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1 PSICOLOGIA E FILOSOFIA DA PEDAGOGIA: Um ensaio sobre a arte de ensinar 1 Autor: Osnir Gonçalves Ferreira 2 INTRODUÇÃO nsinar é tarefa séria e difícil. Exige grandeza de espírito, boa consciência, desejo de aprender e de compartilhar o que já aprendeu, humildade, amor pelo próximo e, sobretudo, responsabilidade para com idéias e para com a vida social. Essas aptidões irão capacitar o pedagogo e transformá-lo em um bom professor. Este ensaio tem como objetivo servir de texto-base para o CURSO DE CAPACITAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DA COMUNIDADE CRISTÃ NOVA ALIANÇA. Apesar de ser um curso para os professores e candidatos a professores é aberto a outros interessados em aprender sobre o assunto. Ainda que a CCNA não use mais a terminologia Escola Bíblica Dominical, um dos textos mais importantes que serão discutidos neste curso é o livro do Pastor, Escritor e Professor ANTONIO GILBERTO, da Igreja Assembléia de Deus. Seu livro é muito conhecido e, apesar de não ser o melhor que se pode indicar, é uma obra que no mínimo possui importância na história da educação cristã na Igreja evangélica brasileira. Em nosso caso CCNA a importância que damos a ele tem muito a ver também com o fato de o autor possuir pontos teológicos e outras afinidades semelhantes às visões da CCNA. Doutrinariamente partilhamos da mesma visão em muitas coisas. Tendo lido vários livros seus aprendemos a amá-lo e tê-lo como mestre. Por isso o indicamos e discutiremos suas idéias que muito contribuíram para a formação de professores de EBD no Brasil. Além desse utilizaremos muito o livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, que dispensa apresentações aqui, sendo autor reconhecido mundialmente. Serão de grande utilidade durante o curso (ainda que não o citemos extensivamente aqui) o livro de J. M. Price, A Pedagogia de Jesus. Esperamos que este curso possa servir aos amados irmãos e irmãs participantes e que o certificado não fique apenas a enfeitar a parede, mas que sirva de base inicial para outros estudos e discussões sobre este tema tão importante que é a EBD. 1 Texto concluído em 2006. Revisado e ampliado em maio de 2015. 2 Professor de Música e Violão desde 1994, Estudou Pedagogia Musical com José Julio-Stateri (da Fesp-Usp); Estudou na ULM (1996-2002); Pastor na CCNA (Comunidade Cristã Nova Aliança), Ministro da Palavra, Estudou Apologética no ICP, foi Professor de Apologética, Bibliologia, Hermenêutica, História da Igreja e Homilética no Seminário Teológico Elohim (Ass. Deus- Belém, Morato , setor 44), fez curso para Superintendente da EBD (ICP), Pesquisador de Religiões. Bacharel Música (violão) na Universidade Estadual Paulista (UNESP). CONTATO: [email protected] , 957306100, 4489 0575 E

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PSICOLOGIA E FILOSOFIA DA PEDAGOGIA:

Um ensaio sobre a arte de ensinar1

Autor: Osnir Gonçalves Ferreira2

INTRODUÇÃO

nsinar é tarefa séria e difícil.

Exige grandeza de espírito, boa consciência, desejo de aprender e de compartilhar o que já

aprendeu, humildade, amor pelo próximo e, sobretudo, responsabilidade para com idéias e

para com a vida social.

Essas aptidões irão capacitar o pedagogo e transformá-lo em um bom professor.

Este ensaio tem como objetivo servir de texto-base para o CURSO DE CAPACITAÇÃO E

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DA COMUNIDADE

CRISTÃ NOVA ALIANÇA.

Apesar de ser um curso para os professores e candidatos a professores é aberto a outros

interessados em aprender sobre o assunto.

Ainda que a CCNA não use mais a terminologia Escola Bíblica Dominical, um dos textos mais

importantes que serão discutidos neste curso é o livro do Pastor, Escritor e Professor ANTONIO

GILBERTO, da Igreja Assembléia de Deus.

Seu livro é muito conhecido e, apesar de não ser o melhor que se pode indicar, é uma obra que no

mínimo possui importância na história da educação cristã na Igreja evangélica brasileira.

Em nosso caso CCNA a importância que damos a ele tem muito a ver também com o fato de o

autor possuir pontos teológicos e outras afinidades semelhantes às visões da CCNA.

Doutrinariamente partilhamos da mesma visão em muitas coisas. Tendo lido vários livros seus

aprendemos a amá-lo e tê-lo como mestre. Por isso o indicamos e discutiremos suas idéias que

muito contribuíram para a formação de professores de EBD no Brasil.

Além desse utilizaremos muito o livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, que dispensa

apresentações aqui, sendo autor reconhecido mundialmente.

Serão de grande utilidade durante o curso (ainda que não o citemos extensivamente aqui) o livro de

J. M. Price, A Pedagogia de Jesus.

Esperamos que este curso possa servir aos amados irmãos e irmãs participantes e que o certificado

não fique apenas a enfeitar a parede, mas que sirva de base inicial para outros estudos e

discussões sobre este tema tão importante que é a EBD.

1 Texto concluído em 2006. Revisado e ampliado em maio de 2015.

2Professor de Música e Violão desde 1994, Estudou Pedagogia Musical com José Julio-Stateri (da Fesp-Usp); Estudou

na ULM (1996-2002); Pastor na CCNA (Comunidade Cristã Nova Aliança), Ministro da Palavra, Estudou Apologética

no ICP, foi Professor de Apologética, Bibliologia, Hermenêutica, História da Igreja e Homilética no Seminário

Teológico Elohim (Ass. Deus- Belém, Morato , setor 44), fez curso para Superintendente da EBD (ICP), Pesquisador

de Religiões. Bacharel Música (violão) na Universidade Estadual Paulista (UNESP). CONTATO:

[email protected] , 957306100, 4489 0575

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1. O PREPARO DE UM PROFESSOR

maior lei da natureza é que ninguém nasce grande: torna-se grande.

Um orgulhoso não pode se tornar um bom professor.

E quem não gosta de estudar mostra todo seu orgulho, pois não se curva a outras pessoas

para com elas aprender.

Por outro lado, uma pessoa humilde tem mais facilidade de ouvir críticas e está, portanto, mais

aberta a novas idéias e, com isso pode tornar-se um bom orientador.

O orgulhoso antes de conhecer uma pessoa costuma cometer um erro básico entre outros: fechado

em seu mundinho subestima as pessoas desconsiderando suas experiências. O orgulhoso acha que

as coisas que sabe e as experiências que teve ou sua inteligência são realmente insuperáveis.

O orgulhoso acha que não há mais ninguém capacitado do que ele e não receia em minimizar a

importância daqueles a quem conhece pessoalmente ou por livros, isto quando o tal lê alguma

coisa! O erro de tal pessoa é achar que não pode nunca se surpreender com alguém. Subestima nas pessoas

o gênero sexual (homens assim dizem: ela é mulher e faz isto?), a idade (como pode alguém ter

menos idade do que eu e saber mais?), a estatura, a nacionalidade, etc.

Parâmetros como sexo, idade, condição social ou aspecto físico não fazem um Ser por si, no

máximo podemos dizer que esses parâmetros podem interferir a visão que o Ser pode assumir sobre

si e o outro em virtude das relações sociais que alimentam e retroalimentam essa percepção de si e

do outro.

Mas no que se refere ao Ser Humano, esse merece respeito não por isto ou aquilo, mas

simplesmente porque É, ou seja, porque existe como ser humano, ainda que os parâmetros citados

sejam, como já dissemos acima, fatores importantes para explicar suas ações e visões de mundo.

É bastante difícil que uma pessoa orgulhosa venha a ser bom professor porque tradicionalmente o

orgulhoso gosta muito de falar, mas não de ouvir; tem frases fechadas; manipula o outro não lhe

dando chance de propor uma terceira via.

Em geral o orgulhoso é muito preguiçoso para as coisas do espírito e do intelecto. (a palavra espírito

aqui quer dizer as coisas não materiais como as artes musicais, literárias e oratória).

Não sei se é possível ser genuinamente cristão e orgulhoso ao mesmo tempo, mas se a pessoa se

declara cristã e lhe cobramos estudo sério de música ele diz “basta o dom!”. Se lhe indicamos “olha

caro irmão ou irmã, você poderia melhorar sua fala aqui e ali” ele se zanga e diz que não

precisamos ter preparo técnico para falar na igreja porque “Deus enche nossa boca do que devemos

falar”.

O próprio Deus tem interesse e quer mesmo nos dar “uma língua erudita... e nos abrir os ouvidos

para que possamos aprender como aqueles que gostam de aprender” (paráfrase de Is 50.4).

Mesmo pregando a Palavra de Deus há vários anos e ainda hoje me inquieto quando sou convidado

a falar. Se puder me preparo à exaustão! Para dar aulas de música, apesar de mais de duas décadas

de experiência, ainda me preparo antecipadamente.

Enfim, as pessoas que menosprezam o preparo, colocando barreiras a alunos e a outros professores, em nome de um purismo espiritual ou de uma pretensa “comunhão com Deus”, não podem jamais

ser mestres de quem quer que seja e de qualquer área que seja!

Assim se você está lendo esse texto é compreenda que precisamos de educadores comprometidos

com a educação de qualidade. Nosso lema básico se resume a dois versos que gostaria que ficasse

guardado na vossa consciência de educador. Trata-se de Ecl 1.13 e Rm 12. 7.

Pareci-me muito exigente nesse início, mas tive como objetivo quebrar alguns tabus sobre educação

cristã e preparar sua mente para pensar mais livre e em mais alto nível.

Como pastor quero cercar-me de educadores que tenham uma genuína preocupação com o ensino

como ordenou o amado Apóstolo Paulo em Romanos capítulo 12 e versículo 7.

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2. A HUMILDADE: UM CAMINHO MELHOR

á aquele que quer ser um bom professor examina sem preconceito tudo o que pode, mas o faz

com sabedoria (Ec1.13). Estou convencido que esse é um caminho melhor a ser trilhado por

quem quer ser um professor cristão dedicado: a humildade.

Deve saber que a pedagogia, seja qual for sua área de atuação, não é um espaço aberto a

exibicionismos intelectuais ou para demonstrações de virtuosismos técnicos (instrumentais e

metodológicos).

O bom professor é Douto, sem ser Pedante! Realmente humilde, sem falsa modéstia. Pedantismo e

falta de modéstia são venenos que matam a pedagogia principalmente porque são os frutos que os

alunos colhem e quando se tornam professores agem de maneira semelhante quase sempre se

tornando professores pedantes, orgulhosos, cheios de si.

Quem tem resposta pronta como “você não deve querer saber isto” não pode ser professor.

Um professor deve dar ferramentas para o bem pensar, mas nunca deve proibir a pesquisa e o

pensar, jamais.

Dar ferramentas para pensar é preparar a mente e o espírito dos alunos para o aprendizado amplo do

conhecimento humano e espiritual. Ou seja, prepara-los para agir seja como um sujeito técnico seja

como sujeito moral. Sobretudo deve o professor treinar o senso crítico de seus alunos para que

sejam ativos e aptos a “examinar tudo e reter o que for bom”, parafraseando Paulo.

3. ANDANDO COM SÁBIOS

“A Sabedoria é a capacidade de reconhecer a

diferença entre ambientes, momentos e pessoas”

(Murdock)

um restaurante no bairro do Ipiranga tomava café com um colega de curso na Unesp. Em

dado momento de nossa conversa sobre a sabedoria Leonardo Takyi me disse: “puxa Osnir

você fala que temos de andar com sábios, mas não há tantos sábios assim a nossa volta!”.

Respondi que “antes temos de entender qual é o conceito de sábio que você tem”.

O conceito de sábio que ele e muitos possuem é a de uma pessoa erudita, de vasta cultura e

inteligência brilhante, mas não podemos caracterizar a sabedoria como sendo inteligência e ou a

erudição.

Há pessoas cultas e/ou inteligentes que são tolas! E há aquelas sem cultura formal ou livresca

alguma e que detêm grande sabedoria. Igualmente verdade é que podemos encontrar as três coisas

juntas.

Eu disse ao Leo que há sim muitos sábios-inteligentes-cultos e que nos estão disponíveis por meio

de suas obras (livros, discursos, músicas).

Paul Brunton escreveu que “na falta do convívio pessoal com um sábio, pode-se valer do melhor

substituto: os escritos impressos de um sábio”. (Brunton, 1994, p.228).

Ou ainda “o homem pode obter da palavra impressa aquilo que não consegue ouvir na palavra

falada” (229).

Se o professor gosta de ler estará muitas vezes na companhia de sábios cultos, sábios inteligentes

etc. O padre Vieira disse que “o livro é um mestre mudo que fala”. É verdade que às vezes o mestre

não é sábio, mas apenas culto, mas não deixa de ser um mestre se o leitor o examina com sabedoria, como sugere Salomão (Ec 1.13).

Em resumo, então, um professor deve amar a companhia dos sábios e deve ser um pesquisador que

a tudo esquadrinha com sabedoria.

E para andar com sábios, cultos ou eruditos deve gostar de ler. Uma observação pertinente, porém,

quero fazer pela boca de Mike Murdock que disse: “cuidado com o homem que só pode aprender

com os sábios mortos”. Não será momento de nós prestarmos mais atenção à Sabedoria das coisas e

a que transita na cabeça de pessoas que muito podem nos ensinar, muitas delas, aliás, bem vivas,

existindo ao nosso redor?

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4. O PROFESSOR QUE LÊ É UM PROFESSOR HUMILDE

ormalmente as pessoas que têm preguiça mental chamam os professores capacitados e

doutos de pedantes, egoístas e manipuladores. Por quê?

Porque um professor bem preparado assusta aos preguiçosos, implode reinados de

professores ignorantes e de alunos facciosos que os seguem.

Olhando bem, um professor bem preparado é na verdade um professor humilde, pois só é

bem preparado porque foi bem preparado por outros! Teve a humildade de buscar outros

mestres em escolas, cursos, palestras, livros ou jornais e outros tantos meios que existem.

Esse professor fez bom uso de algo precioso e determinante na formação humana: o tempo.

Mas a respeito de se isolar e não buscar aprender uns com os outros, já notou o que diz Pv 18.1?

Ele diz: “busca satisfazer seu próprio desejo aquele que se isola; ele se insurge contra toda

sabedoria”.

Sinceramente considero este verso verdadeira preciosidade, jóia valiosa de análise do

comportamento isolacionista. Foi escrito a três mil anos aproximadamente, mas retrata e denuncia

com precisão o que busca o que se isola. O professor que se isola não se interessa pelos que os

outros pensam e, conseqüentemente deixa de buscar o interesse de seus alunos. Sem perceber essa

pessoa está se levantando contra a sabedoria, uma atitude absurdamente contraria a prática

pedagógica.

Leia o verso em seu contrário e terá uma verdadeira orientação para se tornar um bom professor:

não busca satisfazer seu próprio interesse aquele que não se isola e insurge-se, levanta-se a favor de

toda sabedoria. Essa pessoa se parece mais com o verso 15: “o coração entendido adquire o

conhecimento, e o ouvido dos sábios busca a sabedoria”.

Quem quiser ser sábio deverá buscar o conhecimento, amar a sabedoria, ouvir conselhos, receber

correções necessárias. (veja Pv 19.20).

Pense no que diz Isaias 50.4, já citado. Quando o profeta diz que Deus quer dar (e deu a Isaias) uma

língua erudita quer dizer que o Senhor abre as portas da inteligência e da percepção capacitando-nos

a absorver melhor os conhecimentos em nossa busca por erudição! Se não formos à busca do

conhecimento seremos pessoas inteligentes, mas ignorantes!

Deus dá o dom, mas devo permitir que Ele desperte-me “todas as manhãs, desperta-me o ouvido

para ouça, como aqueles que aprendem”.

Ouvir é uma das atitudes mais difíceis de praticar. Quem ouve se anula no momento da audição.

Anular-se é negar-se a si mesmo. Quando ouvimos nos anulamos em favor do que nos fala, seja

pessoalmente ou por livros, ou música.

Todavia pouco adianta estar próximo dos sábios sem perguntas a serem feitas.

Na Unesp certa vez um professor me surpreendeu ao dizer que “quem tem perguntas a fazer é

porque está entendendo” determinado assunto.

Mike Murdock disse que se alguém respeita realmente algum sábio deve ter perguntas a lhe

fazer. E concordo. Quando fazemos perguntas para nossa instrução colocamo-nos em posição de

inferioridade diante do outro, pois se admite que quem pergunta, momentaneamente não sabe.

Os chineses têm um ditado curioso sobre o ato de perguntar: “quem pergunta é bobo por cinco

minutos; quem não pergunta é bobo para sempre”. Ele me parece ser bem apropriado e quer

estimular em todos nós o ato de perguntar. Não existe pergunta burra. Às vezes pode ser

inconveniente etc., mas caso ocorra tal em uma aula o professor empático e simpático tem o dever

de dissimular e jamais rir do aluno, como alguns péssimos “mestres” fazem. Jamais uma pergunta

deve deixar um aluno em má situação. Vexar o aluno causa nele um receio de fazer novas

perguntas e a posteriori pode levar ao desinteresse pelas aulas.

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5. A MAIÊUTICA

ois bem, temos analisado aqui o ato de perguntar do professor. A nosso ver para ser um bom

professor (como quer Augusto Cury, para ser um “professor fascinante”) a pessoa deve saber

fazer boas perguntas. Deve entender a importante função educativa do ato de perguntar.

E não me refiro aqui apenas as perguntas com finalidades pedagógicas voltadas aos alunos, mas

também ao próprio professor como Ser com inquietações. O próprio professor deve enfrentar suas

próprias perguntas existenciais: de onde venho? Para onde vou? O que será no futuro? Quem é

Deus? o que é um procedimento realmente ético? Sou ético e verdadeiro nas minhas exposições?

Tenho uma vida afetiva equilibrada? Tenho suportado bem a contradição que as perguntas as vezes

trazem? Tenho uma visão positiva dos alunos? Tenho estudado adequadamente? Minha conduta

social e espiritual é digna de ser imitada pelos meus alunos?

Um dia de julho de 2015, domingo pela manhã, saia de casa para comprar pão para o café.

Enquanto saboreava o golinho de café que experimentara coloquei-me a pensar inúmeras coisas dos

meus muitos afazeres. Muitas perguntas interiores, surgidas de projetos, ideias e trabalhos. Então

orei descendo a escada: “Senhor o que farei? Como farei?”, e o Senhor Deus me ensinou algo muito

bonito, mas que me recolocou outras perguntas antes daquelas que havia feito.

Deus me ensinou que as perguntas centrais da vida antecedem a todas as outras, e em verdade

indicam a saída para muitas outras que fazemos ao longo da vida. Então Deus me ensinou que:

“perguntas existenciais bem respondidas, geram respostas sociais mais humanitárias”, Ou seja, muitos projetos com preocupação humanitária, sejam em educação, cultura, apoio

espiritual, cuidado pastoral etc., surgem de perguntas existenciais bem respondidas (ainda que

paradoxalmente a resposta que a pessoa obtenha seja uma não-resposta, pois muitas perguntas

essenciais da existência não podemos jamais receber um ultimato, pois avançam para o terreno do

oculto aos homens, como se diz em Dt 29.29).

Quando o professor se dedica a perguntar:

Instrui-se mais.

Torna-se pessoa mais interessante porque possui variedade de temas.

Torna-se mais tolerante, pois tem visão cultural mais abrangente.

Torna-se mais influente na sociedade, pois sua palavra reflete pesquisas sérias e isso lhe traz credibilidade para falar.

Fica mais cuidadoso com suas opiniões, pois sabe o peso de sua palavra.

Prepara-se mais para suas aulas, pois perguntas bem feitas e perseguidas produzem uma soma maior de conhecimentos, que não servem para exibicionismo pedagógico

algum, mas para aguçar a inteligência e as possibilidades dos alunos.

Augusto Cury (2008, pg. 91,92) disse:

“educar é provocar a inteligência, é a arte dos desafios. Se um professor não conseguir provocar

a inteligência dos alunos durante sua exposição, ele não o educou. O que é mais importante na

educação: a dúvida ou a resposta? Muitos pensam que é a resposta. Mas a resposta é uma das

maiores armadilhas intelectuais. Quem determina o tamanho da resposta é o tamanho da dúvida.

A dúvida nos provoca mais do que a resposta. A dúvida é o princípio da sabedoria em filosofia

(Durant, 1996)”.

A função pedagógica da pergunta foi percebida já na época dos filósofos gregos antes de Cristo.

Um método particularmente interessante e que dava grande importância à pergunta foi desenvolvido

por Sócrates (cerca 470-399 a.C.). Quando o aluno fazia uma pergunta o sábio grego não a

respondia diretamente, mas o levava a buscar por si mesmo a resposta. Assim com freqüência, ao

invés de responder ao aluno fazia-lhe uma nova pergunta.

A base ideológica desse método é que se pensava que ao vir para o mundo terreno a psique (alma)

se “esquecia” das coisas que sabia. A pergunta tinha a função trazer a verdade para a consciência.

Sócrates é ainda hoje lembrado como “O homem que perguntava”.3

3 No livro História da Filosofia (Coleção Os Pensadores, 1999) “Sócrates, o homem que perguntava” é o subtítulo do

Capítulo 3 “A Filosofia se Consolida”. Aconselho a quem ensina que leia esta excelente obra da Editora Nova Cultural

organizada por Bernadette Siqueira Abrão. O leitor pode encontra-la a bom preço em Sebos da capital.

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Claudionor Correa de Andrade escreveu em seu Dicionário Teológico que Maiêutica é o:

“Processo pedagógico utilizado pelo filosofo grego Sócrates, que tinha

por objetivo induzir seus ouvintes a descobrirem, por si próprios, as

verdades que se achavam em cada um deles. Maiêutica é o processo de

dar a luz a verdade” (Andrade, 1999, p.209).

Ora, as conseqüências educacionais e sociais da Maiêutica é que ela colabora na formação de

pessoas capacitando-as para se expressarem oralmente. A tradição de grandes oradores gregos não

surge por acaso, mas funda-se em muito nesse método socrático.

A pergunta estimula o raciocínio, pois exige rapidez mental.

Apesar de que Sócrates era um falador (não necessariamente verborrágico!) “não lhe interessavam

as belas e sedutoras palavras; ele quer conhecer a essência das coisas” (História da Filosofia,1999,

p.42). Professora Bernadette, na obra citada (Filosofia, 1999) chega a dizer que “Sócrates

simplesmente pergunta. Não ensina; quer aprender. Seu pensamento parece desprovido de

conteúdo. Mas, se não há ensinamentos, ele propõe algo. Destruindo as respostas fáceis dos

interlocutores, mostra que o pensamento deve ser mais prudente” (1999, p.43). Um conhecimento

sólido nasce de um diálogo profundo onde o pensamento experimenta “outras possibilidades antes

de entrar na rota certa”.

A mãe de Sócrates era parteira. Ele dizia que também era um tipo de parteira: ajudava as idéias e o

conhecimento virem à luz.

6. ÉTICA PROFISSIONAL

verdade que o professor, sendo gente, não é perfeito, mas não pode viver errando. Deve saber

que “aqueles que ensinam também são capazes de transmitir erros” (Murdock), mas não pode

fazer da falha humana uma desculpa para transmitir informações inseguras, erradas e sem um

mínimo de comprovação pelo crivo da verdade.

O professor não deve viver errando. E por pedir isso não quero me apresentar como sendo perfeito

professor. Tenho como qualquer pessoa meus defeitos e fraquezas.

O professor deve ser ético com base na Verdade tendo-a como meta clara para si e segui-la.

Não falo aqui da ética do momento histórico, com base em verdades relativas que deixam de ser

guias em pouco tempo. A ética está acima da moralidade do momento que do espaço cultural que

são em muitos casos variáveis, não podendo mesmo haver vida social saudável sem ética.

O professor é um formador da conduta moral dos alunos, por isso não pode ficar errando

irresponsavelmente. Errar deve ser considerado acidental para um formador do tecido social da

envergadura do Professor.

Admira-me que mesmo que soubesse que as sociedades sempre necessitaram de bons mestres o

Apóstolo São Tiago tenha desestimulado a carreira de mestre a muitas pessoas. Em suas palavras:

“meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”

(Tg 3.1). Isto porque ele era consciente que o mestre, como exemplo social, deverá receber mais

duro julgamento caso aja irresponsavelmente.

A educação moderna buscou reduzir ao máximo que pôde o compromisso ético do professor para

com seus alunos incutindo na cabeça dos pedagogos que eles não são responsáveis éticos e morais

pelos alunos, mas apenas um que apresenta conteúdos livrescos. Ele não pode ter papel moralizador

de educação da consciência do aluno: deve ater-se ao conteúdo. Só. Essa é uma tragédia

educacional que tem levado o mundo a um vácuo de moralidade.

Eugene Peterson, no seu livro UM PASTOR SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS, discute

brilhantemente os perigos causados pelos professores que não atuam para formar as consciências

dos alunos com base em pressupostos da oralidade clássica que pressupõe OUVIR e FALAR como

ações contínuas, inseparáveis. É para ler. Aconselho.

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Por outro lado como são os professores sem preocupação ética e moral?

Com sua conduta acabam não sendo respeitados por alunos em salas de aulas. Por quê?

Porque os alunos os veem embriagados, mentindo, criando inimizades sociais por mentirem sobre

personagens, dados, etc.

Coisa comum é aluno que se embriaga no bar próximo da escola onde estuda.

Às vezes um diretor de escola solicita ajuda de um professor para orientar um aluno que tem bebido

demais no bar ao lado da escola. Então o professor se recusa a ajudar.

Será mesmo porque o professor “não tem formação suficiente”? Não tem especialização

acadêmica? Não é psicólogo para trabalhar com isso? Será?

Com base numa experiência que pude observar, alguns professores não aceitam ajudar a esse tipo

de aluno porque sabe que não tem “moral” para orienta-lo, porque ele mesmo frequenta os copos

antes ou após as aulas com os próprios estudantes.

Como dissemos, não raro o professor alega questões como a falta de especialização4 em Psicologia

ou Toxicologia-“eu não tenho competência profissional para tal”. A verdade é que sua consciência

ainda não de todo cauterizada lhe denuncia como hipócrita sussurrando-lhe: “você já saiu a beber

com alunos desregrados; está sem autoridade!”.

7. PERFEITO?

ão estou dizendo que o professor deve ser perfeito em suas ações ou que se seja o

responsável mesmo pela moralização positiva da sociedade.

Não. O professor é humano como qualquer outro agente social.

Em meu caso pessoal como professor sei que continuo humano e confesso que já cometi erros tanto

em meu trabalho como professor bem como simples mortal: erro como aluno, como pai, como

esposo, como líder social, espiritual, etc. Mas luto por um desenvolvimento integral do professor e

defendo que ele deve esmerar-se em ser o melhor que puder, apesar de sua humanidade e

falibilidade.

O pedagogo deve lembrar, portanto, que todos cometem erros, inclusive professores e alunos. Para

citar novamente Mike Murdock lembro que ele disse: “aqueles que ensinam também são capazes de

transmitir erros”. Ou seja, os professores não apenas cometem erros como os outros humanos, mas

ainda correm o risco de transmitir esses erros (pessoais ou que ele aprendeu de outros professores).

Não será por isso que Tiago disse “não queirais ser mestres”?

O Apóstolo Pedro disse: “Humilhai-vos debaixo da potente mão de Deus” (1º Pe 5.6a).

4 A questão da Especialização compartimenta as coisas do saber e torna o especializado ignorante em coisas obvias. Até

mesmo soluções racionais e intrinsecamente culturais, que o professor tem ou adquiriu no contato humano (social) sem

esforço algum, ele decide não apresentar. Outras vezes não as apresenta por outro motivo: não quer parecer dogmático

ou moralista.

Mas entendo com grande convicção que nossa tentativa de querer parecer moderno, e, portanto, relativista, em oposição

ao fundamentalismo – que nada tem a ver com fanatismo – é que tem causado essa crise de valores. Nas últimas

décadas, querendo parecer “afinados com uma Nova Pedagogia” não “autoritária” suprimimos a Autoridade do

cotidiano social e depois sofremos com a crise de Autoridade em quase todos os ramos da sociedade.

Içami Tiba disse: “As instituições de ensino, cuja tarefa é introduzir as crianças nas normas da sociedade, muitas vezes

se omitem. O professor também perdeu a autoridade inerente à sua função. Quanto maior a perda, mais anárquica

tornou-se a aula. Ao admitir o ‘príncipe escolar’, em vez de ajudar o aluno a viver em sociedade, o professor acaba

por prejudicar seu crescimento”. (1996, p.18 – ênfase do próprio Içami Tiba)

Lembro ainda que assim como Fundamentalismo nada tem a ver com fanatismo, Autoridade não tem qualquer relação

com autoritarismo. Querer fazer confusão entre os tipos é uma “uma sutileza filosófica” negativa, como bem disse

Michel de Montagne (ainda que eufemisticamente) ao criticar tal atitude de confusão. Em verdade isso é anarquismo.

(Montagne, Ensaios, Cap XXX).

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8. ATENÇÃO AOS LIMITES

busca por um esmero e aperfeiçoamento por parte do professor não pode leva-lo a

ultrapassar a fronteira entre o esmero citado e a falta de amor.

O professor que deixa a sonho de excelência tornar-se implicância com pequenas

dificuldades ou erros dos alunos pode perder o seu trabalho e granjear desafetos.

E olha que no mundo da pedagogia – cheio de estrelismos e egoísmos – na relação com alunos

mesmo sem sermos implicantes já conseguimos desafetos!

Lembremo-nos que no céu da pedagogia e cultura cristãs há muitos “pensadores” que se comportam

como se fossem a única estrela no manto escuro do firmamento.

E muitos professores que atuam nas Igrejas caem na armadilha de seguir a essas “estrelas errantes”

(Jd 13). Tornam-se professores que não aceitam opinião dos outros, ensinam doutrinas totalmente

opostas a Visão da Igreja, sem fazer ressalva alguma.

Meu conselho é que o professor que atua no interior de uma organização cristã deve trabalhar em

unidade com o pastorado. Isso vai lhe garantir o espaço para pensar, ainda que deva salvaguardar o

pensamento geral da liderança da Igreja da qual é membro!

Para evitar inimizades ou bloquear alunos inexperientes toda discussão que o professor levar para a

sala de aula não pode desconsiderar os limites intelectuais, a fé e a maturidade espiritual emocional

dos alunos.

A função do professor de cristão não é desfilar conhecimentos, mas ajudar de forma responsável na

construção do conhecimento do aluno/discípulo.

Às vezes no afã de melhorar o professor começa a perder o senso crítico para si mesmo (aceitando

de tudo) e perde a responsabilidade para com os limites dos alunos, colocando suas almas valiosas

dentro um turbilhão de dúvidas e insatisfações que, como disse Paulo “serve mais para a perversão

dos ouvintes”.

A

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9. TRATAMENTO INDIVIDUAL

inha experiência me ensinou que há dois erros freqüentes no trabalho pedagógico: quando

o professor subestima a capacidade (ou o conhecimento) é o primeiro erro. O segundo

erro é quando o professor superestima a capacidade (ou o conhecimento) do aluno.

Note bem que sub ou superestimar o aluno revela falta de realismo no agir pedagógico.

Esse procedimento muitas vezes traz a luz preconceitos do professor que age com acepção de

pessoas, julgando pela aparência ou por dificuldades intelectuais.

Em geral são motivos internos ao próprio educador que o levam a preferir um aluno em detrimento

a outro, não percebendo que suas ações são percebidas por outros.

Ainda que os alunos não falem nada é muito certo que o silêncio deles é cheio de significados.

E quando o professor é que se cala desprezando os aluno, sua mudez soa altissonante e negativa nos

corações rejeitados de seus discípulos!

O silêncio fala, e muito! A lição de Paul Watzlawizk é importante: “é impossível não se comunicar:

atividade ou inatividade, palavras ou silêncio, tudo possui uma mensagem” (in Paes da Silva, 2008,

p.21).

O tratamento pedagógico deve, sempre que possível, ser individual.

É bem verdade que há sim um grupo de padrões próprios de cada cultura, época e faixa etária, bem

como algumas outras variantes de gênero (masculino/feminino) que se apresentam com certa

recorrência nas situações de aprendizagens das aulas.

Assim os métodos devem ser claros, mas flexíveis quando preciso.

Quando o professor não entende sobre a importância do trabalho individual em pedagogia ele

transforma variantes sociais em padrões absolutos e imutáveis de abordagem dos alunos.

Devemos levar em conta que toda pessoa humana é única, mesmo aquelas que possuem graus de

parentesco (irmãos). Cada aluno é diferente do outro, tendo suas facilidades e dificuldades.

No caso de alunos de artes nem todos serão virtuoses ou mestres. Os alunos de teologia por

exemplo, nem todos leem muito rápido, outros tem memória prodigiosa para guardar dados, frases e

versos, outros são práticos etc. O professor deve saber trabalhar com todos os perfis psicológicos

em sala de aula, se esforçando para não frear ou matar o talento, o desejo que o aluno tem de

aprender. Ah! De novo o Talento, alguém dirá.

Mas não é um fato que há pessoas que possuem grande facilidade para algumas coisas?

De minha parte não tenho receio algum de responder que sim.

Lendo biografias não é difícil encontrar casos de alunos talentosos que passavam por

incapacitados, desinteressados quando na verdade mereciam atenção diferenciada. Não disse

mais ou menos atenção, disse atenção diferente. Ora o aluno não enquadrado nesse grupo merece

atenção diferenciada? Claro que sim. E quem fez esta pergunta é porque esta começando a notar

que o tratamento ao aluno deve ser diferenciado!

Às vezes o trabalho do professor se assemelha ao do terapeuta.5

Não pode ser um mestre moderno aquele, que “especializado” em matemática, não quer opinar

sobre estética, como se fossem áreas opostas! Ora se vemos uma obra de Niemayer, e focamos em

seu “peso” apenas, nas questões de engenharia, do trabalho inicial com concreto, ferros etc, vemos a

Matemática. Mas se novamente a olhamos e vemos o trabalho do Esteta com suas cores, formas, texturas, equilibrio, ângulos etc vemos sem sombra de duvida que Estética, Matemática e

Engenharia são apenas momentos do trabalho desse artista maravilhoso! Assim, o que impede um

Matemático de ler Estética, ou Psicanálise, ou Teologia e mesmo emitir opiniões sobre elas ou usa-

las em beneficio de seus pupilos? A preguiça de ler não pode ser desculpada com a especialização!

5 Quero lembrar aqui sobre a importância da terapia com música que tem sido bastante difundida entre Pedagogos

Musicais. E já há de fato grande desenvolvimento do ramo chamado Musicoterapia, que busca formas de alivio,

reeducação psíquica, etc valendo-se de áreas distintas como Música, Estética, Psicologia, Psicanálise Junguiana etc.

Enfim a musicoterapia tem se mostrado bastante Holística.

Devo esclarecer que o fato de a apresentar aqui dessa forma não indica que a aprovo neste estado. Tenho, sim, muitas

criticas a apresentar, em especial a determinadas escolas esotéricas travestidas de holísticas, psicanalíticas.

M

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Outra crítica dura que merece a especialização é que ela reforça o poder nas mãos de elites do saber,

dando a apenas a alguns a “autoridade” de versar ou escrever sobre tal ou qual assunto.

Fedro, o magistral escritor de fabulas, disse que “seja lá qual for o tipo de mensagem, desde que

cative o interesse e sirva de veiculo para seu objetivo, recomenda-se por si mesmo e não pelo

nome do autor”(no original: “quicumque fuerit ergo narrandi lócus, dum capiat aurem et servet

propositum suum commendantur, non auctoris nomine”. Tradução Luiz Feracine, ex-professor da

Unesp e Sacerdote Católico).6

Desse modo entendo que o professor da atualidade não pode manter-se alheio a outras áreas do

saber.

É difícil? Claro! Mas quem não se dispõe não pode ser bom mestre.

Sabedor da necessidade de um professor (de qualquer área!) ter uma boa base teórica e não agir

meramente de modo empírico, improvisado, o genial Mario de Andrade escreveu no prefacio de

Caldeira (1935) a dura preciosidade que segue:

“Temos de nos revoltar contra esse empirismo didático que vai ensinando á

tonta, sem o mais mínimo conhecimento do que seja ensino. Um professor

improvisado é um criminoso maior que um indivíduo que mata um homem.

Porque é um ladrão de homens. O ensino mal orientado rouba de milhares e

milhares de homens as partes mais essenciais do ser, rouba a individualidade,

rouba a coragem de viver, rouba os elementos de viver, rouba a curiosidade de

saber, rouba a vontade de pensar, rouba o tempo e a felicidade. Se fossemos

imaginar em quantos seres já têm desanimado, já se tornaram hipócritas, já se

tornaram incapazes,... já se esfacelaram na improdutividade, surrados e

monótonos por causa de mal ensinados... Nem vale a pena imaginar, a visão é

escura demais!... O professor empírico é um ladrão de homens, pior que o

criminoso que matou”(Andrade, in Caldeira, 1935, ps 7,8).

A meu ver a especialização, quando se torna empecilho para a curiosidade e erudição de um

professor, é semelhante ao empirismo que Mario criticava em sua época. Luta contra a

sobrevivência do trabalho de professor, ou cria professores de poucos!

Mario criticava a falta de preparo para a vastidão do trabalho pedagógico.

Em nossa época, temos muitas vozes a dizer semelhanças, como Rubens Alves, que entende que “a

especialização pode transformar-se numa perigosa fraqueza. Um animal que só se desenvolvesse e

especializasse os olhos se tornaria um gênio do mundo das cores e das formas, mas se tornaria

incapaz de perceber o mundo dos sons e dos odores. E isto pode ser fatal para a sobrevivência”.

Notemos que a exigência de Mario de Andrade se fundamenta nos prejuízos que um professor

assim pode causar.

A individualidade é roubada, pois um professor despreparado não pode estimular a criatividade,

mas quase sempre valoriza a cópia de outros artistas!

Se o aluno imita apenas (e não digo que imitar é errado, pelo menos no inicio é até deve bom!7) tem

sua vontade de pensar roubada, conseqüentemente ficara sempre tão dependente dos outros que na

ausência de alguém para imitar e não podendo criar esfacelar-se-á “na improdutividade” e ficando

desanimado desistirá da música, da arte, desistirá de si mesmo!

6 E me atrevo a citar Fedro e Feracine sem contradição alguma pois não sou contra a citação de uma autoridade (que por

seus méritos deve ser reconhecida e citada com honra), afinal estou a defender não o fim da citação de uma autoridade

conhecida mas a propor a citação (inclusiva) de uma autoridade desconhecida, não baseada necessariamente em

diplomas!

Lembro de Graziela Bortz, professora da Unesp (Instituto de Artes), com quem tive boas conversas sobre esse assunto,

que citou com pertinência Illich, que disse: “A escolaridade não promove nem a aprendizagem nem a justiça, porque

os educadores insistem em embrulhar a instrução com diplomas” (Illich, 2007, p.16, apud Bortz). 7 Dionísio Aguado, grande mestre espanhol do violão no Romantismo (século XIX), escreveu em seu Método Completo

de Guitarra (Editado em 1825) que o aluno “debe buscar modelos de expresión en los professores de mérito, sea cual

fuose el instrumento en que expresen sus sentimientos; los oirá com mucha atención, y procurará imitarlos hasta que

consiga formarse un gusto y un estilo particular.” (Aguado, Ricordi Americana, Buenos Aires, 1988, p. 128 – ênfase

minha)

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Repetimos em nossa própria defesa que não somos contrários a especialização. Um cirurgião que

viva com seus estudos em dispersão pode ter mão pesada com o bisturi e causar lesão no lugar de

boa incisão. Mas nada o impede de estudar Teologia, ou Vinhos! Nossa preocupação é para evitar

exageros pois, “a tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos”

(Alves, 2005, p.12). A exigência para ser professor é esta!

É por isso que Tiago, mesmo sabendo que precisamos de mestres, teve a coragem de desaconselhar

que muitas pessoas quisessem ser professores ao escrever: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam

mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1).

10. IDEIAS SOBRE EDUCAÇÃO

m seu livro Pais Brilhantes Professores Fascinantes, de Augusto Cury (2008) aprendemos

muitas coisas interessantes sobre educação. Na segunda parte do livro Cury fala dos “sete

hábitos dos bons professores e dos professores fascinantes”. Não sou contrário ao uso do

termo “bom professor”. Esta é a opinião do autor e entendemos o que ele quis nos passar. Só.

“Bons professores são eloqüentes, professores fascinantes conhecem o funcionamento da

mente”.

“Bons professores possuem metodologia, professores fascinantes possuem sensibilidade”

“Bons professores educam a inteligência lógica, professores fascinantes educam a emoção”

“Bons professores usam a memória como deposito de informações, professores fascinantes

usam-na como suporte da arte de pensar”

“Bons professores são mestres temporários, professores fascinantes são mestres

inesquecíveis”

“Bons professores corrigem comportamentos, professores fascinantes resolvem conflitos em

sala de aula”

“Bons professores educam para uma profissão, professores fascinantes educam para a vida”

Todo professor consciente e maduro deve ter senso crítico apto a discernir e filtrar as idéias. Muito

especialmente quem é educador cristão deve ser apto a isto. Desse modo não pense o leitor que

concordamos com tudo o que Cury expõe em seu livro, pois quando o confrontamos com a Bíblia

algumas coisas temos de rejeitar. Todavia os “hábitos” descritos acima são muito úteis na nossa

reflexão sobre educação em especial sobre o trabalho do pedagogo cristão, como o que ensina na

mais importante escola do mundo que é a EBD!

11. CONCLUSÃO

tema do ensino nunca se conclui.

Haverá sempre o que melhorar, coisas novas para se descobrir, estratégias novas a

implementar, fatos novos a discutir, temas novos a nos desafiar.

O Objeto mais valioso da pedagogia e da educação é o ser humano sobre quem se pensa em

educação e para quem a educação deve ser pensada.

Cremos firmemente que o professor que não é alguém preocupado com as mudanças sociais,

comportamentais, culturais e espirituais de sua e de outras épocas não poderá ser um bom professor.

O professor de verdade é antes de ser PROFESSOR um aluno aplicado ao conhecimento, é curioso,

não quer apenas levar respostas prontas, que muitas vezes nem temos.

E

O

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Responder só para “não ficar por baixo”, ou para o aluno “não pensar que não sei” é imaturidade

gravíssima que descredencia a pessoa a honrosa posição de professor!

A atividade de um professor deve se resumir na atitude sempre consciente de ajudar as pessoas a

viver filosoficamente: ou seja, pensando com coerência, correção, imparcialidade etc.

O que passar disso, a meu ver é demagogia e não pedagogia e o que assim se comporta pode ser um

demagogo, todavia jamais poderá levar o nome de Aio, Preceptor, Professor ou Pedagogo!

Osnir Gonçalves Ferreira

12. BIBLIOGRAFIA

ADAMS, Jay E., O manual do Conselheiro Cristão, Ed Fiel, 1986;

AGUADO, Dionisio, Método Completo de Guitarra, Ricordi Americana (B. Aires), 1988;

ALMEIDA, João Ferreira de Almeida, Bíblia Sagrada

ALVES, Rubens, Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e as suas regras, Ed Loyola, 2005;

ANDRADE, Claudionor C. Andrade, Dicionário Teológico Ed. CPAD, 1999;

BRUNTON, Paul A Busca (Volume II), Editora Pensamento, 1994;

CARNEGIE, Dalle, Como fazer amigos e influenciar pessoas, ?

COLEÇÃO, Os Pensadores, História da Filosofia Ed Nova Cultural, 1999;

FEDRO, Fabulas, (Tradução Luiz Feracine), Ed Escala, 2006;

FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia Ed Paz e Terra, 39a.edição , 2009;

GAINZA, Violeta de, Estudos de Psicopedagogia Musical, Summus Editorial, 1988;

HOWARD, Walter, A música e a Criança Summus Editorial, 1984;

LARSON, Bob, Satanismo: a sedução da juventude americana Ed. CPAD, 1997;

LIPMAN, Matthew et alii, Filosofia na sala de aula, Ed. Nova Alexandria, 2001;

MONTAGNE, Michel de Montaigne, Ensaios Editora Abril Cultural, 1972;

PAGANO, Letícia, Noções de Pedagogia Musical Ed Ricordi SaoPaulo, 1965

PLATÃO, Diálogos

SILVA, Maria Julia Paes da, Comunicação tem Remédio Ed Loyola, 2008;

SOCIEDADE, De Psicanálise Integral, Psicoterapias Alienantes Próton Editora, 1980;

TIBA, Tiba, Disciplina, Limite na medida certa, Editora Gente, 1996;