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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 421 • ANO XXXVIII JULHO 2008 • MENSAL • 1 , 50

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 421 • ANO XXXVIII … · vêm nas fotos atracados “de braço dado”, no Cais da Pontinha, no Funchal, no início dos anos 50 do séc

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 421 • ANO XXXVIII JULHO 2008 • MENSAL • € 1,50

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Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Após a 2ª Guerra Mundial, a Marinha Portuguesa utilizou em missões de vigilância e patrulhamento nas águas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira navios do tipo “naval trawlers” e “requisitioned trawlers” cedidos a título provisório pelo Governo Britânico.

Dos oito navios atribuidos a Portugal, os que ficaram mais conhecidos foram o “Santa Maria” e o “Faial” que se vêm nas fotos atracados “de braço dado”, no Cais da Pontinha, no Funchal, no início dos anos 50 do séc. XX.

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 421 • Ano XXXVIII

Julho 2008

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de Redacção1SAR M António Manuel L. Pires Afonso

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito,

montagem e produçãoPágina Ímpar, Lda.

Estrada de Benfica, 317 - 1º F1500-074 Lisboa

Tiragem média mensal:6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73

com o nº 44/23Depósito Legal nº 55737/92

ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: MAN FERRoSTAAl PoRTUgAl, lda.; RoHDE & SCHWARZ, lda.

FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA E O RECONHECIMENTO DE COMPETÊNCIAS NA MARINHA 4COMEMORAÇÕES DO 10 DE JUNHO 5SNMG1 - A FRAGATA “VASCO DA GAMA” RUMO A SUL 8SALVOS NO MAR 9O PILOTO JOÃO DE LISBOA 11ECOS DO DIA DA MARINHA 14A MARINHA DE D. JOÃO III (36) 16PRÉMIO “TEIXEIRA DA MOTA” 20TOMADAS DE POSSE 21ENERGIAS RENOVÁVEIS. ENERGIA DAS ONDAS DO MAR 24ARSENAL DO ALFEITE 25VIGIA DA HISTÓRIA 1 / “NAUS DO BRASIL COLÓNIA” 26PÁGINA DA SAÚDE (12) / NOTÍCIA 27NOTÍCIAS 29DIVAGAÇÕES DE UM MARUJO (28) 30CARTA 31QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • JulhO 2008 3

Activação do Centro de Operações da Marinha

7

Os 200 Anos da Abertura da Barra de Aveiro

22

Modernização e Adaptação das Fragatas da Classe “Bartolomeu Dias”

10

A Incómoda Voz da Razão.No IV Centenário do Nascimento do Padre António Vieira

17

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 421 • ANO XXXVIII JULHO 2008 • MENSAL • € 1,50

Composição gráfica de Aida Colaço

Foto Júlio Tito

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4 JULHO 2008 • Revista da aRmada

O Reconhecimento, Validação e Certi-ficação de Competências (RVCC) é um processo que, integrado na Ini-

ciativa Novas Oportunidades, se constitui como uma via alternativa para a elevação das qualificações escolares e profissionais dos portugueses.

Sendo esta preocupação compartilhada pela Marinha, como claramente expressa a Directiva de Política Naval, nas Linhas de Acção de Comando e Administração Supe-rior para a área Pessoal – “Prosseguir a política de potenciação dos re-cursos humanos, como garante do fortaleci-mento do potencial es-tratégico da Marinha” – faz todo o sentido a Marinha fazer parte deste Projecto, através do seu Centro Novas Oportunidades (CNO), inserido no Centro Na-val de Ensino a Distân-cia (CNED).

Tendo por base dois conceitos essenciais – o de que a aprendizagem se faz ao longo da vida, e o de que essa aprendizagem assume estratégias formais, não formais e informais – e, por outro lado, partindo da identificação de “Competências” como sendo a capacidade reconhecida para mobilizar os conhecimen-tos, as aptidões e as atitudes em contextos de trabalho, de desenvolvimento profissional, de educação e de desenvolvimento pessoal, a ac-tividade dos CNO tem como metas:

• a valorização do passado de cada indi-viduo, no que respeita aos saberes e compe-tências adquiridos;

• o desenvolvimento, no presente, dos sa-beres e das competências que constituam, para cada individuo, a sua melhor opção de vida;

• a identificação de perspectivas de futuro para cada individuo, numa constante pro-cura de mais elevados níveis de qualidade de vida, através da aquisi-ção de novos saberes e competências adequa-dos aos seus interesses e motivações.

Ora, quer através das acções de formação frequentadas no âmbito do Sistema de For-mação Profissional da Marinha (SFPM), quer no treino operacional, quer na prática concreta de uma profissão rica e recheada de desafios

e experiências de diversos matizes, para além, obviamente, dos aspectos pessoais e de cida-dania, todos eles concorrendo para a constru-ção da identidade e da história de vida de cada um, os nossos militares têm razões, e legítimas expectativas de, cumprindo as diferentes fases de um processo RVCC, verem as suas compe-tências formalmente reconhecidas.

O processo RVCC desenvolve-se segundo directivas, e sob a orientação, coordenação e

avaliação da Agência Nacional para a Qua-lificação, que desempenha um papel fulcral no Sistema Nacional de Qualificação, em paralelo com o Quadro Nacional de Quali-ficação, onde se define a estrutura de níveis de qualificação, e com o Catálogo Nacional de Qualificações, que integra as qualifica-ções baseadas em competências e identifica, para cada uma, os respectivos referenciais de competências-chave e de formação.

São estes referenciais de competências--chave que constituem todo o esqueleto de desenvolvimento de um processo de RVCC, seja ao nível Básico (equivalente aos 4º, 6º e 9º anos de escolaridade), ao nível secundário (equivalente ao Secundário) ou ao Profissio-

nal (este visando a dupla certificação: esco-lar/níveis básico, secundário e profissional/níveis II e III de qualificação profissional).

No que respeita ao RVCC – Nível Secun-dário, o referencial reparte-se por três áreas de competências-chave:

• Cidadania e Profissionalidade (CP), onde se pretende “evidenciar, reconhecer e certificar competências-chave da e na cida-dania democrática”, tendo em atenção que “o trabalho é uma das dimensões fundamen-tais da vida” de um indivíduo.

• Sociedade, Tecnologia e Ciência (STC), onde se “trabalha a evidenciação de com-petências-chave em campos que envolvem saberes formalizados e especializados cada

vez mais complexos”, na perspectiva de “uma visão integrada de três dimensões de vida dos cidadãos – a ciência, a tecnologia e a sociedade …”

• Cultura, Língua, Comunicação (LCL), onde as competên-cias-chave são defi-nidas “em torno da dimensão cultural da vida dos indiví-duos nas sociedades contemporâneas, da dimensão linguísti-ca (inequivocamente transversal) e da di-

mensão comunicacional que cruza questões mediáticas, tecnológicas e sociais…”

Cumprindo as várias fases de um proces-so RVCC – Acolhimento, Diagnóstico/Tria-gem, Encaminhamento, Reconhecimento de Competências, Validação de Competências e Certificação esta após júri de certificação – as competências-chave devem ser demons-tradas nos diferentes contextos em que os indivíduos agem nas sociedades contempo-râneas: privado, profissional, institucional e macro-estrutural.

Reflectir sobre a sua História de Vida nestes diversos contextos, “desocultan-do” saberes e competências adquiridas de modo formal, não formal e informal e

demonstrando a sua integração e aplicabi-lidade em cada uma das áreas de compe-tências-chave, e cons-truindo deste modo o seu Portefólio Refle-xivo de Aprendiza-gens (onde expressa a demonstração daque-las competências), é

o desafio que se coloca aos candidatos ao RVCC.

É um desafio à medida dos nossos mi-litares!

(Colaboração da DSF e CNED)

A Aprendizagem ao Longo da Vida e o Reconhecimento de Competências na Marinha

A Aprendizagem ao Longo da Vida e o Reconhecimento de Competências na Marinha

Centro Novas Oportunidades - CNED (De 2007 a 01/06/2008)

Inscrições Início Diagnóstico

Início Processo de RVC

Certi-ficados

Encami-nhados

Trans-feridos

Desis-tentes

BásicoCivis 307 246 203 145 15 110 30Militares 53 53 55 22 0 10 2

SecundárioCivis 588 108 49 0 6 105 6Militares 508 69 30 0 6 32 5

A 1 de Junho de 2008 o CNO do CNED apresenta esta situação.

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Realizaram-se no dia 10 de Junho, em Via-na do Castelo, as cerimónias alusivas às comemorações do Dia de Portugal, de

Camões e das Comunidades Portuguesas.O Presidente da República e Comandante

Supremo das Forças Armadas, presidiu à ceri-mónia militar, no Campo da Agonia, que incluiu uma parada militar das Forças Ar-madas, comandadas pelo MAJGEN PILAV Serôdio Fernandes, Coman-dante da Academia da Força Aérea, integrando as seguintes unidades e meios: Banda da Força Aérea; Bloco de Estandartes Nacionais represen-tativos de Unidades da Marinha, do Exército, da Força Aérea, sendo um da Liga de Combatentes, e a Escolta de Honra, constituída por uma Com-panhia de Cadetes da Força Aérea; um Batalhão dos Estabelecimen-tos Militares de Ensino do Exército constituído por alunos do Colégio Militar, do Instituto de Odivelas e do Instituto Militar dos Pupilos do Exército; um Batalhão de Cadetes integrando uma compa-nhia da Escola Naval, uma companhia da Aca-demia Militar e uma companhia da Academia da Força Aérea; um Batalhão de militares da Escola de Tecnologias Navais da Marinha, da Escola de Sargentos do Exército e do Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea; um Batalhão da Marinha, composto por duas com-panhias do Batalhão de Fuzileiros nº1 e uma companhia formada por militares pertencentes aos NRP “Alvares Cabral” e “João Roby”; dois

Batalhões do Exército; um Batalhão da Força Aérea; um Batalhão do Batalhão de Fuzileiros nº2, que desfilou em acelerado; uma força da Brigada de Reacção Rápida do Exército; uma força de Paraquedistas; uma força motorizada da Marinha composta por trinta viaturas per-tencentes ao Comando do Corpo de Fuzilei-

ros, Destacamento de Mergulhadores Sapado-res e Direcção-Geral da Autoridade Marítima; quarenta viaturas motorizadas e vinte viaturas mecanizadas do Exército.

As Forças em Parada prestaram as honras re-gulamentares, com a Banda da Força Aérea exe-cutando o Hino Nacional e simultaneamente, um conjunto de três baterias do Exército, exe-cutaram uma salva de 21 tiros.

Seguiu-se a homenagem aos Mortos que in-cluía uma prece feita pelo Vigário castrense o CMG Costa Amorim.

Seguidamente o Presidente da República pronunciou o discurso que abaixo se transcre-ve na íntegra.

Por fim, deu-se início ao desfile das Forças em Parada, num total de aproximadamente dois mil militares. Durante o desfile, aterraram frente à tribuna de honra seis paraquedistas,

transportando símbolos Nacionais e da Cidade de Viana do Castelo. Assistiu-se ainda a um desfile aéreo representativo dos meios da Força Aérea Portuguesa.

Nestas comemorações, destacou--se o programa de actividades com-plementares, que ofereceram aos visitantes a oportunidade de conhe-cerem, com maior detalhe, as mis-sões das Forças Armadas e ainda permitiram um contacto mais directo com as pessoas, através de um con-junto de actividades e demonstrações donde se destacam: A demonstração naval na frente ribeirinha do Jardim

da Marginal, realizada no dia 10 de Junho; os vários pólos de actividades radicais onde se en-quadraram a piscina de baptismos de mergulho e o “airsoft”; os baptismos de mar realizados nos NRP “Cuanza” e “Dragão”; a abertura dos navios a visitas (os NRP “Alvares Cabral”, “Sagres”, “João Roby”, “Cuanza” e “Dragão”) e a exposição de actividades de Marinha.

Por sua vez em cerimónia civil, o Presidente da República condecorou diversas personalida-des, entre elas, o CALM Nelson Mateus com a Ordem Militar de Aviz – Grande Oficial.

“Nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, evoca-mos os grandes feitos dos que nos antecederam e as tradições de todo um Povo.

Um Povo que, demons-trando uma vontade férrea de afirmação, conquistou a pulso o seu espaço e de-monstrou a tenacidade ne-cessária para o preservar. Um Povo que provou a ca-pacidade para transportar a sua cultura mais além, mais do que a sua própria dimen-são poderia fazer crer, lan-çando-se numa assombrosa e admirável aventura.

É este legado, de que nos orgulhamos, que deve ser exaltado e lembrado às novas gerações como o lugar onde nos reencontramos como Nação.

A verdadeira homenagem que podemos fazer a esta herança é continuá-la, enfrentan-do os novos desafios, conquistando as fron-

teiras do desconhecido, ultrapassando uma vez mais o que parece ser intransponível.

Nos meus percursos, é esse espírito que, apesar das dificuldades, continuo a encon-trar nos Portugueses, é essa determinação e esse arrojo que, em particular, tenho visto

nos jovens, o que me torna confiante e seguro de que a alma e o sentir portugueses se mantêm vivos e merece-dores do seu passado.

Por isto, neste dia, home-nageamos os que continuam a distinguir-se e a distinguir-nos, contribuindo com a sua coragem, inteligência, mérito e esforço para a construção de um país melhor, de um mundo mais seguro, mais próspero, mais solidário.

Daí, também, que tenha pleno sentido associar as Forças Armadas a estas ce-lebrações.

Militares,Os caminhos da Nação

justapõem-se, incontornavel-mente, ao percurso das Forças Armadas.

Presente nos momentos mais significativos da nossa História, torna-se difícil encontrar uma Instituição que tenha contribuído tanto, tantas vezes e com o sacrifício de tantos para a edifi-cação e consolidação da Nação portuguesa.

Revista da aRmada • julho 2008 5

COMEMORAÇÕES DO 10 DE JUNHOCOMEMORAÇÕES DO 10 DE JUNHO

Discurso do Presidente da Républica na Cerimónia Militar

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Hoje, continua a ser assim, em terras longín-quas do Afeganistão, onde, simultaneamente, se procura combater o terrorismo interna-cional e o narcotráfico, auxiliar o desenvol-vimento daquele país nas suas capacidades essenciais de defesa e segurança e propor-cionar mais tranquilidade às populações na sua vida diária.

É assim no Kosovo, garantindo estabilida-de, segurança e bem-estar, num momento de transformação particularmen-te sensível, onde a oportuni-dade de intervenção e a for-ma de relacionamento com as populações locais assu-mem particular relevância.

Foi desta forma no Cha-de, facilitando a construção da capacidade militar inter-nacional necessária para o auxílio humanitário às víti-mas nas áreas de conflito, e foi-o também, nos céus dos países Bálticos, cumprindo a obrigação solidária da defe-sa do espaço aéreo daqueles membros recentes da Aliança Atlântica.

É assim, também, no Líbano, onde tive o privilégio de estar com os nossos militares, e a satisfação de verificar, uma vez mais, o modo saudável como os soldados portugue-ses vão disseminando a tradicional forma de ser lusitana.

É extremamente gratificante, não só como Presidente da República e Comandante Su-premo, mas também como cidadão, constatar o elevado prestígio e a consideração de que os nossos militares usufruem em qualquer das missões em que estão empenhados, em diver-sos pontos do globo.

A participação nacional nestas missões, que traduz o natural cumprimento do compromis-so de solidariedade, concorre directamente para a afirma-ção de Portugal no mundo e, mais do que isso, concorre para a segurança do espaço em que vivemos e para a sal-vaguarda dos valores em que acreditamos.

A defesa nacional, actu-almente, conhece fronteiras difusas, envolvendo o empe-nhamento das nossas Forças Armadas fora do território na-cional, partilhando o esforço de contenção dos conflitos para que também as nossas populações sejam protegidas dos seus efeitos.

Infelizmente, hoje em dia, a abrangência e o carácter multifacetado das ameaças e a in-certeza quanto à sua localização tornam ne-cessária uma maior vigilância e uma acrescida capacidade de intervenção, razão pela qual o carácter expedicionário das forças, sendo embora decisivo, não dispensa a vertente da dissuasão do poder militar.

Ao Estado, a quem incumbe a responsa-bilidade pelas questões de soberania, cabe assegurar condições para a manutenção das capacidades nacionais de defesa.

Uma política de Defesa Nacional adequa-da, moderna e eficiente, implica organizar melhor as diferentes responsabilidades, clari-ficando e ordenando competências, evitando duplicações e buscando eficácia, racionalida-de e economia de meios.

As importantes reformas que têm vindo a ser conduzidas no âmbito da Defesa Na-cional e das Forças Armadas devem pros-seguir o rumo já enunciado, no sentido da criação de estruturas mais ágeis e eficazes, adequadas às exigências do ambiente de se-gurança, ao cumprimento das missões mi-litares e à satisfação dos compromissos do País, enquanto membro de várias organiza-ções internacionais de segurança e defesa. Para a manutenção de um instrumento mili-tar credível, actual e de elevada prontidão e capacidade, torna-se fundamental a valoriza-ção da profissão militar, e o respeito pela sua especificidade.

As Forças Armadas necessitam de elemen-tos altamente preparados e motivados, assim como permanentemente disponíveis para o cumprimento do juramento a que se obrigam quando nelas ingressam.

Neste âmbito, a reestruturação em curso das carreiras militares deve ser suficientemen-te apelativa para garantir a permanência de

quadros altamente especializados na Institui-ção e a captação de novos voluntários para preenchimento das necessidades do Sistema de Forças.

Igualmente importante é a disponibilização do investimento necessário para assegurar a operacionalidade da força militar.

No cenário de contenção orçamental em que vivemos, o melhor aproveitamento das valências e capacidades existentes nas For-

ças Armadas, ao evitar a duplicação de estruturas e meios, permitirá libertar re-cursos indispensáveis à defe-sa nacional.

Necessário será, de resto, dar continuidade aos esfor-ços do reequipamento, me-lhorando o nível de realiza-ção dos planos de aquisição e manutenção de equipamen-tos previstos na Lei de Progra-mação Militar.

Cumpridas estas condi-ções, as Forças Armadas es-tarão mais aptas a fazer face aos exigentes desafios que actualmente lhe são coloca-

dos, e também aos que o futuro lhes reserva. Refiro-me, em particular, aos decorrentes do Tratado de Lisboa que traz a política comum de segurança e defesa da União Europeia para um novo patamar de cooperação.

Os mecanismos de participação previs-tos nesta dimensão da construção europeia, designadamente a Cooperação Estruturada Permanente, implicam padrões de esforço elevados em matéria de desenvolvimento de capacidades militares e de contributos de for-ças e meios, e também no desenvolvimento de programas comuns sob a égide da Agência Europeia de Defesa.

Militares,Ao longo da sua história, in-

dependentemente das dificul-dades e dos riscos que cada missão encerra, as Forças Ar-madas têm sabido sempre cumprir com honra e brio o que a Nação lhes confia, cor-respondendo de forma exem-plar ao que os Portugueses de-las esperam.

A Instituição Militar tem constituído uma notável esco-la de cidadania, fiel depositária de nobres tradições, transmitin-do à juventude valores funda-mentais como a abnegação e o sacrifício, a coesão, a disciplina e o profissionalismo, mas tam-

bém a coragem, a ousadia e o amor à Pátria.As Forças Armadas foram, são e serão sem-

pre uma componente estruturante da identi-dade nacional, valor permanente com a qual a Nação conta e de que o Comandante Su-premo se orgulha.

Exorto-vos, assim, a continuar Portugal.”

6 julho 2008 • Revista da aRmada

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Revista da aRmada • JULHO 2008 7

Activação do Centro de Operações da MarinhaActivação do Centro de Operações da Marinha

Em 30 de Janeiro de 2008, no Coman-do Naval, procedeu-se à activação do “Initial Operational Capability”

(IOC) do Centro de Operações da Mari-nha (COMAR).

O COMAR, encontra-se co-localizado com o Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa (MRCC Lisboa), opera 24 horas por dia, garantindo a compilação e análise de todo um conjunto de informação relativa ao panorama maríti-mo disponibilizada por vários organismos e instituições militares e civis, nacionais e estran-geiras, incluindo a NATO, no âmbito do MSA1. Encontra-se guarnecido permanentemente por seis militares e um elemento da polícia maríti-ma, podendo ser aumentada a sua capacidade até treze postos de trabalho que, dependendo da sua configuração, poderão ser guarnecidos por representantes das entidades e organismos mili-tares ou civis, relevantes para o acompanhamento da situação em curso.

Para poder planear, coordenar, conduzir e con-trolar as operações marítimas e navais sob a sua responsabilidade, é necessário um sistema de co-mando e controlo, comunicações, computadores e informações (C4I) moderno, consubstanciado por um conjunto de sistemas, equipamentos, métodos, procedimentos e pessoal, organizados de modo a assegurar a gestão global e integrada da informa-ção relevante e que posicione o decisor operacional num estado de superioridade de informação que o habilite na tomada da decisão.

No quadro actual, em que cada vez mais se torna necessário racionalizar recursos e convergir sinergias para os objectivos co-muns, o COMAR traduz o exemplo de que é possível desenvolver projectos inte-gradores.

Efectivamente, revela-se uma decisão natural a edificação deste centro no seio da Marinha pelos seguintes factores:

• A Marinha possui a vocação, a compe-tência e os meios;

• No COMAR é possível aceder simul-tâneamente a informações classificadas e não classificadas, designadamente informação NATO, informações próprias (W-AIS da Marinha, informação proveniente da Autoridade Marítima e informação das unidades operacionais) e infor-mação de outras fontes (UE, Iniciativa 5+5, da-dos AIS2/VTS3 nacionais, MONICAP4, SIVICC5, MSSIS6, informação âmbito SAR7, etc.), o que se traduz numa maior capacidade e eficácia na mo-nitorização e análise;

• A Marinha tem dinamizado a elaboração de protocolos com diversas entidades, os quais permitem a sua agilização e articulação, sendo que o COMAR disporá das ferramentas e ca-

pacidade para assumir um papel previligiado na condução e acompanhamento das opera-ções no mar, bem como da flexibilidade (redes configuráveis e estações de trabalho) para per-mitir a integração de representantes de várias entidades;

• A co-localização com o MRCC Lisboa, ga-rante a gestão racional de recursos e permite a convergência de variada informação relevante para a percepção operacional do ambiente ma-rítimo8. Releva-se o facto de o projecto GMDSS-VHF9 vir a aumentar significativamente as valências do MRCC, que passará a dispôr de capacidade de operar localmente uma rede de VHF marítima (TX/RX de voz e dados DSC) que cobre toda a orla costeira continental. Pre-vê-se, no âmbito deste projecto que, num futu-ro próximo, possa vir a ser edificada também a capacidade MF;

• O facto de o COMAR integrar o centro de operações navais e elementos da Autoridade Marítima, permite, desde logo, alargar as áre-as de intervenção, fazendo uso de recursos co-muns e agilizando as respostas de forma a me-lhorar a eficácia no quadro da defesa e segurança marítima;

• O COMAR dispõe ainda de acesso à rede VHF de Marinha10, ao MRL, à rede secreta NATO, capacidade VTC11 com unidades navais e forças destacadas, à Internet, Intranet, rede VTS/AIS nacional, rede AIS de Marinha, V-RMTC12, SA-DAP13, ligações através do MRCC como referido,

entre muitos outros sistemas, assumindo capaci-dades conjugadas únicas no âmbito nacional.

O COMAR dispõe também de importantes ferramentas, para detecção automática de anoma-lias, AIS e outras, com o acesso a bases de dados classificadas e não classificadas, o que concorrerá no processo de análise e permitirá o processamen-

to de maior quantidade de contactos.Em situação de crise o COMAR terá ca-

pacidade de disponibilizar o panorama ma-rítimo reconhecido à sala de situação do Al-mirante CEMA. Este panorama será ainda disponibilizado em permanência ao EMA. Pode ainda partilhar informação através da INTRANET e sempre que necessário através da MSWAN14, com os Comandos de Zona Marítima e Departamentos Marí-timos. Integrado na SCA15 de Northwood, o COMAR, partilha o seu panorama marí-timo reconhecido com entidades/unidades

NATO através do sistema MCCIS16.Pretende-se ainda que o COMAR partilhe o seu

panorama marítimo reconhecido com o EMGFA, com forças de coligação e forças conjuntas, com as Unidades Navais e Forças de Fuzileiros e com agências externas e forças policiais, nacionais ou estrangeiras, quando autorizado.

Como valor acrescido o COMAR assegura os elementos de informação necessários à tomada de decisão, optimizando o emprego dos meios e contribuindo para a articulação e complementa-riedade dos recursos nacionais, fornecendo ain-da aos nossos parceiros e aliados um panorama marítimo reconhecido de excelência.

(Colaboração do COMAR)Notas

1 Maritime Situational Awareness.2 Automatic Identification System.3 Vessel Traffic Service.

4 Monitorização e Controlo da Actividade de Pesca.

5 Sistema Integrado de Vigilância Comando e Controlo - rede de radares costeiros de médio alcan-ce em desenvolvimento pela GNR-BF, e que se prevê poder vir a partilhar a informação com o COMAR.

6 Maritime Safety and Security Information System.

7 Search and Rescue.8 O MRCC Lisboa é um ponto previligiado de

ligação a múltiplas agências e entidades interna-cionais, através das quais se tem acesso a inúmera informação de carácter relevante no âmbito da se-gurança marítima.

9 Projecto no âmbito do MDN-DGIE, em fase de conclusão.

10 Em edificação.11 Video Tele-conferência. Projecto em desenvolvi-

mento, sendo que no presente se tem efectuado com suces-so video-chamadas, no ambiente da Intranet, com navios no mar com capacidade satélite.

12 Sistema de informação de partilha de dados de infor-mação marítima, no âmbito da Iniciativa 5+5 – Portugal, Espanha, França, Itália e Malta+Mauritânia, Marrocos, Ar-gélia, Líbia e Tunísia.

13 Sistema de Apoio à Decisão na Actividade de Patru-lha. Projecto em desenvolvimento que assegurará a troca expedicta e semi-automática de informação de panorama de superfície entre o COMAR e as unidades navais.

14 Mission Secret WAN.15 Surveillance Coordination Area.16 Maritime Command and Control Information

System.

Realizou-se no passado dia 2 de Junho no Comando Naval, a cerimónia de inauguração oficial do Centro de Operações da Marinha (COMAR).

A cerimónia, presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, Prof. Doutor Nuno Severiano Teixeira, contou com a presença do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Dr. João Mira Gomes, do Secretário de Estado da administração Interna, Dr. Rui Sá Gomes, do CEMGFA General Valença Pinto, do Director-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo, Dr. João Manuel Almeida de Sousa. Estas entidades foram recebidas pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, ALM Melo Gomes e pelo Comandante Naval, VALM Vargas de Matos.

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8 JULHO 2008 • Revista da aRmada

O NRP “Vasco da Gama” em con-junto com os restantes navios do SNMG1 participou no período

de 19 de Abril a 2 de Maio no JW081, no exercício organiza-do pela Marinha Ingle-sa que decorreu ao largo das Ilhas Hébridas, Nor-te da Escócia. O JW081, sucessor dos bem conhe-cidos JOINT MARITIME COURSE (JMC) e NEP-TUNE WARRIOR (NW), é um exercício de eleva-da complexidade que se desenvolve numa envol-vente física e ambiental extraordinariamente exi-gente, sendo conduzido pelo Joint Maritime Trai-ning Staff (JMOTS), com o objectivo de proporcionar treino conjunto num am-biente de multi-ameaça a unidades em preparação para integrar uma das componentes de uma Força-tarefa Con-junta e Combinada1, enfatizando o contri-buto das Operações Navais para as Opera-ções Conjuntas.

Estiveram presentes no processo de pre-paração/certificação cinco Comandantes de forças navais (embarcados): COMSNMG1, COMSNMCMG12, COMDATG3, COMUS-DESRON28 4 e COMNLMCMFOR 5. Parti-ciparam igualmente um conjunto diversi-ficado de meios, em que se destacam 31 navios de superfície com 8 helicóp-teros embarcados, 3 sub-marinos, 67 aeronaves, 5 unidades do exército, incluindo controlado-res aéreos avançados, e 3 centros de controlo de espaço aéreo, para além de diversas embarcações, lanchas rápidas e motas de água utilizadas para si-mulação de abordagens e ataques assimétricos, num total de 17 países envolvi-dos. A título de exemplo, refira-se que todos os con-troladores aéreos envolvi-dos no campo de batalha terrestre no exercício do ano passado estão presentemente empenhados nos teatros de operação do Afeganistão e do Iraque.

Um dos aspectos mais relevante do exer-cício consistiu no realismo dos cenários e

situações colocadas aos participantes no-meadamente na condução de operações de segurança marítima6, sempre sob um rigoro-so escrutínio de equipas de jornalistas em-

barcadas em permanente interacção com o desenvolvimento do cenário internacional montado para o efeito.

Para além dos navios do SNMG1, a força sob o comando do COMSNMG1 compre-endeu ainda o USS “Barry” e o reabastece-dor de esquadra USNS “Big Horne” e tinha por missão recuperar um território em dis-puta com um estado vizinho, opondo-se a uma força multinacional comandada pelo COMDATG, que operava ao abrigo de um

mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Na fase inicial do exercício, de Com-bat Enhacement Training-Force Integration (CET-FIT), foram conduzidos exercícios

avançados de luta anti-submarina, tiro de superfície, anti-aéreo e bombardeamen-to contra costa, abordagem e vistoria no mar e, uma novidade para a nossa Mari-

nha, treino de protecção de plataformas petrolífe-ras contra ameaças assi-métricas. Paralelamente, a presença constante de embarcações rápidas e motas de água que, com velocidades próximas dos 30 nós, lançavam ataques de oportunidade a partir de costa, obrigou a uma atenção permanente ten-do em vista optimizar a capacidade de resposta do navio para contrariar a ameaça em desenvol-vimento.

Na segunda fase jogou--se, durante um período de quatro dias, o cenário

táctico do exercício, sempre com um ele-vado ritmo operacional e permanentes in-teracções entre as duas forças opositoras. A disponibilidade de um submarino em apoio a cada uma das forças, a característica assi-métrica das forças para-militares e a activi-dade aérea (nesta fase a componente aérea gerou cerca de 75 saídas por dia) possibili-taram uma excelente oportunidade de trei-no a todos os participantes.

A “Vasco da Gama” saiu do exercício, dito pelo Comandante da Força que integrou, com uma imagem de elevada capacidade combatente, demonstrada em todas as áreas, em especial na luta anti-submarina.

O JOINT WARRIOR é um exercício de excelên-cia, jogado num cenário muito difícil e actual que dispõe de um conjunto de meios notável, utilizados para preparar de forma efectiva forcas navais para os mais exigentes teatros de operações, como o Lí-bano, o Corno de África e o Golfo Pérsico.

Após o término do JW 081, em 2 de Maio, a força fundeou na foz do rio Clyde (Escócia) para o debriefing do exercício e para a realização da conferência de comandantes. Seguiu-se um trânsito para o porto de Hamburgo onde foram privile-

SNMG1A Fragata “Vasco da Gama” rumo a Sul

SNMG1A Fragata “Vasco da Gama” rumo a Sul

3ª Parte

Navios da SNMG1 em exercícios.

Reabastecedor “Gold Rover” (Navio irmão do NRP “Bérrio”).

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Revista da aRmada • JULHO 2008 9

giadas diversas actividades envolvendo as guarnições dos navios da força desde “com-petições” de avaliação de conhecimentos a actividades de destreza e marinharia, bem como, a realização de uma prova de velo-cidade de reacção dos navios. Nesta última, realça-se a prestação da “Vasco da Gama” tendo sido o navio mais rápido entre os na-vios da força composta pelos SPS “Blas de Lezo”, FGS “Luebeck” e USS “Nicholas”.

O treino interno, ao nível da limitação de avarias e socorrismo, foi também uma componente exercitada com o objectivo de manter os níveis de proficiência do pes-soal, tendo-se realizado diversos exercícios de combate a incêndios e alagamentos, de avarias de máquinas e socorro a elementos sinistrados.

Na passagem por águas holandesas, antes de arribar ao porto de Hamburgo, efectuou-se um PASSEX com uma força holandesa composta pelos HMNLS “Johan de Witt” e HMNLS “De Ruyter” onde foi possível aferir procedimentos e garantir a interacção entre diversas marinhas NATO.

A chegada a Hamburgo foi uma agradá-vel surpresa para todos. Depois de três se-manas consecutivas no mar e onze horas de navegação em águas restritas no rio Elba, a entrada nesta cidade alemã foi entusiasman-

te. Milhares de pessoas e centenas de pe-quenas embarcações davam as boas vindas às dezenas de navios que participavam nos festejos dos 819 anos do porto de Hambur-go. Estes exortavam a actividade no mar e a vida de marinheiro.

Ao longo de quatro dias, as guarnições dos navios contactaram de perto com um evento considerado o maior do género a nível mundial. A população local acorreu em massa ao porto da cidade a fim de co-nhecer os navios e interagir com os ma-rinheiros.

A “Vasco da Gama” abriu a visitas no dia 11 e no dia 12 de Maio, neste segundo dia apenas durante a manhã, tendo recebi-do mais de 2150 pessoas. Paralelamente, a presença do navio português em Hamburgo assumiu um papel de realce dado esta cida-de possuir uma das maiores comunidades de emigrantes portugueses na Alemanha, garantindo assim uma ponte de ligação en-tre Portugal e os seus cidadãos residentes naquele país.

A largada do porto de Hamburgo criou um sentimento contraditório: a tristeza de deixar uma cidade onde todos os militares da “Vasco da Gama” foram bem recebidos e a alegria de rumar a Lisboa. Porém, antes de chegar, seriam ainda necessárias duas

semanas de navegação em áreas do FOST (Sul de Inglaterra) tendo a “Vasco da Gama” contado com a colaboração dos reabaste-cedores da Royal Navy RFA “Orangeleaf” e RFA “Gold Rover” (navio irmão do NRP “Bérrio”). Neste trânsito, a nota dominante foi a preparação para a participação na OAE tendo-se vocacionado o treino para acções específicas necessárias à missão.

Por fim, na manhã de 22 de Maio, o SNMG1 entrou a barra do porto de Lisboa e foi possível aos militares da “Vasco da Gama” reverem os seus entes queridos.

(Colaboração do COMANDO DO NRP “VASCO DA GAMA”)

Notas1 CJTF. Combined Joint Task Force.2 COMSNMCMG1. Comandante do Standing NATO

Mine Countermeasures Group 1, em preparação, tal como o COMSNMG1, para assumir funções na NATO Response Force (NRF).

3 COMDATG, Comandante do Grupo-Tarefa Di-namarquês, em preparação para assumir funções de Comandante da Componente Naval da Operação En-during Freedom.

4 COMUSDESRON28, Comandante do Esquadrão de Destroyers 28 da US Navy, em preparação para operações no Golfo da Guiné.

5 COMNLMCMFOR. Comandante da Força de Dra-ga-minas Combinada Holandesa-Belga.

6 MSO. Maritime Security Operations.

sendo do conhecimento comum que o mar adjacente à linha de costa de Por-tugal Continental é diariamente percor-

rido por um enorme tráfego de navios mer-cantes, se juntarmos a este constante fluxo um elemento em crescimento denominado navegação de recreio, ob-temos decerto uma misce-lânea perigosa de potencial conflito, que muitas vezes termina em tragédia.

Na noite de 1 de Maio de 2008, encontrando-se o veleiro de nacionalidade francesa de nome “Alhur” a navegar com destino a Barcelona, a cerca de trin-ta milhas ao largo do Cabo de Sines, sofreu uma coli-são com o navio mercante “Celtic Commander”, cujo saldo resultou num rom-bo e consequente entrada de água.

Alertado o MRCCLisboa, de imediato foi empenhado o N.R.P. “António Enes” com instruções para se dirigir para a posição do acidente e prestar a pedida e necessária assistência.

Navegando à máxima velocidade dis-ponível, ainda durante a noite foi possível alcançar o veleiro sinistrado, que já se en-contrava com um franco caimento avante

resultado do permanente alagamento. Após a aproximação ao veleiro, iniciaram-se as acções de avaliação dos danos com o em-barque de uma equipa técnica e de ime-diato se encetarem acções de esgoto para compensar a entrada de água.

O “Alhur”, com duas pessoas a bordo de ambos os sexos, sem qualquer tipo de feri-mentos, apresentava a proa destruída, com um rombo a estibordo ao nível da linha de água.

A surpresa e o desespero dos tripulantes ensombrados pelo acidente, constituíram um obstáculo à sua recolha, uma vez que, teimo-samente, insistiam em não abandonar o velei-ro, apesar das contínuas tentativas de persua-

são para embarque a bordo da corveta.Finalmente com os tripulantes já embarca-

dos e a salvo, foi iniciada uma tentativa re-paração do veleiro, a qual se viria a revelar infrutífera, uma vez que moribundo e conde-nado desde o embate, o “Alhur” continuou a

aumentar o seu caimento a vante iniciando a sua que-da para o precipício, afun-dando-se.

Aos náufragos foi pres-tada assistência médica e fornecido vestuário e ali-mentação, com a corveta a rumar a Cascais, onde os dois franceses foram de-sembarcados ficando sob coordenação da Polícia Marítima local.

Como anotação final desta acção de Busca e Sal-vamento, fica na memória as palavras de reconheci-mento e agradecimento ex-

pressas pelos tripulantes do veleiro “Alhur”, as quais todos os elementos da guarnição do N.R.P. “António Enes” guardaram como eco do esforço e dedicação das guarnições dos navios que velam pela salvaguarda da vida humana no mar.

(Colaboração do COMANDO DO N.R.P. “ANTÓNIO ENES”)

SALVOS NO MAR !SALVOS NO MAR !

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10 JULHO 2008 • Revista da aRmada

decorre no estaleiro da Marinha Ho­landesa, a bom ritmo, a Revisão Inter­média ao HNLMS “Van Nes”, futuro

N.R.P. “Bartolomeu Dias”, tendo em vista a sua transferência para a Marinha no próximo dia 21 de Novembro.

Neste momento estão já concluídas as desmontagens a bordo, estando os principais equipamentos da área da plataforma e os sensores a ser interven­cionados nas oficinas do estaleiro.

Para além das acções normalmente levadas a cabo em operações de ma­nutenção semelhantes, realizadas pela Marinha holandesa nas fragatas desta classe, foram contratadas pela Marinha várias modificações que visam adap­tar os navios aos padrões da nossa es­quadra. Estas modificações estão a ser implementadas durante o actual perío­do de imobilização, pretendendo ­se assim minimizar os riscos técnicos e financeiros que lhe estão associados, pelo facto da sua execução beneficiar do co­nhecimento técnico e da vasta experiência que a Marinha Holandesa detém relativamente a esta classe de navios.

Objecto de um contrato celebrado entre a Direcção­Geral de Armamento do Ministério da Defesa Nacional e a sua congénere holandesa, as modificações contratadas encontram­se já em execução, destacando­se as duas de maior dimensão e cuja engenharia foi exclusivamente desenvolvida pela Marinha:

projecto “c4I 1”O projecto C4I+, também frequen­

temente chamado de “Redes de bor­do” (um nome porventura demasiado simplista para os especialistas nesta área) contempla a instalação de qua­tro redes informáticas principais que se estendem ao longo do navio, com um comprimento de cablagem que exce­de os 15 quilómetros, servindo mais de 73 compartimentos, através de cerca de 100 computadores.

Pela primeira vez na Marinha, foi possível desenvolver um projecto deste tipo totalmente de raíz e de forma devi­damente estruturada. Com efeito, tudo começou com a criação de uma equi­pa multi­disciplinar, com representan­tes do EMA, CN, DN, DITIC, e ET­MFF que, em conjunto, colaboraram na identificação dos Re­quisitos Operacionais, posteriormente confirma­dos pelo EMA. Seguiu­se a elaboração de uma detalhada Especificação Técnica (ET) pela DN, com a colaboração da DITIC e da ET­MFF.

Paralelamente foram realizadas várias sessões de negociação com a Marinha Holandesa com vista à definição e celebração do contrato de fornecimento e instalação do sistema.

A implementação da infraestrutura física en­contra­se a cargo de uma empresa holandesa, a KPV, com a gestão de projecto partilhada entre o estaleiro e a ET­MFF. Após esta fase entrarão novamente em campo a DN e a DITIC para a implementação da chamada infraestrutura ló­gica, incluindo a instalação de software, confi­

guração dos activos de rede, e parameterização das 100 estações de trabalho, de 6 servidores e uma solução integrada de armazenamento se­guro da informação.

No final, as fragatas da classe “Bartolomeu Dias” ficarão devidamente equipadas para sa­tisfazer todos os Requisitos Operacionais apro­vados, nomeadamente os que decorrem da participação na NATO (através de soluções como, por exemplo, MCCIS2, CENTRIX3, In­Port4, NSWAN5, etc), mas também os de ca­rácter nacional, como é o caso do SINGRAR6. Relativamente a este último, o projecto de C4I

irá proporcionar a demonstração prática do funcionamento deste sistema de gestão da ba­talha interna numa fragata M, factor de eleva­da relevância atendendo ao enorme interesse que o SINGRAR tem despertado na Marinha Holandesa e às potencialidades deste sistema desenvolvido pela Marinha e já comprovado no Operational Sea Training (OST) realizado em Inglaterra.

Por último, mas não menos importante, salien­

ta­se a excelente capacidade de ligação à Internet com que estes navios irão ser dotados, permitin­do, entre outros aspectos, o acesso a informação não classificada em tempo real e uma ligação mais próxima das guranições às suas famílias.

AdAptAção de compArtImentosAs soluções e a especificação téc­

nica associada, desenvolvida pela DN/ET­MFF, de suporte à contra­tação e implementação das modi­ficações dos compartimentos visa sobretudo o melhor aproveitamento do espaço, introduzindo­se soluções mais actuais, assegurando melhores padrões de habitabilidade, e ainda permitindo o aumento da capacida­de funcional dos compartimentos, com o inerente impacte positivo no desempenho da guarnição, a um custo relativamente baixo.

Por outro lado, a potencialidade multi­funcional dos espaços foi asse­

gurada, permitindo a sua utilização para ou­tras funções que não as estritamente ligadas ao apoio logístico directo da guarnição. Como exemplo, refere­se o facto de que todo o mo­biliário é desmontável e amovível, sendo pos­sível converter o refeitório de praças, o bar de praças, a câmara de oficiais, ou a câmara de sargentos, em open spaces em menos de 15 minutos, libertando uma apreciável área para abrigo e/ou tratamento de evacuados, ou de fe­ridos, caso a enfermaria e enfermaria de com­bate não detenham capacidade para os quan­titativos em causa.

Os revestimentos (anteparas, e pa­vimento) utilizados aplicam materiais da mais recente geração, de boa du­rabilidade e performance, e cumprem a totalidade das normas em vigor para navios combatentes, seja ao nível da resistência a ignição e propagação de chama, seja no que refere à emissão de gases tóxicos por combustão, entre outros parâmetros.

Em todos estes espaços de utiliza­ção comum serão instalados novos equipamentos de comunicação que também poderão ser utilizados para entretenimento.

(Colaboração da Equipa Técnica para a Transferência das Fragatas - M)

Notas1 Command, Control, Comunications, Computers and

Information Systems.2 Maritime Command and Control Information System.3 Coalition, Enterprise Regional Information Exchan­

ge System.4 NATO standards optical fibre infrastructure used for data

exchange, connecting the ship to the pier.5 NATO Secret Wide Area Network.6 Sistema Integrado para a Gestão de prioridades de Re­

paração e Afectação de Recursos.

Modernização e adaptação das Fragatas da Classe “Bartolomeu Dias”

Modernização e adaptação das Fragatas da Classe “Bartolomeu Dias”

Diagrama_Lógico_C4I - Diagrama Lógico da infraestrutura de suporte aos Sistemas de Informação.

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Revista da aRmada • JULHo 2008 11

O piloto João de Lisboa3. O cabo olvidado e a ilha espúria

O piloto João de Lisboa

No decorrer da nossa pesquisa, encon-trámos também duas cartas com um cabo denominado João de Lisboa.

Resta acrescentar que em ambas as cartas, da-tadas de 1529, da autoria de Diogo Ribeiro, este cabo aparece situado um pouco a norte do rio da Prata, mais exactamente entre o rio de negros e arrecife, sen-do salientar que, por essa época, este cartógrafo português se encon-trava ao serviço de Castela.

Curiosamente, não existe em qualquer carta portuguesa, das muitas que se encontram reunidas na Portugaliae Monumenta Car-tographica, outra referência topo-gráfica naquelas paragens com o nome do piloto. Em nosso enten-der, esta insólita presença na car-tografia castelhana, poderá even-tualmente estar relacionada com as indicações transmitidas pelo piloto Rodrigo Álvares, depois do desditoso regresso da expedição de 1511-1512, ao qual nos refe-rimos no número anterior. Em qualquer dos casos, num planisfério de Diogo Ribeiro, da-tado de 1525, mais conhecido como planis-fério de Castiglione, também não aparece aí referenciado o cabo João de Lisboa. Tal fac-to pode indiciar que apesar do piloto Rodri-go Álvares ter sido libertado em 1517, muito provavelmente esta informação só terá sido incorporada na cartografia muito mais tarde, ou eventualmente noutras cartas que desco-nhecemos. Posta de parte, está a possibilidade de João de Lisboa ter participado, a posterio-ri, numa outra expedição à região do rio da Prata, no período compreendido entre 1525 e 1529, uma vez que, como veremos, o piloto faleceu em 1525.

No dia 15 de Agosto de 1513, o nosso piloto largaria de Lisboa numa armada liderada por D. Jaime, duque de Bragança, com destino a Azamor, em Marrocos. Depois de terem feito escala no Algarve, onde possivelmente rea-basteceram e se reuniram com outros navios, rumaram a sul a partir do cabo de Santa Ma-ria. Este testemunho é-nos dado por António Caetano de Sousa, que transcreveu uma carta de D. Jaime ao rei, onde este o informa sobre o modo como decorrera a navegação:

«[…] fizemos a rota por o conselho de todos os pilotos nõ ao Sul, como V. A. nos mandava, mas a do Sueste até o meyo do caminho com intenção dali por diante irmos ao sul, cuidando ainda segundo as cartas mostravaõ que nõ fossemos tomar senaõ o cabo de Suçor, que he huma legoa acima da ffós d’Azamor, e parece que as águas que correm neste meyo mar pera o estreito nos abateraõ tanto, que de-zatinaraõ quantos pilotos [h]avia n’armada, senaõ a Joaõ de Lisboa e a Pedro Affonso d’Aguiar, que pola

altura se fizeraõ quinta-feira à tarde através de Salé […] poes éramos vistos [que] fossemos ao longo da terra por lhe quebrar mais os coraçoẽs com vista de taõ formosa armada, que segundo Joaõ de Lisbôa diz eramos ccccxxx [430] e tantas vellas, em que entravaõ mais de xxx de gavea […]»1.

O piloto João de Lisboa, provavelmente o mais credenciado e experiente desta armada, é por duas vezes citado na carta que acima transcrevemos. A forma como D. Jaime a ele se refere, dando conta da sua segurança na avaliação da posição dos navios, bem como

na estimativa que aponta para o seu número, parece indiciar que seria pessoa em quem de-positava grande confiança2.

O regresso do piloto a Lisboa, conjuntamen-te com os navios da armada que reconquista-

ram Azamor, teve lugar três meses mais tarde, no dia 21 de Novembro de 1513.

No ano seguinte, fazendo fé na cópia no Li-vro de Marinharia que chegou até aos nossos dias, João de Lisboa terá concluído o seu fa-moso «Tratado da agulha de marear»:

«Tratado da agulha de marear, achado por João de Lisboa no anno 1514 […]»3.

Descrevendo a viagem de Fer-não Magalhães, o cronista Gaspar Correia atribui a João de Lisboa o descobrimento do cabo de Santa Maria, mas em 1514:

«Hia por piloto mor hum português chamado João Lopes Carualhinho, o qual n’este rio já estiuera, e leuou hum filho que hy fizera em huma mulher da terra. E daquy forão nauegando até chegarem ao cabo de Santa Maria, que João de Lisboa descobrira no anno de 1514»4.

No entanto, na data referida, não encontrámos indícios de se ter rea-lizado qualquer viagem em conso-

nância com as aludidas características. A ava-liar pelo carácter vezeiro do escritor no fraco rigor relativo às datas que apresenta ao longo de toda a sua obra, parece-nos que a alegada expedição possa ter sido por ele confundida com a que teve lugar em 1511-1512. Daqui releva, não obstante, a atribuição do descobri-mento do referido cabo a João de Lisboa, tal como as referências anteriormente apresenta-das pareciam igualmente corroborar.

No período compreendido entre 1515 e 1518 não parecem existir referências relativas à sua actividade, o que à primeira vista pode denunciar a prática de acções tidas como ro-tineiras para um piloto nessa época. Por outras palavras, o embarque em navios com destino a paragens já conhecidas, como seria o caso de portos no norte de África, arquipélagos atlân-ticos, costa da Guiné, Brasil e Índia.

A 18 de Maio de 1518, D. Manuel atribui--lhe uma tença anual de 10.000 reais pelos serviços prestados, que doravante seria paga no mês de Janeiro:

«[…] fazemos saber que [h]auendo nós respeito aos serujços que nos tem feitos Joam de Lixboa nosso piloto e esperamos que ao diamte faça, queremdo--lhe fazer graça e mercê temos por bem [e] quere-mos e nos [a]praz que ele tenha des[de] o primeiro dia do mês de Janeiro que vem da era de mil bc xix em diamte elle tenha e [h]aja de nós de temça em cada hũ ano dez mil reaes […]»5.

Nesse mesmo ano, a acreditar nas sempre duvidosas datas fornecidas por Gaspar Cor-reia, João de Lisboa terá embarcado na arma-da que seguiu para a Índia, a qual transpor-tou o governador Diogo Lopes de Sequeira (1466-1530). Desta feita, outras fontes con-

O cabo João de Lisboa numa das cartas de Diogo Ribeiro (1529).

A Armada de Diogo Lopes de Sequeira (1518).Livro das Armadas.

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Arquivo CTEN António Gonçalves

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firmam o envolvimento do piloto na referida viagem, tendo os navios largado de Lisboa no dia 26 de Março6.

De acordo com a documentação coeva, sa-bemos inclusivamente que João de Lisboa se encontrava doente quando esta armada che-gou a Goa, a 7 de Setembro de 1518, talvez devido às adversidades da navegação, ou, situação bem mais plausível, fruto da pobre dieta de bordo. Atendendo ao seu estado, foi medicado por duas vezes «per mandado do doutor», pelo bo-ticário João Fernandes, como se constata da leitura do seguinte documento:

«Caderno das mezinhas que eu Joam Fernandez butycario dei por mandado do s[e]ñnor gouernador pera os doentes desta armada […] a xbiij (18) dias do mês de Setembro pera Francisquo Fernandez. Duas omças de xarope de sementes per mandado do doutor. E no dito dia pera Joam de Lissboa outro tanto em xarope como o de cima. […] It. a xxiiij (24) dias do dito mez […] It. no dito dia pera Joam de Lissboa duas omças de xarope […]»7.

João de Lisboa regressaria no-vamente ao reino na armada que trouxe Lopo Soares de Albergaria, tendo os navios chegado a Lisboa em meados de Agosto de 1519.

Um mês depois, mais precisamente a 9 de Setembro desse ano, o rei D. Manuel atribui--lhe o cargo de «patrão da navegação», lugar que havia ficado vago aquando da morte do anterior titular, o piloto Afonso Rodrigues:

«[…] que [h]avendo nós respeito aos seruiços que temos recebido de Joham de Lixboa piloto asy na nauegaçam da Imdia como em outras partes […] como a nosso seruiço compre e consiramdo--lhe fazer graça a merçee temos por bem e o damos daquy em diamte por nosso patram asy e per a maneyra que o [h]auia Afonso Roĩz que o dito oficio tinha e se finou com todalas priminecencias priuilegios e liberda-des que a eledireitamente pertemcem, com o quall oficio queremos que te-nha e [h]aja de temça oyto mill reaes cada ano […]»8.

Deste documento retiramos ain-da a informação de que o piloto passaria a auferir uma nova tença anual, no valor de 8.000 reais.

Brito Rebelo sugere que João de Lisboa possa ter embarcado nova-mente para a Índia em 1520. Não existindo qualquer indício na documentação que nos permita concluir inequivocamente neste sentido, ainda assim, a avaliar pela sua evolução profissional como piloto, considera-mos plausível que a sua presença na carreira da Índia tenha sido uma constante até à data da sua morte.

Cumpre ainda registar, que para além da existência de uma angra, um cabo e um rio com o seu nome, respectivamente situados,

como vimos, na costa ocidental africana, a norte do rio da Prata e na costa norte do Bra-sil, também uma pequena ilha no Índico, a leste e na latitude sul da ilha de S. Lourenço9, recebeu este mesmo topónimo. O que parece testemunhar igualmente a inclusão do piloto na viagem em que esta foi descoberta.

Apesar desta ilha na realidade nunca ter existido, ainda assim ela aparece identificada, com este topónimo, em grande parte da car-

tografia portuguesa, pelo menos até ao século XVIII. Aliás, segundo conseguimos apurar nas pesquisas efectuadas a este respeito, tudo in-dica que a presença da ilha de João de Lisboa se tenha igualmente mantido em toda a carto-grafia europeia até finais do século XVIII, altu-ra em que, com o advento e posterior dissemi-nação do cronómetro, inventado em 1762 por John Harrison (1693-1776), foi possível com-provar em definitivo a sua não existência.

Em nossa opinião, e levando em conta o topónimo com que foi baptizada, parece-nos que esta ilha imaginária terá sido igualmente «descoberta» por um navio onde seguia João de Lisboa, mas provavelmente, como vamos ver, em circunstâncias muito invulgares10.

Como pudemos comprovar, em todas as cartas esta ilha fictícia surge sensivelmente na mesma longitude da ilha Mascarenhas, que se situa um pouco mais a norte, mas na latitude

meridional da ponta sul da ilha de S. Louren-ço, ou seja, com uma diferença de 5 graus em latitude. Em nosso entender, não julgamos possível um piloto experiente cometer um erro de 5 graus na avaliação da latitude11, excepto se tal se tivesse ficado a dever a circunstân-cias excepcionais de grande debilidade física ou doença, eventualmente provocadas pelas fracas condições de sanidade a bordo, talvez ainda agravadas por uma situação de mau

tempo continuado. Dito isto, consideramos que

uma das três hipóteses abaixo in-dicadas possa ter estado na ori-gem do achamento da ilha de João de Lisboa:

1. Possível confusão com a ilha de Mascarenhas – actual ilha Maurícia, cuja latitude é de 20º 30’ S –, dadas as condições em que eventualmente foi observada, quer por parte do piloto João de Lisboa, quer por qualquer outra pessoa a bordo, incluindo um dis-cípulo seu, encarregado de fazer a observação da passagem meridia-na do Sol, no sentido de avaliar a latitude da ilha avistada;

2. Embora menos provável, não será igualmente de excluir a pos-sibilidade do engano se ter ficado a dever à observação, em idênti-

cas circunstâncias, da ilha de Santa Apoló-nia – actual ilha de Reunião, cuja latitude é de 21º 20’ S –, situada um pouco mais a sul e para oeste;

3. Por fim, e ainda em condições adversas de mar e visibilidade, a probabilidade de ter sido avistada a ponta sul da ilha de S. Louren-ço – actual ilha de Madagáscar, cuja extremi-dade meridional se situa nos 25º 30’ S –, numa altura em que, segundo as estimativas do pilo-

to, o navio deveria estar mais para leste. Nesta medida, não se tendo registado qualquer erro na avalia-ção da respectiva latitude, ter-se-á considerado tão só que estariam na presença de uma nova ilha.

Em qualquer dos casos, não jul-gamos desprovido de plausibilida-de o facto da ilha João de Lisboa ter sido identificada em circuns-tâncias adversas, conforme referi-mos. Para esta nossa linha de ra-ciocínio contribuem em especial dois factores, encontrando-se am-bos documentados. Sabendo que em 1518 João de Lisboa chegou a Goa doente, e se a isto juntar-

mos a circunstância de na cartografia esta ilha só aparecer, pela primeira vez, numa carta de c. 1519, pensamos que, não sendo possível chegar uma conclusão definitiva, em conjun-to estes indícios levam-nos a conferir um cer-to crédito à hipótese da ilha de João de Lisboa ter sido «descoberta» no decurso desta viagem. Além do mais, para que a extremidade sul da ilha de S. Lourenço pudesse ser tomada como sendo uma nova e pequena ilha, seguramente

12 JULHo 2008 • Revista da aRmada

A ilha de João de Lisboa numa carta de Fernão Vaz Dourado.

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Localização da de ilha João de Lisboa numa carta actual.

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Revista da aRmada • JULHo 2008 13

que as condições de visibilidade vigentes esta-riam muito aquém do normal, podendo ain-da ter-se dado o caso do seu avistamento ter sido feito já ao cair da noite. Não obstante, de uma coisa estamos certos. A hipotética confu-são motivada pela observação da costa sul da ilha de S. Lourenço e o consequente assumir de que se tratava de uma nova e pequena ilha, exige, no mínimo, dois pressupostos. Em pri-meiro lugar, que as condições meteorológicas, a distância e/ou a hora do dia não permitiram reconhecer que se tratava da ilha de S. Louren-ço. Por outro lado, e não menos importante, a bordo, e certamente fruto da avaliação do piloto, acreditar-se-ia igualmente que o navio se encontrava por essa altura bem mais para leste do que na realidade estava. E como se sabe, nesta época não ha-via maneira de estimar com rigor o valor da longitude, conhecida então como «altura leste-oeste».

Três anos depois, mais concre-tamente a 11 de Dezembro de 1521, João de Lisboa é nomeado, já por D. João III, para a função de «patrão da navegação da Índia e mar oceano» com uma nova ten-ça anual de 4.000 reais, em conse-quência do falecimento do piloto Gonçalo Álvares. De referir que a presença deste último se encontra confirmada como piloto da nau S. Gabriel, na primeira armada de Vasco da Gama12.

«[…] fazemos saber que [h]auendo nós respeitos ao muyto seruiço que Jo-ham de Lixboa nosso piloto moor nos tem feito asy nas armadas em que até ora foy aas partes da Imdia, como em outras que ffoy encarregado e deu de sy sempre fiell e verdadeira comta que ao diamte asy o faça e que-remdo-lhe por todo fazer graça e merçee temos por bem e o damos daquy em diamte por nosso patram da navegaçam da Imdia e maar oceano asy e por a maneira que o ele deue ser e era Gonçallo Aluares […] e [h]aja de nós com o dito patroã diguo quatro mill reaes em cada hum anno de Janeiro que vem de mil b e xxij em diante […] dada em Lixboa aos xi de Dezembro Antonio Afomso a fez ano de mil b e xxj anos»13.

Após uma leitura atenta, verifica-se que a data acima encerra uma contradição. É que no dia 11 de Dezembro ainda D. Manuel era vivo, pois só faleceu dois dias depois, a 13 desse mesmo mês, embora o documento apareça inserido na documentação relativa ao reinado de D. João III. Simultaneamente, não nos parece razoável que às vésperas da morte D. Manuel tenha mandado passar este docu-mento, sendo mais tarde lançado nos livros de registo do reinado do seu sucessor. Não parecendo existir qualquer erro no texto, jul-gamos que só a data do mesmo pode encerrar a chave para uma solução consentânea com a realidade. Segundo Brito Rebelo, «o erro po-rém póde dar-se ou no dia, e ter o copista escripto xi em logar de xxi, ou no anno, e transcrever xxj em vez de xxij»14. Pelas razões que seguidamente apontamos, consideramos desde logo muito

mais plausível o segundo caso: em primeiro lugar, não podemos esquecer que D. João III é aclamado rei no dia 19 de Dezembro, o que significa, levando em conta a possibilidade de erro no dia do documento, que logo no segundo dia de reinado o rei se encontrava preocupado em conceder mercês. Por outro lado, este documento encontra-se integrado no registo que contém os documentos relati-vos a 1522. Julgamos, por isso, que o erro na data terá sido cometido relativamente ao ano, o que a ser como supomos, este deveria ter sido datado de 11 de Dezembro de 1522.

Avaliando a conjuntura e os benefícios con-cedidos a João de Lisboa, faz todo o sentido que em primeiro lugar o novo monarca con-

firmasse as tenças atribuídas pelo seu pai e só posteriormente se permitisse atribuir novos cargos e benesses. Coerentemente, não causa grande admiração, que em 27 de Fevereiro de 1522, dois meses depois de subir ao trono, D. João III tenha confirmado a tença de 10.000 reais, atribuída por D. Manuel15.

Seguindo esta linha de raciocínio, só no final do ano João de Lisboa terá efectivamente sido nomeado «patrão da navegação da Índia e mar oceano», com a correspondente tença anual, de acordo com a solução apresentada.

Como se pode inferir pelos documentos apresentados, que atestam as suas promoções acompanhadas pela correspondente compen-sação financeira, João de Lisboa seria um pilo-to consagrado e de méritos plenamente reco-nhecidos no seu mester, por alturas do início do reinado de D. João III.

Sem grande surpresa, no ano seguinte, a 6 de Fevereiro de 1523, é-lhe concedida uma nova tença no valor 4.000 reais:

«[…] que [h]auendo respeito aos seruiços que Jo-ham de Lixboa nosso patram tem feitos a el Rey meu senhor e padre que samta groria [h]aja e aos que nos ele outrosy tem feito e esperamos que ao diamte nos fará e queremdo-lhe fazer graça e mercee temos por bem e queremos e nnos [a]praz que ele tenha e [h]aja de nós a temça em cada hum año des[de] o primeiro dia de Janeiro que ora pasou desta presemte era de

mil e b xxiij em diamte em quamto nosa mercee for quatro mil reaes de temça […]»16.

De resto, um outro documento, datado de 28 de Fevereiro do mesmo ano, escrito três se-manas depois deste que apresentámos, e onde João de Lisboa vê confirmada a sua nomeação para «patrão da navegação», alerta-nos para um outro facto muito curioso:

«Dom João etc. A quantos esta nosa carta virem fazemos saber que por parte de Joham de Lixboa caualeiro de nosa casa nos foy apresentada huma carta del rey meu senhor padre que santa groria [h]aja […] o damos daquy em diamte por nosso patram asy e per a maneyra que o [h]auia Afonso Roĩz […] e pedindo-nos o dito Joham de Lixboa por mercee que lhe confirmasemos a dita carta e visto por nós

seu requerimento e querendo-lhe fazer graça e merçee temos por bem e lhe lhe conferiramos a dita carta e [h]avemos por confirmada […]»17.

Como se pode constatar, João de Lisboa é denominado cavaleiro da casa de D. João III, o que não suce-de no documento anterior, escrito no início do mesmo mês. Estranha-mente, este mesmo título não volta a surgir em mais nenhum dos do-cumentos subsequentes. Em todo o caso, acreditamos que João de Lisboa, pela sua magnífica folha de serviços como piloto, possa eventu-almente ter sido armado cavaleiro. O que a ter de facto acontecido, aparentemente só pode ter tido lu-gar, também, neste mesmo mês de Fevereiro de 1523.

António Manuel GonçalvesCTEN

[email protected]

1 São nossos todos os sublinhados que doravante apa-recem nas transcrições. Cf. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo IV, 1ª parte, p. 42.

2 Não existindo na documentação quaisquer outras referências às navegações de João de Lisboa para portos do norte de África, ainda assim acreditamos, como refe-riremos na cronologia a apresentar no próximo número, que estas paragens não constituíam novidade para ele. O que pensamos estar implícito nas palavras de D. Jaime, pela avaliação serena que faz acerca da forma como o piloto levou os navios a bom porto.

3 Livro de Marinharia de João de Lisboa, fl. 9, verso.4 Gaspar Correia, Lendas da Índia, tomo II, p. 628.5 Livro XLIV das Doações de D. Manuel, fl. 32 verso.6 Cf. João Vidago, op. cit., p. 33.7 Cf. Brito Rebelo, op. cit., p. LXXVI.8 Livro III das Doações de D. João III, fl. 22.9 Actual ilha de Madagáscar.10 De acordo com a pesquisa que efectuámos na Portu-

galiae Monumenta Cartographica, esta ilha aparece pela primeira vez na carta anónima atribuida a Jorge Reinel, c. 1519, vol. I, estampa 12.

11 Recordamos, em contra-ponto, o valor excepcional-mente rigoroso da latitude do cabo de Santa Maria, ao que tudo indica obtido por João de Lisboa.

12 Cf. Luís Adão da Fonseca, Vasco da Gama – o Ho-mem, a Viagem, a Época, p. 88.

13 Livro LI das Doações de D. João III, fl. 28 verso.14 Brito Rebelo, «O piloto João de Lisboa», O Occiden-

te – Revista Illustrada de Portugal e do estrangeiro, vol. II, número 26, p. 14.

15 Livro LI das Doações de D. João III, fl. 37.16 Livro III das Doações de D. João III, fl. 21 verso.17 Livro III das Doações de D. João III, fl. 22.

A ilha de João de Lisboa numa carta francesa de finais do século XVIII (1787).

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14 JULHO 2008 • Revista da aRmada

O Almirante CEMA entrega o Prémio “Comandante Joaquim Costa” ao CFR Armando Dias Correia.

O Almirante CEMA entrega o Prémio “Almirante Manuel Pereira Crespo” ao General Tomás George Conceição Silva.

PRÉMIOS

dentro das solenidades do Dia da Marinha, decorreu no passado dia 24 de Junho no Gabinete do Almirante CEMA, a cerimónia de entre-ga dos prémios da Revista da Armada referentes ao ano de 2007.

O Almirante Melo Gomes acompanhado dos elementos do seu Gabine-te, do Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, do Presidente da Academia de Marinha, Presidente da Comissão Cultural de Marinha, do Director e Corpo Redactorial da R.A. procedeu à entrega do prémio “Comandante Joaquim Costa”, destinado ao melhor trabalho publicado na R.A. no ano de 2007, ao CFR Armando Dias Correia autor do artigo intitulado “O Fu-turo sem petróleo”, publicado no número 405 (FEV07).

Seguidamente, o Almirante CEMA fez a entrega do prémio “Almirante Ma-

nuel Pereira Crespo”, destinado à melhor colaboração no ano de 2007, com que foi contemplado o GEN PILAV REF Tomás George Conceição Silva pela elaboração dos artigos “Histórias de um velho marinheiro aviador”, “Histórias de um velho marinheiro aviador - Os patrulhas nos Açores” e “Histórias de um velho marinheiro aviador nos EUA na década de 50”, publicados res-pectivamente nos números 409, 411 e 414 (ABR/AGO/DEZ07).

O Almirante Melo Gomes enalteceu os laureados reconhecendo o va-lor dos trabalhos premiados que contribuíram para a difusão cultural da Marinha e valorização da Revista da Armada.

Após a cerimónia o Almirante CEMA ofereceu um almoço aos premiados tendo estado presentes o Director e o Chefe da Redacção da R.A.

mais uma vez o CNOCA se associou às come-morações do Dia da Marinha, desenvolvendo algumas actividades desportivas.

No fim-de-semana de 17 e 18 de Maio, no Alfeite, realizaram-se re-gatas de vela ligeira, contando com a presença de 47 velejadores distri-buídos pelas 33 embarcações nas classes de Optimist, L’Equipe, Laser, Vaurien e Sharpie 12m que cumpriram as 5 regatas planeadas.

Relativamente à vela de cruzeiros, decorreu no Domingo, 18 de Maio, uma regata, com largada em Belém e um percurso a rondar a bóia 1T (Xabregas) e a bóia cardeal do canal do Alfeite, regressando a Belém. As boas condições para a prática da vela permitiram um nível bastante competitivo das regatas, tendo concluído a prova os 44 cru-zeiros presentes à largada. Destaca-se a presença de 6 embarcações a correr pelo CNOCA, onde se incluíam as 3 embarcações da Escola Naval, “Belatrix”, “Nó de Escota” e “Catau de Espia”.

No dia 27 de Maio, teve lugar, mais uma vez no Campo I da Aro-eira, o XII Torneio de Golfe “Dia da Marinha”, evento muito aguarda-do pelos diversos jogadores desta modalidade do CNOCA, contando

com a presença de 102 jogadores (militares dos três ra-mos e civis).

Na classificação “gross” sagrou-se vencedor Henri-que Catarino. Em geral “net”, o 1º classificado foi Francisco Ventura Rego, seguido, em 2º lugar, por Rui Santos Paiva e, em 3º lugar, Nel-son Ramalho.

Ao torneio seguiu-se o jantar de encerramento e entrega de prémios, na Messe de Cascais - Farol da Guia, presidido pelo Contra-almirante Macieira Fragoso, Presidente da Mesa da Assembleia-geral do CNOCA, em representação do Almirante CEMA.

Face ao calendário das provas da modalidade de Pesca-submarina, o 2º Troféu Dia da Marinha ficou marcado para o Domingo, 22 de Junho, integrado no Campeonato Nacional de Duplas de Pesca-Submarina que decorre naquele fim-de-semana na Nazaré, dando continuação ao en-volvimento dos sócios do clube nesta modalidade.

Aproximando-se o período de Verão, mantém-se o convite aos sócios para que continuem a participar nos eventos organizados pelo clube, po-dendo manter-se actualizados consultando o site www.cnoca.org.

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ECOS DO DIA DA MARINHA

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Revista da aRmada • JULHO 2008 15

de 2 a 20 de Maio decorreram em Ponta Delgada diversas activida-des integradas no programa dedi-

cado ao Dia da Marinha 2008. De entre essas actividades, destacam-

se a realização de um torneio de futsal de 2 a 16 de Maio, organizado pelo CZMA, com a participação de unidades milita-res e forças de segurança, sedeadas em Ponta Delgada.

No dia 18 foram realizadas duas rega-tas de vela, classes optimist e laser, organizadas pelo Clube Naval de Ponta Delgada, patrocinadas pela Marinha, tendo sido a atribuição e entrega de prémios efectuada pelo CALM Comandante da Zona Marí-tima dos Açores e pelo CEM CZMA.

No dia 20 de Maio as principais efemérides constaram de: - Celebração de uma missa na Igreja de S. José, sufragando militares,

militarizados e civis da Marinha falecidos - Deposição de uma coroa de flores, pelo CALM Comandante da

Zona Marítima dos Açores, acompanhado pela Presidente da Câma-ra Municipal de Ponta Delgada, Dr.ª Berta Correia Melo Cabral, junto à placa alusiva ao Comandante Carvalho Araújo no monumento aos Marinheiro Mortos na 1.ª Guerra Mundial.

Esta cerimónia contou ainda com a presença de representantes da Cruz Vermelha, da AORN, da Liga dos Combatentes, da ADFA, e de todos os órgãos de Marinha da RAA.

- Cerimónia militar nas instalações da POL NATO, presidida pelo

VALM Comandante Operacional dos Açores, e presença do MGEN Coman-dante da Zona Militar dos Açores, e ainda de militares, militarizados e civis, repre-sentantes de todos os Órgãos de Marinha sedeados na RAA. Durante a cerimónia foi feita uma breve alocução pelo CALM CZMA e impostas as seguintes conde-corações:

• Medalha Militar de Mérito Militar de 2a. Cl. ao CFR João António da Cruz Ro-

drigues Gonçalves; • Medalha da Cruz Naval de 3a. Cl. ao Chefe PM Marcelino Iná-

cio Medeiros; • Medalha de Cobre de Coragem Abnegação e Humanidade ao AJ.

MANOBRA Victor Manuel Fonseca Ferrão Dias- Após a cerimónia militar, teve lugar a bordo do NRP “Jacinto Cândi-

do” um almoço para todos os presentes e convidados civis, nomeada-mente cônsules/representantes consulares da Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, E.U.A, França, Itália, Noruega e Reino Unido.

O NRP “Jacinto Cândido” esteve patente ao público, de 24 a 25 de Maio tendo embandeirado em arco e iluminação de gala no dia 20.

Assim se passou mais um Dia da Marinha na RAA, podendo-se afir-mar que, todos os eventos realizados, contribuíram para consolidar e dignificar a Marinha, e afirmar a sua presença nos Açores.

(Colaboração do COMANDO DA ZONA MARÍTIMA DOS AÇORES)

as comemorações do Dia da Marinha 2008 na ilha do Faial contaram com a colaboração do Clu-be Naval da Horta, tendo sido realizada uma regata no dia 17 de Maio. Esta regata contou com o acompanhamento da comunicação social através da RTP-Açores. Realizou-se a correspondente

cerimónia de entrega de prémios na Estação Radionaval da Horta, precedendo o jantar que esta unida-de proporcionou nas suas instalações, alusivo ao Dia da Marinha e à regata realizada neste âmbito. O jantar contou com dezenas de participantes e com a presença de vários representantes de entidades re-gionais, sendo de destacar o Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores.

(Colaboração do CAPITANIA DO PORTO DA HORTA)

Ilha de S. Miguel

Ilha do Faial

Ilha de S. Miguel

Ilha do Faial

ECOS DO DIA DA MARINHA

Ilhas Terceira e GraciosaIlhas Terceira e Graciosa

as comemorações do Dia da Mari-nha nas ilhas Terceira e Graciosa, envolveram um conjunto de activi-

dades, abrangendo os aspectos Educativo, Ambiental, Desportivo e Cultural como a seguir se descreve:

17 de Maio: limpeza do fundo na Marina de Angra e Porto das Pipas (em colaboração com Administração Portuária, Universidade dos Açores, Clube náutico de Angra do He-roísmo, Clube Aquanights of Atlantis (Lajes), Gê-Questa (ONG Ambiental));

17 e 18 de Maio: Festival náutico - rega-tas de vela e canoagem (em colaboração com Angra Iate Clube, Clube Náutico da Praia da Vitória, Clube Ar-Livre, Clube Fro-ta Hobby-cat);

18 de Maio - Concerto e Cerimónia de entrega de prémios do Festival Náutico (Au-

ditório do Ramo Grande, Praia da Vitória);20 de Maio – (PM) Visita de escuteiros

ao Farol das Contendas (Junta Regional dos Açores);

20 de Maio – Baptismos de mar (Marina da Praia da Vitória);

21 Maio – (AM) Visita de escuteiros ao Farol das Contendas (Junta Regional dos Açores);

21 Maio – Recepção ao Capitão do por-to e Faroleiros, a bordo do “Stravo Niar-chos”;

Posteriormente, foi proporcionado um baptismo de mar, aos elementos da Orques-tra Juvenil do Conservatório Regional, que teve lugar no dia 1 de Junho.

(Colaboração da CAPITANIA DO PORTO DE ANGRA DO HEROISMO e PRAIA DA VITÓRIA)

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16 JUNHo 2008 • Revista da aRmada

A MARINHA DE D. JOÃO III (36)

De Governador a Vice-ReiDe Governador a Vice-Rei

A primeira preocupação de D. João de Castro, logo que conseguiu apa-ziguar Diu e expulsar todos os ini-

migos, foi reconstruir a fortaleza em condi-ções que permitissem uma melhor defesa contra todas as intenções de Cambaia ou outro qualquer atacante. Recolheu toda a artilharia abandonada, e mandou desfazer as construções que os mouros tinham feito em frente à antiga muralha, com o intuito de ultrapassarem a vala e chegarem aos baluartes. A futura cidade fortificada deveria ser mais espaçosa e alargada, com muros novos, baluartes mais altos e mais sólidos, e uma cava que a prote-gesse “de mar a mar”, mais larga e funda que a anterior. A obra era, naturalmente, demorada e, apesar da grande quantida-de de pedra que ali tinha sido deixada, depois do combate, a reparação era de monta e importava em avultada quan-tia, que o governador não tinha. Pensou em pedir dinheiro emprestado à cidade de Goa, mas sabia bem como os povos encaravam estes empréstimos que o po-der pagava mal e com artifícios sempre desvantajosos. D. João pretendia que a quantia fosse retirada directamente dos rendimentos da alfândega e, especial-mente, dos que incidiam sobre o rico negócio dos cavalos, mas queria deixar uma garantia sólida que não levantasse dúvidas aos munícipes. Mandou exu-mar o corpo do seu filho, D. Fernando, morto na batalha de Diu, com o intuito de entregar os seus ossos como penhor do empréstimo, mas não estavam, ainda, em condições de ser retirados da sepul-tura. Num gesto que só pode ser com-preendido dentro dos graves costumes e da simbologia da época, cortou os cabelos da sua própria barba e remeteu-os junto com a carta que escreveu à cidade, pedindo que os aceitassem como caução da quantia neces-sária. D. João de Castro era, de facto, uma personalidade diferente de todos os que o haviam precedido no cargo. Quase todos eles foram homens corajosos e firmes na acção. Houve-os com maior ou menor tac-to administrativo, mais ou menos visão de governo e, apesar dos casos de corrupção já aqui relatados, sabemos bem que muitos foram honrados cavaleiros, com um interes-se sincero em servir o seu rei. Mas não creio que algum tenha conseguido obter a aura de honradez, sinceridade e sentido de jus-tiça, que já rodeava este governador antes da jornada de Diu, e que se consolidou nos anos sequentes. Naturalmente que os verea-dores de Goa reuniram a verba necessária, acrescentando-lhe voluntariamente jóias e outros bens pessoais, para que dispusesse

deles como entendesse. E, com tudo isso, devolveram os brancos cabelos da barba de um homem de bem, que consideravam ser um penhor desmesurado e, além do mais, desnecessário.

Prosseguiram as obras da fortaleza, du-rante toda a época seca do ano de 1546 e princípios de 47, sob a direcção do próprio governador, enquanto D. Manuel de Lima saiu com cerca de trinta navios de remo, para atacar todos os portos de Cambaia

que permaneciam fiéis ao Sultão. A apro-ximação da monção impunha, contudo, que se deixasse organizada a guarnição de Diu e que D. João regressasse a Goa. Assim aconteceu no mês de Abril, deixando cer-ca de quinhentos homens de guarnição, as obras bem providas e avançadas, com di-nheiro para que todos fossem pagos, e uma esquadra de seis navios, sob o comando de D. Jorge de Meneses, para que bloqueasse o Guzerate enquanto a estação o permitis-se. D. Manuel de Lima fora para a capita-nia de Ormuz, onde se pressentia o avanço dos turcos, que tinham ocupado a cidade de Baçorá e podiam ameaçar os interesses portugueses no golfo Pérsico. E assim ficava a Índia ordenada, podendo D. João de Cas-tro regressar a Goa. Na capital esperava-o, contudo, um problema que não deixava de ser habitual: a tentativa do Hidalcão para criar instabilidade nos territórios circun-dantes, aproveitando a estação das chuvas, quando os reforços são difíceis ou impos-

síveis e os terrenos impraticáveis a quem não conhece bem os acessos secos. Apesar de tudo, a população tinha preparado uma entrada triunfal para o herói de Diu, com um cortejo de homenagem ao modo da ve-lha Roma dos Césares. Do traje de D. João de Castro nos dá conta o retrato existente na galeria dos Vice-Reis e Governadores da Índia, iniciada nessa mesma altura por ins-truções suas expressamente dadas a Gaspar Corrêa, que debuxou um esboço semelhan-

te para as suas Lendas da Índia. Entendeu o governador que os seus antecessores deveriam ter uma representação de des-taque numa sala apropriada do paço, numa postura que mostrasse a grande-za do domínio português no Oriente. E, para isso, mandou pintar a sucessão de quadros que viria a ser continuada até à actualidade e que constitui a espectacu-lar galeria, ainda existente em Goa.

Durante a curta estadia na capital, re-cebeu notícias do Mar Vermelho, onde enviou D. Álvaro de Castro, seu filho e companheiro de armas em lutas tão ter-ríveis como fora o descerco de Diu e as guerras de Cambaia. Durante a mon-ção seca de 1547-48, saiu com mais uma poderosa armada, que percorreu o Gu-zerate dando luta aos inimigos de sem-pre. Quando chegou a Goa, em Abril de 1548, tinha novas d’el-rei dando-lhe gra-ças pelos êxitos alcançados, conceden-do-lhe mais três anos de governo (para além dos previstos na nomeação), vários benefícios financeiros e a alteração do tí-tulo de governador pelo de Vice-Rei da Índia. O quarto Vice-Rei, depois de Fran-cisco de Almeida, Vasco da Gama e Gar-

cia de Noronha. Escasseava-lhe, no entanto, a vitalidade e a saúde para usufruir de tais honrarias: em 6 de Junho de 1548 faleceu em Goa, na sequência de uma lenta agonia, acompanhada nos seus momentos finais por S. Francisco Xavier. Desaparecia assim uma das figuras mais emblemáticas da fidalguia portuguesa do Renascimento. Foi um notá-vel erudito, que integrou a tertúlia cultural do D. João III e do Infante D. Luís, superior-mente dirigida por Pedro Nunes. Deixou uma vasta obra escrita, que conta com uma adaptação do Tratado da Esfera, vários ro-teiros náuticos e uma epistolografia riquís-sima. A dimensão dos seus feitos militares e políticos não é mais do que a consequência óbvia de uma inteligência fina, dum espíri-to de observador atento, do vasto saber e da desenvoltura intelectual própria dos grandes humanistas do seu tempo.

J. Semedo de MatosCFR FZ

D. João de Castro, quarto Vice-Rei da Índia.Gaspar Corrêa – Lendas da Índia

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Revista da aRmada • JULHo 2008 17

“O céu estrela o azul e tem grandeza. Este, que teve a fama e à glória tem, Imperador da língua portuguesa, Foi-nos um céu também.No imenso espaço do seu meditar, Constelado de forma e de visão, Surge, prenúncio claro do luar, El-Rei D. Sebastião.Mas não, não é luar: é luz do etéreo. É um dia; e, no céu amplo de desejo, A madrugada irreal do Quinto Império Doira as margens do Tejo.”

Fernando Pessoa, in Mensagem

A FormAção de um CAráCter

António Vieira, primogénito de Cristó-vão Vieira Ravasco e de Maria Aze-vedo, nasceu em Lisboa, na Rua dos

Cónegos (junto à Sé – onde seria baptizado1), a 6 de Fevereiro de 1608. Seu pai, oriundo de Santarém, serviu na Marinha antes do seu casamento e foi, durante dois anos, escrivão do Tribunal do Santo Ofício. O avô paterno, Baltazar Vieira Ravasco, natural de Moura, tinha servido na casa dos Condes de Unhão e despedido depois de ter sido descoberta a sua relação com uma serviçal mestiça (africa-na ou índia), de quem António viria a herdar alguns traços. Quanto ao avô materno, Brás Fernandes de Azevedo, pessoa socialmente influente, era armeiro da Casa Real, tendo obtido a benesse de um ofício de justiça ou fazenda para o homem que casasse com a

sua filha, o que foi determinante para a par-tida da família2 para o Brasil em 1614, quan-do Cristóvão Ravasco foi nomeado escrivão da recém-criada Relação da Baía (para onde seguiu logo em 1609, tendo posteriormente, mandado vir os familiares).

António é posto a frequentar o colégio de Jesuítas, habituando-se, desde tenra idade, à austera disciplina da Ordem e – muito impor-tante – a um ensino tradicional, que incluía Retórica, Filosofia e Teologia. Revela, no iní-cio, algumas dificuldades nos estudos, mas, a determinada altura, como que por interven-ção divina (que o estudante atribuirá a Nossa Senhora, alimentando, assim, uma das muitas lendas que se hão-de criar em torno da sua figura3), torna-se um aluno modelo (ajuda-do, muito provavelmente, pelo incentivo dos seus mestres, que lhe terão notado – e valori-zado – os atributos literários), que cedo ganha fama pela sua fluência oral e escrita.

A 5 de Maio de 1623, com quinze anos, foge de casa e pede asilo no colégio, manifestan-do a vontade de entrar para a Companhia de Jesus. Alegadamente fora inspirado por um sermão que ouvira sobre o Inferno. A família opõe-se, ao princípio, mas acaba por aceitar a decisão inabalável do jovem (facto a que não terá sido alheio o influente apoio da organi-zação religiosa que o acolheu).

A 8 de Maio de 1624, os holandeses atacam e tomam a Baía, forçando os Jesuítas a refugia-rem-se nas aldeias indígenas. O jovem noviço, que tem, então, o seu primeiro grande contac-to com os índios (e se dedica à aprendizagem

da língua tupi), redige um minucioso relato dos acontecimentos naquela que será a Carta Anua de 1624, dirigida ao Geral da Compa-nhia, de que é encarregue pela direcção do colégio. Após a expulsão dos invasores, a 30 de Abril de 1625, decide tomar os votos de castidade, pobreza e de obediência4.

Em finais de 1626 (ou inícios de 1627), com apenas 18 anos, é nomeado para reger a cadei-ra de Retórica do colégio de Olinda, escolha que pretere padres mais letrados mas com me-nor domínio da língua. No entanto, só proferi-rá o seu primeiro sermão (“Sermão da Quarta Dominga”) sete anos mais tarde, tornando, en-tão, públicos os seus dotes de orador.

Ainda antes de ser ordenado sacerdote (o que sucederá em Dezembro de 1634), é en-volvido na doutrinação e evangelização dos índios, entre os quais se sente como peixe na água. Até 1641 passará, aliás, mais tem-po no mato do que no colégio, onde é, en-tretanto, nomeado lente da cadeira de Teo-logia (1638).

Nesse espaço de tempo, o Brasil continua a suportar as investidas dos exércitos flamen-gos. Em Maio de 1640, as tropas luso-caste-lhanas sofrem um rotundo desaire frente aos holandeses, que leva o recém-ordenado pa-dre a proferir um sentido “Sermão Contra as Armas da Holanda”, onde comete a ousa-dia de invectivar Deus pelos insucessos das forças católicas. Note-se que na altura só lhe interessa o combate contra os heréticos neer-landeses, não concebendo, ainda a separação das coroas ibéricas.

A INCÓMODA VOZ DA RAZÃONo IV Centenário do Nascimento do Padre António Vieira

A INCÓMODA VOZ DA RAZÃO

1ª Parte

Padre António Vieira 1608-1697 - o Imperador da Língua Portuguesa – Ilustração de Virgílio Beatriz.

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18 JULHo 2008 • Revista da aRmada

Mas no horizonte sopram, já, ventos de mudança: a 15 de Fevereiro de 1641, uma caravela traz à Baía a notícia de que a dinas-tia dos Filipes tinha sido deposta em Lisboa. Doze dias depois, parte para Portugal uma delegação encabeçada por D. Fernando de Mascarenhas, filho do Vice-Rei, que vai re-conhecer e prestar homenagem ao novo monarca, D. João IV. Nela seguem os dois jesuítas mais prestigiados da Baía, Si-mão de Vasconcelos e António Vieira, que inicia a sua segunda travessia do Atlântico. Fá-lo-ia ainda mais cinco vezes ao lon-go da vida.

envolvimento nA PolítiCA do reino

Devido ao mau tempo, o na-vio em que seguem desarvora e é forçado a arribar a Peniche, onde os recém-chegados, possi-velmente tomados por agentes ao serviço do Rei de Espanha, são atacados por uma multidão em fúria. Valeu-lhes, na altura, a intervenção do comandante da praça, Conde de Atouguia5, e o refúgio nas instalações da Companhia de Jesus até o mal-entendido ter sido esclarecido.

Uma vez em Lisboa, Vieira é apresentado a D. João IV, que logo se mostra encantado com as qualidades pessoais do sacerdote. Convida-do a pregar na Capela Real, este não deixa os seus créditos por mãos alheias, impres-sionando vivamente a sua nova audiên-cia. Na ocasião, a sua voz sensata serviu para apelar ao patriotismo, apaziguando os ânimos relativamente à sobrecarga de impostos motivada pela guerra contra Castela. Torna-se amigo pessoal do rei e não se coíbe de lhe expor a sua própria concepção política, apresentando-lhe o seu plano de recuperação económica do Reino, baseado, entre outras medidas, no apoio dos judeus e cristãos-novos exila-dos na Europa, sobretudo na Holanda (que soubera aproveitar muito bem os capitais e os conhecimentos deste grupo, ao contrário de Portugal, que irresponsa-velmente os desbaratava). A contraparti-da desta ajuda financeira seria a conces-são de liberdade de culto aos judeus em Portugal e a suspensão das confiscações de bens de que eram sumariamente alvo os cristãos-novos quando detidos para interrogatório nos cárceres inquisitoriais, mesmo antes de terem culpa formada. Se a primeira intenção era, talvez, demasia-do ambiciosa para o tempo que se vivia, já a segunda logrou obter cobertura por meio de um alvará real, o que originou acesos protestos por parte dos inquisidores, que viam, assim, cortada uma parte dos seus rendimentos.

Noutra vertente, preconiza a criação de uma companhia de comércio para proteger

dos ataques de corsários ingleses e holande-ses a navegação entre Portugal e o Brasil, mui-to provavelmente inspirado nas companhias das Índias holandesas (e tanto assim é que mais tarde viria a propor a criação de uma segunda companhia, desta vez para as índias orientais). Nem a condução das operações

militares da guerra da Restauração escapa à sua sagaz opinião, segundo a qual os esfor-ços deveriam ser concentrados na defesa do território nacional, evitando o desperdício de energia com ataques para lá da fronteira.

Colocado sob as suspeitas da Inquisição, a quem não passam despercebidas as suas simpatias pelos cristãos-novos, e incorrendo

no desagrado da Companhia de Jesus, que reprova o seu envolvimento na política mun-dana (e teme represálias por parte do Santo Ofício), o enérgico padre encontra-se protegi-do pela amizade e pela confiança do Rei, que

faz tudo para o reter em Lisboa quando, em 1644, recebe ordem de regresso ao Brasil. Ofe-rece-lhe, primeiro, um bispado, que o jesuíta recusa com humildade, e acaba por nomeá-lo Pregador da Corte e Confessor Real. Esta ben-querença é fortemente retribuída com a pro-gressiva equiparação de D. João IV ao desa-

parecido D. Sebastião, surgindo o Monarca como um novo sal-vador da Pátria e – mais do que isso – um redentor da Humani-dade (note-se que esta ideia era, na altura, partilhada por mui-tos portugueses). Na mente de Vieira começa, já, a desenhar-se a ideia do Quinto Império, que muito irá dar que falar.

Entretanto, a sua sensibilida-de para assuntos de estado, as-sim como o seu conhecimento da realidade ultramarina e da mentalidade do adversário ho-landês, valem-lhe a nomeação como conselheiro particular do Rei, além da incumbência de al-gumas delicadas e espinhosas missões diplomáticas que vi-sam o reconhecimento da inde-

pendência de Portugal pelos seus parceiros europeus e a angariação de apoios contra a Espanha6.

Esta última actividade – a título não oficial - inicia-a em 1646, quando é enviado à Holan-da para marcar posição na Paz de Vestefália (que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos) entre as coroas holandesa e espanhola e negociar a

compra de Pernambuco aos holandeses (uma ideia sua7, que lhe valeria algumas acusações de traição). Não obtém suces-so em nenhuma destas missões, pois as negociações entre holandeses e espa-nhóis vão já muito adiantadas, enquan-to a eventual cedência de Pernambuco só seria considerada a troco de uma ele-vadíssima soma, incomportável para o Governo Português. Não baixa, porém, os braços e logo trata de buscar finan-ciamentos junto da comunidade judai-ca. Em resposta, esta fá-lo portador de uma carta de exigências - possivelmente com a sua chancela – para a Coroa Por-tuguesa. D. João IV até se mostra dispos-to a fazer concessões mas as influências da Corte e do Santo Ofício inviabilizam qualquer possibilidade de negociação.

Em Agosto de 1647 inicia nova missão, desta vez em França, junto do Cardeal Mazarino, com quem tenta negociar o casamento do herdeiro da coroa, D. Teo-dósio, com Mlle. De Monpensier, filha do Duque de Orleães. Mas o Primeiro--Ministro francês não se mostra muito receptivo à proposta, mesmo estando nela incluída a oferta do rico bispado

de Évora e a entrega da regência de Portugal ao Duque de Orleães (em desespero de cau-sa, o Rei considerava a hipótese de retirar-se para o Brasil).

A 22 de Novembro do mesmo ano, re-

Catedral de Salvador da Baía, antiga igreja do colégio dos jesuítas, onde o P.e António Vieira proferiu os seus primeiros sermões.

O P.e António Vieira numa gravura a buril feita em Roma por Arnoldo Van Westerhout.

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gressa à Holanda, levando consigo uma quantia em dinheiro destinada à compra de Pernambuco, mas esta é manifestamente in-suficiente para ser sequer aceite como base de licitação8. Também os apoios financeiros da comunidade judaica lhe são negados, pois são, já, conhecidas as inclinações hostis da corte portuguesa a um eventual enten-dimento. Regressa em Agosto de 1648, de mãos vazias, depois de recusar a nomeação para embaixador em Haia.

Nestas deslocações à Holanda, não pode-mos deixar de referir um aspecto menos co-nhecido da sua Obra que se reveste de fun-damental importância para quem reconhece a imprescindibilidade da componente naval na afirmação de uma nação marí-tima como Portugal: a tentativa de reequipamento da Marinha nacio-nal através da compra de navios holandeses, ligeiros e de linhas fi-nas, cuja construção era, na altura, por muitos considerada a melhor do Mundo. Já durante primeira estadia naquele país aconselhara o Rei a adquirir quinze fragatas bem artilhadas que se ofereciam por um preço muito aliciante. In-felizmente, não conseguiu levar por diante este intento, uma vez que o principal financiador, um rico cristão-novo de nome Duarte Silva, foi preso pela Inquisição em Lisboa. Teve, porém, a satisfação de assistir à aquisição de alguns navios por intermédio do em-baixador português em França, o Marquês de Niza, a quem, pouco tempo antes, escrevera “Navios e mais navios é o que havemos mis-ter (…) para defender e engran-decer Portugal”. No ano seguinte celebrou, num vantajoso negócio, a compra da fragata “Fortuna”9, de 28 peças, vencendo astuciosa-mente as hesitações do embaixa-dor, que chegou a pensar em in-viabilizar o contrato. Tivesse este soberbo navio sido acompanhado por outros de semelhante qualidade e muito poderiam eles ter reforçado a enfraquecida e desgas-tada esquadra lusa, onde, na altura, bem se faziam sentir as perdas que lhe eram infligi-das justamente pelos seus adversários holan-deses. Tivesse a esclarecida visão de Vieira sido devidamente sustentada pelos deciso-res políticos da época e talvez se pudesse ter preservado uma boa parte dos territórios ul-tramarinos que por aqueles anos se viriam a perder. Ficou, no entanto, a ideia, que viria, mais tarde, a dar os seus frutos10.

Em 1649, regista, por fim, o seu primeiro grande sucesso político: a criação da Compa-nhia de Comércio do Brasil, com recurso a ca-pitais de cristãos-novos isentos de impostos. Surgem, então, os primeiros ameaços de ex-pulsão da Ordem, que levam o Rei a empe-nhar-se pessoalmente na sua defesa. Também a Inquisição começa a inquietá-lo, chamando -o

a prestar declarações sobre as suas pretensas simpatias pelos judeus e cristãos-novos.

Em 1650 é enviado a Roma para arranjar novo casamento do príncipe herdeiro (de quem era preceptor), desta vez com Maria Teresa de Áustria, filha única de Filipe IV de Espanha, estando o Brasil incluído no dote. Apesar da aparente cedência de um territó-rio ultramarino, este matrimónio permitiria resolver, de uma vez por todas, uma guer-ra de independência desgastante e onerosa podendo, além disso, constituir a realização do velho sonho da união ibérica, agora sob a coroa portuguesa (e seria, então, D. Teodó-sio a assumir-se como a nova encarnação do Encoberto). Outro objectivo – naturalmente

não declarado – era o de tentar fomentar em Nápoles a rebelião contra a Espanha. O em-baixador espanhol em Roma, Duque do In-fantado, mostra-se desagradado com estas diligências e, após conduzir uma falhada ten-tativa de assassínio contra o sacerdote, move as suas influências junto da Companhia de Jesus, conseguindo que este seja intimado a regressar a Lisboa.

Quanto a D. Teodósio, nunca viria a casar. Enfermiço e de constituição franzina, o jovem príncipe acabaria por sucumbir a uma tuber-culose a 6 de Dezembro de 1653, com apenas 19 anos. Antes disso, porém, em Novembro de 1651, lançou-se, sem conhecimento do pai, numa aventura bélica junto à fronteira alente-jana, alegadamente para conhecer a dura rea-lidade da guerra. De acordo com os rumores que então correram, tê-lo-á feito por instiga-ção do seu preceptor, que assim terá perdido a confiança real.

Ao cabo de vários insucessos, desiludido com a vida política e com as intrigas da Corte, Vieira obtém permissão do Rei para regressar ao Brasil, como missionário. Apesar de estar convencido de que desiludira o seu Sobera-no, este presenteia-o com mercês várias para a sua família (o voto de pobreza do jesuíta impedia-o de aceitar favorecimentos pesso-ais) - entre as quais um título nobiliárquico (com tença) para o pai - e nomeia-o Superior dos missionários jesuítas no Maranhão.

em deFesA dos índios

António Vieira desembarca em S. Luís do Maranhão a 16 de Janeiro de 1653 e logo põe

mãos à obra, visitando os presos e os enfermos, fundando um hos-pital, efectuando incursões pelo sertão e viajando pelo Amazonas, Itapicuru, Pará e Ilha dos Nhe-engaíbas. Os nativos chamam--lhe Payassu (“Grande Padre” ou “Grande Pai”). Durante esse perío-do redige grande volume de cor-respondência, da qual sobressai um inspirado fervor místico.

Envolve-se activa e empenha-damente na oposição à escravatu-ra dos índios, luta que os Jesuítas já travavam desde 154911. É curio-so referir que a Ordem nunca pôs explicitamente em causa a Escra-vatura como instituição, sobretu-do a sua componente negreira (que começava, já, a impor-se no Brasil), embora sempre se tivesse batido pela defesa da dignidade humana em geral. Nesta aparente discrimi-nação reside um importante aspec-to de ordem humanitária (e práti-ca): é que, ao contrário do africano, o índio não resiste ao cativeiro, su-cumbindo facilmente às doenças dos brancos e à depressão causada pela privação de liberdade. Mas os colonos não parecem dar grande valor à vida dos nativos, o que leva

o novo Superior da Missão a escrever ao Rei. A resposta não se faz esperar, sob a forma de um decreto real a regular o processo de escra-vização e a mandar libertar os recém-cativos. Contudo, os proprietários brancos resistem e tentam forçar a suspensão do decreto (cuja autoria Vieira nega), pressionando os Jesuítas a sustentar as suas pretensões. Estes, sem as apoiar explicitamente, adoptam uma posição cautelosa e conciliadora, propondo medidas atenuadoras, como o estabelecimento de pe-ríodos alternados de trabalho e descanso para os cativos ao longo do ano.

A luta intensifica-se em Outubro, quando, em Belém do Pará, Vieira se depara com no-vas investidas ao interior destinadas à captu-ra de escravos. Revoltado, escreve novamente para Lisboa. Como os homens parecem não o ouvir, redige, no início de 1654, o celebrado “Sermão de Santo António aos Peixes”, que profere na catedral de S. Luís, no qual, esta-

Vieira missionário (litografia de C. Legrand, 1741).

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belecendo um paralelo com a realidade bra-sileira, fala da predação entre os peixes gran-des e os pequenos.

Incansável na sua cruzada, embarca, a 14 de Junho, para Lisboa, a fim de obter novas leis favoráveis aos índios. Ali chega, a bordo de um navio inglês, depois de uma tormen-tosa viagem que quase lhe custara a vida e de um ataque de corsários holandeses que o deixara, arrojado numa praia da Graciosa, despido de roupas e de bens. Aproveita para pregar dois grandes sermões e regressa, no ano seguinte, com um decreto real que proíbe os assaltos às aldeias dos índios – que passam a estar sob a jurisdição directa dos jesuítas - e as expedições de captura de escravos no Bra-sil, estabelecendo, ainda, um salário mínimo para os trabalhadores nativos. A Companhia de Jesus vê, assim, acrescida a sua influência, mas a resistência dos colonos faz-se notar cada vez mais…

A 6 de Novembro de 1656 morre D. João IV, o grande protector de Vieira. Nuvens ne-gras pairam no horizonte do jesuíta, sobre-tudo quando começam a chegar à Regen-te12, D. Luísa de Gusmão, inúmeras queixas em relação às suas conquistas legislativas. A rainha cede às pressões: é revogada a suspen-são da confiscação dos bens dos cristãos-no-vos e a Companhia de Comércio do Brasil é incorporada na Coroa e esvaziada de compe-tências. A nomeação de um novo governador

do Maranhão e Pará, hostil aos jesuítas, vem piorar, ainda mais, a situação.

O sacerdote, porém, não esmorece e come-ça por pregar insistentemente contra a escra-vatura, desta vez a favor dos negros, que vão chegando em catadupas. Em 1659 conduz importantes incursões missionárias no baixo Amazonas e empreende a evangelização dos Nheengaíbas. No escasso tempo que lhe sobra prepara, por sugestão da Companhia, a publi-cação dos seus sermões. Nesse mesmo ano, inspirado pelos sucessos missionários, e apoia-do nos célebres escritos de Bandarra, escreve “Esperanças de Portugal – Quinto Império do Mundo”, obra de carácter profético na qual an-tevê a derrota do Império Otomano e a recon-quista definitiva de Jerusalém para a Cristan-dade. Portugal lideraria o mundo cristão nesta cruzada triunfante. Mas para que tudo isto se cumprisse seria necessário que D. João IV, idea lizado como o novo Redentor, ressuscitas-se, como Cristo, dos mortos, de modo a poder completar a sua missão sobre a Terra.

Plenamente absorto na sua visão, efectua, em 1660, uma visita de prospecção à Serra de Ibiapaba, no Ceará, longe de imaginar que está prestes a iniciar-se a década mais negra da sua vida.

J. Moreira SilvaCTEN

(Continua)

Notas1 De acordo com a tradição, na mesma pia em que

Santo António recebera o baptismo.2 O casal viria a ter mais cinco filhos, um rapaz –

Bernardo - e quatro raparigas – Leonarda, Maria, Ca-tarina e Inácia – todos nascidos em solo brasileiro.

3 Outra história muito divulgada referente ao perío-do da sua juventude conta que o rapaz, na altura já um noviço da Companhia, tendo-se perdido no mato, teria sido guiado por anjos de volta ao colégio.

4 Faltava, ainda, o voto de obediência ao Papa, que só seria formulado dezanove anos mais tarde.

5 Um dos Conjurados de 1 de Dezembro de 1640.6 Estas acções eram por demais urgentes, pois ne-

nhuma embaixada estrangeira tinha, ainda, sido es-tabelecida no reino recém-restaurado e o Papa recu-sara-se a receber o embaixador português.

7 As despesas de manutenção daquela colónia eram dez vezes superiores aos proveitos que dela se obtinham, desvantagem que se somava à inferiorida-de militar de Portugal face à Holanda. Claro que esta posição reflecte também uma manifesta falta de fé no valor e na tenacidade das armas portuguesas.

8 Os holandeses acabariam por ser expulsos pela força das armas em 1654, na segunda batalha dos Guararapes.

9 Possivelmente este nome era a tradução da sua designação holandesa, pois em Portugal o navio, registado como galeão, foi baptizado como “Nª Se-nhora da Luz”.

10 Setenta anos mais tarde, Portugal viria a adquirir à Holanda mais navios, desta vez quatro naus, duas de 72 peças e duas de 64

11 Sem esquecer o trabalho pioneiro que o frade dominicano Bartolomé de Las Casas desenvolveu na América Central a partir de 1514.

12 Devido á menoridade do novo herdeiro da co-roa, D. Afonso.

PRÉMIO “ALMIRANTE TEIXEIRA DA MOTA”

Está aberto o concurso na Academia de Ma-rinha, até ao dia 3 de Outubro de 2008, para atribuição do Prémio “Almirante Teixeira

da Mota”.Este prémio destina-se a incentivar e dinami-

zar a pesquisa e a investigação científica nas áre-as de Artes, Letras e Ciências ligadas ao Mar e às Marinhas.

O referido Prémio, é constituído por um diplo-ma e por uma quantia pecuniária no valor de € 5000 (cinco mil euros).

Podem concorrer a este Prémio cidadãos na-cionais e estrangeiros que apresentem trabalhos originais nos domínios referidos. Consideram-se originais os trabalhos inéditos ou cuja publicação tenha sido concluída no ano a que se refere o con-curso ou, ainda, no ano anterior.

O Regulamento do Prémio está à disposição dos concorrentes na Academia de Marinha.

Para mais pormenores pode ser contactada di-rectamente a Academia pelos telefones:

213428148 e 213428105, ou fax 213427783 ou por escrito para: Academia de Marinha, Edifício da Marinha, Rua do Arsenal, 1100-038 Lisboa, e-mail: [email protected].

20 JULHo 2008 • Revista da aRmada

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Revista da aRmada • JULHO 2008 21

l No passado dia 17 de Abril teve lugar no gabinete do SSP, VALM Vilas Boas Tavares, a cerimónia de tomada de posse do cargo de Director da Direcção de Apoio Social (DAS) pelo CMG Heitor Cardoso, em substituição do CMG Lucrécio Chambel.

Estiveram presentes o CALM Bonifácio Lo-pes, o CALM Goulart Porto, oficiais de diver-sos organismos e unidades e militares e civis que prestam serviço na DAS.

Na cerimónia o CMG Heitor Cardoso afirmou a “(...) vontade de ven-cer desafios, entre os quais (...) manter e conseguir a melhoria da prestação de apoio social à família naval, o reordenamento da Casa do Militar da Arma-da de acordo com padrões actuais de dignidade e ainda a melhoria do apoio materno-infantil (...)”.

Foi com espírito de missão e confiança no bom desempenho dos mi-litares e civis que prestam serviço na DAS que o CMG Heitor Cardoso manifestou a sua vontade em abraçar este novo desafio.

Por fim o SSP proferiu algumas palavras, sendo de realçar: “(...)Parale-lamente, a promoção e dinamização do designado apoio social complementar (in-cluindo, para só falar em alguns, os seguros de saúde em complemento da ADM,

a assistência na maternidade e paternidade, o aconselha-mento jurídico, o apoio às famílias dos militares falecidos, o apoio às famílias dos militares no exterior) constituem um objectivo permanente, hoje do maior relevo (...)”.

DIRECTOR DA DIRECÇÃO DE APOIO SOCIAL

O CMG Carlos Fernando Heitor Cardoso entrou para a EN, foi promovido a G/M em 19OUT78 e integrou a guarnição dos NRP’s “A. Enes” e “Rosário” no período de 1978 a 1981. Especializou-se em Artilharia e embar-cou durante cerca de quatro anos no NRP “João Roby”.

Prestou serviço no G2EA-EAN e desempenhou funções nas Divisões de Lo-gística nos então Comandos Navais dos Açores e do Continente. No período de 1994 a 1996 comandou o NRP “João Coutinho”. Desempenhou as funções de Chefe do Serviço de Armas Navais e de Director do Laboratório de Explo-sivos da Marinha, tendo sido representante nacional no grupo NATO de ex-plosivos e funções na Repartição de Sargentos e Praças da DSP, foi Capitão de Porto de Portimão e Lagos e, por inerência, Comandante Local da Polícia Marítima. A partir de OUT03, desempenhou funções na Repartição de Oficiais e, de JUL04 a JUN06, foi nomeado Chefe da Repartição de Oficiais e cumpriu uma missão na República de São Tomé e Príncipe, no âmbito da CTM, como Director do Projecto de Apoio à Formação da Guarda Costeira. Frequentou várias acções e cursos de formação e possui o MTC, CGNG e CCNG. Na sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações.

COMANDANTE DA FLOTILHAl Em 21 de Fevereiro, teve lugar no Ga-binete do Comandante Naval no Palácio do Alfeite, a cerimónia de tomada de pos-se do 2º Comandante Naval e Comandan-te da Flotilha, CALM Pereira da Cunha que foi presidida pelo Comandante Na-val, VALM Vargas de Matos, tendo esta-do presentes altas entidades da estrutura orgânica da Marinha, Comandantes dos comandos administrativos dependentes e das UN’s e militares e civis que prestam serviço na unidade.

O novo Comandante, centrou as suas palavras na Directiva de Po-lítica Naval, salientando que o seu objectivo primário será o de definir as linhas de acção e prioritizar as tarefas atribuídas à flotilha. Salientou que a Flotilha, hoje mais do que nunca é uma placa giratória de apoio à esquadra, através daqueles que são os seus pilares fundamentais, o Treino e Avaliação, Administrativo e Financeiro e o Logístico. Referiu que o aumento ao efectivo de novas capacidades no quadro do Sistema de Forças Naval, decorrente da modernização da esquadra, constitui um motivo mais que suficiente para reflectirmos no actual modelo de treino das unidades a título individual, e confirmar da sua adequabi-lidade, atentos aos recursos financeiros disponíveis. A transição dos processos de natureza administrativo-financeira do SIIF para o SIGDN representa também um desafio para o novo quadro de competências financeiras. A centralização do 2º escalão da manutenção na Secção de Apoio a Navios do departamento de Logística traduz um vector mani-festamente importante na sustentabilidade da esquadra, que se afigura indispensável melhorar e racionalizar, a fim de permitir a total dispo-nibilidade das múltiplas valências oficinais existentes.

Como linhas de acção para o seu comando, através das áreas fun-cionais, definiu quatro objectivos considerados prioritários, designa-damente:

- Actualização e uniformização, no aplicável, das normas e regula-mentos no âmbito da organização e doutrina;

- Consolidação da estrutura organizacional e dos processos de tra-balho, com vista à satisfação dos requisitos funcionais do novo instru-mento operativo (SIGDN);

- Edificação do apoio oficinal à esquadra no âmbito do segundo escalão;

- Reflexão sobre o actual modelo de trei-no e avaliação.

A encerrar a cerimónia, o Comandante Naval usou da palavra tendo enaltecido as qualidades pessoais e profissionais do CALM Tavares de Almeida agradecendo toda a colaboração prestada do desempe-nho do cargo. Salientou que a importância da Flotilha nesta nova Marinha é hoje um

factor inquestionável, que toda a estrutura orgânica e funcional deve apoiar nos seus objectivos permanentes.

TOMADAS DE POSSE

O CALM, José Domingos Pereira da Cunha é natural de Ermesinde e entrou para a E N, foi promovido a G/M tendo, como oficial subalterno, desempenhado funções em várias unidades navais da “classe” “João Belo” e “Baptista Andrade”. Comandou os NRP’s “Cisne” e “Quanza”

A promoção a oficial superior quando Imediato do NRP “João Roby”, cargo que desempenhou até se juntar ao Grupo de Trabalho de Recepção das Fragatas Vasco da Gama no início da década de 90. Indigitado para a primeira guarnição do NRP “Álvares Cabral”, onde cumpriu comissão como chefe de departamento de Armas e Electrónica, foi posteriormente nomeado, após um curto período na Esquadrilha Escoltas Oceânicos, Imediato do NRP “Corte Real”, registando nestas unidades presença na, STANAVFORLANT, a última das quais no Adriático, no âmbito da operação Sharp Guard.

Em 1996 esteve colocado na área do Pessoal e, anos mais tarde, foi movimen-tado para a Flotilha, chefe do Departamento de Treino e Avaliação.

Assumiu o comando do NRP “Vasco da Gama” em NOV00, tendo participado no treino avançado do Flag Officer Sea Training, em Plymouth, RU e, em vários exercícios nacionais e internacionais, destacando-se ainda, duas integrações na STANAVFORLANT, em 2002 e 2003, acumulando na primeira as funções de “flag-captain”, e a presença em ambas, na Operação Active Endeavour no Mediterrâneo Oriental e no Estreito de Gibraltar.

Em OUT 03 foi colocado no EMA. Assumiu, em JUN04, o comando da Esquadri-lha de Escoltas Oceânicos, e do Grupo de Tarefa Naval, tendo nestas funções, coman-dado vários exercícios no mar, da série Instrex, Contex, Lusíada e Sword Fish.

Após conclusão do Curso de Promoção a Oficial General no IESM, foi colocado na Flotilha. É especializado em Electrotecnia e possui, entre outros, os CGNG e CCNG, de Táctica e Operações Navais, Maritime Warfare Course, e o curso de Promoção a Oficial General, bem como, formação específica nos sistemas de armas, comando e controlo das FFGH classe “Vasco da Gama” e na área dos Recursos Humanos.

Da sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações.

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22 JULHo 2008 • Revista da aRmada

Os 200 Anos da Abertura da Barra de Aveiro

Os 200 Anos da Abertura da Barra de Aveiro

Comemoraram-se em 3 de Abril de 2008, os 200 anos da abertura da Barra da Ria de Aveiro que devolveu à cidade e a

todo o distrito o merecido desenvolvimento eco-nómico que já tivera em séculos anteriores.

Este processo de abertura da barra veio cul-minar uma série de tentativas que com maior ou menor êxito vinham sendo efectuadas desde os finais do século XVI.

O evento vem sendo comemorado com um extenso programa sob a responsabilidade prin-cipal da Administração do Porto de Aveiro e que inclui uma exposição documental que se prevê venha a estar patente no Museu de Marinha a partir de Outubro do corrente ano

As primeiras referências documentais à região de Aveiro datam do século XI (entre 1037 e 1065), sendo pois anteriores à criação do Estado Português ou mesmo do Condado Portucalense.

Nessa época a linha de costa nesta região era substancialmente diferente da actual. Ovar tinha deixado de ser uma povoação do lito-ral estando já protegida do mar por um cor-dão dunar que foi avançando sucessivamen-te para Sul.

No entanto, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira mantinham-se como povoações à beira do Oceano e há referências a importantes activi-dades marítimas.

O Foral Velho de Aveiro de 1342 dá-nos a primeira referência escrita à navegação marítima desta região; refere a existência de barcas, navios e pinaças bem como ao comércio do sal e do pescado.

Durante a Idade Média o cordão dunar vai-se estendendo para Sul, até à Torreira – onde se encontrava em 1200 -- e cujo nome parece ter origem numa torre de atalaia alí existente; há também docu-mentos que a referem junto ao Bico de Almendezel.

Em 1407 a barra já se encontrava, na sua progressão para sul, em frente da ilha da Testada, como consta da doação de D. João II a frei Alberto Camelo.

É desta época o achado arqueológi-co subaquático situado junto à ponte da Barra, na chamada zona da Biarritz, hoje Canal de Mira. Na época em que a embarcação de cerca de 15 metros de comprimento se afundou, cerca de 1434, aquela zona era mar aberto, não existindo ainda o cordão dunar da Costa Nova.

Em 1434 o rei D. Duarte concede a Aveiro o previlégio de realizar uma feira anual, a hoje conhecida Feira de Março.

No início do século XVI a barra estava em frente da ilha de Monte Farinha, no local onde viria a ser construída a capela de Nossa Senhora das Areias. O porto apresentava muito boas con-dições e para além da indústria do sal e de uma frota de 150 navios, aqui também se armaram

militarmente, homens e navios para a empre-sa marroquina de D. Sebastião, que terminaria com o desastre de Alcácer-Quibir.

As mudanças geográficas da costa provoca-

ram a continuação do avanço do cordão dunar da Torreira até à Vagueira, mudando sucessiva-mente a barra cada vez mais para Sul, chegan-do mesmo a fechar a laguna isolando-a do mar. Daqui resultou a paralisação das actividades marítimas e a pesca passa a realizar-se apenas nas companhas das xávegas.

Em 1643 a barra estava na Vagueira onde se

fizeram vários trabalhos, entre eles a constru-ção do Forte Velho. Começou a notar-se que o seu afastamento para Sul a tornava fraca de-vido à erosão das areias que lhe diminuiam a profundidade.

O Forte da Barra também conhecido como

Forte da Gafanha, foi também construído no século XVII.

Em 1685 fixou-se, a Sul da Vagueira, no lo-cal da Quinta do Inglês, mas não servia as exi-gências da navegação marítima, além de não permitir o funcionamento das marinhas de sal, situadas mais a Norte.

Foram então chamados dois engenheiros ho-landeses que, depois de 14 meses de observa-ções, propuseram a abertura da barra em São Jacinto para diminuir o percurso do canal de navegação em fundos instáveis de areia e o fe-cho da de Mira, que não permitia o escoamento da água do interior devido ao seu comprimento (mais de 3 léguas). Declararam ainda que a obra era difícil e cara, mas que, mesmo realizando--se não ficavam fiadores dela por ser a barra em areias movediças

Cerca de 1700, a barra estava em boas con-dições e capaz de ser demandada simultanea-mente, com bom vento, por 3 ou 4 navios. Mas em 1756 já se encontrava perto de Mira e em tão mau estado que, nas cheias do ano seguin-te, as zonas baixas de Aveiro e Ílhavo, as Sali-nas, os campos e as ilhas ficaram durante lon-go tempo inundadas. A navegação paralisou, pois de 1745 a 1760 apenas entrou um navio, no ano de 1750.

Uma tentativa para resolver o problema da barra foi a iniciativa de João de Sousa Ribeiro,

capitão-mor de Ílhavo que requereu ao rei autorização para abrir à sua custa um regueiro para dar escoamento à água da laguna. Por Aviso Régio de 27 de Janeiro de 1757 foi-lhe concedida a autorização e a abertura veio a ser efectuada na Vagueira – onde a barra estivera pela última vez – e onde se formou de novo uma barra larga e profunda mas que a partir de 1768 já se encontrava deficiente e em 1777 estava mesmo impraticável.

Em 1771, são pedidas providências ao rei devido aos naufrágios que se su-cediam, mas só em 1780 se iniciam os trabalhos na Vagueira dirigidos pelo hi-dráulico italiano José Issepi mas que em nada resultaram.

Novas tentativas são efectuadas em 1783 e 1788; nestes projectos já se equa-cionou a abertura da Barra a Norte da Vagueira e a Sul da capela de Nossa Se-nhora das Areias, ou seja, no local onde hoje se encontra. Nem estas nem as obras mais a Norte do Marechal Guilherme Va-laré, nem as do padre Estevão Cabral em 1791 foram eficazes. A laguna continua fechada...

O malogro destas tentativas leva o Governo a intervir e, por Aviso de 2 de Janeiro de 1802 do Secretário de Estado da Marinha D. Rodri-go de Sousa Coutinho, os engenheiros Reinal-do Oudinot e Luís Gomes de Carvalho foram encarregados de elaborar o projecto das obras

Porto de Aveiro – 1610.Atlas de Pedro Teixeira de Albernaz.

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a realizar. Chegados a Aveiro em 22 de Janeiro deram logo início aos estudos necessários ao trabalho que lhes foi cometido.

Reinaldo Oudinot foi forçado a deixar o car-go de responsável pelas obras logo em 1803 para acorrer a outra situação difícil: as inunda-ções que as ribeiras do Funchal provocavam na cidade e onde veio a falecer em 17 de Fe-vereiro de 1807.

A figura do engenheiro militar Luís Gomes de Carvalho ficou ligada à extraordinária obra de engenharia que foi a abertura da Barra da Ria de Aveiro em 3 de Abril de 1808.

A preparação das obras obri-gou a paralisar os trabalhos das marinhas de sal em 1803, pela retenção das água lagunares e, em 1806 os prejuízos causados nas zonas baixas da cidade – cujos habitantes tinham de entrar em casa pelas janelas – levou a uma revolta popular que qua-se comprometeu os trabalhos já realizados.

Estávamos no tempo das Inva-sões Francesas; em Novembro de 1807 o Exército Franco-Es-panhol comandado por Junot invade e ocupa Portugal enquento a Corte e o governo retiram para o Brasil.

A 3 de Abril de 1808, com o auxílio das fortes chuvadas que se fizeram sentir, e com o desnível de mais de 2 metros entre as águas lagunares e o oceano, retirou-se o último obstáculo – uma pequena barragem de estacaria – e as águas ras-gam o que resta do cordão dunar que, ao fim de 3 dias está estabilizado com 4 a 6 metros de profundidade e 264 de largura.

A decisão de trazer a Barra para Norte, onde estivera nos Séculos XV e XVI, próximo da cida-de e das marinhas de sal, mos-trou-se a solução providencial que resistiu ao longo de dois séculos e devolveu à Ria de Aveiro, e às suas gentes, as suas capacidades económicas e bem estar social.

Em 30 de Agosto de 1808, e na sequência das Batalhas da Roliça e do Vimeiro, é assina-da a Convenção de Sintra que punha fim à presença do exér-cito francês em Portugal. Em 16 de Setembro o Superintenden-te Verney escreve a D. Rodri-go Sousa Coutinho uma carta em que informa do sucesso da abertura da barra.

“Agora que felizmente chega a esta cidade a fausta notícia de se ter já levantado sobre as Torres de Lisboa o Estandarte das Venerá-veis Quinas Lusitanas, quebrando-se os ferros da pesada escravidãoem que temos gemido...

Com esta agradável notícia tenho igualmen-te a honra de participar a V. Exa que no dia 3 de Abril do corrente ano se ultimou a desejada abertura da Barra de Aveiro, com a maior feli-

cidade ficando com uma embocadura de 120 braças de largo e 35 palmos de profundidade, capaz de toda a navegação; podendo dizer-se com verdade que esta barra ficou a melhor que temos na costa do Norte...”

Também Luís Gomes de Carvalho endossa ao Príncipe Regente, em 30 de Setembro uma missiva em que dá conta dos resultados do seu trabalho:

Tenho a honra de participar “a V.A.R. o feliz êxito da Comissão da Abertura da Barra de Avei-ro, que V.A.R. foi servido confiar-me, honrando--me tanto nesta escolha, quanto a questão era difícil, e até na opinião geral, impossível.

O dia três de Abril deste presente ano foi o venturoso dia da abertura da nova Barra de Aveiro; ele foi, em certo modo, um segundo dia de criação em que se operou, como por um prodígio, uma conveniente e necessária separação das águas e dos terrenos, que es-tavam na mais fatal confusão; É este Grande Benefício, que V.A.R. preparava a estes po-

vos desde muito tempo, fez despertar, como eu fui testemunha, a saudade constante que os povos mais interessados nesta obra con-sagravam ao Seu Legítimo ausente Soberano quando gemia debaixo da escravidão e tira-nia de que o Céu, auxiliando os nossos pró-prios esforços, e os dos nossos amigos, acaba de resgatar-nos.

A nova Barra de Aveiro é a melhor de Portu-gal depois de Lisboa; ela fará duplicar o valor-de toda a Província da Beira, e com o tempo a sua população. Por efeito dela já estão enxutos e restituidos à lavoura, campos que estavam submergidos, e outros, que iam perder-se para sempre, que podem produzir anualmente dois milhões de alqueires de milho e feijão. As vastas Marinhas de Aveiro que estavam condenadas

a uma perpétua submersão, são hoje das mais ricas do Reino.

Este país onde há pouco a fe-bre e a morte faziam o seu as-sento é hoje saudável, e nele se respira um ar puro e sadio. Estes povos desgraçados que noutro tempo tocavam de compaixão o Paternal Coração de V. A. R. Quando mandou em socorro deles intentar a grande obra da sua regeneração, são hoje vassa-los venturosos, e bem depressa serão opulentos. Enfim Senhor, este vasto país que os elementos tinham já usurpado à coroa de V.A.R. fica por esta feliz operação reconquistado para sempre.

Mas a Grande Obra que abriu a Barra e que é a mesma

que deve segurare perpetuar os seus grandes resultados, precisa ainda por angum tempo a Particular Protecção de V.A.R. assim como de todos os meus cuidados, para consolidar e ul-timar como convém a fim de segurar para as futuras gerações o resultado já obtido, e no maior grau.

Não tendo interrompido os meus trabalho-se cuidados relativos a esta obra senão pelas ocupações e obrigações do honroso posto que me foi confiado no Exército que marchou a restaurar a capital e o governo, hoje felizmen-te restaurado, conservei contudo quanto pude

com a mesma obra correspon-dênciapara a dirigir quanto era possível de longe. Agora que pelas ordens de V.A.R. os mi-litares que compunham este Exército marcham a seus anti-gos destinos, conto voltar bem depressa ao meu posto e comis-são, o que farei com tanto mais gosto quanto estou persuadido de que é ali onde eu talvez por ora, possa fazer a V.A.R. o maior serviço”.

Convém lembrar que quando em Maio de 1808 as Tropas Es-panholas abandonaram o Porto e é nomeado o Governo Provi-sional do Porto, são mandadas suspender, por razões financei-

ras, todas as obras públicas mas a obra da Barra de Aveiro é expressamente excluida desta sus-pensão, tendo continuado os trabalhos.

Concluiam-se assim os longos seis anos de trabalhos preparatórios.

J. Rodrigues PereiraCMG

Foto actual da Barra de Aveiro.

Planta relativa ao projecto da abertura da Barra de Aveiro, 1807.

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24 JULHo 2008 • Revista da aRmada

Energias Renováveis2. Energia das Ondas do mar

Energias Renováveis

INTRODUÇÃO

as estimativas mundiais para o consumo de energia é de um considerável au-mento nas próximas décadas, e no mes-

mo período, o consumo de energia na União Europeia deve aumentar com uma proporção semelhante. Os métodos tradicionais de pro-dução de energia estão a contribuir para sérios problemas ambientais, e como tal é urgente a utilização de energias não poluentes e renováveis.

As ondas são um abundante recur-so renovável, que está a começar ser explorado por alguns países Europeus. Tem-se observado ao longo da última década consideráveis progressos a ní-vel Europeu na investigação e desen-volvimento de tecnologias associadas ao aproveitamento da energia das on-das, resultando na comercialização de algumas destas tecnologias. O apoio para a investigação e desenvolvimento destas tecnologias tem surgido através de programas nacionais e programas de pesqui-sa e desenvolvimento tecnológico da comissão europeia, que tem estimulado neste campo um trabalho coordenado entre os países europeus e, assim, tem contribuído significativamente para o progresso da utilização da energia das ondas na Europa.

Esta tecnologia é relativamente nova e, por enquanto, ainda não é economicamente com-petitiva com outras tecnologias mais maduras como o caso da energia eólica.

Mas, o interesse por parte dos governos e da indústria continua a crescer sendo prepon-derante o facto das ondas possuírem elevada densidade energética, que é a maior dos recur-sos renováveis. Num futuro próximo, a energia das ondas poderá representar a maior fonte de energia renovável do Planeta.

O mais recente desafio tecnológico nesta área relaciona-se com o nível do aproveitamento da força do mar.

A ENERGIA DAS ONDASA ideia de converter a energia das

ondas de superfície noutras formas de energia não é nova (1ª técnica patente-ada data de 1799 - Girard & Son, Fran-ça), no entanto a intensa investigação e desenvolvimento da conversão da energia das ondas começou depois da dramáti-ca subida dos preços do petróleo em 1973.

Diversos países com condições de explora-ção deste recurso começaram a “olhar” para a energia das ondas como uma possível fonte de energia e como tal introduziram medidas e programas de apoio nesse âmbito. Importantes programas de investigação com apoio governa-mental e privado começaram a surgir, principal-

mente na Dinamarca, Irlanda, Noruega, Portu-gal, Suécia e no Reino Unido, desenvolvendo tecnologias de conversão industrial da energia das ondas a curto e a médio prazo.

A extracção de energia do mar é uma tarefa difícil e inúmeras experiências realizadas por todo o mundo têm demonstrado isso. A comis-são europeia considerou por isso importante ajudar o desenvolvimento de tecnologias, fi-nanciando projectos, dando desta forma pas-

sos importantes para provar a praticabilidade da extracção desta energia. Em consequência, surgiram dois bons resultados: a estação piloto da Ilha do Pico, nos Açores e a da ilha Islay na Escócia A Comissão apoiou uma série de con-ferências internacionais de energia das ondas (Edimburgo, UK, 1993, Lisboa, Portugal, 1995, Patras, Grécia, 1998 e Aalborg, Dinamarca, 2000), que contribuíram significativamente para a estimulação e coordenação de activida-des realizadas na Europa com universidades, centros de pesquisa e indústria. Nos últimos 25 anos a energia das ondas tem passado por um processo cíclico com fases de entusiasmo, de-sapontamento e reconsideração. No entanto, o persistente esforço na investigação e desenvolvi-mento, a experiência acumulada durante todos

estes anos tem constantemente aumentado a performance das técnicas de obtenção de ener-gia a partir das ondas, o que tem levado este re-curso a uma maior proximidade da exploração comercial que até agora não existia.

Portugal possui ao longo da sua costa conti-nental duas áreas piloto atribuídas para experi-ências com dispositivos geradores de energia a partir das ondas, bem como áreas previstas

para a implementação permanente deste tipo de geradores.

Perto da costa a intensidade da energia da onda decresce devido à interacção com o fundo do mar. A dissipação da energia perto da costa pode ser compensada por fenómenos naturais de refracção e difracção levando à concentra-ção da energia (“hot spots”). A energia da onda é proporcional ao quadrado da amplitude e ao período de movimento. Ondas com longo perí-

odo (~7-10s), grande amplitude (~2m), têm fluxos de energia que normalmen-te excedem 40-50 kW por metro por cada onda. Tal como todas as formas renováveis, a energia das ondas é dis-tribuída de forma desigual pelo glo-bo. Verifica-se que a maior densidade energética das ondas do mar situa-se entre as latitudes de 30º e 60º, devido aos ventos de Oeste permanentes que sopram nestas regiões.

As maiores dificuldades que o de-senvolvimento tecnológico tem no aproveitamento da energia das ondas,

são principalmente, as seguintes:- Irregularidade da amplitude de onda, fase e

direcção: é difícil obter o máximo de eficiência energética num sistema sobre uma inteira gama de frequências;

- A carga estrutural excessiva no caso de con-dições meteorológicas extremas, como é o caso de furacões, que pode ser 100 vezes superior à carga média sobre os dispositivos geradores.

TECNOLOGIASEm contraste com as outras energias renová-

veis, o número de concepções para a conver-são da energia das ondas é muito grande. No entanto, podem ser classificados dentro de al-gumas técnicas genéricas básicas. As estruturas

estão categorizadas de acordo com a distância de localização da instalação à costa: perto da costa (“shoreline”) e estruturas longe da costa (“offshore”).

estruturas “Shoreline”: As estruturas “shoreline” estão fixas

ou submersas em locais perto da costa. Desta forma têm a vantagem de uma maior facilidade de instalação e manu-tenção. As estruturas “shoreline” não requerem ancoragens, que são neces-sárias em águas profundas, ou longos

cabos eléctricos submersos, utilizados quando as instalações se encontram longe da costa.

Uma das estruturas “shoreline” mais conhe-cidas é o OWC ( “oscillating water column” - coluna de água oscilante), que consiste numa estrutura parcialmente submersa, que está aber-ta ao mar por debaixo da linha de água. O mo-vimento das ondas no exterior da estrutura faz erguer a coluna de água no interior desta, fa-

Densidade energética média das ondas do mar (Kw/m).

Sistema de coluna de água oscilante.

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zendo com que alternativamente pressurize e despressurize o ar dentro da estrutura gerando um fluxo de ar que passa por uma turbina (do tipo “Wells”), e mecanicamente ligada a um gerador que se encontra instalado no topo da construção. A central piloto instalada na ilha do Pico (Açores) é deste género e tem a potên-cia de 400 kW.

estruturas “Offshore”:

Esta classe de estruturas explora os regimes de onda com maior potência existente em águas profundas (> 40 metros de profundidade). Algu-mas das estruturas “offshore” mais promissoras construídas na Europa são:

Archimedes Wave Swing - esta estrutura é submersa e funciona devido a variações de

pressão hidrostática provocada pela passa-gem das ondas (Potência máxima na ordem dos 2 MW).

Pelamis - o dispositivo é constituído por tu-bos flutuantes dispostos longitudinalmente, ar-ticulados entre si por juntas com dois eixos de rotação perpendiculares, que permitem ao sis-tema acompanhar a forma da onda. Cada junta articulada dispõe de cilindros hidráulicos que comprimem óleo a alta pressão e accionam um motor hidráulico ao qual está acoplado um ge-rador eléctrico, produzindo electricidade. Este tipo de sistema vai ser instalado, a curto prazo, ao largo da Póvoa do Varzim.

Outros dispositivos offshore: McCabe Wave Pump; Floating Wave Power Vessel; Point Ab-sorber Wave Energy Converter; Salter Duck; Wave Dragon, etc.

O CASO PORTUGUÊS

Portugal vai ser o primeiro país a nível mun-dial a implementar uma plataforma comercial de aproveitamento das ondas do mar para gerar energia. Para além do projecto na Ilha do Pico, o complexo programado ao largo da Póvoa do Varzim, dividido em duas fases (3,75Mw e 18,75Mw), e com geradores do tipo Pelamis, juntamente com outras instala-ções futuras, possivelmente ao largo de Avei-ro e de Peniche, poderão ter uma capacidade total apreciável num futuro próximo.

A par deste tipo de sistema gerador de energia, estão em fase de estudos, e de tes-tes finais, outros tipos de sistemas, não menos promissores, e que poderão impulsionar sig-nificativamente o sector energético da indús-tria nacional.

Com este novo empreendimento comer-cial de energia renovável, o nosso país pode-rá dar um passo decisivo no desenvolvimento do “seu” mercado energético, e que pode vir a render mil milhões de euros nos próximos 10 anos, de acordo com diversos especialis-tas na matéria.

M. José AméricoCFR EMQDispositivo Arquimedes.

Dispositivo Pelamis.

ARSENAL DO ALFEITE

durante o mês de Abril permaneceram em Bissau dois técnicos especializa-dos das áreas de mecânica e de elec-

trotecnia do Arsenal do Alfeite, que prestaram apoio a dois navios da Marinha da República da Guiné-Bissau, as lanchas de fiscalização “Cacine” e “Cacheu”, maioritariamente en-volvidas na fiscalização da pesca.

Tratou-se de uma missão realizada no âm-bito da Cooperação Técnico Militar (CTM) acordada entre os dois países, tendo os téc-nicos do Arsenal do Alfeite sido acompa-nhados pelo Director Técnico do projecto CTM na vertente Marinha. Esta deslocação foi antecedida do envio para Bissau de um conjunto significativo de peças sobresselen-tes e de outro material necessário às inter-venções técnicas.

Na presente missão, a “Cacheu” foi alvo de maior atenção, tendo sido feita uma revisão bas-tante profunda aos sistemas de propulsão, ao sis-tema eléctrico, incluindo os grupos geradores, e às ajudas electrónicas à navegação. No final, efectuaram-se provas de navegação que conta-ram com a presença do Chefe do Estado-Maior da Marinha da República da Guiné-Bissau, do Embaixador de Portugal em Bissau e de diver-sos órgãos de comunicação social.

Esta missão dá continuidade a outras idên-ticas que se têm realizado com regularidade e que permitem repor a operacionalidade da “Cacine” e da “Cacheu”, lanchas patrulha de 20m, construídas no Arsenal do Alfeite em 1994, muito importantes para a salvaguarda dos interesses económicos da República da Guiné-Bissau no sector da pesca.

Mantém-se permanentemente aberta nes-tas missões a possibilidade de dar formação a elementos locais, no sentido de ser possí-vel melhorar a taxa de operacionalidade des-tas unidades.

Prevê-se uma nova missão de técnicos do A rsenal do Alfeite até ao final do corrente ano.

em 6 de Maio a Câmara Municipal de Al-mada celebrou com o Arsenal do Alfeite um protocolo tendo em vista a concep-

ção e instalação de um monumento aos tra-balhadores da Indústria Naval.

Esse monumento será implantado numa ro-tunda na zona do Pragal, no concelho de Al-mada, e integrará peças de arqueologia naval, propriedade do Arsenal do Alfeite.

A concepção e montagem do monumento é assegurada pela Fundação “Armazém das Artes – Fundação Cultural”.

Este monumento tem como finalidade ho-menagear os trabalhadores da indústria de construção e reparação naval, num concelho no qual muitas empresas deste sector estive-ram sediadas.

Actualmente, o Arsenal do Alfeite é o úni-

co estaleiro em funcionamento no Concelho e os seus trabalhadores continuam a contri-buir para que nele não se extinga a contribui-ção deste importante sector económico para o progresso de Almada.

Prevê-se que o monumento esteja insta-lado na altura do 70ª aniversário do Arsenal do Alfeite.

Arsenal do Alfeite apoia a Marinha da República da Guiné-BissauArsenal do Alfeite apoia a Marinha da República da Guiné-Bissau

Monumento aos trabalhadores da indústria navalMonumento aos trabalhadores da indústria naval

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26 JULHo 2008 • Revista da aRmada

VIGIA DA HISTÓRIA 1

Muitos poucos serão, entre os que andam no mar, aqueles que, por uma ou outra vez, não tenham sido “atacados” pelo enjoo. Menos serão ainda aqueles que, de forma

espontânea, reconheçam ter sofrido, alguma vez, desse mal que, no entanto, persiste em existir e cujas tentativas de combate origi-naram vários tipos de remédios, todos eles de eficácia garantida. Quem não se lembra de já ter escutado, como forma de anular o enjoo, conselhos do género:

- Nunca ter o estômago vazio- Comer muitas vezes mas sempre em pequenas quantidades- Apanhar ar “fresco” na cara- Evitar olhar o mar etc ....Conselhos estes a que o leitor acrescentará mais uns quantos

que, certamente ao longo do tempo, foi ouvindo e cuja eficácia, igualmente garantida por quem os apresenta, resulta sem valor por quem os aplica.

Até os comprimidos, contributo da ciência para debelar o mal, acarreta alguns efeitos adversos como seja, no dizer dum cama-rada, uma forte irritação na garganta sempre que, por efeito do enjoo, os vomitamos.

E se os problemas do enjoo são o que são hoje em dia, imagine--se o que seriam, em tempos mais recuados, quando as condições de estabilidade dos navios eram bem inferiores às dos actuais.

Não é aliás, por acaso que, no discurso dos mais antigos, a ex-pressão “No meu tempo é que havia mar” surja com frequência a que, os mais modernos, com a irreverência de quem ainda tem muito que caminhar retorquiam “Pois é, no seu tempo as ondas eram quadradas”. Tudo isto vem a propósito de um “remédio” para combater o enjoo, no dizer do seu autor totalmente eficaz, que, no decorrer das leituras que, por vezes, faço de velhos pa-péis encontrei o qual, actualizando a grafia, reza assim:

“Ao tempo de embarcar em nau, galé ou barco ou em outra qualquer navegação, coma uns poucos de gomos de losna(1) e ponha um pouco de açafrão em cima do coração que toque na carne e este assentado e não tenha temor de enjoar nem vomitar, isto é coisa aprovada”.

Nota: Nunca fui capaz de avaliar da eficácia do remédio pro-posto pois, como certamente já se aperceberam, eu sou um dos muitos que nunca, por nunca, enjoaram.

Com. E. GomesNotas(1) Losna – Designação vulgarizada do absinto.

FontesManuscrito de Cota 50-V-31 da Biblioteca da Ajuda

O Embaixador Rubem Amaral Júnior, um amigo que muito es-timo e que tive o prazer de conhecer quando, há um bom par de anos foi Cônsul Geral em Lisboa, enviou-me um livro que

merece um rasgado elogio. Trata-se de uma obra que reúne profusa informação sobre os milhares de navios que chegaram ou largaram do litoral brasileiro, desde a esquadra de Cabral até 1822. o ano em que D. Pedro deu um grito, tão estridente, que atravessou o Atlântico.

Relativamente à obra em causa, Naus no Brasil Colónia, da autoria de José Eduardo P. de Godoy, quero afirmar que é o resultado de um magnífico e extenuante trabalho de recolha e que será imen-samente útil a todos aqueles que se dedicam a esta área de pesquisa. Por isso terei que felicitar efusi-vamente o autor

Todavia, gostaria de chamar a atenção para um aspecto que, infelizmente, não é raro e que consis-te em o editor receber o texto e, ao publicá-lo, não lhe dar a forma que o autor desejaria.

Comecemos pelo título que é sempre, ou quase sempre escolha do editor, dado que é, fundamen-talmente, por ele que se conquista o comprador. Não compreendo como se dá o título Naus do Bra-sil Colónia a uma obra, quando são mencionados centenas de navios que nada têm a ver com naus. Nau é um tipo de navio e portanto não pode ser considerado um termo abrangente. Na-vio, sim. Mas o pior é o facto de, na capa, ser exibido um navio que pa-rece um cliper e que é mesmo, pois na primeira página da obra é assim intitulado. Mesmo aceitando o título do livro, não fica bem ilustrá-lo com um cliper. De facto, o cliper foi um navio da segunda metade do século XIX, quando a obra que estamos analisando termina em 1822. Aliás, o cliper era um navio que não tinha qualquer semelhança com os navios do passado. Possuía um casco de formas finas e tinha tanto pano que, por vezes, partia vergas e mastros. Um navio concebido para

transportar o chá da China para a Europa à mais alta velocidade. De facto eram os primeiros clipers, a chegar à Europa com a colheita do ano, que conseguiam as mais altas cotações na venda daquele aprecia-do produto. Aliás, os múltiplos desenhos que ilustram a obra, alguns deles não vêem a propósito, uns por estarem fora da época em causa,

outros mesmo descabidas como um trirreme ou uma jangada.

Depois há outro aspecto que, não me parece, ser da responsabilidade do autor. Refiro-me à página 143, onde aparece a referência a uma série de ma-térias que, infelizmente, não são concretizadas na obra, tais como Batalhas e Naufrágios ou, ainda, uma Bibliografia, o que nos faz admitir que o au-tor preparou muito mais informação que o editor não incluiu na obra. No que respeita à Bibliografia era importante saber se o autor teve acesso à obra de António Marques Esparteiro, Três séculos no mar (1640-1910), constituída por 28 volumes, que inclui o movimento de navios do Estado Português, em parte daquele período. E receio, também, que A Ca-ravela Portuguesa, de Quirino da Fonseca, outro pre-cioso repositório de informação no âmbito da obra de Eduardo de Godoy, pois refere as características e os movimentos de 150 caravelas que aquele insig-

ne historiados encontrou ao longo de anos de estudo. Lamento que estes descuidos editoriais que, infelizmente, são fre-

quentes venham a penalizar o autor que, deles, não tem qualquer cul-pa. E, de facto, Eduardo Godoy merecia melhor sorte pois, apesar de humildemente, confessar que carece da formação profissional neces-sária para avaliar com precisão os dados técnicos que apresenta (p.13), oferece-nos, sem qualquer dúvida, uma obra de referência.

António Estácio dos ReisCMG

Enjoo

“Naus do Brasil Colónia”

Enjoo

“Naus do Brasil Colónia”

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PÁGINA DA SAÚDE 12

A Tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada por uma bac-téria denominada Mycobacterium Tuberculosis (o bacilo de Koch, descoberto por este investigador alemão em 1882).

A transmissão da doença faz-se na maioria das vezes de indivíduo para indivíduo, através da via inalatória, que é a responsável pela maio-ria dos casos (cerca de 95%), pelo que o pulmão é o órgão preferencial-mente atingido. Devem considerar-se também como portas de entrada a via digestiva, a via cutânea e a via genital.

O doente com tuberculose pulmonar expele bacilos através da tosse, de espirros, da fala ou da expectoração, podendo aqueles vir a ser inalados por um indivíduo são, o que leva à perpetuação do ciclo de transmissão.

A maioria das pessoas que inalaram bacilos e foram assim infectadas, consegue mobilizar defesas contra estes, inactivando-os (eles permane-cem no organismo “adormecidos”, podendo no entanto “despertar” e reactivar-se um dia mais tarde, se as condições o propiciarem). É a cha-mada Tuberculose-infecção, que não provoca sintomas e não é transmis-sível a terceiros.

Cerca de 10% das pessoas infectadas vêm a desenvolver a doença ao longo da vida; metade nos primeiros anos após terem sido infectadas e as restantes vários anos mais tarde.

O risco da infecção progredir para doença depende essencialmente de dois factores: por um lado do grau de infecciosidade do indivíduo do-ente (relacionada com a quantidade de bacilos emitidos) e por outro da resistência (sistema imunitário) do indivíduo exposto.

O diagnóstico de TB é efectuado pela demonstração da presença de bacilos nos produtos orgânicos examinados, principalmente na expecto-ração. A conhecida prova de tuberculina – teste de Mantoux – não pode ser considerada como um meio de diagnóstico da doença. O facto de ser positiva significa apenas que existiu contacto prévio com o Mycobacterium Tuberculosis – por infecção ou como resultado da vacinação pelo BCG.

Apesar de ser uma das vacinas mais utilizadas, existe grande contro-vérsia acerca da eficácia da vacinação pelo BCG. É no entanto consensual que evita o aparecimento das formas graves da doença, razão pela qual deve continuar a ser utilizada nos países de elevada prevalência (como é o caso de Portugal).

A TB pode originar diversas manifestações clínicas, daí ser muitas vezes designada como “a grande simuladora”. A doença pode atingir praticamente todos os órgãos. Como o pulmão é o órgão mais frequen-temente lesado, os sintomas do aparelho respiratório são na maioria das vezes o motivo de alerta.

É frequente o aparecimento de febre, de predomínio vespertino, acom-panhada por vezes de suores nocturnos. A falta de apetite, o emagreci-mento e a falta de forças são também sintomas muito frequentes.

Relativamente aos sintomas do aparelho respiratório, a tosse com ex-pectoração, de evolução arrastada, são por vezes a única sintomatologia. No decorrer da evolução da doença pode vir a surgir sangue na expectora-ção. Também a dor torácica pode estar presente. A falta de ar é menos co-

mum, surgindo somente em casos de lesões pulmonares mais extensas.O tratamento da TB é moroso (no mínimo seis meses) e implica a as-

sociação de vários medicamentos (habitualmente 4) – os antibacilares. O sucesso terapêutico e a prevenção do aparecimento de resistências estão dependentes do rigoroso cumprimento da medicação.

A descoberta da estreptomicina em 1944, a que se seguiu a dos restantes fármacos antibacilares, associada à melhoria das condições socioeconó-micas das populações, tornou possível o sonho da erradicação da doença antes do final do Século XX. No entanto, no início do novo milénio a Tu-berculose continua a constituir um grave e importante problema de saúde pública, afectando principalmente o continente africano e asiático.

O aparecimento nos anos 80 da infecção pelo VIH, a ocorrência de tu-berculose multirresistente (bacilos resistentes ao tratamento antibacilar), o desmantelamento de muitos Serviços de Luta contra a Tuberculose, e a existência de problemas sociais de diversa ordem – como a pobreza, exclusão social, toxicodependência, subdesenvolvimento e fenómenos migratórios – levaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) a con-siderar a TB uma doença infecciosa re-emergente. Em 1993 tornou-se o primeiro problema de saúde pública a ser reconhecido por esta organi-zação como uma emergência global.

Sensivelmente um terço da população mundial infectada, mais de 9 milhões de novos casos/ano e de 1,5 milhões de mortes/ano, e mais de 70 mil casos de multirresistência por ano mostram a magnitude do pro-blema na actualidade.

Em Portugal, apesar da tendência decrescente de 5% por ano da cur-va de incidência (novos casos/ano) desde o início da década de 70, ve-rificaram-se sempre taxas de incidência elevadas em relação à média do continente europeu. No ano de 2007 a taxa de incidência foi de 25,7 por cada 100.000 habitantes. Os grupos considerados de risco reúnem os se-ropositivos, os toxicodependentes e os reclusos.

No ano de 2006 foi concluído um trabalho de investigação no qual se procedeu ao levantamento e análise dos casos de tuberculose ocorridos entre o pessoal do activo da Marinha no período de 1995 a 2005. De for-ma sucinta poder-se-á dizer que o cálculo do risco relativo do pessoal militar e militarizado da Armada em relação à população portuguesa no geral, não é estatisticamente significativo, ou seja, não há diferenças entre as populações analisadas.

Nos últimos anos as Forças Armadas portuguesas têm participado em várias missões internacionais, decorrentes dos compromissos internacio-nais assumidos por Portugal no novo ambiente estratégico. Algumas des-tas missões decorreram em regiões onde a TB tem grande expressão. Isto vem demonstrar a importância dos cuidados a ter no aprontamento das forças, designadamente a avaliação do risco epidemiológico, o apronta-mento e a definição do planeamento do apoio médico a prestar durante a missão – deles pode estar dependente o sucesso da missão.

(Colaboração da DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE)

Tuberculose – a ameaça continua presenteTuberculose – a ameaça continua presente

NOTÍCIA

l Assinalando a passagem dos 29 anos sobre a publicação da certificação da A.M.N., em D.R.-III Série-Nº154-6.7.1979, a Direcção organizou alguns eventos dos quais se destacam as palestras técnicas subordinadas aos temas: “Segurança em Centros Comerciais”, proferida pelo CMG EMQ REF An-

tónio Possidónio Roberto, Director de Segurança e Risco da Sonae Sierra; “Propulsão Moderna em Submarinos”, proferida pelo CMG EMQ Victor Abel Simões.

As comemorações tiveram o seu ponto alto no almoço-convívio,

realizado no passado dia 24 de Maio, contando com assinalável número de convivas em momen-tos de franca camarada-gem e amizade.

Após o almoço a Di-recção fez a apresenta-ção do sítio da internet: www.amnavais.pt.

ASSOCIAÇÃO DOS MAQUINISTAS NAVAIS FESTEJA O 29º ANIVERSÁRIO DA SUA CRIAÇÃO

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MAN Ferrostaal Portugal, Lda. Rua do Campo, 16 – S.Pedro de Sintra 2710-476 SINTRA/PORTUGAL Phone: +351 21 9248223 Fax: +351 21 9248225 [email protected] www.manferrostaal.com

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NOTÍCIAS

l Em 27 de Maio de 2008, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), prestou provas de doutoramento em Ciência Política do CMG António Silva Ribeiro, com uma tese intitulada “Elaboração da Estratégia de Defesa militar: Contributos para um modelo”. A tese do Comandante Silva Ribeiro, que tem a particularidade de ser a primeira efectuada em Portugal sobre estratégia militar, apresentou diversos contributos destinados a melhorar o proces-so instituído pela Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas (Lei 29/82, de 11 de Dezembro) para a tomada de decisão na ela-boração da estratégia militar portuguesa.

O júri foi presidido pelo Vice-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Prof. Dr. Luís Ferreira, e integrou: Prof. Dr. Carlos Espada (Universidade Católica); Prof. Dr. Esteves Pereira (Universidade Nova); Prof. Dr. Almeida Ribeiro (Universidade Técnica de Lisboa

- ISCSP); Prof. Dr. Meirinho Martins (Universidade Técnica de Lisboa - ISCSP); Prof. Dr. Heitor Romana (Universidade Técnica de Lisboa - ISCSP); e Almirante Vieira Matias, na qualidade de especialista. Foi orientador da tese o Prof. Dr. Adria-no Moreira.

O júri deliberou, por unanimidade, atribuir à tese a classificação de Mui-to Bom com Distinção, e exprimiu a elevada qualidade do trabalho apre-sentado, bem como o seu carácter inovador, valia científica, aplicabili-dade prática e oportunidade.

l Na sequência do processo de criação do SIG-DN (Sistema de Informação de Gestão da Defe-sa Nacional), foi decidido concentrar todos os Sistemas de Informação de Gestão do MDN, EMGFA e Ramos num único Centro de Da-dos, o que implicou que as aplicações de apoio à gestão da Marinha que se suportavam no mainframe IBM fossem migradas para as pla-taformas do novo Centro de Dados da Defesa (CDD), situado nas antigas instalações do Cen-tro de Informática do Exército, nos Olivais.

Esta migração foi efectuada no passado dia 17 de Março, com a con-sequente entrada em produção das aplicações na nova plataforma, ten-do a desactivação do Sistema Central da Marinha (Máquinas, Sistemas Operativos e Software da IBM) ocorrido no final de Abril de 2008.

O Processamento Automático nasceu na Marinha no final da década de 50, com a criação do Serviço Mecanográfico da Armada (SMA), que tinha como objectivo o processamento dos vencimentos do pessoal da Marinha, e que instalou em Portugal o primeiro Centro Informático.

Com a crescente evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação, foi necessário dar resposta aos novos desafios tecnológicos, o que implicou efectuar várias reestrutura-ções orgânicas, tendo-se extinguido o SMA e criado o Serviço de Informática da Armada (SIA), o qual mais tarde deu origem à Direc-ção de Análise e Métodos de Apoio à Gestão (DAMAG) e, mais recentemente, à criação das Comissões Eventuais da Direcção de Tec-nologias de Informação e Comunicação (DI-

TIC-CE) e Direcção de Análise e Gestão da Informação (DAGI-CE). Com esta mudança de plataforma tecnológica para o Centro de Da-

dos da Defesa assiste-se, assim, a mais uma fase nesta evolução, já que se encerra uma das secções da DITIC-CE (aquela onde se inseria o main-frame IBM) e, de algum modo, se vira mais uma página na história das Tecnologias de Informação e Comunicação na Marinha.

(Colaboração da DITIC-CE)

l No passado dia 29 de Maio, o Centro Novas Oportunidades do CNED organizou as 1ª Jornadas de Trabalho centradas na problemática da Implementação do Processo de Reconhecimento, Certificação e Validação de Competências (RVCC) de Nível Secundário intitula-do Experiências em análise. Este encontro contou com a presença da Agência Nacional para a Qualificação, Instituto de Emprego de Formação Profissional e de oito Centros Novas Oportunidades (Câmara Muni-cipal de Lisboa, Agrupamento de Escolas Lima de Freitas, CEPRA – Centro de Formação Profissional da Reparação Automóvel, Portugal Telecom, Escola Secundária Marquês de Pombal, Escola Secundária Cacilhas-Tejo, Agrupamento de Escola do Algueirão, Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa).

Depois do Director do CNED, CMG Almeida de Moura, ter dado as boas vindas aos presentes, o de-bate aberto e muito participado permitiu salientar a relevância deste tipo de encontro, em que a partilha de experiências proporciona aos diferentes actores envolvidos nos processos de educação e formação de

adultos um enriquecimento em torno das práticas, abordagens e me-todologias. Permitiu ainda realçar os objectivos fulcrais dos Centro Novas Oportunidades, que possibilitam um aumento da qualificação

dos cidadãos, promovendo um espaço dinâmico po-tenciador de aprendizagens e de redescoberta pessoal das competências adquiridas ao longo da vida.

Tendo como principal objectivo a partilha de expe-riências, dificuldades e soluções, o encontro desenro-lou-se em torno de três temas: Triagem/Diagnóstico; Exploração do Referencial de Competências-Chave de Nível Secundário com os candidatos; Balanço de Competências e Portefólio Reflexivo de Aprendiza-gens. Ao longo dos sucessivos debates promovidos, no sentido de auscultar a realidade de cada Centro No-vas Oportunidades, várias foram as intervenções dos representantes da entidade que tutela o Sistema Na-cional de Reconhecimento de Competências (ANQ), tendo sido fomentado o intercâmbio de estratégias e experiências no que diz respeito à optimização e ope-racionalização dos processos.

DOUTORAMENTO EM ESTRATÉGIA MILITAR

ENCERRAMENTO DO SISTEMA CENTRAL (MAINFRAME) DA MARINHA

CNED – JORNADAS

Revista da aRmada • JULHo 2008 29

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Algum dos meus apavorados leitores experimentou, alguma vez, a ater-radora sensação de estar cara-a-ca-

ra com o famigerado predador dos mares vulgarmente conhecido por tubarão?... An-tes que me cheguem eventuais respostas afirmativas, devo esclarecer que não são consideradas, para o efeito, as visitas ao Oceanário de Lisboa ou a outra instituição análoga. Estou a falar, sim, de um encon-tro em mar aberto, sem qualquer vidro de protecção a estabelecer o desejável apar-tamento entre o nariz do afoito represen-tante da espécie humana e as fauces do temível esqualo. Prestado este indispensá-vel esclarecimento, posso, agora, afirmar, com toda a propriedade e um indisfarçável ar de triunfo, que conheço pessoalmente alguém que sabe o que é ver-se em tão aflitiva situação e que - pasme-se! - talvez esteja a ler estas linhas sem ter verdadeira consciência (por enquanto) do feito que protagonizou.

Desengane-se, portanto, quem espera-va ver gabar-se o dono da mão que rabis-ca estas memórias de cordel, cuja reco-nhecida modéstia o leva, graciosamente, a ceder o centro do palco ao verdadeiro herói desta história, o intrépido camarada adiante designado por J.C.. Não sem que antes se diga, em abono da verdade, que este que vos fala pode, peremptoriamen-te, afirmar que esteve lá, a uns escassos metros do local do incidente ora trazido à ribalta, tendo partilhado boa parte dos perigos experimentados pelo protagonis-ta. Mas o melhor, mesmo, é deixarmos os prolegómenos e passarmos à nua e crua descrição dos factos, tal como foram vivi-

dos ou, pelo menos, como a memória do cronista os reteve:

Tudo se passou no dealbar da última dé-cada do século XX, quando um desventu-rado curso de cadetes viu a sua promissora viagem do Terceiro Ano substituída, à últi-ma hora, por um embarque de mês e meio nas corvetas que patrulhavam as águas dos Açores. Passado o choque inicial, que a muitos fizera mergulhar numa longa de-pressão, acabaram os jovens projectos de oficial por se adaptar o melhor possível às circunstâncias do seu degredo temporário, estabelecendo um conjunto de agradáveis rotinas que, aquando da permanência em Ponta Delgada, se iniciava logo depois do almoço, com uma refrescante saltada à praia do Pópulo. Devo referir que naquele Verão verdadeiramente abrasador a areia negra da praia aquecia de tal modo que os banhistas quase lá deixavam a sola dos pés, sendo forçados a percorrer em largas passadas, quase em voo, a distância que os separava da linha de água.

Acontece que o J. C. era, já na altura, um esforçado atleta e um exímio nadador. Enquanto os demais se ficavam pela borda de água, mantendo os “calcantes” de mo-lho e apreciando os soberbos espécimes femininos que por ali abundavam, o nos-so herói, que já se tinha dado ao trabalho de trocar a deslocação em autocarro por meia dúzia de quilómetros em passo de corrida, dedicava-se a fazer umas “pisci-nas”, nadando vigorosamente até ao largo e regressando pelo mesmo caminho. Numa das suas parcas e contadíssimas pausas para tomar fôlego, calhou a apanhar os camaradas numa animada conversa sobre

os tubarões que rondavam habitualmen-te aquela costa e cujas sinistras barbata-nas dorsais tantas vezes avistavam à popa da corveta sempre que eram despejadas as sobras da cozinha (ainda as preocupa-ções ambientais não estavam tão em voga como nos dias de hoje e, de resto, não consta que algum peixinho tenha morrido de indigestão ou sufocado por aqueles resí-duos biodegradáveis). A discussão versava particularmente a possibilidade, ou não, das mordiscadoras criaturas se chegarem à área de banhos, defendendo alguns que tal era impossível devido à baixa profundi-dade e ao perturbador burburinho dos ve-raneantes, argumentando outros que não eram os baixos fundos que iriam dissua-dir o predador uma vez sentido o cheiro da presa, sendo que o frenético chapinhar dos nadadores até poderia funcionar, nes-te caso, como um chamariz. A meditar no que ouvira, lançou-se o J.C. novamente à água… Ainda não eram contadas três vol-tas quando o viram, subitamente, inverter a pernada em direcção a terra e, num par de braçadas, bater todos os recordes de ve-locidade aquática, rematando a exibição com uma abicagem à praia de fazer inveja aos botes de assalto dos fuzileiros. Quan-do saiu da água vinha da cor das paredes caiadas e nem conseguia falar, limitando--se a gesticular e a apontar para o largo. Enquanto o tentavam acalmar, procurando indagar o motivo de tão inesperada saída, chegou -lhe aos pés, trazido pelas ondas… um saco de plástico preto.

- Ora, bolas! [claro que a expressão ori-ginal não foi exactamente esta, mas fique-mos assim, para não chocar os leitores nem

30 JULHo 2008 • RevistA dA ARmAdA

DIVAGAÇÕES DE UM MARUJO (28)

Tubarão!Tubarão!

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RevistA dA ARmAdA • JULHo 2008 31

baixar o nível da Revista] – Exclamou o nosso nadador, já refeito do susto. – E eu a pensar que esta coisa era um tubarão!...

Compreendida, nesse momento, a se-quência de eventos que tinha motivado todo aquele sobressalto, rebentou a assis-tência numa estrondosa gargalhada colec-tiva. O J.C. é que continuava a não achar piadinha nenhuma ao caso, pois ainda sen-tia a espinal medula contraída pelo calafrio que o chocante encontro lhe causara. Feliz-mente, a bem da sua carreira de Marinha, o espavento não o traumatizou a ponto de o afastar das actividades natatórias, às quais continuou a dedicar-se com o mesmo afin-co de sempre. Agora que o caso foi motivo de risota durante o resto da “comissão”, lá isso foi, embora o visado, também galho-feiro, até nem levasse a mal. Afinal, mesmo sem evidenciar heróicas galhardias - que numa situação real podem trazer mais per-das do que ganhos -, mostrara ser capaz de reagir a um momento de pânico, concorde--se ou não (qualquer um tem sangue-frio nas análises feitas a posteriori) com a solu-ção adoptada nas circunstâncias. E a vin-gança, de resto, não tardou, servida bem quentinha, sob a forma de um suculento bife de tubarão no “White Shark” (pouco tempo antes de este afamado restaurante ver as suas portas encerradas em consequência da proibição de pescar aqueles animais).

Ah, mas, com o devido respeito pelos jovens camaradas, não me falem em ca-detes quando o assunto é a boa mesa, pois, salvaguardando uma ou outra hon-rosa excepção, ainda têm um longo ca-minho a percorrer em termos gastronómi-cos! Sei-o, naturalmente – e contra mim falo –, por experiência própria. Pode ser que hoje já não seja bem assim, mas, an-tes que me convençam disso, aqui deixo o reparo… como ponto de partida para uma outra história.

J. Moreira SilvaCTEN

CARTA

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MARINHEIROS DO CONCELHO DO SABUGAL Realiza-se no dia 2 de Agosto em Aldeia do Bispo, freguesia deste concelho, o 14º almoço dos Marinheiros naturais do Con-celho do Sabugal.

Os interessados devem contactar: Direcção do Serviço de Formação CTEN SEC Antunes Pires. Telf. RTPM: 329407; TM 966701210; e-mail: [email protected] ou [email protected].

“FILHOS DA ESCOLA” SETEMBRO 1962 Realiza-se no próximo dia 27 de Setembro, no Restaurante “O Forno”, em Almeirim, o convívio dos “Filhos da Escola” da incorporação de Setembro de 1962, que comemoram o seu 46º aniversário.

Os interessados em estarem presentes deverão contactar: Ar-naldo Duarte – TM 965 758 340 ou Quintino Batalha – TM 962 527 353.

“FILHOS DA ESCOLA” SETEMBRO DE 1964 Realiza-se no próximo dia 27 de Setembro o 44º aniversário dos “Filhos da Escola” da incorporação de Setembro de 1964. O progra-ma inicia-se com uma visita à Basílica e Convento de Mafra, segui-do de um almoço-convívio no restaurante “Quinta do Cangalho” no Pinhal de Frades, Ericeira. As inscrições deverão ser feitas até ao dia 18 de Setembro. Contactos: CMG RES Fernando Inácio Tel: 212 961 837; TM 964 016 487; SMOR RES Manuel Raposo, Tel: 212 536 280; TM 964 044 289.

GUARNIÇÃO N.R.P. “CTE ROBERTO IVENS” – 1970/72 Vai realizar-se no próximo dia 4 de Outubro, no restaurante A Lareira - Caldas da Rainha, o almoço de confraternização da guarnição do NRP “Roberto Ivens” 1970/72. Contactos para inscrições: CALM Leitão Ro-drigues - 91 910 82 32, Sarg. Chefe: Sena - 93 634 86 67, CAB Sousa - 96 448 81 36, Grt Varela – 96 479 71 00 – 21 416 36 33 - [email protected].

Revista da aRmada • JULHO 2008 33

QUARTO DE FOLGAJOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGE

Problema Nº 109

Todos vuln. Como deve S jogar para cumprir o contrato de 6♥, recebendo a saída e ♠D?

TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 109

Analisando as 2 mãos é fácil de constatar que uma forma bastante precipitada de abordar este contrato, será fazer depender o seu cumprimento dos 50% que representam a posição favorável do R de ♣. No entanto, uma análise mais ponderada revela-nos que podemos duplicar as nossas chances, sem sequer ter de recorrer a essa passagem tão tentadora.Vejamos como: S deve ganhar a saída com o seu A e jogar 2 vezes trunfo eliminando o nai-pe, mas deixando a hipótese de entrar no morto por essa via, como jogada sempre correcta tecnicamente; faz ♠R e joga a última ♠ para cortar e eliminar mais este naipe; joga agora o ♦ seco e mete o 10 do morto ficando a mão em E; este ficará sem defesa, pois terá de jogar ♦ e S balda os 2 ♣ perdentes na mão, ou joga ♠ para corte no morto e balda de 1 ♣, e no A de ♦ vai-se o outro; se W meter a D cobre de A, joga o V e balda 1 ♣, quer E cubra ou não, e a dificuldade da defesa é a mesma. Se W tivesse RD de ♦ e jogasse uma delas, S entrava de A, jogava V e baldava um ♣, ficando W em mão e também sem defesa para evi-tar a balda do outro ♣. Tivemos, portanto, mais um problema em que foi utilizada a técnica da eliminação e colocação em mão, já apresentada em problemas anteriores.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):

DV109

9

D952

V975

Este (E):

8765

76

R876

R103

Norte (N):

R43

D52

AV103

AD8

A2

Sul (S):

ARV10843

4

642

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 392

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

HORiZONtais : 1 – Capa ou manto comprido, de que usavam as matronas roma-nas; planta bromeliácea, originária da América. 2 – O mesmo que trombeta (inv), sova. 3 – Amofinara (fig); grande extensão de água, cercada de terra (inv). 4 – Vo-raz; formara em alas. 5 – No princípio de zina; prover de abade. 6 – Árvore com cuja casca se aromatiza o vinho; grande curso de água natural que desagua no mar (inv); rio do Estado do Mato Grosso (Brasil). 7 – Abaixar; é quase ili. 8 – Ci-dade da Grécia, perto do golfo de Náuplia; prega. 9 – Nome próprio masculino; dividir ao meio. 10 – Acalma (fig); registo de sessão de corporações. 11 – Limpou; amar na confusão.

veRtiCais: 1 – Raridade; chibata (inv). 2 – Igreja regida por abade; conjunto de ramos ou folhas de uma planta. 3 – Molusco cefalópode; alugar na confusão. 4 – Acomete; mexer-se com pouca força. 5 – Retumbas; símb. quím. do neão. 6 – Liga; irmã do pai (inv); ruim. 7 – Cont. da prepos. em com o artº feminino a.; de propósito. 8 – Armadilha para pássaros; rodeiam. 9 – Recusar; pequeno canal. 10 – Fronteira (inv); corsário. 11 – Compartimento de uma casa; estender na lareira.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 392HORiZONtais: 1 – Rala; Ananas. 2 – Abut; Tareia. 3 – Ralara; Ogal. 4 – Edace; Alara. 5 – Zi; Abadar. 6 – Aal; Oir; Apa. 7 – Abater; Il. 8 – Argus; Dobra. 9 – Raul; Mediar. 10 – Amaina; Acta. 11 – Varreu; Maar.

veRtiCais: 1 – Rareza; Arav. 2 – Abadia; Rama. 3 – Lula, Laguar. 4 – Ataca; Bulir. 5 – Reboas; Ne. 6 – Ata; Ait; Mau. 7 – Na; Adrede. 8 – Arola; Rodam. 9 – Negara; Bica. 10 – Aiar; Pirata. 11 – Sala; Alarar.

Carmo Pinto1TEN REF

CONVÍVIOS

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34 JULHO 2008 • Revista da aRmada

NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVA CMG Francisco José Trabucho Caeiro CMG Jorge Manuel Lopes da Fonse-ca CMG EMQ Manuel Maria dos Reis Neves CMG EMQ Rui Fernando Quaresma de Lemos SMOR CE Octávio Amado Rodrigues SCH M Amân-dio Manuel do Couto Nascimento SAJ A Inácio Luís de Jesus Martins SAJ A José António Franco de Paiva SAJ FZ Flávio Teixeira Cardoso 1SAR CE José António Delgado da Costa CAB US Alberto Luís Garcia Rodrigues Ascenço CAB CM José Francisco da Silva Patinha das Neves CAB CCT Francisco José da Silva Martins CAB M Emanuel Fernando Rabo Oliveira.

REFORMA CMG SEA Jaime Alberto Carvalho Esteves de Matos CMG AN Eduardo Luís Gonçalves Ventura CFR SEE Carlos Alberto Ramos Mareco CFR OT António

FALECIMENTOS CMG REF Eurico Serradas Duarte CMG REF SEM Jorge de Almeida Pe-reira 1TEN REF João José Godinho Leite Novais 1TEN OT REF Fernando Emídio Ramos Coelho SCH AES REF Ângelo Carrasco dos Santos SAJ L REF Evaristo Rodrigues da Silva 1SAR A REF Vicente José Garcia 1SAR FZ REF Cesídio José Ferreira Aguiam CAB TFD Joaquim Manuel Ventura Pessoa 1GRT DFA FZ REF Manuel Mamadu Baldé AGENT 1CLAS PM REF David de Brito CAB DE MAR REF Manuel da Silva Pontes.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

CMG António Manuel Henriques Gomes para o cargo de “Adido de Defesa” junto da Embaixada de Portugal em Madrid. “Espanha” acumulando as mesmas funções em Atenas “Grécia” e Cairo “Egipto”.

Cláudio Casa-Velha Pedrico SMOR E Manuel Pereira Bernardes SAJ L Júlio Fer-reira dos Santos Serrão SAJ TF Jacinto Pereira de Oliveira SAJ L António Eduar-do Mendes Moreira SAJ FZ Ramiro Manuel Soares Rodrigues SAJ FZ José Coe-lho de Magalhães SAJ ETC Angelino Coelho Lopes SAJ M Amândio Francisco Alexandre do Nascimento SAJ ETS Manuel Joaquim da Silva e Pinho 1SAR CM Manuel Batista Pires 1SAR CM João Abílio dos Anjos Godinho São Bento 1SAR V António Nunes Marques 1 SAR CM Eugénio Manuel da Silva Reis Laranja 1SAR ETS Joaquim Inácio Pelado Veloso CAB TFD Jorge Manuel Farinhas Simão CAB L António José Mestre Catarino, CAB FZ Antero Manuel Afonso, CAB FZ Victoriano dos Santos Mamede CAB B Adão Fernando Gomes Silveira CAB SE João Alexandre Reis dos Santos CAB CE Abílio da Ascensão Silva CAB FZ Joaquim de Brito Martins da Cunha CAB FZ João Maria de Castro CAB CCT Helder Henrique dos Reis Pereira CAB TFH Jorge Barbas da Costa.

ÚLTIMA GUARNIÇÃO “SACADURA CABRAL”

Realiza-se no dia 26 de Julho, no Restaurante “Casa do Cam-po”, em Fernão Ferro, o jantar da última guarnição da “Sacadura Cabral”.

As confirmações terão de ser feitas até 21 de Julho. Contactos: C/CCT Ferro-TM 919 823 764, C/CRO Gaspar –TM 960 041 328

CONVÍVIOS

No dia 17 de Maio reali-zou-se o II Convívio de Mari-nheiros, no IASFA - Centro do Apoio Social do Porto.

A confraternização, que con-tou com 74 comensais, decorreu em alegre e amena cavaqueira, recordando velhos tempos do mar e velhas histórias. A orga-nização deste evento coube ao 2SAR M Santos e ao CAB CM Sousa. Para o ano de 2009 espe-ra-se novo convívio.

CONVÍVIO MARINHEIROS DA ARMADA

Realizou-se no passado dia 17 de Maio o 7º almoço-convívio dos Electrões em movimento na Delegação do Clube do Sargen-to da Armada.

Depois de apitar a faina deu-se início ao convívio, que reuniu cerca de 100 militares, e constou de um almoço onde estiveram presentes várias gerações de Sargentos Electricistas no Activo, Reserva e Reforma.

Este ano estiveram também alguns oficiais convidados oriun-dos da classe de electricistas que também recordaram os exce-lentes momentos em que serviram a tão prestigiada classe dos electrões . Num ambiente de boa disposição e camaradagem, fo-ram recordados com emoção e saudade os bons velhos tempos da “Briosa“.

No final foi feito um brinde em Honra de todos. Para o ano fica a promessa de novo encontro.

(Colaboração do SCH E José Armada)

7.° ALMOÇO-CONVÍVIO DOS ELECTRõES EM MOVIMENTO Realizou-se no passado dia 1 de Junho o almoço comemora-

tivo dos voluntários de 1988 e SMO de 1986. O convívio, que decorreu de forma alegre e bem disposta realizou-se no restau-rante “Manjar das Laranjeiras”, em Fernão Ferro, e contou com a presença de 107 convivas, entre militares, ex-militares e res-pectiva família.

VOLUNTÁRIOS 1988 E SMO 1986

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7. O Aquário VAsco dA GAmA

Instalações da MarinhaInstalações da Marinha

O Aquário Vasco da Gama foi inaugurado em 1898, numa ce-rimónia integrada nas Comemorações do IV Centenário da Des-coberta do Caminho Marítimo para a Índia. A Comissão Executiva destas celebrações, desejando perpetuar a memória de tão impor-tante acontecimento, decidiu mandar construir um Aquário com objectivos de lazer e instrução popular. O edifício foi construído em terrenos cedidos pelo Ministério das Obras Públicas, sob a orienta-ção técnica do Engenheiro Albert Girard, um naturalista notável e o principal colaborador científico do Rei D. Carlos I. A construção foi entregue aos conceituados empreiteiros franceses Charles Vieillard e Fernand Touzet, cuja obra ainda hoje é reconhecida pela elegân-cia do traço, incluindo, por exemplo, a velha ponte da Figueira da Foz, o Auto Palace da Avenida Alexandre Herculano e o Hotel Ave-nida Palace.

Os custos da obra orçaram em cerca de 60 contos de réis e o edi-fício encontrava-se dividido em dois corpos solidários: um onde fun-cionavam os serviços de apoio e o outro destinado à exposição ao público. Este último compreendia uma sala de entrada (átrio), uma sala de exposição de espécies de água doce (com 29 aquários), uma galeria com aquários de água salgada (21) e uma sala destinada a exposições. As espécies expostas pertenciam, na sua totalidade, à fauna indígena do nosso país.

Em 5 de Dezembro de 1899, findas as Festas do Centenário, o Aquário passou a ser património do Estado, existindo uma intenção de entregar a sua administração e exploração à Sociedade de Geo-grafia de Lisboa. Esta porém, exigia ao Governo um subsídio anual para a manutenção o que, entre outras condições impostas, acabou por impedir a concretização do acordo. Assim, o Aquário sem di-recção técnica e praticamente abandonado, atingiu um tal estado de degradação que levou o governo a confiá-lo à Marinha Portuguesa em 20 de Fevereiro de 1901.

Em Julho de 1909, a administração e orientação técnica é entre-gue à Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais (fundada em 6 de Janeiro de 1907), que se empenhou em recuperar as suas instalações e em transformá-lo numa Estação Biológica. Durante os nove anos em que aquela Sociedade geriu o Aquário, este sofreu forte incre-mento, saindo da estagnação em que se encontrava.

Em 1913 tem início a construção, nos terrenos das traseiras, de um edifício em cimento armado designado por “Chateau d’eau”, onde se instalaram os novos filtros e os depósitos de água salgada, que ainda se mantêm em funcionamento na actualidade.

Em 1917 iniciou-se a construção de um andar sobre a fachada principal do edifício, dando origem a uma grande sala, o actual Salão Nobre.

Em 1919, o Aquário passa a integrar uma Estação de Biologia Ma-rítima, entidade com autonomia científica e administrativa. Desde esta data e até aos anos 40, realizam-se várias investigações, com particular incidência no estudo e exploração do mar.

Em 1935, por escritura pública notarial, a Liga Naval Portuguesa entrega ao Aquário a Colecção Oceanográfica D.Carlos I e respec-tiva Biblioteca, um espólio de incalculável valor histórico e cientí-fico. O Museu do Aquário, já com a valiosa colecção do monarca em exibição, reabriu ao público em 20 de Maio de 1943, data do seu 45º aniversário, assumindo então o seu importante papel pe-dagógico e de divulgação científica. Para além do espólio do Rei D.Carlos, as colecções do Museu têm vindo a ser permanentemen-te aumentadas e enriquecidas em espécies, nomeadamente no que

respeita a peixes marinhos e dulçaquícolas da fauna indígena e tro-pical, tartarugas, aves aquáticas, mamíferos marinhos e especíme-nes malacológicos.

Em 1940, em consequência da construção da estrada marginal Lisboa-Cascais, o edifício é amputado em cerca de um terço da sua superfície, sendo destruídos os laboratórios, biblioteca, arrecadações e tanques de cultura, bem como ocupado o terreno existente entre o edifício e a linha férrea. Este acontecimento, a que se seguiu a au-sência da direcção e dos quadros técnicos superiores, teve conse-quências nefastas para a instituição que no decénio (1940 - 1950) se encontrava numa situação de grande degradação. Esta crise no fun-cionamento da instituição, em tudo semelhante à que se verificara em 1909, acabou por conduzir à separação do Aquário da Estação de Biologia Marítima, ficando esta como organismo de investigação científica e o Aquário destinado à exibição de animais aquáticos, com objectivos didácticos e de divulgação.

Depois da cisão do Aquário da Estação de Biologia Marítima, ocorrida em1950, empreendeu-se um trabalho de recuperação e restauro das instalações, bem como a construção de novos aquários, trabalho que teve continuidade nas décadas seguintes.

Em 1958, com a transferência dos modelos de antigas embarca-ções de pesca para o Museu da Marinha, foram montados no es-paço correspondente 20 pequenos aquários para a exposição de invertebrados marinhos.

Em 1960 construiu-se um aquário para exibição de lontras vivas, assim como pequenos aquários que albergavam peixes tropicais de água doce.

Durante esta década destaca-se ainda a remodelação da actual Sala das Tartarugas e as obras de construção de um pavilhão desti-nado à exposição de focas e otárias, inaugurado em 1971.

A partir de 1976 realizaram-se obras de ampliação, que permiti-ram alargar a área de exposição do Museu e instalar condignamente os serviços técnicos e administrativos. Nessa ocasião, todas as salas de exposição do Museu foram restauradas e a sua arrumação alte-rada e renovada. Em 8 de Julho de 1980 foi inaugurada a sala nova do Museu, concebida em moldes museológicos modernos e em Se-tembro de 1989 abre ao público uma pequena Sala de Malacologia das costas portuguesas.

Entre 1982 e 1992, as galerias de exposição dos aquários sofreram importantes transformações, com a remodelação destes e a cons-trução de novos aquários e aquaterrários, bem como a renovação de várias infra-estruturas.

Durante o ano de 2001 deu-se início a um conjunto de obras de ampliação do A.V.G., que incluíram a construção de uma cafetaria e de um auditório.A conclusão destas obras permitiu reforçar o pa-pel pedagógico assumido desde sempre pelo Aquário, oferecendo simultaneamente a possibilidade de desenvolvimento da sua com-ponente lúdica.

O Aquário Vasco da Gama é assim uma instituição didáctica, um centro de divulgação da vida aquática e de investigação, que tem vindo a ser submetido ao longo do tempo, a várias transfor-mações, no sentido de melhorar cada vez mais a exposição dos exemplares vivos e do espólio museológico, procurando cumprir da melhor forma possível o seu importante papel de Museu Vivo de História Natural.

(Colaboração do AQUÁRIO VASCO DA GAMA)

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