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COLÉGIO PEDRO II CONCURSO PÚBLICO PARA PROFESSORES - 2008 PROVA ESCRITA DISCURSIVA - PORTUGUÊS 1 PROVA ESCRITA DISCURSIVA DE PORTUGUÊS PRIMEIRA PARTE - QUESTÕES DISCURSIVAS (70 pontos) 1ª QUESTÃO Valor total da questão: 7,5 pontos Observe os seguintes fragmentos: Texto I: “Hoje não somos uma literatura menor, nem nos deixemos taxar assim, somos uma literatura maior, feita por maiorias, numa linguagem maior, pois temos as raízes e as mantemos. Não vou apresentar os convidados um a um porque eles falarão por sim mesmos, é ler e verificar, só sei que com muitos deles eu tenho lindas histórias, várias caminhadas tentando fazer uma única coisa, o povo ler. Cansei de ouvir. - mas o que cês tão fazendo é separar a literatura, a do gueto e a do centro. E nunca cansarei de responder. - o barato já tá separado a muito tempo, só que do lado de cá ninguém deu um gritão, ninguém chegou com a nossa parte, foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado de lá, e do cá mal terminamos o ensino dito básico. [...] Afinal um dia o povo ia ter que se valorizar, então é nóis nas linhas da cultura, chegando de vagar, sem querer agredir ninguém, mas também não aceitando desaforo nem compactuando com hipocrisia alheia, bom vamos deixar de ladainha e na bola de meia tocar o barco. Boa leitura, e muita paz se você merece-la, se não bem vindo a guerra.” (sic) Ferréz Disponível em http://literatura-marginal.blogspot.com/ Texto II: “Quando o viu, Há coisa de um mês, emprestou-mo um amigo, Julguei que fosse seu, da sua colecção, Homem, se fosse meu ter-lho-ia emprestado, não o faria ir gastar dinheiro no aluguer. [...] Na próxima esquina separar-se-iam, cada qual para seu lado, e foi depois de lá chegarem, quando já ambos tinham dito, Até logo, que o professor de Matemática, quatro passos andados, se voltou para trás e perguntou, A propósito, você reparou que na fita há um actor, um secundário, que se parece muitíssimo consigo, pusesse você um bigode como o dele e seriam como duas gotas d’água.” (SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 41)

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PROVA ESCRITA DISCURSIVA DE PORTUGUÊS

PRIMEIRA PARTE - QUESTÕES DISCURSIVAS (70 pontos)

1ª QUESTÃO Valor total da questão: 7,5 pontos

Observe os seguintes fragmentos:

Texto I:

“Hoje não somos uma literatura menor, nem nos deixemos taxar assim, somos uma literatura maior, feita por maiorias, numa linguagem maior, pois temos as raízes e as mantemos.

Não vou apresentar os convidados um a um porque eles falarão por sim mesmos, é ler e verificar, só sei que com muitos deles eu tenho lindas histórias, várias caminhadas tentando fazer uma única coisa, o povo ler.

Cansei de ouvir.

- mas o que cês tão fazendo é separar a literatura, a do gueto e a do centro. E nunca cansarei de responder.

- o barato já tá separado a muito tempo, só que do lado de cá ninguém deu um gritão, ninguém chegou com a nossa parte, foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado de lá, e do cá mal terminamos o ensino dito básico.

[...]

Afinal um dia o povo ia ter que se valorizar, então é nóis nas linhas da cultura, chegando de vagar, sem querer agredir ninguém, mas também não aceitando desaforo nem compactuando com hipocrisia alheia, bom vamos deixar de ladainha e na bola de meia tocar o barco.

Boa leitura, e muita paz se você merece-la, se não bem vindo a guerra.” (sic) Ferréz

Disponível em http://literatura-marginal.blogspot.com/

Texto II:

“Quando o viu, Há coisa de um mês, emprestou-mo um amigo, Julguei que fosse seu, da sua colecção, Homem, se fosse meu ter-lho-ia emprestado, não o faria ir gastar dinheiro no aluguer. [...] Na próxima esquina separar-se-iam, cada qual para seu lado, e foi depois de lá chegarem, quando já ambos tinham dito, Até logo, que o professor de Matemática, quatro passos andados, se voltou para trás e perguntou, A propósito, você reparou que na fita há um actor, um secundário, que se parece muitíssimo consigo, pusesse você um bigode como o dele e seriam como duas gotas d’água.”

(SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 41)

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Texto III:

“’— Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho...’

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

— Famigerado é inóxio, é ‘célebre’, ‘notório’, ‘notável’...

—‘Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforo? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?’

—Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...” (ROSA, J. Guimarães. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 58)

Os trechos acima, extraídos de autores da língua portuguesa, apresentam formas de diferentes variedades da língua. Que aspectos dessas variedades deve o professor selecionar para as atividades em sala de aula no Ensino Médio? Justifique sua resposta.

2ª QUESTÃO Valor do item a: 05 pontos Valor do item b: 2,5 pontos

Valor total da questão: 7,5 pontos

Leia os seguintes trechos produzidos por estudantes:

Texto I

“Asterix e Obelix tinham entrado nas terras de Roma fingindo que eram romanos, uma mentira que até Júlio César, o rei de Roma, acreditou.

Júlio César não queria nem saber de soldados ele estava contente mesmo com a porção (sic) que roubara de Panoramix, o druida dos gauleses, que descobrira os ingredientes para fazê-la.

Para tentar resgatá-la foi logo bolando uma idéia:

- Obelix, fica aqui e eu vou no palácio ver onde está a porção, qualquer coisa eu te chamo pelo nome de Gabriel.

Obelix concordou. E lá foi Asterix para o palácio.

Descobriu que ela estava do lado de Júlio César e foi tentar pegá-la e acabou sendo preso pelos soldados.”

(redação de aluno de 7º ano do Ensino Fundamental)

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Texto II

“Considere que o leitor coloque uma visão diferente, pinte o quadro da escrita com outros instrumentos, ou meios próprios dele.”

(In: PÉCORA, Alcir. Problemas de redação. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 82.)

Considerando-se questões de textualidade, nota-se um problema de coesão em ambos os trechos.

a) Que tipo de problema de coesão ocorre em cada um dos trechos? Justifique sua resposta.

b) De que forma esse problema pode comprometer, no plano da coerência, a leitura dos textos?

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3ª QUESTÃO Valor total da questã o: 10 pontos

As orações subordinadas adverbiais, segundo a nomenclatura oficial, são divididas em nove subclasses de acordo com o valor semântico por elas apresentado. Existem, entretanto, alguns problemas que temos de enfrentar na hora da classificação semântica dessas orações adverbiais. Se Celso Cunha e Lindley Cintra apresentam somente as classificações oficiais, encontramos outras análises de conceituados gramáticos que tentam dar conta das estruturas não contempladas. Seria o caso das adverbiais de agente da passiva, locativas e modais. Outros estudiosos e pesquisadores, por outro lado, apresentam diferentes propostas de classificação e reagrupamentos.

Assim sendo, como o reagrupamento das orações resolveria a lacuna existente na classificação das adverbiais pela NGB? Apresente argumentos de natureza sintático-semântica para justificar sua proposta.

4ª QUESTÃO Valor total da questão: 10 pontos

Leia o trecho abaixo e responda em seguida:

(...)

Um extraordinário exemplo da obsessão erótica do Internato do Pedro II foi-me dado examinar, há pouco tempo, emprestado por um colega que veio conservando, há cinqüenta e três anos, dois exemplares de um jornalzinho da nossa classe chamado A Tocha. Era manuscrito. Sua linguagem, cuidada e quase isenta de palavrões. Entretanto os subentendidos, as ambivalências, os trocadilhos, as reticências e as cacofonias propositais faziam do periódico um dito pornográfico ou, na melhor das hipóteses – semi. Não carece ser analista para escarafunchar símbolos nas suas colunas. Eles brotam – fálicos, vaginais e anais – tão espontâneos que não precisa espremer. Logo, o título: A Tocha. Em seguida o trocadilho advertência: O que não vem na Noite a Tocha traz. Mais. Anus I, Anus II era como se marcavam seus anos cronológicos. Seus números terminavam sempre pelos mesmos algarismos e eram: Nº 0,069; Nº 0,69 e assim por diante. (...)

(NAVA, Pedro. Balão cativo. São Paulo: Atelier Editorial/Giordano, 2000. p. 347)

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Analise o fragmento apresentado anteriromente, aplicando as noções de tipos textuais e

gêneros discursivos. Em sua exposição, considere, se for o caso, as predominâncias dos tipos textuais ali presentes, ou mesmo o equilíbrio entre eles.

5ª QUESTÃO

Valor total d a questão: 10 pontos

História, Cultura e Arte podem ser consideradas expressões interdependentes. Sendo assim, a fruição de uma obra de arte nos aconselha a fundir texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, para usarmos uma expressão de Antonio Candido. No caso específico da Literatura, podemos, com Mikhail Bakhtin, considerá-la, já em sua própria estruturação, um discurso privilegiado, pois traz no seu bojo a polifonia da sociedade que (a) ajuda a erigir(se). Nesse sentido, não apenas a arte literária, mas também seu ensino se revelam como verdadeira arena interdisciplinar.

Dessas premissas partem os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1999, em cujas Bases Legais, lê-se o seguinte:

“Na proposta de reforma curricular do Ensino Médio, a interdisciplinaridade deve ser compreendida a partir de uma abordagem relacional, em que se propõe que, por meio da prática escolar, sejam estabelecidas interconexões e passagens entre os conhecimentos através de relações de complementaridade, convergência ou divergência. A integração dos diferentes conhecimentos pode criar as condições necessárias para uma aprendizagem motivadora (...)” (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. v 1. p. 44)

Ainda nesse documento, no volume dedicado à área de Linguagens, esclarece-se:

“Sem perder a clareza das especificidades de cada uma delas [das disciplinas], é possível ousar contatos entre as suas diversas fronteiras de conhecimento e entrelaçá-las quando a serviço do alargamento cultural dos alunos (...), objetivando uma educação transformadora e responsável, preocupada com a formação e identidade do cidadão.”

(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. v 2. p. 96)

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À luz dessas concepções e tomando ainda como base os dois textos abaixo, apresente uma

proposta para uma aula introdutória ao Modernismo numa turma de Ensino Médio do Colégio Pedro II.

Texto I

INSPIRAÇÃO São Paulo! comoção de minha vida... Os meus amores são flores feitas de original ! ... Arlequinal ! ... Trajes de losangos... Cinza e ouro... Luz e bruma... Forno e inverno morno... Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... Perfumes de Paris...Arys! Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!... São Paulo! comoção da minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América.

(ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da USP, 1987, p. 83)

Texto II

MOÇA DIANTE DE UM ESPELHO (fragmento)

(PICASSO, Pablo. Fragmento de Moça diante de um espelho, 1932. Óleo sobre tela, 1,62 x 130,2 cm. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, EUA)

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6ª QUESTÃO Valor total da questão: 10 pontos

“Vimos pelas circunstâncias da publicação e da recepção dos primeiros romances de Machado de Assis que o recurso ao melodrama não pode ser explicado como desvio de rota, nem como ato involuntário de um escritor imaturo. Pelo contrário, trata-se de um registro não apenas reivindicado pelo público leitor contemporâneo como buscado pelo escritor, que o utiliza para atingir o público leitor de folhetim, espaço para o qual a narrativa originalmente se destinava e que o romance de Machado de Assis passava a dividir com textos seriados de autores como Ponson Du Terrail e Xavier de Montépin. (...) Assim, o que ocorrerá em seguida, principalmente a partir de Brás Cubas, é que talvez deva ser entendido como desvio de percurso, ou melhor, como resultado de uma reorientação do projeto de Machado de Assis.”

(GUIMARÃES, Hélio Seixas. Os leitores de Machado de Assis.São Paulo: EDUSP, 2004. p.160)

Discuta o projeto de construção do romance machadiano, tendo em vista o papel do leitor nessa construção.

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7ª QUESTÃO

Valor total da questão: 05 pontos

Texto I

João Ubaldo vira 'celebridade' após Prêmio Camões. Amigos e colegas cumprimentaram o escritor pelo reconhecimento internacional (Daniele Carvalho - de O Estado de S. Paulo)

RIO - No dia seguinte à conquista do Prêmio Camões 2008, o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro manteve o humor e o senso crítico que o tornaram internacionalmente conhecido. (...) Oitavo brasileiro a receber a homenagem, criada pelos governos de Portugal e Brasil, em 1988, Ubaldo foi escolhido pelo conjunto de sua obra, que contribui para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. Apesar de se dizer feliz e satisfeito com a premiação, ele lamentou o pouco destaque que o assunto ganhou no País."Talvez se eu me chamasse John Brock e ganhasse um prêmio nos Estados Unidos, seria mais conhecido e teria mais espaço no noticiário." Dizendo-se de mau humor - situação difícil de ser identificada diante de seus comentários hilariantes - , João Ubaldo avalia que o pouco interesse do brasileiro pela leitura tem como causa a forma com que a literatura é ensinada nas escolas. Segundo ele, os alunos, muitas vezes, são obrigados a ler textos para depois responder a questões confusas e mal elaboradas. "Os livros didáticos de literatura estão repletos disto. Eu teria dificuldade de responder a perguntas feitas até sobre textos meus", disse.

(Disponível em: http://www.estadao.combr/ateelazer/not_art212923,0.htm)

Texto II

“(...) A disciplina Literatura Brasileira tem um razoável espaço na grade curricular e nos exames vestibulares, mas alunos e professores das demais matérias não conseguem compreender completamente a sua utilidade, se comparada com Matemática, Biologia e até mesmo História. Não à toa os manuais didáticos soberanamente se recusam a tratar dos conceitos-chave da disciplina ou o fazem num capítulo introdutório e perfeitamente descartável, repisando a noção de literatura como belles lettres e sua vinculação estreita com a nacionalidade (...)”

(BERNARDO, Gustavo. O conceito de literatura. In: JOBIM, José Luís (org.). Introdução aos termos literários. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999. p.150)

Levando em conta os fragmentos acima, posicione-se criticamente sobre o ensino de literatura na escola brasileira contemporânea.

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8ª QUESTÃO

Valor total da questão: 10 pontos

Sabe-se que a obra de Clarice Lispector, operando fora dos princípios de racionalidade hegemônicos no Ocidente, problematiza, em diferentes aspectos, o imaginário cultural dominante. Tomando como ponto de partida os fragmentos de Água viva e de Um sopro de vida, transcritos abaixo, comente o universo ficcional clariceano, explicitando por que podemos considerar suas narrativas como formas desviantes do romance canônico brasileiro.

Texto I

“É o seguinte: a dissonância me é harmoniosa. A melodia por vezes me cansa. E também o chamado leit-motif. Quero na música e no que te escrevo e no que pinto, quero traços geométricos que se cruzam no ar e formam uma desarmonia que eu entendo (...) Isto que estou te dizendo é muito importante.

(...)

Como te explicar? Vou tentar. É que estou percebendo uma realidade enviesada. Vista por um corte oblíquo. Só agora pressenti o oblíquo da vida. Antes só via através de cortes retos e paralelos. Não percebia o sonso traço enviesado. Agora adivinho que a vida é outra.

(...) A vida oblíqua é muito íntima (...).

Sim. A vida é muito oriental.

(...) A vida oblíqua? Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem mais nada. Nós somos de soslaio para não comprometer o que pressentimos de infinitamente outro nessa vida de que te falo.”

(LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 67;70-71)

Texto II

“Quando eu escrevo, misturo uma tinta a outra, e nasce uma nova cor.

Quero esquecer que jamais esqueci. Quero esquecer elogios e os apupos. Quero me reinaugurar. E para isso tenho que abdicar de toda a minha obra e começar humildemente, sem endeusamento, de um começo em que não haja resquício de qualquer hábito, cacoetes ou habilidades. O know-how eu tenho que pôr de lado. Para isso eu me exponho a um novo tipo de ficção, que eu nem sei ainda como manejar.

O principal a que eu quero chegar é surpreender-me a mim mesmo com o que escrevo.” LISPECTOR, Clarice. Um sopro de vida. São Paulo: Círculo do Livro, 1978. p.77-78)

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SEGUNDA PARTE – DISSERTAÇÃO (30 PONTOS) Disserte sobre o tema sorteado, utilizando, no mínimo, três páginas e, no máximo, cinco. Se

desejar, use as folhas de rascunho, sem destacá-las do corpo da prova. Entretanto, para efeito de avaliação, o rascunho não será considerado .

TEMAS PARA DISSERTAÇÃO

PROPOSTA 1 Da poética de Gregório de Matos às discronias entre o Barroco Mineiro e a Poesia Arcádica no Brasil do século XVIII.

ou Arcaísmo e neologismo: “morte” e “nascimento” no estudo do léxico e suas conseqüências no ensino de língua materna.

PROPOSTA 2 Do Romantismo oficial à lírica de Castro Alves: o lugar do projeto romântico na história da poesia brasileira. ou Norma padrão e variedades lingüísticas no plano da diatopia: a colocação pronominal do português do Brasil atual – do uso ao ensino.

PROPOSTA 3 Pontos e contrapontos nos projetos de construção de identidade nacional em José de Alencar e Mário de Andrade. ou Os procedimentos textuais-discursivos na coesão em língua portuguesa: o papel e a funcionalidade dos pronomes.

PROPOSTA 4 Machado de Assis ficcionista e o Instinto de nacionalidade. ou O morfema zero e os outros morfemas gramaticais: ausência e presença na sistematicidade dos nomes em português.

PROPOSTA 5 Complexidade e heterogeneidade na literatura brasileira pré-modernista e a reinserção do Brasil periférico na cena literária nacional. ou A interação texto/leitor na construção de sentidos do texto: intersubjetividade, polissemia e significação contextual.

PROPOSTA 6 Carlos Drummond de Andrade e a poética da flor e da náusea. ou Estratégias para tornar o discurso impessoal: contribuições e limites da tradição gramatical, da gramática do texto e das teorias do discurso.

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PROPOSTA 7 O romance regionalista brasileiro: de José de Alencar a Guimarães Rosa. ou Padrões estruturais de verbos portugueses: regularidade e irregularidade na construção de uma unidade lingüística.

PROPOSTA 8 Cecília Meireles e Vinícius de Moraes no itinerário da poesia de 30. ou A categoria de aspecto aplicada a gêneros de texto cujo tipo predominante seja o narrativo.

PROPOSTA 9 O seqüestro da voz da mulher no cânone literário brasileiro: a autoria feminina como questionamento da cultura monológica do Ocidente. ou A coerência semântica de um texto e sua unidade: o fenômeno da isotopia.

PROPOSTA 10 Relações entre ficção e realidade na prosa contemporânea brasileira. ou A correlação como terceiro processo de estruturação sintática: possíveis implicações nos tipos textuais e gêneros discursivos.

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