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Centro Universitário de Brasília Faculdade de Ciências da Saúde – FACS Curso: Psicologia PSICOLOGIA E MEDIUNIDADE SERGIO OSNA FARIA BRASÍLIA JUNHO / 2005

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Centro Universitário de Brasília Faculdade de Ciências da Saúde – FACS Curso: Psicologia

PSICOLOGIA E MEDIUNIDADE

SERGIO OSNA FARIA

BRASÍLIA JUNHO / 2005

Sergio Osna Faria

Psicologia e Mediunidade

Monografia apresentada como requisito

para conclusão do curso de Psicologia

do UniCeub – Centro Universitário de

Brasília

Professora Orientadora: Virginia Turra.

Brasília/DF, Junho de 2005.

DEDICATÓRIA

Aos meus pais

Por tudo o que me deram e me propiciaram. Nada disso jamais aconteceria se não fosse por vocês.

Minha total gratidão e incondicional amor por terem me dado o presente mais precioso que já recebi:

Minha vida na companhia de vocês.

AGRADECIMENTOS Só consegui realizar este trabalho porque pessoas muito especiais cruzaram a minha vida. Agradeço a todos por tudo.

Em especial, agradeço:

Aos meus pais, mais uma vez e sempre, pela oportunidade da vida. À professora Virginia Turra pela paciência, pela força, compreensão e principalmente por acreditar mais em mim e na minha capacidade do que eu mesmo... À Márcia R. A. Fonseca por ter me levado a níveis que eu jamais sonhei ser possível chegar. Não há palavras suficientes para agradecer absolutamente tudo que você já fez por mim (até mesmo os puxões de orelha!!!) À professora Miriam May Philippi pela ajuda com idéias, materiais e a presença do Mestre Jorge Ponciano Ribeiro. À professora Leida Mota pelas dicas, orientação e paciência. À Ana Lúcia S. C. Palma por ter me mostrado que a psicologia é muito mais, pode ter a minha cara e ser feita do meu jeito. Aos professores que realmente ensinaram que a psicologia não é uma ciência limitada e que muito ainda há por ser feito. À Cristiane Moreira Sales pela excelente e paciente revisão. Aos colegas que de alguma forma colaboraram: Ana Cristina Improise, Giselle Silva, Leonardo Santana, Rosita Fedrigo e Vera Matos.

“Estudar o homem psicologicamente e excluir dele o estudo de seu aspecto espiritual é o mais alienante descompromisso da ciência e / ou da academia para com a verdade humana, para com a totalidade existencial humana, da qual nasce

todo e qualquer significado”

Jorge Ponciano Ribeiro

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo gerar reflexões sobre a importância da mediunidade para a psicologia e para a melhor compreensão do homem como um ser complexo e com características transpessoais. Para tal, foram discutidas as diversas formas de transmissão e aquisição de conhecimento, as diferentes possibilidades de construção de teorias cientificas. Levantou-se também a interseção entre a mediunidade e a psicologia em cada uma das suas chamadas grandes forças. Buscou-se explicar como cada uma destas forças da psicologia vê a mediunidade e o porque, com fundamentação em cada um de seus embasamentos teóricos – filosóficos. Por fim, verificou-se que a mediunidade já faz parte e é utilizada por várias vertentes da psicologia e que para se ter uma visão abrangente e completa do ser humano seu estudo aprofundado deve acontecer de forma séria e sistematizada.

ABSTRACT: This present work intends to generate reflections on the importance of mediumship for psychology and for the better understanding of man as a complex being and with transpersonal characteristics. In order to do that, different possibilities of constructing scientific theories and knowledge acquisition were discussed. The intersection between mediumship and psychology in each of its forces was also raised. In addition, it tries to explain how each of these psychology forces sees mediumship and why, based on their theoretical and philosophical foundations.

SUMÁRIO RESUMO.....................................................................................................................................................05

ABSTRACT..................................................................................................................................................06

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 08

PENSAMENTOS CIENTÍFICO E FILOSÓFICO ......................................................................................... 12

SENSO COMUM.......................................................................................................................................... 12 RELIGIÃO .................................................................................................................................................. 13 CIÊNCIA .................................................................................................................................................... 14

Empirismo..........................................................................................................................................15 Positivismo.........................................................................................................................................16 Fenomenologia..................................................................................................................................17

PSICOLOGIA .............................................................................................................................................. 19

PRIMÓRDIOS ............................................................................................................................................. 20 PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO............................................................................................................. 22 FREUD E A PSICANÁLISE: A PSICOLOGIA DO INCONSCIENTE.......................................................................... 24 JUNG E A PSICOLOGIA DA TRANSCENDÊNCIA ............................................................................................... 26 PSICOLOGIA HUMANISTA: A ABORDAGEM DA AUTO - ATUALIZAÇÃO................................................................ 29 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL: O HOMEM BIO – PSICO – SOCIAL – CÓSMICO ................................................... 32

MEDIUNIDADE ........................................................................................................................................... 36

A MEDIUNIDADE NA HISTÓRIA DE ALGUNS POVOS......................................................................................... 37 A BUSCA PELA VERDADE ............................................................................................................................ 38

PSICOPATOLOGIA .................................................................................................................................... 42

HISTÓRICO................................................................................................................................................ 43 CONCEITOS DAS ESTRUTURAS DE PERSONALIDADE ..................................................................................... 45

Neurose .............................................................................................................................................. 45 Perversão ........................................................................................................................................... 47 Psicose ............................................................................................................................................... 48

NORMAL X PATOLÓGICO........................................................................................................................... 50

VISÕES DA MEDIUNIDADE....................................................................................................................... 53

VISÃO DA RELIGIÃO.................................................................................................................................... 53 VISÃO DO SENSO COMUM.......................................................................................................................... 56 VISÃO DA FILOSOFIA E DA CIÊNCIA .............................................................................................................. 57

Empirismo........................................................................................................................................... 57 Positivismo.......................................................................................................................................... 57 Fenomenologia ................................................................................................................................... 58

VISÃO DA PSICOLOGIA ............................................................................................................................... 58 A Primeira Força: o Behaviorismo...................................................................................................... 58 A Segunda Força: a Psicanálise ........................................................................................................ 59 A Visão de Jung.................................................................................................................................. 60 A Terceira Força: a Psicologia Humanista ......................................................................................... 62 A Quarta Força: a Psicologia Transpessoal ....................................................................................... 63 Terapia de Vidas Passadas................................................................................................................ 64

VISÃO DA PSICOPATOLOGIA ....................................................................................................................... 65 CIÊNCIA ESPÍRITA...................................................................................................................................... 66

CONCLUSÃO.............................................................................................................................................. 70

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................................................... 76

INTRODUÇÃO

A mediunidade é um dom que se manifesta em serem humanos vivos. Qualquer

definição que tente se dar a ela será sempre incompleta, uma vez que é algo muito

maior e mais complexo para se encaixar em um breve relato. Uma das faces desse

dom é a capacidade de comunicação entre seres humanos vivos e seres humanos já

falecidos, chamados de desencarnados.

É um fenômeno presente na história da humanidade desde tempos imemoriais.

Em cada época e local foi entendida de maneira diferente. Foi vista como algo mágico,

místico, como doença, como um dom proveniente de pacto feito com o Diabo1, como

base de religiões, como uma característica inata a todos os seres humanos. Mas depois

de certos acontecimentos no curso da história da ciência ocidental, houve uma tentativa

de várias áreas da ciência de comprová-la como algo real e plausível dentro do reino da

própria ciência, a parte de qualquer conotação mística e religiosa que pudesse ter.

Como pode ser constatada, a origem da psicologia nos remete a fatos que a

tornam profundamente ligada à mediunidade e a espiritualidade. Da Grécia antiga surge

a psicologia como o estudo da alma, a busca pela origem do homem. No decorrer dos

tempos, até para que pudesse se firmar como ciência reconhecida, a psicologia se

afastou de sua origem. Mas sempre houve quem lutasse para que a visão de um

homem integral não fosse abandonada totalmente pela psicologia em nome de

conceitos reducionistas, mesmo que estes trouxessem mais “credibilidade”. A figura

pioneira na psicologia e uma das mais importantes nesta luta foi Carl Gustav Jung que,

corajosamente, em um tempo em que os homens de ciência deveriam se portar

rigorosamente de acordo com as regras impostas para que fossem aceitas, trabalhou

com conceitos considerados arrojados e extremamente ousados para a época. E até os

dias de hoje é contestado, tamanho o avanço de suas idéias.

1 Aqui “Diabo” é utilizado como referência ao representante do mal em oposição ao bem, como temática própria da cultura provinda da religião cristã.

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Destas idéias, que serviram de semente para o trabalho de vários outros grandes

nomes, a psicologia foi evoluindo e aprendendo a lidar com dados que fogem ao

observável e palpável. Idéias como inconsciente, livre arbítrio, alma, sonhos, contatos

com espíritos e estados alterados de consciência foram sendo incorporados a

psicologia a medida que esta evoluía. Hoje chegamos a um ponto em que praticamente

nada que diga respeito ao ser humano é excluído. Naturalmente ainda existem aqueles

que preferem se manter e trabalhar com conceitos que nos remetem a psicologia como

a ciência dos cinco sentidos básicos. Mas não se pode negar que para se entender

algo, ainda que em suas partes, devemos ter uma visão e compreensão do todo. Nada

jamais deve ser excluído, negligenciado ou negado, seja a que pretexto for.

Desta forma, assume-se neste trabalho, que a mediunidade deve ser estudada

como algo que faz parte da natureza humana. Não com um viés religioso, mas como

algo que está presente na vida de qualquer indivíduo.

Este trabalho se valerá de um levantamento de um breve histórico das formas de

conhecimento e de se fazer ciência mostrando como a psicologia interage e interagiu

desde os seus primórdios com a mediunidade. Busca-se desta forma gerar

questionamentos e levar a uma reflexão a respeito da importância de não eliminar nada

que traga maior conhecimento sobre o ser humano por parte de princípios que remetam

a visões limitadas de uma pessoa.

É preciso levar tais temas a debate, com a mente aberta, abrindo mão de

preconceitos e conceitos arcaicos que têm muito pouco ou já não têm mais espaço nos

dias atuais. É preciso ter a coragem de questionar respostas seculares, cristalizadas de

tal forma que pareçam “verdades absolutas”. Essa é uma postura que deve ser

assumida por todos aqueles que fazem ciência nos dias de hoje.

Tem-se também a intenção de questionar os diagnósticos com resultados que

indicam patologias dados a algumas pessoas que descrevem possuir mediunidade.

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Tenta-se mostrar que a psicopatologia, sob o ponto de vista da psicanálise, muito

relevante para a saúde do homem, está mais limitada aos casos de grave desajuste do

que a qualquer caso relatado de mediunidade.

Este trabalho busca provocar tais reflexões sobre a mediunidade, suas

possibilidades e importância dentro da psicologia. Cada vez mais urge a necessidade

de se escrever e produzir acerca do tema. Todo e qualquer trabalho, desde que bem

embasado, deve ser encorajado, para que mais profissionais tomem ciência e se

posicionem diante de tema tão relevante para a compreensão da existência humana. O

objetivo deste trabalho é, portanto, causar questionamentos e reflexões em todos

aqueles que o lerem.

Fazendo um levantamento de referências bibliográficas com variados

posicionamentos sobre a mediunidade, desde os mais a favor até os mais radicalmente

contra, tenta-se mostrar e relevância do tema. Quer-se também mostrar a mediunidade

como um fato concreto, possível de ser objeto de estudo da Psicologia. Algo a ser ainda

vastamente estudado, pela noção de que é parte inseparável da psicologia.

Para se chegar a tais objetivos foram utilizados livros, teses de mestrados,

monografias, textos e artigos dos mais variados autores. Foram incluídos aqui autores

religiosos, cientistas, filósofos e principalmente aqueles que escrevem com o olhar da

psicologia, sejam eles psicólogos ou não.

Foram levantados aspectos do pensamento filosófico e científico, desde a Grécia

antiga até os dias de hoje, para que se possa ter uma melhor compreensão da

evolução do pensamento humano e das formas de aquisição e transmissão de

conhecimento. Senso comum, religião, vertentes filosóficas e métodos de se fazer

ciência foram discutidos, de forma que diferentes posições fossem exploradas.

Há uma breve descrição do histórico da psicologia e como cada abordagem

surgiu. É discutido o embasamento teórico das chamadas quatro grandes forças da

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psicologia: o behaviorismo, a psicanálise, a psicologia humanista e a psicologia

transpessoal. Devido a grande importância de Carl Gustav Jung para o presente texto

devido ao seu trabalho pioneiro em assuntos ligados a espiritualidade, foi dado também

destaque para sua teoria e para as suas idéias que resultaram em um grande impacto

no que diz respeito à espiritualidade dentro da psicologia.

Há também um capítulo sobre a psicopatologia, propositadamente separado dos

outros, principalmente do que trata da psicologia em específico, uma vez que um dos

objetivos deste trabalho é precisamente questionar a explicação da mediunidade como

sintoma de alguma patologia ou transtorno mental.

E finalmente, o último capítulo trata da interação da mediunidade com cada um

dos tópicos apresentados anteriormente. Nesta parte, é relatada a visão de cada uma

destas formas previamente descritas de conhecimento sobre a mediunidade.

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PENSAMENTOS CIENTÍFICO E FILOSÓFICO

Existem várias formas de conhecimento e de compreensão do mundo. Por toda a

história da humanidade, desde os tempos mais remotos até a atualidade, sempre houve

uma busca incansável e incessante para se chegar a respostas definitivas, verdades

absolutas e inquestionáveis. Neste caminho, muitas formas de ver e tentar explicar o

mundo se misturaram com elaborados sistemas de pensamento para que os fatos

descobertos fossem aceitos como definitivos. Mas de uma forma geral isso jamais

ocorreu, especialmente naquelas questões que envolvem a origem, o paradeiro e o

destino dos seres humanos. Nesta procura vários métodos foram desenvolvidos e

alguns se tornaram mais aceitos do que outros e inclusive ganharam um status de

“versão oficial”. Alguns mais rigorosos e concretos enquanto outros dando mais vazão

ao abstrato. Definitivamente, todos desempenharam papéis fundamentais na história do

pensamento humano. Neste trabalho veremos brevemente alguns destes métodos para

entender melhor a questão proposta e como se chegou a ela.

SENSO COMUM

Uma das formas de ver o mundo e transmitir conhecimentos é a visão do senso

comum, aquela em que as explicações são dadas baseadas em idéias correntes no

imaginário e no uso popular, no que comumente as pessoas sabem e passam umas as

outras, criando-se uma certa forma de tradição. Para Fontes (2005) é o nível mais

elementar do conhecimento, que se baseia em observações ingênuas da realidade e

está comumente relacionado a soluções de problemas práticos do dia-a-dia. O senso

comum é também o hábito, aquilo em que se acredita porque se faz repetidamente,

mesmo que não se saiba o real motivo e uma eventual explicação para aquilo. É a

forma mais básica e acessível de conhecimento, pois se baseia freqüentemente em

observações que não seguem parâmetros para serem definidas. Está mais focado nas

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aparências dos eventos do que nas causas efetivas. Ainda que muito do que prega o

senso comum tenha alguma lógica e possa inclusive ser provado através de pesquisas

e experimentos, de um modo geral é a visão menos respeitada pelos estudiosos e

acadêmicos.

RELIGIÃO

Outra forma de conhecimento é a visão religiosa. Para Ferreira (1999) religião é

a “crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais, considerada(s) como

criadora(s) do Universo, e que como tal deve(m) ser adorada(s) e obedecida(s);

manifestação de tal crença por meio de doutrina e ritual próprios, que envolvem em

geral preceitos éticos” (p. 1937).

Cada religião possui suas próprias regras e tradições. Com muita certeza, vários

pontos de conhecimento transmitidos pelas religiões têm explicações bem claras se

forem buscadas em suas raízes históricas. O fato é que normalmente, religiões

envolvem questões de fé, que são um caso a parte e não podem ser mensuradas e

qualificadas pelas regras que se aplicam a outras áreas. Mas de qualquer forma, é um

meio poderoso de transmissão de conhecimentos. Em vários momentos da história do

homem, tentou-se aliar os conhecimentos advindos da religião às formas mais

embasadas e concretas do saber, mas há intransigência; tanto de estudiosos que

acreditam que as questões que envolvem religião não podem ser avaliadas de outra

forma, que não a própria fé religiosa, quanto de pessoas da religião que preferem, pelos

mais variados motivos, não colocar suas crenças à prova de estudos que poderiam

eventualmente desmistificar certos eventos e com isso abalar a fé de fiéis.

Não são muitos os que conseguem fazer esta união, separando o que é

puramente religioso do que é científico. Para Solomon (2004), o caminho é fazer uma

distinção entre religião e espiritualidade, porque um não é necessariamente o outro e

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enquanto a religião é uma instituição social, e não espiritual que possui

posicionamentos anticientíficos, a espiritualidade anda de mãos dadas com a ciência.

Desta forma, para o autor, fica mais fácil diferenciar que eventos pertencem a religião e

quais são ligados a espiritualidade e desta forma, possivelmente aceitos pela ciência.

CIÊNCIA

A forma que mais interessa a este trabalho é a visão científica. No senso comum

as informações são passadas sem nenhum embasamento de estudos e pesquisas e

comprovações. Para a religião o que mais vale são os preceitos e dogmas de cada

crença, transmitidos de forma não questionada e em alguns casos até mesmo

impostos. No método científico, por sua vez, têm-se pessoas especializadas em várias

áreas estudando e buscando formas de conhecimento baseadas em dados e fatos

concretos, ainda que nem sempre visíveis e palpáveis. Como afirma Lungarzo (1997, p.

11): “o cientista tenta encontrar explicações que sejam mais profundas, que estejam

baseadas em conhecimentos mais exatos, mais precisos”.

Na história da humanidade sempre foram buscadas respostas que pudessem ser

vistas como verdades plenas e absolutas baseadas em sistemas que fossem infalíveis.

No decorrer dos séculos, desde a Grécia antiga, e talvez ainda antes, até os dias de

hoje, várias foram as idéias de como isto poderia ser feito. Há muito tempo já ficou

claro que a ciência se porta, ou ao menos tenta se portar, de maneira diferente de

outras formas de busca pela verdade absoluta. Mas não há e nunca houve um

consenso, como acontece também em todas as outras formas de conhecimento, seja o

senso comum, a religião ou a filosofia. A cada teoria, cada método, cada verdade

encontrada sempre havia alguém com um pensamento diferente e muitas vezes

contrário. E com esta interminável contestação, questionamentos e um sábio duvidar, o

conhecimento humano foi se construindo.

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Como afirma Khun (2003) em seu livro “A estrutura das revoluções científicas”,

todos os dados levantados que pareçam pertinentes ao desenvolvimento de uma

ciência pode ser relevante e cada teoria, para ser aceita como um paradigma, tem que

ao menos parecer melhor e mais eficiente do que outras, ainda que não precise dar

respostas e explicar todos os fatos com os quais seja confrontada.

Na história da ciência, pessoas de diferentes áreas foram criando estruturas e

métodos para que as descobertas gozassem de credibilidade, sempre se tentando

superar uma versão anterior e chegar mais longe. Começou-se então a exigir que o

conhecimento, para ser considerado científico, e portanto crível e universal, fosse

validado por experimentos e por deduções lógicas.

EMPIRISMO

Uma das primeiras formas amplamente aceita, e de interesse a este trabalho, é a

ciência empírica, que obtém conhecimento através dos sentidos empíricos, que são os

cinco conhecidos sentidos humanos: visão, audição, tato, paladar e olfato. De acordo

com John Locke, um dos criadores e mais importantes pensadores desta vertente “nada

vem à mente sem ter passado pelos sentidos”. A origem do nome desta forma filosófica

de se adquirir conhecimento vem de tempos antigos. De acordo com a Mestra em

filosofia Cristina Oliveira (2005) o termo empirismo se originou da palavra grega

empeiria, que significa experiência sensorial. Foi durante muito tempo amplamente

aceita, justamente por limitar-se ao que podia ser percebido diretamente pelo homem e

desta forma ser mais facilmente comprovado. Mais importante do que se pensava e se

teorizava era o que se podia ver, tocar e sentir a um nível físico.

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POSITIVISMO

Uma outra vertente surgida posteriormente ao empirismo foi o positivismo. Não

bastava apenas perceber o objeto do conhecimento mas, a partir desta percepção,

desenvolver formas de testar e confirmar. De acordo com Lungarzo (1997) após a

obtenção do conhecimento, através de um ou mais sentidos, ainda era necessário que

o estudioso desenvolvesse este conhecimento numa expressão científica, com o uso da

matemática e da lógica, e assim verificar se tal expressão é verdadeira ou falsa por

meio de testes e experimentos. Afirma ainda o autor que se estes testes não pudessem

ser realizados com a expressão científica em si, dever-se-ia então realizá-los com as

conseqüências desta expressão. A partir deste ponto então, como explica Ribeiro

(1996), os porquês e a essência das coisas foram postos de lado por serem

considerados inacessíveis, buscando-se então regras que comprovassem relações

constantes entre os fenômenos. Para o autor, buscava-se substituir o método a priori

pelo método a posteriori, observando-se o mecanismo do mundo em todos os lugares

ao invés de inventá-lo. Embora num primeiro momento todo e qualquer tipo de

conhecimento pudesse ser verificado por este método, sua extrema rigidez lhe deu

força no que poderia validar, mas eventualmente o enfraqueceu em todos aqueles

pontos que estão além dos cinco sentidos e da forma como a lógica dos testes exclui a

exceção e o diferente. Mesmo sendo uma forma muito limitada de ver o mundo, por

reduzir o conhecimento à metodologia e à sistematização das ciências, o positivismo é

uma das formas mais aceitas pelos meios científico e acadêmico por aceitar tão

somente fatos e dados concretos.

Chibeni (1988) faz uma síntese das críticas destas formas de se fazer ciência em

seu artigo intitulado “A excelência metodológica do espiritismo”. Neste artigo, afirma que

acreditavam que a Ciência deveria ser constituída de uma catalogação neutra de um

número grande de fatos e dados comprovados, os quais então resultariam

espontaneamente, de maneira certa e infalível, nas leis gerais que a regem. Uma teoria

científica seria então, para o autor, a reunião de tais leis.

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Segue ainda o autor a explicar o porquê desta forma de fazer ciência não ser

totalmente aceita e portanto, passível de contestação por parte de outras formas:

Percebeu-se que a descrição, busca e classificação dos fatos necessariamente envolve

pressuposições teóricas de um tipo ou de outro; que nenhuma lei teórica pode resultar lógica e

infalivelmente de um conjunto de fatos, qualquer que ele seja; que uma teoria científica não é um

simples amontoado de leis, sendo, antes, uma estrutura dinâmica complexa, na qual participam

elementos de diversas naturezas, como resultados observacionais, hipóteses livremente

concebidas, regras para o desenvolvimento futuro da teoria, decisões metodológicas, fragmentos

de outras teorias, etc. (p. 329)

E justamente com este raciocínio é que, no decorrer do tempo, outras formas de

fazer ciência, de buscar respostas e de se formular perguntas a serem respondidas por

estudiosos foram surgindo.

FENOMENOLOGIA

Uma destas formas de construção do conhecimento foi a fenomenologia, que já

tinha seus contornos traçados na antiguidade, mas foi fundada oficialmente por

Edmund Husserl no século XIX, e que, diferentemente das duas primeiras citadas,

buscava a essência do fenômeno. De acordo com esta vertente filosófica os fenômenos

deveriam ser atentamente observados e descritos para que se pensasse em suas

causas, utilizando-se da lógica para se chegar à razão original, ou seja, evidências

contrárias ao positivismo que buscava explicações do que era a posteriori, e que

portanto havia sim uma essência a priori e que esta poderia ser descoberta. “Sua

preocupação básica não é com a análise dos termos, mas com a descrição, a mais

completa possível, dos fenômenos. Só assim, segundo Husserl, poderemos alcançar,

com evidência e certeza, a própria essência das coisas, sua estrutura lógica

necessária” (Ribeiro Jr., 2003, p. 3). Como afirma Bello (2004) a fenomenologia trata a

percepção do indivíduo como algo que este já possui e portanto transcende o objeto

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físico percebido. Aí, começa a ser fundamental o questionamento da subjetividade do

ser humano, pois é a vivência de cada um que vai influenciar e ser realmente

importante para a obtenção do conhecimento. Esta forma filosófica e científica foi uma

das maiores e mais importantes influências para as chamadas ciências humanas, entre

elas a psicologia.

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PSICOLOGIA

Da filosofia e da busca de tornar o conhecimento humano organizado, com

respaldo e reconhecimento acadêmico, surgiram a ciência e seus métodos, e a partir

daí surgiram várias vertentes como a física, química, economia, política e a psicologia.

A psicologia é definida por vários autores como o estudo do comportamento

humano e seus processos mentais. Ao se pesquisar sua história veremos que é de fato

isso, mas indubitavelmente vai muito mais além, pois psicologia é sem dúvida uma das

mais vastas e variadas vertentes da ciência. Sua abrangência é tão vasta, sua

aplicação e escopo teórico tão abrangentes que hoje temos estudos em muitas áreas,

entre elas a clínica, hospitalar, escolar, esportiva e jurídica entre outras, com

embasamento na filosofia e / ou na fisiologia e também a influência das mais variadas

vertentes filosóficas como o associacionismo, existencialismo e fenomenologia, só para

mencionar algumas. Estas influências deram origem a várias abordagens, que muitas

vezes possuem pontos completamente opostos, mas sempre com o mesmo objetivo: a

compreensão do ser humano e como utilizar este entendimento para a melhor

adaptação e a evolução de pessoas, tanto como indivíduos quanto membros de grupos.

Vários autores têm definições mais ou menos parecidas: para Campos (1978) o

objetivo básico de uma psicologia considerada científica é o estudo do comportamento

humano. Mas esta pode ser uma forma reducionista de ver as coisas, já que alguns

pensadores no decorrer da história sempre buscaram ir além, muito embora, voltando

ao início de tudo na Grécia Antiga, deparasse com a origem do nome desta ciência,

psicologia, que no grego então significa “o estudo da alma”. Com isto pode se

compreender um pouco mais a postura de vários estudiosos de não aceitar somente o

comportamento expresso e quererem respostas que vão muito mais adiante.

“A história da psicologia é a história das pessoas buscando juntas um melhor

entendimento de si mesmas” (Weiton, 2002, pp. 04). De acordo com este autor, a

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psicologia surge como uma forma de responder a interrogações acerca do

funcionamento do próprio ser humano. Com o passar do tempo, estas interrogações

foram evoluindo e se tornando cada vez mais elaboradas e tendo seu foco, seus

métodos e embasamentos modificados.

PRIMÓRDIOS

A psicologia surge na Grécia antiga como a busca de respostas para a questão

da alma. E, logo no início, Platão (2005), em seu livro “Fédon”, afirmava que o homem

era constituído de um corpo físico e de uma alma, onde fica a essência, a

personalidade, por assim dizer, do indivíduo. Daí, como já dito anteriormente, o nome

desta ciência, pois do grego psique significa “alma” enquanto logia significa “estudo de”.

Mas com o passar dos tempos, as leis e regras da ciência não fizeram exceção à

psicologia, que também teve que se enquadrar a formas mais concretas para ganhar a

credibilidade necessária e se estabelecer como um estudo respeitável no meio

acadêmico.

Na busca pelas respostas desta área, muitos pensadores desenvolveram suas

teorias sobre a visão de homem: como este se comporta, o que o motiva, quais as

lógicas de seu funcionamento mental e as causalidades desconhecidas disso tudo.

Existem dois nomes que segundo Freire (2002) disputam a paternidade da

psicologia, ambos alemães e contemporâneos. O primeiro é Gustav Theodor Fechner,

físico e filósofo. Era também considerado místico, por ser a favor do espiritualismo, por

demonstrar preocupação com Deus e com a alma humana e ter lutado contra o

materialismo. Em 1860, publicou “Elementos de Psicofísica”. Seu trabalho focava

principalmente a relação corpo x mente e físico x psíquico. Para ele os conceitos de

mente e corpo eram dois lados da mesma moeda, partes de um mesmo todo, e tentou

demonstrar que esses dois conceitos estavam ligados em uma relação quantitativa,

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chegando inclusive a ser considerada matemática. Fechner se utilizou de métodos das

ciências exatas para desenvolver suas pesquisas, tentando comprovar que sensações

só poderiam ser verificadas através do controle para mais ou menos de estímulos, que

por sua vez modificariam, para mais ou para menos, estas conseqüências (sensações).

Esta foi uma grande colaboração, no que se concerne à metodologia, pois estas idéias

ainda são utilizadas até hoje como instrumentos de pesquisa psicológica. Por isso, ele

pode ser também considerado o precursor da psicometria.

O segundo nome a disputar o papel de “pai” da psicologia é Wilhelm Wundt,

considerado o fundador desta considerada nova ciência pela maioria e sem dúvida um

dos importantes personagens na história da psicologia. Em 1864, publicou “Elementos

da Psicologia Fisiológica” e em 1879 criou o primeiro laboratório de psicologia, em

Leipzig na Alemanha. Tinha como objetivo o estudo da consciência e foi influenciado

pelas técnicas fisiológicas e por preceitos filosóficos que imperavam à época, entre eles

o empirismo.

Para obter suas respostas, Wundt se utilizava de uma técnica chamada

percepção interior, que nada mais era do que a introspecção, ou seja, o exame do

próprio estado mental. Desta forma, era de interesse desta pesquisa o que os sujeitos

participantes relatavam. Se diziam que sentiam algum estímulo desta ou daquela forma,

isso era considerado dado válido para Wundt, desde que os estímulos sentidos pelo

sujeito da pesquisa fossem devidamente controlados. E, para garantir a validade de

seus resultados, criou regras rígidas para serem utilizadas em seu laboratório: o

observador deveria ser capaz de apontar o momento em que o experimento poderia ser

iniciado e estar concentrado; ter sua atenção totalmente voltada para o experimento e

este deveria necessariamente poder ser repetido várias vezes e os estímulos

envolvidos no experimento deveriam poder ser manipulados e variados de acordo com

interesse dos pesquisadores (Schultz & Schultz, 1992).

Wundt e suas pesquisas e métodos deram origem à forma organizada de se

fazer psicologia como ciência e influenciaram um de seus colaboradores: Edward

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Bradford Titchener que, a partir dos experimentos em Leipzig, mudou-se para os

Estados Unidos e desenvolveu uma abordagem chamada de estruturalismo, que assim

como Wundt, teve fundamental e indiscutível importância para a psicologia, mas suas

idéias e métodos foram abandonados com o passar do tempo. A principal crítica feita a

esta forma de se fazer psicologia pode ser definida da seguinte forma:

A mente pode observar todos os fenômenos exceto os seus próprios… O órgão

observador e o órgão observado são idênticos, e a sua ação não pode ser pura e natural. Para

observar, o nosso intelecto deve fazer uma pausa em sua atividade; contudo, o que se quer

observar é precisamente essa atividade. Se não se puder fazer essa pausa, não se pode

observar; caso se consiga fazê-la, nada há a observar. Os resultados desses métodos são

proporcionais ao seu caráter absurdo (Comte, 1978).

Baseando-se nas palavras de Comte, pode ser verificado então, que esta visão

estava essencialmente limitando-se ao homem em si e tentando dar uma lógica e

freqüência para os comportamentos e atitudes chamadas de processos mentais.

Mais algumas pesquisas foram desenvolvidas por outros cientistas de várias

áreas, incluindo William James, Charles Darwin, Francis Galton e John Dewey, que

chegaram a conclusões diferentes daquelas encontradas por Wundt e Titchener, quase

todas importantes para o desenvolvimento da psicologia, mas que, com quase

nenhuma exceção, foram deixadas de lado a medida em que novas pesquisas e

estudos eram desenvolvidos e novas respostas encontradas eram mais aceitas.

PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO

Até que em 1913 um novo movimento surge em oposição às outras abordagens

existentes. Tendo como principal nome o psicólogo John Watson, este movimento tinha

o objetivo de acabar com qualquer subjetividade, como o método da introspecção de

Wundt, para que a psicologia fosse uma ciência objetiva. Desta forma, tudo o que não

podia ser efetivamente tocado, cheirado, sentido, provado ou movido, como a idéia de

22

mente, também de Wundt, entre outros, deveria ser excluído por não produzir dados

confiáveis.

Também muito relevante para esta perspectiva é a noção do que podia ser

contado e medido. Deste modo queria-se uma ciência exata, algo que podia ser

mensurado e calculado em números e freqüências podia ser estudado. Já eventos

como sonhos eram excluídos porque não podiam ser contabilizados de forma

estatística e, portanto não eram considerados comportamentos. E tudo aquilo que não

era considerado comportamento não deveria fazer parte desta ciência exata sendo

sumariamente deixado de lado. Assim, esta nova abordagem da psicologia focou o

comportamento humano, que pode ser observado, contado e mensurado. Esta nova

visão foi chamada de ciência do comportamento, ou ainda psicologia comportamental

ou, do original em inglês, bahaviorismo (Schultz & Schultz, 1992).

O posicionamento de Comte, que serviu como crítica a abordagens anteriores,

serviu também como um dos pontos de apoio ao movimento, pois “segundo Comte, o

único conhecimento válido é o que tem natureza social e é objetivamente observável”

(Schultz & Schultz, 1992, pp. 211).

O objetivo de Watson era estudar as respostas causadas por determinados

estímulos nos indivíduos e também, conhecer e prever os estímulos quando se tinha a

resposta primeiro (Marx & Hillix, 1974, pp. 231).

Alguns outros nomes aparecem como forte influência no desenvolvimento do

behaviorismo e suas vertentes, uma vez que, dentro desta mesma escola, existem

alguns mais radicais ou metodológicos e outros que, mais moderados, aceitaram certos

conceitos além daqueles meramente estatísticos, acatados pelos mais radicais. Entre

esses mais moderados estão Burrhus F. Skinner e Albert Bandura.

Esta abordagem vê o homem como um organismo que responde a estímulos do

meio ambiente, e essa interação molda as características do indivíduo.

23

Se por um lado esta visão de homem dá mais cientificidade à psicologia,

tornando-a mais palpável e mensurável e dentro deste limite mais confiável, muitas são

as críticas contra ela. Uma delas é a de que esta visão é extremamente reducionista, já

que não leva em consideração fatos que existem na natureza humana mas não podem

ser efetivamente contados e sentidos fisicamente. Outra crítica vem de psicólogos de

abordagens mais recentes, e falam justamente desta forma de modelagem de

personalidade que igualaria o homem a robôs e marionetes manipuladas, moldadas e

controladas pelo meio em que vivem (Guimarães, 1998).

Muito se pesquisou e vários conceitos foram modificados, adaptados e

aprimorados, mas esta abordagem, com suas várias vertentes, resiste até hoje, sendo

forte ainda em várias partes do mundo e é chamada de primeira força da psicologia.

FREUD E A PSICANÁLISE: A PSICOLOGIA DO INCONSCIENTE

A abordagem chamada de segunda força da psicologia é a psicanálise. Foi

fundada pelo austríaco Sigmund Freud. A data considerada como de sua fundação é o

ano de 1895, quando Freud publicou, juntamente com o médico Joseph Breuer, o livro

“Estudos sobre a histeria”. A psicanálise surge como uma busca pela cura de certas

patologias mentais, chamadas de psicopatologias, em especial a histeria. De início,

utilizou-se da hipnose, mas acabou por abandonar este método por ser baseado na

sugestão. Passou então a desenvolver um método baseado em conversas, que com o

passar do tempo permitiria a catarse, ou seja, o reviver de certas lembranças ruins,

também chamadas de traumas. Este método evoluiu até a livre associação, onde o

cliente fala sobre o que tiver vontade e o psicanalista faz interpretações do material que

surge através desta fala. Estes pontos, que o psicanalista busca, provêm do

inconsciente de cliente. O conceito de inconsciente, como processo mental percebido,

remonta a Platão, e vários pensadores, inclusive Descartes, que chegaram a escrever

sobre o tema (Schultz & Schultz, 1992).

24

Mas foi com Freud que esta idéia realmente ganhou força. Para Freud,

inconsciente é tudo aquilo que está em nossa mente de maneira não claramente

expressa, ou seja, está guardado. Alguns destes conteúdos podem ser trazidos com

rapidez e sem nenhum esforço para o consciente, já outros seriam mais difíceis de

virem à tona, principalmente aqueles ligados a sofrimentos e tristezas, medos e

angústias. Isto se daria motivado por um outro processo descrito por Freud, os

mecanismos de defesa, que manteriam estas lembranças desagradáveis no

inconsciente. O esforço para manter estas lembranças fora do consciente e a força que

estas fazem para sair seriam as bases de algumas psicopatologias.

Este conceito foi, dentre muitos, uma das maiores colaborações de Freud para a

psicologia e muitas abordagens que surgiram depois da psicanálise também se utilizam

do conceito de inconsciente. Freud, com sua teoria, devolveu ao homem a alma, dando-

lhe o inconsciente e uma teoria na qual o indivíduo não é apenas resposta a estímulos

e possui, ao contrário, um poder maior de influência em sua própria existência.

Freud também desenvolveu outros aspectos importantes na sua teoria, como por

exemplo, a importância da sexualidade, da família durante a infância para a formação

da personalidade do indivíduo e a teoria do aparelho psíquico ou teoria tripartite: id, ego

e superego (também traduzidos como isso, eu e supereu).

Sem dúvida nenhuma, a psicanálise é uma das vertentes psicológicas mais

complexas, se não a mais de todas. Seu corpo teórico é vastíssimo e até hoje, em

várias partes do mundo, é uma das abordagens mais estudadas, discutidas e, apesar

de toda a polêmica que ainda causa, aplicada em diversas áreas e circunstâncias. É a

mais próxima da medicina, sendo uma das bases da psiquiatria.

Vocábulos que surgiram aqui, com propósito e uso bem específico, acabaram

caindo em domínio público com os mais variados significados. Entre estes termos muito

utilizados pelas pessoas em geral estão ego, depressão, inconsciente e neurose.

25

Na mesma proporção de sua importância e colaboração, aconteceram as

críticas. Estas vieram de todos os lados, inclusive de pessoas de fora da psicologia. A

primeira delas foi justamente a forma como coletava seus dados, uma vez que se

baseava no que seus clientes falavam e portanto não havia uma mensuração

considerada científica, ou seja, comprovação empírica. Também há críticas em relação

ao desenvolvimento de suas teorias, já que muitos afirmavam que Freud não era claro,

e pior, muitas vezes se contradizia. Outra, que surgiu principalmente em tempos mais

recentes, é a forma como Freud via as mulheres como seres em eterno sofrimento por

uma inveja nata do homem.

Por não ser um dos objetivos deste trabalho o autor não se aprofundará nas

críticas feitas à teoria psicanalítica, uma vez que o próprio Freud em suas “Conferências

Introdutórias” afirmou se sentir livre para mudar de opinião. Quando modificava alguma

postura, Freud era chamado de volúvel e quando permanecia com os mesmos

conceitos era taxado de teimoso.

Freud trabalhou com vários outros grandes nomes, alguns considerados

discípulos, outros dissidentes e outros ainda descendentes. Entre os que se

destacaram estão sua filha Anna Freud, Melanie Klein, Alfred Adler, Erik Erikson e Carl

Gustav Jung. Este último, de grande importância e relevância para este trabalho por

suas teorias inovadoras e por ter lidado com certos assuntos ligados a espiritualidade e

ao conhecimento religioso de maneira aberta e sem preconceitos. Muitos afirmariam

inclusive que de maneira corajosa.

JUNG E A PSICOLOGIA DA TRANSCENDÊNCIA

Carl Gustav Jung chegou a ser definido por Freud como “um filho adotivo e

herdeiro aparente do movimento psicanalítico, meu sucessor e príncipe herdeiro“

(Schultz & Schultz, 1992) e, de todos os que têm seu nome associado ao de Freud, foi

26

um dos poucos a já ter desenvolvido uma série de trabalhos reconhecidos antes de

trabalhar com o criador da psicanálise.

Depois de algumas desavenças com Freud, em 1914, Jung dá início a uma nova

forma de compreender a mente e o homem e esse viés foi chamado de psicologia

analítica.

De acordo com Freire (2002) um dos principais pontos de divergência foi a

origem da energia motivadora do comportamento, que para Freud era sexual enquanto

para Jung o aspecto sexual tinha menos importância, e esta energia poderia ser

direcionada a qualquer área.

Jung focava mais o presente e o futuro, enquanto Freud valorizava mais o

passado. Na teoria psicanalítica a personalidade é moldada por eventos na infância e

portanto as características de uma pessoa, por toda a sua vida, provêm desta fase. Já

para Jung, a infância representa um papel importante no desenvolvimento, mas as

expectativas futuras também ajudam a modelar a personalidade do indivíduo. Isto

poderia ser visto, em Freud, como uma busca pela causa, enquanto em Jung a busca é

pela finalidade.

Outra grande diferença está na relação como conceito de inconsciente. Jung deu

muito mais importância que Freud e acabou por desenvolver a teoria de que a psique,

termo do qual se utilizava para se referir a mente humana, era constituída de três

partes. A primeira era a consciência, que seria onde se encontram as lembranças, as

percepções, os conceitos que temos e fazemos de nós mesmos e do mundo ao nosso

redor. A segunda parte seria o inconsciente pessoal, que ficaria logo abaixo da psique,

e nesta parte se encontrariam todos os desejos, impulsos, lembranças vagas e outras

experiências que o individuo teve durante sua vida e que foram esquecidas ou

negadas. Este material, segundo Jung, poderia ser trazido com facilidade à

consciência. A terceira parte, chamada de inconsciente coletivo, seria a parte mais

profunda da psique. Nesta parte estariam todas as experiências de todos os seres, de

27

todos os tempos passados, inclusive, segundo alguns autores, os nossos ancestrais

hominídeos, ou mesmo animais. Estas experiências gerariam tendências de

comportamento, vivências e conceitos em muitas pessoas instintivamente, e foram

chamadas por Jung de arquétipos. Estes poderiam explicar o comportamento repetido

de inúmeros indivíduos em semelhantes circunstâncias, mas em situações e épocas

diferentes. Também explicariam as fantasias individuais e as coletivas, como os mitos e

lendas.

Segundo Byington, em seu artigo Transcendência e Totalidade (2005), dois

foram os eventos na vida de Jung que o ajudaram a se tornar um dos maiores nomes

da psicologia em todos os tempos. O primeiro foi o encontro e o trabalho desenvolvido

com Freud e o segundo, os estudos dos chamados fenômenos ocultos. Ainda assim, o

autor faz uma ressalva ao considerar que a transcendência seria a chave para avaliar a

genialidade de Jung, mas ao mesmo tempo, seria também o veneno para reduzir e

limitar sua obra ao esoterismo. Se por um lado religiosos e positivistas desqualificam o

trabalho de Jung, é inegável sua contribuição para a humanidade; seja pela criação do

conceito de arquétipo, seja pelo trabalho desenvolvido corajosamente com as religiões.

O interesse de Jung pelos chamados fenômenos ocultos, que de acordo com

vários autores se deu por alguns incidentes inexplicáveis com sua família,

principalmente durante sua infância, abriu as portas da psicologia para os fenômenos

paranormais e para questões que muitos acreditam pertencer ao reino da religião, mas

que Jung e alguns outros estudiosos, que vieram posteriormente, acreditavam ter suas

explicações na mente humana e em fatores ligados a uma dimensão diferente da

nossa, e mesmo não descartando a possibilidade de que eram incidentes

psicopatológicos, nunca deixaram de acreditar e nem de buscar explicações no divino,

no sobrenatural, se embasando em pesquisas e observações.

E mesmo que isso trouxesse descrença de parte da comunidade científica,

dentro e fora da psicologia, Jung sempre enfrentou seus detratores. E mesmo tendo

seu nome e a sua teoria ligados a uma visão pejorativamente mística, a psicologia

28

analítica é ainda hoje uma das mais fortes correntes e qualquer trabalho em psicologia

que envolva noções que passem por qualquer religião ou conceito religioso, ou ainda

pesquisas cientificas que busquem conhecimento na área da religião, mesmo que para

fazer uma separação entre religião e ciência, como este presente trabalho, acabam

tendo como fonte e embasamento suas teorias.

PSICOLOGIA HUMANISTA: A ABORDAGEM DA AUTO - ATUALIZAÇÃO

O próximo grande movimento da psicologia, cronologicamente falando, foi

chamado de terceira força e se refere a psicologia humanista. Várias são as vertentes e

os grandes nomes ligados a esta visão de homem e de mundo. Todas possuem

conceitos semelhantes e embasamento em teorias científicas e filosóficas muito

próximas.

Este movimento surgiu nos Estados Unidos nos anos 60 como uma oposição às

duas forças já existentes: o behaviorismo e a psicanálise. Seria na verdade uma

resposta às limitações impostas por estas duas abordagens: o behaviorismo tende a

não aceitar a existência da consciência, a introspecção e a dificuldade em lidar com a

idéia de psique de uma maneira que não seja através da observação do

comportamento, enquanto a psicanálise se concentra mais no que é patológico.

De acordo com Schultz & Schultz (1992) aqueles que buscavam uma nova visão;

uma nova forma de estudar a psicologia, se opunham à forma reducionista e

mecanicista e que nem todas as experiências conscientes poderiam ser reduzidas à

forma elementar ou ser explicadas como “estímulo-resposta”, ainda outros não

aceitavam a idéia da personalidade ser determinada pela biologia, por acontecimentos

do passado e por forças inconscientes. Ao contrário disso, a psicologia humanista

nasceu com os seguintes aspectos principais: a ênfase na experiência consciente, a

crença da integralidade da natureza e da conduta do ser humano, o livre arbítrio, a

29

espontaneidade, o poder de criação do indivíduo e o estudo de tudo o que fosse

relevante para a condição humana.

Ainda de acordo com os autores acima citados, surge assim, desta

inconformidade com os conceitos em vigência, a psicologia humanista. O norte

americano Abraham Maslow é considerado o pai espiritual desta vertente e muito lutou

para que esta tivesse aceitação e respeitabilidade acadêmica. Assim como ocorreu nas

outras duas forças da psicologia, os principais conceitos desta abordagem já existiam.

Maslow concentrou seus estudos em pessoas saudáveis e, a partir destes

estudos, desenvolveu a teoria de que os seres humanos têm de forma inata uma

motivação para crescer, para se desenvolver e se realizar de tal forma a atingir uma

plenitude em suas capacidades e potencialidades. Esta tendência a buscar sempre

melhorar potenciais e qualidades foi chamada por Maslow de auto-realizadora.

É também de sua autoria a idéia de uma hierarquia de necessidades que

motivam o indivíduo. Freqüentemente chamada de pirâmide de Maslow, esta é também

conhecida como a hierarquia de necessidades básicas de Maslow. Na base da

pirâmide, as necessidades fisiológicas, como por exemplo, sono, fome, sexo, abrigo e

outras necessidades corporais; logo acima estão as necessidades de segurança que

são, por exemplo, a estabilidade, a condição financeira, a ordem e a segurança e

proteção contra mal físico ou emocional; um pouco mais acima está a categoria das

necessidades sociais, que incluem afeto, aceitação, amizade e o relacionar-se com

outros indivíduos; acima desta está a categoria das necessidades de estima, que são

fatores internos de estima como o amor próprio, a autonomia e a realização e fatores

externos como o status, o reconhecimento e a atenção, e na última categoria, no topo

da pirâmide, estão as necessidades de auto-realização, que incluem o impulso de

alguém se tornar o que é capaz de tornar-se, atingindo seu potencial, o crescimento e a

auto-realização.

30

Com conceitos muito próximos aos de Maslow, Carl Ransom Rogers

desenvolveu uma teoria semelhante, mas com um ponto de partida distinto. Rogers

criou sua terapia centrada no cliente, a partir de estudos de pessoas que não eram

mentalmente saudáveis. E a força que faz com que o indivíduo sempre busque

aperfeiçoamento, sempre se mova em direção ao que é melhor para si foi chamada por

ele de tendência a auto-atualização. Rogers acreditava que “as pessoas usam sua

experiência para se definir” (Fadiman & Frager, 1986, pp. 226) ou seja, ninguém

conhece melhor e pode dar uma definição melhor a respeito de um indivíduo do que o

próprio indivíduo em questão.

Utilizando-se da fenomenologia, busca-se então conhecer o que um determinado

evento significa para a pessoa que o viveu e o relata, sem tentar enquadrar em

nenhuma categoria prévia, sem nenhum conceito já existente de quem ouve o relato.

Desta forma o que ocorre tem a validade e a importância de quem vivenciou, por mais

que outros tenham um relato e uma compreensão diferentes. A cada individuo é

atribuída a sua própria valoração e importância em relação aos acontecimentos.

Outra abordagem que tem princípios similares às duas anteriormente descritas,

entre eles o existencialismo e a fenomenologia, é a Gestalt Terapia.

Esta abordagem surge em 1946, quando seu fundador, o alemão Frederick S.

Pearls, se muda para os Estados Unidos e rompe com a psicanálise freudiana, com a

qual vinha trabalhando há muitos anos. Insatisfeito com alguns pressupostos da

psicanálise e depois de um encontro com o próprio Freud, que considerou frustrante,

Pearls começa a trabalhar e a desenvolver uma nova forma de ver o homem. Pearls

não concordava nem com a idéia de que o homem tivesse que ser estudado “em

partes”, conforme a psicanálise, dividindo em ego, superego e id e inconsciente e

consciente e nem com o que foi considerado como superficialidade do behaviorismo

que se limitava ao comportamento, sem buscar mais adiante. Muitas das idéias da

Gestalt Terapia vêm justamente da oposição a estes pontos.

31

De acordo com Fadiman & Frager (1986), os principais conceitos desta

abordagem são a visão do organismo como um todo, ou seja, embora se possa avaliar

e observar uma parte, não se pode jamais separar esta parte do todo, pois a parte só

funciona de uma ou outra forma quando no todo. Ao se tirar uma parte do todo,

perderiam-se então algumas de suas qualidades, que fora do contexto do todo não

teriam significado; a ênfase no aqui e agora, que é a importância da percepção que o

indivíduo tem no presente de si e do meio em que vive. E, assim como nas duas

abordagens descritas, a Gestalt Terapia também possui em seu corpo teórico a

explicação de uma força que motiva o indivíduo a buscar um aperfeiçoamento, a buscar

sempre o que é melhor para si e para sua evolução. Aqui nesta abordagem esta força é

chamada de auto-regulação. Este processo, assim como também nas teorias de

Maslow e Rogers, se dá pelo autoconhecimento, através de um processo que a Gestalt

Terapia chama de auto-apoio.

Além desta intenção de sempre ir adiante buscando o melhor para si, as três

abordagens, assim como outras que também seguem este viés, deram ao homem um

poder maior sobre sua vida e suas escolhas ao retirar a força motriz da motivação que

provém do meio ambiente e de acontecimentos pretéritos e, em oposição às outras

duas forças, dão ao homem a intencionalidade e vêem o indivíduo como seres em

busca de suas potencialidades.

PSICOLOGIA TRANSPESSOAL: O HOMEM BIO – PSICO – SOCIAL - CÓSMICO

Em meados da década de 1960, depois da aceitação das idéias da psicologia

humanista, principalmente de Maslow e Rogers, alguns estudiosos começaram a querer

ir além do que já estava estabelecido. Começaram a questionar até onde poderia

chegar o potencial da consciência humana. Um dos pontos de partida, que tanto

intrigava os psicólogos, foi a psiquiatria, que dava sinais de que existiria uma variedade

32

de estados de consciência surpreendentes. Na época, e de um modo geral até hoje, as

teorias da personalidade se concentravam no estado de consciência chamado normal,

ou seja, o estado de vigília, em que o indivíduo tem noção de si próprio e do ambiente

que o cerca e sabe diferenciar o seu ser de todo o resto a sua volta. Qualquer coisa que

saia disso corre o risco de se enquadrar nos parâmetros da psicopatologia. Ou seja,

qualquer sintoma ou sinal que uma pessoa apresente fora destes padrões descritos

poderá, e, dependendo do contexto, será considerado sumariamente anormal

(Guimarães, 1998).

Destes questionamentos e da busca pelo o que está além do indivíduo, e por

aquilo que é comum a todos, surge então, nos Estados Unidos, a quarta força da

psicologia: a Psicologia Transpessoal.

E foi o mesmo Maslow, que tanto fez pela psicologia humanista, que deu início a

essa nova forma de ver a psicologia. Em 1968, declarou que considerava a psicologia

humanista como uma transição para uma psicologia mais forte, transpessoal,

transumana, focando o cosmo como um todo e não mais o indivíduo isoladamente; algo

que vai muito além da condição humana, da identidade e da auto-realização. Vários

psicólogos se juntaram a Maslow nesta forma de pensar e reconheceram a importância

da dimensão espiritual da mente humana. Isto ocorreu oficialmente com a publicação

do artigo Transpersonal Psychology de Antony Sutich, nesse mesmo ano.

Muito embora não seja um dado oficial, muitos autores consideram Jung o

primeiro psicólogo transpessoal, e tantos outros ainda o mencionam como a maior

influência para o surgimento desta vertente da psicologia. Isto acontece porque nos

primórdios da psicologia como ciência acadêmica reconhecida, Jung teve a coragem de

romper com os modelos padrões impostos à época e tratar abertamente de assuntos

ligados à espiritualidade e a paranormalidade. “Jung foi, provavelmente, um marco

profundo na história da psicologia. Com ele, a psicologia passou a perceber estados

mais amplos de consciência, que estavam além do já conhecido, discutido e

pesquisado” (Teles, 1989, p. 100). De acordo com o artigo “Carl Rogers and

33

Transpersonal Psychology” de J. K. Wood (1997), o termo transpessoal foi criado por

Jung quando escrevia sobre o inconsciente coletivo, querendo se referir a algo além do

pessoal2.

Com o conceito de inconsciente coletivo, Jung já desenvolvia a noção de algo

que dizia respeito e influenciava todos os serem humanos ao mesmo tempo, ainda que

cada um de uma forma própria a sua personalidade. Assim, este enfoque transpessoal,

como sugere o nome, transcende o indivíduo como ser isolado e o vê como parte de

um todo, incluindo conceitos da antropologia, da medicina, da sociologia, da física, da

química, da biologia, da astronomia e da metafísica, entre outras. Tem uma visão do

homem como um ser bio – psico – social – cósmico. Vai adiante dos limites da pessoa,

muito além do comportamento humano, estudando as suas possibilidades psíquicas.

Na explicação de Guimarães (2005) a abordagem transpessoal estuda as

possibilidades psíquicas, sejam mentais, emocionais, intuitivas e somato-sensoriais, do

ser humano através dos diferentes estados ou graus de consciência pelos quais passa

uma pessoa.

O autor ainda exemplifica, para uma melhor compreensão, que estados de

consciência são estados que variam de acordo com a atividade e o empenho mental.

Assim, o estado de quando se dorme é diferente de quando se está acordado, estes

são diferentes de quando se está vendo televisão ou mesmo de quando se está

resolvendo um problema matemático. Segue o autor explicando que existem muitos

estados de consciência que ainda não são conhecidos, mas que cada em um,

conhecido ou não, é experimentada uma forma diferente de percepção e interpretação

da realidade. Estes estados entendidos como complementares, e não contrários.

Ainda de acordo com o citado autor, a psicologia transpessoal dá ênfase àqueles

estados de consciência chamados de superiores, espirituais ou transpessoais, em que

o sentimento de separação e egoísmo da lugar a sentimentos e identificação mais 2 “The Swiss psychiatrist Carl Jung, while writing on the collective unconscious, is said to have coined the term translated “transpersonal”. This word continues to mean something like, “beyond the personal”.”

34

amplos, cooperativos, fraternais e transpessoais para com todos os seres vivos. São

exemplos disso a consciência crística, a búdica, nirvânica, universal e ecológica. O

autor afirma que alguns grandes mestres da humanidade, em varias áreas

experimentaram picos da chamada “consciência cósmica” de tal forma que mudaram

não só suas próprias vidas, mas também a de outros. Entre estes estariam mestres

religiosos como Cristo, Buda e Francisco de Assis; científicos, como Einstein, Tesla e

Heisenberg; políticos, como Gandhi e Martin Luther King e artísticos, como Bach e

Leonardo Da Vinci.

Quando os autores mencionam estado alterado de consciência e transpessoal

estão também falando da dimensão espiritual do homem. Por isso tantos nomes

consagrados na psicologia desenvolveram pesquisas e estudos que buscam

comprovações científicas e seus adeptos fazem questão de esclarecer que, embora a

psicologia transpessoal investigue fenômenos considerados místicos, não é nem

parapsicologia e nem religião, mas a procura de respostas e comprovações para aquilo

que diz respeito à mente e ao comportamento humano e que está além do alcance dos

cinco sentidos.

35

MEDIUNIDADE

Sempre houve na história da humanidade uma crença, quase uma necessidade

de se explicar certas questões intrigantes para a maioria dos seres humanos. Questões

que buscavam responder acerca da nossa origem, nosso destino; se havia ordem e

lógica em nossa existência; o porquê de certos fatos, fossem bons ou maus, ocorrerem

na vida de uns e não de outros, sempre instigaram o homem a ir atrás de respostas,

que estavam de acordo com o pensamento de cada época. Três vertentes, já discutidas

anteriormente neste trabalho, sempre concorreram com respostas para satisfazer esta

vontade de saber da humanidade. A filosofia, a ciência e a religião buscaram, desde os

mais pretéritos tempos, e cada uma com suas metodologias, chegar a uma conclusão

definitiva. Isso nunca ocorreu, e até os dias de hoje novas teorias e hipóteses são

levantadas, mas postas em dúvida e às vezes até derrubadas a cada passo evolutivo.

Se investigarmos a existência do homem remontando à sua origem, sempre

encontraremos traços dessa busca por uma razão, uma explicação para

acontecimentos.

Esta busca sempre acabava deparando com a existência de seres constituídos

de uma matéria diferente da nossa que faz com que não os vejamos quando queremos,

mas ao contrário, quando estes querem que os vejamos. Viveriam em algum local que

não a Terra, não dividiriam as mesmas moradas que os humanos que estavam

encarnados (termo utilizado para se referir aos seres humanos que possuem corpo

físico, que pertencem a este plano físico ou a esta dimensão) mas perto o suficiente

para estarem aqui quando desejassem. No decorrer da história da humanidade, várias

foram as histórias para dar sentido a suas questões. Fossem deuses, semi-deuses,

anjos, emissários, espíritos, entidades, guias ou simplesmente seres de outras

dimensões, esta idéia sempre fez parte do imaginário, das religiões e das vivências de

todos os povos através dos tempos.

36

A MEDIUNIDADE NA HISTÓRIA DE ALGUNS POVOS

Os egípcios sempre tiveram uma forte ligação com o chamado mundo dos

mortos. Além de toda uma relação com deuses e seus emissários, havia uma grande

preocupação com a vida após morte. Embora alguns estudiosos questionem, até hoje,

sua real função, as pirâmides são exemplos da preparação para a chegada no local, em

que se acreditava iriam as pessoas depois de mortas. Uma série de rituais para a

preparação do corpo e do espírito, para a passagem para o outro mundo, eram

realizados. O culto aos mortos era um dos momentos litúrgicos mais importantes para

este povo. Eles acreditavam que tanto os deuses, quanto os espíritos dos ancestrais,

poderiam ser contatados através de estátuas. A estátua mais famosa era a de Amon,

consultada pelos próprios faraós antes de tomarem importantes decisões. Um de seus

mais poderosos deuses, Anúbis, era o guardião dos portais do mundo dos mortos e

guia destes no além.

Para os antigos gregos; que também se comunicavam com deuses através de

oráculos, sonhos e mensagens; o mundo dos mortos e de seres, que viveriam em um

mundo diferente do nosso, sempre esteve presente. Assim como os egípcios, este povo

também tinha um deus que governava o mundo dos mortos, Hades.

Os próprios hebreus e os cristãos, ao escreverem as páginas do livro sagrado

mais famoso e influente de todos os tempos - a bíblia, descrevem vários incidentes em

que não seria possível uma explicação baseada em evidências científicas mais

tradicionais como o empirismo e o positivismo. Encontros com anjos, aparições de

pessoas, mortos ressuscitados, levitações, adivinhações, precognições e luzes que

parecem surgir do nada demonstram que a bíblia é um verdadeiro catálogo de

fenômenos paranormais.

Mas, apesar da conotação religiosa e mística, além de algo fantástico que

sempre cercou o assunto, algumas pessoas cogitaram a possibilidade da continuidade

da existência do ser humano após a chamada morte física. Assim chegaríamos a mais

37

uma possibilidade de resposta para certos fenômenos: a existência de seres humanos

não materiais, que ainda não passaram pela existência aqui no planeta Terra ou que já

passaram e já morreram. Estes seres foram chamados por vários nomes nas mais

variadas épocas da História, mas hoje são mais conhecidos como espíritos.

Em muitas culturas antigas, acreditava-se que o espírito, ou alma, do homem é

eterno e continua sua jornada em uma outra dimensão.

A BUSCA PELA VERDADE

Muitos foram os cientistas que, imbuídos de curiosidade e em alguns casos da

vontade de desmascarar os chamados charlatães, depararam com evidências de que a

espiritualidade é um fato. São destacados a seguir alguns destes cientistas.

Carl Gustav Jung, que desenvolveu sua tese de mestrado denominada “Sobre os

fenômenos assim chamados ocultos”, enfocando “as mesas giratórias”.

Gabriel Delanne, engenheiro francês, que escreveu, com embasamento cientifico

“O fenômeno espírita” (1893) e “A alma é imortal” (1889) entre vários outros.

Camille Flammarion, fundador da Sociedade Astronômica da França que

escreveu vários livros sobre filosofia e ciência, entre eles “As Novas Forças

Desconhecidas” (1907) e “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos” (1911).

Para alguns autores, a história do espiritismo teve início em 1848, na cidade de

Hydesville, no Estado de Nova York, nos Estados Unidos, quando pela primeira vez se

pesquisou “oficialmente” um caso considerado paranormal. Três irmãs, Kate, Lia e

Margareth Fox teriam feito contato com o espírito de Charles B. Rosma através de

pancadas ouvidas nas paredes de casa. À época esta prova de existência de vida após

38

a morte foi aceita como verdadeira. Este caso teve grande repercussão na imprensa,

principalmente porque as irmãs se dispuseram a fazer testes em várias comissões de

análise, e todas atestaram a veracidade dos eventos. A partir disso começou-se a

buscar outros fenômenos parecidos, e esta busca acabou chegando na Europa.

O fenômeno mais popular naquela época, sem dúvida, eram as chamadas

mesas girantes, que ocorria quando um grupo de pessoas se sentava em volta de uma

mesa com as mãos sobre a mesma e repentinamente o móvel começava a se

movimentar, independentemente da vontade dos participantes. Este fenômeno chegou

a ser pesquisado nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália, Inglaterra e

principalmente na França.

Em 1855, em Paris, o professor Hyppollite Leon Denizard Rivail foi chamado a

assistir a uma destas reuniões das mesas girantes. Intrigado com o que viu, o professor

se lançou na busca pela resposta sobre o que estaria originando aqueles eventos.

Cerca de dois anos após aquela primeira reunião, ele chegou a conclusão de que a

mesa giratória era um instrumento de comunicação entre um espírito, uma pessoa já

morta, e pessoas ainda vivas. Em 18 de abril de 1857, este professor lançou um livro

chamado “O livro dos espíritos”, sob o pseudônimo de Allan Kardec, pelo qual ficou

conhecido até os dias de hoje. Este livro é considerado, até os nossos tempos, o livro

base do espiritismo, ou, da doutrina espírita, como chamou o próprio Kardec. Em

seguida vieram os livros “O livro dos médiuns” em 1861, “O evangelho segundo o

espiritismo” em 1864, “O céu e o inferno” em 1865 e “A gênese” em 1868. Estes cinco

livros são a essência de tudo aquilo em que se acredita sobre espiritismo até hoje, e

seu autor é também, até o presente momento, reverenciado como a mais importante

figura deste movimento.

De acordo com Kardec (2001, pp. 181) “todas as pessoas que sentem, em um

grau qualquer, a influência dos espíritos, por isso mesmo é médium”. Ou seja, qualquer

pessoa que tenha desenvolvido alguma habilidade de comunicação com os espíritos é

39

médium. Existem várias formas de comunicação entre os já mortos com os vivos. Estas

formas são chamadas de efeitos mediúnicos.

Os efeitos mediúnicos são normalmente divididos em dois tipos: os de efeitos

físicos e os de efeitos inteligentes. Os de efeitos físicos acontecem quando são

dirigidos a coisas materiais inanimadas. Já os de efeitos inteligentes, que são os que

interessam mais a psicologia, são aqueles que têm efeito sobre o médium e são

percebidos pelo cérebro através dos sentidos.

Os eventos chamados de mediúnicos se dividem em vários tipos, e embora as

mais variadas classificações sejam utilizadas, “a mais conhecida sistematização dos

tipos mediúnicos é, ainda, a construída por Kardec” (Zimmermann, 2002, p. 282). De

acordo com as definições desta sistematização, explicadas pelo autor acima citado,

existem duas categorias de mediunidade: a categoria de efeitos físicos, aquela em que,

através do médium, há interferência de entidades chamadas de espíritos (princípio

inteligente, imaterial, dotado de personalidade, criado por um ser superior e que está

sujeito à leis evolutivas) em matéria inanimada, como por exemplo a movimentação de

objetos, batidas, sons e ruídos; e a categoria dos efeitos intelectuais, onde os espíritos,

através dos médiuns (pessoas encarnadas) se comunicam por meios inteligentes e

intencionais como palavras, idéias e sinais. As mais conhecidas formas da segunda

categoria são a psicografia, em que espíritos de pessoas já mortas se utilizariam do

corpo material de médiuns para escrever desde curtas mensagens até livros inteiros; a

psicofonia, que ocorre quando um espírito fala através do médium e este fenômeno é

popularmente chamado de incorporação, nome dado pelo fato de o médium

aparentemente deixar por algum tempo sua própria personalidade de lado para que a

da pessoa morta tome conta e a vidência, que é a capacidade do médium de enxergar

espíritos. Esta forma também é a mais confundida com patologias.

Embora a maioria dos médiuns tenha uma ou outra habilidade mais

desenvolvida, ele pode ter várias outras em diferentes níveis de intensidade. Como

afirmou Kardec: “Concebe-se que deve ser bastante raro que a faculdade de um

40

médium seja rigorosamente circunscrita a um só gênero; o mesmo médium pode, sem

dúvida, ter várias aptidões, mas há sempre uma que domina e é a que deve se

interessar em cultivar, se for útil.” (Kardec, 2001, p. 220).

Outro ponto de grande relevância é que a mediunidade pode ainda ser

considerada como positiva ou negativa. É considerada positiva quando é utilizada para

o bem comum e é considerada negativa quando é usada por forças negativas, para o

mal ou de forma egoísta, para vantagens do próprio médium.

De uma certa forma esta explicação também serve para a compreensão destes

eventos pela psicologia, pois a mediunidade positiva tem utilidade; possui papel

funcional na vida do indivíduo; está inserida de forma saudável, ou seja, é uma faceta

de uma pessoa considerada mentalmente saudável. Já a negativa, poderia facilmente

ser associada a psicopatologias. Tem como conseqüência a dificuldade de adaptação

social e uma vida considerada fora do normal, sem contar que a mediunidade, desta

forma, pode ser também motivo de sofrimento.

41

PSICOPATOLOGIA

Desde os mais remotos tempos na história do homem, houve a necessidade de

explicar tudo aquilo que podemos ver, mas que não possui uma razão óbvia e aparente.

Os gregos, romanos e egípcios, entre outros, criaram todo um sistema de divindades

para justificar fenômenos da natureza. Cientistas sempre criaram teorias para explicar

acontecimentos, desde os mais fantásticos, como os da origem do universo, até os

mais corriqueiros, aqueles com os quais nos deparamos no cotidiano.

Uma questão que sempre chamou muito a atenção e provocou a curiosidade de

cientistas e estudiosos de várias áreas foi a do comportamento humano.

A época e o local sempre tiveram influência naquilo que era considerado normal

por uma sociedade. Os comportamentos dos indivíduos inseridos nestas sociedades

sempre foram regulados por estes consensos, ainda que sempre houvesse quem se

rebelasse contra o que estivesse estabelecido. No decorrer da história vários fatos que

eram considerados anormais em um determinado local ou tempo, acabaram por ser

aceitos num momento seguinte.

Dentre todos os comportamentos que poderiam ser levantados, ficaremos aqui

com aqueles que se limitam ao interesse da psicologia.

Existe uma área nas ciências da saúde mental que trata justamente de

comportamentos considerados anormais. Esta área, a psicopatologia, busca a

explicação destes comportamentos em possíveis doenças e no mau funcionamento de

estruturas psíquicas e até mesmo tenta traçar correlação entre a conduta não usual e

eventos de ordem fisiológica.

42

HISTÓRICO

Se hoje a psicopatologia busca se embasar em pesquisas e dados comprovados,

não foi sempre assim.

De acordo com Holmes (1997), a busca por respostas sobre o comportamento

chamado anormal vem desde os tempos bíblicos. Segundo o autor, evidências em

papiros, monumentos e antigos livros da bíblia indicam que hebreus, egípcios e árabes,

entre outros, acreditavam que indivíduos que agiam de forma anormal o faziam por

influência de forças sobrenaturais, como por exemplo demônios e espíritos do mal.

Nesta época o tratamento para tal problema eram rituais, encantamentos e preces,

embora em alguns casos se tenha o conhecimento de que se utilizava punição física,

como apedrejamento.

Ainda de acordo com Holmes, Hipócrates, o chamado pai da medicina,

desenvolveu uma teoria na qual o cérebro seria o órgão responsável pelo

comportamento e, por conseqüência, pelos comportamentos anormais isolados ou por

aqueles que eram muito freqüentes em um mesmo indivíduo, num conjunto chamado

de transtorno mental. Esta foi a primeira versão de uma perspectiva fisiológica que

explicasse tais eventos. O tratamento aqui era o uso e controle de certas substâncias,

dietas e tratamento sobre o comportamento. Os indivíduos atingidos por transtornos

eram considerados e tratados como doentes.

Na idade média, por causa da religião ter se tornado uma força muito poderosa,

seus conceitos acabaram prevalecendo em todas as áreas do conhecimento, inclusive

na saúde. As idéias de Hipócrates e seus seguidores é deixada de lado e a vida é vista

como uma constante luta entre o bem e o mal. As forças do mal, comandadas pelo

“demônio”, afligiam certos indivíduos que, segundo estas idéias, tinham por

conseqüência o comportamento anormal. Como na antiguidade então, o sobrenatural

era o responsável por transtornos mentais. A grande diferença era de que nesta época

43

os exorcismos eram realizados de forma brutal e violenta. Apedrejamentos e torturas

das mais cruéis eram realizados pelos membros da igreja, que chegaram a queimar

vivas pessoas que eram consideradas possuídas. Aqui os doentes mentais eram vistos

como uma ameaça à sociedade e suas mortes uma forma de proteger os chamados

“sãos”.

A primeira entidade especializada em cuidar de doentes mentais que se tem

notícia foi o hospital Saint Mary of Bethlehem, em Londres, em 1547. Ainda assim,

como todos os que surgiram à época, era mais uma prisão do que um hospital

propriamente. Os internos eram meramente trancafiados, sem maiores cuidados, e até

ingressos eram vendidos para que o público visse os doentes como uma atração.

Em 1792, em Paris, Philippe Pinel, com a idéia de tratar os doentes de seu

hospital, o La Bicêtre, como pacientes, e não como aberrações, mandou que todos

fossem desacorrentados e colocados em alojamentos mais humanos. Mais ou menos

na mesma época, na Inglaterra, William Tuke e os Quakers criaram um local em

propriedade rural onde indivíduos com transtornos mentais podiam usufruir dos poderes

terapêuticos, assim considerados por este grupo, de repouso, ar fresco e exposição à

natureza. Em 1783, Benjamin Rush, o pai da psiquiatria norte-americana, introduz

tratamento humanitário no Pennsylvania Hospital.

A noção de que os transtornos mentais tinham causas psicológicas surge na

Europa no século XIX. Nomes como o de Franz Anton Mesmer, surge nesta época

como estudioso do comportamento anormal. Jean-Martin Charcot, trabalhando no

mesmo hospital em que um século antes Pinel mandou que os pacientes fossem

desacorrentados, buscava respostas para as causas de um transtorno chamado

histeria, em que não havia nenhum indício de causa orgânica. Ainda assim, entre os

sintomas podiam ser encontrados cegueira, paralisia, dor e convulsões. Charcot

acreditava que havia uma ligação entre a histeria e a hipnose, pois pessoas atingidas

por aquele transtorno eram facilmente hipnotizadas e sintomas, usualmente, eliminados

e novos podiam também ser induzidos. De início Charcot acreditava que isso era

44

causado por fraqueza neurológica, ou seja física, mas depois que testes com pessoas

normais apresentaram resultados iguais, ou seja, também podiam ser hipnotizadas e ter

sintomas induzidos, passou a acreditar que na verdade eram efeito de sugestão, e

portanto tinham causa psicológica. Charcot foi uma das maiores influências no trabalho

de Freud.

Em torno do mesmo período em que Charcot fazia estes experimentos, o médico

vienense Josef Breuer tratou uma mulher que apresentava uma série de sintomas de

histeria. Breuer se utilizou da hipnose para tratar o problema, que ficou conhecido como

o caso de Anna O. Freud se juntou a Breuer para resolver este caso e a partir daí

começou a usar a hipnose para fazer suas investigações.

Muitos outros profissionais de várias outras áreas, inclusive da psicologia, como

os psicanalistas, os behavioristas e os transpessoais, pesquisaram as causas de

comportamentos considerados anormais, de transtornos mentais e de quadros

considerados patológicos e muitas foram as colaborações.

CONCEITOS DAS ESTRUTURAS DE PERSONALIDADE

De acordo com os conceitos da psicanálise, que são os que mais interessam a

este trabalho, por melhor esclarecerem certas questões, existem três estruturas de

personalidade: a neurose, a perversão e a psicose.

NEUROSE

A neurose se apresenta como um conjunto de sintomas que, embora sejam

desprazerosos e até mesmo dolorosos, podem ser considerados benignos por não

45

impedirem que o indivíduo viva em sociedade. Neste caso não há uma quebra da

realidade e a pessoa atingida, mesmo que negue, tem consciência de seus sintomas,

mas não consegue modificá-los. Para Freud, são causados por conflitos internos e na

maioria das vezes inconscientes. Para Jung a neurose é um mau ajustamento

decorrente do conflito entre o que o indivíduo potencialmente é e a vida que está tendo.

Os sintomas seriam uma tentativa inconsciente de cura, como se o inconsciente

chamasse a atenção da pessoa para o conflito.

São exemplos de neuroses: os transtornos fóbico-ansiosos, que se caracterizam

quando há ocorrência de um medo anormal, desproporcional e persistente de um objeto

ou situação em específico, como por exemplo a claustrofobia, que é o medo de lugares

fechados; o transtorno ansioso, em que a ansiedade toma conta do indivíduo, podendo

causar sintomas cardiovasculares, sudorese, opressão no peito e vômito entre muitos

outros. Neste caso a ansiedade compromete o funcionamento do indivíduo,

perturbando a atenção, a memória, a concentração e em casos mais graves, a

percepção da realidade.

Os transtornos histriônicos ou histéricos são aqueles em que há ocorrência de

teatralidade e grande sugestionabilidade, necessidade de constante atenção e, muitas

vezes quase de forma inconsciente, manipulação, através do emocional, das pessoas

com quem convive. Algumas pessoas atingidas por este transtorno podem desmaiar,

ficar paralisadas, sem fala, cegas, trêmulas. Existe uma grande variedade de sub-

divisões deste tipo de transtorno neurótico.

Para Davison & Neale (2003), os transtornos obsessivos-compulsivos têm como

principal sintoma a incapacidade do indivíduo de controlar manias, que podem surgir na

forma de comportamentos, rituais que são sempre repetidos e pensamentos intrusivos,

desagradáveis e muitas vezes absurdos, chamados também de obsessões, por serem

recorrentes e incontroláveis. É como se a mente do indivíduo fosse invadida por

pensamentos persistentes e incontroláveis, que o fazem sentir-se obrigado a repetir

incansavelmente certos atos. Por mais que o indivíduo tenha consciência destes atos,

46

não consegue deixar de praticá-los causando angústia, além dos próprios rituais que

podem interferir em sua vida.

PERVERSÃO

A perversão é uma estrutura vasta e nela se incluem aqueles indivíduos que

utilizam substâncias químicas com freqüência e aqueles que são chamados adictos.

Entre estas substâncias se incluem o álcool, a cocaína, as anfetaminas e, com alguma

controvérsia, o cigarro. Estão aqui também, nesta estrutura de personalidade os

parafílicos, que são aqueles que possuem atração sexual por objetos incomuns ou

atividades sexuais que não são comuns na natureza.

Como descrevem Davison & Neale (2003), nesta estrutura está também a

psicopatia. Esta patologia se caracteriza pelo encantamento que o perverso gera nos

outros, ou seja, costuma ser sedutor e através desse encanto natural aparece a

manipulação, pois usa os outros a sua volta para conseguir o que deseja sem nenhum

escrúpulo. Outras características são: mentiras sistemáticas, o perverso se utiliza

destas como uma ferramenta imprescindível à sua sedução, para escapar de situações

desagradáveis e qualquer outra situação em que ache necessário e o faz sem nenhum

sentimento de culpa ou remorso, ou preocupação com a pessoa para quem está

mentindo; comportamento fantasioso, por se considerar o centro merecedor das

atenções, prefere agir, incluindo aí as mentiras, de forma a criar uma situação em que

seja o melhor, o mais rico, o mais poderoso e assim por diante; ausência de

sentimentos afetuosos, há um desapego dos sentimentos, não há manifestação de

sensibilidade e se mostra indiferente aos sentimentos alheios, não demonstra nem

importância por laços familiares e geralmente não consegue compreender os

sentimentos alheios mas, por ter consciência das circunstâncias e como forma de

manipulação, pode em vários momentos simular, se assim for de sua conveniência. São

pessoas normalmente frias, do ponto de vista afetivo.

47

Muitos especialistas acreditam que esta característica poderia ser observada

desde a infância; amoralidade, por não se importarem com os sentimentos dos outros,

acabam não demonstrando nenhum valor, juízo, consciência moral e noção de ética. O

perverso também age com impulsividade, pela ausência de valores morais e de

sentimentos pelos outros, é impulsionado a cometer atos cruéis, brutais, podendo em

casos mais extremos chegar a cometer crimes. Esta impulsividade pode ser constatada

nas respostas apresentadas pelos pacientes, em que demonstram baixíssima tolerância

a frustrações, agindo de forma exagerada diante de situações desimportantes. Por

várias destas características, desde muito cedo, há problemas na adaptação social,

uma vez que o indivíduo tende fortemente ao egocentrismo e ao egoísmo, além das

demonstrações de insensibilidade, incompreensão e frieza.

PSICOSE

A terceira e última estrutura é também a mais importante para este trabalho. A

psicose se caracteriza por alterações profundas das atividades mentais, como por

exemplo a percepção, a memória, o pensamento e os sentimentos. Nesta estrutura

encontraremos as ilusões, alucinações e delírios. Aqui, entre outros, se enquadram o

transtorno bipolar (antiga psicose maníaco-depressiva), o transtorno delirante

(antigamente chamado de paranóia) e a esquizofrenia com todos os seus tipos.

A esquizofrenia é o transtorno que mais interessa a este trabalho, por ter em seu

quadro de sintomas o embasamento de alguns para a tentativa de desacreditar

pessoas que se descrevem com determinadas características.

Para o CID-10, conforme descrito por Dalgalarrondo (2000) os sintomas são:

alteração das funções mais básicas que dão a pessoa unicidade, senso de

individualidade e de direção de si mesmo; eco, inserção, irradiação ou roubo do

pensamento; delírios de influência, controle ou passividade; vozes que comentam a

48

ação; delírios persistentes culturalmente inapropriados; alucinações persistentes de

qualquer modalidade, sem claro conteúdo afetivo não catatímicas; interceptações ou

bloqueios do pensamento; comportamento catatônico, com flexibilidade cerácea,

negativismo, mutismo, etc; sintomas negativos, empobrecimento afetivo,

autonegligência, diminuição da fluência verbal; alteração significativa na qualidade

global do comportamento pessoal, perda de interesse, retração social. Os sintomas

devem estar presentes por pelo menos seis meses para que seja possível o

diagnóstico.

Ainda de acordo com a descrição de Dalgalarrondo, para o DSM-IV é necessária

a presença de dois ou mais dos seguintes sintomas por um período de pelo menos um

mês: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento amplamente

desorganizado ou catatônico, sintomas negativos (embotamento afetivo, alogia,

avolição) e disfunções sociais no trabalho e nos estudos, denotando perdas de

habilidades interpessoais produtivas.

Estes são os nomes específicos que descrevem aqueles quadros em que

pessoas relatam “ouvir vozes, pensar que são controladas por outras pessoas, sentir

insetos caminhando por passagens nos seus corpos, acreditar que outros estão

conspirando contra elas ou expressar-se usando linguagem sem sentido” (Holmes,

1997).

Em geral, é este transtorno que as pessoas comumente se referem quando

chamam alguém de “louco”. Qualquer pessoa que tenha um comportamento diferente,

desviante, que fale de coisas muito incomuns ou que deponha ter visões é rápida e

indubitavelmente posta nesta classificação.

49

NORMAL X PATOLÓGICO

Usualmente, profissionais responsáveis só consideram anormal o que for

incontestavelmente fora do padrão e que tire a funcionalidade do indivíduo. Sabemos

que na realidade as coisas não acontecem de tal forma e muitas vezes pessoas, que

apresentam um ou outro sintoma que pode estar ligado ao quadro sintomático de algum

transtorno mental, são de fato rotuladas como tal. Portanto a responsabilidade e o

senso de coerência devem ser extremos ao se diagnosticar alguém.

Naturalmente, em se falando de comportamentos anormais, desviantes,

transtornos mentais, patologias que atingem os pensamentos e o comportamento, é

fundamental que se discuta também quais são os parâmetros para se chegar a uma

definição do que é normal e ao que não é.

O limite entre o normal e o patológico por vezes pode ser claro, mas na maioria

das vezes é muito tênue. “Há muitos casos limítrofes nos quais a delimitação entre

comportamentos e formas de sentir normais e patológicas é bastante difícil”

(Dalgalarrondo, 2000).

O próprio Dalgalarrondo (2000) sugere nove formas de se fazer esta

diferenciação. A primeira é a normalidade como ausência de doença, ou seja, se a

pessoa não apresenta sintomas, então é sã.

A segunda é a normalidade ideal ou, utilizando o termo usado pelo próprio autor

para melhor definir esta categoria, utopia, pois o ideal de normal aqui é constituído de

valores socioculturais. O indivíduo normal é aquele que se adapta bem as regras

impostas pela sociedade na qual esteja inserido.

A terceira é a normalidade estatística, ou seja, é normal aquilo que acontece com

grande freqüência e com um grande número de pessoas. Aquelas pessoas que

50

apresentam algum comportamento fora da média, estatisticamente falando, seriam

anormais ou doentes.

A quarta forma é a normalidade como bem-estar, aquela que de acordo com a

Organização Mundial de Saúde não seria apenas a ausência de doença, mas sim o

total bem estar físico, mental e social do indivíduo.

A quinta forma, a normalidade funcional, baseia-se naquilo que é funcional,

assim, o doente ou anormal é aquele que apresenta comportamento disfuncional

provocando sofrimento para si e para as pessoas com quem tem convivência.

A sexta forma é a normalidade como processo que considera o desenvolvimento

psicossocial, das desestruturações e reestruturações ao longo do tempo.

A sétima forma é a normalidade subjetiva que dá ao próprio indivíduo a opinião

mais importante a respeito de sua sanidade. O risco desta forma, em se tratando de

saúde mental, é que muitas vezes o indivíduo se acha são, mas tem algum tipo de

transtorno, como por exemplo a mania. Ou em casos mais graves, como tem

esquizofrenia e não possui a capacidade mental para reconhecer o que realmente está

lhe afligindo.

A oitava forma que é a normalidade como liberdade está ligada a conceitos

existencialistas e fenomenológicos, e se refere à liberdade de transitar pelo mundo,

sendo capaz de fazer suas próprias escolhas.

A nona forma é a normalidade operacional e é talvez a mais arbitrária de todas,

pois se predetermina o que é normal e o que é patológico e trabalha-se com estes

conceitos, acatando suas conseqüências práticas.

De todas estas, a que parece de maior valia em certos casos polêmicos é sem

dúvida a que confere se há funcionalidade no comportamento do indivíduo. Se ele é

51

capaz de levar uma vida que não ponha em risco a sua segurança ou a de pessoas a

sua volta; se possui entrosamento social positivo, ainda que diferente para os padrões

estabelecidos pela sociedade em que está inserido, e não apresenta uma carga de

sofrimento e aflição, relatados pelo próprio indivíduo, além do que possa suportar,

então deve-se realmente encarar este indivíduo como sendo normal. Mesmo ferindo

valores que vão contra idéias arraigadas, suas escolhas devem ser respeitadas.

Há também que se tomar muito cuidado com os dois instrumentos utilizados para

a classificação dos sintomas e o diagnóstico: o DSM-IV e o CID-10. De fato são

manuais de grande importância para profissionais da saúde em todo o mundo, mas

devem sempre ser utilizados de forma cautelosa. Considerando-se que cada indivíduo

é único, não pode haver generalização na hora de se fazer um diagnóstico. Os

sintomas e as circunstâncias em que se apresentam devem ser examinados

detalhadamente. De grande importância é também, que os profissionais de saúde que

se utilizem destes instrumentos sejam treinados. O uso por pessoas não capacitadas

pode acarretar em erros que podem causar um mal ainda pior à pessoa a ser

diagnosticada.

52

VISÕES DA MEDIUNIDADE

A mediunidade sempre fez parte da história da humanidade, seja com este ou

qualquer outro nome que se refira ao contato de pessoas vivas com entidades de

outras dimensões, inclusive as descritas como pessoas já mortas. São encontradas

também descrições de contatos, sejam estes visuais, auditivos, intuitivos, através de

sonhos, premonições, visões, etc. Os seres com os quais as mais variadas crenças

mantêm contato são chamados de fantasmas, espíritos, deuses, elementais e

aparições entre outros; todos denotando a existência, ou ao menos a crença na

existência de entes de alguma forma diferentes em relação à sua constituição e local de

habitação, uma vez que não dividem este mundo material com os vivos.

VISÃO DA RELIGIÃO

É virtualmente impossível falar de mediunidade, ainda nos dias de hoje, e não

relacioná-la à religião. Várias são as religiões que possuem algum tipo de mediunidade

em seus conceitos.

Evidentemente, a religião que mais se liga à mediunidade, até por tê-la como

dogma, é o espiritismo. Mas dentro desta denominação temos várias outras religiões. A

mais tradicional, a kardecista, vem dos princípios codificados por Allan Kardec em

vários de seus livros como o “Livro dos espíritos”, o “livro dos médiuns” e o “evangelho

segundo o espiritismo”, entre outros.

Outras incluem religiões originadas na África e disseminadas pelo mundo afora,

à época dos escravos que as seguiam. O candomblé é conhecido pelos orixás e por

suas festas famosas em todo o Brasil, como por exemplo a festa de Iemanjá, que

ocorre no dia dois de fevereiro. É a religião africana, ou afro-brasileira, mais conhecida.

53

Outras religiões desta vertente são o batuque, o Xangô do Recife e o Xambá. Todas

são muito semelhantes e se diferenciam basicamente pelo país africano de origem dos

escravos que as cultuavam. Todos acreditam plenamente na vida após a morte e no

contato de espíritos, através de todas as possibilidades mediúnicas como a visão, a

audição e a incorporação. Nestas religiões o contato pode ser realizado tanto por

espíritos de pessoas já mortas quanto por aqueles que estariam num nível mais

superior, e sem necessidade de terem passado pela Terra. A umbanda, que alguns

ligam aos espíritos que praticam o mal, mas que os praticantes negam ocorrer, é

considerada quase uma adaptação brasileira ao candomblé por misturar em suas

explicações, conceitos de religiões africanas, indígenas e cristãs.

Existem ainda outras religiões que não se enquadram nos parâmetros das afro-

brasileiras, principalmente por não terem influência ou culto a divindades africanas,

como por exemplo os orixás. As principais são as de origem indígena, como o Catimbó,

Jurema (ou Culto à Jurema) e o Tambor de Minas. Por todo o Brasil, e em especial na

região amazônica, ainda é freqüente também depararmos com a pajelança que,

embora não seja uma religião propriamente dita, envolve conceitos que se enquadram

naqueles considerados espíritas e mediúnicos, como a vidência e as incorporações. O

xamanismo se aproxima muito do conceito de pajelança e também acredita no contato

de espíritos com seres humanos vivos.

Há ainda algumas religiões e seitas que usando outros nomes também possuem

eventos que podem claramente ser identificados. Neste caso estão por exemplo o

Santo Daime e a União do Vegetal, que explicam os eventos ocorridos pela ingestão do

chá feito de uma substância chamada ayahuasca como expansão da consciência. Este

termo é muito usado por vários autores para definir estados transpessoais e

mediúnicos.

E não há como negar que o Catolicismo, a religião com o maior número de fiéis

do mundo, tem em suas entranhas conceitos que se assemelham muito aos dos

espíritas e da mediunidade. Além de tantos eventos descritos na bíblia, os católicos

54

acreditam que os santos, que são pessoas já falecidas, são capazes de escutar e

atender seus apelos. Isso sem contar os anjos, que seriam seres mais elevados,

imateriais, mas que poderiam ser vistos, ouvidos e sentidos quando quisessem.

A religião evangélica é a que veementemente mais se opõe ao espiritismo e

qualquer um de seus conceitos, fala em possessão, em pessoas tomadas pelo

demônio. Para o espiritismo isso seria uma incorporação feita provavelmente por um

espírito que quer fazer o mal e age contra a vontade da pessoa que o incorpora.

As religiões orientais como o hinduismo, o budismo, o taoísmo e o xintoísmo

possuem também conceitos, com outros nomes e até com outras finalidades, mas que

podem ser verificados como comunicação entre vivos e mortos e reencarnação. Este

último conceito é um dos principais pontos do budismo, que também prega a

meditação, a contemplação e que é descrito pela psicóloga Célia Moraes (1995) como

sendo também uma forma de se atingir estados transpessoais ou estados alterados de

consciência.

Tudo o que foi descrito nos parágrafos anteriores se refere à religião e assim

sendo está profundamente ligado à fé, a crenças em coisas pela simples convicção de

que algo é verdade. Estudos científicos do mundo da religião são comumente de

grande interesse, mas sempre esbarram no fato de que a pessoa que acredita, acredita

pura e simplesmente, sem ter necessariamente tido algum tipo de prova de aquilo em

que crê ser fato. O que se deve questionar em alguns casos, e o que se espera com

este trabalho, é como separar conceitos que são caros às religiões, sempre com muito

respeito, daqueles que podem e devem ser estudados por outras formas de

conhecimento. Muitas são as explicações e as razões dadas para tais fenômenos, que

se encontram abertamente nas bases das religiões espíritas, e como conceitos mais

acobertados em outras religiões por outras formas de conhecimento.

Para o professor do programa de pós-graduação de Ciências da Religião da

PUC/SP, Frank Usarski (2002), a maioria dos cientistas fazem pesquisas que se limitam

55

ao uso dos cinco sentidos, não trabalhando com conceitos metafísicos e mesmo que

não neguem a existência de outras dimensões do ser, sua posição metodológica se

posiciona contra aquilo que não pode ser verificado. Para eles é irrelevante o

transcendente.

VISÃO DO SENSO COMUM

Para o chamado conhecimento do senso comum, as explicações correntes não

são necessariamente embasadas e validadas por conceitos que as torne críveis e a

mediunidade é ligada ao inexplicável, místico e misterioso e a algo que deve ser

temido. Ocorre que pouquíssimas vezes acontece do conhecimento transmitido pelo

senso comum ser validado antes de transmitido.

Eventos que ocorreram na história da humanidade podem estar ligados também

a conceitos de bruxaria, magia negra e, para aqueles mais céticos, a doenças e ainda a

pessoas que mentem deslavadamente para chamar a atenção. Como em várias outros

pontos de estudo e conhecimento, aquilo que as pessoas não conhecem muito bem

acaba sendo relegado ao mundo do fantástico, do inacreditável e neste caso também

aos limites da religião, ainda que muitas vezes de forma zombeteira. Muitos usam de

escárnio para com a mediunidade e desta forma relegam ela e as religiões, que de

alguma forma possuem algo ao menos semelhante em seu escopo teórico e filosófico,

aos domínios do charlatanismo e da má fé.

Poderíamos dizer que o senso comum não serve para embasar conceitos, ainda

que em alguns momentos pudéssemos nos aproveitar de certas crendices, justamente

pelo que o senso comum caracteriza. São idéias correntes que não sofreram tentativas

de explicações concretas e convincentes.

56

VISÃO DA FILOSOFIA E DA CIÊNCIA

EMPIRISMO

As vertentes científicas e filosóficas com maior influência e credibilidade no meio

acadêmico tendem a ir contra a idéia da mediunidade. O empirismo se posiciona contra

porque um dos seus preceitos básicos, aquele em que afirma que o conhecimento deve

necessariamente ser adquirido através de um dos cinco sentidos, limita o estudo do ser

humano a apenas estes sentidos. Embora os cinco sentidos sejam utilizados na

descrição de eventos mediúnicos, o fato de que, na maioria dos casos, apenas uma

pessoa vê, ouve ou de alguma outra forma sente a presença de espíritos, faz com que

estes dados não sejam considerados de grande relevância. Questiona-se inclusive a

veracidade de depoimentos mediúnicos.

POSITIVISMO

No caso do positivismo, em relação à não validação da mediunidade, há a

questão das comprovações determinadas como ponto essencial por esta vertente. Além

de exigir a obtenção do conhecimento através dos cinco sentidos, assim como o

empirismo, também exige o desenvolvimento lógico do conhecimento adquirido. Ao

estabelecer que é indispensável se ater aos fatos concretos, elimina a possibilidade de

existência de uma forma de ciência que trate de algo que, além disso, atinge o que

alguns descrevem como metafísica. Pelas formas mais tradicionais de se fazer ciência,

como o positivismo, não é mesmo possível que se chegue aos limites da mediunidade

por ela estar além dos cinco sentidos. Além disso para se entender a mediunidade e a

espiritualidade, e necessária uma lógica que está fora daquela utilizada e exigida pelo

positivismo.

57

FENOMENOLOGIA

Já a fenomenologia traz toda uma nova dimensão à questão. Na sua interseção

com a psicologia, ela é de grande importância por tentar enxergar os eventos como eles

realmente são e, sejam eles de cunho religioso ou não, o que significam para aquele

indivíduo que os vivencia. Para a psicologia, sob influência da fenomenologia, portanto

“só se deve aceitar o que se dá nos limites em que se dá, ou seja, examinar os fatos, as

questões, do modo como se apresentam, sem preconceitos” (Holanda, 2004, p. 49). Ou

seja, para as vertentes da psicologia que aceitam os ideais fenomenológicos, o

importante é o significado que aqueles eventos possuem para o cliente e jamais, em

relação a mediunidade, se é algo ligado a uma religião, seita ou patologia.

VISÃO DA PSICOLOGIA

Cada abordagem psicológica se baseia em pontos teóricos muito diferentes, que

portanto se posicionam de forma amplamente diferente em relação a cada questão de

que tratam. Isso não difere quando o assunto é mediunidade.

As duas primeiras forças da psicologia não aceitavam a mediunidade como algo

real. O behaviorismo desqualifica a mediunidade como objeto a ser estudado e para a

psicanálise pode ser um instrumento para a patologização do indivíduo.

A PRIMEIRA FORÇA: O BEHAVIORISMO

O behaviorismo é sem dúvida a mais materialista das abordagens. Alguns de

seus conceitos de base se colocam diretamente contra idéias que possam explicar a

58

mediunidade. O positivismo não aceita qualquer tentativa de se buscar respostas que

se encontram além do que é observável e da elaboração de leis empíricas. Esta

abordagem também se utiliza muito do pragmatismo, corrente filosófica “cuja tese

fundamental é que a verdade de uma doutrina consiste no fato de que ela seja útil e

propicie alguma espécie de êxito ou satisfação” (Ferreira, 1999, p. 1621). Então, para

os behavioristas não há utilidade em se pesquisar algo que não se pode utilizar, pois

para aqueles seguidores desta visão “o pensamento é um resultado e um produto

essencialmente derivado da atividade das células do cérebro e do sistema nervoso

corporal” (Pessoa, 2003, p. 23). Desta forma, entende-se porque os behavioristas

negam a subjetividade e a existência de estados mentais, até porque como a mente

não é algo que pode ser observado de forma concreta é sumariamente negada. Ainda

de acordo com o autor acima citado, para alguns behavioristas o pensamento é apenas

uma fala subvocal e para outros ainda, um sistema de sinais. O fato é que, para esta

abordagem, nada ou quase nada foi explicado sobre intenções, propósitos e

criatividade. A única concessão feita por aqueles menos extremistas, numa facção

surgida com Skinner, foi não negar, mas também não aceitar discutir sobre eventos

internos. Skinner não os negava, mas como não poderiam ser observados não eram de

interesse da psicologia. E por mais que a explicação de Skinner não fosse contrária a

existência de mente, subjetividade e estados internos, e nem mesmo do espírito, estes

eram totalmente desimportantes, afinal não explicavam o comportamento, que só

poderia ser entendido pela interação do indivíduo com os ambientes físicos e sociais.

A SEGUNDA FORÇA: A PSICANÁLISE

Para a segunda força da psicologia, num primeiro momento a mediunidade pode

ser diagnosticada como esquizofrenia. Freud até chegou perto de assuntos que podem

ser considerados místicos para alguns, ou com forte explicação espiritualista para

outros. Mas Freud inseriu idéias religiosas em sua teoria de tal forma que as fez parecer

um mecanismo do psiquismo humano. “Ele considerava a religião, de uma forma geral,

59

como resultado da transformação das necessidades infantis pela proteção do pai e da

mãe, nas idéias de um Deus todo poderoso e justo e de uma Natureza bondosa”

(Moraes, 1995, p. 12). Mas não há como negar que Freud teve um papel de indiscutível

importância na aceitação da mediunidade pela psicologia. Foi ele quem introduziu a

noção de inconsciente. Freud nunca estudou a fundo a mediunidade, mas foi sem

dúvida quem abriu caminho para que a psicologia voltasse a ser o que era em sua

origem: o estudo da alma. Em 1922 chegou a escrever o texto “Uma neurose

demoníaca do século XVII” em que fala seu ponto de vista a respeito do assunto:

Diversos autores, e dentre eles Charcot é o principal, identificaram, como

sabemos, manifestações de histeria nos retratos de possessão e êxtase (...). Os estados de

possessão correspondem às nossas neuroses, para cuja explicação mais uma vez recorremos

aos poderes psíquicos. Aos nossos olhos, os demônios são desejos maus e repreensíveis,

derivados de impulsos instintuais que foram repudiados e reprimidos. Nós simplesmente

eliminamos a projeção dessas entidades mentais para o mundo externo, projeção esta que a

Idade Média fazia; em vez disso, encaramo-las como tendo surgido na vida interna do paciente,

onde têm sua morada.(introdução)

A VISÃO DE JUNG

Já para Carl Gustav Jung, que muitos consideram o principal responsável pela

introdução de idéias espíritas na psicologia como não sendo patologias, a mediunidade

era algo aceitável como real. Jung estudou vários fenômenos e, embora não tivesse

descartado totalmente a possibilidade de psicopatologias, admitia a possibilidade da

mediunidade ser uma manifestação do inconsciente e de que eram de fato autênticos

os contatos com espíritos de pessoas já falecidas. Jung demonstra isso de forma clara

nesta declaração, como aparece em artigo de 2004 de Almeida & Neto, feita após uma

conversa com o professor J. H. Hyslop, cético que buscava derrubar qualquer

possibilidade de existência do espírito:

60

Ele (Hyslop) admitiu que, considerando todos os fatores, a totalidade desses fenômenos

metafísicos seria mais bem explicada pela hipótese dos espíritos do que pelas qualidades e

peculiaridades do inconsciente. Com base em minhas próprias experiências, preciso dar-lhe

razão neste aspecto. Em cada caso particular, preciso ser cético, mas, no geral, devo conceder

que a hipótese dos espíritos traz melhores resultados na prática do que outra qualquer. (p. 137)

Jung deixou clara a sua posição nesta e em outras ocasiões, como por exemplo

em sua carta para o psicólogo americano Joseph Banks Rhine na qual afirmava que a

parapsicologia era um ramo da psicologia3. Mas sempre foi contra o fantástico, contra

transformar eventos mediúnicos em atração sensacionalista. Para Guimarães (2004) o

senso crítico de Jung sempre o fez um forte opositor de movimentos místicos. Vários de

seus livros, textos e principalmente eventos que ocorreram em sua vida fizeram de Jung

o nome da psicologia mais citado por todos aqueles que buscam embasar suas teorias

conectando a psicologia e a espiritualidade a um grande nome reconhecido e

respeitado. Inclusive, para aqueles que acham que o trabalho de Jung está mais para a

religião do que para a psicologia, em seu livro Psicologia e Religião (2004) afirmava que

a origem de crenças religiosas está na experiência do sagrado e nas conseqüentes

transformações da consciência que estas causavam. Ou seja, para ele, as religiões

criaram dogmas em torno destas experiências que pertencem à mente e aos seus

estados de consciência, e não vice-versa. Jung ainda falou sobre uma função mental

chamada de auto-regulação, que pode ser comparada ao conceito de livre arbítrio

explicado pelos espíritas. O psicólogo Adalberto Pessoa em seu livro “A quinta força”

(2003) dá grande parte do crédito dos avanços da psicologia, no que se refere à

vertente transpessoal e espírita, a Jung:

Jung foi um psicólogo adiante de seu tempo; em muitas de suas revolucionárias

concepções antecipou em décadas diversas tendências assumidas hoje pelo Movimento

Transpessoal, sendo um desafio querer traçar ainda que um resumo de suas contribuições ao

3 “Cartas 1906 – 1945, Vol. 1” de Jung, Carl G. Editora Vozes, 2001. Coleção Obras Completas de Carl Gustav Jung.

61

estudo das dimensões transcendentes da consciência – ou do inconsciente, como ele preferia

dizer. (p. 61)

A TERCEIRA FORÇA: A PSICOLOGIA HUMANISTA

Para a terceira força, a psicologia humanista, os conceitos de auto-atualização,

ou seja a tendência de atualizar seus potenciais, de buscar sempre o melhor, sempre

evoluir e “tornar-se a totalidade mais complexa, organizada e autônoma de que for

capaz” (Pessoa, 2003, p. 57) nos levam muito perto de valores espíritas. Ainda de

acordo com este autor as duas visões são próximas tanto pelas vias dos fins morais e

éticos construtivos, como também para a questão do livre arbítrio e da lei progresso,

que para os kardecistas é exatamente como a noção de tendência auto-atualizadora.

Em oposição às duas outras forças já discutidas, o behaviorismo que vê a

psicologia como uma ciência do comportamento e a psicanálise que é a ciência que

estuda o inconsciente, a psicologia humanista é a ciência que estuda a subjetividade

humana. Um dos objetivos desta vertente é permitir o desenvolvimento de potenciais

humanos que possibilitem colocar melhor o indivíduo perante certas perguntas

referentes a sua vida e sua existência. Ainda de acordo com o último autor citado, estas

perguntas seriam basicamente três, “quem sou eu?”, “de onde eu vim” e “para que

direção estou me encaminhando?”. Temos duas certezas, uma que a busca por estas

respostas faz com que se reconheça a possibilidade de que alguns limites já

conhecidos da condição humana sejam ultrapassados, indo de encontro a algo que vai

além da experiência pessoal convencional, ou seja, transcendental, ou espiritual;

conceito este que, embora reconhecido aqui, é estudado de maneira mais aprofundada

na psicologia transpessoal. A outra certeza, trazida pela busca de respostas para as

três perguntas anteriormente citadas, é que “a doutrina espírita é em essência uma

doutrina humanista e existencialista” (Pessoa, 2003, p. 58). Como podemos perceber

por esta afirmação, os escopos que dão embasamento teórico e filosófico a estas duas

formas de ver o mundo são muito semelhantes. Vale reforçar ainda que a própria

62

psicologia transpessoal teve em sua fundação a participação de nomes que estavam

fortemente ligados à psicologia humanista.

A QUARTA FORÇA: A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Sendo assim, a quarta força ou psicologia transpessoal já nasce com a intenção

de estudar o ser humano em sua totalidade, ou seja, corpo, mente e espírito. Conforme

o psicólogo Adalberto Pessoa (2003) explica: esta abordagem estuda temas como os

estados alterados de consciência, experiência culminante, ampliação e transcendência

dos estados ordinários da consciência e experiência mística, entre outras.

Esta é a abordagem que reconhece a existência de um princípio que pode ser

definido como espírito ou alma. Continuando o pensamento do autor acima citado, as

tradições espíritas são amplamente aceitas por tudo aquilo que ele chama de

“movimento transpessoal” e em especial pela psicologia transpessoal. Tal fato se daria

em grande parte pelo trabalho desenvolvido por Jung, de acordo com Pessoa (2003),

as pesquisas de Jung sobre Alquimia e as religiões orientais e ocidentais revolucionou

a concepção cientificista com que as tradições eram vistas.

A psicologia transpessoal é como o espiritismo, abrange e de certa forma unifica

várias correntes de pensamento. Alguns autores afirmam inclusive que a psicologia

transpessoal age exatamente como a filosofia espírita que tende a juntar várias outras

idéias e conceitos de outras áreas, ao invés de ser contra. Para Nagelshmidt (1996) se

retirassem as diferenças relacionadas ao conteúdo específico, os modelos de psique

humana propostas nas grandes religiões, se encontrariam grandes semelhanças

quanto à forma como encaram o desenvolvimento do psiquismo. O autor conclui ainda,

que justamente por esta semelhança ser evidente, os psicólogos jamais deveriam

deixá-las de lado e sim prestar grande atenção.

63

Já o americano John Davis, Ph. D. em psicologia, especialista em psicologia

transpessoal, em seu artigo “Reasons for the rejection of transpersonal psychology”

(1999), nos dá alguns motivos do porquê esta vertente ser tão negada pelo meio

acadêmico mais tradicionalista e conservador. Ele apontou cinco principais razões: 1 -

experiências espirituais não podem ser observadas ou mensuradas como um

comportamento aberto, 2 – estas experiências não podem ser provocadas ou

manipuladas em paradigmas de pesquisas experimentais, 3 - tais experiências não são

usuais, por assim dizer, não fazem parte das experiências cotidianas da maioria das

pessoas na maior parte do tempo, 4 – experiências espirituais não se enquadram de

maneira enfática na psicologia moderna ocidental que busca o racional, individual,

linear, instrumental, 5 – estas experiências são difíceis de ser descritas em nossa

linguagem, incluindo tanto o jargão da psicologia quanto a própria linguagem4.

TERAPIA DE VIDAS PASSADAS

Existe ainda uma outra abordagem psicológica que tem embasamento muito

semelhante ao da Psicologia Transpessoal, mas vai ainda mais adiante. A Terapia de

Vidas Passadas, ou TVP como é freqüentemente chamada, vai além das outras ao

afirmar não só a existência do espírito, mas também a de reencarnações. Para esta

abordagem conceitos espíritas, sem o viés religioso, são prontamente aceitos, não

sendo compatível portanto a dúvida com os seus preceitos teóricos. Há uma forte

crença em reencarnação, na continuidade da vida e na possibilidade de comunicação

com os espíritos. “A vida nunca termina, e ao fazer regressão você percebe que pode

perder sua cabeça na guilhotina, mutilar o corpo destruí-lo no fogo, mas não pode

destruir o ser espiritual, a personalidade que vive nesse corpo, a sua força vital, a

energia” (Krelling & Krelling, 1999, p. 02). 4 Do original = “1 - Spiritual experiences are not observable or measurable as overt behavior, 2 - they are not easily triggered or manipulated in experimental research paradigms, 3 - they are not normal; that is to say, they are not part of the common experience of most people most of the time, 4 - they do not fit with the emphasis of modern psychology on the rational, individual, linear, instrumental, and western, 5 – they are difficult to describe in our language, including both the jargon of psychology and the English language itself.”

64

Para os psicólogos desta vertente, muitos dos problemas apresentados pelas

pessoas tiveram sua origem em vidas passadas. Seguindo, mais uma vez, as idéias de

Jung, as experiências vividas em outras vidas ficariam guardadas para sempre no

inconsciente. O processo terapêutico seria então a busca das origens dos problemas

através de memórias de fatos acontecidos. “Estas memórias podem ser de origem

recente (todas as memórias da vida atual a partir do nascimento) ou remota (memórias

da vida intra-uterina, vidas passadas e intervidas)” (Oliveira, 2001). Podemos concluir

então que diferentemente do que a grande maioria das pessoas acredita, a TVP não se

concentra apenas em vidas anteriores, mas também nesta existência. ”Costumo me

referir à TVP no singular – TERAPIA DE VIDA PASSADA – e não de vidas passadas,

por entender que o tratamento engloba não somente vidas passadas, como também a

vida presente e o período pré-natal, e o inconsciente deve estar livre para eleger o

momento que quiser – por esta razão também não induzo a regressão de idade “

(Lucca & Possato, 2002).

O objetivo é portanto entender o que do passado ainda está influenciando a vida

presente, provocando dificuldades, sofrimentos e angústias. Com as sessões de

regressão tenta-se entrar em contato, relembrando o que aconteceu em momentos

pretéritos para que estes deixem de gerar sentimentos negativos. Segundo Oliveira

(2001), num primeiro momento do processo terapêutico acontecem a recordação e a

revivência e num segundo momento a ajuda para que a mente se reorganize. De tal

forma, busca-se encontrar e entender a fonte do sofrimento no passado, para que se

tente resolvê-la no presente para que o futuro seja livre de problemas.

VISÃO DA PSICOPATOLOGIA

Como já visto anteriormente, a psicopatologia busca as razões do diferente, do

considerado anormal e que foge dos padrões aceitos, tentando enquadrar em doenças

65

mentais. A psicopatologia é, dentro da psicologia, um grande entrave para a aceitação

da mediunidade. É nela que se baseiam aqueles que tentam esvaziar de qualquer

possibilidade de veracidade os efeitos mediúnicos, bem como qualquer outro incidente

ligado à espiritualidade que não possua nenhuma outra possibilidade de explicação,

como por exemplo, intoxicação por substâncias, como o álcool ou drogas alucinógenas.

De acordo com o CID-10 e o DSM-IV, a descrição da mediunidade poderia até se

enquadrar nos critérios da esquizofrenia. As visões e as vozes poderiam ser

confundidas com alucinações, delírios e ilusões patológicas.

Se pegarmos o relato de um médium e o confrontarmos com a visão da

psicopatologia, seguramente o sujeito seria indefectivelmente qualificado como doente.

De acordo com a psicóloga Célia Moraes (1995) não há um consenso por parte

de autores em psicopatologia entre o saudável e o patológico e ao se aproximarem de

assuntos como mediunidade acabam se referindo a religião. Como explicado pela

autora acima mencionado, para Karl Jaspers, um dos grandes nomes da

psicopatologia, há explicações a partir do ponto de vista existencial fenomenológico,

onde o indivíduo transcende qualquer coisa que se possa tentar conhecer a seu

respeito através de pesquisas empíricas. Esta idéia abre espaço para que se leve em

consideração fenômenos mal ou ainda não estudados, como a expansão de

consciência e a mediunidade. Este autor enfatiza ainda em sua obra a importância de

se relativizar, ou seja, contextualizar o que poderia ser considerado anormal ou doente.

CIÊNCIA ESPÍRITA

Existe ainda uma outra forma de ver e explicar o mundo e o homem, seus

antecedentes e conseqüências, utilizada atualmente por cientistas de várias áreas. A

ciência espírita é um assunto extremamente polêmico, mesmo nos dias de hoje em que

66

supostamente deveria haver uma compreensão de que todas as respostas que já

possuímos são apenas o início de um longo caminho a ser percorrido até que se

chegue, e se é que algum dia se chegará de fato, à respostas absolutas. Mas seu

aprofundado estudo é também fundamental para a compreensão do homem no todo e

igualmente importante para a compreensão de temas aqui postos neste trabalho.

Indo na contramão das formas que buscavam mais o concreto e que limitavam-

se aos cinco sentidos chamados empíricos, visão, audição, tato, olfato e paladar, esta

ciência começou a surgir, de maneira organizada, na França, em 1859, quando Allan

Kardec, considerado seu fundador, lançou o livro “O que é espiritismo”. Durante muito

tempo, devido ao que era aceito e negado pelas regras impostas pelas comunidades

científicas e acadêmicas, esta ciência ficou limitada ao domínio da religião, em especial

ao espiritismo, ainda que desde seus primórdios vários pensadores, cientistas e

estudiosos tentassem lhe dar validade e credibilidade. Sempre sob as mais rigorosas

críticas e dúvidas, esta ciência até hoje luta para ser reconhecida com tal. Mas em

tempos recentes, o conceito de ciência foi questionado de forma mais incisiva, como

afirma Chibeni (1991) em seu artigo “Ciência Espírita”:

A imagem de ciência a que os filósofos da ciência chegaram a partir das conquistas

recentes indica que uma ciência autêntica consiste, simplificadamente, de um núcleo teórico

principal, formado por hipóteses fundamentais. Esse núcleo é circundado por hipóteses

auxiliares, que o complementam e efetuam sua conexão com os dados empíricos. Essa estrutura

mais ou menos hierarquizada faz-se acompanhar de determinadas regras, nem sempre

explícitas, que norteiam o seu desenvolvimento futuro. De um lado, há as regras "negativas", que

estipulam que nesse desenvolvimento os princípios básicos do núcleo teórico devem, o quanto

possível, ser mantidos inalterados. Eventuais discrepâncias entre as previsões da teoria e as

observações experimentais devem ser resolvidas por ajustes nas partes menos centrais da

malha teórica, constituídas pelas hipóteses auxiliares; regras "positivas" sugerem ao cientista

como, quando e onde essas correções e complementações devem ser efetuadas.

Ao contrário do que se supõe na visão comum de ciência, não há restrições sobre a

natureza das leis de uma teoria científica, que podem inclusive ser de caráter

predominantemente metafísico. A restrição fundamental é que a estrutura teórica como um todo

67

forneça previsões empíricas corretas, ou seja, dê conta dos fatos. O exame das teorias científicas

maduras e dos padrões avaliativos adotados pelos cientistas indica ainda que algumas

características devem necessariamente estar presentes em qualquer boa teoria científica.

Inicialmente, ela deve ser consistente. Deve ser abrangente, explicando um grande número de

fatos. Deve, por fim, apresentar as virtudes estéticas de unidade e simplicidade, ou seja, a

explicação que fornecem dos diversos fenômenos deve decorrer de maneira natural e simples de

um corpo de leis teóricas integrado e tão reduzido quanto possível. Há ainda o vínculo externo de

que uma teoria não deve conflitar com as demais teorias científicas bem estabelecidas que

tratam de domínios de fenômenos complementares (por exemplo, uma teoria biológica não deve

pressupor leis químicas e físicas que contrariem as leis bem assentadas da Química e da Física).

(p. 46, 47)

Enquanto os mais céticos não aceitam a existência de fatos que não podem ser

empiricamente comprovados e outros tantos baseiam-se exclusivamente em dogmas e

fé religiosos para sustentar suas teorias, muitos buscam respostas de como estas duas

visões do mundo estão ligadas e não são portanto excludentes.

De acordo com o artigo “Ciência e Espiritismo” de Sergio Biagi Gregório (2005),

estas duas visões de mundo devem andar juntas, pois a ciência sem a espiritualidade

não seria capaz de explicar certos fenômenos da mesma forma que só a espiritualidade

sem a ciência não conseguiria embasamento para se sustentar como verdade sem

misticismos ou fé cega. Mas de acordo com o autor, os desenrolares da História da

humanidade fez com que religião e ciência acabassem por se repelir. Ao separar o

homem em matéria e espírito e legando cada um destes vieses a uma fatia diferente do

estudo do conhecimento ao invés da totalidade do ser humano e dando a cada uma

diferentes formas de serem estudadas, acabou-se por inviabilizar por muito tempo a

união destas duas visões como sendo partes de um todo que pode, e deve, ser

estudado com tal.

Mas para a compreensão do mundo em que vivemos em sua total plenitude é

fundamental que homens ligados às religiões permitam sem ofensas o aprofundado

estudo de questões relevantes à existência humana na Terra e principalmente, que os

68

homens de ciências deixem de lado preconceitos e partam em busca de novas

verdades e conceitos, ainda que isto signifique uma reestruturação de idéias

secularmente aceitas e arraigadas.

Ainda de acordo com o autor acima mencionado, as formas de se fazer ciência

em ambas as situações são muito similares, pois tanto no caso das ciências chamadas

naturais quanto na ciência espírita formulam-se hipóteses que servem de ponto de

partida para se chegar a conclusões ou conseqüências. Se confirmadas, então são

aceitas como verdades, caso contrário são descartadas. A diferença viria então da

forma como estas hipóteses são percebidas. Nas ciências naturais utilizam-se as

percepções enquanto no caso da ciência espírita as hipóteses são baseadas na

mediunidade.

Para o psicólogo junguiano Adenáuer Novaes, por mais que tenha havido esta

separação e que as formas e os locais destas duas visões sejam completamente

diversas, cada vez mais estão se encontrando, em várias áreas da ciência, e em

especial a psicologia. Em seu artigo “Filosofia e Espiritualidade” (2004) afirma:

Psicologia e espiritismo são conhecimentos distintos, tanto quanto têm pressupostos e

paradigmas distanciados por contextos diferentes. A psicologia, por muito tempo seguiu a escola

alemã e a inglesa, fundamentadas no empirismo clássico, responsáveis por duas grandes

correntes surgidas no século XX: a psicanálise e o behaviorismo. O espiritismo, por outro lado,

seguiu a escola racionalista francesa, da observação e da experimentação. Ambos, espiritismo e

psicologia são segmentos do saber humano e tratam de questões psicológicas; o primeiro tem

sido considerado como pertencente ao conhecimento religioso e o segundo, ao conhecimento

científico. O primeiro é explorado nos Centros Espíritas, o segundo, nas Universidades. As

fronteiras entre esses dois campos foram muito bem definidas, com ênfase radical na segregação

por parte das academias, sem que se observasse o mesmo por parte dos órgãos de divulgação

do espiritismo. Muito embora essa segregação proposital continue a ocorrer, cada vez mais eles

estão se tocando a partir de eventos fronteiriços de difícil apreensão exclusiva por qualquer um

dos campos. (p. 27)

69

CONCLUSÃO

O estudo aprofundado da mediunidade, que é definida como “uma faculdade

natural, uma aptidão especial que permite sentir e transmitir a influência dos Espíritos,

ensejando o intercâmbio, a comunicação entre o mundo físico e o espiritual”

(Henriques, 2001, p. 41) e da espiritualidade como um todo pela psicologia deve ocorrer

de maneira constante e de forma séria pois esta é uma faceta do ser humano que deve

ser sempre levada em consideração. Não podemos jamais impor limites ao homem

quando se quer chegar à uma compreensão do todo. Devemos sempre nos lembrar dos

esforços feitos por alguns, como Jung, que buscaram sempre ir além ao invés de se

contentarem com o que já parecia pronto. Se contentar em não ir adiante, em não

buscar respostas mais longe do que já se foi é abrir mão de conhecer o homem em sua

totalidade, de saber as respostas para perguntas que nos remetam as nossas origens e

ao nosso destino.

A psicologia como um todo não chegou até hoje a um consenso. Cada

abordagem, cada vertente, cada força apresenta seus conceitos, aceitando e negando,

se posicionando em cada parte do que diz respeito ao humano. Em relação a

mediunidade, a psicologia se divide, pois algumas abordagens não a aceitam, negando

a existência da mente, do espírito ou excluindo tal estudo e o relegando a outras

ciências. Algumas abordagens vêem a mediunidade como doença e, mesmo que

eventualmente não estejam completamente erradas, mais uma vez não podemos nos

aquietar e aceitar conceitos tão antigos que impediriam a psicologia de avançar

juntamente com o homem. Afinal não podemos descartar a possibilidade da patologia

ser uma explicação totalmente à parte da mediunidade e nem a probabilidade de que a

própria mediunidade possa causar transtornos e disfunções. Muito ainda se deve

estudar para saber se são duas visões complementares ou excludentes.

Mas outras abordagens aceitam a mediunidade como uma realidade. Podem até

se utilizar de termos diferentes e conceitos que pareçam se opor, mas com um olhar

70

mais cuidadoso podemos verificar que se referem a fenômenos mediúnicos. E desta

forma já temos uma interseção ligando a mediunidade à psicologia. O ver e escutar

espíritos, a reencarnação, a possibilidade de lembrar de vidas passadas e a

compreensão de que o homem é muito mais do que somente um corpo material são

idéias aceitas e já freqüentemente encontradas nos estudos da psicologia. Quanto mais

recente a abordagem, mais aberta ela está para o conceito de que o homem não é

como um robô que meramente responde a estímulos, mas é de fato um ser bio – psico

– social - cósmico. Pode-se perceber este avanço claramente ao se verificar a evolução

dos pensamentos filosóficos, científicos e daqueles que embasam a psicologia.

Cronologicamente falando, fica claro que a espiritualidade avança na mesma proporção

em que o conhecimento humano caminha para frente.

Desta forma, deve-se abandonar posições retrógradas, reduzidas e

extremamente limitadas como as defendidas pelo behaviorismo, que se prende tão

somente ao comportamento e à interação do indivíduo com o meio ambiente. Por mais

que se deva reconhecer a importância desta abordagem para a psicologia, e ter em

mente que muitos de seus conceitos podem ser comprovados, não se pode ficar

estacionado, perdendo a possibilidade de adquirir um saber muito mais aprofundado.

Também não se deve se limitar a visão da psicanálise mais tradicional, que

explica a mediunidade como patologia. Mesmo que isto implique em afirmar a

existência da mente e do potencial humano de interferir em seu próprio destino. A visão

patológica é muito limitante e, deve dar espaço a outras possibilidades.

A partir da visão da psicologia humanista é que a mediunidade começa a ser

vista como uma possibilidade. Mas de um modo geral os autores desta vertente, ainda

que não neguem a probabilidade da existência da espiritualidade e não a excluam

totalmente da psicologia, não chegam a explorá-la como mais um lado do ser humano

que não pode ser deixado de lado se quiser que se tenha uma visão completa de uma

pessoa.

71

Mas é na psicologia transpessoal que finalmente a mediunidade e a psicologia se

encontram e se complementam. A partir das idéias pioneiras de Jung, dos esforços de

Maslow e de outros humanistas e transpessoais, esta vertente surgiu e conquista cada

dia mais credibilidade entre profissionais da área e leigos. Esta abordagem é a mais

abrangente e complexa por entender que a espiritualidade, enquanto parte do ser

humano e não como credo, só é completa se estiver inserida na totalidade do indivíduo,

que por sua vez é estudado pela psicologia. Já a psicologia não pode excluir nenhuma

faceta do ser humano, seja ela da natureza que for.

Alguns autores como Adalberto Pessoa e Adenauer Novaes, só para citar

alguns, já falam numa nova abordagem psicológica chamada de quinta força. Esta

abordagem se baseia completamente em conceitos espiritualistas para se fundamentar.

Nela, a mediunidade, mais do que uma possibilidade é uma realidade indispensável

para o trabalho da psicologia, principalmente na área da psicologia da saúde, que inclui

a psicologia clínica e a psicologia hospitalar entre outras. Os profissionais que se

utilizam desta vertente partem do princípio inquestionável de que somos seres imortais,

enquanto espíritos, e que mediunidade, reencarnação e regressão de vidas passadas

são idéias que devem ser encaradas como eventos cotidianos, sem misticismos, e que

podem ser utilizadas no tratamento psicológico de qualquer tipo de problemas, desde

os mais simples até as patologias mais complexas.

Para estas duas últimas forças, a psicologia transpessoal e a psicologia espírita,

a mediunidade nada mais é do que uma característica do ser humano, como a

inteligência, os cinco sentidos e a capacidade de adaptação. Freqüentemente é

explicada como uma forma de expansão da consciência, que é definida por Ribeiro &

Paschoali (1994) como uma modificação qualitativa da consciência causada por

fenômenos mentais subjetivos além da consciência normal em vigília e às limitações do

ego em perceber a realidade somente através dos cinco sentidos empíricos. Em outras

palavras, implica numa expansão de consciência e numa ampliação de seu campo de

percepção.

72

Um ponto de grande importância que deve ser amplamente estudado é a

psicopatologia. Na atualidade ainda não se pode abrir mão da possibilidade de ajuda

que ela dá àqueles que estão com algum tipo de problema. Mas deve-se ter cada vez

mais cuidado em relação ao diagnóstico. Muito se deve ponderar, examinar e avaliar,

para se ter certeza de que a pessoa não pode ser ajudada de alguma forma sem ter

que ser rotulada para o resto de sua vida. Como já visto, a mediunidade, se

enquadrada nas descrições do DSM-IV e do CID-10, é diagnosticada como

esquizofrenia. Sem dúvida este é um rótulo que deve ser evitado sempre, uma vez que

a pessoa o carregará até o final de sua vida e por conseqüência enfrentará muito

preconceito, que indiscutivelmente existe. E é sempre muito importante, quando

falamos de psicopatologia, ver em que circunstâncias estes possíveis sintomas surgem.

Afinal, se uma pessoa descreve comportamentos mediúnicos, que podem ser

encaixados em sintomas de esquizofrenia, é indispensável que antes se verifique que

tipo de vida este indivíduo leva. Mesmo com toda a tentativa que há por parte de alguns

de patologizar o que é ligado ao espiritual, temos que lembrar que a psicopatologia

busca num primeiro momento estabelecer regras de normalidade. Seguramente, em um

ou outro momento da vida, todos os seres humanos apresentam algum tipo de

comportamento ou pensamentos que poderiam ser facilmente vistos como patológicos.

Saber o significado, utilizando, por exemplo, a fenomenologia, de tais eventos no

contexto geral da vida do indivíduo é indispensável. E a tendência, desde os tempos de

Charcot até a atualidade, é ver qualquer modificação da consciência, ou do

comportamento, como sendo um estado patológico. Mas hoje em dia essa atitude de

generalizar da psicopatologia é contestada pela chamada anti-psiquiatria e pela

psicologia transpessoal. Hoje se admite as variáveis individuais, e também, se aceita

como normal a possibilidade da existência de estados alterados de consciência,

estados não percebidos nos níveis comuns, sendo considerados, todos eles, estados

normais e alternativos do comportamento humano.

Alguns autores não chegam a explicar a esquizofrenia como tendo causa na

mediunidade ou em alguma disfunção espiritual, mas em problemas fisiológicos. Até

73

que a teoria de que a mediunidade tem maior influência nas patologias, não podemos

descartar certas explicações, como esta, dada por Cardoso (2005), médico pediatra e

mestre em Ciências da Religião:

Entre os médiuns e os esquizofrênicos fica em comum a presença de uma cisão

da personalidade, diferente no entanto pela percepção clara que se tem dos gestores do

processo. Na esquizofrenia teremos duas personagens distintas, porém com um gestor

único comandando o “teatro” mental montado. Na mediunidade de incorporação haverá

também duas personagens, mas com dois gestores bem distintos no comando do

processo de comunicação. Trocando em miúdos, o esquizofrênico não consegue

acrescentar à sua personalidade os conhecimentos de um “Napoleão” que ele diz ser.

No médium de incorporação, a personalidade toma toda a bagagem do espírito

incorporado e os seus conhecimentos são manifestados através do médium, mesmo

que este desconheça totalmente aquele cabedal de sabedoria. (p. 02)

Como visto no decorrer deste trabalho, a mediunidade é uma realidade e deve

ser aceita e trabalhada como tal. Admitir esta possibilidade no âmbito da psicologia

significa ver o homem de uma maneira mais inteira e portanto mais completa.

Naturalmente que muito ainda tem que ser pesquisado e fundamentado, mas as

evidencias já existentes não podem ser negadas.

Segundo o psicólogo Adenauer Novaes (2002) quanto mais se estudar o

psiquismo humano mais próximos estamos da espiritualidade e mais perto chegamos

do mundo espiritual. Quando um psicoterapeuta ignora esta possibilidade está deixando

de compreender um cliente por completo e pondo de lado a totalidade do ser humano.

O autor faz inclusive a afirmação de que psicologia sem a visão do espiritual é mais

uma “comportamentologia”.

De acordo com todas as informações levantadas nas referências bibliográficas,

pode-se até não chegar a uma verdade final e definitiva, até porque como esclarecido

74

anteriormente, o conhecimento humano nunca é definitivo. Mas sem dúvida alguma

chega-se a conclusão de que a mediunidade é uma realidade que deve ser levada mais

a sério e que deve ser estudada de forma muito mais aprofundada. Homens da ciência

devem se despojar de preconceitos e idéias arcaicas e buscar a possibilidade do novo.

Ao revisarmos a história das ciências verificamos que o caminho que as unifica a uma

espiritualidade livre do radicalismo da religião e da cegueira da fé é a tendência natural

percorrida pelo homem desde sempre em busca de respostas para a sua existência.

75

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