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FACULDADE LEGALE Curso de Pós Graduação em Direito da Diversidade Sexual, Racial e Religiosa

PÓS LEGALE - AULA 50 - parte 01 material alunos€¦ · tal filiação ou parentalidade. Bi-maternidade ou bi-paternidade. Novos avós. Multiparentalidade. 2001 - 2002 Cassia Eller

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FACULDADE LEGALE

Curso de Pós Graduação em Direito da Diversidade Sexual, Racial e Religiosa

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AULA 50Parte 01

� PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA

� MULTIPARENTALIDADE

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PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA

- Discutida desde década de 70 pelo Professor João Batista Vilela (MG), “desbiologização da paternidade”;

- Pai de afeto / mãe de afeto;

- Antigo conceito de que Pai/Mãe é quem cria;

- Convívio com os “padrastos” e “madrastras” cada vez mais intensos;

- União entre homossexuais e bissexuais com filhos;

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FUNDAMENTO JURÍDICO

Artigo1593 do Código Civil.“O parentescoé natural oucivil, conforme resultede consangüinidade ououtra origem.”

Enunciado 256 do CJF – Artigo 1593: A possedo estado de filho (parentalidade socioafetiva)constitui modalidade de parentescocivil.

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REQUISITOS

� Afeto;

� Posse de estado de filho;

� Reconhecimento mútuo;

� Se maior temque haver o consentimento do reconhecido; se menorcomassentimento da genitora ou do genitor;

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PROCEDIMENTO E COMPETÊNCIA

Ação declaratória de reconhecimento de filiação socioafetiva ouparentalidade socioafetiva (inicialmente o reconhecimento erapossível apenas pelo procedimento judicial);

Reconhecimento emtestamento (irrevogável, efeitos após a morte);

Reconhecimento por escritura pública direto do cartório(inicialmente: Pernambuco (1º), Ceará, Maranhão, Amazonas,Santa Catarina e Rio Grande do Sul); Provimento 63 CNJ;

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EFEITOS

Os mesmos efeitos da filiação biológica, seja para alimentos, sejapara sucessão, desde que, é claro haja o prévio reconhecimento detal filiação ou parentalidade.

Bi-maternidade ou bi-paternidade.

Novos avós.

Multiparentalidade.

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2001 - 2002

Cassia Eller e Maria Eugênia Vieira

Cassia engravida de Tavinho

Nasce Francisco Vieira Eller (1993)

Cassia falece em29/12/2001

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Altair Eller pai de Cassia ajuíza ação para obter guarda de Chicão (9anos);

2002 –Vara de Família do Rio de Janeiro, deferida liminar para guardaprovisória do menor até sentença;

31/10/2002 – Celebrado acordo emaudiência após oitiva do menor;

Guarda definitiva e administração dos bens a cargo de Eugênia;

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.531.921 - MG (2013/0190837-0) RELATOR : MINISTROLÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO )RECORRENTE : J B DA S L ADVOGADO : BRENO VALADARES DE ABREU -MG179944 RECORRIDO : B R DA S ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOSAUTOS - SE000000M DECISÃOTrata-se de recurso especial interposto por J. B. DA S. L.,com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão do Tribunal deJustiça do Estado de Minas Gerais, assim ementado:"AÇÃO DE RECONHECIMENTO DEMATERNIDADE SOCIOAFETIVA - PEDIDO DE DESCONSTITUIÇÃO DOREGISTRO CIVIL - IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - HIPÓT ESE NÃOPREVISTA NO ART. 1.604 DO CÓDIGO CIVIL. - A apuração da matern idadesocioafetiva, ainda que essencial para o reconhecimento dos vínculos familiares advindosdo afeto e da criação, não tem o condão de desconstituir o registro civil de paternidade. Oreconhecimento da paternidade enseja averbação no registro civil, gerando os mesmosefeitos, sem que haja questionamento ultra legem do registro já constituído."(e-STJ, fl.104) Em suas razões recursais, a recorrente aponta violaçãodos arts. 295, III, do CPC/73, 1.593,IV, 1.596, 1.597, V, e 1.605, II, do Código Civil, bem como divergência jurisprudencial. Alegaque cuida do filho da ex-companheira, desde o nascimento, como se fosse seu filho, pugnandopara ser reconhecida como mãe socioafetiva, de forma que na certidão de nascimento do menorpasse a constar seu nome. Sustenta que a impossibilidade jurídica do pedido somente poderá serreconhecida nas hipótese em que o ordenamento jurídico proíbe expressamente a dedução dedeterminado pedido, o que não é o caso dos autos. O MinistérioPúblico Federal manifestou-sepelo parcial provimento do recurso.É o relatório. Passo a decidir

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(...)J. B. DA S. L. ajuizou ação de reconhecimento de maternidade socioafetiva emdesfavor de B. R. DA S., alegando que: manteve umrelacionamento homoafetivocom a requerida, no entanto, mesmo durante o relacionamento, a ré engravidou depai desconhecido e, emagosto de 2002, nasceu o menino A. V. DA S.; como passardos anos, o casal homoafetivo permaneceu unido, cuidando domenor emquestão edos outros filhos da autora; repentinamente, a requerida saiu de casa e deixou o filhosob os cuidados da autora, juntamente comos outros "irmãos"; desde então, mais doque nunca, a autora assumiu os cuidados da criança, intensificando a relaçãomaterno-filial de amor e afeto, sendo que o menor a chama de "mãe" e a mãebiológica de "pai"; desde que a requerida abandonou o lar, tem dispensado poucaatenção, sendo mínimo o contato e o afeto mantidos como filho. O Juiz de Direitojulgou extinto o processo, nos termos do art. 267, I c/c art. 295, I, do CPC/73, emrazão de impossibilidade jurídica do pedido.Seguiu-se apelação, a que o Tribunalde Justiça do Estado de Minas Gerais, por maioria, negou provimento,consignando que o pedido de reconhecimento de maternidade socioafetiva nãoenseja a desconstituição daquele já realizado, emnome da mãe biológica.Concluiu carecer "de possibilidade jurídica do pedido a ação emquestão, exigindoajuizamento de ação de desconstituição do poder familiar, cominada de adoção, nostermos apresentados na sentença" (e-STJ, fl. 107).

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No que se refere à possibilidade jurídica do pedido, a insurgência mereceprosperar. Com efeito, no exame das condições da ação, considera-sejuridicamente impossível o pedido, quando este for manifestamenteinadmissível, em abstrato, pelo ordenamento jurídico, ou seja, deve havervedação legal expressa a respeito do pedido que se busca coma demanda. Nocaso em apreço, não há vedação legal ao pedido de reconhecimento dematernidade combase na socioafetividade. Ao revés, esta Corte já reconheceu,em diversas oportunidades, o estado de filiação decorrente derelaçõessocioafetivas, demonstrando ser o pedido juridicamente possível, merecendoser apreciado pelo Poder Judiciário. Nesse sentido: "RECURSO ESPECIAL -DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - FAMÍLIA - AÇÃO DECLARATÓRIADE MATERNIDADE SOCIOAFETIVA - INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUEEXTINGUIRAM O FEITO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, SOB OFUNDAMENTO DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.INSURGÊNCIA RECURSAL DA AUTORA. CONDIÇÕES DA AÇÃO - TEORIADA ASSERÇÃO - PEDIDO QUE NÃO ENCONTRA VEDAÇÃO NOORDENAMENTO PÁTRIO - POSSIBILIDADE JURÍDICA VERIFICADA EMTESE - RECURSO ESPECIAL PROVIDO. Ação declaratória de maternidadeajuizada combase comos laços de afetividade desenvolvidos ao longo da vida(desde os dois dias de idade até o óbito da genitora) coma mãe socioafetiva, visandoao reconhecimento do vínculo de afeto e da maternidade, coma consequentealteração do registro civil de nascimento da autora. 1.

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(...)Vale dizer, então, que o pedido constante da inicial é juridicamente possível, ao contráriodo que restou consignado pelas instâncias ordinárias. Efetivamente, nos casos em que agenitora, além de um comportamento notório e contínuo, demonstra, reiteradamente, ser amãe, não há razão que a impeça de ter reconhecida sua maternidade socioafetiva,emborasem a exclusão do registro da mãe biológica.Embora não haja aparentemente nenhum motivopara a destituição do vínculo entre a mãe biológica e o filho,é possível o reconhecimento damaternidade socioafetiva em favor da ex-companheira, autora da ação, com o deferimento deguarda compartilhada entre as duas mães. Como bem expôs o ilustre Subprocurador-Geral daRepública Dr. João Pedro de Saboia Bandeira de Mello Filho:"não há nenhum motivo aparentenos autos para a destituição do vinculo entre a mãe biológicae o filho. Mas o simplesreconhecimento do vínculo familiar de forma socioafetiva,com o deferimento de guardacompartilhada entre as duas mães é, sim, completamente possível em nosso ordenamento";"J. B.alega que, embora não seja mãe biológica do menor, merece tero seu vínculo reconhecidojuridicamente, de forma a poder exigir a posse do filho";"não entendo aqui que exista qualquermotivo para a desconstituição do vinculo entre o filho e a mãebiologia, mas o reconhecimentode vínculo entre a ex-companheira e o menor pelo convívio sócio afetivo de anos com aalegação, inclusive de que o menor a chama de mãe merece a devida atenção e discussão visandoo melhor interesse do menor não restando razão em se falar em pedido juridicamenteimpossível"(e-STJ, fls. 207/209).

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Assim, a decisão de origemmerece ser revista, a fimde conferir à parteautora, ora recorrente, o direito de ver seu pedido apreciado pelo PoderJudiciário, bem como o direito de produzir provas destinadas acomprovar suas alegações, sobretudo a relação socioafetiva alegada.Diante do exposto, nos termos do art. 255,§ 4º, III, do RISTJ, douprovimento ao recurso especial para que, reconhecendo a possibilidadejurídica do pedido, anular a sentença, determinando-se o retorno dosautos à instância de origem, de modo a viabilizar a constituição darelação jurídica processual e a instrução probatória.Publique-se. Brasília,14 de novembro de 2017. MINISTROLÁZARO GUIMARÃES(DESEMBARGADOR CONVOCADODO TRF 5ª REGIÃO) - STJ - REsp:1531921 MG2013/0190837-0, Relator: Ministro LÁZAROGUIMARÃES(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), Data dePublicação: DJ 17/11/2017)

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MULTIPARENTALIDADE

Ocorrência simultânea de mais de dois genitores no registrode nascimento.

Nos dizeres de Christiano Cassettari é possível por exemplo“nos casos emque for possível somar a parentalidadebiológica e a socioafetiva, semque uma exclua a outra.”(Multiparentalidade e Parentalidade Socioafetiva –Efeitos jurídicos – 2ª edição, pagina 169)

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REQUISITOS

Pressupõe a existência de uma filiação socioafetiva;

Afeto;

Posse de estado de filho;

Reconhecimento mútuo;

Se maior temque haver o consentimento do reconhecido; se menor comassentimento da genitora ou do genitor;

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PROCEDIMENTO E COMPETÊNCIA

- Os mesmos da socioafetividade;

- Vara de família;

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EFEITOS

Os mesmos efeitos da filiação biológica, seja para alimentos, seja parasucessão, desde que, é claro haja o prévio reconhecimento detal filiaçãoou parentalidade.

Novos avós.

Possibilidade de mais de duas heranças.

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JURISPRUDÊNCIA� Rio Grande do Sul - (...)Declaratória de multiparentalidade. Registro civil. Dupla

maternidade e paternidade. Impossibilidade jurídica do pedido. Inocorrência.Julgamento desde logo do mérito. Aplicação artigo 515,§ 3º do CPC. A ausência delei para regência de novos. E cada vez mais ocorrentes - fatos sociais decorrentesdasinstituições familiares, não é indicador necessário de impossibilidadejurídica dopedido. É que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com aanalogia, os costumes e os princípios gerais de direito (artigo 4º da Lei de Introduçãoao Código Civil). (...). Dito isso, a aplicação dos princípios da “legalidade”,“tipicidade” e “especialidade”, que norteiam os “Registros Públicos”, com legislaçãooriginária pré-constitucional, deve ser relativizada, naquilo que não se compatibilizacom os princípios constitucionais vigentes, notadamente a promoção do bem detodos, sem preconceitos de sexo ou qualquer outra forma de discriminação (artigo 3,IV da CF/88), bem como a proibição de designações discriminatórias relativas àfiliação (artigo 227,§ 6º, CF), “objetivos e princípios fundamentais” decorrentes doprincípio fundamental da dignidade da pessoa humana.

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� “Da mesma forma, há que se julgar a pretensão da parte, a partir dainterpretação sistemática conjunta comdemais princípios infra-constitucionais, tal como a doutrina da proteção integral o do princípio domelhor interesse do menor, informadores do Estatuto da Criança e doAdolescente (Lei 8.069/90), bemcomo, e especialmente, ematenção dofenômeno da afetividade, como formador de relações familiares e objeto deproteção Estatal, não sendo o caráter biológico o critério exclusivo naformação de vínculo familiar. Caso emque no plano fático, é flagrante oânimo de paternidade e maternidade, emconjunto, entre o casal formadopelas mães e do pai, emrelação à menor,sendo de rigor oreconhecimento judicial da “multiparentalidade”, com apublicidade decorrente do registro público de nascimento.Deram provimento. (TJRS, AC 70062692876, 8ª C. Cív., Rel. Des. JoséPedro de Oliveira Eckert, j. 12/02/2015).

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SENTENÇA DE SANTOS“Trata-se de Pedido Administrativo para registro de multiparentalidadeformulado por duas mulheres casadas e o doador do gameta parafins de processo deinseminação artificial.

(...)

É o necessário. DECIDO. O Supremo Tribunal Federal, nos autos da Arguição deDescumprimento de Preceito Fundamental 132, conhecida como Ação Direta deInconstitucionalidade, decidiu, com eficácia para todos evinculante, “conferir ao artigo 1723,do Código Civil, interpretação conforme à Constituição para dele excluir qualquer significadoque impeça o reconhecimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo, atribuindo-lhe ocaráter de “entidade familiar”, entendida esta como sinônimo perfeito de família”.

(...)

A formação da família, enquanto entidade fundada na afetividade dos seus membros, nasce doamor, da cooperação mútua, do respeito, características que independem do sexo das pessoasque a integram. Por isso mesmo, com o devido acatamento, é desnecessária a edição dequalquer diploma legislativo para reconhecer a possibilidade do casamento entre pessoas domesmo sexo nos mesmos moldes do casamento entre pessoas de sexos diferentes.

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(...)

Anoto que estamos diante uma nova geração, com valores e conceitos diversos das geraçõesanteriores, que muitas das vezes oprimiam os relacionamentos homoafetivos, cabendo-nos agora afunção de nos educarmos e de educarmos nossos filhos a aprender conviver com uma nova família,que em nada difere do modelo até então conhecido, pois que todas são baseadas no princípio daafetividade.

É fato nos autos que as duas requerentes são casadas.

O terceiro é o doador do gameta, pessoa conhecida do casal, donde, portanto, não incide odever de anonimato de que trata a Resolução 2121/15 do CRM. Ademais, pela procuraçãoque fez juntar aos autos, reconheceu voluntariamente a paternidade do nascituro.

Nos termos do artigo 226, parágrafo sétimo, da ConstituiçãoFederal, o planejamentofamiliar é direito da família, seja ela de que modelo for.

Ao contrário da tese sustentada, em seu parecer, pelo Ministério Público, respeitado oconvencimento do d. Promotor de Justiça, reputo que ambas asrequerentes, mulheres oficialmentecasadas, são genitoras do nascituro, não se cogitando de queuma delas o seja pela relaçãosocioafetiva.

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Ambas são mães desde a concepção!

Em havendo intenção do doador de figurar no registro de assento de nascimento e nãohavendo oposição por parte das suas genitoras, impõe-se admitir o seu direito, até mesmoporque, ao meu sentir, o reconhecimento da formação da família é direito que vai aoencontro do princípio do melhor interesse do menor.

(...)

Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para:

1) Que faça constar na Declaração de Nascido Vivo DNV e, ao depois, no assento denascimento, o nome das genitoras XXXXXXXXXXXXXXXX e XXXXXXXXXXXXXXXX,bem como do genitor XXXXXXXXXXXXXXXX, e, ainda, dos respectivos avós maternos epaterno; e

2) DEFERIR a participação no ato do parto da outra genitora e do genitor, desde que autorizadopelo médico responsável pelo procedimento.”

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Referências

� Madaleno, Rolf.Manual do Direito de Família / 1ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 2017.

� - Vecchiatti, Paulo Roberto Iotti. Manual da Homoafetividade: dapossibilidade jurídica do casamento civil, da união estável e da adoção porcasais homoafetivos / 2ª edição, Rio de Janeiro : Forense. São Paulo:MÉTODO, 2012.

� - MARTINS, Sandra Regina Carvalho.Uniões Homoafetivas: dainvisibilidade à entidade familiar – Belo Horizonte: Editora D́Plácido,21017.

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Ana Carolina dos Santos Mendonça, advogada atuante nas áreas de DireitoImobiliário e Direito de Família e Sucessões, pós-graduada em Direito de Família eSucessões pela Faculdade Legale; Pós-graduanda em Direito Civil e Processo Civil pelaEscola Paulista de Direito; Membro das Comissões de Diversidade Sexual e deDireitode Família da OAB/SP; Professora convidada do Curso de Extensão em DireitoHomoafetivo da ESA/SP;Importante:

1 - Conforme lei 9.610/98, que dispõe sobre direitos autorais, a reproduçãoparcial ou integral desta aula sem autorização prévia eexpressa da autora constitui ofensa aos seus direitos autorais (art. 29). Em casode interesse entrar em contato com a autora do texto.

2 - Entretanto, de acordo com a lei 9.610/98, art. 46, não constitui ofensa aos direitos autorais a citação de passagens da obra para finsde estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome da autora (Ana Carolina dos SantosMendonça) e a fonte aula ministrada da Faculdade Legale, no Curso de Pós-graduação em Direito da Diversidade Sexual, Racial eReligiosa;

Contatos: 011 98340-5664 e-mail: [email protected]