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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA 2013 Prova de Língua Portuguesa 2ª chamada (Acesso aos mestrados profissionalizantes) DURAÇÃO DA PROVA 2h.30m (mais 30 minutos de tolerância) ESTRUTURA DA PROVA A prova encontra-se organizada em duas partes distintas: I. Leitura II. Escrita A prova deve ser resolvida nas folhas de resposta que lhe vão ser fornecidas. Na página 2 da folha de resposta, deve indicar se adota o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Caso não apresente essa informação, considera-se que está a adotar a nova ortografia.

Prova de Língua Portuguesa 2ª chamada (Acesso aos ... · Há um verso de Ruy Belo que tenho aprendido estes anos a estimar, um verso ... Redija um artigo de opinião em que explicite,

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA 2013

Prova de Língua Portuguesa

2ª chamada

(Acesso aos mestrados profissionalizantes)

DURAÇÃO DA PROVA

2h.30m (mais 30 minutos de tolerância)

ESTRUTURA DA PROVA

A prova encontra-se organizada em duas partes distintas:

I. Leitura

II. Escrita

A prova deve ser resolvida nas folhas de resposta que lhe vão ser fornecidas.

Na página 2 da folha de resposta, deve indicar se adota o novo Acordo Ortográfico da

Língua Portuguesa. Caso não apresente essa informação, considera-se que está a adotar a

nova ortografia.

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I. LEITURA

Leia atentamente o seguinte texto:

Estradas Secundárias

Há um verso de Ruy Belo que tenho aprendido estes anos a estimar, um verso

suficientemente preciso para não se dissipar e enigmático o suficiente para não ficar capturado

pelo imediato. O verso diz: "ao templo não se vai diretamente". O que me acontece é tomar

esse verso, isoladamente, como se fosse só a descrição verosímil do que de facto acontece e nos

acontece. Isso, sem mais. E, por causa dele, dou comigo a pensar em caminhos solitários, 5

cheios de curvas e demoras, onde se sente de perto o respirar contrastado e uno da paisagem;

em estradas que se desdobram no imprevisto, estradas lamacentas, carreiros de montanha, não

sinalizados, que se diria estarem surgindo apenas à medida que os nossos passos avançam. Por

causa desse verso, dou comigo a perceber que a imposição dos tracejados diretos pode

simplesmente redundar numa forma de empobrecimento, porque força a vida a uma rasura, a 10

uma fluidez ou a uma compulsão que ela não tem. A vida é sempre mais instável e criativa do

que a quadrícula onde idealmente a enclaustrámos e é assim para nosso bem, mesmo que a isso

esteja não raro associado um sofrimento.

Todos contaremos, por exemplo, com a experiência de ter estudado maçadorias de

inutilidade comprovada e decorado, a pedido, pés de página inacreditáveis: genealogias mais 15

compridas do que a história que narram, fórmulas enfatuadas, conceitos que têm de validade o

tempo de um fósforo. Para que é que isso serviu? Não quero desanimar ninguém, mas Kant

dizia que um dos ganhos da escola é ensinar as pessoas a permanecerem sentadas. Parece

pouco, não é? Ele falava, claro, das crianças, mas não esqueço que, no primeiro encontro com o

meu orientador de doutoramento, ouvi uma prédica muito assertiva (e muito inesperada) sobre 20

o assunto. Na opinião dele, o sucesso de uma tese dependia praticamente das horas que

permanecemos sentados.

Um dos textos mais extraordinários de Simone Weil é aquele intitulado "Reflexões sobre

o bom uso dos estudos escolares em vista do amor a Deus". Ela mostra que a aridez de tantos

exercícios, o atraso de vida que, a dada altura, nos parece o latim ou a geometria, o 25

investimento aparentemente desbaratado por estradas secundárias do saber torna-nos, sem

darmos bem conta disso, viajantes dignos desse nome. Cada exercício escolar, por mais inócuo

que o julguemos, representa uma maneira específica de esperar a verdade e de desejá-la. São

suas as palavras: "Se procuramos com verdadeira atenção a solução de um problema de

geometria e, ao fim de uma hora, não estamos mais avançados do que no começo, avançámos, 30

todavia, durante cada minuto dessa hora, numa outra dimensão mais misteriosa. Sem que o

sintamos, sem que o saibamos, este esforço aparentemente estéril e sem fruto introduziu mais

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luz na alma. O fruto encontrar-se-á um dia, mais tarde... Encontrar-se-á sem dúvida também,

por acréscimo, num qualquer domínio da inteligência, talvez completamente estranho à

matemática. Possivelmente, um dia, aquele que despendeu este esforço ineficaz será capaz de 35

apreender mais diretamente, por causa deste mesmo esforço, a beleza de um verso..."

É verdade que "ao templo não se vai diretamente". Que as procuras e aquisições

fundamentais da vida nos pedem uma disponibilidade não só para o imediatamente útil mas

para o gratuito, para aquilo que fazemos por razões que sabemos e que desconhecemos, para o

que o presente torna já nítido, mas também para aquilo que só o futuro poderá entreabrir e 40

esclarecer.

José Tolentino Mendonça, Expresso – Revista, 22 de junho de 2013, p. 6 (adaptado)

1. Faça corresponder cada um dos parágrafos do texto a um dos títulos abaixo apresentados. Na folha de resposta, indique o número de parágrafo e a letra identificativa do título que lhe corresponde.

(A) Relação entre estudo e capacidade de perseverança. (B) Benefícios insuspeitos que podem advir do estudo pouco apelativo e

aparentemente improfícuo. (C) Disposição para aceitar o que não tem um propósito imediato. (D) Irredutibilidade da vida a percursos lineares.

2. Classifique como V (verdadeiras) ou F (falsas) as afirmações abaixo apresentadas. Na folha de resposta, coloque a letra que identifica cada afirmação seguida de V ou F.

(A) A expressão que dá título ao texto remete para a ideia de percurso de vida enriquecedor.

(B) No texto, o verso "ao templo não se vai diretamente" ilustra a constante e difícil busca da fé.

(C) Segundo o texto, Kant defende que o aluno deve ter um papel passivo. (D) No texto, o autor opõe Kant, que defende a imobilidade dos alunos em sala de

aula, a Simone Weil, que vê a aprendizagem como uma viagem. (E) Para o autor, o estudo é, acima de tudo, uma tarefa entediante.

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3. Transcreva do texto a palavra/expressão exata para a qual remete cada uma das seguintes palavras/expressões:

3.1. "(d)esse nome" (L27)

3.2. "suas" (L29)

3.3. "o" (L32)

3.4. "que" (L35)

4. De entre as opções apresentadas, selecione a opção correta de acordo com o sentido que cada palavra tem no texto. Na folha de resposta, indique o número da alínea seguido da letra que identifica a opção escolhida.

4.1. “verosímil” (L4) é sinónimo de:

(A) plausível (B) verdadeira (C) única (D) incontestável

4.2. “redundar” (L10) é sinónimo de:

(A) refugiar-se (B) embater (C) resultar (D) inscrever-se

4.3. “aridez” (L24) não é sinónimo de:

(A) aspereza (B) secura (C) austeridade (D) mesquinhez

4.4. “inócuo” (L27) não é sinónimo de:

(A) anódino (B) inóspito (C) inocente (D) inofensivo

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5. Selecione, de entre os valores apresentados no quadro abaixo, aquele que está associado a cada uma das expressões sublinhadas. Na folha de resposta, coloque o número da expressão seguido da alínea correspondente ao valor que considera adequado.

Linha do texto Expressões Valores

L3-5 1. O que me acontece é tomar esse verso, isoladamente, como se fosse só a descrição verosímil do que de facto acontece e nos acontece.

(A) Comparação

L9-11 2. (...) a imposição dos tracejados diretos pode simplesmente redundar numa forma de empobrecimento, porque força a vida a uma rasura, a uma fluidez ou a uma compulsão que ela não tem.

(B) Concessão

L11-13 3. A vida é sempre mais instável e criativa do que a quadrícula onde idealmente a enclaustrámos e é assim para nosso bem, mesmo que a isso esteja não raro associado um sofrimento.

(C) Condição

L24-27 4. (...) a aridez de tantos exercícios, o atraso de vida que, a dada altura, nos parece o latim ou a geometria, o investimento aparentemente desbaratado por estradas secundárias do saber torna-nos, sem darmos bem conta disso, viajantes dignos desse nome.

(D) Causa

L29-31 5. Se procuramos com verdadeira atenção a solução de um problema de geometria e, ao fim de uma hora, não estamos mais avançados do que no começo, avançámos, todavia, durante cada minuto dessa hora, numa outra dimensão mais misteriosa.

(E) Modo

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II. ESCRITA

1. O semanário Expresso de 20 de julho de 2013 publicou uma entrevista com a comissária europeia da educação, Androulla Vassiliou, sobre o programa Erasmus. As Figuras 1 a 3, abaixo apresentadas, acompanhavam a publicação.

No ano letivo 2011/2012, Portugal enviou 6484 estudantes, mais 8,7% do que em 2010/2011, e acolheu 9197

Número de alunos

FIGURA 1

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1.1. Redija um texto, de caráter expositivo, que apresente os dados mais relevantes patentes nas Figuras 1 a 3. O texto deve ter uma extensão de 100 a 130 palavras1.

2. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística e do Observatório da Emigração, as taxas de emigração jovem têm vindo a aumentar de forma significativa em Portugal. Será o fenómeno de emigração uma inevitabilidade em tempos de crise?

2.1. Redija um artigo de opinião em que explicite, de forma clara e estruturada, a sua posição relativamente a este assunto. O texto deve ter uma extensão de cerca de 350 palavras2.

1  Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,

incluindo sequências que integrem elementos ligados por hífen e números que sejam constituídos por mais de um algarismo (exemplos: dar-me-á e 2013).  

2  Ver nota de rodapé anterior.  

FONTE: COMISSÃO EUROPEIA

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COTAÇÕES

(Escala de 0 a 200 pontos)

Grupo I – Leitura (80 pontos)

Questões Cotação

1. 12 pontos

2. 20 pontos

3. 16 pontos

4. 16 pontos

5. 16 pontos

Grupo II – Escrita (120 pontos)

Questões Cotação

1. 40 pontos

2. 80 pontos