novo gabinete com 26 integrantes foi empossado no dia 10 de fevereiro. O Reino Hachemita da Jordânia é um país pequeno, com poucos recursos naturais, mas desempenha um

papel crucial na luta por poder no Oriente Médio. A morte do rei Hussein, que governou por 46 anos, deixou a Jordânia na briga pela sobrevivência

econômica e social, assim como pela paz regional. Seu filho, Abdullah, que o sucedeu no trono, enfrenta o desafio de manter a estabilidade e atender a

demandas por reforma. Um plano para mudanças políticas, econômicas e sociais de longo prazo - conhecido como Agenda

Nacional - ainda não foi implementado. Egito

Centenas de milhares de pessoas se reuniram no Cairo no dia 18 de fevereiro para marcar uma semana da

queda do presidente Hosni Mubarak O líder de 82 anos renunciou no dia 11 de fevereiro, após 18 dias de protestos. Ele estava no poder desde

1981. O Egito há muito vinha sendo um centro de estabilidade em uma região volátil, mas isso mascarava

problemas, que vieram à tona nas demandas de manifestações populares contra o governo de 30 anos de Mubarak, no dia 25 de janeiro.

Os principais gatilhos foram pobreza, inflação, exclusão social, raiva contra a corrupção e o enriquecimento da elite política do país.

Com Mubarak fora do jogo, as Forças Armadas do país assumiram o poder através de um Conselho Militar, que governará pelos próximos seis meses, até que eleições sejam realizadas.

O grupo islamista conservador Irmandade Muçulmana tem chances de ter um bom desempenho em quaisquer eleições livres e justas, mas temores de que o timão político no Egito se volte para o lado do conservadorismo islâmico é a principal fonte de preocupação do Ocidente e de Israel.

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Após uma onda de protestos que acontecem desde o dia 25 de janeiro no Egito e que já deixaram, até agora, pelo menos 100 pessoas mortas no Egito desde o começo das manifestações contra o governo do presidente Hosni Mubarak.

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, nomeou seu primeiro vice-presidente, que não escolheu desde de sua posse em 1981, o seu chefe de inteligência e confidente Omar Suleiman, para o cargo. Muitos viram a nomeação como o fim das pretensões do filho do presidente, Gamal, de assumir a presidência.

Além do vice-presidente, o país agora tem um novo primeiro-ministro, Ahmed Shafiq - antigo ministro da Aviação. Shafiq foi nomeado depois de Mubarak ter demitido todo o gabinete de ministros do país, incluindo o primeiro-ministro anterior, Ahmad Fuad Mohieddin.

As alterações no governo egípcio são manobras de Mubarak para não deixar o cargo, apesar da crise política em que o país se encontra. Os manifestantes que foram às ruas da capital, Cairo, e de outras cidades do país, exigem a saída dele do poder.

Mubarak, como presidente, é o chefe de Estado do Egito, enquanto o primeiro-ministro é o chefe de governo. O primeiro-ministro e o gabinete de ministros são indicados pelo presidente - que pode desfazer esse gabinete e convocar novos membros.

A mudança no governo tirou de cena o filho de Mubarak, Gamal Mubarak, tido como potencial sucessor na Presidência do Egito – ele ainda deixou o Partido Nacional Democrata (do governo) e isso foi entendido como sinal de que ele não irá disputar o cargo. Desafio ao toque de recolher

O governo tenta conter os protestos através de medidas

como toques de recolher e bloqueio de telefonia e da internet. O toque de recolher decretado vai das 16h (11h em Brasília) às 8h (3h em Brasília). As Forças Armadas já pediram à população egípcia que evite participar de manifestações públicas e respeite o toque. Parte da telefonia celular no país vai sendo gradualmente restaurada, mas a internet ainda está bloqueada.

Mesmo assim, milhares de egípcios ocupam em massa à praça central de Tahrir, no Cairo, epicentro dos protestos nos últimos dias. O centro da capital é patrulhado por tropas do Exército, enquanto a polícia vigia outros pontos da cidade. Medida insuficiente

As tentativas de Mubarak para pacificar o país com as alterações feitas no governo, no entanto, não

bastam, segundo as lideranças da oposição. O porta-voz do grupo Irmandade Muçulmana, Walid Shalabi, por exemplo, já declarou que espera um “governo que tenha interesse em lançar as liberdades públicas, que resolva o problema do desemprego e que não trabalhe em benefício de um só grupo”.

O líder opositor e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, afirmou, por sua vez, em entrevista à rede France, que Mubarak “deve ir embora” e que os protestos “irão continuar com ainda mais intensidade até que o regime de Mubarak caia”.

Cidades em que ocorrem os principais protestos

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ElBaradei tem apoio das classes mais altas e intelectualizadas e já anunciou sua disposição em assumir um eventual governo provisório, caso Mubarak seja derrubado. Já a Irmandade Muçulmana é um grupo fundamentalista islâmico, ligado ao Hamas palestino, foi posto na clandestinidade por Mubarak, sob pressão do Ocidente e defende a adoção de leis religiosas no Egito, baseadas na sharia (código islâmico, baseado no Corão). Segurança não pode conter a revolução, diz político

Mostapha al Fekki, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia, também membro do Partido Nacional Democrata no poder, pediu ontem a Mubarak que faça "reformas sem precedentes" para evitar uma revolução no Egito.

- Em nenhuma parte do mundo a segurança é capaz de pôr fim à revolução. O presidente é a única pessoa que pode pôr fim a esses acontecimentos.

Mubarak nunca, em sua administração, enfrentou tamanha onda de protestos. Os egípcios pedem sua saída e a implantação de uma democracia real, sem eleições fraudulentas, uma acusação que pesa sobre o governante egípcio.

Em novembro deste ano, o país deve passar por eleições presidenciais e Mubarak é um possível candidato. Outro nome cogitado é o de seu filho, Gamal. Apoio

Mubarak já recebeu apoio do rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud, que condenou os

“intrusos” que "bagunçam" a segurança e a estabilidade do Egito em nome da liberdade de expressão". Também manifestou apoio a Mubarak o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud

Abbas. Em um comunicado divulgado por seu gabinete, Abbas declarou “solidariedade ao Egito e compromisso com a segurança e a estabilidade”. Além disso, o presidente da Autoridade Palestina “expressou seu desejo de que Deus abençoe o Egito e seu povo, que sempre se mantiveram ao lado do povo palestino”. Aliado ocidental

Mesmo sendo um regime autoritário, o Egito é um dos principais aliados dos Estados Unidos e da Europa

no mundo árabe. O principal temor do Ocidente é que a Irmandade Muçulmana possa assumir o governo do país. Além da Jordânia, o Egito é o único país árabe a reconhecer o Estado de Israel. Qualquer mudança brusca

no regime de Mubarak pode tornar mais tensa a política já inflamada da região.

Síria O presidente Bashar al-Assad prometeu promover reformas políticas após herdar o poder de seu pai,

Hafez, em 2000, após três décadas de um regime autoritário. Leis de emergência vigoram no país desde 1963. Após a morte de Hafez al-Assad, a Síria sofreu um certo

grau de distensão. Centenas de presos políticos foram libertados. Não ocorreram, entretanto, mudanças como o aumento das liberdades políticas ou mudanças na economia fortemente dominada pelo Estado. Irã

O governo iraniano convocou uma manifestação para a sexta-feira 18 de fevereiro para manifestar seu repúdio à oposição do país.

O chamado se seguiu a manifestações organizadas pelas duas principais figuras de oposição ao governo em apoio a protestos em países vizinhos. O protesto rapidamente se transformou em uma manifestação antigoverno, que deixou dois mortos e vários feridos.

O sistema político complexo e incomum do Irã combina elementos de uma teocracia islâmica com democracia.

Uma rede de instituições não sujeitas a voto popular e controladas pelo altamente poderoso Líder Supremo do país tem como contrapartida um presidente e um Parlamento eleitos pelo povo.

O presidente Mahmoud Ahmadinejad, eleito em 2005, é um adepto da linha-dura, que prometeu reprimir qualquer protesto contra o regime.

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Ele acusou manifestantes de querer "manchar o brilhantismo nacional iraniano". Arábia Saudita

Um dos países mais insulares e pios do Oriente Médio, a Arábia Saudita deixou de ser um reino desértico

e pobre para tornar-se uma das nações mais ricas da região, graças a seus vastos recursos petrolíferos. Mas seus governantes enfrentam a tarefa delicada de responder a pressões por reforma e, ao mesmo

tempo, combater o problema crescente da violência extremista islâmica. A família real saudita sempre tentou preservar a estabilidade na região e reprimir extremistas islâmicos. Movimentos de oposição são proibidos no país.

Regionalmente, o país é importante, com o rei Abullah Bin-Abd-al-Aziz Al Saud visto no mundo árabe como um defensor dos interesses árabes.

Foi para a Arábia Saudita que o líder deposto da Tunísia, Zine al-Abidine Ben Ali, fugiu em janeiro. Iêmen

Após dias de protestos, o presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, anunciou, no dia 2 de fevereiro, que não concorreria a outro mandato, após três décadas no poder.

Ele também disse ao Parlamento que não passaria o poder a seu filho, afirmando: "Nenhuma extensão, nenhuma herança, nenhum cronômetro zerado".

Mas os protestos continuam, com pessoas saindo às ruas nas cidades de Sanaa, Aden e Taiz. Manifestantes antigoverno pedindo reformas políticas entraram em choque com grupos leais ao governo,

e a polícia foi enviada para reprimir manifestações. O Iêmen é o país mais pobre do mundo árabe, onde quase metade da população vive com menos de US$

2 por dia. CRISE NA IRLANDA À medida que a economia se retrai, cresce o desemprego e aumentam os temores de que o país esteja à beira de uma volta à recessão.

A situação financeira da Irlanda está no topo da agenda de um encontro entre autoridades da União

Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre temores de que uma crise na economia irlandesa possa desencadear um contágio no resto do continente, o governo tem sido pressionado a aceitar ajuda do bloco comum. Leia a seguir as principais questões envolvendo a crise financeira na república. Qual é em síntese o problema com a economia da Irlanda?

Apelidada de "tigre celta" por causa do seu elevado ritmo de crescimento econômico, a Irlanda foi do

boom ao desastre financeiro em um espaço de apenas três anos. Muito da expansão do período pode ser atribuída à expansão do mercado imobiliário, que desde 2008 se

retraiu dramaticamente. O preço dos imóveis caiu entre 50% e 60% e os empréstimos de risco – sobretudo na forma de crédito

para as construtoras – se acumularam no portfólio dos principais bancos do país. Só para ajudar essas instituições foram necessários recursos de emergência da ordem de 45 bilhões de

euros (mais de R$ 100 bilhões), o que deixou um déficit no orçamento do governo irlandês equivalente a 32% do PIB neste ano.

As finanças do país também estão sendo afetadas pela queda na arrecadação de impostos. A diferença entre o que o governo gasta em serviços públicos e o que recebe em impostos e taxas atinge o insustentável patamar de 12% do PIB.

À medida que a economia se retrai, cresce o desemprego e aumentam os temores de que o país esteja à beira de uma volta à recessão. Por que a crise irlandesa preocupa outros países?

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A situação financeira da Irlanda preocupa especialmente aos países financeiramente menos sólidos da

zona do euro, como Espanha e Portugal, que também estão com as finanças apertadas. O temor é que esses países não sejam capazes de pagar os seus credores, que por sua vez tendem a

restringir os empréstimos. O maior impacto dessa desconfiança é a elevação dos custos de empréstimos no mercado internacional. Por ora, esta não é uma preocupação da Irlanda, que se diz plenamente capacitada a honrar seus

pagamentos até pelo menos meados do ano que vem. Entretanto, outros países têm recorrido ao mercado para levantar recursos e assim são afetados pelas

incertezas que rondam as contas públicas irlandesas. Se recursos dessas instituições forem usados, a Grã-Bretanha pagará uma parte da conta. Por outro lado, se a economia irlandesa colapsar, as empresas britânicas perderão negócios de um cliente

que compra delas mais mercadorias que Brasil, Rússia, Índia e China juntos. A Irlanda insiste em que não precisa de ajuda. É verdade?

É verdade que o governo acredita ser capaz de honrar todos os seus compromissos até meados do ano

que vem sem a necessidade de ir ao mercado para levantar recursos. Além disso, nas ruas é comum perceber de muitos irlandeses uma certa relutância em aceitar o pacote da

ajuda da UE. A república se orgulha de sua solvência e de sua independência financeira, e uma ajuda europeia seria

vista como sinal de uma humilhante dependência em relação ao bloco. O ministro irlandês das Empresas, Batt O’Keeffe, sintetizou este sentimento ao afirmar que "a soberania

do nosso país foi conquistada a muito custo e o governo não abrirá mão dela em favor de ninguém". A Irlanda teme que, junto com a ajuda da UE, venham condições como a elevação de seu imposto sobre

pessoa jurídica que, em 12,5%, é um dos principais instrumentos para atrair investimentos externos. Por outro lado, uma grande preocupação são os bancos privados. Como vários foram parcialmente

nacionalizados, a dívida que era das instituições também passou a ser assumida pelo governo. Estes bancos estão tendo dificuldade para levantar empréstimos no mercado e dependem do suporte do

Banco Central Europeu. Uma estimativa do banco britânico Barclays Capital indica que mais de 10% de todos os empréstimos e

financiamentos feitos pelos bancos irlandeses – em outras palavras, os seus ativos – estão sendo financiados com recursos do BCE.

Há indícios de que o BCE pretende convencer a Irlanda a aceitar a ajuda de emergência, que poderia então ser investida nos bancos para blindá-los contra possíveis perdas no futuro. De quanto seria a ajuda e de onde viria?

Para ser bem-sucedido, a ajuda teria de ser volumosa o suficiente para afastar os temores de contágio da economia europeia por possíveis perdas registradas no futuro pelo sistema financeiro irlandês.

Algumas estimativas indicam que o montante teria de chegar a 80 bilhões de euros (quase R$ 190 bilhões).

Há diversas possíveis fontes de financiamento, incluindo o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (EFSM, na sigla inglês), que poderia prover até 60 bilhões de euros, e o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF), constituído por 440 bilhões de euros em garantias de governos da zona do euro.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que poderia entrar no pacote, emprestando até 50% do total provido pela União Europeia.

"A soberania do nosso país foi conquistada a muito custo e o governo não abrirá mão dela em favor de ninguém", disse Batt O’Keeffe, ministro irlandês das Empresas.

Outras fontes de financiamento podem aparecer na medida em que os países devem tentar evitar que os recursos de fundos como o EFSM sejam esgotados em uma única operação de salvamento. Há ainda o caso de países europeus que não fazem parte da zona do euro, como a Grã-Bretanha, que contribui para o caixa da União Europeia e do FMI.

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O que o governo irlandês tem feito para melhorar o estado de sua economia?

O governo tem buscado traçar uma linha clara entre o que são os problemas de seu sistema financeiro e

as preocupações envolvendo as suas próprias contas. A administração acredita que as medidas já anunciadas e ainda por anunciar reforçarão a confiança na

economia do país. O ministro para a Europa, Dick Roche, disse à BBC que o país pretende reduzir o seu déficit orçamentário

dos atuais 12% para cerca de 3% do PIB até 2014. Entretanto, analistas têm apontado que esta meta seria difícil de cumprir ainda que o país estivesse

registrando crescimento econômico rigoroso – o que não é o caso. A Irlanda teria de convencer os investidores de que é capaz de implementar o ambicioso plano de

redução de gastos e outras medidas impopulares, como a elevação de impostos. Esse problema foi enfrentado na Espanha, cujo plano de austeridade do governo não foi percebido como

crível pelos mercados. Na Irlanda, entretanto, a sociedade poderia apoiar as medidas, na avaliação da analista para o país da

consultoria IHS Global Insight, Sonia Pangusion. FMI aprova fundo de 22,5 bi de euros para a Irlanda

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a aprovação de um fundo de 22,5 bilhões de euros para apoiar o programa de ajuste econômico e estabilização financeira da Irlanda.

O Serviço Ampliado do Fundo (EFF, na sigla em inglês), de 3 anos de duração, faz parte do total dos 85 bilhões de euros que formam o pacote de ajuda internacional à Irlanda.

Em comunicado, o FMI explicou que o Conselho Executivo do organismo multilateral com sede em Washington aprovou o empréstimo anunciado semanas atrás para ajudar a Irlanda a sair de sua crise econômica.

Com este plano excepcional, o FMI espera "respaldar a Irlanda com suficientes recursos financeiros para permitir recuperar a confiança dos mercados internacionais e renovar o crescimento e a criação de emprego".

O diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, qualificou de "ambicioso" o denominado Plano de Recuperação Nacional elaborado pelo Governo de Dublin, com o qual tenta fazer frente "a uma crise sem paralelo na história da nação".

"Trata-se de um programa focado nas debilidades do sistema bancário e que procura restaurar as possibilidades de crescimento, sem o qual não pode haver soluções duradouras para crise", explicou Strauss-Kahn.

O FMI aprovou o empréstimo por um mecanismo especial, que permite que o Governo da Irlanda possa dispor de maneira imediata de 5,8 bilhões de euros dos 22,5 bilhões outorgados.

Além dos fundos do FMI, o pacote internacional de ajuda à Irlanda conta também com as remessas da União Europeia de 45 bilhões de euros e se completa com 17,5 bilhões de euros procedentes das reservas internacionais da Irlanda.

O Plano de Recuperação Nacional de Dublin, de acordo com Strauss-Kahn, "conta com um programa de políticas claras e realistas que procura restaurar a saúde do sistema bancário irlandês, pôr as finanças públicas em equilíbrio e recuperar o crescimento".

O diretor do FMI destacou, além disso, que as "autoridades irlandesas desenharam o programa de maneira que o ajuste econômico e financeiro seja partilhado por todos os níveis da sociedade, com maior proteção para os grupos mais vulneráveis".

O plano de ajuste fiscal irlandês, que procura estabilizar a dívida pública, prevê uma economia de 15 bilhões de euros entre 2011 e 2014, o equivalente a 9% de seu PIB. ENTENDA A NOVA CRISE GREGA A crise financeira da Grécia pode ter profundas implicações para outros países europeus e para a economia mundial.

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Num momento de protestos em Atenas contra as medidas de austeridade impostas pelo governo, o premiê George Papandreou tenta se manter no cargo, após anunciar mudanças no seu gabinete.

O premiê tenta também aprovar novas medidas de contenção de gastos necessárias para que a União Europeia e o FMI continuem efetuando os pagamentos do pacote de resgate que prometeram à Grécia.

A próxima parcela de 12 bilhões de euros (cerca de R$ 27 bilhões) do pacote quase certamente será paga, o que deve sustentar o governo grego por mais algumas semanas.

É provável que um segundo pacote seja discutido por ministros das Finanças do bloco europeu, mas ainda não está claro quais serão os termos do novo acordo. Por que a Grécia já precisa de um segundo pacote de resgate?

O pacote original foi aprovado há pouco mais de um ano, em maio de 2010. A razão para o resgate é que o país estava tendo dificuldades em obter dinheiro emprestado no mercado

para quitar suas dívidas. Por isso recorreu à União Europeia e ao FMI. A ideia era dar à Grécia tempo para sanear sua economia, o que reduziria os custos para que o país

obtivesse dinheiro no mercado. Mas isso não ocorreu até agora. Pelo contrário: a agência de classificação de risco S&P recentemente deu

à Grécia a pior nota de risco do mundo (dentre os países monitorados pela agência). Assim, o país continua tendo diversas dívidas a serem quitadas, mas não é capaz de obter dinheiro

comercialmente para refinanciá-las. Por que a Grécia está nessa situação?

A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida.

Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram.

Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos – deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de 2008.

O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida. O que a Grécia está fazendo para reverter a crise?

A Grécia apresentou planos para cortar seu déficit de maneira escalonada. Para alcançar isso, o Parlamento grego aprovou em maio um pacote de medidas de austeridade para

economizar 4,8 bilhões de euros. O governo quer congelar os salários do setor público e aumentar os impostos e ainda anunciou o

aumento do preço da gasolina. Pretende também aumentar a idade para a aposentadoria, em uma tentativa de economizar dinheiro no

sistema de pensões, já sobrecarregado. A população reagiu com protestos, alguns deles violentos. Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores

internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como “antipopulares” e

“bárbaras”. Por que a Grécia não declara moratória de suas dívidas?

Se o país não fosse membro da zona do euro, talvez fosse tentador declarar a moratória, o que significaria deixar de pagar os juros das dívidas ou pressionar os credores a aceitar pagamentos menores e perdoar parte da dívida.

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No caso da Grécia, isso traria enormes dificuldades. As taxas de juros pagas pelos governos da zona do euro têm sido mantidas baixas ante a presunção de que a UE e o Banco Central Europeu proveriam assistência a países da região, justamente para evitar calotes.

Uma moratória grega, além de estimular países como Irlanda e Portugal a fazerem o mesmo, significaria um aumento de custos para empréstimos tomados pelos países menores da UE, sendo que alguns deles já sofrem para manter seus pagamentos em dia.

Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu.

Por isso, enquanto a Europa conseguir bancar a ajuda aos países com problemas e evitar seu calote, é provável que continue fazendo isso. Então por que os países europeus não concordam logo com um novo pacote de resgate?

O problema é que o governo alemão quer que os bancos compartilhem as agruras de um segundo

resgate. Isso significaria que, em vez de a Grécia tomar dinheiro emprestado da UE para pagar dívidas de

vencimento imediato, os bancos teriam de concordar em renegociar essas dívidas, provavelmente em termos mais favoráveis aos gregos.

O governo francês e o Banco Central Europeu advertiram que tal reestruturação da dívida seria considerada por muitos como uma moratória, o que, por sua vez, continuaria dificultando que a Grécia voltasse a tomar empréstimos comercialmente.

Mas governos europeus talvez estejam sendo influenciados pela quantidade de dinheiro que seus próprios bancos já emprestaram aos gregos.

A agência de classificação de risco Moody’s já declarou que pode rebaixar a nota dos três maiores bancos da França por causa de sua vulnerabilidade à dívida grega. A crise na Grécia pode se espalhar?

Se a Grécia promover um calote, os problemas podem se espalhar para a Irlanda e Portugal. Mesmo sem uma moratória, ainda pode haver dificuldades, já que os pacotes de resgate oferecidos a esses dois países foram estruturados para ajudar Lisboa e Dublin até que seus governos fossem novamente capazes de obter dinheiro no mercado – como no caso de Atenas.

Um calote grego pode fazer com que investidores questionem se a Irlanda e Portugal não seguirão o mesmo caminho.

O problema real diz respeito ao que acontecerá com a Espanha, que só tem conseguido obter dinheiro no mercado a custos crescentes.

A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria muito mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país dessa dimensão. NOTA DA DÍVIDA DOS EUA É REBAIXADA A agência de classificação de risco Standard and Poor's rebaixou a nota da dívida americana de longo prazo para AA+

A Standard and Poor's considerou que o acordo fechado entre o governo americano e o Congresso para

elevar o teto do endividamento do país não foi suficiente para reduzir a preocupação com o futuro da economia dos EUA, para tanto, rebaixou a nota da dívida do país que tinha a nota máxima, AAA, para AA+. Esta foi a primeira vez na história que a agência classificou a dívida dos Estados Unidos abaixo do nível máximo.

Trata-se da primeira redução da nota dos Estados Unidos desde que obteve a classificação AAA da agência Moody's, em 1917, nota adotada pela S&P em 1941.

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Durante o dia, quando surgiram rumores sobre um possível rebaixamento da dívida americana, integrantes não-identificados do governo disseram à mídia do país que a análise da situação econômica feita pela agência estava profundamente equivocada.

O rebaixamento pode corroer ainda mais a confiança dos investidores externos na economia americana, que já enfrenta dificuldades para sair da recessão, com enormes dívidas e uma taxa de desemprego de 9,1%, considerada alta para o país.

A acusação de que houve um erro de cálculo de US$ 2 trilhões foi feita pelo Tesouro americano ao "Wall Street Journal".

"Considerando um horizonte de longo prazo de 10 anos, o nível de endividamento líquido dos Estados Unidos no cenário atual seria de US$ 20,1 trilhões (85% do PIB previsto para 2021). Se levado em conta o cenário original [antes dos cortes de gastos], o nível de endividamento projetado seria de US$ 22,1 trilhões (93% do PIB de 2021)", disse a S&P, segundo o "Wall Street Journal".

A agência diz que a decisão de rebaixamento não foi afetada pela mudança no cenário. O chefe de risco soberano da S&P, John Chambers, admitiu que houve um erro, dizendo: "nós

concordamos com a posição do Tesouro e nossos números refletem isso." Mas Chambers acrescentou que o erro não faz diferença na classificação de risco do país porque não

muda o fato de que a dívida vai crescer em relação ao PIB na próxima década. A nota AAA permitia que o governo dos EUA tomasse emprestado recursos a uma taxa de juros mais

baixa, uma vez que o governo é considerado estável e seus títulos, seguros. Com a mudança, títulos de países como Reino Unido, Alemanha, França ou Canadá passam a ser mais seguros que os norte-americanos.

S&P destacou que a perspectiva negativa aponta para a possibilidade de redução da nota para "AA" no prazo de dois anos caso o governo não reduza o gasto como prometeu, se as taxas de juros subirem ou se surgirem novas pressões fiscais piorando o panorama financeiro dos EUA.

Em seu comunicado, a S&P sugere que qualquer plano efetivo de redução do déficit exigirá cortes de ao menos 4 trilhões em 10 anos. O plano acertado entre o governo de Barack Obama e o Congresso prevê cortes de 2,4 trilhões.

Standard & Poor's é considerada a mais influente entre as três grandes agências de classificação de risco e mantém uma atitude mais agressiva em relação à dívida americana, cuja perspectiva foi reduzida de "estável" à "negativa" em abril passado.

Atualmente, há 17 países e três territórios (Hong Kong, Guernsey e Ilha de Man) cuja dívida está classificada como AAA pela S&P.

Evolução da dívida dos EUA

Entendendo a Classificação

O "rating" é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar seus compromissos financeiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classificação de risco, que emitem notas, expressas na forma de letras e sinais aritméticos, que apontam para o maior ou menor risco de ocorrência de um "default", isto é, de suspensão de pagamentos.

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Para publicar uma nota de risco de crédito, os especialistas dessas agências avaliam além da situação financeira de um país, as condições do mercado mundial e a opinião de especialistas da iniciativa privada, fontes oficiais e acadêmicas.

O "rating" é sempre aplicado a títulos de dívida de algum emissor. Se uma empresa quer captar recursos no mercado e oferece papéis que rendem juros a investidores, a agência prepara o "rating" desses títulos para que os potenciais compradores avaliem os riscos.

As agências, portanto, classificam debêntures, "medium-term notes", títulos de dívida conversível, mas não ações.

A nota de países é preparada a partir da iniciativa do emissor ou da empresa de "rating". As empresas de classificação de risco alegam que, mesmo sob encomenda, o "rating" é uma avaliação independente, porque também há preocupação com a credibilidade da própria agência.

O chamado "rating" global de um país, por exemplo, é sempre a avaliação que uma determinada agência tem sobre o risco dessa nação não pagar os títulos, de longo prazo, que lançou no mercado internacional.

Esses países também são encaixados em categorias. Se a agência considera um país como "bom pagador", ele é classificado na categoria "grau de investimento". Se é visto apenas como um pagador de risco razoável, fica na categoria "grau especulativo", que também inclui nações que declararam moratória de suas dívidas.

As agências monitoram constantemente os países ou empresas. Dessa forma, quando lançam um "rating", também avisam quais as chances dessa nota ser revisada no curto prazo.

Se o panorama é positivo significa que a nota tem maiores chances de ser melhorada. Se é negativo, as maiores chances são de que haja um "downgrade" (seja revisada para baixo, uma nota pior). Se é estável, há poucas chances de que seja mudada nos dois anos seguintes. Letras e Sinais

As três agências de classificação de risco de maior visibilidade são a Standard & Poor's, a Moody's e a Fitch Ratings.

Classificação de Risco

As agências usam praticamente o mesmo sistema de letras e sinais. Assim, a melhor classificação que um

país pode obter é Aaa (Moody's) ou AAA (Standard & Poor's) que, conceitualmente, significam "capacidade extremamente forte de atender compromissos financeiros".

Os sinais + ou - podem ser usados para denotar um status relativos entre as categorias de rating mais usadas.

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Na ponta oposta, um título classificado como "C", para a S&P ou a Moody's, tem altíssimo risco de não ser pago.

"A taxa média de 'default' [moratória] entre 1970-2000 para títulos [classificados como] Aaa sobre um período de 10 anos foi de apenas 0,67", afirma a Moody's.

Relação dos países mais seguros

NOVAS MUDANÇAS SOCIAIS NO BRASIL 33 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para integrar a nova classe média emergente beneficiados pelas políticas oficiais.

A nova classe média é também conhecida como classe C. O sucesso das políticas do governo brasileiro

para tirar milhões de pessoas da pobreza na última década vem provocando a criação de dois tipos opostos de classe média, afirma reportagem publicada pelo diário econômico britânico Financial Times.

O jornal observa que os 33 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza para integrar a nova classe média emergente foram os grandes beneficiados pelas políticas oficiais, enquanto a classe média tradicional considera que a situação no período ficou mais difícil.

O jornal comenta que 105,5 milhões dos 190 milhões de brasileiros são considerados hoje de classe média, mas que os 20 milhões da classe média tradicional, com renda mensal maior que R$ 5.174, estão “no lado perdedor”.

“Diferentemente da Índia, onde a antiga classe média se beneficiou com a criação de novas indústrias, como o fornecimento de serviços terceirizados de tecnologia da informação, muitos na classe média brasileira reclamam de aumentos de preços, impostos, infraestrutura congestionada e mais competição por empregos”, diz a reportagem.

A renda dos 50% mais pobres cresceu 68% em termos reais nos últimos dez anos, enquanto os 10% mais ricos viram sua renda crescer somente 10% no período. Outro dado ainda mais revelador, que mostra que a renda média dos analfabetos brasileiros cresceu 37% entre 2003 e 2009, enquanto aqueles com estudo universitário tiveram uma perda de 17% na renda no mesmo período. As mudanças representam um reordenamento da riqueza no país que estava pendente desde a abolição da escravatura, em 1888.

A reportagem afirma que “o processo tem sido em parte impulsionado pelo maior acesso à educação”, com o aumento da oferta de cursos universitários privados à nova classe média, que passou a competir com a classe média tradicional por empregos.

O efeito político da redução da pobreza levou a presidente Dilma Rousseff a lançar recentemente um programa para retirar outros 16 milhões de brasileiros da pobreza, mas afirma que isso não garantirá a ela os

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votos da classe média tradicional, concentrada nos Estados industrializados do sul do país, especialmente em São Paulo.

Crescimento das classe C e B no Brasil

“Alguns reclamam que o governo ajuda os pobres por meio de benefícios e aumentos salariais e os ricos por meio de empréstimos subsidiados para suas empresas”, diz a reportagem.

“Isso inunda a economia com dinheiro, levando à inflação, a qual o Banco Central tenta então combater com aumentos de juros, penalizando a classe média”, continua o Financial Times.

A reportagem conclui afirmando que “enquanto muitos nas classes médias tradicionais do Brasil concordam com a distribuição de renda, eles estão temerosos sobre o quanto isso está lhes custando”.

Classificação das classes sociais no Brasil

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas demonstra que a renda e o poder de compra das pessoas menos favorecidas têm crescido com o passar dos anos, e que o aumento dos trabalhos com carteira assinada também permitiu a diminuição gradativa do índice de desigualdade no país, fazendo com que a Classe C e B tenha maior representatividade de consumo no Brasil. NEGÓCIOS COM A CHINA O Brasil intensifica o comércio com o gigante asiático, seu maior parceiro econômico hoje.

Atualmente, boa parte das mercadorias que circulam pelos portos brasileiros dá meia volta ao mundo:

desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil é a China. Em 2010, as compras e vendas entre brasileiros e chineses chegaram a 56 bilhões de dólares, cerca de 15% de tudo o que o Brasil comercializou no ano.

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Para a China, nosso país exporta sobretudo commodities (produtos básicos ou matérias primas), como minério de ferro, soja e petróleo bruto. De lá, vêm muitos produtos manufaturados, como eletroeletrônicos. Por muitos anos, o grande parceiro comercial do Brasil foram os Estados Unidos (que ainda são a principal origem de nossas importações, com a China em segundo). Mas a relação com os chineses veio se estreitando nos últimos anos, e as compras dos EUA caíram, como resultado da crise econômica mundial iniciada em 2008, que esfriou a economia norte-americana. O dragão ganha força

O crescimento do comércio com os chineses não é um fenômeno brasileiro, mas uma marca da economia globalizada na última década. Na verdade, a economia da China cresce de forma acelerada há mais de três décadas e deu a ela o posto de maior exportador mundial. Agora, em fevereiro de 2011, a China tornou-se oficialmente a segunda maior economia do mundo, ultrapassando a do Japão, que ocupava o segundo lugar havia 42 anos. Em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu 10,3%, atingindo 5,87 trilhões de dólares.

O desenvolvimento da economia chinesa é resultado da política econômica iniciada pelo governo comunista há mais de 30 anos. A decisão foi atrair para o seu território empresas multinacionais, oferecendo vantagens como mão de obra barata, isto é, com salários muito baixos, e também benefícios fiscais. Hoje, a potência asiática conta com o maior estoque de reservas de moeda estrangeira do mundo (2,8 trilhões de dólares), graças a seguidos superávits na balança comercial (valor das exportações maior do que o das importações) e aos grandes investimentos estrangeiros na economia local.

O fortalecimento da China no mercado mundial, entretanto, vem provocando atritos com vários outros países, pois afeta diretamente suas economias, suas empresas e seu nível de emprego. Vem causando um desconforto, sobretudo nas relações com os Estados Unidos, a maior economia global.

Evolução da parceria do Brasil com a China

Commodities

As relações comerciais do Brasil com a China não têm só aspectos positivos. Isso porque o que os chineses querem por aqui são os produtos básicos para fazer a economia deles funcionar, como ferro e petróleo para suas

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indústrias e soja para sua produção de alimentos. Mas, para qualquer país do mundo, a maior vantagem é exportar produtos industrializados, cujo valor é muito maior.

Desde 1979, a exportação de manufaturados supera a de commodities no resultado da balança comercial do Brasil. No entanto, essa supremacia vem se reduzindo nos últimos anos, em razão da elevação no preço dos produtos básicos e do aumento das exportações brasileiras desses produtos, puxadas pela China. Os especialistas falam que a nossa balança comercial corre o risco de se "reprimarizar", ou seja, voltar a ter como principal pilar os produtos primários. Com isso, os resultados de nossa balança voltariam a ficar muito dependentes das commodities, que têm menor valor e que, por sua natureza, ficam mais sujeitas ao sobe e desce das cotações internacionais.

Além disso, ao mesmo tempo em que é maior comprador das commodities brasileiras, a China é um forte concorrente de nossas exportações de manufaturados. Segundo a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de 2004 a 2009 a concorrência chinesa abocanhou das empresas brasileiras 12,6 bilhões de dólares em exportações para a Argentina, os Estados Unidos e a União Europeia. Guerra cambial

Vê-se, assim, que as relações econômicas têm um aspecto de permanente guerra comercial, na qual cada

país quer o tempo todo obter os mercados dos demais. Nos últimos tempos, assistimos a uma variante desse cenário chamada de guerra cambial, com os países tentando manter a moeda barata em relação ao dólar (moeda padrão no comércio internacional) para facilitar suas exportações.

A China é o país mais acusado de manter a moeda muito barata (diz-se "depreciada" em relação ao dólar). Os EUA, o maior destino das exportações chinesas, acusam os chineses de usar métodos condenáveis para ampliar mercados, ao manter sua moeda, o iuan, muito desvalorizada. Nos últimos tempos, os produtos chineses inundam as prateleiras de boa parte das nações.

A China, com a força de seu mercado de mais de 1 bilhão de pessoas, tenta resistir às pressões. Já anunciou, porém, no início de 2011, que vai flexibilizar um pouco a taxa de câmbio, aumentando o valor do iuan de forma gradual. Já o governo dos EUA tem pressa, pois precisa combater o persistente déficit na balança comercial, e em novembro de 2010 decidiu injetar 600 bilhões de dólares no mercado, aumentando a oferta da moeda para desvalorizar o dólar, forçando a valorização das demais moedas. É uma queda de braço.

O Brasil acaba atingido pelos dois lados, pois sofre tanto com o iuan quanto com o dólar baratos. O país está com a moeda muito cara em relação ao dólar neste início de 2011, e o setor exportador pressiona o governo federal a adotar medidas que desvalorizem o real, para facilitar o crescimento das exportações (e inibir as importações). Caso contrário, o superávit na balança comercial brasileira pode tornar-se déficit já em 2012. Comércio bilateral gera tensões entre Brasil e China

O comércio bilateral entre Brasil e China vem ganhando força e trouxe muitos benefícios às duas

economias, mas também causou crescentes pressões sobre o setor manufatureiro para competir com as importações chinesas. Abaixo estão alguns fatos sobre o comércio entre os dois mercados emergentes:

Mais de três quartos das exportações do Brasil à China são de apenas três commodities - minério de ferro,

soja e petróleo bruto. No total, as matérias-primas formam 84% do total de exportações do Brasil em 2010, ante 79% no ano anterior;

Já as importações chinesas no Brasil são uma lista diversificada de produtos manufaturados de alto padrão: os três principais foram televisões, telas LCD e telefones. Esse tipo de produto forma 98% das importações chinesas no Brasil;

Parte dos problemas comerciais do Brasil podem ser atribuídos à recente alta do real. No entanto, o valor da moeda ante o iuan chinês mudou pouco nos últimos 12 meses;

O Brasil perdeu sua participação de mercado para a China entre seus principais parceiros comerciais, como a Argentina. O país foi responsável por 31,6% das importações da Argentina em 2010, ante 35,8% em 2005. Já a fatia da China quase triplicou no mesmo período, para 12,7%.

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GARGALOS DO CRESCIMENTO BRASILEIRO O Brasil tem hoje 29 mil quilômetros de ferrovia. Sua economia precisaria de, pelo menos, 50 mil.

Dia 4 de fevereiro de 2011, 33 milhões de pessoas que vivem em oito estados do Nordeste ficaram às

escuras - em alguns lugares, por até quatro horas. A causa apontada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi uma falha no sistema de transmissão, que fez uma linha que leva energia até o Nordeste ser desligada, por segurança. A presidente Dilma Rousseff pediu explicações mais detalhadas. Quatro dias depois, 2,5 milhões de moradores da cidade de São Paulo também ficaram sem eletricidade. O ministério alegou que o problema ocorreu devido à sobrecarga numa das subestações que abastecem a cidade.

Apagões como esses continuam se repetindo, principalmente no verão. Os blecautes são apenas a ponta do iceberg, a face mais fácil de identificar um problema maior: o Brasil carece de investimentos em infraestrutura, principalmente em energia e logística, para continuar seu crescimento econômico. Custo Brasil

A infraestrutura é entendida como obras e serviços que garantam a integração das diferentes regiões e da população brasileira à vida econômica do país, melhorando o aproveitamento dos recursos produtivos - como as redes de energia e de transporte, que dão suporte a todas as atividades econômicas. Uma boa infraestrutura movimenta o mercado interno, atrai investimentos, cria empregos e aumenta a competitividade do país no mercado internacional. Uma infraestrutura precária aumenta os custos de produção e comercialização, com efeitos negativos sobre a geração de emprego e custo de vida.

A infraestrutura é um dos itens que entram no cálculo do que os economistas chamam de custo Brasil - o custo para que empresas e indústrias invistam e produzam no país. As deficiências do país na área encarecem os produtos brasileiros em relação aos fabricados nos países desenvolvidos. É fácil entender por que os problemas de infraestrutura aumentam os custos de produção. A agropecuária e a indústria dependem de boas condições de logística - armazéns para estocar, vias e meios de transporte de boa qualidade e baratos para a chegada das matérias-primas e dos insumos e para a saída da produção. Assim como o setor de serviços, esses também precisam do fornecimento confiável de energia e de sistemas eficientes de comunicação. Investimentos

Investir em infraestrutura não é barato. A construção de imensas instalações físicas (como ferrovias e hidrelétricas) e sua interligação em redes e malhas que permitam seu funcionamento coordenado por largas extensões do território nacional são obras que exigem recursos muito altos e levam anos para ser concluídas. As obras devem, ainda, ser dimensionadas conforme as necessidades e os custos previstos para um futuro que envolve décadas. Ou seja, investir em infraestrutura exige, antes de mais nada, um bom planejamento de médio e longo prazos.

Vamos dar um exemplo simples: para instalar canos de distribuição de água em uma rua que está sendo aberta num bairro novo, é preciso prever quantas pessoas vão morar nessa rua e, com isso, dimensionar os canos. Se a previsão for feita com base em casas, e na rua forem construídos prédios, vai morar muito mais gente do que o previsto, e as instalações podem não dar conta da demanda. Do mesmo modo, se alguém quiser atrair indústrias para determinada cidade, é preciso - além da oferta de terrenos ou galpões - garantir uma rede elétrica compatível e vias para escoar a produção, entre outros aspectos de infraestrutura.

Por causa do valor e do período longo de investimentos, a infraestrutura é comumente assumida pelo poder público. Ainda que a iniciativa privada seja chamada pelos governos a jogar um papel cada vez mais importante nessa área, é do setor público o dever de oferecer o serviço e regulamentar as atividades, garantindo o atendimento às necessidades de toda a sociedade, que paga tarifas pelos serviços prestados.

Um levantamento feito pela Fundação Dom Cabral, em Minas Gerais, indica que, com a retomada do crescimento econômico, em 2009, o setor privado acelerou o ritmo de investimentos em infraestrutura. Das 76 grandes empresas ouvidas, 91% haviam injetado recursos na área de logística, particularmente na melhoria de portos, ferrovias e armazéns. São grandes companhias, como Vale, Gerdau e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), cujos produtos têm o preço diretamente afetado pela qualidade da infraestrutura.

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Diante do atual crescimento econômico do Brasil e das boas perspectivas futuras, os governos estaduais - e principalmente o federal - anunciam planos de investimento para a ampliação e modernização da infraestrutura. Isso aparece num estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), publicado em 2010. A análise indica que os investimentos previstos para o quadriênio 2010-2013 são 37% superiores aos realizados entre 2005 e 2008.

Há quem considere pouco. O banco de investimentos Stanley Morgan, num estudo divulgado em maio de 2010, mostra que, em comparação à década de 1980, os investimentos brasileiros atuais caíram de 3,6% para pouco mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Para a instituição financeira norte-americana, se quiser acompanhar o ritmo de crescimento da Coreia do Sul, o Brasil terá de investir a cada ano algo entre 6% e 8% do PIB, pelos próximos 20 anos. Só para empatar com o Chile já seriam necessários investimentos da ordem de 4% do PIB. PAC

A principal iniciativa do governo federal para ampliar os investimentos em infraestrutura é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Lançado em 2007 e com uma revisão feita em 2009, o PAC elenca uma série de obras, estabelece metas, valores e cronogramas. Além disso, define medidas institucionais e fiscais para incentivar os investimentos dos setores público e privado. Entre outras ações, o programa estabelece um plano para a construção, reforma ou recuperação de rodovias, melhoria e ampliação de ferrovias, portos e aeroportos. No setor de energia, o PAC prevê aumento de 12,4 mil megawatts em geração de eletricidade e instalação de quase 14 mil quilômetros de linhas de transmissão. O plano contempla, ainda, obras urbanas de habitação e saneamento.

Em sua fase inicial, o PAC previa, até 2010, investimentos em logística (obras como rodovias, hidrovias, ferrovias e aeroportos), energia (eletricidade, petróleo, gás natural e energias renováveis) e infraestrutura social e urbana (habitação, saneamento, recursos hídricos, transporte urbano e eletricidade). Em janeiro deste ano, o Ministério do Planejamento anunciou que o PAC 2 - o programa revisto em 2009 - terá investimentos de 955 bilhões de reais até 2014.

O PAC sofre críticas dos opositores, que reclamam de atraso nas obras do governo, fazem acusações de corrupção e desvio de verbas. Os críticos queixam-se, ainda, da dificuldade em acompanhar a evolução nas diversas frentes de atividades envolvidas no programa. Segundo o décimo balanço oficial do PAC, de julho de 2010, os investimentos totalizavam à época 464 bilhões de reais - o correspondente a mais de 70% do total previsto para o período 2007-2010. Mas as obras concluídas somavam apenas 46% do montante originalmente previsto. Questão ambiental

Parte do empresariado atribui esses atrasos a polêmicas em torno de questões ambientais. Para que o projeto de uma usina saia do papel, as empresas responsáveis pelas obras devem garantir a preservação do ambiente da região e a proteção das populações locais. O plano para a construção do complexo hidrelétrico de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, é um exemplo disso. Projetada ainda nos anos 1980, Belo Monte é uma das principais obras do PAC. A terceira maior hidrelétrica do mundo deverá começar a operar em 2015, gerando 11 mil megawatts.

Ambientalistas, organizações não governamentais, comunidades indígenas e o Ministério Público questionam o empreendimento. Dizem que, além de destruir a mata, ele alterará a vazão do rio. O desvio de parte do Xingu deverá secar outro trecho do rio - o que prejudicará o ecossistema e as populações ribeirinhas. Isso tudo, sem a garantia de geração de energia nos meses de seca, já que o projeto não prevê um lago de represamento das águas. Só em janeiro de 2011 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a licença para a instalação das primeiras estruturas de apoio das obras. A construção da usina em si exigirá outras licenças.

Uma hidrelétrica - particularmente o lago reservatório - afeta o ambiente e as comunidades do entorno. Mas esse tipo de usina constitui ainda a melhor opção para o Brasil. O país tem enorme potencial hídrico. Além

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disso, comparada às termelétricas, que trabalham com a queima de carvão ou biomassa, as hidrelétricas são bem menos poluentes.

Da capacidade total de geração de eletricidade do país, mais de 70% correspondem às hidrelétricas. Só que, ano a ano, as termelétricas respondem por uma fatia cada vez maior dessa capacidade. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 1998 e 2008, as termelétricas aumentaram sua participação na matriz de energia elétrica de 12% para mais de 22%. Transportes

A logística - que inclui transporte e armazenagem - é outro grande gargalo do desenvolvimento. Os

empresários reclamam que os portos - principais vias para importações e exportações - sofrem com a falta de investimentos. Segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo, a movimentação de carga no Porto de Santos, o maior do país, deve triplicar entre 2010 e 2024, passando de 95 milhões de toneladas para 230 milhões. Para dar conta dessa demanda, o porto precisa de novos terminais, melhoria nas operações de estiva, obras de drenagem e novos atracadouros. São necessárias, ainda, novas linhas ferroviárias, para facilitar a chegada e a saída de mercadorias. Hoje, cerca de 85% da carga que chega a Santos vem do interior do país em caminhões - o que encarece os custos.

A questão rodovia versus ferrovia passa pela matriz de transporte brasileira, fortemente calcada nas rodovias. Essa é uma herança da política desenvolvimentista dos anos 1960: para incentivar os investimentos de montadoras estrangeiras no país, o governo começou a construir milhares de quilômetros de estradas.

O problema é que o transporte rodoviário é muito caro em comparação com as modalidades hidroviária e ferroviária. Esse é um dos principais fatores para os altos custos de logística no Brasil. Um estudo do Ipea, de 2009, mostra que, em 2004, o Brasil gastava 17% do Produto Interno Bruto (PIB) em transporte, estoque, armazenagem e administração. Nos Estados Unidos, esse custo era pouco maior que 10% do PIB. Mais recentemente, o Banco Mundial divulgou dados referentes a 2008, segundo os quais os custos de logística brasileiros correspondem a 15,4% do PIB. Aeroportos

Não é só no transporte de carga que Brasil pena. Passageiros também sofrem. Há anos, os aeroportos

brasileiros dão sinal de que estão sobrecarregados, beirando o esgotamento. No fim de 2006, aconteceu o primeiro "apagão" aéreo. Na ocasião, reivindicações trabalhistas de funcionários retardaram as operações, o que fez com que centenas de voos fossem remarcados ou cancelados. Com isso, os aeroportos ficaram abarrotados de passageiros dormindo nos saguões.

Naquele ano, as companhias aéreas tiveram prejuízos da ordem de 40 milhões de dólares. E o Brasil descobriu quão inseguras são as asas em que voamos. Uma investigação do Tribunal de Contas da União concluiu que o colapso aeroviário foi resultado de má gestão, equívocos, incapacidade de expandir o setor e corte de recursos.

Pouca coisa mudou nos últimos cinco anos. Um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo, mostra que, com o crescimento da demanda em torno de 15% ao ano - resultante da melhora da renda de milhões de brasileiros -, a porcentagem de voos atrasados deve subir dos 11% registrados em 2010 para 44% em 2013.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (lata) declarou a situação dos aeroportos brasileiros "desastrosa". Para os especialistas, se não forem tomadas providências de fôlego e feitos investimentos significativos, o país terá sérios problemas durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. A questão é tão séria que a presidente Dilma anunciou, pouco depois de eleita, a criação de uma pasta especial, com status de ministério, para administrar o setor aéreo nacional, com prioridade para a construção ou ampliação dos aeroportos. PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE NOVOS ESTADOS BRASILEIROS Os movimentos de separação já têm mais de 20 anos. Vem desde as discussões para elaboração da Constituição de 1988.

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No começo do ano, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que propunha a criação de um

plebiscito para dividir o Pará em três novos estados: Pará, Tapajós e Carajás. Além dessa votação, oito projetos de lei que propõem a criação de novos estados no país tramitam na Câmara. Entre eles, estão a criação do Maranhão do Sul, do Mato Grosso do Norte e do Estado do Rio São Francisco, na Bahia. Se todos fossem aprovados, o Brasil teria 33 estados, um Distrito Federal e quatro territórios – porções fronteiriças do País que seriam administradas diretamente pelo governo federal.

A região Norte sofreria a maior mudança em sua geografia porque, além do desmembramento do Pará, abrigaria os quatro territórios: Rio Negro, Solimões, Juruá e Oiapoque. No Nordeste, são três ideias: o Estado do Maranhão do Sul, o da Gurgueia (desmembramento do Piauí) e o do Rio São Francisco (separação de parte da Bahia). Já no Centro-Oeste, o movimento se concentra no Estado do Mato Grosso, onde podem surgir duas novas divisões: Mato Grosso do Norte e Araguaia. Houve algumas modificações durante a ditadura, como a criação do Estado do Mato Grosso do Sul e a unificação do Rio de Janeiro, mas elas não foram tratadas em nível nacional.

Os movimentos de separação já têm mais de 20 anos. Durante as discussões para elaboração da Constituição de 1988, regiões manifestaram interesse em se tornarem independentes. Uma delas é o atual Tocantins, que pertencia à Goiás.

Naquele contexto, emergiram várias propostas de divisão do território nacional. Praticamente em todas as regiões surgiram movimentos com essa perspectiva. Isso, em parte, pode ser explicado em função de que a matéria foi colocada em segundo plano durante todo o regime militar.

O principal argumento para a criação dos novos estados é a necessidade de desenvolver as regiões mais pobres e remotas de estados do Norte e do Nordeste, seguindo o exemplo de Tocantins e Mato Grosso do Sul.

Para cada um dos novos estados seria necessária a implantação de uma sede de governo, com secretarias estaduais e órgãos de prestação de serviços públicos, além da construção da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Justiça, do Tribunal de Contas e de várias outras unidades do Poder Judiciário. A aprovação, na Câmara dos Deputados, da criação dos estados de Carajás e Tapajós, resultantes do desmembramento do Pará, pode levar à farra da criação de novos estados, tão danosa ao país quanto à dos municípios, que se arrasta pelas últimas décadas com o objetivo de favorecer mais aos caciques e apetites políticos do que ao povo.

Mapa com novos estados e territórios

Divisão do estado do Pará

O decreto que autoriza a realização de um plebiscito sobre a criação do Estado do Tapajós, no prazo de

seis meses foi publicado em 03/06/11. Caso aprovada, a nova unidade será desmembrada da área do Pará onde se situam as cidades de

Almeirim, Prainha, Monte Alegre, Alenquer, Óbidos, Oriximiná, Faro, Juruti, Belterra, Santarém, Porto de Moz,

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Vitória do Xingu, Altamira, Medicilândia, Uruará, Placas, Aveiro, Itaituba, Trairão, Jacareacanga, Novo Progresso, Brasil Novo, Curuá, Rurópolis, Senador José Porfírio, Terra Santa e Mojuí dos Campos. O decreto autorizando o plebiscito para a criação do Estado do Carajás, outra separação do Pará, foi publicado no dia 27 de maio de 2011 no Diário Oficial.

Se for aprovada, a nova unidade será composta pelas seguintes cidades: Abel Figueiredo, Água Azul do Norte, Anapu, Bannach, Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Breu Branco, Canaã dos Carajás, Conceição do Araguaia, Cumaru do Norte, Curionópolis, Dom Elizeu, Eldorado do Carajás, Floresta do Araguaia, Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá, Marabá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Ourilândia do Norte, Pacajá, Palestina do Pará, Parauapebas, Pau d'Arco, Piçarra, Redenção, Rio Maria, Rondon do Pará, Santa Maria das Barreiras, Santana do Araguaia, São Domingos do Araguaia, São Félix do Xingu, São Geraldo do Araguaia, São João do Araguaia, Sapucaia, Tucumã, Tucuruí e Xinguara.

O Carajás seria a unidade mais rica da região, em razão das atividades de mineração.

A divisão do estado do Pará

Histórico

A Câmara dos Deputados aprovou no começo de maio os plebiscitos para a população decidir se concorda com a criação do Estado do Carajás e o do Tapajós, ambos como desmembramento do Pará. O projeto sobre o Tapajós voltou ao Senado, mas foi aprovado no dia 31 de maio de 2011.

A divisão do Pará em três partes pode custar caro aos contribuintes de outras regiões do país. De acordo com o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Rogério Boueri, a manutenção de Carajás e Tapajós causaria um saldo negativo anual de cerca de R$ 2 bilhões à União, caso seja aprovada a proposta de criação dos dois novos estados.

Caso os estados sejam criados, o país vai precisar mexer nas cadeiras da Câmara e Senado e, com isso, mudar as forças de cada região no Legislativo. No mínimo, será preciso criar 61 novas vagas nas esferas federal e estadual. PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO Apesar de possuir a sexta maior reserva mundial de urânio, o Brasil não domina o processo de enriquecimento.

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O Brasil começou a desenvolver seu programa nuclear em 1967, com a criação de um grupo de trabalho integrado por representantes do Ministério das Minas e Energia, da Eletrobras e da Comissão Nacional de Energia Nuclear(Cnen). Em 1969, comprou da Westinghouse Eletric Company (EUA) seu primeiro reator nuclear. Em 1972, iniciaram-se as obras da Usina Nuclear Angra I, no município de Angra dos Reis (RJ), próximo aos polos industriais de São Paulo e Rio de Janeiro.

Em 1974, um ano após a crise do petróleo, o governo decidiu implantar um ambicioso programa nuclear com o objetivo de desenvolver tecnologia própria e ampliar a produção para atender às necessidades das décadas seguintes. Em junho de 1975, um acordo com a então Alemanha Ocidental, definiu a aquisição de oito usinas nucleares junto com a transferência de tecnologia para o Brasil.

Atualmente há duas usinas nucleares em funcionamento: Angra I e Angra II. A primeira, inaugurada em 1981, tem apresentado problemas constantes e funcionamento intermitente, sendo por isso conhecida como usina vaga-lume; em 1998, interrompeu 11 vezes o funcionamento de seus reatores por problemas de segurança.

O projeto prevê também o funcionamento de uma terceira usina, a Angra III. Elas utilizam tecnologia ultrapassada e não têm apresentado soluções para o problema da destinação dos resíduos radioativos (problema comum às usinas nucleares de todo o mundo).

Apesar de possuir a sexta maior reserva mundial de urânio, o Brasil não domina o processo de enriquecimento (feito na Alemanha e nos Países Baixos). Outro problema é que o solo onde se localiza a usina apresenta instabilidade geológica, exigindo obras de estaqueamento (ação de colocar estacas de madeira, metal ou concreto armado para escorar ou sustentar uma obra), para sua sustentação. É interessante observar que a usina situa-se na praia de Itaorna, nome que em tupi-guarani quer dizer “pedra podre”.

A Eletrobras Termonuclear (Eletronuclear), controlada pelas Centrais Elétricas Brasileiras S.A., é responsável pela construção e operação de usinas nucleares, além da geração, transmissão e comercialização de energia elétrica delas decorrente. No entanto, a eletricidade que gera é irrisória e inconstante.

O programa nuclear brasileiro foi um enorme fracasso. Decorridos mais de 30 anos desde a sua criação (1967), e apesar de ter consumido bilhões de dólares, as outras usinas previstas não foram construídas. Além dos riscos de acidentes e do elevado custo (o acordo Brasil-Alemanha foi orçado em 30 bilhões de dólares), sua implantação foi precipitada, uma vez que o país dispõe de grande potencial hidráulico. O preço do quilowatt de energia nuclear é cerca de três vezes maior que o da hidroelétrica. Apesar de não expelirem fumaça e não necessitarem de barragens, a s usinas nucleares são as mais perigosas para o meio ambiente. No Brasil, na hipótese de contaminação, parte do litoral brasileiro, onde se situam, estariam comprometidas. A construção de Angra III

A licença ambiental prévia para a construção da usina nuclear Angra III, no Rio de Janeiro, tem 60 exigências que a estatal Eletronuclear terá que cumprir antes de receber autorização para as obras. O documento foi assinado em julho de 2008 pelo presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Messias. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou que as exigências são “brutais”. Entre as exigências condicionantes, está a solução definitiva do tratamento do lixo nuclear, a criação de um sistema independente de monitoramento dos níveis de radiação, a realização de obras de saneamento básico dos municípios de Angra dos Reis e Paraty e a gestão do Parque Ecológico da Serra da Bocaina.

A Eletronuclear e a prefeitura de Angra dos Reis chegaram a um acordo sobre as compensações socioambientais para a concessão da licença de uso do solo para a retomada das obras na Usina Nuclear Angra 3. Ficou acertado que, para atender às condicionantes estabelecidas pela licença ambiental, serão destinados R$ 317 milhões em projetos e atividades que serão executados entre 2009 e 2014.

Desse total, R$ 150 milhões serão aplicados em Angra dos Reis em convênios diretos da Eletronuclear com a prefeitura. Mais R$ 167 milhões serão destinados ao município, mas por meio de convênios com os governos estadual e federal e entidades não governamentais. A prefeitura de Angra dos Reis informou que os recursos serão utilizados principalmente na execução de projetos nas áreas de saúde, saneamento básico, educação e meio ambiente.

Para que as obras sejam retomadas, ainda falta a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o aditivo do contrato de construção civil, previsto para ser concedido este mês. As construção de Angra 3 foram

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paralisadas em 1986. O cronograma da obra prevê que a usina entre em operação em 2014.Angra 3 terá potencial energético de 1.350 megawatts. O custo estimado para as obras é de R$ 7,3 bilhões. Os rejeitos radioativos

O Ibama exige que o empreendedor deverá iniciar a execução do projeto para disposição final dos rejeitos radioativos de alta atividade antes do início da operação da Unidade 3. O monitoramento da radiação deverá ser feito por uma fundação universitária ou empresa independente da Eletronuclear. Num prazo de 90 dias, a contar da data de assinatura do documento, deve ser apresentado ao Ibama o relatório do monitoramento sísmico efetuado na região.

A empresa responsável pela obra também deverá investir até o limite de R$ 50 milhões em saneamento das cidades de Angra dos Reis e Paraty, ambas no Rio de Janeiro, e adotar o Parque Nacional da Serra da Bocaina, localizado na divisa entre os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, e construir a Estrada Parque da Bocaina, no trecho Paraty-Cunha.

A licença ambiental prévia exige ainda realização de projeto de educação ambiental, prevendo atividades de conscientização, para acabar com a pesca de arrasto e propor novas atividades pesqueiras. Também deverá conscientizar a população sobre a importância dos ecossistemas de mangues, restingas e Mata Atlântica. Os conteúdos e as estratégias didático-pedagógicas do Programa de Educação Ambiental deverão ser detalhados pelo empreendedor.

A empresa ou consórcio responsável pela obra também deverá apresentar os resultados dos estudos técnicos desenvolvidos pela Fiocruz sobre possíveis efeitos de radiação, a longo prazo, na população do entorno do empreendimento. Os postos de saúde de Mambucaba e Cunhambebe deverão ser beneficiados por meio de convênios.

A população das áreas de influência do empreendimento deverá ser assistida por programas de inserção social. E devem ser elaborados programas de ações direcionados às populações indígenas e quilombolas, com a participação de seus integrantes. A usina nuclear de Angra III exigirá investimentos de R$ 7,3 bilhões e terá capacidade para gerar 1.350 megawatts. Os perigos da radioatividade: o caso de Goiânia

Se levarmos em conta apenas a utilização pacífica da energia nuclear, ainda teremos muitos problemas advindos da manipulação incorreta e de acidentes em instalações ou em equipamentos atômicos. Os resíduos tóxicos radioativos apresentam um grau de intromissão muito alto no meio ambiente e na vida das pessoas, pois, mesmo decorridos milênios, ainda estarão ocasionando danos.

Muitos materiais nucleares são empregados em tratamentos médicos e em pesquisas científicas. No dia 13 de setembro de 1987, um equipamento com uma cápsula de césio (com 3 centímetros e pesando 90 gramas) foi encontrado por dois sucateiros nas antigas dependências do Instituto de Radioterapia de Goiânia. O material, abandonado de maneira irresponsável pelos proprietários do instituto, desencadeou o mais grave acidente radioativo no Brasil. Pensando tratar-se de uma peça de chumbo valiosa, eles a levaram a um ferro-velho, onde o comprador abriu-a a marteladas. Nos dias subsequentes, vizinhos e familiares manusearam aquele pó radioativo e encantaram-se com o seu intenso brilho azul. Brincaram como se estivessem em uma festa. Todas as pessoas que entraram em contato com o césio 137 contaminaram-se e passaram mal.

Uma área com um raio de 2.000 m2 teve de ser isolada por causa da radiação. Oficialmente, quatro pessoas morreram e 706 foram expostas à radiação (55 atingidas por dosagens altas). A limpeza do ferro-velho e da região contaminada resultou em outro problema: 6 mil toneladas de lixo radioativo, hoje depositados em Abadia de Goiás, sob controle da Cnen.

Muitos materiais radioativos, com poder terapêutico, são largamente empregados no tratamento do câncer (radioterapia). Podem apresentar alguns dos efeitos de verdadeiras bombas de césio e de cobalto e encontram-se espalhados por todo o território do país, em grande quantidade e sem controle ou fiscalização adequados.

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RADIAÇÃO NUCLEAR NO JAPÃO Depois do tsumani que atingiu o Japão o mundo voltou os olhos para o país. A grande preocupação é com a Usina Atômica Fukushima Daiichi.

Após uma terceira explosão em um de seus reatores nucleares, a usina de Fukushima Daiichi, 250 km a

noroeste de Tóquio, no Japão, começou a deixar escapar radiação em níveis que se aproximam do preocupante, alertaram nesta terça-feira as autoridades japonesas. Entenda os risco do vazamento nuclear no Japão. Qual é a escala do vazamento de material radioativo?

O governo japonês afirmou que os níveis de radiação após as explosões na usina de Fukushima podem afetar a saúde humana. Foram detectados níveis de radiação mais altos ao sul da instalação. Moradores que vivem em um raio de 30 km da usina foram aconselhados a deixar suas residências ou permanecer em casa a portas fechadas para evitar exposição. Em Tóquio, os níveis estariam acima do normal, mas sem apresentar riscos à saúde. As autoridades em Fukushima haviam informado que 190 pessoas foram expostas a radiação e um navio militar americano, o porta-aviões USS Ronald Reagan, havia detectado baixos níveis de radiação a uma distância de 160 km da usina de Fukushima. O vazamento pode se espalhar para os países vizinhos?

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) descreveu o vazamento como um evento de nível

quatro em uma escala internacional, o que significa um incidente "com consequências locais". Na Rússia, por exemplo, não foram detectados níveis anormais de radiação e por ora o problema não representa um problema para outras partes do mundo. Que tipo de material radioativo escapou?

As informações são de que houve vazamento de isótopos de césio e iodo nas redondezas da usina. Especialistas dizem que seria natural haver também um escape de isótopos de nitrogênio e argônio. Mas não há evidências de que tenham escapado plutônio ou urânio. Qual é o risco destas substâncias radioativas para a saúde?

Em um primeiro momento, a exposição a níveis moderados de radiação pode resultar em náusea, vômito, diarreia, dor de cabeça e febre. Em altos níveis, essa exposição pode incluir também danos possivelmente fatais aos órgãos internos do corpo. No longo prazo, o maior risco do iodo radioativo é o câncer, e as crianças são potencialmente mais vulneráveis. A explicação para isso é que, nas crianças, as células estão se multiplicando e reproduzindo mais rapidamente os efeitos da radiação. O desastre de Chernobyl, em 1986, resultou em um aumento de casos de câncer de tireoide (região em que o iodo radioativo absorvido pelo corpo tende a se concentrar) na população infantil da vizinhança da usina. Há prevenção e tratamento?

Sim, é possível prevenir o problema com pastilhas de iodo não radioativo, porque o corpo não absorve iodo da atmosfera se já estiver "satisfeito" com todo o iodo de que necessita. Especialistas dizem que a dieta dos japoneses já é rica em iodo, o que ajuda na prevenção. Césio, urânio e plutônio radioativos são prejudiciais, mas não atacam nenhum órgão do corpo em particular. O nitrogênio radioativo se dissipa em segundos após a sua liberação, e o argônio não apresenta riscos para a saúde.

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Como se deu o vazamento do material radioativo?

A usina de Fukushima teve problemas com o sistema de resfriamento de seus reatores, que

superaqueceram. A produção de vapor gerou um acúmulo de pressão dentro do reator e a consequente liberação de pequenas quantidades de vapor. Para especialistas, a presença de vapores de césio e iodo – que resultam do processo de fissão nuclear – sugere que o invólucro de metal que guarda alguns dos bastões de combustível pode ter se quebrado ou fundido. Mas o combustível de urânio em si tem um altíssimo ponto de fusão e é improvável que tenha se liquefeito, e ainda mais improvável que tenha se convertido em vapor. De que outras formas pode haver vazamento?

Como plano de contingência, os técnicos estão usando água do mar para resfriar os reatores. Na passagem pelo reator, esta água é contaminada. Ainda não está claro se o líquido ou parte dele foi liberado na natureza. Quanto tempo vai durar a contaminação?

O iodo radioativo se dissipa rapidamente e a estimativa é de que a maior parte terá se dissipado em um mês. O césio radioativo não permanece no corpo por muito tempo – a maior parte terá saído em um ano. Entretanto, a substância fica no ambiente e pode continuar a representar um risco por muitos anos. Pode haver um desastre nos moldes de Chernobyl?

Especialistas dizem que essa possibilidade é improvável. As explosões ocorreram do lado de fora do compartimento de aço e concreto que envolve os reatores, que aparentemente permanecem sólidos. Foram danificados apenas o teto e os muros erigidos ao redor dos compartimentos de proteção. No caso de Chernobyl, a explosão expôs o núcleo do reator ao ar. Por vários dias, seguiu-se um incêndio que lançou na atmosfera nuvens de fumaça carregadas de conteúdo radioativo. Pode haver uma explosão nuclear?

Não. Uma bomba nuclear e um reator nuclear são coisas diferentes. O PRÉ-SAL Estimativas apontam que a camada, no total, pode abrigar algo próximo de 100 bilhões de boe (barris de óleo equivalente) em reservas, elevando a posição do Brasil.

Sem sombra de dúvida, as novas reservas descobertas já colocam o Brasil em outro patamar no mapa

geopolítico do petróleo. Mesmo que se considere apenas os poucos dados disponíveis sobre esta nova província petrolífera, o Brasil deixou de ser um produtor de petróleo de médio porte e baixa qualidade. Não se está produzindo petróleo em Tupi. Ainda. Mas já é possível prever que o Brasil terá papel importante no mercado internacional. As relações já mudaram. O ciclo de produção na indústria de petróleo é de longo prazo. Algumas vezes, campos descobertos demoram anos para serem explorados. Ainda mais quando se trata de reservas em locais de difícil acesso. Este é o caso de Tupi. Na década de 1970, a Petrobras já sabia do potencial do local. Até reportagens foram publicadas revelando que havia uma acumulação naquela formação geológica. Contudo, a tecnologia de sísmica da época não permitia definir com precisão o tamanho do campo. E mesmo tendo indicações de que era um mamute – jargão da indústria para campos gigantes – não havia tecnologia para tirar uma gota daquele petróleo de lá. Agora, a situação é diferente. A Petrobras é uma das empresas com a tecnologia mais avançada para exploração de petróleo em águas profundas. Fruto do esforço de exploração do petróleo nas águas da bacia de Campos.

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Origem do Pré-sal

O petróleo do pré-sal está em uma rocha reservatório localizada abaixo de uma camada de sal nas profundezas do leito marinho. Entre 300 e 200 milhões de anos havia um único continente, a Pangeia, que há cerca de 200 milhões de anos se subdividiu em Laurásia e Gondwana. Há aproximadamente 140 milhões de anos teve inicio o processo de separação entre as duas placas tectônicas sobre as quais estão os continentes que formavam o Gondwana, os atuais continentes da África e América do Sul. No local em que ocorreu o afastamento da África e América do Sul, formou-se o que é hoje o Atlântico Sul. Nos primórdios, formaram-se vários mares rasos e áreas semi-pantanosas, algumas de água salgada e salobra do tipo mangue, onde proliferaram algas e microorganismos chamados de fitoplâncton e zooplâncto. Estes micro-organismos se depositavam continuamente no leito marinho na forma de sedimentos, misturando-se a outros sedimentos, areia e sal, formando camadas de rochas impregnadas de matéria orgânica, que dariam origem às rochas geradoras. A partir delas, o petróleo migrou para cima e ficou aprisionado nas rochas reservatórios, de onde é hoje extraído. Ao longo de milhões de anos e sucessivas Eras glaciais, ocorreram grandes oscilações no nível dos oceanos, inclusive com a deposição de grandes quantidades de sal, que formaram as camadas de sedimento salino, geralmente acumulado pela evaporação da água nestes mares rasos. Estas camadas de sal voltaram a ser soterradas pelo oceano e por novas camadas de sedimentos quando o gelo das calotas polares voltou a derreter nos períodos inter-glaciais. Estes microrganismos sedimentados no fundo do oceano, soterrados sob pressão e com oxigenação reduzida, degradaram-se muito lentamente e, com o passar do tempo, transformaram-se em petróleo, como o que é encontrado atualmente no litoral do Brasil.

Localização da camada pré-sal

O pré-sal

A chamada camada pré-sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, e engloba três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos). O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal que, segundo geólogos, conservam a qualidade do petróleo.

Vários campos e poços de petróleo já foram descobertos no pré-sal, entre eles o de Tupi, o principal. Há também os nomeados Guará, Bem-Te-Vi, Carioca, Júpiter e Iara, entre outros. Um comunicado, em 2007, de que Tupi teria reservas gigantes, fez com que os olhos do mundo se voltassem para o Brasil e ampliassem o debate acerca da camada pré-sal. À época do anúncio, a então ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) chegou a dizer que o Brasil tem condições de se tornar exportador de petróleo com esse óleo.

Tupi tem uma reserva estimada pela Petrobras entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo, sendo considerado uma das maiores descobertas do mundo dos últimos sete anos.

Para termos de comparação, as reservas provadas de petróleo e gás natural da Petrobras no Brasil ficaram em 13,920 bilhões (barris de óleo equivalente) em 2007, segundo o critério adotado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). Ou seja, se a nova estimativa estiver correta, Tupi tem potencial para até dobrar o volume de óleo e gás que poderá ser extraído do subsolo brasileiro.

Estimativas apontam que a camada, no total, pode abrigar algo próximo de 100 bilhões de boe (barris de óleo equivalente) em reservas, o que colocaria o Brasil entre os dez maiores produtores do mundo.

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A Petrobras, uma das empresas pioneiras nesse tipo de perfuração profunda, porém, não sabe exatamente o quanto de óleo e gás pode ser extraído de cada campo e quando isso começaria a trazer lucros ao país.

Ainda no rol de perguntas sem respostas, a Petrobras não descarta que toda a camada pré-sal seja interligada, e suas reservas sejam unitizadas, formando uma reserva gigantesca.

Camadas do pré-sal

Justamente por conta do desconhecimento sobre o potencial da camada pré-sal o governo decidiu que

retomará os leilões de concessões de exploração de petróleo no Brasil apenas nas áreas localizadas em terra e em águas rasas. Afinal, se a camada for única, o Brasil ainda não tem regras de como leiloaria sua exploração.

Assim, toda a região em volta do pré-sal não será leiloada até que sejam definidas as novas regras de exploração de petróleo no país (Lei do Petróleo), que voltaram a ser discutidas pelo Planalto - foi criada uma comissão interministerial para debater modelos em vigor em outros países e o destino dos recursos do óleo extraído.

Além disso, o governo considera criar uma nova estatal para administrar os megacampos, que contrataria outras petrolíferas para a exploração - isso porque os custos de exploração e extração são altíssimos. Os motivos alegados no governo para não entregar a região à exploração da Petrobras são a participação de capital privado na empresa e o risco de a empresa tornar-se poderosa demais.

Maiores produtores de petróleo

Apesar do alto custo para a exploração do petróleo no pré-sal, será viável mesmo se o preço do petróleo cair a US$ 35 por barril. Um cenário em que poucos acreditam atualmente. A este valor, apenas Tupi renderia aos

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cofres da Petrobras algo entre US$ 175 bilhões e US$ 280 bilhões. As estimativas foram feitas com base na estimativa de reservas de Tupi da própria Petrobras que variam de 5 bilhões a 8 bilhões de barris. Neste valor não estão inclusas as receitas dos outros poços do pré-sal conhecidos por enquanto: Júpiter, Carioca, Bem-te-vi, Caramba, Iara e Parati. USINAS NA FLORESTA GERAM DEBATES E CONFLITOS A construção de três usinas nos rios Madeira e Xingu provoca conflitos de interesses entre governo e ambientalistas e até problemas trabalhistas.

A expansão do sistema elétrico brasileiro para a Região Norte do país, planejada há mais de três décadas para explorar o potencial hídrico das bacias da Amazônia tem ocupado grande espaço no noticiário e provocado debates na vida nacional nos últimos anos, especialmente em 2010 e 2011. Nestes dois anos, foram iniciadas as obras das represas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, e autorizada a construção da usina de Belo Monte, no Pará.

Trata-se de três usinas de grande porte, e a maior delas, Belo Monte, será a segunda do país em capacidade instalada de geração, com 11.233 megawatts (MW). Além dos possíveis impactos para os ecossistemas da Amazônia e para comunidades indígenas e ribeirinhas, a construção dessas represas em plena floresta representa um grande desafio. Nas duas obras de Rondônia, trabalham dezenas de milhares de pessoas. Em março de 2011, uma revolta de centenas de trabalhadores, entre os mais de 20 mil do canteiro de Jirau, tomou proporções inesperadas. A maior parte do canteiro de obras foi destruída, 45 ônibus e 35 alojamentos foram incendiados, em um movimento reivindicatório por melhores condições de trabalho naquela região. Belo Monte

A principal obra de geração de energia do governo em andamento, e a mais controversa, é a usina de Belo Monte, que será construída na região da Volta Grande do rio Xingu, entre os municípios de Altamira e Vitória do Xingu, no estado do Pará. A obra já recebeu as licenças ambientais necessárias para ser erguida.

Para diminuir os impactos ambientais sobre os ecossistemas da floresta, o governo não fará as grandes represas de água, como as do Sudeste, ou mesmo a de Tucuruí, na Amazônia. Em vez disso, serão feitas usinas denominadas de "a fio de água", que exploram apenas a vazão natural do rio e necessitam apenas de uma barragem que contenha a água suficiente para garantir o volume e a pressão para girar as turbinas. Porém, a produção será menor nas estações em que houver menos chuva.

O governo afirma que os danos de Belo Monte às populações indígenas e ribeirinhas não serão grandes e poderão ser minimizados. Mas as entidades de defesa ambiental e das comunidades indígenas, no entanto, contestam, dizendo que a construção de uma barragem principal e de canais que formarão o reservatório de 516 quilômetros quadrados, localizado a 50 quilômetros de Altamira, irá reduzir o volume de água de dez terras indígenas onde vivem cerca de 2,2 mil indígenas de oito etnias. Esse conflito de interesses está sendo acompanhado inclusive pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA). Desenvolvimento e conservação

As polêmicas em torno da construção das usinas hidrelétricas escoram-se no principal desafio que envolve o bioma da floresta Amazônica: como conservar o patrimônio natural e, ao mesmo tempo, desenvolver a economia e realizar a ocupação humana dessa região?

Como a Amazônia concentra praticamente 70% dos recursos hídricos com potencial energético do país, o governo planeja outras hidrelétricas e empreendimentos na região. De, sua parte, os ambientalistas e defensores das causas indígenas querem barrar a construção de Belo Monte para não abrir precedentes.

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Na opinião de especialistas, poderão ser bem-sucedidos os países que apoiarem uma economia de baixo carbono baseada na manutenção dos recursos naturais e investirem em tecnologias ambientais de ponta, descartando a visão de que ambiente e desenvolvimento não podem conviver.

O governo brasileiro já vem testando modelos de economia com o uso sustentável da floresta. A principal experiência nesse sentido começou no fim de 2010, com as concessões para o uso sustentável de árvores. O regime dá às madeireiras concessionárias o direito de explorar uma floresta pública por 40 anos em manejo de baixo impacto - técnica que extrai um mínimo de árvores de um máximo de espécies e deixa a floresta se regenerar. Em troca, as empresas exploradoras pagam royalties ao governo. A intenção do governo, ao alugar as Florestas Nacionais (Flonas), é competir com a exploração predatória. Em 2010, só havia duas florestas licitadas, num total de 145 mil hectares (2% do planejado). A intenção era chegar a 1 milhão de hectares em 2011.

Apesar dos esforços do governo para reprimir o desmatamento e implantar reservas sustentáveis, nas quais a população nativa explore economicamente os recursos naturais sem esgotá-los, um estudo do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) indica que 83% da variação dos índices de desmatamento nos últimos 12 anos acompanha exclusivamente as oscilações no preço da soja e da carne no mercado internacional. Esse fato comprova que o agronegócio está se desenvolvendo de maneira rápida na Amazônia Legal.

O primeiro mapa do uso da terra no Brasil, divulgado no fim de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a pecuária intensiva na Região Centro-Oeste, principalmente em Mato Grosso do Sul, avança para o Norte, em direção ao Tocantins, e já se concentra no Maranhão e em Rondônia. Biodiversidade

A Amazônia preocupa por ser a maior entre as florestas tropicais do mundo. Trata-se de um rico bioma, com 6,6 milhões de quilômetros quadrados e uma variedade de espécies de plantas e animais. Além das florestas úmidas e matas de terra firme, a Amazônia abrange outros ecos sistemas, como cerrados, savanas e manguezais, entre cortados por rios de diversos tamanhos e tipos, que juntos somam um quinto da água doce disponível na superfície do planeta.

Por tudo isso, diminuir o desmatamento e conservar a Amazônia é considerado fundamental para preservar a biodiversidade e minimizar o aquecimento global. De um lado, porque a floresta tem enorme capacidade de retirar da atmosfera, pela fotossíntese, o di óxido de carbono (CO2), um dos vilões do aumento da temperatura mundial, e estocá-lo na forma de biomassa (raízes, lenha e folhas). De outro, porque o desmatamento da Amazônia é a principal fonte das emissões brasileiras de CO2, contribuindo com mais de 55% do total de emissões desse gás, de acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia.

A Amazônia também representa a maior biodiversidade, ou seja, possui uma variedade enorme de espécies de plantas, animais, fungos e bactérias, ainda não mensurada em sua totalidade, assim como seu patrimônio mineral. As estimativas dos cientistas são de que sejam conhecidas somente 10% das espécies existentes na Amazônia brasileira.

Por enquanto, essa enorme riqueza biológica é um potencial pouco aproveitado pelo país. Estima-se que na floresta brasileira estejam os princípios ativos da maioria dos remédios do futuro, mas cerca de 70% do conhecimento científico sobre ela é produzido por outras nações. O direito ao uso desse potencial é parte de uma tensa discussão internacional, realizada na Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas.

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As duas Amazônias

A floresta se espalha por terras de oito países vizinhos (Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e o território da Guiana Francesa), e, quando falamos em Amazônia, pensamos logo em Brasil. Isso porque 65% da área pertence ao país. Estão aqui 4,1 milhões de quilômetros quadrados da floresta. Uma imensidão definida de duas formas: bioma Amazônia e Amazônia Legal.

O bioma Amazônia é uma interpretação ecológica que considera apenas as áreas de formação florestal e seus ecossistemas. A Amazônia Legal refere-se à região política, que abrange sete estados da Região Norte - Amazonas, Pará, Roraima, Amapá, Acre, Rondônia e Tocantins -, além de Mato Grosso e parte do Maranhão. É onde se concentram mais de 20 milhões de habitantes e uma economia diversificada, cujo PIB atinge 176 bilhões de reais. Queda no desmatamento

Estima-se que cerca de 17% da cobertura vegetal nativa da Amazônia brasileira já tenha sido destruída, mas o ritmo da derrubada da mata está diminuindo. Para o período 2009/2010, o governo federal anunciou uma redução de 13,6% em relação ao período anterior. Segundo recorde consecutivo desde que a taxa começou a ser produzida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1988. Entre agosto de 2009 e julho de 2010, foi desmatada uma área de 6.451 mil quilômetros quadrados.

As principais causas da queda do desflorestamento são o aumento das operações de fiscalização e o uso de material alternativo, como PVC (plástico) e madeiras plantadas. O estado do Pará, o maior produtor de madeira nacional, é o líder em desmatamento, seguido do estado de Mato Grosso. Apesar da queda, o corte vem assumindo um novo formato: ele é cada vez maior em áreas menores de 50 hectares, 75% hoje contra 30% em 2002.

NOVO CÓDIGO FLORESTAL

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A nova lei ambiental divide as opiniões no Congresso Nacional, e sua decisão afeta o futuro do agronegócio e do meio ambiente.

Para quem acompanha o debate de longe, não parece, mas, na discussão do novo Código Florestal, o Brasil enfrenta uma importante encruzilhada em sua história. Acalorado e muitas vezes difícil de compreender, o embate no Congresso Nacional sobre o novo Código Florestal é a chave para definir como o país pretende enfrentar a equação entre ações para o desenvolvimento e a preservação do meio ambiente.

O novo Código Florestal vai substituir a atual Lei 4771, de 1965, que trata das florestas e dos demais ecossistemas, define os direitos de propriedade, restrições de uso e as modalidades de desmatamento em cada bioma do país, especialmente da Amazônia. Os artigos do novo código trazem orientações sobre como o país deve articular, a partir de agora, sua produção rural com a preservação dos recursos naturais.

O novo projeto de legislação é abrangente e se aplica ainda a algo complexo: como o Brasil pretende consertar os erros que marcaram a expansão da agricultura no passado e que ainda estão presentes nas atuais disputas fundiárias responsáveis pela violência em várias regiões da Amazônia. O encaminhamento do Código Florestal pretende mostrar ao mundo também como o Brasil quer controlar o desmatamento – sua principal fonte de emissões de gases que contribuem para o aquecimento global. O território brasileiro abriga atualmente 19% das florestas intactas existentes no globo.

O que é o código

O Código Florestal é a legislação que estipula regras para a preservação ambiental em propriedades rurais. Define o quanto deve ser preservado pelos produtores. Entre outras regras, prevê dois mecanismos de proteção ao meio ambiente. O primeiro são as chamadas áreas de preservação permanente (APPs), locais como margens de rios, topos de morros e encostas, que são considerados frágeis e devem ter a vegetação original protegida. Há ainda a reserva legal, área de mata nativa que não pode ser desmatada dentro das propriedades rurais. Ambientalistas x ruralistas

Os dois grupos estão em lados opostos. Enquanto os ambientalistas creem que as mudanças no Código vão favorecer os desmatamentos, os ruralistas alegam que a legislação vigente é muito rigorosa e prejudica a produção. Texto-base

O texto base do novo código, de autoria do deputado

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Aldo Rebelo (PC do B-SP), foi aprovado em uma comissão especial sobre o tema em julho do ano passado. Nove meses depois de discussões entre deputados ligados ao ambientalismo e ao ruralismo, Rebelo criou um novo texto, denominado emenda substitutiva global. Isenção aos pequenos

O texto contém a isenção aos pequenos produtores da obrigatoriedade de recompor reserva legal em propriedades de até quatro módulos fiscais – um módulo pode variar de 40 hectares a 100 hectares dependendo da região. O governo era contra isenção aos pequenos, mas acabou abrindo mão após acordo para que o texto fosse aprovado na Câmara.

Consolidação de cultivos em APPs

Outro ponto que gerou divergência foi o que pode ser cultivado em APPs. O texto-base traz a garantia de que algumas plantações, como cultivo de maçã ou plantio de café, serão consolidadas nas APPs. No entanto, a definição do que pode ou não pode ser mantido ficou fora do texto. Após um amplo acordo, foram estipuladas as regras por meio de uma emenda ao texto-base, a 164, que foi motivo de discórdias no plenário da Câmara.

Margem de rios

O texto aprovado diz que os pequenos produtores que já desmataram suas APPs em margem de rio poderão recompor a área em 15 metros a partir do rio. Os demais devem recompor em 30 metros. O governo era contra, mas o relator alegou que a recomposição prejudicaria a atividade dos ribeirinhos que vivem nas margens dos rios. Um acordo prevê que o Senado altere o texto para que haja a recomposição da vegetação de apenas 20% da total da terra para áreas de até quatro módulos fiscais. Anistia a quem desmatou

O texto-base tem um artigo que trata da anistia para quem desmatou até julho de 2008. Ou seja, todas as multas aplicadas por desmatamento até 2008 serão suspensas caso o produtor faça adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA). Se ele cumprir o programa, é anistiado. Se não cumprir, precisa pagar as multas.

Emenda 164

A polêmica emenda 164, de autoria do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), tem relação com o PRA. Ela

estabelece que a União estipularia as regras gerais e os estados definiriam, de fato, o que pode ser cultivado nas APPs. O governo federal é contra a proposta porque quer exclusividade para definir as atividades permitidas em APPs.

Na visão dos governistas, a emenda 164, aprovada pelos deputados, pode abrir uma brecha para que os estados anistiem agricultores que já ocupam áreas de preservação.

Os defensores da emenda argumentam que, se o governo federal tiver a prerrogativa de definir sobre as áreas de preservação ambiental, pequenos agricultores que já desenvolvem suas atividades em áreas de preservação poderão ser prejudicados.

Governo x base + oposição

O governo tentou derrubar a emenda 164, mas acabou sendo derrotado em plenário com apoio do principal aliado, o PMDB.

O PMDB e partidos da base e da oposição defendem que os estados decidam sobre os cultivos. A alegação é que o estado tem mais capacidade, por estar próximo do problema, de definir o que pode ser cultivado.

Durante a discussão na Câmara, o líder do governo chegou a bater boca com o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

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"Esta Casa está sob ameaça não quando o governo sai vitorioso. A Casa fica sob ameaça quando o governo é derrotado", disse o líder do governo. "Eu não sou aliado do governo Dilma. Sou o governo Dilma (...). Não aceito aqui que está se derrotando o governo. Como, se a proposta é nossa?”, afirmou. “Esta matéria não é nem a favor nem contra. É do Brasil real”, rebateu o líder do PMDB, com uma bancada composta por 80 deputados. Senado

No Senado, o relator da matéria deve ser o senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), ex-governador de Santa Catarina que, quando governava o estado, criou uma legislação semelhante ao Código Florestal em nível estadual.

O governo deve trabalhar no Senado para incluir no texto do Código Florestal punições mais rigorosas para quem reincidir em crimes ambientais. O relator do texto na Câmara disse que não há previsão em seu texto porque as punições estão na lei de crimes ambientais, e não no Código Florestal.

FONTE: www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério