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Proversando - Recanto das Letrasstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4747520.doc · Web viewR E F L E X Õ E S M O T I V A D A S P O R U M S O N H O 09/06/1.992 Bruder Klein (Irmão

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Proversando

Reg. Biblioteca Nacional

EDA/97092/Lv.137/Fls.85/20-04-95

Todos os direitos reservados pelo autor

É proibida a reprodução dos textos originais, mesmo parcialmente, e por qualquer processo sem a autorização, por escrito, do autor.

Bruder Klein

Av. São João Batista, 384 - Bloco B7 - Apto. 23

Rudge Ramos - São Bernardo do Campo - São Paulo

09635-000-Tel. (011) 4368-9987

E-Mail: [email protected]

Í N D I C E

Pág.Título

02Índice

04 À Guisa de Prefácio

05 Prólogo

07Cópia de Carta

08Caminho Estreito

09Subjetividade Objetiva

10 Saber

11 O Verdadeiro Sentir

12 Revelação

13 Dedicatória

14 Unipresença

15 Mensagem

16 Incerteza

17 Mensagem Cifrada

18 Onde Está a Felicidade?

19 Um Conto Que Me Contaram

20 Comentando

21 Abraço

22 Mãe

23 Doação Voluntária

24 Dançando

25 Beleza Interior

26 Musas Companheiras

27 Meu Salva Vidas

28 Carências

29 Amor Real

30 Reflexões Motivadas Por Um Sonho

32Nostalgia

33Realidade

34Ligações Energéticas

35Doação Expontânea

36Minha Esperança

37 Medo

38 Basta

39 Busca

40 O Amor Que Espero

42Sonho

43 Relembrando

Pág.Título

44 Viajem

45 Incertezas

46 Transparência

47 Amigo

48 Mensagem de Paz

49 Mantendo o Elo

50 Amor Oculto

51 Alcance do Intelecto

52 Paz Na Solidão

53 Carta A Uma Amiga

54 Um Evento Chamado Morte

57Sexo Expressivo

58 Outra Missiva

59 Retorno À Dor

61 Rio Tietê

63 A Estrutura Do Suicídio

64Melancolia

65Saudade

66 Sonho

67 Pensamentos

68 Ser Ou Não Ser

69 Estar Junto

70 Não Ser

72 O Caminho

74 Precisa-se de Um Advogado

75 Mensagem Aos Médicos

77Uma Caminhada Pelas Escrituras

78Mensagem Aos Professores

79Missão Ordenada

81Procura

82Viajem Pelo Tempo

83Nasce A Esperança

84Ano Novo

85Peso Da Solidão

86Destino Fugidio

87Vida Imprecisa

88 Amanhã

89 O Caminho

93Um Evento Chamado Morte

Á G U I S A D E P R E F Á C I O

A primeira coisa que me imponho, quando pretendo escrever algo, é declarar as minhas limitações que fatalmente contribuirá para as imperfeições do trabalho. Realizá-lo, sem as qualificações necessárias, me move o desejo de compartilhar com os meus semelhantes, um pouco de minhas experiências observadas no dia a dia de minha vivência, principalmente aquelas que fruem, fruto de uma reflexão íntima que esforça-se por romper limites, no desejo de alcançar outros seres que possam comungar com as mesmas expressões do pensamento; sentindo as emoções que possam unir pessoas que encontram-se aprisionadas em si mesmo.

Iniciamos a escrever no dia dez de Maio de l.992, em que se comemorava o “Dia das Mães” e ao remexer velhos guardados deparamos com uma carta escrita por um de nossos filhos, dezesseis anos antes, justamente cumprimentando a mãe pelo seu dia, juntando um folheto alusivo à data, preparado na comunidade cristã que, então, freqüentava. Essa coincidência trouxe as emoções à flor da pele, marcando aquele momento; isso me inspirou a escrever a poesia “Mãe” que faz parte do trabalho.

Delineava em minha mente que deveria ir registrando cronologicamente os textos em prosa e as poesias para que no período decorrido entre as primeira e última paginas fossem marcando, subjetivamente, uma história, revelada pelas emoções de cada momento. Cada página, cada data, marca um acontecimento vivido ou sonhado. Embora o inicio se dê no dia 10/05, por circunstancias que me levaram a dezesseis anos antes e o clima que se estabelecia para o começo, juntei alguns textos anteriores que já conviviam com a expectativa da realização. A partir daí o sonho foi convivendo com a realidade, o presente com o passado e as esperanças do futuro, concluindo com o resultado que é entregue à sua avaliação. Não existe nenhuma página que não me envolva pessoalmente mesmo que nem sempre sejam compreensíveis por manifestarem-se através de símbolos. Igualmente, penso, não haverá espaço algum que deixe de dizer algo a cada um dos leitores, que assim estarão inter-relacionados com o autor através de emoções comuns.

A mística de um encontro sobrenatural existe, visto o próprio Deus construísse a ponte que nos faz chegar à Sua Presença. Nós, embora imperfeitos enquanto seres físicos, possuímos a centelha Divina que está sempre em evolução com o objetivo de alcançar o desenvolvimento máximo que só ocorrerá quando passarmos para outra dimensão onde sobreviverá o espírito.

Amor, sonho, imaginação, amizade, coragem, certeza ou incerteza, liberdade, paz, solidão, silêncio, vida, morte, eternidade, sexo, dor, preservação, saudade, suicídio, ser ou não ser, caminho, mensagem, missão, emoção, amigo, parente, vizinho, amante, alegria, solidariedade, felicidade, esquecimento, perdão, sorriso, lagrimas, são algumas das palavras encantadas que convivem conosco e nos ajudam a delinear o nosso destino, bastando que adotemos a verdade em nossas ações; porque, muitas vezes mentimos a nós mesmo com receio de exteriorizar as nossas emoções. O caminho de cada um de nós terá de ser percorrido sem que o nosso espírito sinta amargura por desejarmos coisas que estão fora do nosso contexto.

“Que o sol nunca se ponha sobre a nossa ira” e “Esteja longe de nós toda a ira e amargura” são palavras proferidas por um sábio (Paulo, Efésios 4:26,3l), em momento de suprema inspiração; se nós as adotarmos em nossa vida a caminhada que teremos de empreender nos será facilitada.

Estaremos sendo confrontados com reflexões que nos unem e nos ensinam a apreciar a vida. Mergulhamos em nossas ilusões envolvendo-nos no sonho e na fantasia que farão viva a esperança de um encontro transcendental.

A Palavra de Deus declara (Exedos 19:6; Pedro 2:9; Apocalipse 1:6) que somos todos sacerdotes do Deus Altíssimo; todos somos ordenados a uma missão e o cumprimento da mesma será o nosso caminho. Não existe missão mais nobre e sublime do que constituir uma família (instituição criada por Deus), dentro de parâmetros estabelecidos pelo Criador, onde, em primeiro lugar exista amor e fidelidade entre os cônjuges, a fim de que haja compreensão mútua para a construção de uma vida feliz; em segundo lugar será a vinda dos filhos a esse lar consolidado, para serem orientados dentro de padrões morais, na obediência e disciplina que os condicionará à vivência em sociedade.

Observemos bem isso: onde quer que estejamos, em qualquer contexto em que se desenrolar o nosso viver, aí estará a nossa missão e o caminho que nos caberá percorrer, usando toda a sabedoria que possuirmos.

Bruder

P R Ó L O G O

Ontem, 9 de Maio de 1.992, na parte da tarde, comecei a remexer em antigos guardados, para verificar se encontrava algum texto, esquecido, que pudesse fazer parte de um novo trabalho que gostaria de produzir. Encontrei uma carta de nosso filho caçula, hoje com trinta e sete anos, datada de 09/05/1.976 (16 anos atrás), cumprimentando a mãe pela passagem de seu dia ( nessa ocasião ele estudava em Mococa e nós residíamos em São Paulo, hoje invertemos); Chamei minha esposa e lhe disse: “Se você não receber nenhuma mensagem hoje, ou amanhã, poderá recordar esta aqui . . .e. . .misturamos as nossas lagrimas de emoção . . .

Nesse clima, olhando para o passado, escrevi uma poesia de saudade “MÃE”, que deverá fazer parte do novo trabalho, juntamente com “Mensagem Cifrada” “Abraço” e outras que já estão escritas e aquelas que ainda não nasceram, mas que fruirão no momento apropriado. Aí, refleti sobre o fato de nossa inspiração, muitas vezes, ser gerada por acontecimentos de nosso cotidiano; se os colocássemos em uma ordem cronológica poderíamos contar uma história, de amor, de paz, ou espelharmos momentos de paixão, de angústia e amargura, que eventualmente nos ocorrem; por isso optamos pelo desenvolvimento, nessa ordem, nesse novo livro.

Enviamos uma cópia da poesia “MÃE” a um amigo que faz programas na rádio e televisão local, para que, talvez, no dia de hoje o mesmo pudesse declamá-la em homenagem à rainha do lar e de nossas vidas. Dizíamos, nas breves palavras que lhe endereçamos, que a poesia fazia parte de um novo trabalho que ainda não recebera denominação. No meio da noite acordei com o nome: “PROVERSANDO”, sendo

“ Proversar” uma conversa com o leitor, através da prosa e do verso, estabelecendo um diálogo; diálogo porque, quando o leitor lê um texto, o mesmo gera uma reflexão que mesmo subjetivamente impõe uma conversa entre o autor e aquele. O exemplo é a poesia “MÃE”, que poderá levar a uma reflexão sobre o relacionamento havido com a genitora, estabelecendo o real valor da sua presença e o vazio criado quando de sua ausência.

Assim, cada texto que produzirmos, sempre conterá, nas entrelinhas, imagens e símbolos daquilo que vivemos em um determinado momento. Os símbolos serão subjetivos e de fato a descrição será, realmente, ficção, só podendo ser interpretados por alguém que possua uma vivência existencial, no tempo e no espaço, com o autor. Esses dois seres, que no caso serão autor e leitor, estarão em igual dimensão, compreendendo-se para existência de um mesmo pensar.

Estabelecida essa idéia percebemos, com maior clareza, a importância de cada texto que produzimos, os quais estão inter-relacionados entre si e com aqueles agentes motivadores que indicam diretrizes e seguem um encaminhamento instituído por forças inteligentes que governam o universo.

Começamos o desenvolvimento de um projeto que não será medido pelo tempo e sim pelo número de páginas; quando atingir, aproximadamente, cem páginas deverá estar chegando ao fim. Isso se comprovará pela coerência que a obra apresente no seu todo e que mesmo teoricamente estará ligada aos outros livros que já escrevemos, sendo parte de uma história. Poderá ser gasta uma semana, um mês ou dez anos, para a complementação, dependendo dos fatos geradores de emoção que produzirão a inspiração.

Mais uma vez iremos caminhar juntos, nesse diálogo criado pelas nossas vivências. Esperamos que ao chegarmos ao fim desse caminho possamos nos conhecer melhor a ponto de nos amarmos, como irmãos que somos, e possamos dedicar as nossas vidas para a construção de um mundo mais fraterno e melhor em todos os aspectos.

Iniciemos a caminhada. . .

Mococa, 09 de maio de 1.976.

Papai, Mamãe

Aqui está tudo bem. Eu recebi o dinheiro no banco e paguei a pensão.

Hoje é um dia especial, principalmente para a mamãe, e eu quero mandar um abraço bem apertado para ela e desejar-lhes um turbilhão de felicidade e que tudo saia daqui para frente às mil maravilhas, (mando um folheto que a turma da comunidade, da igreja, fez para homenagear as mães).

Ontem, sábado fiz a última prova do primeiro turno, e graças a Deus, eu acho que garanti as minhas férias, por este turno. Também, o que eu me esforcei, estudei e aprendi, não está escrito!

Começo a achar que não é um ano perdido e por mais que a gente queira passar, às vezes é melhor que fiquemos, para que nós aprendamos muitas coisas que nos passam por cima, e a base que estou tendo agora vai me ajudar bastante para os outros anos e, talvez para a minha vida inteira.

Papai, a Catita e também eu estamos com muita saudade, pois já faz bastante tempo que o senhor não vem para cá.

Estamos ansiosos e estudando bastante para nós irmos para a nossa fazenda, isto digo de coração, pois pode ser pequena de tamanho, mas é nossa e vale muito, nas férias de julho.

E o Paulo e a Teresa, a Matilde e o Douglas, tudo bem?

Diga-lhes que lhes mandamos um abraço e esperamos vê-los nas férias.

Bem, espero que escrevam também; nos falta um pouco de tempo, mas quando der escreveremos.

Abraços a todos

Zé Carlos e Catita

C A M I N H O E S T R E I T O

25/07/1.989

Talvez pudesse ser doce a espera

Para a realização das ilusões sonhadas

Imaginando que seria possível

A concretização de tudo que sonhei

Sonhei, em um dia encontrar o amor

Que me agasalhasse a alma

Afugentando os estigmas da dor

Que tão profundamente me marcou.

Oh! Como gostaria de viver,

A vida que vivi, repleta

De esperanças não vividas,

De sonhos multicores, belos!

Quando não avaliava a realidade,

Da vida, que nos desencanta,

Negando o carinho da felicidade,

Premiando-nos com tristeza tanta!

Agora, que a vida se estreita,

Que o saber se assenta em mim,

Sem prometer falsas esperanças,

Caminho firme para alcançar o fim.

S U B J E T I V I D A D E O B J E T I V A

18/05/1.991

Quando a criação poética

Sai da subjetividade

Perde a hombridade ética

Vegetando na objetividade.

Então o poeta já não o é,

Pois destruiu a sua fé,

Passando a habitar no marasmo

Sua mente se apraz no sarcasmo.

Será que haverá salvação

Para ninfas desviadas do ninho

Por julgar-se superior aos demais?

Se o espírito agir com elevação,

Demonstrando, disso, sinais,

Estará de volta ao caminho.

S A B E R

13/10/1.991

Se mergulhássemos

No mais profundo

Do saber do sábio

Para saber o que os sábios sabem

Saberíamos que

O sábio não é sábio

Ao seus próprios olhos.

Mas jaz

No mais profundo do saber dos sábios

Para procurar saber

O que os sábios sabem.

E nessa procura acabará sabendo

Mais do que os sábios sabem.

Por mais, porém, que possa saber

Ainda não saberá todo o saber.

E terá de continuar a procurar saber

Sempre mais do que possa saber.

Nessa procura infinda

Nunca saberá se conseguiu saber

Tudo que os sábios poderão saber.

Qual o proveito dessa procura

Se nunca saberá se conseguiu saber?

Servirá para saber que saberá

Sempre mais de quem não procurou saber.

O V E R D A D E I R O S E N T I R

27/03/1.992

O amor mais intenso

Que cria raízes profundas

É aquele que não apenas no coração,

Mas em nossa alma afunda.

Cria ligações consentidas

Por não ter o físico a toldar

Aprofunda em operações sentidas

Em um entendimento total.

Sem conhecer o bem amado

Que à distância se conserva

Jamais a ousadia se consumará

Será uma troca de carinhos

Criados por seres emocionais

E o sentimento nunca se esvaziará.

R E V E L A Ç Ã O

03/04/1.992

O que eu escrevo

Quer em prosa ou verso

É a minha própria vida

Que conto e não escondo.

A narração partida em pedaços

Esconde as frustrações havidas.

O personagem que representa a ficção

Revela o conteúdo da própria vida.

Procure reunir os pedaços

Para saber o que poderá haver

No vazio das entrelinhas

Com certeza irá saber

As mágoas havidas no tempo

Que enfeixam o sofrimento.

D E D I C A T Ó R I A

13/04/1.992

A quem conheço

Através de "Místicas Lembranças"

E que reproduz via Telesp

A tonalidade de sua voz

Vinda de um labirinto de emoções.

Ofereço

A ingenuidade de minhas exteriorizações.

Augurando-lhe a busca

De uma ligação transcendental

Que supere valores essenciais,

E ligue, através de seres interiores,

Que procuramos em nós mesmo,

O hoje ao infinito.

Onde inexiste tempo e espaço

E propicia o encontro

De seres iguais

Que se perderam na eternidade.

U N I P R E S E N Ç A

13/04/1.992

Qual a extensão da vida

Quando cremos na eternidade

E empreendemos a caminhada

Sem nos preocuparmos

Em alcançar o objetivo já,

Nem movemo-nos do lugar

Para encontrarmos aqueles

Que são nossos irmãos?

Não importa distancia ou tempo

Nem dimensões multiplicadas

Quando sempre estaremos

Presente no tempo certo.

Acreditamos

Que o poeta é assim

Estendendo

As suas palavras entretecidas

Para estar presente

Em todas as gerações.

M E N S A G E M

13/04/1.992

Quando miramos o céu estrelado

E imaginamos o mundo que existe

Sem o nosso conhecimento,

É o mesmo que olharmos

Para o nosso interior

E encontrarmos um estranho.

Antes de desvendarmos

Os segredos do universo

Deveríamos tentar

Conhecermos a nós mesmo;

Para realizarmos,

Com o nosso próximo,

O místico encontro

E dessa união resultasse

A ligação com o infinito.

Vamos tentar?

I N C E R T E Z A

13/04/1.992

Não choro assim

Por teres deixado a vida

Meu pranto corre

Por não estares mais presente.

Tua ausência permanente

Criou um pesar profundo.

Te procuro a cada instante!

De que vale a vida tão sozinho?

Tento saber a razão

De caminharmos separados

Quando a vida poderia nos unir.

Hoje já não vive a esperança

Perdida nas vagas da ilusão;

Reluto, incerto, entre o ir e o ficar.

M E N S A G E M C I F R A D A

19/04/1.992

Miríades de estrelas

neste céu de outono

a piscar intermitentes

transmitindo mensagens especiais.

Imaginamos, cada uma delas

como mundos latentes

Cuja vivência é sentida

Através de mundos iguais.

Realizar-se-á através de insistentes mensagens

Imagens de amor e de paz

Com que poderemos compor

A fantasia que não seja miragem

Mundo real onde haja a procura

De uma vida eficaz.

O N D E E S T Á A F E L I C I D A D E ?

19/04/1.992

Fui visitar uma favela

Para aprender o que é sofrer

Foi como olhar pela janela

O que imaginei não existir.

E pude perceber

Que o pobre não difere de ninguém

É um ser humano rico

Que tem paz no coração.

Já conheci muitos figurões

Com a posse de milhões

Que, alimentados de amargura

Perderam a vontade de sorrir.

Ali na favela encontrei

Corações a transbordar

A sorrir, bocas desdentadas,

Com o sorrir também no olhar.

Ali eu aprendi que a posse

Não carrega consigo a felicidade

Gratificou-me o assistir

Crianças derramando alegrias pelo olhar.

U M C O N T O Q U E M E C O N T A R A M . . .

23/04/1.992

Que bom se todos nós pudéssemos habitar as matas, viver junto à natureza, para despertarmos a nossa sensibilidade e podermos apreciar o belo!

Isso nos daria, com certeza, a oportunidade de penetrarmos em nosso interior para encontrarmos, também, uma luxuriante “floresta” de sentimentos.

Penetraríamos uma outra dimensão onde seria propiciado, ao interior e ao exterior, encontrarem-se para apreciarem a natureza real que alimenta nossa visão material do dia a dia onde encontramos tanta beleza que nos extasia, ao contemplarmos um céu estrelado; o sol que infunde pureza através de sua claridade; a lua com a sua luz pálida e romântica que instiga os corações a uma entrega para viverem um amor sonhado, que nem sempre se realiza!

Ou penetrar para o nosso interior a buscar o fio de nossas frustrações que ali recalcamos na ânsia de esquecer o óbvio!

Estrelas, luz. céu azul, misturam-se com o ser real que pensa concretamente e ao mesmo tempo sonha, como um poeta em devaneio a procura de um encontro consigo mesmo.

A análise concreta de necessidades materiais, em uma imitação da vida, mistura-se com o subjetivo que leva personagens de ficção a nos ensinarem a pragmática do sonho e da fantasia.

A exemplo dos personagens Sol e Lua, que ilustram o conto “ A Lenda de Sol e Lua” de Míriam Marques de Almeida, o ser humano recolhe-se em sua solidão para viver, na ficção, aquilo que a vida não lhe permitiu realizar, superando tempo e espaço. Essa realização só se completa se conseguirmos encontrar e nos unirmos à nossa outra metade. Ironicamente a nossa vida é como Sol e Lua que só conseguem o encontro na ficção.

Realmente, a vida se apresenta como no conto dessa escritora que caminha para o sucesso; os gemidos de angústia que almas irmãs emitem, em ansiedade, será ouvido e uma força superior consolidará a união, porque a nossa caminhada realiza-se em um tempo que se chama eternidade

C O M E N T A N D O

23/04/1.992

O poeta mergulha em sua solidão na procura de ser um deus que o possibilite transformar o mundo, as pessoas, para que possa haver um “Amor Mais Profundo” que o ajude a “Descobrir-se”. Nessa procura mergulha na “Noite dos Tempos” que percorre o infinito e o fará encontrar o sonho e a fantasia.

Feliz de quem tem a habilidade de transpor para o papel o seu rico interior, que irá premiar outras almas sensíveis.

Estas poesias, que acabo de ler, como aquelas de “Místicas Lembranças”, nos encantam e embalam a nossa fantasia. Transforma o mundo e as pessoas para aperfeiçoa-las e condicioná-las a uma evolução interior.

Só o que posso desejar é que o público possa continuar a ser brindado com as belas páginas de sensibilidade de Míriam Marques de Almeida.

A B R A Ç O

09/05/1.992

Amar, abraçar,

Abraçar, amar.

Um sentimento

Um movimento

Que se encontram

E se correspondem.

Quando nasce o amor

Temos vontade de abraçar

Quanto mais abraçamos

Mais queremos amar.

E . . .as carências se diluem.

Mesmo à distância

Em um envolvimento subjetivo

Amamos e abraçamos

Com prazer objetivo.

São almas envolvidas

Em um mesmo pensar

Compartilhando vivências

Que as unirá

Em um mesmo caminhar.

M Ã E

10/05/1.992.

Quando ainda vivias

E eu poderia

De tua companhia usufruir

Não avaliava a importância

De contar com a tua presença.

Agora que partiste

Deixando um grande vazio

Meu coração soluça

Por não mais poder te ver.

Este coração

Que também já vai envelhecendo

Eleva, por ti, uma oração

Aguardando o momento

Que por mim

Também façam igual intenção.

Quando colhido pela idade,

Senhora que a ninguém perdoa,

E ao teu encontro eu partir

Deixarei, talvez, outros corações a soluçar

Também repletos de saudade.

D O A Ç Ã O V O L U N T Á R I A

11/05/1.992

Em cada verso que escrevo

Coloco pedaços de minhas entranhas

Ao leitor sei que isso devo

Para não lhe parecer um estranho.

Essa doação voluntária

Que faço, sem restrição,

Viajando por região imaginária

Me elevam a superior dimensão.

Quanto ao próximo mais eu dou

Em um desprendimento consentido

Mas rico se torna o meu interior

Construindo castelos eu vou

Buscando, para a vida, novo sentido;

Encontrarei, ao final, o prêmio maior.

D A N Ç A N D O

11/05/1.992

Seu esguio corpo junto ao meu

E um ajustamento milimétrico das curvas

Seus longos braços me envolvendo

Rostos colados misturando nossas rugas.

Seus longos cabelos esvoaçando

No ar sentimos suave cheiro de perfume

Em lentos passos vamos dançando

Não alimentamos mais queixumes.

A divina música transporta

Nossos sonhos ao infinito

Em um arrebatamento que extasia

Passado e futuro abrem as portas

Esquecemos que o mundo é finito

E passamos a viver, do amor, a fantasia.

B E L E Z A I N T E R I O R

13/05/1.992

Qual a aparência física e quais as qualidades interiores de um indivíduo?

O ideal que deveríamos almejar seria o encontro dessas duas imagens para que se parecessem; se isso não ocorrer, o que sou fisicamente não apresentará a minha real imagem, o meu verdadeiro “eu”.

Quanto mais jovem for uma pessoa, fisicamente, melhor será a sua aparência; haja vista as criancinhas que todos nós achamos lindas naquela aparência inocente e desprotegida. Ela é assim justamente por revelar um interior destituído de defeitos aparentes. Na realidade a aparência exterior é o reflexo de tudo aquilo que se passa em nossa alma. Com o desenvolver dos anos vamos formando a nossa personalidade que é influenciada pela nossa vivência; no começo de modo irrefletido, quando se destacam alguns defeitos, frutos de nossa imaturidade; depois começa a ser gerada a sabedoria pelas experiências vividas. Aquela beleza física, um pouco fútil, no começo, vai enriquecendo o interior e a exteriorização de uma personalidade agradável transforma aquela futilidade em uma beleza, que, vinda da própria alma, ilumina o ser envelhecido marcando-o com uma aura de simpatia que estende-se para alcançar os seus semelhantes. Aí, transparece a verdadeira beleza, que jamais esmaecerá.

Nesse momento estará estabelecendo-se uma coesão entre o exterior e interior, fundindo-se em uma mesma imagem que criará uma personalidade com a qual nos será gratificante conviver.

É justamente por isso que deveremos procurar conhecer a essência de cada pessoa através da percepção da unificação de imagem, antes de analisá-la exteriormente. As qualidades que procuramos só as encontraremos na alma e através de nossa sensibilidade perceberemos que sempre estará jorrando como fonte inesgotável de um olhar límpido, de onde recolheremos e reconheceremos o amor, a amizade, a paz e a harmonia.

M U S A S C O M P A N H E I R A S

20/05/1.992

As musas que construi,

Personagens de meus sonhos,

Caminham comigo pela vida

Para que não me sinta tristonho.

São companheiras queridas

Que dissipam minha solidão.

Uma delas é Walkyria,

Dos sonhos da juventude,

Teresa, Rosa e Maria,

Com a Poesia,

Minhas fieis companheiras.

Maria da Praia,.

Malu, Rosemarie,

Jacy, Joice, Marília,

Júlia, Mercedes, Mara

Que lembram seres viventes.

A Maura de coração amargurado;

Mariinha que mãe ardente!

Vicência, Honorata e Justina

Que alimentaram os meus sonhos.

Cordelia, dos mistérios a vidente.

Maria Claudia que se fez

Do amor a confidente.

Mafalda que não soube

Conservar um puro amor.

A Ditinha, que afinal se ofereceu.

E as Miríades de Estrelas

Que brilham no firmamento;

São todas criadas pela minha fantasia,

Mas algumas vidas têm.

M E U S A L V A V I D A S

23/05/1.992

No emaranhado de ilusões

Vivendo mágoas, amarguras, frustrações,

Fui arrastado pelas vagas do destino

E envolvido por tramas mil.

Fugiu-me a esperança de alcançar

A realidade da aspiração que sonhei,

Inconformado, partiu-se algo dentro de mim;

Desiludido passei a esperar o fim.

A vida se delineia em um vazio,

Já não alimentamos transformação alguma

Quando o milagre se faz presente

Pois no mar encapelado em que me debatia

O salva-vidas me envolveu;

Percebi, feliz, que era você.

C A R Ê N C I A S

24/05/1.992

Por trás de minha ousadia,

De minhas decisões maduras,

Do procedimento desassombrado,

Escondem-se minhas carências.

No disfarce da minha valentia,

Nas lutas que tento empreender,

Para buscar soluções

Que cada ser humano espera,

Você encontrará um coração de menino.

As aparências são máscaras

Que escondem as frustrações

De desejos que não vivemos,

Construindo um vazio dentro de nós.

Como converter os maus caminhos

Que o sofrimento nos impôs?

Será que ainda reconstruiremos

Os eventos a que aspiramos

Para resolver nossas carências

Preenchendo o coração?

A M O R R E A L

28/05/1.992

A suprema felicidade

Seria eu viver em mim

Apurado em minha essência

Para esquecer o que é concreto

E não faz parte do subjetivo.

Haveria, então,

Um momento de ilusão

Em que poderíamos nos encontrar

Para nos amar

Sem medo de escandalizar.

Esse seria o verdadeiro amor,

Puro como o de uma criança,

Que ama no primeiro instante

Ao lançamento de um olhar.

Por que não somos assim,

Procurando em nosso interior,

Essa inocência que guardamos da infância?

Por que não criamos condições

Para esse amor florescer

Sem que haja nada proibido

A não ser nossas aflições?

R E F L E X Õ E S M O T I V A D A S P O R U M S O N H O

09/06/1.992

Bruder Klein (Irmão Pequeno) é pseudônimo de José Wladimir Klein, nascido no dia 06 de Novembro de l.928 no, então município de Santo Amaro (Hoje bairro de Santo Amaro, na Capital do Estado de São Paulo). Veio à luz na casa nº1 (um) da Av. Adolfo Pinheiro, esquina da rua que tempos depois receberia a denominação de Voluntário Delmiro Sampaio, casa essa que pertencera ao patrono da avenida, de quem sua bisavó (Justina) foi escrava. Filho de Jacob Klein e Maria de Lourdes Moura; o primeiro, filho de Pedro Klein de origem alemã e Vicência Alves, índia natural do Cipó, lugarejo distante de Santo Amaro; a segunda filha de um santista de nome Francisco Araújo e De Honorata de Moura, filha de Justina.

J.W.Klein, viveu no casarão da Av. Adolfo Pinheiro até a sua demolição para alargamento da avenida, ocasião em que passou a residir no nº462 da Vol. Delmiro Sampaio, local que hoje (1.992) faz parte de um estacionamento (Bradesco). Ali casou-se com a jovem Jandira Ramalho, de família mocoquense (Mococa SP), no dia 31/07/48, permanecendo no local até 28/09/52. quando mudou-se para Cidade Dutra, onde residiu até 28/09/72, quando mudou-se para a Rua Augusta (centro) e depois de dois anos para a cidade de São Bernardo do Campo SP.

Desenvolveu a sua vida profissional como funcionário da Cia. Municipal de Transportes Coletivos ( CMTC) onde chegou a chefe de Seção de Tesouraria; paralelamente exerceu as funções de Secretário e Diretor Administrativo do Instituto Educacional Infantil (internato para menores excepcionais). Em 1.976 aposentou-se e depois de dois anos passados em uma higiene mental, trabalhando em uma chácara na cidade de Suzano, transferiu-se para Mococa (agosto/77, local onde desenvolveu atividades políticas e comunitárias, tendo inclusive fundado, juntamente com outros companheiros a Associação Literária Mocoquense (ALIM) e o Conselho de Ação comunitária e Associação dos Aposentados de Mococa. (Em 1.996 (outubro) voltaria a residir na cidade de São Bernardo do Campo).

Sempre gostou de escrever como segundo lazer (o primeiro sempre foi a leitura) mas a cada mudança que fazia colocava todos os textos no fogo. A partir de l.972 é que começou a conservar os escritos que reuniu em alguns livros, produzidos por cópia xerox, que distribui para algumas bibliotecas, (inclusive registrando na Biblioteca Nacional)

O seu sonho seria que, também, a Biblioteca de Santo Amaro, sua terra, mantivesse cópias do seu trabalho. Chegou a enviar mas nunca recebeu nenhuma resposta.

É evidente que as obras não possuem valor literário mas serão unicamente um testemunho da ligação mantida (mesmo à distância) com a terra onde nasceu. Mesmo que o bairro de Santo Amaro haja passado por uma transformação tal a ponto de descaracterizar as paisagens de sua adolescência, quando percorre as ruas do bairro, revivem, em seu íntimo, as emoções de tempos tão preciosos.

Vivendo em uma cidade que lembra muito os cenários de sua infância, com um coreto, onde uma banda toca, aos domingos, os mesmos dobrados, revivendo os alegres momentos da juventude e do “Futing” na Cap. Tiago Luz (Rua Direita) voltam à mente lembranças de tantas musas que o emocionaram naquele tempo que queria acreditar na fantasia: Célia, Carmem, Silvia, Caridade, Clementina, Maria Teresa, Mercedes, Mirtes, Nhorlanda, Margarida e tantas outras que apenas os olhos acariciavam e fazia disparar o coração, para depois desfazerem-se como sonhos inatingíveis. As matinês no Cine São Francisco, as missas na Matriz, os folguedos com tantos caros companheiros que o destino separaria mesmo antes da morte! As aulas na Escola São Francisco com Da. Carmelina Alvim e em uma outra escola, com Da. Lolinha (hoje Dra. Umbelina Pinheiro Foster Zenha) e mais tarde no Grupo Escolar Paulo Eiró (Profs. Sr. Antônio, Sr. Oswaldo. Da. Ninom; todos eles nos oferecendo uma base sólida, não só de conhecimentos e sim, também, morais, que nos acompanhariam por toda a nossa vida.

Depois. . .surgiria a Walkyria que fora morar em frente à sua casa na Delmiro Sampaio, onde hoje se encontra o Cinemar, e que passaria a ser a eterna musa, porque partiria para uma distancia inatingível, o desencontro! São marcas indelevelmente marcadas em uma personalidade sensível; afinal, somos as emoções que vivemos! A nossa vivência é que fez de nós a pessoa que somos hoje. . .e quando, às vezes, nos bate uma saudade danada. . .de pedaços de nossas ilusões, desejamos voltar; voltar a vivê-las hoje . . .mas não conseguimos . . .Que bom se pudéssemos, ao menos, reencontrar aqueles companheiros da turma de 1.940 do Grupo Escolar Paulo Eiró! Alguns já partiram, outros se transformaram, todos somos diferentes e jamais poderemos nos reencontrar para vivermos aquelas mesmas emoções, que nos fazia visualizar um futuro encantado! Quantos o alcançaram? Quantos foram felizes, não só no sentido de realizarem suas aspirações materiais, e sim, aquelas subjetivas que jaziam no mais profundo do seu ser? Essas emoções estão tão entranhadas em nosso subconsciente que as podemos reviver através do sonho. Esta noite sonhei e revivi alguns momentos preciosos que me fizeram realizar encontros e confissões que não tivéramos coragem de declarar no tempo adequado. Fiquei profundamente feliz porque tive a nítida impressão da realidade, consolidando algo que ficara recalcado dentro de mim. Ao acordar, a constatação real de que jamais poderei refazer pedaços do passado, me causou uma frustração profunda, uma nostalgia, que me afugenta para longe de mim mesmo. Para onde poderei me refugiar? Para a saudade?

O tempo e as conquistas que perdemos são irrecuperáveis, o presente o que poderá nos dar?

Você, que em algum tempo ler estas palavras, valorize e conserve as emoções vividas. Elas serão lembradas, com saudade, um dia, e poderão ser um sustentáculo que lhe darão forças para continuar a caminhar e vencer os anos, até que encontre o equilíbrio necessário para que possa encerrar os seus dias possuído pela paz, pela harmonia, pelo amor!

Quando a nostalgia traça um fio de ligação entre o passado e o presente, uma força colossal nos quer obrigar a abandonar tudo para corrermos ao encontro do passado, como a querer que ele seja o nosso futuro; que não mais nos propicia o incerto e o desconhecido e sim aquilo que realmente desejamos viver, que são as emoções que guardamos com todo o carinho bem dentro de nós.

N O S T A L G I A

05/07/1.992

Das cinzas do passado

Em que se transformaram

As preciosidades que vivi

Ressurge o espírito da esperança;

A querer me contemplar de novo

Com a felicidade que perdi.

Volto no tempo o pensamento

No desejo de ter aqui

As musas dos meus sonhos

E percebo. . .que o passado já morreu

E. . .não irá a alegria me devolver.

Na fantasia criada em minha mente

Alcanço o elo que me liga à gente

A momentos envolventes

Que, então, vivemos

E que não voltam mais.

R E A L I D A D E

07/07/1.992

As longas convivências

Transportam-nos ao final

Para a perfeição no relacionamento.

Diz até o vulgo, que

“Tornamo-nos parentes”

“Que ao fim somos dois irmãos.”

Primeiro é a paixão,

A chama arrebatadora,

O ciúme, a dor da dúvida,

Que faz gerar o amor.

Momentos envolventes!

Desse conluio nasce a amizade

Forjada nas tempestades da vida.

O tempo, inclemente,

Vai fazendo a flor murchar

Para que tudo se transforme

Na saudade de álbum de recordações;

Que folheamos, nos lembrando,

Através das folhas amarelecidas,

O grande amor que feneceu . . .

Então nasce a necessidade

De preenchermos o vazio

Para voltarmos a viver . . .

E já se faz tarde!

L I G A Ç Õ E S E N E R G É T I C A S

25/08/1.992

Deixe-me tocá-la

S u a v e n t e . . ., assim . . .

Como se fora em pensamento.

Para que se unam nossas peles

Contatando nossas energias,

E fluam nossos sentimentos

Das regiões mais profundas,

Para estabelecermos o ciclo do sonho.

Já é hora de unirmos,

Sem medo, nossas solidões,

Para alcançarmos o frenesi

De almas que se pertencem;

E subjetivamente caminhemos,

Embora separados por distâncias,

Ainda que desunidos pelo tempo,

Para a conquista do que mais queremos,

Que é a paz do amor sonhado,

Que nos transportará,

Para um mundo sem castigos.

D O A Ç Ã O E X P O N T Â N E A

01/09/1.992

A coisa mais frustrante,

Que avoluma minha carência,

É que me permitam,

Possuir um corpo,

Sem que haja uma troca

Gerada por sentimentos verdadeiros.

Quando alguém dá sem se dar,

Sem que flua na relação,

Uma troca recíproca de energia,

O ato jaz no vazio,

Sem nada acrescentar

A nenhum dos parceiros.

Ninguém é obrigado a dar,

Mas se o fizer terá que se doar,

E participar de modo que,

As almas inflamadas fundam-se

Em um mesmo ser.

M I N H A E S P E R A N Ç A

12/09/1.992

O teu olhar,

Quando se derrama

Dá-nos vontade de sorvê-lo,

Como suave bebida,

Que irá nos embriagar,

Para sonharmos com o amor,

Que nos preencheria o coração.

O teu sorriso

Quando desabrocha

Tal qual primavera

A nos preencher de encantos,

Perfuma a vida,

Transforma nossa vivência,

Faz-nos renascer a esperança,

De ainda vivermos na fantasia

Que só o amor poderia nos dar.

Tudo isso são quimeras,

Que os carentes constróem

Para dissipar o obvio;

De um viver solitário;

Tentando construir sozinho

O que só se faz a dois.

M E D O

18/09/1.992

Medo!

Medo de ter medo!

Medo de mentir,

Medo de ser verdadeiro!

Sentir o sentimento,

Com medo de sentir.

Visualizar a incógnita do amanhã

Quando o hoje nos assusta.

Buscar a realização,

Com receio de constatar

Que tudo é irrealizável.

Assim é que caminhamos pela vida,

Tentando superar carências,

Juntando forças interiores,

Para, sem medo,

Enfrentar o futuro,

E conquistar o supremo bem;

A liberdade de ser,

Para ser o ser que eu quero,

Sem receio de errar.

B A S T A

23/09/1.992

Basta!

Basta de mentir!

Não mais desejo me enganar,

Sabendo,

Que esses sentimentos são mentira.

Me arrastei pelos recantos da vida

Esperando encontrar acolhidas

Em algum coração,

Que como o meu,

Também, tivesse perdido o rumo.

E que nossos sentimentos,

Desviados de suas origens,

Pudessem se encontrar

Para que nossas vidas aflitas,

Se juntassem em um resumo,

De história de folhetim,

Onde conhecêssemos o sonho

De alcançar o ideal,

De construímos algo novo

Que nos dará a felicidade.

B U S C A

07/10/1.992

Estou feito prisioneiro

Entre quatro paredes de solidão,

Purgando as mágoas e angústias,

À procura de um peito amigo.

Permita querida amiga,

Mesmo na distância

Que o destino nos conserva,

Usar o teu peito amigo

Para descansar a minha alma,

Derramando os meus anseios

Para aliviar o coração

Já a explodir de emoção.

Na verdade não desejaria

Transferir a você minhas tristezas,

Ao contar-lhe o quanto estou só,

Embora não esteja sozinho.

Pois minh’alma inconsolável

Busca outras paragens

Onde possa encontrar o amor,

Bem supremo que me falta

E sem o qual não sei viver.

O A M O R Q U E E S P E R O

10/10/1.992

Quando na minha infância

Contavam-me histórias de anjos

Eu fazia um enorme esforço

Para que suas imagens se gravassem

Em minha mente povoada de sonhos;

Para que os reconhecesse,

Se algum dia os encontrasse.

Muitos anos depois

O meu subconsciente acordou

Para reconhecer em excelsa musa

A figura que imaginei.

Quando em uma noite de Natal,

Em longínquo passado,

Minha alma sofria em agonia,

E meu espírito ansiava em partir

Na busca de irmãos perdidos,

E plantava-se em mim a frustração,

Pela impotência do querer,

Visualizava cada face,

A sorrir-me, para que,

Nunca mais as esquecesse;

Nascia, assim, forte em meu peito,

A esperança do porvir.

Naquela noite insone

Quando me enlevava em escrever

Surgiu radiante em minha frente

Uma figura que me pareceu conhecer.

Ao contemplar o céu azul

Cravejado de estrelas luminosas

Uma havia especial,

Que para mim queria,

A mais bela!

Transmitindo mensagens especiais,

Para compensar carências

De corações solitários.

Ao assistir o espetáculo

De divina música,

Arrancada por bela musa,

Do instrumento antigo,

De gozo adormeci,

E transportado para regiões estranhas,

Onde a vida era um sonho

Que a felicidade prometia;

Possuído por estranho poder,

Fundi em uma só todas as musas,

Para que assim pudesse amar

A soma dos meus ideais.

Ao assim proceder acordei,

E em vão continuo a esperar

Aquela que tanto amei,

E que talvez me amará.

S O N H O

03/11/1.992

Eu sou criança

E brinco na rua de terra.

O telefone toca

Na mansão, com paredes

Toda manchada de barro.

Para que meu filho não acorde, corro.

Quando abro a porta,

Deparo com enorme cão negro;

Digo à sua dona,

Que ainda tenho muito medo dele.

Ele se aproxima,

Farejando-me, me festejando.

Eu de medo seguro o seu focinho.

Ele se aninha em meu colo,

Enrola-se em mim,

E aos meus olhos

Transforma-se em feliz criancinha.

R E L E M B R A N D O

18/11/1.992

Seis horas da tarde

A noite emudece a paisagem

Preparando a festa

Com milhões de estrela a brilhar.

O sino chama para o Ângelus

Em uma tonalidade pungente

E os seres enternecidos

Procuram o passado relembrar.

Festas na capela da fazenda

Quando a Ave Maria abençoava

A família toda reunida

Hoje os filhos se distanciaram

Para vencerem algures;

Todos pagam um preço de tristeza e de saudade.

V I A J E M I M A G I N Á R I A

21/11/1.992

Em um desses dias

Saí a viajar distancias,

A rever os tempos,

A visitar antigos companheiros.

E como se torna gratificante

Reviver alegres momentos,

Refazer os nossos feitos,

Corrigindo distorções,

Mesmo que só na imaginação.

Lavamos nossas almas,

Reconquistando amizades,

E, até, conseguimos declarar,

À bela musa que nos encantou,

Palavras que jamais serão esquecidas.

Porém,, são andanças imaginárias,

Que o pensamento veloz,

Insiste em nos trazer de volta,

Para que continuemos

A, no presente, viver as frustrações.

I N C E R T E Z A S

21/11/1.992

Fui me enrolando em incertezas

Deixei a dúvida tomas conta de mim;

Quando me dei conta,

E desejei me desfazer dos laços,

Das tramas do destino,

Foi, que assustado percebi,

Que já não era o ser de antes;

Que desejando me encontrar eu me perdi.

Agora caminho sem rumo

Seguindo sendas subjetivas,

Tentando, em vão, encontrar

Um caminho para mim mesmo.

Descobri que essa longa estrada

Que terei de percorrer

Para voltar a ser feliz,

Depois de serpentear por ilusões

Irá terminar em você.

T R A N S P A R Ê N C I A

11/01/1.993

A cor dos olhos

Não é essencial

Para fazer a beleza do olhar.

O que transmite vida

É a expressão que comunica,

O amor, a paz, a tranqüilidade,

Ou seus opostos radicais;

Qualquer deles mexendo,

Profundamente com nossas emoções.

São sentimentos que nascem

No mais profundo da alma,

Prende-nos e nos conquista

E são confirmados

Pela entonação da voz

Vinda, também,

De um labirinto de emoções.

A M I G O

O cão, com certeza,

É o amigo que o homem quer,

Tão dedicado e fiel

Em suas manifestações de amor.

Quando seu dono sai,

Para o trabalho ou passeio,

Esse amigo de sempre

Demonstra a falta com seu choro.

Basta pressentir a volta,

Para que seu coração se expanda,

Os olhos brilham de alegria.

Pula e rola, em suas manifestações de amizade;

O seu prazer se completa!

M E N S A G E M D E P A Z

25/05/1.993

Antes de estenderes a mão ao teu adversário, dirija-lhe um olhar de complacente humildade. Estarás comprovando que expulsastes, do coração, toda a mágoa passada e que ali só jaz o perdão.

Quem de fato perdoou não fere, com arrogância, os brios de seu contendor; estendendo a mão em um gesto vazio, alimentando, ainda, orgulho no coração.

Cuidado com os que te cercam, se te incentivam à guerra. Eles não desejam que conquistes novos aliados para que não perigue as suas posições.

Mingúem poderá governar continuamente em guerra se não quiser fracassar; o mundo pertence aos conciliadores, que sempre terão destaque maior.

Repudies a guerra, procures a conciliação, conquistes a paz.

Serás um vencedor!

M A N T E N D O O E L O

28/06/1.993

Nesse nosso desconhecimento de tempo e espaço não nos apercebemos de nossas obrigações epistolares e acabamos por magoar as pessoas mais importantes em nossa vida. Nos entregamos à meditação e nos enveredamos pelos meandros interiores, desconhecendo as ausências objetivas porque passamos a viver no imaginário de nossos sonhos de onde os amigos não se apartam.

Nos raros interregnos em que pisamos o chão firme da realidade sentimos a necessidade de uma comunicação mais concreta. Ai nos satisfazemos com as imagens e sons, gravados por um “clic” de uma câmara escura, ou das profundezas da alma. Isso nos dá a certeza de que possuímos o que amamos, através de todo o dinamismo das produções artísticas; estas são que revelam, verdadeiramente, o interior das pessoas e as desnudam aos nossos olhos para percebermos a limpidez das almas. Isso nos garante que poderemos estar ausentes, porém, jamais estaremos separados daquelas pessoas que possuem, em seus interiores, a mesma essência de sensibilidade, de criatividade e, até, de frustrações.

Nesses meses de ostracismo você não têm se ausentado de minha presença, pois em minha solidão está viva, no subconsciente, a imagem, a alma; o coração nas entrelinhas de suas poesias; a emoção percorrendo labirintos.

Espero, sinceramente, que o seu silêncio seja a tradução de realização e que você esteja vivendo tudo aquilo que sonha e que a sua alma sensível aspira. Este seu amigo se sentirá feliz ao ter conhecimentos da concretização dos seus ideais.

Gostaria de continuar a receber, vez por outra, suas poesias que oferecem, sempre, novo alento, para buscar, dentro de mim, algo a oferecer, para algum dia, talvez, falar, postumamente, a algum coração, preenchendo-o de alegria e satisfação através da identificação com um espírito irmão.

Peço desculpas pela tardança em escrever. Para tudo tem a hora certa e creio que esta a alcançará em um momento apropriado.

Estou enviando uma coletânea de artigos escritos na imprensa local que poderão fazê-la conhecer mais um pouco de mim.

Tenho estado afastado de todas as atividades e até de mim mesmo, como pessoa física; mergulhado no imponderável para uma reciclagem que me permita maior sensibilidade. É certo, entretanto, que temos estado juntos por paragens paradisíacas onde as personalidades se diluem para dar lugar e enriquecer a verdadeira fraternidade universal. Oxalá possamos aproveitar esses momentos de recolhimento interior para que nos transformemos, verdadeiramente, em seres mais evoluídos.

Abandonei, um pouco, o meu filho mais novo, “Proversando”, mas o meu desejo é retomá-lo aos meus cuidados, vez que temos estado separados a vários meses, período áspero em inspirações.

Espero, com ansiedade, o seu novo livro que conto esteja sendo concretizado, para alegria de seus leitores. Embora os livros possam não alcançar sucesso de vendas eles produzem muito bem a quem tem o privilegio de os ler. Um exemplo é o seu “Místicas Lembranças” que a cada dia nos propicia novas revelações e inspiração para vivermos melhor e amarmos com profundidade aos nossos semelhantes. E quão grande pagamento é isso! Estarmos semeando amizade, amor, companheirismo, compreensão!

A M O R O C U L T O

28/06/1.993

Amar em silêncio

Com o coração explodindo

Incapaz de conter as emoções.

Sem poder exteriorizar

A coisa mais pura

Que aos impuros

Irá escandalizar.

Será útil manter

Hipócritas aparências

Para satisfazer o egoísmo

De pessoas imperfeitas?

Ou será melhor

Romper com a tradição

Desprezar as convenções

Que silenciosas, nos esmagam

Com inveja de sermos felizes?

A L C A N C E D O I N T E L E C T O

30/06/1.993

Ao escrever deveremos ter como objetivo propiciar a reflexão a quem ler o texto. Mais valioso do que qualquer coisa que escrevermos será o potencial que jaz inerte em cada mente e que será despertado por essa reflexão; constituindo-se, dessa maneira, a mensagem dirigida, um incentivo ao pensamento que alcançará novas nuanças do assunto abordado.

Nem sempre o escritor consegue transpor, para o papel, tudo aquilo que sente em seu íntimo, pela dificuldade de encontrar símbolos apropriados à compreensão, que deverão encontrar uma sintonia no intelecto do leitor.

É um verdadeiro mistério o desenvolvimento que se processa, desde a inspiração que já advém de um conselho de sábios, transmitidos por canais especiais de comunicação, passando pelo crivo do escritor até ser complementado pelo leitor; este, quando sente a sua mente desperta pela reflexão, também contribui como autor da obra, desde que junta o seu próprio conhecimento para aprimorar o pensamento.

Assim, o conhecimento vai evoluindo, mesclando experiências de autores e leitores em uma troca e aperfeiçoamento constante, até alcançar o objetivo maior que será construir uma sociedade mais justa, onde o homem, independente de raça, cor, religião ou ideologia, poderá conviver pacificamente com o seu semelhante.

P A Z N A S O L I D Ã O

20/07/1.993

Eu amo você!

Quando faço esta afirmação

Não me refiro ao seu belo corpo

Nem à tonalidade da sua voz;

Ainda nem penso em seus olhos expressivos.

Não visualizo o seu belo coração.

O que aprendi a amar em você,

É algo que emerge

Do mais profundo do ser,

Envolvendo os que a cercam

Transformando vidas

Criando gente. . .

Como em um passe de mágica.

Embora tudo em você seja precioso

Eu amo mais a sua essência.

Eu amo a sua alma,

Antiga companheira

De ululantes caminhadas,

À procura da paz

Que hoje encontramos

Em nossa solidão.

C A R T A A U M A A M I G A

21/07/1.993

Recebi o seu manancial e me atirei imediatamente para saciar a sede, como se fora um beduíno perdido em seu próprio habitat, ao encontrar um oásis verdadeiro. Saciada a sede, ao atingir a última página, meditei sobre o prefácio, escrito por quem conhece tão profundamente a autora; constatei a similitude de pensamento que nos une na apreciação de tão preciosos traços de personalidade.

No dia seguinte reiniciei a leitura, agora, ciceroneado pelo intelecto e coração da autora, para caminhar nessa busca que, também, tento empreender para dentro de mim mesmo, no desejo de alcançar o universo.

Tantas coisas aprendi!

Pude apreciar a beleza das matas silenciosas que trabalham diuturnamente para salvar a humanidade. De meu costumeiro divagar, cheguei à profundidade da reflexão, podendo concluir que entre passado e futuro o mais importante é o presente e que a obra mais significativa, que nos deve importar, é a que realizamos agora, neste instante. Senti mais profundamente o silêncio e a solidão, nossos tão conhecidos companheiros!

Já aprecio, com intimidade, os fenômenos da natureza e as estações, tão necessárias para dinamizar os ciclos da vida.

O mar e a branca areia da praia ganharam novo encanto e até me aventurei em uma rica viajem fantástica em um navio pirata que tinha a capitanea-lo um poeta sonhador.

E o sonho? Que bela emoção! Quer estejamos dormindo ou despertos, nos transporta para um mundo fantástico onde, finalmente, encontramos a paz e a felicidade tão buscadas, como se as pudéssemos encontrar através das místicas misturas da alquimia. Realmente a encontraremos quando, através da mistura de sentimentos puros, construirmos o amor em toda a sua plenitude; que prescinde até da presença física por viver e sobreviver apenas dos tempos, das distancias e de dimensões diversificadas.

Terminada a segunda leitura sinto-me cansado da longa viaje empreendida, mas tenho consciência de que muitas nuanças me escaparam e já empunho a batéia para garimpar nesse rio cristalino à procura das mais preciosas pedras e, talvez, até, possa deparar com a “Pedra Filosofal” que me daria a sabedoria.

Procurarei, nas entrelinhas, o que não foi dito e sim apenas imaginado ao ser composta cada preciosidade. Tenho a certeza de que assim aprenderei a conhecer mais e melhor essa amiga a quem tanto estimamos.

Agradecido pelo inusitado. Parabéns por mais esse passo no difícil caminho do sucesso, que esta sendo alcançado pelo seu talento e obstinação.

U M E V E N T O C H A M A D O M O R T E

23/07/1.993

Certa vez, meu sogro falou-me: “Quando moço, nunca pensava na morte; ao ultrapassar os setenta anos esse pensamento passou a fazer parte de minha vida e me atormenta pela perspectiva de ter, talvez breve, de enfrentar o desconhecido.” Não transcorreu, de fato, muito tempo e ele encerrou a sua estada entre nós, colhido por um acidente cerebral que lhe tolheu os movimentos e a fala, porém não a consciência. Ele não se mexia nem falava, entretanto, quando nos via as lagrimas afloravam aos seus olhos e estes expressavam o desespero por ele não conseguir comunicar-se.

Tomei conhecimento, ainda muito cedo, que a nossa vida física não será permanente; presenciamos ao longo da vida o fenômeno pulular ao nosso redor e não imaginávamos que isso dizia respeito a nós, por não atingir aquelas pessoas mais ligadas afetivamente. Quando foram atingidos aqueles mais próximos, algo começou a mudar dentro de nós na tentativa de encontrar uma explicação que aliviasse a tensão que o fenômeno desencadeia.

O primeiro contato com a morte foi, ainda, nos bancos escolares. Havíamos gozado férias e ao retorno estávamos todos desejosos de rever aos colegas. A professora, depois de nos receber com alegria, cumprimentando a todos, fez uma pausa. . .e disse:

-“Tenho uma noticia triste para lhes dar: o Venisário não vai voltar a freqüentar às aulas . . .(Venisário era um menino de cor negra, de muito boa índole, querido por todos), ele morreu! Passou a explicar que ele havia sido acometido de uma moléstia e residindo distante de recursos para o tratamento, falecera.

Foi uma consternação geral; nós, que nem entendíamos direito o significado da palavra morte, unicamente sentimos um grande vazio dentro do peito, uma tristeza indescritível, um peso, que naquele momento nos dava a impressão que jamais nos abandonaria.

Esse acontecimento foi uma verdadeira lição de vida, visto que por meio dele aprenderíamos que a dor e a melancolia causadas pela morte, pela separação definitiva de entes queridos, encontram, adiante, um remédio, que é o tempo. Sofremos por um período, curto ou mais longo e quando percebemos, o tempo cicatrizou aquela ferida deixando gravada no mais íntimo do nosso ser, essa experiência que nos acompanhará pelo restante de nossas vidas. Será, sempre, através da soma de nossas experiências que formaremos o nosso caráter.

Aos dez anos de idade o fenômeno me atingiria com maior intensidade, visto que perdia, prematuramente, meu pai. Ele havia sido internado em um hospital de outra cidade para um tratamento especializado, de moléstia adquirida na juventude. Para nós aquilo era uma coisa simples, uma rotina, que logo passaria e aguardávamos a sua volta. Quinze dias depois, ao solicitar informações a um médico de nossa cidade, que trabalhava no referido hospital, minha mãe recebeu um choque ao ser informada que meu pai havia falecido há uma semana e já estava sepultado lá mesmo. Erro médico? Nunca ficamos sabendo a causa real da morte e tivemos que nos conformar com o que declarava o atestado de óbito. Minha mãe e meu irmão choravam; eu não era possuído por uma profunda e estranha paz. Alguns dias antes, lembro-me bem por ter sido no dia 6 de janeiro que fora aniversário de minha avó materna, eu sentia um peso enorme no coração, uma angústia indiscritível a ponto de não aceitar o oferecimento de minha avó para que me divertisse nos vários brinquedos que haviam na quermesse que se realizava na cidade. Fui sozinho para casa e deitei-me esperando dissipar aquele mal estar. Fora justamente nesse dia, soubéramos depois, que meu pai falecera. Eu havia pressentido! Mais uma experiência preciosa que me acompanharia pela vida!

Outro acontecimento marcante foi o falecimento de uma jovem de dezessete anos (Nanci) que era madrinha de minha filha e residia ao lado de nossa casa; afeiçoara-se tanto à afilhada que vivia mais em nossa casa do que na própria. Moça sadia, trabalhava em um laboratório farmacêutico, nunca sentira nada. De repente, um mau funcionamento intestinal, uma consulta médica, radiografias, exames, constata-se um tumor (benigno ou maligno?), a necessidade de uma cirurgia, que pela urgência foi realizada em um domingo.

Eu trabalhava nesse dia e recebi um telefonema de minha esposa dizendo que a Nanci estava sendo operada e necessitava urgente de transfusão de sangue (o meu é universal) e que eu teria de ir imediatamente para o hospital que era distante do meu trabalho. Respondi que iria imediatamente, mas que, em razão da demora que ela procurasse meus tios que residiam próximo ao hospital e tinham o mesmo tipo de sangue. Quando cheguei meus tios já haviam fornecido o sangue, mas a situação era crítica; aproximei-me de uma janela de vidro compacto que dava para a sala de cirurgia de onde assisti a luta dos médicos para sustentarem aquela vida.

Nesse momento, percorreu pela minha mente, com se fosse um filme, mas espelhando a realidade, tudo que iria acontecer nos momentos seguintes, e tive a certeza que já não adiantaria mais nenhuma providência. E não fiquei surpreso, quando cada detalhe ocorreu, exatamente como se revelara em minha mente, e eu, assim, pude confortar aos pais de uma forma que nem eu mesmo acreditava, dado o autocontrole que me dominou naquele instante; a ponto de o médico se aproximar de mim para comentar: “O Senhor foi de grande ajuda!”

Passado aquele dia em que o controle foi perfeito, cai em depressão, tendo sido necessário que minha mãe me desse um “chacoalhão” para que retornasse à realidade. Marcou-me profundamente, esse episódio, que o tempo cicatrizou.

A morte de uma Senhora (Mariquinha) que praticamente havia criado minha mãe e cuidara de mim e de meu irmão, já me alcançou com o espírito sólido, aceitando-a com naturalidade pela extensa vida que se findava, acima dos noventa anos. Parece que quando as pessoas viveram uma boa e longa existência, partem sem grandes tristezas, por nos parecer que se trata de um descanso merecido, foi o caso.

Com minha avó materna ocorreu caso semelhante, quando, com mais de cem anos vividos, adormeceu. Perdera um filho pouco antes, que ficara solteiro para ser seu companheiro. Este adoeceu e, percebendo que se aproximava o final da vida de sua mãe, recusou tratamento e partiu antes para não ficar só.

O falecimento de um sobrinho marcou-me profundamente. Menino inteligente, com treze anos, aproximadamente, nuca estivera doente. De repente, precisou ser hospitalizado e faleceu no mesmo dia. Ao levar meu irmão para o hospital já havia recebido um telefonema avisando que o menino havia falecido, e fui preparando-o pelo caminho. . .matando. . .aos poucos, através da violentação do meu próprio ser. . . A sua esperança de que o filho ficasse bom e voltasse para casa. Voltou sim. . .para ser velado antes do sepultamento.

Nesse episódio pude conhecer toda a sordidez do ser humano que se brutaliza pela rotina do seu viver, sem sentir o drama que é vivido por seus semelhantes que perdem um ente querido.

Precisei correr de um lado para outro, usar influência de amigos, dar gorjetas, transferir o corpo de um lugar para outro, a fim de que fosse feita a autopsia (o hospital não havia constatado a “causa mortis”) para que o corpo fosse liberado para um breve velório e imediato sepultamento.

Mais marcante foi o falecimento de meu irmão que me colheu em momento delicado de minha vida, em que passava por problemas de família que transtornaram a minha vida. Eu estava desestabilizado emocionalmente e recebi o impacto como um sobrepeso ao qual não possui estrutura para suportar, passando por um período de profunda depressão.

O remédio de todos os males curou-me, entretanto.

Depois viria o caso de meu sogro com o qual iniciei este relato, que ocorreu em l.974. Em l.984 seria minha sogra e cinco anos depois, foi minha mãe; com oitenta e quatro e oitenta e sete anos foram duas vidas bem vividas. Esses episódios já me alcançaram amadurecido e consciente que a morte é apenas uma transformação para a qual deveremos estar preparados. Alias, deveremos estar preparados para morrer e para viver, pois a vida que procede à perda de entes queridos é a parte mais difícil. Deveremos aproveitar todas as nossas experiências passadas para estarmos preparados para morrer ou para sobreviver aos que se vão. A separação, depois de um longo convívio, nos machuca e cria um vazio que só poderemos preencher estribados em nossas experiências de vida que nos fornece a certeza de que a chamada morte é uma parte da vida que sempre terá continuidade para que seja complementada a evolução de nossa essência.

Se soubermos viver sabiamente com as nossas emoções estaremos preparados quando chegar o momento de nossa transformação mais profunda e a enfrentaremos com firmeza, confiantes que do outro lado do rio a estrada continua e a vida continuará a nos propiciar novas experiências que irão somando-se no transcorrer do tempo, consolidando o nosso espírito para que cheguemos, um dia, à perfeição. Esse é o objetivo do homem.

Gostaríamos de terminar esta reflexão com duas citações; a primeira da grande pianista Magdalena Tagliaferro “Comecei a viver aos nove anos e meio, quando participei de meu primeiro concerto e não parei de viver, embora fosse vendo as pessoas amigas desaparecerem.”

A outra de uma música de Bili Blanco e Tom Jobim: “Eu quero morrer em um dia de sol, na plenitude da vida.” Lições de vida!

Quando vivemos ou quando morremos, estamos na plenitude da vida e sempre continuaremos a viver. . .

S E X O E X P R E S S I V O

08/10/1.993

O sexo é um assunto que ocupa a atenção das pessoas em geral, até daquelas que não ousam falar dele, presas a tabus que lhes tolhe a vontade. Inúmeros tratados têm sido escritos, que vão desvendando segredos recalcados no íntimo das pessoas. Isso poderia, hoje, tornar-nos catedráticos no assunto não fora um pequeno detalhe: A Sexualidade de uma pessoa é única e completamente distinta das demais.

É claro que o estudo do que já foi pesquisado e experimentado nos tornará mais aptos a uma análise amadurecida do nosso caso em particular, para podermos enveredar por um caminho que nos levará ao autoconhecimento e à realização de tudo aquilo que necessitamos para a nossa felicidade. Quando eu alcançar o pleno conhecimento do que seja o conjunto de atitudes que formam o meu perfil sexual poderei tentar um relacionamento afetivo que, se bem sucedido, resultará na complementação de algo que será o ápice do amor. Ai poderemos entender que jamais poderá haver um encaminhamento inverso, pois se iniciarmos a ligação através do relacionamento físico, não chegaremos à satisfação plena; neste caso haverá unicamente uma simples descarga de energia física da qual advirá a frustração.

O amor nasce pelo olhar que desperta a atenção e a intenção; a tonalidade da voz revela a emoção interior e o toque comprova a compatibilidade dessa emoção. A partir dai inicia-se a investigação das individualidades que serão compatíveis ou não o que abrirá a oportunidade para o estreitamento de relação. O comportamento afetuoso irá estreitando os laços que também serão influenciados pelas pessoas que cercam os interessados e os ajudarão ou serão agentes de impedimento. Consolidados todos os passos estarão os parceiros prontos para a relação que não mais será um ato físico e sim envolverá todo o ser, moral, intelectual, emocional e psicológico, em um perfeito entrosamento para criar vida que é o objetivo final.

O U T R A M I S S I V A

08/10/1.993

Você já deve ter visto um adesivo para automóveis com os dizeres: “Eu acredito em Gnomos”.

Sempre me pergunto o que leva as pessoas a embarcarem em tal afirmação, ou se elas realmente têm uma base segura que as fará verdadeiras por essa afirmação.

Quando alguém afirma que viu um gnomo ficamos receando pela integridade mental dessa pessoa.

Acreditamos que tudo é uma questão de capacidade para transpor os parâmetros das várias dimensões que se sobrepõem no universo, para que realmente possamos conviver com esses seres encantados que poderão nos auxiliar na conquista da felicidade. A abertura dessas passagens invisíveis nos são propiciadas unicamente quando podemos contar com a ajuda de uma “Fada Madrinha”.

E me perguntarão: Você acredita em fadas?

Sim, acredito e sei que ela conversa conosco, como uma pessoa normal, nos falando, nos escrevendo, nos telefonando, e a podemos identificar pelas palavras inspiradas, pela doce voz, pelo amor que dedica às pessoas e aos animais e pela sua fusão com a natureza, que desvenda-lhe todos os segredos, em uma total intimidade.

Cremos que é justamente nisso que se fundamenta a crença em gnomos. Mesmo que não encontremos a nossa Fada, sentimos a sua presença; temos a certeza da sua existência e que não existe obstáculos de tempo ou distancia que nos separe; ela sempre estará presente visto que as ligações foram construídas na eternidade através da vivência de nossas almas.

Prezada amiga, você, que domina os fenômenos da natureza, as plantas e todos os demais seres viventes, me envolva com a sua proteção e me auxilie no aperfeiçoamento da essência que um dia deverá prevalecer em um universo que será cheio de amor, compreensão, paz, tranqüilidade; quando terão desaparecido os vestígios materiais que hoje retardam a nossa evolução. Então, lá, nos encontraremos, certamente. Por agora receba os votos de dádivas que já são suas : caridade, bondade, fé, mansidão, temperança.

R E T O R N O À D O R

29/01/1.994

De tempos em tempos

Ressurge a desesperança

Roubando-me os momentos

De paz de criança.

Apresenta-se como febre causticante

A ferir a alma cansada

Por percorrer caminhos distantes

E afinal quedar-se desamparada.

Volta para o presente

A dor das desilusões sofridas

Que esvaziam a vida de sentido

Instala-se a dor pela musa ausente

Da vida as esperanças são perdidas

Sinto em mim o coração partido.

R I O T I E T Ê

30/01/1.994

A terra formosa

Preparada por mão Divina

É fecundada pela chuva

Que lavando a seiva da mata

Penetra em seu interior.

O milagre da vida

Evolui a sua prenhez

E aos rugidos de felicidade

Rompe o véu sagrado

Para dar à luz o rio.

Este, a princípio

Arrasta-se tímido

Espalhando-se pela mata

Fertilizando o solo.

Depois cresce

Vencendo os obstáculos que o cerceiam

Traçando o seu caminho

Percorrendo distancias

Na procura do seu destino.

De pequeno arroio

Como chuva de lagrimas

Brotando do seio da mãe terra

Logo cresce e avoluma-se

Varrendo tudo em sua passagem

Construindo delicioso leito

Compartilhando com seus habitantes

Que irão alimentar o homem

Para em troca receber

A agressão que tenta mata-lo

Tenta banhar a cidade

Para vê-la vicejar ao sol gigante

Espalhando o brilho humano

De acolhedora da nação.

Sem vida em seu leito

Despovoado e quase agonizante

Reage, saltando corredeiras e cachoeiras

Respirando o ar oxigenado

Da mata verdejante

Que a sanha do homem, ainda não destruiu.

Refeito continua a sua peregrinação

Visitando cidades florescentes

O progresso transportando

A riqueza consolidando

Devolvendo em benesses

O mal que recebeu.

Acorda São Paulo

Desperta a alma do homem

Conscientiza-o do dever a cumprir

Que será unir a vontade

O poder e o querer

Revertendo o processo vigente

Saudando, em sua passagem, o R I O

Que, ainda, insiste em não morrer.

A E S T R U T U R A D O S U I C I D I O

03/02/1.994

Quando Deus criou o homem, do pó da terra, soprou em seus narizes o fôlego da vida e o mesmo passou a ser alma vivente. Percebemos, de imediato, a criação de um ser complexo, com um corpo, cuja vida estava no sangue e uma alma vivente; esta sim advinda do Criador e destinada a exercer o controle das ações.

O homem, ser de origem Divina, usa esse corpo que possui uma vida circulante, necessitando de um completo sistema de manutenção, efetuados através dos elementos da natureza: Terra, ar, água, fogo; e por componentes por estes desenvolvidos. Esta parte física presta-se como um elo de ligação entre o verdadeiro ser e o meio ambiente que o cerca.

A alma vivente, ou espírito, não depende da vida corporal para ser vida; ele o é por si mesma e continuará a sê-lo independente dessa ligação.

O corpo físico tem uma limitação em sua existência, tanto baseada no desgaste natural, pelo tempo, pela maneira como foi utilizado, como, também, pelo fato de não ser mais necessário para a consumação dos objetivos indicados pela missão da alma vivente. Esse corpo físico poderá ser, inclusive, auto-aniquilado independente de tempo ou razão, fato esse que não significará a destruição da alma vivente, que prosseguirá normalmente a sua vivência, rumo ao aperfeiçoamento. Esse aniquilamento, porém, só poderá ser efetuado pelo Criador, que é o único a ter conhecimento do momento apropriado para a transformação.

É justamente esse evento, que separa alma e corpo, que é conhecido como morte e, infelizmente, reconhecido por alguns como o aniquilamento da existência.

Será entendendo esse mecanismo complexo representado pelos nomes de “vida” e “morte”, que na verdade são partes de um todo chamado “eternidade”, que poderemos entender a estrutura do suicídio.

O que é o suicídio e o que leva as pessoas a praticá-lo?

Poderíamos imaginar ser ele o fruto de uma mente doentia, por não possuirmos o alcance necessário ao desvendamento de circunstancias que encontram-se bem mais profundamente de que a mente consciente ou inconsciente. Seria no próprio ser (alma vivente) e só lá, no seu interior que, quiçá, poderíamos entender um ato que condenamos e repudiamos sem compreendermos o por que.

Freqüentemente tomamos conhecimentos de suicídios praticados por pessoas que julgaríamos estarem fora dos padrões de normalidade. Mas, o que é ser normal?

Será que estamos capacitados a exercer esse julgamento ou a nossa ignorância nos leva a uma análise limitada por padrões estreitos de racionalidade? Mais confusos ficaríamos, ainda, quando constatamos que tais atos são praticados, também, por mentes

brilhantes às quais não admitiríamos qualquer possibilidade de desvios.

A alma humana, aquele sopro que saiu do Criador e que é uma parte (minúscula é verdade) da Sua energia, possui o germe da perfeição e tem um direcionamento estabelecido para o centro do universo. Nessa trajetória se utiliza, por períodos incertos, de “vestes” muitas vezes incômodas, que hes tolhe os movimentos necessários à sua evolução e aperfeiçoamento, que a vai adornando de sua beleza real, que destoa de um corpo físico, por mais belo ele seja, apresentando um destacado contraste com o conteúdo do ser. É plenamente compreensível que desejemos nos desfazer de uma veste envelhecida e poluída que já não corresponde ao tamanho adequado às necessidades presente. Por isso, vez por outra limpamos o guarda-roupas para desfazermo-nos de tudo que nos desagrada. Não deveríamos entender os motivos que levam o ser vivente, evoluído, enriquecido em seus valores interiores, desejar livrar-se de algo que o desagrade e lhe é sem serventia?

Reflexionemos sobre isso e não imaginemos que tais atos seriam inconscientes e sim fruto de almas que gozam do mais alto nível de racionalidade.

O próprio ato revela uma certeza do existir e que além nos desligamos das imperfeições que hoje nos infelicitam.

Será, porém, legítimo, visto que interromperíamos uma experiência que talvez fosse fundamental para a nossa evolução e também de outras pessoas? Como saberíamos o desfecho final de nossa existência se não a trilharmos até o momento determinado para a transformação?

É evidente que o Ser Supremo tem conhecimento antecipado de nossas ações e poderia nos conduzir através do caminho que melhor nos aproveitasse; isso só não acontece por ser uma interferência em nosso livre arbítrio, isentando-nos da responsabilidade por ações imperfeitas. O caminho sempre estará aberto e livre para as nossas decisões, embora isso venha a nos causar prejuízos.

Quando a vida passa a ser um peso; quando imaginamos que a nossa existência caminha vegetativa, sem razão de ser, quando imaginamos, e cremos mesmo, que deveríamos colocar um fim a um futuro sem perspectivas, poderemos estar enganados. A nossa missão é limitada pelo seu último minuto, visto que poderá ser nesse instante que iremos realizar a coisa mais importante que justificaria toda a nossa existência. Se não chegarmos a ele talvez passemos a eternidade com o peso da frustração, porque jamais poderemos refazer os momentos que não vivemos.

M E L A N C O L I A

04/02/1.994

A melancolia nos colhendo

Aproveitando-se da languidez do tempo

Que nos faz parar para pensar

Em tudo que deixamos para trás.

Esperanças de ter alguém a nos querer

Unicamente pelo nosso ser

Um querer bem sem falsidade

Um amar sem dissimular.

O que encontramos é a morbidez

Nos desiludindo de desejar viver

Por não mais alguém esperar

Já é por demais pesada a vida

Carga que não podemos suportar

E partimos para alcançar o fim.

S A U D A D E

06/02/1.994

Um vazio que sentimos no peito pela ausência de uma pessoa amada.

É doída e não há remédio para a sua cura a não ser o tempo. Este vai depositando, na ferida, o bálsamo da consolação e quando percebemos, aquela dor, que a princípio era insuportável, vai apagando-se sem que se crie nada em seu lugar. Esse vazio permanente jamais conseguiremos superar; quando parece-nos estar curados, vem a recaída e nos transporta novamente para a angústia, a amargura, a solidão. Por mais que lutemos, pelo período de uma existência, o tempo é, ainda, muito curto para que possamos, novamente, reencontrar a paz de um correspondido amor; e sem amor o que nos resta?

Onde encontrarei a tranqüilidade de mãos se tocando e de vozes sussurrando promessas de uma vida a dois?

Será que poderei retornar ao passado, onde os sonhos tudo isso prometiam, o que não encontro agora, ou me embrenharei resoluto para o futuro, na ânsia de encontrar, ainda, o amor sonhado?

Infelizmente não tenho futuro! O meu futuro só pode ser agora!

S O N H O

06/02/1.994

O lugar que penetrei, em sonho, parecia uma enorme catedral; tive, naquele momento, a intuição de que tratava-se da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Penetrei em uma dependência onde, em enormes prateleiras, estavam empilhadas uma grande quantidade de telas, pintadas com uma perfeição sem igual, apresentando figuras de santos. A cor predominante era o vermelho e deu-me a impressão de que haviam sido pintadas com sangue.

Fui examinando as telas, levantando, uma a uma, e reconhecendo as figuras de Cristo, São Pedro e . . . não consegui prosseguir, quando deparei com uma figura que não conhecia mas que a minha mente afirmava: São Bartholomeu!

Esse é mais um sonho, entre tantos que tenho tido e que não consigo decifrar.

Será que os sonhos, em geral, encerram alguma mensagem?

Creio que sim, eles sempre terão algum significado, embora escape-nos à compreensão, pela nossa incapacidade. Afinal, muitos sonhos que já tive e que no momento não consegui alcançar o significado, depois se comprovaram como mensagens claras de fatos que vieram a acontecer, quando, pude compreender, claramente, as mensagens que encerravam.

P E N S A M E N T O S

10/02/1.994

Quem é romântico tem a eternidade dentro de si; poderá revivesciar o passado, trazendo-o para o presente ou viajar, nas asas do sonho e da fantasia para viver o futuro hoje.

Os verdadeiros amigos nos julgam por tudo que nós os favorecemos; os falsos amigos pelo que lhes deixamos de fazer.

À afirmação de que não é visto não é lembrado poderá ser dada a resposta que, quem for, realmente, nosso amigo jamais nos esquecerá.

O respeito para com nossos amigos obriga-nos a, sempre, aplicarmos a verdade em nosso relacionamento.

25/02/1.994

O demagogo, movido por sua ambição, incita os companheiros à luta pela conquista do poder; alcançado o objetivo percebe que só existe lugar para si; apossa-se dele, esquecendo-se daqueles a quem usou como degraus para a sua escalada.

Os político tem passado, presente e futuro. Da análise de suas ações no passado é que se poderá vislumbrar o seu futuro, independente de sua posição hoje.

A ética é um procedimento estético; é a estética do conhecimento; é a adoção de uma atitude correta para o desenvolvimento de uma ação.

Toda mulher gosta de ser admirada, cortejada e amada, pelo homem que ela escolher; se você for o escolhido não a decepcione.

S E R O U N Ã O S E R

02/03/1.994

Ser ou não ser

O ser que quero ser

É a dúvida que povoa

A minha mente febril.

Alimento alcançar

O objetivo principal

Desta vida transitória

Para poder evoluir

E encontrar o conhecimento

De coisas incertas

Que a vida constrói

Alinhavando destinos

Prendendo na rede

O futuro de alguém.

Se chegar ao fim do caminho

Por certo poderei ser

O ser supremo

Que será condutor

De quem deseja alcançar,

E passarei a participar

De um objetivo maior.

E S T A R J U N T O

09/04/1.994

A juventude, mesmo tida como alienada das conjunturas presentes, cria termos e usos que revelam muita propriedade.

Um desse termos é “Estar Junto” ou “Ficar Junto”.

Em um termo que revela um sentimento de companheirismo apropria-se, mesmo que inconscientemente, de uma ação de responsabilidade que foi estabelecida desde os primórdios da evolução humana e que se consolidou através dos tempos em uma obediência aos preceitos Divinos. Se não, vejamos: Ficar junto é conhecer o companheiro, e foi exatamente o que ocorreu relatado pelo escritor do livro de Gênesis “e conheceu Adão a Eva, sua mulher.”

O que falta é os jovens compreenderem que esse ato é decisivo em suas vidas, em razão de que, ao assumirem tal responsabilidade passam a ser agentes desencadeadores de ações que irão influir na vida de seus semelhantes e de seus descendentes.

N Ã O S E R

25/06/1.994

O amor não é,

Mesmo que muitos o julguem,

Uma simples mercadoria

Que possa ser objeto de trocas

Sem que essa transação

Seja do próprio ser.

O amor é a seiva do ser

Que nasce do interior

E doa-se de si mesmo

Para outro ser igual.

O amor não se compra

O amor não se vende

Doa-se a quem compreende

Os nossos sentimentos profundos

E se dispõe a uma troca justa

Para que haja a fusão de ideais

Que propiciará um mesmo caminhar

Rumo a objetivos comuns

Com a certeza de lá chegar.

O C A M I N H O

19/08/1.994

Todos nós andamos a procura de um caminho que nos leve a um estado de complementação e perfeição de nossa essência.

Muita pessoa tem percorrido caminhos difíceis de serem transpostos, no sentido material, e chegam, ao final percebendo que tudo foi em vão; que não encontraram o que procuravam: a sabedoria que os transformaria em seres especiais.

Entretanto, os verdadeiros sábios nos tem esclarecido que o caminho que leva à sabedoria é o das coisas simples; nada mais simples do que o cotidiano de cada um de nós; se formos observadores os “segredos” da vida e da morte se nos revelam naturalmente.

“Jesus disse: Eu sou o caminho. . .”. Aquilo que ele estava realizando era o seu caminho e Ele o trilhou cumprindo-o ano a ano, mês a mês, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, sem fugir de nenhum momento difícil, até consumar a sua obra que foi a maior de todos os tempos. Jesus foi o divisor dos tempos; antes e depois d’Ele foram tempos diferentes.

Essa lição nos ensina que não deveremos esquecer o presente, o acontecimento de cada dia em nossa vida, porque aí está o nosso caminho; não deveremos nos preocupar com o lugar onde vamos chegar, temos de estar conscientes daquilo que deveremos realizar no momento presente que é, sempre, o mais importante Mais importante, ainda, é o reflexo de nossas ações em nosso interior! À medida que agimos exercitamos a nossa vontade,. o nosso poder, o amor, que com seus reflexos irão traçando o verdadeiro caminho, para o encontro com Deus no centro de nossas vidas que é parte da própria energia do Criador. Quando chegamos a nos conhecer, verdadeiramente, passamos a influir nas maquinações do coração que é de onde emergem as coisas boas e as más. Elevando-se o nosso autocontrole passamos a agir, cada vez com mais acerto, formando-se uma corrente de energia positiva que acelera o aperfeiçoamento. Considerando tudo isso, chegamos à conclusão que de nada nos adiantará realizarmos viagens a lugares distantes; empreendermos jornadas penosas, porque aí estaremos caminhando para fora de nós e nos afastando daquilo que almejamos. A força sobrenatural que nos incentiva à procura do caminho nos puxa para dentro de nós, para o silêncio que nos propicia a passagem para outras dimensões.

Essa caminhada será sofrida em razão de, em primeiro lugar, termos de aniquilar os nossos principais inimigos que são o orgulho, o egoísmo, a inveja, a mentira, tornando-nos seres puros e abertos ao recebimento de orientação, sem nos considerarmos conhecedores dos mistérios da transformação. É preciso paciência e humildade; é necessário que nos recolhamos para aprender a ouvir o silêncio; será quando o ultrapassarmos que estaremos penetrando nessa outra dimensão, onde nos será concedido o aprendizado.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”

Ele foi o seu próprio caminho conhecendo a verdade que o retornou à vida. Veio do Pai e para Ele retornou.

Nós também teremos de ser o nosso caminho e nele conhecermos a verdade para chegarmos ao Pai, bem no centro de nossa vida, onde encontraremos a passagem para a eternidade.

Enquanto estivermos procurando o caminho fora de nós estaremos caminhando contra a mão de direção; não estaremos aceitando tudo aquilo que nos faria bem; estaremos fugindo e nos desviando!

Quantos de nós gostaríamos de ser outra pessoa que não nós mesmo; viver outros acontecimentos; viver em outro contexto social! Demonstramos, assim, insatisfação pela vida que levamos, que foi idealizada, até, talvez, pela nossa própria escolha, para nos fazer crescer em todos o âmbitos de nossa vida. Existem pessoas que não se conformam com o próprio sexo, ignorando o fato de que até isso faz parte do caminho de cada um.

O nosso caminho depende de tantas coisas! A família em que nascemos; os pais que temos; a cidade onde nascemos; o dia e a hora em que nascemos; a maneira de nos relacionarmos com Deus e com os nossos semelhantes; nossa formação educacional, o desenvolvimento cultural; a capacidade intelectual, e tantas outras coisa, cada qual de per si e em um complexo inter-relacionamento, que constróem uma personalidade que tem o seu próprio caminho e só através dele poderá satisfazer as suas necessidades pessoais em cada campo do conhecimento.

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