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CENTRO UNIVERSITÁRIO HERMÍNIO DA SILVEIRA IBMR - LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES CURSO DE PSICOLOGIA ÂNGELA MARIA DA CONCEIÇÃO AGUIAR PSICOPATIA: MITOS E VERDADES Rio de Janeiro 2016

PSICOPATIA: MITOS E VERDADES - ibmr.br · (Pai, Mãe e irmãos) e à minha zelosa orientadora Professora Lúcia Maria Monteiro Dias Nogueira. 5 Agradeço à Professora Lúcia Maria

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CENTRO UNIVERSITÁRIO HERMÍNIO DA SILVEIRA

IBMR - LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES

CURSO DE PSICOLOGIA

ÂNGELA MARIA DA CONCEIÇÃO AGUIAR

PSICOPATIA: MITOS E VERDADES

Rio de Janeiro

2016

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ÂNGELA MARIA DA CONCEIÇÃO AGUIAR

PSICOPATIA: MITOS E VERDADES

Orientador: Profª Lúcia Maria Monteiro Dias Nogueira

Rio de Janeiro

2016

Monografia apresentada ao IBMR – Laureate

International Universities como requisito parcial

para a obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.

3

ÂNGELA MARIA DA CONCEIÇÃO AGUIAR

PSICOPATIA: MITOS E VERDADES

ORIENTADORA: Professora Lúcia Maria Monteiro Dias Nogueira

Aprovada em local e data: ...................................................................

Nota obtida: .........................................................................................

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. ..........................................................

IBMR – Laureate International Universities

Prof. Dr. ..........................................................

IBMR – Laureate International Universities

Monografia apresentada ao IBMR – Laureate

International Universities como requisito parcial

para a obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.

Prof. (a) orientador (a): Lúcia Maria Monteiro Dias

Nogueira

4

Dedico este trabalho a todas as pessoas que eu

amo e que me ajudaram durante o período de

formação no curso e elaboração deste trabalho,

especialmente ao Leonardo Baddini, meu

companheiro que caminhou comigo em cada

passo desta jornada, à minha querida família

(Pai, Mãe e irmãos) e à minha zelosa

orientadora Professora Lúcia Maria Monteiro

Dias Nogueira.

5

Agradeço à Professora Lúcia Maria Monteiro

Dias Nogueira, à banca examinadora e à minha

família, amigos e meu companheiro de todas

as horas, Leonardo Baddini, que durante estes

cinco anos, me apoiaram, ajudaram e

incentivaram a seguir em frente.

6

“A menos que modifiquemos a nossa maneira

de pensar, não seremos capazes de resolver os

problemas causados pela forma como nos

acostumamos a ver o mundo.” (Albert

Einstein)

7

RESUMO

Este estudo tem por objetivo desmistificar a ideia de que todo psicopata é um serial killer na

eminência de cometer um crime cruel. Psicopatia é assunto pouco debatido e frequentemente

associado à violência. O que nem todos sabem é que psicopatia se apresenta em graus, sendo

pequeno o grupo enquadrado naqueles que são assassinos. A maior parte é conhecida como

“psicopata do colarinho branco”, que são aqueles que vivem em sociedade sem serem

“notados”. Psicopatas são mais comuns no dia-a-dia do que se pode imaginar, no entanto, não

se consegue perceber o quão frequente esta patologia está inserida em nosso cotidiano. O

estudo tem por autor-chave o psicólogo Hare (2013), que escreveu o livro Sem Consciência e

também é o responsável pela a escala PCL-R, principal instrumento de avaliação do

transtorno. Esta revisão integrativa da literatura teve como fonte de pesquisa o Google

Acadêmico, por autores, nas seguintes revistas científicas: Brain - A Journal of neurology

(Cérebro, um jornal de neurologia); RUEP - Revista UNILUS ensino e pesquisa; JAMA

Psychiatry, usando as palavras-chave: “transtorno de personalidade antissocial”, “psicopatia”,

“sociopatia” e “serial killer”, em inglês e português, no período de 2011 a 2016. Considera-se,

ao fim, que não se nasce psicopata. Afinal, o transtorno é influenciado por múltiplos fatores

tais como social, hereditário e biológico, que podem desencadear a doença, não sendo apenas

um fator o responsável pela psicopatia e, mesmo que naturalmente estes indivíduos não

apresentem empatia pelo próximo, sabem como manipular as emoções alheias, em prol de

vantagens próprias.

Palavras-Chave: Psicopatia, transtorno de personalidade antissocial, sociopatia, mitos, serial

killer, psicose, causas da psicopatia, terapia cognitiva comportamental.

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ABSTRACT

This study aims to demystify the idea that every psychopath is a serial killer on the verge of

committing a ruthless crime. Psychopathy is a little debated subject and often associated with

violence. What not everyone knows is that psychopathy is presented in degrees, being a small

group classified as killers. Most psychopaths are known as "white collar psychopaths" who

are those who live in society without being noticed. Psychopaths are more common in day-to-

day we can imagine, however, it is not easy to realize how common this condition is

embedded in our daily lives. The study key’s author is the psychologist Hare (2013) who

wrote the book "Without Conscience" and is also responsible for the PCL-R scale, main

assessment tool disorder. This literature’s integrative review had, as main research

mechanism, Google Academic (by authors) in the following scientific journals: Brain - A

Journal of neurology; RUEP – Revista UNILUS Ensino e Pesquisa and JAMA Psychiatry,

using the key words: “antisocial personality disorder”, “psychopathy”, “sociopathy” and

“serial killer”, in English and Portuguese, in the period of 2011 to 2016. In the end, it is

considered that psychopathy isn’t a disorder to be born with. After all, this disorder is

influenced by multiple factors, such as social, hereditary and biological, which can initiate

this disorder in an individual, not being only one of these factors the responsible for

psychopathy, and even though those individuals doesn’t show any natural empathy with the

others, they know how to manipulate other people’s emotions in order to get self advantage.

Key Words: psychopathy, antisocial personality disorder, sociopathy, myths, serial killer,

psychosis, causes of psychopathy, cognitive behavioral therapy.

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LISTA DE SIGLAS

- CID-10: Classificação internacional de doenças.

- DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

- N.A: Nota do autor.

- PCL-R: Psychopathy checklist-revised.

- PET-CT: Tomografia por emissão de pósitrons - tomografia computadorizada.

- PUC-RS: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

- RNMf: Ressonância nuclear magnética funcional.

- TCC: Terapia Cognitiva Comportamental.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11

2 OBJETIVOS................................................................................................................ 11

2.1 Geral.............................................................................................................................. 12

2.2 Específicos.................................................................................................................... 12

3 DESENVOLVIMENTO............................................................................................ 13

3.1 Psicopatia...................................................................................................................... 13

3.1.1 Breve história da psicopatia....................................................................................... 15

3.1.2 Principais causas........................................................................................................ 16

3.1.3 Associação à violência............................................................................................... 18

3.1.4 Psicopatia vs. Psicose................................................................................................. 19

3.1.5 Profissões de sucesso................................................................................................. 20

3.2 Terapia Cognitiva Comportamental (TCC).................................................................. 21

3.2.1 Princípios da TCC...................................................................................................... 22

3.2.2 Técnicas cognitivas.................................................................................................... 23

4 METODOLOGIA........................................................................................................ 25

4.1 Base de dados............................................................................................................... 25

4.2 Critérios de inclusão...................................................................................................... 25

4.3 Critérios de exclusão..................................................................................................... 25

4.4 Estratégia de busca....................................................................................................... 25

5 RESULTADOS........................................................................................................... 26

6 DISCUSSÃO............................................................................................................... 26

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 29

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 30

11

1. INTRODUÇÃO

Cercado de muitos mitos e verdades, a psicopatia foi descrita pela primeira vez no

ano de 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley e posteriormente definida por

Robert Hare como “um transtorno de personalidade definido por um conjunto específico de

comportamentos e de traços de personalidade inferidos, a maioria deles vista pela sociedade

como pejorativa” (HARE, 2013, [N.A]). Associada à serial killers e assassinatos brutais,

como mostram os filmes hollywoodianos, os psicopatas podem ter muitas facetas, por vezes

são encantadores e amáveis para alguns, para outros, porém, são pessoas sem coração mas

será que todo psicopata é um serial killer?

Psicopatas são dissimulados, inteligentes, não sentem remorso, podem assumir

qualquer papel para conseguirem o que desejam, possuem temperamento forte, são

impulsivos, gostam de adrenalina, manipulam com facilidade e podem se tornar o seu melhor

amigo, se for conveniente. De acordo com Silva “os psicopatas não apenas transgridem as

normas sociais como também as ignoram e as consideram meros obstáculos, que devem ser

superados na conquista de suas ambições e seus prazeres” (SILVA, 2010, p. 137). Vivem em

prol da sua satisfação pessoal.

Psicopatas gostam do poder e de ser o centro das atenções. Quais seriam as

profissões em que melhor se adaptariam? Há certa dúvida quando se fala em psicopatia e

psicose. Neste estudo será explicado sobre cada doença e suas principais diferenças. E quanto

às causas da doença? Será que se nasce psicopata ou há outras causas que influenciam neste

transtorno?

Esta revisão bibliográfica desenvolve-se com o intuito de responder as questões e

mitos mencionados acima, como causas, diferenças entre psicopatia e psicose, serial killer e

psicopata e se é possível um psicopata ter uma profissão.

12

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Ampliar o olhar sobre a psicopatia, para além da violência associada.

2.2 Objetivos específicos

- Desmistificar a ideia de que todo psicopata é violento.

- Desassociar psicose de psicopatia.

- Identificar as causas.

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3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Psicopatia

A psicopatia é uma palavra de origem grega, que tem como significado Alma e Doença

(Psykh e Pathós, respectivamente). Enquadrada como transtorno de personalidade antissocial, de

acordo com o CID 10 (F60.2) e o DSM-5 (301.7), também é conhecida como sociopatia ou

transtorno de personalidade antissocial. É caracterizada pelo fato do indivíduo não conseguir se

colocar no lugar do outro, possuir facilidade de manipular, ser impulsivo, tirar proveito de todas

as situações a seu favor, não respeitar regra e enxergar o próximo como objeto para atender suas

necessidades. Os primeiros indícios podem aparecer na infância ou começo da adolescência e

persistir durante toda a vida adulta. Hare (2013), psicólogo Canadense, referência no estudo de

psicopatia, define esta patologia da seguinte maneira:

Para esses indivíduos, com frequência encantadores, mas sempre de maneira fatal, há

um nome clínico: psicopatas. Sua marca registrada é uma assombrosa falta de

consciência; seu jogo é a autossatisfação à custa dos outros. Muitos passam algum

tempo na prisão, outros não. Todos tomam mais do que dão. (HARE, 2013, p. 1).

Alguns autores usam o termo sociopatia e outros preferem o termo psicopatia, isso

pode ocorrer para fazer distinção entre a psicopatia e psicose ou por terem visões diferentes

sobre as bases de origem da doença, como explica Hare (2013):

Alguns médicos e pesquisadores, assim como a maioria dos sociólogos e

criminologistas que acredita que a síndrome é forjada inteiramente por forças sociais e

experiências do início da vida, preferem o termo sociopatia, enquanto aqueles,

incluindo este autor, que consideram fatores psicológicos, biológico e genéticos

também contribuem para o desenvolvimento da síndrome geralmente usam o termo

psicopatia (HARE, 2013, p.39).

De acordo com Stout, “transtorno de personalidade antissocial, uma incorrigível

deformação de caráter que hoje se acredita estar presente em 4% da população – ou seja – uma

em cada 25 pessoas” (STOUT, 2010, p. 18). Este é um transtorno de difícil diagnóstico, uma

vez que a maioria das pessoas que possuem algum traço da patologia não se sentem

incomodadas e dificilmente buscam ajuda.

O Psicopata é guiado pela razão, mas isso não significa que não possua emoção,

apenas faz uso de forma diferente daqueles que não apresentam sinais da patologia. Pessoas

sem traços de psicopatia são levadas a maior parte do tempo por suas emoções, criam

vínculos com o seu semelhante e outros seres vivos devido à capacidade de empatia. Goleman

14

define empatia da seguinte forma: “a compreensão dos sentimentos dos outros e a adoção da

perspectiva deles, e o respeito às diferenças no modo como as pessoas encaram as

coisas” (GOLEMAN, 2001, p. 282). O psicopata não sabe se colocar no lugar do outro de

forma espontânea, ele aprende a trabalhar com as emoções de acordo com a finalidade

necessária. Um exemplo disto é a importância dada aos bens em comparação aos entes: para

um psicopata, um carro e um filho podem ter o mesmo peso, entretanto, isso não quer dizer

que não tenham apreço por algo ou alguém.

O profissional da saúde deve ter em mente que, para concluir o quadro de psicopatia,

o indivíduo em questão deva ter histórico de alguns dos sintomas antes dos 15 anos de idade,

possuir comportamento persistente de violar regras e ignorar o direito do próximo. Por

questões éticas, jovens menores de 18 anos não podem receber o diagnóstico de psicopatia,

dado que o cérebro ainda está em formação e um precipitado parecer médico pode “rotular” o

jovem, influenciando os próximos anos de sua vida. Antes dos 18 anos, a nomenclatura

utilizada, portanto, deve ser Transtorno de Conduta.

Para ser diagnosticado como um psicopata, o indivíduo deve apresentar os seguintes

sintomas, de acordo com o DSM-5 (2014):

a. Não se adequar às normais sociais no que diz respeito a comportamento, infringir

normas que podem resultar em detenção.

b. Tendência à falsidade, uso de mentiras e trapaça para obter vantagem em algo.

c. Impulsividade ou insucesso em planejar o futuro.

d. Excitabilidade e hostilidade, marcado por constantes agressões físicas e lutas

corporais.

e. Indiferença pela sua segurança e a dos outros.

f. Irresponsabilidade reiterada, não consegue manter uma conduta consistente no

trabalho ou cumprir com deveres financeiros.

g. Falta de remorso, age de forma indiferente ou racionalizada em relação a ter

ferido, maltratado ou roubado.

Especialistas utilizam a escala Hare PCL-R (Psychopathy checklist-revised),

desenvolvida pelo psicólogo Robert D. Hare para diagnosticar a psicopatia e o nível em cada

indivíduo. A escala é aplicada da seguinte forma: Entrevista semiestruturada para investigar

15

histórico familiar, pessoal, social e antecedentes criminais. Além disto, possui mais 20 itens

que englobam questões comportamentais, aspectos positivos e pessoais, que serão pontuados

de 0 (zero) a 2 (dois), levando em conta os seguintes fatores: o primeiro diz respeito aos

aspectos positivos e extroversão. O segundo leva em conta agressividade, violência, raiva,

impulsividade, criminalidade, ansiedade e tendência ao suicídio.

A avaliação deste quadro é delicada e requer cautela, sendo realizada por um

profissional qualificado que use recursos como entrevista estruturada e semiestrurada, além da

escala Hare PCL-R (psichopaty checklist revised). Pode se fazer uso também de algum exame

de imagem de correlato neural, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada.

3.1.1 Breve história da psicopatia

Pinel (1801, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008) é considerado um dos

primeiros médicos a relatar padrões de comportamentos e descrições científicas da psicopatia

ao publicar o livro Tratado Médico-Filosófico - Sobre a Alienação Mental ou a Mania. Pinel

usou o termo “mania sem delírio” para indivíduos que eram dados como loucos devido às

suas ações e comportamentos mas que tinham ciência de seus atos e consequências.

Kraepelin (1904, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008) em sua classificação de

doenças mentais, usa o termo “personalidade psicopática” para classificar pessoas que não se

enquadram no perfil de psicóticos, neuróticos ou no esquema de mania-depressão, e também

não se adequam as normas e padrões sociais vigentes.

Na visão do psiquiatra Schneider (1923, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008),

define-se o psicopata como aquele que não engloba desvio de normalidade suficiente para ser

classificado como doente mental mas que possui personalidade anormal que sofre com sua

condição e/ou faz a sociedade sofrer. Schneider distinguia os seguintes tipos de

personalidades psicóticas: Hipertímicos, depressivos, inseguros, fanáticos, carentes de

atenção, emocionalmente lábeis, explosivos, desalmados, abúlicos e astênicos.

O conceito de psicopatia se consolidou a partir dos estudos de Cleckley (1941) que

publicou o livro The Mask of Sanity (A máscara da sanidade), livro este considerado um

16

marco no estudo da psicopatia, no qual Cleckley considera traços de personalidade, dando

ênfase aos aspectos afetivos e interpessoais. Apesar de seus estudos terem sido realizados

principalmente com criminosos, Cleckley visou separar o conceito de psicopatia ao crime em

si, focando nas características de personalidade e comportamentos atípicos de psicopatas

(WILKOWSKI e ROBINSON, 2008 apud FILHO; TEIXEIRA; DIAS, 2009).

Com base em seus trabalhos, Cleckley (1988) listou as seguintes características

comuns em psicopatas: Charme superficial e boa inteligência, ausência de delírios e outros

sinais de pensamento irracional, ausência de nervosismo e manifestações psiconeuróticas, não

confiabilidade, tendência à mentira e insinceridade, falta de remorso ou vergonha,

comportamento antissocial inadequadamente motivado, juízo empobrecido e falha em

aprender com a experiência, egocentrismo patológico e incapacidade para amar, pobreza

generalizada em termos de reações afetivas, perda específica de insight, falta de reciprocidade

nas relações interpessoais, comportamento fantasioso e não convidativo sob influência de

álcool e às vezes sem tal influência, ameaças de suicídio raramente levadas a cabo, vida

sexual impessoal, trivial e pobremente integrada e falha em seguir um plano de vida.

3.1.2 Principais causas

Especialistas apontam 3 possíveis causas que contribuem para o desenvolvimento da

psicopatia: fatores genéticos - não sendo raro que membros da família apresentem alguma

disfunção - fatores ambientais, tendo o meio onde o indivíduo transita grande influência em

suas ações ao longo da vida e fatores sociais. Adicionalmente, o espaço onde a violência é

semeada, sem regras ou carinho, instiga os instintos do psicopata. Alguns estudiosos

defendem que o indivíduo nasce psicopata e se desenvolve ao longo da vida. Vasconcellos

cita em seu livro, “Não são apenas as circunstâncias externas que moldam a mente de um

psicopata. Se algo no cérebro desses indivíduos se tornou verdadeiramente disfuncional, é,

em parte, pelo fato de que algo já estava lá antes” (VASCONCELLOS, 2014, p. 62).

A neurociência cognitiva é uma área que tem feito muitas contribuições nos estudos

sobre as bases biológicas que afetam o sujeito com tendências psicopatas. O cérebro humano

se desenvolveu visando adaptação e continuidade da espécie, o que possibilitou o crescimento

17

de áreas e circuitos cerebrais, como cortex, sistema límbico, amígdala, etc..., para aprimorar

importantes habilidades, das quais menciono primariamente empatia, tomada de decisão,

inteligência emocional e capacidade de viver em grupo. O indivíduo foi programado para

facilitar a convivência em grupo, já que era mais fácil preservar a vida e gerar descendentes

inserido em uma sociedade do que se defender individualmente dos perigos incertos.

O psicopata apresenta problemas em algumas destas áreas fundamentais para

convivência humana, como cortex pré-frontal, cortex ventromedial, amígdala e sistema

límbico. O Cortex pré-frontal, conhecido como sistema executivo, é responsável por tomada

de decisão, comportamentos sociais, atenção, expressão de emoção, afetividade, inibição de

impulsos, etc..., possuindo conexão com o sistema límbico, que é o responsável por processar

e modular as emoções vividas. A amígdala interage com várias áreas do cérebro para executar

suas funções de mediar as atividades emocionais nas externações e preservar a espécie,

gerando em situações de aparente perigo, medo e ansiedade que servem para alertar e

priorizar a sobrevivência. Nas palavras do cientista Ramachandran e Blakeslee (2004), a

amígdala é considerada a “entrada” para o sistema límbico, sendo esta uma estrutura

fundamental para o desenvolvimento de comportamentos e manifestações sociais. O Cortex

ventromedial é uma área envolvida no processamento de medo e risco, bem como inibição de

respostas emocionais e tomada de decisão, sendo uma área importante para mediar a

convivência social. O cérebro trabalha de maneira complexa, com várias divisões funcionando

em um grande circuito, conforme cita Vasconcellos “Para entendermos, portanto, o que há

de errado com o cérebro do psicopata, precisamos pensar não em estruturas isoladas, mas

sim em circuitos dinâmicos” (VASCONCELLOS, 2014, p. 71).

.

Evidências atuais apontam para uma hiperresponsividade límbica por parte do

psicopata, ou seja, incapacidade do sistema límbico de reagir com as emoções. No entanto,

isso não significa que os psicopatas não compreendem ou reagem as emoções dos outros,

Vasconcellos questiona, “Se eles não conseguem fazer nada disso, então como conseguem

manipular e, em muitos casos, manipular tão bem outras mentes” (VASCONCELLOS, 2014,

p. 68).

Não se sabe ao certo qual é o peso da carga genética, mas acredita-se que este não é o

único fator determinante para o desenvolvimento da psicopatia. Fatores como ambiente e

sociedade também podem contribuir para o desenvolvimento da patologia. Ambientes hostis,

18

onde a violência psicológica e física é rotina, reforçam a agressividade e a falta de cuidado

com o outro, corroborando que estas são formas corretas de agir. Esta não é uma regra, pois

há casos em que um ambiente feliz e considerado normal (dentro dos padrões da sociedade),

pode dar origem a um indivíduo psicopata.

Portanto, pode-se considerar como mito a afirmação que se nasce psicopata. Todos

esses fatores citados acima colaboram para o desenvolvimento da psicopatia, mas o fato de

existir apenas um destes fatores não significa que o indivíduo se tornará uma psicopata.

Como cita Vascocellos, “Estamos apenas começando a compreender que por trás da

psicopatia existe uma disfuncionalidade cerebral que só pode ser entendida a partir de seus

componentes biológicos, psicológicos e sociais” (VASCONCELLOS, 2014, p. 81), assim

corrobora a autora Stout, “Uma predisposição para determinado traço já se encontra

presente no momento da concepção, mas o ambiente irá regular a forma de expressá-lo”

(STOUT, 2010, p.137).

3.1.3 Associação à violência

A mídia associa assassinatos em série ou crimes chocantes aos psicopatas, quando na

verdade nem todos os psicopatas chegam a matar. Qualquer indivíduo considerado dentro dos

padrões sociais pode cometer um crime brutal. O que também ocorre é que portadores de

outros transtornos mentais cometem crimes e, ainda assim, por desinformação, o feito é

creditado a um psicopata. O serial killer Ed Gein, que inspirou os filmes Psicose, O Massacre

da Serra Elétrica e deu origem ao personagem Búffalo Bill, do filme O Silêncio dos Inocentes,

invadia cemitérios para roubar cadáveres e fazer souvenirs, matou 2 mulheres de forma

monstruosa e não era um psicopata como os filmes “pintam”, mas sim incapaz mentalmente,

terminando os seus dias num hospital psiquiátrico. (CASOY, 2014).

Serial killer são indivíduos que cometem uma sequência de crimes, em um

determinado período de tempo. Suas vítimas são escolhidas ao acaso, tendo em comum as

mesmas características, como faixa etária e mortes sem justificativa (apenas para saciar o

desejo do carrasco em questão). Este tipo de assassino sente prazer em matar e só param

quando são mortos ou presos pela polícia. Há dois tipos de assassinos em série: 1. Os

organizados: planejam o crime, são metódicos, na sua maioria casados e bem empregados,

19

geralmente “antenados” com o trabalho da polícia e evitam deixar provas. 2. Os

desorganizados: são impulsivos, geralmente utilizam as ferramentas disponíveis no local do

crime, não se preocupam em apagar seus rastros, tentam carreira militar ou profissão similar

sem muito sucesso e estão enquadrados em tipos como canibais ou necrófilos. Os crimes

cometidos possuem 3 elementos que ajudam a polícia a identificá-los: modus operandi, ritual

e assinatura. (CASOY, 2014).

Esses assassinos começam a agir entre 20 e 30 anos de idade, escolhendo

individualmente os mais fracos que se encaixam em algum estereótipo e levam uma

lembrança ou um troféu de cada assassinato cometido. Por se sentirem acima do

bem e do mal , acreditam ser muito espertos, têm autoconfiança e muitas vezes

“jogam” com a polícia. (CASOY, 2014, p.23).

É um mito afirmar que todo psicopata é um serial killer. Um psicopata pode ser um

serial killer sim, mas nem todo serial killer é obrigatoriamente psicopata. Poucos psicopatas

chegam ao extremo de matar. Para eles, manipular pessoas é mais atraente do que matar. De

acordo com Hare “a maioria dos criminosos não é psicopata, e muito dos indivíduos que

consegue agir no lado obscuro da lei e permanecem fora da prisão são psicopatas” (HARE,

2013, p. 22).

3.1.4 Psicopatia vs. Psicose

Devido à semelhante nomenclatura, é comum confundir psicopatia com psicose,

apesar de serem transtornos de origens e classificações diferentes. A psicose é uma doença

mental, na qual o sujeito perde o contato com a realidade, criando seu próprio mundo. As

principais funções afetadas na psicose são o pensamento e a afetividade. O psicótico perde a

racionalidade, muitas vezes se torna incapaz de exercer suas atividades em virtude da doença,

diferente do psicopata que é movido pela razão de forma desproporcional, como já explicitado

nos tópicos acima. (DALGALARRONDO, 2008).

A psicopatia é classificada como transtorno de personalidade do grupo B no DSM-5

(F60.2): “a característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um padrão

difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início

da adolescência e continua na vida adulta.” (DSM-5, 2014, p. 659), enquanto transtornos

psicóticos “são definidos por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir:

delírios, alucinações, pensamento, (discurso) desorganizado, comportamento motor

20

grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos.

(DSM-5, 2014, p.87).

Segundo Dalgalarrondo “As síndromes psicóticas caracterizam-se por sintomas

típicos como alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamento claramente

bizarro, como fala e risos imotivados” (DALGALARRONDO, 2008, p. 327). A psicose mais

comum é a esquizofrenia.

Nas palavras de Cleckley, que bem define e compara Psicose vs. Psicopatia em seu

livro, diferencia o psicopata da seguinte forma:

Ele conduz suas atividades no que é considerado consciência normal sobre as

consequências e sem influências distorcidas de qualquer demonstração de um

sistema delirante. Sua personalidade externa é aparentemente ou superficialmente

intacta e sem sinais de distorção (Cleckley, 1988, p. 247).

Diante dos argumentos expostos acima, pode-se concluir que Psicose e Psicopatia

são patologias diferentes, derrubando o mito de doenças iguais, visto que a psicose é um

transtorno mental e a psicopatia um transtorno de personalidade. Na psicose, o indivíduo

comete atos sem ter o discernimento real das consequências, pois tal discernimento é afetado

pelo transtorno, enquanto que o psicopata tem total consciência de seus atos e punições,

decorrentes de infrações e delitos.

3.1.5 Profissões de sucesso

Atraídos por profissões que proporcionam poder e facilidade, os psicopatas tendem a

escolher carreiras corporativas, nas quais escalam degraus para chegar ao topo e manipulam

quem estiver no caminho. Em alguns casos, aquele “chefe carrasco”, que suga do funcionário

a sua última gota de suor, toma decisões frias e focadas no crescimento econômico,

desprioriza o bem estar de seu empregado, escolhendo com que tipo de profissional dentro da

hierarquia se relacionará (distrata seus liderados e enaltece seus líderes), apresenta um perfil

com indício típico de psicopata.

Outra área muito “fértil” para o sucesso desejado por psicopatas é a política, cenário

ideal para alcançar projeção, ocupar cargos com privilégios e regalias e ter possibilidades de

21

tomar grandes decisões que envolvam a vida de um número significativo de pessoas. Eles se

saem muito bem como políticos, pois conseguem encantar o público com sua retórica

rebuscada em brilhantes discursos, movendo multidões em palanques com sua carisma

inigualável. (STOUT, 2010).

Carreiras militares e médicas também chamam atenção, uma vez que há a

possibilidade real de manipular vidas, uma boa maneira de extravasar todo seu desejo de

agressividade e domínio. O psicopata busca na sua carreira uma profissão que traga sucesso,

dinheiro e reconhecimento pelo trabalho excepcional. A sua vaidade e o ego inflado fazem

com que sinta necessidade de estar sempre nos holofotes, colhendo os louros do sucesso.

(STOUT, 2010).

3.2 Terapia cognitiva comportamental (TCC)

A TCC foi desenvolvida por Aaron Beck, caracteriza-se por ser uma psicoterapia

breve, com foco no cliente, orientada ao presente para resolver problemas atuais. Beck

acredita que os transtornos psíquicos podem ser tratados ajudando o cliente a identificar seus

pensamentos e crenças disfuncionais e corrigi-las. Crenças e pensamentos estão arraigados no

sujeito e são as lentes com os quais o indivíduo usa para interpretar os fatos e eventos de sua

vida. A abordagem desta terapia focaliza o trabalho terapêutico sobre os fatores cognitivos

que estão na etiologia e na manutenção de determinada psicopatologia. (BECK, 1997).

A TCC trabalha a mudança de comportamento através da influência cognitiva,

visando reeducar o cliente sobre como seus pensamentos e crenças tem impacto direto no seu

estado de humor e comportamento. A principal característica desta linha terapêutica é a

importância que se dá aos pensamentos, que são sustentados por um sistema de crenças

responsáveis por determinados sentimentos e comportamentos do indivíduo. A TCC trabalha

com técnicas como identificação, avaliação e modificação de pensamentos, ensaio cognitivo e

treinamento de habilidades sociais. (BECK, 1997).

Por possuir um método mais objetivo, próximo ao modelo médico, tendo como pilar

uma estrutura de trabalho bem delimitada, com cronograma estabelecido (início, meio e fim),

e por abordar questões da cognição, a TCC é um caminho utilizado para ajudar a reeducar o

22

psicopata e a lidar com seus sentimentos, abordando exercícios e ensinando técnicas de

comportamento social. Um importante argumento a se usar é que a forma natural de

manipulação de um psicopata com os seus entes pode lhes causar sofrimento, angústia e dor.

3.2.1 Princípios da TCC

A TCC segue 10 princípios que são aplicados para todos os clientes e ajustados de

acordo com as peculiaridades de cada caso (BECK, 1997):

1) A formulação do caso é dinâmica, sendo necessário trabalhar com um tripé:

a. Identificar pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais que

influenciam no problema;

b. Identificar principais fatores de manutenção do problema; e,

c. Levantar hipótese sobre os eventos, refinando-a com o passar da terapia.

2) É de suma importância formar uma aliança terapêutica com o cliente para que o

trabalho possa fluir. Empatia e respeito são palavras chaves para uma boa

aliança. Alguns casos requerem tempo para desenvolver o vínculo.

3) A TCC é participativa. O cliente tem voz e precisa ser ativo durante todo o

tratamento.

4) É preciso focar nos problemas e desenvolver metas para orientar o tratamento.

5) A terapia inicia com foco nos problemas atuais da vida do cliente. Retorna-se

para situações do passado apenas em 3 situações:

a. Caso o cliente demande;

b. Se o trabalho desenvolvido no presente atual não esteja surtindo efeitos

cognitivos; ou

c. Se o terapeuta sentir necessidade.

6) É Educativa e tem por objetivo a independência do cliente, de modo que ele

aprenda a lidar com outras situações da sua vida. É feito um trabalho de

prevenção e recaída.

23

7) Estima-se um tempo de duração de 4 a 14 sessões, em média.

8) As sessões são estruturadas, sendo desenvolvido um cronograma de atividades

com agenda, feedback, tarefas, anotações, etc;

9) Tem por objetivo ensinar o cliente a identificar pensamentos e crenças

disfuncionais, bem como lidar com eles.

10) Possui uma variedade de técnicas para trabalhar comportamento, humor e

pensamento. O terapeuta cognitivo comportamental escolhe as técnicas, sempre

em alinhamento com o cliente, de acordo com a necessidade de cada caso.

3.2.2 Técnicas cognitivas

A TCC trabalha em crenças que são formadas na infância, como, por exemplo, a

visão que o sujeito tem de si, dos outros e do mundo a sua volta. Estas crenças são tidas como

verdades absolutas e é o modo como o indivíduo interpreta a vida. Tais crenças podem ser

divididas em dois grupos: Centrais e Intermediárias.

a) Centrais: podem ser positivas (amparo, amor e valor) ou negativas (desamparo,

desamor e desvalor).

b) Intermediárias: são regras e atitudes baseadas nas crenças centrais. Por exemplo,

o sujeito se negar à candidatura de uma determinada vaga de emprego por não ser

capaz (teria, este sujeito, uma crença de desvalor), apresentando, portanto, um

pensamento automático disfuncional, já que não se acha qualificado para ocupar

o cargo.

Com base na identificação das crenças e pensamentos automáticos, são escolhidas as

melhores técnicas para cada caso (BECK, 1997). Podem ser desde técnicas de respiração (que

tem por objetivo de tranquilizar), como registro de pensamentos diários (onde registra-se o

pensamento, emoção e comportamento decorrente), treinamentos de assertividade (para lidar

melhor com determinadas situações), treinamentos de habilidades sociais (para lidar melhor

com situações cotidianas) e também cartões de enfrentamento, mensagens de apoio e suporte,

exposições e experimentos graduais à situações traumáticas, role play, etc.

24

Para o tratamento de psicopatas, Beck entende que “o modelo de TCC dá ênfase às

interações entre as crenças nucleares dos indivíduos, às estratégias interpessoais

disfuncionais e caracteristicamente superdesenvolvidas e às influências ambientais” (BECK,

2004, apud COSTA e VALERIO, 2008).

Traçar objetivos são importantes para iniciar o tratamento, entender a relação de

pensamentos e comportamentos desadaptativos, regulação de emoções, autocontrole, tolerância

a frustração, auto monitoramento, domínio interpessoal e habilidade de fazer escolhas

construtivas (BECK et al, 2005, apud COSTA e VALERIO, 2008). A grande questão é que

psicopatas não se incomodam com o seu jeito de ser, sendo raros os casos em que adultos

buscam ajuda. As pessoas que conviveram com psicopatas são as que mais procuram apoio

profissional para si, visando reduzir o impacto psicológico causado em suas vidas. No que diz

respeito à faixa etária, é predominante a frequência de pais que recorrem por auxílio aos seus

filhos quando notam comportamentos excessivos se comparado com crianças e/ ou jovens na

mesma idade.

O tratamento não significa a cura, mas ajuda os psicopatas a conviverem melhor com

as pessoas que os cercam.

25

4. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão integrativa de literatura, realizado nas bases de

dados multidisciplinares e nas bases específicas da área de saúde no período de março de

2016 a agosto de 2016.

4.1 Base de dados

Pesquisa feita no Google acadêmico por autores nas revista científicas:

- Brain - A Journal of neurology – Cerebro, um jornal de neurologia;

- RUEP - Revista UNILUS ensino e pesquisa;

- JAMA Psychiatry.

4.2 Critérios de inclusão

- Artigos científicos de revistas indexadas, em inglês e português, que abrangem o

período de 2011 a 2016;

- Artigos que descrevam ou mencionem o tema abordado.

4.3 Critérios de exclusão

- Artigos científicos em espanhol, francês e alemão;

- Artigos científicos que abordem outros temas. Ex: estudos realizados com animais;

- Artigos que não se enquadrem no período de 2011 a 2016.

4.4 Estratégia de busca

Estratégia de busca adotada no Google acadêmico foi acrescentar artigos por meio de

autores ou de referências consideradas clássicas da literatura científica (transtorno de

personalidade antissocial, antisocial personality disorder).

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5. RESULTADOS

Foram encontrados 6 artigos científicos no Google Acadêmico, sendo 1 na revista

cientifica BRAIN A Journal of Neurology, 1 na Resvista UNILUS de Ensino e Pesquisa

(RUEP), 2 na revista JAMA Psychiatry, 1 na revista Frontiers in Human Neuroscience e 1 na

PUC-RS (acervo eletrônico).

Do total encontrado, 3 artigos não foram aceitos para esta revisão, sendo os seguintes

motivos para exclusão: 1 revisão literária, 1 fora do período de data estabelecido (anterior a

2012) e 1 por abordar parcialmente o tema escolhido.

6. DISCUSSÃO

Três artigos foram utilizados como base para pautar o tópico de discussões, sendo

um estudo sobre a capacidade de criar empatia por psicopatas, e dois relatórios de imagens de

cérebros de indivíduos com psicopatias.

O artigo "Reduced spontaneous but relatively normal deliberate vicarious

representations in psychopathy” - Redução de representações espontâneas, porém,

relativamente normais em psicopatia (MEFFERT; GAZZOLA; BOER; BARTELS;

KEYSERS, 2013) é um estudo interessante que corrobora com a ideia de que o psicopata não

é desprovido de empatia, apenas a utiliza de forma racional, sempre em prol de seu benefício.

Conforme citado neste trabalho, o psicopata não tem empatia de forma natural para com o

próximo, mas sabe, como ninguém, interpretar e jogar com as emoções dos outros, conforme

entende Vasconcellos “Se eles não conseguem fazer nada disso, então como conseguem

manipular e, em muitos casos, manipular tão bem outras mentes” (VASCONCELLOS, 2014,

p. 68).

O artigo “A utilização de exames de Neuroimagem no auxílio do diagnóstico do

transtorno de personalidade antissocial” (PAZ e SANCHES, 2014) aborda o fato da

psicopatia, além de ter como um de seus fatores a biologia, enaltece outros importantes

fatores: o peso social e a hereditariedade, corroborando que há múltiplas causas e, dentre elas,

a influência comunitária e a genética, que podem trazer à tona traços de psicopatia. Autores

27

como Ramachandran (2004), Vasconcellos (2014) e Stout (2010) defendem que além do fator

biológico, fatores ambientais e sociais influenciam no transtorno, bem como a existência de

apenas um não ser predominante para o transtorno se manifestar. O uso de neuroimagem

(PET-CT e RNMf) pode ser um diferencial para o diagnóstico adequado, contudo, as autoras

deste artigo entendem que estudos mais aprofundados precisam ser conduzidos para

diagnosticar, efetivamente, a psicopatia em exames de neuroimagem.

O artigo “Brain Response to Empathy-Eliciting Scenarios Involving Pain in

Incarcerated Individuals With Psychopathy” – É uma resposta cerebral num cenário de

estimulação de empatia que envolve dor em indivíduos encarcerados com psicopatia

(DECETY; SKELLY; KIEHL, 2013). É um estudo sobre identificação de potenciais

diferenças nos padrões de atividade neural em indivíduos encarcerados, com e sem psicopatia,

num processo de percepção de estímulos e respostas, quando expostos à situações de outras

pessoas vivenciando a dor e analisando sua capacidade de criar empatia nesta situação. O

estudo mostrou, através de imagens, uma significativa falta de ativação do córtex pré-frontal

ventromedial, córtex órbito-frontal lateral e na massa cinzenta periaquedutal relativos a

controles emocionais, para os sujeitos com psicopatia quando comparados aos sujeitos sem

esta patologia.

O artigo "Reduced spontaneous but relatively normal deliberate vicarious

representations in psychopathy” (Redução de representações espontâneas, porém,

relativamente normais em psicopatia), de MEFFERT, GAZZOLA, BOER, BARTELS,

KEYSERS, 2013, versa sobre estudo realizado com criminosos psicopatas e não psicopatas,

expostos à cenas de amor, exclusão, dor e neutralidade, para se verificar a empatia sentida. O

grupo de psicopatas inicialmente não demonstra empatia, mas quando são instruídos a

demonstrar para obter pontos, assim o fazem.

Conforme aborda o artigo “A utilização de exames de Neuroimagem no auxílio do

diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial” (PAZ e SANCHES, 2014) e

corroboram os autores Vasconcellos (2014), Hare (2013) que norteia a maior parte deste

trabalho, Stout (2010) e Ramachandran & Blakeslee (2004), fatores como a biologia,

hereditariedade, influência comunitária e genética podem desencadear em traços de

psicopatia.

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No artigo “Brain Response to Empathy-Eliciting Scenarios Involving Pain in

Incarcerated Individuals With Psychopathy” DECETY; SKELLY; KIEHL, 2013) os autores

expõem alterações nos circuitos cerebrais de psicopatas em áreas relacionadas à emoções,

apresentando assim uma possível causa biológica deste transtorno, bem como o artigo “A

utilização de exames de Neuroimagem no auxílio do diagnóstico do transtorno de

personalidade antissocial” (PAZ e SANCHES, 2014) menciona as múltiplas causas deste

transtorno, dentre elas a influência biológica.

Portanto, considera-se um mito a afirmação de que se nasce psicopata, afinal o

transtorno é influenciado por vários fatores, como: social, biológico, hereditário ou ambiental.

Apenas um destes não caracteriza regra absoluta para que o transtorno de psicopatia se

manifeste. Em suma, não é uma causa específica, mas o conjunto de fatores em si que torna

um indivíduo psicopata, o qual não possui empatia de forma natural, mas sabe reconhecer e

jogar com as emoções dos outros, para obter aquilo que deseja.

29

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho pode-se concluir que o transtorno de personalidade antissocial,

também conhecido como psicopatia ou sociopatia é pouco debatido e muito “midiatizado”.

Devido à grande exposição na mídia, algumas ideias errôneas são divulgadas, e, para

desmistificá-las, devem ser aprofundados os seguintes pontos:

Psicopatia e psicose são dois transtornos diferentes. O primeiro é um transtorno de

personalidade, no qual o indivíduo não tem prejuízo cognitivo e tem total consciência de seus

atos. O segundo é classificado como um transtorno mental, em que o indivíduo perde contato

com a realidade e, consequentemente, com a consciência de si e de seus atos.

A diferença entre o psicopata e o serial killer é que este comete uma sequência de

crimes em um determinado período de tempo e o psicopata possui desvio de comportamento

que o leva a quebrar regras e a se colocar acima da lei, ou seja, um psicopata pode se

comportar como um serial killer, assim como outra pessoa, mas não é regra geral afirmar que

todo psicopata é um serial killer.

Tendo a psicopatia múltiplas causas para se desencadear, tais como, comunitárias ou

genéticas, não é possível afirmar que uma única causa é a razão para o transtorno. A soma de

estímulos negativos, oriundos de ambiente interno e externo, bem como influências humanas

e naturais é que levam um indivíduo a apresentar o quadro de psicopatia.

A psicopatia pode variar em graus de acordo com cada indivíduo, o que significa que

nem todos chegam ao extremo da violência. É preciso buscar mais estudos na área, sugerindo

métodos de tratamento, como a linha de Terapia Cognitiva Comportamental, que, por abordar

questões da cognição, ajuda a reeducar o psicopata e a como lidar com seus sentimentos,

utilizando exercícios e ensinando técnicas de comportamento social.

Promover conteúdo educativo para ajudar pessoas que estão lidando diretamente com

esse transtorno, representados por famílias, amigos e cônjuges, também será uma tarefa

necessária para os próximos anos, pois é preciso divulgar o assunto de forma objetiva, tirando

o foco apenas da violência associada, sem criar mitos, crenças ou conceitos equivocados.

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Transtornos Mentais. 5ª ed. Texto revisado (DSM-5-TR). Porto Alegre: Artmed.

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