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Natureza & Conservação Abril 2007. vol.5. nº 1. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Natureza & Conservação. Curitiba-PR. v.5 nº1. pp 1-168. Abril 2007 ISSN 1679-0073

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Natureza

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Natureza & Conservação

Abril 2007. vol.5. nº 1. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza

Natureza & Conservação. Curitiba-PR. v.5 nº1. pp 1-168. Abril 2007

ISSN 1679-0073

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Expediente

Revisão de idioma (português)Jan Gerd Schöenfelder

Revisão de idioma (inglês)Maísa Guapyassú

Tradução Português/Inglês e Inglês/PortuguêsArabera Traduções

Supervisão gráficaDaniélle Carazzai

Editoração:SK Editora Ltda.(Saulo Kozel Teixeira)

Impressão:Posigraf

Tiragem2.600 exemplares

A Revista Natureza & Conservação é totalmente impressa em papel 100% reciclado off set alcalino com 25% de aparas pós-consumo, nas gramaturas 90 e 150 g/m2 . Esta é uma opção daFundação O Boticário de Proteção àNatureza que está diretamente relacionada com o compromisso da organização em proteger a natureza.

Fotos capa:Haroldo Palo Jr.

A Fundação O Boticário apoiou oprojeto “Estudo da herpetofauna dosenclaves úmidos do estado doCeará”, cuja pesquisa encontrou 1124espécies da herpetofauna, 12 delasdesconhecidas para ciência e 22novos registros para o Ceará.

Paisagem de Anavilhanas, arquipéla-go fluvial formado por 400 ilhas es-palhadas pelo Rio Negro, Amazonas.A Fundação apoiou o projeto“Monitoramento das populações de jacarés deAnavilhanas”, no intuito de con-

tribuir para construção de um plano de preservação.

Fotos internas:Gustavo Gatti e Haroldo Palo Jr.

Fundação O Boticário de Proteção à NaturezaRua Gonçalves Dias, 225. Batel.Curitiba – Paraná – CEP 80240-340Fone: +55 41 3340-2636Fax: +55 41 3340-2635e-mail: [email protected]://www.fundacaoboticario.org.br

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Corpo Editorial de Natureza & Conservação

SECRETARIA EXECUTIVAFundação O Boticário de Proteção à Natureza: Maria de Lourdes Nunes; Maísa Guapyassú; Leide Yassuco Takahashi; Laurenz Pinder

CONSELHO EDITORIALMiguel Serediuk Milano – Editor-ChefeAlfred Runte – Pesquisador Autônomo – EUA; Carlos Firkowski – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Brasil; Fabio Olmos –Pesquisador Autônomo – Brasil; Fernando Fernandez - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Brasil; George Wallace – ColoradoState University – EUA; Glenn Haas – Colorado State University – EUA; Gustavo Fonseca - Conservation International – EUA; Ibsen deGusmão Câmara – Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação – Brasil; John Terborgh – Duke University – EUA; Katrina Brandon -Conservation International – EUA; Kent H. Redford – The Wildlife Conservation Society – EUA; Kenton R. Miller – World Resources Institute-EUA; Marc Douroujeanni – Fudação Pro-Naturaleza – Peru; Mauro Galetti – Universidade Estadual Paulista – (UNESP-Rio Claro) – Brasil;Patrick Tierney – San Francisco State University – EUA; Paulo Kageyama – Universidade de São Paulo (ESALQ) Brasil; Peter GrandsenCrawshaw Jr – IBAMA – Brasil; Richard Primack – Boston University - EUA

GRUPO DE REVISORESAdemir Reis – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Brasil; Adriana Maria Zalla Catojo Rodrigues Pires - Universidade Federalde São Carlos (UFSCAR) – Brasil; Anthony Brome Rylands - Conservation International – EUA; Antonio Solé Cava - Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ)– Brasil; Armando Cervi - Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Brasil; Carlos Peres – University of East Anglia– Reino Unido; Carlos Ramón Ruiz-Miranda – Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) – Brasil; Efraim Rodrigues –Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Brasil; Emygdio Leite de Araújo Monteiro Filho - Universidade Federal do Paraná (UFPR) –Brasil; Érica P. Caramaschi - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)– Brasil; Everton Passos – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Brasil; Francisco Manuel de Souza Braga - Universidade Estadual Paulista (UNESP-Rio Claro) – Brasil ; Frederico Pereira Brandini– Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Brasil; Gunars Hauff Platais – Banco Mundial – EUA; James J. Roper – Pesquisador autônomo –EUA; Jane Maria Vasconcellos – Pesquisadora Autônoma – Brasil; Jaqueline Maria Goerck - Birdlife International do Brasil – Brasil; Jean PaulMetzger – Universidade de São Paulo (USP) – Brasil; José Salatiel Rodrigues Pires – Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) – Brasil;Letícia Peret Antunes Hardt – Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR); Luciano M. Verdade - Escola Superior de AgriculturaLuiz de Queiroz (ESALQ) – USP – Brasil; Luiz dos Anjos – Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Brasil; Luiz Carlos de Miranda Joels– Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) – Brasil; Marcos Rodrigues – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Brasil; MarceloTabarelli – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Brasil; Márcia Cristina Mendes Marques - Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Brasil; Maria Cecília Martins Kierulff – Conservation International do Brasil – Brasil; Maria Inez Pagani – Universidade EstadualPaulista – (UNESP-Rio Claro) – Brasil; Marco Aurélio Pizo – Universidade do Vale dos Sinos – Brasil; Milton Kanashiro – Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) – Brasil; Paulo dos Santos Pires – Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) – Brasil; Pedro F. Develey- Birdlife International do Brasil – Brasil; Sérgio Lucena Mendes – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Brasil; Sérgius Gandolfi- Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) – USP – Brasil; Stuart Marsden – Manchester Metropolitan University – Inglaterra;Teresa Cristina Magro – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) – USP – Brasil; Vania Regina Pivelo – Universidade de SãoPulo (USP) – Brasil; Wesley R. Silva - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Brasil; William E. Magnusson – Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia (INPA) Brasil; William Laurance – Smithsonian Tropical Research Institute - EUA

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ObjetivosEm sintonia com sua missão de conservação da natureza, a Fundação OBoticário de Proteção à Natureza publica Natureza & Conservação, queapresenta textos de caráter científico, filosófico e técnico, abordando temasrelacionados à biologia da conservação, manejo de áreas naturais protegidase ética ambiental, entre outros. Natureza & Conservação é um periódico se-mestral bilíngüe (português e inglês) que tem por objetivo promover dis-cussões, disseminar idéias e apresentar resultados de pesquisas voltadas àconservação da natureza com enfoques locais, regionais, nacionais e globais.

Não existem restrições com relação aos potenciais autores a serem publicadosem Natureza & Conservação; no entanto, os artigos devem estar diretamenterelacionados com a conservação da natureza.

Envio de artigosTodas as contribuições, incluindo artigos, livros para resenha e infor-mações para a seção de notas devem ser enviados em meio digital àSecretaria Executiva de Natureza & Conservação, preferencialmente eminglês e português, para natureza&[email protected],ou via correio para Rua Gonçalves Dias, 225. Batel, Curitiba, Paraná,80240-340, Brasil.

O Conselho Editorial se reserva o direito aceitar os artigos para a publicação,após a revisão por especialistas que compõem o Grupo de Revisores daRevista. A Fundação o Boticário de Proteção à Natureza detém os direitos domaterial publicado.

Direitos autoraisTodas as informações e opiniões expressas nos artigos publicados são de in-teira responsabilidade de seus autores. Os artigos aceitos se tornam copy-right da Revista (© 2007 Fundação o Boticário de Proteção à Natureza).

A reprodução total ou parcial dos artigos só pode ser feita citada a fonte,não sendo permitido seu uso para fins comerciais, sem autorização expres-sa da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.

Indexações e base de dadosNatureza & Conservação está nos seguintes indexadores e base de dados: Periodica CABI International Latindex Qualis B na área de Ecologia e Meio Ambiente da CAPES.Qualis B na área de Ciências Agrárias da CAPES.Qualis B na área Multidisciplinar da CAPES.

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Su

mári

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Conte

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Ponto de Vista

8 APA: fatos, desejos sonhados e propagandiceCarlos Firkowski

Artigos Técnico-Científicos

15 Padrões e causas do desmatamento nas áreasprotegidas de RondôniaMaria Beatriz N. RibeiroAdalberto Veríssimo

27 Aspectos da atividade de caça no ParqueNacional Serra da Capivara, estado do Piauí,BrasilCleuton Lima Miranda Gaspar da Silva Alencar

35 Evolução anual de desmatamento na FlorestaNacional de Tapajós: 1997-2005Daniel Cohenca

45 Aplicação da análise da cadeia casual emunidades de conservação. Um estudo de ca-so: Área de Proteção Ambiental doAnhatomirim (SC – Brasil)Diana Carla Floriani Luiz Fernando ScheibeMarcus Polette

54 Avaliação do desmatamento após a inter-rupção do processo de criação de áreas prote-gidas em GoiásFabrício Assis Leal Mário Barroso Ramos-NetoRicardo Bonfim Machado

65 Estudo global da efetividade de manejo deunidades de conservação: a perspectivabrasileiraHelena Boniatti Pavese Fiona LeveringtonMarc Hockings

78 Agenda

80 Instruções Gerais para Autores

Point of View

96 Environmental Protected Area: facts, desiresdreamed and propagandaCarlos Firkowski

Technical – Scientific Articles

103 Patterns and causes of deforestation in pro-tected areas of Rondônia - BrazilMaria Beatriz N. RibeiroAdalberto Veríssimo

114 Aspects of hunting activity in Serra daCapivara National Park, in the state of Piauí,BrazilCleuton Lima Miranda Gaspar da Silva Alencar

122 Annual evolution of deforesttion in theTapajós National Forest: 1997-2005Daniel Cohenca

132 Application of the causal chain analysis toprotected areas. a case study: EnvironmentalProtected Area of Anhatomirim (SC – Brazil) Diana Carla Floriani Luiz Fernando ScheibeMarcus Polette

141 Evaluation of deforestation after the interrup-tion in the creation process of protected areasin Goiás Fabrício Assis Leal Mário Barroso Ramos-NetoRicardo Bonfim Machado

152 Global Study of Protected AreasManagement Effectiveness: the Brazilian perspective Helena Boniatti Pavese Fiona LeveringtonMarc Hockings

163 Datebook

165 General guidelines to contribuitors

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6Editorial Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 6-7

Caro leitor

Esta edição de Natureza & Conservação é publi-cada para coincidir com a realização do 5ºCongresso Brasileiro de Unidades deConservação, que acontece nesta segundaquinzena de junho em Foz do Iguaçu e, assim co-mo ocorreu com a edição de outubro de 2004(vol.2 no.2), celebrar este que é o mais importanteevento conservacionista sul-americano de caráterregular.

O Congresso ocorre combinadamente com oSimpósio Internacional de Conservação daNatureza e a 2ª Mostra de Conservação daNatureza, objetivando, além de seus fins in-trínsecos, consolidar-se como evento de caráter in-ternacional. Natureza & Conservação, uma publi-cação internacional desde seu nascimento, com es-ta edição antecipada e com artigos exclusivamenterelacionados ao tema do Congresso, apóia e acabasendo parte do evento – uma positiva associação.

A essência do Congresso é discutir em bases atu-ais, científicas, técnicas, legais e políticas, a criaçãoe o manejo de áreas protegidas neste crítico mo-mento de nossa civilização, tendo em vista as con-seqüências prementes dos impactos humanos so-bre o planeta, mormente em termos de câmbiosclimáticos. Natureza & Conservação, nesta edição,com o conjunto de artigos que lhes apresenta, trazuma boa mostra da dificuldade que é conservar anatureza por meio da efetiva proteção de áreasnaturais nos países em desenvolvimento, como éo caso do Brasil.

Abre a revista artigo de opinião de CarlosFirkowski sobre “áreas de proteção ambiental”,

Editori

al categoria de manejo de área protegida no Brasil,

que se assemelha ao conceito dos “parques natu-rais” europeus (franceses, espanhóis e alemães),cujos efetivos resultados para a conservação nonosso país vêm sendo questionados há tempos ede forma cada vez mais dura. Neste artigo, que éuma crônica crítica e bem humorada, o autor des-tila críticas severas ao que considera inconsistên-cia conceitual e explícita ineficiência da categoriade manejo. Sugere também, para o bem da con-servação, o fim dessa categoria e de todas as áreasprotegidas ditas de manejo sustentável (categorias4 a 6 da IUCN).

Na seqüência, Maria Beatriz N. Ribeiro eAdalberto Veríssimo apresentam os “padrões ecausas de desmatamento nas áreas protegidas deRondônia”, o estado da Amazônia brasileira que,juntamente com Mato Grosso, encarna o exemplomáximo da ocupação territorial com degradaçãoambiental na região. Neste estado de recente ocu-pação humana e onde o desmatamento já atingiu32% do território, as áreas protegidas represen-tam, pelo menos conceitual e legalmente, a últimabarreira contra a degradação ambiental. Mas asituação encontrada pelos autores não é bem essae, no artigo, ambos identificam e quantificam odesmatamento nas próprias áreas protegidas doestado e avaliam suas causas. Segundo Ribeiro eVeríssimo, em 2004 aproximadamente 6,3% daárea total protegida de Rondônia já havia sidodesmatada, sendo que, proporcionalmente à áreatotal, as unidades de conservação estaduais foramas mais desmatadas, enquanto aquelas federais eas terras indígenas foram as menos afetadas. Osautores também verificaram que as unidades deconservação que em 2006 deixaram de ser reco-nhecidas como áreas protegidas pelo GovernoEstadual apresentaram taxas de desmatamentosignificativamente maiores do que as demais, oque foi o caso do Parque Estadual de Candeias edas Florestas Estaduais de RendimentoSustentado do Rio São Domingos, do RioRoosevelt e do Rio Mequéns. Para os autores, asduas principais causas para o maior desmatamen-to nas unidades estaduais foram a falta de açãopor parte do próprio Governo do Estado para asua proteção e a proximidades dessas unidadesdos pólos madeireiros e dos centros de produçãopecuária do estado.

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7Editorial Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 6-7

Editorial

Cleuton Lima Miranda e Gaspar Silva Alencar a-presentam e discutem “aspectos da atividade decaça no Parque Nacional da Serra da Capivara,Estado do Piauí, Brasil”, resultados de estudos re-alizados nesta que, além de área formalmente pro-tegida, é reconhecida como prioritária para a con-servação da biodiversidade do bioma Caatinga.Segundo os autores, entre maio de 2000 e outubrode 2003 foram emitidos 112 autos de infração, comos quais também foram apreendidos 398 animais,de onze espécies de mamíferos e cinco de aves,sendo o número de ocorrências maior no entornoque no interior do parque em si. Para além dopróprio impacto da caça, os autores consideramque os resultados demonstram que há predo-minância da caça comercial em relação à caça desubsistência, uma ilegalidade mais grave, sendonecessário intensificar as atividades de fiscaliza-ção e de educação ambiental para redução doproblema.

Daniel Cohenca apresenta a “evolução anual dodesmatamento na Floresta Nacional do Tapajósentre 1997 e 2005”. No artigo, o autor informa quena unidade são autorizados pelo IBAMA des-matamentos para roçados de até três hectares, masque o órgão detecta ocorrências de desmatamen-tos maiores, ilegais, com finalidades não con-dizentes com as normas existentes para as áreaspovoadas da unidade de conservação. Os resulta-dos indicam tanto (a) haver uma curva anual as-cendente de desmatamentos na unidade, que estáassociada ao preço de produtos agrícolas, comotambém (b) que 33% do total desmatado no perío-do estudado ocorreu em áreas de floresta primária(um total de 1.786 ha com média de 198 ha/ano).

Diana Carla Floriani e outros estudaram a “apli-cação da análise de cadeia causal em unidades deconservação”, tendo a Área de ProteçãoAmbiental de Anhatomirim por caso de estudo. Omodelo adaptado e aplicado à unidade de conser-vação permitiu identificar três problemas ambien-tais principais: (a) poluição; (b) modificação deambientes e comunidades; e (c) exploração não-sustentável dos recursos vivos. Para cada um de-les foi construída uma cadeia causal específica,identificando-se suas causas imediatas, setoriais, esuas origens, permitindo aos autores concluir quea unidade de conservação objeto de estudo não foi

adequadamente implementada e que os objetivosde sua criação não estão sendo atingidos.

Por fim, Fabrício Assis Leal e outros apresentamresultados de “avaliação do desmatamento após ainterrupção de processo de criação de áreas prote-gidas em Goiás”. Estudando os resultados da in-terrupção do processo de criação do Refúgio deVida Silvestre da Panela, pela Secretaria de Estadodo Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, e doParque Estadual da Serra do Caiapó, pela AgênciaGoiana de Meio Ambiente, os autores verificaramque as taxas médias anuais de desmatamento nes-sas regiões ficaram acima da média encontradapara o Cerrado e que esse aumento se deveu, emparte, à intenção dos proprietários rurais em re-duzir o valor de suas propriedades para fins deconservação e assim evitar sua inclusão nasunidades de conservação propostas (comporta-mento confirmado por depoimentos dos própriosproprietários). Os autores, porém, não encon-traram diferença significativa ao nível de 5% entreas áreas desmatadas internas e externas aos polí-gonos propostos para conservação, não se eviden-ciando a hipótese esperada de que a interrupçãodo processo para a criação das unidades de con-servação tivesse prejudicado áreas com granderelevância biológica.

Como é facilmente percebível, os artigos destaedição explicitam, mais uma vez, o conhecido eenorme desafio que temos para efetivamente con-servar as áreas naturais no Brasil (assim comotambém em outros países em desenvolvimento).Problemas legais e políticos, que vão de conceitosmal-estabelecidos à falta de recursos para pro-teção ou à descontinuidade de ações de manejo,levam a toda sorte de resultados negativos paraáreas que deveriam representar o melhor da con-servação e o máximo da proteção. Ou seja, umacontradição só explicável pelo eterno conflito en-tre conservação e desenvolvimento nesta parte domundo que, desafortunadamente, concentrariqueza biológica e pobreza material e política.

Boa leitura!

Miguel Serediuk MilanoEditor-chefe

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8Ponto de Vista Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 8-14

Carlos Firkowski

Nós estamos de passagem, mesmo com a in-tensa e profunda crença de alguns que, detanto desejarem, imaginam que voltarão. Nósnão levamos nada, mesmo com a minhateimosia de não querer abandonar minhamemória, pelo seu inestimável valor paramim. Isso de vir, voltar e não querer largar melembra do ditado bíblico: da terra viemos epara a terra voltaremos. Ela sim é bem maisperene. E é a essa terra, a qual nos dá vidamomentaneamente, que deveríamos dispen-sar um tanto de fé. É ela que, pela teimosiadas forças da natureza, representa o valormáximo e inestimável para nós. Por ela ficar,devemos pensar como a deixaremos paraquem dela brota (e possa continuar a brotar).Nada mais justo que oferecer as mesmas pos-sibilidades, dar as mesmas chances para usarvantajosamente a Terra. Portanto, por argu-mento de justiça, não devemos e nãopodemos reduzir o seu potencial de suportara vida; é como não gastar o que não é nosso.É quase a mesma idéia por trás da recomen-dação que dou aos meus amigos que me pe-

dem emprestado o apartamento da praia –usem sem deteriorar o potencial, que poderãocontinuar a usar, inclusive com seus futurosfilhos.

Para sermos justos, então, o nosso uso da ter-ra deve ser inteligente: podemos escolher ocaminho mais acertado de só recolher o exce-dente, cuidando assim da nossa galinha dosovos de ouro. Podemos tirar algo da terra semdeteriorar além do que se poderia supor quequalquer animal o faria. Com técnicas emaneiras de ocupar o espaço, podemos usarmuitos ovos por tempo indeterminado e semmagoar nossa provedora.

Como pôr em prática estas técnicas e formasde ocupação? Os pesquisadores nos forneceminformações pontuais. Espera-se que, com al-gum trabalho, essas sejam traduzidas empráticas saudáveis para melhorar ainda maisa existência da nossa galinha dos ovos deouro, enquanto nos dá suporte à vida. Mas al-guém deve trazer para os usuários diretos amensagem dessas práticas saudáveis e for-mas inteligentes de ocupar o espaço. Isso de-veria acontecer por meio de um serviço de ex-tensão do Estado que disponibilizasse técni-

APA: fatos, desejos sonhados e propagandice1

Carlos Firkowski, Dr2

• Universidade Federal do ParanáSetor de Ciências Agrárias - Departamento de Engenharia Florestal

RESUMO. O artigo discute a questão de uso e posse responsável da terra, avaliando e criticando opapel do Estado nesse sentido e questionando a validade das Áreas de Proteção Ambiental (APA)para a proteção da biodiversidade, pontuando que sua função seria atendida caso o Código FlorestalBrasileiro e legislações complementares fossem cumpridos.

Palavras-chave: uso da terra, Código Florestal, unidades de conservação

1 Enviado originalmente em português 2 [email protected]

Ponto

de v

ista

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cos capazes, com conhecimento, experiência eembasados em informações relevantes(safras, demandas, preços, financiamentos,seguros, processos, infra-estrutura etc).

Esses técnicos (ou anjos da guarda), sem cus-tos ou burocracias e sem precisar ser chama-dos, viriam visitar regularmente cada usuáriodireto. Conheceriam cada proprietário, suaspotencialidades e limitações. Esclareceriamaspectos legais e seriam capazes de propor al-ternativas, ajudando o pequeno agricultor afazer um uso inteligente da terra, com respeitoà legislação, para que pudesse lhe dar susten-to de maneira, como se diz muito por aí, sus-tentável e, como não se diz por aí, por toda aeternidade. Isso é muito diferente de ligarmospara algum serviço de atendimento aoagricultor depois de assistir a um programade divulgação rural e resolver pedir socorroquando o solo da propriedade já estiverdegradado, esperando de modo nervoso quealgum técnico apareça com uma varinha decondão para recuperar uma paisagem agoni-zante.

Acredito que todo pequeno produtor ruralhonesto desejaria estar dentro da legalidade,produzir algo por um valor justo, ter apoio ecerteza de que estará deixando para os filhosalgo útil. Para isso, o Estado deveria ter, emcada município, uma agência de extensãocom técnicos capazes e com vontade de fazerdiferença junto ao seu público. Técnicos quedeveriam ser como aqueles que trabalhampara as empresas que fabricam venenos e her-bicidas. Estes sabem o nome e capacidade decada comprador, sabem o que plantam e oque devem usar para colher safras enormes,envenenadas à custa da saúde e de partes vi-tais da nossa “galinha”.

Tal agência do Estado deveria proporcionar,aos pequenos, uma esperança de vida, depoder se manter na terra, de continuar a tê-la,de poder passar para seus filhos algo vivo (demortos já bastam o pai ou a mãe). Com ma-pas, fotos aéreas, um bom banco de dados,previsões confiáveis, experiência, conheci-mento e força de vontade, os técnicos estari-

9Ponto de Vista Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 8-14

APA: fatos, desejos sonhados e propagandice

am constantemente orientando os pequenos,individualmente ou em grupos, e com certezafariam deste município sonhado um bom ebem-sucedido exemplo.

Assim administrado e usado, vista lá de cima,a área rural do meu município pareceria algobem mais agradável à vista, com áreas de usointensivo, com outras de uso temporário, ou-tras ainda com uso esporádico e aquelas quedevem se manter intocadas (inclusive pelasvacas, cabras, pessoas, gatos e cachorros) paraque cumpram o papel a que se destinam, deproteção e manutenção do ambiente físico ebiológico. No meu sonhado município, nãohaveria apenas esta assistência, mas escolasonde os bem pequenos já pudessem aprendera única verdade sobre sustentabilidade. Oaprendizado seria constante e coletivo, osachados benéficos seriam socializados e os er-ros pontuais virariam tabus. E, como tabus,passariam à marginalidade; ninguém gostade ser associado a eles e qualquer um os con-denaria. Seria consenso que há certos limitesa serem obedecidos, que algumas situações seprestam e outras não, que colocar todos osovos num único cesto é se arriscar demais,que a mágica propagandista é ilusão.

Expondo minha divagação desta forma, estáme parecendo que me refiro a algo que lem-bra, pelo menos no discurso, uma invençãomuito em voga nos últimos tempos. Um taltipo de unidade de conservação (UC) chama-do de área de proteção ambiental - APA. Tiveque buscar mais informação para descobrir osignificado desta “área de proteção ambien-tal” para verificar como se compara às min-has áreas de proteção ambiental que, natural-mente, existem, fazem parte e são necessáriase respeitadas no meu sonhado município.Por mais que buscasse esclarecimentos, nadame satisfez. Aquilo que faz parte de uma construção retórica do Estado para se justi-ficar quanto à conservação da natureza, pormeio de UCs, é um plágio dos meus de-vaneios e desejos.

Esforcei-me, mas minha conclusão é que essatal de APA nada mais é do que o mínimo de-

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10Ponto de Vista Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 8-14

Carlos Firkowski

partem para as falsas, aquelas de ‘desenvolvi-mento sustentável’ seja lá o que isso sig-nifique. E nelas injetam os parcos recursos fi-nanceiros ora alocados para o manejo dasunidades de conservação. Já as verdadeirasunidades de conservação ou aquelas de usoindireto de recursos naturais, como os par-ques nacionais, ficam a mingua. Claro, os bi-chos não votam.”

Aproveito a mira certeira e reproduzo maisuma observação de Maria Tereza:

“Por isso mesmo é a categoria de manejo quemais proliferou, tanto no nível federal, comonos estaduais. Em vários artigos, já men-cionamos o quanto o governo brasileiro jágastou para implementar APAs que jamaisfuncionaram, como as do Descoberto e a deSão Bartolomeu no DF, entre muitas outras.Chegou-se a gastar, no passado, a bagatela de15 milhões de dólares em nove APAs, o quesignificou, no mesmo período, menos do quese aplicou em todas as demais unidades deconservação. Mas, como é a categoria mais fá-cil de ser decretada e mais útil para finsdemagógicos, foi usada a torto e direitochegando-se ao absurdo de se estabelecerAPA até no Jockey Club de uma capital, ou nobairro de Laranjeiras no Rio. É isso mesmo,APA serve para tudo.”

Essa “bagatela de 15 milhões de dólares” in-vestidos em nove APAs foi assunto de umaavaliação feita por Jesus M. Delgado. É tristedescobrir que pouco ou quase nada se fez emtermos de um uso mais inteligente do espaço.A maioria não tem nem sequer uma adminis-tração, não tem orçamento, não tem entradade recursos, não cumpre as normas, não édiferente das áreas vizinhas, gastou os recur-sos em um plano para a APA e, depois disso,mais da metade declara a que situação piorouou não mudou.

Fui buscar mais informação em um docu-mento resultante de um seminário intitulado“Gerenciamento de áreas de proteção ambi-ental no Brasil”, de 2003. Das 64 APAs queforam representadas neste seminário, 37 de-las realizavam atividades de algo denomina-

sejável em termos de uso e ocupação do es-paço: inteligente, técnico, viável e obedecen-do à lei, com o suporte necessário e indispen-sável do Estado por intermédio de um serviçode extensão que qualquer cidadão, que pagauma fortuna de impostos, merece. Como es-crevo com a cabeça e o coração de um pe-queno proprietário que, em geral, não en-tende nada destas legislações, decretos, re-gras, normas, procedimentos, leis etc, fui bus-car apoio na opinião de especialistas. Recorrià opinião da Maria Tereza Jorge Pádua sobreesse tipo de unidade, que diz: “Talvez nãoexageraríamos se disséssemos que é inútil emnosso país. Isto porque é a declaração de pro-teção de uma área que fica, em quase sua to-talidade ou em sua totalidade, nas mãos departiculares, onde as restrições de uso, por-tanto, são aquelas da legislação orgânica váli-da para qualquer propriedade no país. Emoutras palavras, só se pode restringir em umaAPA o mesmo que se pode restringir em qual-quer outro lugar, APA ou não”.

Com este esclarecimento, percebi que a inca-pacidade do Estado chegou a um ponto quebeira o limite do ridículo; busca-se uma saídamisturando alhos com bugalhos. Aquilo quequalquer um definiria como um uso e ocu-pação inteligentes se transforma, como pormilagre, em unidade de conservação, ficandoo resto relegado à própria sorte, como é cos-tume. O pequeno, que já estava desamparado,se vê agora como um paladino justiceiro respon-sável pela conservação da natureza: aqui estãoseus deveres Sr. Protetor Voluntário. O Estado,que já não dava atenção, mesmo tendo impos-tos a colher destes proprietários, agora deveordenar as atividades, usos e formas de ocu-pação de maneira a concretizar o meu sonho.Se nem para fazer cumprir o mínimo que es-tabelece a legislação pertinente o Estado é ca-paz, que mágica se espera desta cartola pro-pagandista? O circo está lotado de palhaços ede alguns daqueles que endoideceram, pois,segundo Maria Tereza há mais desgraça acaminho:

“... sobre o impasse do estabelecimento deverdadeiras áreas protegidas. Aí então

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11Ponto de Vista Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 8-14

APA: fatos, desejos sonhados e propagandice

do de educação ambiental como projeto prin-cipal e 25 delas não desenvolviam nenhumaatividade. Dos problemas listados por 51 de-las, 26 citaram que o desinteresse dos mem-bros do conselho gestor, do governo, doscidadãos e das empresas era o que não per-mitia que a idéia de APA fosse efetivada. Éuma graça a posição e opinião de alguns dosdirigentes, citando que um dos problemasque enfrentam é a “resistência de propri-etários em estabelecer suas áreas de preser-vação permanente e de reserva legal”. Issonão é problema do administrador da APA, écaso de polícia e multa que mexa no bolso,cofre ou conta bancária.

Gostei da fonte de recursos e projetos desen-volvidos por elas. Dos 50 projetos desenvolvi-dos, 52% foram graças a trabalho voluntário,29% foram viabilizados com recursos origina-dos em atos de degradação ambiental (termosde ajustamento de conduta) e 18% por recur-sos governamentais. Um deles foi a campa-nha “árvore nativa” que se resumiu numpleito eleitoral (com uma intensa atividade deeducação ambiental “política”) envolvendo7.000 pessoas para escolher a árvore-símbolo.O outro foi uma campanha de prevenção a in-cêndios florestais que contou com a partici-pação de artistas. Se não fosse uma APA, na-da disso seria possível. É um exemplo extra-ordinário!

Outro exemplo de APA funcionando é umaque em dois anos promoveu 126 reuniões,participou de 32 grupos de trabalho e aten-deu a 63 denúncias. Está parecendo uma mis-tura de igreja e confessionário. Procurei algu-ma realização mais terrena, mas era sófalatório e grande esforço para ensinar aos as-sentados a plantar e cultivar a terra, além dapoliticagem para licenciar tais assentamentos.

De uma outra, em região em processo de de-sertificação, as demandas eram de falta de in-formação sobre o que era uma APA, da faltade placas de “marketingue” da APA e da fal-ta de fiscalização. Foram até os órgãos com-petentes (IBAMA e Batalhão Ambiental doEstado) e, por mais absurdo que possa pare-

cer, estabeleceram que suas funções deveriamser cumpridas. Através de um convênio como DER, conseguiram que o órgão confec-cionasse e instalasse as placas de propaganda.

Fico pensando que se tivesse minha pro-priedade de 8,7 hectares numa destasmirabolantes APAs, eu estaria profunda-mente convencido de que fui vítima de algumcastigo divino. Não tenho e nunca tive nestesdezenove anos como proprietário rural qual-quer oferta de atenção por técnicos de algumserviço de extensão, só visitas de fiscais, ou-tros funcionários do Estado para verificar sehavia algo fora de lugar. Uma das últimasperipécias (após perícia policial), foi a situ-ação a que me submeteu um delegado ao meperguntar se eu era possuidor de uma “li-cença para armazenar lenha” que eu legal-mente explorei (a legalidade, no meu caso, es-tá unicamente condicionada ao pagamentode taxas/impostos/contribuições ou outracategoria de gasto para o cidadão). Agora, eusendo um vigilante voluntário e fiel de-positário de uma unidade de conservação,minha vida vai se tornar um inferno, bem de-limitado por fantásticas declarações que fi-cam no papel. As barreiras aumentarão, as in-certezas serão maiores e só em sonhospoderei ver algo realizado.

Para aumentar meu desespero, li no mesmodocumento resultante do seminário aseguinte declaração de “conteúdo” (sem con-teúdo para mim): “esta categoria ao mesmotempo respeita a propriedade privada (comose outras não respeitassem ou fosse anormalrespeitar), não impõe a desocupação humana(só faltava respeitar e mandar esvaziar) e ain-da promove a melhoria da qualidade de vidadas pessoas ali inseridas (eu queria saber co-mo, em que aspecto, quando, onde, quais sãoos exemplos), por meio da regulamentaçãodo uso e ocupação da terra (balela, pois já éadequadamente regulamentada pelo CódigoFlorestal e legislação complementar e que épouco respeitada pela sociedade e quase nun-ca cobrada pelo Estado) e da promoção douso sustentável dos recursos naturais (paraexemplificar só falta citar a rapinagem que se

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pratica nas reservas extrativistas quando co-letam todas as castanhas que as mãos al-cançam)”.

A legislação brasileira pertinente é uma dasmais técnicas e avançadas do mundo.Experiência, bom senso, lógica e um tanto deorientação facilmente dariam cabo dos outrospequenos problemas que podem surgir seseguirmos apenas a legislação. Um produtorrural, de bom senso e com o desejo de deixarainda melhor a terra para os que lhe sucedem,daria conta destes pequenos problemas comum adequado serviço de extensão. Com re-lação a esses pequenos problemas, sempre mevem à mente a questão: caso toda a pro-priedade respeitasse a legislação, mantendoas áreas de preservação permanente e umareserva legal, quais seriam os nossos proble-mas ambientais?

Tenho certeza de que estaríamos com umaamostra da natureza em torno dos 40%, igualao que atualmente os EUA possuem (bastaadicionar as áreas que pela topografia invia-bilizam qualquer uso, as áreas muito úmidasou as muito secas e a visão de futuro e respeitoà vida de alguns proprietários). Tenho certezade que a qualidade das águas seria de causarinveja aos europeus. É bem provável que amaioria das espécies ameaçadas estaria nosameaçando.

Assim, não conseguindo fazer cumprir legis-lação, o Estado cria um tipo de unidade que éum eco longínquo, plágio do meu sonho, masque, na prática, só fica no pesadelo. O pior éque esse ato é só uma espécie de propagandaenganosa. O que quer dizer APA para os pe-quenos? Numa avaliação de três grupos decomunidades do interior da baía deGuaratuba, PR, quase 100% da população nãosabe o que é uma APA. O mesmo percentualnão sabe que vive numa APA e, conseqüente-mente, 100% deles nunca participaram deuma reunião sobre a APA. Só “aporrinhação”.Só dor de cabeça. O Estado diz o que nãopode e não ajuda naquilo que é possível, de-sejável e adequado. Mas, nem todos doEstado têm a mesma visão. Andréa Vulcanis,

à época procuradora federal no Ibama/PR,faz a seguinte declaração sobre a ingerênciado Estado na propriedade privada inseridaem uma APA: “Uma das formas de mini-mizar conflitos existentes entre a propriedadeprivada e a preservação/conservação ambi-ental é através da introdução de modelos pro-dutivos que garantam a sustentabilidade nouso dos recursos naturais aliados à assistênciatécnica e à extensão rural qualificadas”. Eugostei, pois já estou mais próximo de ver meusonho realizado. Mas, fico me perguntando seesse não é o papel do Estado em qualquersituação.

Copiei uma definição politiqueira: “APA éuma área em geral extensa, com certo grau deocupação humana, dotada de atributosabióticos, bióticos, estéticos ou culturais espe-cialmente importantes para a qualidade devida e o bem-estar das populações humanas,e tem como objetivos básicos proteger a di-versidade biológica, disciplinar o processo deocupação e assegurar a sustentabilidade douso dos recursos naturais”. Para mim, oupara qualquer pessoa que faça um mínimo deesforço mental, qualquer área tem osprimeiros atributos, sem a pretensão de pro-teger a biodiversidade; também nenhuma de-las irá disciplinar a ocupação (já estão ocu-padas e o Estado sempre demonstrou inca-pacidade nesse sentido); e assegurar a sus-tentabilidade é problema insolúvel, face aocrescimento populacional, ao capitalismo sel-vagem, à ilusão criada por novas necessi-dades e ao abuso no uso de tudo que está aonosso alcance.

Para mim, porém, há mais, e além das restriçõessem soluções impostas por uma destaschamadas unidades de conservação. Será quenão é uma estratégia para enganar a so-ciedade? Será que não é uma maneira dissi-mulada de fazer com que a opinião pública setorne meio distorcida em relação à conser-vação da natureza?

Será que não é mais uma estratégia para criarmultas e impostos dos quais muitos corrup-tos usufruem?

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APA: fatos, desejos sonhados e propagandice

Quando se afirma que uma reserva extra-tivista, onde se coleta o máximo de castanhasque o lombo agüenta, é uma unidade que ob-jetiva, entre outros, a conservação da na-tureza, qual será o entendimento de um cri-ador de gado que usa as florestas, as áreas depreservação ou a reserva legal como área depastagem? É bem provável que ele assumaque usa sua propriedade da mesma forma queaquela preconizada por uma reserva extra-tivista. Ele não corta as árvores e suas vaqui-nhas ainda deixam lindos e quentes presentesverdes. Quem irá ser contra quando ele segueo exemplo dado pelo Estado? Suas vaquinhassó comem o mato que deixa tudo sujo! Se fun-ciona bem assim, alguém vai perguntar qual arazão para termos áreas como o ParqueNacional do Iguaçu, que não permite o uso di-reto? Que se deixe os povos tradicionais fa-zerem o uso inteligente dos recursos; eles fi-cam com o bom e a sociedade fica com o ruim.

Quando se diz que uma floresta nacional(FLONA), aqui do sul do Brasil, é umaunidade de conservação, eu pergunto o queela conserva? Qual é a diferença entre aFLONA de Três Barras/SC ou a doAçungui/PR e uma empresa como a Klabinem termos de conservação? Mais confuso ficao sujeito quando se diz que são unidades deconservação as tais reservas extrativistas e asreservas de desenvolvimento sustentável. Éuma grande confusão que se instala na mentede qualquer um, de forma premeditada oupor falta de clareza. Querem criar, na so-ciedade, uma ilusão de que se pode usar eabusar sem provocar nenhuma reação.Esquecem daquela premissa bem básica quese ensina no primário: a toda ação correspondeuma reação de mesma intensidade e sentidocontrário.

Para reforçar meu argumento cito o professorGustavo A. B. da Fonseca: “Esse equívoco (deque é possível um uso de recursos sem pre-juízo) foi responsável pela atual redação doSNUC, que abre caminho para a ocupaçãohumana em áreas protegidas de uso indiretosob alegação que o impacto é desprezível.Não podemos vender esperanças falsas àque-

les que almejam que os seus descendentes di-vidam esse planeta com os mesmos vizinhosque aprenderam a apreciar. É uma faláciaacreditarmos poder utilizar os recursos natu-rais sem acarretar algum nível de perda debiodiversidade, apesar de ser uma idéia hu-mana e filosoficamente atraente”. Imagino oprofessor Gustavo como um cavalheiro bemeducado para classificar como um equívoco,pois eu classifico de enganação.

Graças a estes conflitos de idéias, eu venho, jáhá algum tempo, pensando em uma sepa-ração e simplificação das coisas. Para mim, ológico é deixar com algum dos ministérios,destes que têm a ver com o uso comercial dosrecursos, todas as unidades de uso direto.Seriam estes ministérios que poderiam darforma a um uso. Como são eles os respon-sáveis pela produção, hão de achar umamaneira de torná-la sustentável e prover o quese propagandeia como desenvolvimento sus-tentável – isso não deveria ser tarefa do IBA-MA ou do Ministério do Meio Ambiente. Háterra à vontade, e ela não guarda nenhumasemelhança com a natureza rica e complexaque tivemos, para que aqueles que propagan-deiam esse tal de desenvolvimento sustentá-vel façam testes. Sob a tutela desses mi-nistérios da produção deveriam ser criadosmodelos, desenvolvidas técnicas e implemen-tados procedimentos para mostrar que podemproduzir de forma sustentável. Mas deverãoproduzir naquelas terras que já descaracteri-zaram e continuam a destruir. Querer testarnaqueles minguados 4 ou 5% do território quedeveriam ser de efetiva proteção é injustiçademais para com aqueles que querem deixarpara os que virão a oportunidade de ver umpedaci-nho da beleza da vida.

Outra mudança imaginada por mim é a deeliminar as designações nas unidades de usoindireto para chamá-las, por exemplo, deamostras/pedaços/partes/retalhos daNatureza. O Ministério do Meio Ambiente ououtro órgão similar (sei lá, um instituto dasamostras?) ficaria responsável por cuidar de-las. Imaginem as melhorias que o Ministériopoderia implementar se os recursos (que hoje

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estão quase que exclusivamente direcionadosàs pessoas) fossem aplicados em salários jus-tos aos que cuidam, se houvesse um sistemade comunicação e vigilância efetivos, se oEstado estivesse presente e se o serviço de re-lações públicas da Amostra fosse eficaz comseus vizinhos!

Para as “amostras” é só imperativo dispensar aatenção para que não sejam modificadas ou pi-lhadas. Os responsáveis por explorar os recur-sos devem também atender à legislação demaneira a ajudar na manutenção das“amostras”. Daí sim, um proprietário que évizinho de uma Amostra da Natureza poderáentender melhor as razões para que o uso doespaço seja regulado com assessoria do Estado.Assim, haverá alguma lógica em restringiratividades para não ameaçar a amostra.

Eu não sou ou não preciso ser um daquelesxiitas da ecologia, um radical defensor da vi-da (porque não sou mesmo um defensor davida, confesso!). Para que eu me satisfaça emtermos de conservação da natureza, basta queeu cumpra a legislação pertinente. Voltandoao primeiro argumento de que a terra é que fi-ca, nós temos que respeitar certas regras paradeixá-la em condições de receber os outrosque dela irão brotar. Podemos nos livrar detodos esses radicais extremistas, destas açõeslevadas adiante, com rigor e resultado, que asorganizações ambientalistas oferecem aoMinistério Público. Podemos voltar a vivercom liberdade de ação e, para isso, bastacumprir o que estabelece o Código Florestal ecomplementos legais. Assim sendo, os ex-tremistas se desintegrarão, pois não haverárazão para reivindicações.

Termino minha “viagem” com dois caminhospossíveis, pensando no que deixar para minhafilha (espero que só daqui a muito tempo).Deixar uma gorda conta bancária com250.000,00 reais e uma fazendola (com a na-tureza deteriorada, sem cobertura vegetal,com as áreas de preservação permanente ocu-padas por pasto, sem reserva legal, com erosãoacelerada do solo, baixa capacidade produtivae inserida numa paisagem de desolação a

perder de vista) – Filha, me desculpe, mas acondição física e biológica da propriedade é re-sultado do uso intensivo e idiota que fiz delapara armazenar os reais na conta bancária. –Ou, para minha filha, deixo uma poupançacom 5.000,00 reais e uma propriedade produti-va, diversa e estável. Neste caso, filha, a he-rança não implica aborrecimento para você. Asáreas de preservação permanente estão deacordo com a legislação, a reserva legal é maisque suficiente para prover as necessidades in-ternas e a variedade de usos te dará uma se-gurança extra. Com essa propriedade e algu-ma inteligência, filha, você poderá ter um re-torno de até uns 10.000 reais por ano.

Ou deixo uma galinha muito estimada e comsaúde que bota um ovo por dia ou deixo acarcaça da galinácea congelada que a alimen-tará por três. – Eu é que escolho, minha filha!E, por ter a “liberdade” de escolher, tambémtenho a responsabilidade de assumir os meusatos e por eles ser lembrado.

REFERÊNCIAS

Jorge Pádua, M. T. 2006. O fim da APA deGuaraqueçaba? O Eco. http://arruda.rits.org.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=78&textCode=18681&date=currentDate&contentType=html

Dourojeanni, M. J. & Jorge Pádua, M. T. 2001.Biodiversidade a hora decisiva. Curitiba:FBPN/UFPR, 308 p.

Guapyassú, Sandra Maria dos Santos (Ed.).2003. Gerenciamento de Áreas de ProteçãoAmbiental no Brasil. Curitiba: Fundação OBoticário de Proteção à Natureza. 144 p.

Terborgh, J. et. al. 2002. Tornando os ParquesEficientes – Estratégia para a conservação danatureza nos trópicos. Curitiba: FBPN/UFPR,518 p..

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Padrões e causas do desmatamento nas áreas protegidas de Rondônia

INTRODUÇÃO

A criação de áreas protegidas, o que inclui asUnidades de Conservação e as TerrasIndígenas, é uma das estratégias mais re-comendadas para conservar as florestas e as-segurar a proteção da biodiversidade nasregiões tropicais. No Brasil as Unidades deConservação têm como principal função aconservação da biodiversidade e dos serviçosambientais (Lei 9.985, de 18 de julho de 2000).As Terras Indígenas, por sua vez, têm comoobjetivo principal a proteção aos povos indí-

genas, sua cultura e seus meios de sobre-vivência tradicionais, assim como a garantiada posse de seus territórios tradicionais(Artigo 231 da Constituição Federal de 1988),sendo a conservação da natureza uma funçãoindireta, porém, não menos importante.

O papel das áreas protegidas torna-se espe-cialmente importante em áreas com altapressão humana, como é o caso do arco dodesmatamento na Amazônia legal brasileira(Barreto et al., 2005).

Em dezembro de 2006, as áreas protegidasrepresentavam 42% da Amazônia legal e, nogeral, tanto as Unidades de Conservaçãoquanto as Terras Indígenas têm funcionado

1 Enviado originalmente em português2 [email protected]

Padrões e causas do desmatamento nas áreasprotegidas de Rondônia 1

Maria Beatriz N. Ribeiro, MSc2

• Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon;Adalberto Veríssimo, MSc.• Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon

RESUMO. A criação de áreas protegidas é uma das estratégias mais efetivas e recomendadas parapreservar a integridade e a biodiversidade da floresta Amazônica. No Estado de Rondônia, onde odesmatamento já atingiu 32% do território, as áreas protegidas representam a última barreira contraa degradação ambiental. Entretanto, o desmatamento tem avançado até mesmo nessas áreas. Nesteartigo, identificamos e quantificamos o desmatamento nas áreas protegidas de Rondônia, eavaliamos as causas dessa degradação para as Unidades de Conservação Estaduais. Em 2004, apro-ximadamente 6,3% da área total protegida de Rondônia já havia sido desmatados.Proporcionalmente à sua área total, as Unidades de Conservação Estaduais foram as mais des-matadas, enquanto as Unidades de Conservação Federais e as Terras Indígenas foram menos afe-tadas. Há duas principais causas para o maior desmatamento nas Unidades de ConservaçãoEstaduais: a falta de ação por parte do Governo do Estado para a proteção dessas áreas e a proximi-dades dessas Unidades dos pólos madeireiros e dos centros de pecuária. Para deter o avanço do des-matamento em Áreas protegidas é necessário que haja maior presença do Governo e um sistema defiscalização mais eficiente e transparente.

Palavras-chave: Amazônia, unidades de conservação, terras indígenas, Rondônia, desmatamento,pressão humana.

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Maria Beatriz N. Ribeiro – Adalberto Veríssimo

como uma barreira bastante eficaz contra odesmatamento (Bruner et al., 2001; Ferreira etal., 2005; Nepstad et al., 2006). Entretanto, háregiões onde o desmatamento no interior dasáreas protegidas é expressivo, como é o casodo Estado de Rondônia (Pedlowski et al.,2005; Ribeiro et al., 2006). Em 2005, Rondôniaabrigava 106.617 km2 de áreas protegidas, oque corresponde a 45% do território doEstado. Segundo Ribeiro et al. (2006), até2004, perto de 6,3% do território dessas áreasprotegidas já havia sido desmatado.

A cobertura florestal de Rondônia per-maneceu praticamente intacta até o final dadécada de 60. Porém, a partir da década de70, com a abertura da rodovia Porto Velho -Cuiabá (BR 364) e a instalação de assenta-mentos rurais pelo INCRA, o processo de co-lonização foi intensificado. A população pas-sou de apenas 593 mil em 1980 para 1,5 mi-lhão de habitantes em 2004. A área desmata-da, por sua vez, que era apenas 1,8% doEstado em 1978, subiu para 32% do territóriode Rondônia em 2004. A expansão do des-matamento tem sido atribuída, principal-mente, à pecuária e à agricultura e, indireta-mente, à atividade madeireira e à mineração(Pedlowski et al., 1997; IBGE, 2004). Grandeparte dos impactos ambientais ocorridos emRondônia é considerada conseqüência doPolonoroeste, programa financiado peloBanco Mundial na década de 80, cuja metaprincipal era a expansão da agropecuária e in-fra-estrutura no Estado, por meio da pavi-mentação da BR 364 e da implantação degrandes assentamentos agrícolas (Pedlowskiet al., 1999; World Bank, 2003).

Durante a década de 80, foram criadasgrandes Unidades de Conservação Federais eTerras Indígenas em Rondônia. No entanto, amaioria (54%) das áreas protegidas deRondônia foi criada entre 1990 e 2002. Doisfatores contribuíram para isso: primeiro, aelaboração do zoneamento ecológico-

econômico do Estado (Lei Complementar 52,de 20 de dezembro de 1991); depois, a entra-da em vigor, em 1993, do Planafloro, progra-ma de desenvolvimento e conservação para oEstado de Rondônia, também financiado peloBanco Mundial. O Planafloro foi uma iniciati-va para compensar os problemas ambientaisocasionados pelo Polonoroeste.

Um dos objetivos do Planafloro foi conservara biodiversidade por meio da criação de umaampla rede de áreas protegidas em Rondônia,e a criação de Unidades de ConservaçãoEstaduais foi uma condição para a efetivaçãodo programa (Milikan, 1998a). Em 2002,Rondônia já possuía cerca de 46.000 km2 emUnidades de Conservação Estaduais, o querepresenta 43% da área total protegida noEstado. O Planafloro enfatizou especialmentea criação de Reservas Extrativistas, esperandoque nessas áreas as comunidades tradicionaisassumiriam um papel importante na defesacontra invasores (World Bank, 2003).

Com o término do Planafloro, em 2002, asUnidades de Conservação Estaduais perde-ram apoio do Governo Estadual (Milikan,2004). Algumas das Unidades de Conservaçãocriadas durante o Planafloro não foram imple-mentadas3 e, atualmente, não são mais con-sideradas pelo Governo de Rondônia comoUnidades de Conservação (Milikan, 1998b;Sedam, 2005), embora nenhuma medida legaltenha cancelado os decretos de criação(Ribeiro et al., 2006).

Os objetivos deste estudo são quantificar odesmatamento total e as taxas de desmata-mento de 2001 a 2004 nas áreas protegidas deRondônia, identificar as áreas protegidas emsituação crítica de conservação, comparar osdados de desmatamento para as diferentescategorias de áreas protegidas e avaliar asprincipais causas do desmatamento nasUnidades de Conservação administradas pe-lo Governo do Estado.

3 Floresta Extrativista (Florex) Laranjeiras, Florex Pacaás-Novos, Florex Rio Preto Jacundá, Floresta Estadual de Rendimento Sustenta-

do (Florsu) Rio Abunã, Florsu Rio Madeira (c), Florsu Rio Mequéns, Florsu Rio Roosevelt, Florsu Rio São Domingos, Florsu do Rio

Vermelho (a) e (d), Parque Estadual do Candeias e Parque Estadual da Serra dos Parecis.

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Padrões e causas do desmatamento nas áreas protegidas de Rondônia

MÉTODOS

Os dados sobre as Unidades de Conservaçãode Rondônia foram obtidos por meio dos de-cretos estaduais e federais de criação dasUnidades de Conservação, no Ibama e naSecretaria de Estado do DesenvolvimentoAmbiental de Rondônia (Sedam). Os dados so-bre as Terras Indígenas foram obtidos por meiodos decretos de criação e em Ricardo (2004).

Utilizamos para as análises os desmatamen-tos mapeados pelo PRODES (Programa deCálculo do Desflorestamento da Amazônia -INPE) nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2004.Para isso consideramos apenas os desmata-mentos na vegetação florestal, com base nomapa de vegetação do IBGE (1989). As análi-ses de geoprocessamento foram efetuadascom o software ArcGIS 9.0. (ESRI, 2005).Consideramos o desmatamento das Unidadescomo a proporção de desmatamento em re-lação à sua área total. Não foram subtraídoseventuais desmatamentos ocorridos antes dacriação das áreas protegidas, devido à ausên-cia de imagens correspondentes aos anos desua criação.

No caso de sobreposição entre Unidades deConservação e Terras Indígenas, optamos porclassificar a área como Terra Indígena.Quando a sobreposição era entre Unidades deConservação, a categoria mais restritiva eraconsiderada. Duas Unidades de Conservação(Parque Nacional dos Pacaás-Novos e FlorestaExtrativista do Rio Pacaás-Novos) foram ex-cluídas devido à sobreposição total com ou-tras áreas protegidas (Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e Reserva Extrativista Rio Pacaás-Novos, respectivamente). Deste modo, das 84áreas protegidas existentes em Rondônia, ape-nas 82 foram analisadas.

Comparamos a área desmatada (%) de cadaárea protegida e sua taxa anual de desmata-mento no período de 2001 a 2004 entre as ca-tegorias Terras Indígenas, Unidades deConservação de Uso Sustentável e Unidadesde Conservação de Proteção Integral; e entre asTerras Indígenas, Unidades de Conservação

Federais e Unidades de ConservaçãoEstaduais. Essas comparações foram feitas pormeio do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, já que os dados não cumpriam os pres-supostos de testes paramétricos. No caso de re-sultados significativos, utilizamos um teste decomparações múltiplas não-paramétrico paraverificar entre quais categorias houve dife-rença (Zar, 1996).

Para cada uma das Unidades de ConservaçãoEstaduais (grupo onde foram registradas asmaiores proporções de desmatamento), me-dimos as seguintes variáveis de pressão: (a)extensão total de estradas não-oficiais dentroda unidade em 2000 (Governo de Rondônia,2000); (b) distância do centro madeireiro maispróximo da Unidade de Conservação (Lentiniet al., 2005); (c) produção em tora do centromadeireiro mais próximo da Unidade deConservação (Lentini et al., 2005); (d) densi-dade de gado no município onde está situadaa Unidade de Conservação (IBGE, 2005); (e)capacidade de abate do frigorífico mais pró-ximo da Unidade de Conservação (Imazon,dados não publicados); (f) sobreposição daUnidade de Conservação com assentamentosde reforma agrária até 2002 (dados cedidospelo INCRA); (g) reconhecimento oficial daUnidade de Conservação (Millikan, 1998a);(h) existência ou não de planos de manejoelaborados ou em elaboração (Ibama, 2005);(i) categoria da Unidade de Conservação -Uso Sustentável ou Proteção Integral. Para avariável “densidade de gado no município”,dividimos o rebanho total de cada municípiopela sua área. No caso de Unidades deConservação que se localizam em mais de ummunicípio utilizamos a média ponderada dorebanho pela área ocupada nos municípios.

A relação das variáveis indicadoras depressão com a porcentagem de desmatamen-to e a área total desmatada nas Unidades deConservação Estaduais foi analisada pormeio de correlações de Spearman, no caso dasvariáveis (a), (b), (c), (d), (e) e (f); e através doteste não-paramétrico de Mann-Whitney, nocaso das variáveis (g), (h) e (i). Para as corre-lações, fizemos duas análises: uma para todas

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4 Todas as Terras Indígenas atualmente existentes em Rondônia encontram-se delimitadas e homologadas, e foram incluídas nas

análises. No entanto, existem ainda quatro áreas com populações indígenas a serem identificadas e uma em processo de identifi-

cação pela FUNAI (ISA, 2006).

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Maria Beatriz N. Ribeiro – Adalberto Veríssimo

as Unidades juntas; e outra apenas para asUnidades reconhecidas pelo GovernoEstadual. Todas as análises estatísticas foramrealizadas por meio do programa Statisticaversão 6.1 (StatSoft, 2003). O nível de sig-nificância utilizado foi 0,05.

RESULTADOS

Áreas Protegidas de Rondônia

Em 2005 havia 84 áreas protegidas emRondônia, das quais 20 eram Terras Indígenas4

e 64 eram Unidades de Conservação. Dos106.617 km2 protegidos do Estado, 45,2% cor-respondem às Terras Indígenas e 54,8% àsUnidades de Conservação.

A grande maioria das Unidades deConservação (81% do número total) é admi-nistrada pelo Governo do Estado, enquantoapenas 19% são Unidades de ConservaçãoFederais. Em relação às categorias, 77% sãoUnidades de Conservação de Uso Sustentávele 23% são Unidades de Conservação deProteção Integral (TABELA 1).

Desmatamento Total

Em 2004, o desmatamento já havia atingido6,3% do território das áreas protegidas deRondônia. Por outro lado, da área ocupadapor propriedades privadas e assentamentosde reforma agrária, cerca de 54% já estavadesmatado.

O desmatamento não ocorreu de forma ho-mogênea nas 82 áreas protegidas analisadas:a maioria (62%) estava bem conservada, como desmatamento representando menos de 5%de suas áreas; 26% estavam em uma situaçãointermediária de pressão, com o desmata-mento situando entre 5% a 20%; e 12% es-tavam em uma situação mais crítica, com odesmatamento superior a 20% (TABELA 2).

Das dez áreas protegidas de Rondônia con-sideradas em estado crítico, a porcentagemde desmatamento até o ano de 2004 variou de23% a 68% da extensão total da reserva. Todasessas áreas eram Unidades de ConservaçãoEstaduais, das quais oito eram de UsoSustentável e duas de Proteção Integral

TABELA 1. Número e extensão das áreas protegidas do Estado de Rondônia

GGrruuppoo NNúúmmeerroo ddee UUnniiddaaddeess ÁÁrreeaa ((kkmm2))

Terras Indígenas 20 48.208

Unidades de Conservação Federais Proteção Integral 5 8.041

Uso Sustentável 7 11.162

Unidades de Conservação Estaduais Proteção Integral 10 9.495

Uso Sustentável 42 29.711

TToottaall 8844 110066..661177

TABELA 2. Grau de conservação das áreas protegidas de Rondônia em 2004

GGrraauu ddee CCoonnsseerrvvaaççããoo DDeessmmaattaammeennttoo ((%%)) NNoo ddee rreesseerrvvaass ÁÁrreeaa ((kkmm2)) %% ddoo ttoottaall ddee ÁÁrreeaass pprrootteeggiiddaass

CCoonnsseerrvvaaddaass 0-5 51 77.428 72

IInntteerrmmeeddiiáárriiaass 5-20 21 19.852 19

CCrrííttiiccaass > 20 10 9.337 9

TToottaall 8822 110066..661177 110000

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TABELA 4. Teste de Kruskall-Wallis comparando a porcentagem de desmatamento total em 2004 e a taxa anual de desmata-

mento entre 2001 e 2004, entre Terras Indígenas (n = 20), Unidades de Conservação de Proteção Integral (n = 14) e Unidades

de Conservação de Uso Sustentável (n = 48)

DDeessmmaattaammeennttoo ttoottaall mmeeddiiaannaa mmíínniimmoo mmááxxiimmoo

Terras Indígenas 1,9% 0,3% 18,6%

Unidades de Conservação de Proteção Integral 0,9% 0% 67,8%

Unidades de Conservação de Uso Sustentável 5,8% 0% 63,8%

H = 11,807; P = 00,,00002277

TTaaxxaa aannuuaall ddee ddeessmmaattaammeennttoo 22000011--22000044 mmeeddiiaannaa mmíínniimmoo mmááxxiimmoo

Terras Indígenas 0,05% 0,02% 0,2%

Unidades de Conservação de Proteção Integral 0,04% 0% 4%

Unidades de Conservação de Uso Sustentável 0,6% 0% 5,7%

H = 13,395; P = 00,,00001122

TABELA 3. Áreas protegidas críticas em Rondônia em 2004

NNoommee GGrruuppoo ÁÁrreeaa ((kkmm2)) DDeessmmaattaammeennttoo ((%%))

Parque Estadual de Candeias* Proteção Integral 86 68

Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Rio São Domingos* Uso Sustentável 2.908 62

Floresta Estadual de Rendimento Sustentável do Rio Roosevelt* Uso Sustentável 288 52

Floresta Estadual de Rendimento Sustentável do Rio Abunã* Uso Sustentável 507 48

Parque Estadual da Serra dos Parecis* Proteção Integral 375 46

Floresta Estadual de Rendimento Rio Mequéns* Uso Sustentável 3.630 43

Floresta Estadual de Rendimento Rio Vermelho(c) Uso Sustentável 207 38

Reserva Extrativista Jatobá Uso Sustentável 13 34

Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Rio Vermelho(d)* Uso Sustentável 1.311 32

Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Periquito Uso Sustentável 12 23

* Não são mais consideradas Unidades de Conservação pelo Governo Estadual.

19Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 15-26

Padrões e causas do desmatamento nas áreas protegidas de Rondônia

(TABELA 3). Além disso, sete áreas não erammais consideradas Unidades de Conservaçãopelo Governo do Estado de Rondônia em2005, embora seus instrumentos de criaçãonunca tenham sido revogados (Ribeiro et al.,2006). Algumas destas Unidades abandon-adas são consideradas áreas de alta priori-dade para conservação, como, por exemplo, aFloresta Estadual de Rendimento Sustentado(Florsu) Rio Abunã (Probio, 2003), ou apre-sentam endemismos localizados, como oParque Estadual (Pes) Serra dos Parecis(Olmos et al., 1999).

O Parque Estadual de Candeias, a área prote-gida com maior proporção de desmatamento(68%), está localizada próxima a Porto Velho,capital do Estado. Essa Unidade de

Conservação possui uma extensa rede deestradas ilegais em seu interior, o que sugerea ocorrência de exploração madeireira e gri-lagem. Algumas Unidades de Conservaçãotambém apresentam sobreposição com assen-tamentos do Incra, como é o caso do próprioParque de Candeias e das Florestas Estaduaisde Rendimento Sustentável do Rio SãoDomingos e do Rio Mequéns.

Comparação entre categorias de áreas protegidas

Em 2004, as Unidades de Conservação de UsoSustentável encontravam-se significativa-mente mais desmatadas do que as Unidadesde Conservação de Proteção Integral e asTerras Indígenas (TABELA 4; FIGURA 1a).

Page 20: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

20Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 15-26

Maria Beatriz N. Ribeiro – Adalberto Veríssimo

Além disso, as Unidades de Conservação deUso Sustentável apresentaram maiores taxasanuais de desmatamento no período de 2001a 2004, se comparadas às Terras Indígenas eUnidades de Conservação de ProteçãoIntegral (TABELA 4; FIGURA 1b). Não hou-ve diferença significativa entre o desmata-mento total e as taxas anuais de desmatamen-to nas Unidades de Conservação de ProteçãoIntegral e as Terras Indígenas.

As Unidades de Conservação Estaduais pos-suem proporções de área desmatada signi-

ficativamente maiores do que as TerrasIndígenas e as Unidades de ConservaçãoFederais (TABELA 5; FIGURA 2a). Alémdisso, as Unidades de ConservaçãoEstaduais também apresentaram maiorestaxas anuais de desmatamento no períodode 2001 a 2004 se comparadas às TerrasIndígenas e às Unidades de ConservaçãoFederais. (Tabela 5; FIGURA 42). Não houvediferenças estatisticamente significativas en-tre as taxas de desmatamento de TerrasIndígenas e Unidades de ConservaçãoFederais.

Figura 1. Proporção de área desmatada até 2004 (a) e

taxa anual de desmatamento de 2001 a 2004 (b) em to-

das as Terras Indígenas (TIs; n = 20), Unidades de Con-

servação de Proteção Integral (UCs PI; n = 14) e Unidades

de Conservação de Uso Sustentável (UCs US; n = 48) de

Rondônia

Figura 2. Proporção de área desmatada até 2004 (a) e

taxa anual de desmatamento de 2001 a 2004 (b) em to-

das as Terras Indígenas (TIs; n = 20), Unidades de Con-

servação Federais (UCs federais; n = 11) e Unidades de

Conservação Estaduais (UCs estaduais; n = 51) de

Rondônia.

TIs UCs PI UCs US

TIs UCs PI

TIs UCs fed UCs est

TIs UCs fed UCs est

Desm

ata

mento

(%

)Ta

xa a

nual de D

esm

ata

mento

01-0

4 (

%)

Desm

ata

mento

(%

)Ta

xa a

nual de D

esm

ata

mento

01-0

4 (

%)

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TABELA 6. Testes de Mann-Whitney, verificando a relação entre o desmatamento e o reconhecimento oficial, a existência de

plano de manejo e o grupo da Unidade de Conservação. Os resultados em negrito são significativos

VVaarriiáávveeiiss NN UU PP

% desmatamento em relação ao reconhecimento oficial sim (40) / não (11) 123,5 00,,002277

% desmatamento em relação ao plano de manejo com (7) / sem (44) 92,0 0,089

% desmatamento por grupo US (41) / PI (10) 151,5 0,204

% desmatamento por grupo – apenas UCs reconhecidas pelo Governo Estadual US (32) / PI (8) 54,0 00,,00110088

21Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 15-26

Padrões e causas do desmatamento nas áreas protegidas de Rondônia

Causas dos Desmatamentos nas Unidadesde Conservação Estaduais

As Unidades de Conservação que em 2006não eram mais reconhecidas como Áreas pro-tegidas pelo Governo Estadual apresentaramdesmatamento significativamente maior doque as outras Unidades. É o caso do ParqueEstadual de Candeias e das FlorestasEstaduais de Rendimento Sustentado Rio SãoDomingos, Rio Roosevelt e Rio Mequéns(TABELA 6).

Elaboramos a hipótese de que a existência deplano de manejo seria um fator inibidor dodesmatamento. Entretanto, as nossas análisesindicam que a diferença entre as Unidades deConservação que possuem planos de manejoe aquelas sem planos é apenas marginal-mente significativa (TABELA 6).

Houve diferença entre Unidades de ProteçãoIntegral e Unidades de Uso Sustentável,

porém apenas para aquelas Unidades deConservação que são reconhecidas peloGoverno Estadual, sendo que as de UsoSustentável encontravam-se mais des-matadas do que as Unidades de ProteçãoIntegral (TABELA 6).

Os resultados da correlação de Spearman,para todas as Unidades de ConservaçãoEstaduais, mostraram correlações positivassignificativas entre o desmatamento dentroda unidade e a extensão total de suas estradasnão-oficiais, a densidade de gado no municí-pio e a capacidade de abate do frigoríficomais próximo. Houve também correlaçãonegativa significativa entre o desmatamentodentro das Unidades e a distância do centromadeireiro mais próximo. Não houve corre-lação significativa entre o desmatamento nasUnidades Estaduais e a produção do centromadeireiro mais próximo, e entre o desmata-mento e a sobreposição com assentamentosdo Incra (TABELA 7).

TABELA 5. Teste de Kruskall-Wallis, comparando a porcentagem de desmatamento total em 2004 e a taxa anual de desmata-

mento entre 2001 e 2004 em Terras Indígenas (n = 20), Unidades de Conservação Federais (n = 11) e Unidades de Conser-

vação Estaduais (n = 51)

DDeessmmaattaammeennttoo ttoottaall mmeeddiiaannaa mmíínniimmoo mmááxxiimmoo

Terras Indígenas 1,9% 0,3% 18,6%

Unidades de Conservação Federais 0,7% 0% 14,5%

Unidades de Conservação Estaduais 5,9% 0% 67,8%

H = 11,330; P = 00,,00003355

TTaaxxaa aannuuaall ddee ddeessmmaattaammeennttoo 22000011--22000044 MMeeddiiaannaa mmíínniimmoo mmááxxiimmoo

Terras Indígenas 0,05% 0,02% 0,2%

Unidades de Conservação Federais 0,01% 0% 2,6%

Unidades de Conservação Estaduais 0,6% 0% 5,7%

H = 18,497; P = 00,,00000011

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22Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 15-26

Maria Beatriz N. Ribeiro – Adalberto Veríssimo

Considerando-se apenas as Unidades recon-hecidas pelo Governo Estadual, houve corre-lação positiva do desmatamento com a exten-são de estradas não-oficiais dentro dasUnidades, com a capacidade de abate do fri-gorífico mais próximo e com a sobreposiçãocom assentamentos; e correlação negativacom a distância do núcleo madeireiro maispróximo. (TABELA 7).

DISCUSSÃO

Embora as áreas protegidas sejam extrema-mente importantes para a conservação dasFlorestas Tropicais, no Estado de Rondôniaapenas sua criação não tem sido suficientepara evitar o desmatamento. Apesar de o des-matamento dentro das áreas protegidas desteestado ser bem menor que o ocorrido nasáreas não protegidas, ainda assim é muito al-to, se considerarmos que, de acordo com alegislação, ele deveria ser próximo de zero.

Mesmo considerando que a grande maioriadas Unidades de Conservação e TerrasIndígenas de Rondônia encontra-se bem con-servada, os resultados apresentados neste tra-balho indicam a necessidade de aumentar osesforços para implementar e fiscalizar, princi-palmente, as Unidades de ConservaçãoEstaduais, onde a situação do desmatamentoilegal é mais crítica.

Desmatamento entre categorias de áreasprotegidas

A maior intensidade do processo de desmata-mento nas Unidades de Conservação de UsoSustentável em relação às Terras Indígenas eàs Unidades de Proteção Integral deRondônia está de acordo com os resultadosobtidos por Nepstad et al. (2006) para áreasprotegidas da Amazônia Legal. Além disso,esses resultados indicam que a decisão de secriar Unidades de Uso Sustentável em detri-mento das Unidades de Proteção Integral, soba premissa de que as comunidades se encar-regariam da defesa da área, não tem obtidoresultado satisfatório. No caso das TerrasIndígenas, a vigilância realizada constante-mente pelos próprios índios, além de expe-dições de fiscalização em conjunto com aFUNAI e outros órgãos federais parece terefeito contra o desmatamento.

Deve-se ressaltar, no entanto, que nem asUnidades de Conservação de ProteçãoIntegral, nem as Terras Indígenas, estãoimunes ao desmatamento. Em Rondônia, al-gumas Terras Indígenas, especialmente as lo-calizadas em áreas de alta pressão econômica,têm sido ameaçadas pelo desmatamento emconseqüência da exploração madeireira ile-gal, de invasões por pequenos proprietários –muitas vezes apoiados por ações do INCRA –

TABELA 7. Correlações de Spearman entre a porcentagem de desmatamento dentro das Unidades de Conservação Estaduais

e sete variáveis indicadoras de pressão. Os resultados que estão em negrito são significativos

Variáveis TToottaall ddee UUCCss ddeeccrreettaaddaass UUCCss rreeccoonnhheecciiddaass ppeelloo

GGoovveerrnnoo EEssttaadduuaall

rrss NN PP rrss NN PP

Extensão de estradas não oficiais* 0,780 51 <<00,,00000011 0,654 40 <<00,,00000011

Distância do centro madeireiro mais próximo -0,488 51 00,,00000033 -0,617 40 <<00,,00000011

Produção do centro madeireiro mais próximo 0,170 51 0,233 0,247 40 0,125

Densidade de gado municipal 0,421 51 00,,000022 0,281 40 0,079

Capacidade de abate do frigorífico mais próximo 0,326 51 00,,002200 0,577 40 00,,00000011

Sobreposição com assentamentos do INCRA 0,216 51 0,128 0,416 40 00,,000088

* A extensão de estradas não-oficiais dentro das reservas foi correlacionada com o seu desmatamento absoluto.

Page 23: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

23Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 15-26

Padrões e causas do desmatamento nas áreas protegidas de Rondônia

e para a produção pecuária, como é o caso daTerra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau (Ricardo,2000). Nas Unidades de Proteção Integral, oproblema mais grave é na Floresta Nacionaldo Bom Futuro. Essa unidade tem sido inva-dida por pequenos agricultores, pecuaristas,garimpeiros e madeireiros (Ibama, 2005;Pedlowski et al., 2005).

As Terras Indígenas e as Unidades deConservação cuja jurisdição é federal estãomelhor conservadas do que as Unidades deConservação Estaduais, o que indica que hámaior compromisso e eficiência dos órgãosfederais responsáveis pela administração efiscalização dessas reservas (Funai, Ibama ePolícia Federal) em comparação com oGoverno de Rondônia.

Uma análise do Projeto Planafloro realizadapelo próprio Banco Mundial considerou quea proteção efetiva das áreas protegidas cri-adas na vigência do projeto pelo Estado foialtamente insatisfatória (World Bank, 2003).Após o término do programa Planafloro, oGoverno de Rondônia não tem demonstradointeresse nem realizado esforços para a efeti-vação das Unidades de Conservação, quenão contam com infra-estrutura, pessoal oufiscalização, embora o Planafloro tenha pre-visto recursos para tal (Millikan, 2004). Alémdisso, o INCRA ignorou o zoneamento ambi-ental do estado e os decretos estaduais,emitindo títulos em áreas onde já haviam si-do decretadas Unidades de ConservaçãoEstaduais, como por exemplo nos ParquesEstaduais do Corumbiara e da Serra dosParecis, nas Florsu Rio São Domingos, RioMequéns e Rio Abunã, dentre outros(Millikan, 1998b). A atitude de represen-tantes locais do INCRA em ignorar a criaçãode áreas protegidas associadas a um projetoque, em última análise, representava um em-préstimo da União, foi um dos fatores respon-sáveis pelo desmatamento nas Unidades deConservação de Rondônia.

Além de diferenças entre as categorias ana-lisadas, outros fatores podem influenciar odesmatamento nas áreas protegidas, como

relevo e tipos de solo, proximidade de infra-estrutura, investimento em fiscalização, atu-ação do gestor da unidade, etc. (ver tambémBarreto et al., 2005; Ferreira et al., 2005;Pedlowski et al., 2005 e Bruner et al., 2001).De acordo com Ferreira et al. (2005) e Barretoet al. (2005), a proximidade de estradas refletea presença de infra-estrutura e de áreas des-matadas, o que facilita o acesso de invasores egrileiros às áreas protegidas. Por essa razão,as Áreas protegidas que apresentam osmenores níveis de desmatamento são as maisisoladas (Pedlowski et al., 2005).

Causas do desmatamento nas Unidades deConservação Estaduais

A exploração madeireira, a pecuária e asestradas ilegais estão relacionadas ao des-matamento dentro das Unidades deConservação Estaduais. De fato, as duasprimeiras são atividades muito importantespara a economia de Rondônia (Lentini et al.,2006; Seapes, 2003). No entanto, apesar dacorrelação significativa entre o desmata-mento e a exploração madeireira, sabe-seque essa atividade não ocasiona direta-mente o desmatamento, mas pode catalisaro processo de ocupação e o desmatamentosubseqüente da área por agricultores epecuaristas, se realizada de forma pre-datória (Uhl et al., 1997).

Para as Unidades de Conservação recon-hecidas pelo Governo Estadual, além dos in-dicadores de pecuária, exploraçãomadeireira e as estradas ilegais, houve tam-bém correlação positiva significativa entre odesmatamento dentro das Unidades e a so-breposição com assentamentos de reformaagrária. Segundo Pedlowski et al. (2005), agrande maioria das Unidades deConservação do Estado possui assentamen-tos do INCRA dentro de seus limites.

Por fim, os resultados deste estudo revelamque, quando há a combinação entre pressãoeconômica e falta de interesse político em as-segurar a integridade das Áreas protegidas,elas se tornam vulneráveis ao desmatamento.

Page 24: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

4 O ARPA é um programa do Governo brasileiro, executado pelo Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Governos Estaduais e Municipais da Amazônia e seus

objetivos são expandir, consolidar e manter parte das Unidades de Conservação no Bioma Amazônia. A previsão é que até 2012 sejam investidos US$ 400

milhões nas Unidades de Conservação da Amazônia.

24Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 15-26

Maria Beatriz N. Ribeiro – Adalberto Veríssimo

Nota de Precaução

É provável que algumas áreas protegidas jáapresentassem desmatamentos antes de suacriação. Este fato poderia ter influenciado osresultados encontrados para o desmatamentonas diferentes categorias de áreas protegidas.Entretanto, o fato de os mesmos padrões dedesmatamento total nas áreas protegidasterem sido registrados para os incrementos de2001 a 2004, os quais são independentes dosdesmatamentos iniciais, indica que os des-matamentos anteriores à criação não influen-ciaram no resultado do trabalho. Além disso,não incluímos nesse estudo outras formas dedegradação, como a caça, fogo e a exploraçãopredatória de madeira. Se essas atividadesfossem incluídas na análise, as dimensões dosimpactos humanos nas áreas protegidas seri-am certamente muito maiores.

CONCLUSÃO

No geral, as Unidades de Conservação eTerras Indígenas localizadas em regiões re-motas cumprem seu papel de conservaçãopassivamente. Por outro lado, nas regiões sobalta pressão econômica, a proteção dessasáreas depende de outros fatores, como o com-promisso do Governo em conservá-las, apressão do setor ambientalista em exigir aproteção efetiva dessas áreas e a atuação doMinistério Público em cobrar o cumprimentoda lei e o respeito à integridade da reserva.

Sugerimos algumas medidas para assegurar aproteção efetiva das áreas mais ameaçadas,no caso, as Unidades de ConservaçãoEstaduais. Primeiro, o Governo Estadualdeve utilizar o sistema de alerta do GovernoFederal (DETER) para detectar desmatamen-tos nessas Unidades e usar essas informaçõespara ações de fiscalização. Segundo, devemser elaborados e implantados os planos demanejo das Unidades de Conservação.Terceiro, deve ser garantido um investimento

mínimo em infra-estrutura e a presença deuma equipe permanente na Unidade. Por fim,recomendamos utilizar a lista das Unidadesde Conservação mais ameaçadas comocritério para priorizar os esforços de fiscaliza-ção, bem como os investimentos (em infra-es-trutura, equipamentos e pessoal), os quais po-dem ser obtidos por meio da destinação derecursos orçamentários do Governo (Estadualou Federal), de programas especiais de apoioà criação e à implementação de Unidades deConservação, como é o caso do Programa deÁreas Protegidas da Amazônia - ARPA5, ouda compensação ambiental paga por propri-etários de áreas particulares no Estado quenão cumpriram a legislação, em troca da re-gularização da propriedade.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a George P. Ferreira (Ibama),Brent Millikan (MMA), Fábio Olmos e EraldoMatricardi pelas informações fornecidas; aAnthony Anderson, Adriano Jerozolimski,Carlos Souza Jr., Fábio Olmos, Paulo Barreto eWandréia Baitz pelas contribuições ao ma-nuscrito; e a Kátia Pereira e Rodney Salomãopelo auxilio nas análises. Agradecemos tam-bém à Fundação Gordon & Betty Moore peloapoio financeiro para realização deste estudoe ao Instituto Socioambiental por ceder osdados cartográficos das áreas protegidas daAmazônia ao Imazon.

Page 25: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

25Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 15-26

Padrões e causas do desmatamento nas áreas protegidas de Rondônia

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Page 27: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

27Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 27-34

Aspectos da atividade de caça no Parque Nacional Serra da Capivara, estado do Piauí, Brasil

INTRODUÇÃO

De acordo com Peres (1990) e Bodmer et al.(1997), a caça pode reduzir populações deuma determinada espécie, mudar a com-posição das comunidades animais e influen-ciar uma série de interações ecológicas, taiscomo predação, competição, folivoria epredação e dispersão de sementes, causandoassim uma série de mudanças ecológicas.Robinson & Redford (1991) reconhecem cincocategorias de caça nos neotrópicos, conformeos seus objetivos: caça de subsistência, caça

esportiva, caça comercial, caça para comérciolocal e coleta para criação.

Vários estudos já foram realizados no sentidode se conhecer a importância da caça na dietade certas populações humanas e os impactoscausados por essa atividade à fauna silvestreno Brasil. Contudo, tais estudos se concentramna Amazônia (Ayres & Ayres, 1979; Amaral,2005; Bodmer et al., 1997; Peres, 1990, 1996;Trinca, 2005) e Mata Atlântica (Cullen Jr, 2000;Cullen Jr et al., 2001), sendo escassos os dadosdisponíveis sobre o Cerrado (Becker, 1981). Emrelação à Caatinga, as informações disponíveisrestringem-se apenas a considerações gerais(D’Andrea et al., 2002; Leal et al., 2005; MMA,2002; Olmos, 1992), existindo assim umagrande carência de estudos sobre esse tema.

1 Enviado originalmente em português2 [email protected], [email protected]

Aspectos da atividade de caça no Parque NacionalSerra da Capivara, estado do Piauí, Brasil1

Cleuton Lima Miranda2

• Mestrando em ZoologiaMuseu Paraense Emílio Goeldi/Universidade Federal do Pará;

Gaspar da Silva Alencar• Especialista em Administração e Manejo em Unidades de Conservação, UEMG/IEF

Técnico Ambiental, Floresta Nacional de Palmares, IBAMA/PI.

RESUMO. São apresentados os resultados de um estudo sobre a atividade de caça no ParqueNacional Serra da Capivara, área reconhecida como prioritária para a conservação da biodiversidadedo bioma Caatinga. O objetivo deste trabalho é caracterizar a atividade de caça no Parque, disponi-bilizando dados sobre as espécies mais suscetíveis, o perfil dos caçadores, a categoria de caça pre-dominante e as localidades com maiores incidências de caça. Os dados foram obtidos a partir de re-latórios padronizados, preenchidos pela equipe de fiscalização, entre maio de 2000 e outubro de2003. Foram emitidos 112 autos de infração, por meio dos quais foram apreendidos 398 animais,sendo onze espécies de mamíferos e cinco de aves. O número de ocorrências foi maior no entornoque no interior do Parque e as localidades que apresentaram os maiores números de registros de caçaforam Serra Branca, Coneal e Camaçari. Os resultados demonstram que há predominância da caçacomercial em relação à de subsistência e sugerem que as atividades de fiscalização e educação am-biental têm sido importantes para a redução da caça, sendo necessário intensificá-las.

Palavras-chave: Conservação, Caatinga, fauna.

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O objetivo deste trabalho é caracterizar aatividade de caça realizada no ParqueNacional Serra da Capivara, identificando asespécies mais suscetíveis a tal atividade, per-fil dos caçadores, localidades com maior in-cidência de caça, além de verificar qual a ca-tegoria de caça predominante no Parque.

ÁREA DE ESTUDO

O Parque Nacional Serra da Capivaraabrange os municípios de São RaimundoNonato, Coronel José Dias, João Costa e Brejodo Piauí (8°30’S e 42°20’W). Essa Unidade deConservação foi criada em 1979, com umaárea aproximada de 100.000 ha e ampliadaem 1990 para 129.953 ha (FIGURA 1).Autores como Chame (2000), D’Andrea et al.(2002), Olmos (1992) e Vaz (2001) fornecemuma série de informações relacionadas à ca-racterização da área.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados apresentados no presente estudoforam extraídos de relatórios padronizados,preenchidos pela equipe de fiscalização doParque Nacional Serra da Capivara, entre

A Caatinga tem sido considerada um ecossis-tema pobre em espécies e endemismos, combase, por exemplo, nos dados obtidos em es-tudos com plantas, mamíferos e répteis(Andrade-Lima, 1982; Mares, 1981; Mares etal., 1985; Vanzolini et al., 1980). Entretanto, es-tudos recentes têm demonstrado que onúmero de espécies e endemismos naCaatinga é certamente maior do que se supu-nha (Leal et al., 2003). Apesar da importânciasobre vários aspectos e da falta de estudos,pouca atenção tem sido dada a este domínio,onde apenas cerca de 1% se encontra protegi-do sob a forma de parques e reservas, sendo obioma brasileiro com o menor número deUnidades de Conservação. A extensão dessanegligência torna-se ainda mais evidentequando são examinados os investimentos empesquisas sobre biodiversidade e para a con-servação da Caatinga (Leal et al., 2005).

O Parque Nacional da Serra da Capivara loca-liza-se no domínio das Caatingas da regiãosudeste do estado do Piauí, sendo consideradouma área prioritária para conservação da bio-diversidade do bioma Caatinga (MMA, 2002) eincluído pela Unesco na Reserva da Biosferada Caatinga. Entre os vários autores querealizaram estudos sobre a fauna doParque (ver, por exem-plo, Chame, 2000;D’Andrea et al., 2002;Olmos, 1993a,b, 1995;Wolff, 2001; Vaz, 2001),apenas Vaz (2001)abordou, de umamaneira mais consis-tente, questões rela-cionadas à pressão dacaça sobre a fauna lo-cal. De acordo comChame (2000) e Olmos(1992), a caça tem sidoum dos principaisproblemas enfrenta-dos no Parque, fazen-do-se necessária a rea-lização de estudos aesse respeito. Figura 1: Localização do Parque Nacional da Serra da Capivara, no sudeste do Piauí, Brasil

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Cleuton Lima Miranda – Gaspar da Silva Alencar

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Aspectos da atividade de caça no Parque Nacional Serra da Capivara, estado do Piauí, Brasil

maio de 2000 e outubro de 2003, durante umasérie de operações de combate à caça. Os tra-balhos de fiscalização começaram a ser sis-tematizados a partir de 1996, sendo realizadauma série de atividades, entre as quais a ca-pacitação de agentes vigilantes e a realizaçãode palestras para as comunidades locais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram emitidos 112 autos de infração, pormeio dos quais foram apreendidos 398 ani-mais, sendo onze espécies de mamíferos ecinco de aves. Destes, 70 ainda se encon-travam vivos e 328 já haviam sido abatidos(TABELA 1).

Entre as espécies de mamíferos, o tatu-ver-dadeiro deteve o maior número de espécimesapreendidos, o que corrobora os resultadosde Vaz (2001), em um estudo sobre a fauna deXenarthra na presente área de estudo. Deacordo com esse autor, fatores como a facili-dade de captura, o fato de ser relativamentecomum e a boa qualidade da carne con-tribuíram para que a referida espécie fosse a

mais procurada pelos caçadores. O mixila foio segundo animal mais caçado, seguido pelacutia e pelo caititu. Em relação às aves, a asa-branca foi a espécie mais caçada, seguidapelas avoantes e pelos jacus.

Zaher et al. (2001) realizaram um inventário dafauna do Parque Nacional Serra das Confusões,também localizado na região sudeste do Piauí,onde verificaram uma forte pressão de caça so-bre a fauna local. Segundo esses autores, aves emédios mamíferos são os mais prejudicados,destacando-se os tatus, tamanduás, queixadas,caititus, veados e felinos.

Becker (1981) trabalhou em sete localidades comvegetação de cerrado no estado do Mato Grosso,onde o tatu-verdadeiro também foi a espéciemais caçada, seguida pelos veados, caititus epacas. Essa autora também citou algumas es-pécies de aves, como a perdiz (Rhynchotusrufescens) e o inhambu (Crypturellus sp).

Cullen Jr et al. (2001) investigaram as conse-qüências ecológicas decorrentes da pressãode caça sobre médios e grandes mamíferos,

TABELA 1: Espécies de mamíferos e aves apreendidas com caçadores no interior e entorno do Parque Nacional Serra da Capi-

vara, estado do Piauí

Espécies N° de animais abatidos N° de animais apreendidos vivos Total

Tamandua tetradactyla (mambira, mixila) 13 2 15

Dasypus novemcinctus (tatu-verdadeiro) 92 32 124

Dasypus septemcinctus (tatu-china) 2 2

Euphractus sexcinctus (tatu-peba) 2 2

Tolypeutes tricinctus (tatu-bola) 1 1

Conepatus semistriatus (cangambá, jerita) 2 2

Mazama gouazoubira (veado-catingueiro) 3 3

Galea spixii (preá) 1 1

Kerodon rupestris (mocó) 2 2

Dasyprocta nigriclunis (cutia) 8 8

Tayassu tajacu (cateto, caititu) 7 7

Penelope superciliaris (jacu) 6 6

Leptotila verreauxi (juriti) 3 3

Zenaida auriculata (avoante) 19 19

Cariama cristata (seriema) 1 1

Columba picazuro (asa-branca) 167 35 202

TOTAL 328 70 398

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TABELA 2: Espécies mais suscetíveis à caça (maior número de registros) no presente estudo e em outros quatro estudos

realizados em diferentes biomas (Caatinga, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica, respectivamente)

Presente estudo Becker (1981) Trinca (2005) Amaral (2005) Cullen Jr et al. (2001)asa branca veado-catingueiro queixada caititu porcos-do-mato

tatu-verdadeiro tatu-verdadeiro caititu jacaré-açu anta

avoante cutia paca anta veado-mateiro

mixila caititu veado peixe-boi paca

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Cleuton Lima Miranda – Gaspar da Silva Alencar

em três sítios de estudo na Mata Atlântica doEstado de São Paulo, sendo uma Unidade deConservação e duas áreas sob considerávelgrau de pressão antrópica. Os resultadosmostraram que as antas, porcos-do-mato,veados, tatus e pacas foram as espéciespreferidas pelos caçadores na região.

A preferência dos caçadores para algumas es-pécies parece estar relacionada a uma culturabem difundida por todo território nacional,como sugerem os resultados dos trabalhos re-alizados nos diferentes biomas e regiões ge-ográficas, citados anteriormente. Contudo,percebe-se certa variação quanto às espéciesque recebem maior pressão de caça, de acordocom a região ou mesmo com a área amostra-da. Amaral (2005), por exemplo, investigou ouso da fauna pelas comunidades de duasReservas de Desenvolvimento Sustentável naAmazônia ocidental, Mamirauá e Amanã, asquais diferem entre si quanto ao tipo de hábi-tat predominante, igapó ou terra firme. Esseautor encontrou diferenças entre as duasreservas em relação aos animais maissuscetíveis à caça. A atividade de caça noAmanã seguiu o principal padrão de ativi-dade na Amazônia, onde mamíferos her-bívoros e aves de médio e grande porte foramas espécies mais caçadas; o principal padrãode atividade de caça encontrado no Mamirauáse caracterizou por ter quelônios, primatas eaves de grande e médio porte.

A disponibilidade e facilidade de capturaparecem ser os principais fatores que deter-minam a preferência por uma determinadaespécie, em uma dada região. A cultura docaçador também pode influenciar no impactosobre a fauna, principalmente por meio de

tabus que podem determinar a ausência, nadieta de uma população humana local, de al-gumas espécies cuja carne é valorizada emoutras (Ross, 1978 apud Trinca, 2004) (verTABELA 2).

No presente estudo, das quarenta localidadesonde foram registradas atividades de caça, aSerra Branca, na porção noroeste do Parque,deteve o maior número de ocorrências (n =13), sendo seguida pelo Coneal (n= 12) eCamaçari (n= 7) (FIGURA 2). O número deocorrências foi maior no entorno (n= 80) queno interior do Parque (n= 28), principalmenteem áreas mais distantes e de difícil acesso.Esses locais foram certamente escolhidos porgrande parte dos caçadores como forma deevitar os trabalhos das equipes de fiscalização,que têm sido intensificados nos últimos anos.É importante ressaltar que próximo a SerraBranca existe uma série de vales, nos quais, se-gundo Olmos (1992), são encontradas as espé-cies mais ameaçadas do Parque. Além disso,tais localidades encontram-se próximas àsrodovias que contornam o Parque, PI 140 e BR20, o que certamente deve facilitar o trans-porte dos animais abatidos para ser comer-cializados nas cidades mais próximas.

A partir dos autos de infração examinados,constatou-se que a procedência dos caçadoresfoi predominantemente urbana (n= 97), emrelação às comunidades do entorno doParque (n= 55), com a maior parte oriunda deSão Raimundo Nonato e Coronel José Dias,respectivamente (FIGURA 3). Em relação àocupação desses caçadores, a maior parte de-clarou ser lavrador (n= 84), sendo interes-sante ressaltar a presença de sete estudantes etrês donas de casa, predominando a faixa

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0

30

60

90

Não

definida

Lavrador Func.

público

Frete do

carro

Estu-

dante

Dona de

casa

Quantidade de infratores

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Aspectos da atividade de caça no Parque Nacional Serra da Capivara, estado do Piauí, Brasil

etária entre 20 e 30 anos (n= 50). Assim, noParque Nacional Serra da Capivara, a caçapara o comércio local mostrou-se predomi-nante em relação à de subsistência.

Quanto às técnicas utilizadas, prevaleceu ouso da espingardinha, apreendida em 42%dos registros, sendo seguida pela espingarda,conhecida localmente como cartucheira oubate-bucha, em cerca de 18%, e a utilização decães de caça em aproximadamente 16% dasapreensões. A espingardinha é deixada en-gatilhada com um fio esticado, em locaisonde existam vestígios de animais. Umagrande vantagem de utilizar este tipo de ar-madilha é o curto espaço de tempo que ocaçador permanece no local da caçada, umavez que, geralmente, a espingardinha é mon-tada à tarde e vistoriada somente na manhãdo dia seguinte.

As informações presentes nos relatórios daequipe de fiscalização do Parque, desde 1998,sugerem que houve mudança quanto aonúmero de indivíduos presentes em cada au-tuação, pois predominavam anteriormenteacampamentos com vários indivíduos quepermaneciam durante um considerável tempono local escolhido para a caçada, como obser-vado no Parque Nacional Serra das Confusõespor Zaher et al. (2001). Os dados obtidosdemonstram a predominância de unidadesformadas por um ou dois caçadores (em 61 das112 ocorrências) e que estes caçadores per-maneceram durante pouco tempo no local es-colhido para a caçada (FIGURA 4).

As mudanças observadas no número decaçadores por caçada, no tempo de per-manência no local de caça e nas técnicas uti-lizadas parecem ter sido em decorrência daintensificação dos trabalhos de fiscalização eeducação ambiental. Esta idéia é corroboradapor Zaher et al. (2001), os quais relataram quea grande pressão de caça observada noParque Nacional Serra das Confusões, em es-pecial nas áreas mais próximas ao ParqueSerra da Capivara, deve-se, principalmente, àpresença de caçadores que antes agiamnaquela área.

Figura 3: Porcentagem de caçadores em relação à sua

respectiva zona de origem, rural (localidades do entorno

do Parque) ou urbana (cidades próximas ao Parque)

Figura 4: Quantidade de infratores (caçadores) autuados

no interior e arredores do Parque Nacional Serra da Capi-

vara, por profissão

SerraBranca

Localidades

Coneal Camaçari FazendaApesa

0

5

10

15

20

Nº de ocorrências

Figura 2: Localidades com o maior número de ocorrências

de caça no Parque Nacional da Serra da Capivara, estado

do Piauí

Urbana36%

Rural64%

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Cleuton Lima Miranda – Gaspar da Silva Alencar

A prática da caça, embora difundida em todoo mundo, é difícil de ser mensurada, ao con-trário de outros distúrbios antrópicos, comodesmatamentos ou queimadas, que podemser mapeados em larga escala por técnicasconvencionais de sensoriamento remoto(Peres, 2001). Áreas sob ação de caça não sãofacilmente monitoradas, a não ser com a par-ticipação das populações envolvidas, com es-tatísticas oficiais de entrepostos comerciais depeles, ou por indicadores indiretos, como es-tatísticas provenientes de apreensões de caçailegal (Vaz, 2001), caso da metodologia em-pregada nesse estudo.

Além da dificuldade citada acima, outrosdois fatores tornam ainda mais difícil a rea-lização dos trabalhos de combate à caça naárea de estudo. O primeiro refere-se a umatradição local muito forte em favor da caçapor grande parte dos moradores locais, osquais utilizam a fauna silvestre como com-plemento à sua dieta, uma vez que, de mo-do geral, tais moradores são extremamentepobres (Olmos, 1992). A segunda diz respeitoao descaso por parte das autoridades com-petentes quanto à disponibilidade de recur-sos para a manutenção dessas Unidades deConservação. O Parque Nacional Serra daCapivara enfrenta sérios problemas paramanter os seus trabalhos básicos de fisca-lização.

CONCLUSÕES

Os resultados deste estudo demonstram quea atividade de caça, no Parque Nacional Serrada Capivara, é predominantemente comer-cial, com o intuito de abastecer o comércio lo-cal, em especial, as quatro maiores cidadespróximas ao Parque: São Raimundo Nonato,Coronel José Dias, São João do Piauí e Cantodo Buriti.

As atividades de fiscalização devem ser inten-sificadas nas áreas com maior número de re-gistros de caça, em especial, na região da SerraBranca (uma vez que tal área tem extrema im-portância por conter hábitats imprescindíveispara algumas espécies), Camaçari, Brejinho,

Apesa, Coneal, Baixão da Umburana eSerrinha.

Os resultados encontrados no presente estu-do reforçam a idéia de que as atividades decombate à caça (fiscalização e educação ambi-ental) precisam ser intensificadas, sendo, por-tanto, essenciais para a manutenção da faunado Parque Nacional Serra da Capivara e parasubsidiar e nortear futuros estudos, além doplanejamento das ações de combate à caça.

Além disso, é necessária a atuação dos órgãoscompetentes quanto à fiscalização do comér-cio local de animais silvestres, e a conscienti-zação da população das cidades próximas aoParque quanto aos problemas e implicaçõesde se obter estes animais e, portanto, “con-tribuir” com tal atividade.

AGRADECIMENTOS

À Dra. Ana Cristina Mendes (UFPA), ao bió-logo Vitor Hugo Cavalcante (UFPI) e aos re-visores anônimos pelas valiosas sugestões.Ao Dr. Rogério Vieira Rossi (MPEG) peloauxílio com o abstract e importantes dis-cussões, ao MSc. Vanderson Vaz e ao Dr.Paulo Sérgio D’Andrea (Fiocruz, RJ) pelo en-vio de material, a Dijane Monteiro e MSc.Darlan Feitosa (MPEG) pelo auxílio, àFundham, aos técnicos do Ibama (Isaac SimãoNeto, Marcelo Sousa Mota, Marcelo Afonso,Expedito Mendes de Araújo), aos ex-caçadores Gilberto e Nilson Alves Parente eao ambientalista Zé do Vitor.

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Aspectos da atividade de caça no Parque Nacional Serra da Capivara, estado do Piauí, Brasil

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34Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 27-34

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35Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 35-44

Evolução anual de desmatamento na Floresta Nacional de Tapajós: 1997-2005

INTRODUÇÃO

A criação e implantação de unidades de con-servação tem sido uma das estratégias gover-namentais para conter desmatamentos naárea de influência da BR-163, no oeste doPará. Nas áreas ocupadas por populações ex-trativistas e ribeirinhas, o Ministério do MeioAmbiente vem criando unidades de conser-vação de uso sustentável, destacadamenteReservas Extrativistas - RESEX e FlorestasNacionais - FLONAS, no intuito de promovera conservação e o ordenamento fundiário dasáreas historicamente ocupadas e assim re-

duzir os altos índices de desmatamento veri-ficados na Amazônia nos últimos anos(Grupo de Trabalho Interministerial, 2005).

O Programa de Áreas Protegidas daAmazônia (ARPA) tem como meta a criaçãode nove milhões de hectares em novasunidades de conservação de uso sustentável enove milhões de hectares em unidades deconservação de proteção integral até 2007,bem como 19,5 milhões de hectares emunidades de conservação de proteção integralaté 2009. Outra meta é apoiar a consolidaçãode unidades de conservação que perfazemum total de cinqüenta milhões de hectares naAmazônia legal (WWF Brasil, 2005;Ministério do Meio Ambiente, 2005).

1 Enviado originalmente em português2 [email protected]

Evolução anual de desmatamento na FlorestaNacional de Tapajós: 1997-20051

Daniel Cohenca2

• Analista Ambiental - Floresta Nacional do TapajósInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA

RESUMO. A Floresta Nacional do Tapajós é uma unidade de conservação federal de uso sustentá-vel, localizada no oeste do estado do Pará. Possui 544.000 ha e aproximadamente 6.000 habitantes.Na unidade são autorizados pelo IBAMA desmatamentos para roçados de até três hectares, mas oórgão detecta várias ocorrências de desmatamentos ilegais maiores com finalidade não condizentecom as normas existentes para as áreas povoadas da unidade. Neste trabalho foram calculadas astaxas anuais de desmatamento na FLONA Tapajós utilizando-se imagens LandSat e CBERS de 1997a 2006. Os resultados foram analisados em termos de evolução anual, área populacional em que es-tão localizadas e classes de tamanho dos polígonos desmatados, diferenciando o desmatamentoocorrido em florestas primárias e secundárias. Os resultados sugerem haver uma curva anual ascen-dente dos desmatamentos na unidade, associada ao preço de produtos agrícolas, e que 33% do totaldesmatado no período ocorreram em áreas de floresta primária (1.786 ha ou média de 198 ha/ano).As áreas povoadas que mais contribuíram para o desmatamento foram Ribeirinha e Planalto, esta úl-tima com 45,6% registrados sobre floresta primária contra os 11% verificados na primeira.

Palavras-chave: FLONA Tapajós, comunidades tradicionais, desmatamento, Amazônia, Pará,unidade de conservação, sensoriamento remoto, BR-163.

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Daniel Cohenca

Esse trabalho avalia a evolução das taxas dedesmatamento na Floresta Nacional doTapajós, uma unidade de conservação de usosustentável antiga e bem estabelecida, apesardos imensos desafios de manutenção de suaintegridade, fato comum e típico dasunidades de conservação da Amazônia. AFLONA Tapajós se diferencia de outrasunidades de conservação por contar com umplano de manejo que inclui um zoneamento enormas para o desenvolvimento de ativi-dades agrícolas por comunidades “tradi-cionais” que habitam a área.

A quantificação do desmatamento na FLONATapajós tem como objetivo avaliar a efetivi-dade dessa estratégia no combate ao desmata-mento numa região de rápidas transformaçõessociais, econômicas e ambientais.Também seprocurou avaliar se a gestão baseada em tra-balhos de educação ambiental, fomento ao ex-trativismo sustentável e em ações de fiscaliza-ção vem surtindo o efeito desejado na estabi-lização ou redução das taxas de desmatamen-to locais. Finalmente, caracterizou-se a dinâmi-ca da localização e do tamanho dos desmata-mentos, permitindo assim aprimorar a gestãoda unidade de conservação por parte doIBAMA e pelas outras entidades atuantes naFLONA Tapajós.

Localização e Caracterização da Área de Estudo

A Floresta Nacional do Tapajós, unidade deconservação federal criada pelo decreto N.º73.684 de 19 de fevereiro de 1974, abrange áreaaproximada de 544 mil hectares, localizadosem terras de quatro municípios: Aveiro,Belterra, Rurópolis e Placas, no oeste do estadodo Pará. Tem como limite norte a área urbanado município de Belterra, a leste a rodovia BR-163 – Santarém/Cuiabá, a oeste o Rio Tapajóse ao sul os rios Tinga e Cupari (FIGURA 1).

Caracteriza-se por ser habitada por aproxi-madamente 1.100 famílias (estimam-se 6.000habitantes) que vivem nas cinco áreashabitadas definidas pelo plano de manejo daunidade, elaborado em 2004. São caracteri-

zadas principalmente por serem populações“tradicionais” que já viviam na área antes desua criação, mas também com muitos habi-tantes provenientes de migração posterior.Estão distribuídas atualmente em 28 comu-nidades, uma sede municipal e em algunslotes isolados ao longo da BR-163 (distribuí-dos em 1972 e 1973 pelo INCRA); vivem prin-cipalmente da pesca, da caça, do cultivo demandioca, milho, arroz e feijão para sub-sistência, da criação de animais e da extraçãode produtos florestais não-madeireiros(FIGURA 2) (Cordeiro, 2004).

Desde 2001, com a construção de um portograneleiro em Santarém, e com diversos in-centivos à produção de grãos, o municípiovem sofrendo um acelerado processo de des-matamento de áreas para a agriculturamecanizada, evoluindo de 14 mil ha/ano em2000 e 15 mil ha/ano em 2001 para 25 milha/ano em 2003 e 28 mil ha/ano em 2004(Cohenca, 2005).

Este avanço do desmatamento na região oestedo Pará afeta diretamente a FLONA Tapajós,já que a especulação imobiliária estimulaantigos colonos, moradores do entorno daunidade a venderem suas terras e entraremirregularmente na FLONA em busca de novasáreas, apossando-se de terras e instalandolavouras de subsistência ou mesmo pastagensna unidade. O aumento do valor, a progressi-va escassez regional de madeira e o baixoíndice de punição aos infratores são outrasfontes de constante ameaça à integridade daFLONA Tapajós. O IBAMA estima que diari-amente sejam roubados entre 5 e 10 m3 demadeira em tora ou prancheada nessaunidade, escoados pelos rios ou pelasestradas de acesso.

Apesar dos constantes problemas de entra-da de novos moradores na unidade, roubode madeira e caça de mamíferos e dequelônios, pode-se afirmar que, em relaçãoa outras unidades de conservação do su-doeste do Pará, a FLONA Tapajós ainda éuma das que estão sofrendo menos ameaçasà sua integridade.

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Evolução anual de desmatamento na Floresta Nacional de Tapajós: 1997-2005

A área é administrada pelo IBAMA, que pos-sui vários funcionários atuando prioritaria-mente na manutenção da integridade daunidade. Anualmente, o IBAMA emite auto-

rizações de desmatamento de até trêshectares às famílias tradicionais residentes,que vivem basicamente da agricultura desubsistência no sistema de corte-e-queima.

Figura 1: Mapa Fundiário da Floresta Nacional do Tapajós

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Essas autorizações são emitidas desde 2001,mas, com o aumento da preocupação com odesmatamento na unidade a partir de 2003,começaram a ser feitas reuniões prévias nascomunidades, definindo normas coletivas deuso da terra, vistorias nas áreas a serem au-torizadas e monitoramento sistemático porimagens de satélite.

São autorizados desmatamentos de até doishectares em área de vegetação secundária(capoeira) e um hectare em área de florestaprimária por família por ano, sendo proibidaa abertura de novas áreas para pastagens.Apesar desse controle, verificam-se algunsdesvios que, quando provocam grandes des-

matamentos, detectados nas imagens ou de-nunciados por moradores locais, são punidoscom advertências ou multas.

As áreas de capoeiras servem para as culturasde ciclo curto, exceto para o arroz, e sãodefinidas prioritariamente nas áreas onde aocupação já está historicamente mais bem es-tabelecida. Depois de desmatadas, tanto asáreas de florestas primárias quanto as áreasde capoeiras são utilizadas para lavoura pordois ou três anos e então abandonadas, po-dendo ser reutilizadas no mesmo processoapós cinco a dez anos de pousio.

Várias iniciativas e investimentos vêm sendo

Figura 2: Cenas da Floresta Nacional do Tapajós: (a) modo de vida da população ribeirinha, (b) área preservada, (c) projeto de

meliponicultura, (d) área de pastagem, (e) casa típica de morador tradicional, (f) reunião com agricultores e (g) desmatamen-

to para agricultura familiar de corte-e-queima em vegetação secundáriaa

a

f

g

e

d

c

b

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TABELA 1: Imagens de satélite utilizadas no estudo multitemporal de desmatamento na FLONA Tapajós

Ano Satélite Sensor Data img 227_62 Data img 227_631997 LandSat 5 TM 27-07-1997 25-06-1997

1999 LandSat 5 TM 02-08-1999 02-08-1999

2000 LandSat 5 TM 20-08-2000 20-08-2000

2001 LandSat 7 ETM+ 03-11-2001 03-11-2001

2002 LandSat 7 ETM+ 23-11-2002 19-09-2002

2003 LandSat 5 TM 16-10-2003 16-10-2003

2004 LandSat 5 TM 31-08-2004 31-08-2004

2005 LandSat 5 TM 01-07-2005 01-07-2005

2006 CBERS 2 CCD 13-06-2006 (168_103) 13-06-2006 (168_104)

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Evolução anual de desmatamento na Floresta Nacional de Tapajós: 1997-2005

feitos no sentido de diminuir a dependênciada população local com relação à agriculturade corte-e-queima. Entre eles, o apoio técnicoe incentivo aos sistemas agroflorestais e pro-jetos de geração de renda com desenvolvi-mento sustentável, que procuram desviar adependência econômica pela agriculturadesses moradores, procurando incentivar oextrativismo e a produção de óleos essenciais,mel, móveis artesanais, produtos madeireirosde machetaria e esquadrias, artesanato compalha e sementes, e outros. Cada uma dasáreas populacionais é ligeiramente distintaem sua origem e suas características socioe-conômicas, e possui um diferente grau deapoio institucional a essas iniciativas, as quaisestão concentradas quase que exclusivamentena área populacional ribeirinha.

MÉTODOS

O estudo utilizou uma série temporal denove anos, com dezoito imagens de satélitessendo doze Landsat5 TM, quatro Landsat7ETM+ (órbitas/ponto 227/62 e 227/63) eduas Cbers2 CCD (órbitas/ponto 168/103 e168/104) (TABELA 1). As imagens foramprimeiramente ortorretificadas, posterior-mente submetidas à classificação supervi-sionada no método máxima verossimil-hança, determinando-se as áreas des-matadas a cada ano e comparando-as com aimagem anterior, por meio de subtração dosvetores resultantes das classes; finalmente,

cada polígono detectado foi verificado eajustado visualmente em escala 1:25.000,para um criterioso ajuste das distorçõesocorridas principalmente por presença denuvens ou nebulosidade.

A presença de algumas nuvens dispersas éconstante nas imagens desta região e os des-matamentos ocorridos abaixo delas tiveramque ser desprezados, o que pode gerar subes-timativas da área desmatada. Na regiãoamazônica, o número de imagens obtidascom alta cobertura de nuvens limita sériestemporais de estudos. Por este motivo, a in-terpretação dos desmatamentos anuais tam-bém fica altamente influenciada pela data deaquisição das imagens, pois é comum utilizarimagens de épocas diferentes do ano parachecagem, produzindo comparações queraramente apresentam o intervalo desejadode doze meses.

Devido a este fato e sabendo-se que o des-matamento na Amazônia ocorre principal-mente na época do verão (de agosto a no-vembro), utilizou-se metodologia adotadapelo INPE no Programa de Cálculo doDesflorestamento da Amazônia (PRODESdigital). Neste método, sistematizado porCâmara et al. (2004-2005), pondera-se o des-matamento total pelos dias da estação seca doano da imagem e da estação seca do ano an-terior, desprezando-se a ocorrência de des-matamento na estação chuvosa, diluindo-se

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assim as distorções geradas pela diferença dedatas de aquisição das imagens.

Neste estudo, o verão foi considerado entreos dias 01/08 e 01/12, datas entre as quaishistoricamente se concentra a maioria dosdesmatamentos, em especial para a agricul-tura familiar e pecuária. Foi considerado tam-bém que a partir de cinco anos de regene-ração de uma área ela já era considerada umacapoeira, passível de detecção de novo des-matamento, exatamente como observado nociclo de corte e queima nas comunidadestradicionais do oeste do Pará.

Após a obtenção dos dados por meio dasimagens e calculadas as taxas anuais de des-matamento em hectares e em número de polí-gonos, foram efetuados três tipos de análisesdos dados: as taxas totais de desmatamento -em área de florestas e em área de capoeiras; astaxas de desmatamento em cada uma dasáreas populacionais definidas no zoneamentoda FLONA; e a análise dos tamanhos dospolígonos encontrados, que pode indicar osprincipais fatores causadores do desmata-mento na FLONA Tapajós.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A evolução das taxas anuais de desmatamen-to total mostrou que elas variaram entre 346ha/ano em 1999 e 1.009 ha/ano em 2004, comuma média de 607 ha/ano nos nove anosanalisados. Destacando somente os desmata-

mentos em florestas primárias, os valores fi-cam entre 115 ha/ano em 2005 e 339 ha/anoem 2004, com média de 198 ha/ano, tota-lizando 5.460 ha nos nove anos analisados(FIGURA 3).

Observa-se uma grande elevação na taxa dedesmatamento de 2004 e sua acentuada re-gressão em 2005. As curvas das taxas de des-matamento de áreas de capoeira e florestamostraram-se equivalentes; no entanto, a taxade desmatamento em floresta se mostrou umpouco mais constante no decorrer do períodoanalisado, apesar de também mostrar umaforte redução em 2005. Entre as prováveis ex-plicações desta redução, levantadas nas re-uniões anuais com as comunidades locais, es-tá a elevação dos preços dos grãos, observadaem final de 2003, principalmente do arroz, oque entusiasmou o pequeno produtor rural apreparar maior área de plantio para 2004.Porém, em 2005, o preço caiu abaixo de seusníveis históricos e o lucro foi muito aquém doesperado, refletindo diretamente na quedadas taxas de desmatamento de 2005, princi-palmente nas áreas de floresta primária, quan-do se apresentou a menor taxa da série históri-ca. A disponibilidade de mais áreas abertasem floresta primária no ano de 2004 provavel-mente causou também redução da necessi-dade de abertura de novas áreas em 2005,quando diminui o desmatamento verificado.

Separando-se as taxas de desmatamento en-contradas em cada área habitada (TABELA 2)

Figura 3: Evolução anual das taxas de desmatamento na FLONA Tapajós entre 1997 e 2005. (dados em hectares)

01997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

200

400

600

800

1000

1200ha

Capoeira Floresta Total

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TABELA 2: Distribuição das classes resultantes da classificação supervisionada pelo algoritmo de Máxima Verossimilhança das

imagens LandSat 5 TM, órbita/ponto 227/62 e 227/63 de 01/07/2005, nas áreas habitadas da Floresta Nacional do Tapajós

Nome Área Floresta Floresta Água e campos DesmatamentoTotal (ha) Primária (%) Secundária (%) alagados (%) (%)

Aveiro 25.219 84,7 8,7 0,3 6,3

Chibé 1.832 54,1 19,4 0,1 26,5

Lotes da BR163 6.853 55,0 21,7 0,0 23,3

Planalto 15.159 53,4 21,4 0,1 25,1

Ribeirinha 64.271 83,5 9,9 0,7 5,9

Total 113.334 77,6 11,9 0,5 10,1

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Evolução anual de desmatamento na Floresta Nacional de Tapajós: 1997-2005

observa-se que as que mais contribuem parao desmatamento total na unidade de conser-vação são Planalto (total de 1.968 ha no perío-do) e Ribeirinha (total de 2.017 ha no perío-do), porém Ribeirinha utilizou 38% menosfloresta nativa do que Planalto, representan-do 472 contra 760 ha (FIGURA 4).

Outro dado que se ressalta é o desmatamentoem floresta nativa na área Chibé. Apesar deter a menor taxa de desmatamento total (322ha ou 6% do total), ser a menor área habitadae conter apenas uma comunidade, apresen-tou a terceira maior taxa de desmatamentoem floresta primária, totalizando 220 ha noperíodo analisado ou 12,5% do total registra-do na unidade.

A única área que não apresentou aumentonas taxas de desmatamento em florestaprimária em 2004 foi a área Ribeirinha, oque parece denotar que esta área foi menosinfluenciada pelas oscilações do mercadode grãos.

A distribuição de tamanho dos polígonos dedesmatamento detectados mostra que os des-matamentos menores que três hectares, queem primeira análise estariam de acordo comas normas de uso da unidade de conservação,perfazem 81,9% dos polígonos de desmata-mento, mas são responsáveis por 44,8% daárea total desmatada no período. Na outra ex-tremidade estão os polígonos detectadosmaiores que oito hectares, na sua totalidadeilegais, associados em sua maioria à ampli-

ação de pastagens por fazendeiros não resi-dentes na unidade. Esses são apenas 2,9% dospolígonos, mas contribuíram com 23,1% daárea total desmatada no período (TABELA 3).Separando-se os desmatamentos ocorridosem áreas de floresta primária, a participaçãorelativa das áreas maiores que oito hectaressobe para 5,7% em número de polígonos epara 30,5% em área (TABELA 4). Nos des-matamentos com até três hectares, 22% foramem floresta primária, índice que aumenta para34% nas áreas com três a oito hectares e chegaa 47% nas áreas maiores que oito hectares.

Esses dados apontam que, apesar da agricul-tura familiar ter menor participação propor-cional no desmatamento em florestaprimária, o maior número de pequenos lotesrespondeu por 637 ha desmatados, contra 545ha dos grandes desmatamentos.

Os desmatamentos maiores que oito hectaresestão distribuídos nas diversas áreashabitadas, da seguinte forma: Planalto -60,8%; BR163 - 21,3%; Ribeirinha - 8,3%;Aveiro - 7,5%; Chibé - 2,1%.

Por serem poucas, e certamente ilegais, asáreas maiores que oito hectares podem sermais facilmente combatidas com ações de fis-calização mais intensiva. A proporção da áreadesmatada em floresta primária provenientede desmatamentos maiores que oito hectaresé observada na TABELA 5. Destaca-se que naárea da BR-163, 70,6% da área desmatada emfloresta primária provém de desmatamentos

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Figura 4: Evolução anual das taxas de desmatamento na FLONA Tapajós entre 1997 e 2005, nas diferentes zonas habitadas (da-

dos em ha): A - separando-se somente desmatamentos sobre florestas primárias e B - somando-se as áreas desmatadas em

florestas primárias e secundárias

A – Florestas Primárias

B – Florestas Primárias e Secundárias

ano

ano

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Evolução anual de desmatamento na Floresta Nacional de Tapajós: 1997-2005

maiores que oito hectares e, na área doPlanalto, 45,6%. Na outra extremidade, Chibée a área Ribeirinha apresentaram respectiva-mente apenas 8,2% e 11,0% da área desmata-da em floresta primária, ocasionados por des-matamentos maiores que oito ha.

CONCLUSÕES

O desafio de manter extensas áreas de flo-

TABELA 3: Distribuição em classes de área da quantidade de polígonos de desmatamento detectados na Floresta Nacional do

Tapajós de 1997 a 2005 e suas participações no total verificado, somando-se as áreas desmatadas em florestas primárias e se-

cundárias

Tamanho Qualidade de Polígnos Área dos Polígnosn° % ha %

até 3 ha 2.081 81,9 2.443 44,8

de 3 a 8 ha 386 15,2 1.756 32,2

>8 ha 74 2,9 1.260 23,1

TTOOTTAALL 22..554411 110000,,00 55..445599 110000,,00

TABELA 4: Distribuição em classes de área da quantidade de polígonos de desmatamento detectados na Floresta Nacional do

Tapajós de 1997 a 2005 e suas participações no total verificado, considerando somente desmatamentos sobre florestas

primárias

Tamanho Qualidade de Polígnos Área dos Polígnosn° % ha %

até 3 ha 450 73,2 637 35,7

de 3 a 8 ha 130 21,1 604 33,8

>8 ha 35 5,7 545 30,5

TToottaall 661155 110000,,00 11..778866 110000,,00

TABELA 5: Proporção da área desmatada em floresta primária proveniente de desmatamentos maiores que oito hectares, por

área habitada na Floresta Nacional do Tapajós, de 1997 a 2005

Área habitada Total (ha) Áreas maiores que oito ha (ha) %

Planalto 760 347 45,6

BR163 119 84 70,6

Ribeirinha 473 52 11,0

Aveiro 178 44 24,5

Chibé 220 18 8,2

Outras áreas 36 0 0,0

Total 1.786 545 30,5

restas em unidades de conservação comgrande presença de moradores envolve bus-car métodos eficazes para manter estáveis ouem declínio os índices de desmatamento nes-tas áreas.

Na FLONA Tapajós, apesar de vários investi-mentos em projetos de geração de renda e au-mento considerável da fiscalização nos últi-mos anos, as taxas de desmatamento apresen-

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taram um gradual aumento anual que, apesarde não se apresentar muito acentuado, indicafatores que estariam influenciando nestadinâmica. Destacam: a) a principal fonte derenda da população continua a vir da agricul-tura de corte e queima; b) investidas ilegais,que geram desmatamentos maiores que oitohectares para implantação de pastagens,ocorreram em todos os anos avaliados; c) ape-sar de ser proibida a entrada de novosmoradores, a população vem crescendo; e d)as rápidas transformações econômicas pelasquais passa a região da BR-163 (sudoeste doPará) também vêm influenciando a dinâmicado desmatamento dentro da unidade.

A taxa de desmatamento média de 198hectares anuais em áreas de floresta primáriadentro da FLONA Tapajós pode ser conside-rada baixa, se comparada aos 9.387 hectaresanuais detectados na região vizinha porCohenca (2005). Apesar disso, é importantecriar mecanismos mais eficazes de ação nasáreas que mostraram um rápido avanço sobreas áreas de florestas, destacadamente as áreaspovoadas do Planalto, Ribeirinha e Chibé.

Na área do Planalto e da BR-163 sugere-se in-tensificar a fiscalização dos grandes desmata-mentos ilegais, que têm sido responsáveispela maior parte da área desmatada em flo-resta primária. Já nas áreas Ribeirinhas, Chibée Aveiro, sugere-se investimento na busca poralternativas ao uso de floresta primária poragricultores tradicionais. Naturalmente, énecessário que se busquem mecanismos maiseficientes para conter o fluxo populacionalpara o interior da unidade e atingir uma esta-bilidade demográfica compatível com as fi-nalidades da UC.

REFERÊNCIAS

Câmara, G.; Valeriano, D.M.; Soares, J.V. 2004-2005. Metodologia para o cálculo da taxa anual dedesmatamento na Amazônia Legal. Disponívelem: <www.obt.inpe.br/prodes> Acesso em:25/10/2005.

Cohenca, D. 2005. A expansão da fronteira agrí-cola e sua relação com o desmatamento detectadoem imagens Landsat TM e ETM+ na região norteda BR-163, Pará entre os anos de 1999 a 2004.Lavras, MG. 59 f. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão e ManejoAmbiental em Sistemas Florestais) - FAEPE,UFLA. Disponível em: <http://www.iba-ma.gov.br/flona_tapajos/download.php?id_download=136>. Acesso em: 06 out. 2006.

Cordeiro, A. (Coord.). 2004. Floresta Nacionaldo Tapajós - Plano de Manejo. Belterra: IBAMA.373p. v. I- Informações Gerais. Disponívelem: <http://www.ibama.gov.br/flona_tapa-jos>. Acesso em: 30 out. 2006.

Grupo de Trabalho Interministerial. 2005.Plano de Desenvolvimento Regional Sustentávelpara a área de influência da Rodovia BR163Cuiabá - Santarém. 2ª etapa de ConsultasPúblicas. Brasília. 139 p.

WWF - Brasil. Áreas Protegidas da Amazônia.Fases. 2005. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/wwf/opencms/ site/list_news.jsp?channelId=600&newsChannelId=605> Acessoem: 25 out. 2005.

* Mapas e arquivos de feições geográficas utilizados

neste artigo estão disponíveis para download em:

http://www.ibama.gov.br/flona_tapajos

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Aplicação da análise da cadeia casual em unidades de conservação.

Um estudo de caso: Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim (SC – Brasil)

INTRODUÇÃO

O território brasileiro encontra-se recobertopelos mais variados ecossistemas, colocando-se entre os países com maior diversidade devida no planeta. Uma das principais estraté-gias para proteção da biodiversidade noBrasil é a criação de áreas naturais protegidas– as Unidades de Conservação. Nestas áreas,

busca-se a conservação da flora e da fauna,bem como dos processos ecológicos queregem os ecossistemas, garantindo amanutenção do estoque da biodiversidade.

No Brasil, somente 5,25% do território na-cional são áreas naturais protegidas (www.iba-ma.gov.br), sendo que uma grande parte delasé criada e depois não é efetivada por uma sériede motivos, entre os quais a falta de pessoal, deinfra-estrutura do órgão gestor, de recursos fi-nanceiros e de respaldo da comunidade;acabam, então, sofrendo degradação e a perda

1 Enviado originalmente em português2 [email protected]

Aplicação da análise da cadeia casual emunidades de conservação. Um estudo de caso:Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim (SC – Brasil)1

Diana Carla Floriani, MSc2

• Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim – IBAMALuiz Fernando Scheibe, Dr. • Universidade Federal de Santa Catarina

Departamento de Geociências – Laboratório de Análise Ambiental Marcus Polette, Dr.• Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI

Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Oceanografia

RESUMO. A identificação das principais causas de degradação antrópica nas unidades de conser-vação e suas inter-relações, por meio da aplicação de um modelo conceitual denominado Análise daCadeia Causal (ACC), é uma ferramenta valiosa para nortear a gestão de tais áreas protegidas. Talmodelo foi adotado no âmbito do projeto Global International Water Assessment – GIWA e foi adapta-do para aplicação na Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim (APAA), unidade de conservaçãofederal gerida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis(IBAMA), órgão governamental vinculado ao Ministério do Meio Ambiente brasileiro. As bases con-ceituais da ACC estão definidas no trabalho de Marques (2002), assim como a abordagemmetodológica, que foi adaptada para as especificidades da APAA. A partir da aplicação do modelo,foram identificados três principais problemas ambientais: (1) Poluição; (2) Modificação de ambientese comunidades; e (3) Exploração Não-Sustentável dos Recursos Vivos; para cada um foi construídauma cadeia causal, demonstrando os principais problemas ambientais da APAA e suas causas ime-diatas, setoriais e raízes. Assim, foi possível concluir que a referida unidade de conservação aindanão foi adequadamente implementada e que seus objetivos não foram plenamente atingidos.

Palavras-Chave: Impactos Ambientais, Impactos Socioeconômicos; Análise de Efetividade

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de biodiversidade que se pretendeu evitar.Portanto, a aplicação de um modelo conceitu-al que vise avaliar até que ponto essas áreasprotegidas são efetivas, quais as principaisdegradações e as possíveis soluções, pode seruma importante ferramenta para sua gestão,norteando ações para a efetiva implementaçãodessas áreas, as quais possuem alta importân-cia ecológica na garantia de conservação dosecossistemas brasileiros.

Nesse contexto, o presente trabalho demon-stra os resultados da avaliação da efetividadede uma Unidade de Conservação Federal – aÁrea de Proteção Ambiental doAnhatomirim, por meio da adaptação de ummodelo conceitual de Análise da CadeiaCausal (ACC) originalmente proposto poruma equipe multidisciplinar para o projetodas Nações Unidas Global International WaterAssessment – GIWA, do Programa das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e fi-nanciado pelo Global Environmental Facility(GEF) (MARQUES, 2002).

A aplicação do referido modelo é ferramentavaliosa para o entendimento da realidade dasUnidades de Conservação, devido ao seubaixo custo e fácil análise, sendo um instru-mento de diagnóstico que, se construído par-ticipativamente, pode auxiliar no conheci-mento da problemática ambiental local, porparte da sociedade, órgãos públicos e uti-lizadores de recurso.

A avaliação da efetividade da APA doAnhatomirim foi realizada buscando verificarse atinge seus objetivos, definidos no Decretode Criação da unidade, de No 528 de 20 demaio de 1992. Para isso, foram utilizados levan-tamento bibliográfico, trabalhos de campo e so-brevôo específico da área. A partir desses da-dos, identificaram-se os impactos ambientais esocioeconômicos decorrentes dos problemasambientais prioritários e seus respectivos aspec-tos associados, com base no modelo do GIWA.

O presente estudo poderá ainda: servir de fer-ramenta para a tomada de decisões dosórgãos públicos e co-gestores sobre os rumos

dessa Unidade de Conservação; auxiliar naelaboração de Políticas Públicas que visem àreal implementação e proteção da APAA,principal local de descanso e alimentação dapopulação residente mais austral do golfinhoSotalia guianensis; e servir de modelo paraaplicação em outras áreas naturais protegidasde âmbito federal, estadual ou municipal.

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A Área de Proteção Ambiental doAnhatomirim (APAA) está localizada naporção norte da microrregião da grandeFlorianópolis, a noroeste da Ilha de SantaCatarina, entre as coordenadas UTM 22J6961307 e 738997, 6970816 e 742371, 6969041 e744024 e 6964383 e 736764 (FIGURA 1).

Inclui parte do município de Governador

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Diana Carla Floriani – Luiz Fernando Scheibe – Marcus Polette

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo

APA do Anhatomirim

Município de Governador Celso Ramos

Estado do Paraná

Estado do Rio

Grande do Sul

Oce

ano

Atlâ

ntic

o

Arg

entina

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47Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 45-53

Aplicação da análise da cadeia casual em unidades de conservação.

Um estudo de caso: Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim (SC – Brasil)

Celso Ramos e suas águas jurisdicionais, asquais compõem uma porção da Baía Norte daIlha de Santa Catarina, sul do Brasil.

METODOLOGIA

A análise da Cadeia Causal (ACC) é um mo-delo conceitual proposto inicialmente para oprojeto Global International Waters Assessment(GIWA/PNUMA/GEF), conforme descritoem Marques (2002), e vem sendo aplicado co-mo ferramenta essencial usada para identi-ficar e melhor entender as relações entreproblemas ambientais e suas causas (www.gi-wa.net, consulta em março de 2005).

A ACC baseia-se na identificação das diver-sas causas (de natureza física e socioe-conômica) de origem antrópica responsáveispela degradação dos ecossistemas e no co-nhecimento das inter-relações entre elas,constituindo-se em abordagem analítica im-portante na elaboração de diagnósticos,identificação de tendências, construção decenários, formulação de políticas e elabo-ração de planos de ação estratégica eficientes(MARQUES, 2002).

A Análise da Cadeia Causal proposta para aÁrea de Proteção Ambiental do Anhatomirimfoi construída a partir da realização de saídasde campo periódicas à referida Unidade deConservação e de levantamento bibliográfico,em que foram identificados os principais im-pactos ambientais e socioeconômicos decor-rentes dos problemas ambientais prioritários.

A partir da listagem desses problemas, asprováveis causas foram agrupadas nas trêscategorias básicas propostas pelo método, econstruiu-se uma cadeia causal para cadaproblema ambiental.

As Causas Imediatas foram identificadas apartir da constatação do problema ambiental,em que se perguntou o porquê da sua ocor-rência, sendo relacionadas ao meio físico. Sãoconstituídas por processos físicos, químicos,biológicos que agem diretamente sobre omeio ambiente, gerando o problema.

A partir da identificação das causas imedi-atas, provocou-se novamente a formulaçãoda pergunta “por quê?”, para identificaçãodas Causas Setoriais, as quais, de acordo como modelo proposto, estão relacionadas comatividades econômicas associadas a dife-rentes setores da economia que ocorrem naAPA do Anhatomirim. Neste nível de causassetoriais, fatores tais como a decisão políticade fornecer incentivo à instalação de indús-trias ou subsídio à atividade agrícola podemestimular o surgimento das causas setoriaisresponsáveis por um determinado problemae seu aspecto ambiental (políticas setoriais).

Identificadas as Causas Setoriais, partiu-separa a busca das Causas-Raiz do problemaambiental, assim consideradas todas ascausas de natureza socioeconômica respon-sáveis por um determinado problema ambi-ental, assim como os fatores de governançaassociados a elas. Tal categoria incluiu asinstituições informais, costumes, tradições,normas e religiões. Sob a denominação deCausas-Raiz, encontraram-se, portanto, umconjunto de causas diversas, de natureza:econômica; demográfica/social; tecnológica;política; de conhecimento; fatores de gover-nança e cultural.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Análise da Cadeia Causal para a APA doAnhatomirim foi construída a partir da iden-tificação dos impactos ambientais e socioe-conômicos decorrentes dos problemas ambi-entais prioritários e seus respectivos aspec-tos associados, que foram identificados pormeio de consultas à comunidade local e deconstatações em campo, tomando como baseo conjunto dos problemas ambientais rela-cionados com a degradação de ambientesaquáticos propostos pelo GIWA.

Foram considerados três problemas ambien-tais prioritários para resolução na APA doAnhatomirim:

Poluição e/ou contaminação, levando àdiminuição da qualidade das águas da UC,

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Diana Carla Floriani – Luiz Fernando Scheibe – Marcus Polette

inclusive apresentando alguns locais comcondição imprópria para banho (base: dadosde balneabilidade para os anos de 2002, 2003e 2004 da Fundação Estadual de MeioAmbiente – FATMA);

Modificação de ambientes de comunidadesnaturais – problema recorrente no interior dareferida UC, principalmente desmatamentose modificação de cursos d´água; e

Exploração não-sustentável dos recursosvivos – principalmente no que se refere àpesca, à caça e à retirada de palmito.

Para cada um destes três problemas ambien-tais, foi então construída uma cadeia causal,com base nas informações coletadas nos tra-balhos de campo, sobrevôos e dados se-cundários. Os resultados estão resumidos nasFIGURAS 2, 3 e 4. Nessas figuras, foram uti-lizadas linhas cheias, tracejadas e ponti-lhadas, quando necessário, para facilitar aleitura da cadeia causal no que se refere aosimpactos ambientais e aos aspectos ambien-tais relacionados a cada um desses impactos.Utilizou-se este recurso para associar as dife-rentes categorias de causas.

Observe-se ainda que, além dos impactos easpectos ambientais e respectivas causas ime-diatas, setoriais e raiz, foram também rela-cionados os principais impactos socioe-conômicos decorrentes dos problemas ambi-entais, o que deve servir para ressaltar arelevância social das medidas de controle aserem adotadas no plano de manejo da APAdo Anhatomirim, documento técnico quedeve conter as diretrizes de gestão das áreasprotegidas brasileiras, de acordo com a LeiNo 9.985/2000, que instituiu o SistemaNacional de Unidades de Conservação.

São os seguintes os principais aspectos daanálise de cada cadeia causal:

Cadeia Causal 1 - Poluição

Em consultas realizadas à comunidade hu-mana, a poluição dos cursos d´água foi um

problema recorrente e bastante citado pelosmoradores locais, principalmente no que serefere à presença de lixo e contaminação poresgotos, visto que o município não possuirede de coleta para tratamento dos efluentesdomésticos.

Corroborando a opinião da comunidade, aFATMA (Fundação do Meio Ambiente doEstado de Santa Catarina) vem realizando cole-tas de água periódicas, desde o ano de 2002, emdois pontos localizados no interior da APA doAnhatomirim - Praia da Armação da Piedade ePraia da Baía dos Golfinhos - e em outro, situa-do no entorno - Praia de Palmas. Analisando-seas tabelas com os resultados das análises deágua, verificou-se que os pontos de coleta lo-calizados no interior da APA do Anhatomirimapresentaram condições impróprias para bal-neabilidade, sendo que se observou um au-mento desta condição do ano de 2002 para2004, principalmente na Baía dos Golfinhos.

A partir da observação da FIGURA 2, verifi-cou-se que o setor econômico construção ci-vil/urbanização, que vem provocando a ocu-pação sem infra-estrutura e ordenamento naAPA do Anhatomirim e entorno, contribuipara a geração das cinco principais causasimediatas da poluição/contaminação. Os de-mais setores econômicos contribuem somentepara uma das causas imediatas.

As causas raiz foram identificadas con-siderando-se a possibilidade de governabili-dade ao nível local pelos órgãos governamen-tais em conjunto com as associações, ONGs erepresentantes da sociedade civil, para efeitode seleção e formulação de políticas de inter-venção, tendo em vista a impossibilidade deintervenção local/regional. Exclui-se o cresci-mento populacional, a fragilidade dos órgãosde fiscalização e a lentidão da justiça no Brasil(principalmente no que se refere à punição docausador do dano ambiental e à recuperaçãoda área degradada).

A falta de Plano de Manejo da APA doAnhatomirim é colocada como uma dascausas raízes de importância, visto que a

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Aplicação da análise da cadeia casual em unidades de conservação.

Um estudo de caso: Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim (SC – Brasil)

referida Unidade de Conservação existe há 12anos e ainda não possui este importanteinstrumento de planejamento e gestão.

Cadeia Causal 2 – Modificação de ambientese comunidades

O problema ambiental “Modificação de ambi-entes e comunidades”, que deu origem àcadeia causal 2, é prioritário devido aos con-stantes danos ambientais constatados nas saí-das de campo periódicas à APA doAnhatomirim e no sobrevôo realizado.

A lista dos impactos socioeconômicos, ambi-entais, seus aspectos relacionados e as causasimediatas, setoriais e raiz podem ser observa-dos na FIGURA 3.

A conversão de áreas de Mata Atlântica emangue para outros usos é uma causa imedi-ata originada de todas as causas setoriais, eestá associada a falhas nas políticas educa-cionais, principalmente no que se refere ao

desconhecimento por parte da população so-bre as funções do ecossistema manguezal edos impactos futuros em relação aos estoquespesqueiros, manutenção dos cursos d´água enascentes, entre outros.

Salienta-se ainda que a especulação imobi-liária vem tomando força ao longo dos anos,estimulando a construção civil, importantecausa setorial para a perda de ecossistemas naAPA do Anhatomirim, visto que o alto valoradquirido pelas propriedades, principal-mente aquelas desprovidas de vegetação, in-cita a comunidade local a cometer crimes am-bientais, não considerando a devida valo-ração dos ecossistemas perdidos.

Por meio das consultas à comunidade local,verificou-se que a exploração econômica nãosustentável de espécies está relacionada prin-cipalmente à retirada do palmito, atividadeilegal que vem ocorrendo sistematicamentenas encostas da Serra da Armação, nas áreasde mata mais conservada e, de acordo com

Figura 2: Cadeia Causal 1- Poluição

Impactos

socioeconômicos

Problema

ambiental

Impactos

ambientais

Doenças dos

organismos

aquáticos

Redução de O2

Mudanças na

composição do

sedimento marinho

Mudanças na

diversidade

biológica

Menor

disponibilidade

de alimentos para

os golfinhos

Aspectos

ambientais

Puluição

microbiológica

Eutrofização

e M.O.

Sólidos em

suspensão

Poluição

química

Resíduos

sólidos

Causas

imediatas

Aumento

dos micro

organismos

patogênicos

Aumento

de

detergentes

Presença de

agrotóxicos

e metais

pesados

Chorume

(cemitério

próximos a

cursos

d’água)

Desmata-

mento e

erosão

Causas

setoriais

Construção

civil

Agricultura

Turismo

Aqüicultura

Mineração

Causas

raízes

Demográfica

Crescimento

populacional

Governança

Falta de Plano

Diretor e Plano

de Manejo

APAA

Conhecimento

Falta de

conhecimento

das leis e

das políticas

educacionais

Governança

Fragilidade dos

órgãos de

fiscalização,

falta de pessoal,

infra-estrutura

institucional

e contingente

treinado.

Lentidão da

Justiça (*)

Custos para

tratamento de

esgotos domésticos

Manutenção dos

equipamentos para

tratamento

Redução

de opções

(turismo)

Diminuição

da pesca

Comprometimento

da maricultura que

depende de águas

de boa qualidade

Diminuição do

Dolphin watching

Risco aumentado de

problemas para a

saúde humana

Pol

uiçã

o e

Con

tam

inaç

ão

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50Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 45-53

Diana Carla Floriani – Luiz Fernando Scheibe – Marcus Polette

moradores, é realizada por pessoas de fora dacomunidade, sendo a grande maioria delascontra a sua realização.

Como na Cadeia Causal 1, as causas raízesforam identificadas considerando-se, paraefeito de formulação de opções políticas e in-tervenção, a possibilidade de governabili-dade ao nível local. Neste caso, exclui-se, dasopções políticas de intervenção, o crescimen-to populacional, a fragilidade dos órgãos defiscalização, a lentidão da justiça no Brasil e aprioridade para o desenvolvimento econômi-co não sustentável.

Cadeia Causal 3 – Exploração não-sustentá-vel dos recursos vivos

A exploração não sustentável dos recursosvivos foi considerada como problema prio-ritário, principalmente pela economia doMunicípio de Governador Celso Ramos de-

pender, principalmente, da atividadepesqueira, a qual vem ocorrendo de formadesordenada na APA do Anhatomirim e en-torno, e em desacordo com a legislaçãopesqueira vigente.

Por meio das consultas à comunidade local, amaioria dos pescadores artesanais reportaausência de conhecimento das leis e dis-cordância do seu teor (ex.: o período de defe-so não coincide com a época de reprodução).

Ainda com relação à exploração não-susten-tável dos recursos vivos, de acordo commoradores locais, ocorre caça de pequenosmamíferos e aves nas áreas mais conservadasda Serra da Armação, normalmente no perío-do da noite, em que a atividade é praticadapor pessoas da comunidade e também gentede fora do município.

Os impactos socioeconômicos e ambientais

Figura 3: Cadeia causal 2 – Modificação de ambientes e comunidades

Impactos

socioeconômicos

Problema

ambiental

Impactos

ambientais

Introdução de

doenças

Desmatamento

Alteração na

vazão dos rios

Mudanças na

diversidade

biológica

Menor

disponibilidade

de alimentos e

habitat para fauna

Alteração do ciclo

reprodutivo

das espécies

Aspectos

ambientais

Perda de

ecossistemas

Modificação de

ecossistemas

Causas

imediatas

Conversão

de mata

Atlântica(3)

e mangue

para outros

usos

Erosão

Exploração

econômica

não

sustentável

do palmito

Introdução

da sp

exótica prin-

cipalmente

pinus sp

Causas

setoriais

Construção

civil

Agricultura

Mineração

Turismo

Aqüicultura

Extrativismo

Setro

madeireiro

Causas

raízes

Demográfica

Crescimento

populacional

Governança

Falta de Plano

Diretor e Plano

de Manejo APA

e políticas

educacionais

Conhecimento

Falta de

treinamentos

para práticas

agrícolas

sustentáveis

Econômica

Flata de

internalização

dos custos da

degradação

ambiental

Governança

Vide cadeia

casual 1(*)

Econômica

Prioridade para

desenvolvimen-

to econômico

não sustentável

Custos para

conter a erosão

Extinção ou

diminuição

do palmito

Redução

de opções

(turismo)

Invibilização do

setor pesqueiro

Perda do

valor estético

Diminuição do

Dolphin watching

Mod

ifica

ção

de h

abit

ats

e co

mun

idad

es

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51Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 45-53

Aplicação da análise da cadeia casual em unidades de conservação.

Um estudo de caso: Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim (SC – Brasil)

associados ao referido problema ambiental eseus aspectos relacionados, bem como suascausas imediatas, setoriais e raízes, podemser observados na FIGURA 4.

Destacam-se na cadeia causal 3 as interaçõesentre os golfinhos Sotalia guianensis, a ativi-dade pesqueira e o turismo. Essas interaçõesvêm ocorrendo em desacordo com a legislaçãovigente. Em saídas de campo, rea-lizadas naárea marinha da APAA, em dias de alta tem-porada, foram observadas até três embar-cações grandes (escunas) simultaneamente,muito próximas à população residente degolfinhos. A causa raiz para este problema é oquadro histórico do funcionamento da APAAque, em 12 anos de existência, foi falho em re-lação às atividades fiscalizatórias para a partemarinha da referida Unidade de Conservação,o que acarretou em descumprimento da legis-lação vigente (Portaria No 117/96 – normas de

avistagem de cetáceos em águas brasileiras).

Verificou-se que os três problemas ambientaisprioritários e a conseqüente degradação daAPA do Anhatomirim se originam, muitasvezes, das mesmas causas setoriais e, conse-qüentemente, das mesmas causas-raiz. Por ex-emplo, a fragilidade dos órgãos de fiscaliza-ção, a falta de pessoal, a infra-estrutura insti-tucional, o contingente treinado e a lentidãoda justiça, originam a ocupação desordenada,por meio da construção civil, o que, além demodificar ambientes e estruturas das comu-nidades, causa poluição direta nos cursosd´água e conseqüentemente na área marinha,o que prejudica sobremaneira a população degolfinhos S. guianensis e a pesca artesanal.

A falta de instrumentos de planejamento tam-bém é uma das causas-raiz para a degradaçãodos ecossistemas da referida Unidade de

Figura 4: Cadeia causal 3 – Exploração não-sustentável de recursos vivos

Impactos

socioeconômicos

Problema

ambiental

Impactos

ambientais

Extinção

de sp

Quebra da

cadei alimentar

Impactos sobre a

população de

S fluviatilis

Aspectos

ambientais

Sobre

pesca

Captura

acidental

Descarte

Impacto na di-

versidade bio-

lógica genética

Causas

imediatas

Realização

de pesca

de arrasto

Captura e

morte de

Animais

Selvagens

Soltura de-

liberada e

escape de

sp exóticas

Causas

setoriais

Setor

pesqueiro

Extrativismo

e caça

Aqüicultura

Turismo

Causas

raízes

Demográfica

Aumento

da demanda

por comida

Sócio

-econômica

Falta de

escolaridade

e pobraza

Governança

Ausência da

comunidade

na exploração

das leis

Conhecimento

Falta de treina-

mentopara

práticas

pesqueiras

sustentáveis

Econômica

Falta de inter-

nalização dos

custos de

degradação

ambiental

Governança

Vide cadeia

casual 1(*)

Extinção ou

diminuição

de estoques

Redução

de opções

(turismo)

Redução

da pesca

Diminuição do

Dolphin watching Expl

oraç

ão n

ão s

uste

ntáv

elde

rec

urso

s vi

vos

Esforço

acima da

PMS (1)

da SP

Setor

governa-

mental

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Diana Carla Floriani – Luiz Fernando Scheibe – Marcus Polette

Conservação, visto que, existindo desde 1992,ainda não possui plano de manejo. O PlanoDiretor do Município de Governador CelsoRamos está desatualizado. Entretanto, existia jáem 2004 um novo projeto de lei elaborado pelaPrefeitura Municipal de Governador CelsoRamos para modificação do referido plano, oqual, por não estar de acordo com a LegislaçãoFederal vigente, principalmente no que se re-fere às Áreas de Preservação Permanentedefinidas pelo Código Florestal (Lei No4.771/65) foi paralisado pelo Ministério PúblicoFederal para modificações no ano de 2004.

Entretanto, tais instrumentos de planejamen-to, apesar de serem fundamentais para o or-denamento das atividades que vêm sendo re-alizadas na APA do Anhatomirim, não irão re-solver por si só os problemas ambientais, cu-jas causas são imediatas, mas também setori-ais. Muitos problemas não dependem direta-mente dos instrumentos de planejamento,mas da adoção de providências básicas, como:a construção de uma rede de tratamento de es-gotos domésticos e utilização de fossas sépti-cas nas localidades menores e áreas rurais; oefetivo cumprimento da legislação ambientaljá vigente, principalmente no que se refere aorespeito às áreas de preservação permanente eà presença de Mata Atlântica em estágio mé-dio a avançado de regeneração; observação decetáceos; bem como aquelas específicas para aAPA do Anhatomirim (Decreto No 528/1992,Portaria No s 5/97 e 6/98).

Verificou-se ainda, observando as cadeiascausais, que a falta de tecnologias e treina-mento para o desenvolvimento de atividadeseconômicas ambientalmente sustentáveis éuma das principais causas da degradação am-biental que vem ocorrendo na APA doAnhatomirim e, portanto, são fundamentaisestudos que identifiquem, em conjunto com acomunidade local, essas atividades, para quea APA cumpra seus objetivos de criação e suafunção principal.

As causas-raiz citadas nas cadeias causais,que originam as causas setoriais e imediatasdos três problemas ambientais prioritários

que ocorrem na APA do Anhatomirim, po-dem ser divididas em diferentes escalas degovernabilidade para seu combate, desde oâmbito local (falta de plano de manejo, planodiretor, falta de políticas educacionais) até oâmbito nacional (crescimento populacional,fragilidade dos órgãos de fiscalização,lentidão da justiça), sendo que um não fun-ciona independente do outro.

Dentre as causas-raiz, em uma escala global emais profunda, tendo como foco a APA doAnhatomirim e o que vem acontecendo comos seus recursos naturais, podem serressaltadas: (1) um sistema econômico/políti-co que privilegia os interesses individuais enão os difusos; (2) uma compreensão carte-siana da natureza, que impede as pessoas deavaliar as conseqüências relacionais de suas a-titudes; (3) políticas de turismo e de marketingvoltadas para os ganhos individuais imediatose não para uma exploração sustentada dos re-cursos naturais, que permita também o seuuso para as gerações futuras; (4) a existência deuma compreensão de que os recursos devemser explorados num sistema de “obsolescênciaprogramada”, já que o capitalismo e o capitalindependem de uma localização permanente epodem estar sempre atrás de novas localiza-ções para obter o lucro máximo, enquanto aspopulações tradicionais não têm esta mobili-dade e estão destinadas a permanecer no mes-mo local mesmo depois que os recursos este-jam exauridos pela poluição, modificações deambientes e exploração não-sustentável dosrecursos vivos. Daí a importância da partici-pação consciente dessas populações tradi-cionais – consciente porque muitas vezes suavoz é distorcida pelos arautos do desenvolvi-mento, e seus interesses imediatos – um em-prego, um salário, a possibilidade de um au-mento imediato de rendimentos pela sobrepesca – acabam também por se impor.

Note-se que a representação gráfica do mo-delo conceitual de Análise da Cadeia Causal éuma simplificação da realidade. À medidaque a cadeia causal se estende em direção àsraízes do problema, as relações entre ascausas e os efeitos tornam-se mais complexas

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Aplicação da análise da cadeia casual em unidades de conservação.

Um estudo de caso: Área de Proteção Ambiental do Anhatomirim (SC – Brasil)

e mais difíceis de identificar e quantificar. Deacordo com Marques (2002), não há truquesmetodológicos que eliminem a complexidadeinerente às relações causais nos diferentesníveis, quando se trata de problemas ambien-tais complexos. Portanto, a Análise da CadeiaCausal - assim como a maioria dos procedi-mentos de modelagem de sistemas comple-xos - é invariavelmente uma simplificaçãodas reais relações causais existentes.

Ainda de acordo com a autora acima, a soluçãopara muitas questões relacionadas à mode-lagem da cadeia causal permanece em grandeparte nas mãos dos profissionais, que devemagregar ao conhecimento científico específicosobre problemas ambientais, um conhecimentosubstancial sobre os ecossistemas em estudo esobre os fatores socioeconômicos, políticos,governamentais, tecnológicos e culturais queafetam os mesmos. Somente com uma combi-nação de experiências multidisciplinares de se-tores e grupos sociais envolvidos na questão talagregação se torna possível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS ERECOMENDAÇÕES

Por meio do modelo conceitual proposto, uti-lizado para o presente trabalho, pode-se con-cluir que:

A cadeia causal da APA do Anhatomirimapontou para as principais causas-raiz dasdegradações ambientais da UC, entre elas afalta de seu Plano de Manejo, a desatualiza-ção do Plano Diretor do Município deGovernador Celso Ramos, a fragilidade dosórgãos de fiscalização, a falta de infra-estru-tura institucional e contingente treinado e alentidão da Justiça, principalmente no que serefere às questões ambientais.

Devido à existência das causas listadas acima,pode-se concluir que a APA do Anhatomirimtem sido pouco efetiva na prática e não atingecompletamente seus objetivos de criação. Foiverificado ainda que sua efetividade vemsendo ainda menor na área marinha, sendoimportante iniciar um levantamento sobre o

uso do mar na região e ainda desenvolver umzoneamento desta área, que deve ser incluídono Plano de Manejo e Plano Diretor Municipal.

Portanto, a aplicação do modelo conceitual deanálise da cadeia causal pode ser um instru-mento valioso na identificação dos problemasambientais, suas causas e possíveis soluções, e apartir disso, utilizado na verificação da efetivi-dade das áreas protegidas no Brasil. Salienta-seaqui a importância da aplicação do modelo deforma participativa envolvendo os diferentessetores, o qual pode servir de facilitador no en-tendimento da problemática ambiental local.

Como conclusão final para esse trabalho, de-vem ser feitas avaliações da efetividade dasáreas protegidas no Brasil, sendo que a ACCpode vir a ser um dos modelos aplicados paratal fim. Essas avaliações são de fundamentalimportância para identificar caminhos bus-cando evitar a perda de biodiversidade nosecossistemas costeiros, legando assim me-lhores condições de vida para as geraçõesatuais e futuras.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Federal no 4.771. Institui o novoCódigo Florestal. Brasília, 1965.

BRASIL. Lei Federal no 9.985. Institui o SistemaNacional de Unidades de Conservação.Brasília, 2000.

BRASIL. Decreto no 528. Cria, no Estado deSanta Catarina, a Área de Proteção Ambientaldo Anhatomirim. Brasília, 1992.

GIWA. Global International Waters AssessmentMethodology. http://www.giwa.net, 2002.

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Fabrício Assis Leal – Mário Barroso Ramos-Neto – Ricardo Bonfim Machado

INTRODUÇÃO

Unidades de conservação são criadas com ointuito de proteger recursos bióticos e conser-var recursos físicos e culturais, sendo funda-mentais nas estratégias de conservação re-gionais. Com a publicação da Lei 9.985, de 18de julho de 2000, estabelecendo o SistemaNacional de Unidades de Conservação daNatureza (SNUC), foram definidos oscritérios e regras para o estabelecimento egestão das unidades de conservação.

Assim, unidades de conservação são criadaspor ato do poder público e sua criação deve,com exceção das Reservas Biológicas, ser pre-cedida de consulta pública, de acordo com o2º parágrafo do Art. 22 do SNUC, para apre-sentar a proposta à comunidade e trazer sub-sídios para os estudos técnicos, permitindoidentificar, localizar e dimensionar os limitesmais apropriados de cada UC.

O Poder Público é obrigado, nesses casos, adar todas as informações adequadas e com-preensíveis à população local e às demaispartes interessadas. Esse processo de consul-ta à população muitas vezes serve para cata-

1 Enviado originalmente em português2 [email protected]

Avaliação do desmatamento após a interrupção doprocesso de criação de áreas protegidas em Goiás1

Fabrício Assis Leal2

• Oréades Núcleo de Geoprocessamento Mário Barroso Ramos-Neto, Dr• Conservação Internacional Brasília/DF

Gerente do Programa Cerrado-PantanalRicardo Bonfim Machado, Dr• Conservação Internacional Brasília/DF

Diretor do Programa Cerrado-Pantanal

RESUMO. A região sudoeste de Goiás, além de possuir grande potencial na produção agrícola epecuária, é detentora de muitas áreas com relevante interesse para a conservação da biodiversidade.A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH) estudou a possibili-dade da criação do Refúgio de Vida Silvestre da Panela e, a Agência Goiana de Meio Ambiente (AG-MA), a criação do Parque Estadual da Serra do Caiapó. Entretanto, nenhuma das duas propostas foilevada a termo pelo governo. O objetivo desse trabalho foi avaliar os desmatamentos nessas áreas,verificando a existência de alguma relação entre a interrupção do processo de criação e a ocorrênciados desmatamentos. A avaliação foi feita comparando os desmatamentos dentro de cada polígonoproposto para as UCs e numa área externa. O delineamento utilizado foi em blocos casualizados(DBC) em esquema fatorial 2 x 2, ao nível de 5% de significância. As taxas médias anuais de des-matamentos ficaram acima da média encontrada por Machado et. al., (2004a) para o Cerrado. Porém,não houve diferença entre as áreas internas e externas desmatadas, não evidenciando o fato que a in-terrupção do processo para a criação das UCs prejudique importantes áreas com grande relevânciaem biodiversidade.

Palavras-Chave: Unidades de Conservação, Imagens de Satélites, Biodiversidade, Sudoeste Goiano,Geoprocessamento.

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Avaliação do desmatamento após a interrupção do processo de criação de áreas protegidas em Goiás

lisar pressões e interesses de pequenos gru-pos contrários à criação das áreas protegidas.

Em Goiás, segundo o IBAMA (2006), existem36 áreas protegidas, sendo nove de proteçãointegral e 27 de uso sustentável. Nas áreas deproteção integral encontram-se dois parquesnacionais: o Parque Nacional das Emas e oParque Nacional da Chapada dos Veadeiros;e sete parques estaduais, entre eles o ParqueEstadual da Serra de Caldas e o ParqueEstadual da Serra Dourada. Nas áreas de usosustentável encontram-se as seguintes catego-rias: Área de Proteção Ambiental - APA (11),Floresta Nacional – FLONA (2), ReservasParticulares do Patrimônio Nacional – RPPN(13) e Floresta Estadual (1).

Com o intuito de proteger áreas de grande in-teresse para a conservação da biodiversidadeno sudoeste goiano, duas propostas de cri-ação de unidades de conservação estaduaisforam encaminhadas, sendo elas: Refúgiode Vida Silvestre da Panela, com iniciativada Secretaria de Estado de Meio Ambiente eRecursos Hídricos (SEMARH), e o ParqueEstadual da Serra do Caiapó, com iniciativada Agência Goiana de Meio Ambiente(AGMA).

Ambas as UCs estão incluídas, de acordo como SNUC, na categoria de proteção integral,cujo objetivo básico é preservar a natureza,sendo admitido apenas o uso indireto dosseus recursos naturais.

Essas duas iniciativas, seguindo as orien-tações do SNUC, tiveram as propostas técni-cas apresentadas em audiências públicas, re-alizadas em maio e abril de 2004; porém, de-vido à grande pressão política exercida porgrupos econômicos com interesses de explo-ração na área, nenhuma das duas propostasfoi implementada pelo governo.

O objetivo desse trabalho foi avaliar as conse-qüências da interrupção do processo de cri-ação dessas áreas protegidas, analisando osdesmatamentos ocorridos nos doze mesesapós a audiência pública.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo inclui as duas áreas pro-postas para criação de Unidades deConservação (UC) no sudoeste goiano, e umraio de 20 km de seu entorno. As unidades deconservação propostas são: Parque Estadual(PE) da Serra do Caiapó, com 341.868 hectares,localizado nos municípios de Mineiros,Caiapônia, Doverlândia, Palestina de Goiás ePortelândia, entre as latitudes -16° 40’ e -17°30’ S e -51° 0’ e -53° 0’ W. A FIGURA 1 deta-lha a localização da UC proposta na região su-doeste de Goiás e também a sua localização noestado; e o Refúgio de Vida Silvestre (RVS) daPanela, com 76.336 hectares, com área dis-tribuída nos municípios de Serranópolis eChapadão do Céu, entre as latitudes -18° 00’ a-18° 30’ S e longitudes -52° 15’ a -52° 45’ W,conforme a FIGURA 2, que mostra a localiza-ção da UC no sudoeste goiano e no estado;

A avaliação foi feita comparando o desmata-mento dentro de cada polígono proposto enuma área externa, correspondendo à expan-são dos limites do polígono em 20 km,definindo áreas de estudos de 1.484.487hectares (PE Serra do Caiapó) e 553.021hectares (RVS da Panela).

Para a digitalização dos desmatamentosforam usadas imagens de satélite CBERS-2(China-Brasil Earth Resources Satellite), do sen-sor CCD (Couple Charged Device).

As melhores cenas disponíveis para as duasáreas de estudo (PE da Serra do Caiapó e RVSda Panela) foram escolhidas com base emuma pesquisa feita no site do INPE (InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais), em que,para o conjunto de 2004, foi levada em con-sideração a data do acontecimento das au-diências públicas; e, para a comparação entreos dados das áreas de estudo (conjunto 2005),adotou-se o intervalo de um ano após as au-diências públicas.

As cenas do satélite CBERS-2 que foram uti-lizadas para o estudo foram: 160 (119), 161(119, 120 e 121) e 162 (119, 120 e 121).

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Figura 2: Localização do Refúgio de Vida Silvestre (RVS) da Panela – área proposta

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Fabrício Assis Leal – Mário Barroso Ramos-Neto – Ricardo Bonfim Machado

Figura 1: Localização do Parque Estadual (PE) da Serra do Caiapó – área proposta

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Avaliação do desmatamento após a interrupção do processo de criação de áreas protegidas em Goiás

A correção geométrica de todas as imagensgeradas para o primeiro conjunto CBERS2004 foi feita no Erdas Imagine 8.6 com basenas cartas de drenagem do IBGE (1983) comescala de 1:100.000, usando em média 17pontos de controle. Posteriormente, foi in-serida a projeção UTM (Universal Transversalde Mercator), com unidades em quilômetrose Datum Hayford. A correção geométrica dosegundo conjunto CBERS 2005 foi feita combase nas imagens de 2004 corrigidas, usan-do em média 15 pontos de controle, re-cebendo a mesma projeção e unidades doconjunto 2004.

Foi composto o mosaico das cenas georrefe-renciadas de cada conjunto (2004 e 2005). Orecorte das áreas de estudo do PE da Serra doCaiapó e do RVS da Panela foi feito utilizan-do-se a ferramenta Subset Image do ErdasImage 8.6, expandindo os vetores das pro-postas a um raio de 20 km.

Após esse processo foi realizada a digita-lização das áreas alteradas por meio da in-terpretação visual, comparando as áreas deestudo em 2004 e 2005 das duas propostasde UC. Essa digitalização foi feita em ve-tores utilizando o software ArcGis 8.3, e emseguida foram calculadas suas áreas, ex-pressas no campo “Hectares” da tabela dovetor.

Para verificar a real situação de uso do solo ea quantificação das áreas naturais eantropizadas das duas áreas de estudo, so-mente para o conjunto de imagens de 2004 foifeita uma classificação não supervisionadacom 100 classes, com no máximo 20 inte-rações e com a opção de não classificar zeros,utilizando a ferramenta UnsupervisedClassification do Erdas Image 8.6. Usando o re-code, as 100 classes foram agrupadas em ape-nas duas classes, nos temas “Natural” e“Antropizado”. Esse resultado quantificou asáreas nativas e antropizadas em 2004, necessi-tando apenas de uma reclassificação manualnos pontos onde houve confusões entre asáreas naturais e antropizadas. Para a avali-ação da cobertura de 2005, bastou subtrair os

vetores digitalizados dos desmatamentospara quantificar também as áreas naturais eantropizadas desse conjunto.

Para constatar se houve diferença entre osdesmatamentos que ocorreram nas áreas in-ternas e aqueles ocorridos nas áreas externasàs duas áreas propostas para UC, foi feito umdelineamento em blocos casualizados (DBC)em esquema fatorial 2 x 2 e um teste T ao ní-vel de 5% de significância, usando o softwareSisvar (Ferreira, 2000), em que a variável-resposta utilizada foi a “área desmatada”,aqui chamada de desmatamento. O primeirofator representa as UC (PE da Serra do Caiapóe do RVS da Panela) e o segundo fator repre-senta as áreas desmatadas nos níveis “inter-nas e externas”.

Para melhor controle, os dados foram agru-pados em cinco classes para cada UC e paracada área analisada (interna e externa), sendoelas: 0 – 1 ha; 1,01 – 10 ha; 10,01 – 50 ha; 50,01– 100,0 ha; acima de 100,0 ha.

Usou-se o valor central (média) em cadaclasse, pois a soma das áreas desmatadas nãofoi uma boa variável para análise, uma vezque existiam freqüências muito diferentes emcada classe.

Transformou-se também a variável “desmata-mento” em raiz quadrada, para homo-geneização das variâncias e para atender aum dos pressupostos da análise de variância(ANOVA).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os recortes foram criados a partir dos mo-saicos, utilizando para isso os vetores dasáreas propostas expandidas em 20 km, eforam importantes para delimitar as áreas es-tudadas, bem como para separar as análisespor unidades de conservação. As FIGURAS 3e 4 detalham o recorte feito nos mosaicos,com os vetores das propostas expandidas doPE Serra de Caiapó e do RVS da Panela, paraos conjuntos 2004 e 2005.

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Figura 3: Recorte CBERS conjunto 2004 e 2005 (área proposta para o Parque Estadual da Serra do Caiapó).

Figura 4: Recorte CBERS conjunto 2004 e 2005 (área proposta para o Refúgio de Vida Silvestre da Panela)

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Figura 5: Área proposta para o Parque Estadual da Serra do Caiapó após a classificação - 2004

59Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 54-64

Avaliação do desmatamento após a interrupção do processo de criação de áreas protegidas em Goiás

PARQUE ESTADUAL DA SERRADO CAIAPÓ

Em 2004, a área de estudo do PE da Serra doCaiapó apresentou, após a classificação,744.631 hectares de vegetação nativa (umpouco mais da metade de sua área) e 739.855hectares de áreas antropizadas, relação essa im-portante caso se considere que ao sul da área deestudo a região já se encontra dominada poragricultura e pastagem. A importância dessatécnica de sensoriamento remoto e geoproces-samento também foi constatada por Barroso et.al., 1993 apud Fidalgo et. al., 2003. A FIGURA5 apresenta a área proposta para o ParqueEstadual da Serra do Caiapó após a classifi-cação referente ao ano de 2004.

Foi identificado após o processo de digitaliza-ção das áreas desmatadas um total de 556 polí-gonos de desmatamento, somando uma áreatotal desmatada de 13.825 hectares em umano, correspondendo a 1,86% de taxa de des-matamento. Esses desmatamentos indicam

que a substituição da cobertura vegetal é umprocesso constante e ininterrupto. Esse fato foievidenciado nos valores de desmatamentosencontrados por Machado et. al. (2004b) entre1989 e 2002, apresentados na TABELA 1, emque principalmente os municípios deSerranópolis e Chapadão do Céu, no sudoestegoiano, se destacaram com 25% e 15%, respec-tivamente, de perda de ambientes naturais,chegando a uma taxa média estimada de des-matamento anual de 3,5% (TABELA 2).

Outra observação e discussão que se abrecom esse trabalho é que as taxas de desmata-mento devem ser calculadas considerandoapenas os remanescentes e não a área total emestudo. Se assim feito, podemos notar que osíndices de desmatamento são ainda maiores emais preocupantes, conforme mostra aTABELA 3 abaixo.

Dos 556 polígonos de desmatamento digita-lizados, 157 foram localizados dentro da áreaproposta para a unidade de conservação, to-

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talizando 4.511 hectares, representando 1,64%de área interna desmatada, índice acima damédia anual encontrada para o Cerrado(0,67%/ano) por Machado et. al., 2004a.

Já os desmatamentos que ocorreram fora dolimite proposto do PE da Serra do Caiapóforam quantificados em 399 polígonos, so-mando uma área de 9.313 hectares desmata-dos. Esse total representa 1,98% de taxa dedesmatamento e mostra que, em termos per-centuais, foi superior ao constatado dentro daárea proposta para a UC (1,64%).

Com o agrupamento dos desmatamentos emcinco classes de áreas (de acordo com sua ex-

tensão), foi possível entender sua con-tribuição em relação à paisagem. A FIGURA6 mostra que os desmatamentos que ocor-reram entre o intervalo de classe 10,01 e 50hectares tiveram maior freqüência que as de-mais classes, merecendo, portanto, a mesmaimportância e atenção dada aos desmatamen-tos acima de 100 hectares, pois representaram41% do total desmatado.

REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE DA PANELA

A área de estudo do RVS da Panela, de acordocom os dados obtidos para 2004, apresentou253.797 hectares de vegetação nativa (46%) e

TABELA 1: Valores de desmatamento para alguns municípios do Sudoeste de Goiás entre 1989 e 2002

Município Área Total Área Desmatada % da área municipaldesmatada no período

Chapadão do Céu 235.571 34.550 14,67

Mineiros 906.785 116.270 12,82

Portelândia 55.117 5.383 9,77

Santa Rita do Araguaia 136.154 14.668 10,77

Serranópolis 553.117 138.637 25,06

Fonte: Machado et. al., (2004b).

TABELA 2: Estimativas de perda de ambientes naturais para municípios do Sudoeste de Goiás entre 1989 e 2002

Município % perda de % perda média anual Desmatamento Desmatamentoambientes naturais de ambientes naturais ha/ano ha/dia

Chapadão do Céu -42,04 -3,50 2.879 8

Mineiros -22,68 -1,89 9.689 27

Portelândia -27,90 -2,32 449 1

Santa R. do Araguaia -22,27 -1,86 1.222 3

Serranópolis -42,01 -3,50 11.553 32

Fonte: Machado et. al., (2004b).

TABELA 3: Resumo das relações feitas com as áreas desmatadas e as áreas classificadas do PE da Serra do Caiapó

PE da Serra Área total Área natural Área natural Total Desmatamento /do Caiapó (ha) (ha) (%) Desmatamento Área Natural

(ha) (%)Total 1.484.486 744.631 50% 13.825 1,86%

Interno 341.868 275.282 81% 4.511 1,64%

Externo 1.142.618 469.349 41% 9.313 1,98%

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Avaliação do desmatamento após a interrupção do processo de criação de áreas protegidas em Goiás

299.224 hectares de áreas antropizadas.

Essa porcentagem de áreas naturais poderiaser menor, não fosse o Parque Nacional das

Emas fazer parte de uma considerável porçãona área de estudo, impedindo a ocorrência demais desmatamentos. A FIGURA 7 mostra aárea de estudo do RVS da Panela após a clas-sificação referente ao ano de 2004

Foram identificados, após o processo de digi-talização das áreas alteradas, 141 polígonosde desmatamento, somando 8.759 hectaresdesmatados no intervalo de um ano. Esse to-tal equivale a 3,45% de perda de áreas natu-rais, indicando a contínua substituição dessasáreas naturais por pastagens e lavouras. Issotambém foi observado por Machado et. al.(2004b), revelando que essa região, em análiserealizada entre os anos de 1989 a 2002, teveuma perda considerável de áreas naturais,principalmente nos municípios deSerranópolis e Chapadão do Céu alcançandoquase 43% de perda dos seus ambientes natu-rais em doze anos, conforme dados estima-dos, apresentados na TABELA 2. Os outrosmunicípios apresentaram perdas de hábitatssuperiores a 20% da área municipal.

Figura 6: Gráfico com distribuição de freqüência das

áreas desmatadas em cinco classes de tamanho na área

de estudo do PE da Serra do Caiapó

Figura 7: Área proposta para o Refúgio de Vida Silvestre da Panela após a classificação – 2004

61

0 - 1,0

9

1139

5713

33293636

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

1,1 - 10,0 10,1 - 50,0 50,1 - 100,0 100,0 - acima

Classes (hectares)

Hectares

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TABELA 4: Resumo das relações feitas com as áreas desmatadas e as áreas classificadas do RVS da Panela

RVS da Panela Área total Área natural Área natural Total Desmatamento /do Caiapó (ha) (ha) (%) Desmatamento Área Natural

(ha) (%)Total 553.021 253.797 46% 8.759 3,45%

Interno 76.336 50.591 66% 2.104 4,16%

Externo 476.685 203.206 43% 6.655 3,27%

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Dos 141 polígonos digitalizados, 27 ocor-reram dentro da área proposta para aunidade de conservação, totalizando 2.104hectares, representando 4,16% de áreas inter-nas desmatadas, conforme mostra a TABELA4 abaixo. Esse índice se mostrou bem acimada média anual encontrada para o Cerrado(0,67%/ano) por Machado et. al., 2004a, bemcomo acima da taxa média anual para aregião sudoeste de Goiás, divulgada porMachado et. al., 2004b, que foi de 3,5% paraalguns municípios, conforme TABELA 2.

Os desmatamentos externos à área propostapara o RVS da Panela foram quantificados em114 polígonos, somando uma área de 6.655hectares. Esse valor corresponde a 3,27% deárea desmatada (TABELA 4), ficando umpouco abaixo da taxa divulgada por Machadoet. al., 2004b, que foi de 3,5%/ano para algunsmunicípios do sudoeste goiano.

Tal ocorrência talvez se justifique pelo fato daárea de estudo do RVS da Panela apresentargrandes porções de áreas que não podem serdesmatadas, como por exemplo, boa parte doParque Nacional das Emas, que compõe a daárea de estudo, conforme mostra a FIGURA 7,bem como o município de Chapadão doCéu/GO que já está praticamente todo des-matado.

Com o agrupamento do desmatamento emcinco classes de área, foi possível perceber asua contribuição e importância em relação àpaisagem. A FIGURA 8 mostra que os des-matamentos com áreas acima de 100 hectarestiveram uma importância maior em relaçãoàs demais classes, representando 61% do total

desmatado. Essa característica foi um poucodiferente da encontrada na área destinada aoPE da Serra do Caiapó, onde as classes inter-mediárias de desmatamento (10,01 a 50 ha)tiveram maior importância que as demais

Figura 8: Gráfico com distribuição de freqüência das

áreas desmatadas em cinco classes de tamanho na área

destinada ao Refúgio de Vida Silvestre da Panela

ANÁLISES ESTATÍSTICAS DAS ÁREASDESTINADAS AO PARQUE ESTADUALDA SERRA DO CAIAPÓ E AO REFÚGIODE VIDA SILVESTRE DA PANELA

Com a ANOVA feita com o desdobramentodos fatores “área” (interna e externa) dentro

0 - 1,0

2160

14041801

3636

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

1,1 - 10,0 10,1 - 50,0 50,1 - 100,0 100,0 - acima

Classes (hectares)

Hectares

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TABELA 5: ANOVA para o desdobramento do fator área em cada nível de UC (PE da Serra do Caiapó e RVS da Panela)

Fontes de variação GL SQ QM Fc Pr > FcInterno e externo (PE da Serra do Caiapó) 1 0,126 0,126 0,143 0,712 NNSS

Interno e externo (RVS da Panela) 1 0,608 0,608 0,693 0,422 NNSS

Resíduo 12 10,531 0,878 - - -

TOTAL 14 11,265 - - - -

TABELA 6: Teste T para área proposta do PE da Serra do Caiapó

Tratamentos – PE da Serra do Caiapó Médias Resultado do testeInterno 5,65* a1

Externo 5,87* a1

TABELA 7: Teste T para área de estudo do RVS da Panela

Tratamentos – RVS da Panela Médias * Resultado do testeInterno 6,32* a1

Externo 6,81* a1

* Média das áreas desmatadas transformadas (Raiz quadrada), conforme metodologia aplicada.

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Avaliação do desmatamento após a interrupção do processo de criação de áreas protegidas em Goiás

de cada área destinada às UCs (PE da Serrado Caiapó e o RVS da Panela), foi possível ra-tificar que não houve diferença significativaao nível de 5% de probabilidade entre asáreas internas e externas desmatadas em cadauma delas. A TABELA 5 mostra o resultadoda ANOVA para a análise acima citada e osvalores não significativos para F. Os resulta-dos de testes T (TABELAS 6 e 7) para as duasáreas propostas para UC também não reve-laram diferenças significativas para os fatoresanalisados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados indicam que não houve dife-rença significativa, a nível de 5% de probabi-lidade, na área desmatada dentro e fora dopolígono das áreas propostas para asunidades de conservação. No entanto, con-frontando as áreas desmatadas totais com astaxas de desmatamento médio para os mu-nicípios da região encontrados por Machadoet. al., 2004b, (TABELA 2) nota-se um aumen-to no período de 2004-2005.

Assim, apesar de não ser evidenciado o efeitolocal na interrupção da criação das UCs, pode-se identificar um aumento geral no desmata-mento. Esse aumento deve-se em parte à in-tenção dos proprietários rurais em reduzir ovalor de suas propriedades para a conservação,e assim evitar sua inclusão nas unidades deconservação propostas. Esse comportamentofoi confirmado por depoimentos dos propri-etários durante as audiências públicas para aapresentação das propostas de criação.

Os autores do presente trabalho consideramque, para um completo entendimento doefeito da suspensão do processo de criaçãodas áreas protegidas, seja necessário avaliaros desmatamentos que ocorreram um anoantes das audiências e no período de2005–2006. Mas os anos analisados já ofere-cem indicativos de que criar unidades de con-servação sem a perspectiva de implantá-laspode provocar inúmeros problemas regio-nais, além de prejudicar a relação da institu-ição proponente e da área protegida propostacom as comunidades locais.

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E, mesmo não sendo evidenciado o fato deque a interrupção do processo de criação dasunidades de conservação tenha estimulado osdesflorestamentos na região, importantes es-forços devem ser feitos para que iniciativasrelevantes para a criação de unidades de con-servação como essas não sejam interrompidasnovamente.

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Page 65: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

65Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Estudo global da efetividade de manejo de unidades de conservação: a perspectiva brasileira

INTRODUÇÃO

Durante a última década, foram feitos es-forços significativos no Brasil para expandir oSistema Nacional de Unidades deConservação, incluindo a criação de novasunidades tanto de proteção integral como deuso sustentável de recursos naturais. Issodemonstra um avanço muito significativo na

conservação in situ, bem como no reconheci-mento da importância do envolvimento decomunidades locais na criação e no manejo deunidades de conservação de uso sustentável.Alguns alegam que a expansão contínuadeste sistema, principalmente por meio dereservas muito grandes, é urgentementenecessária para garantir que não ocorrammais perdas de biodiversidade (Laurance,2005).

Entretanto, contar com as unidades de con-servação como estratégia de conservação da

1 Enviado originalmente em inglês2 [email protected]

Estudo global da efetividade de manejo deunidades de conservação: a perspectiva brasileira1

Helena Boniatti Pavese2

• Programa de Áreas ProtegidasPrograma das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Fiona Leverington, Dr.• Universidade de Queensland, AustráliaMarc Hockings, Dr.• Universidade de Queensland, Austrália

RESUMO. É necessária a expansão urgente dos sistemas de áreas protegidas para garantir que nãoocorram mais perdas de biodiversidade. A necessidade de avaliar a efetividade de manejo das áreasprotegidas vem sendo cada vez mais reconhecida nos últimos dez anos, já que se constatou que o fa-to de criar essas áreas nem sempre resulta em sua proteção adequada. Têm sido feitos, com diversospropósitos, levantamentos sobre as unidades de conservação, diferindo em termos de escopometodológico, geográfico e itens contemplados. Com o objetivo de auxiliar na uniformização e uti-lização dos diferentes sistemas de avaliação, a IUCN-WCPA (Comissão Mundial de Áreas Protegidas– IUCN) está realizando uma revisão global de levantamentos de efetividade de manejo. Esse estu-do identificou levantamentos em 4.600 áreas protegidas de 84 países, utilizando mais de quarentadiferentes métodos. No Brasil, foram pesquisadas 273 áreas protegidas em dez diferentes estudos,que identificaram uma ampla gama de ameaças comuns. Fortalecer o manejo das áreas protegidasexistentes e criar um conjunto integrado de novas áreas são iniciativas essenciais para conservar abiodiversidade. A implementação de um processo regular de avaliação da efetividade de manejo éum componente crítico para o fortalecimento das unidades de conservação no Brasil e no mundo.

Palavras-chave: áreas protegidas, avaliação, monitoramento, efetividade de manejo, Brasil

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biodiversidade só faz sentido se houver umaprobabilidade razoável de que tais áreas pos-sam ser protegidas em um futuro próximo.Essa expectativa de permanência é o centrode todo o conceito de unidades de conser-vação. A World Commission on Protected Areas– WCPA (Comissão Mundial de ÁreasProtegidas) define área protegida como:“uma área de terra e/ou mar especialmentededicada à proteção e manutenção da diver-sidade biológica, e de recursos culturais e na-turais associados, e manejada por intermédiode meios legais e outros maneiras eficazes”(IUCN, 1994).

A necessidade de avaliar a efetividade demanejo de áreas protegidas tornou-se bemconhecida durante os últimos dez anos, poisse tem observado que a criação de unidadesde conservação nem sempre resulta em suaproteção adequada (Hockings & Phillips,1999; Hockings et al., 2000; Ervin, 2003). Aavaliação da efetividade de manejo é definidacomo a avaliação da forma como as unidadesde conservação estão sendo manejadas –principalmente a medida até onde elas estãoprotegendo valores e atingindo metas e obje-tivos. O termo efetividade de manejo refletetrês “temas” principais no manejo deUnidades de Conservação (Hockings et al.,2006):

• questões de design relacionadas tanto aunidades individuais como a sistemas deUnidades de Conservação;

• adequação e conveniência de sistemas eprocessos de manejo; e

• alcance dos objetivos das unidades de con-servação, incluindo a conservação de va-lores.

As agências, países e organizações não-gover-namentais de manejo de unidades de conser-vação avaliam a efetividade de manejo comuma variedade de objetivos (Leverington &Hockings, 2004):

• possibilitar e apoiar uma abordagem

adaptativa do manejo de Unidades deConservação;

• auxiliar na distribuição efetiva de recursosentre as unidades de conservação e dentrodelas;

• promover responsabilidade e transparên-cia divulgando a efetividade de manejo àspartes interessadas e ao público; e

• ajudar a envolver a comunidade, mobi-lizar interessados e promover a valoriza-ção das unidades de conservação.

Durante o final da década de 1990 e logo após oano 2000, os gestores de unidades de conser-vação, acadêmicos e organizações de conser-vação de todo o mundo desenvolveram e ex-perimentaram uma grande variedade de sis-temas de avaliação. Muitos órgãos e ONGs quetrabalham com áreas protegidas também re-alizaram avaliações detalhadas de sistemas oude unidades de conservação isoladas. No Brasil,um trabalho significativo no desenvolvimento eimplementação de sistemas de avaliação foi re-alizado (Ferreira et al., 1999; Padovan, 2002;Faria, 2004; Lima et al 2005 e Mesquita, 2002)bem como em outras partes da América Latina(Courrau, 1999; Valarezo, 1999; Cifuentes et al.,2000; Rusch, 2002; Corrales, 2004).

Essas avaliações diferem em metodologia, es-copo geográfico e itens abordados. Além domais, todo sistema de unidades de conser-vação possui circunstâncias e necessidadespeculiares, e os exercícios de avaliação sãoquase sempre desenvolvidos sob medidapara se adequar a elas. Freqüentemente, noinício do processo, as pessoas faziam avali-ações antes de conhecer outras abordagens, ehavia uma relutância natural em abandonarmétodos que já haviam sido aplicados nocampo e aceitos. Por todas essas razões, a co-munidade envolvida na avaliação da efetivi-dade de manejo tem sido relutante em adotarou recomendar uma única metodologia.

Em virtude disso, foi desenvolvido um MarcoEstrutural de avaliação por um grupo de tra-

66Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Helena Boniatti Pavese – Fiona Leverington – Marc Hockings

Page 67: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

67Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Estudo global da efetividade de manejo de unidades de conservação: a perspectiva brasileira

balho sob o patrocínio da IUCN WorldCommission for Protected Areas (Hockings et al.,2000). Este Marco Estrutural não consiste, porsi só, numa metodologia específica, mas numabase para o desenvolvimento de sistemas deavaliação e orientação para a prática da avali-ação de efetividade. Um dos benefícios da uti-lização da abordagem de Marco Estrutural éque todas essas avaliações podem ser ligadasconceitualmente, utilizando um conjunto decritérios e uma abordagem de avaliação co-muns. Estudos de sistemas que não se basea-ram nesse marco também podem ser analisa-dos de acordo com seus princípios e elementos.

Embora muitas abordagens diferentes ten-ham sido realizadas, ainda são comparti-lhadas idéias e experiências entre uma redede pessoas (ex. Cifuentes et al., 2000; Cracco,et al. 2006). O V Congresso Mundial deUnidades de Conservação, realizado em 2003,contou com um fórum para discussão do as-sunto e resultou em um forte chamado à açãosobre efetividade de manejo (Hockings et al.,2004). No ano seguinte, durante o encontroda Conferência das Partes da Convenção deDiversidade Biológica (CBD COP - 7), as 188partes adotaram um Programa de Trabalhoem Unidades de Conservação (PWPA) quetem como objetivo estabelecer e manter “sis-temas nacionais e regionais de áreas protegi-das abrangentes, manejados de forma eficaze ecologicamente representativos que …con-tribuem para atingir … a meta de 2010 de re-duzir significativamente a taxa atual de perdada biodiversidade” (CBD, 2004, p.345-6, o gri-fo é nosso). O Programa de Trabalho incluium compromisso com a avaliação da efetivi-dade do manejo, estabelecendo uma meta deavaliação em pelo menos 30% das unidadesde conservação de cada país signatário até2010. O Brasil “trabalhou arduamente” para aadoção deste Programa de Trabalho e agoradesenvolve ações de acordo com os objetivosdo PWPA da CBD (Silva, 2005), que inclui aelaboração do Plano Estratégico Nacional deUnidades de Conservação (Brasil, 2006).

Se essa meta for atingida, a cooperação e a co-municação entre parceiros e entre os países e

regiões são fundamentais. Os profissionaisexigem que os sistemas sejam cada vez mais“harmonizados” e a necessidade de relatóriosglobais tornou-se evidente. O “EstudoGlobal” foi iniciado em 2005, para propiciar aefetivação da adesão ao Programa deTrabalho e ajudar na harmonização e apli-cação de sistemas diferentes por meio doMarco Estrutural da WCPA,

MÉTODOS

O Estudo Global realizado na avaliação daefetividade de manejo de unidades de conser-vação é uma iniciativa criada em conjuntopela Universidade de Queensland, pelaNature Conservancy e a WWF - WorldwideFund for Nature, sob o patrocínio da IUCNWorld Commission for Protected Áreas(Comissão Mundial de Áreas Protegidas daIUCN), e em colaboração com outras organi-zações do mundo todo, incluindo o BancoMundial, o GEF - Global Environment Fund, oUNEP World Conservation Monitoring Centre(Centro Mundial de Monitoramento daConservação da UNEP) e a InterAmericanBiodiversity Information Network (IABIN –Rede Interamericana de Informações sobreBiodiversidade). O objetivo do estudo é pro-duzir uma revisão global das avaliações daefetividade de manejo de unidades de conser-vação. O projeto reunirá e analisará todos osestudos de efetividade de manejo que pu-derem ser localizados em todo o mundo (co-letando informações dos membros da WCPA,de ONGs e redes governamentais). As infor-mações dessa análise ajudarão a encontrar oudifundir ações em relação a quatro das metasdentro do Programa de Trabalho de Unidadesde Conservação da CBD. Os passos do estudosão:

1 Coletar e comparar as informaçõesdisponíveis sobre os sistemas de avali-ação, avaliações de parques individuais eoutras avaliações de efetividade de mane-jo que foram realizadas em unidades deconservação. Isso está encaminhado, masas avaliações em andamento precisamcontinuar a ser acompanhadas;

Page 68: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

Oceania

América do Norte

América Latina e Caribe

Europa

Ásia

África

Regi

ão d

a O

NU

Número de estudos

Figura 1: Aplicação de metodologias por região (dados inseridos em 14 de março em 2007)

Fonte: (Leverington et al., 2007) (os números representam cada avaliação em Unidades de Conservação individuais para cada

metodologia – onde há múltiplos estudos, eles também são computados)

68Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Helena Boniatti Pavese – Fiona Leverington – Marc Hockings

2 Aprender sobre a gama de metodologiasutilizadas em diferentes situações e sis-temas de unidades de conservação, e di-vulgar amplamente essa informação;

3 Analisar os indicadores utilizados emdiferentes sistemas e desenvolver um for-mato comum de relatório para que os re-sultados possam ser comparados entre osdiferentes sistemas;

4 Descobrir quais indicadores permitemprognósticos mais confiáveis sobre efetivi-dade geral;

5 Analisar resultados disponíveis para obteruma imagem ampla da condição de par-ques, principais ameaças, fatores que in-fluenciam na efetividade de manejo e mu-danças necessárias nas estratégias e abor-dagens de manejo.

6 Desenvolver um sistema para integrar asinformações de efetividade de manejo aoBanco de Dados Mundial de Unidades deConservação.

O projeto tem como objetivo desenvolveruma grande rede de cooperação e envolvi-

Page 69: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

69Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Estudo global da efetividade de manejo de unidades de conservação: a perspectiva brasileira

mento: não é um exercício essencialmenteacadêmico, mas uma oportunidade de ajudara reunir e disseminar informações a profis-sionais de todo o mundo para facilitar o en-tendimento e a utilização das avaliações deefetividade de manejo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estudos de efetividade de manejo

Até o momento, 4.600 estudos de efetividadede manejo foram inseridos no banco de dados,vindos de 84 países e utilizando mais de 40

sistemas diferentes de avaliação. Conformeexibido na FIGURA 1 e na TABELA 1, umadiversidade maior de sistemas de avaliaçãofoi desenvolvida e aplicada em muitos paísesda América Latina e Caribe do que em qual-quer outra região. Observa-se também quetem havido um apoio muito significativo ebastante interesse na efetividade de manejopor parte de organizações não-governamen-tais em muitos países. Entretanto, o grandenúmero e a diversidade de estudos tambémrefletem o compromisso de diversos órgãosgestores na região para avaliar regularmentesuas unidades de conservação.

TABELA 1: Metodologias de avaliação de efetividade de manejo utilizadas na América Latina.

Abreviatura

RAPPAM

Tracking tool

EOH

Brazil 1999

WWF/CATIE

Nome em outro idioma

Método de Evaluación y

Priorización Rápidas del

Manejo de Áreas Prote-

gidas

Herramienta de

Seguimiento WB/WWF

Mejorando Nuestra

Herencia

Áreas Protegidas ou Es-

paços Ameaçados

Medición de la

Efectividad del Manejo

de Areas Protegidas

Organização /Afiliação

WWF

World Bank/WWF Al-

liance

UNESCO

WWF Brazil e IBAMA

WWF/CATIE

Países da AL e Caribeonde foi aplicada

Brasil, Chile, Bolívia

Paraguai, Brasil, México,

El Salvador, Colômbia,

Argentina, Peru, Guiana,

Brasil, Bolívia

Equador, Honduras,

Venezuela

Brasil

Equador, México, Costa

Rica

Nome da Metodologia(Inglês)

Rapid Assessment and

Prioritisation of

Protected Area Manage-

ment (Avaliação Rápida

e Priorização do Manejo

de Unidades de

Conservação)

Management

Effectiveness Tracking

Tool (Ferramenta de

Acompanhamento da

Efetividade do Manejo)

Enhancing our Heritage

(Melhorando nossa

Herança]

Degree of

Implementation and the

Vulnerability of Brazilian

Federal Conservation

Areas (Grau de

Implementação e

Vulnerabilidade de Áreas

Protegidas

Federais Brasileiras)

WWF/CATIE Evaluation

Methodology (Metodolo-

gia de

Avaliação - WWF/CATIE)

Continua

Page 70: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Helena Boniatti Pavese – Fiona Leverington – Marc Hockings

Abreviatura

How is Your

MPA Doing

PROARCA/

CAPAS

Parks profiles

AEMAPPS

Mesoamerica

MPA

PIP Site

consolidation

Ecuador MEE

Nome em outro idioma

Medición de la

Efectvidad del manejo de

Áreas Protegidas

Perfil de parque

AEMAPPS: Análisis de

Efectividad de Manejo de

Areas Protegidas con

Participación Social

Evaluación Rápida de la

Efectividad de Manejo en

Áreas Protegidas

Marinas de Mesoamérica

Medición de logros de

TNC

Indicadores para el

Monitoreo y Evaluación

del Manejo de las Áreas

Naturales Protegidas del

Ecuador

Organização /Afiliação

NOAA/National Ocean

Service/IUCNWCPA

Marine, WWF

PROARCA/CAPAS

Parkswatch

Parques Nacionales Nat-

urales de Colombia/WWF

Colombia

MBRS/PROARCA/

CAPAS

TNC/USAID

Ministério do Meio Am-

biente

Países da AL e Caribeonde foi aplicada

Belize, Equador, México

Guatemala, Costa Rica,

Honduras, Panamá, Ni-

carágua, El Salvador, Gu-

atemala

Argentina, Guatemala,

Brasil, Bolívia, Peru,

Venezuela, Argentina,

México

Colômbia

Jamaica, Paraguai,

Equador, Colômbia,

Brasil, Bolívia, Panamá,

Nicarágua, Honduras,

Guatemala, Costa Rica,

México, Peru, República

Dominicana, Dominica,

Belize (Atenção: re-

latórios indicam 40 país-

es – aguardando mais

detalhes)

Equador

Nome da Metodologia(Inglês)

How is Your MPA Doing

(Como Vai o manejo de

sua Área Protegida)

PROARCA/CAPAS score-

card evaluation (Avali-

ação de Pontuação -

PROARCA/CAPAS)

Parks profiles (Perfis de

parques)

AEMAPPS: MEE with

Social Participation –

Colômbia (Análise de

Efetividade de Manejo

com Participação Social)

- Colômbia

Rapid Evaluation of Man-

agement

Effectiveness in Marine

Protected Areas of Me-

soamerica (Avaliação

Rápida de Efetividade de

Manejo em Áreas Marin-

has Protegidas da Me-

soamérica)

TNC Parks in Peril Site

Consolidation Scorecard

(Parques em Perigo -

Site de Pontuação de

Consolidação-TNC)

Ecuador MEE:

Indicadores para el Mon-

itoreo y Evaluación del

Manejo de las Áreas

Naturales Protegidas del

Ecuador (Indicadores

para o monitoramento e

Avaliação do Manejo das

Áreas Naturais Protegi-

das do Equador)

70

Continua

Continuação da Tabela 1

Page 71: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Estudo global da efetividade de manejo de unidades de conservação: a perspectiva brasileira

Abreviatura

Galápagos

MEE

MARIPA-G

MEMS

Padovan 2002

Scenery ma-

trix

Medición de

logros

Ecuador

CI METT

PA

Consolidation

index

Nome em outro idioma

Manual para la

evaluación de la

Eficiencia de Manejo

del Parque Nacional

Galápagos. SPNG

Metodología de

Evaluación de Efectividad

de Manejo (MEMS) del

SNAP de Bolivia

Padovan 2002

Matriz de cenários

Medición de logros

Ecuador

Índice de Consolidación

de Áreas Protegidas

Organização /Afiliação

SPNG

WWF Guianas

SERNAP

IPEMA

Instituto Florestal (IF-SP)

TNC/ECOCIENCIA

Preservação

Internacional

Conservação

Internacional

Países da AL e Caribeonde foi aplicada

Equador

Guiana Francesa,

Guiana, Suriname

Bolívia

Brasil

Brasil

Equador

Bolívia

Bolívia

Nome da Metodologia(Inglês)

Manual para la

evaluación de la

Eficiencia de Manejo

del Parque Nacional

Galápagos (Manual para

a avaliação da Eficiência

do Manejo do Parque

Nacional de Galápagos)

SPNG

Monitoring and

Assessment with

Relevant Indicators of

Protected Areas of the

Guianas (MARIPA-G)

(Monitoramento e

Avaliação com

Indicadores Relevantes

de Unidades de

Conservação das

Guianas (MARIPA-G))

Metodología de

Evaluación de Efectividad

de Manejo (MEMS) del

SNAP de Bolívia

(Metodologia de

Avaliação da Efetividade

de Manejo (MEMS) do

SNAP da Bolívia)

Padovan 2002

Scenery matrix (Matriz

de cenários)

Medición de logros

Ecuador (Medição de

Resultados - Ecuador)

Conservation

International

Management

Effectiveness Tracking

Tool (Ferramenta de

Monitoramento da

Efetividade de

manejo - CI)

PA Consolidation index

(índice de Consolidação

de áreas Protegidas)

71

Continuação da Tabela 1

Continua

Page 72: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

72Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Helena Boniatti Pavese – Fiona Leverington – Marc Hockings

Abreviatura

Valdiviana

Venezuela

Vision

Peru MEE

Belize MEE

Nome em outro idioma

Estado de Situación de

las Areas Protegidas de

la Porción Argentina de

la Ecoregión Valdiviana

Visión 20001: Situación

Actual del Sistema de

Parques Nacionales de

Venezuela

Matriz de Monitoreo de

la Gestión (IANP de

INRENA)

Organização /Afiliação

WWF

DGSPN - INPARQUES

INRENA

Departamento Florestal

de Belize

Países da AL e Caribeonde foi aplicada

Argentina

Venezuela

Peru

Peru

Belize

Nome da Metodologia(Inglês)

Valdiviana Ecoregion Ar-

gentina (Ecorregião Val-

diviana na Argentina)

Visão da Venezuela

Peru MEE (Avaliação da

Efetividade de Manejo no

Peru)

Belize National Report

on Management

Effectiveness (Relatório

Nacional de Belize sobre

Efetividade do Manejo)

Métodos diferentes de avaliação da efetivi-dade de manejo foram desenvolvidos e apli-cados nos últimos dez anos no Brasil. Umdos trabalhos pioneiros no país foi realizadoem 1998 pelo WWF e pelo InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (IBAMA). Com a apli-cação de uma metodologia inovadora, esteestudo avaliou um total de 86 unidades deconservação em regiões diferentes do país.Os resultados da pesquisa de avaliaçãoforam utilizados pelo WWF, com grandeefeito, na campanha em apoio à aprovaçãodo Sistema Nacional de Unidades deConservação (SNUC). Este estudo analisou ograu de vulnerabilidade e implementação deunidades de conservação brasileiras e con-cluiu que 43% das áreas avaliadas apresen-tavam risco extremo ou alto de interferênciahumana. As descobertas desse estudo(Ferreira et al, 1999) foram amplamente dis-cutidas na mídia e em vários eventos de re-lações públicas.

Subseqüentemente, outras metodologiasforam desenvolvidas e aplicadas em dife-rentes regiões do país: por exemplo, 59

unidades de conservação foram avaliadasno estado de São Paulo (Faria, 2004); 12 noestado do Espírito Santo (Padovan, 2002) e34 na Região do Amazonas (WWF, 2005).Essas avaliações envolveram diferentes es-pecialistas da comunidade acadêmica, orga-nizações governamentais e não-governa-mentais, e agências doadoras que estão ati-vamente envolvidas no manejo de unidadesde conservação. A Tabela 2 apresenta osdiferentes sistemas que têm sido aplicadosno país, resultando num total de 273unidades de conservação avaliadas em 10estudos diferentes.

Em relação à categoria de manejo, a maiorparte das unidades de conservação avaliadas(80,5%) foi destinada à proteção integral(IUCN Categorias I a IV) e apenas 19,5% dasunidades de conservação avaliadas permitemo uso sustentável de seus recursos naturais(IUCN Categorias V-VI). Das cinco regiõespolíticas e geográficas do Brasil, a região Sulfoi a mais avaliada (FIGURA 2). Esta regiãoconcentra importantes remanescentes daMata Atlântica, um dos ecossistemas maisameaçados do mundo (Fonseca, 1985).

Continuação da Tabela 1

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73Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Estudo global da efetividade de manejo de unidades de conservação: a perspectiva brasileira

Principais ameaças descritas

Embora as avaliações da efetividade de mane-jo de unidades de conservação tenham sidorealizadas no território Brasileiro em anosdiferentes, elas identificaram uma vasta gamade ameaças em comum (TABELA 3). Entreelas, desmatamento, expansão urbana, in-vasões, queimadas e caça foram as mais co-muns. Isto sugere que, embora esforços signi-ficativos tenham sido aplicados para fortale-cer e garantir a conservação da biodiversidadeno país, incluindo fortalecimento e expansãode sistemas de unidades de conservação, es-sas áreas ainda enfrentam uma grande var-iedade de ameaças. Para garantir a proteçãoeficiente dos recursos naturais e culturais nes-sas áreas, devem ser criadas políticas públicasefetivas para tratar deste problema.

CONCLUSÃO

Durante o próximo ano, espera-se que hajaum rápido progresso do Estudo Global e seusparceiros, incluindo a IABIN, na compilação eanálise dos dados da América Latina sobre aefetividade de manejo. Os próximos passosserão a análise de dados, para mostrartendências no manejo e para elucidar as re-lações entre os aspectos inerentes ao ambientepolítico e social dos parques, entrada de re-cursos, processos e resultados advindos deefetividade de manejo. Os países da regiãotrabalharão para atingir as metas de seuPrograma de Trabalho da CBD e, nesse caso,prevê-se que serão disponibilizados muitosoutros estudos até o final da década. Os de-safios que resultarão no máximo proveitodesses esforços incluirão:

TABELA 2: Sistemas de avaliação aplicados no Brasil, ano de avaliação e número total de unidades de conservação (UCs)

avaliadas.

SSiisstteemmaa ddee aavvaalliiaaççããoo AAnnoo ddaa aavvaalliiaaççããoo NNúúmmeerroo ttoottaall ddee UUCCss aavvaalliiaaddaass

Padovan 2002 2002 12

Parks profiles (Perfis de parques) 2002 e 2003 5

Parks in Peril (Parques em Perigo) Vários anos 1

RAPPAM 2004 32

Scenery matrix (Matriz de cenários) 1999, 2000 e 2004 90

Tracking tool (Ferramenta de Monitoramento) 2003 e 2005 47

Brasil 1999 1998 86

Total 227733

Figura 2: Número de unidades de conservação avaliadas por região e categoria

Outro

UC Estadual

Parque Nacional

Reserva Extrativista

Área de Proteção Ambiental

Estação Ecológica

Reserva Biológica

Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul

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74Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Helena Boniatti Pavese – Fiona Leverington – Marc Hockings

Solução da questão da transparência – princi-palmente quanto ao limite até onde os órgãosque manejam de unidades de conservação sesentem confortáveis em publicar as avali-ações. Esta é uma questão delicada, con-siderando a natureza politicamente sensívelde algumas descobertas da avaliação; entre-tanto, quando os dados são publicados, as im-pressões do público em relação aos órgãosresponsáveis quase sempre melhoram e torna-se mais provável a continuidade das ações;

Garantia de que as avaliações se tornem parteintegrante do ciclo de manejo dos órgãos demanejo de unidades de conservação, para quetais avaliações sejam vistas como parte dacarga de trabalho normal, em vez de uma im-

posição adicional;

Garantia de que todos os elementos do ciclode manejo sejam avaliados, para que fatoresque os explicam possam ser elucidados, emelhor compreendidas as ligações entrecausas e efeitos;

Melhoria da avaliação dos “resultados” domanejo – tanto de integridade ecológica comodos benefícios às comunidades – por meio deprogramas de monitoramento mais eficazes edirecionados, com técnicas que variam do usode tecnologia de sensoriamento remoto a gru-pos-focais baseados na comunidade, e re-latórios de monitoramento e pesquisa maiseficientes;

TABELA 3: Principais ameaças descritas pelos sistemas de avaliação no Brasil.

SSiisstteemmaa uuttiilliizzaaddoo//DDaattaa ddee aavvaalliiaaççããoo PPrriinncciippaaiiss aammeeaaççaass ddeessccrriittaass

Brasil 1999 / 1998 • Atividades comerciais em conflito com o propósito da unidade

• Desmatamento

• Isolamento

• Utilização da terra no entorno

• Uso comercial de recursos naturais na área

• Alteração interna

Parks profiles Brazil [Perfis de • Pessoal insuficiente

parques do Brasil] 2002 • Falta de plano de manejo e implementação

• Presença humana não-autorizada

• Presença humana próxima e dentro da unidade de conservação

• Extração de recursos naturais

• Falta de regularização fundiária da unidade de conservação.

RAPPAM / 2004 • Caça

• Estradas

• Expansão urbana

• Ocupação irregular

• Invasão

• Queimadas

• Extração ilegal de recursos naturais

Scenery matrix [Matriz de cenários] • Caça e pesca ilegais

2004 • Superexploração de recursos naturais

• Falta de apoio comunitário e político

• Desenvolvimento urbano

• Falta de recursos humanos e financeiros

Page 75: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

75Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Estudo global da efetividade de manejo de unidades de conservação: a perspectiva brasileira

Descobertas de melhores formas de utilizaros resultados de avaliações de modo com-patível, para criar um manejo de parquesmais eficaz;

Desenvolvimento de cooperação de alto nívelentre organizações – incluindo as principaisorganizações não-governamentais – para re-duzir a incidência de múltiplas avaliações, àsvezes conflitantes, na mesma unidade de con-servação em um curto período de tempo; e

Descoberta de como incluir um conjunto mí-nimo de dados no Banco de Dados Mundialde Unidades de Conservação, bem como nossistemas de informação da IABIN.

É essencial o fortalecimento do manejo deunidades de conservação existentes, enquan-to se cria uma matriz de novas unidades deconservação com o tamanho suficiente paraconservar a biodiversidade.

Da mesma forma, é vital o fortalecimento dealianças com outros gestores de terras, princi-palmente povos indígenas, para garantir a vi-abilidade em longo prazo das unidades deconservação federais e estaduais do Brasil(Rylands e Brandon, 2005).

Serão decisivos também para o fortalecimen-to de áreas protegidas no Brasil e em todo omundo a realização regular de avaliação daefetividade de manejo, bem como a utilizaçãode seus resultados para melhorar a gestão dasunidades de conservação.

REFERÊNCIAS

Brasil, Decreto nº. 758, de 13 de abril de 2006,Institui o Plano Estratégico Nacional de ÁreasProtegidas - PNAP, seus princípios, diretrizes,objetivos e estratégias, e dá outras providên-cias. Available at: www.mma.gov.br/estru-turas/ascom_boletins/_arquivos/plano_completo.pdf Accessed 17/11/2006.

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76Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Helena Boniatti Pavese – Fiona Leverington – Marc Hockings

de São Paulo, Brasil. Tese de Doutorado.Faculdade de Ciências e Tecnologia,Universidade Estadual Paulista, PresidentePrudente, Brasil.

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77Artigos Técnico-Científicos Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 65-77

Estudo global da efetividade de manejo de unidades de conservação: a perspectiva brasileira

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78Agenda Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 78-79

Agenda

21a Reunião Anual da Sociedade deBiologia da ConservaçãoOrganização: Society for ConservationBiologyData: 1 a 5 de julho de 2007Local: Port Elizabeth, Eastern Cape, Áfricado SulMais informações:http://www.conbio.org/2007

Sexta conferência Global: justiça ambientale cidadania global(6th Global Conference: Environmental Justiceand Global Citizenship) Organização: Mansfield CollegeData: 2 a 5 de julho de 2007Local: Oxford, Reino UnidoMais informações: www.inter-disciplinary.net/ptb/ejgc/ejgc6/cfp.htm

III Congresso Brasileiro de HerpetologiaOrganização: da Sociedade Brasileira deHerpetologia (SBH), Museu Paraense EmílioGoeldi (MPEG) e Universidade Federal doPará (UFPA)Data: 15 a 20 de julho de 2007Local: Belém, ParáMais informações:www.sbherpetologia.org.br/

13ª Conferência Internacional sobre faunabentônica (13th International MeiofaunaConference – THIRIMCO) Organização: International Association ofMeiobenthologistsData: 29 de julho a 3 de agosto de 2007Local: Recife, Pernambuco, BrazilMais informações: www.ufpe.br/thirimco/

Conferência Internacional sobreMatemática Biológica - ICMB07(International Conference on MathematicalBiology 2007)Organização: Universiti Putra Malaysia&The Malaysian Mathematical ScienceSocietyData: 4 a 6 de setembro de 2007Local: Kuala Lumpur, Selangor, MalásiaMais informações:www.inform.upm.edu.my/icbm07/

X Conferência Internacional sobre CiênciasAmbientais e Tecnologia (10th InternationalConference on Environmental Science andTechnology)Organização: Global Network forEnvironmental Science and Technology(Global NEST) e University of the AegeanData: 5 a 7 de setembro de 2007Local: Ilha Cos, Grécia Mais informações: www.gnest.org/cest

Nona Conferência Internacional sobreEcologia e Manejo de Invasão de PlantasExóticas (9th International Conference on theEcology and Management of Alien PlantInvasions)Data: 17 a 21 de setembro de 2007Local: Perth, AustráliaMais Informações:www.congresswest.com.au/emapi9/ [email protected]

VII Congresso de Ecologia do Brasil: ecolo-gia no tempo de mudanças globaisOrganização: Sociedade de Ecologia doBrasil/Departamento de Ecologia USPData: 23 a 28 de setembro de 2007Local: Caxambu- MGMais informações: www.viiiceb.org.br/in-dex1.html

II Congresso Latino-americano de ParquesNacionais e outras Áreas Protegidas Organização: UICN Sur/ PNUMA/ RED-PARQUESData: 30 de setembro a 6 de outubro de 2007Local: Bariloche- Argentina Mais informações: www.congresolatinopar-ques2007.org/

16º Congresso Internacional de Proteção dePlantas (XVI International Plant ProtectionCongress)Data: 15 a 18 de outubro de 2007Local: Scottish Exhibition & ConferenceCenter, Glasgow, Reino UnidoMais informações: www.bcpc.org/iapps2007

Agenda

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79Agenda Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 78-79

Agenda

VII Simpósio Internacional de ZoologiaOrganização: Instituto de Ecologia ySistematica e Sociedad Cubana de ZoologiaData: 12 a 17 de novembro de 2007Local: Lopes de Collantes, Sancti Spiritus,CubaMais informações: daysitarb_@T_ecologia.cu

Encontro sobre Pesquisa Ambiental: problemas globais, soluções locais(Environmental Research Event: Global problems, Local solutions)Organização: James Cook UniversityData: 2 a 5 de dezembro de 2007Local: Cairns, Queensland, AustráliaMais informações: www.ere.org.au

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80Instruções Gerais para Autores Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 80-83

Agenda

NATUREZA & CONSERVAÇÃOInstruções Gerais para os autores

ESCOPO

Natureza & Conservação é um periódico se-mestral bilíngüe (português e inglês) que tempor objetivo promover discussões, dissemi-nar idéias e apresentar resultados depesquisas voltadas à conservação da naturezacom enfoques locais, regionais, nacionais eglobais. Caracteriza-se por apresentar textosde caráter científico, filosófico e técnico, abor-dando temas relacionados à biologia da con-servação, manejo de áreas naturais protegidase ética conservacionista.

Para difundir de forma mais efetiva a questãoconservacionista, a revista é distribuída paramais de 400 bibliotecas do Brasil e mais 43outros países.

Esta iniciativa da Fundação O Boticário deProteção à Natureza enquadra-se na sua mis-são de promover e realizar a conservação danatureza.

SEÇÕES

Este periódico está dividido em três seções:

Ponto de Vista: onde são apresentados arti-gos de opinião e/ou ensaios, embasados comreferências bibliográficas. A estrutura é livre,desde que o texto não exceda 15 páginas, enão tenha sido publicado anteriormente.Deve apresentar resumo, palavras-chave ereferências completas.

Artigos Técnico-científicos: reúne artigos queapresentam resultados de trabalhos científicoscom dados primários ou secundários (de com-pilação). Devem ser estruturados em título, re-sumo, introdução, objetivos (podem estar in-clusos na introdução), material e métodos, re-sultados, discussão, conclusão (quando cou-ber) e referências. Os textos devem ser origi-nais, com no máximo 15 páginas.

Notas técnicas: reúne comunicações brevessobre descobertas e dados parciais que jámostrem resultados relevantes. Devem ser es-truturadas em resumo, palavras-chave, intro-dução, materiais e métodos, resultados parci-ais, discussão, considerações finais (quandocouber) e referências. O texto deve ser origi-nal, e a comunicação também, contendo nomáximo 5 páginas.

NORMAS GERAIS

Não existem restrições com relação aos po-tenciais autores de artigos publicados emNatureza & Conservação; no entanto, os arti-gos devem estar diretamente relacionadoscom a conservação da natureza.

O Conselho Editorial de Natureza &Conservação entenderá que todos os textosenviados à apreciação não foram publicadosanteriormente, nem estão sendo submetidos àpublicação em outros periódicos. O autorprincipal é responsável por assegurar que omanuscrito foi visto e aprovado por todos osco-autores, e a carta de encaminhamento doartigo deve ser assinada por todos os autores.É também responsabilidade do autor princi-pal assegurar que os manuscritos oriundos deuma instituição tenham sido por ela aprova-dos ou referendados. O Conselho Editorial sereserva o direito de decidir quando o trabalhoserá publicado, no caso de aprovação. Os au-tores devem manter uma cópia do artigo, demodo que os editores não se responsabilizampor perdas ou danos de originais.

PROCEDIMENTOS PARA APRECIAÇÃODE MANUSCRITOS

Todos os manuscritos serão submetidos à re-visão de pelo menos três especialistas no as-sunto. É utilizado o sistema de duplo-cego,ou seja, os especialistas desconhecem a auto-ria do artigo que revisaram e o(s) autor (es)do artigo desconhece(m) que revisores queanalisaram o seu artigo. O Conselho Editorialprocurará avaliar o mérito de parte ou de to-do o manuscrito. As recomendações dos revi-sores serão encaminhadas ao autor principal,

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81Instruções Gerais para Autores Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 80-83

Informações Gerais para Autores

e a decisão final sobre a publicação cabe aoConselho Editorial.

Formato do manuscrito

O manuscrito deverá ser formatado emtamanho A4, margens de 2 cm, espaçamentoduplo. Deve ser editado em Word for Windows6.0 ou versões mais novas, fonte Times NewRoman 12 para o texto e 10 para referênciasbibliográficas e legendas de figuras e tabelas.O texto deve ser justificado, usando estilo“normal”; colocar apenas um espaço entre aspalavras, e não separar as sílabas. Não utilizea tecla “tab” para começar os parágrafos, nemespaços entre eles. Evitar o uso de negrito ousublinhados. Usar apenas itálico no caso denomes científicos, ou de palavras em latim ouem língua diferente da utilizada no manu-scrito. Os números inteiros devem ter pontosseparando as casas das centenas, e osnúmeros decimais separados por vírgulas(por exemplo: 1.150 amostras; 10,3 % dos es-pécimes).

O manuscrito pode ser enviado em cd-romvia correio, ou por meio de mensagemeletrônica (colocando o arquivo do manuscritoem anexo, com extensão “rtf” e as figuras em“jpg”).

O texto pode ser enviado em português ou es-panhol, mas é desejável que seja enviado tam-bém em inglês.

Título: deve ser conciso e informativo, comno máximo 15 palavras, somente com a inicialmaiúscula. Os subtítulos incluídos no textodevem ser em maiúsculas, não numerados,em negrito e alinhados à esquerda.

Autores: o manuscrito deve ter uma folha derosto, que inclua o título do artigo, os nomesdos autores, sua titulação e organização aqual pertencem. Incluir o endereço postalcompleto e o e-mail do autor principal, paraonde devem ser enviados correspondência eo material a ser corrigido. Nesta folha podemser incluídos os agradecimentos (quando cou-ber).

Resumo: um resumo deve acompanhar o tex-to, deve ter caráter informativo, apresentandoas idéias e as conclusões mais importantes doartigo, escrito em espaçamento 1, em um úni-co parágrafo e não excedendo duzentaspalavras. Incluir, ao final, até cinco palavras-chave diferentes das do título.

Unidades de medida: deve ser utilizado o sis-tema métrico, devidamente abreviado, quan-do for o caso.

Nomes científicos: devem ser em itálico,sempre antecedidos do nome comum. Porexemplo: tesourão-pequeno Fregata ariel.

Nomes não adotados na língua original:também devem ser grafados em itálico (ex.:em português – “... estas informações encon-tram-se no site...”; em inglês – “pressure of thesem terra movement...”).

Tabelas: usar os recursos do Word forWindows para montar e formatar as tabelas.Não inserir tabelas como figuras. Evitar abre-viações, a não ser no caso de unidades de me-dida. Os títulos, com apenas a primeira letraem caixa-alta, devem vir precedidos pelapalavra Tabela, seguida do número correspon-dente. Devem ser informativos e sucintos. Aprimeira citação de uma tabela no texto deveser realçada em caixa alta e negrito (ex.:TABELA 3), e as demais apenas em caixa-al-ta. Os números inteiros devem ter pontos se-parando as casas das centenas, e os númerosdecimais separados por vírgulas (por exem-plo: 1.150 amostras; 10,3 %).

Figuras: quaisquer ilustrações (fotos, dese-nhos, diagramas, gráficos, mapas) serão con-sideradas Figuras, e devem ser numeradasconsecutivamente. No original em meio digi-tal, o título da figura deve ser colocado notexto, no exato local onde a figura será inseri-da. Os títulos das Figuras devem ter apenas aprimeira palavra em maiúsculas. Não inseriras figuras nos arquivos de texto. As figurasdeverão vir em arquivos separados, sendoque: gráficos, fluxogramas e diagramas de-vem ser elaborados em programas adequa-

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82Instruções Gerais para Autores Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 80-83

Informações Gerais para Autores

dos e apresentados em formato que permitasua manipulação para efeito de editoração.Imagens: deverão vir com extensão “.jpg”,com resolução mínima de 300 dpi e 30 cm debase.. As legendas deverão acompanhar asfiguras, inseridas nas mesmas ou junto com otítulo da figura, colocado no texto. As ima-gens em que as dimensões sejam essenciais,devem trazer escala gráfica, não numérica. Aprimeira citação de uma figura no texto deveser realçada em caixa alta e negrito (ex.:FIGURA 5); as demais, somente em caixa-al-ta. O espaço disponível para as figuras vai de-pender de questões de editoração da revista,devendo ser tomado o cuidado para que otamanho das letras, números, escalas e sím-bolos utilizados possibilitem uma redução deaté 60%. Os autores devem evitar duplicidadede informações entre figuras e tabelas e o usode informações irrelevantes (ex.: dígitos nãosignificativos).

Citações e referências: As citações no textodevem seguir o sistema de nome e ano, como:Númenor (1980); (Númenor & Yergos, 1990);Yergos et al. (1986). Usar ponto e vírgula paraseparar citações entre parênteses (Fernandez,2004; Smith, 2001; Klaus & Herbert, 2003). Sehouver mais de uma publicação do mesmoautor em um mesmo ano, estas devem ser es-pecificadas por letras, como: Yergos (1976a,1976b). Evitar utilizar material bibliográficonão consultado diretamente, mas se im-prescindível, referenciar através de “apud”,como: Silva, 1980 apud Yergos, 1981. Evitarnotas de rodapé. Serão aceitas citações de tra-balhos no prelo (Yergos, no prelo), ou comu-nicações pessoais: Olmos (2005, comunicaçãopessoal). Não grafar em itálico expressões co-mo apud, e et al. Transcrições de texto devemser representadas em itálico, entre aspas, ci-tando a respectiva fonte bibliográfica enúmero da página de onde foi retirado o tex-to. Equações devem ser digitadas com o edi-tor de equações do Winword ou equivalente,e todos os símbolos e abreviaturas devem terseus significados explicitados no texto. Asreferências devem ser listadas em ordem al-fabética de autor, apresentadas conforme e-xemplos abaixo:

Fernandez, F. A. dos S. 2000. O poema imper-feito: crônicas de Biologia, Conservação daNatureza e seus heróis. Curitiba: UFPR /FBPN..

Terborgh, J. 1986. Keystone plant resources inthe tropical forest. In: Soulé, M. E. (ed.).Conservation biology: the science of scarcity anddiversity. Pp. 330-344. New York: SinauerAssociates. Sunderland.

Olmos, F. 1993. Birds of Serra da CapivaraNational Park, in the “caatinga” of north-easternBrazil. Bird Conservation International 3 (1): 21-36.

Tabanez, A. A. J.; Viana, V. M.; Dias, A. S.1997. Conseqüência da fragmentação e doefeito de borda sobre a estrutura, diversidadee sustentabilidade de um fragmento de flo-resta de planalto de Piracicaba, SP. Rev. Bras.Biol. 57: 47-60.

Rolston III, H. 2000. Intrinsic values in nature.In: Milano, M. S.; Theulen, V. (orgs.). IICongresso Brasileiro de Unidades de Conservação,Anais, V. I, Conferências e Palestras, CampoGrande. Pp. 76-84. Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação / Fundação OBoticário de Proteção à Natureza. CampoGrande.

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis (IBAMA).1989. Lista oficial de espécies da fauna brasileiraameaçada de extinção. Portaria no 1522, publi-cada no Diário Oficial da União de 19 dedezembro de 1989.

Runte, Alfred. Why National Parks? GeorgeWright Forum. Disponível em www.georgewright.org/192runte.pdf . Acesso em12/08/2003.

Anexos e apêndices: devem ser incluídosapenas se imprescindíveis à compreensão dotexto, como documentos de fundamentação,comprovação ou ilustração. A numeraçãoserá através de algarismos arábicos (ex.:ANEXO 1), seguidos do respectivo título, ca-da um iniciando em uma página.

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83Instruções Gerais para Autores Natureza & Conservação - vol. 5 - nº1 - Abril 2007 - pp. 80-83

Informações Gerais para Autores

PROCEDIMENTOS APÓS ACEITAÇÃODO ARTIGO

Caso o artigo seja aceito, o autor será comuni-cado e terá no máximo vinte (20) dias para en-

viar o material com as alterações que se fi-zerem necessárias. Cada autor principal terádireito a cinco cópias de Natureza &Conservação, além do arquivo em “pdf” cor-respondente a seu artigo.

Os textos devem ser encaminhados em meio digital para:

Fundação O Boticário de Proteção à NaturezaRevista Natureza & Conservação

Rua Gonçalves Dias, 225Batel – Curitiba - Paraná, Brasil, CEP 80.240-340

Fone: (41) 3340-2644 – Fax: (41) 3340-2635

Ou por e-mail: natureza&[email protected]

Page 84: Publicação - Natureza e Conservação - Boticario

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(como na rrevista anterior)

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Envie o comprovante juntamente com a ficha preenchida para o fax 41 3340-2635ou para o endereço: R. Gonçalves Dias, 225 - Batel - CEP: 80240-340 - Curitiba, PR

AVISO: a partir de junho de 2007 a revista estará disponível integralmente on-line, no site da Fundação.

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